Desastres
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290 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 UNEP, Edwin C. Tuyay, Topham Picturepoint Desastres Panorama mundial Os desastres podem ocorrer como conseqüência do impacto de um risco natural ou causado por atividades antrópicas. Os riscos naturais incluem fenômenos como terremotos, atividade vulcânica, deslizamentos de terra, maremotos, ciclones tropicais e outras tempestades intensas, tornados e ventos fortes, inundações fluviais e costeiras, incêndios florestais e a névoa que formam, seca, tempestades de areia e de poeira e infestações. Os riscos causados por atividades antrópicas podem ser intencionais, como a descarga ilegal de petróleo, ou acidentais, como derramamentos tóxicos ou fusão nuclear. Todos esses riscos podem ameaçar as pessoas, os ecossistemas, a flora e a fauna. As populações carentes são as mais vulneráveis aos desastres, porque dispõem de menos recursos e capacidade para lidar com os impactos ou evitá-los. “Um desastre é uma grave interrupção do funcionamento de uma sociedade, causando perdas humanas, materiais ou ambientais que excedem a capacidade da sociedade afetada de lidar com tais conseqüências com seus próprios recursos.” — Fonte: UNDHA, 2001 Desastres naturais As pessoas e o meio ambiente estão sofrendo cada vez mais os efeitos dos desastres naturais devido a diversas razões, tais como altas taxas de crescimento populacional e elevada densidade demográfica, migração e urbanização não planejada, degradação ambiental e possivelmente a mudança do clima global. O grande alcance dos impactos socioeconômicos dos desastres naturais causou uma mudança na abordagem política para lidar com o conceito de risco nas sociedades modernas. Comparando as duas últimas décadas, o número de pessoas que morreram em desastres naturais e não-naturais foi maior na década de 1980 (86.328 ao ano) do que na década de 1990 (75.252 ao ano). No entanto, mais pessoas foram afetadas por desastres na década de 1990 – de uma média de 147 milhões ao ano na década de 1980 para 211 milhões de pessoas anualmente na de 1990. Embora o número de desastres geofísicos tenha permanecido bem constante, o número de desastres hidrometeorológicos (causados pela água e pelo clima) aumentou (ver gráfico na página seguinte). Na década de 1990, mais de 90% das vítimas de desastres naturais morreram em eventos hidrometeorológicos, como secas, tempestades de 291 DESASTRES vento e inundações. Embora as inundações tenham sido responsáveis por mais de dois terços das pessoas afetadas por desastres naturais, essas são menos fatais do que muitos outros tipos de desastres e equivalem a apenas 15% das mortes (IFRC, 2001). Os custos sociais e econômicos dos desastres apresentam uma ampla variação e é difícil calculá-los em um âmbito global. As declarações de danos como uma estimativa do impacto econômico dos desastres tendem a induzir a erros. Considerando as declarações de danos a seguradoras com relação às inundações ocorridas em 1999 na Áustria, na Alemanha e na Suíça, ao menos 42,5% dos danos foram cobertos pelo seguro contra desastres. Mas na Venezuela, no mesmo ano, apenas 4% dos danos causados por inundações foram cobertos (CREDOFDA, 2002). É necessário obter dados sistemáticos confiáveis sobre os desastres para ajudar a avaliar seus impactos socioeconômicos e ambientais, tanto a curto como a longo prazo. Embora as comunidades dos países em desenvolvimento sofram diversos desastres em escala local, como incêndios florestais, pequenas inundações, secas e infestações, freqüentemente esses eventos não se refletem nas estatísticas de desastres. Os desastres mais dispendiosos em termos puramente financeiros e econômicos são as inundações, os terremotos e as tempestades de vento, mas eventos como seca e fome podem ser mais devastadores em termos de vidas humanas. Embora os terremotos tenham sido responsáveis por 30% dos danos calculados, causaram apenas 9% de todas as fatalidades por desastres naturais. Em contraste, a fome causou a morte de 42%, mas foi responsável por somente 4% dos danos na última década (IFRC, 2001). Em 1999, calculou-se que as perdas financeiras globais devido a eventos catastróficos naturais excederam US$ 100 bilhões – a segunda quantia mais alta já registrada. Um total de 707 eventos de grande magnitude foi registrado em comparação com 530 a 600 eventos nos anos anteriores. É ainda mais surpreendente que o número de grandes eventos catastróficos na última década tenha triplicado, em comparação com a década de 1960, enquanto o índice de perdas econômicas tenha aumentado quase nove vezes durante o mesmo período (Munich Re, 2001). Entre 1995 e 1997, os impactos dos riscos naturais custaram aos Estados Unidos no mínimo US$ 50 bilhões por ano, ou o equivalente a cerca de US$ 1 bilhão por semana (IDNDR, 1999a). As perdas econômicas dos Estados Unidos devido ao fenômeno El Niño ocorrido em 1997-1998 foram calculadas em US$ Número de grandes desastres naturais por ano, 1950-2001 Outros Inundações Tempestades Terremotos 50 19 55 19 60 19 65 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 19 00 20 O gráfico mostra uma crescente freqüência de “grandes” desastres naturais. As catástrofes são consideradas de grandes proporções quando a capacidade de reação de uma dada região estiver comprometida, onde há necessidade de assistência interregional ou internacional, como normalmente ocorre em situações que envolvem milhares de mortos, centenas de milhares de desabrigados ou quando o país sofre uma significativa perda econômica. Fonte: Munich Re, 2001 292 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Custos econômicos dos grandes desastres naturais (bilhões de dólares), 1950-2000 90 >167 75 60 45 30 15 Em comparação com a década de 1960, as perdas econômicas ocorridas durante os anos 1990 foram multiplicadas por um fator quase nove vezes maior. Nota: o gráfico mostra somente o custo das “grandes” catástrofes naturais – ver a figura da página 291 para definição. Fonte: Munich Re, 2001 20 00 19 95 19 90 19 85 19 80 19 75 19 70 19 65 19 60 19 55 19 50 0 1,96 bilhão, ou 0,03% do PIB. O Equador sofreu perdas equivalentes, mas representaram 11,4% de seu PIB. As inundações na China em 1991, 1994-1995 e 1998 causaram perdas que variaram de US$ 20 bilhões a US$ 35 bilhões (CNC-IDNDR, 1999). Calcula-se que a perda anual decorrente de desastres naturais durante o período de 1989 a 1996 oscile de 3% a 6% do PIB da China, em uma média de 3,9%. Em dezembro de 1999, as tempestades Anatol, Lothar e Martin geraram perdas no norte da Europa equivalentes a US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões (Munich Re, 2001). Em caso de desastre, os países menos desenvolvidos, com uma diversidade econômica limitada e infra-estrutura precária, não somente estão obrigados a depender em grande parte da ajuda internacional, mas suas economias também precisam de mais tempo para recuperarse. Nas economias desenvolvidas, os governos, as comunidades e as pessoas têm uma maior capacidade de lidar com desastres, as perdas econômicas são absorvidas até certo ponto por uma economia diversificada, e a maior parte dos bens está assegurada. Entre os países menos desenvolvidos, 24 dos 49 em questão enfrentam riscos elevados de desastre; ao menos seis deles têm sido afetados por entre dois e oito grandes desastres anualmente nos últimos quinze anos, com conseqüências a longo prazo para o desenvolvimento humano (UNDP, 2001). Desde 1991, mais da metade de todos os desastres registrados ocorreu em países com níveis médios de desenvolvimento humano (ver “Aspectos socioeconômicos”). Entretanto, dois terços das vítimas foram de países com baixos níveis de desenvolvimento humano, enquanto apenas 2% foram de países altamente desenvolvidos. O efeito do desenvolvimento sobre os desastres é drástico: em média, 22,5 pessoas morrem por desastre registrado em países altamente desenvolvidos, 145 morrem por desastre em países com desenvolvimento humano médio, e 1.052 pesso- as morrem por desastre em países com baixos níveis de desenvolvimento (IFRC, 2001). Diversos especialistas associam a tendência atual observada em eventos climáticos extremos com um aumento da temperatura média global. Muitas partes do mundo sofreram enormes ondas de calor, inundações, secas e outros eventos climáticos extremos. Embora eventos individuais, como os fenômenos relacionados ao El Niño (ver box), não possam ser associados diretamente à mudança antropogênica do clima, prevê-se que a freqüência e a magnitude desses tipos de eventos aumentem em um mundo mais quente. As mudanças na temperatura média global “muito provavelmente”’ afetarão parâmetros como padrões de precipitação, velocidades dos ventos, umidade do solo e cobertura vegetal, que parecem influenciar a ocorrência de tempestades, furacões, inundações, seca e deslizamentos de terra (IPCC, 2001). DESASTRES Por exemplo, a extensão dos danos causados por marés de tempestades pode ser associada diretamente às variações do nível do mar. A mudança e a variabilidade do clima por si sós não explicam o aumento dos impactos relativos a desastres. “Natural” pode ser uma descrição enganosa para desastres como secas, inundações e ciclones que afligem grande parte do mundo em desenvolvimento. Há muito tempo se faz necessário identificar as causas antrópicas primárias e defender mudanças estruturais e políticas para combatê-las (IFRC, 2001). Por exemplo, a destruição do meio ambiente natural devido à exploração madeireira ou a usos inadequados da terra para obter ganhos econômicos a curto prazo é um dos principais fatores que promovem inundações ou deslizamentos de lama, como os que afligiram a Venezuela em dezembro de 1999. Similarmente, a migração da população para áreas urbanas e costeiras aumenta a vulnerabilidade humana à medida que as densidades populacionais aumentam, a infra-estrutura fica sobrecarregada, as áreas habitacionais movem-se para perto de indústrias potencialmente perigosas, e mais assentamentos são construídos em áreas frágeis como planícies de inundação ou áreas propensas a deslizamentos de terra. Conseqüentemente, as catástrofes naturais afetam mais pessoas, e ocorrem mais perdas econômicas. Por exemplo, apesar do fato da atividade sísmica ter permanecido constante nos últimos anos, os efeitos dos terremotos sobre a população urbana parecem aumentar. 293 O terremoto de 1999 em Izmit, Turquia No dia 17 de agosto de 1999, um terremoto com uma magnitude de 7,4 a 7,8 pontos na escala Richter atingiu a cidade de Izmit e áreas circunvizinhas, na Turquia. Os danos causados pelo terremoto foram calculados em mais de US$ 13 bilhões. Mais de 15 mil pessoas foram mortas, outras 25 mil ficaram feridas e 600 mil desabrigadas. O terremoto foi responsável pelo aumento do déficit interno do país em cerca de US$ 3 bilhões em 1999-2000 (o equivalente a aproximadamente 1,5% do PNB). Uma parte considerável dos prejuízos poderia ter sido evitada se os códigos de obra locais tivessem sido implementados com eficácia. Muitos edifícios novos não haviam sido planejados apropriadamente, não haviam sido construídos sobre fundações fortes o suficiente para resistir a terremotos e não estavam situados em áreas em que os efeitos de terremotos teriam sido atenuados. Fonte: ISDR, 1999 Desastres induzidos por atividades antrópicas Vários acidentes de grande importância envolvendo produtos químicos e materiais radioativos chamaram a atenção mundial para os perigos da má administração, particularmente nos setores de transporte, de produtos químicos e de energia nuclear. Tais eventos freqüentemente têm impactos que transcendem as fronteiras nacionais; ressaltam também o fato de que as questões relativas à segurança tecnológica não dizem respeito somente aos países desenvolvidos. Edifício de apartamentos partido em dois pelo terremoto ocorrido em 1999 em Izmit, Turquia. Fonte: Alexander Allmann, Munich Re 294 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS:1972-2002 Alguns desastres resultaram na introdução de normas voluntárias ou obrigatórias elaboradas para prevenir ocorrências similares. A preocupação do público após a explosão em uma fábrica de pesticidas em Seveso, Itália, ocorrida em 1976, que resultou na liberação de 2,3,7,8-tetraclorodibenzop-dioxina (TCDD), levou à introdução, em 1982, de uma Diretriz Européia sobre os riscos de acidentes de grandes proporções quanto a certas atividades industriais. De forma similar, outros grandes acidentes, como o vazamento de metil isocianato em Bhopal, Índia, ocorrido em 1984, e o incêndio em uma indústria química da Sandoz na Basiléia, Suíça, em 1989, estimularam legislações em muitos países para prevenir e controlar incidentes com produtos químicos. Sob a influência do acidente ocorrido em Bhopal, em particular, a Organização Internacional do Trabalho elaborou em 1993 a Convenção nº 174 sobre a Prevenção de Grandes Acidentes Industriais e a Recomendação nº 181 sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Maiores. Esses documentos exigem um intercâmbio internacional de informações relevantes, a elaboração de políticas destinadas a lidar com os riscos e perigos de grandes acidentes e suas conseqüências, e o reconhecimento de que um grande acidente poderia ter sérios impactos sobre a vida humana e o meio ambiente. Acidentes nucleares graves, como os ocorridos em Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, e em Chernobyl, em 1986, não apenas geraram ações para fortalecer a segurança nuclear e a preparação para situações de emergência, como também forçaram muitos países a abandonar ou restringir severamente o desenvolvimento do setor de energia nuclear. Após o acidente em Chernobyl, dois importantes tratados internacionais foram adotados – a Convenção sobre Assistência no Caso de Acidente Nuclear ou Emergência Radiológica e a Convenção sobre Pronta Notificação de Acidente Nuclear. Mais recentemente, foram adotadas a Convenção de 1994 sobre Segurança Nuclear, que comprometeu as partes a um nível mais elevado de segurança nuclear, e a Convenção Conjunta de 1997 sobre o Gerenciamento Seguro de Combustível Nuclear e Rejeitos Radioativos. O derramamento de petróleo do Exxon Valdez, ocorrido no Alasca em 1989, resultou em enormes danos ambientais e econômicos e acelerou a produção, pela Coalizão pela Economia Ambientalmente Responsável (Coalition for Environmentally Responsible Economics – CERES), dos “Princípios de Valdez”, um código de conduta voluntário para o comportamento das empresas em relação ao meio ambiente. Os “Princípios de Valdez” orientam as empresas quanto ao estabelecimento de políticas ecologicamente firmes e exigem a melhoria dos padrões empresariais de segurança ambiental, assim como a tomada de responsabilidade dos possíveis danos ambientais por elas causados (Adams, 1994). Políticas de resposta Até a década de 1970, a comunidade internacional considerou os desastres como circunstâncias excepcionais, em que as capacidades locais para lidar com o problema se esgotavam e era necessária a ajuda externa em situações de emergência. O termo administração de desastres era equivalente em geral a medidas em caso de desastres e tendeu a ficar dentro da competência exclusiva de organizações como a Cruz Vermelha e Sociedades do Crescente Vermelho ou instituições nacionais de defesa civil. DESASTRES Em 1971, foi estabelecido o Escritório do Coordenador das Nações Unidas para Socorro em Casos de Desastre – atual Escritório das Nações Unidas para a Coordenação da Assistência Humanitária (UNOCHA) –, com o objetivo de mobilizar e coordenar atividades de socorro procedentes de todas as fontes em casos de desastre. O conceito de preparação para desastres foi desenvolvido durante as décadas de 1970 e 1980 e incluía treinamento e algumas atividades multissetoriais para aumentar a capacidade de resgate, socorro e recapacitação durante e após um desastre. Mas mesmo as previsões mais pessimistas não poderiam prever a espiral ascendente das conseqüências socio-econômicas negativas dos desastres naturais nas últimas décadas do século XX. A década de 1990 foi declarada a Década Internacional para a Redução dos Desastres Naturais (IDNDR), e uma de suas principais metas foi incutir uma cultura de prevenção de desastres, por meio da aplicação mais ampla de mecanismos conhecidos de natureza científica e tecnológica por parte de uma população mais bem informada. Como disse o secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, “devemos, acima de tudo, mudar de uma cultura de reação para uma cultura de prevenção. A comunidade humanitária faz um trabalho formidável de reação a desastres. Mas a tarefa mais importante a médio e a longo prazo é fortalecer e ampliar programas que reduzam o número e o custo de desastres em primeiro lugar. A prevenção não é apenas mais humana do que a cura, é também muito menos dispendiosa” (IDNDR, 1999b). A IDNDR teve êxito em colocar a questão de redução de riscos em um patamar mais elevado da agenda política, assim como em estabelecer diversas prioridades a serem empreendidas por países e regiões no século XXI. Um número crescente de governos e organizações internacionais está promovendo a redução dos riscos como a única solução sustentável para reduzir os impactos sociais, econômicos e ambientais dos desastres. As estratégias de redução dos riscos incluem: · · · · mapeamento da vulnerabilidade; identificação de áreas seguras para assentamentos e desenvolvimento; adoção de códigos de construção com base na engenharia resiliente a desastres e nas avaliações de riscos e perigos locais; e adoção desses planos e códigos por meio de incentivos econômicos e de outras naturezas. 295 Prevenção e preparação para reduzir os custos dos desastres A meta fundamental do programa de administração de desastres do PNUMA é reforçar a centralização das preocupações ambientais na administração de desastres. O outro fundamento é a adoção de estratégias preventivas e medidas práticas que diminuam a perda potencial de vidas humanas e propriedades, assim como a destruição do meio ambiente. O êxito de tal abordagem depende do aumento da consciência pública dos riscos que os perigos naturais, tecnológicos e ambientais apresentam às sociedades, bem como da educação das pessoas sobre o valor das abordagens existentes quanto à prevenção e à preparação. O PNUMA contribui com esse processo por meio de seus programas sobre direito ambiental, alerta e avaliação antecipados e do programa de Conscientização e Preparação para Emergências em Âmbito Local (APELL). O programa APELL do PNUMA, desenvolvido em conjunto com governos e com o setor industrial, reconhece que a incidência e os efeitos dos desastres ambientais podem ser reduzidos por meio de iniciativas de prevenção e preparação em âmbito local. O conceito do APELL foi introduzido com sucesso em mais de 30 países e em mais de 80 comunidades industriais no mundo todo. A estratégia do PNUMA inclui a promoção de processos e tecnologias de produção mais limpos e ajuda os países a estabelecerem centros de produção mais limpa. Um dos principais objetivos do programa de alerta e avaliação antecipados do PNUMA é avaliar a crescente vulnerabilidade da sociedade humana devido à mudança generalizada ambiental e climática, de modo a enfatizar a necessidade de uma sólida gestão ambiental integrada e proporcionar alertas antecipados sobre ameaças emergentes, visando preparação e reação. Em âmbito global, a ONU estabeleceu uma Estratégia Internacional para Redução de Desastres (ISDR), uma plataforma global com o objetivo de ajudar todas as comunidades a se tornarem resilientes aos efeitos de desastres naturais e a passarem da proteção contra os perigos para a administração do risco por meio da integração da prevenção do risco ao desenvolvimento sustentável. A estratégia – fundamentada na experiência da IDNDR e em avanços como a Estratégia e o Plano de Ação de Yokohama para um Mundo mais Seguro, de 1994, e a Estratégia “Um Mundo Mais Seguro no Século XXI: Redução de Desastres e Riscos”, de 1999 – reflete uma abordagem multisetorial e interdisciplinar à redução de desastres. A implementação da estratégia, que se baseia no estabelecimento de parcerias entre governos, organizações não-governamentais, agências da ONU, a comunidade científica e outros grupos de interesse na redução de desastres, é parte integrante dos esforços que visam a promoção da meta global de desenvolvimento sustentável. Também é um elemento indispensável na busca de soluções planejadas para enfrentar a ameaça crescente apresentada pelos perigos naturais (ISDR, 1999). 296 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Referências: Capítulo 2, desastres, panorama mundial Adams, J. (1994). Corporate Crime/Our Crime: What citizens have done and can do to curtail corporate ‘crime’. In Context, 38, 45 http://www.context.org/ ICLIB/IC38/Adams.htm [Geo-2-329] IFRC (2001). World Disasters Report 2001. International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies http://www.ifrc.org/publicat/wdr2001/ [Geo-2-334] ReliefWeb (2002). Natural Disasters. ReliefWeb: Project of the United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs http://www.reliefweb.int/w/ rwb.nsf CNC-IDNDR (1999). Natural Disaster and Disaster Relief in China; the China National Report on International Decade for Natural Disaster Reduction. Beijing, Chinese National Committee IDNDR IPCC (2001). Climate Change 2001: The Scientific Basis. Contribution of Working Group I to the Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge, United Kingdom, and New York, United States, Cambridge University Press UNDHA (2001). 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Esses eventos naturais tornam-se desastres quando um grande número de pessoas ou itens de infra-estrutura é afetado, como tem ocorrido nos últimos trinta anos devido a elevadas taxas de crescimento demográfico, principalmente nos centros urbanos e em áreas propensas a secas – 34% da população da África vive em áreas áridas, em comparação com apenas 2% da população européia (Findlay, 1996). Os impactos dos desastres incluem perda de vidas e de meios de subsistência, danos à infra-estrutura e às comunicações, interrupção de atividades econômicas e maior risco de epidemias de doenças. Em muitos locais, esses impactos são agravados pela pobreza e pela marginalização, além de pela superpopulação. Infra-estrutura inadequada, antiga e deteriorada e a falta de segurança econômica para fornecer ajuda em tempos difíceis também comprometem a capacidade da população para lidar com os problemas e, portanto, aumentam os impactos dos desastres. Há uma preocupação crescente de que a freqüência e a gravidade dos desastres estão aumentando em uma época em que os sistemas de alerta antecipado são inadequados e a administração de desastres é deficiente (DMC, 2000). Desastres naturais A África sofreu alguns dos piores períodos de seca e fome, em termos do número de pessoas que morreram ou foram afetadas (ver tabela), com secas particularmente severas em 1972-1973 e 1984-1985, que atingiram grande parte do Norte da África, da África Meridional, da África Oriental e da região do Sahel (Gommes e Petrassi, 1996). Entre os países mais regularmente afetados, estão Botsuana, Burkina Faso, Chad, Etiópia, Quênia, Mauritânia e Moçambique (FAO, 2001), onde os impactos da fome são agravados pelos serviços de transporte inadequados para 297 receber e distribuir alimentos e ajuda médica (Ehrlich e Ehrlich, 1990). Há alguns indícios de que as secas estão se tornando mais prolongadas e seus impactos, mais graves (DMC, 2000; FAO, 2000). O risco de danos causados por chuvas fortes é maior em áreas mais secas do que naquelas que geralmente apresentam níveis de precipitação mais elevados, porque há menos cobertura vegetal para absorver a água e estabilizar o solo. A expansão de assentamentos informais para a zona de inundações está colocando muitas pessoas em risco de inundações, conforme ocorreu, por exemplo, no município de Alexandra, em Johanesburgo, África do Sul, durante as inundações de 2000, quando aproximadamente 3 mil famílias que moravam em barracos abaixo do nível de inundação ficaram sujeitas aos danos causados pela água e pelas epidemias de cólera (Kim, 2000; World Bank, 2001a). Os desastres podem ter impactos econômicos sérios que são difíceis de calcular. Nas ilhas do Oceano Índico Ocidental, geralmente há ocorrência de dez ciclones por ano, entre novembro e maio, que provocam ventos fortes e chuvas intensas. O fenômeno destrói a infra-estrutura, particularmente em áreas baixas e onde os assentamentos invadiram áreas propensas a inundações. Devido à destruição de atividades de geração de renda, como o turismo, bem como à recuperação e à substituição de infra-estrutura e cultivos danificados, os custos são muito elevados. Em escala global, a África sofre menos danos por desastres em termos puramente financeiros, mas a importância dessas perdas pode, na verdade, ser maior com respeito ao impacto sobre o desenvolvimento econômico. A população e as economias da Alguns dos piores desastres na África, 1972-2000 1972 1973 1974 1980 1982 1983 1984 1984 1985 1987 1990 1991 1991 1993 1993 1999 2000 fome seca seca seca fome seca seca seca seca seca seca seca seca seca fome fome seca Etiópia Etiópia Etiópia Moçambique Gana Etiópia Etiópia Sudão Moçambique Etiópia Etiópia Etiópia Sudão Malavi Etiópia Etiópia Etiópia Fonte: CRED-OFDA, 2002 Números de óbitos 600.000 100.000 200.000 sem registro sem registro sem registro 300.000 150.000 100.000 sem registro sem registro sem registro sem registro sem registro sem registro sem registro sem registro Números de pessoas afetadas sem registro sem registro sem registro 6.000.000 12.500.000 7.000.000 7.750.000 8.400.000 2.466.000 7.000.000 6.500.000 6.160.000 8.600.000 7.000.000 6.700.000 7.767.594 10.500.000 298 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 África dependem muito da agricultura sem irrigação artificial e são, portanto, vulneráveis às flutuações dos níveis de precipitação. Em geral, é a população carente que mais sofre com a perda de colheitas causada por inundações ou seca, porque freqüentemente cultiva áreas que são marginais em relação ao clima para a produção de cultivos e não pode acumular reservas para épocas de privações. Tanto as secas quanto as inundações podem resultar em desnutrição e fome, e a importação de alimentos e a dependência da ajuda alimentar a isso associadas podem afetar o potencial de crescimento econômico dos países atingidos. No Quênia, os baixos níveis dos reservatórios, resultantes da seca e da sedimentação associada ao desmatamento, levaram a reduções na geração de energia hidrelétrica e, conseqüentemente, à necessidade de racionamento de água e energia elétrica, que devastou a economia do país em 1999 e 2000. As perdas causadas somente pelo racionamento de energia foram calculadas em US$ 2 milhões por dia, e o custo da demanda de eletricidade não atendida foi calculada em US$ 400 milhões a US$ 630 milhões, o equivalente a 3,8% a 6,5% do PIB (World Bank, 2000). Em Moçambique, os custos das inundações no ano 2000 foram calculados em US$ 273 milhões em danos materiais, US$ 247 milhões na perda de produção, US$ 48 milhões em exportações perdidas e US$ 31 milhões em aumentos nas importações (Mozambique National News Agency, 2000). Desastres causados por atividades antrópicas Embora a variabilidade climática seja um fenômeno natural, a freqüência e a gravidade crescentes dos eventos extremos podem ser parcialmente atribuídas a atividades humanas, como o desmatamento e a gestão inadequada da terra e dos recursos hídricos. Por exemplo, o desmatamento de florestas tropicais na África Central e Ocidental tem alterado o clima local e os padrões pluviométricos e aumentou o risco de ocorrência da seca. A retirada de vegetação também pode aumentar o escoamento e a erosão do solo. A construção de represas e a drenagem de áreas úmidas reduzem a capacidade natural do meio ambiente de absorver a água em excesso, ampliando os impactos das inundações. Por exemplo, os países na África Meridional sofreram inundações devastadoras em 1999 e 2000, que afetaram mais de 150 mil famílias (Mpofu, 2000). A degradação de áreas úmidas como as de Kafue, na Zâmbia, a construção de represas, o desmatamento e o excesso de pastoreio diminuíram a capacidade do meio ambiente de absorver a água em excesso e ampliaram o impacto das inundações (Chenje, 2000; UNDHA, 1994). Nas últimas três décadas, milhões de africanos buscaram refúgio devido a desastres naturais e antropogênicos que causaram impactos tanto ambientais como econômicos. Ao fim de 2000, havia 3,6 milhões de refugiados na África, 56% dos quais abaixo de 18 anos de idade (UNHCR, 2001b). Freqüentemente, os refugiados se assentam em ecossistemas frágeis, onde exercem uma pressão considerável sobre os recursos naturais, já que não têm outros meios para sobreviver (ver box na página seguinte). Às vezes, as populações de refugiados também experimentam conflitos adicionais com comunidades vizinhas, ao competir pelos recursos. Medidas em caso de desastres Não têm sido empreendidos esforços regionais planejados para administrar os desastres, e as medidas em caso de desastres na África tendem a focalizar os âmbitos nacional e sub-regional. Os esforços também têm-se concentrado mais em reações do que na mitigação mediante melhorias na gestão ambiental e nas práticas agrícolas. A natureza imprevisível dos eventos extremos e o fraco desempenho econômico da maior parte dos países africanos dificultam ainda mais a preparação para os desastres e a prestação de socorro quando ocorrem. No entanto, há alguns casos de êxito na prevenção da fome resultante da seca, como o projeto do Sistema de Alerta Antecipado contra a Fome (Famine Early Warning System – FEWS), a implementação de um novo sistema de distribuição eficiente de sementes no Níger e a promoção de mais variedades de cultivos resistentes à seca. No Norte da África, os esforços para responder às dificuldades econômicas durante as secas incluem o financiamento de projetos de geração de empregos, para evitar que os agricultores abandonem as terras em que a produtividade está diminuindo. Na África Oriental, estão sendo implementados projetos de florestamento e reflorestamento para diminuir o impacto de futuras mudanças ambientais, particularmente a mudança do clima. Na África Meridional, a Unidade Regional de Alerta Antecipado da SADC, o Projeto Regional de Sensor Remoto, o Centro de Monitoramento de Secas e o Projeto FEWS assessoram os governos quanto à preparação para períodos de seca (ver Capítulo 3). Implementou-se DESASTRES também um fundo de combate à seca para mitigar os efeitos de precipitações insuficientes (UNDHA, 1994). Em algumas áreas, inclusive partes da África Ocidental, foram promulgadas medidas de longo prazo, como normas de planejamento urbano que proíbem a urbanização ao longo de cursos d’água, embora as limitações de recursos freqüentemente evitem que sejam aplicadas de forma rígida. Outras medidas incluem a elaboração e a implementação de alertas antecipados ou mecanismos de previsão, como o da ENOS, que foi implementado na África Meridional e na área do Oceano Índico Ocidental. Embora esse mecanismo tenha o potencial de alertar organizações de ajuda e evacuar comunidades antecipadamente, sua atuação tem sido limitada devido a serviços inadequados de comunicação (Dilley, 1997). Por exemplo, apenas 152 em cada mil pessoas na África possuíam aparelhos de rádio em 1997 (World Bank, 2000b). Com o aquecimento global, é provável que a incidência de seca aumente em muitas partes da África. A freqüência e a intensidade de ciclones e inundações em algumas áreas também apresentam probabilidade de aumentar, agravando os estresses relativos à água e à segurança alimentar e, possivelmente, contribuindo para a ocorrência de epidemias (IPCC, 2001). Por exemplo, as Seicheles se encontram atualmente Os impactos ambientais dos refugiados na África Apenas a reabilitação ambiental dos campos de refugiados na África pode custar cerca de US$ 150 milhões ao ano. A degradação ambiental é mais visível principalmente em países há muito tempo receptores de refugiados, como o Quênia e o Sudão. Foram removidas as árvores e a vegetação das terras que rodeiam os campos de refugiados. Nessas situações, os refugiados podem ter de caminhar até 12 km em busca de água e lenha. No início da década de 1990, aproximadamente 20 mil hectares de florestas foram desmatados a cada ano em Malauí, para fornecer lenha e madeira para os diversos campos que abrigavam refugiados de Moçambique, enquanto em 1994, no auge da crise de refugiados, próximo ao Parque Nacional de Virunga na República Democrática do Congo (o antigo Zaire), os refugiados estavam removendo cerca de 800 toneladas por dia de madeira e grama do parque uma quantia muito acima de um rendimento sustentável possível. Apesar dos esforços para restringir o impacto sobre o parque, quase 113 km2 foram afetados, dos quais mais de 71 km2 foram completamente desmatados. Em outro local em Kivu Sul, aproximadamente 38 km2 de florestas se perderam em um período de três semanas a partir da chegada dos refugiados. Em dezembro de 1996, mais de 600 mil refugiados do Burundi e de Ruanda foram alojados na região de Kagera, no noroeste da Tanzânia. Mais de 1.200 toneladas de lenha foram consumidas a cada dia um total de 570 km2 de florestas foram afetados, dos quais 167 km2 foram gravemente desmatados. Fonte: UNHCR, 2001a fora da área de ciclones, mas a elevação da temperatura do mar pode causar um aumento da intensidade dos ciclones e a expansão de sua área de ocorrência, abrangendo assim as ilhas (UNEP, 1999). Referências: Capítulo 2, desastres, África Chenje, M. (ed., 2000). State of the Environment Zambezi Basin 2000. Maseru, Lusaka and Harare, SADC, IUCN, ZRA and SARDC Findlay, A.M. (1996). Population and Environment in Arid Regions. Policy and Research Paper No. 10, Paris, International Union for the Scientific Study of Population UNEP (1999). Western Indian Ocean Environment Outlook. Nairobi, United Nations Environment Programme Coe, M. and Foley, J. (2001). Human and Natural Impacts on the Water Resources of the Lake Chad Basin. 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Desastres naturais A vulnerabilidade aos desastres está estreitamente associada à densidade populacional e aos recursos econômicos. O impacto dos desastres naturais na região é grave: mais de 1,4 milhão de pessoas morreram e quase 4 bilhões foram afetadas, e os danos foram da ordem de US$ 438 milhões nas três últimas décadas (ver tabela). Apenas durante o período de 1991 a 2000, o número total de mortes causadas por desastres naturais na região foi de mais de 550 mil, ou 83% do total mundial (IFRC, 2001), a maior parte em países asiáticos com níveis baixos ou médios de desenvolvimento humano. O maior número de mortes ocorreu no Sul da Ásia (a sub-região com a mais alta densidade demográfica e a renda per capita mais baixa), e o menor número, na Austrália e na Nova Zelândia, a sub-região com a menor densidade demográfica e com elevada renda per capita (UNPD, 2001; World Bank, 2001). A China sofreu mais de 300 desastres naturais e registrou mais de 311 mil mortes durante o período de 1971 a 2000; a Índia, com mais de 300 desastres, teve mais de 120 mil mortes; as Filipinas, com aproximadamente 300 fenômenos, perdeu cerca de 34 mil pessoas; a Indonésia sofreu cerca de 200 desastres causando mais de 15 mil mortes; e Bangladesh sofreu 181 eventos, que provocaram a morte de mais de 250 mil pessoas. Algumas áreas estão mais expostas a perigos naturais devido a sua localização (no litoral ou próximas a um vulcão ou falha geológica). Os ciclones ocorrem com mais freqüência no Noroeste do Pacífico, no extremo sul da Baía de Bengala, no leste da Índia e no sul de Bangladesh (UNESCAP e ADB, 1995; Ali, 1999; Huang, 1999; Kelly e Adger, 2000). Bangladesh, China e Índia são os países da região mais propensos a inundações (Mirza e Eriksen, 1996; Ji e outros, 1993). As áreas montanhosas (China, Índia, Nepal, Filipinas e Tailândia) são mais propensas a deslizamentos de terra, agravados pelo desmatamento e pela agricultura, que desestabilizam as encostas. Os países ao longo de zonas sísmicas ou adjacentes a elas (Afeganistão, China, Índia, Irã, Nepal, Filipinas e as Ilhas do Pacífico) são mais vulneráveis a eventos sísmicos, enquanto países ao longo da Bacia do Pacífico correm o risco de sofrer erupções vulcânicas, particularmente a Indonésia, o Japão e as Filipinas (UNESCAP e ADB, 1995). O fenômeno El Niño tem impactos significativos sobre amplas áreas na região, sendo a Indonésia a mais afetada (Glantz, 1999; Salafsky, 1994; Salafsky, 1998). Outros desastres A degradação e as mudanças ambientais estão se tornando cada vez mais importantes, em relação tanto à ocorrência como aos impactos de desastres naturais. O desmatamento, por exemplo, agora se asso- Impacto dos desastres naturais na Ásia e no Pacífico, 1972-2000 número de mortos (milhares) número de pessoas afetadas (milhares) danos (US$ 1.000) 761 73 606 2.164.034 284.074 1.447.643 60.881 33.570 317.174 3 1 4 4.895 15.761 4.061 986 21.900 3.139 1.447 3.920.467 347.649 Sul da Ásia Sudeste Asiático Noroeste do Pacífico e Leste Asiático Ásia Central Austrália e Nova Zelândia Pacífico Sul Total Nota: os dados referentes à Ásia Central são de 1992/93-2000 Fonte: CRED-OFDA, 2002 DESASTRES cia com freqüência a graves eventos de inundações e deslizamentos. A exploração excessiva dos recursos hídricos já resultou em desastres ambientais subregionais, como a dessecação do Mar de Aral na Ásia Central (ver box ao lado e texto abaixo). A maioria dos países da sub-região do Noroeste do Pacífico e da Ásia Oriental e os países insulares do Pacífico estarão particularmente vulneráveis à mudança do clima e à elevação associada do nível do mar, porque muitos assentamentos humanos e grande parte da infra-estrutura industrial estão localizados em áreas costeiras ou baixas. Para os pequenos países insulares em desenvolvimento, a mudança do clima e eventos meteorológicos extremos também podem ter impactos drásticos sobre a biodiversidade terrestre, os cultivos de subsistência e as fontes florestais de alimentos (IPCC, 1998). O rápido crescimento demográfico, a urbanização e o planejamento inadequado do uso da terra são alguns dos motivos por que a população carente se desloca para áreas frágeis e de alto risco que ficam mais expostas aos perigos naturais. Além 301 Tendências dos desastres (número por ano): Ásia e Pacífico 500 400 geofísicos hidrometeorológicos 300 200 100 0 1971- 75 1976 - 80 1981 - 85 1986 - 90 1996 - 2000 Os desastres causados pela água e pelo tempo (desastres hidrometeo-rológicos) têm-se tornado mais freqüentes, enquanto o número de desastres geofísicos continua constante. Fonte: CRED-OFDA, 2002 disso, o rápido crescimento das indústrias em áreas urbanas tem induzido à migração de áreas rurais para urbanas, o que às vezes levou à exposição de mais pessoas a perigos tecnológicos, como o desastre de 1984 em Bhopal, Índia, em que o vaza- 302 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Seleção de desastres naturais: Ásia e Pacífico Estar preparados: o programa de redução de desastres do Vietnã O Vietnã tem uma longa tradição de mitigação dos efeitos de desastres. Quando a Assembléia Geral das Nações Unidas designou a década de 1990 como a Década Internacional para a Redução dos Desastres Naturais, o Vietnã reagiu com a organização de um Comitê Nacional e o fortalecimento da função que seu Comitê Central para o Controle de Inundações e Tempestades (CCFSC) desempenha quanto à mitigação dos efeitos de desastres. O CCFSC desenvolveu programas, planos e medidas para a redução de desastres em coordenação com outras organizações relevantes, orientou a implementação de atividades relativas à mitigação dos efeitos de desastres e coordenou ações com organizações internacionais de relevância. No fim da década de 1990, o Vietnã sofreu uma série de eventos extremos, incluindo o tufão Linda (1997) na área costeira ao sul do país. Embora as perdas humanas e econômicas tenham sido trágicas, as agências em todos os âmbitos fortaleceram suas capacidades de busca e resgate, resultando em dezenas de milhares de evacuações. Mais de 5 mil pessoas foram salvas graças a esses esforços. Quando o tufão minguou, o governo providenciou assistência às comunidades pesqueiras locais. Como conseqüência desse e de outros desastres, o governo tomou decisões em relação a políticas para cada parte do país, incluindo aumentar a resistência a inundações e proteger áreas povoadas, por meio do fortalecimento do sistema de diques e estruturas de desvio de inundações no norte do Vietnã, de políticas para evitar e mitigar danos causados por inundações na região central do país e da política do delta do rio Mekong, planejada para preparar medidas para conviver com inundações e minimizar seus danos. Em reconhecimento a essas realizações, a ONU concedeu ao Vietnã o Certificado de Distinção pela Redução de Desastres no dia 11 de outubro de 2000, o Dia Internacional para a Redução de Desastres. julho de 1976: um terremoto na China causou a morte de 242 mil pessoas abril de 1991: um ciclone em Bangladesh acompanhado por uma maré de tempestade provocou 138.866 mortes fevereiro de 1990 e dezembro de 1991: ciclones em Samoa causaram perdas equivalentes a US$ 450 milhões, cerca de quatro vezes o PIB do país janeiro de 1995: um terremoto em Kobe, Japão, tornou-se um dos desastres naturais mais dispendiosos da história 5.502 pessoas morreram e mais de 1,8 milhão foram afetadas, com danos calculados em US$ 131,5 bilhões outubro de 1999: o Super Ciclone no estado oriental de Orissa, na Índia, causou mais de 10 mil mortes, enquanto 15 milhões de pessoas ficaram desabrigadas, sem comida, abrigo ou água, e seu gado foi devastado o ciclone provocou danos em 1,8 milhão de hectares de terras agrícolas e arrancou mais de 90 milhões de árvores janeiro de 2001: um terremoto de 7,7 graus na escala Richter atingiu o estado de Gujarat, na Índia, deixando um saldo de mais de 20 mil mortos e 167 mil feridos as perdas econômicas foram calculadas em US$ 2,1 bilhões Fontes: ADPC, 2001; CRED-OFDA, 2002; DoAC India, 2002 mento de metil isocianato de uma indústria matou mais de 3 mil pessoas e afetou mais de 200 mil (Robins, 1990). Medidas em caso de desastre Os países asiáticos estão em estágios diferentes de desenvolvimento institucional com respeito à redução de desastres. Alguns deles, como o Japão, têm um sistema há muito estabelecido de administração de desastres. Estimulados pela Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais (IDNDR), outros países (como o Vietnã, ver box na página 281) fortaleceram suas estruturas existentes ou estão formulando novas (UNESCAP e ADB, 1995). Apesar de algumas realizações recentes, ainda restam medidas e ações significativas a serem tomadas em âmbitos regional e nacional, visando reduzir riscos e perdas resultantes de desastres, a saber: · o impacto da degradação ambiental precisa ser avaliado – é de suma importância elevar a conscientização sobre os perigos da degradação ambiental entre os governos e a população; Fonte: UNEP, 2001 · · · · o desmatamento deve ser detido; as medidas de mitigação e de preparação já implementadas devem ser fortalecidas; são necessárias ações para reduzir os níveis de pobreza, com vistas a manter a base de recursos e proteger a biodiversidade; e o desenvolvimento rural é um pré-requisito para diminuir a migração de pessoas para cidades e áreas costeiras. DESASTRES Referências: Capítulo 2, desastres, Ásia e Pacífico Salafsky, N. (1994). Drought in the Rainforest: Effects of the 1991 El Niño Southern Event on a Rural Economy in West Kailimantan, Indonesia. Climate Change, 27, 373–96 Ali, A. 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Essa imagem mostra a tempestade passando pela Europa às 12.00 UTC do dia 26 de dezembro; a costa do Norte da África aparece delineada abaixo. Fonte: copyright EUMETSAT, 2002 Em toda a Europa ocorrem desastres que resultam de perigos causados por fatores naturais e antropogênicos, que freqüentemente ocasionam danos ambientais significativos, perdas econômicas, ferimentos em seres humanos e mortes prematuras. As conseqüências gerais dependem tanto da magnitude do evento quanto de fatores como densidade demográfica, prevenção de desastres, medidas de preparação e reação aos desastres e planejamento para casos de emergência. Em geral, a Europa sofre menos com os desastres do que muitos países em desenvolvimento, devido a um nível mais elevado de “capacidade de lidar com as conseqüências dos desastres” em termos da capacidade do governo de preparar-se e reagir em caso de desastres. Desastres naturais Na Europa, os desastres naturais mais comuns são tempestades e inundações, embora de fato ocorram terremotos em alguns países. Tempestades e inundações também são os desastres mais dispendiosos em termos de perdas econômicas e seguradas. As tempestades de vento Lothar e Martin, que ocorreram em dezembro de 1999, custaram cerca de 5 bilhões de euros devido a danos a cultivos, florestas e infra-estrutura, enquanto o custo dos danos causados por inundações entre 1991 e 1995 foi calculado em 99 bi- O plano de ação para o Rio Reno quanto à defesa contra inundações Em janeiro de 1998, a XII Conferência de Ministros do Reno adotou um Plano de Ação para Defesa contra Inundações a ser implementado em vinte anos. Os objetivos mais importantes do plano são reduzir os danos em até 10% para 2005 e em até 25% para 2020. Os níveis extremos de inundação a jusante do Alto Reno regulado devem ser reduzidos em até 30 cm para 2005 e em até 70 cm para 2020. Provavelmente essas metas ambiciosas serão alcançadas apenas por meio de uma abordagem de gestão integrada em âmbitos local, regional e internacional. Durante os dois últimos séculos, o Reno perdeu mais de 85% de suas planícies de inundação naturais para construções e atividades agrícolas. Houve inundações graves em 1993 e 1995. Os danos que poderiam ser causados nas áreas em risco de inundações podem ser equivalentes a 1,5 trilhão de euros. As medidas de resposta, como a preservação e a expansão de planícies de inundação e um melhor armazenamento de água em toda a área da bacia hidrográfica, devem visar a melhoria ecológica do Reno, de seu vale e de sua bacia hidrográfica. Fonte: ICPR, 2001 lhões de euros. Um dos piores anos da história em termos de danos causados por inundações foi o de 2000, correspondente a quase um quarto do total de US$ 10,6 bilhões de custos segurados (Swiss Re, 2001). Nos últimos anos, muitos países europeus sofreram intensidade e duração de precipitações anormalmente elevadas, principalmente nos meses de inverno, o que ocasionou inundações na República Checa, na França, na Alemanha, na Hungria, na Itália, em Portugal, na Suíça, na Ucrânia e no Reino Unido. Entre 1971 e 1996, 163 grandes inundações ocorreram na Europa. Os principais fatores que induzem ou intensificam as inundações e seus impactos incluem a mudança do clima, a impermeabilização do solo, mudanças no uso das terras de bacias hidrográficas e de planícies de inundação, o crescimento demográfico, a urbanização e assentamentos crescentes, a construção de estradas e ferrovias e, às vezes, medidas de engenharia hidráulica (EEA, 2001a). Incêndios florestais e secas são um problema nos países ao sul, ao longo da costa do Mediterrâneo (Croácia, França, Grécia, Itália, Eslovênia e Espanha), e os incêndios também são comuns na região da Sibéria na Federação Russa, onde a recessão econômica causou um sério declínio da capacidade de reação das autoridades e das equipes locais de combate a incêndios florestais. A cada ano, centenas de milhares de hectares de florestas de taiga se perdem em virtude de incêndios. Cerca de 80% DESASTRES dos incêndios florestais são conseqüência do desconhecimento das pessoas em relação às normas de segurança contra incêndios. O número médio anual de desastres naturais parece estar crescendo, e, desde o fim da década de 1980, também tem havido um aumento dos impactos desses desastres e das perdas econômicas a eles associadas, ao menos na União Européia (EEA, 1999). Por exemplo, na fronteira da Alemanha com a França, as águas de cheia do Rio Reno subiram mais de 7 metros acima do nível de inundação cerca de uma vez a cada vinte anos entre 1900 e 1977. A partir de 1977, esse nível foi alcançado, em média, uma vez a cada dois anos (UWIN, 1996). Têm sido implementadas ações e medidas, tanto no âmbito nacional como no regional, para reduzir os impactos dos desastres naturais (ver box à esquerda), embora não haja uma política específica. O planejamento integrado do uso da terra pode, até certo ponto, evitar os impactos sobre os seres humanos. Planos de reação em caso de emergência foram elaborados por toda a União Européia com o objetivo de reagir ante diversos desastres naturais, mas tais planos parecem ser ad hoc, em geral não testados, e considera-se improvável que funcionem bem na prática (EEA, 1999). Principais desastres causados por atividades antrópicas Na Europa, os desastres causados por atividades antrópicas provocam mais fatalidades humanas e perdas econômicas do que os desastres naturais. Apesar dos elevados níveis gerais de tecnologia e segurança na Europa, o número de acidentes industriais na União Européia continua subindo (EC, sem data). Em 1997, houve 37 grandes acidentes industriais – o número anual mais alto desde que os registros tiveram início, em 1985 (EEA, 1999). Em contraste com os acidentes em instalações fixas, os acidentes com grandes derramamentos de petróleo de transportes marinhos e instalações em alto-mar apresentaram uma tendência de diminuição (ITOPF, 2000), embora o número total de derramamentos de petróleo pareça estar aumentando (EEA, 2001b). É provável que o risco geral de acidentes nucleares tenha aumentado na década de 1970 à medida que mais usinas entraram em funcionamento, mas deve ter diminuído na década de 1990 conforme usinas antigas foram desativadas e a construção de novas usinas diminuiu ou foi completamente abandonada devido à pressão da população. No entanto, não é possível quantificar o risco de liberações acidentais de radionuclídeos devido à falta de informações compa- ráveis e suficientemente detalhadas. Uma ampla campanha para aumentar a segurança de novos reatores nucleares civis e dos que estão em funcionamento, principalmente nos países da Europa Central e do Leste Europeu, foi impulsionada pelo acidente nuclear de 1986 em Chernobyl, na antiga União Soviética. Foram alocados recursos significativos para aumentar a segurança nuclear em usinas de processamento nuclear (por exemplo, a Comissão Européia gastou 838 milhões de euros entre 1991 e 1998) (EC, 2001). Contudo, um fator que complica a questão é a deterioração crescente das usinas de energia nuclear Baia Mare: a análise de um acidente em uma mina Às 22 horas do dia 30 de janeiro de 2000, caiu o muro de uma represa de uma usina de recuperação de refugo de mina em Baia Mare, no noroeste da Romênia, derramando 100 mil m3 de águas residuais poluídas com cianureto no Rio Tisa, que logo chegaram ao Danúbio e finalmente no Mar Negro, quando então tinha se tornado bastante diluído. O derramamento devastou uma grande quantidade de espécies da flora e da fauna silvestres nos sistemas fluviais. A Força Tarefa de Baia Mare, estabelecida para investigar o caso, relatou que as falhas no planejamento da usina em operação, inclusive a construção inadequada das represas, contribuiu para o acidente. Acredita-se que o problema principal tenha sido a ineficiência das autoridades responsáveis pela concessão de licenças e pela aplicação de normas. O processo de licenciamento era extremamente complexo, e a Força Tarefa concluiu que a avaliação original do impacto ambiental continha erros. Além disso, não foram estabelecidas medidas para lidar com situações de emergência, e o monitoramento do nível da água no depósito de decantação do refugo no local em que a represa ruiu era inadequado. Fonte: BMTF, 2000 305 Um helicóptero joga água sobre um dos incêndios florestais que periodicamente assolam os países do sul da Europa, como Croácia, França, Grécia, Itália, Eslovênia e Espanha; os incêndios também são comuns na região da Sibéria, na Federação Russa Fonte: UNEP, Rougier, Topham Picturepoint 306 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 mais antigas da Federação Russa e da Lituânia, que foram construídas de acordo com um planejamento similar ao do reator de Chernobyl. As análises de grandes acidentes industriais indicam que as falhas de componentes e os erros humanos são as duas causas imediatas mais comuns, mas as principais causas latentes identificadas foram a segurança e a gestão ambiental inadequadas (Drogaris, 1993; Rasmussen, 1996). O tempo de existência das usinas de processamento é mais um fator, já que, quanto maior, há mais probabilidades de falhas por “desgaste” (M&M Protection Consultants, 1997). A falta de investimentos em segurança e gestão ambiental e o funcionamento de usinas após o término de sua vida útil são, freqüentemente, resultado da pressão dos acionistas que desejam aumentar a lucratividade, embora essa pressão possa resultar em grandes perdas a longo prazo. No entanto, também revelam lacunas no regulamento e no monitoramento. O acidente na mina de Baia Mare, na Romênia, em janeiro de 2000, serviu como um lembrete bastante sério das deficiências de aplicação das normas ambientais nos países do Leste Europeu (ver box na página anterior). Políticas de resposta Para muitos desastres tecnológicos, as abordagens holísticas estão se tornando mais predominantes, com crescente atenção à redução do risco de impactos ambientais a longo prazo, bem como à redução de danos sérios à saúde e à propriedade causados por acidentes (EEA, 1999). É de suma importância a esse respeito a diretriz da Comissão Européia sobre o controle de grandes desastres acidentais envolvendo substâncias perigosas (freqüentemente referida como “Diretriz Seveso II”), agora também incorporada ao sistema jurídico da maioria dos países da Europa Central e do Leste Europeu. O banco de dados de seu Sis- tema de Relatório de Acidentes Maiores (Major Accident Reporting System – MARS) e o banco de dados do Sistema de Recuperação de Informações sobre as Usinas Seveso (Seveso Plants Information Retrieval System) são ferramentas práticas que ajudam os países a tomarem decisões quanto à administração do risco. Em geral, as informações sobre a extensão e a localização de perigos tecnológicos estão melhorando. Os planos de reação em caso de emergência agora podem ser elaborados para acidentes tecnológicos, mas ainda são necessários mais esforços para reduzir os riscos (EEA, 1999). Uma vez que a poluição não cessa em fronteiras políticas, um dos acordos multilaterais mais importantes a esse respeito é a Convenção de Helsinque de 1992 para a Proteção e Uso de Cursos de Água Transfronteiriços e Lagos Internacionais, que entrou em vigor em 1996. Essa convenção inclui exigências para conduzir avaliações de impacto ambiental (EIAs) e para notificar estados a jusante sobre acidentes, e ainda reforça o princípio “poluidor-pagador”. A Convenção de 1991 sobre Avaliação de Impacto Ambiental em Contextos Transfronteiriços, que entrou em vigor em 1997, exige que as partes notifiquem e consultem umas às outras sobre todos os grandes projetos em andamento que sejam perigosos em potencial (ECE, 1991). Está sendo considerada uma abordagem inovadora em relação a um protocolo conjunto sobre responsabilidade proposto de acordo com a Convenção de Helsinque e a Convenção sobre os Efeitos Transfronteiriços de Acidentes Industriais (REC, 2000). A maioria dos países europeus é parte desses tratados multilaterais, e a cooperação internacional de acordo com suas cláusulas ajuda os governos a melhorarem as políticas nacionais quanto à prevenção e à mitigação de desastres causados por atividades antrópicas. Referências: Capítulo 2, desastres, Europa BMTF (2000). Report of the International Task Force for Assessing the Baia Mare Accident. Brussels, European Commission Drogaris, G. (1993). Learning from major accidents involving dangerous substances. Safety Science, 16, 89-113 EEA (1999). Environment in the European Union at the Turn of the Century. Environmental Assessment Report No. 2. Copenhagen, European Environment Agency EEA (2001a). Sustainable Water Use in Europe. Part 3: Extreme Hydrological Events: Floods and Droughts. Environmental Issues Report No. 21. Copenhagen, European Environment Agency EC (2001). Nuclear Safety in Central Europe and the New Independent States. Europa http://europa.eu.int/ comm/external_relations/nuclear_safety/intro/ [Geo2-347] ECE (2001). Convention on Environmental Impact Assessment in a Transboundary Context. 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Os acidentes associados à mineração e a derramamentos de petróleo representam os principais desastres causados por atividades antrópicas na região. Registrou-se um total de 65.260 mortes em virtude de desastres naturais na região durante a década de 1990. As mortes resultaram principalmente de inundações (54%), epidemias (18,4%), tempestades, ciclones e furacões (17,7%), terremotos (5,2%) e deslizamentos de terra (3,2%) (CRED-OFDA, 2002). Considerando o fato de que as inundações e os deslizamentos de terra são freqüentemente associados a tempestades e furacões, os números indicam que três quartos do total de perdas humanas devido a desastres naturais na região têm origem hidrometeorológica. O número de mortes causadas por desastres caiu consideravelmente entre 1972 e 1999, coincidindo com a tendência global. O total de fatalidades na década de 1990 foi menor do que um terço do registrado na década de 1970, enquanto o número de pessoas feridas caiu para quase a metade (após aumentar em aproximadamente 30% na década de 1980) (CEPAL, 1999). Essa tendência pode ser explicada pela ocorrência de menos terremotos graves em áreas densamente povoadas ou altamente vulneráveis, bem como pelo estabelecimento de sistemas de alerta antecipado e medidas de preparação para casos de desastre em alguns países nos últimos trinta anos (PAHO, 1998). As perdas econômicas causadas por desastres aumentaram quase 230% entre as décadas de 1960 e 1990 (CEPAL, 1999), novamente refletindo uma tendência global. O fenômeno El Niño e as doenças epidêmicas As variações cíclicas da temperatura e das precipitações associadas ao El Niño são de importância particular, uma vez que podem favorecer o desenvolvimento e a proliferação de vetores de doenças epidêmicas, como a malária, a dengue, a febre amarela e a peste bubônica (WHO, 1999). Na América do Sul, as epidemias mais graves de malária ocorrem geralmente um ano após o início do El Niño, associadas a um aumento nas precipitações (como em 1983, na Bolívia, no Equador e no Peru) ou a uma redução nas precipitações e no escoamento (como na Colômbia e na Venezuela). Sugeriu-se uma associação similar entre o aquecimento das águas oceânicas superficiais provocado pelo El Niño, a proliferação de algas marinhas e o aparecimento do cólera na América do Sul em 1992. O impacto de níveis extremos de precipitações (tanto excessivas como escassas) é igualmente importante na propagação de doenças transmitidas pela água, como o cólera, infecções gastrointestinais e vários tipos de diarréia. Houve epidemias de cólera em 1997-1998 em Honduras, na Nicarágua e no Peru, relacionadas ao aumento nos níveis de precipitação em conseqüência do El Niño (WHO, 1999; PAHO, 1998). na costa do Atlântico como na do Pacífico. O Furacão Mitch, que atingiu a região em 1998, afetando principalmente Honduras e Nicarágua, provocou a morte de mais de 17 mil pessoas e deixou 3 milhões desabrigadas; os danos foram calculados em US$ 3 bilhões. O furacão também causou mortes e sérios danos ambientais e econômicos na Costa Rica, na República Dominicana, em El Salvador e na Guatemala (CRED-OFDA, 2002). As inundações ocorridas em 1999 na costa norte da Venezuela também tiveram um forte impacto, com prejuízos estimados em mais de US$ 3,2 bilhões ou 3,3% do PIB do país (World Bank, 2000). No estado de Vargas, a área mais atingida, perderam-se mais de 230 mil empregos. O estado de Miranda também foi cruelmente atingido: a represa de El Guapo ruiu, causando escassez de água, e registrou-se que 60% Eventos hidrometeorológicos O evento hidrometeorológico mais conhecido é o fenômeno El Niño, cujos impactos podem ser graves. Por exemplo, após a ocorrência do El Niño em 1983, o PIB do Peru caiu em 12%, principalmente devido a uma redução na produção agrícola e na indústria pesqueira. A economia nacional levou uma década para se recuperar. Os danos nos países da Comunidade Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) causados pelo El Niño de 1997/1998 foram calculados em mais de US$ 7,5 bilhões (CEPAL, 1999). A maioria dos países da América Central e do Caribe se encontra dentro da zona de furacões, tanto 307 Fonte: UNICEF, 2001 308 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 da safra foi perdida (MoPD Venezuela, 2000). Estimase que tenha havido 30 mil mortes, 30 mil famílias desabrigadas e mais de 81 mil habitações destruídas (IFRC, 2002). Eventos geológicos As atividades sísmicas e tectônicas são particularmente intensas ao longo da costa do Oceano Pacífico e na bacia do Caribe por causa de pressões geradas entre as placas oceânicas e continentais. Essa atividade apresenta um risco relativamente alto de terremotos, maremotos e erupções vulcânicas que, em algumas áreas, agravam o risco já elevado de furacões e inundações. Entre 1972 e 1999, os eventos geológicos extremos provocaram a morte de 65.503 pessoas e afetaram outras 4,4 milhões (CRED-OFDA, 2002). Desastres causados por atividades antrópicas Certos desastres, como derramamentos de substâncias químicas perigosas e produtos derivados de petróleo, têm origem tecnológica. No delta do Rio Orinoco e nas regiões vizinhas da Venezuela, por exemplo, o uso de cianureto e mercúrio na extração de ouro aumentou 500% na última década com o cresciVulnerabilidade dos países do Caribe aos perigos naturais furacões terremotos vulcões enchentes secas mento da exploração do mineral. Somente na Bacia do Caroni, 3 mil quilos de mercúrio foram despejados, e um derramamento de 1,5 milhão de toneladas de resíduos poluídos com cianureto foi registrado nos Rios Omai e Esequibo na vizinha Guiana (Filártiga e Agüero Wagner, 2001; AMIGRANSA, 1997). O maior derramamento de petróleo na região foi o originado de uma explosão submarina de petróleo no poço Ixtoc na Baía de Campeche em 1979, o segundo maior registrado no mundo, com mais de 500 mil toneladas (Cutter Information Corp, 2000). Políticas de resposta Muitos países, principalmente os localizados em ilhas, são vulneráveis a desastres naturais (ver tabela). Entre os principais motivos de preocupação quanto às políticas, vale citar os seguintes (UNEP, 1999): • • • • • deficiência na prevenção de desastres, incluindo a falta de zoneamento de áreas vulneráveis durante o processo de planejamento do desenvolvimento; mecanismos ineficientes de mitigação; deficiência e uso limitado de medidas de construção anti-sísmicas, assim como organização administrativa e recursos humanos; inadequados para a aplicação de tais medidas; inexistência de apólices de seguro para famílias de baixa renda; e sistemas inadequados de apoio às comunidades afetadas. Antígua e Barbuda Bahamas Barbados Belize Cuba Dominica República Dominicana Granada Guiana Haiti Jamaica São Cristóvão e Nevis Santa Lúcia São Vicente e Granadinas Suriname Trinidad e Tobago alta vulnerabilidade média vulnerabilidade baixa vulnerabilidade É essencial melhorar a gestão para reduzir os desastres, principalmente implementar ações não estruturais de mitigação, mediante a utilização de mecanismos naturais. Por exemplo, as áreas úmidas reduzem as inundações, as florestas diminuem os deslizamentos de terra e os manguezais atenuam o efeito de tempestades costeiras e marés extremas. Em geral, o bom uso da terra mantém os ecossistemas saudáveis, fornece recursos e facilita as ações não-estruturais de mitigação. Essa estratégia é particularmente atraente em países em que o seguro contra riscos e a mitigação estrutural são dispendiosos. Dada a enorme carga econômica, social e ambiental dos desastres, foi atribuída uma atenção considerável, na última década, à preparação para casos de desastre, sua avaliação e mitigação. Muitas das ações foram realizadas no contexto da Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais (IDNDR). Em âmbito regional, sua ordem de promover a cooperação internacional nessa área teve o apoio da Conferência Interamericana sobre Redução DESASTRES de Desastres Naturais, realizada em Cartagena, em março de 1994. Diversos países da região, como Brasil, Costa Rica, Cuba, Chile, Colômbia, Guatemala, Nicarágua e Panamá, criaram e fortaleceram instituições nacionais na área de administração de desastres. Tais instituições incluem o Centro para a Coordenação para a Prevenção dos Desastres Naturais na América Central, estabelecido em 1988, e a Agência Caribenha de Resposta de Emergência em Caso de Desastre, estabelecida em 1991. Sob os auspícios da Organização dos Estados Americanos, a Convenção Interamericana para Facilitar a Assistência em Caso de Desastre foi adotada em 1991 e entrou em vigor em 1996 (PAHO, 1998). A experiência mostrou os efeitos positivos do planejamento e da criação de competências institu- cionais. Um item fundamental é fortalecer e padronizar métodos de produção de dados em âmbito regional, não apenas para evitar inconsistências durante casos de emergência, mas também para avaliar as perdas. São igualmente relevantes os esforços para identificar a vulnerabilidade dos territórios e das populações quando enfrentam perigos naturais e causados por atividades antrópicas (ver box). As medidas preponderantes em caso de desastres referem-se à administração do risco, que possui um elemento crescente de participação local e comunitária e utiliza de forma não centralizada as organizações não governamentais e os grupos de cidadãos. Dentro dessa estrutura, surge uma nova visão: o processo de desenvolvimento deve reduzir o risco, por meio da diminuição da vulnerabilidade social, econômica e ambiental das populações e dos territórios. Referências: Capítulo 2, desastres, América Latina e Caribe AMIGRANSA (1997). Posición de AMIGRANSA ante el decreto 1.850 de explotación de los bosques de Imataca. Press Release. Communications for a Sustainable Future, University of Colorado http://csf.colorado.edu/ mail/elan/jul97/0068.html [Geo-2-353] Filártiga, J. and Agüero Wagner, L. (2001). Fiebre del oro y ecoapocalipsis en Venezuela. Apocalipsis GeoAmbiental. El Imperialismo Ecológico http://www. quanta.net.py/userweb/apocalipsis/Venezuela/ body_venezuela.html [Geo-2-355] CEPAL (1999). América Latina y el Caribe: El Impacto de los Desastres Naturales en el Desarrollo, 1972-1999. Mexico City, Commisión Economica para America Latina y el Caribe, Naciones Unidas IFRC (2002). Venezuela: Floods. Situation Report No. 9. 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United Nations Children’s Fund http://www.unicef.org/emerg/ ElSalvador.htm [Geo-2-356] WHO (1999). El Niño and Health. Geneva, World Health Organization World Bank (2000). In Wake of Floods, Bank Urges Venezuela to Protect Poor …. Press release 7 March 2000 http://wbln0018.worldbank.org/external/lac/ lac.nsf/[Geo-2-357] 309 310 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Desastres: América do Norte Perigos naturais, como terremotos, erupções vulcânicas, tornados, furacões, tempestades de neve, secas, tempestades de areia e outros eventos extremos, ameaçam diferentes partes da América do Norte. Inundações e incêndios florestais também são motivos prioritários de preocupação. Os governos da região implementaram muitos mecanismos de resposta para evitar e atenuar os danos causados por tais fatores. Apesar de normas firmes que regulam o manejo de material perigoso, acidentes graves ocorrem ocasionalmente, os quais induzem à elaboração de mais leis preventivas. Inundações e mudança do clima No Canadá (como nos Estados Unidos), a precipitação anual (média móvel, linha sólida) tem estado, nos últimos períodos observados, acima da média de 1951-80. Fonte: EC, 1998 a Acredita-se que a interrupção e a intensificação do ciclo hidrológico da Terra seja um dos efeitos fundamentais da mudança do clima (White House, 2000). É possível que já ocorram mudanças nas condições hidrológicas da América do Norte, conforme demonstrado pelo aumento nos níveis anuais médios de precipitação nos últimos trinta anos (ver gráfico). Nos Estados Unidos, o nível médio de umidade na atmosfera aumentou 5% por década entre 1973 e 1993 (Trenberth, 1999). A maior parte desse aumento se deve a chuvas mais intensas que resultaram em inundações e tempestades (O’Meara, 1997; Easterling e outros, 2000). Mudanças na média de precipitação anual (em mm): Canadá 15 10 5 0 -5 0 20 0 5 19 9 0 19 9 5 19 8 0 19 8 5 19 7 0 19 7 5 19 6 0 19 6 5 19 5 0 19 5 19 4 5 -10 Durante as décadas de 1960 e 1970, mais de 90% dos desastres naturais nos Estados Unidos foram o resultado de eventos meteorológicos ou climáticos extremos (Changnon e Easterling, 2000). As inundações são naturais e essenciais à saúde das bacias hidrográficas, mas também podem ser destrutivas e causar prejuízos econômicos (ver box acima). Em resposta a esses eventos, os Estados Unidos aprovaram a Lei Nacional de Seguro contra Inundações (National Flood Insurance Act), de 1968, e a Lei de Ajuda em Caso de Desastres (Disaster Relief Act), de 1974. Muitas das responsabilidades separadas e fragmentadas de programas paralelos de ação em caso de desastre, em âmbito tanto estadual como local, foram fundidas em 1979 na Agência Federal de Administração de Emergências (Federal Emergency Management Agency) (FEMA 1999). Em 1975, o Canadá implementou o Programa de Redução de Danos Causados por Inundações (Flood Damage Reduction Program – FDRP) e, em 1988, estabeleceu a Defesa Civil do Canadá (Emergency Preparedness Canada – EPC) (EC, 2000). Esses programas ofereceram melhores medidas de mitigação, preparação, resposta e recuperação em matéria de inundações. DESASTRES A Comissão Internacional dos Grandes Lagos (IJC) auxilia os dois governos a administrar suas águas compartilhadas. Em um relatório sobre a inundação do Rio Vermelho ocorrida em 1997, advertiase que, considerando o iminente aumento das inundações devido à mudança do clima, uma estratégia binacional abrangente deveria ser elaborada e implementada (IJC, 2000). Incêndios florestais Os incêndios florestais são uma parte natural da paisagem da América do Norte e desempenham uma função importante ao manter e regenerar alguns tipos de florestas (NIFC, 2000). Os incêndios provocados por raios são úteis para eliminar árvores velhas e mortas, que são rapidamente substituídas por árvores novas e fortes (CCFM, 2000). Esses incêndios abrem espaço a novas mudas, ajudam a aumentar a diversidade, eliminam os restos e elevam a disponibilidade de nutrientes (Jardine, 1994). Desde a década de 1970, a área anual queimada por incêndios florestais aumentou (ver gráfico). O aumento se deu por uma série de fatores: a acumulação de combustível de programas anteriores de Superfície florestal queimada (milhões ha/ano): América do Norte 10 Desde que as autoridades decidiram deixar que os incêndios espontâneos se extinguissem naturalmente, as áreas de florestas queimadas têm aumentado a cada ano. 8 6 4 2 74 19 76 19 78 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 19 72 0 19 As evidências demonstram que as mortes e os danos provocados por inundações aumentaram drasticamente desde o início da década de 1970 (USGRP, 2000). Mais pessoas e seus assentamentos estão expostos a inundações em virtude do aumento e da concentração da população, assim como do aumento da prosperidade econômica (Easterling e outros, 2000). A tendência de estabelecer assentamentos em áreas propensas a inundações também é influenciada pela percepção de que o risco diminuiu graças a estruturas de proteção, como represas, diques e desvios, e por causa da disponibilidade de socorro em caso de desastre (Brun e outros, 1997; Bruce e outros, 1999). As estruturas que evitam a inundação de rios freqüentemente provocam inundações extremamente danosas quando a água finalmente transborda (ver box na página ao lado). Na década de 1990, os Estados Unidos, país sujeito a eventos meteorológicos mais freqüentes e graves do que o Canadá, começaram a promover abordagens não-estruturais para a prevenção de inundações, como projetos de reassentamentos e recuperação de áreas úmidas. No Canadá, promoveu-se o desestímulo a assentamentos em áreas propensas a inundações, por meio de mapeamento e indicação de mais de 320 áreas com risco de inundações (EC, 1998b). O país estabeleceu a Agência de Infra-estrutura Crítica e Preparação para Casos de Emergência (Office of Critical Infrastructure and Emergency Preparedness – OCIPEP) em 2001, com o objetivo de elaborar e implementar uma abordagem mais abrangente à prevenção de desastres (OCIPEP, 2001). De acordo com alguns modelos de mudança do clima, prevê-se o aumento da magnitude, da freqüência e do custo de eventos hidrológicos extremos em algumas regiões da América do Norte (USGCRP, 2000). Os efeitos previstos da mudança climática incluem as mudanças no fenômeno El Niño. Acreditase que um evento El Niño extraordinariamente forte ocorrido em 1997-1998 tenha sido responsável por inundações graves na Flórida, na Califórnia, em alguns estados da região central dos Estados Unidos e em partes do estado de New England (Trenberth, 1999). Nos lugares em que as tempestades se intensificam e as inundações aumentam, há um maior potencial de danos em assentamentos localizados em áreas baixas e nas instalações portuárias e de atracamento, assim como aumenta o potencial de problemas com a distribuição de água e com os sistemas de esgoto, o que pode trazer prejuízos à saúde (EC, 1999a). 311 proteção contra incêndios; mudanças nas políticas relativas à queimada controlada; e maior acesso do público às florestas. A mudança do clima também está envolvida. A importância relativa desses fatores é polêmica. Há muito tempo os Estados Unidos aplicam uma política agressiva de extinção de incêndios, e, até a década de 1970, os incêndios eram mantidos em cerca de 2 milhões de hectares por ano nos 48 estados mais baixos, em comparação aos 16 milhões de hectares queimados a cada ano na década de 1930 (Booth, 2000; CEQ, 2000; H. John Heinz III Center, 2001). Fonte: CCFM, 2000; CIFCC, 2001 e NIFC, 2000 312 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Conseqüentemente, as espécies normalmente eliminadas pelos incêndios tornaram-se dominantes. As árvores mortas ficaram acumuladas durante períodos de seca, criando cargas excessivas de combustível. A extinção dos incêndios evitou que incêndios naturais de baixa intensidade queimassem esse combustível acumulado. O resultado foi a ocorrência de incêndios cada vez maiores e mais desastrosos (CEQ, 2000). A importância dos incêndios naturais periódicos começou a ser reconhecida na década de 1970. As políticas dos Estados Unidos de extinguir todos os incêndios antes que atingissem uma área de 4 hectares até as 10 horas da manhã do dia seguinte foram suspensas no final dessa década (Gorte, 1996). Decidiu-se não interferir nos incêndios em áreas silvestres ou parques nacionais, a menos que houvesse ameaça a pessoas ou a terras vizinhas (COTF, 2000; Turner, 2001). Além disso, implementaram-se queimadas controladas e políticas de “deixar que se extinga” para reduzir o combustível acumulado e proteger assentamentos e empresas. Esses incêndios são provocados propositadamente ou ocorrem por raios, e permite-se que se extingam por si só. A cada ano, mais de 2 milhões de hectares recebem tratamento de queimadas controladas nos Estados Unidos (Mutch, 1997). No entanto, essas políticas não estiveram livres de polêmica. Em 1988, permitiu-se que partes do Yellowstone – o maior Parque Nacional dos Estados Unidos – fossem queimadas após serem atingidas por um raio. Os incêndios se espalharam rapidamente por causa de uma grave seca de verão e ventos fortes. Por fim, decidiu-se extinguir os incêndios. Ao custo de US$ 120 milhões, esse foi o combate a incêndio mais dispendioso da história dos Estados Unidos (NPS, 2000). O desafio do manejo de incêndios florestais tem sido agravado pelos aumentos demográficos próximos a áreas propensas a incêndios. Calcula-se que na década de 1990 os incêndios tenham danificado seis vezes mais casas do que na década anterior (Morrison e outros, 2000). Os incêndios florestais também provocam muita fumaça, e algumas rodovias, aeroportos e áreas de recreação devem encerrar suas atividades periodicamente devido à visibilidade reduzida. A fumaça também constitui um perigo à saúde, devido às substâncias químicas tóxicas que contém. É possível que as mudanças climáticas passíveis de provocar condições meteorológicas mais secas e tempestades mais graves também tenham um papel na mudança dos padrões de incêndios. Em 1989, por exemplo, incêndios sem precedentes ocorreram no oeste do Canadá e nas áreas a leste da Baía de James. Foram causados por condições meteorológicas incomuns e por uma onda de calor inédita no Ártico (Jardine, 1994; Flannigan e outros, 2000). A gravidade do período de incêndios de 1995 no Canadá, que queimou 6,6 milhões de hectares de florestas, deveu-se parcialmente também a condições meteorológicas extremamente secas (EC, 1999b). No futuro, o índice anual de gravidade de incêndios na América do Norte tem grande possibilidade de aumentar em função da mudança do clima. Acredita-se que a mudança climática aumentará o número de raios, bem como a intensidade e a freqüência das tempestades de vento (Jardine, 1994). Estão sendo intensificadas as pesquisas sobre as associações entre a mudança climática e a florestal. Referências: Capítulo 2, desastres, América do Norte Booth, W. (2000). ‘Natural’ Forestry Plan Fights Fires With Fire. 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A região sofreu períodos de seca durante as décadas de 1930, 1960 e 1990. Nos invernos de 1991-1992 e de 1992-1993, foi raro nevar em muitas áreas do Mediterrâneo oriental (WMO e UNEP, 1994). Os ciclos de seca tornaram-se intensos e mais freqüentes. A seca de 1998-1999 afetou muitos países, e a Síria foi a mais atingida, sofrendo sua pior seca em vinte e cinco anos (FAO, 1999). Os efeitos mais diretos da seca foram más colheitas e declínio na produção de cereais e gado. No Iraque, por exemplo, a produção de cereais caiu 20% em comparação ao ano anterior e 40% em comparação à produção média dos cinco anos anteriores (FAO, 1999). Um relatório de uma missão da FAO/ WRP na Síria declarou que uma grande parte da população de pastores nômades enfrentava a “ruína financeira”, com 4.700 famílias gravemente vulneráveis à escassez de alimentos, necessitando de assistência alimentar com urgência. A produção de cereais também foi seriamente afetada. Calculou-se que a safra de cevada foi de apenas 380 mil toneladas – menos da metade do total de 1998 e 72% a menos do que a média anual dos cinco anos anteriores. As necessidades locais tiveram de ser atendidas por meio de importações. O declínio na produção de trigo foi menos grave (28% abaixo da média), porque 40% dos campos de trigo da Síria são irrigados. A Jordânia também sofreu os efeitos negativos da seca, que em 1999 reduziu a produção de trigo e cevada do país em 88% (WFP, 2001). A seca traz problemas econômicos, sociais e ambientais. As dificuldades econômicas se intensificam durante a seca e podem levar a conflitos sociais entre usuários da terra, principalmente nos países do Mashreq e no Iêmen, onde prevalece uma economia baseada na agricultura. A seca também é um dos principais fatores que limitam o desenvolvimento econômico da região, já que afeta o desenvolvimento dos DESASTRES sistemas agrícola e hídrico e, em última análise, a produção de alimentos. A forragem se torna escassa nas terras de pastagem durante os períodos de seca. Além disso, o declínio na produção de cereais e a disponibilidade limitada de resíduos de safras agravam o impacto da seca sobre o gado ovino e, conseqüentemente, sobre o bem-estar humano. A perda de ovelhas e o alto preço da alimentação complementar levaram a uma queda significativa das rendas dos agricultores, e muitas famílias foram forçadas a vender seus animais e outros bens a preços baixos (FAO, 1999). A degradação da terra, principalmente na forma de desertificação, é um dos problemas mais sérios da região. Embora a desertificação seja freqüentemente atribuída a práticas inadequadas de uso da terra, a seca agrava o efeito e estende a superfície propensa à desertificação, abrangendo áreas que normalmente não correm esse risco. Os declínios da cobertura vegetal devido à seca também podem aumentar a erosão e levar a uma perda quase irreversível do potencial produtivo e, subseqüentemente, à desertificação (Le Houérou, 1993; Parton e outros, 1993). As nações reagiram à seca melhorando os esforços nacionais de combate à desertificação e integrando-se aos esforços internacionais com o mesmo objetivo, como a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. Sob o patrocínio desse tratado internacional, foram desenvolvidos programas de ação nacional, e, em 2000, foi adotado um programa de ação sub-regional de combate à desertificação e à seca (UNCCD, 2001). Em âmbito nacional, as ações e as medidas adotadas incluem modificar as políticas agrícolas e hídricas e dar prioridade às áreas afetadas pela seca. Desastres causados por atividades antrópicas Os desastres causados por atividades antrópicas estão principalmente associados à indústria petrolífera. A extração intensiva de petróleo na região resulta em freqüentes descargas de petróleo no Golfo. Calculase que aproximadamente 10% do petróleo descarregado na região penetre no meio ambiente marinho (Al-Harmi, 1998). Também ocorrem derramamentos acidentais de petróleo, e 3 desses acidentes estão entre os 20 maiores do mundo: 300 milhões de litros procedentes da Plataforma de Nowruz, no dia 26 de janeiro de 1991, 144 milhões de litros do petroleiro Sea Star, em 19 de dezembro de 1972, e 118 milhões de litros de tanques de armazenagem no Kuwait, no dia 20 de agosto de 1981 (Oil Spill Intelligence Report). Todavia, o maior derramamento de petróleo ocorreu em janeiro-fevereiro de 1991, durante a Guerra do Golfo (1990-1991), quando 9,5 bilhões de litros de petróleo foram vertidos propositadamente no deserto. Calcula-se que 1,5 bilhão de litros de petróleo tenham sido jogados nas águas do Golfo e que mais de 600 poços de petróleo no Kuwait tenham sido incendiados (Bennett, 1995). Esse desastre antropogênico teve imensos impactos sobre o meio ambiente e a saúde humana. Os efeitos ambientais de longo prazo da Guerra do Golfo podem persistir por décadas (UNEP, 1991). Além da poluição terrestre e marinha, quantidades incríveis de poluentes como dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e material particulado foram emitidos pelos poços de petróleo incendiados. Os elevados níveis de partículas em suspensão foram associados a uma reação alérgica nas pessoas. Estudos hospitalares indicam que cerca de 18% da população civil do Kuwait sofre de algum distúrbio respiratório, principalmente asma, em comparação a somente 6% nos Estados Unidos (US DoD, 2000). Conflitos armados Juntamente com os desastres naturais, a região tem sido assolada por guerras. Desde o início do século XX, a região foi palco da guerra entre árabes e israelenses em 1948, da Guerra dos Seis Dias em 1967, da guerra de outubro de 1973 e da invasão israelense no sul do Líbano em 1982. Nas décadas de 1980 e de 1990, a primeira e a segunda guerra do Golfo causaram grandes problemas ao meio ambiente. A poluição ambiental foi um dos principais impactos. As flores- 315 Alguns dos 600 poços de petróleo incendiados deliberadamente durante a segunda Guerra do Golfo em janeiro de 1999. Fonte: UNEP, Sandro Pintras, Topham Picturepoint 316 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 tas foram deliberadamente incendiadas e os recursos hídricos foram poluídos e/ou destruídos. O fogo de artilharia destruiu os recursos da terra. Os recursos marinhos foram poluídos, assim como a atmosfera, em conseqüência dos incêndios dos poços de petróleo, e os solos foram contaminados pelos derramamentos de petróleo durante a segunda Guerra do Golfo. As guerras geram refugiados. Em conseqüência da guerra entre árabes e israelenses em 1948, mais de 750 mil palestinos foram destituídos de suas terras e ficaram desabrigados. Em uma segunda onda, apro- ximadamente 350 mil palestinos e mais de 150 mil sírios tornaram-se refugiados no fim da Guerra dos Seis Dias. Cidades e vilarejos na Palestina e nas Colinas de Golã foram despovoados e destruídos. Hoje há cerca de 3,8 milhões de refugiados em 59 campos registrados na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, 2002). Os refugiados palestinos estão espalhados em diversos países, incluindo a Jordânia, o Líbano e a Síria. A maioria vive em condições de pobreza, pressionando ainda mais os recursos naturais já limitados. Referências: Capítulo 2, desastres, Ásia Ocidental ACSAD (1997). Water Resources and their Utilization in the Arab World. 2nd Water Resources Seminar, March 8–10, Kuwait Al-Harmi, L. (1998). Sources of Oil Pollution in Kuwait and Their Inputs in the Marine Environment. EES-125 Final Report. Kuwait, Kuwait Institute for Scientific Research AOAD (1995). 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Devido ao fato de que a mudança do clima provavelmente aumenta a precipitação nas áreas de bacia dos rios árticos (IPCC, 2001a), pode haver um aumento correspondente na freqüência e na magnitude das inundações. O aumento de temperatura observado nas massas continentais do Ártico nos últimos anos resulta no degelo do pergelissolo em muitas áreas. Nas áreas desenvolvidas do Ártico, serão necessários esforços para reduzir os impactos do degelo sobre edifícios e a infra-estrutura de transporte (IPCC, 2001b). A zona de pergelissolo cobre 58% da Federação Russa. É possível que o limite da zona se desloque 300 km a 400 km ao norte até 2100 (Interagency Commission, 1998). Outro desastre natural que afeta o ecossistema do Ártico é a invasão de pragas, que podem devastar uma área de floresta e afetar as atividades econômicas associadas. Epidemias de pragas são um grande problema nas florestas de tundra. O escolitídeo de abeto (Dendroctonus rufipennis) causou uma grave destruição e morte da vegetação na floresta de abeto do Alasca. Na Escandinávia, traças da espécie Epirrita autumnata causam desfolhamento maciço das florestas de bétulas em intervalos de aproximadamente dez anos. Essas florestas não se recuperam durante séculos devido ao ritmo lento de recuperação da vegetação no Ártico (CAFF, 2001). Desastres causados por atividades antrópicas Com exceção da Finlândia, todos os países que fazem fronteira com a área do Ártico possuem terminais de petróleo ou importantes rotas de transporte de petróleo ou materiais perigosos em suas zonas árticas. Outras atividades antrópicas incluem a exploração de petróleo e recursos minerais por parte de todos os países, exceto Finlândia e Suécia. A Islândia possui um vertedouro de materiais perigosos, e a Federação Russa tem diversos sítios nucleares e vertedouros de resíduos radioativos em sua área ártica. Um estudo de risco ambiental causado pelas atividades humanas no Ártico, realizado sob o patrocínio do Conselho do Ártico, concluiu que a maior ameaça proveniente de liberação de poluentes que possa exigir uma reação emergencial é o transporte e o armazenamento de petróleo. Os sítios nucleares, embora avaliados em geral como menos que uma ameaça, poderiam afetar áreas muito maiores (EPPR, 1997). Rupturas e vazamentos em oleodutos, como os que ocorreram na área russa de Usinsk em 1994, quando 116 milhões de litros de petróleo bruto foram derramados (Oil Spill Intelligence Report, 2002), e o acidente com o petroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989, com quase 50 milhões de litros de petróleo bruto derramados (NOAA, 2001), são exemplos de impactos ambientais catastróficos na região. Muitos acidentes de menor porte, como poços de petróleo que surgem e jorram sem controle e a descarga acidental de lodo contaminado durante a perfuração, também resultam em poluição ambiental local (AMAP, 1997). Atividades, tanto do passado como atuais, que envolvem materiais radioativos no Ártico criam um elevado potencial de risco de acidentes, embora ainda não tenha havido poluição radioativa em larga escala. Por exemplo, acidentes como o naufrágio do submarino nuclear soviético Komsomolets em 1989 e o do submarino nuclear russo Kursk em 2000, bem como a queda de uma aeronave norte-americana com carregamento de armas nucleares próximo a Thule, na Groenlândia, em 1968, não resultaram na liberação de substâncias radioativas no meio ambiente. A União Soviética despejou resíduos radioativos de níveis alto, intermediário e baixo nos mares de Kara e Barents, entre 1959 e 1991 (ver mapa na página seguinte), incluindo seis reatores nucleares submarinos e uma montagem de proteção do reator de um navio quebra-gelo contendo combustível gasto (AMAP, 1997). Desde então, as pesquisas e os dados coletados têm indicado que não houve migração de quantidades significativas de materiais radioativos a partir do vertedouro, e apenas amostras muito locais apresentaram níveis elevados de radionuclídeos. Os principais riscos podem ocorrer a longo prazo, à medida que os contêineres sofrerem corrosão. 317 318 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Depósitos de lixo atômico: Ártico Fiorde Blagopoluchiye Fiorde Techeniy Fiorde Sedov Fiorde Oga Fiorde Tsikolka Baía Stepovogo Baía Abrosimov Canal Novaya Zamiya Ilha de Kolguyev lixo líquido lixo sólido O mapa mostra depósitos para os lixos radioativos sólidos e líquidos nas regiões árticas da Federação Russa. A contaminação radioativa proveniente das usinas de reprocessamento européias na década de 1970 e dos testes atmosféricos de armas nucleares na década de 1960 tem contribuído para a atual con- taminação de nível baixo do Ártico (AMAP, 1997; OTA, 1995). Existem dados limitados sobre a quantidade de material radioativo descarregado ou sobre a localização dos vertedouros no Ártico, e qualquer um desses locais pode ser “um desastre latente” (AMAP, 1997). Governos, empresas e organizações internacionais estão tomando medidas para aumentar a preparação em caso de desastre na região. A cooperação intergovernamental é realizada de forma tanto bilateral como multilateral, principalmente por meio do Conselho do Ártico. Dois dos programas do Conselho do Ártico – Prevenção, Preparação e Reação Emergencial (EPPR), e Proteção do Meio Ambiente Marinho do Ártico (PAME) – produziram informações e diretrizes importantes sobre os riscos ambientais no Ártico. Por exemplo, o EPPR elaborou, em 1997, as Diretrizes para a Exploração em Alto-Mar de Petróleo e Gás Natural no Ártico, dirigidas às agências reguladoras. O PAME elaborou uma diretriz sobre a transferência de produtos petrolíferos de navios para a costa e de navio para navio (Arctic Council, 2001). A IUCN e a Associação de Produtores de Petróleo e Gás Natural prepararam diretrizes para a proteção ambiental no Ártico e no Sub-Ártico (IUCN e E&P Forum, 1993). Fonte: AMAP,1997 Referências: Capítulo 2, desastres, as Regiões Polares AMAP (1997). Arctic Pollution Issues: a State of the Arctic Environment Report. Oslo, Arctic Monitoring and Assessment Programme Arctic Council (2001). Arctic Council Activities http:/ /www.arctic-council.org/ac_projects.asp [Geo-2-384] CAFF (2001). Arctic Flora and Fauna: Status and Conservation. Helsinki, Arctic Council Programme for the Conservation of Arctic Flora and Fauna EPPR (1997). Environmental Risk Analysis of Arctic Activities. Risk Analysis Report No. 2. The Emergency Prevention Preparedness and Response Working Group of the Arctic Council http://eppr.arctic-council.org/ risk/riskcover.html [Geo-2-385] Interagency Commission (1998). The Second National Communication to the UNFCCC. Moscow, Interagency Commission of the Russian Federation on Climate Change Problems IPCC (2001a). Climate Change 2001: The Scientific Basis. 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O Uzbequistão, o Cazaquistão e outros países da Ásia Central usaram essa água para cultivar algodão e outras safras de exportação, com conseqüências ambientais generalizadas que incluíam perda nas atividades de pesca, contaminação da água e do solo e níveis perigosos de sedimentos poluídos transportados pelo ar. O Mar de Aral é uma das maiores catástrofes ambientais já registradas. Os seres humanos fizeram uso das águas da bacia do Aral por milhares de anos, extraindo-as de seus dois rios principais: o Amu Darya, que flui para o Mar de Aral vindo do sul, e o Syr Darya, que atinge o mar em seu extremo norte. O Canal Kara Kum foi aberto em 1956, desviando grandes quantidades de água do Amu Darya para o deserto do Turcomenistão, e milhões de hectares de terras tornaram-se irrigados após 1960. Embora o Mar estivesse recebendo cerca de 50 km3 de água por dia em 1965, até o início da década de 1980 essa quantia caiu para zero. À medida que o Aral diminuiu, sua salinidade aumentou, e até o início da década de 1980 os peixes para uso comercial haviam sido eliminados, o que acarretou o fechamento de uma indústria que empregava 60 mil pessoas. O declínio do nível do mar baixou o nível das águas subterrâneas na região, destruindo muitos oásis próximo à sua costa. A irrigação excessiva causou a acumulação de sal em muitas áreas agrícolas. No início da década de 1973 1986 A foto acima mostra um barco de pesca abandonado em uma área que costumava ser o Mar de Aral. As imagens de satélite abaixo mostram a redução do tamanho do mar entre 1973 e 1999. 1990, a superfície do Aral havia diminuído para quase a metade, e seu volume caiu 75%. Os ventos carregavam sedimentos com sais e pesticidas, o que gerou conseqüências devastadoras à saúde dos habitantes das regiões vizinhas (ver também box sobre o Mar de Aral em “Desastres: Ásia e Pacífico”). Dados Landsat: USGS/EROS Data Center Compilação: UNEP GRID Sioux Falls Foto: UNEP, Topham Picturepoint 1999 320 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 Conclusões As seções anteriores deste capítulo mostram que tem havido uma enorme mudança tanto nas condições humanas como nas ambientais nos últimos trinta anos. Em um período de um aumento populacional sem precedentes, o meio ambiente tem suportado a carga de satisfazer múltiplas necessidades humanas. Em muitas áreas, o estado do meio ambiente é muito mais frágil e degradado do que era em 1972. O resultado é que o mundo pode agora ser categorizado em quatro divisões principais: • • • • Linha divisória ambiental – caracterizada por um meio ambiente estável ou melhorado em algumas regiões, por exemplo na Europa e na América do Norte, e um meio ambiente degradado nas outras regiões, principalmente nos países em desenvolvimento; Linha divisória política – caracterizada por duas dimensões distintas relativas à elaboração e à implementação de políticas: algumas regiões são fortes nos dois aspectos e outras ainda enfrentam dificuldades nesses mesmos aspectos; Diferença de vulnerabilidade – divisão que se está ampliando dentro da sociedade, entre países e por regiões, pela qual os menos favorecidos correm mais riscos de mudanças ambientais e desastres; e Linha divisória do estilo de vida – resulta parcialmente do aumento da pobreza e da prosperidade econômica. Um lado da linha divisória do estilo de vida se caracteriza pelos excessos de consumo por parte de uma minoria equivalente a um quinto da população mundial, que é responsável por aproximadamente 90% do total de consumo pessoal; o outro lado se caracteriza pela pobreza extrema, em que 1,2 bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia. Essas quatro delimitações constituem uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável. Os parágrafos seguintes enfatizam alguns dos desafios ambientais que a humanidade enfrenta hoje e alguns progressos alcançados nas três últimas décadas. Realizações ambientais As políticas articuladas em documentos como a Declaração e o Programa de Ação da Conferência de Estocolmo, a Estratégia Mundial para a Conservação, Nosso Futuro Comum, a Declaração do Rio e a Agenda 21 serviram de orientação para a agenda ambiental no período de 1972-2002. Os sistemas jurídicos vinculantes – alguns anteriores a 1972 – agora integram o corpo do direito ambiental internacional, fornecendo a força necessária para promover seu cumprimento. Além das políticas e da estrutura jurídica, as três últimas décadas testemunharam também uma proliferação de instituições ambientais pelos setores público e privado e pela sociedade civil em geral. Agora são comuns os ministérios ou departamentos de meio ambiente em todas as regiões. O desenvolvimento sustentável e os padrões ambientais tornaram-se parte da lingua franca de grandes empresas, e muitas delas elaboram relatórios ambientais anuais como parte da agenda corporativa. A sociedade civil chegou à maioridade, registrando muitos casos de êxito em diferentes níveis – do âmbito comunitário ao internacional. Alguns dos progressos alcançados desde 1972 incluem os seguintes: • • • • • O tratamento da destruição da camada de ozônio é uma vitória notável para a boa gestão ambiental mundial. No entanto, requer vigilância contínua. A preocupação com os níveis de poluentes atmosféricos comuns resultou em um incentivo às reduções em muitos países, que têm sido realizadas por meio de medidas específicas de políticas, incluindo padrões de emissões e de qualidade do ar, assim como normas de fundamento tecnológico e diferentes instrumentos baseados no mercado. Abordagens mais holísticas para a gestão de terras, como os sistemas integrados de nutrientes de solos agrícolas e gestão integrada de pragas, têm sido implementadas com resultados positivos para a saúde dos ecossistemas agrícolas em algumas regiões. As políticas relativas à água doce estão deixando de concentrar-se nos direitos de comunidades ribeirinhas para dedicar-se a melhorar a eficiência e a gestão de bacias hidrográficas. Atualmente, a gestão integrada dos recursos hídricos é amplamente aceita como uma iniciativa estratégica de políticas. Surgiu um novo entendimento teórico dos benefícios dos serviços prestados pelos ecossistemas; entretanto, na prática, as informações e os instru- DESASTRES • • • • • • • • mentos de políticas para protegê-los têm sido insuficientes ou esporádicos. Recentemente, tem havido uma evolução a partir das abordagens de esgotamento de recursos para metas de sustentabilidade; verifica-se também uma mudança modesta para uma abordagem mais integrada a políticas e gestão ambientais, que se concentra na sustentabilidade de ecossistemas e bacias hidrográficas, por exemplo, em vez de na preservação dos rendimentos. Atualmente, reconhece-se que a redução da pobreza, o desenvolvimento econômico e a estabilidade ambiental devem ser metas comuns. Esse reconhecimento rompe com a idéia predominante nas décadas de 1970 e 1980 que considerava a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico como objetivos conflitantes. A prosperidade e uma sociedade civil informada e ativa têm sido as principais forças motrizes de políticas destinadas a tratar diversos problemas ambientais que se tornaram visíveis no início do período de trinta anos nas nações desenvolvidas. A qualidade do ar ambiental e a poluição da água proveniente de fontes focalizadas têm sido abordadas de forma satisfatória em muitas áreas, a reciclagem tornou-se mais comum, o tratamento de águas residuais melhorou, os resíduos da indústria de papel e celulose diminuíram, e as ameaças de resíduos perigosos foram reduzidas. Áreas protegidas têm sido crescentemente designadas para fins de conservação e recreação. Os casos de êxito no mundo em desenvolvimento têm sido variados: há um crescente processo de democratização e participação que sustenta de forma positiva o meio ambiente e o desenvolvimento em algumas regiões, com uma maior consciência do debate por parte da sociedade civil. Está surgindo um agrupamento natural de políticas sobre biodiversidade, cujo núcleo é a CDB, mas que também inclui uma série de outros tratados e iniciativas, como a CITES, a CMS e a Convenção de Ramsar. A mudança tecnológica tem ajudado a aliviar algumas pressões ambientais: uma menor intensidade de materiais usados na produção; uma mudança de materiais e fornecimento de energia para a prestação de serviços; um modesto avanço na tecnologia renovável; e, em algumas regiões, uma limpeza considerável em indústrias anteriormente “sujas”. Nos últimos anos, a redução do risco tem ocupado um lugar mais importante nas agendas políticas, e verifica-se o fortalecimento dos mecanismos de resposta e dos sistemas de alerta antecipado. Uma observação geral é de que muitas das políticas mencionadas neste capítulo não tinham critérios claramente definidos nem critérios de execução específica, ou tampouco os critérios possuíam relação direta com o desempenho ambiental. Tal observação vale, por exemplo, para políticas econômicas associadas a tributação, comércio e investimento. Embora algumas delas tenham uma relação significativa com questões ambientais (em alguns casos, como forças motrizes importantes da mudança ambiental), seus próprios critérios de avaliação são em geral limitados ao desempenho econômico, o que tornou sua avaliação um desafio especial de um ponto de vista ambiental e de desenvolvimento sustentável. Desafios ambientais Apesar dessas realizações, uma população mundial crescente – para mais de 6 bilhões de pessoas (e ainda aumentando) – está agravando a demanda de recursos e serviços, além de aumentar a geração de resíduos para atender a muitas dessas demandas. Em geral, as políticas de resposta não têm sido adequadas para neutralizar as pressões impostas pela pobreza crescente e pelo consumo descontrolado. As partes anteriores do Capítulo 2 apresentam provas indiscutíveis de degradação ambiental contínua e generalizada. • • • Os recentes impactos das atividades antrópicas sobre a atmosfera têm sido imensos, e as emissões antropogênicas consistem em uma das principais causas dos problemas ambientais. As emissões de quase todos os gases de efeito estufa continuam aumentando. O ozônio troposférico, a névoa urbana e as partículas finas surgiram como riscos consideráveis à saúde, provocando ou agravando problemas respiratórios e cardíacos, principalmente em pessoas vulneráveis, como crianças, idosos e asmáticos, de igual modo nos países desenvolvidos e nos em desenvolvimento. A exploração excessiva de muitos dos recursos de águas superficiais e grandes aqüíferos, de que dependem a agricultura irrigada e o abastecimento doméstico, resultou no fato de que cada vez mais países enfrentam estresse hídrico ou escas- 321 322 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002 • • • • • • • sez de água. Cerca de 1,2 bilhão de pessoas ainda não têm acesso a água potável e aproximadamente 2,4 bilhões não contam com serviços de saneamento, o que causa a morte de 3 milhões a 5 milhões de pessoas a cada ano em conseqüência de doenças associadas à água. A diversidade biológica da Terra está sob ameaça crescente. Acredita-se que o ritmo de extinção de espécies esteja acelerando. A destruição de habitats e/ou sua modificação são as principais causas de perda de biodiversidade, seguidas da pressão provocada por espécies invasoras. Tem havido uma forte tendência mundial para a exploração e a destruição cada vez mais intensas de populações de peixes silvestres. Diversos estoques pesqueiros foram esgotados e outros são ameaçados pela exploração excessiva. A degradação das terras continua piorando, particularmente nos países em desenvolvimento, em que as populações carentes são deslocadas para terras marginais com ecossistemas frágeis, e em áreas onde a terra é cada vez mais explorada para satisfazer as necessidades alimentares e agrícolas, sem apoio econômico e político adequado para a adoção de práticas agrícolas apropriadas. Muitos dos ecossistemas florestais remanescentes têm sido degradados e fragmentados. Desde 1972, monoculturas florestais extensas têm sido estabelecidas no mundo em desenvolvimento, mas não substituem a complexidade ecológica das florestas naturais. A produção agropecuária tem contribuído para o grande aumento do nitrogênio reativo na biosfera global, o que facilita a acidificação e a eutroficação dos ecossistemas. Considerando que quase a metade da população global vive nos países menos desenvolvidos, em áreas urbanas e metrópoles, a infra-estrutura e os serviços municipais são inadequados para acomodar os milhões de pessoas carentes nas áreas urbanas. A poluição atmosférica e a deterioração da qualidade da água nas cidades causam sérios impactos econômicos, sociais e à saúde. Um aumento na freqüência e na intensidade dos desastres naturais nos últimos trinta anos tem feito com que mais pessoas corram riscos maiores, e a maior carga recai sobre as comunidades mais carentes. Desafios regionais Em âmbito regional, as principais questões ambientais incluem a mudança do clima, a degradação da terra e do solo, a degradação e o desmatamento de florestas, o estresse e a escassez de água doce, assim como sua qualidade/ poluição, a degradação e a poluição de áreas costeiras e marinhas, a perda de habitats e de espécies, o crescimento de assentamentos não planejados e dos crescentes resíduos sólidos, bem como secas e inundações cada vez mais freqüentes e intensas. Muitas das regiões enfrentam desafios ambientais similares, embora a magnitude e a extensão dos problemas variem. África Na África, as principais questões ambientais incluem degradação da terra, desmatamento, degradação do habitat, estresse e escassez de água, erosão e degradação da área costeira, inundações e secas e conflitos armados. Esses e outros problemas têm contribuído para a mudança ambiental que agravou o subdesenvolvimento, a pobreza e a insegurança alimentar na região. Também têm limitado a eficácia de diversas medidas de resposta, como o Plano de Ação de Lagos e outras políticas ambientais, que têm sido adotadas pela região nos últimos trinta anos. Combater os problemas ambientais da região não apenas consiste em uma opção, mas é um passo fundamental para alcançar o desenvolvimento sustentável, sem o qual a pobreza continuará piorando, o que contribui para ainda mais exploração excessiva do meio ambiente. Ásia e Pacífico A maior região do mundo, tanto em termos de superfície como de número de habitantes, possui um conjunto eclético de desafios ambientais, que refletem a diversidade de suas sub-regiões. Algumas das principais questões ambientais que a região enfrenta incluem degradação de terras e florestas, perda de habitat, escassez e poluição da água, emissões de gases de efeito estufa e mudança climática, gestão de resíduos e desastres naturais, como inundações, secas e terremotos. O resultado da avaliação realizada nas seções anteriores deste capítulo é que algumas partes da região estão sob um grave estresse, colocando em risco as opções de meios de subsistência de milhões de pessoas. Outras partes da região, como o Japão, a Nova Zelândia e a Austrália, são desenvolvidas o suficiente para lidar com as inevi- DESASTRES táveis mudanças ambientais causadas tanto por atividades antrópicas como por fenômenos naturais. Europa Na Europa, muitas das questões ambientais fundamentais são similares às questões comuns na África e na região da Ásia e Pacífico. Entre elas, cabe mencionar a degradação de florestas, a quantidade e a qualidade da água, a erosão costeira e as emissões de gases de efeito estufa. Outras questões mais específicas analisadas incluem a degradação, a impermeabilização e a contaminação do solo, e os organismos geneticamente modificados. Em geral, a Europa é uma das regiões mais bem posicionadas para lidar com seus desafios ambientais, em virtude de seu desenvolvimento econômico, além de estruturas jurídicas e institucionais bem estabelecidas, em âmbito tanto nacional como regional. Apesar de suas vantagens, no entanto, a região não pode combater as questões ambientais globais por si só e deve continuar a desempenhar um papel importante, principalmente em matéria de mudança climática. América Latina e Caribe A região compartilha muitos problemas ambientais com a África e com a região da Ásia e Pacífico. Outras questões incluem o sistema de posse de terras, a exploração excessiva de estoques pesqueiros e os desastres, como furacões, terremotos e derramamentos de substâncias perigosas. Esses problemas continuarão exercendo uma grande pressão sobre a vida humana e o meio ambiente, prejudicando quaisquer esforços para alcançar o desenvolvimento sustentável. Existe o risco de que milhões de pessoas na região continuem sendo marginalizadas, o que mina os esforços para melhorar as condições socioeconômicas e administrar o meio ambiente com eficácia em benefício das gerações atual e futuras. Sem políticas de resposta mais eficazes, é provável que a tendência atual de piorar as condições ambientais continue, o que contribui para uma maior vulnerabilidade humana à mudança ambiental. América do Norte A América do Norte, o motor da globalização, enfrenta questões ambientais importantes, entre elas o uso de pesticidas, a gestão de florestas virgens, a invasão biológica e a qualidade dos Grandes Lagos. Apesar de sua estrutura institucional e jurídica bem desenvolvida e do cumprimento bem-sucedido das leis ambientais, a re- gião continuará enfrentando diversos desafios, incluindo a gestão eficaz dos bens comuns. Seu papel de liderança na gestão ambiental internacional é importante e deve ser orientado pelo princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, que é amplamente aceito na atualidade. A participação de governos, de ONGs e da sociedade civil em âmbitos nacional, regional e internacional é fundamental para avançar no cumprimento das metas estabelecidas na Agenda 21 e na Declaração do Milênio, além de outros objetivos determinados por fóruns subseqüentes, como a Cúpula Global para o Desenvolvimento Sustentável. Muitas regiões continuarão a buscar a assistência da América do Norte em termos de capacitação e auxílio ao desenvolvimento. Ásia Ocidental Mostrou-se que os conflitos relativos a políticas, como os associados à gestão de recursos hídricos, à produção de alimentos e à segurança alimentar, prejudicam os esforços para alcançar o desenvolvimento sustentável. É fundamental que haja uma maior sinergia, e a elaboração e implementação de políticas estratégicas devem incluir os diferentes grupos de interesse para evitar sobreposições e competição que comprometam sua eficácia. Na região, identificou-se a gestão integrada dos recursos hídricos como uma das principais iniciativas de políticas necessárias para melhorar a gestão de seus limitados recursos hídricos. Os países da região também continuarão combatendo os problemas da seca e da desertificação, os quais impõem sérias limitações ao meio ambiente e ao desenvolvimento. As Regiões Polares Alguns dos impactos ambientais identificados nas regiões polares também são sintomas claros dos excessos de atividades antrópicas por todo o globo. As substâncias que destroem a camada de ozônio utilizadas pela humanidade se manifestaram nessas regiões juntamente com a descoberta do buraco na camada de ozônio há cerca de duas décadas. As emissões de gases de efeito estufa são outro exemplo de como os problemas ambientais “locais” podem se tornar globais. As regiões polares continuarão sofrendo os impactos dos problemas gerados em outras regiões. No entanto, a cooperação contínua por diversas frentes, em âmbito tanto regional como global, deve auxiliar no combate a alguns dos problemas existentes e na identificação dos emergentes. 323