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u m o l h a r e m d e s l o c a m e n t o claire denis apresenta u m o l h a r e m d e s l o c a m e n t o claire denis Claire Denis, um olhar em deslocamento Uma poesia brutal. O cinema de Claire Denis reúne o lirismo e o visceral. Tanto o sangue exagerado de “Desejo e Obsessão” (2001) quanto a relação delicada e sensual entre pai e filha de “35 Doses de Rum” (2008), são combinações de realidades estranhas, mas que se tornam familiares por meio das sensações. ¶ O homem como um ser-em-deslocamento, inadequado ao espaço onde se encontra, são características que nos motivaram a reunir sua obra e trazê-la ao Brasil. Seu cinema cria um outro tempo, mostra o desconforto de quem não reconhece sua pátria, de quem se sente sozinho em meio à cidade, de quem tem a possibilidade de estar em qualquer lugar do mundo a qualquer hora. ¶ Francesa criada na África colonial até os catorze anos, já em seu longa de estréia, “Chocolate”(1988), afirma sua diferença investigando um sentimento de culpa que tinha quando criança. Através da relação entre uma menina francesa frágil e um empregado africano, belo e bruto, expôs uma culpa histórica do branco colonizador em relação ao negro. Atenta às transformações de uma Europa reduto de imigrantes, Denis abre perspectivas que questionam o modelo de um sujeito unificado com o impulso de capturar o multiculturalismo e a truculência da França contemporânea. A diretora percorre mistérios, transpõe barreiras geográficas, sociais e políticas, sem propor respostas ou nomes que cristalizem lugares ou personagens. A identidade do homem é, afinal, fragmentada. ¶ Narrativas que não respeitam a lógica da causalidade, apresentam um olhar sensível aos impulsos vitais. Os filmes de Denis buscam o que há de mais cru e visceral no homem. É pelas tensões corporais de esvaziamento, pelas pulsões sexuais e gestos ambíguos, que se realiza a comunicação com o outro, não por vias do intelecto. Neste jogo, ela constrói uma narrativa física que ressalta cada cena como uma potência em si, fragmentos intensos que dão forma a um cinema que se movimenta através de sensações. ¶ Em “Bom Trabalho” (1999), que consagrou a diretora internacionalmente, são muitos os planos que atravessam corpos revelando músculos e gestos. Duros exercícios militares são retratados como um balé de força e virilidade. Homens são como vetores em uma geometria de formas, superfícies e volumes. A solidão dos personagens representada pelo regime rígido de trabalho (ironicamente em grupo), revela um dos maiores temas da cineasta: um corpo solitário em busca de um lugar, que não pertence ao presente, que se transfigura, se transforma, que se arrasta à procura. ¶ Mergulhando na busca pelo desconhecido, personagens que agem pela emoção constituem seu mais recente filme, “Minha Terra África” (2009). A luta de uma francesa (Isabel Huppert) pela preservação da vida diante de um estado de horror denota um corpo que não se situa. Não sabemos o período histórico ou em que país da África localiza-se o filme, não importa. Importa nossa identificação com o desconforto, o inadequado, o sentimento de estrangeiro. Para mostrar os personagens tentando encontrar seu lugar no mundo, a câmera se movimenta com eles; a estética de planos próximos, a câmera livre e solta na mão, seguindo as silhuetas, os ombros, os cabelos esvoaçantes que percorrem os espaços sem nome. ¶ A filmografia de Denis não pretende criar uma dicotomia entre o mundo interior e exterior dos personagens, ambientados em um lugar aparentemente sem fronteiras. No filme “O Intruso” (2004), baseado no livro homônimo do filósofo Jean Luc-Nancy, o protagonista viaja por três países para buscar um transplante do coração. Sem solução final, permanece na angústia, se movimentando sem fincar os pés, flutuando-os solitários pelos espaços na contínua investigação pelo essencial para a vida. ¶ O cinema de Claire Denis carrega uma curiosidade pelo outro. Uma dimensão aberta sobre a realidade que corre o risco de não se encaixar em nada, afirmando com isso sua simplicidade complexa. É essa ambigüidade que nos motiva a desbravar sua obra e apresentá-la completa pela primeira vez no Brasil. Ana Hupe, Jô Serfaty e Rafaela Arrigoni Material, inflamável Há uma espécie de mistério permanente, encantatório que perpassa a filmografia de Claire Denis. Seus filmes nos oferecem como que esfinges em movimento, que adquirem sentido, sensualidade, sensação, na medida em que existem justamente nesta realidade do movimento. Há sempre algo que falta e algo que excede. Lacuna e êxtase. É através da oscilação entre estes dois pontos da curva, desses dois estados e sensações que seus filmes se embalam, se propagam diante de nós e para além. Pois há a permanente impressão de que há mais filme para além do visto. Há algo que falta à nossa visão daquelas imagens, e que espalha. Seus filmes têm um aspecto gasoso que tudo envolve, encanta e erotiza, tanto corpos quanto espaços, através de uma câmera que soa flutuante. Todo esse processo se estrutura de forma “peristáltica”, combinando contração e distensão, como um grande organismo, que pulsa, e daí gera sua própria energia vital. ¶ Um desses lugares lacunares em seu cinema é a falta de situação do espectador. Primeiro somos arremessados dentro de um acontecimento já em curso, ou arremessados num espaço específico que só vamos perceber mais tarde – ou nem isso. Cada ação parece criar um novo território, temporal, que só dura enquanto há cena e só existe por aquela ação que está se dando ali. Há sempre espaços pessoais, experimentados por algum ser, ou simplesmente pelo olhar (sensação essa criada principalmente pelo magistral trabalho da fotógrafa Agnes Godard. É notável a impressão criada pela forma com que a câmera pulsa, sem chamar excessiva atenção para si mesma, mas marcando a presença de algo que tem vida ali naquele olhar). Em cada espaço, uma relação. Nunca um lugar com nome muito definido, próprio, maiúsculo, determinado – o exemplo maior disso é provavelmente “Minha Terra África”: um filme sobre a crise de um lugar sem nome. Estamos num lugar qualquer, sem nome, mas específico, singular, cuja singularidade se constrói na relação vital com o que acontece nele. O destaque dado para os corpos humanos nos seus filmes faz o espaço, os objetos, o não-humano, ganharem status de seres vivos. O corpo se torna algo sólido, que tem densidade, massa, superfícies. E essa relação física do olhar vai estabelecer um horizonte de indiferença entre as matérias que estão em cena, que culminará nos momentos de extrema erotização do não-humano, como a cafeteira e os alimentos em “Nénnete e Boni”, o ferro de passar em “Bom Trabalho”, os equipamentos de laboratório, e o caminhão, em “Desejo e Obsessão”, os trens em “35 Doses de Rum”, e uma série de outros alimentos, que pela forma de olhar tornam-se superfície que se avivam ao toque da câmera, como plantas dormideiras. ¶ Todo novo elemento reconfigura o todo. Nos filmes de Claire Denis há uma atenção muito especial à presença física do mundo em geral. Há sempre um destaque para as partes que instaura uma relação de autonomia, que não as isola, mas as coloca em relação infinita. Seus intensos closes, como em “Desejo e Obsessão”, por exemplo, vão nos colocar dentro de uma rede de relações abstratas entre aquela sucessão de elementos materiais. Nunca o conjunto que os engloba se dá a ver. Pois este é aberto, não se pode mostrá-lo. Essa falta de totalidade no mostrar, essa insistência no plano próximo, tele-objetivo, parece nos querer colocar em contato direto com a coisa. A força que brota da proximidade excessiva é a de instaurar um regime perceptivo sensual, antes que intelectual. O que se quer aqui é uma espécie de observação primeira, antes do conceito, do nome da coisa, um contato imediato com uma realidade material do mundo, e a partir daí, desse ponto, surgem suas conexões, entre humanos, objetos, espaços, e matérias várias. É dessa reserva de não-dito, de não mostrado, que seus filmes ganham a força que têm. E isso não pela metonímia, mas por essa nova configuração dessas frações que são como astros de universo em constante expansão, em relação, mas com seu valor individual específico, órbita própria. ¶ É possível dizer que há um “toque Denis”, literalmente. Não apenas pelo óbvio motivo de que seus filmes se concentram nessa realidade material, sólida, líquida e gasosa, do mundo, e suas fricções, mas pela maneira com que esses contatos entre superfícies geram um ritmo, como num toque de percussão. Uma sinfonia sem centro se constitui em seus filmes. “Desejo e Obsessão” vai abordar este problema diretamente: o toque e seus limites. A diferença entre o tesão e o canibalismo é questão somente de intensidade. E o máximo da mistura, do contato, é a aniquilação do outro, é furar a pele que nos envolve e invadir a alteridade. O toque como crise. Tudo se pressiona e causa uma impressão posterior, toda superfície (parte) é afetada e reconfigurada após o contato, assim como o carro torna –se outro em “Sexta-feira à noite” e os trens do “35 Doses de Rum”. Um cinema que opera sempre por aproximações: tanto proximidade como comparação, material e abstrato, colocando em contato direto, nas superfícies, projetando seus sentidos e sensações de maneira inextensiva, sem contornos exatos, só intensidades (que por exemplo diferenciam um beijo de um dilaceramento). Não há unidade de medida. Cada situação pede uma nova escala de olhar, e essas aproximações nos solicitam justamente isso. ¶ Se todos seus filmes tendem à dança, ou, no mínimo, é nessa forma que suas obras parecem atingir um apogeu sensível, é justamente pela sua estrutura oscilatória, pendular, rítmica. Entretanto, a idéia de dança se expande nessas obras. Nos instantes onde há uma música e um movimento claramente associado a esse som específico, ritmado com alguma clareza, e razoavelmente organizado em seus intervalos, como no apoteótico final de “Bom Trabalho”, no quarto com Gregoire Coilin em “US go home” ou no restaurante em “35 Doses de Rum”, há somente uma maior clareza do que se desdobra por todo o filme. É também dança o solitário passeio de moto em “Minha Terra África”, o tatear da massa em “Nénette e Boni”, no sentido de que são momentos onde uma seqüência de estímulos abstratos toma forma material no corpo humano. “Bom Trabalho” é de fato um dos maiores momentos de sua obra e do cinema nos últimos vinte anos porque expõe e celebra esse processo. É um filme síntese da força coreográfica e pulsante de seu cinema, com sua veia operística, oscilando entre bustos e desertos, boites e salares. A dança é a irrupção dessa energia sensual direta, sem nome ou contorno, sua síntese. ¶ O balanço de sua obra é esse escorregar para fora do quadro, uma emergência repentina que nasce justamente da forma com que ela nos dá a ver muitas vezes muito pouco. Cada quadro diz tanto pelo que habita o quanto pelo que não é dado a ver. Toda a seqüência final de “Desejo e Obsessão” se estrutura dessa maneira, colocando os espectadores em jogo, instaurando uma espécie de flutuação desejante (dentro e fora do filme). Há algo a ver, que faz os corpos reagirem, e somente a realidade dessa reação que o cinema pode oferecer: aí está sua face gasosa. Há uma força centrífuga permanente, jogando sempre de dentro para fora do quadro. Um cinema que transborda, que não está nem dentro nem fora do quadro, mas na relação, entre a força manifesta no mundo material e as múltiplas conexões que essas partes criam pela sua aproximação na montagem. Exibir os poros, desmembrar o corpo, é escondê-lo quase que por inteiro. Transbordar por todos os lados, lançar-se em todas as direções indefinidamente, é propagar-se inextensivamente, espalhar-se, expandir-se a partir da matéria para além dela. É isso que seus quadros e roteiros realizam, proliferando lacunas e êxtases: fazem a matéria se propagar, as intensidades penetrarem as membranas e ultrapassarem o quadro, o campo, a película e nos transportar para esses estados sem nome, absolutamente sensuais, em direção ao transe, ao fora de si. É nesse lugar sem nome que jaz o encantamento permanente que sua obra exerce, entrando sem bater, aumentando pelo toque a temperatura e pressão do olhar. Um cinema absolutamente corpóreo, físico, e por isso, lascivo. Juliano Gomes Tensão, energia e movimento Os filmes de Claire Denis sempre despertaram o interesse do público frequentador de mostras e festivais de cinema no Brasil. Mas nem sempre agradaram. Foram clássicas as sessões lotadas de “Desejo e Obsessão” e “O Intruso” no Festival do Rio nas edições de 2001 e 2004, respectivamente. A maior parte da plateia saía revoltada da sala, enquanto uma meia-dúzia tentava se recompor do misto de terror e maravilhamento que havia experimentado. ¶ É fácil entender tanto a revolta de uns quanto a fascinação de outros. “Desejo e Obsessão” e “O Intruso” são filmes que frustram certas expectativas – ligadas às formas hegemônicas de narração – na mesma medida em que geram novos circuitos de afinidade espectador-filme. Em ambos, Denis constrói a atmosfera mais do que o sentido, explora o clima e a ambientação mais do que a história ou a trama, monta um cenário de suspense mas descarta as convenções do thriller, instala o espectador num espaço-tempo cujas leis não lhe são muito familiares, permitindo, a partir desse estranhamento, reações díspares de profunda rejeição ou de profunda adesão ao filme. Se, por um lado, pode-se sentir falta de uma intriga a resolver ou de uma lógica dramática a conduzir as ações, o que Denis dá em troca, por outro, é uma inesquecível viagem estética, uma experiência de imersão num universo de sensações plásticas tão mais intensas quanto menos vinculadas a significados fechados. Ao flanar pelo mundo e esquecer o fio linear do relato, o olhar é devolvido a um prazer primordial, uma vez que o ato de ver, em si, não organiza o espaço de maneira narrativa/descritiva: seu movimento é circular e inconcluso. ¶ Um filme como “O Intruso” até oferece possibilidades de significação e permite interpretações nuançadas de seu conteúdo, mas sua eficácia maior consiste em agitar a consciência do espectador com infinitas hipóteses não conclusivas. Denis partilha com David Lynch o gosto pela desorientação do espectador. A progressão narrativa, enquanto articulação de eventos dramáticos, se troca por uma turbulenta soma de eventos com fracas ligações causais. As relações entre os personagens são sustentadas por informações esparsas e ambíguas. As elipses abundam e criam buracos no filme, passagens inconclusas, ausências insondáveis. A diluição do drama é acompanhada de uma fascinação com a pura sensação de mobilidade. Numa montagem elíptica e pouco didática, O Intruso vai das florestas da França a um banco na Suíça, dali para a região portuária de Pusan (Coréia do Sul), de lá para os mares do Pacífico e então de volta para o inverno no hemisfério norte. Um corte seco pode transportar o espectador de uma praia ensolarada para um bosque enevado – uma verdadeira intrusão mútua dos tempos e dos lugares. Denis nos coloca numa situação de deslocamento e passagem constantes. A indeterminação prevalece como princípio. Estamos apanhados nos estágios mais confusos da percepção e não conseguimos impor forma e sentido ao caos sensível das aparências. ¶ “Desejo e Obsessão” é uma experiência ainda mais perturbadora, porquanto acrescida de um enorme desconforto psicológico. O personagem de Vincent Gallo é um cientista americano que, em lua de mel na França, persegue a camareira do hotel tal como um vampiro à caça de sangue jovem. Flertando com elementos do cinema de suspense/terror, o filme aborda o magnetismo sexual, a atração instintiva dos corpos, elaborando uma imagem limítrofe – nas cenas de canibalismo – para a mesma pulsão erótica de que o filme seguinte de Denis, “Sexta-feira à noite”, forneceria uma versão mais light, mais palatável. ¶ De todo modo, ela está sempre mais interessada na existência física do homem do que em sua natureza racional. Há um aspecto neo-primitivo no olhar de Denis, uma atração pela selvageria das coisas brutas, pelas pulsões arcaicas. Se ela foge da narratividade, é para dar ênfase ao físico, às formas “instintivas”, às sensações imediatas. Seus filmes são guiados por um Stofftrieb, um tropismo pelas qualidades primárias da matéria. O quadro é um “campo erótico”; os filmes se constroem num elã sensual que começa pela forma de enquadrar e decupar as cenas. A câmera “fareja” os personagens, passeia lentamente pelos corpos, desliza sobre a pele dos atores. O olhar está mergulhado nas contexturas da pele, da carne, mas interessado também nas vibrações invisíveis, nas emissões feromônicas, nas fragrâncias afrodisíacas exaladas pelos corpos. Denis filma seres indecisos entre uma realidade carnal e um estado vaporoso. Os enquadramentos (sempre fragmentários) e os movimentos tornam provisórios os limites entre as coisas. As formas e os contornos se interpenetram, se misturam como nas pinturas de Rubens. ¶ “Nénnete e Boni”, de 1996, é um momento chave na carreira de Claire Denis, pois é o filme em que ela aprimora o estilo de mise en scène que já vinha lapidando nas obras anteriores. Nesse filme composto essencialmente de primeiros planos captados bem à flor da pele, a câmera se torna ainda mais fluida e corpórea do que em “Noites Sem Dormir”. O plano de abertura mostra um homem vendendo documentos falsos e dando instruções de como usá-los a um grupo de imigrantes africanos. A cena pareceria uma sobra de “Noites Sem Dormir,” não fosse pelos movimentos de câmera que já apresentam essa nova maneira de filmar que “Nénette e Boni” inaugura na obra da diretora: a câmera flutua de um rosto a outro, o olhar gasta mais tempo que o habitual para transitar de uma porção do espaço a outra, de um corpo a outro, como se quisesse perceber os pequenos eventos que se escondem entre as coisas. Trata-se de filmar a atmosfera, os gases cromáticos que se espalham entre as formas, as moléculas de luz que flutuam no ar. Ela registra, ao lado das ações, os microeventos sonoros e visuais que completam nossa percepção da realidade. ¶ Denis realiza um cinema de corpos e formas que se deslocam, circulam, trocam energia cinética com o mundo. Mesmo no repouso, há movimento. Para ela, o mundo não faz sentido senão na sua mobilidade. Nada é fixo e permanente, nem mesmo a diferença entre o homem e as outras espécies (pensar no devir-animal de seus personagens) ou entre o sonho e a realidade (real e onírico se confundem em “O Intruso”, “Nénette e Boni”, “Bom Trabalho”, “Desejo e Obsessão”, “Minha Terra África”. As fronteiras – entre corpos, lugares, territórios, indivíduos – estão nubladas. Tudo é móvel. ¶ “Vejam esse unânime movimento onde a face invisível das formas se torna subitamente visível uma vez que elas se agitam diante de nós, onde a arquitetura movente das atitudes combinadas se quebra incessantemente e se reformula sem que nosso olho seja capaz de apreender suas transições, onde os valores e os contrastes sempre rompidos, invertidos, modificados, restabelecidos mas constantemente solidários, agem em todas as dimensões do drama plástico, onde tudo se organiza ao mesmo tempo em torno de um centro inapreensível que sentimos em todo lugar e não percebemos em parte alguma...”. Tudo isso que Élie Faure afirmou a respeito da pintura de Tintoretto se aplica ao cinema de Claire Denis, mas com um detalhe: o movimento, aqui, é destituído do pathos dramático e é apresentado como simples fato enérgico, ininterrupta vibração na epiderme do mundo. São as partículas em agitação, os estremecimentos da terra. A imagem que melhor resume a obra de Claire Denis é a artéria pulsando no braço do ator Denis Lavant ao final de “Bom Trabalho” : o que interessa à diretora, em última análise, é aquela pulsação que indica a presença de vida, de energia, de movimento. Luiz Carlos Oliveira Jr. documentÁrios Jacques Rivette, Le Veilleur curtas Com Jacques Rivette, Serge Daney, Jean-François Stévenin, Bulle Ogier. França, 1990. 125 min. Id. orig.:Fra., vídeo Ter., 28/06, 15h // Qui., 30/06, 17h // CAIXA Man no Run Qui., 23/06, 17h // Ter., 28/06, 17:20h // CAIXA Vers Mathilde / Towards Mathilde Com Les Têtes brulées: André Afata, Jean-Marie Ahanda, Roger Be- kongo, Théodore Epeme, Martin Maah. França, 1989, 107 min. Id. orig.: Fra., 35mm França, 2004, 84 min, cor, 35mm Sex., 24/06, 15h // Ter., 28/06, 19h // CAIXA Documentário sobre um dos maiores cineastas franceses: Jacques Rivette. “O cinema de Rivette é como uma coreografia, é uma coisa corporal, mas que fala de uma certa força de vontade. Na verdade, como meus filmes. Mas eu faço filmes que estão presos aos seus corpos - como os sentimentos às vezes estão apanhados pelos seus corpos. Os corpos de Rivette obedecem, os meus, não.” (Claire Denis) Documentário musical sobre a banda de Rock ‘Les Tetes Brulees’. A Banda mistura influência de ritmos africanos com a batida eletrônica. Em 1987, eles eram verdadeiros pop-stars em Camarões. Mathilde Monnier é uma das mais famosas coreográfas de dança contemporânea na França. O documentário acompanha todo o processo criativo de sua companhia, os aquecimentos e o o dia a dia dos dançarinos até a apresentação final. Vers Nancy Com Jean-Luc Nancy, Ana Samardzija, Alex Descas França 2002, 35mm, PB, 11 min. Id. Orig.: Fra Nancy é uma cidade francesa (e cidade natal de Eric Rohmer) e o último nome de Jean-Luc Nancy, o célebre filósofo que influenciou muito o recente trabalho de Claire Denis. Uma combinação fascinante entre entrevista direta e ficção, o curta é uma primeira tentativa da diretora de se aproximar das ideias de Nancy sobre intromissão, a relação com o outro e uma excelente introdução ao longa “O Intruso”. Nice very Nice Com Grégoire Colin. França 1995, 35mm, 10 min. Id. Orig.: Fra. Para o projeto À propos de Nice ,Le suite, Claire Denis dirige Nice very Nice, um thriller que se passa no carnaval em Nice e revela uma viagem de descoberta pelas zonas ocultas da cidade turística. Pour Ushari Ahmed Mahmoud, Soudan 1991, 35mm, 3’5’’ min. Vídeoclipe da canção C’est déjà ça,do intérprete Alain Souchon. O vídeo é parte de campanha sobre direitos humanos da “Anistia Internacional”, dedicado a um preso político sudanês. La Robe À Cerceaux França, 1992, 35 mm, 24 min. É noite no interior de um bar, que está vazio, acabou de fechar. Sem pressa, o dono prepara-se para sair. A senhora faz um último café para si (com uma pinga de whisky). Um homem começa a ler alto o texto que escreveu no seu caderno. Le 15 Mai França, 1969, vídeo,31 min. Um filme de ficção científica inspirado num conto de Philip K. Dick, feito por Claire Denis com a colaboração de alguns estudantes do IDHEC. Um jovem casal acorda. Ambos tiveram pesadelos. O dia passa estranhamente e a manhã seguinte ainda é 15 de maio. O homem tenta chegar ao limite das coisas. A Propod D’une Déclaration França, 1996, vídeo, 3’45’’ min. Um trabalho encomendado pela Fundação Cartier sobre o tema do amor. Um negro na cama. Os pêlos pubianos de uma mulher na banheira. Um peixe de plástico. A mulher começa a se raspar. Sessão de curtas - Qui., 30/06, 15h // Dom., 03.07 às 17h00 // CAIXA DEBATES debate com Juliano Gomes e Denílson Lopes Dom., 26/06, 19:30h // CAIXA Beau Travail / Good Work / Bom Trabalho França 1999. Com Denis Lavant, Michel Subor, Grégoire Colin, 35mm, color, 93 min. Id. Orig.: Fra O filme é um passeio coreográfico pelo campo de treinamento da Legião Francesa, no nordeste da costa africana. As imagens mostram o universo repressor e os conflituosos sentimentos do sargente Gualp. Baseado em romance de Melville. Conversa com Claire Denis Dom., 03/07, 18:30h // CAIXA longas Seg., 27/06, 18h // MAISON DE FRANCE Qua., 29/06, 19h // Sáb., 02/07, 19:10h // CAIXA Chocolat / Chocolate J’ai pas sommeil/ I can’t sleep / Noites sem dormir Com Isaach de Bankolé, Giulia Boschi, François Cluzet. Fra/Ale, 1988, 35mm, cor, 105 min. Id. orig.: Fra França /Suíça 1994. Com Katerina Golubeva, Richard Courcet, Alex Descas, 35mm, cor, 110 min. Id. orig.: Fra Uma jovem francesa retorna para Camarões, África, onde viveu com sua família para contemplar e relembrar a infância. A mémoria mais forte é a do empregado Protée, um homem bonito, forte e inteligente submetido às barreiras racias existentes na África Colonial. Uma jovem imigrante da Lituânia chega a Paris. Théo, músico, espera voltar a Martinica com seu filho. Seu irmão homossexual, Camile, canta em bares à noite, trabalha como miché, trafica drogas e pratica assassinatos. Denis não está interessada em criar tensão em volta dos assassinatos, mas na cidade grande como grande mosaico sem descanso, ao mesmo tempo anônima e íntima. Ter., 21/06, 19h (abertura) // Sex., 24/06, 17h // Sex., 01/07, 15:10h // CAIXA Qua., 22/06, 17h // Sáb., 25/06, 15h // Sex., 01/07, 15h // CAIXA Seg., 27/06, 18h // MAISON DE FRANCE L’ Intrus / O Intruso / The Intruder Nénnete et Boni / Nénnete and Boni / Nénnete e Boni U.S. Go Home White Material / Minha Terra África Com Michel Subor, Grégoire Colin, Katia Golubeva. França/Coréia 2004, 35mm, color, 130 min. Id. orig.: Fra Com Grégoire Colin, Alice Houri, Vincent Gallo. Fra 1996, 35mm, cor, 108 min. Id. orig.: Fra Com Alice Houri, Grégoire Colin, Jessica Tharaud França 1994, vídeo, cor, 67 min. Id. orig: Fra Com Isabelle Huppert, Christopher Lambert and Isaach De Bankolé França, 2009, 35mm, 106 min Louis Trebor, um homem de 70 anos, mora sozinho com seus cachorros em uma floresta entre França e Suíça. Ele precisa de um transplante do coração e vai até o Taiti procurar o filho que abandonou há muitos anos. Esta viagem representa o encontro de seu coração com um imaginário perturbador que atravessa a mente de Louis. Baseado no livro “ O intruso” de Jean Luc Nancy. Nénnette e Boni foram criados separados porque seus pais eram divorciados. Boni trabalha em um pizzaria para um casal intrigante quando sua irmã foge da escola e de repente reaparece. Um filme de uma hora sobre o tempo, encomenda da televisão francesa para o projeto “Tous les garçons et les filles de leur âge”, que convidou 9 diretores, incluindo Olivier Assayas e Andre Techine. Sobre a adolescência e a música marcante dessa época, U.S. Go Home é um filme quase autobiográfico, um choque cultural da volta de Denis da África a Paris. U.S. Go Home mostra a história de duas adolescentes, uma festa e as tensões sociais e sexuais que envolvem o evento. Em um país africano não definido e ameaçado constantemente por rebeliões, vive Maria, mulher branca que se nega a abandonar o local e deixar para trás sua plantação de café. André, exmarido e pai de seu filho, teme pela vida de Maria e passa a arquitetar um plano de fuga para a França, sem desconfiar que não seria tão simples quanto pensava. Sáb., 25/06, 19h // Sex., 01/07, 19:10h // CAIXA Dom., 26/06, 17h // Sáb., 02/07, 15h // CAIXA Qua., 29/06, 15h // Dom., 03/07, 17h // CAIXA Qui., 23/06, às 19h // Dom., 26/06, 15h // CAIXA S’en fout la mort / No Fear, no die Trouble Every Day / Desejo e Obsessão Vendredi Soir / Friday Night / Sexta-feira à noite 35 Rhums / 35 Doses de Rum Com Alex Descas, Isaach de Bankolé, Solveig Dommartin France 1990, 35mm, color, 91 min. Id. orig.: Fra Com Vincent Gallo, Tricia Vessey, Béatrice Dalle França 2001, 35mm, cor, 101 min. Id orig: Fra Com Valerie Lemercier, Vincent Lindon França 2002, 35mm, cor, 90 min. Id. Orig: Fra França / Alemanha 2008. Com Alex Descas, Mati Diop, Grégoire Colin, Nicole Dogué, Ingrid Caven. 90min, 35 mm. Id. Orig.: Fra A vida de dois irmãos imigrantes do oeste da África no subúrbio de Paris. Confinados, eles preparam os animais para a briga de galo no subsolo do restaurante onde trabalham. A briga de galo serve como símbolo da vida sórdida e violenta destes dois irmãos. Shane e June são um perfeito casal americano em lua de mel em Paris na tentativa de reconstruir uma vida nova. Secretamente, Shane começa a frequentar uma clínica médica que trata da libido humana e se deixa levar por perigosos impulsos sexuais. Laure está em mudança para morar com seu namorado. Ela entra no carro e fica presa no trânsito de horas. Mas, Laure se sente bem dentro do carro: é o único lugar onde pode ficar só. Sem pressa, ela observa o caos da cidade de Paris e oferece carona para um estranho, Jean, com quem vai passar uma noite. O filme mostra o relacionamento entre um pai viúvo e sua jovem filha no subúrbio de Paris, habitado principalmente por negros e descendentes árabes. Uma referência à obra de Ozu, “Pai e filha”. Qui., 23/06, 15h // Sáb., 25/06, 17:10h // CAIXA Quin., 30/06, 19:20h // Sáb., 02/07, 17h // CAIXA Qua., 22/06, 15h // Sex., 24/06, 19h // CAIXA Qua., 22/06, 19:10h // Qua., 29/06, 17h // CAIXA Realização Electra Realização Coordenação geral e curadoria Ana Hupe, Juliana Serfaty e Rafaela Arrigoni apoio Textos Luiz Carlos Oliveira Junior Juliano Gomes Projeto gráfico Felipe Braga e Darlan Carmo (Estudioolho) Assessoria de Imprensa Julia Ryff Imagem da capa Filme “Nénnete e Boni” (1996) [© Why not productions] CAIXA CULTURAL Av. Almirante Barroso, 25, Centro (Próximo à Estação Carioca do metrô) Tel: 21 2544-4080 Entrada: R$4,00 (inteira), R$2,00 (meia) MAISON DE FRANCE Av. Presidente Antonio Carlos 58, Centro Tel: 21 3974 – 6699 www.caixa.gov.br/caixacultural electraproducoes.com.br/clairedenis Agradecimentos: À Claire Denis, por toda sua obra e por ter apoiado o projeto desde que ainda era embrionário; à Caixa Cultural, pelo patrocínio; ao Grupo Estação, à Embaixada Francesa e à Prefeitura de Porto Alegre, pelo apoio. À Guillaume Namur, Brigitte Veyne, Catherine Faudry, Camille Lebon, Michelle Pistolesi, Luiz Eduardo Souza, Roberto Martins, La Fémis, Fondation Cartier, Béatrice Soule, Arté France, Aliança Francesa de Porto Alegre e Marcelo Tanus por acreditarem e apoiarem a mostra. Ao Juliano Gomes, Marcelo Grabowsky, à Thaís Blank, Fabi Comparato, Marcella Tobelem, Lis Kogan, Eduardo Valente, Francesca Azzi, Denílson Lopes, Amina Muniz, Guilherme Coelho, Pedro Freire, Paula Gaitán, Mariana Kaufman e Domingos Guimaraens, pelas dicas. patrocínio patrocínio