- Corpo de Bombeiro de Umuarama

Transcrição

- Corpo de Bombeiro de Umuarama
POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
ACADEMIA POLICIAL MILITAR DO GUATUPÊ
ESCOLA DE OFICIAIS
CADETE 3º BM BRUNO EDUARDO DA MACENA
O CONHECIMENTO E A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE SALVAMENTO EM
ÁGUAS RÁPIDAS EM ENXURRADAS PELO CORPO DE BOMBEIROS DO
ESTADO DO PARANÁ
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
2015
1
CADETE 3º BM BRUNO EDUARDO DA MACENA
O CONHECIMENTO E A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE SALVAMENTO EM
ÁGUAS RÁPIDAS EM ENXURRADAS PELO CORPO DE BOMBEIROS DO
ESTADO DO PARANÁ
Monografia apresentada por exigência curricular
do Curso de Formação de Oficiais Bombeiros
Militares, da Escola de Oficiais da Academia
Policial Militar do Guatupê (APMG), como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Segurança Pública.
Orientador metodológico: Cap. QOPM Dalton Gean
Perovano.
Orientador de conteúdo: 1º Ten. QOBM Thiago
WillIan Tolentino Schinzel.
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
2015
2
POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
ACADEMIA POLICIAL-MILITAR DO GUATUPÊ
DIVISÃO DE ENSINO
PARECER
Apresentação final de Trabalho de Conclusão de Curso do Cadetes 3º CFO
BM Bruno Eduardo Da Macena. O trabalho intitulado
“O CONHECIMENTO E A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE SALVAMENTO EM
ÁGUAS RÁPIDAS EM ENXURRADAS PELO CORPO DE BOMBEIROS DO
ESTADO DO PARANÁ”
foi avaliado e considerado APTO pela banca composta pelos seguintes
oficiais:
MEMBROS DA BANCA AVALIADORA
Cap. QOBM Ícaro Gabriel Greinert
1º Ten. QOBM Bruno José Guedes Fidalgo
1º Ten. QOBM Eduardo Niederheitman Hunzicker
São José dos Pinhais, 9 de novembro de 2015.
Cap. QOPM Francisco Carlos Hrentechen,
Chefe da Divisão de Ensino da APMG.
3
ADEMIR e SOFIA. Meus pais, meus maiores exemplos de vida,
que com amor incondicional e incessante zelo e assistência
proporcionaram-me
educação
e
ensinaram-me
valores
essenciais para um crescimento pessoal e profissional. Meu
sincero respeito, carinho e admiração pelos senhores. Sem os
seus apoios eu não venceria mais esta etapa da minha vida. As
suas existências, fazem deste, um mundo melhor! Amo vocês!
PATRÍCIA. Minha namorada e melhor amiga, que me
proporcionou os momentos mais felizes. Todo o meu amor por
você, que sempre esteve a me esperar nesses inacabáveis três
anos de curso. Obrigado, você me faz muito feliz! Amo você!
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
primeiramente,
a
Deus
pelas
oportunidades
a
mim
proporcionadas e por toda a força e coragem que me concedeu no decorrer desta
vida.
Inevitavelmente estes singelos parágrafos de agradecimento não irão
compreender todas as pessoas, que de alguma forma, contribuíram para o meu
crescimento pessoal e profissional. Mas sem dúvida, estão sempre em meus
pensamentos com a minha eterna gratidão.
Meus agradecimentos aos companheiros de turma, em especial aos colegas
de alojamento, com os quais desfrutei de momentos inesquecíveis, mas que também
estavam dispostos ouvir e ajudar nos momentos difíceis.
Agradeço ao meu coordenador de curso Tenente Gomes. Oficial de grandes
valores morais e incentivador, sempre prestativo e disponível para diversas
demandas do curso.
Deixo aqui os meus agradecimentos ao meu orientador, o Tenente Schinzel,
por acreditar nos objetivos desta pesquisa, pela dedicação e tempo desprendidos
em prol deste trabalho.
Agradeço ao Sargento Meira que de forma pronta e eficiente esteve
disposto a corroborar com esta pesquisa.
5
DA MACENA, B. E. O conhecimento e a utilização das técnicas de Salvamento
em Águas Rápidas em enxurradas pelo Corpo de Bombeiros do Estado do
Paraná. 2015. 81 f. Monografia (Bacharelado em Segurança Pública) – Curso de
Formação de Oficiais Bombeiro Militar, São José dos Pinhais, 2015.
RESUMO
Analisando-se a atividade Bombeiro Militar no estado do Paraná, percebe-se uma
carência de capacitação e aperfeiçoamento no Salvamento em Águas Rápidas,
colocando as guarnições de serviço em perigo quando acionadas para realizar um
resgate em águas correntes. Através de uma pesquisa aplicada de estudo descritivo
e método dedutivo, este trabalho tem como objetivo geral pesquisar e descrever
técnicas de Salvamento em Águas Rápidas que possam ser aplicadas à realidade
do Corpo de Bombeiros do Paraná, principalmente em enxurradas. A presente
pesquisa busca diferenciar os conceitos de alagamento, enchentes, inundação e
enxurrada, bem como salientar a importância de se examinar o local e avaliar a cena
do incidente, antes de se iniciar um salvamento. Considerando-se o elevado número
de alagamentos no estado do Paraná, traçam-se algumas áreas de risco no estado
e paralelamente busca-se fazer um levantamento das instruções teóricas e práticas,
além de materiais e equipamentos de SARp existentes em cada Grupamento de
Bombeiros, a fim de se estabelecer um panorama geral do Paraná, referente às
condições de atendimento a uma ocorrência em enxurrada onde tenham que ser
empregadas as técnicas em questão. Com o intuito de consolidar a importância do
SARp, entrevistou-se um bombeiro militar que, por desconhecimento de técnicas e
ausência de material adequado, se tornou vítima em uma salvamento em águas
correntes, quase perdendo sua vida. O panorama geral traçado serve para, além de
demonstrar o preparo de cada Grupamento de Bombeiros, alertar as unidades
operacionais para a importância de promover capacitação da sua tropa por meio de
instruções e prover equipamentos adequados, garantindo assim um atendimento
eficiente e eficaz e, principalmente, proporcionando a segurança adequada aos
resgatistas.
Palavras-Chave: Salvamento, Enxurrada, Águas Rápidas, Técnicas de resgate,
Bombeiro Militar.
6
DA MACENA, B. E. Knowledge and use of rescue techniques in swift waters of
floods by the Paraná State Military Police Fire Department. 81 f. (Officer
Firefighting Graduation Course) – Monograph. Military Police Academy of Guatupê.
São José dos Pinhais, PR, 2015.
ABSTRACT
Analyzing the Military Fireman activity in Paraná State, we can notice a lack of
training and development in Rescue in Swift Waters, putting garrisons in danger
when called to perform a rescue in running water. Through a descriptive study of
applied research and deductive method, this paper’s main goal is to research and
describe Rescue in Swift Waters techniques that can be applied to the CBPMPR
reality, especially in floods. This research seeks to distinguish the many concepts of
kinds of flood and highlight the importance of examining the site and assess the
incident scene, before starting a rescue. Given the high number of floods in the state
of Paraná, draw up some risk areas in the state and at the same time we seek to
make a survey of the theoretical and practical instructions, as well as supplies and
existing SARp equipment in each Fireman Headquarters, in order to establish an
overview of Parana, referring to the quality of service in case of a flood which have to
be used those techniques. In order to reinforce the importance of SARp, a military
firefighter was interviewed who has become a victim in a rescue in running water, by
lack of proper supplies and knowledge, nearly losing his life. The built overview
serves to not only demonstrate the preparation of each Fireman Headquartes, alert
the operating units to the importance of promoting training of his troops through
instruction and provide appropriate equipment, thus ensuring an efficient and
effective service, and especially providing proper security to rescuers.
Keyword: Rescue, Floods, Swift water, Techniques of rescue, Military firefight.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01 - DIFERENÇA ENTRE ENXURRADA E INUNDAÇÃO .......................... 20
FIGURA 02 - DINÂMICA DO FLUXO DA CORRENTEZA ........................................ 22
FIGURA 03 - NATAÇÃO DEFENSIVA ...................................................................... 31
FIGURA 04 - DESENHO ESQUEMÁTICO DO REFLUXO ....................................... 32
FIGURA 05 - ÂNGULO DE TRAVESSIA................................................................... 33
FIGURA 06 - TÉCNICA DE SALVAMENTO COM EMBARCAÇÃO – REMAR ATÉ A
VÍTIMA ...................................................................................................................... 36
FIGURA 07 - TIROLESA AQUÁTICA ........................................................................ 37
FIGURA 08 - TIROLESA AQUÁTICA ........................................................................ 37
FIGURA 09 - LANÇAMENTO DO SACO DE ARREMESSO POR CIMA .................. 39
FIGURA 10 - LANÇAMENTO DO SACO DE ARREMESSO POR BAIXO ................ 39
FIGURA 11 - TRAVESSIA DE RESGATE FEITA POR UM RESGATISTA ............... 40
FIGURA 12 - TRAVESSIA DE RESGATE POR MAIS DE UM RESGATISTA .......... 41
FIGURA 13 - TÉCNICA DO ISCA-VIVA .................................................................... 42
FIGURA 14 - TIROLESA AQUÁTICA CORRETA X ERRADA .................................. 44
FIGURA 15 - MANGUEIRA DE COMBATE A INCÊNDIO INFLADA......................... 46
FIGURA 16 - ALCANÇAR MANGUEIRA INFLÁVEL PARA A VÍTIMA ...................... 46
FIGURA 17 - INUNDAÇÕES BRUSCAS NO PARANÁ – 1991 A 2010 .................... 47
FIGURA 18 - INUNDAÇÕES NO PARANÁ – 2005 A 2014....................................... 55
FIGURA 19 – MAPA TEMÁTICO: ÁREAS DE RISCO DE ENXURRADAS POR
UNIDADE OPERACIONAL ....................................................................................... 57
FIGURA 20 – MAPA TEMÁTICO: PANORAMA GERAL DO CORPO DE
BOMBEIROS DO PARANÁ EM RELAÇÃO À ATIVIDADE DE SALVAMENTO EM
ÁGUAS RÁPIDAS ..................................................................................................... 64
8
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 – FORÇA EM NEWTONS (N) DA ENXURRADA VS VELOCIDADE E
PROFUNDIDADE ...................................................................................................... 22
TABELA 02 – OCORRÊNCIAS, VÍTIMAS E ÓBITOS POR OBM ............................. 48
TABELA 03 – ÁREAS DE RISCO DE ENXURRADAS POR UNIDADES
OPERACIONAIS ....................................................................................................... 57
TABELA 04 – COMPARAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO COM A EXECUÇÃO DE
INSTRUÇÕES DE SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS ....................................... 60
TABELA 05 – COMPARAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO COM OS MATERIAIS E
EQUIPAMENTOS DE SARP ..................................................................................... 62
9
LISTA DE SIGLAS
CBPMPR
- Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Paraná
CBPMESP
- Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo
CE
- Constituição Estadual
CF
- Constituição Federal
CFSd
- Curso de Formação de Soldado
CFO
- Curso de Formação de Oficiais
EaD
- Ensino a Distância
EPI
- Equipamento de Proteção Individual
GOST
- Grupo de Operações de Socorro Tático
kgf
- Quilograma-força
LOB
- Lei de Organização Básica
N
- Newton
OBM
- Organização Bombeiro Militar
PMPR
- Polícia Militar do Paraná
SARp
- Salvamento em Águas Rápidas
SYSBM
- Sistema de Registro de Ocorrências e Estatística do Corpo de
Bombeiros do Paraná
IGAM
- Instituto Mineiro de Gestão das Águas
EPR
- Equipamento de Proteção Respiratória
RGO
- Registro de Ocorrências
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 16
2.1 A LEGALIDADE DO SERVIÇO DE SALVAMENTO AQUÁTICO ........................ 16
2.2 APERFEIÇOANDO CONCEITOS ....................................................................... 19
2.2.1 Enchente .......................................................................................................... 19
2.2.2 Inundação......................................................................................................... 20
2.2.3 Alagamento ...................................................................................................... 20
2.2.4 Enxurrada ......................................................................................................... 21
2.3 PRIMEIROS PROCEDIMENTOS ........................................................................ 23
2.3.1 Avaliação da cena do incidente ........................................................................ 23
2.3.2 Examinar o local ............................................................................................... 24
2.4 OS 15 MANDAMENTOS DO SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS ................. 25
2.5 OBJETIVOS DO RESGATE ................................................................................ 26
2.5.1 Localizar (L) ...................................................................................................... 26
2.5.2 Acessar (A) ....................................................................................................... 27
2.5.3 Estabilizar (E) ................................................................................................... 27
2.5.4 Transportar (T) ................................................................................................. 28
2.6 PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS .......... 28
2.6.1 Natação Defensiva ........................................................................................... 30
2.6.2 Escapar de um refluxo ...................................................................................... 31
2.6.3 Transposição do curso d’água ......................................................................... 33
2.7 SALVAMENTOS COM EMBARCAÇÃO .............................................................. 33
2.7.1 Remar até a vítima ........................................................................................... 35
2.7.2 Tirolesas com embarcação .............................................................................. 36
2.8 SALVAMENTO SEM EMBARCAÇÃO ................................................................. 38
2.8.1 Arremessar ....................................................................................................... 38
2.8.2 Travessia de resgate ........................................................................................ 40
2.8.3 Isca-Viva........................................................................................................... 41
2.8.4 Tirolesa aquática .............................................................................................. 43
2.8.5 Mangueira de combate a incêndio inflada ........................................................ 45
2.9 AS ENXURRADAS NO PARANÁ ........................................................................ 47
11
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 49
3.1 TIPO DE ESTUDO .............................................................................................. 49
3.2 ENFOQUE DE PESQUISA ................................................................................. 50
3.3 MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................... 51
3.4 COLETA DE DADOS .......................................................................................... 51
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS ................................................................. 53
4.1 ANÁLISE DAS ÁREAS DE RISCO DE ENXURRADAS NO PARANÁ ................ 54
4.2 ANÁLISE DAS UNIDADES OPERACIONAIS QUANTO A INSTRUÇÃO E
EQUIPAMENTOS DE SARP ..................................................................................... 58
4.3 ANÁLISE DA ENTREVISTA REALIZADA QUANTO ÀS TÉCNICAS DE SARp
COM VISTAS À SEGURANÇA ................................................................................. 65
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 69
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 73
APÊNDICES ............................................................................................................. 76
12
1 INTRODUÇÃO
De acordo com o Glossário de Termos Relacionados à Gestão de Recursos
Hídricos, elaborado pelo IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), enchente é
o transbordamento das águas do leito natural de um córrego, rio, lagoa, mar, etc,
provocado pela ocorrência de vazões relativamente grandes de escoamento
superficial, ocasionados comumente por chuvas intensas e contínuas. As enchentes
passam a se tornar inundações no momento em que a vazão d’água extravasa a
cota máxima do canal.
A primeira vista, parece-nos que inundações e enchentes são desastres
naturais que ocorrem raramente e em locais isolados, contudo, isso se deve a nossa
curta memória. Segundo dados da Defesa Civil do Paraná, somente no ano de 2014
ocorreram no estado do Paraná 1.320 ocorrências, sendo 691 inundações e 629
enchentes, deixando mais de 10 mortes, mais de 150 feridos e 44.000 desalojados
em todo o estado.
As enchentes e inundações são fenômenos naturais e processos cíclicos
que, no entanto, podem ser acelerados e agravados pela intervenção do ser
humano. Segundo Kobiama (p. 46, 2006), “[...] vêm aumentando gradativamente a
frequência com que ocorrem as inundações e também os prejuízos que elas
causam”, aumentando dessa maneira as demandas do serviço do Corpo de
Bombeiros, organização esta, que atua principalmente na fase de Resposta 1 a
eventos desastrosos como as inundações.
É por atuar na fase de Resposta aos eventos desastrosos como as
inundações, que o Corpo de Bombeiros do Paraná deve se manter em prontidão, em
constante treinamento e aperfeiçoamento das técnicas e acompanhamento da
evolução dos materiais de resgate, a fim de conseguir atender as mais diversas
demandas do serviço.
1
Fase de Resposta: Constitui em uma das 4 (quatro) fases das ações de proteção e defesa civil do
estado do Paraná (Prevenção; Preparação; Resposta; Reconstrução). É a fase que se
desencadeia com o acontecimento do evento desastroso e, em caráter de emergência, visa os
socorros públicos.
13
Mais que 20 anos se passaram com o desenvolvimento contínuo de
capacidades, técnicas e equipamentos de resgate em água corrente. Pode
ser que neste século o resgate em água corrente seja a área de resgate
técnico que tenha o maior crescimento dinâmico, porque mesmo que a
tecnologia esteja crescendo, os problemas crescem mais rápido!
(SERGERSTROM, et al., 2002, p. 05).
Portanto, tendo em vista o número elevado e crescente de desastres
naturais envolvendo enchentes e inundações é que a formação dos bombeiros
militares do Corpo de Bombeiros do Paraná deve estar sempre em constante
adaptação e transformação às novas demandas. É neste contexto que este trabalho
busca demonstrar a importância do conhecimento e da utilização das técnicas de
SARp (Salvamento em Águas Rápidas) aplicadas às enxurradas, a fim de que os
cursos de formação e aperfeiçoamento sejam motivados a estar sempre em
constante atualização, com as mais modernas técnicas e táticas a respeito, neste
caso em especial, do Salvamento em Águas Rápidas e busca ainda traçar um
panorama geral de todo o estado do Paraná, referente aos materiais e
equipamentos existentes atualmente no CBPMPR (Corpo de Bombeiros da Polícia
Militar do Paraná), para que os Grupamentos de Bombeiros, assentindo a
importância do assunto, adquiram equipamentos modernos e adequados para suas
guarnições, a fim de proporcionar uma maior segurança para os resgatistas, para
que possam, desta maneira, aplicar corretamente as técnicas do SARp. Uma vez
que simplesmente através da observação, percebe-se uma possível carência deste
conhecimento e destes materiais por parte dos integrantes de toda esta corporação
e das unidades operacionais, respectivamente.
Segundo o EaD (Ensino a Distância) de Resgate em Águas Rápidas do
Corpo de Bombeiros do Paraná, a definição de Águas Rápidas é a seguinte: “Água
Rápida é todo e qualquer curso de água, com um fluxo constante de água corrente,
que dificulta o deslocamento de um veículo, uma embarcação ou uma pessoa
andando ou nadando.”
A referida atualização se faz indefinidamente necessária, uma vez que a
formação e o treinamento contínuo dos bombeiros estão diretamente ligados à
primeira fase do ciclo operacional: a preparação. Esta preparação, se mal
executada, comprometerá a fase de Resposta do Corpo de Bombeiros, colocando a
guarnição em risco durante a ocorrência e declinando o atendimento às vítimas.
Diante deste problema que pode comprometer a ocorrência e a própria segurança
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da guarnição, pode-se perguntar quanto ao conhecimento dos bombeiros militares
do Paraná, ao que diz respeito às técnicas de Salvamento em Águas Rápidas:
Os bombeiros militares estão tendo instruções teóricas e práticas de
Salvamento em Águas Rápidas, bem como, possuem os materiais e equipamentos
adequados para o atendimento de ocorrências em enxurradas?
Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é descrever as técnicas do
Salvamento em Águas Rápidas que possam ser utilizadas em enxurradas, para que,
sabendo da importância deste conhecimento, essas técnicas sejam disseminas por
todo o Corpo de Bombeiros, afim de que aumente-se a capacitação dos bombeiros
militares.
Portanto, constituem-se como objetivos específicos desta pesquisa: o
levantamento das principais áreas de risco de enxurradas no Estado do Paraná, a
verificação de instruções e materiais das unidades operacionais e por fim a
confecção de um panorama geral da capacidade de resposta à ocorrências de
Salvamento em Águas Rápidas.
Com o intuito de que o objetivo seja alcançado, primeiramente, serão
definidos corretamente os termos: enchente, inundação, alagamento e enxurrada, os
quais são frequentemente utilizados de forma incorreta, bem como se analisará, com
vistas às leis que regem o Corpo de Bombeiros, a legalidade do serviço de
Salvamento Aquático, mais especificamente o Salvamento em Águas Rápidas
(SARp), que é o cerne desta pesquisa.
Em um segundo momentos serão evidenciados quais são as áreas de risco
do Paraná com maior incidência de enxurradas e inundações, as quais possuem
maior probabilidade de ocorrência desse tipo de desastre natural, apesar da
pesquisa possuir como hipótese, que esse tipo de evento desastroso, como a
enxurrada, pode ocorrer em qualquer lugar do estado, nos levando a refletir que não
basta este conhecimento estar centralizado em pontos de maior incidência de
enxurradas ou por tropas especializadas e sim, que é necessário se tornar um
conhecimento ostensivo por parte de todos os integrantes do Corpo de Bombeiros
do Paraná.
Por fim, serão descritas também as técnicas do Salvamento em Águas
Rápidas que podem ser utilizadas nas enxurradas e se verificará quais os
Grupamentos de Bombeiros do Paraná possuem equipamentos adequados para
disponibilizar para a tropa, para que esta possa aplicar as técnicas corretas, prestar
15
um atendimento satisfatório à sociedade paranaense e principalmente equipamentos
que proporcionem a segurança adequada aos bombeiros. Com o intuito de
disseminar estes conhecimentos por todo o Corpo de Bombeiros do Paraná a fim de
prevenirmos possíveis acidentes que possam ocorrer com os integrantes das
guarnições por simples desconhecimento das técnicas corretas.
16
2 REVISÃO DE LITERATURA
Este capítulo busca resgatar alguns conceitos, algumas regras e normas,
tanto em relação ao Corpo de Bombeiros do Paraná como especificamente do
Salvamento em Águas Rápidas, para que alguns conhecimentos sejam nivelados e
possa-se
chegar
ao
final
desta
pesquisa
com uma
conclusão
bastante
compreensível e satisfatória.
A começar pela legalidade do Serviço de Salvamento Aquático, onde se
encontra incutido o Salvamento em Águas Rápidas, definindo posteriormente
conceitos de termos que aparentemente são sinônimos, tais como enchente,
enxurrada, alagamento e inundação.
Busca-se também descrever como deve ser o atendimento a uma ocorrência
de SARp (Salvamento em Águas Rápidas), trazendo conceitos utilizados também
em outras áreas, como por exemplo, no Salvamento Veicular: localizar, acessar,
estabilizar e transportar. Bem como descrever mandamentos que, prioritariamente,
devem ser seguidos pelos resgatistas, visando principalmente a sua segurança.
Descrevem-se, como cerne desta pesquisa, as principais técnicas do
Salvamento em Águas Rápidas que possam ser exequíveis na realidade do Estado
do Paraná, tanto com a utilização de embarcação ou não. Além de orientações de
segurança e de execução aos resgatistas, como a natação defensiva, o ângulo de
travessia entre outros.
2.1 A LEGALIDADE DO SERVIÇO DE SALVAMENTO AQUÁTICO
As atividades do Corpo de Bombeiros, frequentemente, são associadas
apenas ao combate a incêndio – atividade mais antiga e tradicional realizada por
bombeiros em todo o mundo – e, especificamente no Estado do Paraná, associadas
também às ambulâncias que realizam o atendimento ao trauma em emergência, por
se tratar de uma atividade realizada em larga escala em nosso Estado.
Entretanto, as atividades ou missões do Corpo de Bombeiros abrangem
várias outras necessidades da sociedade. Sendo assim, diversas outras atividades
17
são realizadas, sendo que, inclusive, as mesmas são previstas em legislações
pertinentes à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros.
A começar pela Constituição Federal (CF), de 05 de outubro de 1988, que
ressalta a importância do Corpo de Bombeiros quando, em seu capítulo III – “DA
SEGURANÇA PÚBLICA”, inclui a referida instituição como parte integrante da
Segurança Pública. Vejamos:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade
de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
V – Polícia Militar e Corpos de Bombeiros Militares. (BRASIL, 1988).
Além disso, a CF prevê ainda no art. 144, parágrafo 5º, a missão das
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros:
§ 5º Às Polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
(BRASIL, 1988).
Observe-se, porém, que apesar da CF prever a missão das referidas
instituições, era necessário um detalhamento acerca das atribuições específicas das
Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros.
Diante disso, a Constituição do Estado do Paraná estabeleceu no art. 48 as
atividades específicas da Polícia Militar do Paraná, vejamos:
Art. 48. À Polícia Militar, força estadual, instituição permanente e regular,
organizada com base na hierarquia e disciplina militares, cabe a polícia
ostensiva, a preservação da ordem pública, a execução de atividades de
defesa civil, prevenção e combate a incêndio, buscas, salvamentos e
socorros públicos, o policiamento de trânsito urbano e rodoviário, de
florestas e de mananciais, além de outras formas e funções definidas em lei.
(PARANÁ, 1989).
Nota-se que a CE (Constituição Estadual) inclui as missões dos Corpos de
Bombeiros como sendo da instituição da Polícia Militar, em razão de que no Estado
do Paraná o Corpo de Bombeiros é orgânico da Polícia Militar, conforme dispõe art.
46, parágrafo único, da Constituição Estadual:
18
Art. 46. A segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos é exercida, para a preservação da ordem pública e incolumidade das
pessoas e do patrimônio, pelos seguintes órgãos:
[...]
Parágrafo único: O Corpo de Bombeiros é integrante da Polícia Militar.
(PARANÁ, 1989).
Ainda, em que pese a definição das atividades da Polícia Militar do Estado
do Paraná (PMPR) realizada pela Constituição Estadual, a Lei Estadual nº 16.575 de
29 de setembro de 2010, conhecida como LOB (Lei de Organização Básica),
também estabelece as atividades específicas da PMPR, das quais, para os fins
deste trabalho, ressalta-se as que se referem diretamente ao Corpo de Bombeiros,
conforme dispõe o art. 2º, incisos IV e V da LOB:
Art. 2º. Compete à Polícia Militar, além de outras atribuições estabelecidas
em leis peculiares ou específicas:
[...]
IV - realizar serviços de busca, salvamento, prevenção e combate a
incêndio;
V - executar as atividades de defesa civil; [...]. (PARANÁ, 2010).
Diante de todo o embasamento legal apresentado, pode-se observar que
entre as várias atribuições da PMPR, o salvamento é uma de suas principais
missões, sendo que a sua execução é atribuída ao Corpo de Bombeiros.
Assim, tratando-se de salvamentos, são diversos os tipos dentre os quais se
pode citar o salvamento terrestre, salvamento vertical, salvamento veicular e o
salvamento aquático.
Ressalta-se que é evidente a importância de todos os tipos de salvamentos
e
de
suas
respectivas
técnicas,
todavia,
o
presente
trabalho
abordará
especificamente o salvamento aquático, no qual o Corpo de Bombeiros do Paraná
recentemente passou a utilizar como referencial teórico e fonte de consulta sobre o
tema o Manual Técnico de Salvamento Aquático, aprovado pela Portaria do
Comando Geral nº 697 e publicado em Boletim-Geral nº 118 de 27 de junho de 2014
(SOUZA, 2014).
Diante disso, considerando o tipo de salvamento a ser analisado,
aprofundar-se-á o estudo acerca do salvamento aquático no que se refere a
utilização das técnicas de salvamento em águas rápidas no ambiente urbano, mais
especificamente nas enxurradas, conforme se verá adiante.
19
2.2 APERFEIÇOANDO CONCEITOS
Enchentes e inundações são um dos mais frequentes desastres naturais
enfrentados pela humanidade em todo o mundo. São fenômenos naturais que
ocorrem frequentemente em determinadas épocas do ano em que as chuvas são
mais intensas, entretanto, podem ser mais recorrentes caso haja a intervenção do
ser humano na natureza.
Esses fenômenos de natureza hidro meteorológica fazem parte da dinâmica
natural e ocorrem frequentemente deflagrados por chuvas rápidas e fortes,
chuvas intensas de longa duração, degelo nas montanhas e outros eventos
climáticos tais como furacões e tornados, sendo intensificados pelas
alterações ambientais e intervenções urbanas produzidas pelo Homem,
como a impermeabilização do solo, retificação dos cursos d’água e redução
no escoamento dos canais devido a obras ou por assoreamento.
(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015).
As enchentes e inundações ocorrem em diversas cidades de nosso Estado,
em especial as grandes cidades, que apresentam um número elevado de
construções que impermeabilizam o solo impedindo a absorção da água e, ainda,
em cidades que apresentam habitações próximas aos cursos d’água.
Este
capítulo
visa
definir
alguns
conceitos
que,
corriqueiramente,
interpretamos como se fossem todos iguais, tais como: enchentes; alagamentos,
inundações e enxurradas. Estes desastres são facilmente confundidos, uma vez que
os resultados são praticamente os mesmos em razão de destruir cidades e
desabrigar famílias, diferenciando-se, porém, nas suas origens, tendo em vista que
cada uma ocorre por motivos diferentes.
2.2.1 Enchente
A enchente, também chamada popularmente de “cheia”, acontece quando,
devido ao prolongado período de chuvas, ocorre um aumento na vazão do curso
d’água e este permanece por um período de tempo com o seu nível de água elevado
sem extravasar sua calha. A definição de enchente, segundo os Ministérios das
Cidades (2007), é: “Enchente (ou cheias) – temporária elevação do nível de água
normal da drenagem, devido a acréscimo de descarga”.
20
2.2.2 Inundação
Inundação não deixa de ser uma enchente (ou cheia), entretanto, na
inundação a descarga de água, pela chuva, por exemplo, é tão grande que extrapola
a calha do curso d’água, invadindo as áreas de várzea ao redor do rio, podendo
atingir bairros próximos e até mesmo cidades inteiras. Esse extravasamento é que
caracteriza a inundação.
Inundação – tipo particular de enchente, onde a elevação do nível d’água
normal atinge tal magnitude que às águas não se limitam à calha principal
do rio, extravasando para áreas marginais, habitualmente não ocupadas
pelas águas. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015).
Na figura a seguir observa-se, esquematicamente, o perfil da calha de um
curso d’água com habitações em seu entorno, tornando possível a identificação da
diferença entre a enchente e a inundação.
FIGURA 01 - DIFERENÇA ENTRE ENXURRADA E INUNDAÇÃO
FONTE: MINISTÉRIO DAS CIDADES (2015)
2.2.3 Alagamento
Segundo o Ministério das Cidades (2015), o alagamento é caracterizado
principalmente pelo acúmulo de águas, por um determinado período de tempo, em
locais onde a permeabilidade do solo está deficitária por problemas de drenagem –
21
excesso de construções civis, por exemplo. Entretanto, o alagamento pode estar, ou
não, relacionado com a dinâmica dos cursos d’água.
2.2.4 Enxurrada
O Ministério das Cidades (2015) define enxurrada como sendo “Escoamento
superficial concentrado e com alta energia de transporte”. Assim como o
alagamento, a enxurrada também pode estar, ou não, relacionada com os processos
fluviais.
É corriqueiro encontrarmos enxurradas em locais ou cidades onde o relevo é
bastante acidentado, uma vez que o excesso de água escorre por ruas e avenidas
íngremes e adquirem uma velocidade bastante acentuada, arrastando e carregando
objetos, lixos e até mesmo veículos. As enxurradas podem ser encontradas também
em locais onde antigamente eram leitos fluviais, tendo em vista que toda a rede
hidrográfica local converge para aquele ponto.
A enxurrada é, entre os 4 (quatro) tipos de enchentes abordados neste
trabalho, o mais perigoso para a população que foi atingida e o mais perigoso
também para as equipes de resgate, devido a sua grande quantidade de energia
cinética (velocidade), que dificulta o acesso das equipes aos locais atingidos,
dificultando também a utilização das embarcações de resgate e, dependendo da
magnitude, impossibilita a natação dos resgatistas.
Uma vez visto que a enxurrada é o mais perigoso tipo de enchente, é
fundamental que o resgatista tenha conhecimento da dinâmica de uma correnteza, a
maneira como ela se comporta nas margens e a maneira como se comporta no
centro. Conforme observa-se na Figura 02.
22
FIGURA 02 - DINÂMICA DO FLUXO DA CORRENTEZA
FONTE: PAVÃO (2006, P.11)
Na tabela a seguir pode-se verificar, a partir de dados numéricos, a força em
quilograma força (kgf) que a enxurrada pode adquirir, relacionada diretamente com a
sua velocidade e a sua profundidade – Nas pernas: aproximadamente 0,50 metro e
No corpo: aproximadamente 1,20 metros.
TABELA 01 – FORÇA EM NEWTONS (N) DA ENXURRADA VS VELOCIDADE E PROFUNDIDADE
Velocidade da água
Nas pernas
No corpo
Embarcação pequena
(km/h)
(kgf)
(kgf)
emborcada (kgf)
2
8
15
76
4
30
61
305
6
70
140
685
8
125
245
1219
FONTE: SEGERSTROM ET AL. (1997) APUD PAVÃO (2006) – MANUAL DE SALVAMENTO EM
ENXURRADAS, CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO, organizado pelo autor
(2015)
Após analisado os diversos tipos de enchentes verificamos que a enxurrada
é a que possui as características mais próximas de um curso d’água ou de uma
corredeira, onde conseguimos aplicar quase que a totalidade das técnicas de SARp.
Ademais, utilizar-se-á para fins de padronização neste trabalho o termo enxurrada,
sabendo-se que este pode estar sendo relacionado também a qualquer um dos
outros desastres mencionados anteriormente.
Muitas literaturas pesquisadas trazem o termo enchente, entretanto este
termo acaba por não corresponder exatamente a um desastre, uma vez que, como
23
explicado anteriormente, durante a cheia do rio este permanece com seu nível
elevado, porém sem extravasar o limite da sua calha, o que acaba por não ocasionar
danos às cidades.
2.3 PRIMEIROS PROCEDIMENTOS
O conhecimento das técnicas de salvamento em águas rápidas é essencial
para o resgate de uma vítima de enxurrada, que se encontra ilhada ou até mesmo
sendo carregada pela força da água. Entretanto, somente as técnicas de SARp não
garantem o perfeito sucesso da ocorrência, é necessário que a equipe de bombeiros
que fará o resgate, saiba fazer uma correta avaliação da cena do incidente e não
esqueça os “15 (quinze) mandamentos” do salvamento em águas rápidas.
Existem muitas disciplinas de resgate, algumas mais novas do que outras
[...] É importante lembrar-se que nenhuma disciplina de resgate é
completamente única em seus próprios compêndios e suas próprias
técnicas. Geralmente cada disciplina de resgate tem os seus próprios
aspectos, enquanto empresta técnicas aplicáveis de outras disciplinas de
resgate. (SEGERSTROM et al., 2002, p. 11).
2.3.1 Avaliação da cena do incidente
É de vital importância a avaliação da cena do incidente, ela pode demorar
apenas alguns segundos, quando a situação for bastante simples, como pode
demorar minutos, se a situação assim exigir. Essa avaliação deve ser a primeira
atitude a ser realizada após a equipe de bombeiros chegar ao local, pois é a partir
das informações coletadas nesta avaliação que serão embasadas as tomadas de
decisões no decorrer da ocorrência.
A avaliação da cena do incidente se mal feita pode colocar em risco a
segurança de toda uma guarnição de bombeiros, podendo facilmente levar algum
membro da equipe a uma fatalidade, mas pelo contrário, se bem realizada,
convergirá para um resgate eficiente e eficaz.
Em
nossa
organização,
Corpo
de
Bombeiros
Militar,
caberá
à
responsabilidade pela avaliação da cena do incidente ao militar mais antigo da
24
guarnição que está realizando o resgate, podendo ser o Oficial de Socorro, o Chefe
da Guarnição ou até mesmo o mais graduado presente no teatro de operações.
Entretanto, a pesar da responsabilidade ser do mais antigo, é de essencial
importância que todos os membros da guarnição ou da equipe de resgate, estejam
aptos a realizarem uma correta avaliação da cena do incidente, assim como todos
devem estar atentos ao teatro de operações, uma vez que quanto menos unilateral
for a tomada de decisões, mais chances a equipe terá de obter o sucesso do
resgate. (SEGERSTROM, et al., 2002).
A avaliação fornece a estrutura para incidentes. A capacidade de avaliar a
situação combinando os componentes da avaliação é uma obrigação a
qualquer pessoa chamada em um incidente de resgate. Coletar os fatos,
conhecer as probabilidades, avaliar a própria situação, tomar decisões
informadas, e executar planos válidos; o resgatista será capaz de dar um
ambiente mais seguro para ele mesmo e para outros ao mesmo tempo,
enquanto ele está dirigindo um esforço coordenado de resgate. A análise
risco/benefício só pode ser realizada quando os perigos forem avaliados e
quando se alcançar uma visão clara do que é necessário para o resgate.
(SEGERSTROM et al., 2002, p. 24).
2.3.2 Examinar o local
Em uma enxurrada em determinada cidade, pode-se vislumbrar alguns
fatores importantes que devem ser levados em consideração para examinar o local e
saber a magnitude do incidente, como o local que a vítima se encontra, as
características físicas do local como paredes, rochas, buracos e obstáculos, o
acesso e o regresso da guarnição até a vítima, o espaço que a guarnição terá para
resgatar a vítima e o local do posto de comando, de onde o militar mais antigo vai
estar postado, observando todas as ações da guarnição de resgate, assim como
toda e qualquer atividade externa ao incidente que possa vir a comprometer a
segurança da operação de resgate. (SEGERSTROM, et al., 2002).
A partir dos fatores citados anteriormente conseguimos definir também a
magnitude do incidente. Se de pequena magnitude, o incidente oferece mais
segurança para os resgatistas, enquanto que se de grande magnitude, oferece
muitos riscos à segurança da guarnição e consequentemente exige um maior
preparo da equipe e uma atenção redobrada durante todo o desenrolar da operação
de resgate. A magnitude não é algo estático na cena do incidente, ela pode
facilmente evoluir para uma ocorrência muito mais complexa.
25
A magnitude de qualquer incidente também pode mudar depressa. Um
resgatista pode responder a uma pessoa encalhada dentro de um canyon,
e, quando estiver salvando esta pessoa, ser informado de que ela estava
com um grupo de 3 pessoas que foram levadas pela corrente. Um cenário
pior seria uma tentativa de resgate que não transcorre como o esperado, na
qual o resgatista precisa de ajuda, aumentando efetivamente a magnitude
do incidente. (SEGERSTROM et al., 2002, p. 19).
2.4 OS 15 MANDAMENTOS DO SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS
Como verificado anteriormente que além das técnicas de salvamento, é
importante também a avaliação da cena do incidente, assim como é de vital
importância o conhecimento dos mandamentos do Salvamento em Águas Rápidas.
Esses mandamentos estão intimamente ligados com a segurança do
resgatista, da equipe de resgate e também da vítima a ser resgatada. Devem ser
lembrados a todo e qualquer momento em que a equipe ou o militar isolado estiver
atuando em um resgate.
Jim Segerstrom, e os demais autores do manual Swiftwater Rescue
Technician Unit 1 – Rescue 3 International, elencaram 15 principais regras do
resgate em água corrente. Portanto tendo em vista esta pesquisa estar direcionada
à descrever as técnicas de SARp que podem ser aplicadas em enxurradas, serão
elencados aqui, apenas 10 das 15 regras – uma vez que as outras cinco regras
referem-se mais à pratica de esportes aquáticos, que a atividade de salvamento
propriamente dita –, e da mesma forma deverão ser lembrados sempre que a equipe
de resgate estiver atuando em uma enxurrada, inundação ou alagamento.
As principais regras para o resgate em enxurradas, conforme Segerstrom et
al. (2002, p. 27), organizadas pelo autor, são os seguintes:
a) Sempre usar o colete flutuador;
b) A prioridade do resgate, durante uma enxurrada, são: primeiro o auto
resgate, segundo o resgate e a segurança da equipe e por último a
segurança e resgate da vítima;
c) Sempre tenha mais de um plano para uma mesma vítima;
d) Opte por utilizar as técnicas mais simples;
e) Sempre use os equipamentos adequados para cada situação;
26
f)
Quando estiver sendo carregado pela enxurrada, mantenha os seus pés
para cima, de modo que não enrosquem em obstáculos que a água
possa esconder;
g) Não conte com a ajuda da vítima, ela não esta treinada para uma
situação de risco;
h) Nunca amarre uma corda ao redor de um resgatista;
i)
Nunca estique uma corda de segurança perpendicular ao sentido da
correnteza;
j)
Depois de pegar a vítima, não à solte;
2.5 OBJETIVOS DO RESGATE
Os objetivos do resgate em águas rápidas, assim como os que devem ser
utilizados em enxurradas, se confundem facilmente com os objetivos utilizados
também no Salvamento Veicular. Apesar de serem aparentemente simples e
intuitivos, são de vital importância para um resgate eficaz.
Os objetivos são os seguintes: Localizar, Acessar, Estabilizar e Transportar
(L-A-E-T), e devem ser realizados nesta sequência, para que minimize os riscos de
traumas secundários na vítima e a guarnição de resgate esteja orientada e realize o
resgate de forma objetiva. (SEGERSTROM, et al., 2002).
2.5.1 Localizar (L)
Primeiro objetivo a ser cumprido é localizar a vítima. É necessário que o
resgatista aviste a vítima, sabendo informar em que situação ela se encontra, se
ilhada, se imersa na água, se dentro de um veículo etc.
Localizar a vítima. Isto pode envolver desde uma busca visual de um veículo
na correnteza e seus ocupantes presos, como uma busca cômodo a
cômodo no edifício ou a busca subaquática no mergulho em um lago. Isto
pode consumir bastante tempo. (PAVÃO, et al., 2006).
27
2.5.2 Acessar (A)
Esse segundo passo pode não ser uma tarefa fácil, vai depender
necessariamente das condições do incidente. É neste objetivo que se pode verificar
a necessidade de uma correta avaliação da cena do incidente, pois o acesso às
vítimas pode ser demasiadamente complexo e demorar até horas para que seja
executado.
Segundo Pavão, et al. (2006) “Acessar a vítima. Novamente isto pode ser
tão simples quanto caminhar por uma estrada ou pode envolver técnicas de
ascensão ou decida em um edifício. Isto também pode consumir muitas horas.”
A partir da avaliação da cena do incidente, neste objetivo, vai-se então
decidir a técnica de resgate a ser empregada.
2.5.3 Estabilizar (E)
Estabilizar não significa somente a colocação de colar cervical e a posterior
colocação da vítima na maca. Estabilizar compreende todo a manutenção mínima de
sinais vitais e fisiológicos que permitam o transporte da vítima ao tratamento
definitivo no ambiente hospitalar.
A estabilização pode ocorrer basicamente de duas maneiras. Uma seria
levando o suporte médico, ou somente os socorristas, até o local onde se encontra a
vítima, mas para isso é necessário que o acesso à vítima seja razoavelmente fácil e
que lá possua espaço suficiente para o emprego da equipe de socorro. Caso
contrário, para não colocar a equipe de socorro em perigo, se o acesso foi difícil e
houver pouco espaço de trabalho para a equipe, é necessário que a vítima seja
retirada pelos resgatistas e posteriormente em local seguro seja devidamente
estabilizada.
Alcançando a vítima, temos que providenciar Estabilização inicial, e
preparar a vítima para o resgate. Não é necessariamente a função dos
componentes da equipe de resgate ser também médicos altamente
treinados, mas eles deveriam estar preparados para usar seus
equipamentos e conhecimentos para levar o médico até a vítima, se
necessário. (SEGERSTROM et al., 2002, p. 14).
28
2.5.4 Transportar (T)
O transporte compreende a maneira pela qual a vítima será levada até a
ambulância para o atendimento inicial, caso o médico não tenha ido até o local que a
vítima se encontrava. Segundo o MTB 10 - Manual de Salvamento em enchentes, do
CBPMESP (Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo) o
transporte “é a fase final, que pode ser nada além de imobilizar a vítima em uma
prancha e carregá-la até a viatura estacionada em local próximo, como pode
envolver um complexo sistema de içamento com uso de macas e tirolesas.”
2.6 PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA O SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS
As técnicas de Salvamento em Águas Rápidas são as mais diversas,
constituindo desde alcançar sua mão para a retirada da vítima da água, até mesmo,
a construção de uma tirolesa para ancorar o bote e se aproximar da vítima, o que se
constitui por uma ocorrência de bastante complexidade e exige da equipe de resgate
um conhecimento apurado de diversas técnicas que serão descritas na sequência
deste trabalho.
Contudo, após ter realizado uma correta avaliação da cena do incidente, é
essencial que a equipe de resgate tenha em mente uma sequencia lógica para
aplicação das técnicas de SARp, ou seja, a equipe deve sempre optar pelas técnicas
mais simples que garantem ao resgatista uma maior segurança e somente quando
não conseguir aplicar as técnicas mais simples é que deve-se optar pelas técnicas
mais complexas, chegando ao última caso, onde o resgatista entra na água para
chegar até a vítima.
A primeira opção da equipe de resgate deve ser Alcançar, pois é a técnica
que proporciona o menor risco à equipe de resgate. O resgatista permanecendo na
margem, sem adentrar o meio líquido – no caso das enxurradas permanecendo em
local seco e seguro, mas que não necessariamente à margem - alcança para a
vítima o seu braço, um remo, um galho, a escada da viatura, uma mangueira de
29
combate a incêndio inflada ou qualquer outro meio de fortuna2 que a vítima possa se
agarrar e então ser puxada para fora da água. Lembrando que esta técnica só
poderá ser executada para vítimas que estejam conscientes e possuam vigor físico
suficiente para se agarrarem a qualquer objeto alcançado.
A primeira opção de alcançar, a pesar de, se constituir como a opção que
oferece ao resgatista o maior nível de segurança durante o resgate, isso não obsta a
utilização dos devidos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Na impossibilidade do resgatista simplesmente alcançar algo à vitima e esta
estiver descendo pela enxurrada, a equipe de resgate deve optar pela segunda
opção, a de Arremessar. A técnica de arremesso constitui em lançar um Saco de
Arremesso3 ou uma boia presa a uma corda flutuante, a partir da margem ou de
qualquer local seguro de uma enxurrada, até a vítima para que essa possa agarrar,
permanecer flutuando e ao retesar a corda, com a ajuda da correnteza, ser levada
até a margem em que se encontra o resgatista que arremessou.
Em não sendo possível realizar a técnica do arremesso, devido a vítima
estar muito longe ou a vítima estar fraturada ou qualquer outro motivo que não
permita à vítima conseguir agarrar o saco de arremesso, a equipe de resgate deve
optar em Remar. Segundo o EaD de Resgate em Águas Rápidas do CBPMPR,
remar é utilizar-se de uma embarcação adequada para o ambiente de corredeiras e
com o auxílio de remos, remar até acessar a vítima.
Essa técnica de remar exige que a equipe possua os equipamentos
adequados e a habilidade necessária para a condução daquela embarcação, para
que não coloque em risco a segurança o resgatista, da equipe de resgate e também
da vítima.
A última opção de resgate que a equipe pode realizar, antes de solicitar um
eventual apoio aéreo, é Nadar. Consiste na técnica mais arriscada, pois expõe
demasiadamente o resgatista aos perigos daquela enxurrada.
2
MEIO DE FORTUNA: Aquilo que é concebido na própria ocasião, de improviso, sem prévia
preparação. Pode não ser o material exigido pela técnica, mas exige o conhecimento pleno da
técnica para a sua utilização de forma segura.
3
Saco de arremesso ou Sacola de salvamento: trata-se de uma sacola em tecido resistente,
contendo um cabo de 8 a 9 mm de espessura, ambos flutuantes (cabo e sacola). Deverá estar
acoplada a um cinto, com dispositivo de retirada rápida. (SOUZA, 2014 p.293).
30
Segundo o EaD de Resgate em Águas Rápidas do CBPMPR, ao optar por
essa técnica, a equipe deve estar consciente da decisão e ter certeza de que no
mínimo o resgatista possua condições de realizar um auto resgate. A maneira
correta de como o resgatista deve adentrar na água para nadar até a vítima será
pormenorizada mais a frente.
Em não se conseguindo aplicar nenhuma das opções citadas anteriormente
– Alcançar, Arremessar, Remar e Nadar – seja pela dificuldade da cena do incidente
ou seja pela falta de material apropriado, a equipe pode solicitar um apoio aéreo de
um helicóptero. Infelizmente muitas vezes, apesar dessa ser a melhor técnica a ser
aplicada para um salvamento em enxurrada – uma vez que expõe a equipe de
resgate aos menores riscos possíveis, proporcionando uma grande segurança aos
bombeiros - não há helicópteros suficientes para uma situação como esta, ou até
mesmo devido às intemperes climáticas não há teto4 para o helicóptero de resgate
levantar voo.
2.6.1 Natação Defensiva
A natação defensiva não consiste na natação convencional utilizada para se
alcançar uma vítima ou qualquer outro objetivo que se queira atingir. Ela é utilizada
principalmente para a segurança do resgatista que por algum motivo caiu na
correnteza da enxurrada e devido a grande força da correnteza ou a presença de
diversos obstáculos na enxurrada como buracos, pedras, manilhas e galhos de
árvores seria ineficiente e atentatório a segurança a tentativa de nadar até um local
mais seguro. Por este motivo o resgatista aplica a natação defensiva até que chegue
a um local mais seguro para que tenha condições de nadar e sair da correnteza.
Em água corrente, o nadador deve virar de barriga para cima e colocar as
duas pernas no sentido da corrente. Se estiver usando pés-de-pato, isso
ajudará a ficar plano e os pés-de-pato subirão para a superfície, enquanto o
nadador está flutuando. Sem pés-de-pato a posição dos calcanhares na
água deveria estar um pouco mais abaixo do que a posição das nádegas.
(SEGERSTROM et al., 2002, p. 48).
4
TETO: Altitude máxima permitida para o helicóptero levantar voo. Varia conforme as condições
climáticas.
31
Segundo Segerstrom et al. (2002 p.48), essa posição em que o nadador se
encontra na horizontal com os pés à frente, permite a ele passar por cima das
pedras e obstáculos rasos, ou usar os seus pés para empurrar-se e depois de ter
passado o obstáculo, o nadador volta à posição da natação defensiva com os pés rio
abaixo e os braços abertos ajudando no equilíbrio da natação.
FIGURA 03 - NATAÇÃO DEFENSIVA
FONTE: MINISTERO DELL’INTERNO (2006)
É de estrema importância, segundo o EaD de Resgate de Águas Rápidas do
CBPMPR, “[...] que a posição de natação defensiva seja corretamente executada,
mantendo-se os pés na superfície d’água. [...] No caso se o resgatista ou vítima
prenderem um ou ambos os pés no fundo do rio, a pressão da água não permite que
o indivíduo solte o pé preso na pedra!”.
Ademais, é de suma importância que o bombeiro ao estar se deslocando na
correnteza observe a presença de espuma na água. Uma vez que a espuma não é
água e devido a grande presença de ar ela afeta diretamente na flutuabilidade do
resgatista, independente se este estiver com ou sem colete flutuador além de
prejudicar a natação do resgatista.
2.6.2 Escapar de um refluxo
Em uma corredeira ou até mesmo em uma enxurrada, a água se comporta
de inúmeras maneiras, se amoldando com o relevo e os obstáculos de onde passa.
32
O conhecimento desse comportamento é essencial para que o resgatista não seja
surpreendido por algo que esteja escondido pelas águas e passe a se tornar mais
uma vítima.
Os refluxos ocorrem naturalmente em rios e enxurradas e são um dos mais
perigosos obstáculos que podem ser encontrados na correnteza.
Uma reversão vertical da correnteza em que a pressão da corrente está
passando por cima de um desnível (como uma barragem ou uma pedra) e
força a água da base do desnível para baixo no fundo. A água no fundo fluí
rio abaixo e sobe à superfície, onde uma parte da água continua a fluir rio
abaixo e a outra parte entra num movimento reverso em direção à base do
desnível. Esta corrente reversa tende a ser perigosa, porque poderá fazer
com que um objeto fique preso, recirculando no hidráulico. (SEGERSTROM
et al., 2002, p. 57).
Normalmente os refluxos se caracterizam por duas linhas de bolas, uma
imediatamente após o obstáculo por onde a água desce com força e outra onde
essa água volta a superfície e ocasiona a corrente reversa. Facilmente, objetos são
retidos nos refluxos, no entanto, um refluxo que se forme em uma forte correnteza é
capaz de impedir que um homem consiga nadar na direção rio abaixo, fazendo com
que ele retorne rio acima e não consiga sair do refluxo.
FIGURA 04 - DESENHO ESQUEMÁTICO DO REFLUXO
FONTE: PAVÃO (2006, P. 12)
A prática e o constante treinamento em ambientes como esse são
fundamentais para que o resgatista se mantenha calmo e execute a técnica correta
para se desvencilhar de um refluxo.
Segundo Souza (2014, p. 288) “Muitas vezes, o único escape de um refluxo
é submergir, agarrar-se ao fundo, impulsionando-se assim rio abaixo na tentativa de
cruzar a linha de bolhas, que repara a zona de refluxo da correnteza.”
33
2.6.3 Transposição do curso d’água
Muitas vezes, algumas das técnicas vão exigir que o resgatista transponha o
curso d’água levando consigo algum material ou até mesmo transpor para chegar
até a vítima. Essa transposição não deve ocorrer de qualquer maneira, deve-se levar
em consideração a força da correnteza da água, uma vez que essa transposição
jamais ocorrerá em linha reta.
A fim de usar a correnteza a seu favor, segundo EaD do CBPMPR, a direção
de saída (início do deslocamento) deverá ser em um ângulo de 45º, a partir da
margem, rio acima, conforme ilustra a Figura 05. E segundo Manual de Salvamento
em Enxurradas do CBESP, Pavão, et al., (2006, p.19) “Conforme a força da
correnteza vai aumentando, o ângulo de travessia vai diminuindo, sendo que
obrigatoriamente, não pode chegar a 0º, pois a embarcação ou o bombeiro pararia
no meio da correnteza.”
FIGURA 05 - ÂNGULO DE TRAVESSIA
FONTE: PAVÃO (2006, P.19)
2.7 SALVAMENTOS COM EMBARCAÇÃO
Os salvamentos com embarcação devem ser realizados sempre que a
equipe de resgate possuir os equipamentos necessários para tal, mas não antes de
tentar alcançar um objeto ou arremessar o saco de arremesso para vítima. Somente
em não sendo possível alcançar ou arremessar (que são técnicas de menor
34
complexidade) é que a equipe lançará mão desta técnica, antes ainda de colocar um
resgatista dentro da água.
A utilização de embarcação para o salvamento garante bastante segurança
aos resgatistas, desde que possuam experiência para remar ou destreza para
montar uma tirolesa para a embarcação, além de garantir ainda que o resgatista não
entre em contato direto com a água da enxurrada, uma vez que no CBPMPR, não
existe a chamada “roupa seca”, que impermeabiliza o operador de modo que este
não se contamine com águas insalubres.
Mas a fim de que essa segurança seja garantida, os equipamentos que
devem ser utilizados, a começar pela embarcação, devem ser apropriados para o
ambiente de águas rápidas.
O tipo de embarcação mais recomendável para o tipo de salvamento que
estamos abordando é o bote inflável com fundo flexível, que além de não afundar
quando virado para baixo, permite que a água que entrar possa escorrer para fora
do bote. Permite também que se torne uma grande boia, quando este estiver
emborcado5. (SOUZA, 2014, p. 305).
O bote inflável com fundo flexível é o que menos danos sofre em uma
enxurrada com correnteza muito forte, pois seu material de que é construído resiste
satisfatoriamente a diversos impactos e abrasões.
Segundo Souza (2014, p. 305) “Ainda, é possível utilizar-se de uma
embarcação inflável com fundo rígido, contudo para está técnica é importante que a
embarcação esteja sem o motor acoplado.”
A embarcação inflável com fundo rígido, não é tão recomendada quanto à de
fundo flexível, por que justamente o seu casco pode sofrer facilmente avarias, devido
os inúmeros obstáculos existentes em corredeiras e enxurradas. Assim como não é
possível à utilização de motores em corredeiras devido os mesmos obstáculos.
É importante ressaltar que embarcações de alumínio, não devem ser
utilizadas em salvamentos em águas rápidas, pois não oferecem segurança
suficiente para a equipe de resgate por serem muito instáveis, quando emborcadas
não garantem flutuabilidade, possuem uma capacidade reduzida de carga (apenas 4
operadores), exige um alto grau de especialização do condutor e pouco espaço para
5
EMBORCADO: Virado de boca para baixo.
35
conduzir uma vítima politraumatizada. Suas vantagens se resumem ao pouco peso,
ao menor preço e a facilidade de transporte. (Pavão, et al., 2006, p.27).
Após escolhida a embarcação correta para a utilização em ambiente de
águas rápidas, para se transpor um curso d’água, acessar uma ou mais vítimas os
resgatistas devem dominar com segurança a técnica escolhida, seja ela a utilização
de remos (estilo rafting) ou a utilização de tirolesa com embarcação. A técnica de
remar até a vítima, muitas vezes é a mais rápida e segura, no entanto exige
experiência dos bombeiros. Entretanto, a critério do comandante da operação de
resgate, em não sendo possível remar, adota-se a técnica da tirolesa com
embarcação.
2.7.1 Remar até a vítima
Para que se possa optar pela técnica de remar até a outra margem ou
diretamente até a vítima, o responsável pela ocorrência deve fazer uma correta
avaliação da cena do incidente, verificando se apenas com a força dos remos é
possível ter controle da embarcação mesmo sob forte ação da correnteza. Caso
contrário, se durante a avaliação for verificado que a correnteza é tão forte que não
será possível os resgatistas terem controle da embarcação, deve-se partir para a
utilização da tirolesa com embarcação.
Se a equipe de resgate for pequena ou reduzida, é importante ter em mente
que não se deve colocar a equipe completa na embarcação para tentar chegar até a
vítima. É necessário que uma parte da equipe permaneça fora da embarcação em
local seguro, para que se algum imprevisto acontecer com a embarcação, estes
possam garantir a segurança da equipe de resgate e se necessário realizar o
salvamento dos resgatistas que estavam na embarcação.
Para que está técnica seja empregada é necessário também que a equipe
saiba remar de forma ordenada, caso contrário a técnica não será efetiva. Para isto,
o resgatista com mais experiência deverá estar posicionado na popa do bote e
atuará como um guia. Ele utilizará do seu remo, como se fosse um leme, para
direcionar o bote na direção desejada e comandará também as remadas específicas
para colocar o bote na posição correta. (SEGERSTROM et al., 2002, p. 103).
36
FIGURA 06 - TÉCNICA DE SALVAMENTO COM EMBARCAÇÃO – REMAR ATÉ A VÍTIMA
FONTE: CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ
2.7.2 Tirolesas com embarcação
A técnica da tirolesa com embarcação garante a equipe de resgate uma boa
segurança, uma vez que não terão contato com a água da enxurrada – exceto o
resgatista responsável por atravessar o curso d’água levando consigo a corda para a
montagem da tirolesa. Essa técnica permite também que a equipe tenha um controle
sobre a embarcação muito maior do que se a equipe tivesse optado por remar até a
vítima.
Ao ser realizada a avaliação da cena do incidente, é importante que seja
avaliado qual o tempo que se tem para resgatar aquela vítima. Segundo Segerstrom
et al (2002, p. 132) “Se tempo e pessoas suficientes estão disponíveis, esta
plataforma pode ser usada para diminuir o risco para ambos, o resgatista e a vítima.”
A técnica da tirolesa pode ser usada para diversas operações, tais como a)
Manusear o bote para uma posição desejada; b) Colocar o bote rio abaixo, quando
as paredes nos dois lados forem verticais; c) Puxar o bote rio acima na direção de
um refluxo ou uma barragem. (SEGERSTROM et al., 2002, p. 133).
Não há segredo para a montagem da tirolesa propriamente dita, é
igualmente como já se conhece a tirolesa do resgate vertical. A grande diferença
está no sistema de controle da embarcação, que será realizado pela equipe que se
encontra em local seguro, fora da embarcação. Os resgatistas que estiverem no
interior da embarcação, durante o salvamento, devem permanecer na popa da
embarcação (rio abaixo), a fim de evitar que a água da enxurrada adentre a
37
embarcação
ocasionando
uma
maior
carga
para
o
sistema
de
tirolesa.
(SEGERSTROM et al., 2002, p. 134).
A embarcação irá presa à tirolesa por meio de uma roldana e uma placa de
ancoragem. Uma corda presa à placa de ancoragem e com dois chicotes, um para
cada lado, servirá para realizar o controle da embarcação para os lados. Outra corda
presa à placa de ancoragem por uma roldana servirá para controlar a embarcação
rio abaixo ou rio acima, conforme ilustrado na figura 07.
FIGURA 07 - TIROLESA AQUÁTICA
FONTE: CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ
Caso a equipe de bombeiros seja reduzida, pode-se optar por deixar o
controle “rio abaixo x rio acima” por conta do resgatista que se encontra no interior
da embarcação, sendo necessário apenas um bombeiros de cada lado da
correnteza para realizar o controle para os lados “direito x esquerdo”, conforme
ilustrado na figura a seguir:
FIGURA 08 - TIROLESA AQUÁTICA
FONTE: CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ
38
A pesar do controle da embarcação estar sendo realizado por uma equipe
que se encontra fora da embarcação, os comandos para que lado, rio abaixo ou rio
acima, serão dados pelo bombeiros embarcado. Este utilizará sinais e gestos
convencionados para dar os comandos, apontado com o braço a direção de
deslocamento e para parar o movimento o resgatista deve cruzar os dois braços
acima de sua cabeça.
2.8 SALVAMENTO SEM EMBARCAÇÃO
2.8.1 Arremessar
A técnica de arremesso consiste em o operador arremessar um saco de
arremesso para que a vítima – descendo a correnteza ou até mesmo ilhada – se
agarre, permaneça flutuando e seja levada com a ajuda da correnteza até a margem
ou local seguro onde se encontra o resgatista.
Segundo Segerstrom et al (2002, p.86), “Se há um objeto do equipamento o
qual o resgatista deveria ter, acima de tudo, é o cabo de resgate. Barata e disponível
prontamente para ser usada, o cabo de resgate é tão simples como é o seu
propósito.” Ainda segundo o mesmo autor, “[...] a corda é um elemento
imprescindível como um instrumento de dianteira do resgate em água.
A operação deverá acontecer sempre com um operador principal e um
operador reserva, devido à grande possibilidade de erro de alvo.
O arremesso poderá ser realizado por sobre a cabeça do Operador – “por
cima” – ou pela lateral do corpo – “por baixo” – conforme adaptação e
conveniência. (SOUZA, p. 294, 2014).
Segundo Manual Técnico de Salvamento Aquático do Corpo de Bombeiros
da Polícia Militar do Paraná, o operador deve apenas segurar a ponta da corda do
saco de arremesso sem amarrá-la ao punho, para que se vier a acontecer algum
imprevisto, o operador não seja puxado para dentro da água, soltando dessa
maneira a corda, deixando para que o segundo operador, posicionado mais abaixo
do rio, arremesse o segundo cabo.
39
FIGURA 09 - LANÇAMENTO DO SACO DE ARREMESSO POR CIMA
FONTE: PAVÃO (2006, P. 24)
FIGURA 10 - LANÇAMENTO DO SACO DE ARREMESSO POR BAIXO
FONTE: PAVÃO (2006, P. 25), organizado pelo autor (2015)
Após a vítima ter agarrado o saco de arremesso, é essencial que o
resgatista a oriente para que segure o saco em frente ao tórax e se coloque com as
costas voltadas para a correnteza e o seu rosto direção rio abaixo. Ao contrário do
que parece essa técnica, a orientação do Manual de Salvamento Aquático diz que
não se faz necessário puxar a corda do saco de arremesso, basta apenas trava-la
para que a própria força da correnteza pendule a vítima para a mesma margem que
se encontra o resgatista e seja então retirada da água pelos outros membros da
equipe.
40
2.8.2 Travessia de resgate
É uma técnica fácil de ser empregada, porém oferece grandes riscos uma
vez que o resgatista entrará na água. Ela consiste em 1 (um) ou mais resgatista
entrarem na enxurrada e atravessarem a correnteza andando, podendo utilizar de
uma estaca ou um remo para ajudar na estabilização, conforme Segerstrom et al.
(2002, p. 90) “Quem atravessa encosta-se com o pau na corrente rio acima e, assim,
tem três pontos de apoio, o pedaço de pau e os dois pés. Então, o atravessador
move um ponto de cada vez [...] Posiciona-se rio acima e não virar-se de lado para a
corrente.”
O mesmo autor alerta ainda, para que todos os pontos de apoio
permaneçam sempre em contato com o fundo do rio ou da enxurrada e que o
resgatista mova-se ponto a ponto, um de cada vez, a fim de garantir uma maior
estabilidade durante a travessia. E em caso de uma possível queda, por conta da
força da correnteza, o resgatista não deve tentar colocar seus pés no chão
novamente, até que esteja em uma área em que a correnteza não esteja mais tão
forte e ele se encontre em segurança.
FIGURA 11 - TRAVESSIA DE RESGATE FEITA POR UM RESGATISTA
FONTE: OHIOPYLE TRADING POST AND RIVER TOURS
Por uma questão de segurança, é recomendável que esta técnica seja aplica
em enxurradas que não possuam uma força de enxurrada elevada e que a
profundidade não ultrapasse a linha da cintura dos resgatista, pois uma vez usando
o colete flutuador, a água acima da linha cintura faria com que o resgatista perdesse
41
o contato dos pés com o leito do rio ou enxurrada, inutilizando dessa maneira a
execução desta técnica.
Em se possuindo um grande efetivo para o resgate, essa técnica pode evolui
para vários resgatista realizando a travessia de resgate juntos, fazendo com que
aumente significativamente os pontos de apoio, podendo então adentrar, dessa
maneira, em correntezas mais fortes.
Três ou mais pessoas posicionam-se uma atrás da outra em direção contra
a corrente, dando-se apoio e segurando-se no cinto da pessoa da frente. A
pessoa na frente (que tem o pau) se move em primeiro lugar, depois o
segundo, que deveria ser o mais pesado e finalmente o terceiro, até o grupo
ficar alinhado de novo. (SEGERSTROM et al., 2002, p. 90).
FIGURA 12 - TRAVESSIA DE RESGATE POR MAIS DE UM RESGATISTA
FONTE: OHIOPYLE TRADING POST AND RIVER TOURS
2.8.3 Isca-Viva
Essa técnica exige do resgatista um enorme preparo, tanto técnico como
físico. É de fundamental importância que o resgatista e a equipe tenham
conhecimento dos riscos que estão enfrentando em se colocar um bombeiro na
água. É por expor o bombeiro à um risco grande que esta técnica é a quarta opção a
ser usada pela equipe.
Uma outra forma de resgate de nadador forte é o nado de resgate na corda,
ou também conhecido como “Resgate de Isca Viva” [...] neste caso, a corda
é atada de uma maneira que ele possa ser solto pelo nadador num eventual
problema. O resgatista é atado à corda por um salva-vidas de nova geração
42
com um sistema de soltura rápida de resgate [...] (SEGERSTROM et al.,
2002, p. 111).
É uma técnica que rapidamente pode ser executada, pois exigem poucos
materiais, basta o resgatista estar utilizando além de roupa adequada, o colete
flutuador, onde vai preso na alça de soltura rápida um cabo flutuante, que o deixa
atrelado à margem. A partir da natação ofensiva6 o resgatista nada até a vítima (sem
esquecer-se do ângulo de saída para a travessia do curso d’água). Simultaneamente
o restante da equipe permanece na margem, ou em outro local seguro no caso de
enxurrada, e solta de maneira controlada o cabo flutuante – sem deixá-lo retesado7 até que o resgatista chegue à vítima.
FIGURA 13 - TÉCNICA DO ISCA-VIVA
FONTE: OHIOPYLE TRADING POST AND RIVER TOURS, organizado pelo autor (2015)
A técnica pela qual o resgatista segurará a vítima até que cheguem à
margem é técnica over arm8 com os dois braços, uma vez que não é preciso nadar,
pois basta que a equipe que está na margem retese o cabo e deixe com que o
resgatista e a vítima sejam pendulados pela força da água até a margem ou outro
local seguro.
6
NATAÇÃO OFENSIVA: Natação tipo crawl, na qual durante o SARp o resgatista nada na direção da
vítima ou de outro objetivo desejado, tentando sofrer menos influência da correnteza possível.
7
RETESADO: Esticado. A corda encontra-se esticada.
8
OVER ARM: Técnica utilizada no Salvamento Aquático para a retirada de uma vítima afogada do
mar. O resgatista passa um dos seus braços por baixo da axila da vítima e a segura pelo mento,
mantendo-o elevado.
43
A técnica do Isca-Viva exige que seja feita impreterivelmente com o colete
flutuador adequado para o ambiente de água rápidas, segundo Souza (2014, p.291)
“A principal característica deste colete é a fivela para soltura rápida (“ejeção”),
essencial para a correta execução da técnica de “isca viva” [...]”.
Essa ejeção, num primeiro momento estranha, é essencial em uma
corredeira, pois no momento em que a corda, mesmo que flutuante, que esta
atrelada ao resgatista retesar na direção da correnteza, será praticamente
impossível o resgatista permanecer na superfície, uma vez que a força da água faz
com que qualquer pessoa atrelada à ponta da corda afunde. A única solução numa
submersão inesperada como esta é o resgatista se desvencilhar da corda, para que
ele somente ou junto com vítima retorne à superfície e desçam rio abaixo na posição
da natação defensiva.
2.8.4 Tirolesa aquática
A tirolesa aquática, ou corda esticada na diagonal como também pode ser
chamada, é uma técnica que pode ser empregada quando se necessita atravessar
diversas vezes a correnteza da enxurrada ou então transpor algum tipo de material,
pois mesmo fazendo com que o resgatista adentre a água, essa técnica proporciona
uma maior segurança, uma vez que ele se encontra ancorado na corda da tirolesa,
por uma roldana.
Em água profunda demais para atravessar caminhando, assim como com
os atravessadores nadando, a técnica preferida será usar um mosquetão
com uma alça de fita tubular colocada na corda. O resgatista simplesmente
segura-se com a mão oposta à direção qual irá se mexer, vira-se de costas
(de barriga pra cima) e aponta seus pés rioabaixo.
Quando levar uma vítima, o método ideal será colocar o mosquetão “rabode-vaca” (“cow-tail”) do salva-vidas de resgate na corda. Assim, o resgatista
poderá segurar a vítima com as duas mãos e deixar que a corrente os leve
ao outro lado.
Além disso, botes e pranchas de resgate podem ser atravessados pela
corda esticada em diagonal. Depois, mudando o ângulo da corda, podem
ser mandados de volta. Esta técnica é particularmente valiosa em
corrente extremamente rápida e em canais de enxurrada.
(SEGERSTROM et al., 2002, p. 95, grifo nosso).
A maneira correta de se armar uma tirolesa para efetuar um resgate em uma
enxurrada, leva em consideração o mesmo princípio da técnica do isca-viva – onde o
44
resgatista deve nadar na direção de 45º da correnteza rio acima – entretanto, a
tirolesa aquática, deve ser armada à 45º da direção da correnteza rio abaixo. Essa
angulação de no mínimo 45º, faz com que o resgatista poupe esforços para
atravessar uma enxurrada, uma vez que preso à tirolesa a força da água o levará
para o local desejado.
A angulação da tirolesa deve ser sempre respeitada, para que o resgatista
não corra o risco de, ao chegar ao centro da correnteza, a corda da tirolesa faça um
seio, impossibilitando-o de chegar até o outro lado, conforme a Figura 14 que ilustra
a maneira correta acima e logo abaixo a maneira incorreta.
FIGURA 14 - TIROLESA AQUÁTICA CORRETA X ERRADA
FONTE: CORPO NAZIONALE VIGILI DEL FUOCO (2006)
Ainda que essa técnica proporcione uma segurança maior ao resgatista que
está ancorado na tirolesa, ela exige que um primeiro bombeiro adentre a enxurrada,
atravessando a correnteza, utilizando-se da técnica do isca-viva, para que ao chegar
ao outro lado, esse ancore a corda da tirolesa para que ela possa ser retesada. É
importante que seja clipada na roldana do resgatista uma segunda corda, para fazer
a recuperação da polia, isso permite que várias pessoas possam ser evacuadas
sequencialmente de uma área de risco.
45
2.8.5 Mangueira de combate a incêndio inflada
Uma forma de se resgatar uma ou mais vítimas de uma enxurrada, sem
utilizar uma embarcação e deixando a equipe de resgate em segurança fora da
água, é utilizando uma mangueira de combate a incêndio inflada. O empecilho maior
desta técnica é o próprio material, que necessita ser adaptado anteriormente a
ocorrência.
Essa técnica consiste em adaptar um tampão da mangueira de 63mm,
colocando neste, um engate rápido para a mangueira do EPR (Equipamento de
Proteção Respiratória) e na outra extremidade da mangueira somente um tampão
comum. Utilizando então o EPR infla-se a mangueira, o que garante que ela flutue
na água e ofereça uma grande flutuabilidade à vítima. A partir de testes realizados
em piscinas, uma mangueira de 25mm de diâmetro, inflada, oferece flutuabilidade de
10 à 12 pessoas (SEGERSTROM et al., 2002, p. 97).
O ideal é utilizar-se dessa técnica, da mangueira inflada, em locais como
uma ponte ou um viaduto. Desta forma, segundo Souza (2014), amarra-se 3 (três)
ou 4 (quatro) cabos solteiros na mangueira – amarrando-se apenas um da
extremidade e os outros três apenas passando pela mangueira, para que estes
possam ser recuperados pelos operadores que se encontram em cima da ponte - de
modo que a magueira seja içada (perpendicular à correnteza) da ponte até a água,
então, ancora-se os cabos na própria ponte. Dessa forma a vítima que estiver sendo
carregada pela correnteza, ao se aproximar da mangueira, será orientada a agarrarse nela, para que então, solte-se três dos quatro cabos que sustentam a mangueira,
de modo que ela permaneça ancorada apenas por uma das extremidades. Isto feito,
a mangueira inflada se comportará semelhante à técnica Isca-Viva, a própria força
da água fará a mangueira pendular para a margem que se encontra ancorada,
podendo a equipe de resgate salvar a vítima sem ao menos entrar na água.
O uso da mangueira como artefato adicional de resgate não é uma idéia
nova. Existem documentos sobre resgates em gelo com mangueiras
infladas com mais de trinta anos atrás e tem outros exemplos do uso da
mangueira em vez de cordas no resgate técnico. Mesmo com a publicidade
acompanhando esses resgates a aplicação da mangueira inflada demorou a
ser aceita. Muitos estudantes que participam pela primeira vez num
treinamento de resgate aquático ainda acreditam na mangueira inflável
como inovação recente. (SEGERSTROM et al., 2002, p.96).
46
A técnica pode ser usada como uma técnica de resgate propriamente dita,
ou até mesmo como uma barreira, em uma posição rio abaixo de outra técnica que
está sendo executada – como por exemplo a do Isca-Viva - para garantir a
segurança do resgatista e da vítima que, por algum imprevisto possam lançar mão
da corda que os ancora, descendo rio abaixo, ou até mesmo, como um obstáculo
próximo à uma cachoeira ou outro local que ofereça grande risco aos resgatista e à
vítima.
FIGURA 15 - MANGUEIRA DE COMBATE A INCÊNDIO INFLADA
FONTE: CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ
Outra maneira de se utilizar a mangueira inflada é alcançando-a para uma
vítima que esteja presa em um refluxo, a fim de oferecer flutuabilidade à ela e de
modo que ela possa ser puxada pela própria mangueira até um local seguro,
conforme ilustração abaixo.
FIGURA 16 - ALCANÇAR MANGUEIRA INFLÁVEL PARA A VÍTIMA
FONTE: SEGERSTROM ET AL. (2002, P. 97)
47
2.9 AS ENXURRADAS NO PARANÁ
No Brasil como um todo, as enxurradas são muito numerosas, estando em
segundo lugar no ranking dos Desastres naturais mais recorrentes no Brasil,
totalizando um percentual de 33% de todos os desastres naturais possíveis –
somando-se as inundações bruscas com as inundações graduais. (ATLAS
BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, CEPED UFSC, 2012).
Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais “Enquanto desastre
natural, as inundações bruscas foram responsáveis, de 1991 a 2010, por 338
registros oficiais no Estado do Paraná”, além dos 138 registros de inundações
graduais no mesmo período.
Pode-se verificar no mapa a seguir, que mais de 50% do Estado foi atingido
por inundações bruscas, no período compreendido entre 1991 a 2010, e que os
locais mais afetados foram Curitiba, Araucária e Colombo, todos pertencentes a
região metropolitana de Curitiba. Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais
Esta foi a região mais afetada do Paraná, devido a sua localização mais próxima ao
litoral, local este com altos índices de precipitação e por conter a maior concentração
populacional do Estado.
FIGURA 17 - INUNDAÇÕES BRUSCAS NO PARANÁ – 1991 A 2010
FONTE: ATLAS BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS
48
Os dados acima mostrados, retirados do Atlas Brasileiro de Desastres
Naturais, são apenas para mostrar como o número de enxurradas é alto em todo
estado e também em todo território nacional. Para efeito desta pesquisa, os dados
extraídos do SYSBM são dos últimos 10 (dez) anos, de 2005 a 2014, conforme
figura 18.
TABELA 02 – OCORRÊNCIAS, VÍTIMAS E ÓBITOS POR OBM
OBM
5º GB
2º GB
3º GB
7º GB
3º SGBI
1º GB
4º GB
5º SGBI
6º GB
4º SGBI
2º SGBI
8º GB
6º SGBI
9º GB
1º SGBI
GOST
Número de
ocorrências
923
735
712
555
356
270
253
239
235
211
189
188
141
125
117
6
Número de vítimas
Número de óbitos
28
19
29
27
11
16
09
27
18
01
00
44
01
14
13
**
00
06
00
02
01
02
00
02
01
00
00
04
00
00
00
**
** COMPUTADO JUNTAMENTE COM 1º GB.
FONTE: SYSBM CBPMPR, organizado pelo autor (2015)
Acima está mostrado o número de ocorrências de enxurradas, o número de
vítimas e de óbitos por OBM (Organização Bombeiro Militar). O 5º GB em Maringá
lidera o ranking com 923 enxurradas, entretanto a localidade com o maior número de
vítimas é Londrina (3º SGBI), com 29 (vinte e nove) vítimas e o maior número de
óbitos encontra-se no 2º GB (Ponta Grossa), com 06 óbitos.
A partir de todos os dados retirados do SYSBM, pode-se verificar que o
número de ocorrências de enxurradas é significativo, entretanto, o sistema não
permite distinguir especificamente o quantitativo de enxurradas onde foram
realizados salvamentos em águas rápidas, visto que é uma atividade extremamente
recente no cenário nacional e esta se encontra camuflada dentro dos demais
salvamentos aquáticos.
49
3 METODOLOGIA
A partir dos estudos realizados durante o Curso de Formação de Oficial
Bombeiro Militar, pode-se observar que a atividade Bombeiro Militar, desde sua
criação em 1912, está em crescente expansão. O aumento populacional, a
diversidade industrial e o surgimento de novas tecnologias faz com que a cada
momento surjam diferentes atividades em que o bombeiro será acionado e terá que
prover uma resposta satisfatória, com vistas sempre ao seu lema: “Vidas alheias e
riquezas a salvar”.
Ademais, em razão do surgimento de novas atividades é que a corporação
como um todo precisa antever-se aos problemas e, para isso, é necessário que
esteja em constante atualização. Sendo assim, é com vistas nesta atualização que a
presente pesquisa visa disseminar conhecimentos de um assunto ainda recente no
cenário nacional, isto é, a atividade de Salvamento em Águas Rápidas, visando a
aplicação de suas técnicas em enxurradas.
Considerando as características deste assunto, percebe-se uma carência do
referido conhecimento em nossas atividades, portanto, quanto à natureza desta
pesquisa, entende-se que esta é classificada como aplicada, pois visa gerar alguns
conhecimentos a serem colocados em prática. De acordo com Barros e Lehfeld
(2000, p.78) apud Vilaça (2010, p. 64), a pesquisa aplicada tem como motivação a
necessidade de produzir conhecimento para aplicação de seus resultados, com o
objetivo de “contribuir para fins práticos, visando a solução mais ou menos imediata
do problema encontrado na realidade.”
3.1 TIPO DE ESTUDO
Com a utilização da pesquisa aplicada e com o intuito de disseminar o
conhecimento das técnicas de Salvamento em Águas Rápidas a serem utilizadas
nas enxurradas define-se o tipo de estudo desta pesquisa como sendo descritivo.
O estudo descritivo, nas palavras de Danhke (1989) apud Perovano (2014,
p. 76), “busca ainda especificar as propriedades importantes de pessoas, contextos,
50
processos e tempo [...] e medem de maneira independente os conceitos ou variáveis
aos quais se referem.”.
Nesta pesquisa serão descritas as técnicas de SARp, bem como será
realizado um levantamento das áreas de risco de enxurradas no estado do Paraná.
Entretanto, como característica deste tipo de estudo, as variáveis - técnicas e
enxurradas - não terão os seus dados cruzados a fim de verificar como se
relacionam, sendo analisadas de forma individual. (PEROVANO, 2014).
3.2 ENFOQUE DE PESQUISA
Observadas as variáveis da pesquisa, técnicas de SARp e enxurradas,
adota-se como método de pesquisa o enfoque misto ou comumente chamado de
multimodal.
Esse método consiste em convergir os dois métodos de pesquisa existentes,
o quantitativo e o qualitativo. De acordo com Perovano (2014, p. 67), o método
quantitativo “realiza a coleta de dados para testar hipóteses com base na medição
numérica e na análise estatística para estabelecer padrões de comportamento [...]”,
enquanto o método qualitativo “não se preocupa com o uso de quantificações
numéricas, mas sim, o aprofundamento da compreensão de seu objeto” com ênfase
em entender as variáveis ao invés quantificá-las. (PEROVANO, 2014).
No entanto, considerando o tipo de estudo descritivo – sem cruzamento das
variáveis – o enfoque misto desta pesquisa, da mesma forma, não será simultâneo
para ambas as variáveis, ou seja, a pesquisa terá um enfoque quantitativo em
relação a ocorrência de enxurradas e, por consequência, a determinação de áreas
de risco no estado do Paraná e, paralelamente, terá um enfoque qualitativo com
vistas as técnicas de Salvamento em Águas Rápidas a serem utilizadas em
enxurradas.
51
3.3 MÉTODO DE PESQUISA
Da mesma forma que o enfoque de pesquisa, os métodos serão distintos
para cada variável. A pesquisa se desenvolverá a partir de um método dedutivo para
o enfoque de pesquisa quantitativo (a incidência de enxurradas).
O método dedutivo servirá nesta pesquisa, para que, a partir dos dados
numéricos apresentados na revisão de literatura, em relação à incidência de
enxurradas no estado do Paraná, se possa perceber que as conclusões se
encontram implícitas nas premissas dos dados, ou seja, obter-se-á um juízo ou um
valor a partir dos dados apresentados. (PEROVANO, 2014).
Em contrapartida, a pesquisa utilizar-se-á do método indutivo, quando
estiver analisando a variável das técnicas propriamente ditas do SARp, ou seja,
pode-se concluir certas leis ou normas a partir dos fatos observados.
3.4 COLETA DE DADOS
Tendo em vista a pesquisa ser descritiva com enfoque multimodal, esta se
desenvolveu basicamente a partir de bibliografias e de análise documental, sendo
que, optou-se pela entrevista como instrumento de coleta de dados, com a utilização
de perguntas abertas e pelo questionário formulado substancialmente por questões
objetivas.
Perguntas abertas ou também chamadas de livres são as que possibilitam o
entrevistado responder de forma livre, demonstrando sua opinião e linguagem
própria. As perguntas abertas permitem uma discussão mais precisa e aprofundada.
(RAMPAZZO, 2002).
Importante ressaltar que a entrevista não constituirá os dados principais que
serão analisados no capítulo 4 (quatro), mas servirá para concretizar todas as
análises feitas a partir da descrição das técnicas de SARp e exemplificar a
importância da necessidade do conhecimento e da utilização de tais técnicas a fim
de alcançar o objetivo desejado, bem como de disseminar o conhecimento que,
52
visualizado a partir da problematização, é uma carência da atividade Bombeiro
Militar.
A entrevista, portanto, será realizada com um bombeiro militar, que na época
era Cabo do Corpo de Bombeiros do Paraná, e, atualmente, promovido à graduação
de Sargento por ato de bravura, que durante o atendimento de uma vítima que se
encontrava agarrado a uma pedra no meio de uma corredeira, por desconhecimento
de técnicas corretas e por falta de equipamentos adequados, não obteve sucesso no
salvamento e quase teve sua vida ceifada, sendo retirado da água sem sinais vitais.
Igualmente, serão coletados dados a partir de questionário aplicados às
unidades operacionais do CBPMPR, formulado basicamente por questões objetivas,
as quais não permitem uma discussão aprofundada do contexto e nem mesmo
admite opinião e linguagem própria do entrevistado.
53
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS
Existem no Corpo de Bombeiros do Paraná, duas formas de ingresso nas
fileiras da corporação, uma pelo CFSd (Curso de Formação de Soldado) e a outra
pelo CFO (Curso de Formação de Oficiais). Ambos os cursos possuem uma grade
curricular bastante abrangente no que diz respeito às disciplinas operacionais, isso
garante ao bombeiro formado uma grande noção da diversidade de ocorrências que
enfrentará em sua carreira.
No entanto, observa-se, a partir das grades curriculares desses cursos, uma
deficiência na área de Salvamento em Águas Rápidas. Disciplina esta que não se
encontra incutida sequer dentro do Salvamento Aquático, o qual está direcionado
somente ao salvamento em águas salgadas.
Entende-se que esta deficiência não é imputável a algum responsável e sim
pelo fato do SARp ser ainda uma novidade no cenário nacional. Durante a pesquisa,
nas poucas bibliografias encontradas, pode-se verificar que apenas o Corpo de
Bombeiros de São Paulo e de Santa Catarina possuem instruções previstas de
SARp para a formação do Bombeiro Militar, assim como manuais técnicos a respeito
do assunto. O CBPMESP (Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São
Paulo) foram os precursores no SARp, tendo em vista que foram os primeiros a
introduzirem as técnicas, criadas nos esportes de rafting e canoagem, na atividade
Bombeiros Militar, mais precisamente, direcionadas para o uso em enchentes, como
por exemplo o Manual Técnico de São Paulo: MTB 10 – Salvamento em Enchentes,
que utiliza diversas das técnicas e dos equipamentos se Salvamento em Águas
Rápidas para a aplicação direta nas enxurradas.
Assim, em razão do SARp ser uma atividade tão recente no cenário
nacional, foram encontradas algumas dificuldades durante a elaboração desta
pesquisa, principalmente em relação a quantidade de fontes para consultas. Como
citado no capítulo II, o Salvamento em Águas Rápidas é uma área que necessita de
muito estudo e exploração. (SEGERSTROM et al., 2015).
Essa possível deficiência operacional em nosso Corpo de Bombeiros faz
com que os militares ao atenderem ocorrências em enxurradas tenham que
improvisar métodos e utilizar-se do empirismo para realizar os salvamentos,
expondo suas equipes a grandes riscos, uma vez que os resgatistas não conhecem
54
os perigos das correntezas e muitas vezes não possuem os equipamentos
adequados.
Recentemente foi criado no Corpo de Bombeiros do Paraná o EaDBombeiros (Ensino à distância do Corpo de Bombeiros do Paraná), com cursos com
duração de apenas algumas semanas. Especialmente neste ano de 2015 e pela
primeira vez, foi ofertado o Curso de Resgate em Águas Rápidas. Isso demonstra
que, aos poucos, os conhecimentos desta nova atividade estão sendo disseminados
por todo o estado. Além deste curso de Resgate em Águas Rápidas à distância, não
possui na corporação, ainda, efetivamente um curso de SARp presencial que torne o
bombeiro especialista no assunto. Entretanto, já existe a autorização do
Comandante Geral, publicada no Boletim do Comando Geral nº 150, de 13 de
agosto de 2014, para a realização de diversos cursos na PMPR, entre eles o de
Salvamento em Águas Correntes.
Com o intuito de demonstrar a importância do conhecimento e da utilização
das técnicas de Salvamento em Águas Rápidas em enxurradas, serão analisadas as
áreas de riscos de enxurradas do estado a partir dos dados retirados do SYSBM,
bem como se verificará se as unidades operacionais do CBPMPR possuem
equipamentos e estão em condições de realizarem salvamentos em enxurradas, a
partir do questionário aplicado em 16 unidades operacionais, sendo 9 GB’s, 6
SGBI’s e mais o GOST. Por fim, para materializar esta importância, serão discutidas
as técnicas de SARp em relação à entrevista realizada com o 3º Sgt. QPM 2-0
Meira, o qual sofreu em 2012, na cidade Guarapuava, um acidente durante um
salvamento em enxurrada.
4.1 ANÁLISE DAS ÁREAS DE RISCO DE ENXURRADAS NO PARANÁ
Segundo SYSBM9 do Corpo de Bombeiros do Paraná, no período
compreendido entre 2005 a 2014, foram registrados 5.255 alagamentos. Entretanto,
vale ressaltar que o banco de dados do SYSBM não faz diferenciação entre
9
SYSBM: Base de dados atualizada diariamente que coleta, organiza, analisa e monitora as
informações dos registros de ocorrências (RGO), servindo como ferramenta no auxílio da gestão e
tomada de decisões no âmbito do Corpo de Bombeiros do Paraná.
55
alagamento, enxurrada, enxurrada e inundação, portanto, esse número elevado de
alagamentos corresponde a toda e qualquer RGO (Registro de Ocorrência) aberta
em virtude de uma ocorrência de qualquer uma das quatro classificações. Ademais,
pode-se ter, dentro deste número de alagamentos, mais de uma RGO em um
mesmo alagamento, uma vez que o SYSBM soma as ocorrências e não os
desastres.
Apesar do número elevado de ocorrências de alagamento, nesse período de
10 anos, foram registradas ao total 241 vítimas, sendo 16 óbitos. (SYSBM
CBPMPR).
FIGURA 18 - INUNDAÇÕES NO PARANÁ – 2005 A 2014
FONTE: COORDENADORIA ESTADUAL DE DEFESA CIVIL DO PARANÁ (2015)
A partir da Figura 18, coletada no site da Coordenadoria Estadual de
Proteção e Defesa Civil do Paraná, pode-se verificar que as áreas com maior
incidência de alagamento correspondem também a praticamente às mesmas áreas
de incidência de inundações bruscas, conforme Figura 17 (capítulo II), extraída do
Atlas Brasileiro de Desastres Naturais.
Para fins de padronização, neste trabalho adotam-se como áreas de risco
médio e elevado as cidades com mais de 10 alagamentos nos últimos 10 anos, para
que perante uma média a cidade possua pelo menos uma ocorrência desta natureza
por ano.
Portanto, as áreas de risco elevado de enxurradas no Paraná, com mais de
16 alagamentos nos últimos 10 anos, estão localizadas na região metropolitana de
56
Curitiba, inclusive, mais especificamente nas cidades de Araucária e São José dos
Pinhais. Destaca-se também como área de risco a cidade litorânea de Paranaguá,
local onde ocorreram as famosas “Águas de Março” no ano de 2011, com chuvas
muito acima da média esperada para o ano, danificou 6.588 residências, desalojou
8.090 e desabrigou 706 pessoas. (GAZETA DO POVO, 2011).
O fator de maior contribuição para a ocorrência de enxurradas nas cidades
litorâneas e da região metropolitana é o elevado índice de precipitação pluviométrica
em determinadas épocas do ano. (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL,
2015).
Outra cidade com mais de 16 alagamentos nos últimos 10 anos é Querência
do Norte, localizada na região noroeste, que diferente das demais regiões, as
principais causas de alagamentos na cidade deve-se às cheias dos rios que
circundam a cidade.
Com um número menor de enxurradas nos últimos 10 anos, de 11 à 16
alagamentos, mas não o suficiente para que este índice seja ignorado, existem
outras regiões no estado que devem ser classificadas como áreas de risco médio.
Como, por exemplo, a região centro-sul do estado, nas cidades de Guarapuava e
Prudentópolis
Vale ressaltar, ainda, que o acidente com o 3º Sgt. QPM 2-0 Meira ocorreu
na cidade de Guarapuava, onde, após uma grande precipitação pluviométrica, houve
diversos alagamentos na cidade, sendo que o referido Sargento ao atuar em um
salvamento quase teve sua vida ceifada.
Outras cidades que se encaixam como áreas de risco médio, mas que se
encontram dispersas pelo território estadual são: Guaratuba, União da Vitória, Santo
Antônio da Platina, Foz do Iguaçu e Santa Tereza do Oeste.
Visto as cidades classificadas como áreas de risco médio e risco elevado de
enxurradas,
encontram-se
elencados
na
Tabela
03,
os
Grupamentos
e
Subgrupamentos de Bombeiros correspondentes às cidades, bem como o número
de enxurradas ocorridas no período entre 1º de janeiro de 2005 à 31 de dezembro
de 2014.
57
TABELA 03 – ÁREAS DE RISCO DE ENXURRADAS POR UNIDADES OPERACIONAIS
CIDADE
Nº DE ENXURRADAS
UNIDADE CORRESPONDENTE
Curitiba
23
1º GB
Prudentópolis
15
2º GB
União da Vitória
12
2º GB
Santo Antônio da Platina
12
3º GB
Santa Tereza do Oeste
12
4º GB
Querência do Norte
20
5º GB
São José dos Pinhais
17
6º GB
Araucária
19
6º GB
Paranaguá
19
8º GB
Guaratuba
13
8º GB
Foz do Iguaçu
16
9º GB
Guarapuava
13
5º SGBI
FONTE: O autor (2015)
Para melhor visualização dos dados expostos na tabela 03, pode-se
observar, através do mapa temático, exatamente onde cada área de risco médio e
elevado encontra-se localizada dentro das áreas de atuação dos Grupamentos e
Subgrupamentos de Bombeiros.
FIGURA 19 – MAPA TEMÁTICO: ÁREAS DE RISCO DE ENXURRADAS POR UNIDADE
OPERACIONAL
FONTE: SYSBM CBPMPR, organizado pelo autor (2015)
58
Afere-se, a partir da figura 20 comparada à tabela 03, que a cidade de
Curitiba e sua região metropolitana, apesar de não aparentarem em um primeiro
momento, constituem-se como a região com o maior potencial de ocorrências de
alagamento do estado do Paraná, somando-se 59 alagamentos nos últimos 10 anos,
o que representa aproximadamente uma média de mais de 5 alagamentos por ano.
Curitiba ainda desponta no número de vítimas, totalizando 43, sendo 04 óbitos,
conforme tabela 02.
Isto só ressalta a importância de se ter especialização e
aquisição de materiais de SARp na capital e região metropolitana.
Observa-se que áreas como 1º, 2º, 3º e 6º SGBI, não possuem quantidades
significantes de ocorrências envolvendo enxurradas, isso se deve a diversos fatores
como, clima, relevo, grande capacidade de fluxo nas calhas dos rios, entre outros.
4.2 ANÁLISE DAS UNIDADES OPERACIONAIS QUANTO A INSTRUÇÃO E
EQUIPAMENTOS DE SARP
Uma vez visto a grande quantidade de alagamentos ocorridos nos últimos
anos em nosso estado e, verificado que bombeiros já sofreram acidentes quando
estavam atuando em salvamentos em meio às enxurradas, constatou-se a
necessidade de se realizar uma pesquisa quantitativa sobre a situação das unidades
operacionais do CBPMPR no que diz respeito às instruções teóricas e práticas e
quanto aos materiais e equipamentos necessários para um resgate em águas
rápidas.
Além disso, sabe-se que a atividade de Salvamento em Águas rápidas é
extremamente nova no cenário nacional e que há muito para explorá-la, portanto
esta é uma oportunidade de se verificar se estamos preparados para atender de
forma satisfatória e segura uma ocorrência em águas correntes.
Este fragmento da pesquisa: o levantamento quantitativo, foi aplicado à
todas as unidades operacionais do CBPMPR, GB’s e SGBI’s, além ainda do GOST
(Grupo de Operações de Socorro Tático), unidade independente que atua em todo o
território estadual. O questionário aplicado para este levantamento foi realizado de
forma bastante elementar, buscando coletar informações a respeito da existência ou
59
não de instruções teóricas e práticas sobre SARp e a respeito dos respectivos
materiais e equipamentos existentes nas unidades. Portanto, o questionário não se
aprofundou em questões técnicas a respeito dos materiais e equipamentos de
proteção individual tais como flutuabilidade, resistência e até mesmo na qualidade
dos materiais existentes.
O objetivo do questionário é, caso haja uma carência nestes materiais,
alertar para a importância da aquisição do mínimo de materiais necessários,
principalmente pelas unidades que se encontram em áreas de risco elevado de
inundação, visando essencialmente à segurança dos bombeiros que por ventura
atuaram em ocorrências de Salvamento em Águas Rápidas e caso haja também
uma carência quanto às instruções, alertar para a importância de especializarmos
nossos bombeiros.
O primeiro questionamento feito às unidades operacionais foi referente à
confecção ou não de instruções teóricas de Salvamento em Águas Rápidas, não
incluindo para efeito desta pesquisa as aulas do EaD, uma vez que as aulas à
distância são obrigatórias na maioria das unidades e consequentemente não
consegue-se aferir com precisão a efetividade de tais aulas, uma vez que nem todos
os participantes do EaD estudam com o mesmo rigor.
O segundo questionamento refere-se á prática da instrução de Salvamento
em Águas Rápidas, ou seja, a execução in loco das principais técnicas do SARp,
assim como o manuseio dos equipamentos específicos da atividade. Vale ressaltar
que somente a instrução teórica não fará com que o bombeiro assimile totalmente as
técnicas, assim como não fará com que o bombeiro observe a real dificuldade de se
atuar em enxurradas. Portanto, a instrução prática é imprescindível para a
capacitação do bombeiro militar como um resgatista em águas correntes. Além
ainda, que a prática fará com que seu julgamento ao avaliar a cena do incidente seja
mais preciso, pois terá mais confiança na execução das técnicas, assim como irá
executa-las em um menor espaço de tempo.
60
TABELA 04 – COMPARAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO COM A EXECUÇÃO DE INSTRUÇÕES DE
SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS
RISCO MÉDIO OU
TEVE INSTRUÇÃO
TEVE INSTRUÇÃO
ELEVADO
TEÓRICA
PRÁTICA
1º GB
SIM
SIM
SIM
2º GB
SIM
SIM
SIM
3º GB
SIM
SIM
NÃO
4º GB
SIM
SIM
SIM
5º GB
SIM
SIM
NÃO
6º GB
SIM
SIM
NÃO
7º GB
SIM
SIM
NÃO
8º GB
SIM
SIM
SIM
9º GB
SIM
NÃO
NÃO
1º SGBI
NÃO
NÃO
NÃO
2º SGBI
NÃO
NÃO
NÃO
3º SGBI
NÃO
NÃO
NÃO
4º SGBI
NÃO
NÃO
NÃO
5º SGBI
SIM
NÃO
NÃO
6º SGBI
NÃO
NÃO
NÃO
UNIDADE
FONTE: O autor (2015)
Observa-se na tabela 04 três distinção de cores. A cor verde mostra que a
unidade está de alguma forma satisfatória em relação a pesquisa realizada, ou por
possuir uma área de risco mínimo, não possuindo um número expressivo de
ocorrências de enxurradas, ou então, por estar realizando instruções teóricas e
práticas, caso possuam áreas de risco significativas.
As linhas de cor amarela significam que a respectiva unidade deve ter um
pouco de atenção em relação às enxurradas, uma vez que possuem áreas de risco
médio em suas áreas de atuação e não foram ministradas instruções, sejam elas
teóricas ou práticas. Lembrando que as instruções práticas são as mais importantes
para a capacitação das guarnições.
As OBM que estiverem na cor vermelha devem, com certeza, estarem
atentas para este tipo de ocorrência, uma vez que possuem áreas de risco elevado
61
incorporadas às respectivas áreas de atuação e não foi ministrada qualquer dos dois
tipos de instrução.
No que tange a situação da OBM’s referente aos materiais de Salvamento
em Águas Rápidas, estas tinham que assinalar no questionário quais dos materiais e
equipamento, relacionados abaixo, possuem a disposição das guarnições de serviço
e posteriormente expor quais dos materiais tem a intenção de adquirir.
- Embarcação de Alumínio
- Embarcação inflável com fundo rígido
- Embarcação inflável com fundo flexível
- Capacete para atividade aquática
- Vestimenta para SARp
- Vestimenta de Neoprene
- Calçado para SARp
- Botas de Neoprene
- Luvas para SARp
- Luvas de Neoprene
- Colete salva-vidas
- Colete Flutuador com fivela de soltura rápida
- Sacola de salvamento (com corda flutuante)
A fim de analisar a situação das unidades operacionais e traçar um
panorama estadual do preparo do CBPMPR no que tange o Salvamento em Águas
Rápidas, considera-se para efeito desta pesquisa o mínimo de materiais
necessários, para atender de forma satisfatória e segura uma ocorrência em águas
correntes, como sendo:
- Capacete para atividade aquática
- Vestimenta de Neoprene
- Colete flutuador com fivela de soltura rápida
- Sacola de salvamento
- Embarcação inflável com fundo flexível ou rígido
Certamente, este kit mínimo necessário para realizar um salvamento está
muito aquém do que seria o ideal, mas levando-se em conta que esta atividade é
nova, que ainda está sendo explorada e que a aquisição de material pelo CBPMPR
se da por meio de licitações, o que torna o processo de compra lento, e por fim pela
própria situação financeira das unidades, que por vezes não possui o FUNREBOM,
62
tudo isso faz com que este tipo de material acabe não sendo a prioridade de compra
da respectiva unidade.
É primordial que além dos materiais citados, o bombeiro tenha em mãos
durante este tipo de ocorrência pelo menos um apito e um canivete. O apito tanto
para chamar a atenção da vítima para realizar uma comunicação, quanto para
solicitar um apoio imediato da própria equipe e o canivete para sua auto segurança –
se desvencilhar de algum cabo ou então soltar uma vítima que possa estar presa.
TABELA 05 – COMPARAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO COM OS MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
DE SARP
UNIDADE
ÁREA DE RISCO MÉDIO OU
ELEVADO
POSSUI O KIT BÁSICO
1º GB
SIM
NÃO
2º GB
SIM
SIM
3º GB
SIM
NÃO
4º GB
SIM
SIM
5º GB
SIM
NÃO
6º GB
SIM
NÃO
7º GB
SIM
SIM
8º GB
SIM
SIM
9º GB
SIM
NÃO
1º SGBI
NÃO
NÃO
2º SGBI
NÃO
NÃO
3º SGBI
NÃO
NÃO
4º SGBI
NÃO
NÃO
5º SGBI
SIM
NÃO
6º SGBI
NÃO
NÃO
FONTE: O autor (2015)
Mais uma vez observa-se uma diferenciação nas cores da tabela 05, cada
cor expressa uma situação diferenciada. Novamente a cor verde demonstra que, ou
a OBM possui o kit básico (mínimo aceitável) para um atendimento em águas
63
correntes, ou então a unidade não possui em sua área de atuação alguma área de
risco de enxurrada.
As linhas coloridas de vermelho indicam que a unidade possui pelo menos
uma área de risco elevado de enxurrada incorporada à sua área de atuação, mas
que infelizmente não possui o kit básico para fornecer às suas guarnições, a fim de
garantir a segurança e a integridade física dos bombeiros que atuam como
resgatistas nas situações de enxurradas e enxurradas e prestar um atendimento
satisfatório à população da sua respectiva região de atuação.
A partir das tabelas 4 e 5, obtém-se o panorama geral do estado do Paraná
(Figura 21), referente às condições de atendimento dos Grupamentos de Bombeiros
às ocorrências que envolvam o Salvamento em Águas Rápidas. Ressalta-se que, o
panorama obtido é bastante genérico, uma vez que alguns GB’s possuem apenas
uma cidade configurada como área de risco médio ou elevado, mas que, esta
situação foi ampliada para toda a área de atuação do mesmo, tendo em vista a
impossibilidade temporal e logística para se conseguir atingir todos os postos de
bombeiros existentes no Paraná.
Portanto para uma melhor visualização deste panorama estadual, analisa-se
o mapa temático a seguir, ilustrado pela Figura 20.
64
FIGURA 20 – MAPA TEMÁTICO: PANORAMA GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ
EM RELAÇÃO À ATIVIDADE DE SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS
FONTE: O autor (2015)
Como dito anteriormente, este questionário aplicou-se também ao GOST,
entretanto seus dados não incorporaram no computo do traçado do panorama
estadual, tendo em vista ser uma tropa altamente especializada e a unidade possuir
materiais e equipamentos muitas vezes superiores aos encontrados nas OBM’s.
Ademais, o GOST possui como área de atuação todo território estadual, o que
interferiria na análise dos dados das unidades em suas respectivas áreas de
atuação.
Mas vale destacar que atualmente o GOST, possui suas guarnições
capacitadas e aptas a atuarem no ambiente de corredeiras, assim como, possuem
65
mais de 90% dos materiais descritos no questionário e ainda estão em processo de
aquisição de capacete específico para a atividade (com forro, proteção de orelhas,
catraca de regulagem, aba removível com no máximo 600 gramas de peso) e mais 6
coletes de SARp com fivela de soltura rápida com apito e faca acoplados ao colete.
4.3 ANÁLISE DA ENTREVISTA REALIZADA QUANTO ÀS TÉCNICAS DE SARp
COM VISTAS À SEGURANÇA
A fim de materializar a importância do conhecimento e da utilização das
técnicas e equipamento do Salvamento em Águas Rápidas, em 14 de agosto de
2015, na sede do 5º SGBI, em Guarapuava, foi realizada uma entrevista com o 3º
Sgt. QPM 2-0 Edson Sebastião de Meira, o qual, na data de 08 de junho de 2014,
sofreu um acidente no transcorrer de um salvamento em corredeira.
A entrevista aconteceu com perguntas pré-estabelecidas por este
pesquisador, a fim de verificar os conhecimentos que o militar possuía e também de
relatar minuciosamente a maneira ocorreu o seu acidente.
Ao ser indagado a cerca do conhecimento da existência do Salvamento em
Águas Rápidas, a resposta obtida foi negativa. O entrevistado conta que apesar dos
seus 30 anos de serviço e de toda sua experiência na área de mergulho e também
de salvamentos em água corrente, não tinha conhecimento da existência deste tipo
de salvamento. Assim como, demonstrou em outra pergunta, não ter o conhecimento
das técnicas corretas e dos equipamentos necessários para um salvamento em
corredeira. Ademais, o entrevistado relata que os salvamentos que realizou durante
sua carreira, foram sempre feitos de forma empírica, sem técnicas previamente
treinadas e de forma improvisada, sem equipamentos adequados que garantissem a
segurança adequada.
Ao questionar o entrevistado a respeito da existência de equipamentos
básicos para o Salvamento em Águas Rápidas em sua unidade, tais como colete
flutuador com fivela de soltura rápida, sacola de arremesso com corda flutuante,
capacete para atividade aquática e bote inflável com fundo flexível, a resposta
novamente foi negativa. Os materiais existentes na unidade não eram específicos
para o SARp, eram materiais de Salvamento Aquático e de mergulho,
como
66
nadadeiras para mergulho, roupas de Neoprene, lifebelts e coletes salva-vidas sem
a fivela de soltura rápida, mas que improvisadamente eram utilizados em situações
como essas.
É importantíssimo ressaltar que o colete salva-vidas comum, sem a fivela de
soltura rápida, não deve ser utilizado nas atividades de SARp, assim como preconiza
a técnica do Isca-Viva, descrita no capítulo II, onde o resgatista se dirige até a vítima
por meio da natação ofensiva e encontra-se atrelado à um lugar seguro por meio de
uma corda a qual vai presa justamente ao sistema de soltura rápida do colete, a fim
de
permitir ao resgatista que se desvencilhe da ancoragem em caso de uma
submersão inesperada.
Ao chegar efetivamente no objeto da entrevista, o 3º Sgt. Meira relatou como
ocorreu o acidente. Na data de 08 de junho de 2014, depois de aproximadamente
200 mm de chuva somente na cidade de Guarapuava, foi acionado o plano de
chamada do SGBI e por volta das 20 horas da noite o entrevistado já se encontrava
nas dependências do quartel. A partir deste momento atendeu várias ocorrências até
o momento em que foi acionado, por volta das 2 horas da madrugada, para o
resgate de um homem que se encontrava preso em meio a uma corredeira.
Chegando ao local foi confirmada a ocorrência, o homem encontrava-se agarrado a
uma pedra em meio à correnteza de um rio que transbordou, alagando inclusive a
rodovia adjacente.
Os materiais que possuía a sua disposição para realizar o resgate eram,
materiais de vertical, cordas de salvamento não flutuantes, colete salva-vidas sem a
fivela de soltura rápida e um bote de alumínio. Felizmente seu empirismo fez com
que não colocasse o bote de alumínio naquela correnteza, o que é extremamente
correto, uma vez que, como visto no capítulo II, este tipo de embarcação não
garante a segurança necessária à equipe de resgate, devido sua grande
instabilidade e a impossibilidade da utilização do motor de popa em meio às pedras
da corredeira.
A avaliação da cena do incidente foi demasiadamente prejudicada, uma vez
que o militar não tinha conhecimento da maneira correta de se avaliar e optar por
técnicas que não colocassem em risco a guarnição, assim como preconizam as
literaturas, onde primeiramente tenta-se alcançar algo à vítima, posteriormente
lança-se algum objeto flutuante para a vítima (o mais recomendável é o próprio saco
de arremesso), depois se tenta remar até a vítima ou armar um sistema de tirolesa
67
para a embarcação – entretanto, esta opção já deveria ser descartada em virtude da
embarcação ser de alumínio – e somente por fim coloca-se um militar na água para
caminhar ou nadar até a vítima.
Tendo em vista esta deficiência nestes conceitos, o então, Cb. Meira vestiu
um colete salva-vidas comum e confeccionou em seu próprio corpo uma cadeirinha
com a ponta da corda de salvamento e decidiu por adentrar a água caminhando
lateralmente, para se equilibrar, até chegar à vítima, enquanto o restante da equipe
permanecia em local seguro fazendo o controle da corda que estava amarrado,
posteriormente sua intenção era colocar o triângulo de resgate na vítima e retornar
para a margem novamente caminhando juntamente com a vítima, já que esta
aparentemente não possuía ferimentos e conseguiria caminhar. Sem saber, optou
pela última técnica que deveria ser explorada, a de entrar na água e se dirigir até a
vítima, além ainda de atar uma corda ao seu corpo de maneira que se ele
submergisse não teria como se desvencilhar da corda. E infelizmente foi isso que
aconteceu. Ao se aproximar da vítima, esta numa atitude de desespero, saltou em
direção à corda para se agarrar, vindo a derrubar o resgatista que inesperadamente
conseguiu segurá-la pela roupa.
Com a queda e pelo fato de estar atado a corda, esta retesou com a força da
água e fez com que resgatista e vítima submergisse no rio, mesmo utilizando-se de
um colete salva-vidas comum.
Passados alguns segundos submersos, o
entrevistado veio a ter um afogamento “em seco”, momento em que não conseguiu
mais segurar a vítima, que desceu rio abaixo, sendo puxado pela equipe que se
encontrava na margem, vindo a sair da água sem seus sinais vitais.
A primeira vista, parece fácil perceber que se houvesse um colete flutuador
com fivela de soltura rápida a disposição, este resgate teria se desenrolado de
maneira satisfatória. O que não é verídico, pois havia, acerca de 200 metros rio
abaixo, uma cachoeira de aproximadamente 20 metros de altura, na qual a vítima
que desceu o rio veio a cair e perder a vida.
Contudo, tendo o conhecimento das técnicas de SARp descritas no capítulo
II, observando os materiais que estavam disponíveis naquele momento e após
analisar o fato da maneira como aconteceu, consegue-se concluir que a técnica mais
apropriada para aquela ocorrência seria, a confecção de uma tirolesa aquática, para
que o resgatista permanecesse atrelado à corda da tirolesa de maneira segura, sem
precisar se desvencilhar em caso de algum incidente (por causa da cachoeira) e
68
ancorar a vítima à esta mesma corda da tirolesa, para que então caminhando,
conseguissem chegar até a margem.
Importante destacar que na ocasião do acidente ou em qualquer outra
técnica que pudesse ser utilizada, deve-se conduzir um colete flutuador e um
capacete sobressalente para segurança e proteção da vítima.
São possíveis ainda, diversas outras opções de técnicas para aquela
ocorrência, tais como: o lançamento de saco de arremesso, a tirolesa aquática com
embarcação e até mesmo a instalação de uma mangueira inflada a alguns metros rio
abaixo da vítima, para que esta pudesse se agarrar e ser resgata pela equipe. Mas
infelizmente essas técnicas não puderam ser cogitadas pela falta de conhecimento e
principalmente pela falta de material e equipamentos mínimos necessários para um
salvamento em águas rápidas.
Destaca-se então, a importância do bote inflável com fundo flexível, uma vez
que se tivesse este material à disposição, poderia ser montada uma tirolesa aquática
com embarcação, como descrita no capítulo II. Assim sendo, a equipe embarcada,
vestida de coletes flutuantes, estaria demasiadamente mais segura do que o militar
que adentrou à água caminhando. Dessa forma, alcançariam a vítima com
segurança, uma vez que o bote inflável proporciona uma estabilidade muito boa em
águas correntes e por fim teriam muito mais chances de obter um salvamento com
sucesso.
Portanto, somente uma pessoa treinada, com conhecimentos específicos de
SARp e materiais adequados à disposição, conseguiria fazer uma correta avaliação
da cena do incidente, uma correta tomada de decisão a cerca da técnica a ser
utilizada e consequentemente obteria sucesso neste salvamento.
69
5 CONCLUSÃO
Pôde-se aferir no início desta pesquisa que a atividade de Salvamento em
Águas Rápidas é uma atividade que pode e deve ser executada pelo Corpo de
Bombeiros do Paraná, uma vez que a CF (Constituição Federal) prevê em seu art.
144, parágrafo 5º que cabem aos corpos de bombeiros militares, além das
atribuições definidas em lei, a execução das atividades de defesa civil. Corroborando
ainda, a Constituição Estadual em seu art. 48 estabelece ao Corpo de Bombeiros,
além de outras atividades, às buscas e os salvamentos.
Ao ser realizada esta pesquisa verificou-se que o termo mais utilizado, pelos
noticiários e também pelas literaturas, para se referir a um desastre natural de
grande acúmulo de água ocasionado pelo alto índice de precipitação pluviométrica é
o termo: enchente. No entanto, verifica-se que literalmente a utilização deste termo
está equivocada, por este motivo a pesquisa utilizou-se do termo enxurrada, pelo
fato de se aproximar mais às características do ambiente de águas rápidas.
Foi possível analisar pela tabela 01, extraída do Manual de Salvamento em
Enchentes do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, que em uma correnteza
com profundidade inferior à cintura de um homem e com velocidade superior à 6
km/h, não é mais possível um homem permanecer em pé ou deixar de ser carregado
pela força da água, uma vez que a força exercida pela água, nessas condições, é
igual ou superior ao peso de um homem de estatura média. Isso ressalta a
importância de que se deve ter instruções teóricas a respeito do assunto, pois, em
não tendo em mãos estes conceitos o bombeiro militar pode ser iludido apenas ao
observar uma correnteza, pois a primeira vista, uma correnteza como essa parece
ser bastante inofensiva à segurança.
Mais uma vez ressalta-se a importância dos conhecimentos teóricos acerca
do assunto, quando a partir da entrevista realizada com o 3º Sgt. Meira materializouse os conceitos, vistos no capítulo II, de exame do local e avaliação da cena do
incidente, procedimento básico e rápido de ser realizado, mas determinante no
sucesso ou não do salvamento. Associadamente à entrevista ainda, evidencia-se
alguns dos mandamentos do SARp, tais como: o auto resgate, um segundo plano
para a mesma vítima, a utilização das técnicas mais simples, a utilização de
70
equipamentos adequados e a não utilização de uma corda amarrada ao redor do
resgatista.
Verificou-se ainda, que não são poucas as inundações que ocorrem
anualmente em nosso estado. No período compreendido entre 2005 à 2014, foram
contabilizados 5.255 Registros Gerais de Ocorrências, somente para desastres entre
inundações, alagamentos e enxurradas, 241 vítimas e entre elas 16 óbitos.
Alcançado então, um dos objetivos trilhados pela pesquisa, alerta-se algumas das
principais regiões do estado do Paraná, classificadas como áreas de risco médio e
elevado de enxurradas (perante esta pesquisa), as seguintes cidades: Curitiba,
Prudentópolis, União da Vitória, Santo Antônio da Platina, Santa Tereza do Oeste,
Querência do Norte, São José dos Pinhais, Araucária, Paranaguá, Guaratuba, Foz
do Iguaçu e Guarapuava.
Essas cidades figuradas como áreas de risco médio e elevado estão
incorporadas às áreas de atuação do 1º ao 9º GB e 5º SGBI. Enquanto as unidades
do 1º, 2º, 3º, 4º e 6º SGBI (representadas no gráfico temático pela cor azul), mesmo
sem terem ministrado qualquer das instruções e sem terem posse dos materiais
julgados como mínimos, não necessitam estar em alerta, num primeiro momento,
pelo fato de se enquadrarem, perante parâmetros desta pesquisa, como áreas de
risco mínimo de enxurradas. Portanto, não possui uma necessidade emergencial de
adquirir materiais e equipamentos de SARp, todavia, não deixa de ser interessante
que instruções a respeito sejam ministradas e treinadas, para que tenhamos cada
vez mais, uma tropa mais técnica e especializada, seja qual for a área.
Todavia, pode inferir a partir do panorama geral do estado, representado
pelo gráfico temático, que entre os Grupamentos de Bombeiros que figuraram como
áreas de risco médio e elevado de enchentes, destacam-se positivamente as
unidades do 2º, 4º e 8º Grupamento de Bombeiros (representados pela cor verde),
as quais capacitaram suas tropas com instruções teóricas e práticas, além ainda, de
já terem adquirido e fornecido às guarnições de serviço os materiais e equipamentos
mínimos necessários para ocorrências que envolvam Salvamento em Águas
Rápidas. Análoga, mas com ressalva à esta situação, encontra-se o 7º Grupamento
de Bombeiros, o qual prove os materiais mínimos necessários à sua tropa,
entretanto, ministrou apenas instruções teóricas que, apesar da situação não se
constituir
muito
emergencial, é importante
que a
prática
seja
realizada,
71
principalmente para que a dificuldade do ambiente em águas rápidas seja sentida
por toda a tropa.
Em contra partida, o 1º Grupamento de Bombeiros (representado pela cor
laranja), o qual está inserido na cidade que apresentou o número mais elevado de
enxurradas, apenas capacitou a sua tropa, tanto com instruções teóricas e práticas,
mas que por motivos desconhecidos que não figuram como objeto desta pesquisa,
não possui a totalidade dos equipamentos mínimos necessários. Contudo, este GB,
demonstrou em seu questionário a intenção de realizar a aquisição de materiais
como Embarcação de rafting, vestimenta impermeável de Gore-Tex, roupa de
Neoprene, calçados e luvas para SARp. Com uma aquisição como essa, o 1º GB
passaria então a possuir o kit mínimo de matérias para SARp.
No entanto, é salutar que as unidades operacionais que figuraram na
pesquisa como áreas de risco médio ou elevado, mas que não apresentaram
instruções práticas e equipamentos mínimos, como o 3º, 5º e 6º GB (representados
pela cor vermelha) possuam o mínimo de materiais e equipamentos de SARp para
fornecer a uma guarnição de resgate, além da relevância de prever instruções
práticas para o aperfeiçoamento dos bombeiros, visto que se encontram nas áreas
com o maior número de ocorrências de enxurradas e inevitavelmente atuarão em
situações onde terão que empregar técnicas e utilizar materiais adequados de
SARp.
Preocupante é a situação verificada pelo 9º GB e 5º SGBI (representado na
cor preta), que entre os anos de 2005 e 2014 possuiu uma média de mais de uma
enchente por ano somando 30 vítimas, e que atualmente expressaram, por
intermédio do questionário, não ter ministrado instruções, sejam elas teóricas ou
práticas, a respeito do assunto e pelo fato de não possuir os materiais e
equipamentos mínimos necessários para uma intervenção em um salvamento em
uma enxurrada. Coincidentemente, e ressaltando a relevância do assunto em
questão, foi justamente na área de atuação do 5º SGBI, na cidade Guarapuava,
onde ocorreu o acidente com o 3º Sgt. QPM 2-0 Meira. Isso ressalta a importância
de se estar preparado para atender a ocorrências como essas, uma vez que o que
contribuiu para o acidente foi a ausência de capacitação bem como a
indisponibilidade de material necessário para a execução eficiente do salvamento.
Portanto o panorama geral do estado a respeito da situação das instruções e
equipamentos de SARp, principalmente as unidades operacionais que figuraram
72
como áreas de risco médio ou elevado, serve de alerta ao Corpo de Bombeiros do
Paraná, para que sejam capacitadas as guarnições e sejam proporcionados os
materiais e equipamentos mínimos necessários para um bom atendimento e
principalmente garantam a segurança dos bombeiros militares, a fim de que
acidentes, como o do 3º Sgt. QPM 2-0 Meira em Guarapuava, não venham a se
repetir. Vale ressaltar, ainda, que esta pesquisa, apesar de ter alcançado seus
objetivos traçados inicialmente, não exauri todos os estudos que podem ser
realizados a respeito do assunto e também não se faz regra geral para o Corpo de
Bombeiros, pois os parâmetros aqui adotados e os dados coletados são superficiais,
podendo ser aprofundados em pesquisas subsequentes.
Por fim, conclui-se que existem em nosso Corpo de Bombeiros algumas
carências no que tange o Salvamento em Águas Rápidas, principalmente aplicado
ao grande número de inundações, alagamentos e enxurradas que ocorrem em todo
o território estadual. Para tanto, é sugerido que sejam incluídas disciplinas de
Salvamento em Águas Rápidas nas grades de ensino dos cursos de formação de
praças e de oficiais – assim como está sendo realizado com a grade curricular da
turma do CFO BM 2015 – bem como, também seja colocado em prática o Curso de
Salvamento em Corredeiras, autorizado pelo Comandante Geral da PMPR (Polícia
Militar do Paraná) no Boletim do Comando Geral nº 150 de 2014, para que depois de
capacitados com instruções básicas nos cursos de formação, os militares possam se
especializar nesta área, sem precisar realizar e custear cursos particulares fora do
nosso estado, assim como está sendo feito até o momento.
73
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988) - Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 05 de outubro de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 5 out.
1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%
C3%A7ao.htm>. Acesso em: 19 ago. 2013.
COMANDO DO CORPO DE BOMBEIROS. SYSBM – CCB. Banco de dados.
Paraná. Disponível em: <
http://www.bombeiroscascavel.com.br/registroccb/imprensa.php >. Acesso em: 10
set. 2015.
COMISSÃO DE NORMALIZAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS. Normas para
a elaboração de trabalhos acadêmicos. Universidade Tecnológica Federal do
Paraná – UTFPR. 1ª ed. Paraná, 2008, 116 p.
ENSINO A DISTÂNCIA DO CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ, 1., 2015.
Curitiba. Resgate em Águas Rápidas. Anais Eletrônicos. CCB/PMPR, 2015. 26
slides.
ENSINO A DISTÂNCIA DO CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ, 3., 2015.
Curitiba. Pincípio e Procedimentos Gerais. Anais Eletrônicos. CCB/PMPR, 2015.
31 slides.
ENSINO A DISTÂNCIA DO CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ, 4., 2015.
Curitiba. Sistemas Básicos de Salvamento em Águas Rápidas sem embarcação.
Anais Eletrônicos. CCB/PMPR, 2015. 33 slides.
ENSINO A DISTÂNCIA DO CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ, 5., 2015.
Curitiba. Sistemas de SARp com Embarcações. Anais Eletrônicos. CCB/PMPR,
2015. 19 slides.
GAZETA DO POVO. Chuvas causam três mortes no litoral. Desabamentos
isolam cidades. Curitiba. 12 mar. 2011. Disponível em: <
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/chuvas-causam-tres-mortes-nolitoral-desabamentos-isolam-cidades-475f96s0sq75wrsjwyv9nbmtq >. Acesso em: 23
set. 2015.
SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
SUATENTÁVEL. Instituto Mineiro de Gestão das Águas. Banco de notícias. Minas
74
Gerais. Disponível em: < http://www.igam.mg.gov.br/banco-de-noticias/1-ultimasnoticias >. Acesso em: 20 abr. 2015.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Atlas Brasileiro de Desastres
Naturais. Volume Paraná. 1ª Edição, 79 slides. Brasil. Disponível em: <
http://150.162.127.14:8080/atlas/Atlas%20Parana.pdf >. Acesso em: 05 set. 2015.
MINISTÉRIO DAS CIDADES. Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Publicações
técnicas, Artigos técnicos. São Paulo, 2015. Disponível em
<http://www.ipt.br/publicacoes>. Acesso em: 08 set. 2015.
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Operatore. Dipartimento dei Vigili del Fuoco del Soccorso Pubblico e della Difesa
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PARANÁ. Lei nº 16.575, de 28 de setembro de 2010 – Lei de Organização Básica.
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PAVÃO, V. e outros. Manual de Salvamento em Enxurradas. Comando do Corpo
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo. 1. ed. São Paulo: Governo
do Estado de São Paulo, 2006. 57p.
PEROVANO, D. G. Manual de Metodologia Científica para a Segurança Pública
e Defesa Nacional. Curitiba. Juruá, 2014. 230p.
75
RAMPAZZO, L. Metodologia cientifica: para alunos dos cursos de graduação e
pós-graduação. Edições Loyola. São Paulo: 2002.
RESCUE 3 INTERNATIONAL. The World leader in water & rope rescue
education since 1979. Disponível em:
<http://www.rescue3international.com/index.php>. Acesso em: 10 set. 2015.
SOUZA, P. H. Manual Técnico de Salvamento Aquático/Corpo de Bombeiros da
Polícia Militar do Paraná. 1. ed. Paraná: Associação da Vila Militar – Departamento
de Cultura, 2014. 340 p.
VILAÇA, M. L. C. Pesquisa e ensino: considerações e reflexões. 2015. 16 f.
Artigo (Revista E-scrita) – Curso de Letras, Universidade da Associação Brasileira de
Ensino Universitário, Nilópolis, 2015. Disponível em: <
http://www.uniabeu.edu.br/publica/index.php/RE/article/viewFile/26/pdf_23 >. Acesso
em: 07 set. 2015.
76
APÊNDICES
APÊNDICE 1 – Entrevista ......................................................................................... 77
APÊNDICE 2 – Imagens do local do acidente com 3º Sgt. Meira ............................. 78
APÊNDICE 3 – Questionário ..................................................................................... 79
77
APÊNDICE 1 – Entrevista
Data: 14 de agosto de 2015.
Pesquisador: Cadete 3º BM Bruno Eduardo Da Macena.
Tema: O conhecimento e a utilização das técnicas de Salvamento em Águas
Rápidas em enxurradas pelo Corpo de Bombeiros do estado do Paraná.
Entrevistado: 3º Sgt. QPM 2-0 Edilson Sebastião de Meira.
PERGUNTAS
1) Nome completo / Data de inclusão na PMPR / Atua em qual GB?
2) O que você se recorda da ocorrência do dia 08 de junho de 2014?
3) Antes de ocorrer o acidente, alguma vez já tinha ouvido falar sobre Salvamento
em Águas Rápidas (SARp)? Onde ouviu falar?
4) Antes de ocorrer o acidente, tinha conhecimento das técnicas e dos
equipamentos utilizados no Salvamento em Águas Rápidas (SARp)?
5) Antes do acidente, o quartel onde trabalha possuía equipamentos para o
Salvamento em Águas Rápidas? Quais? E hoje, após o ocorrido, os materiais foram
adquiridos?
6) No dia do acidente, o senhor acha que se possuísse os conhecimentos das
técnicas de Salvamento em Águas Rápidas, o salvamento poderia ter se
desenrolado de maneira diferente?
78
APÊNDICE 2 – Imagens do local do acidente com 3º Sgt. Meira
DIREÇÃO EM QUE A ÁGUA TRANSPÔS A RODOVIA
FONTE: O autor (2015)
1) LOCAL QUE SE ENCONTRAVA A VÍTIMA 2) EROSÃO CAUSADA PELA ENXURRADA
FONTE: O autor (2015)
79
APÊNDICE 3 – Questionário
POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
ACADEMIA POLICIAL MILITAR DO GUATUPÊ
ESCOLA DE OFICIAIS
QUESTIONÁRIO PARA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
TÍTULO:
O
CONHECIMENTO
E
A
UTILIZAÇÃO
DAS
TÉCNICAS
DE
SALVAMENTO EM ÁGUAS RÁPIDAS EM ENXURRADAS PELO CORPO DE
BOMBEIROS DO ESTADO DO PARANÁ
PESQUISADOR: Cadete 3º BM Bruno Eduardo Da Macena.
ORIENTADOR: 1º Ten. QOBM Thiago Schinzel.
O presente questionário tem por finalidade contribuir com o constante
crescimento e aperfeiçoamento do Corpo de Bombeiros, neste caso em especial, no
Salvamento em Águas Rápidas (SARp), área esta que se encontra ainda em
crescimento em todo o território nacional. Trata-se de uma pesquisa para verificar
qual a situação em que as unidades operacionais se encontram, na questão de
instrução e equipamentos de Salvamento em Águas Rápidas.
As informações aqui coletadas serão utilizadas para Trabalho de Conclusão
de Curso, do Curso de Formação de Oficiais, do presente pesquisador, e tem como
objetivo a coleta de dados e argumentos que justifiquem a importância, ou não, do
conhecimento e da utilização das técnicas de SARp em enxurradas, pelas
guarnições de bombeiros do Paraná.
SOLICITAÇÃO DE COOPERAÇÃO
Caro Sr. (a) Bombeiro (a), sua participação é muito importante para a busca
de maiores níveis de segurança das guarnições de bombeiros e para um melhor
atendimento a sociedade paranaense.
80
Solicito que siga as instruções e tire as eventuais dúvidas, para que todas as
perguntas sejam respondidas de forma correta, para que possamos atingir um nível
de excelência em nossos trabalhos.
INSTRUÇÕES
As perguntas 1, 2, 3 e 4 serão feitas de forma objetiva, com respostas de
múltipla escolha. A pergunta nº 4 será tanto objetiva como descritiva. Não se faz
necessária a identificação nominal do bombeiro que preencheu o formulário, apenas
a identificação da OBM correspondente. As perguntas deverão ser respondidas de
forma que expressem a verdadeira realidade da unidade, no que tange o assunto.
O preenchimento do questionário pode ser realizado virtualmente. Solicito
que após preenchido, o formulário seja encaminhado para o seguinte e-mail:
[email protected].
PERGUNTAS:
1. Qual sua OBM?
( ) GOST
( ) 1º GB
( ) 2º GB
( ) 3º GB
( ) 4º GB
(
) 5º GB
( ) 6º GB
( ) 7º GB
( ) 8º GB
( ) 9º GB
( ) 1º SGBI ( ) 2º SGBI
( ) 3º SGBI
( ) 4º SGBI ( ) 5º SGBI ( ) 6º SGBI
2. Sua OBM já recebeu instruções teóricas de Salvamento em Águas Rápidas,
excetuando-se o EAD-BM?
( ) Sim
( ) Não
3. Sua OBM já realizou instruções práticas de Salvamento em Águas Rápidas?
( ) Sim
( ) Não
4. Assinale um X nos materiais que sua OBM possui atualmente.
( ) Embarcação de alumínio
( ) Embarcação inflável com fundo rígido
81
( ) Embarcação flexível com fundo flexível
( ) Capacete para atividade aquática
( ) Vestimenta para SARp (Isotérmica e impermeável)
( ) Vestimenta de Neoprene
( ) Calçado para SARp
( ) Botas de Neoprene
( ) Luvas para SARp
( ) Luvas de Neoprene
( ) Colete salva-vidas
( ) Colete flutuador com fivela de soltura rápida
( ) Sacola de salvamento
5. Sua OBM possui a intenção de adquirir alguns dos materiais citados na
questão anterior? Quais
( ) Sim
( ) Não
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________
Obrigado pela atenção despendida, suas informações contribuirão para a
formação técnico profissional dos cadetes do CFO BM 2015, em especial deste
pesquisador, e com certeza terão reflexo no crescimento institucional do Corpo de
Bombeiros do Paraná, bem como no aumento da qualidade do atendimento
prestado à sociedade paranaense.

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