Ossos do Ofício

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Ossos do Ofício
Ossos do Ofício
Por Jeff V. Pavanin
Todos os garotos pararam de fazer o que faziam quando o sinal bateu e se reuniram em uma fila
desconjuntada, ombro no ombro, para a inspeção semanal. Alguns limpavam as bocas com as costas
da mão, outros sorriam deliciados – a maioria ainda sob o efeito das drogas. Murmúrios de
descontentamento prosseguiram pelo salão adentro, sendo quase exterminados quando o sinal
terminou sua cantoria. Era regra da casa, todo mundo sabia. Não havia motivo para reclamações, mas
ainda assim um punhado de insatisfeitos ainda gemia em negativa. Foi somente quando a porta do
salão se escancarou que o silêncio absoluto se fez. Os garotos que antes se limpavam ou ainda
sorriam, fecharam a cara e soltaram os braços ao lado do corpo. Era o período da Latência que
começava.
Ninguém ousou manter contato visual com aquela que adentrou o salão ao término do sinal. Svetlana
marchava para diante dos garotos vestindo seu melhor traje de noite, vermelho, encorpado,
terminando em ramificações que flutuavam ao seu redor. O salto agulha quase não emitia ruído
algum a cada passo dado no carpete persa. Seus dois seguranças, metidos em trajes ridículos de
couro, seguiam a escandinava, confiantes, com uma mão no cassetete escondido sob o colete e a
outra mergulhada no bolso da calça. Ela lançou um olhar geral pelo aposento sem se importar com
quais fregueses ainda gemiam absortos em êxtase, jogados por algum canto do salão banhado em
penumbra. Quando parou diante do primeiro garoto da fila, pigarreou discretamente a fim de lim par a
própria garganta.
“Quero mais luz aqui nos garotos”, ordenou. A voz masculina soou firme e profunda quando cortou o
silêncio, feito somente para ser quebrado por ela. Imediatamente, fachos de luz iluminaram todo e
cada garoto que se portava diante de Svetlana, que não alterou sua expressão em momento algum.
Sabia que seus funcionários eram eficientes, não teria porque se preocupar com surpresas
desagradáveis agora.
Ela se aproximou do primeiro garoto, um loiro alto de olhos claros, quase tão claros quanto a própria
luz que o iluminava, e o observou por completo. Assim como os outros, estava inteiramente nu, ainda
com resíduos brilhantes dos fluídos do prazer espalhados pelo corpo. O único adorno que levava era
uma pulseira prateada com seu codinome e número de identificação da casa. Svetlana pegou seu
punho e leu o nome ali impresso. Devolveu o braço à posição original e passou a realizar a inspeção.
Ele devia ter pouco mais de vinte anos, cor po tor neado, os mamilos rosados no mesmo tom da
glande, ela pôde observar. Ele não possuía pêlos no corpo além do púbis e axilas. Fechou os próprios
dedos em volta do pênis do loiro e com a palma de sua mão sentiu o caimento. Era firme. Ainda não
apresentava a flacidez normal por ter parado de trabalhar instantes an tes. Svetlana gostou disso.
“Falco, por favor”. Ela chamou um homem bonito, de meia idade, que aguardava instruções ao lado
do último garoto. Ele era alto, vestia um terno marrom sem adornos e usava pequenos óculos
redondos. Svetlana não esperou que ele respondesse e continuou: “Separe este e aguarde.”
O homem, Falco, assentiu e pegou o garoto pela mão, conduzindo-o até próximo à porta do salão.
Svetlana passou a inspecionar o segundo garoto. Era o único r uivo entre eles. Da mesma forma como
havia feito com o primeiro, observou os detalhes que queria, tocou o que achou necessário e
prosseguiu – não sem antes entregá-lo a Falco. Já o terceiro garoto, um asiático alto de pênis grande,
quase não conseguia parar em pé sozinho. Parecia exausto. Escorava-se no companheiro ao lado e
tinha no rosto a expressão de quem havia corrido uma maratona em cinco minutos. Svetlana levou as
costas da mão em um tapa na face do garoto, o que fez alguns presentes gemerem. O asiático não
pareceu sentir, pois permaneceu da mesma forma, quase morto.
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“Ele não está reagindo. Você, venha aqui.” Chamou um dos velhos que ainda esperavam deitados nos
pufes e sofás, sem fazer distinção. “Você sabe onde é a enfermaria. Se vista e leve este garoto para
lá, por favor.” Enquanto ele fazia o que era pedido, meio aos tropeços, com as partes molengas
balançando e suando, Svetlana sussurrou algo para si mesma. Os garotos que estavam mais perto
juravam tê-la ouvido praguejar de nojo.
Contudo, após inspirar lentamente, Svetlana passou para o próximo como se nada tivesse acontecido.
Esse parecia pouco mais velho que os anteriores e era moreno. Tinha uma franja descabelada caída
sobre o olho direito e uma camada suave de pêlos no peito, o que Svetlana pareceu notar
primeiramente. Passou os dedos pelo peito do rapaz e desceu o tato até uma cicatriz rosada que ele
tinha perto da virilha.
“Onde conseguiu esta marca?” perguntou ela, direta. Antes de responder, o ga roto olhou preocupado
para Falco, sem saber se deveria abrir a boca, mas o homem lhe lançou um aceno positivo em
resposta. Contudo, ela prosseguiu: “Quando eu fizer uma pergunta , vocês podem responder sem
problemas”. O recado foi dado a todos, mas ela não desviou os olhos da cicatriz. Não conseguia
entender o medo que todos tinham dela, mas gostava disso. Mantinha a ordem.
“Pulei a cerca de uma construção”, respondeu ele, mais seguro.
“Imagino o que tenha ido fazer.” Svetlana sorriu e, pela primeira vez, fez contato visual com o garoto.
“Ah, agora vejo. Você é Johan, filho de Susana. Seu pai foi uma lenda entre nós”. O gar oto sabia do
que ela queria dizer. Susana, antes de morrer de overdose dois anos antes, tinha chegado ao topo do
que se pode chamar de hall da fama do entretenimento visual. Fazia per formances nas casas noturnas
de Estocolmo e durante o dia era homem de negócios. A voz masculina de Svetlana continuou meio
nasalada, enquanto tateava o restante do corpo do garoto moreno. “Seu pai não se vendia para o
sexo, mas conheceu sua mãe quando ela ainda fazia programas. Vejo que resolveu seguir os passos
dela.”
Se ele seguia os exatos passos da mãe ou não, não sabia dizer, mas tinha a certeza de que o caminho
era o mesmo. Não havia conhecido a mãe, entretanto. Sua história era incomum demais para que ele
mesmo soubesse viver com o peso de todos os detalhes. Queria poder conversar mais sobre isso,
fazer as perguntas que lhe tingiam a ponta da língua, c ontudo, se limitou a assentir e preservar o
silêncio – ela não tinha questionado nada que precisasse de sua voz. Também sem dizer palavra
alguma, Svetlana acenou para que Falco o acolhesse. Agora somavam três garotos nus junto à porta
e a Falco. Antes que pudesse prosseguir com a inspeção, como todos esperavam, a dona daquele
salto agulha deu meia volta e olhou para os remanescentes.
“Vocês podem voltar ao ofício ”, disse. “Já tenho o que preciso. Agradeço o respeito, a paciência e a
consideração para com os nossos fregueses.” Continuou, virando-se para os velhos em êxtase: “Se
houver qualquer reclamação eu ficarei sabendo. Agora, divir tam-se.” Ela continuou seu caminho de
volta à porta do salão sem lançar mais nenhum olhar para trás. Falco acenou para os três garotos,
que seguiram sem se preocupar com seus estados de nudez ou se as pupilas ainda estavam dilatadas.
Svetlana comandava tudo. Era ela quem dava as ordens. Se estavam saindo nus do salão, era por que
ela queria – ninguém questionaria sua autoridade. Ao menos não ali.
O pequeno grupo se reuniu na ante-sala amplamente iluminada antes de prosseguir para os
aposentos de Svetlana. Os garotos não sabiam a razão daquilo, de serem retirados do o fício diário
para uma nova missão. Isso era algo novo, pois só era permitido o usufruto do salão , do refeitório e
de seus próprios dormitórios. Nenhum dos novatos jamais havia conhecido outro aposento que não
aqueles. Além do mais, Svetlana nunca havia saído do salão na companhia de algum garoto, quem
dirá de três. O olhar de Falco também expressava alguma surpresa, mas seu bigode espesso
camuflava a maioria dos resquícios dela. O período que conheciam como Latência, quando o ofício era
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interrompido, deveria seguir normalmente, com a inspeção semanal dos novos garotos. Porém,
naquele dia algo mudara e ninguém, além de Svetlana, ainda sabia dizer o motivo.
Quando chegaram aos aposentos de Svetlana, cada um dos garotos recebeu um roupão branco, que
vestiram sem se impor tar. Era curioso reparar a principal diferença entre os três. Um loiro, um r uivo e
um moreno. Entretanto, possuíam quase o mesmo tipo físico: musculatura pouco desenvolvida (ainda
que o pouco fosse torneado), alta estatura e órgãos sexuais rosados e proeminentes. Haviam sido
escolhidos a dedo pela mulher, por alguma razão. Falco fez com que os três se sentassem em uma
área almofadada no chão do quarto, assim como fez Svetlana, após cochichar algo no ouvido de Falco
e receber uma resposta. Ela sorriu ao perceber que por baixo do roupão e das pernas cruzadas dos
rapazes, ainda conseguia enxergar o sexo que pendia em desuso.
“Peço desculpas por tirá-los do ofício sem aviso. Eu sei que vocês ainda estão sob o efeito das
substâncias químicas, mas isso não é realmente problema meu. O asiático que passava mal também
irá se juntar a nós daqui a pouco. Ele responde pelo nome de Min- Ho, mas isso eu presumo que vocês
já saibam.” Ela não fazia contato visual com os garotos, não ainda. Estava com a atenção depos itada
em um tablet que Falco havia lhe entregado. Os dedos em pinça trabalhavam em dar comandos à
tela, e nenhum dos garotos podia ver no que ela trabalhava. O moreno pensou que talvez ela lesse emails. Ela parecia esperar por alguma coisa e foi só quando a por ta do aposento se abriu novamente
que ela desviou o olhar azul do tablet e deixou-o de lado.
Quem entrou foi o novato asiático, Min-Ho, aparentemente recuperado de sua atmosfera
entorpecente. Ainda apresentava uma aparência doente e continuava nu; os três rapazes não
deixaram de perceber o sexo avantajado que balançava levemente. O ruivo precisou esconder uma
ereção. Svetlana nem ligou, apenas sorriu. O asiático também recebeu um roupão branco e se juntou
aos demais. Falco apenas obser vava.
“Agora que os quatro estão aqui, preciso confessar uma coisa.” Seus olhos azuis pela primeira vez se
encontraram com os olhares assustados dos garotos. “Eu estou surpresa. Estou realmente surpresa
com a leva deste ano. Vocês quatro, pelo que eu pude perceber, possuem muito material de trabalho.
Não conheço os motivos pessoas que levaram os senhores a buscar por esta vida, mas estou satisfeita
com a escolha, além de orgulhosa. São poucos os que resolvem trocar uma vida regrada pelo ofício.
Eu me sinto grata por ter vocês ao meu lado. É melhor que se sintam honrados, pois não é todo dia
que eu resolvo acordar pra babar ovo em cima de novatos. Enfim.”
Svetlana desviou o olhar por um instante. Acendeu um charuto e ofereceu aos garotos. Min-Ho fez
cara de nojo, o ruivo e o loiro apenas balançaram a cabeça em negativa. Somente o moreno, Johan,
aceitou. A mulher ofereceu a brasa ao garoto e ele engatinhou rapidamente para perto dela antes de
voltar para a própria almofada. Ela notou que o moreno era o único esperto o sufici ente pra aceitar a
rara regalia. Prosseguiu.
“Sem mais delongas. Eu chamei os quatro aqui para atribuir -lhes uma tarefa especial. Escolhi os
quatro pelos motivos que já expus: vocês são excelentes. Visualmente falando. Também pude obter
algumas opiniões com nossos fregueses sobre o desempenho de cada um dos novatos, e vocês não
ficaram abaixo do que eu espero de um garoto que trabalha pra mim. Nem me dei ao esforço de
verificar os demais. Apesar de não ser um esforço realmente. Enfim.”
Ela suspir ou, parecendo cansada.
“A ver dade é que o estabelecimento precisa de dinheiro. Eu preciso de dinheiro. Os únicos canalhas
que estavam dispostos a investir no nosso trabalho disputam forças com a concorrência e eu estou
absolutamente sem paciência pra agüentar a briga desses cães. Enfim. Meus contatos conseguiram
um senhor que se mostrou disposto a pagar o dobro, ou talvez até o triplo, do que os outr os iriam
pagar para melhorar nossos serviços. Eu sei que isso é muito blábláblá pra vocês, mas eu quero
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deixar os termos claros para todos os envolvidos. O homem em questão também possui um
estabelecimento aqui em Estocolmo e está precisando de novas peles pro ofício que ele oferece.”
Deu um trago profundo e soltou a fumaça sem pressa. Johan a imitou.
“Vocês foram escolhidos para mostrar serviço, mas o ofício que é praticado lá se difere um pouco do
nosso. Lá não se tem tantos privilégios e, pelo que eu sei, ninguém é tratado com educação. É algo
meio bruto.” Ela estremeceu com a ideia. Os rapazes se entreolharam, menos Joha n. “Nós não temos
muito tempo. Vamos pra lá hoje, agora. Quero que vocês tomem um banho e coloquem as roupas
que estarão esperando em minha cama. Vou oferecer a minha suíte, o meu banheiro, então espero
respeito. Não quebrem nada.”
Os quatro já se levantavam quando ela interrompeu o movimento de súbito:
“Esperam, esqueci de algo importante. Se tudo correr bem, vocês trabalharão para mim e para este
homem, por tanto seus pagamentos serão dobrados. Já adianto que as „gorjetas‟ daquele
estabelecimento também são bem gor das. Eles oferecem algo que nenhuma outra casa jamais
ofereceu e os clientes pagam bem pelo ser viço. Não acredito que vocês irão par ticularmente gostar do
que terão de fazer.” Nesse ponto ela também desviou os olhos. “Mas os detalhes eu dou no carro.
Vão se aprontar. E rápido. Não permitirei sexo no banheiro agora. Quando chegarem, liberarei para
que façam o que quiser. Se ainda desejarem.”
Dessa vez ninguém interrompeu o movimento. Os quatro retiraram os roupões na porta da suíte e
adentraram o banheiro. Ainda levavam o cheiro e a textura da relação sexual no corpo, algo que foi
removido rapidamente com bucha e sabão. Falco esperava do lado de fora enquanto os quatro se
banhavam. Svetlana sentava-se em uma poltrona enquanto outro homem arrumava as roupas dos
rapazes. Vapores aromáticos saíam por entre os vãos da porta. A mulher estava pensativa. Baforava a
fumaça do char uto e obser vava o de Johan se queimar no cinzeiro. Resmungou mais para si mesma
que para Falco, que ouvia.
“Se não precisássemos tanto do dinheiro, não enviaria meus melhores novatos pra essa tarefa. Os
mais velhos estão fartos de comer a mesma refeição mesquinha lá no Galpão. Eu mandaria Vasco,
Conrad e os gêmeos, se fosse o caso, mas eles exigiram car ne jovem.”
Não esperou resposta alguma do assistente. Continuou baforando seu charuto e observando a fumaça
que expelia se misturar com os vapores advindos do banheiro, até que o cômodo todo estivesse
enevoado. Falco, que continuava quieto como uma estátua, somente quebrou seu jejum de
movimentos quando deu uma batida impaciente na porta a fim de apressar os garotos. Ele esperava
que não tivessem fazendo nada do que fora impedido pela mulher. Quando estava prestes a abrir a
porta num impulso, Johan lhe poupou o trabalho e saiu com a nudez envolva em uma toalha, seguido
por um Min-Ho ainda mais saudável e também do loiro e do ruivo, que trocavam olhares
preocupados.
“Ah, aí estão vocês.” Svetlana apagou o restante do charuto e se levantou das almofadas, observando
o torso de cada garoto. “Vocês vão precisar se vestir agora, o que é uma pena. Não quero ver
pessoas reclamando na r ua e nem ser processada por atentado ao pudor. Vamos, vistam-se.” Ela
parecia triste enquanto assistia aquela vedação de prazeres. Consultou seu tablet novamente e dessa
vez todos puderam saber do que se tratava sua consulta, pois ela mesma a anunciou. “Nossa carona
chegou. Na limusine do Sr. Bartolomeu – esqueci de dizer que este é o nome do nosso investidor
majoritário – terá comida e bebida, mas os quatro estão impedidos de usufruir disso. Quero o sistema
digestivo de vocês permaneça livre, pelo menos por enquanto. Assim podemos evitar qualque r
acidente indesejado.”
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Sem mais palavras ela deu meia volta e puxou uma fila quase indiana de pessoas, encabeçada por
Johan, que era seguido por Min-Ho e os outros. Falco permaneceu na por ta da suíte de Svetlana.
Aparentemente ele não iria. Assim que saíram na r ua, os quatro gar otos pareceram se surpreender: já
era dia, apesar de o sol ter acabado de despontar no horizonte. A prática do ofício e o uso das
substâncias químicas por alguns eram capazes de tirar a noção temporal de qualquer pessoa. E eles
não pareciam cansados. Entraram no carro preto vestindo o resto de orgulho que conseguiram reunir
e separaram-se de Svetlana, que ocupou o assento ao lado do motorista, longe dos garotos.
Permaneceram os quatro a sós, rodeados de exageros alimentícios e ainda assim, famintos.
“Enfim sozinhos ”, resmungou o loiro. Antes que qualquer um pudesse responder, ele e Johan
começaram a se atracar em um beijo sem intervalos respiratórios enquanto a limusine partia. Min -Ho
desviou os olhos, aparentemente enjoado, quando Johan desnudou o sexo do loiro para se divertir. O
ruivo não sabia se olhava para a rua que há muito não via ou se tentava prestar atenção no que os
outros dois faziam, sem se permitir sustentar mais uma ereção indesejada .
“É proibida a união entre nós. É desfavorável ”, ele resmungou com as mãos entre as pernas.
O loiro respondeu algo entre os lábios de Johan: “Não estamos no salão”, e continuou a lamber e
sugar tudo o que o moreno lhe oferecia. Min-Ho continuou encarando o vidro fumê; tentou puxar
assunto com o ruivo quando eles atingiram a metade do caminho, mas o ruivo não parecia muito a
fim de desviar os olhos daquela cena pra encarar um asiático aparentemente enojado. Se ele
estivesse nu como em momentos antes, naquele quar to, a atenção empregada certamente seria
outra. Nenhum dos quatro sabia o que os aguardava no estabelecimento de Bartolomeu e isso Min-Ho
verbalizou em forma de pergunta momentos depois de o loiro largar de Johan com a boca saciada.
Limparam-se nas mangas do moletom.
“Não sei, mas deve ser coisa boa. Vocês ouviram S vetlana”, Johan respondeu. “O pagamento será
gordo e eu quero mais é que todo o resto se exploda. Vou foder quantos velhos for preciso pra por a
mão nas minhas ver dinhas ”. O Loiro não pareceu muito feliz com o comentário. Virou sua atenção
para fora da janela quando a limusine começou a estacionar em frente a uma porta azul. Estavam em
uma rua sem saída. A porta do carro se abriu e revelo u uma Svetlana quase sorridente que os
conduziu para a rua com um chamado (ela só não quebrou o encanto de seus modos quando
percebeu o que ocorrera entre dois dos garotos por estar na presença de outras pessoas – pessoas
importantes).
Realmente o local não parecia muito convidativo visto de fora. A fachada era simples, uma porta azul
(com um pênis tosco pichado em seu ver niz) encravada em uma parede revestida de ferro velho. O
corredor que se seguiu para dentro do estabelecimento parecia feito de tapeçaria persa ou qualquer
coisa desse tipo, malcheirosa e mofada pelo tempo. As luzes baixas ofereciam uma atmosfera
esfumaçada, que continuou pesada quando todos chegaram a um cômodo não muito menor que o
salão de Svetlana. Ela fez as honras e cumprimentou diversos homens carrancudos, que lançavam
olhares suspeitos para os quatro garotos que passavam em silêncio. Cruzaram várias por tas e mais
corredores até passarem por uma saleta mal iluminada onde algumas mulheres nuas fumavam e
saciavam mais velhos murchos. Os garotos mais uma vez se entreolharam, alguns se perguntando se
teriam que praticar o ofício com mulheres também. Johan achou que não, mas de súbito lem brou-se
de algo que Svetlana dissera no quarto. Os detalhes eu dou no carro. Mas eles e Svetlana seguiram
em assentos separados. Os detalhes não vieram. Deixaram as mulheres e o cômodo para enfim
pararem a marcha em uma sala menor.
“Esses são os garotos?”, perguntou um homem careca. Estava largado em um sofá puído, que talvez
tenha sido vermelho um dia, mas carregava uma cor desbo tada praticamente indefinível. O
revestimento parecia endurecido em alguns locais. O homem, que vestia uma cueca escura e nada
mais, sorriu maliciosamente quando Svetlana respondeu que eram. Manteve seu olhar fixo em Min-
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Ho. “Ótimo. Você, mulher-homem, saia.” Ela saiu, mas não sem antes lançar um olhar encorajador
para os quatro e agradecer ao careca. “Vocês, tirem a roupa. ” O dia estava regado a olhares, mas
nenhum dos quatro garotos permitiu-se encarar um ao outro dessa vez, enquanto retiravam as roupas
oferecidas por Svetlana e mostravam o material de trabalho ao homem do sofá.
Ele se levantou e passou a rodear os rapazes, depois de retirar a cueca e exibir a própria ereção. O
ruivo não tentou esconder a sua, que já despontava mais uma vez. Já Johan achou o homem de certa
forma atraente, mas não se animou muito. “Que delícia”, murmurou o careca entre dentes, passando
a mão no peito de Johan e acariciando o próprio membro. “Vejo que alguns já estão entrando no
clima”, e deu um tapa for te na bunda de Min-Ho, que deu um passo largo pra frente. Seu pênis ereto
balançou na visão do homem. “Que safados! Os caras vão gostar de vocês. Ah, vão vão vão vão”.
Continuou repetindo. “Queria eu poder foder vocês quatro ao mesmo tempo. Ahhhhhhh... Foder!
Foder!” Seus olhos se reviraram nas órbitas. Ele salivava. Passava a mão em tudo que queria e
salivava. Agarrava o pênis de Min-Ho e salivava.
Também salivou quando deixou sua boca bem próxima a de Johan. “Na minha mente, você me beija
com essa boquinha rosada enquanto aquele ali me chupa.” Ele apontava para o ruivo. “O japonês,
filho de uma puta!, com esse pau do tamanho do mundo, fode o loiro bem gostoso. Na minha mente,
o loiro grita o seu nome e você me beija e eu te fodo. Na minha mente. Na minha mente. Na minha
mente eu te fodo até o amanhecer do dia seguinte, bem gostoso. E você geme o nome do loiro em
meus ouvidos. O japonês come o ruivo e ele geme pra mim. Todos nós bebemos do néctar que pulsa
nesses paus. Seus filhos da puta!”. Gritando o xingamento, o careca pegou no pescoço do ruivo e o
lançou direto na parede. Socou a cara do japonês quando ele tentou socorrer o colega de ofício. “Mas
eu não posso! Não posso foder vocês. Porque vocês não são para mim. Sou Bartolomeu, o dono dessa
porra toda, mas não posso usar o produto que eu vou vender. Ah, eu vou vender! Vou fazer dinheiro
com as bundas de vocês. Entrem aí nessa porra de porta, seus viados. Vão comer uns cus e cagar
dinheiro.”
O homem empurrou os quatro à força através de uma porta enferrujada. O aposento do outro lado
era praticamente igual ao anterior, só que no local do sofá puído havia duas grandes camas bem
acolchoadas. Em comparação ao resto do estabelecimento, aquelas camas pareciam ser vir a alguma
realeza. Eram de madeira ornamentada e trazia fofos edredons desarrumados, como se tivessem sido
usadas há pouco. Por outra entrada, dois homens nus apareceram fumando cigarros e gar galhando.
Um deles trazia uma mulher chorosa pendurada em seu ombro. Eles eram gêmeos, Johan percebeu.
Os dois aparentavam mais idade, mas não eram velhos como os outros que tinham visto; possuíam
músculos e poucos pêlos grisalhos cobrindo o sexo e as zonas erógenas de impor tância. Pareciam
grandes executivos de olhos claros. Johan sentiu sua ereção finalmente despontar. Achava que
aqueles eram os clientes, se o careca era Bartolomeu. Ali poderia saciar qualquer uma das vontades
que tinha além daquelas que o loiro saciava. Percebeu que o ruivo também se animara, apesar de
uma mancha arroxeada lhe cobrir o pescoço e o alto da cabeça. Min- Ho aparentava estar assustado,
mas seu pênis tam bém crescia como uma grande ponte a ser erguida. Johan gostava daquilo. Tinha
cheiro de orgia.
Viu um dos gêmeos, o segundo, soltar a mulher nua no chão do quarto e notar a presença dos
garotos. Seu sorriso vacilou por um momento, mas após uma rápida troca de olhares com o irmão,
voltou a ostentar a animação antes tão presente em seus lábios de fumaça. “São vocês os rapazes de
Svetlana”, afirmou o primeiro. “Como eu odeio a raça de vocês.” E não disse mais nada. Partiu pra
cima do loiro e socou uma de suas faces, pra depois pegá-lo com força e meter a ereção por trás do
orgulho do outro enquanto segurava as mãos cruzadas atrás do corpo. Johan não agüentou de tesão.
Queria seguir para o segundo gêmeo e buscar aquele pênis com a boca, mas o que recebeu foi um
“Venha aqui seu canalha”, dito pelo primeir o, que fez o loiro chupar um pouco mais de Johan, ainda
que no carro já o tivesse feito.
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Min- Ho viu o segundo gêmeo puxar-lhe pelo braço e segurar seu pescoço com as duas mãos,
sufocando-o até os olhos lacrimejarem, antes de soltar para que ele tossisse. “Cale a boca!”, e pegou
o ruivo pelas ancas a fim de repetir o mesmo ato do irmão, penetrando o ruivo com aparente raiva,
espumando pela boca. Socou a cara de Min- Ho quando ele ameaçou correr para a porta, mandando o
se masturbar para que ele visse, enquanto gritava insultos. Puxou o ruivo pelos cabelos e o fez engolir
o pênis de Min-Ho, que era grande demais para que se fizesse esconder garganta abaixo. O ruivo
também lacrimejava, mas passou a sentir pelo asiático exatamente aquilo que viera ensaiando em sua
mente desde o quar to de Svetlana. Sua ereção explodiu.
O som de carne batendo em carne se fazia perfeitamente presente no cômodo: era a trilha sonora do
ofício, que acariciava os ouvidos de todos os presentes e trabalhava com suas mentes; a virilha do
primeiro gêmeo batia com força nas nádegas do loiro, que gemia e chupava Johan, que, por sua vez,
recebia sovas esporádicas nas faces e socos no peito. O ruivo chorava ao sentir os prazeres com MinHo tor narem-se realidade e tentava se esquecer do velho que lhe estuprava. Preferia imaginar Min-Ho
lhe violando. O asiático, por sua vez, fazia daquilo tudo um teatro puro, os ossos do ofício que lhe
traria o dinheiro no final do mês. Desejava estar sob o efeito das drogas novamente. Seria mais fácil.
O único que realmente estava aproveitando tudo era Johan, que sentia o loiro lhe drenar as energias
da mesma forma que havia feito tantas vezes antes, escondidos nos dormitórios do Salão. A vontade
que tinha era de unir seu sexo ao do gêmeo e espancar-lhe os olhos azuis a cada sova recebida, mas
a dor que sentia só fazia o ser viço do loiro valer muito mais, e aquela sensação de prazer nenhuma
verdinha do mundo poderia pagar. Permitiu-se levantar o loiro e beijar-lhe com força, depositando
naqueles lábios todo o tesão que sentia pelo homem mais velho. E assim ele receberia mais socos,
mais tapas. Mais prazer. Gargalhou.
Os quatro, no fundo, estavam dispostos a passar por aquilo. Mais tarde, todos saberiam que os
gêmeos eram homofóbicos que sentiram a necessidade de socar garotos, mas também experimentálos ao menos uma vez. Bar tolomeu queria fazer daquilo uma prática comum em seu estabelecimento,
que até aquele dia só trabalhava com mulheres. Svetlana havia os alertado sobre os ser viços
prestados no local. Tinham se acostumado com a vida fácil no salão, as drogas gratuitas e os amores
ilusórios, sempre prontos para mais uma noite de prazer oferecida a todos os pagantes. Contudo, o
ofício agora criado por Bartolomeu era desempenhado em sua mais pura essência. Se não ali, onde
teriam a chance de realmente oferecer algo de diferente? Gar otos eram fáceis de se encontrar em
Estocolmo, mas garotos dispostos a apanhar por dinheiro eram difíceis, e Bartolomeu agora os tinha.
Svetlana receberia sua parte do acordo e todos viveriam felizes. Alguém se importa se eles têm de
sobreviver com violência pra sustentar seus vícios? Svetlana, certamente, não. Afinal, esses são
somente os ossos do ofício.
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