TraTaMeNTo - Braintech

Transcrição

TraTaMeNTo - Braintech
não medicamentoso
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TraTaMeNTo
Para combater as
desordens mentais
e desmistificar
seu diagnóstico, o
Neurofeedback por
Z-scores desponta como
avançada ferramenta
de tratamento pela
normalização da
atividade de áreas e
estruturas cerebrais
disfuncionais
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Neurofeedback
dossiê
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dossiê
o que é
Neurofeedback?
Saiba mais sobre a metodologia não invasiva e não
medicamentosa de tratamento de desordens mentais, que
conta com ampla fundamentação científica e excelentes
resultados clínicos, tanto aqui no Brasil quanto nos EUA,
onde vem sendo aplicada desde os anos 1970
D. Corydon Hammond*, PhD
Leonardo Mascaro**, MS, BCN
O
s trabalhos seminais
de Joe Kamiya, psicólogo e professor da
Universidade de Chicago, que, já em 1962, demonstrava
a possibilidade de controle voluntário das ondas cerebrais, fundaram
o campo do treinamento de ondas
cerebrais, mais tecnicamente conhecido como condicionamento
operante da atividade eletroencefalográfica (EEG) ou, simplesmente,
Neurofeedback. Kamiya tornou-se
o pai do Neurofeedback.
As ondas cerebrais são produzidas em diferentes frequências.
Algumas são rápidas, outras um
tanto lentas. Mas todas são medi36
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das em Hertz (Hz), ou ciclos por
segundo (cps). Um ciclo por segundo pode ser interpretado como
um “pacote” de informação neurológica por segundo.
Assim, em um estado de sonolência, há maior produção de
ondas lentas, de alta amplitude, especialmente nas faixas de Delta e
Theta. Por outro lado, nos estados
de tensão e ansiedade, a atividade
neurológica, em diferentes partes
do cérebro, poderá estar dominada
por frequências excessivamente rá-
pidas na faixa de Beta, ou por um
excesso de atividade ineficiente na
faixa de Alpha, nas áreas frontais
do cérebro, associadas com controle emocional.
E uma ampla gama de desordens mentais, ou neurocomportamentais, como se diz no jargão
mais técnico, tais como déficit
de atenção, fibromialgia e fadiga crônica, depressão, epilepsia,
traumatismos crânio-encefálicos,
derrames, entre outras, tendem
a dever-se, no cérebro, por um
(*) Professor de Medicina Física e Reabilitação, University of Utah
School of Medicine, Salt Lake City, Utah – USA
(**) Brain Tech - Centro de Análise Diagnóstica Funcional e Neurofeedback, São Paulo – Brasil
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Neurofeedback
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De todas as modalidades de avaliação da
atividade cerebral, o maior volume de evidências
cientificamente replicáveis para condições
neurocomportamentais, em psiquiatria, é
fornecida pela eletroencefalografia e pela
eletroencefalografia quantitativa
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iam rebas arap para saber mais
Frequência
Papel funcional no cérebro
D elta (0.5-3.5Hz)
Sono profundo e recuperador
Estado de “stand-by” neurológico com função
recuperativa
Theta (4-7Hz)
Processamento e armazenamento da informação
emocional subconsciente
Sincronização da atividade entre duas áreas cerebrais
que desejem se comunicar
Alpha (8-14Hz)
Relaxamento
Formação de imagens na mente
B eta (15-30Hz)
Atividade intelectual, alerta e interação com o ambiente
Gamma
Atenção intensamente focada
Transferência rápida de informações entre diferentes
áreas do cérebro
excesso de ondas lentas, normalmente nas faixas de Delta, Theta
e até mesmo de Alpha.
Quando uma quantidade excessiva de ondas lentas está presente em áreas de função executiva (lobos frontais), no cérebro,
desempenhar tarefas cognitivas
mais sofisticadas, como memória e
raciocínio abstrato, ou mesmo controlar a atenção e até as oscilações
de humor, ou um quadro de impulsividade, torna-se um verdadeiro
desafio. Essas pessoas terão problemas de atenção e concentração
e eficiência intelectual diminuídas.
Portanto, fica claro que pode
haver extrema complexidade na
forma como o cérebro opera.
Pesquisas têm demonstrado
que há razoável heterogeneidade
nos padrões neurológicos eletroencefalográficos (EEG) associados
com diferentes condições diagnósticas, como TOC, ansiedade,
ou déficit de atenção. E nenhuma
dessas condições pode ser diagnosticada apenas pela observação clinica ou comportamental.
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Avaliação Inicial
H
á mais de uma década, Hughes e John afirmaram que,
de todas as modalidades de avaliação da atividade cerebral, como
PET, SPECT ou f MRI (Ressonância Magnética Funcional), o maior
volume de evidências cientificamente replicáveis para condições
neurocomportamentais, em psi-
quiatria, é fornecida por estudos
de eletroencefalografia (EEG) e
eletroencefalografia quantitativa
(QEEG), que envolve o uso de medidas estatísticas de normalidade
para avaliação de desregulações
neurológicas identificadas, conforme veremos mais adiante.
Além disso, em 2009, Corydon
Hammond, co-autor do presente
artigo e ex-presidente da Sociedade
Internacional para Neurofeedback
e Pesquisa (International Society
for Neurofeedback & Research –
ISNR), publicou um estudo de revisão da literatura na área em que
afirma que: “...as categorias diagnósticas e os sintomas individuais
nem sempre são associados com
acervo do Dr. Thomas F. Collura (BrainMaster Technologies, Inc)
(qualquer atividade
acima de 30H z)
Pesquisas têm
demonstrado
que há razoável
heterogeneidade nos
padrões neurológicos
eletroencefalográficos
associados a diferentes
diagnósticos
A análise eletroencefalográfica (EEG) da atividade cerebral de superfície e o exame de tomografia
funcional da atividade de áreas e estruturas profundas do cérebro permitem determinar a natureza do
comprometimento ou desordem neurocomportamental existente
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As frequências cerebrais
Neurofeedback
divulgação
os mesmos padrões neurológicos
(…). Obviamente, resta apenas
uma grande quantidade de adivinhação se tenta-se inferir o funcionamento cerebral de uma pessoa
baseando-se meramente nos sintomas ou mesmo no diagnóstico clinicamente recebido, trazidos por
um paciente. Assim, a defesa em
prol de uma tomada de decisões
concernentes à modificação da atividade neurológica, baseada simplesmente em generalizações obtidas da literatura em QEEG (a qual,
tem sido demonstrado, apresenta
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• Leitura da atividade elétrica •
Neurofeedback nada mais é que o
treinamento por sinalização sonora
e visual da atividade de neurônios
de áreas e estruturas do cérebro
que apresentem comprometimentos
funcionais levando, com isso, à
modificação desta atividade rumo
à sua normalização. O processo é
não invasivo e não medicamentoso e
parte da leitura da atividade elétrica
(EEG) em curso dos neurônios que se
deseja treinar. Esta leitura é feita por
eletrodos colocados sobre o couro
cabeludo do paciente e ligados a um
computador. O computador monitora
a atividade neurológica em tempo
real e sinaliza, sonora e visualmente,
de acordo com parâmetros de treino
estabelecidos, e baseados em valores
normativos de referência para a idade
e sexo do paciente, quando estas áreas
cerebrais produzem o tipo de atividade
desejado, isto é, quando a atividade
destes agrupamentos neurológicos
adentra uma faixa de normalidade.
esta é a natureza do condicionamento
operante de ondas cerebrais,
ou Neurofeedback.
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Uma vez determinados os protocolos de treino neurológico, absolutamente individualizados e definidos
de acordo com as necessidades relativas às desregulações neurológicas do paciente, inicia-se o
treinamento das ondas cerebrais
O maior volume de evidências cientificamente
replicáveis para condições neurocomportamentais,
em psiquiatria, é fornecida pela eletroencefalografia
considerável diversidade), ao invés
de fazê-lo a partir de uma avaliação
individualizada e cientificamente
aceitável, seria, para dizer o mínimo, difícil de sustentar.”
Assim sendo, a avaliação da
atividade cerebral, realizada antes
do início do tratamento, que parte
da análise conjugada dos padrões
eletroencefalográficos produzidos
por cada desordem, o que envolve
informações relativas ao exame de
assinaturas neurológicas (Ayers,
M. E., Montgomery, P. S., 2007),
os mapas de distribuição topográfica da atividade cerebral de
superfície (QEEG), e o exame de
tomografia funcional da atividade
de áreas e estruturas profundas do
cérebro (LOR ETA), permitem determinar, de forma clara e objetiva,
diante de que comprometimento
ou desordem neurocomportamental se está, confirmando ou não
diagnósticos anteriormente recebidos, além de permitir a elaboração
de protocolos específicos e individualizados de treinamento neurológico envolvendo os parâmetros
de atividade cerebral que eventualmente apresentem comprometimentos identificados.
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iam rebas arap para saber mais
E agora que compreendemos
a importância de se realizar uma
cuidadosa avaliação inicial da atividade neurológica do paciente,
antes de seu tratamento, podemos
seguir adiante e entender a verdadeira natureza do tratamento por
treinamento neurológico de ondas
cerebrais, o Neurofeedback.
O Neurofeedback oferece
ao cérebro uma concreta
possibilidade de reabilitação
funcional, sendo eficaz no
tratamento de desordens
neurocomportamentais
como ansiedade,
depressão, déficit de
atenção e TOC (transtorno
obsessivo-compulsivo)
O Tratamento
U
ma vez determinados os protocolos de treino neurológico,
absolutamente individualizados e
definidos de acordo com as necessidades individuais relativas às desregulações neurológicas que cada
paciente possui, e que somente a
avaliação neurológica inicial, nos
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moldes já expostos, tem condição
de identificar, inicia-se o tratamento por treinamento de ondas cerebrais, o Neurofeedback.
Aliás, a importância da individualização dos protocolos de
tratamento, elaborados a partir
da avaliação eletroencefalográfica
inicial, foi abordada em dois estudos sobre o uso do Neurofeedback
no tratamento de déficit de atenção, publicados nos anos de 2009
e 2012. Martijn Wilco Arns, PhD,
pesquisador do Instituto Brainclinics, na Holanda, apontou as
falhas em estudos científicos que
não realizavam, até então, esse tipo
de avaliação preliminar, incorrendo no erro da adoção de protocolos genéricos, pré-estabelecidos, e
baseados tão somente em pressupostos definidos para cada condi-
ção. Nas palavras do autor (Arns
et al, 2012): “...os protocolos de
Neurofeedback utilizados foram
elaborados levando-se em conta as
deficiências funcionais de cada indivíduo. Quando consideramos o
déficit de atenção (DDAH) como
a condição a ser estudada, esta
abordagem praticamente dobrou
o nível de eficácia do treinamento
neurológico por Neurofeedback
sobre os problemas de impulsividade e de deficiências atencionais:
67% dos pacientes responderam
bem ao tratamento, com mais de
50% de redução dos sintomas.
Mais importante ainda, o fator de
impacto atribuído a estes estudos,
de 1.8 (uma medida do alcance e
da relevância clínica dos efeitos do
tratamento), foi quase o dobro do
atribuído a estudos anteriores.”.
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• funcionamento cerebral •
os Z-scores são medidas estatísticas
de desvio em relação a uma média
normativa para a idade e sexo do
paciente, que servem para balizar,
de forma instantânea, o treinamento
da atividade neurológica em
curso, sinalizando quando esta
adentra padrões de normalidade,
identificados, medidos e comparados
estatisticamente conforme a atividade
neurológica acontece. Desta forma,
o cérebro aprende dinamicamente a
corrigir comprometimentos funcionais
que nascem de desregulações da
atividade neurológica, reorientando
sua fisiologia rumo a padrões de
normalidade, com a consequente
redução ou eliminação dos
comprometimentos funcionais
inicialmente existentes, levando ao
resgate de um perfeito funcionamento
cerebral e, portanto, à superação de
comprometimentos tanto neurológicos
quanto psicológicos.
O grande problema, atualmente, nas abordagens
tradicionais em Neurofeedback é exatamente
a falta destas avaliações funcionais preliminares
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regulações neurológicas existentes, a efetiva condição de cada paciente, o que garante uma análise
diagnóstica efetivamente segura,
que permite, como já mencionado, confirmar ou não diagnósticos
anteriormente recebidos, além de
viabilizar a elaboração de protocolos específicos e individualizados de treinamento neurológico,
que maximizam os resultados clínicos obtidos.
E isto é absolutamente fundamental, já que o grande problema, atualmente, nas abordagens
tradicionais em Neurofeedback é
exatamente a falta destas avaliações funcionais preliminares, que
permitem identificar precisa e
concretamente, com base nas des-
Avanços
O
s mais recentes avanços
científicos na área do treinamento neurológico levaram ao
desenvolvimento da metodologia
de Neurofeedback por Z-scores.
O treino visa à modificação progressiva da atividade neurológica,
rumo a padrões de normalidade,
com a consequente e paulatina redução ou eliminação dos comprometimentos funcionais até então
existentes. Com isso resgata-se um
funcionamento cerebral livre de
comprometimentos, tanto neurológicos quanto psicológicos.
A literatura na área demonstra
que o Neurofeedback por Z-scores
produz melhorias significativas, de
diferentes desordens mentais, com
índices de sucesso expressivos, da
ordem de 75-80% dos casos.
Assim, o Neurofeedback oferece
ao cérebro uma concreta possibilidade de reabilitação funcional, seja
para desordens neurocomportamentais, como ansiedade, depressão,
déficit de atenção, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) em suas
Neurofeedback
Os mais recentes
avanços científicos na
área do treinamento
neurológico levaram
ao desenvolvimento
da metodologia de
Neurofeedback por
Z-scores
O Neurofeedback também possibilita melhora em comprometimentos cognitivos, como memória, e funcionais, como de reabilitação da fala ou da recuperação
motora do movimento de um membro
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Reconhecimento
M
ais de uma década atrás,
Frank H. Duffy, MD, professor e neuropediatra da Harvard
Medical School, declarou no periódico Clinical Electroencephalography que a literatura científica
já havia sugerido que o neurofeedback “deveria desempenhar um
papel terapêutico importante em
muitas áreas desafiadoras. Em minha opinião, se qualquer medicação tivesse demonstrado tão amplo espectro de eficácia [quanto o
faz o neurofeedback], esta medicação seria universalmente aceita
e amplamente utilizada.”
Muito se pergunta sobre a
existência de fundamentação
científica para a técnica de Neurofeedback. Realmente, no Brasil, o
Neurofeedback ainda está se consolidando como opção reconhecida de tratamento das chamadas
O Neurofeedback por Z-scores produz
melhorias significativas, de diferentes
desordens mentais, com índices de sucesso
expressivos, da ordem de 75–80%
A importância da individualização dos protocolos de tratamento, elaborados a partir da avaliação
eletroencefalográfica inicial, foi abordada em dois estudos sobre o uso do Neurofeedback no
tratamento de déficit de atenção
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• Novidade no brasil •
Apontado como pioneiro do
Neurofeedback no Brasil, o Psicólogo
e Mestre em Neurociências leonardo
Mascaro conheceu a técnica nos EUA,
quando teve a oportunidade de
obter sólida formação no
reconhecimento dos padrões
eletroencefalográficos produzidos
pelas diferentes desordens mentais e
sua modificação por condicionamento
operante de ondas cerebrais,
estudando com algumas das
principais referências no campo,
como a Dra. Margaret Ayers,
Anna Wise, e Joel Lubar.
Atualmente dirige a clínica Brain
Tech, o primeiro Centro Avançado
de análise Diagnóstica Funcional e
Treinamento da atividade cerebral
por Neurofeedback por Z-scores,
realizando a identificação precisa, pela
detecção de padrões neurológicos
específicos, de uma vasta gama de
distúrbios e comprometimentos
neurológicos e psicológicos, bem
como seu tratamento,
por Neurofeedback, de forma não
invasiva e não medicamentosa.
desordens neurocomportamentais, como ansiedade, depressão,
déficit de atenção, dislexia, insônia, TOC, etc.
Todavia, não podemos deixar
de considerar que a técnica já perdura por mais de 50 anos nos Estados Unidos, país de sua origem.
Desde a década de 1970, centenas de estudos científicos têm
sido publicados apresentando os
resultados do Neurofeedback. Estes estudos demonstraram como a
avaliação quantitativa da atividade eletroencefalográfica (QEEG)
permite uma adequada avaliação
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várias formas, dislexia, insônia, problemas de aprendizagem, além de epilepsia, comprometimentos cognitivos, como memória,
e funcionais, como de reabilitação
da fala ou da recuperação motora do
movimento de um membro, normalmente presentes em casos de traumatismo crânio-encefálico, derrame
ou quadros isquêmicos, e mesmo de
autismo.
Tudo isso pelo recondicionamento dos padrões de atividade elétrica cerebral, sem o uso de medicamentos, e de forma não invasiva.
Neurofeedback
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Desde a década de
1970, centenas de
estudos científicos
têm sido publicados
apresentando os
resultados do
Neurofeedback
de uma ampla gama de desordens
neurocomportamentais. E apenas
para listar alguns, vale mencionar
as seguintes publicações científicas: Alper, Prichep, Kowalik,
Rosenthal, & John, 1998; Amen
et al., 2011; Barry, Clarke, Johnstone, McCarthy, & Selikowitz,
2009; Clarke, Barry, McCarthy,
& Selikowitz, 2001; Clarke et al.,
2007; Harris et al., 2001; Hoffman et al., 1999; Hughes & John,
1999; Newton et al., 2004; Thatcher, 2010; Thatcher et al.,1999.
Em estudo publicado em
2010, Robert W. Thatcher, diretor do NeuroImaging Laboratory
– Bay Pines VA Medical Center,
na Flórida, e professor adjunto
do Departamento de Neurologia
da Universidade do Sul da Flórida, além de integrante do Comitê
Consultivo do Projeto de Mapeamento Cerebral Humano, dos
Institutos de Saúde Mental nos
Estados Unidos, publicou estudo
recente em que apresenta abundante evidência sobre a alta confiabilidade e eficácia do uso do
EEG na avaliação funcional e no
tratamento, por Neurofeedback,
para uma série de condições.
Thatcher também publicou,
em 2013, importante artigo, incluído no Psychology Progress Series
daquele ano, em que apresenta as
sólidas bases científicas e os mais
recentes avanços no Neurofeedback por Z-scores, especialmente
no que diz respeito à inclusão de
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A técnica é recente no Brasil, mas já perdura por mais de 50 anos nos Estados Unidos, país de sua origem
variáveis de conectividade, que envolvem redes específicas dedicadas
a uma série de funções, no cérebro.
Além disso, em outubro de
2012, a American Academy of
Pediatrics considerou o Neurofeedback como o tratamento disponível para Déficit de Atenção
(DDA/DDAH) com mais alto nível de evidência científica.
Este é o Neurofeedback, uma
metodologia não invasiva e não
medicamentosa de tratamento de
desordens mentais, solidamente
fundamentado cientificamente, e
que, como veremos nos próximos
artigos, apresenta excelentes resultados clínicos, sendo um campo de
conhecimento extremamente ativo, que vem evoluindo como poucas áreas do conhecimento humano nos últimos anos.
referêNciaS
Kamiya, J. (2011). The first communications about operant conditioning of the EEG. Journal
of Neurotherapy, 15 (1), 65–73
Hammond, D. C., 2010. The need for individualization in neurofeedback: Heterogeneity in
QEEG patterns associated with diagnoses and symptoms. Applied Psychophysiology &
Biofeedback, 35 (1), 31–36
Hughes, J. R., & John, E. R., 1999. Conventional and quantitative electroencephalography in
psychiatry. Journal of Neuropsychiatry & Clinical Neuroscience, 11, 190–208
Arns, M., Drinkenburg, W. H. I. M., & Kenemans, J. L., 2012. The effects of qeeG-informed
neurofeedback in ADHD: An open label pilot study. Applied Psychophysiology and
Biofeedback. doi:10.1007/s10484-012-9191-4;
Arns, M., de Ridder, S., Strehl, U., Breteler, M., & Coenen, A., 2009. Efficacy of
neurofeedback treatment in ADHD: The effects on inattention, impulsivity and
hyperactivity: A meta-analysis. Clinical EEG and Neuroscience, 40 (3), 180–9
Duffy, F. H., 2000. The state of EEG biofeedback therapy (EEG operant conditioning) in
2000: An editor’s opinion. Clinical Electroencephalography, 31 (1), v–viii
Thatcher, R.W. (2010). Validity and reliability of quantitative electroencephalography
(qEEG). Journal of Neurotherapy, 14, 122–152
Robert W. Thatcher PhD, 2013. Latest Developments in Live Z-Score Training: Symptom
Check List, Phase Reset, and Loreta Z-Score Biofeedback. Journal of Neurotherapy:
Investigations in Neuromodulation, Neurofeedback and Applied Neuroscience 17(1):69-87
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Neurofeedback por
iMaGeM no tratamento de
DeSorDeNS MeNTaiS
Os sistemas NFBI - ER são a mais nova e sofisticada
modalidade de tratamento das chamadas condições
neurocomportamentais, permitindo que, de forma não invasiva
e não medicamentosa, um horizonte de possibilidades e
aplicações clínicas esteja ao alcance de todos
Por Thomas F. Collura*, Ph.D., QEEG-D, BCN, LPC
Leonardo Mascaro**, MS, BCN
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nível em saúde mental. Ainda assim,
e apesar destes grandes avanços, a realidade da prática clínica, na maioria
dos consultórios, mantém-se à margem destes novos tempos.
O fato é que os relatos trazidos
pelos próprios pacientes sobre sua
condição, além da própria observação
clínica realizada pelos profissionais
de saúde, responsáveis por avaliar e
tratar as chamadas desordens neurocomportamentais, tem servido quase
que exclusivamente para a identificação diagnóstica de uma condição.
No entanto, todos sabemos os limites
do diagnóstico baseado na mera observação comportamental, que não
nos fornece os elementos necessários
para determinar o que se passa inter-
namente – i.e. funcionalmente – no
cérebro de uma pessoa.
É nesse contexto que o campo
da neuroimagem, que até muito recentemente tinha pouca relevância
ou impacto direto sobre a clínica em
saúde mental, vem ganhando relevância como ferramenta imprescindível para a adequada avaliação de
uma dada condição.
Equipamentos como os de Ressonância Magnética (MRI), Ressonância Magnética Funcional
(fMRI), Tomografia Computadorizada (CT), ou mesmo a Tomografi a por Emissão de Pósitrons (PET)
normalmente apresentam custos que
facilmente superam a casa dos milhões, isto sem contar as instalações
(*) BrainMaster Technologies, Inc., and the Brain Enrichment Center, Bedford, OH – USA
(**) Brain Tech – Centro de Análise Diagnóstica Funcional e Neurofeedback, São Paulo – Brasil
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A
tualmente, há uma crescente conscientização da
importância da saúde do
cérebro – e mesmo do
fitness cerebral – não só para o bem-estar do indivíduo, mas até mesmo
para o fortalecimento das sociedades
e civilizações. Uma quantidade significativa de tempo e de investimentos
têm sido destinadas à redução do estresse, seja ele mental ou emocional,
bem como no desenvolvimento do
desempenho cognitivo e da performance nos mais diferentes setores da
atividade humana.
Um aspecto importante desta
discussão é o efeito do estresse ou do
trauma sobre a saúde, e as desordens
mentais daí resultantes. Hoje, já está
claro que as neurociências têm grande potencial para fornecer os elementos conceituais e as ferramentas práticas para o trabalho clínico de alto
Neurofeedback
Equipamentos como os de Ressonância Magnética (MRI), Ressonância Magnética Funcional (fMRI), Tomografia Computadorizada (CT) e a Tomografia por
Emissão de Pósitrons (PET) apresentam custos que superam a casa dos milhões
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Uma quantidade significativa de tempo e de
investimentos têm sido destinadas à redução
do estresse, seja ele mental ou emocional
e pessoal técnico necessário para
fornecer estes serviços, que chegam
a mais de mil dólares por paciente.
Mais ainda, estas modalidades, ainda que sejam extremamente úteis no
ambiente acadêmico e de pesquisa,
são acessíveis apenas nos centros
hospitalares e universitários mais ricos e bem equipados.
Esta situação, no entanto, vem
mudando com a crescente disponiwww.portalcienciaevida.com.br
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bilidade de métodos de imagem, de
baixo custo e altíssima velocidade,
baseados na leitura eletroencefalográfica (EEG), com aplicações tanto
ligadas à avaliação funcional da atividade cerebral, permitindo a iden
tificação e localização precisas de
desregulações neurológicas envolvidas nos mais diferentes quadros de
desordens mentais, quanto ao tratamento propriamente dito destas
condições, de forma não invasiva e
não medicamentosa.
O avanço das imagens
U
ma nova modalidade de varredura e treino da atividade cerebral
in vivo vem surgindo: é o Neurofeedback por Imagem (NFBI).
Essa técnica envolve a aplicação
ao dado eletroencefalográfico de
superfície (EEG), no cérebro, de algoritmos matemáticos sofisticadíssimos, que demandam elevada capacidade de computação de um número
substancial de elementos volumétricos (“voxels”), para viabilizar a
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iam rebas arap para saber mais
rap
S
ó para que se tenha uma ideia, na década de 1980, um sistema simples de leitura
eletroencefalográfica (EEG) podia facilmente custar mais de vinte mil dólares.
Na época, os poucos sistemas computadorizados de EEG quantitativo (QEEG) em
operação, que permitem uma leitura de toda a superfície cortical, em uma série de
parâmetros neurológicos, eram ainda mais caros, chegando a custar de 50 a 100 mil
dólares! Assim, um sistema desses podia facilmente custar tanto quanto um carro
esportivo. E nenhum desses equipamentos permitia a efetiva obtenção de imagens do
cérebro em atividade, o que naquela época envolveria o uso combinado de tecnologias
como tomografia computadorizada (CT), ressonância magnética (MRI), e magneto
eletroencefalografia (MEG), a custo estimado de mais de um milhão de dólares!
Hoje em dia, por menos de vinte mil dólares, é possível comprar um sistema que
oferece a leitura eletroencefalográfica (EEG) combinada com técnicas de análise
quantitativa (QEEG), o que permite a observação e avaliação funcional da atividade
neurológica, em qualquer área ou estrutura cortical do cérebro.
Assim, estes sistemas servem não só para avaliação funcional, com a apresentação em
alta resolução (mais de 6.000 voxels) da imagem tridimensional, em tempo real, do
cérebro em plena atividade, mas também seu uso no tratamento de desordens mentais,
o que envolve o treinamento, por condicionamento operante de ondas cerebrais (do
inglês EEG Operant Conditioning), também conhecido como Neurofeedback, das áreas
ou regiões cerebrais que apresentem atividade desrregulada ou disfuncional.
Ao combinarmos o EEG, o QEEG, o sLORETA e o Neurofeedback em um modelo de
aplicação prática, viabilizamos uma abordagem integrada e extremamente avançada
de avaliação e tratamento em saúde mental, permitindo que se observe o que
se passa em redes cerebrais específicas, ou até mesmo em uma bem delimitada
região de interesse (ROI), no cérebro. Ao relacionar, simultaneamente e com extrema
precisão, os padrões de atividade neurológica desregulada com a observação clínica
e com as queixas e sintomas trazidos e relatados pelo paciente, esta abordagem
ganha valor inestimável na aplicação clinica.
Enquanto toda essa tecnologia de neuroimagem funcional parece absolutamente
nova para o campo da saúde mental, a verdade é que está fundada em mais de cem
anos de ciência e experiência clínica. Só para que se tenha uma ideia, o conceito de
função cerebral localizada foi estabelecido nos primeiros anos da neurociência clínica,
época de Brodmann, Wernike, Broca e Jackson, entre outros.
reconstrução em 3-D da atividade
cerebral em curso e, com isso, apresentar, em forma de imagem tridimensional na tela, o cérebro em plena atividade.
Isto funciona exatamente como as
telas de TV de hoje em dia. Só que, nas
TV’s, falamos em pixels, isto é, pontos
da tela. E sabemos que, quanto mais
pixels, maior a resolução do monitor e,
portanto, melhor a sua imagem. Para
produzir uma imagem de alta resolução tipo NFBI é necessário dispor de
um grande número de voxels. E, quan46
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Hoje, as neurociências
têm grande potencial
para fornecer os
elementos conceituais e
as ferramentas práticas
para o trabalho clínico
de alto nível
to mais voxels são produzidos, melhor
é a imagem tridimensional obtida do
cérebro em atividade.
Métodos
O
método de análise dos padrões
de atividade eletroencefalográfica (EEG) por Z-scores consiste em
adotar valores de referência populacionais, estatisticamente determinados,
como parâmetros de comparação, de
modo a que se possa observar, de forma
imediata, em que medida a atividade
cerebral de um indivíduo, em qualquer
área ou estrutura cortical que se deseje, difere daquela produzida por um
cérebro “normal”. E por normal deve-se entender a atividade produzida por
um cérebro que não possua excessos ou
deficiências funcionais, e que não esteja sofrendo de nenhuma desordem ou
desregulação.
Assim, os valores normativos de
referência, definidos em função da
idade e sexo do paciente, com valores
O EEG. Leitura do EEG na tela do computador. A marca em verde indica o intervalo exato do EEG que
foi selecionado para análise e produção de imagens neurofuncionais.
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Pulo no passado
Neurofeedback
rap para saber mais
Plena atividade
A
ilustração a seguir (Fig. 2) é um exemplo desta nova modalidade de
Neurofeedback por Imagem, o NFBI - ER, na qual se pode observar uma
imagem de sLORETA produzida pela ativação de uma região cerebral. No caso, o
lóbulo parietal superior, no lobo parietal, é visto em plena atividade. Os elementos
volumétricos tridimensionais (voxels) representam a quantidade estimada de atividade
neurológica em curso, cada um com tamanho aproximado de 5 milímetros.
Esta imagem fornece um modelo de representação tridimensional do cérebro
vivo e em atividade, podendo ser rotacionada, aproximada, ou modificada, para
permitir a melhor vista da área ou estrutura cerebral de interesse (ROI), enquanto
simultaneamente apresenta o grau de atividade (ou inatividade) na região, o que
funciona como informação de balizamento para o cérebro em treino. Neste
caso, a cor laranja avermelhada indica atividade com desregulação de mais de
dois desvios-padrão acima da média normativa para a idade sexo do paciente,
conforme régua colorida no canto superior direito da imagem.
Localização no Córtex:
Lóbulo Parietal Superior
Descrição:
Córtex de Associação
Somatosensorial
Principais Atribuições:
Processamento e Associação
Somatosensorial
Sintomas de Desregulação
imagens: shutterstock/divulgação
Funcional:
Percepção Espacial
e Somatosensorial
Comprometida, Percepção
da Fala Comprometida, Dor,
Fibromialgia, Problemas de
Equilíbrio, Problemas de
Reconhecimento do Toque,
Sensibilidade Tátil e da Pele
Diminuídas, Visão Embaçada
Uma imagem em 3-D da ativação cerebral em curso, permitindo
a avaliação funcional pela identificação e localização precisas de
desregulações neurológicas envolvidas nos mais diferentes quadros
de desordens mentais, bem como seu tratamento por treinamento
neurológico. Aqui, a imagem das estruturas cerebrais em plena atividade
é o próprio sinal de feedback para o cérebro em treino.
específicos para cada área e estrutura
cerebral que se considere, representam
este cérebro “normal”, que efetivamente baliza o treinamento do cérebro
do paciente em cada sessão de neurofeedback por Z-scores.
A obtenção de imagens a partir da
metodologia de tratamento do dado
neurológico por Z-scores é inovadora
na medida em que cada um dos milhares de elementos volumétricos (“voxels”) computados no exame de EEG
é instantaneamente convertido em
uma cor que reflita o nível de ativação
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da porção cerebral que cada um desses
pontos representa e, por tabela, seu grau
de dispersão em relação à média normativa para a idade e sexo do paciente.
Ao utilizarmos a tela de treino,
com a atividade neurológica em curso, esta passa a ser o próprio sinal de
feedback que, funcionando como um
espelho perfeito para o cérebro, fornece informação em tempo real, isto é,
instantânea, sobre a natureza de sua
atividade. Falamos, então, de Neurofeedback por Imagem de Eventos Relacionados (NFBI – ER).
•
efeito loreta
•
Até o desenvolvimento da Tomografia
Eletromagnética de Baixa Resolução
(LORETA), tudo isso não passava de
sonho. A implementação original do
LORETA possuía resolução de 2.000
voxels. Já sua versão mais avançada,
conhecida como sLORETA (do inglês
“standardized LORETA”), possui
resolução três vezes maior, de 6.000
voxels. Assim, no sLORETA, cada
voxel, isto é, cada medida volumétrica
da atividade cerebral, é convertido
em uma leitura precisa de amplitude
da atividade elétrica dos neurônios
nas diferentes regiões cerebrais, o
que produz uma imagem colorida
de altíssima resolução, em 3-D, do
cérebro em plena atividade. Os sistemas
NFBI fazem uso de processamento
matemático extremamente sofisticado e
complexo do EEG, de modo a permitir a
apresentação da imagem tridimensional
do cérebro em plena atividade.
Portanto, nos sistemas NFBI –
ER, em que se treina o cérebro visando a correção de desregulações
identificadas na avaliação funcional
da atividade eletroencefalográfica,
o feedback torna-se a própria apresentação, em tempo real, na tela de
vídeo diante nós, de nossa atividade
cerebral o que, quando associada à
sinalização precisa sobre a adequação ou não desta atividade, em função de parâmetros de treino estatisticamente determinados, faz desta
ferramenta excepcional o próximo
passo em termos de monitoramento,
avaliação, e treinamento da atividade cerebral para o tratamento de
uma vasta gama de condições, como
depressão, ansiedade, TOC, déficit
de atenção, entre outras.
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dossiê
Neurofeedback
no TraTaMeNTo
Epilepsia, Enxaqueca,
Ansiedade e Insônia
Tanto enxaqueca quanto crises epiléticas
têm a presença excessiva de frequências lentas, e ambas
podem ser “geradas” a partir de várias partes do cérebro.
Conheça algumas formas de tratamento atualmente
disponíveis, mesmo para crianças em tenra idade
Por Merlyn Hurd*, PhD
Leonardo Mascaro**, MS, BCN
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recusavam em considerar tal opção.
Quando chegou para sua primeira
sessão de treinamento neurológico
por Neurofeedback, apresentava
baixo tônus muscular, estava em
cadeira de rodas, ingeria apenas alimentos liquefeitos e mantinha parco contato visual.
Para o treinamento neurológico
por Neurofeedback dessa criança
Merlyn utilizou o protocolo Sterman para convulsões, que envolve
facilitar a atividade sensório-motora (12-15 Hz) em C4 (Sistema Inter-
nacional 10-20), e inibir a atividade,
tanto em Theta (4-8 Hz) quanto
em High Beta (18-25Hz). O treinamento acontecia diariamente, duas
vezes por dia, durante 15 minutos
em cada sessão. Como sinal de feedback, o display de vídeo apresentava uma imagem de um leque colorido que se abria toda a vez que os
neurônios em treino produziam as
frequências desejadas, fechando-se
novamente quando não. O menino
adorava o que, para ele, era uma divertida brincadeira. No total, foram
(*) Coeditora da Revista NeuroConnections, publicação adjunta da Association for Applied
Psychophysiology and Biofeedback (AAPB) – Neurofeedback Division, em conjunto com a
International Society for Neurofeedback & Research – ISNR
(**) Brain Tech – Centro de Análise Diagnóstica Funcional e Neurofeedback, São Paulo – Brasil
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imagens: shutterstock
C
rianças com quadros
epiléticos evidentes são
facilmente diagnosticadas. Já os demais casos
acabam sendo errônea e comumente
diagnosticados na vala do déficit de
atenção ou, até mesmo, na de crianças
problema, que não querem estudar.
O cliente mais novo com quadro de epilepsia que Merlyn Hurd,
coautora do presente artigo atendeu
até a presente data, é o de um menino de pouco menos de três anos
de idade com um quadro epiléptico
severo, com média documentada de
40 crises por hora. Seu nascimento
foi traumático, tendo sido carinhosa e amorosamente cuidado por
seus pais desde então. Ele nunca havia sido medicado, já que os pais se
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Neurofeedback
É frequente a observação de que enxaquecas e crises epilépticas estão em extremos opostos. Há controvérsia sobre se existem verdadeiros “disparadores”
para ambas. Mas, parece haver consenso de que o estresse poderia exacerbar estas condições
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iam rebas arap para saber mais
A
baixo, pode-se ver um mapa estatístico de magnitude para Theta (4-8
Hz), uma frequência cerebral lenta, obtido a partir da base de dados
normativa Sterman-Kaiser. Uma base de dados normativa é composta de
médias populacionais para diferentes idades e ambos os sexos, apresentando
valores de referência de normalidade, isto é, normativos, estatisticamente
determinados, para uma série de parâmetros de atividade cerebral.
E ainda que a base de dados Sterman-Kaiser não inclua crianças abaixo de
seis anos, ela foi utilizada para que se pudesse ter uma ideia de onde o foco
de irritativo, de atividade epiléptica, no cérebro deste menino, se encontrava.
As áreas em rosa representam mais de dois desvios-padrão acima da média
normativa considerada, para a frequência de Theta, que é normalmente
associada com atividade epiléptica nesta base de dados. E, como pode ser
visto, há predominância de atividade lentificada por toda a superfície cortical,
isto é, do cérebro. A única exceção é a área somatossensorial, que apresenta
menor grau de desregulação, com menos de dois desvios-padrão acima da
média normativa em questão.
Mapa estatístico de magnitude para Theta (4-8 Hz) , com mais de 2 desvios-padrão acima da média
normativa, por toda a superfície cerebral, incluindo o Giro do Cíngulo.
onze meses de treinamento, durante os quais o número de crises epilépticas diminuiu de aproximadamente 40 por hora, para uma a duas
por semana. Seu tônus muscular,
agora, havia melhorado a tal ponto
que já caminhava amparado na escola, alimentando-se normalmente.
No ano passado, já idos 7 anos de
seu tratamento, em contato com os
pais, Merlyn descobre que ele já não
tinha mais crises, e que não as havia
tido já há anos.
O intuito em apresentar esse caso
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foi demonstrar como crianças, mesmo muito novas, podem se beneficiar do treinamento neurológico por
Neurofeedback, resgatando a possibilidade de uma vida proveitosa.
Enxaquecas e epilepsia
É
frequente a observação de que
enxaquecas e crises epilépticas
estão em extremos opostos. A maioria das pessoas desconhece esses
fatos, desconsiderando as queixas
de dores de cabeça/enxaquecas que
uma criança às vezes traz. Os profis-
Crianças com quadros epilépticos
evidentes são facilmente
diagnosticadas. Já os demais
casos acabam sendo errônea e
comumente diagnosticados na
vala do Déficit de Atenção ou, até
mesmo, na de crianças problema,
que não querem estudar.
Mesmo crianças
muito novas podem
se beneficiar do
treinamento neurológio
por Neurofeedback,
resgatando a
possibilidade de uma
vida proveitosa
sionais de saúde deveriam prestar
mais atenção a essa questão.
Crianças muito novas podem
apresentar dores de cabeça que muitas vezes chegam a durar dias, sem
que a criança tenha qualquer sinal
de ter batido a cabeça. E tentar inferir o que se passa, principalmente
quando a criança é de fato, muito
nova, é sempre um desafio.
Tanto a enxaqueca quanto crises epiléticas têm a presença excessiva de frequências lentas, e ambas
podem ser “geradas” a partir de várias partes do cérebro. E a palavra
“gerada” encontra-se entre aspas
por que há certa controvérsia se
existe o que se possa chamar de um
verdadeiro gerador para ambas as
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imagens: shutterstock /divulgação
Análise estatística da
magnitude de Theta (4-8 Hz)
imagens: shutterstock /divulgação
condições. Assim como há controvérsia sobre se existem verdadeiros
“disparadores” para ambas. Por outro lado, parece haver consenso de
que o estresse pode – de fato o faz
– exacerbar estas condições.
Há algumas formas de tratamento atualmente disponíveis, mesmo
para crianças em tenra idade. O primeiro deles é a Hemoencefalografia
Passiva por Infravermelho (HEG),
desenvolvida por Jeff Carmen, PhD,
psicólogo de Nova YorK. O procedimento envolve o posicionamento
de sensores de infravermelho sobre
a fronte, com o objetivo de aumentar o fluxo sanguíneo por toda a área
executiva do cérebro, nos frontais,
enquanto o paciente assiste a um vídeo. Quando o sinal está abaixo do
critério estabelecido, o fi lme, no vídeo, é congelado, e o paciente tem de
se concentrar em produzir o estado
interno necessário para levar o sinal
de treino acima do critério de treino
e, assim, fazer com que o fi lme volte
a ser exibido. Parece que o efeito do
tratamento se dá pela alternância entre estados cerebrais incompatíveis,
possivelmente envolvendo o Sistema Nervoso Autônomo, Simpático
e Parassimpático, ou mesmo as áreas
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cerebrais frontais límbicas, ou até a
Rede de Modo Padrão, em oposição
à de Saliência, o que é um pouco
mais complicado do que apenas um
tipo de treinamento.
Dr. Carmen estudou mais de
100 pacientes com enxaqueca que,
depois de apenas seis sessões de
HEG, se livraram defi nitivamente
desse mal. Na verdade, o critério foi
de que não era possível afi rmar se a
dor de cabeça relatada podia ser qualificada como enxaqueca ou não por
que era muito branda. Todos tinham
enxaqueca, mas sua intensidade
continuava abrandando. Seis sessões
era o mínimo necessário para determinar se o processo lhes seria útil.
Se não houvesse melhorias significativas em seis sessões, seria pouco
provável que mais sessões pudessem
ajudá-los, de fato. No entanto, o Dr.
Carmen também passou a considerar mais atentamente a possibilidade
de outros fatores etiogênicos como
lupus, que também podiam produzir dores de cabeça. Também os pacientes, depois de completado seu
treinamento, haviam se livrado das
medicações. O uso desses instrumentos parece aumentar os padrões
de hiperconectividade (tecnicamente, coerência neurológica) no cérebro, quando essa é uma questão a ser
tratada. De fato, o treinamento alivia
os quadros de dores de cabeça/enxaqueca, com incrementos na energia,
foco e atenção, sendo, por isso, muito utilizado em pacientes com transtorno de déficit de atenção.
Outro tratamento atualmente
em uso é na emissão de pulsos eletromagnéticos (pEMF) que emite
frequências saudáveis ao corpo/
cérebro, reduzindo e, mesmo, eliminando, esses quadros de dores de
cabeça/enxaquecas.
A tecnologia vem sendo aplicada clinicamente há mais de sete
anos, com base nos estudos dos médicos Paul e Raphael Nogier, bem
como em publicações de Lynne
McTaggert, Len Ochs, PhD, e muitos outros pesquisadores, na área.
Neurofeedback
A tecnologia vem
sendo aplicada
clinicamente há
mais de sete anos,
com base nos estudos
dos médicos Paul e
Raphael Nogier
• Para que medicação? •
a obra Para que medicação?
(Editora Campus), de autoria
do especialista em Neurofeedback
e co-autor do presente dossiê,
leonardo Mascaro, mostra
que a análise da atividade
eletroencefalográfica
(EEG) permite a identificação de
padrões neurológicos anômalos,
bem como de estruturas cerebrais
disfuncionais, que caracterizam
patologias como depressão,
ansiedade e pânico, déficit de atenção,
dislexia, autismo, hiperatividade,
TOC e quadros isquêmicos,
permitindo seu diagnóstico de
forma precisa e objetivamente
determinada, e evitando, com isso,
erros puramente baseados na avaliação
clínica e/ou comportamental, além de
viabilizar seu tratamento, de forma
não invasiva e não medicamentosa,
pela elaboração de protocolos
customizados de treinamento
neurológico, especificamente
desenvolvidos para correção de
cada um destes transtornos.
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iam rebas arap para saber mais
O
mapa quantitativo (Fig. 2 - Mapas Q, abaixo), pertence a um menino de
7 anos de idade com sérios comprometimentos de processamento
sensorial e da função executiva, com ataques súbitos de ira e agressividade,
tanto física quanto verbal. O mapa à esquerda (condição olhos abertos – EO)
foi obtido em sua primeira leitura eletroencefalográfica (EEG). O mapa Q à
direita, foi obtido durante uma fase avançada de seu treinamento.
Como pode ser observado no mapa à direita, obtido seis meses depois do
início de seu tratamento, pela leitura da pequena régua colorida de desviospadrão (-3 a +3, sendo “zero”, na cor branca, a referência de normalidade),
as frequências (1ª. linha de cabeças, cada coluna, uma faixa de frequências)
nas faixas de Theta (4-7Hz), Beta (15-18Hz) e High Beta (23-30Hz), já se
encontram dentro de valores estatísticos de normalidade para a idade e
sexo do paciente, enquanto Delta (0.5-3.5Hz), ainda apresenta padrão de
hipoatividade nas regiões frontal e central da cabeça. Além disso, onde havia
evidente assimetria de amplitude, desde Delta até Alpha, agora observase apenas o padrão assimétrico em Alpha, que ainda permanece um tanto
instável durante boa parte do treinamento. O mesmo ocorre com as leituras
de velocidade de transferência entre áreas (Phase – 5ª linha de cabeças,
todas as frequências), com maior produçao de linhas azuis que evidencia
melhorias substancias nesta função.
Finalmente, o padrão de maior conectividade hemisférica, entre áreas parietais,
temporais motoras e frontais (linhas vermelhas, 4ª. linha de cabeças, 4ª e 5ª
colunas, nas frequências de Beta e High Beta), indica reorganização funcional do
processamento sensorial. Traduzindo em bom português: essa criança agora
é muito mais sociável, ainda que, com muito menos frequência, apresente
eventuais ataques de ira, a tal ponto que não tem sido mais encaminhado à
diretoria, na escola, como era, seguidas vezes por semana, antes do início de
seu treinamento.
1º. Mapa Q Fevereiro/2014
2º. Mapa Q 31/07/2014 (treinamento)
Mapas inicial e de fase avançada de tratamento de paciente de 7 anos de idade, com
comprometimentos de processamento sensorial e da função executiva, bem como com ataques
súbitos de ira e agressividade, tanto física quanto verbal. Aqui, a cor branca é usada como referência
de normalidade.
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Nicholas Dogris, PhD, em seu esforço por fornecer o mais adequado
tratamento para os casos de atrasos
de desenvolvimento, e outras desordens, desenvolveu a tecnologia de
pEMF que permite, pela emissão
de frequências específicas, levar o
cérebro a padrões de atividade saudável. O uso desta tecnologia, em
associação com o treinamento por
neurofeedback por z-scores em tempo real (real time z-score training),
seja de superfície cerebral, seja de
estruturas profundas, pela associação com a tecnologia de tomografia
funcional de baixa resolução (LORETA), permite a obtenção de excelentes resultados em uma ampla
gama de desordens. A velocidade
dos resultados é notável.
Um outro caso que ilustra o alcance da associação da tecnologia de
pEMF com o treinamento de neurofeedback por z-scores é o do paciente que apresentava queixa inicial
de pensamentos compulsivos e um
quadro de ansiedade generalizada
e insônia. Seu mapa inicial indicava
perfeitamente sua condição.
Assim, o mapa inicial indicava
a presença de atividade deficitária
em áreas frontais, nas faixas de Alpha (7-14Hz), e de Beta (15-18Hz),
o que correlacionava com sua compulsividade. Ao mesmo tempo, a
atividade exacerbada em áreas temporais, bem como em áreas occipitais, na parte posterior da cabeça,
O efeito do tratamento
se dá pela alternância
entre estados
cerebrais incompatíveis,
envolvendo o
Sistema Nervoso
Autônomo, Simpático
e Parassimpático
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imagens: shutterstock /divulgação
Sociabilidade
Neurofeedback
Outro tratamento
atualmente em uso é
na emissão de pulsos
eletromagnéticos,
reduzindo os quadros
de dores de cabeça/
enxaquecas
imagens: shutterstock /divulgação
O cérebro tende a perseverar padrões funcionais consolidados, especialmente após anos de habituação
e convívio com uma condição. E isso é particularmente verdadeiro em casos de deficiências funcionais
explicava, respectivamente, seu
quadro de ansiedade e insônia. Seu
tratamento inicial envolveu treinos
de Neurofeedback de superfície e
LORETA, de estruturas profundas.
Porém, seis meses após o início dos
trabalhos, seu quadro, ainda que
evidenciasse evolução, tinha muito
o que melhorar.
Isso é comum em casos em que
a queixa trazida vem de longa data,
normalmente anos. O cérebro tende
a perseverar padrões funcionais consolidados, especialmente após anos
de habituação e convívio com uma
condição. E isso é particularmente
verdadeiro em casos de deficiências
funcionais, como as que este paciente trazia em áreas frontais.
Apenas seis sessões de Neurofeedback por Z-scores associado a
pEMFproduziu a impressionante
normalização dos focos principais
de desregulação neurológica. Um
resultado inimaginável se considerássemos apenas o uso de neurofeedback, que normalmente envolveria, ainda mais alguns meses
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de tratamento. O resultado prático
disto? Este paciente relata alívio
completo do quadro de ansiedade.
Seu sono encontra-se normalizado,
e sua compulsividade ideativa, que
o atormentava, praticamente desapareceu. Tudo isso com apenas seis
sessões de treinamento neurológico
por Z-scores associado à tecnologia
de emisão de pulsos eletromagnéticos (pEMF).
O campo do neurofeedback,
sem dúvida, não pára de evoluir.
Que a apresentação destas novas ferramentas, e do tipo de resultado clínico possível de ser alcançado com
seu uso, permitam que mais pessoas,
também em sofrimento, possam se
beneficiar destes avanços científicos
absolutamente extraordinários.
referêNciaS
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