Apostila JO 01

Transcrição

Apostila JO 01
UniFIAMFAAM
Centro Universitário das
Faculdades Integradas
Alcântara Machado
LABORATÓRIO
DE REDAÇÃO
JORNALISMO
Profa. Ma.
Ana Tereza Pinto
de Oliveira
Agosto/2015
M. C. Escher, Délivrance1, 1955.
1
Délivrance (fr.): Libertação.
Curso: Comunicação Social
Habilitação: Jornalismo
Disciplina: Laboratório de Redação
Código:
Carga Horária: 80h
Período: 2º
Ano: 2015
Semestre: 2
EMENTA
Análise crítica de textos voltados à Comunicação Social: reconhecimento das
informações explícitas e implícitas e o jogo da linguagem verbal (oral e escrita). Ênfase
na decodificação textual nas várias mídias e na produção textual harmoniosa, coerente e
gramaticalmente correta.
OBJETIVOS
Gerais:
1. entender e valorizar a linguagem verbal, tanto na instância da produção quanto na da
recepção, como meio de organização do pensamento e instrumento indispensável da
comunicação humana;
2. iniciar a compreensão de textos da área de Comunicação Social por meio de suporte
teórico e suas aplicações.
Específicos:
1. conhecer os conceitos e a linguagem da redação em Comunicação Social;
2. analisar e produzir discursos argumentativos/persuasivos, tendo em vista os meios de
comunicação; 3. desenvolver o senso crítico perante textos da área.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1 O texto da comunicação: elementos conceituais e fatores de textualidade
1.1 Fatores de textualidade
1.2 Linguagem: Multimodalidade
2 Leitura e análise de texto teórico de comunicação específico à área
3 Preparação de texto técnico: pauta e briefing
4 Linguagem e mídias: mídia impressa 1 – recepção e análise de texto
4.1 Apoio funcional: Vícios de linguagem – clareza, concisão, objetividade, correção
3
5 Linguagem e mídias: mídia impressa 2 – recepção e produção de texto
5.1 Apoio funcional: Concordância verbal e nominal
6 - Linguagem e mídias: mídia impressa 3 – recepção e produção de texto
6.1 Apoio funcional: Concordância verbal e nominal
7 - Linguagem e mídias: mídia eletrônica (rádio) 1 – recepção e análise de texto
7.1 Apoio funcional: Regência verbal e nominal
8 Linguagem e mídias: mídia eletrônica (rádio) 2 – recepção e produção de texto
8.1 Apoio funcional: Regência verbal e nominal
9 Linguagem e mídias: mídia eletrônica (TV) 1 – recepção e análise de texto
9.1 Apoio funcional: Crase
10 Linguagem e mídias: mídia eletrônica (TV) 2 – recepção e produção de texto
10.1 Apoio funcional: Crase
11 Linguagem e Mídias: mídia eletrônica (internet) 1 – recepção e análise de texto
12 Linguagem e Mídias: mídia eletrônica (internet) 2 – recepção e produção de texto
13 Aferição de leitura: CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática,
2004.// ABREU, Antônio Suárez . A arte de argumentar. São Paulo: Atelier Editorial,
2008.
14 Evento acadêmico
15 Avaliação regimental
16 Segunda chamada e vista de provas
17 Reavaliação
18 Encerramento do semestre
METODOLOGIA
Aulas teóricas e práticas, envolvendo:
- leitura e discussão de textos selecionados;
- exercícios orais e escritos;
- oficina de criação de textos.
AVALIAÇÃO
I - Continuada (com valor de 3,0 pontos): atividades em aula, produto midiático e
aferição de leitura.
II - Regimental (com valor de 7,0 pontos): conteúdo programático.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
4
ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2006.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 2011.
GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 8. ed. São Paulo: Ática, 2004.
GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, Maria Sílvia; IVAMOTO, Regina. O texto sem
mistérios. São Paulo: Ática, 2009.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda. Ler e escrever: estratégias de
produção textual. São Paulo: Contexto, 2011.
LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ática, 2006.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e Estilo OESP. São Paulo: O Estado de S.
Paulo, 1997.
OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?
Como? Onde? O quê? Por quê?. São Paulo: Plêiade, 2010.
5
SUMÁRIO
1
O Texto da Comunicação
6
1.1 Fatores de textualidade
9
1.2 Linguagem: Multimodalidade
13
2
Leitura e Análise de Texto Teórico Acadêmico
21
3
Preparação de Texto Técnico: Pauta
29
4
Linguagem e mídias: Mídia impressa 1
31
4.1 Apoio funcional: Vícios de linguagem
5
Linguagem e mídias: Mídia impressa 2
5.1 Apoio funcional: Concordância nominal
6
Linguagem e mídias: Mídia impressa 3
6.1 Apoio funcional: Concordância verbal
7
Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (rádio) 1
7.1 Apoio funcional: Regência verbal e nominal
39
44
45
51
54
63
67
8
Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (rádio) 2
74
9
Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (TV) 1
79
9.1 Apoio funcional: Crase
10
Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (TV) 2
10.1
Apoio funcional: Crase
82
85
86
11
Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (internet) 1
89
12
Linguagem e mídias: Mídia eletrônica (internet) 2
91
Bibliografia
93
Anexos
94
Anexo 1
94
Anexo 2
97
Anexo 3
100
Anexo 4
101
Anexo 5
105
6
1
O TEXTO DA COMUNICAÇÃO
O homem utiliza a linguagem para comunicar-se. Ela, além de propiciar o
progresso (já que o ser humano, através da linguagem, pode codificar e armazenar suas
experiências e descobertas para transmiti-las a outras gerações), é um fator de interação
e coesão social.
A linguagem pode ser verbal (o código linguístico) e não verbal (todos os outros
códigos: icônico, gestual, cromático, etc.). As características inerentes à linguagem
verbal são:
•
•
o dialogismo: a linguagem sempre remete a algo já dito e dirige-se a alguém, ela só
é viva porque é orientada para o outro com o qual entra em interação;
a argumentatividade: através da linguagem, o enunciador (emissor) imprime, por
meio de palavras, uma direção argumentativa a seu texto, indicando como o
enunciatário (receptor) deve/pode entendê-lo.
A comunicação é um processo que exige determinados fatores, elementos
mínimos para poder realizar-se. No quadro a seguir, você verá o esquema clássico da
comunicação proposto pelo linguista Roman Jakobson:
Referente
Emissor
Mensagem
Receptor
Código
Canal
Analisemos esses fatores:
•
•
•
•
•
emissor: você. A partir de uma situação de comunicação, caberá a você escolher,
entre as possibilidades que os códigos colocam à sua disposição, os enunciados que
melhor se ajustem aos seus propósitos interacionais;
receptor: seu leitor. O destinatário vê, ouve, lê etc., traduz os códigos (decodifica),
entende e interpreta. É importante enfatizar que é o leitor quem vai determinar a
escolha de palavras e todos os outros recursos de organização da mensagem que
você vai utilizar, pois uma das características fundamentais da linguagem é o
dialogismo, a interação;
referente: assunto sobre o qual você vai falar/escrever;
mensagem: ou texto é uma manifestação comunicativa, concretizada por alguma
materialidade (grafia, som, imagem, gestos...). Ela é produzida por alguém, em uma
situação concreta (contexto), com alguma finalidade;
código: é uma convenção, um contrato, que controla a relação entre aquilo que se
pode perceber através dos sentidos (significante) e seu significado. Essa relação
entre o plano da expressão (significante) e o plano do conteúdo (significado)
constitui uma unidade abstrata, a que se dá o nome de signo (no ato de linguagem,
será concretizado por alguma materialidade visual, sonora, tátil...). É a partir do
7
•
1.1
código que um estímulo físico qualquer pode virar signo. É importante enfatizar que
o código que o comunicador social vai usar é a Língua Portuguesa, a qual deve
dominar em todas as suas variantes;
canal (meio, veículo ou mídia): é o meio físico que transporta a mensagem e
possibilita o contato entre o emissor e o destinatário da mensagem. Há dois tipos de
canal – natural e tecnológico –, que, quando necessário, complementam-se (isso
ocorre sobretudo na publicidade e em textos de RTV). Assim, podemos aumentar a
abrangência do canal natural, com o auxílio de um canal tecnológico. A televisão,
por exemplo, é um meio, canal ou veículo tecnológico, pelo qual podemos ver e
ouvir o mundo todo, o que a nossa visão e audição (canais naturais) não permitem.
Os canais tecnológicos (telefone, internet, rádio, impressos etc.) são chamados pelos
especialistas em comunicação de mídias. Quando a comunicação é realizada
somente com o canal natural (ar), ela é denominada comunicação direta. A
comunicação realizada com o auxílio da mídia (canal tecnológico) é denominada
comunicação indireta.
Fatores de textualidade
O texto é uma manifestação linguística produzida por alguém, em alguma
situação concreta (contexto), com alguma intenção. Independentemente de sua extensão,
o texto deve dar a sensação de completude2, do contrário não será um texto.
Por exemplo, alguém sai correndo de um edifício e grita: “Fogo!” Percebe-se
que nessa circunstância a palavra “fogo” adquire um significado diferente de uma
mera referência a um processo de combustão. A interpretação será de que há um
incêndio naquele prédio e a pessoa está querendo alertar outras e, se possível, conseguir
ajuda. Logo, nessa situação específica, a palavra “fogo” é um texto.
Além da noção de completude, sete fatores são responsáveis pela textualidade
(conjunto de características que fazem de um texto um texto e não um amontoado de
frases):
• fatores pragmáticos3 – intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade,
informatividade e intertextualidade – dizem respeito aos fatores contextuais que
determinam os usos linguísticos nas situações de comunicação e contribuem para a
construção do sentido do texto:
• intencionalidade: é a manifestação da intenção, do objetivo do emissor numa
determinada situação sociocomunicativa;
• aceitabilidade: é a expectativa que o leitor manifesta de que o texto com que se
defronta seja coerente, coeso, útil, relevante;
• situacionalidade: pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que
ocorre. Ela orienta tanto a produção quanto a recepção de textos;
• informatividade: diz respeito à taxa de informação do texto. Ela depende da
situação, do público, das intenções;
• intertextualidade: refere-se ao diálogo entre textos. A produção e compreensão de
textos dependem do conhecimento de outros textos.
Exemplificando:
2
Caráter do que é, ou está completo.
Pragmático: Suscetível de aplicações práticas; voltado para a ação; relativo à pragmática (estudo dos
fatores contextuais que determinam os usos linguísticos nas situações de comunicação).
3
8
Canção do exílio facilitada
lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah! (José Paulo Paes)
Esse texto pode parecer um amontoado de palavras sem sentido se o leitor não
perceber as intenções do autor, se não aceitá-lo como um texto coerente. Mas,
para isso, ele deve ter em seu repertório a informação de que este texto refere-se a
outro (dialoga com outro) do Romantismo brasileiro – Canção do exílio, de
Gonçalves Dias – e dirige-se a leitores de um tempo moderno, caracterizado pela
pressa, daí seu título.
•
fator semântico conceitual – dele depende a coerência do texto;
•
fator formal – diz respeito à coesão textual (corresponde à superfície linguística do
texto).
Como você viu, um texto vai além de sua superfície linguística e pressupõe um
comunicador atento a todas as suas dimensões.
Veja como seria se a história da Chapeuzinho Vermelho fosse contada por alguns
dos vários órgãos da nossa imprensa
JORNAL NACIONAL:
(William Bonner):
- Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...
(Fátima Bernardes):
... Mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia.
PROGRAMA DA HEBE:
- Que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada
viva da barriga de um lobo, não é mesmo?
SUPERPOP:
(Luciana Gimenez):
- Gente, incrível! - Vocês viram a história da menina que foi retirada da barriga de um
pombo? Incrível, eu não consigo acreditar...
BRASIL URGENTE:
(Datena):
- Onde é que a gente vai parar? - Cadê as autoridades? Cadê as autoridades?
A menina ia para a casa da avozinha a pé!
Ou seja, não tem transporte público! - Não tem transporte público!
E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela! Porque eu falo mesmo,
não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.
GLOBO REPÓRTER:
(Na primeira sexta-feira logo após o acontecido)
9
(Sérgio Chapelin):
- A natureza feroz. Uma batalha selvagem. Os animais que atacam pessoas. Será
possível domar estas criaturas? Nesta edição do Globo Repórter você vai conhecer os
animais que se alimentam de carne humana. E mais: como evitar os seus ataques; que
atitude tomar se você estiver cercado por feras; e a incrível história da garota salva da
barriga de um lobo por um lenhador...
REVISTA VEJA:
Lula sabia das intenções do lobo.
REVISTA CLÁUDIA:
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.
REVISTA MEN´S HEALTH:
Vinte exercícios para ter um bíceps de lenhador! 10 dias para perder a barriga!
REVISTA NOVA:
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.
FOLHA DE S.PAULO:
Legenda da foto: Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador.
Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um
imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo
lenhador.
O ESTADO DE S.PAULO:
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT
O GLOBO:
Petrobras apoia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de
idade carente.
ZERO HORA:
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS...
AQUI AGORA:
Sangue e tragédia na casa da vovó.
REVISTA CARAS:
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS:
- Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa.
PLAYBOY:
(Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu.
REVISTA ISTO É:
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.
REVISTA ÉPOCA:
Herói nacional – a história do lenhador que salvou uma menina da barriga de um lobo
raivoso.
REVISTA CAROS AMIGOS:
Entrevista "bombástica": Lobos estão sendo vítimas de preconceito em todo o país.
REVISTA CONTIGO:
Chapeuzinho pode ser estrela da Globo em próxima novela das 6.
G MAGAZINE:
(Ensaio fotográfico com lenhador)
Lenhador mostra o machado.
SUPERINTERESSANTE:
Lobo mau! Mito ou verdade?
DISCOVERY CHANNEL:
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.
10
ROLLING STONE:
Lobo Mau – A ascensão e a queda do cão pop.
Conselhos para a redação de um texto legível
●
Escreva sempre frases curtas. A frase curta tem várias vantagens. A primeira é
diminuir o número de erros, principalmente em pontuação. A segunda é tornar o texto
mais claro. A terceira é apresentar a ideia de forma mais objetiva. Vinícius de Moraes
afirmava que "uma frase longa não é mais que duas curtas".
Reformule o texto a seguir:
Mesmo fervidas diariamente, as lentes de contato gelatinosas ficam
impregnadas de sujeira, o que pode até causar conjuntivite, mas, desde o começo
do ano, os míopes da Califórnia podem resolver o problema jogando as lentes no
lixo, pois lá acabam de ser lançadas lentes descartáveis que custam apenas 2,5
dólares cada, que só em julho estarão disponíveis no Brasil.
Observe o texto a seguir presente no Manual de Estilo Editora Abril (São
Paulo: Nova Fronteira, 1991. p. 28).
Enfim, toda vez que você sentar-se à máquina, postar-se diante do terminal ou
pegar a caneta com o propósito de escrever, lembre-se de que sentenças de breve
extensão, amiúde logradas por intermédio da busca incessante da simplicidade no ato
de redigir, da utilização frequente do ponto, do corte de palavras inúteis, que não
servem mesmo para nada, e da eliminação sem dó nem piedade dos clichês, dos jargões
tão presentes nas laudas das matérias dos setoristas, da retórica discursiva e da
redundância repetitiva – sem aquelas intermináveis orações intercaladas e sem o abuso
das partículas de subordinação, como, por exemplo, “que”, “embora”, “onde”,
“quando”, capazes de encompridá-las desnecessariamente, tirando em consequência o
fôlego do pobre leitor –, isso para não falar que não custa refazê-las, providência que
pode aproximar o verbo e o complemento do sujeito, tais sentenças de breve extensão,
insistimos antes que comecemos a chateá-lo, são melhores e mais claras.
Ou seja, use frases curtas.
Clareza, ordem direta, frases curtas.
Dad Squarisi, autora de diversos artigos sobre o uso de nosso idioma, descreve
algumas técnicas para evitar frases longas.
a) substituir gerúndio por ponto:
Alunos recém-aprovados no vestibular chegarão à universidade no segundo
semestre podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em quatro anos, fazendo
em seguida um curso de pós-graduação.
b) transformar a oração coordenada em novo período:
Pensei em construir uma rodoviária maior e mais moderna, pois a que temos
dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei,
necessários ao conforto dos viajantes, não me permitiram a execução de uma obra,
embora útil, prorrogável.
c) livrar-se do "já que":
Os líderes europeus tiveram de falar em Ronald Reagan, já que a morte do
cowboy presidente os surpreendeu reunidos em Paris na comemoração da
11
passagem dos 60 anos do Dia D.
d) trocar a oração adjetiva por adjetivo:
Animal que se alimenta de carne – animal carnívoro.
Pessoa que planta café – cafeicultor.
Criança que não tem educação – criança mal-educada.
1.2
Linguagem: Multimodalidade
A linguagem do mundo atual privilegia modalidades diferentes da escrita, que se
torna-se, cada vez mais, apenas um dos modos de representação cultural e que não basta
mais para revelar a totalidade dos usos da língua e de seus fenômenos. Mudanças
culturais significativas trazem à tona um novo tipo de texto, bastante recorrente nas
práticas sociais pós-modernas: o texto multimodal, aquele cujo significado se realiza
por mais de um código semiótico4.
A linguagem não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas
(linguagem verbal), mas também de gestos, movimentos faciais e corporais, olhares,
entoação, cores, imagens e simbologia (linguagem não verbal). Enquanto a linguagem
verbal é plenamente voluntária, a não verbal pode ser uma reação involuntária, provinda
do inconsciente de quem se comunica, completando, contradizendo ou substituindo a
comunicação verbal (por isso é extremamente importante o jornalista estar atento às
reações não verbais de seu entrevistado).
Impacto da linguagem não verbal quando falamos
4
Semiótica: teoria geral das representações, que leva em conta os signos sob todas as formas e
manifestações que assumem (linguísticas ou não), enfatizando especialmente a propriedade de
convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram.
12
Cada vez mais a linguagem não verbal vem sendo valorizada para
complementar/substituir/interagir (com) a verbal, criando uma linguagem mista. A
linguagem verbal é digital, composta por dígitos – letras, palavras, frases – e sua
percepção não é imediata; a linguagem não verbal é analógica, de percepção imediata,
até por analfabetos. É por isso que se diz que uma imagem vale por mil palavras. Mas
essa multimodalidade não se restringe ao aspecto visual, a ênfase, a modulação da voz,
as pausas e a velocidade de fala, no rádio, e também a gestualidade, na televisão, são
fundamentais para o sentido do texto.
Observe os dois textos a seguir:
1)
Caco Galhardo, 2001.
2)
Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em
televisão saciam curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do
drama de cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos de pequenos
crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e cortiços,
e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não
sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de
ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de fim de semana no bar da
esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando.
Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Exercícios
1) (ENADE, 2008)
A foto a seguir, da americana Margaret Bourke-White (1904-71), apresenta
desempregados na fila de alimentos durante a Grande Depressão, que se iniciou
em 1929.
13
STRICKLAND, Carol; BOSWELL, John. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de
Janeiro: Ediouro [s.d.].
Além da preocupação com a perfeita composição, a artista, nessa foto, revela
A) a capacidade de organização do operariado.
B) a esperança de um futuro melhor para negros.
C) a possibilidade de ascensão social universal.
D) as contradições da sociedade capitalista.
E) o consumismo de determinadas classes sociais.
2) (ENADE, 2009)
A urbanização no Brasil registrou marco histórico na década de 1970, quando o número
de pessoas que viviam nas cidades ultrapassou o número daquelas que viviam no
campo. No início deste século, em 2000, segundo dados do IBGE, mais de 80% da
população brasileira já era urbana. Considerando essas informações, estabeleça a
relação entre as charges:
PORQUE
14
BARALDI, Márcio.
http://www.marciobaraldi.com.br/baraldi2/component/joomgallery/?func=detail&id=178.
(Acessado em 5 out. 2009)
Com base nas informações dadas e na relação proposta entre essas charges, é
CORRETO afirmar que
A) a primeira charge é falsa, e a segunda é verdadeira.
B) a primeira charge é verdadeira, e a segunda é falsa.
C) as duas charges são falsas.
D) as duas charges são verdadeiras, e a segunda explica a primeira.
E) as duas charges são verdadeiras, mas a segunda não explica a primeira.
3) (ENADE, 2009)
Leia o gráfico, em que é mostrada a evolução do número de trabalhadores de 10 a
14 anos, em algumas regiões metropolitanas brasileiras, em dado período:
http://www1.folha/uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u85799.shtml, acessado em 2 out. 2009.
(Adaptado)
Leia a charge:
15
www.charges.com.br, acessado em 15 set. 2009.
Há relação entre o que é mostrado no gráfico e na charge?
A) Não, pois a faixa etária acima dos 18 anos é aquela responsável pela disseminação da
violência urbana nas grandes cidades brasileiras.
B) Não, pois o crescimento do número de crianças e adolescentes que trabalham
diminui o risco de sua exposição aos perigos da rua.
C) Sim, pois ambos se associam ao mesmo contexto de problemas socioeconômicos e
culturais vigentes no país.
D) Sim, pois o crescimento do trabalho infantil no Brasil faz crescer o número de
crianças envolvidas com o crime organizado.
E) Ambos abordam temas diferentes e não é possível se estabelecer relação mesmo que
indireta entre eles.
4) (ENADE, 2009)
O Ministério do Meio Ambiente, em junho de 2009, lançou campanha para o
consumo consciente de sacolas plásticas, que já atingem, aproximadamente, o
número alarmante de 12 bilhões por ano no Brasil. Veja o slogan dessa campanha:
16
O possível êxito dessa campanha ocorrerá porque
I. se cumpriu a meta de emissão zero de gás carbônico estabelecida pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, revertendo o atual quadro de elevação das
médias térmicas globais.
II. deixaram de ser empregados, na confecção de sacolas plásticas, materiais
oxibiodegradáveis e os chamados bioplásticos que, sob certas condições de luz e de
calor, se fragmentam.
III. foram adotadas, por parcela da sociedade brasileira, ações comprometidas com
mudanças em seu modo de produção e de consumo, atendendo aos objetivos
preconizados pela sustentabilidade.
IV. houve redução tanto no quantitativo de sacolas plásticas descartadas
indiscriminadamente no ambiente, como também no tempo de decomposição de
resíduos acumulados em lixões e aterros sanitários.
Estão CORRETAS somente as afirmativas
A) I e II.
B) I e III.
C) II e III.
D) II e IV.
E) III e IV.
5) (ENADE, 2009)
Leia os gráficos:
Gráfico I: Domínio da leitura e escrita pelos brasileiros (em %) Indicador
Nacional de Alfabetismo Funcional
17
Gráfico II: Municípios brasileiros que possuem livrarias (em %)
INAF, 2005.
Relacione esses gráficos às seguintes informações:
O Ministério da Cultura divulgou, em 2008, que o Brasil não só produz mais da
metade dos livros do continente americano, como também tem parque gráfico
atualizado, excelente nível de produção editorial e grande quantidade de papel. Estimase que 73% dos livros do país estejam nas mãos de 16% da população. Para melhorar
essa situação, é necessário que o Brasil adote políticas públicas capazes de conduzir o
país à formação de uma sociedade leitora.
Qual das seguintes ações NÃO contribui para a formação de uma sociedade
leitora?
A) Desaceleração da distribuição de livros didáticos para os estudantes das escolas
públicas, pelo MEC, porque isso enriquece editoras e livreiros.
B) Exigência de acervo mínimo de livros, impressos e eletrônicos, com gêneros
diversificados, para as bibliotecas escolares e comunitárias.
C) Programas de formação continuada de professores, capacitando-os para criar um
vínculo significativo entre o estudante e o texto.
D) Programas, de iniciativa pública e privada, garantindo que os livros migrem das
estantes para as mãos dos leitores.
E) Uso da literatura como estratégia de motivação dos estudantes, contribuindo para
uma leitura mais prazerosa.
6 (ENADE, 2008)
A legislação de trânsito brasileira considera que o condutor de um veículo está dirigindo
alcoolizado quando o teor alcoólico de seu sangue excede 0,6 gramas de álcool por litro
18
de sangue. O gráfico abaixo mostra o processo de absorção e eliminação do álcool
quando um indivíduo bebe, em um curto espaço de tempo, de 1 a 4 latas de cerveja.
(Fonte: National Health Institute, Estados Unidos)
Considere as afirmativas a seguir.
I - O álcool é absorvido pelo organismo muito mais lentamente do que é eliminado.
II - Uma pessoa que vá dirigir imediatamente após a ingestão da bebida pode consumir,
no máximo, duas latas de cerveja.
III - Se uma pessoa toma rapidamente quatro latas de cerveja, o álcool contido na bebida
só é completamente eliminado após se passarem cerca de 7 horas da ingestão.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
(A) II, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) I e III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
7) (ENADE, 2007)
Leia o esquema abaixo.
1 - Coleta de plantas nativas, animais silvestres, micro-organismos e fungos da floresta
Amazônica.
2 - Saída da mercadoria do país, por portos e aeroportos, camuflada na bagagem de
pessoas que se disfarçam de turistas, pesquisadores ou religiosos.
3 - Venda dos produtos para laboratórios ou colecionadores que patenteiam as
substâncias provenientes das plantas e dos animais.
4 - Ausência de patente sobre esses recursos, o que deixa as comunidades indígenas e
as populações tradicionais sem os benefícios dos royalties.
5 - Prejuízo para o Brasil!
Com base na análise das informações acima, uma campanha publicitária contra a
prática do conjunto de ações apresentadas no esquema poderia utilizar a seguinte
chamada:
19
(A) Indústria farmacêutica internacional, fora!
(B) Mais respeito às comunidades indígenas!
(C) Pagamento de royalties é suficiente!
(D) Diga não à biopirataria, já!
(E) Biodiversidade, um mau negócio?
8) (ENADE, 2006)
Observe as composições a seguir.
(CAULOS. Só dói quando eu respiro.
Porto Alegre: L & PM, 2001)
(MELO NETO, João Cabral de. Museu de
eiro: Nova Fronteira, 1988)
Os dois textos acima relacionam a vida a sinais de pontuação, utilizando estes como
metáforas do comportamento do ser humano e das suas atitudes.
A exata correspondência entre a estrofe da poesia e o quadro do texto “Uma Biografia”
é
(A) a primeira estrofe e o quarto quadro.
(B) a segunda estrofe e o terceiro quadro.
(C) a segunda estrofe e o quarto quadro.
(D) a segunda estrofe e o quinto quadro.
(E) a terceira estrofe e o quinto quadro.
9) (ENADE, 2009)
O rádio utiliza imagem. Uma fotografia pode ser lida como um texto. A linguagem e
expressão em som e imagem têm paralelos com outras formas de comunicação.
PORQUE
O rádio obriga o ouvinte do noticiário a imaginar cenas que passam pela nossa cabeça
como um filme ou uma cena de televisão. A fotografia, em jornal ou revista, é lida de
20
diversas formas, dependendo da profissão, do nível de cultura e do próprio tempo e
ambiente em que vive o leitor daquelas publicações.
Considerando essas assertivas, é CORRETO afirmar que
A) a primeira é falsa, e a segunda verdadeira.
B) a primeira é verdadeira, e a segunda falsa.
C) as duas são falsas.
D) as duas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
E) as duas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira
21
2
LEITURA E ANÁLISE
COMUNICAÇÃO
DE
TEXTO
TEÓRICO
DE
Existem diversos gêneros produzidos com a finalidade de divulgar
conhecimento, entre eles um dos mais breves é o artigo científico. Os artigos são textos
curtos (entre 10 e 20 páginas, aproximadamente) completos, que tratam de uma questão
científica. Apresentam o resultado de um estudo ou de uma pesquisa. Pesquisas
bibliográficas, a primeira etapa de qualquer tipo de pesquisa, envolvem a busca por
publicações sobre determinado tema que se está pesquisando. Os artigos científicos são
mais comuns na rotina de estudantes universitários e daqueles que participam de
pesquisas de iniciação científica, primeiro passo para a formação do pesquisador.
Sobre as partes do artigo, considera-se a clássica divisão em introdução,
desenvolvimento e conclusão, comum a todos os gêneros textuais de natureza técnica,
científica e acadêmica.
Na introdução, encontra-se o resumo de todas as ideias que orientaram o
pensamento do autor. A introdução funciona, portanto, como uma espécie de
apresentação geral do texto para que o leitor se situe. Assim, na introdução, deve-se
definir o tema, mostrar o problema, despertar o interesse e decompor os elementos
gerais do texto.
O desenvolvimento apresenta o corpo da pesquisa. Ou seja, após a introdução,
em que se apresentou o tema de estudo, justificou-se sua importância e descreveu-se
como a pesquisa será desenvolvida, é nessa etapa que se vai demonstrar a reflexão sobre
o tema: definição dos conceitos que serão utilizados, demonstração dos conhecimentos
teóricos que adquiridos (caso de uma pesquisa bibliográfica), apresentação dos
documentos utilizados (no caso de uma pesquisa documental) e demonstração dos
resultados alcançados.
A conclusão é uma retomada de todos os assuntos desenvolvidos ao longo do
artigo, de forma a interligá-los e ainda apontar para as possibilidades de
desenvolvimento daquela pesquisa.
Como todo artigo apoia-se em pesquisa bibliográfica, não podem faltar as
referências bibliográficas: referenciação, segundo as normas da ABNT5 (Associação
Brasileira de Normas Técnicas), das fontes consultadas.
O ensaio é um texto breve em que se expõem críticas, ideias e reflexões a
respeito de um tema.
A linguagem utilizada no artigo deve ser objetiva, impessoal, simples, clara,
concisa e correta (padrão culto).
1) A qualidade essencial de um trabalho científico é a objetividade, que afasta
pontos de vista pessoais que deixem transparecer impressões subjetivas, não
fundadas sobre dados concretos. A linguagem científica deve ser objetiva,
precisa, isenta de qualquer ambiguidade.
2) A impessoalidade contribui grandemente para a objetividade da redação dos
trabalhos científicos.
• EVITAR: “o meu trabalho”, “eu penso”, “na minha opinião”, etc.
PREFERIR: “o presente trabalho”, “neste trabalho”, etc.
• O emprego do pronome impessoal “se” é o mais adequado para os trabalhos
acadêmicos: “procedeu-se ao levantamento”, “procurou-se obter tal
informação”, “fez-se tal coisa”, ou “realizou-se”, etc.
5
ABNT, dentre outros sites, http://viacarreira.com/regras-da-abnt-para-tcc-conheca-principais-normas/
22
O uso de verbos nas formas que tendem à impessoalidade também
contribuem para a objetividade: “tal informação foi obtida”, “ a busca
empreendida”, “o procedimento adotado”.
Tais procedimentos criam certo distanciamento da pessoa do autor, razão pela
qual a impessoalidade favorece a objetividade.
Nos trabalhos científicos emprega-se de preferência um estilo simples, evitandose o excesso de retórica e de adjetivação, os preciosismos vocabulares, os termos
muito eruditos ou em desuso, expressões vocabulares que tornam a sintaxe
complexa.
Gírias ou expressões deselegantes jamais poderão fazer parte do vocabulário de
um escrito científico. A opção do estilo deve ser pelo nível culto de linguagem
ou o coloquial cuidado, que é simples, usual, mas obedece às regras gramaticais.
A linguagem científica é acadêmica e didática: visa transmitir conhecimentos e
informações com precisão e objetividade.
• Frases demasiadamente longas tendem a comprometer a clareza, dificultando
a concordância gramatical e a pontuação. O melhor é subdividir as frases
longas em duas ou mais, de menor extensão.
• De maneira geral, deve-se buscar também a simplicidade na sintaxe,
preferindo as frases curtas, na ordem direta (sujeito + verbo e complemento
verbal + adjunto adverbial, ou seja, Quem? + Oquê? + Onde?/Como?/
Quando?/ Por quê?
• É imprescindível concatenar as ideias ou informações de maneira lógica, e
precisa, estabelecendo uma linha clara e coerente de raciocínio.
• Um parágrafo deve apresentar apenas uma ideia principal, em torno da qual
giram as ideias secundárias e os detalhes importantes.
• A clareza deve ser acompanhada da concisão. Um texto repetitivo, que
apresenta a mesma ideia em mais de um parágrafo, torna-se cansativo.
Correção gramatical é requisito indispensável da redação científica.
•
3)
4)
5)
6)
Exemplo de texto acadêmico
O PAPEL SOCIAL DA LÍNGUA: O PODER DAS VARIEDADES
LINGUÍSTICAS
Carmen Elena das Chagas (UFF/UNESA)
[email protected]
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A língua, na concepção da sociolinguística, é intrinsecamente heterogênea,
múltipla, variável, mutante, instável e está sempre em desconstrução e reconstrução. Ao
contrário de um produto pronto e acabado, a língua é um processo, um fazer-se
permanente e nunca concluído. É uma atividade social, um trabalho coletivo, produzido
por todos os seus falantes, cada vez que eles interagem por meio da fala ou da escrita.
A língua, “sistema de sons vocais por que se processa numa comunidade
humana o uso da linguagem” (CÂMARA JR., 1968, p. 223), é renovação, pois expressa
a vida. Se ela para, pode-se dizer que ela está morta, porque a história de uma língua é a
história de um povo.
Nenhuma língua permanece uniforme em todo o seu domínio e ainda num só
local apresenta um sem-número de diferenciações de maior ou menor amplitude. Porém
23
estas variedades não prejudicam a unidade da língua ou a consciência daqueles que a
utilizam como instrumento de comunicação ou emoção.
Existem tantas variedades linguísticas quantos grupos sociais que compõem uma
comunidade de fala. Essa variação pode acontecer de formas diferentes, até mesmo
dentro de um único grupo social. Porém, ela não é aleatória6, fortuita ou caótica7, pelo
contrário, apresenta-se organizada e condicionada por diferentes fatores. Essa
heterogeneidade ordenada tem a ver com a característica própria da língua: o fato de ela
ser altamente estruturada e, sobretudo, um sistema que possibilita a expressão de um
mesmo conteúdo informacional por meio de regras diversas, todas, igualmente, lógicas
e com coerência funcional. É um sistema que proporciona aos falantes todos os
elementos necessários para a sua plena interação sociocultural.
A variedade de uma língua que um indivíduo usa é determinada por quem ele é.
Todo falante aprendeu, tanto a sua língua materna como uma particular variedade da
língua de sua comunidade linguística e essa variedade pode ser diferente em algum ou
em todos os níveis de outras variedades da mesma língua, aprendidas por outro falante
dessa mesma língua. Tal variedade, identificada segundo essa dimensão, chama-se
dialeto.
Nenhuma língua permanece estática. Ela apresenta variedades geográficas,
sociais e individuais, já que o falante procura utilizar o sistema idiomático da melhor
forma que convém. Com essas diferenciações não há prejuízo na unidade da língua, o
que existe é a comunicação.
Na comunicação existe algo comum para o emissor e o receptor que lhes facilita
a compreensão. Esse elemento é a norma linguística que ambos os interlocutores
adquirem da comunidade. A norma é instável, pois está presa à estrutura político-social
e pode mudar no curso do tempo se o indivíduo mudar de um grupo social. A fala é a
imagem de uma norma e varia de usuário para usuário. Dessa forma, é uma ilusão
acreditar que a língua possa um dia parar, pois ela é a imagem e a voz de um povo.
VARIEDADES LINGUÍSTICAS
A história da língua portuguesa mostra muitas variedades linguísticas dentro do
grande território brasileiro. Do norte ao sul se fazem presentes o falar amazônico, o
nordestino, o baiano, o mineiro, o fluminense, o sulista entre outros que se subdividem,
formando uma vasta diversidade.
Há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e que recebe o nome de
“português”); e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome). E é esta
última que é a língua materna dos brasileiros; a outra (“o português”) tem de ser
aprendida na escola, e a maior parte da população nunca chega a dominá-la
adequadamente (PERINI, 2001).
Na realidade não existe sistema escrito capaz de reproduzir fielmente a riqueza
da língua falada. O que acontece é que existem graus de diferença nesta distância entre
as duas formas da língua. As diferenças entre essas formas se acentuam dentro de um
continuum tipológico (BIBER, 1988), que vai do nível mais informal ao mais formal,
passando por graus intermediários. A informalidade consiste em apenas uma das
possibilidades de realização, não só da língua falada, como também da língua escrita.
A civilização tem dado uma importância extraordinária à escrita e, muitas vezes,
quando nos referimos à linguagem, só pensamos nesse seu aspecto. É preciso não perder
de vista, porém, que lhe há ao lado, mais básica, uma expressão oral, porque “o homem
6
Aleatório: Que depende das circunstâncias, do acaso, de fatores incertos, ou que ocorre por acaso ou por
acidente; fortuito; casual.
7
Caótico: Em estado ou situação de caos; totalmente confuso e desordenado (trânsito caótico).
24
é apenas metade de si mesmo; a outra metade é a sua expressão” (CÂMARA JR., 2001,
p. 164).
O nacionalismo busca as origens sem perder a visão crítica da realidade
brasileira. É uma forma de repensar a literatura, a valorização do falar cotidiano, numa
busca do que seria a língua brasileira “como falamos e como somos”. É uma análise
crítica da sociedade burguesa capitalista, consciente e de denúncia, porque, na realidade,
não é a elite que muda a linguagem e, sim, o povo, pois necessita da mudança, a elite
apenas a aceita.
A linguagem é uma atividade de interação social, ou seja, é uma manifestação de
competência comunicativa, definida como capacidade de manter a interação social
mediante a produção e o entendimento de textos que funcionam comunicativamente.
Essa linguagem possibilita ao homem representar a realidade física e social e,
desde o momento em que é aprendida, conserva um vínculo muito estreito com o
pensamento. Possibilita não só a representação e a regulação do pensamento e da ação,
próprios e alheios, mas também a comunicação de ideias, pensamentos e intenções de
diversas naturezas e, desse modo, influenciar o outro e estabelecer relações
interpessoais, anteriormente, inexistentes.
Essas diversas dimensões da linguagem não se excluem. Não é possível dizer
algo a alguém sem ter o que dizer. E ter o que dizer, por sua vez, só é possível a partir
das representações construídas sobre o mundo.
A comunicação com as pessoas permite, consequentemente, a construção de
novos modos de compreender o mundo e de novas representações sobre ele. Mas se um
dos interlocutores ouve a fala do outro e não a compreende inteiramente, isto é, não
percebe suas “intenções”, a comunicação não se dá de forma plena. Para uma pessoa se
comunicar por meio da língua, além de conhecer seu vocabulário e suas leis
combinatórias, ela necessita, também, perceber a situação em que se dá a comunicação,
isto é, ter consciência do seu “contexto”.
O contexto é parte da representação mental que envolve uma gama muito grande
de conhecimentos e informações. São a nossa visão de mundo e a organização mental
como situações estereotipadas e sem ordenação que decidem se as condições
necessárias à adequação dos atos de fala foram, realmente, preenchidas ou não. Esses
atos de fala referem-se a atitudes passadas ou futuras do falante/ouvinte, pois funcionam
como princípios através dos quais as atitudes são controladas e comentadas ou podem
até ser usados com o objetivo de fornecer informações sobre essas atitudes.
Fica óbvio que quando o indivíduo passa a ter contato com outras pessoas,
percebe que nem todos falam como eles ou como seus parentes mais diretos. Existem
pessoas que falam diferente por serem de outras famílias, de outras cidades ou de outras
regiões do país. Essas modalidades de nossa língua são chamadas de variantes
linguísticas que apresentam mudanças em razão das condições etárias, sociais, culturais
e regionais dos indivíduos que a compõem.
Todas as variedades linguísticas são eficazes na comunicação verbal e possuem
valor nas comunidades em que são faladas. Por isso, não existe um jeito certo de falar,
nem um dialeto superior a outro. “Quando se fala do exemplar correto, fala-se de uma
forma eleita entre as várias formas de falar que constituem a língua histórica, razão por
que o eleito não é nem correto nem incorreto” (BECHARA, 1991, p. 51).
Assim sendo, a linguagem é um fator de discriminação social, pois as
diversidades linguísticas provocam preconceitos dos falantes de uma variante mais
elitizada aos falantes de uma variante menos favorecida, ocasionando dificuldades para
estes últimos.
Bernstein reafirma: numa sociedade dividida em classes, pode-se identificar a
existência de duas variedades linguísticas, dois “códigos”, determinados pela forma
25
social: o “código elaborado” e o “código restrito”. Esses diferentes códigos resultariam
da diferença entre os processos de socialização que ocorrem nas várias classes sociais
(BERNSTEIN, 1971, p. 83). Segundo o autor, há a existência de diferentes tipos de
linguagem, determinados pela origem social, assim o uso da linguagem é função do
sistema de relações sociais. A consequência é que diferentes “códigos” linguísticos
criam para o falante, diferentes ordens de relevância e de organização da realidade, isto
é, a estrutura social determina o comportamento linguístico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como a língua é considerada reflexo da cultura e determinante de formas de
pensamento, o código linguístico não apenas reflete a estrutura de relações sociais, mas
também a regula. O homem aprende a ver o mundo pelos discursos que assimila e, na
maior parte das vezes, reproduz esses discursos em sua fala. Se a consciência é
constituída a partir dos discursos assimilados por cada membro de um grupo social e se
o homem é limitado por relações sociais, não há uma individualidade de espírito nem
uma individualidade discursiva absoluta. A organização que os interlocutores associam
a um determinado discurso é um reflexo da forma pela qual o conteúdo é visto como
coeso pelo ouvinte, ficando, assim, armazenado em sua mente.
Outros fatores que contribuem para a representação mental que os ouvintes têm
do discurso são os conhecimentos prévios de como as coisas acontecem no mundo real,
juntamente, com as suas expectativas sobre o que o falante pretende dizer. As
representações mentais não ficam limitadas apenas à compreensão do discurso, mas são
instrumentos mais gerais e fundamentais à cognição8 humana.
Discurso, aqui, é o modo de “criar representações comparáveis àquelas que
derivamos da nossa percepção direta do mundo” (JOHNSON-LAIRD, 1983, p. 397). O
enunciador é o suporte dessas relações, vale dizer, de discursos que constituem a
matéria-prima com que elabora a sua fala. Seu dizer é a reprodução inconsciente do
dizer de seu grupo social. Não é livre para dizer, mas coagido, dessa forma, a dizer o
que seu grupo diz. “O discurso é, pois, o lugar das coerções sociais” (FIORIN, 1988, p.
42). O indivíduo não pensa e não fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele
fale. Assim a posição do falante no mercado linguístico só modifica quando o seu
discurso lhe conferir autoridade, poder e dominação.
O sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha
consciência disso a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que
lhe é possível a partir do lugar que ocupa. A sua fala revela mais do que o pensamento
do falante, revela, também, o seu nível cultural, a sua posição social, a sua capacidade
de adaptação a certas situações, sua timidez, enfim, a sua forma de ser e ver o mundo.
Dessa forma, falar mesmo, dizer o mundo, suas vidas, seus desejos e prazeres,
dizer coisas para transformar, dizer o seu sofrimento e suas lutas para fazer, mudar e
vencer, é tarefa, ou melhor, é pré-requisito para uma sociedade mais justa e igualitária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? São Paulo: Ática,
1991.
BERNSTEIN, Basil. Comunicação verbal e socialização. In. COHN, Gabriel (Org.).
Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Nacional, 1971.
8
Cognição: 1. Ação ou resultado de ter ou adquirir conhecimento. 2. Capacidade ou processo de adquirir
e assimilar percepções, conhecimentos etc.
26
BIBBER, D. Variation across speech and writing. Cambridge: Cambridge University
Press, 1988.
CÂMARA JR., J. Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. Petrópolis: Vozes,
2001.
PERINI, Mario A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2001.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1988.
JOHNSON-LAIRD, P. N. Mental model. Cambridge: Harvard University Press, 1983.
Exercícios
1) (ENADE, 2006)
(Jornal do Brasil, 3 ago. 2005).
Tendo em vista a construção da ideia de nação no Brasil, o argumento da
personagem expressa
A) a afirmação da identidade regional.
B) a fragilização do multiculturalismo global.
C) o ressurgimento do fundamentalismo local.
D) o esfacelamento da unidade do território nacional.
E) o fortalecimento do separatismo estadual.
2)
a) Leia o artigo do Apêndice 5 e identifique as partes, suprimidas, que o compõem:
Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.
b) Elabore um esquema desse artigo, como se estivesse organizando um sumário,
mas sem a necessidade de informar o número das páginas de cada tópico.
3)
Em grupo, produza um artigo sobre o tema que escolherem. A obra de referência
será: CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 8. ed. São Paulo: Ática, 2004.
27
3
PREPARAÇÃO DE TEXTO TÉCNICO: PAUTA
A pauta: o roteiro da reportagem9
Enio Moraes Júnior
Pensar e elaborar uma boa pauta é o começo de qualquer boa reportagem
jornalística. Ela é o guia, o roteiro, o briefing que vai orientar o repórter em seu
trabalho. A pauta é a solicitação, por parte do pauteiro, do trabalho que ele deseja que o
repórter execute.
Costumo dizer aos meus alunos que, quando o trabalho de apuração da
informação é feito por apenas uma pessoa, e não há as figuras do pauteiro, do repórter,
do editor etc., mas todo trabalho é feito por apenas uma pessoa, em vez de pauta,
podemos falar em um roteiro pessoal para o trabalho de reportagem.
Ao contrário do que se pensa, deve haver um cuidado muito grande na hora de
preparar a pauta ou o roteiro de reportagem. Além de pensar bem o que se quer dizer no
texto e a maneira como se quer falar, é preciso criatividade e estar bem informado sobre
o assunto.
Além disso, vale lembrar que a pauta ou o roteiro não devem ser uma camisa de
força. Se, por um lado, o repórter deve segui-los com precisão, por outro, em alguns
momentos, deve abandonar sua rigidez e apostar na sua sensibilidade, no seu ‘faro’.
Enfim, na hora de elaborar a pauta ou o roteiro da reportagem:
1. Deixe claro, no início da pauta, a retranca, ou seja, o assunto de que deverá
tratar a reportagem.
2. Pesquise sobre o assunto: anote dados que você acha relevantes e que já
estão disponíveis em algum lugar. Hoje em dia, além dos jornais, a internet e
sites de busca como o Google e o Yahoo são boas fontes para essa primeira
etapa do trabalho;
3. Em seguida, aponte os elementos a serem problematizados. Esclareça para
o repórter – no caso de estar elaborando uma pauta – ou para você mesmo – em
se tratando de um roteiro –, o que a matéria vai acrescentar às informações já
disponíveis;
4. A seguir, indique fontes a serem ouvidas, ou seja; as pessoas que podem ser
entrevistadas sobre o assunto. Sugira as possíveis perguntas a serem feitas pelo
repórter e, por fim, anote nomes e, na medida do possível, e-mails e telefones
das fontes. Neste ponto, lembre-se de que nem sempre apenas as autoridades são
ouvidas. Sugira também entrevistas com pessoas do povo, e aí nem sempre você
precisa citar nomes;
5. Se você dispuser de equipamento fotográfico, não deixe de sugerir ou
roteirizar fotos e imagens que devem, junto com o texto, ilustrar o trabalho;
6. No final, indique o número de laudas que o repórter tem para escrever. Isso é
importante, pois é uma forma de garantir que não vai faltar nem sobrar texto.
Uma lauda, para quem ainda não tem familiaridade com a linguagem
jornalística, corresponde a um conjunto de 1400 (mil e quatrocentos) caracteres
contados os espaços. Uma matéria jornalística de um tamanho razoável tem, em
média, duas laudas.
9
Disponível em: http://www.jornaljovem.com.br/edicao6/editorial_dicas01.php
28
Com as dicas acima, a sua pauta ou roteiro estão prontos e o seu repórter ou você
estará mais habilitado a fazer o trabalho de campo: a reportagem. Veja no exemplo de
pauta a seguir como podem ficar os seis tópicos de que falamos acima e depois tente
elaborar a sua pauta. Sucesso!
Retranca (assunto): O voto do jovem
Corrupção, CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) quase que intermináveis,
alguns deputados com mandatos cassados e muitos outros absolvidos contando, muitos
vezes, com as benesses e os privilégios das amizades do meio político nacional. Este é
mais ou menos o desolador quadro da política brasileira e, em meio a isso tudo, a
população parece cada vez mais distante da vida e das decisões políticas.
Os jovens, muitos dos quais votam pela primeira vez em outubro deste ano, têm pouco
interesse pela política e não sabem que critérios estabelecer para escolher seus
candidatos. A ideia é fazer uma matéria sobre o assunto e discutir a questão do primeiro
voto do jovem, um tema que interessa a muita gente em ano eleitoral. É importante
conversar com conhecedores da política nacional.
Vamos conversar com o cientista político Bruno Konder Comparato, professor da
Universidade de São Paulo, e saber dele:
• Por que a política brasileira passa por essa crise de credibilidade e interesse?
O quadro sempre foi este ou agravou-se nos últimos anos?
• É importante o voto do jovem? Quais os critérios que ele deve estabelecer
para escolher seus representantes nos espaços políticos nacionais?
• Como o jovem pode acompanhar mais de perto as decisões e cobrar mais dos
políticos?
É válido conversar também com jovens, especialmente com aqueles que
votam este ano pela primeira vez. Procurar saber:
• Eles acham que participam da vida e das decisões políticas do País? Por quê?
Se participam, de que forma eles fazem isso?
• Quais os critérios que pretendem adotar para escolher seus representantes?
Temos no mínimo duas e no máximo três laudas para contar essa história.
Vamos também fazer fotos de todos os entrevistados e também da fachada da sede do
Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TER / SP) para ilustrar a matéria.
Contato: Prof. Bruno Konder Comparato
Telefones: (11) AAAA-BBBB/ CCCC-DDDD
E-mail: [email protected]
TSE: Rua Francisca Miquelina, 123 – Bela Vista
Exercícios
1) Recupere a pauta da seguinte reportagem
Pais adotam cartão pré-pago para vetar "porcarias" no lanche escolar em SP
Jairo Marques
folhauol.com.br
Colégios particulares de São Paulo, como o Dante Alighieri e o Porto Seguro,
passaram a adotar em suas cantinas cartões eletrônicos que permitem aos pais o controle
29
dos gastos diários dos filhos e das guloseimas proibidas para o consumo – tudo pela
internet.
Ao menos dez empresas já administram esses cartões de consumo. O esquema é
simples: no início de cada mês, dependendo do modelo do cartão, o pai determina
quanto o filho poderá gastar com o lanche todos os dias, semanalmente ou
mensalmente.
"O cartão é pré-pago e não há como a criança gastar mais do que o estabelecido.
Quando ele pede um produto que o pai havia bloqueado pelo site, o sistema não aceita e
ele não poderá levar", afirma Julio Cesar Salles, o tio Julio, dono de uma rede que
mantém, só em São Paulo, 45 cantinas.
A dona de casa Alejandra Guerrero de Berios é mãe de duas meninas, Gabriella,
13, e Daniella, 9, que têm problemas de níveis elevados de colesterol. Ela acredita que,
com o cartão, consegue controlar melhor a alimentação das duas e, ao mesmo tempo,
ensiná-las a administrar despesas.
"É duro fazer uma criança de nove anos entender que não pode comer certas
coisas, que precisa fazer dieta", diz.
Toda a vida
Para a nutricionista Josiane Carvalho Cardillo, o controle por parte dos pais é
positivo do ponto de vista nutricional.
"A criança que aprende ou é disciplinada a ter bons hábitos alimentares desde
cedo leva isso para o resto da vida. Se é possível determinar as boas escolhas, por que
não fazê-lo?"
Algumas cantinas vão além do cartão. Elas colocam nas redes sociais, todos os
dias, fotos dos cardápios disponíveis e não permitem que a criança coma o que bem
entender.
"Não vendemos só balas, só chocolates ou só coxinhas para crianças pequenas
de jeito nenhum", afirma Rodrigo Naldoni, da Cantina da Escola, no Objetivo do
Ipiranga.
Diálogo
Na avaliação da pedagoga Ângela Soligo, doutora pela Unicamp, a sociedade
está substituindo a educação das crianças pelo controle.
"O pai quer controlar o que filho come pelo cartão, onde o filho está pelo celular.
É muito mais interessante abrir um diálogo sobre alimentação em casa e educar para
uma alimentação saudável", diz.
Segundo a especialista, o mecanismo é ilusório. "Alunos trocam de lanche o
tempo todo. O pai vai saber o que ele comprou, mas não o que ele comeu. A marca do
controle é superficial, a marca da educação é profunda e levada para a vida toda."
2) Desenvolva a seguinte pauta
Pauteiro: Rosana Valdez
Retranca: Inauguração de ambulatório
Data: 21/05/2010
TEMA: Prefeitura inaugura primeiro ambulatório para atendimento especializado de
crianças.
SINOPSE: Depois de muitas reivindicações de toda a comunidade de Pirituba, a
Prefeitura finalmente vai inaugurar no próximo dia 20, às 10 horas, o primeiro
ambulatório para atendimento infantil. Ele terá o nome de Ambulatório Miguel da Silva
Rossi, em homenagem ao garoto de 7 anos que morreu no mês passado, na recepção do
Pronto-socorro Geral enquanto esperava atendimento médico. A obra custou 890 mil
30
reais, e parte foi financiada pelo Governo Federal.
ENCAMINHAMENTO: Verificar junto à direção do ambulatório (ou com o secretário
de Saúde) qual a capacidade de atendimento; quais as especialidades que serão
atendidas; se isso soluciona ou minimiza os problemas de saúde relacionados à criança
na região; qual será o horário de funcionamento; se há médicos para atender à
população e qual a opinião da comunidade sobre essa obra.
FONTES:
• Dr. Waldemar de Souza (diretor-geral do ambulatório)
Rua Ambrósio Couto, 86
Tel. 875-2233 (falar com Vera – secretária da diretoria)
• Emerson Vasconcelos (secretário de Saúde do município)
Av. Primeiro de Maio, 445
Tel. 864-1000 (falar com Sandra – secretária)
SUGESTÕES DE PERGUNTAS
(para o médico ou o secretário)
- Qual a capacidade de atendimento do novo ambulatório?
- Que especialidades médicas estão sendo oferecidas para a população?
- Essa obra pode solucionar os problemas de saúde infantil da região?
- Por que a Prefeitura demorou tanto tempo para inaugurar esse ambulatório?
(para a população)
- O Sr. acha que essa nova obra da Prefeitura é importante para a cidade?
- Como tem sido o serviço de saúde prestado pela Prefeitura?
- O Sr. acha que essa obra vai melhorar o atendimento para as crianças?
31
4
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA IMPRESSA 1
Toda produção de texto, oral ou escrito, deve levar em conta os componentes
básicos das situações discursivas em geral: quem fala, para quem fala, com que intenção
e, mediante esses elementos, como fala. De acordo com a nossa intenção, toda a
estrutura do texto se modifica: seleção do vocabulário, extensão da sentença,
organização dos parágrafos etc., pois a cada intenção corresponde certo gênero
discursivo.
No jornalismo distinguem-se, dois grandes gêneros: o jornalismo informativo e o
jornalismo opinativo. O fundamento dessa separação está no efeito de produção de
sentido, assim os dois grandes efeitos ideológico-discursivos em relação ao destinatário
são fazer saber e fazer crer. Ao jornalismo opinativo10, que trata da valoração explícita
quanto aos acontecimentos, pertencem os gêneros editorial, comentário, artigo, resenha,
coluna, crônica e carta do leitor; ao informativo11, os gêneros nota, notícia, reportagem,
entrevista, serviço, entrevista. Em linhas gerais, ao gênero opinativo pertencem a
contestação, a crítica e o questionamento; ao informativo, os relatos de experiências e
fatos.
Texto informativo
ULSAN – Quando menos esperava, o meia Ricardinho, do Corinthians, realizou seu
sonho profissional. Tornou-se o 24º jogador convocado pelo técnico Luiz Felipe Scolari
para a Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão. O corintiano substituiu o volante, e
até então capitão, Emerson, cortado por causa de uma luxação no ombro direito. Deve
chegar a Ulsan na madrugada de terça-feira, horário do Brasil. Embora não tivesse a
mesma promoção e repercussão de Romário, a ausência de Ricardinho da lista dos
atletas que estariam no Mundial foi bastante questionada. A boa fase no Corinthians,
coroada com duas importantes conquistas – o Torneio Rio-São Paulo e a Copa do Brasil
10
Editorial – Texto jornalístico opinativo, publicado sem assinatura e referente a assuntos ou
acontecimentos locais, nacionais ou internacionais de maior relevância. É a “opinião” do jornal ou da
revista, representa seu ponto de vista, sua ideologia e o próprio modo de fazer jornalismo. Artigo – Texto
interpretativo e opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve uma ideia ou comenta um assunto a
partir de determinada fundamentação. Geralmente é assinado por algum articulista, ou jornalista do
veículo de comunicação. Resenha – Gênero textual em que se propõe a construção de relações entre as
propriedades de um objeto analisado, descrevendo-o e enumerando aspectos considerados relevantes
sobre ele. No jornalismo, é utilizado como forma de prestação de serviço. Caricatura (charge) –
Comentário visual dos fatos, caricatura política ou de personagens do noticiário. Crônica – Texto
jornalístico de forma livre e pessoal e que tem como tema fatos ou ideias da atualidade; esses fatos podem
ser de teor artístico, político, esportivo, etc.; ou simplesmente relativos à vida cotidiana. Carta do leitor –
Texto produzido pelo leitor, inteiramente independente da linha editorial do jornal. Normalmente
corresponde a comentários sobre edições anteriores do veículo, embora não se limite a esse fim.
11
Nota – Breve notícia, que se destina à informação rápida. Notícia – Relato de fatos ou acontecimentos
atuais, de interesse e importância para a comunidade e de fácil compreensão pelo público. Reportagem –
Texto que informa, contextualizando e de modo mais aprofundado, fatos de interesse público. Situa-se no
questionamento de causa e efeito, na interpretação e no impacto, somando as diferentes versões de um
mesmo acontecimento. Entrevista – A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os
dados nela obtidos, ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declarações são citadas
entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também chamado "pingue-pongue".
Existem dois tipos de entrevista: a de informação ou opinião (quando se entrevista uma autoridade, um
líder ou um especialista) e a de perfil (quando se entrevista uma personalidade para mostrar como ela vive
e não apenas para revelar opiniões ou para dar informações). Serviço – Texto que fornece informações de
utilidade imediata ao leitor, principalmente no que diz respeito a empregos, concursos públicos, imóveis e
mercado imobiliário, exercício da cidadania, serviços públicos, etc.
32
–, o colocavam como um dos nomes mais cogitados para estar na Ásia. Pelo time do
Parque São Jorge já jogou 252 vezes e marcou 63 gols. (O Estado de S.Paulo, 3/6/2002)
Texto opinativo
A face da medicina brasileira que temos hoje é tão monstruosa que já provoca o
sentimento de que as doenças seriam menos perniciosas se ela não existisse. Esse
sentimento não tem base científica, mas o fato é que ele existe. Fala-se no mundo todo
em sistemas de saúde e política de saúde, que pressupõem, por definição, complexidade
organizacional, objetivos sociais, estratégias de execução e análise evolutiva para
eventuais correções do curso. Tudo isso sem esquecer o objetivo a ser atingido. No
Brasil, não temos sistema nem política de saúde. Não há objetivo definido, por isso é
fácil esquecê-los. Há uma complexidade desorganizacional que atende a outros
interesses. Centenas de estratégias de execução são realizadas em microuniversos
isolados, mas por não formar um todo coerente acabam antagonizando-se e anulando-se.
(...). No Brasil, opera-se menos da metade dos pacientes que se pode operar, e opera-se
mal. Enquanto isso, há gente que poderia ser salva, mas morre sem conseguir sequer um
diagnóstico. Não interessam ao doente que vai morrer por falta de socorro médico as
razões dessa falta. (Francisco J. de Moura Theóphilo. Veja, ed. 1346)
A estrutura do texto jornalístico12
Alfredina Nery
Se a narração é o gênero de redação em que uma história é contada (seja uma
fábula ou uma crônica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em
primeira ou terceira pessoa, etc., a notícia é o relato do fato, com texto, geralmente,
mais simples, seco. Você vai entender como
funciona.
Você acredita que a notícia que ouvimos
no rádio, assistimos na TV, lemos no jornal
impresso ou na Internet é um fato em si ou é
uma interpretação de um fato? Antes de
responder, observe por alguns segundos a figura
reproduzida ao lado. O que você vê? Uma vaca?
Se você respondeu que sim, a sua resposta
estava quase certa. Não se trata de uma vaca,
mas de uma representação de uma vaca, não é?
Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos,
valores, ideias. Logo, a notícia não é o fato em si, mas sim uma interpretação desse fato,
certo?
Analise a breve notícia a seguir.
Escorpiões assustam Vila São José
Os moradores da Vila São José, no Ipiranga, estão assustados com o grande número de
escorpiões que têm sido encontrados na região. Eles também se indignaram com a
sugestão de um técnico da Vigilância de Saúde da Subprefeitura do Ipiranga que
aconselhou a população a espalhar galinhas pelas ruas para resolver o problema.
Os moradores acreditam que a proliferação tenha começado em um terreno onde havia
uma casa abandonada.
(Ipiranga News, 28/10 a 3/11/2004)
12
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u19.jhtm>
33
Assunto
Pelo assunto e pelo nome do veículo de imprensa, percebe-se que se trata de um
jornal de bairro, destinado a uma comunidade particular de leitores – os moradores do
Ipiranga, bairro da cidade de São Paulo.
A estrutura da notícia
Veja que a notícia se estruturou em apenas dois parágrafos. O primeiro –
chamado de "lide" – sintetiza os dados principais: quem, onde, o quê. Se o leitor ler
apenas esse parágrafo, já fica sabendo se quer ou se precisa continuar a ler a notícia. A
leitura de um jornal é seletiva, isto é, o leitor escolhe o que quer ler, por isso não precisa
ler tudo que está escrito no jornal para se informar. É bem diferente da leitura de outros
gêneros, como um conto, um romance, cuja leitura integral é obrigatória para sua
compreensão.
Na notícia do jornal Ipiranga News, os dados do lide são:
√ quem?: os moradores da Vila São José;
√ onde?: na Vila São José, bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo;
√ o quê?: moradores assustados com a quantidade de escorpiões na região.
O segundo parágrafo "expande a notícia", isto é, dá mais detalhes a respeito do
fato:
√ os moradores estão indignados com a Vigilância Sanitária da Subprefeitura, que
sugere que eles criem galinhas, como forma de resolver o problema da proliferação dos
escorpiões;
√ os moradores têm uma explicação para o aumento dos escorpiões: uma casa
abandonada.
Linguagem coloquial
A linguagem do jornal é, preferencialmente, coloquial (próxima à maneira como
falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao
leitor, ao buscar uma comunicação mais eficiente.
Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar
imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do Ipiranga
News pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa
aparência de imparcialidade é conseguida por:
√ ausência de enunciados de opinião. Há fatos, acontecidos com outros e que não têm
nada a ver com o jornal, como em "Os moradores também se indignaram...";
√ privilégio do uso de terceira pessoa ("os moradores", "eles");
√ não uso de adjetivos que possam dar impressão de subjetividade, de interferência da
opinião do jornalista. Não se admite, por exemplo, uma notícia que fale em um
homem velho, em prédio alto, bairro distante. Para dar impressão de que os fatos são
relatados com a maior precisão possível uma notícia informa, por exemplo: homem
branco, 85 anos; prédio de doze andares; bairro da periferia da cidade de São Paulo
etc.;
√ a busca de exatidão faz com que se privilegiem os verbos no modo indicativo: "estão
assustados", "têm sido encontrados", "se indignaram", "aconselham", "acreditam",
"tenha começado", "havia".
O que é notícia?
34
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.
Pode-se perceber que o poema dialoga com a notícia e que o fato – a morte de
uma pessoa – poderia mesmo ser uma notícia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira
escreve não é uma notícia, mas um poema em que mostra uma contradição da vida
brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso é tragédia...
Agora, voltemos à história do escorpião.
Perigo à vista
Na bonita manhã de sol da segunda-feira, seu Joaquim, morador mais antigo da rua
Jurupá, foi comprar pão na padaria. Encontrou-se com Dona Maria que também estava
saindo para o trabalho e foram conversando sobre os preços absurdos de tudo, nos dias
atuais. No caminho encontraram dois escorpiões, perto da casa abandonada, cujo dono
havia morrido há muito tempo e, porque o inventário nunca acabava, ninguém
conseguia vender ou alugar o imóvel. Esse fato foi motivo para mais conversa sobre ‘o
fim dos tempos’ da vida moderna.
Dona Nenê, vizinha de seu Joaquim, quando lavava roupa, num certo dia, também
encontrou escorpiões em seu quintal. Foi um alvoroço só… Mas o problema maior foi
quando um escorpião picou uma das filhas do seu Agenor. Ele, indignado, na volta do
hospital, chamou a Vigilância Sanitária. Os técnicos sugeriram que uma boa forma de
acabar com os escorpiões era criar galinhas. Que fazer?
Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notícia extraída do Ipiranga News,
não se pode considerar o texto acima uma notícia. A organização textual, por exemplo,
é muito diferente de uma notícia. Vejamos algumas diferenças.
Sequência do texto
Linguagem
Escorpiões
assustam
Vila São
José
Do fato mais
importante para os
detalhes
Objetiva
Procurando ser
neutra
Perigo à
vista
Sequência temporal
da narrativa, cujo
acontecimento
principal está diluído
no texto
Detalhada na
construção das
personagens e do
cenário. Cada
elemento ajuda a
compor o enredo.
Em uma notícia, em geral, os eventos não são ordenados por sua sequência
temporal como em uma história, ou seja, o jornalista não tem a pretensão de relatar os
35
fatos na ordem em que, supõe-se, ocorreram. Os eventos são apresentados pelo
interesse, na perspectiva de quem conta e, principalmente, pelo que o
leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode considerar mais importante. É evidente que
quem informa faz uma seleção prévia dos eventos a serem destacados, relatando-os em
função do evento principal e da ideologia do jornal.
Conceito de notícia
Leia o que diz um especialista no assunto:
Notícia: relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante. A estrutura da
notícia é lógica; o critério de importância e interesse envolvido em sua produção é
ideológico: atende a fatores psicológicos, comportamentos de mercado, oportunidades,
etc.
LAGE, Nilson. A estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 1993.
Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatidão a
veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notícia é impossível, pois o
redator tem que escolher o que vai contar – que acontecimentos, dentre outros, podem
se transformar em uma notícia que venda mais. Determinado "o quê", ainda há o
"como", isto é, como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica determinada
seleção de vocabulário, destaque para o tipo de letra, tamanho da notícia, lugar em que a
notícia vai aparecer no jornal, abordagem etc.
É necessário compreender que o jornalismo não retrata nem cria fatos, e sim
constrói visões dos fatos. O jornal legitima uma opinião sobre os fatos, a depender de
sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notícia é uma
construção de visões e não os fatos em si.
A linguagem jornalística
O texto jornalístico informativo visa narrar de maneira objetiva os
acontecimentos que devem ser compartilhados. São textos de caráter informativo, que
buscam informar os leitores sem deixar transparecer a opinião do autor. Apresentam
somente os fatos de maneira impessoal. Mas a famosa “isenção de opinião” para melhor
informar o leitor/ espectador/ ouvinte muitas vezes é driblada pelo próprio autor do
texto, que usa técnicas que em jornalismo são chamadas de “notícia dirigida” ou
“tendenciosa”.
O lead
O lead (na forma aportuguesada, lide) é, em jornalismo, a primeira parte de uma
notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação
básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. Trata-se de uma expressão
inglesa que significa "guia" ou "o que vem à frente".
As seis perguntas básicas do lead devem ser respondidas na elaboração de uma
matéria: "o quê?", "quem?", "quando?", "onde?", "como?" e "por quê?" (3Q+O+P+C).
O lead, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado e as principais
circunstâncias em que ele ocorre.
Já o lead do texto de reportagem, ou de revista, não tem a necessidade de
responder imediatamente às seis perguntas. Sua principal função é oferecer uma prévia,
como a descrição de uma imagem, do assunto a ser abordado.
O lead deve ser objetivo e pautar-se pela exatidão, linguagem clara e simples.
Isso não significa, porém, que o lead deva ser burocrático. O leitor ganha interesse pela
notícia quando o lead é bem elaborado e coerente. Em resumo: quando bem elaborado,
ele incita o leitor a ir até o final da notícia.
A técnica da pirâmide invertida
36
Numa notícia, depois do lead, todas as informações restantes são dadas por
ordem decrescente de importância, de forma que, à medida que se vai descendo no
corpo da notícia, os fatos relatados vão se tornando cada vez menos essenciais. Pirâmide
invertida, porque, em sua base, aquilo que é noticiosamente mais importante encontra-se
no topo – em ordem muito distinta à que seguem, por exemplo, os estilos literários
como a novela, o drama ou o conto, que geralmente usam uma linguagem de
desenvolvimento do enredo com começo, meio e fim, em que o final é o ápice da
narrativa.
Como se estrutura a notícia?
A notícia inicia-se com o título, a seguir, se houver necessidade, vem o
subtítulo, também chamado de linha fina. O corpo da notícia, normalmente, inicia-se
com o lead, ao qual se seguem as demais informações em ordem decrescente de
importância.
Exercício
(ENADE, 2009)
“No princípio, Deus criou o céu e a terra.” Essa frase bíblica é encontrada no Manual de
Estilo da Editora Abril (Nova Fronteira, 1991) como exemplo de clareza e impacto,
destacando que “se a primeira frase não levar à segunda, seu texto está morto”.
PORQUE
O Lide/ Abertura da matéria deve trazer a informação mais importante.
Considerando essas assertivas, é CORRETO afirmar que
A) a primeira é falsa, e a segunda verdadeira.
B) a primeira é verdadeira, e a segunda falsa.
C) as duas são falsas.
D) as duas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira.
E) as duas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira.
37
4.1 APOIO FUNCIONAL
DEFEITOS DO TEXTO (VÍCIOS DE LINGUAGEM)
Contra as qualidades do texto (clareza, concisão, correção, elegância) operam os
defeitos, também catalogados como vícios de linguagem. São eles:
• Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com
a norma culta. Eles ocorrem na:
√ grafia: analizar por analisar.
√ pronúncia: rúbrica por rubrica.
√ morfologia: deteu por deteve.
√ semântica: O iminente jurista presidiu a seção. (por eminente e sessão)
√ estrangeirismo: utilização desnecessária de termos em outras línguas: delivery,
sale/off, mise-en-scène em lugar de entrega em domicílio, liquidação, encenação.
• Solecismo: é representado por qualquer erro de sintaxe:
√ de concordância: Fazem anos que não o vejo. (por faz)
√ de regência: Esqueceram de mim. (por esqueceram-se de mim ou esqueceramme)
√ de colocação: Não coloque-a aqui. (por não a coloque)
• Arcaísmo:
consiste no emprego de palavras ou construções antigas, que já
caíram em desuso.
√ antanho (por passado)
• Preciosismo: é o exagero na linguagem, em prejuízo da naturalidade e clareza
da frase.
Isso é colóquio flácido para acalentar bovino. (por Isso é conversa mole para boi
dormir.)
• Cacofonia: é representada por qualquer sequência silábica que provoque som
desagradável: A boca dela é enorme.
A cacofonia compreende:
√ cacófato: o encontro de sílabas forma palavra obscena ou escatológica . Foi
eleita miss Java.// Nunca gaste todo seu dinheiro.
√ eco: repetição de terminações iguais, sobretudo na língua oral. Frequentemente o
presidente sente dor de dente, quando viaja ao Oriente.// O hospital municipal de
Jaboticabal vai mal.
√ colisão: repetição de consoantes iguais ou semelhantes. O monstro medonho
mede mais ou menos um metro e meio.
√ hiato: sequência ininterrupta de vogais. Ou eu o ouço, ou eu o ignoro.
• Ambiguidade:
é o duplo sentido decorrente da construção defeituosa da
frase.
O cachorro do meu vizinho morreu.
O guarda deteve o suspeito em sua casa.
38
• Redundância, pleonasmo vicioso ou tautologia: consiste na
repetição desnecessária de informação.
O cantor usava brinco nas duas orelhas.
Há muitos anos atrás...
Não quero que isto se repita outras vezes.
• Obscuridade:
falta de clareza devido, por exemplo, a períodos
excessivamente longos, linguagem rebuscada, má pontuação, desconhecimento da
crase.
Uma construção defeituosa muito corrente é a que usa verbos no gerúndio, particípio e
infinitivo. Como essas formas nominais frequentemente omitem o sujeito, o sujeito da
oração seguinte serve para as duas, o que pode provocar a obscuridade, como nesta
frase:
Passeando pela rua, o caminhão atropelou o menino.
Como o gerúndio passeando não tem sujeito, automaticamente, acredita-se que o sujeito
da oração seguinte (caminhão) funcione como seu também. Para “consertar” a frase,
bastaria mudar o sujeito da oração principal: Passeando pela rua, o menino foi
atropelado pelo caminhão. Ou desdobrar a oração reduzida de gerúndio: Quando o
menino passeava pela rua, o caminhão o atropelou.
Exercícios
I) Identifique os vícios de linguagem e corrija-os:
1) Amanhã irão fazer vinte anos que me formei.// Fazem duas horas que espero pelo
resultado.// Neste mês farão dois anos que ela morreu./// Neste mês farão dois anos que
ela morreu./// Houveram desistências./// Talvez hajam vagas./// Não haverão feriados
prolongados neste semestre./// Vai chover multas./// Vai acabar nossos estoques de
fraldas.
2) Meu week end foi maravilhoso.
3) As empresas sofreram prejuízos vultuosos.// Os policiais só entrarão aqui com um
mandato de prisão.// Fomos taxados de vagabundos pelos assessores do prefeito.//
Produtos perecíveis. Tráfico permitido. (cartaz no vidro traseiro de uma kombi, que lhe
permitiria circular durante o rodízio)
4) Meu pai sofre de alopecia androgênica.
6) Meu irmão deu um tropeção, caiu no chão e machucou a mão.
7) Compre um refrigerante e ganhe grátis um copo.
9) Eu vi o desmoronamento do barracão.
10) Envie-me já o catálogo de vendas.
11) A oncocercose é uma doença típica de comunidades primitivas. Não foi
desenvolvido ainda nenhum medicamento ou tratamento que possibilite o
restabelecimento da visão. Após ser picado pelo mosquito, o parasita (agente da
doença) cai na circulação sanguínea e passa a provocar irritações oculares até a perda
total da visão. (Folha de S.Paulo, 02/11/90)
39
12) O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em novembro
passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo
bandejão em que era servido aos soldados americanos. (Veja, 09/01/91)
13) As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A
decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe
que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de
18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios
sem a companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudoeste, 06/06/92)
14) Os estudantes que pretendem ingressar na Unicamp, no próximo vestibular,
concordam com o decreto do governo. Estão reclamando, apenas, que a Universidade
de Campinas está exigindo a leitura de um livro que entrará no exame inexistente no
Brasil: A confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro. (Istoé Senhor, 14/09/88)
15) “Meu filho mais moço é o João Manoel Joinville de Carvalho Machado, do meu
casamento com a Eliane, que é uma mulher doce e encantadora, que mora em Los
Angeles, tem 20 anos e que faz curso superior de cinema.”(trecho de entrevista com
Juarez Machado em A Notícia, Joinville, 27/02/98)
16) Mando-lhe um cão pelo meu motorista que tem as orelhas cortadas e marcas nas
patas.
17) Mulher atacada por cão vai processar seu dono.
18) O ministro da Fazenda qualificou os compradores de motos que pagavam ágio aos
revendedores de ignorantes.
19) Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias.
II) Desfaça a ambiguidade ou duplo sentido:
1) Família quer proteger os filhos dos criminosos.
2) O mutirão contra a violência da polícia não produziu o feito esperado.
3) Antes de mudar-se para o Rio, o trabalho do meu pai obrigava-o a constantes viagens
pelo Brasil.
4) Saindo de casa, o fogão ficou aceso.
5) O telefone tocou ao entrar no quarto para apanhar a chave.
6) Comparadas com suas primas europeias, os enxames de abelhas africanas têm dez
vezes mais indivíduos.
7) Olhando do alto do Corcovado, a Baía de Guanabara é um espetáculo deslumbrante.
8) Além de machucado, o contrato do jogador termina no próximo dia 8.
9) Osama bin Laden foi encontrado enforcado por dois jornalistas da CNN na noite de
quarta-feira.
10) Na pressa para fugir com uma pedra quebrou a vidraça.
11) Farrah Fawcett, 60 anos, teria deixado os Estados Unidos e viajado para a Europa
para fazer um tratamento contra o câncer que é ilegal em seu país, segundo o site
Hollywood.com.
12) Vi o sol surgir da janela do meu quarto no horizonte.
13) Durante o namoro, Carlos pediu que Maria se casasse com ele várias vezes.
14) Dividido em 75 crônicas bem-humoradas, o autor relata as gafes dos veículos de
comunicação.
14) (Unicamp-SP)
Observe que nos trechos abaixo, a ordem que foi dada às palavras, nos enunciados,
provoca efeitos semânticos (de significado) “estranhos”.
• Fazendo sucesso com a sua nova clínica, a psicóloga Iracema Leite Ferreira Duarte,
localizada na Rua Campo Grande, 159.
40
• Embarcou para São Paulo Maria Helena Arruda, onde ficará hospedada no
luxuoso hotel Maksoud Plaza.
(Notícias da coluna social do Correio do Mato Grosso)
Escolha um dos trechos, diga qual é a interpretação “estranha” que ele pode ter, e
reescreva-o de forma a evitar o problema.
15) (ENADE, 2006)
Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboat
Eu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
Minha casa é hi-tech
Toda hora rola um insight
Já fui fã do Jethro Tull
Hoje me amarro no Slash
Minha vida agora é cool
Meu passado é que foi trash
Fica ligada no link
Que eu vou confessar, my Love
Samba do Approach
Depois do décimo drink
Só um bom e velho engov
Eu tirei o meu green card
E fui pra Miami Beach
Posso não ser pop star
Mas já sou um nouveau riche
Eu tenho sex-appeal
Saca só meu background
Veloz como Damon Hill
Tenaz como Fittipaldi
Não dispenso um happy end
Quero jogar no dream team
De dia um macho man
E de noite uma drag queen.
(Zeca Baleiro)
I - “(...) Assim, nenhum verbo importado é defectivo ou simplesmente irregular, e todos
são da primeira conjugação e se conjugam como os verbos regulares da classe.”
(POSSENTI, Sírio. Revista Língua. Ano I, n.3, 2006.)
II - “O estrangeirismo lexical é válido quando há incorporação de informação nova, que
não existia em português.”
(SECCHIN, Antonio Carlos. Revista Língua, Ano I, n.3, 2006.)
III - “O problema do empréstimo linguístico não se resolve com atitudes reacionárias,
com estabelecer barreiras ou cordões de isolamento à entrada de palavras e expressões
de outros idiomas. Resolve-se com o dinamismo cultural, com o gênio inventivo do
povo. Povo que não forja cultura dispensa-se de criar palavras com energia irradiadora e
tem de conformar-se, queiram ou não queiram os seus gramáticos, à condição de mero
usuário de criações alheias.”
(CUNHA, Celso. A língua portuguesa e a realidade brasileira.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1972.)
IV - “Para cada palavra estrangeira que adotamos, deixa-se de criar ou desaparece uma
já existente.”
(PILLA, Éda Heloisa. Os neologismos do português e a
face social da língua. Porto Alegre: AGE, 2002.)
O Samba do Approach, de autoria do maranhense Zeca Baleiro, ironiza a mania
brasileira de ter especial apego a palavras e a modismos estrangeiros. As assertivas que
se confirmam na letra da música são, apenas,
A) I e II.
D) II e IV.
B) I e III.
E) III e IV.
C) II e III.
41
16) (ENADE, 2014)
Os casos de interpretação ambígua em textos jornalísticos ocorrem muitas vezes porque
o leitor só lê a manchete, não o texto total.
Considerando o exposto, avalie as manchetes transcritas a seguir.
I)
Jovem tenta assaltar PM com arma de brinquedo e é baleado na zona sul de
SP. (http://noticias.r7.com)
II)
A ONU está à procura de um técnico para ocupar o cargo de diretor daquele
centro de estudos sobre a pobreza que vai instalar no Rio.
(http://pagina20.uol.com.br)
III)
Macarrão levou Eliza Samudio para ser morta por amar Bruno, diz advogado
do goleiro. (http://noticias.uol.com.br)
IV)
Governo inclui vacina contra hepatite A no calendário de vacinação do SUS.
(http://g1.globo.com)
É correto afirmar que há ambiguidade apenas em
A) I e IV.
B) II e III.
C) III e IV.
D) I, II e III.
E) I, II e IV.
42
5
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA IMPRESSA 2
Do que depende o bom texto jornalístico?
Carlos Maranhão mostra seis elementos necessários para escrever boas matérias
Marina Piedade
"O jornalista é um ser humano mais ou menos parecido com os outros. Ele é
movido por uma vontade grande de mudar o mundo e atingir a maior quantidade de
pessoas possível." Esse é o perfil que Carlos Maranhão, diretor de redação de Veja São
Paulo, apresentou aos alunos do Curso Abril na noite do dia 11/2/2008.
Ele lembrou que o profissional deve ter sensibilidade para apurar os fatos e
capacidade de escrever bem. Comentou que "grandes jornalistas são repórteres por
formação" e apontou seis itens indispensáveis para o desenvolvimento da boa escrita
jornalística:
1. Talento
Para Carlos Maranhão, é fundamental ter aptidão para a profissão. "É como
desenhar, tocar um instrumento, jogar futebol... Tem que ter jeito". Ele acredita que a
prática pode aprimorar o talento, mas não desenvolvê-lo.
2. Leitura
"Só lendo se consegue escrever bem", mencionou Maranhão. Jornais, revistas da
mesma área em que se trabalha, livros de ficção e não ficção de bons autores de língua
portuguesa são opções válidas nessa tarefa.
Ele recomendou obras de Eça de Queirós, Machado de Assis e Graciliano
Ramos. "Ensinam a estrutura do texto e ajudam a desenvolver a criatividade".
O diretor de redação acrescentou que essa tem de ser uma tarefa básica para o
jornalista. "Tem que arranjar tempo. Do mesmo jeito que se tem tempo para dormir,
tomar banho, namorar..."
3. Pesquisa
"Não se pode tratar de um assunto sem ter familiaridade com ele", pontuou
Maranhão. Além disso, uma pesquisa prévia sobre a pauta evita que se publique algo já
tenha saído na imprensa, comentou o jornalista.
4. Apuração
Dados, estudos, depoimentos... Quanto mais informações houver, melhor ficará
a matéria, de acordo com o diretor de redação.
Ele observou que a intenção não é colocar tudo no texto (muitas vezes não há
espaço para tanto), mas selecionar os aspectos mais interessantes do assunto. "Você vê
onde está a notícia na apuração, não na escrita."
5. Disposição para trabalhar
"A vida inteira escrever será um trabalho penoso. Não se escreve um texto
simples facilmente."
Para expressar a aridez dessa tarefa, Carlos Maranhão recorreu a pensamentos de
alguns autores:
"Quem escreve fácil é o orador, que recorre a chavões" (Fernando Sabino, cronista
brasileiro).
"Escrever é um trabalho duro. Poucas palavras certas saem na primeira, segunda,
terceira tentativas" (William Zinsser, escritor norte-americano).
"Tem de escrever, reescrever, reescrever de novo... até o relógio apitar" (Graciliano
Ramos, romancista brasileiro, sobre o tempo de fechamento que orienta o jornalista).
6. Clareza
43
Segundo Carlos Maranhão, texto bom é texto claro – "não importa se é
reportagem, e-mail, trabalho escolar, placa de trânsito...".
As frases curtas, a ordem direta, o uso de palavras simples e a checagem de
informações ajudam a alcançar esse atributo.
Citando o jornalista norte-americano E. B. White (autor de The elements of
style), o diretor de redação de Veja São Paulo disse que a confusão de ideias não é
apenas um distúrbio da prosa – é um distúrbio da vida.
A NOTÍCIA = 3Q + O + P + C
Grevistas bloqueiam porta da USP e param Marginal
Cerca de 300 alunos e funcionários em greve bloquearam a portaria principal da
USP ontem. Os manifestantes fecharam a entrada às 6h30 e mantiveram o bloqueio por
quatro horas. Depois, se dirigiram em passeata até o prédio da reitoria, que está ocupado
desde 8 de junho.
Às 9h, a Marginal Pinheiros parou completamente, entre a ponte da Cidade
Universitária e a Avenida Afrânio Peixoto. Por volta das 10h30, a CET registrava 32
km de lentidão na zona oeste.
O motivo do protesto de alunos e funcionários é o corte no pagamento de mais
de mil funcionários de São Paulo e Ribeirão Preto por causa da greve que começou no
dia 5 de maio. Em assembleia realizada na tarde de ontem, os grevistas decidiram
aceitar um reajuste de 5%.
Em geral, o esquema da pirâmide invertida é usado para a redação de notícias.
Há, no entanto, algumas, como a do jornal Notícias Populares, transcrita a seguir, que,
além de escritas em linguagem coloquial, muito próxima da modalidade oral da
linguagem, não utilizam a estrutura da pirâmide invertida. Tudo vai depender do público
a que se destina a publicação.
INGLESA IMITA DONA FLOR
Como Dona Flor, heroína do romance de Jorge Amado, a inglesa Sarah Pilch
morava com o marido e o amante.
Traçava um no quarto e outro na sala. A brincadeira acabou em morte.
O fogo de Sarah, 27, já era conhecido da cidadezinha de Elsing, na Inglaterra.
Segundo o jornal “The Sun”, ela adorava exibir os seios para os operários que
faziam a reforma de sua casa. Um deles, Kevin Hearle, 23, recebia atenção especial.
Terminada a obra, Sarah alugou um quarto para o rapaz. A baixaria terminou quando
Kevin, num ataque de ciúmes, matou o marido de Sarah.
Andrew Pilch, o marido, trabalhava numa firma de contabilidade. O emprego o
obrigava a viajar muito. Com a casa vazia, Sarah e Kevin faziam a festa. Com o tempo,
porém, as relações entre Sarah e Andrew melhoraram. O amante ficou fulo da vida.
Um dia, Kevin estava na cozinha e ouviu o “fuck-fuck” no quarto do casal. Ele
esperou Sarah descer e disparou: “Como você tem coragem de transar com ele e me
largar aqui, descascando batatas?” Ela respondeu que era hora de Kevin ir embora. “Eu
vou, mas volto pra apagar seu marido”, gritou o amante.
Não deu outra. Uma noite, Kevin esperou Sarah sair pra trabalhar, entrou na casa
e estrangulou Andrew. O caso está sendo julgado no tribunal de Norfolk, Inglaterra.
44
(Notícias Populares, 07.07.91, p.5. Apud DIAS, Ana Rosa Ferreira. O discurso da
violência: as marcas da oralidade no jornalismo popular. São Paulo: Cortez, 1996.
p.56/57)
Exercícios
1) Transforme a notícia do Notícias Populares de modo a que possa ser publicada
num jornal como a Folha de S.Paulo ou O Estado de S.Paulo.
2) Informações para montar notícias (nota de 1500 caracteres). Não se esqueça do
título.
A
– Cinco cachorros que pertencem ao Canil Central da Polícia Militar de São Paulo são
especializados em rastrear explosivos no Brasil. Este é o único grupo no país.
– Após oito anos de trabalho, o cachorro é doado para qualquer pessoa que tenha
condições de cuidar do cachorro.
– “É um trabalho em equipe” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante do canil da
PM
– Os nomes dos cachorros: Tarzan, Éden, Greta, Iceman e Iceberg.
– O trabalho é diferente daquele feito pelos cachorros que farejam drogas. Eles não
podem enfiar o focinho em qualquer buraco. Há o risco de fazer isso e acontecer uma
explosão.
– A técnica utilizada é a seguinte: o animal fica imóvel e aponta o focinho para o lugar
onde estaria a bomba. Daí os policiais vão até lá fazer a verificação e desmontam a
bomba.
– “Com explosivos, só se erra uma vez” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante
do canil da PM.
B
– O Metrô vai dobrar sua rede de estacionamentos próximos às estações até o fim de
2010. Setecentos e vinte mil carros por ano poderão deixar de circular pela cidade a
partir de 2011.
– O sistema E-Fácil cobra a partir de R$ 7,10 por dois bilhetes do metrô, CPTM ou
ônibus e pelo estacionamento por até 12 horas, com manobrista. Cada hora adicional
custa R$ 1.
– A zona leste vai ganhar cinco das seis novas garagens.
– Hoje há vagas em quatro estações. Até o fim de 2010, haverá em mais seis locais.
Essas garagens oferecerão 1,5 mil vagas, que serão usadas por 60 mil carros por mês.
– A forma de circulação das pessoas vai mudar na cidade e os estacionamentos ajudam
quem precisa fazer uma parte do trajeto de carro – aspas de Cristina Bastos, chefe do
departamento de negócios do Metrô.
– O cartão é recarregável e funciona como o Bilhete Único, ou seja, o usuário pode
fazer integração entre os transportes em até quatro horas.
5.1 APOIO FUNCIONAL
CONCORDÂNCIA NOMINAL
45
A ausência de concordância – grande marca da linguagem popular – é
considerada o pecado mortal linguístico. Mas, de acordo com a sociolinguística, esse
traço gramatical da fala popular e coloquial brasileira, expresso, por exemplo, nas
seguintes frases Minhas amiga já chegou // Aqui nós trabalha muito em lugar de Minhas
amigas já chegaram // Aqui nós trabalhamos muito, são formas diferentes de dizer a
mesma coisa (variações linguísticas), que se diferenciam mais pelo seu valor social do
que linguístico. Assim o primeiro grupo é avaliado de forma negativa nos setores mais
escolarizados, mas é perfeitamente adequado nos contextos de seu uso. Lembre-se,
porém, de que o discurso jornalístico deve pautar-se pelo nível culto da linguagem,
padronizado pela gramática.
Essa marca da linguagem coloquial apareceu, em 2008, em uma propaganda de
um carro francês e quase ninguém percebeu o desvio do padrão culto. Vai chover
elogios, dizia o texto, quando o correto seria Vão chover elogios...
•
CONCORDÂNCIA NOMINAL
√ Adjetivo depois do substantivo: duas concordâncias possíveis:
•
masculino plural: Casaco e bolsa vermelhos
•
com o mais próximo: Casaco e bolsa vermelha (neste caso, corre-se o
risco de entender que só a bolsa é vermelha).
√ Adjetivo antes dos substantivos: concorda com o mais próximo:
Má hora e lugar
√ Substantivo modificado por mais de um adjetivo:
•
substantivo no plural: Os setores público e privado atenderam à
solicitação do governo.
•
substantivo no singular, é necessária a repetição do artigo: O setor
público e o privado atenderam à solicitação do governo.
√ É necessário/ é permitido/ é proibido/ é bom:
•
sem artigo, não há flexão: Maça é bom para as gengivas.//
É proibido entrada de menores.
•
com artigo, há concordância com o substantivo:
A maça é boa para as gengivas.//
É proibida a entrada de menores.
√ Meio:
•
numeral (=1/2): variável (meio/meia/meios/meias). Comeu meia
melancia e bebeu meio litro de água.// É meio-dia e meia (e meia hora).
•
advérbio (=um pouco): invariável (só há a forma meio). Elaine
estava meio bêbada. / Estavam meio bravos.
√ Bastante:
•
pronome adjetivo (quantidade): variável (bastante/bastantes).
Temos bastantes agasalhos. (embora seja forma correta, evite no texto
jornalístico)
•
advérbio (intensidade): invariável (só há a forma bastante).
Estávamos bastante tristes.
46
√ Variáveis: anexo, incluso, mesmo, próprio, quite, leso, obrigado
As fotos anexas comprovam o delito. / Vão inclusos os recibos de compra de
material. / Elas mesmas (próprias) denunciaram o colega. / Estamos quites com o
serviço militar./ Estou quite contigo. / Foi um crime de lesa-pátria. / “Muito
obrigada”, disse a garota.
√ Invariáveis: menos, pseudo, alerta (só têm essa forma)
Use menos força. / A deputada é uma pseudodemocrata. / Eu estou alerta. / Nós
estamos alerta.
√ Adjetivos compostos fazem o plural com variação apenas do último
elemento: acordos sino-japoneses; cabelos castanho-escuros; políticos democratacristãos.
•
nos compostos indicadores de cor, nenhum elemento vai para o plural se
houver substantivo como um de seus elementos: camisas vermelho-vinho;
vestidos cor-de-rosa; carros azul-bebê;
•
não há variação quando, na indicação de cor, aparece apenas o
substantivo: camisas vinho; vestidos rosa; sapatos gelo;
•
surdo-mudo tem o plural surdos-mudos;
•
azul-marinho e azul-celeste não variam;
•
infravermelho tem plural infravermelhos, mas ultravioleta não tem plural
(raios ultravioleta)
Exercícios:
I) Preencha os espaços com a palavra indicada:
1) Comi
maçã. (meio)
2) Estava
narcotizada. (meio)
3) Acolheu-o com palavras
tortas. (meio)
4) Suas opiniões são
discutíveis. (bastante)
5) Havia
razões para confiarmos. (bastante)
6) Seguem
as listas de preço. (anexo)
7) Vão
os prontuários. (anexo)
8) As provas seguem
no processo. (incluso)
9) Tratava-se de orgulho e vaidade
.(excessivo)
10) Ventos e nuvens
afugentaram a torcida. (ameaçador)
11) É
venda de bebidas a menores. / É
a
venda de bebidas a menores. (proibido)
12) A água é
para a saúde. /Água é
para a saúde (bom)
13) É
coesão partidária para vencer a oposição. / É
a coesão dos partidos aliados para vencer a oposição. (necessário)
14) Chuva é
nesta época do ano./ Aquela chuva da semana
passada foi
para despoluir o ar. (bom)
15) Pera é
para quê?/ A pera é
para a pele.
(bom)
16) Elas
costuram suas roupas. (mesmo)
17) Ela
procurou o professor. (mesmo)
18) Ele estava
com o patrão. (quite)
47
19) – Muito
, disse ela. (obrigado)
20) Há
provas do que o previsto. (menos)
21) Era uma
representação. (pseudo)
22) O aluno destacava-se pelo raciocínio e objetividade
. (aguçado)
II) Corrija as frases cuja concordância esteja errada:
1) Temos motivos bastantes para não aceitar o trabalho.
2) A funcionária estava meia preocupada com a situação do escritório.
3) Não acredito que seja permitido sua permanência na seção.
4) É necessário dedicação para chegarmos ao cargo desejado.
5) Fiquem alertas e não deixem qualquer informação passar.
6) A moça mesmo me disse que andava meia aborrecida com a vida.
7)A declaração de bens foi mandada anexo ao processo.
8) Sabemos que é necessário a paciência para suportar a manha dessa criança.
9) Não temos razões bastantes para impugnar sua candidatura.
10) Todos os policiais estavam alertas: as torcidas estavam bastantes revoltadas com o
juiz.
11) A velhinha sorriu e disse: “Muito obrigada a todos”.
12) Os viajantes estavam meios cansados.
III) Assinale as alternativas corretas:
♦ (Unimes)
a) Eles se moviam meios cautelosos.
b) O relógio da igreja bateu meio-dia e meio.
c) Seus apartes eram sempre o mais pertinentes possíveis.
d) Os resultados falam por si só.
e) Chegada a sua hora e a sua vez, intimidou-se.
♦ (Inatel)
Fazia
elogios, embora as saudações fossem agora
enfáticas para
uns e talvez
evasivas para outros.
a) bastante/ menos/ meio
b) bastantes/ menas/ meia
c) bastante/ menos/ meia
d) bastantes/ menas/ meio
e) bastantes/ menos/ meio
♦ (Acafe)
Vocês estão
com a tesouraria.
As janelas
abertas deixavam entrar uma leve brisa.
Vai
à presente a relação dos livros solicitados.
As matas foram
danificadas pelo fogo.
É
a entrada de animais.
a) quite/meia/ anexa/ bastantes/ proibida
b)quites/ meia/ anexa/ bastantes/ proibida
c) quite/ meio/ anexo/ bastante/ proibido
d) quites/ meio/ anexa/ bastante/ proibida
e) quites/ meio/ anexo/ bastante/ proibido
♦ (Vunesp)
a) Nos treinos, os jogadores usam calções e camisetas coloridos.
b) Os juízes estão alertas durante toda a partida de futebol.
c) Os regulamentos da Fifa estão anexo no contrato dos jogadores.
d) A cor do uniforme da seleção brasileira é verde e amarelos.
e) As chuteiras e o apito dos juízes são importadas.
48
IV) Assinale a alternativa errada
a) O escritor e o mestre alemães admiravam o belo quadro.
b) Estudaram o idioma francês e o espanhol.
c) O ministro e os deputados alagoanos votaram contra o projeto.
d) As opiniões e os argumentos expostos não agradaram à plateia.
e) Considero fácil as questões e testes propostos
V) (CBMERJ-NCE)
“Mulheres e homens bonitos”. A única forma errada entre as que estão abaixo,
mantendo-se o sentido original é:
a) bonitas mulheres e homens;
b) bonitos homens e mulheres;
c) homens e mulheres bonitas;
d) homens e mulheres bonitos;
e) bonitos mulheres e homens.
VI) Passe para o plural:
1) acordo ítalo-brasileiro =
2) nação hispano-americana =
3) sapato marrom-claro =
4) tinta verde-escura =
5) fita cereja=
6) bolsa verde-abacate=
7) radiação ultravioleta=
8) casaco amarelo-ouro=
9) time rubro-negro=
49
6
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA IMPRESSA 3
DISCURSO DIRETO E INDIRETO
Discurso direto: reprodução literal das palavras do entrevistado. É o caso da entrevista
pingue-pongue e da inserção (entre aspas) de declaração de alguém.
Discurso indireto: em vez de reproduzir a fala do entrevistado, o jornalista conta o que
ele disse (sem aspas), usando para isso verbos dicendi, que se distribuem em oito áreas
de significação:
1) de dizer: afirmar, declarar;
2) de perguntar: indagar, interrogar;
3) de responder: retrucar, replicar;
4) de contestar: negar, objetar;
5) de exclamar: gritar, bradar;
6) de pedir: solicitar, rogar;
7) de exortar: animar, aconselhar;
8) de ordenar: mandar, determinar.
Variar os verbos dicendi impede que o texto se torne repetitivo. Cuidado, no entanto,
com modismos. Leia uma lista de verbos dicendi sugerida por Eduardo Martins no
Manual de redação e estilo OESP, verbete DIZER.
Substitua, oralmente, os verbos dicendi nesta notícia.
McCain admite derrota eleitoral e parabeniza Obama
O senador John McCain admitiu nesta madrugada sua derrota eleitoral e
parabenizou o rival Barack Obama pela vitória na corrida pela presidência dos EUA.
Durante o discurso em Fênix, no estado do Arizona, McCain disse que o povo
americano "falou claramente", sobre a vitória de Obama. O candidato derrotado à
presidência americana disse que ligou para Obama para parabenizá-lo pela vitória.
McCain disse que Obama inspirou as pessoas, que tiveram pouca esperança
sobre seu papel nas eleições para votar, "em especial para os afro-americanos".
"A américa é uma terra que oferece oportunidade para aqueles que procuram (...) Não
há razão para os cidadãos americanos deixarem de cumprir seu papel", disse.
McCain citou a avó de Obama, que morreu na última segunda-feira: "Ela deve
estar muito orgulhosa do que o homem que ajudou a criar alcançou".
"Esses são tempos difíceis para o país, espero que todos os americanos que me
apoiaram ofereçam apoio para unir as diferenças e restaurar o nosso país, para deixálo melhor do que como o herdamos", disse McCain enquanto era vaiado pela
multidão.
Ele disse que o sentimento de desapontamento é "natural", e assumiu a culpa
pela derrota. "Lutamos o máximo que pudemos, a falha foi minha e não de vocês",
disse o senador.
McCain agradeceu a família, os filhos e os amigos pelo apoio. "As campanhas
são mais difíceis para a família, do que para o candidato", disse ao afirmar que
esperava dias de paz.
No fim do discurso, McCain agradeceu ainda a vice Sarah Palin pela
participação na campanha. "Uma voz expressiva dentro do partido, no Estado do
Alasca [onde Palin é governadora] e pela incansável dedicação à causa", disse.
50
TEXTO I:
“O verbo dicendi é tão importante que, ao trocá-lo, você pode virar uma declaração pelo
avesso. Por exemplo:
“Sou inocente”, disse.
“Sou inocente”, esclareceu.
“Sou inocente”, insistiu.
“Sou inocente”, alegou.
“Sou inocente”, mentiu.
Neutro, simples e direto, o verbo dizer costuma ser o melhor na maioria dos casos. Seu
emprego constante, entretanto, deixa certos textos frios e monótonos. Para fugir da
mesmice, socorra-se na riqueza vocabular da língua portuguesa. Mas consulte o
dicionário quando tiver dúvidas sobre o sentido preciso do termo.
Escolhido o verbo, veja se ficou claro quem disse o quê. Esse cuidado elementar é
muitas vezes negligenciado.
Numa declaração mais longa, facilite a vida do leitor. Identifique o autor antes de abrir
aspas ou logo depois da primeira frase — não ao final da última.
Escreveu o jornalista Lago Burnett: “Bom jornalista é aquele que, além da informação,
possui condições de transmitir essa informação em linguagem acessível ao mercado
comprador. Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um
contato íntimo com os bons autores”.
ou
“Bom jornalista é aquele que, além da informação, possui condições de transmitir essa
informação em linguagem acessível ao mercado comprador”, escreveu o jornalista Lago
Burnett. “Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um
contato íntimo com os chamados bons autores.”
Nas declarações com duas ou três frases, dispense o segundo verbo dicendi. O último é
quase sempre redundante.
(Manual de estilo Editora Abril. São Paulo: Nova Fronteira, 1991. p. 32 e 33)
TEXTO II:
Ao reproduzir uma declaração textual, o jornalista não deve alterar a literalidade do que
foi dito, a não ser para eliminar repetições ou palavras próprias da linguagem oral, desde
que jornalisticamente irrelevantes, ou para ordenar ideias com o objetivo de facilitar a
leitura.
Em textos noticiosos, o objetivo de reproduzir declarações é garantir o acesso do leitor
ao discurso concreto de quem declarou. Devem ser reproduzidas apenas as frases mais
importantes, expressivas e espontâneas do personagem da notícia. Não devem ser
reproduzidas ideias que possam ser melhor expostas através do discurso indireto do
jornalista*.
As declarações textuais devem ser valorizadas pela sua raridade. Quanto menos forem
usadas, mais valor terão perante o leitor. Sua importância é medida pelo inusitado que
determinada opinião possa ter na boca de uma personalidade ou pelo impacto que possa
causar junto ao público. Recomenda-se não abrir textos com declarações textuais. Deve-
51
se evitar reproduzir declarações textuais com mais de três linhas. (...) Quando houver
necessidade de chamar a atenção do leitor para algo errado ou estranho no texto
original, admite-se o uso da palavra latina sic13 entre parênteses.
(Manual Geral da Redação – Folha de S.Paulo)
Ex.: “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou pública ontem uma posição que
havia meses manifestava apenas nos bastidores em relação às eleições municipais de
São Paulo em 2012: seu apoio à candidatura do ministro da Educação, Fernando
Haddad, para a sucessão de Gilberto Kassab. Os sinais de que Lula já iniciou a
campanha de Haddad incomodam setores do PT, que temem pelo "tratoraço" na escolha
do candidato.
"Acho que o companheiro Haddad é adequado", afirmou após ser questionado sobre seu
apoio ao ministro, para em seguida minimizar e não ferir suscetibilidades. "Foi (sic)
ministro da Educação e acho que ele está na disputa. Agora, quem vai decidir são os
delegados do PT." (Jornal da Tarde, 16 de julho de 2011)
TEXTO III:
Em princípio, os verbos mais recomendáveis para textos que envolvam declarações são
os insubstituíveis dizer, afirmar, declarar, garantir, prometer e poucos mais.
No seu lugar, podem ser usados outros, desde que com muito critério, entre os quais
acreditar, achar, julgar, admitir, esclarecer, explicar, concluir, prosseguir, etc.*
(Manual de redação e estilo – OESP)
Obs.: Veja relação dos possíveis substitutos no verbete dizer desse manual.
Observe nesta matéria a alternância dos discursos e dos verbos dicendi, o que evita
a redundância e a monotonia:
PRESIDENTE DA FUNAI CHEGA APÓS FUNERAL
Júlio Gaiger prometeu acelerar processo
de demarcação das terras dos índios pataxós
Pau Brasil — O presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Júlio Gaiger,
chegou à aldeia dos pataxós hã-hã-hães por
volta das 19 horas, uma hora depois de o
corpo do índio Galdino Jesus dos Santos ter
sido enterrado.
“Vim com o objetivo de acompanhar o
enterro, mas houve problemas técnicos com
o voo”, disse Gaiger, que chegou a Ilhéus a
bordo de um bimotor da Funai.
Ele afirmou que uma das formas de
homenagear Galdino seria “enfrentar o
problema de demarcação das terras dos
índios pataxós”.
Gaiger adiantou que poderá começar
acelerando o processo de demarcação de
13
Sic: palavra latina que significa assim, desta maneira. Palavra que se pospõe a uma citação, ou que
nesta se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para indicar que o texto original é bem assim, por
errado ou estranho que pareça.
52
788 hectares, determinado pela Justiça
desde dezembro do ano passado.
“Mas o processo não é automático nem há
certeza de que a decisão do juiz já tenha sido
publicada; só tomei ciência pelos próprios
índios.” Entretanto, Gaiger prometeu
analisar os aspectos jurídicos.
Críticas — O presidente da Funai criticou as
ações governamentais nas áreas de saúde e
agricultura realizadas nas terras dos pataxós e
admitiu que “é preciso rediscutir a parceria
intragovernamental”.
Ele contou que a Fundação Nacional de
Saúde furou poços na aldeia dos pataxós,
mas não trouxe tratamento de água, que hoje
é imprópria para consumo.
Júlio Gaiger disse que vai negociar com os
Ministérios da Saúde e da Agricultura “para
que haja participação mais intensa das outras
pastas”. O presidente da Funai retornou
ontem mesmo a Brasília, onde terá uma
reunião ministerial hoje.
(OESP, 23/04/97)
Observe o erro do jornalista do site da Aol:
Morre escritor Fernando Sabino aos 80 anos no Rio
RIO DE JANEIRO (Reuters) – O escritor Fernando Sabino, autor de O encontro
marcado e O grande mentecapto, morreu nesta segunda-feira em sua casa, no Rio de
Janeiro, um dia antes de completar 81 anos. O velório deve ser realizado no Cemitério
São João Batista, nesta segunda-feira, e o enterro está previsto para as 11h de terça.
Sabino esteve internado na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no bairro de
Laranjeiras, zona sul da cidade, entre os dias 24 e 27 de setembro para realizar exames
de rotina, segundo a diretora da clínica, Cláudia Azevedo. Segundo a diretora, o escritor
vinha há cerca de dois anos lutando contra um câncer de esôfago.
"Ele esteve internado na clínica por 72 horas realizando exames de rotina, mas
vinha lutando há mais de dois anos contra um câncer de esôfago", disse ela à Reuters
por telefone. Cláudia recebeu a notícia da morte do escritor por meio de uma filha dele.
Mineiro de Belo Horizonte, Sabino nasceu no dia 12 de outubro de 1923. Em 1956,
publicou o romance Encontro marcado, grande sucesso de venda que também foi
adaptado para o teatro. O escritor também teve passagens pelo jornalismo, trabalhando
no Jornal do Brasil, na rede britânica BBC e nas revistas Manchete e Cláudia.
Outra obra de repercussão do escritor foi Zélia, uma paixão, biografia publicada
em 1992 de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda no governo de Fernando
Collor de Mello.
6.1 APOIO FUNCIONAL
CONCORDÂNCIA VERBAL
53
1) Regra geral: o verbo concorda com o sujeito (mesmo que este venha depois do
verbo.
Índices da inflação assustam consumidor.
Sobraram poucos lugares nas arquibancadas.
Aceitam-se sugestões.
Obs.: Se o sujeito é composto e vier resumido pelos pronomes indefinidos tudo, nada,
ninguém, cada um, o verbo fica no singular:
Fome, cansaço, doença, nada os deteria.
Pai, filho e avô, cada um saudou a seu modo o visitante.
2) Verbos impessoais HAVER e FAZER: sempre na 3ª pessoa do singular
•
Haver14: no sentido de existir, é impessoal (a impessoalidade é transmitida ao
verbo auxiliar):
Haverá festas na Bahia neste mês.
Talvez haja reclamações sobre nosso trabalho.
Poderá|
Deverá| haver festas na Bahia neste mês.
Vai|
•
Fazer: na indicação de tempo transcorrido ou a transcorrer ou na indicação de
fenômenos da natureza (a impessoalidade também é transmitida ao verbo
auxiliar)
Já faz 20 anos que me formei.
Em agosto vai fazer três anos que ele se casou.
Em setembro faz dias claros e frios.
3) Pronome pessoal SE1516
• partícula apassivadora: verbo concorda com o sujeito
(o verbo é sempre transitivo direto (sem preposição))
Vende-se casa. / Vendem-se casas. (Casa é vendida. / Casas são vendidas.)
Aceita-se encomenda. / Aceitam-se encomendas. (Encomenda é aceita./
Encomendas são aceitas.)
Expediu-se o documento requerido./ Expediram-se os documentos requeridos.
(O documento foi expedido./ Os documentos foram expedidos.)
Obs.: para que não haja dúvida quanto ao uso do singular ou do plural, passe a frase
para a voz passiva analítica: Alugam-se apartamentos. = Apartamentos são alugados.
•
índice de indeterminação do sujeito: verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular
14
É comum, na linguagem coloquial, usar-se o verbo ter com o sentido de haver. Dizia um outdoor: Onde
tem festa, tem Antarctica.
15
Esse ponto da concordância não é pacífico. Inúmeros linguistas contestam essa dupla classificação do
pronome se e consideram ambos como índice de indeterminação do sujeito e, portanto, não haveria
verbos no plural.
16
Esteja atento ao uso indiscriminado da partícula se.
54
Trata-se de problema urgente.
Trata-se de problemas urgentes.
Obs.: é impossível a transformação para a voz passiva porque os verbos são ou
intransitivos ou transitivos indiretos (estes sempre acompanhados de preposição):
Bebe-se bem aqui. / Pensa-se em reformas. / Cuida-se de idosos.
4) A maior parte, grande número de, a maioria
O verbo normal e preferentemente vai para o singular; há, no entanto, gramáticos
que aceitam o plural caso se queira destacar a ideia de conjunto.
A maior parte dos eleitores estava abismada com o resultado das urnas.
A maioria das mulheres mantém-se submissa aos maridos.
Grande número de foliões amanheceu dançando.
5) Porcentagem
• O verbo concorda com o que for expresso pela porcentagem
Um por cento dos candidatos sofriam de cirrose.
Noventa por cento da população perdeu seus bens.
•
Se só números representarem a porcentagem, o verbo concordará com o numeral
Naquele ano, 30% da colheita perdeu-se e 70% foram exportados.
• Se a porcentagem estiver particularizada, o verbo concorda com o numeral
Os últimos 30% do empréstimo chegarão em maio.
Esse 1% dos gastos fará diferença no final.
• Se o verbo vier antes da porcentagem, concordará com o numeral
Está perdido 1% da colheita.
Estão perdidos 30% da colheita.
6) Sujeito formado por nomes próprios que só têm plural
• se não houver artigo, o verbo fica no singular: Batatais fica no interior do estado.
com artigo, o verbo vai para o plural: Os Estados Unidos pretendem invadir o
Iraque.
Obs.: Com nomes de títulos de obras, usa-se, indiferentemente, o singular ou o plural:
Os Lusíadas é/ são a maior epopeia dos portugueses.
•
7) Sujeito formado por palavras no plural, mas com ideia de singular: verbo no
singular
Pelos ainda tem acento.
Nós é um pronome pessoal.
8) Fração: verbo concorda com o numerador da fração
55
Um terço dos trabalhadores não recebeu o salário de janeiro.
Dois terços da herança couberam à viúva.
9) Pronomes relativos que e quem
• Que: verbo concorda com o antecedente:
•
Fui eu que descobri a fórmula.
São eles que fazem a coleta do lixo.
Seremos nós que o escolheremos.
Quem: verbo concorda na 3ª pessoa do singular (alguns gramáticos aceitam a
concordância com o antecedente):
Fui eu quem descobriu a fórmula. (Fui eu quem descobri a fórmula.)
Somos nós quem faz a nação. (Somos nós quem fazemos a nação.)
10) Pronome de tratamento: verbo sempre na 3ª pessoa do singular ou plural
(assim como o pronome possessivo)
Vossa Majestade tem o apoio do seu povo.
Vossas Majestades têm o apoio do seu povo.
Vossa Senhoria cometeu um grave erro.
Vossas Senhorias cometeram um grave erro.
11) Mais de ... / menos de ... / perto de ...: verbo concorda com o numeral
Perto de 25 famílias receberam auxílio do governo.
Mais de um homem morreu.
12) Um (uma) dos (das) que...: verbo sempre no plural
Ele é um dos que mais reclamam da inflação.
13) Núcleos do sujeito composto ligados por ou
• se o ou indica exclusão, o verbo fica no singular:
Pedro ou Paulo se casará com Marta.
•
se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o
plural (na realidade o ou equivale a um e):
O ônibus ou o trem passam por lá.
14) Núcleos do sujeito composto ligados por nem
• se o nem indica exclusão, o verbo fica no singular:
Nem Pedro nem Paulo se casará com Marta.
•
se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o
plural:
Nem Pedro nem Paulo conformaram-se com os resultados.
15) Um ou outro, nem um nem outro
• Um ou outro: verbo no singular:
56
Um ou outro transeunte notava a presença do cão sarnento.
• Nem um nem outro: verbo no singular ou plural:
Nem um nem outro diz / dizem a verdade.
16) Haja vista: sempre invariável e sem a preposição a
Haja vista o decreto de 13 de outubro.//
Haja vista os fatos.
17) Sujeito constituído de orações ou infinitivos: verbo no singular
Andar e nadar faz bem à saúde.
Que ela despreze e ridicularize essas virtudes já não me causa espanto.
Obs.: verbo no plural só se houver contraste entre os sujeitos ou se os sujeitos estiverem
substantivados:
Nascer e morrer fazem parte da vida. (antônimos)
O comer e o dormir em demasia alienam uma pessoa. (verbos substantivados o
comer/ o dormir)
CONCORDÂNCIA COM O VERBO SER
1) Sujeito ou predicativo são nomes de coisas: verbo concorda com o que está no
plural.
Tua vida são mentiras.
2) Sujeito ou predicativo são nomes de pessoa: verbo concorda com a pessoa.
O homem é cinzas.
Seu orgulho eram os filhos.
3) Sujeito ou predicativo é pronome pessoal: verbo concorda com pronome.
O professor sou eu.
Nós somos os culpados.
4) Indicações de hora, dia e distância: verbo concorda com predicativo.
É uma hora.
São duas horas.
É uma légua.
Até a estação de tratamento de água são 15 quilômetros.
Obs.: Hoje é 15 de novembro. ou Hoje são 15 de novembro.
5) Verbo SER fica invariável nas expressões indicativas de quantidade (é muito, é
bastante, é pouco, é suficiente, é demais):
Quinze quilos é pouco.
Três metros é suficiente.
Dois reais é bastante.
Um é pouco, dois é bom, três é demais.
Exercícios
I) Complete as frases com os verbos indicados:
57
1)
2)
3)
4)
5)
6)
7) Ontem
8) Talvez ainda
9)
10)
muitas pessoas na rua quando saímos. (haver)
haver alguns lápis sobre a mesa. (dever)
haver problemas insolúveis. (poder)
dois anos que não nos vemos. (fazer)
fazer semanas que ele não aparece. (poder)
dois meses que não chove. (fazer)
38º à sombra. (fazer)
ingressos à venda. (haver)
haver candidatos honestos. (dever)
fazer três anos que não o vejo. (dever)
II) Complete as frases com os verbos indicados:
1)
2) Não se
3)
4)
5)
6)
7) Às vezes
8)
9)
10)
-se as decisões. (comentar)
respostas para tantos problemas. (encontrar)
-se vozes no corredor. (ouvir)
-se caixas de cerveja. (beber)
-se notícias falsas. (publicar)
-se das propostas iniciais. (desconfiar)
-se de coisas estranhas. (gostar)
-se de animais abandonados. (cuidar)
-se em revoluções. (falar)
-se de comércio espúrio. (tratar)
III) Complete as frases com os verbos entre parênteses, efetuando a necessária
concordância:
1) Fugir foi o que Jair e eu
. (fazer)
2) Nem um nem outro se
a concluir o projeto. (dispor)
3) Jogos, viagens, mulheres, nada o
. (satisfazer)
4) A maioria dos brasileiros
a pena de morte. (rejeitar)
5) Mais de 100 grevistas
a fábrica. (invadir)
6) Oitenta por cento da plateia
o espetáculo. (vaiar)
7) Oitenta por cento dos espectadores
o espetáculo. (vaiar)
8) Jairo é um dos que mais
carne neste restaurante. (consumir)
9) Vossa Senhoria
agir com moderação. (dever)
10) Fui eu quem o
a desenhar. (ensinar)
11) Foi você quem
e sou eu que
ter de rezar. (pecar - ir)
12) Montes Claros
sua salvação. (representar)
13) Os Alpes
turistas de todo o mundo. (atrair)
14) Os Estados Unidos
a mídia. (dominar)
15) A criançada
uma algazarra na porta da escola. (fazer)
16) À nossa casa, frequentemente,
pessoas amigas. (chegar)
17)
alguns minutos para estancar suas lágrimas. (bastar)
18) Rui Reis ou Mário Pontes
a cidade. (governar)
19) Este remédio ou aquele
efeito. (fazer)
20) Setenta por cento da população
pela democracia, 20%
na
revolução armada e 1%
a volta da ditadura. (lutar - insistir - querer)
21) Um quarto da produção de soja
com a seca. (perder-se)
58
22) Amar e odiar
o ser humano. (caracterizar)
23) Flores ainda
acento circunflexo? (ter)
24) Você sabe onde
os Bálcãs? (ficar)
25) Um terço do nosso planeta
constituído por terra firme; dois
terços representados por água. (ser)
IV) Se existir erro de concordância, corrija:
1) A letra das composições musicais contemporâneas refletem, com nitidez, os
problemas sociais que o Brasil está enfrentando.
2) Dentro de alguns instantes será divulgado novos resultados.
3) Falta aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os agrotóxicos.
4) Persiste por muito tempo no ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas.
5) Conserta-se aparelhos de som.
6) Precisam-se de pedreiros.
7) Obedeceram-se aos severos regulamentos.
8) Promove-se festas beneficentes na minha igreja.
9) Da cidade à praia é dois quilômetros.
10) Dois metros de tecido são pouco.
11) Eram previsíveis os percalços que enfrentariam qualquer programa de estabilização.
12) Calor intenso ou frio excessivo me fazem mal.
13) Fernando Henrique ou Lula seria eleito presidente.
14) Renato ou Fernanda preencherão a vaga existente.
15) Um grito ou um tiro assustariam o animal.
16) Podiam haver bois no curral.
17) Deveriam haver muitas assombrações na vila.
18) Fazem meses que não ocorre no país fatos como aquele que até hoje nos perturbam.
19) Garotinho foi um dos governadores que queria uma reunião com o presidente.
20) O netinho eram suas maiores alegrias.
21) Os projetos apresentados pela assessoria da presidência são excelentes, hajam vista
os elogios recebidos.
22) Um quarto dos bens couberam ao menor.
23) O leite PAULISTA é processado pelo sistema UHT, que aquece o leite a uma
temperatura entre 130°C e 150°C, durante 2 a 4 segundos. Em seguida é imediatamente
resfriado a uma temperatura inferior a 32°C e depois envasado sob condições assépticas
em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas, que o protege do ar e da luz,
garantindo uma perfeita e longa conservação de suas qualidades nutritivas e naturais.
(Texto constante da embalagem do leite Paulista semidesnatado)
24) Na região de Ribeirão Preto (319 km de São Paulo), onde atua quatro das nove
concessionárias de rodovias, o número de praças de cobrança municipais vai chegar a
15 no final do ano – são 18 os autorizados pelo Estado. (Folha de S.Paulo, 24/3/2000)
25) As denúncias não suficientemente esclarecidas quanto ao comportamento ético do
ministro da Fazenda nos deixou ainda mais constrangidos, não só a mim, mas a
companheiros do governo. (apud Vestibular FGV-SP)
V) Complete as frases com o verbo SER:
1) A surpresa
as flores.
2) Isso
as trevas da noite.
3) Duzentos gramas
suficiente.
4) Dois anos
pouco para nos prepararmos.
5) Cinco milhões
suficiente para a campanha.
59
6) Esaú
7) Isso
8) Sua cama
9) Minha vida
10) Ainda
11) Sua vida
12) Os interessados
13) Isto
14) Quando
as delícias da velhice de Isaac, seu pai.
aberrações da natureza.
umas folhas de jornal.
farrapos de pano que vou remendando dia a dia.
meio-dia e meia.
só espinhos.
nós.
intrigas da oposição.
seis horas, partiremos.
VI) Assinale a alternativa correta:
1) (PUC) A crise no emprego da língua materna insere-se no contexto mais amplo das
circunstâncias culturais em que
as civilizações modernas. Numa
época em que se
todas as restrições e em que se
a todas
as normas estabelecidas, não há, seguramente, maior zelo pela linguagem.
a) vivem - cancelaram – desobedece
b) vive - cancelaram – desobedece
c) vive - cancelou – desobedece
d) vive - cancelaram – desobedecem
e) vivem - cancelaram - desobedecem
2) (PUC) Convém que se levantem os problemas, que se reflita sobre os assuntos e não
se tomem medidas apressadas.
Substituindo-se os verbos sublinhados respectivamente por falar, avaliar e pensar,
obtém-se a construção correta
a) Convém que se fale dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pense em
medidas apressadas.
b) Convém que se falem dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pensem
em medidas apressadas.
c) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pense em
medidas apressadas
d) Convém que se falem dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em
medidas apressadas.
e) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em
medidas apressadas.
3) (UFRGS) Não
críticas que se
dúvidas de que
ao projeto.
de razão as
a) resta - carecem - fez
b) resta - carece – fizeram
c) resta - carece - fez
d) restam - carecem - fizeram
e) restam - carecem - fez
4) (PUC) Urge que se
todas as recomendações, pois já
que se
os mesmos erros.
meses
a) façam - fazem - cometem
b) façam - faz - comete
c) faça - fazem - comete
d) façam - faz – cometem
e) faça - faz – comete
60
5) (Univ. Fed. BA) Toda a verdade dos fatos
revelações.
, ainda que
as
a) será apurado - doa.
b) serão apurados - doa.
c) será apurada - doam.
d) será apurado - doa.
e) serão apurada - doam.
6) (Univ. Fed. BA) O meio passa a ter sentido graças às necessidades e aspirações do
homem. Que valor
os bens materiais se não
as necessidades do
homem e se não
aspirações?
a) teria - fosse - existisse
b) teriam - fossem - existisse
c) teriam - fossem - existissem
d) teria - fossem - existissem
e) teriam - fosse - existissem
7) (UB-MG) Nas duas margens,
relva abundante; contudo, lá onde
ervas perigosas, no matagal, é que
os bois e os cavalos.
a) crescem - existem - pastavam
b) cresce - existem - pastavam
c) cresce - existe - pastava
d) cresce - existe - pastavam
e) crescem - existe – pastava
VI) Assinale a alternativa errada:
1) (Cesgranrio-RJ) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que a
forma verbal está errada:
a) Existem na atualidade diferentes tipos de inseticidas prejudiciais à saúde do homem.
b) Podem provocar sérias lesões hepáticas, os defensivos agrícolas à base de DDT.
c) Faltam aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os
agrotóxicos.
d) Persistem por muito tempo no meio ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas
clorados.
e) Possuem elevado grau de toxidade os defensivos do tipo fosforado.
2) (UB-MG) - Assinale a alternativa em que a concordância do verbo está errada:
a) Acho que devem bastar duas colheres de açúcar.
b) Vão terminar acontecendo coisas desagradáveis.
c) Eles acham que pode ficar faltando uma dúzia de ingressos.
d) De fatos como esses decorre uma grande sensação de impunidade.
e) Deve ter sobrado uns cinco reais.
61
7
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA
(RÁDIO) 1
As normas do texto jornalístico – clareza, concisão, objetividade, precisão,
simplicidade e correção – são as mesmas em qualquer veículo. Cada meio de
comunicação, no entanto, tem sua especificidade.
O rádio informa o ouvinte através de notícias, reportagens, entrevistas e
contribui para formar sua opinião através dos comentários de jornalistas abalizados.
Cada vez mais surgem rádios all news, ampliando as possibilidades de atuação de
jornalistas.
Veículo ágil que se dirige exclusivamente ao indivíduo e não à multidão, é uma
fonte também de cultura, diversão e entretenimento. Canal de forte apelo popular, é o
melhor para atingir rapidamente grandes massas.
Sua linguagem, apesar de planejada e estruturada, deve dar a impressão de
naturalidade, de coloquialidade. Assim suas frases devem ser curtas e organizadas na
ordem direta, com verbos na voz ativa.
A falta de imagens neste veículo obriga a mais explicações para que o ouvinte
possa imaginar o que se conta.
Como este veículo não absorve a atenção total do ouvinte (que só tem uma
chance para entender o que está sendo dito), a redundância é muito importante.
“O texto jornalístico segue normas universais. Em qualquer veículo, impresso
ou eletrônico o redator deve ser claro, conciso, direto, preciso, simples e objetivo. O
que diferencia o texto do rádio em relação aos veículos da imprensa escrita é a
instantaneidade. O ouvinte só tem uma chance para entender o que está sendo dito.
Lembre-se de que a mensagem no rádio se “dissolve” no momento em que é
levada ao ar. Para que a missão de conquistar o ouvinte seja alcançada, o texto deve ser
coloquial. O jornalista precisa ter em mente que está contando uma história para
alguém, mas sem apelos à linguagem vulgar e, acima de tudo, respeitar as regras do
idioma.
Veja algumas recomendações para a redação do texto no rádio. O
aprimoramento vem com a prática, a consulta dos livros de gramática e muita leitura
para enriquecer o vocabulário.
1) O texto no rádio pode ser corrido, quando lido por um único locutor, ou manchetado,
quando lido por dois locutores. No texto corrido, um período segue-se ao outro na
página do computador; no estilo manchetado, os períodos são divididos geralmente
em duas linhas cada. A decisão pelo uso do texto corrido ou manchetado cabe à
direção da emissora e ao departamento de jornalismo.
2) O texto começa com o lead (o quê, quem, quando, onde, como e por quê). Procure a
novidade, o fato que atualiza a notícia e a torna mais atraente possível. A missão do
redator é conquistar o ouvinte na primeira frase. Se a primeira frase não levar á
segunda, a comunicação está morta.
3) O texto deve ter uma sequência lógica, na ordem direta. A regra é simples: sujeito +
verbo + predicado.
4) A pontuação merece atenção especial. O uso dos sinais ortográficos facilita a
entonação da voz e a respiração do apresentador/locutor. Por exemplo, em frases
interrogativas faça uso da técnica espanhola de pontuação. Colocando um sinal de
interrogação no início da frase o apresentador/locutor não será pego de surpresa.
(¿) Quem será o campeão brasileiro?
(¡) Atenção para esta informação!
62
5) A adjetivação excessiva ou inadequada enfraquece a qualidade e o impacto na
informação. Substantivos fortes e verbos na voz ativa reforçam a densidade
indispensável ao texto jornalístico.
6) Evite frases longas: elas dificultam a respiração do apresentador/locutor e são mais
difíceis de ser entendidas pelo ouvinte. Cada frase deve expressar uma ideia.
7) O texto precisa ter ritmo. Use frase curtas, mas que não sejam telegráficas. Evite
frases intercaladas entre vírgulas.
8) Fique atento ao efeito sonoro das rimas e palavras com a mesma terminação. Não é
agradável ouvir “o temporal na capital alagou a marginal”, ou “a organização da
programação da televisão”.
9) Cuidado com os cacófatos. O encontro de sílabas de palavras diferentes pode formar
som desagradável ou palavras obscenas: Boca dela, confisca gado, de então, ela
tinha, marca gol, nunca gostou, nunca ganhou, por cada, por colocar, por razões, por
rádio, toma linha, etc. Existem cacófatos que podem ser evitados substituindo-se a
palavra por um sinônimo ou mudando-se a estrutura da frase:
O prêmio por cada vitória
O prêmio para cada vitória
Nunca ganhou uma eleição
Jamais gamou uma eleição
10) Não se usam artigos com nomes próprios, pois pressupõem intimidade
incompatível com a linguagem jornalística. Assim, não use “o José Dirceu”, “o Ciro
Gomes” ou “a Dilma”.
11) Os pronomes cujo, cuja não têm som agradável no rádio.
12) Avalie os verbos usados na declaração. Os mais usados são dizer e afirmar, cuidado
com o verbo falar, no rádio ele pode parecer óbvio se não for utilizado com bom
senso. Informar significa relatar um fato. Garantir é assegurar, dar certeza absoluta.
Declarar significa dizer. Admitir tem sentido de confessar. O verbo advertir é
ambíguo, tem sentido de censurar, chamar atenção, etc.
13) O rádio é um veículo que exige agilidade dos jornalistas, mas a pressa não é
desculpa para textos mal redigidos. A atenção é fundamental para se redigir um
texto em tempo hábil e sem erros. Detalhes que parecem insignificantes
comprometem a informação. Um exemplo: o ator fulano de tal, considerado o
homem mais belo do Brasil, disse... (considerado o mais belo homem por quem?).
14) A revisão do texto em voz alta é a melhor maneira de evitar erros que “derrubam”
o apresentador/locutor. Com a leitura em voz alta é possível descobrir problemas
com sonoridade de palavras, concordância, cacófatos, frases sem sentido, enfim uma
série de “defeitos” que podem comprometer a qualidade da informação.”
(Reproduzido, com supressões, de BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de.
Manual de radiojornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Cap. 13)
O texto jornalístico para rádio17 pode apresentar-se sob duas modalidades: texto
corrido e texto manchetado:
• texto corrido: Texto mais comum nas rádios, é interpretado por um só
locutor;
• texto manchetado: estrutura diferenciada para apresentação de programas
noticiosos, muito utilizada por emissoras de SP e RJ. Dois ou três apresentadores
apresentam notícias sob a forma de manchetes. Cada uma das apresentações não
17
É aconselhável colocar um sinal (pode ser “+” ou “ * “) no início de cada linha do
texto radiofônico.
63
deve ter mais de cem (100) toques. Isto é, trata-se de uma notícia escrita em
takes ou manchetes. Cada manchete deve conter uma informação, eliminando-se
os supérfluos. Cada take ou manchete possui no máximo duas linhas e meia.
Exemplos
A) Texto corrido
RETRANCA: UNITAU RECEBE VEREADORES
DATA: 05 DE SETEMBRO DE 2001
HORÁRIO: 8H30
LAUDA: 01X
LOC
+ A ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
RECEBEU A VISITA DE UMA COMITIVA DE VEREADORES DA CIDADE
PARA A APRESENTAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS QUE SÃO
DESENVOLVIDOS PELA UNITAU./ A APRESENTAÇÃO ACONTECEU NA
TERÇA-FEIRA E FOI FEITA PELO ASSESSOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS,
PROF. JOSÉ FELÍCIO GOUSSAIN.
B) Texto manchetado
1)
LOC 01
+ RECENTES ESTUDOS REALIZADOS POR PESQUISADORES
JAPONESES ASSOCIAM O CONSUMO DO CHÁ VERDE AO MENOR RISCO DE
DESENVOLVIMENTO DE ALGUMAS DOENÇAS.
LOC 02
+ COMO NO CASO DE CÂNCER DE PELE, PULMÃO, OVÁRIO E
PRÓSTATA.
LOC 01
+ AS SUBSTÂNCIAS DE AÇÃO ANTIINFLAMATÓRIA E
ANTIOXIDANTE BLOQUEIAM AS ALTERAÇÕES CELULARES QUE DÃO
ORIGEM AOS TUMORES.
LOC 02
+ A BEBIDA DE ORIGEM ORIENTAL TAMBÉM AJUDA NO
PROCESSO DE EMAGRECIMENTO, POR CAUSA DA SUA AÇÃO
DESINTOXICANTE, DIGESTIVA E DIURÉTICA.
LOC 01
+ O IDEAL É FAZER O USO DO CHÁ EM CONJUNTO COM UMA
DIETA SAUDÁVEL.
LOC 02
+ JÁ QUE O SEU USO EM EXCESSO PODE LEVAR A UMA
GASTRITE DEVIDO À CAFEÍNA.
LOC 01
+ ELE TAMBÉM AJUDA A CONTROLAR A PRESSÃO ARTERIAL,
ATIVA O SISTEMA IMUNOLÓGICO E DIMINUI O RISCO DE ARTROSE E
OUTRAS DOENÇAS DEGENERATIVAS.
LOC 02
+ APESAR DO SEU SABOR AMARGO, O CHÁ AUXILIA AINDA
NA PREVENÇÃO DE CÁRIES E COMBATE INFECÇÕES NA GARGANTA,
QUANDO UTILIZADO EM GARGAREJOS.
2)
Texto Manchetado (Helder BuchivieserChizoti)
64
LOC 01
+ O REMO E A CANOAGEM INVADIRAM SÃO PAULO E
ESCOLAS DA PERIFERIA AGORA TÊM AULAS GRATUITAS DESSES
ESPORTES.
LOC 02
+ A REPRESAGUARAPIRANGA, SITUADA NA ZONA SUL DE
SÃO PAULO, ABRIU VAGAS PARA ALUNOS DE TODAS AS IDADES PARA A
PRÁTICA DO REMO E DA CANOAGEM.
LOC 01
+ A CONSTRUÇÃO DA REPRESA DATA DE 1906, MAS A PARTIR
DOS ANOS 30, COM A CHEGADA DA POPULAÇÃO LOCAL TORNA-SE MAIS
UM ATRATIVO NÁUTICO DE SÃO PAULO.
LOC 02
+ CONVERSAMOS COM ALGUNS ALUNOS PARA SABER MAIS
SOBRE ESSES ESPORTES QUE ESTÃO SE TORNANDO POPULARES ENTRE
ADULTOS E CRIANÇAS TAMBÉM.
LOC 01
+ A REMADORA THAIS CRISTINA PEDRELLA,QUE JÁ TRAZ NA
BAGAGEM ALGUMAS MEDALHAS, ENUMEROU DIVERSOS BENEFÍCIOS
CONSEGUIDOS COM A PRÁTICA DO REMO.
LOC 02
+ THAIS DISSE QUE NOS DIAS MAIS ESTRESSANTES CRAVA O
REMO COM TODA A FORÇA NAS ÁGUAS TRANQUILAS DA REPRESA E
VOLTA PARA CASA ALIVIADA.
LOC 01
+ SEM FALAR O ENTROSAMENTO COM O MEIO AMBIENTE,
QUE NEUTRALIZA QUALQUER PENSAMENTO NEGATIVO E ACALMA A
ALMA.
LOC 02
+ JÁ O CANOÍSTA-MIRIM RENAM CARLOS, DE 9 ANOS,
PREFERE OS DIAS QUENTES, POIS O PROFESSOR AO FINAL DA AULA
LIBERA PARA UM DELICIOSO BANHO DE REPRESA.
LOC 01
+ MÁRCIO PAULO, QUE JÁ DISPUTOU PROVAS FORA DO PAÍS,
TEM A MAIOR BOA VONTADE DE ENSINAR OS ALUNOS NOVATOS QUE
FAZEM INSCRIÇÃO A TODA SEMANA E REVELA QUE FAZ ISSO COM
MUITO PRAZER”.
LOC 02
+ MUITAS PESSOAS ACHAM QUE TÊM DE FREQUENTAR
ACADEMIAS PARA PRATICAR ALGUM ESPORTE, MAS SÃO PAULO TEM
DIVERSOS ATRATIVOS ESPORTIVOS PARA QUEM NÃO QUER FICAR
PARADO.
LOC 01
+ REMO E CANOAGEM SÃO ALGUMAS DESSAS OPÇÕES.
AGUARDEM PARA A SEMANA QUE VEM MAIS DICAS SOBRE O QUE FAZER
EM SÃO PAULO.
3) Texto manchetado
RETRANCA: PRISÃO DE SUSPEITOS COM DROGAS/CAMPOS DO
JORDÃO
DATA: 29 JULHO 2002
LAUDA: 01X
LOC 1
+ A POLÍCIA DE CAMPOS DO JORDÃO PRENDEU NO SÁBADO,
DOIS TURISTAS QUE PORTAVAM UMA GRANDE QUANTIDADE
DE DROGA./
LOC 2
+ GUILHERME DE FREITAS E MARCOS CÉSAR KAUPERT SÃO
ACUSADOS DE PORTAR 59 TUBOS DE LANÇA-PERFUME E 25
PÍLULAS DE ECSTASY./
65
LOC 1
+ ELES FORAM DETIDOS NA RODOVIÁRIA DE CAMPOS DO
JORDÃO QUANDO DESCIAM DE UM ÔNIBUS QUE VINHA DE
SÃO PAULO./
LOC 2
+ A POLÍCIA MILITAR INFORMOU QUE ELES ESTAVAM EM
ATITUDE SUSPEITA QUANDO FORAM REVISTADOS E PRESOS
EM FLAGRANTE./
LOC 1
+ ALÉM DE LANÇA-PERFUME E ECSTASY, A POLÍCIA
TAMBÉM ENCONTROU MACONHA E HAXIXE COM OS DOIS
SUSPEITOS./
LOC 2
+ GUILHERME E MARCOS CÉSAR ESTÃO DETIDOS NA CADEIA
PÚBLICA DE CAMPOS DO JORDÃO, ONDE VÃO AGUARDAR
JULGAMENTO./
7.1
APOIO FUNCIONAL
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Regência é o mecanismo que regula as ligações entre verbo ou nome (termos
regentes) e seus complementos (termos regidos). Como a linguagem oral é sempre mais
distendida, mais coloquial, existem (e muitas!) regências defendidas pela norma culta às
quais a oralidade (pelo menos no Brasil) não obedece. Esteja atento a elas e saiba em
que situação deverá optar por uma ou por outra.
Em questão de regência, as preposições desempenham papel importantíssimo,
por isso um dicionário de regência verbal e nominal resolve todas as dúvidas.
– Ele referiu-se ao artista plástico.
– Ele fez referência ao artista plástico.
– Fez comentários referentes ao artista plástico.
– Falou referentemente ao artista plástico.
→ regência verbal
→ regência nominal
→ regência nominal
→ regência nominal
Atenção à regência de alguns verbos .
18
1 – Agradar
• transitivo direto (sem preposição) = contentar, fazer carinhos.
Agradou o patrão com flores.// Agradou o cachorro.
• transitivo indireto (rege preposição a) = satisfazer.
As medidas não agradaram ao povo (à população).
2 – Aspirar
• transitivo direto (sem preposição) = sentir o cheiro, respirar.
Eu aspiro o ar poluído.
• transitivo indireto (rege preposição a) = desejar, pretender.
Aspiramos aos mais altos postos (às mais altas honrarias).
3 – Assistir
• transitivo direto (sem preposição) = socorrer, ajudar.
18
Um bom dicionário de regência verbal e nominal resolve qualquer problema. Duas sugestões:
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. São Paulo: Ática, 2003; embora não seja um
dicionário específico de regência, o Caldas Aulete (cujo download é gratuito) resolve a maioria dos
problemas.
66
O médico assiste o doente (a doente).// Dois padres assistem o moço (a moça).
• transitivo indireto (rege preposição a) = ver, presenciar.
Assisti ao debate (à novela).
4 – Atender
• complemento pessoa = transitivo direto (sem preposição) ou transitivo
indireto (rege preposição a).
Atendeu o cliente (a cliente) ou Atendeu ao cliente (à cliente).
• complemento coisa = transitivo indireto (rege preposição a).
Atendeu ao telefone e à porta ao mesmo tempo.
5 – Chegar/Ir
Regem a preposição a antes do adjunto adverbial.
Chegamos ao local. Irão à escola. Chegamos a Campinas. Foram ao jogo.
6 – Custar
No sentido de ser difícil, deve ser empregado na 3ª pessoa do singular e ter por sujeito uma oração
reduzida de infinitivo.
Custou-me conseguir passagem. // Custa a ele permanecer quieto.
Assim, não se diz: Custei a achar um táxi.
Mas,
Custou-me achar um táxi.
7 – Esquecer/Lembrar
• não pronominal = transitivo direto (sem preposição).
Esqueci a carteira. Lembro os fatos.
• pronominal (lembrar-se, esquecer-se) = transitivo indireto (regem preposição de).
Esqueci-me da carteira. Lembro-me dos fatos.// Esqueceram-se de mim
8 – Implicar
• transitivo direto (sem preposição) = acarretar.
O atraso implicará perda dos direitos.
(Como se vê, não se usa a preposição em)
• transitivo indireto (rege a preposição com) = ter implicância.
O velho implica com os netos.
• pronominal (implicar-se) = envolver-se em situações.
João implicou-se em negócios escusos.
9 – Obedecer/Desobedecer
Sempre transitivos indiretos, regendo a preposição a.
Ela obedece sempre aos seus instintos (às suas paixões).
João desobedece ao farol (à ordem).
10–Pagar/Perdoar
• quando o objeto refere-se a coisa = transitivo direto.
Não pagamos a conta de luz. (= objeto – coisa)
Perdoaram o seu erro. (= objeto – coisa)
• quando o objeto refere-se a pessoa = transitivo indireto (rege preposição a).
Já pagamos à empregada. (= objeto – pessoa)
Perdoamos sempre aos entes queridos. (= objeto – pessoa)
11–Preferir
Transitivo direto e indireto (rege preposição a).
Prefiro doces a salgados.
Todos preferiam o elogio à censura.
Atenção: não se usa do que, nem muito mais, mil vezes etc. Em preferir já existe o prefixo com tais
ideias. Assim, é errado dizer: Prefiro o cinema do que o teatro. / Prefiro muito mais o cravo que a
rosa.
Diga: Prefiro o cinema ao teatro. /Prefiro o cravo à rosa.
67
12–Proceder
• intransitivo = ter procedência, ter fundamento.
Sua reclamação não procede.
• intransitivo = provir (rege preposição de).
O avião procede de Roma.
• transitivo indireto (rege preposição a) = dar início.
O professor procedeu à chamada.
13–Querer
• transitivo direto = desejar.
Não quero este livro.
• transitivo indireto (rege preposição a) = estimar, gostar.
Quero (bem) a meu sobrinho.
14–Responder
Transitivo indireto (rege preposição a) = dar resposta.
Responda ao questionário.
Não respondi à carta de Paulo.
15–Simpatizar
Transitivo indireto (rege preposição com).
Simpatizo com suas ideias liberais.
Jamais se deve usá-lo pronominalmente. Assim, não se deve dizer:
Simpatizo-me com ela.
Mas
Simpatizo com ela.
16–Visar
• transitivo direto = mirar, apontar a arma.
Ele visou o animal.
• transitivo direto = passar visto, assinar.
O diretor visou os requerimentos.
• transitivo indireto (rege preposição a) = objetivar, ter em vista.
Não visamos a lucros excessivos (a nenhuma condecoração).// Visavam ao bem-estar da
população (à felicidade da população).
Carlos só visava ao poder.
17–Pronome relativo: que, quem, o/a qual, os/as quais, onde, cujo/a, cujos/as
Quando o pronome relativo funciona como complemento de um verbo, deve-se respeitar-lhe a
regência.
Gostei do filme que vi. (quem vê, vê alguma coisa (sem preposição)
a que assisti. (quem assiste, assiste a alguma coisa)
de que o crítico falara. (quem fala, fala de alguma coisa)
a que ele se opôs. (quem se opõe, opõe-se a alguma coisa)
18–Verbos com regências diferentes: é erro comum colocar-se um só complemento para verbos
com regências diferentes. Ex.: Ele entra e sai da sala a todo momento.
Há dois verbos – entrar e sair – cada qual com sua regência: entrar em // sair de. Assim a frase
correta é: Ele entrava na sala e dela saía a todo momento.
Regência Nominal
Aqui está uma pequena relação de substantivos e adjetivos acompanhados de suas preposições mais
usuais:
acessível a
68
acostumado a, com
afável com, para com
agradável a
alheio a, de insensível a
análogo a liberal com
ansioso de, para, por medo a, de
apto a, para natural de
aversão a, por necessário a
ávido de nocivo a
benéfico a obediência a
capacidade de, para ojeriza a, por
capaz de, para paralelo a
compatível com parco em, de
contemporâneo a, de passível de
contíguo a possível de
contrário a preferível a
curioso de, por prejudicial a
descontente com prestes a
desejoso de propício a
diferente de próximo a, de
entendido em relacionado com
equivalente a respeito a, com, para com
escasso de satisfeito com, de, em, por
essencial para semelhante a
fácil de sensível a
fanático por sito a
favorável a suspeito de
generoso com união a, com, de, entre
grato a útil a, para
hábil em vazio de
habituado a
horror a
versado em
idêntico a
impróprio para
indeciso em
Exercícios
I - Corrija as frases que apresentem problemas quanto à regência (lembre-se de
que o que estamos pedindo é a norma culta):
1) Assistimos um belo espetáculo.
2) O médico assistiu ao doente.
3) Preferia viajar do que trabalhar.
4) Custei a entender o sentido da frase.
5) Obedeça a sinalização
6) O juiz procedeu o julgamento.
7) Esta alternativa obedece o padrão da gramática normativa.
8) Em Cubatão, aspira-se a um ar poluído.
9) Perdoei Antônio.
69
10) Informei-lhe de que os documentos haviam chegado.
11) Chegando em Cuiabá, procedeu o julgamento do jogador.
12) Não esqueci os compromissos.
13) Lembrei de alguns pormenores.
14) Esqueci de seu nome.
15) Esqueceu do guarda-chuva.
16) Prefiro ser sincero do que mentir aos meus amigos.
17) Preferimos mil vezes ficar em casa do que ir no teatro.
18) O desrespeito ao regulamento implica em multa pesada.
19) Os motoristas irresponsáveis não obedecem os sinais de trânsito.
20) Há um grande número de pessoas que não entende e não se interessa por política.
II- Complete as frases com as preposições exigidas pelos verbos:
1. São filmes
que assisto com frequência. / São filmes
quais assisto com frequência.
2. Não vamos tocar em fatos
que já nos esquecemos. / Não vamos tocar
em fatos
quais já nos esquecemos.
3. São filmes
que as crianças gostam. / São filmes
quais
as crianças gostam.
4. Este é o cobiçado prêmio
que aspiro. / Este é o cobiçado prêmio
qual aspiro.
5. O escritor
cuja obra falei morreu ontem.
6. É este o livro
cujas personagens me referi.
7. Acataremos ordens do presidente
cuja probidade não temos o direito
de duvidar.
8. As opiniões
que me oponho são inconsistentes. / As opiniões
quais me oponho são inconsistentes.
9. Os fatos.
que me lembro ocorreram no ano passado. / Os fatos
quais me lembro ocorreram no ano passado.
10. São pessoas
quem dedico profunda estima. / São pessoas
quais dedico profunda estima.
11. O vizinho
quem desconfio usa roupas escuras./ O vizinho
qual desconfio usa roupas escuras.
12. Ele é um professor
cujas palavras confio.
13. Esta é a marca
que os esportistas confiam.
III- Junte as duas orações num só período, fazendo uso de um pronome relativo. Se
necessário, use preposições antes dos pronomes:
1. Comi uma fruta. Não lembro o nome dessa fruta.
2. Todos estão pleiteando o cargo. Nós aspiramos a ele.
3. O Brasil tem muitos eleitores semi-alfabetizados. Alguns políticos tentam agradar a
esses eleitores.
IV- Substitua os verbos grifados pelos indicados:
1) Eles queriam a segurança de suas famílias. (visar)
Eles
segurança de suas famílias.
2) Com essas medidas, ela tem por objetivo a manutenção da disciplina. (visar)
70
Com essas medidas, ela
manutenção da disciplina.
3) As novas medidas não satisfizeram a população. (agradar)
As novas medidas não
população.
4) Todos acataram as normas da casa. (obedecer)
Todos
normas da casa.
5) Esses patrões nunca remuneraram decentemente aqueles funcionários. ( pagar)
Esses patrões nunca
decentemente
funcionários.
6) Esta atitude resultará em prejuízo à sociedade. (implicar)
Esta atitude
prejuízo à sociedade.
7) Os que viram o debate, gostaram mais do Maluf que da Erundina. (assistir e preferir)
Os que
debate,
Maluf
Erundina.
Os que
debate,
o Maluf
Erundina.
8) A mulher tinha afeição pelo garoto. (querer)
A mulher
garoto.
9) O jogador não se esqueceu de sua origem humilde. (esquecer)
O jogador não
sua origem humilde.
10) As empresas que conheci são parceiras do governo. (simpatizar)
11) Desperdício de água resultará em desertificação do planeta. (implicar)
Desperdício de água
desertificação do planeta.
12) Gosto mil vezes mais de doce do que de salgado. (preferir)
13) A atitude do modelo não satisfez o empresário. (agradar)
A atitude da modelo não
empresário.
14) A propaganda a seguir mostra uma inadequação sintática.
a) Qual a inadequação aí presente?
b) Reescreva a frase de forma a eliminar a inadequação.
VI- Utilize a preposição adequada:
71
1) Manteve-se alheio
comentários ferinos dos adversários.
2) Ler é sempre preferível
.assistir a certos programas humorísticos.
3) Ela era devota
. Santa Rita.
4) Nutria um ódio figadal
tudo que era estrangeiro.
5) Não se tem mais respeito .
idosos.
6) Em seu romance, o escritor fez uma alusão elogiosa
sertanista.
7) Eu já me havia acostumado
calor de 40 graus.
8) O edifício, localizado
Rua das Palmeiras, será implodido.
9) Fulano de Tal, residente
Rua Tal, deve comparecer à delegacia do
bairro.
VII – Com verbos transitivos indiretos não é possível haver voz passiva. Corrija as
frases abaixo:
1) O jogo foi assistido por uma plateia agitada.
2) As placas de sinalização não costumam ser obedecidas pelos motoristas.
3) Cargos de diretoria às vezes são aspirados por pessoas pouco competentes.
72
8
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA
(RÁDIO) 2
REPORTAGEM
A reportagem é o tipo de produção radiojornalística que mais privilegia a
participação do repórter. Assim, o locutor apenas abre a matéria (apresenta o lide) e a
divulgação do restante do material fica a cargo do repórter. A reportagem finalizada terá
três partes fundamentais:
• cabeça: início da reportagem onde o repórter vai situar o assunto antes de
entrar com o entrevistado;
• entrevista: trechos principais da fala do entrevistado, entremeados por
ganchos apresentados pelo repórter;
• pé: finalização da matéria em que o repórter dá uma última informação e
assina a reportagem.
Na reportagem, o jornalista deve elaborar a “cabeça da matéria”, que vem
sempre antes da entrevista. O objetivo é situar o assunto para o ouvinte antes de
começar a repercuti-lo com o entrevistado. Depois de concluída a entrevista, também
deve ser elaborado o “pé da matéria”, uma última informação sobre o assunto da
reportagem.
Modelo de Reportagem
O COMÉRCIO NO RECIFE
LOC: O COMÉRCIO DO CENTRO DO RECIFE, ATRAIU AO LONGO DO TEMPO,
UMA COMPLEXA REDE DE NEGÓCIOS FORMAIS E INFORMAIS. O PORTO
DO RECIFE, RESPONSÁVEL PELO ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO LOCAL,
PRINCIPALMENTE DA CANA DE AÇÚCAR, FOI O MAIOR ATRATIVO PARA
OS COMERCIANTES. O PROFESSOR DE HISTÓRIA ERNANI SOUTO
ANDRADE, DESTACA ESSE MOMENTO:
TEC: RODA ENTREVISTA COM ERNANI SOUTO
D.I – "O PORTO PELO MENOS..."
D.F – "...COMÉRCIO INFORMAL."
EMENDA COM
D. I- "COM A PRESENÇA HOLANDESA..."
D.. F – "...PEQUENO PORTE."
LOC: UM MARCO REPRESENTATIVO DO COMÉRCIO DO RECIFE, É O
MERCADO DE SÃO JOSÉ, QUE FOI INAUGURADO NO SÉCULO DEZENOVE.
COM ESTRUTURA EM FERRO E MAIS DE QUINHENTOS BOXES, É UM DOS
MERCADOS PÚBLICOS MAIS ANTIGOS DO PAÍS, CONHECIDO POR
PRODUTOS DIVERSIFICADOS E TRADIÇÃO FAMILIAR. JOSÉ RUBENS DE
ARAÚJO É UM EXEMPLO, SEU COMERCIO JÁ PASSOU DE PAI PARA FILHO:
TEC: RODA ENTREVISTA COM JOSE RUBENS DE ARAÚJO
73
D. I – "EU TO AQUI HÁ..."
D.F – "...VINHA E SE ABASTECIA AQUI."
EMENDA COM:
D.I – "HOJE TEM AÍ GRANDES REDES..."DF – "...TODO EM ARTESANATO."
LOC: NA DÉCADA DE OITENTA, O COMÉRCIO DO CENTRO DO RECIFE,
SOFREU VÁRIAS MUDANÇAS. ALÉM DAS ATIVIDADES PORTUÁRIAS,
TRANSFERIDAS PARA O COMPLEXO DE SUAPE, A CONSTRUÇÃO DO
SHOPPING CENTER RECIFE, E OUTROS CENTROS DE COMPRAS, TIVERAM
REPERCUSSÕES DIRETAS SOBRE A DIMINUIÇÃO DO MOVIMENTO DO
COMÉRCIO NOS BAIRROS CENTRAIS. MUITOS MORADORES COMO A
JORNALISTA MARCELA WANDERLEY ADERIRAM A ESSA NOVA FORMA
DE FAZER COMPRAS:
TEC: RODA ENTREVISTA
D.I – "EU PREFIRO FAZER..."
D.F – "...DE SUAS LOJAS."
LOC - APESAR DAS VANTAGENS DOS MODERNOS SHOPPINGS, MUITOS
PERNAMBUCANOS PERMANECEM FIÉIS AO COMÉRCIO DO CENTRO DO
RECIFE:
TEC: RODA ENTREVISTA COM:
D.I - "O CENTRO DA CIDADE..."
D.F – "...DE COMÉRCIO MAIS POPULAR."
LOC – UMA PREOCUPAÇÃO CONSTANTE DE QUEM FREQUENTA O CENTRO
DA CIDADE É A FALTA DE SEGURANÇA:
TEC: RODA ENTREVISTA
D.I – "VOCÊ ANDA ASSUSTADA..."D.F – "...VOCÊ TÁ SOFRENDO."
LOC – COM O OBJETIVO DE MELHORAR O COMÉRCIO NO CENTRO DO
RECIFE, NO INÍCIO DA DÉCADA DE NOVENTA, A PREFEITURA DA CIDADE
REVITALIZOU O CENTRO. ALÉM DA REFORMA DE ANTIGOS CASARÕES E
URBANIZAÇÃO DAS RUAS, O GOVERNO MUNICIPAL CONSTRUIU O
CALÇADÃO DOS MASCATES, MAIS CONHECIDO COMO CAMELÓDROMO.
HOJE A REALIDADE É OUTRA, O LOCAL FUNCIONA EM CONDIÇÕES
PRECÁRIAS, DENUNCIA A COMERCIANTE CARMEM SILVA:
TEC: RODA ENTREVISTA COM CARMEM SILVA
D I– "O MINHA FILHA..".
D F – "...DIFICULDADE MUITO GRANDE."
LOC - APESAR DE SER UMA CIDADE HISTORICAMENTE LIGADA AO
COMÉRCIO, A TAXA DE DESEMPREGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO
RECIFE, ATINGIU MAIS DE VINTE POR CENTO EM FEVEREIRO DESTE ANO,
COM TREZENTOS E TRINTA E DUAS MIL PESSOAS DESEMPREGADAS. É O
SEGUNDO MAIOR ÍNDICE DE DESEMPREGO ENTRE AS SEIS REGIÕES
74
PESQUISADAS PELO DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E
ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (DIEESE), PERDENDO APENAS PARA
SALVADOR, COM VINTE E DOIS VÍRGULA TRÊS POR CENTO. A FALTA DE
EMPREGO É REFLETIDA NO GRANDE NÚMERO DE COMÉRCIO INFORMAL
NO CENTRO DA CIDADE, UM EXEMPLO É JOSÉ MORAIS QUE VENDE
APARELHOS ELETRÔNICOS NA RUA NOVA:
TEC: RODA ENTREVISTA COM JOSÉ MORAIS
D.I – "HÁ UM ANO QUE..."
D.F – "...FICANDO MAIS COMPLICADAS."
LOC – MESMO NÃO VIVENDO SEU MELHOR MOMENTO, O COMÉRCIO DO
RECIFE AINDA É FORTE. SEGUNDO O PRESIDENTE DA FECOMÉRCIO,
JOSIAS ALBUQUERQUE, O SETOR É RESPONSÁVEL POR GRANDE
ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS E GERAÇÃO DE EMPREGOS.
TEC: RODA ENTREVISTA COM JOSIAS ALBUQUERQUE
D. I – "O COMÉRCIO DO RECIFE.."D.F – "...O COMÉRCIO DE PERNAMBUCO."
BANCO DE PRONÚNCIAS
Diga
e não
ABSSOLVER
ABISSOLVER
ABSORVER
ABISORVER
ABSURDO
ABISURDO
ADMINISTRAR
ADIMINISTRAR
ADVOGADO (AD’VOGADO)
ADIVOGADO/ADEVOGADO
AFTA
ÁFITA
ALGARAVÍA19
ALGARÁVIA
ALGÔZ OU ALGÔZES
ALGÓZ OU ALGÓZES
ÁLIBI
ALIBÍ ou ALÍBI
ALÍQUOTA (ALÍCOTA)
ALICÓTA
ALMÍSCAR
ALMISCÁR
ALVEDRÍO20
ALVÉDRIO
AMBIDÊSTRU
AMBIDÉSTRO
AMIÚDE21
AMIUDE
No caso de AMNÉSIA, pode ser dito tanto AMNÉZIA quanto Amnezía
AMÓRFO
AMÔRFO
ANTIOQUIA
ANTIÓQUIA
APAZIGÚE
APAZIGÜE
APTIDÃO
APITIDÃO
ÁPTO
ÁPITO
AQUEDUTO (AKEDÚTU)
ACUEDÚTU
ARGÚIR (Sempre com o U sonoro)
ARGÜIR
ATMOSFERA (AT’MOSFÉRA)
ATIMOSFÉRA
Entre dizer AUTÓPSIA ou AUTOPSIA, diga NECROPSIA
AVÁRO
ÁVARO
22
AZIAGO (AZIÁGU)
AZÍAGO
19
Algaravia: linguagem muito confusa, incompreensível.
Alvedrio: livre vontade; arbítrio, moto-próprio.
21
Amiúde: frequentemente.
20
75
Pode-se dizer Biópsia (Bióp’ssia) ou Biopsia (Biop’ssía)
BODAS (Bôdas)
BÓDAS
BOÊMIA
BOEMÍA
CACAREJAR
CACARÉJAR
CANHESTRU (CANHÊSTRU)
CANHÉSTRU
CAPCIOSO (CAP’CIÔZU)
CAPICIÔZU
CAPTAR (CAP’TAR)
CAPITAR
CAPTURA (CAP’TÚRA)
CAPITÚRA
CARACTERES (Caraktéris)
CARÁTERIS
CARÓÇUS, CARÓCINHOS
CARÔÇOS
CASSETETE (Cacetéti)
Cacetêti
CATETER (Catetér)
CATÉTER
CEREBELO (Cerebêlu)
CEREBÉLO
CIRCUITO (Circúitu)
CIRCUÍTO
CLITÓRIS
CLÍTORIS
CÓCCIX (Cóksis)
CÓCIS ou CÓKIS
CONDOR (Condôr)
CÔNDOR
CRISÂNTEMO (Crizântemu)
Crizantêmu
DECANO (Decânu)
DÉCANO
DECEPÇÃO (Dcep’çáu)
DECEPIÇÃO
DESIGNAR (Desig’nar)
DESIGUINAR
DÊSTRA
DÉSTRA
DIAFRAGMA
DIAFRAGUIMA
DIAGNÓSTICO
DIAGUINÓSTICO
DISPÓSTOS
DISPÔSTOS
DISTINGUIR (Distinghir)
DISTINGÜIR
DOGMA (Dóg’ma)
DÓGUIMA
23
DÓLO
DÔLO
ENIGMA (Eníg’ma)
ENÍGUIMA
EXTINGUIR (Extinghir)
EXTINGÜIR
EXTRA (Êstra)
Éxtra
GRATUITO (Gratúito)
GRATUÍTU
IBERO (ibéru)
ÍBERO
IGNÓBIL24 (ig’nóbil)
IGUINÓBIL
INCESTO (incéstu)
INCÊSTO
ÍNTERIM (ínterim) I
NTERÍM
25
IRASCÍVEL (iracível)
IRRACÍVEL
JOANETE (joanêti)
JOANÉTI
JUNIORES (juniôris)
JUNIORS
LÁTEX (láteks)
LATÉKS
MANEJA (manêja)
MANÉJA
MOOCA (Mo-óca)
MÓCA
MURCHAR
MUCHAR
NOBEL (Nobél)
NÓBEL
OCCIPITAL (Okcipital)
OCIPITAL
22
Aziago: nefasto, que traz má sorte.
Dolo: em direito penal, a deliberação de violar a lei, por ação ou omissão, com pleno conhecimento da
criminalidade do que se está fazendo.
24
Ignóbil: que não é nobre, que inspira horror do ponto de vista moral, de caráter vil, baixo.
25
Irascível: que ou quem tem gênio exaltado, que ou aquele que é dado a irritar-se, a encolerizar-se com
facilidade.
23
76
PIGMEU (pig’mêu)
PNEU (p’neu)
POÇA (pôça)
PROGNÓSTICO (Prog’nósticu)
PSEUDO (P’sêudu)
PSIQUE (P’síki)
PUDICO26 (Pudícu)
PUGNA (Púg’na)
RECORDE (Recórdi)
RUBRICA (Rubríca)
RUIM (RU-IM)
SUBSÍDIO (SUBSSÍDIO)
XÉROX (Xéroks)
26
PIGUIMÊU
PINEU/PENEU
PÓÇA
PROGUINÓSTICU
PISSÊUDU
PISSÍKI / PISSIKÊ
PÚDICO
PÚGUINA
RÉCORDE
RÚBRICA
RÚIM
SUBIZÍDIO
XERÓX
Pudico: que tem pudor; recatado, casto; que se mostra ou é tímido, acanhado, envergonhado.
77
9
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (TV)
1
A imagem em movimento é o grande trunfo da televisão em relação ao rádio e
ao jornalismo impresso. O papel da palavra neste veículo, cujos atributos são o
imediatismo, a agilidade e a instantaneidade, é dar apoio ao visual e criar um amálgama
tal que transmita a mensagem de maneira clara, sem redundâncias texto/imagem.
Assim como no rádio, as frases devem ser curtas, organizadas na ordem direta,
sem intercalações, claras, objetivas e diretas. Atenção redobrada à cacofonia evita frases
como A seleção já está na concentração em preparação para o jogo contra o Japão
(escreva: A seleção já está concentrada e prepara-se para o jogo contra o Japão).
Elementos de programas jornalísticos na TV
•
ESCALADA: São as manchetes de um telejornal, lidas pelos apresentadores
sempre no início de cada edição. Normalmente a escalada inicia-se com assuntos
mais fortes e importantes até chegar a temas mais leves como esporte ou vida
animal. Serve para aprender a atenção do telespectador no início do jornal e
informar quais serão as principais notícias daquela edição. A narração pode ou não
ser coberta por imagens.
Exemplo de escalada do Jornal Nacional, da Rede Globo, em 8 de setembro de
2009:
QUATRO MORTOS EM SANTA CATARINA//
MAIS DE CEM FERIDOS EM TRÊS ESTADOS//
A REGIÃO SUL SOFRE COM TEMPESTADES E VENTOS DE MAIS DE CEM
QUILÔMETROS POR HORA//
NO SUDESTE O DIA VIRA NOITE NA MAIOR CIDADE DO PAÍS//
VENDAVAL TAMBÉM ATINGE A ARGENTINA//
E DEIXA DEZ MORTOS//
SEGUNDO DIA DE VIOLÊNCIA EM SALVADOR//
BANDIDOS INCENDEIAM ÔNIBUS E VOLTAM A ATACAR A POLÍCIA//
A FIFA CRITICA O PROJETO DO MORUMBI PARA A COPA DE 2014 NO BRASIL//
NA VÉSPERA DO JOGO CONTRA O CHILE, QUEM SÃO OS JOGADORES QUE AINDA
NÃO PERDERAM NA SELEÇÃO DE DUNGA//
NA SÉRIE SOBRE OS NOSSOS QUARENTA ANOS, A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E AS
CONQUISTAS DA CIÊNCIA//
AGORA, NO JORNAL NACIONAL.//
•
CABEÇA: quem lê é sempre o apresentador que introduz o assunto da matéria
feita pelo repórter. Cabeça da matéria ou cabeça do VT é o lide da matéria.
•
OFF: Texto narrado sobre o qual são editadas as imagens das reportagens.
78
•
SONORA: Entrevista gravada, aproveitada ou não na edição.
•
POVO-FALA: Sequência de sonoras curtas sobre um mesmo assunto. Muito
utilizada para inserir a opinião de populares.
•
PASSAGEM: É o momento em que o repórter aparece na matéria. É utilizada para
passar informações importantes e/ou informações das quais não se possa ter
imagens. A passagem pode ser utilizada ainda como plot (ponto de virada) na
narrativa da reportagem. Trata-se da gravação feita pelo repórter no local do
acontecimento, com informações a serem usadas no meio da matéria.
•
ENCERRAMENTO: Repórter em quadro ao final da matéria, com informações
que “amarrem” o texto. Pode ou não trazer a assinatura do repórter ou da equipe.
•
ASSINATURA: Última frase ou texto em off ou do encerramento da reportagem.
Na maioria dos casos, o repórter diz seu nome, o local onde está e o jornal em que
está sendo veiculada a reportagem.
•
SOBE SOM: Som ambiente aproveitado na estrutura da reportagem ou trilha
musical colocada de fundo para as imagens. Não há narração em off nesse caso.
•
ARTES: Ilustração visual computadorizada, utilizada para facilitar a compreensão
do telespectador. Costuma-se usar em matérias que têm gráficos, tabelas e/ou
números.
•
NOTA-PÉ: Texto curto, lido pelo apresentador em estúdio e que traz informações
complementares à matéria.
O relatório de reportagem é o texto em que o repórter prevê a cabeça da matéria,
os offs, as passagens, as sonoras. É um roteiro para o editor de texto montar a matéria.
Veja o exemplo a seguir, disponível em:
http://jornal.metodista.br/tele/manual/reportagem.htm
Relatório de Reportagem
Retranca: Nepotismo/ABC
Pauteiro: Silvia Luisa Melo
Repórter: Silvia Luisa Melo
Equipe: André Cezarino
Thiago Padovanni
SUGESTÃO DE CABEÇA: A REGIÃO DO ABC SOMA QUARENTA E DOIS
CASOS DE NEPOTISMO NAS CÂMARAS DOS VEREADORES DAS CIDADES.
ENTIDADES DA REGIÃO ESTUDAM MANEIRAS DE COMBATE À PRÁTICA.
OFF1: A DISCUSSÃO SOBRE A CONTRATAÇÃO DE PARENTES EM CARGOS
PÚBLICOS VOLTOU À DISCUSSÃO DEPOIS DAS DECLARAÇÕES DO
PRESIDENTE DA CÂMARA FEDERAL, SEVERINO CAVALCANTI, QUE DISSE
ACHAR NORMAL A NOMEAÇÃO DE PARENTES SEM CONCURSO. A
PRÁTICA É ANTIGA NO BRASIL E AS CÂMARAS MUNICIPAIS DO ABC NÃO
SÃO EXCEÇÕES.
79
OFF2: EM RIBEIRÃO PIRES, DOS QUARENTA E SETE FUNCIONÁRIOS DA
CÂMARA, ONZE SÃO PARENTES DE VEREADORES. DEPOIS DE RIBEIRÃO,
MAUÁ É QUE TEM O MAIOR ÍNDICE DE NEPOTISMO. SÃO DOZE PARENTES
DE VEREADORES CONTRATADOS ENTRE OS CENTO E QUINZE
FUNCIONÁRIOS. A CÂMARA DE DIADEMA TEM APENAS DOIS CASOS. EM
SANTO ANDRÉ DOS CENTO E DEZOITO ASSESSORES NOMEADOS, ONZE
TÊM ALGUM GRAU DE PARENTESCO COM OS PARLAMENTARES. OS
SALÁRIOS SÃO EM MÉDIA DE R$ 2,5 MIL.
SONORA: VEREADOR DE STO ANDRÉ/ DR. AIDAN RAVIN: “EU CONTRATEI
ALGUMAS PESSOAS, PARENTES. POR QUÊ? POR CONFIANÇA, QUALIDADE.
MEU IRMÃO É ADVOGADO E SEMPRE TRABALHOU COMIGO. (...) ENTÃO O
PROBLEMA DE SER PARENTE OU NÃO, EU ACHO QUE ELE TEM QUE TER
COMPETÊNCIA E TEM REALMENTE QUE TRABALHAR. O GRANDE
PROBLEMA QUANDO SE FALA EM NEPOTISMO É QUANDO VOCÊ COLOCA
UMA PESSOA E ESSA PESSOA NÃO TRABALHA.”
OFF3: O QUE PARECE CONTRADITÓRIO É QUE, EMBORA TRABALHEM NO
GABINETE O IRMÃO E A ESPOSA, O VEREADOR É AUTOR DE UM PROJETO
CONTRA O NEPOTISMO. AO SER QUESTIONADO SOBRE A SITUAÇÃO
FUTURA DOS PARENTES, CASO O PROJETO SE TORNE LEI, ELE É INCISIVO.
SONORA: VEREADOR DE STO ANDRÉ/ DR. AIDAN
“AUTOMATICAMENTE ESTÃO DISPENSADOS DO GABINETE.”
RAVIN:
PASSAGEM: ATUALMENTE NA REGIÃO EXISTEM CERCA DE QUARENTA
PARENTES DE VEREADORES EMPREGADOS NO PODER PÚBLICO. AS
SUBSEÇÕES DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL NO ABC ESTUDAM
CRIAR UMA COMISSÃO REGIONAL DE COMBATE AO NEPOTISMO.
SONORA: PRESIDENTE DA OAB DE STO ANDRÉ / DR. SINÉSIO CORREA: “A
ENTIDADE TEM POR OBRIGATORIEDADE (...) COMBATER TODO ESSE TIPO
DE MANIFESTAÇÃO QUE A POPULAÇÃO VETA. (...) O QUE QUEREMOS
FAZER É DIVULGAR À POPULAÇÃO A EXISTÊNCIA DESSE TIPO DE...
POLÍTICOS QUE NÓS TEMOS E QUE NÃO RESPEITAM SEUS PRÓPRIOS
ELEITORES. AGORA, NÓS NÃO TEMOS FORÇA PARA TIRAR E MANDAR
NINGUÉM EMBORA.”
OFF4: O QUE DIFICULTA O CONTROLE DO NEPOTISMO É O CHAMADO
NEPOTISMO CRUZADO.
SONORA: PRESIDENTE DA OAB DE STO ANDRÉ / DR. SINÉSIO CORREA:
“QUE EU COMBATO MAIS QUE O NEPOTISMO DIRETO É O NEPOTISMO
CRUZADO. POR EXEMPLO, UM VEREADOR DA MINHA CIDADE, DIADEMA,
SÃO CAETANO, MAUÁ. EU INDICO UMA PESSOA, PARENTE, PESSOA DO
MEU RELACIONAMENTO, ELE CONTRATA LÁ E EM CONTRAPRESTAÇÃO
EU CONTRATO UM DELE AQUI PARA NÃO CARACTERIZAR PARENTE. ISSO
FORMA UM NEPOTISMO DESONESTO INCLUSIVE.”
OFF5: APESAR DE TODA A POLÊMICA AO LONGO DOS ANOS, O
NEPOTISMO AINDA NÃO É PROIBIDO POR LEI. ALGUNS VEREADORES, QUE
SÃO CONTRA A PRÁTICA, NÃO ACREDITAM QUE A PROIBIÇÃO DA
80
CONTRATAÇÃO DE PARENTES NO PODER PÚBLICO SEJA A MELHOR
SAÍDA.
SONORA: VEREADOR/PT/ ANTONIO LEITE: “AS PESSOA INDICAREM OS
SEUS PARENTES SEM NENHUM CRITÉRIO, ISSO COM CERTEZA PREJUDICA
A POPULAÇÃO (...) SEM DEFINIR CRITÉRIOS, VOCÊ PODE PREJUDICAR A
POPULAÇÃO DE TER PESSOAS BOAS NA ADMINISTRAÇÃO. (...) NÃO
PODEMOS SAIR DE UMA SITUAÇÃO ONDE TUDO É PERMITIDO PARA ONDE
TUDO É PROIBIDO. NÓS TEMOS QUE ENCONTRAR A LUZ DO BOM SENSO.”
NOTA-PÉ: NAS CÂMARAS DE SÃO BERNARDO E SÃO CAETANO, TIVEMOS
DIFICULDADES PARA CONSEGUIR DADOS SOBRE NOMEADOS EM CARGOS
DE CONFIANÇA. O CASO DE RIO GRANDE DA SERRA É ESPECIAL, PORQUE
OS PARLAMENTARES NÃO TÊM DIREITO A ASSESSORES. A PROIBIÇÃO DO
NEPOTISMO NO PODER PÚBLICO PODE SE TORNAR REALIDADE SE O
CONGRESSO NACIONAL APROVAR A PEC, PROPOSTA DE EMENDA
CONSTITUCIONAL, QUE TRATA SOBRE O ASSUNTO. ENQUANTO ISSO NÃO
ACONTECE, AS SUBSEÇÕES DA OAB DA REGIÃO MARCAM REUNIÃO PARA
TAL DIA DISCUTIR O QUE SERÁ FEITO PARA CONTROLAR O NEPOTISMO
NO ABC.
9.1 APOIO FUNCIONAL
CRASE
A crase, fenômeno diretamente ligado à regência, é a fusão de duas vogais
idênticas, normalmente o artigo feminino a/as ou pronome demonstrativo a/ as com a
preposição a.
•
REGRAS PRÁTICAS:
√
Substituir o nome feminino pelo nome masculino:
Ex.: Sentou-se à mesa (ao piano).// Pagou a dívida à funcionária. (o salário, ao funcionário). //
Refiro-me a ela (a ele).
Possibilidades
masculino
AO (prep. + artigo)
A (preposição)
O (artigo)
√
feminino
=
=
=
À (prep.+ artigo) ⇒ CRASE!
A (preposição) ⇒ SEM CRASE!!
A (artigo) ⇒ SEM CRASE!
Substituir “à” por “para a”, “na”, “com a”, “pela”, “da”:
Ex.: Trazia os sacos às costas (nas costas). / À entrada (na entrada) via-se uma tabuleta. /
Foi à Lapa. (para a)
√
Se vou à e venho da, crase há. (Vou à França, venho da França.)
Se vou a e venho de, crase pra quê? (Vou a Portugal , venho de Portugal.)
81
Experimente:
1) Nunca assisti a tanta miséria.
2) Deu a cada esposa uma parte da herança.
3) Falou a todas as emissoras do país.
4) Concedeu a todos os canais a mesma entrevista.
5) Fomos a uma exposição de quadros a óleo.
6) Sou sensível a tais ofensas.
7) Retornou a Brasília.
8) Retornou a seca Brasília.
9) Dois a dois foi a contagem.
10) Sentou-se a máquina e reescreveu uma a uma as páginas.
11) Foi a Escócia assim que chegou a Europa.
12) Chegamos a Fortaleza hoje cedo.
13) Chegamos a fortaleza hoje cedo.
14) Recorreu a irmã e a ela se apegou como a uma tábua de salvação.
15) Subiu a tribuna e falou as massas, incitando a população a greve, as desordens, a
desobediência a ordem federal.
•
NUNCA há crase:
√ antes de palavras masculinas: a pé, a cavalo, a álcool
(porque o artigo usado seria O/OS);
√ antes de verbo: a partir de hoje, contas a pagar
(porque o verbo não admite artigo);
√ antes de pronomes de tratamento: a você, a V.S. Exceções: dona, senhora, senhorita
(porque antes dos pronomes de tratamento não há artigo);
√ antes de pronomes em geral: a ela, a essa, a cada uma
(porque antes de pronomes, em geral, não há artigo);
√ nas expressões formadas por palavras repetidas: cara a cara, face a face, frente a frente
(porque inexiste o artigo);
√ com “a” + substantivo feminino plural: Dirigiu-se a pessoas estranhas. Vamos a regiões pobres
(porque esse a é uma preposição; se houvesse artigo, seria as, para acompanhar o substantivo
feminino plural = Dirigiu-se às pessoas estranhas. Vamos às regiões pobres);
√ antes de nomes de cidades sem determinação: Vou a Roma. / Voltou a São Paulo. / Chegamos a
Taubaté. (porque esses nomes não aceitam artigo).
♦ Haverá crase se o nome da cidade vier determinado:
Vou à Roma dos Césares. /
Voltou à poluída São Paulo. / Chegamos à Taubaté de Monteiro Lobato.
Exercício
Use o acento indicativo da crase onde julgar conveniente:
1) Prefiro cinema a teatro.
2) Certas estrelas não são visíveis a olho nu.
82
3) Fomos a Embu a pé e voltamos a cavalo.
4) Fui a Bolonha, depois a Veneza dos belos canais.
5) Estou mais inclinado a falar do que a ouvir.
6) Tornava-se a cada hora mais afeito a essas perigosas divagações que levam um
homem a viver num mundo imaginário.
7) Ficaram frente a frente, a se olharem pensando no que dizer uma a outra.
8) Requeiro a V. Exa. a extensão dos benefícios a meus descendentes.
9) Vivemos para servir a Deus.
10) Tomou o remédio gota a gota.
11) Os bandeirantes andaram rumo a (as) regiões desconhecidas. / Os bandeirantes
andaram rumo as regiões desconhecidas
12) Entrada proibida a (as) mulheres em traje de banho. / Entrada proibida as mulheres
em traje de banho.
13) Falavam a multidões enfurecidas. / Falavam as multidões enfurecidas.
14) Refiro-me a mulheres do século XIX. / Refiro-me as mulheres do século XIX.
15) Falei a pessoas interessadas. / Falei as pessoas interessadas.
16) Refiro-me a importações, não a exportações. / Refiro-me as importações, não as
exportações.
17) Comprei a vista, não a prazo.
•
SEMPRE há crase:
√ na indicação do número de horas: Às duas horas, à zero hora, à uma hora, das treze às dezesseis
horas;
√ na expressão à moda de (mesmo que a expressão moda de esteja oculta): Salto à Luís XV. /
Bife à milanesa. / Gol à Pelé;
√ nas expressões adverbiais femininas (menos nas de instrumento): Saí à noite. Ficou à espreita.
Saiu às pressas. (mas Escreveu a caneta, carro a gasolina, barco a vela);
√ nas locuções prepositivas e conjuntivas: à força de, à roda de, à frente de // à medida que, à
proporção que.
Exercício:
1) Usava uma cabeleira a Alceu Valença. 2) Usava um bigode a Hitler. 3) A casa era
toda decorada a colonial. 4) Gosto de macarrão a bolonhesa. 5) Fez um gol a
Ronaldinho.
6) Retirou-se as escondidas. 7) Vivemos a custa de seu tio. 8) A hora do almoço, Luís
come a beça. 9) As sacudidelas partiu o velho carro que fora o primeiro a chegar a
cidade. 10) As vezes passamos alguns dias a beira-mar. 11) Estou a disposição de vocês.
12) Retirou-se as pressas do local a fim de não ser identificado. 13) Sentaram-se a
sombra das mangueiras.
14) Barco a vela / forno a lenha/ carro a gasolina / ferido a bala / escrever a tinta, a
gilete
15) A proporção que subimos, o ar se rarefaz. 16) Seu desespero aumenta a medida que
o tempo passa. 17) A força de muito observar, percebemos a avaria da máquina.
18) Cheguei a fazenda a zero hora e não a uma. 19) As nove horas as tropas estendiamse de ponta a ponta da avenida.
83
10
LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA (TV)
2
Relatório de Reportagem
RETRANCA: ASSALTO / BANCO
DATA: 04/02/2013
REPÓRTER: THIAGO MORAES
IMAGENS: JOÃO DA SILVA
PAUTEIRA: JOANA SANTOS
SUGESTÃO DE CABEÇA: UMA QUADRILHA EXPLODE UM CAIXA
ELETRÔNICO NO CENTRO DE SÃO PAULO, NA MADRUGADA DE HOJE.// OS
LADRÕES FUGIRAM EM UMA VAN, MAS BATERAM DURANTE A FUGA.//
OFF1: A AÇÃO DOS BANDIDOS FOI GRAVADA PELAS CÂMERAS DE
SEGURANÇA DO BANCO.// QUATRO HOMENS ENCAPUZADOS CHEGAM AO
LOCAL POR VOLTA DAS DUAS DA MANHÃ.// ELES COLOCAM OS
EXPLOSIVOS E SAEM.// SEGUNDOS DEPOIS, ACONTECE A EXPLOSÃO.// O
BANDO VOLTA, ABRE OS CAIXAS ELETRÔNICOS DANIFICADOS E FOGE
COM O DINHEIRO.// HOJE PELA MANHÃ, O CENÁRIO ERA DE
DESTRUIÇÃO.//
PASSAGEM: THIAGO MORAES - SÃO PAULO
A EXPLOSÃO DESTRUIU PARTE DA ENTRADA DA AGÊNCIA, QUE FICA NO
BAIRRO SANTA CECÍLIA, NO CENTRO DE SÃO PAULO.// UMA DAS
PAREDES RACHOU COM O IMPACTO.// PELO CHÃO, ESTÃO OS VIDROS DAS
PORTAS E PEDAÇOS DOS CAIXAS.// LÁ DENTRO, A POLÍCIA ENCONTROU
ESTE MAÇARICO USADO PELOS BANDIDOS PARA IMPLANTAR OS
EXPLOSIVOS NOS EQUIPAMENTOS.//
OFF2: ESSE MORADOR PRÓXIMO DA AGÊNCIA DISSE QUE OUVIU A
EXPLOSÃO.// ELE NÃO QUER APARECER PORQUE TEM MEDO.//
SONORA: SEM IDENTIFICAÇÃO - FAVOR DISTORCER A VOZ
(2'35" eu estava vendo TV quando... até ... já não vi mais nada" 2'43")
OFF3: ESTA OUTRA CÂMERA DE UMA LOJA MOSTRA A VAN DA
QUADRILHA PASSANDO EM ALTA VELOCIDADE.// A CERCA DE TRÊS
QUILÔMETROS DA AGÊNCIA, O MOTORISTA PERDEU O CONTROLE E
BATEU EM UMA ÁRVORE.// OS BANDIDOS FUGIRAM COM O DINHEIRO DO
FURTO.//
SONORA: SGTO. LUCIANO CARDOSO - POLICIAL MILITAR
(5'15" esse veículo foi roubado na semana passada... até... até encontrar os suspeitos
5'27")
SUGESTÃO DE NOTA-PÉ: TRÊS DOS QUATRO BANDIDOS JÁ FORAM
PRESOS PELA POLÍCIA.// PARTE DO DINHEIRO, CERCA DE 20 MIL REAIS,
FOI RECUPERADA.// A QUANTIA TOTAL ROUBADA NÃO FOI INFORMADA
PELO BANCO.//
Disponível em: http://teleblognews.blogspot.com.br/2013/02/off-modo-de-fazer.html
84
JORNAL DA JUSTIÇA
Lauda: 01 Repórter: Ana Cristina Cruz – STF
OFF 127:
HOJE, OS JOVENS ADQUIREM MAIS DIREITOS, TÊM MAIS CONSCIÊNCIA DE
SEUS ATOS E MAIS DEVERES./ A PROVA DISSO ESTÁ NO NOVO CÓDIGO
CIVIL./ A MAIORIDADE DO BRASILEIRO VAI DIMINUIR DE VINTE E UM
PARA DEZOITO ANOS./
PASSAGEM28:
NO DIA ONZE DE JANEIRO, QUANDO O NOVO CÓDIGO CIVIL ENTRA EM
VIGOR, O JOVEM DE DEZOITO ANOS VAI PODER, POR EXEMPLO, CASAR E
ABRIR UM NEGÓCIO SEM A NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL
OU DOS PAIS./ ISSO SIGNIFICA MAIS DIREITOS E TAMBÉM MAIS
RESPONSABILIDADE./ MUDANÇA QUE GERA POLÊMICA ENTRE OS
PRÓPRIOS JOVENS./
POVO-FALA29:
VÁRIAS SONORAS CURTAS COM ESTUDANTES
OFF 2:
FLÁVIO CALMOM TEM 18 ANOS./ ELE ACHA QUE OS JOVENS QUE SÃO
INSTRUÍDOS JÁ TÊM CONDIÇÕES DE RESPONDER PELOS SEUS PRÓPRIOS
ATOS./ PARA ELE A EDUCAÇÃO É UM FATOR QUE CONTRIBUI PARA A
FORMAÇÃO DE RESPONSABILIDADE DOS JOVENS./
SONORA30:
FLÁVIO CALMON – ESTUDANTE – 18 ANOS
OFF 3:
COM ESTUDO OU NÃO, ESSA MUDANÇA SIGNIFICA QUE A PARTIR DO
MOMENTO EM QUE O JOVEM COMPLETAR 18 ANOS, ELE VAI PASSA A SER
RESPONSÁVEL POR TODOS OS ATOS PRATICADOS NA VIDA CIVIL.
SONORA:
DOURIMAR NENES DE MOURA – PROFESSOR DE DIREITO DA UnB
Exercício
Dê a notícia do Chapeuzinho Vermelho com CABEÇA, OFF, PASSAGEM,
SONORA, POVO FALA e NOTA-PÉ.
27
OFF: Texto feito pelo repórter com base nas imagens oferecidas pela equipe de reportagem.
PASSAGEM: É o momento em que o repórter aparece na matéria. É ela que dá credibilidade ao que
está sendo veiculado. A passagem pode ser usada para descrever algo de que não temos imagem, destacar
uma informação dentre outras, unir duas situações, destacar um entrevistado ou criar uma passagem
participativa.
29
POVO FALA: é a entrevista feita com várias pessoas – uma de cada vez –, que repercutem
determinado assunto.
30
SONORA: São as entrevistas gravadas e para fazê-las é preciso, antes de mais nada, tirar todas as
dúvidas com o entrevistado. Fique alerta, pois neste momento o repórter cinematográfico irá gravar as
imagens da entrevista e logo após o contraplano (imagem do repórter fazendo perguntas para o
entrevistado).
28
85
10.1 APOIO FUNCIONAL
CRASE
•
Casos facultativos
√ Antes de nomes próprios femininos31. Ex.: Dei o livro à Rita. ou Dei o livro a Rita.
√ Antes de pronomes possessivos femininos32. Ex.: O professor referiu-se a sua reportagem. ou O
professor referiu-se à sua reportagem.
√ Depois da preposição até. Ex.: Fui até a estação. ou Fui até à estação.
Exercício
Use o acento indicativo da crase:
1) As crianças contaram a cena a Elvira.
2) Retornou a nossa casa depois de algum tempo.
3) Fomos até a chácara supervisionar o plantio das mudas de manga.
4) Enderecei a Maria do Carmo toda a correspondência.
•
Casos especiais 1
√ casa ( no sentido de lar):
→ sem determinação, não há crase. Ex.: Voltou a casa./ Chegamos a casa cedo.
→ se houver determinação, haverá crase:Ex.: Chegamos à casa do reitor./ Fui à casa de Irene.
√ terra:
→ há crase se o sentido for de pátria, planeta.
Ex.: Voltaram à terra prometida./ A nave voltou à Terra.
→Não há crase, quando terra se opuser a mar ou ar (isto é, quando se opuser a a bordo). Ex.:
Os tripulantes desceram a terra.
√ distância:
→ se a distância não estiver determinada, não haverá crase. Ex.: A distância, não se enxergava o
avião./ Ensino a distância
→ só há crase se a distância vier determinada. Ex.: No zoológico os animais são mantidos à
distância de cem metros.
Exercícios
31
Na verdade, o uso da crase não é optativo, mas obedece à presença ou não de artigo diante do nome
feminino. Assim, no Nordeste, costuma-se dizer “Maria não veio” (sem o artigo). Nesse caso, não se pode
usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro a Maria”. Mas, em São Paulo, diz-se: “A Maria não
veio” (com o artigo). Nesse caso, deve-se usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro à Maria”.
32
O mesmo ocorre com o pronome possessivo, que pode ser empregado com ou sem artigo (mas neste
caso não existem diferenças regionais).
86
1) Os animais pastavam a distância.
2) Voltou a casa do amigo tarde da noite.
3) Os animais pastavam a distância de trinta metros.
4) Era doloroso voltar a terra dos meus avós.
5) Depois do cruzeiro, os turistas desceram a terra.
6) A noite estava clara por isso os namorados foram aquela praia distante ver a chegada
dos pescadores, que voltavam a terra.
•
Casos especiais 2
√ aquele (s), aquela (s), aquilo: Sempre que o termo regente exigir preposição, haverá crase. Ex.:
Refiro-me àqueles livros. Prefiro isto àquilo.
√ a que / à que – regra prática: se com o antecedente masculino ocorrer ao, haverá crase no
feminino; se com o antecedente masculino ocorrer a, não haverá crase no feminino. O mesmo
acontece com a qual e as quais. Ex.:
Não gostei da garota a que você se referiu.// Não gostei da garota à qual você se referiu.
(do garoto) a que
(do garoto) ao qual
Houve uma sugestão anterior à que você deu.
(um palpite)
ao que
Exercícios
Coloque o acento indicativo da crase onde julgar conveniente:
1) As crianças contaram a mãe a cena a que assistiram.
2) As crianças contaram a Elvira a cena a qual assistiram.
3) Os congressistas comemoraram a decisão a que a haviam chegado.
4) Os congressistas comemoraram a decisão a qual haviam chegado.
5) Esta entrevista é igual a que li ontem.
6) A cidade a que iremos possui praias a que só poderemos chegar a pé.
7) A cidade a qual iremos possui praias as quais só poderemos chegar a pé.
8) A faculdade a que aspirava era uma utopia.
9) A faculdade a qual aspirava era uma utopia.
10) Esta é a casa a que me referi.
11) Esta é a casa a qual me referi.
12) Esta roupa é semelhante a que comprei ontem.
13) A circunstância a que nos referimos é estranha.
14) A circunstância a qual nos referimos é estranha.
15) São normas a que todos devem obedecer.
16) São normas as quais todos devem obedecer.
17) A excursão a que iremos custará caro.
18) A excursão a qual iremos custará caro.
19) Esta é a pesquisa a que dedico mais tempo.
20) A caneta que comprei é idêntica a que você tem.
21) São penas semelhantes as que se aplicavam na Idade Média.
22) As prendas são semelhantes as que foram sorteadas ontem.
23) Estavam a poucos metros da clareira a que foram ter por um atalho aberto a foice.
24) Estavam a poucos metros da clareira a qual foram ter por um atalho aberto a foice.
25) Aqui estão duas opções. Escolha a que mais lhe agradar.
26) Eram duas moças, a que mais me agradava era a morena.
27) Hoje muitas pessoas sofrem de doenças graves; o médico referiu-se as que são
acometidas de câncer.
87
11 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA
(INTERNET) 1
Em internet, o menos é mais.
A característica revolucionária deste meio é a interatividade, a capacidade de o
usuário interagir não só com o texto que lê, mas também com pessoas dos mais
diferentes pontos do planeta. O texto da internet permite novos tipos de leitura, pois
conecta-se a outros pelo hipertexto, o que possibilita uma leitura não linear, com
conexões múltiplas em termos de palavras, imagens e sons.
Com a internet e a proliferação de blogs, houve maior democratização do saber
com a descentralização da informação e do poder de comunicar e produzir conteúdo.
A linguagem da internet está muito mais próxima daquela do rádio e da televisão do que
a da mídia impressa. Algumas de suas características são:
Ø título em texto da internet só é bom se ajudar a recuperá-lo no futuro, por isso
deve ser independente o contexto em que está inserido e utilizar palavras-chave (tags
ou metadados), que permitem que tanto criadores de conteúdo quanto usuários
possam relacionar diferentes temas, criando teias de conhecimento.
Ø frases curtas e na ordem direta – sujeito (quem?) + verbo e complemento verbal
(o quê?) + adjunto adverbial (onde? Quando? Como? Por quê?);
Ø parágrafos curtos, de no máximo 75 caracteres;
Ø linguagem objetiva, coloquial e concisa;
Ø texto curto (não deve ser maior do que a tela do monitor)
Ø uso de hipertexto, que representa uma opção de aprofundamento infinita;
Ø imagens e possibilidade de ouvir o texto.
Seattle bate San Francisco e vai disputar o Super Bowl contra Denver
O Seattle Seahawks derrotou o San Francisco 49ers na noite de domingo, por 23
a 17, em casa, pela final da Conferência Nacional da NFL (a liga de futebol
americano dos Estados Unidos), e vai disputar o Super Bowl (a final da competição)
no dia 2 de fevereiro, em Nova Jersey.
O Seattle terá pela frente o Denver Broncos, do quarterback (lançador) Peyton
Manning, que também no domingo bateu o New England Patriots, de Tom Brady,
por 26 a 16, no Colorado.
Este será o segundo Super Bowl da franquia de Seattle. O primeiro foi no
campeonato de 2005, quando perdeu para o Pittsburgh Steelers por 21 a 10, em jogo
disputado em Detroit, Michigan.
O quarterback dos Seahawks, Russell Wilson, acertou 16 dos 25 passes, sendo
um para touchdown, e conquistou 215 jardas. Do outro lado, Colin Kaepernick
lançou 24 passes, completou 14, e terminou a partida com 153 jardas e um
touchdown.
Kaepernick, porém, foi interceptado por duas vezes. O lance decisivo da partida
ocorreu quando restavam apenas 25 segundos para o fim do confronto.
O quarterback dos 49ers tentou um passe em profundidade para tentar o touchdown
da vitória, mas Sherman desviou e Smith ficou com a bola para a garantir o triunfo
da equipe da casa.
88
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2014/01/1400094-seattlebate-san-francisco-e-vai-disputar-o-super-bowl-contra-denver.shtml. Acesso em 20
jan. 2014.
Observe nesse texto as características elencadas acima (o Denver Broncos,
destacado em azul é o hiperlink). Acesse o texto para conferir o imbricamento de
linguagens.
Exercícios
1) Que outros links e/ou recursos você acrescentaria ao texto do Super Bowl?
2) Dentre as características do webjornalismo, os pesquisadores destacam a
sua capacidade de multimidialidade, isto é, ele
A) consegue transmitir o fato em tempo real.
B) tem a capacidade de fazer a convergência dos formatos das mídias
tradicionais na veiculação do fato jornalístico.
C) possibilita o feedback instantâneo entre fonte e receptor por meio do mesmo
canal de comunicação.
D) é capaz de armazenar e recuperar a informação, possibilitando maior
condição de pesquisa.
E) consegue sistematizar a relação entre os vários documentos que se cruzam
para construir a matéria.
Para saber mais sobre Webjornalismo
ØAcesse:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=canavilhas-joaowebjornal.html.
89
12 LINGUAGEM E MÍDIAS: MÍDIA ELETRÔNICA
(INTERNET) 2
Recapitulando as principais características da internet:
●
interatividade, ou seja, a possibilidade de o receptor participar e interagir com o
jornal e até de noticiar e funcionar como fonte de informação; desse modo, assistese a um nivelamento do jornalista com o leitor;
●
hipertexto, ou seja, a possibilidade de se estabelecerem sucessivamente ligações
entre textos e outros registros – sonoros e audiovisuais –, o que torna o consumo
informativo individualizado;
●
hipermídia, ou seja, a união num único suporte de conteúdos escritos, sonoros e
imagéticos, sejam as imagens fixas ou animadas;
●
glocalidade, ou seja, fabrico local, mas alcance mundial;
●
personalização, ou seja, a possibilidade de o leitor interagir sobre a forma e o
conteúdo do jornal, para consumir unicamente o que quer e como quer, dentro dos
condicionalismos do software; os alertas noticiosos, o recebimento de um jornal à
la carte, o recebimento de newsletters, etc. podem incluir-se na personalização;
●
instantaneidade, ou seja, a possibilidade de as notícias serem transmitidas no
momento em que são finalizadas ou ao vivo;
●
profundidade através da navegabilidade, ou seja, a possibilidade de o utilizador
aprofundar a informação consumida navegando pela internet de site em site e de
página em página, usando hiperligações.
Introduza na reportagem a seguir recursos característicos da internet.
Cidade bi(ke)polar
Quando o assunto é ciclistas, São Paulo tem duas caras. Nos dias úteis, quem
pedala tem 60 km de ciclovias (faixas exclusivas para bicicletas) ou deve disputar
território com carros, motos e ônibus. Aos domingos, a capital ganha 120 km de
ciclofaixas de lazer, projeto criado em 2009 pela prefeitura.
“São Paulo é agressiva para ciclistas durante a semana e acolhedora aos
domingos. Por isso, prefiro sair em grupo e só à noite”, diz o holandês Fernando
Schulman, 41 anos.
Esta São Paulo “bipolar” surpreende Schulman, que cresceu em um dos países
que é modelo no uso das bikes como meio de transporte. “Já a mobilização para
ciclistas aos domingos é algo que nunca vi em outro lugar do mundo”, diz Schulman.
Mas, a cada segunda-feira, a cidade volta a ser um terreno hostil para bikes,
como quem não anda só por lazer sabe. “Para pedalar em São Paulo tem que ter sangue
frio e se impor. A cidade não foi projetada para isso e a maioria dos motoristas não nos
90
respeita”, diz Victor Garofano, 23, que trabalha na Giro Courier, empresa de entregas
com bikes.
Segundo a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), 52 ciclistas morreram na
cidade em 2012. Até maio deste ano, outros 15 entraram para esta estatística.
Há quem não se intimide. “Há um ano, troquei o carro pela bike. Não é seguro,
mas temos conquistado espaço”, diz Daniel Moral, 38, organizador do Bike Tour SP,
que promove passeios aos domingos.
Ainda de acordo com a CET, e de acordo com o plano de metas da prefeitura, a
distância entre estas “duas cidades” deve diminuir em 2016. “Hoje, o foco é estruturar
ciclovias em bairros com mais demanda, como o Grajaú. A partir de 2014, começam as
obras de 150 km de novos corredores de ônibus, que vão incluir ciclovias”, disse
Ronaldo Tonobohn, superintendente de Planejamento da CET.
A CET oferece desde 2000 um curso gratuito voltado para ciclistas, ministrado
na Barra Funda, zona oeste. Chamado de “Pedalar com Segurança”, o curso tem carga
horária de 8 horas e cada turma é formada por 12 participantes. Os interessados devem
ter mais 18 anos ou mais e saber andar de bicicleta.
Há aulas teóricas, com informações sobre equipamentos de segurança,
manutenção da bicicleta, Código de Trânsito Brasileiro. Para a parte prática, os alunos
pedalam numa ciclovia e conhecem todos os procedimentos que os ciclistas devem
adotar ao se deslocar pela cidade.
As aulas também incluem lições com estratégias para ampliar a segurança em
situações de risco no trânsito, técnicas e exercícios de frenagem, equilíbrio, mudanças
de marchas e orientações de como manter a bicicleta.
As inscrições para o curso podem ser feitas pelo e-mail: [email protected]. As
aulas são divididas em dois períodos, manhã (aula teórica) e tarde (prática), das 8h30 às
17h30.
Segundo a CET, o curso já formou 31 turmas e capacitou 355 ciclistas desde que
foi lançado.
Disponível em: http://jornalmetro.com.br/nacional/foco/cidade-bikepolar20791. Acesso em: 21 out. 2013.
91
BIBLIOGRAFIA
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Disponível
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Como? Onde? O quê? Por quê? São Paulo: Plêiade, 2010.
SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto,
2005.
92
ANEXOS
Anexo 1
O contexto do erro33
Usar variedade linguística inadequada numa frase confusa pode ser um tropeço
de português mais impróprio do que problemas de grafia, regência ou concordância
José Luiz Fiorin
A revista Veja publicou o seguinte texto: "Depois de assinar laudos de
reconhecimento de voz dos escândalos provocados por grampos telefônicos, o
foneticista Ricardo Molina ganhou alguma notoriedade e uma série de novos clientes.
Da relação de suas tarefas recentes, incluem-se análises de fitas enviadas por empresas
que investigam a conduta de funcionários e de maridos desconfiados de traição"
(28/8/2001, p. 30).
Da forma como está redigido esse texto, o sentido é que as empresas investigam
tanto a conduta de funcionários quanto a de maridos desconfiados de traição. Na
verdade, porém, o que se quer dizer é que "empresas que investigam a conduta de
funcionários, bem como maridos desconfiados de traição, enviam fitas para serem
analisadas". Observe que o texto está escrito de maneira inadequada, provocando uma
ambiguidade.
O erro linguístico não se esgota, como pretendem alguns, na adequação ou
inadequação da variedade utilizada à situação de comunicação ou ao gênero que está
sendo empregado: por exemplo, o uso de uma variedade popular num gênero em que se
exige a norma culta, como o texto acadêmico, ou o uso de termos chulos numa situação
de comunicação em que sua utilização causa estranheza e constrangimento. É preciso
considerar que há realizações linguísticas que, por descuido ou por falsa análise
realizada pelo falante, contrariam as regras de organização do sistema linguístico ou não
cumprem adequadamente a função de comunicar. Esses fatos são sentidos
principalmente na escrita. Com base em sugestões de Francisco Platão Savioli, vejamos
quais são esses tipos de "erros".
1 – Frases ou períodos truncados
É a produção de frases em que faltam termos essenciais (como o predicado) ou
períodos compostos por subordinação em que não aparece a oração principal. Esses
erros prejudicam a comunicação, pois o leitor fica sem saber o que quis dizer quem
escreveu a frase.
a) Já houve o tempo da moreninha, da loirinha e agora chegou a vez da ruivinha.
A cor do cabelo, no entanto, faz pouca diferença, pois a fórmula para conquistar jovens
plateias com um interesse maior em sexo do que em música. O segredo do sucesso na
música pop é um rostinho – e corpinho – feminino bonito e bem sensual (Folha de
S.Paulo, 17/9/1989, apud Unicamp 89).
b) Embora as enchentes, todos os anos, continuem a destruir cidades inteiras em
regiões do Nordeste, provocando prejuízos que chegam a milhões de reais.
No segundo parágrafo do primeiro exemplo, a oração iniciada por pois não tem
predicado. Por isso, não se sabe o que se quer dizer sobre a "fórmula para conquistar
jovens plateias". No segundo caso, não há oração principal: a primeira, iniciada por
embora, é subordinada adverbial concessiva; a segunda é subordinada adverbial
33
Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11199
93
temporal reduzida de gerúndio; por essa razão, não se sabe exatamente o que o falante
queria dizer.
2 – Violações de relações discursivas
Ou seja, de relações entre partes ou segmentos do texto, como o uso de
conectores argumentativos inadequados, de enunciados ambíguos etc.
a) Proteja a entrada dos intrusos (Texto publicitário).
b) Diafragma
Como funciona: insere-se um anel de borracha na vagina para cobrir a entrada
do colo do útero, que deve ser retirado cerca de dez horas após o contacto sexual
(Folheto informativo).
c) Há milhões de pessoas que passam fome no país. Por isso, o governo
restringirá as verbas para programas sociais.
No primeiro caso, temos um enunciado ambíguo. Ele anuncia um dispositivo de
segurança para portões. Mas pode dar a entender que, com ele, tanto se pode impedir a
entrada de intrusos quanto proteger os intrusos, enquanto entram. No segundo, o
pronome relativo que tanto pode referir-se à expressão anel de borracha quanto a útero,
o que significa que não se sabe o que deve ser retirado dez horas após o contacto sexual.
No terceiro, o uso da conjunção conclusiva não cabe no contexto. Deveria ser usada
uma adversativa, como mas, ou uma concessiva, como embora.
3 – Erros de ortografia
A ortografia é o conjunto de convenções que rege a grafia das palavras. Essas
convenções, no caso brasileiro, resultam de normas oficiais, que são coercitivas para
todos os falantes.
Gosta de fama de "bad boy" (garoto mal) e faz tudo o que pode para mantê-la
(Folha de S.Paulo, 11/6/1995, 4-5).
O adjetivo é grafado com u (mau) e o advérbio com l (mal); na frase mau é
adjetivo.
A questão da correção não se reduz, como se vê, ao problema da adequação ou
inadequação dos usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo
empregado. Há outras impropriedades: frases ou períodos truncados, violações de
relações discursivas e erros de ortografia. Analisemos agora outros tipos de incorreções
que se cometem ao produzir um texto: a hipercorreção, a falsa análise do enunciado, a
falsa analogia, a impropriedade lexical.
4 – Falsa análise do enunciado
É aquele erro cometido por uma análise inadequada da frase, quando se atribui a
uma palavra ou expressão uma função sintática que ela não exerce, quando se
estabelecem relações sintáticas inexistentes, quando se realizam analogias
improcedentes dentro do período. Vejamos alguns exemplos:
a) Vai chover multas na volta do feriado (Folha da Tarde, 31/12/1992, 1).
b) Pode-se argumentar, é certo, que eram previsíveis os percalços que
enfrentariam qualquer programa de estabilização (...) necessário no Brasil (Folha de
S.Paulo, 7/10/1990, apud Unicamp 91).
No primeiro caso, atribui-se à palavra multas, que é o sujeito, a função de objeto
direto e, por conseguinte, não se realiza a concordância. A frase correta seria Vão
94
chover multas na volta do feriado. No segundo, considera-se que o pronome relativo
que, que retoma o substantivo percalços, tem a função de sujeito e não de objeto direto e
faz-se a concordância do verbo com o antecedente (percalços) e não com o verdadeiro
sujeito qualquer programa de estabilização.
Muitas vezes, também a hipercorreção resulta de uma falsa análise do
enunciado. A diferença, no entanto, é que aquela acaba resultando, para quem a pratica,
numa regra de uso: por exemplo, o verbo fazer indicando tempo passado nunca é usado
impessoalmente. Diz-se sempre fazem muitos dias.
5 – Falsas analogias
São as formas criadas por analogia com as regularidades da língua ou pelo
estabelecimento de correspondências não existentes entre certas formas da língua.
Diferentemente do caso anterior, não se trata aqui de relações indevidas estabelecidas
entre termos no interior de um período, mas da falsa pressuposição de simetrias na
língua.
a) [Os astecas] não só conheciam o banho de vapor, tão prezado na Europa,
como mantiam o hábito de banhar-se diariamente (Superinteressante, out. 92, apud
Unicamp 93).
b) O governo interviu muito na economia nestes últimos anos.
Usa-se mantiam no lugar de mantinham, porque se faz a seguinte analogia: se
comer faz a 3ª pessoa do pretérito imperfeito do indicativo comiam, prender faz
prendiam, então manter faz mantiam. Utiliza-se interviu por interveio, porque se realiza
a seguinte correlação: se partir tem, para a 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do
indicativo, a forma partiu, dormir tem dormiu, então intervir tem interviu.
6 – Impropriedades lexicais
É o uso de palavra com significado que ela não tem, mas se atribui a ela
indevidamente, em geral por uma semelhança fônica muito acentuada com o termo que
seria adequado.
"A luxúria de Moscou tem seu contraponto no silêncio do mosteiro Donskoi,
criado no fim do século 16. É um conjunto arquitetônico elegante e modesto" (O Estado
de S.Paulo, 30/5/1995, G 10)
Luxúria não significa "luxo", mas "sensualidade".
Os erros ou inadequações de linguagem não têm todos o mesmo efeito: uns
prejudicam a compreensão do texto, como em casos de ambiguidade; outros
comprometem a imagem do enunciador; outros, principalmente, os que denominamos
erros por imposição da tradição de ensino (violação de normas que a escola ensina),
nem sequer são percebidos, pois já fazem parte da norma culta real. É o caso, por
exemplo, de dizer Maria namora com Pedro em lugar de Maria namora Pedro.
No caso abaixo, veja-se como o erro linguístico compromete o enunciador,
criando dele uma imagem desfavorável:
"Legenda estampada na tela da TV Gazeta anteontem, na abertura do horário
locado pela Igreja Universal do Reino de Deus, às 20 horas: 'Ex-mãe de encosto
desvenda mistério no semitério'. Sim! Cemitério com "S" só pode ser um mistério. E se
nem as certezas do plano terreno, como a gramática, a Igreja Universal consegue
acertar, como desvendar tais mistérios espirituais?" (O Estado de S.Paulo, 11/03/2004,
p. D6)
95
oooooooooooo
Anexo 2
Você é legível?
(Roberto Raposo)
“Sempre que podemos usar vinte e cinco
palavras em vez de cinquenta para dizer a
mesma coisa, reduzimos à metade o trabalho
do leitor e conferimos maior força ao que
dizemos.”
Como você redige os seus textos? Para descrever um incêndio, diz que “numa
voragem irresistível, as labaredas tudo destruíram” ou prefere dizer simplesmente que o
“o fogo destruiu tudo”? É claro que ambas as formas são corretas, mas a primeira é
muito menos legível que a segunda. E, para todo redator, é importante ser o mais legível
possível.
O que exatamente torna um texto mais legível que outro? Muitos são os
professores de redação que aconselham aos seus alunos: construam suas frases na
ordem direta (sujeito-verbo-objeto). Evitem a voz passiva. Usem palavras curtas e frases
curtas. Imprimam interesse humano àquilo que escrevem.
Excelentes recomendações, mas quantas sílabas deve ter uma palavra “curta”? A
palavra “irresistível” é curta ou longa? Quantas palavras deve ter uma frase “curta”? O
que constituiu “interesse humano”? Há algum meio de medir a legibilidade à base
desses critérios?
Em 1951, surgiu nos Estados Unidos um livro curioso que procurava responder
essas perguntas: The art of plain talk (A arte de falar claro).
O autor era Rudolf Flesch, austríaco que emigrou para a América um ano antes
do início da Segunda Guerra Mundial e doutorou-se pela Universidade de Columbia. Ao
longo de 20 anos de pesquisas na área de problemas de redação, Flesch contribui, entre
outras coisas, para tornar mais claros e legíveis os despachos noticiosos da Associated
Press.
Flesch partiu do princípio, já muito conhecido, de que há três fatores que tornam
um texto legível e interessante: períodos curtos, palavras simples (com um mínimo de
prefixos e sufixos) e um máximo de referências pessoais. Dita assim, a coisa parece
óbvia: períodos curtos tornam o texto ágil, ventilado, gostoso de ler. Palavras
complicadas e longas, como as que encontramos com frequência em textos técnicos,
dificultam a leitura. E todo mundo gosta de ler a respeito de pessoas, especialmente
quando a narrativa vem na primeira pessoa.
A novidade introduzida por Flesch é que ele sistematizou esses dados,
organizou-os e quantificou-os em tabelas destinadas a medir o grau de legibilidade de
um texto. Por adotar critérios universais, o trabalho de Flesch é válido para qualquer
língua ocidental. Os valores produzidos pelas tabelas, porém, podem variar entre uma
língua e outra e, para melhor adaptá-las ao português, língua menos sintética que o
inglês, tivemos de fazer certas modificações. O emprego das mesmas pode levar a uma
medida bastante aproximada da simplicidade ou prolixidade de qualquer texto.
O vício da prolixidade se deve, em grande parte, à desorganização mental. O
redator começa a escrever sem ter organizado de antemão as suas ideias. E, o que é pior,
não revisa adequadamente o que escreveu. O resultado é a anticomunicação: um texto
em desordem, ideias embaralhadas em um único período, complementos fora do lugar,
96
palavras supérfluas, frases inteiras que poderiam ser cortadas – tudo o que faz o mais
paciente dos leitores desistir da leitura.
Tenho em mãos um manual de redação técnica que me diz, logo no prefácio: “É
papel do educador (...) analisar o sistema educacional e, consequentemente,
interpretando o produto daí obtido, não só detectar suas falhas, mas igualmente
estabelecer linhas gerais de ação que, através de planejamento sistemático, contínuo e
realimentável, possam minimizar as entropias sistêmicas”. Trata-se de um bom exemplo
de como não escrever. Há muitas maneiras de evitar a prolixidade, mas eu gostaria de
aconselhar o leitor a fugir dos seguintes vícios:
g MUTILAÇÃO DO VERBO
O verbo é o elemento mais importante da oração. Retornando ao exemplo do
incêndio que citei na abertura deste artigo, vale a pena ver com um “repórter” chamado
Monteiro Lobato descreveu uma velha praga, a queimada do mato. Diz ele: “[A
labareda] oscila incerta; ondeia ao vento, mas logo encorpa, cresce, avulta, tumultua e,
senhora do campo, estruge34 com infernal violência...”
Imaginemos que Lobato tivesse escrito: “De início, observam-se oscilações na
labareda, ondulações provocadas pelo vento; mas logo ela ganha corpo, vai ficando
maior, sobe num tumulto”, etc., etc. Os verbos são substituídos por substantivos; a força
das frases diminui e o texto definha.
No entanto, há quem faça isso constantemente. Quem diz “o transporte desta
máquina é fácil”, em vez de “esta máquina é fácil, de transportar”, está incidindo no
vício da mutilação do verbo. Note-se que, sempre que substituo um verbo por um
substantivo, tenho de acrescentar outros elementos à frase e usar outro verbo (pois não
há oração sem verbo) para substituir o que mutilei. O resultado é a prolixidade que
vemos diariamente: “fazer uma recomendação” em vez de “recomendar”, “tomar uma
decisão” em vez de “decidir”, etc.
g MUTILAÇÃO DE OUTROS ELEMENTOS DA FRASE
Outras vezes, é o adjetivo que sofre. Em vez de dizer que “o tempo foi muito
instável este mês”, o redator prolixo diz que “a instabilidade do tempo foi muito grande
este mês”. Nove palavras em vez de sete. Ou sacrifica o substantivo: em vez de “o total
recolhido para depósito”, fala do “total recolhido para ser depositado”. E suas frases vão
ficando cada mais compridas.
g COMPLEMENTOS FORA DO LUGAR
Li recentemente no jornal: “Firmas particulares adquiriram helicópteros que
haviam sido desativados pela polícia por 50 mil dólares”. A pergunta que logo me veio
à cabeça foi: quem pagou 50 mil dólares à polícia para desativar esses helicópteros? É
claro que o redator queria dizer que as firmas tinham adquirido por 50 mil dólares certos
helicópteros desativados pela polícia. E poderia ter feito pior, escrevendo algo como
“firmas particulares adquiriram da polícia, por 50 mil dólares, helicópteros”. Quando
você escrever, procure pôr os elementos da frase no lugar certo.
g PALAVRAS INÚTEIS
Evite o uso de expressões que podem ser substituídas por outras mais curtas ou
simplesmente eliminadas, como “no sentido de”, “com efeito”, “para fins de”, “por
sinal”, “não obstante”. Ou de palavras desnecessárias: não diga “ela é uma mulher
extremamente bonita”, e sim “ela é extremamente bonita”. Não inclua em seu texto
informações desnecessárias ou que possam ser induzidas do que você já disse. Evite a
34
Estrugir: Fazer estremecer com estrondo; atroar; estrondear.
97
negativa prolixa: há quem diga “todos eles não sabem”, em vez de “nenhum deles
sabe”. Não diga “os mapas que acompanham este relatório”, e sim “os mapas anexos”.
Não diga “há a possibilidade de que”, e sim “pode ser que”. E assim por diante.
g REFERÊNCIA ERRADA
Muito mais comum do que pode parecer é o período em que o autor começa com
um sujeito e termina com outro. Exemplo: “Achando que essa situação era intolerável,
ficou decidido que...” ou então: “Correndo pela praia de manhã, os meus pulmões
respiram melhor” (e o leitor fica imaginando o belo quadro que serão os pulmões do
autor, fazendo cooper na orla da praia em uma manhã de sol).
E há também o famigerado erro do tipo “um daqueles que é”, tão fácil de perceber, e, no
entanto, cometido tantas vezes. Quem diz “ele é um dos autores que merece meu
respeito”, em vez de “ele é um dos autores que merecem meu respeito”, não sabe
distinguir onde termina a proposição no singular e onde começa a proposição plural. Se
o pronome relativo “que” se referisse a “ele”, a frase poderia ser escrita: “ele, que
merece meu respeito, é um dos autores”, o que não tem sentido ou não é a mesma coisa.
Mas, se se refere a “autores”, como de fato se refere, o verbo tem de vir no plural.
A justificativa para tal erro – que, de repente, parece ter entrado em moda – é um
falso raciocínio. A construção “ele é um dos profetas que proclama” é supostamente
justificada pela outra: “dos profetas, ele é um que proclama”. Mas temos aqui duas
construções distintas: na primeira, o pronome relativo “que” se refere a “profetas”, na
segunda refere-se a “ele”. Ou você usa uma ou outra.
Confundir entre as duas leva o redator a confundir entre o singular e plural e
escrever coisas como “uma das mais lindas casa”, “um dos melhores aluno”, e absurdos
semelhantes.
g VOZ PASSIVA
Sempre que possível, evite a voz passiva. Não só a voz passiva é mais prolixa
(“o leite foi bebido pelo gato”, em vez de “o gato bebeu o leite”), mas, na maioria dos
casos, é simplesmente injustificada, como em “será criado pelo Departamento”, em vez
de o “Departamento criará”. Além disso, frequentemente contribui para a indefinição do
texto (como em “várias hipóteses foram aventadas35”, oração que não revela quem
aventou as hipóteses).
Neste segundo caso, aliás, a voz passiva virou norma em círculos burocráticos e
técnicos, em cuja literatura, aparentemente, ninguém faz nada. As coisas simplesmente
acontecem – contatos são “feitos”, fenômenos são “observados”, conclusões são
“apresentadas”, sem que o leitor fique sabendo quem foi o responsável por essas ações.
A voz passiva pode tornar-se uma espécie de esconderijo, às vezes muito conveniente
para o autor, mas reduz o interesse humano do texto: torna-o chato e monótono e
contribui para a prolixidade.
Em abril de 1964, a revista Materials Research and Standards, da ASTM (órgão
oficial norte-americano para testes de materiais), advertiu em editorial: “A partir deste
número, a ASTM resolveu suspender a publicação de histórias de mistério. De agora em
diante, os estudos publicados nesta revista serão redigidos de tal modo que os nossos
leitores fiquem sabendo quem pesquisou, de quem são as opiniões ventiladas, e quem
apresenta as conclusões finais”. E recomenda aos autores dos estudos: “1) Escrevam na
primeira pessoa. Se o autor for um só, use “eu”; se não, use “nós”. 2) Usem verbos na
voz ativa. Não digam “os espécimes foram examinados”, e sim “examinei (ou
examinamos) os espécimes”. Excelentes e sábios conselhos.
35
Aventar: apresentar (ideia, hipótese, possibilidade, etc.), como algo que pode vir a ser cogitado.
98
ooooooooooooooo
Anexo 3
Teste a legibilidade do texto36
Se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou.
Jorge Luís Borges
Em grego, hedone. Em português, hedonismo. Numa e noutra língua, o
significado se mantém. É prazer. A sensação gostosa virou doutrina da filosofia.
Segundo ela, o prazer deve ser considerado o objetivo principal dos atos humanos.
Alguns concordam. Outros não. Mas uma coisa é certa. Ninguém gosta de
sofrer. A regra vale para a leitura. Texto difícil não tem vez. E não é de hoje.
Montaigne, no século XVI, disse com todas as letras: “Ao encontrar um trecho difícil,
deixo o livro de lado”. Por quê? “A leitura é forma de felicidade”, respondeu ele.
A observação não se restringe a livros. Engloba jornais, revistas, cartas
comerciais, redações escolares, receitas de comidas gostosas. Sem fisgar o leitor, adeus,
emprego! Adeus, nota boa! Adeus, sobremesa dos deuses! Por isso, roguemos ao
Senhor. Que Ele ilumine mentes, penas e teclados. E cada um faça a sua parte.
Como avaliar o índice de dificuldade do escrito? O assunto começou a preocupar
os americanos há uns sessenta anos. Pesquisas sobre a leitura do texto jornalístico
despertaram o interesse de professores e alunos de várias universidades. Um dos
resultados dos estudos foi o teste de legibilidade. Alberto Dines, então do Jornal do
Brasil, adaptou-o para o português.
Eis a receita:
1. Conte as palavras do parágrafo.
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto).
3. Divida o número de palavras pelo número de frases. Assim, você terá a
média da palavra/frase do texto.
4. Some a média da palavra/frase do texto com o número de polissílabos.
5. Multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na frase de
língua portuguesa)
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade.
Possíveis resultados:
1 a 7: história em quadrinhos
8 a 10: excepcional
11 a 15: ótimo
16 a 19: pequena dificuldade
20 a 30: muito difícil
31 a 40: linguagem técnica
acima de 41: nebulosidade
Testemos o parágrafo abaixo:
“Em boca fechada não entra mosca”, diz a vovó repressora. “Quem não
erra perde a chance de acertar”, responde o neto sabido. Ele aprendeu
que, nas organizações modernas, a competição é o primeiro mandamento.
36
SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto, 2005.
99
E, cada vez mais, impõe-se a necessidade de falar em público. Muitos
servidores, porém, concordam com a vovó. Estremecem só de imaginar a
hipótese de abrir a boca diante de uma plateia. Dizem que não nasceram
para os refletores. Falta-lhes vocação. A ciência prova o contrário. Falar
bem não é dom divino. Falar bem – como nadar bem, escrever bem,
saltar bem – é habilidade. Exige treino.
Confira:
1. Palavras do parágrafo: 101
2. Número de frases: 12
3. Média da palavra/frase (101 dividido por 12): 8,41
4. 8, 41 + 12 (número de polissílabos) = 20,41
5. 20,41 x 0,4 = 8,16
Resultado: legibilidade excepcional
Agora, avalie um texto seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma reportagem.
Antes de começar, lembre-se: aplique a receita de parágrafo em parágrafo. Se o
resultado ficou acima de 15, abra o olho. Facilite a vida do leitor. Você tem dois
caminhos. Um: diminua o tamanho das frases. O outro: mande algumas proparoxítonas
dar umas voltinhas por aí. O melhor: abuse de ambos.”
(SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São
Paulo: Contexto, 2005.)
ooooooooooooooo
Anexo 4
As máximas de Grice
Segundo o filósofo americano da linguagem Paul Grice, o princípio básico que
rege a comunicação humana é o Princípio da Cooperação, isto é, quando duas pessoas
se propõem a interagir verbalmente, normalmente irão cooperar para que a interlocução
transcorra de maneira adequada. Para isso ele postula quatro máximas:
1) máxima da quantidade: não diga nem mais nem menos do que o necessário;
2) máxima da qualidade: só diga coisas para as quais tem evidência adequada;
não diga o que sabe não ser verdadeiro;
3) máxima de relação ou relevância: diga somente o que é relevante, pertinente;
4) máxima do modo: seja claro e conciso, evitando a obscuridade e a
prolixidade.
É possível, porém, que intencionalmente quem produz a mensagem queira
infringir alguma dessas máximas, cabe então ao ouvinte/leitor tentar descobrir o motivo
da desobediência. Um exemplo dado por Grice é o seguinte: um professor universitário
escreve a um colega pedindo referência sobre a capacidade intelectual de um ex-aluno
do primeiro, pois o rapaz é candidato a uma vaga de assistente. A resposta foi: “Tem
boa letra e não costuma chegar atrasado.” O professor consultado infringiu a máxima da
relevância, pois omitiu o que era mais importante. Mas, de acordo com a máxima da
quantidade, disse o suficiente para que o colega entendesse que o candidato era fraco.
I - Escrever é a arte de cortar palavras
(Armando Nogueira)
100
Escrever é cortar palavras. Passei alguns anos certo de que o autor dessa
preciosa máxima era Carlos Drummond de Andrade. Até que um dia perguntei ao poeta.
Ele conhecia, mas negou que fosse dele. Confesso que fiquei desapontado. A sentença
tinha a cara do mestre Drummond cuja prosa é um exemplo de concisão.
Otto Lara Resende desconfiava que pudesse ser de um escritor mexicano a ideia
da dica preciosa. Eu, por mim, seria capaz de atribuí-la a John Ruskin, notável escritor e
crítico inglês do século passado. Se não o disse, com todas as letras, certamente foi
Ruskin quem melhor ilustrou o adágio, num conto antológico. É o caso de um feirante
de peixes num porto britânico.
O homem chega à feira e lá encontra seu compadre, arrumando os peixes num
imenso tabuleiro de madeira. Cumprimentam-se. O feirante está contente com o sucesso
do seu modesto comércio. Entrou no negócio há poucos meses e já pôde até comprar
um quadro-negro pra badalar seu produto.
Atrás do balcão, num quadro-negro, está a mensagem, escrita a giz, em letras
caprichadas: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Pergunta, então, ao amigo e compadre:
– Você acrescentaria mais alguma coisa?
O compadre releu o anúncio. Discreto, elogiou a caligrafia. Como o outro insistisse,
resolveu questionar. Perguntou ao feirante:
– Você já notou que todo dia é sempre hoje? – E acrescentou: – Acho
dispensável. Esta palavra está sobrando...
O feirante aceitou a ponderação: apagou o advérbio. O anúncio ficou mais
enxuto. VENDO PEIXE FRESCO.
– Se o amigo me permite – tornou o visitante –, gostaria de saber se aqui nesta
feira existe alguém dando peixe de graça. Que eu saiba, estamos numa feira. E feira é
sinônimo de venda. Acho desnecessário o verbo. Se a banca fosse minha, sinceramente,
eu apagaria o verbo.
O anúncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO.
– Me diga uma coisa: por que apregoar que o peixe é fresco? O que traz o
freguês a uma feira, no cais do porto, é a certeza de que todo peixe, aqui, é fresco. Não
há no mundo uma feira livre que venda peixe congelado...
E lá se foi também o adjetivo. Ficou o anúncio reduzido a uma singela palavra:
PEIXE.
Mas, por pouco tempo. O compadre pondera que não deixa de ser menosprezo à
inteligência da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto aí exposto é peixe.
Afinal, está na cara. Até mesmo um cego percebe, pelo cheiro, que o assunto, aqui, é
pescado...
O substantivo foi apagado. O anúncio sumiu. O quadro-negro também. O
feirante vendeu tudo. Não sobrou nem a sardinha do gato. E ainda aprendeu uma
preciosa lição: escrever é cortar palavras.
(Revista Imprensa, abril 1995)
“O estilo é a arte de dizer o máximo com o mínimo de palavras.” (Jean Cocteau37)
“Você deve escrever como se estivesse mandando um telegrama internacional pago do
seu próprio bolso.” (Ernest Hemingway38)
37
Jean Cocteau: foi um poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator e encenador de teatro
francês. Em conjunto com outros surrealistas da sua, conseguiu conjugar com maestria os novos e velhos
códigos verbais, linguagem de encenação e tecnologias do modernismo.
38
Ernest Hemingway: fazia parte da comunidade de escritores norte-americanos expatriados em Paris,
conhecida como "geração perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein. Levando uma
101
Nada mais penoso para mim que a busca da expressão adequada, da propriedade
vocabular. Há mil maneiras de dizer uma coisa e só uma é perfeita. Para descobri-la, a
gente pode levar a vida inteira. Levei exatamente trinta anos para encontrar o final certo
da novela O bom ladrão.
Acredito que escrever seja, basicamente, cortar. Cortar o supérfluo. Eliminar
repetições, ecos, rimas, cacófatos, redundância, lugares-comuns.
Escrever, bem ou mal, é para mim cada vez mais difícil. Tenho dificuldade para
escrever até um cartão de agradecimento ou um telegrama de pêsames. Certa vez Otto
Lara Resende39 estava na redação escrevendo um artigo, quando entrou um contínuo e
viu que ele batia à máquina sem copiar nada. Então se espantou:
— Uê, doutor Otto, o senhor tem redação própria?
— É que eu sei tudo de cor — ele respondeu.
Otto é um privilegiado: além do talento literário que Deus lhe deu, tem redação
própria.
Nem por isso deixa de ser um torturado para escrever.
(Fernando Sabino)
A observação é do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Escrever é a arte de
cortar palavras”. Esta proposta de concisão tornou-se famosa, tanto entre literatos como
entre jornalistas. Muitas vezes, porém, ela serve de consolo aos ignorantes ou de
estímulo à preguiça. Os conceitos de concisão e objetividade não devem ser
confundidos com os de insipidez e pobreza. A frase do poeta leva-nos à meditação sobre
um dos maiores problemas enfrentados por quem escreve, seja por dever do ofício, seja
por amor da literatura: conciliar concisão com elegância, fluência com clareza,
despojamento40 da frase com riqueza de conteúdo.
(MELLO E SOUZA, Cláudio. 15 anos de história. Rio de Janeiro: TV Globo, 1984.)
EXERCÍCIOS
1) Reduza estas frases ao mínimo possível:
1) Saí em companhia de uma garota que era bonita e que era simpática.
2) O cavalo que comprei e pelo qual paguei muito dinheiro, dali uns tempos, depois que
se passaram uns dias, começou a mancar da perna esquerda.
3) As pessoas que estavam presentes na sala houveram por bem dirigir-se para a
cozinha, com a intenção de tomar o seu café; e, depois que tomaram o café, voltaram
para a sala onde estavam antes.
2) Este anúncio foi publicado na Veja - São Paulo em 17/02/93
O insuperável e insuspeito jornal Folha de S.Paulo, através de sua edição de domingo,
Folhão, em mais um dos seus grandiosos gestos, dignos dos maiores encômios, lança
mais um benefício para você, ilustríssimo aficionado do fabuloso anúncio classificado.
Trata-se de uma ideia clara, objetiva, desprovida de retórica, onde, por apenas Cr$
25.000,00, esta quantia ínfima, irrisória, de somenos importância, sim, por tão-somente
25.000 cruzeiros por palavra, você anuncia confortavelmente pelo telefone de número
222-4000, aproveitando a eficiência deste órgão da nossa imprensa, que tanto orgulho
tem dado a nós, homens que tanto procuramos fazer deste país o lugar onde ...(...)
vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em 1952
publica O velho e o mar, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953), considerada a sua obra-prima.
Hemingway recebeu o Nobel de Literatura de 1954.
39
Otto Lara Resende: jornalista e escritor brasileiro.
40
Despojamento: qualidade de quem é despojado, que não apresenta ornamentos ou enfeites vistosos.
102
O próprio redator da W/Brasil encarregou-se de reduzir o anúncio a sete palavras
mais o número do telefone, tente fazer o mesmo, cortando tudo o que for supérfluo.
3) Em seguida, reescreva o seguinte texto, eliminando o supérfluo e acrescentando
os dados que forem necessários (lembre-se da fórmula do lead: 3Q+O+P+C):
Vinte pessoas morreram ontem às 20.30 hs., tragicamente, em um sensacional,
espetacular e belíssimo desastre, ocorrido nos limites dentro da cidade de São Paulo,
quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estação ferroviária local, em
virtude de lamentável falha do descuidado guarda-chaves. Um dos passageiros foi
completamente decapitado e sua cabeça, ao separar-se do corpo, provocou-lhe morte
instantânea. Várias das infelizes vítimas foram transportadas para nosocômios. A
primeira de todas a ser submetida a uma melindrosa intervenção cirúrgica foi a Exma.
Sra. D. Felisberta Silva, digníssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta
hora das mais trágicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O
distintíssimo e dedicado, além de eficiente diretor da Fepasa, o Exmo. Sr. Dr.
Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos da eficiente empresa está a adoção de
equipamento automático, para que desastres assim não se repitam outras vezes. (In
ERBOLATTO, Mário. Técnicas de Codificação em Jornalismo. Rio de Janeiro: Vozes,
1981. p. 98.)
103
Anexo 5
Redes sociais e práticas que se impõem ao jornalismo41
Catarina Rodrigues
Universidade da Beira Interior – LabCom Covilhã, Portugal
RESUMO
As novas formas de relacionamento com as fontes, a distribuição de conteúdos, a
captação/fidelização de leitores e a velocidade informativa são alguns elementos que
podem caracterizar a actividade dos media no actual modelo comunicacional em rede. A
relação entre emissores e receptores tem vindo a ser alterada e para isso tem contribuído
a utilização das redes sociais. Os media traçam novos caminhos para ir ao encontro do
público e os jornalistas ganham uma nova exposição onde o domínio profissional, por
vezes, se dilui com o pessoal. Este trabalho procura fazer uma análise comparativa entre
as regras de conduta para a utilização das redes sociais já avançadas por vários meios de
comunicação, na tentativa de perceber quais as principais preocupações enunciadas e se
as mesmas interferem ou não com a liberdade do jornalista.
Palavras-chave: Redes sociais, jornalismo, Web, fontes, regulação.
O Twitter “é uma fonte muito rica para informação em tempo real. A nossa ideia
é que essa informação chegue a todos a quem possa interessar; é nisso que estamos a
focar-nos”142. As palavras são de Bizz Stone, cofundador desta rede. O responsável não
considera o Twitter uma rede social, mas sim uma rede de informação. Esta ideia
reporta-nos para o uso deste tipo de ferramentas na actividade jornalística. O número de
utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permite equacionar questões
fundamentais no jornalismo como o relacionamento com as fontes, a ampliação,
valorização e distribuição de conteúdos, a fidelização dos leitores e a velocidade
informativa. São colocados novos desafios à actividade jornalística, nomeadamente no
que diz respeito à monitorização da informação. Podemos lembrar aqui o conceito mass
self communication, de Manuel Castells (2009) para explicar uma comunicação que
pode ser centrada numa só pessoa, mas que também é de massas.
Considerando que os jornalistas representam empresas, foram já várias as
organizações dos media que elaboraram recomendações a seguir no que se relaciona
com a utilização da ‘mediasfera’ (redes sociais, blogs, etc.). Referências no jornalismo a
nível internacional como The New York Times, The Washington Post e BBC, são alguns
desses exemplos. Em Portugal é de referir o caso da RTP, cujo director de informação
elaborou um conjunto de regras constituídas por nove elementos que fez chegar aos
jornalistas da redacção. Estas decisões ganham especial relevância se pensarmos em
problemas concretos como o caso de uma jornalista da CNN que foi despedida por
causa de uma opinião difundida no Twitter. Como interpretar os direitos individuais e a
liberdade de expressão dos jornalistas no actual ecossistema mediático? A resposta a
esta questão deve ser pensada à luz das regras deontológicas [relativo à deontologia:
conjunto de deveres que norteiam a profissão minuciados em códigos específicos], que
por sua vez tem vindo a enfrentar algum descrédito, não só pelo trabalho desenvolvido,
mas também pela importância que outros actores têm ganho no processo noticioso,
incrementando a fragmentação do espaço público. Para além disso, no contexto dos 140
caracteres que caracterizam o Twitter, e considerando a importância da sua utilização, é
pertinente repensar a profundidade dos temas e o esforço que implica contar uma boa
história. Conjuntamente com a bibliografia, este trabalho terá em conta a análise de
41
Disponível em: http://campus.usal.es/~comunicacion3punto0/comunicaciones/035.pdf
Cofundador do Twitter em entrevista ao jornal La Nación, 25 de Abril de 2010, disponível em:
http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1257552
42
104
exemplos concretos de regras orientadoras da utilização das redes sociais nos media que
têm vindo a ser promovidas.
Comunicar em rede
A ideia de mass self communication introduzida por Castells explica uma
comunicação que pode ser centrada numa só pessoa, mas que também é de massas, pois
pode chegar a uma audiência global, e que “está presente na internet e também no
desenvolvimento dos telemóveis” (Castells, 2006). O autor dá o exemplo da colocação
de um vídeo no Youtube ou a publicação num blog. Castells lembra que “esta forma de
comunicação surgiu com o desenvolvimento das chamadas Web 2.0 e Web 3.0, ou o
grupo de tecnologias, dispositivos e aplicações que sustentam a proliferação de espaços
sociais na Internet” (Castells, 2009: 101). “A mass self communication constitui
certamente uma nova forma de comunicação em massa – porém, produzida, recebida e
experienciada individualmente” (Castells, 2006). Scolari (2009) discorda da utilização
do conceito “mass self communication ” neste contexto, pois identifica esta ideia com a
comunicação de um indivíduo consigo próprio, “uma reflexão silenciosa que fazemos
internamente, dentro de nossa mente”. Uma ideia que efectivamente parece contrariar os
fundamentos da comunicação de massas, merecendo por isso ser repensada
considerando a ausência de intermediários que caracteriza muita da informação que é
publicada na web, e a consequente fragmentação do espaço público (Rodrigues, 2006).
Gustavo Cardoso defende que passámos do modelo de comunicação de massa, para o
modelo de comunicação em rede (Cardoso, 2009). “O modelo comunicacional da nossa
sociedade é moldado pela capacidade dos processos de globalização comunicacional
mundiais, juntamente com a articulação em rede massificada e a difusão de media
pessoais, e, em consequência, o aparecimento da mediação em rede. A organização de
usos e ligação em rede dos media dentro deste modelo comunicacional parece estar
directamente ligado aos diferentes graus de uso de interactividade que os nossos media
actuais permitem” (Cardoso, 2009:56). Desenvolvem-se novos paradigmas da
comunicação que vão muito além do jornalismo, mas que o atravessam e obrigam a
actividade a repensar-se e reencontrar o seu caminho. “Nas sociedades informacionais,
onde a rede é a característica organizacional central, um novo modelo comunicacional
tem vindo a tomar forma. Um modelo comunicacional caracterizado pela fusão da
comunicação interpessoal e em massa, ligando audiências, emissores e editores sob uma
matriz de media em rede, que vai do jornal aos jogos de vídeo, oferecendo aos seus
utilizadores novas mediações e novos papéis” (Cardoso, 2009:56).
Face à valorização crescente da instantaneidade da informação e à pluralidade de
opiniões e informações, a mediação, fundamental ao exercício do jornalismo, é colocada
em causa, e os jornalistas, tradicionais mediadores na produção de conteúdos, têm visto
o seu papel delido pela facilidade de qualquer pessoa publicar e difundir informação. “A
actividade de informação sobre a actualidade, no âmbito da esfera pública, já não é uma
actividade exclusiva dos jornalistas e das empresas mediáticas nas quais a maior parte
deles trabalha” (Fidalgo, 2008:2).
Gatewatching foi um conceito cunhado por Axel Bruns (2005) para se referir à
participação do público na produção de informação, e à consequente necessidade de
redefinir o conceito de gatekeeping, que no fundo enfatiza também a ideia de prosumer
(consumidor-produtor). Por considerar que o conceito de gatekeeping deixou de fazer
sentido perante a facilidade de publicação na Web e o contexto em que esta se
desenvolve, Bruns (2005) introduz o conceito de gatewatching que associa ao
jornalismo participativo e à possibilidade de qualquer cidadão poder colaborar no
processo noticioso. “Na Web, as práticas de gatewatching são omnipresentes, assim
como são comuns as práticas de gatekeeping noutros meios” (Bruns, 2005: 11). O autor
105
aborda a ideia de colaboração nas notícias tendo em especial atenção alguns exemplos
concretos como são os sites Indymedia, o Slashdot, a própria Wikipédia, os blogues,
entre outros. Neste sentido, muitos dos elementos que caracterizavam as funções
inerentes ao gatekeeping deixaram de fazer sentido. Por um lado, a selecção imposta
pelo simples limite de espaço nos jornais, ou de tempo, na televisão e na rádio, e, por
outro lado, a própria enumeração de critérios de noticiabilidade parece ser alargada
porque, hipoteticamente, tudo pode ser publicado. Bruns considera o modelo de
gatekeeper utilizado pelos media tradicionais ultrapassado pela abertura à colaboração e
pela ausência de mediação e intervenção editorial. O tradicional guardião de portões ou
o porteiro passa assim a vigia. Gatewatching é a “observação dos portões de saída da
informação noticiosa e outras fontes, no sentido de identificar material importante assim
que ele esteja disponível” (Bruns, 2005:17). O autor vê assim a necessidade de algumas
alterações no próprio papel do webjornalista a quem passará a caber a função de
direccionar os leitores para as informações do seu interesse. Bruns compara estas
funções às de um bibliotecário, alguém que “observa o material disponível e
interessante e identifica informação relevante, com vista a canalizar este material em
notícias estruturadas e actualizadas que podem incluir guias de conteúdo relevante e
excertos de material seleccionado” (Bruns, 2005:18). “O gatewatcher combinaria
funções de bibliotecário e repórter” (Primo e Träsel, 2006: 8).
Ao utilizar a metáfora do bibliotecário, Bruns adianta ainda que os
“bibliotecários” on-line, ao contrário dos tradicionais, estão necessariamente envolvidos
na publicação. Em muitas circunstâncias, qualquer utilizador tem possibilidade de
aceder a documentos e fontes de informação, acrescentando ainda os seus próprios
comentários e “a própria estrutura hipertextual favorece a referência às fontes primárias
da notícia, de modo que o repórter se vê livre da necessidade de condensar todos os
dados em sua própria matéria” (Primo e Träsel, 2006: 8).
Elementos que, por algum motivo não são publicados num jornal, podem ser
dados a conhecer num qualquer outro espaço da Web. Aqui voltamos a uma questão
base que consiste em constatar que, se por um lado, tudo pode ser publicado, a verdade
é que nem tudo pode ser lido. Bruns fala de um outro conceito, publicizing, que
contrapõe a publishing, no sentido de evidenciar a necessidade de dar relevo a
determinado tipo de informações para que elas se destaquem, através de links, (Bruns,
2005: 19), etc. Na sua argumentação, Bruns define a relação entre produtores e
consumidores numa nova realidade em que estes dois polos se confundem como
“produsers” (Bruns, 2005:23). Os consumidores são simultaneamente produtores. O
papel actual do jornalismo passa também por fomentar a participação, sendo que o
jornalista não é um simples mediador.
É exagerado falar do fim do gatekeeping, mas efectivamente ele ganhou novos
contornos. Contudo, o mais importante é evitar as confusões na definição de jornalismo.
Muitos dos exemplos referidos por Bruns tentaram sempre distanciar-se desta
actividade profissional, apesar de serem inevitáveis várias semelhanças. Face à
crescente fragmentação do espaço público, importa repensar a profundidade dos temas e
o esforço que implica contar uma boa história. Todas as possibilidades de publicação e
difusão da informação, bem como a importância crescente das redes sociais, lançam
desafios ao jornalista e a necessidade de algumas cautelas que permitam salvaguardar
critérios como a imparcialidade e credibilidade. Por isso, muitos órgãos de comunicação
social avançaram com a enunciação de algumas regras de conduta a serem seguidas
pelos seus profissionais relativamente a esta matéria. Estas medidas permitem
questionar até que ponto não estará em causa a liberdade dos jornalistas, ou se pelo
contrário, apenas devemos interpretar aqui uma espécie de extensão das regras éticas e
deontológicas que regulam a profissão.
106
Por que regular?
Para melhor compreendermos como se tem desenvolvido esta realidade
procedemos a uma análise comparativa das regras que têm vindo a ser promovidas por
alguns meios de comunicação social. Um caso português é o da RTP. José Alberto
Carvalho, Director de Informação da estação pública, justificou a criação de um
conjunto de medidas desta natureza com o facto de terem sido identificadas situações
em que alguns jornalistas utilizavam a mediasfera de uma forma que colidia com o seu
desempenho profissional e com os deveres públicos da RTP"43. O responsável
reconheceu ter ido buscar inspiração a outros meios de comunicação que, também em
2009, adoptaram normas relativamente a estas práticas, como é o caso do The New York
Times44, The Washington Post, a Agência Reuters e a BBC45, entre outros. Num
conjunto de nove regras, estão elencadas questões relacionadas com a imparcialidade
dos jornalistas e com a credibilidade profissional. Vejamos:
1) Nada do que fazemos no Twitter, Facebook ou Blogues (seja em posts originais
ou em comentários a posts de outrem) deve colocar em causa a imparcialidade que
nos é devida e reconhecida enquanto jornalista.
2) Os jornalistas da RTP devem abster-se de escrever, "twitar" ou "postar"
qualquer elemento - incluindo vídeos, fotos ou som - que possa ser entendido como
demonstrando preconceito político, racista, sexual, religioso ou outro. Essa
percepção pode diminuir a nossa credibilidade jornalística. Devem igualmente
abster-se de qualquer comportamento que possa ser entendido como antiético, não
profissional ou que, por alguma razão, levante interrogações sobre a credibilidade
e seriedade do seu trabalho.
3) Ter em conta que aquilo que cada jornalista escreve, ou os grupos e "amigos" a
que se associa, podem ser utilizados para beliscar a sua credibilidade profissional.
Seguindo a recomendação do "NY Times", por exemplo, os jornalistas - deverão
deixar em branco a secção de perfil de Facebook ou outros equivalentes, sobre as
preferências políticas dos utilizadores.
4) Uma regra base deve ser "Nunca escrever nada online que não possa dizer
numa peça da RTP".
5) Ter particular atenção aos "amigos" friends do Facebook e ponderar que
também através deste dado, se pode inferir sobre a imparcialidade ou não de um
jornalista sobre determinadas áreas.
6) Enunciar, de forma clara, no Facebook e/ou nos blogues pessoais que as
opiniões expressas são de natureza estritamente pessoal e não representam nem
comprometem a RTP.
7) Meditar sobre o facto 140 caracteres de um twit poderem ser entendidos de
forma mais deficiente (e geralmente é isso que acontece!) do que um texto de
várias páginas, o que dificulta a exacta explicação daquilo que cada um pretende
verdadeiramente dizer.
8) Não publicar no Twitter ou em qualquer plataforma electrónica documentos ou
factos que possam indicar tratamento preferencial por parte de alguma fonte ou
indiciem posição discriminatória sobre alguém ou alguma entidade.
9) Ter presente que todos os dados eventualmente relevantes para fins jornalísticos
devem ser colocados à consideração da estrutura editorial da RTP, empresa de
media para a qual trabalham.
O Sindicato dos Jornalistas, em Portugal, lembrou que o poder dos directores de
Informação “jamais pode invadir a esfera privada dos jornalistas ao seu serviço nem
43
Entrevista ao Diário de Notícias, 27 de Novembro de 2009, disponível em:
http://dn.sapo.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=1431795&seccao=Televis%E3o
44
http://www.poynter.org/content/content_view.asp?id=157136
45
http://www.bbc.co.uk/guidelines/editorialguidelines/assets/advice/personalweb.pdf
107
questionar a plena fruição da liberdade de expressão das pessoas enquanto cidadãos”46.
Mas, José Alberto Carvalho considera que, pela responsabilidade que tem em sociedade
“um jornalista nunca é um mero cidadão”47. Esta questão está relacionada com a
autorregulação, mas não só. “O problema aqui é de cariz [aparência] tecnológico: é a
falsa sensação de liberdade absoluta que estes novos meios proporcionam. Pode parecer
que não se está tão exposto, mas isso é ilusório, pois quem escreve num blogue está a
divulgar a sua opinião a um público indistinto e que não controla. Tal como num jornal.
Mas, então, por que não observar as mesmas regras de conduta?48”
No âmbito da campanha eleitoral que está a decorrer no Brasil, o jornal O Globo
divulgou o “Estatuto das Eleições 201049” onde estão patentes regras editoriais e
profissionais a ser seguidas pelos jornalistas. Um dos pontos diz respeito a normas
relativas à utilização de blogues e redes sociais: “Deve-se evitar a publicação de textos,
fotos ou vídeos que possam ser entendidos como favoráveis a determinada campanha ou
indiquem posicionamentos partidários. As recomendações aplicam-se tanto aos
produtos do jornal O Globo quanto a contas individuais de jornalistas, já que, na prática,
qualquer conteúdo publicado nas redes sociais poderá ser associado à linha editorial do
jornal”. No estatuto está presente o caso específico do Twitter no sentido em que “fica
vedado ao funcionário do GLOBO a prática de reenvio (“retweets”) de conteúdos
publicados por partidos políticos ou candidatos. Também não será permitido usar o
serviço para propagar links para sites (pessoais ou institucionais) que contenham
propaganda político-partidária, ou que sejam tanto ofensivos quanto elogiosos a
determinado candidato”. Regras básicas do jornalismo como incluir todas as partes
parecem assim alargar-se às redes sociais: “Se, por necessidade profissional, jornalistas
precisarem adicionar candidatos ou partidos políticos como “amigos” em páginas do
Facebook, Orkut e demais sites de relacionamento, devem fazê-lo de forma equilibrada,
evitando restringir a prática a apenas um determinado candidato ou partido. As
inclinações políticas de jornalistas do GLOBO não devem aparecer também em seus
perfis pessoais nesses e em outros sites de relacionamento”. Está presente a ideia de não
dar preferência a partidos políticos, em blogues, redes sociais, etc. Esta questão
relacionada com a política é também uma preocupação da BBC e da maioria dos
exemplos observados.
A National Public Radio (NPR), onde se incluem as estações de rádio públicas
dos Estados Unidos, enumera uma série de princípios com ideias como “os
profissionais não se devem comportar de forma diferente nas redes sociais de como
fariam em qualquer sítio público”. Para além disso e de chamadas de atenção para as
regras éticas que norteiam a NPR e que se estendem à Internet, “os jornalistas têm que
confirmar toda a informação encontrada nos meios sociais através dos métodos
tradicionais de trabalho” ou seja, insiste-se aqui na clássica regra de verificação de
fontes.
A agência Reuters também fixou algumas regras aos seus jornalistas onde
constam aspectos como não dar notícias em primeira mão através do Twitter, não usar a
Wikipédia como fonte, não revelar filiações políticas nas redes sociais ou nos blogues
pessoais, entre outras. A própria utilização do Twitter para funções profissionais só
deve existir depois de uma autorização superior.
50
51
46
http://www.publico.pt/Media/sindicato-dos-jornalistas-regras-da-rtp-para-o-uso-de-redes-sociais-naopodem-serordens_1411760
47
Entrevista concedida à revista Jornalismo e Jornalistas, nº 41, Janeiro/Março de 2010, pp. 16-19.
48
49
Entrevista concedida à revista Jornalismo e Jornalistas, nº 41, Janeiro/Março de 2010, pp. 16-19.
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/06/10/o-globo-divulga-estatuto-das-eleicoes-2010916832793.asp
50
http://www.npr.org/blogs/inside/2009/10/beats_and_tweets_journalistic.html
51
http://handbook.reuters.com/index.php/Reporting_from_the_internet#Social_media_guidelines
108
As normas para o uso de redes sociais do jornal The Washington Post52, um dos
pioneiros nesta matéria, mereceram a atenção do provedor do leitor Andrew Alexander,
pelo facto de terem sido alvo de algumas críticas por parte dos leitores. Por exemplo,
estão proibidos os tweets assim como a publicação de fotos ou vídeos onde possam ser
observadas tendências políticas, religiosas, racistas, ou outras que de algum modo
possam colocar em causa a independência e a credibilidade jornalística.
Os jornalistas do The Wall Street Journal receberam várias recomendações,
entre as quais, a necessidade de precaução ao publicarem informação no Twitter,
aconselhando em determinadas circunstâncias uma conversa sobre o assunto com os
respectivos editores. Não menosprezar o trabalho dos colegas nem promover o próprio
trabalho foram outras das ideias defendidas. A propósito destas regras do The Wall
Street Journal, Jeff Jarvis tece algumas críticas, nomeadamente a que consiste em
perder a oportunidade de fazer um trabalho colaborativo. Para Jarvis “o Twitter, os
blogs, o Facebook, etc., também oferecem a oportunidade para os repórteres e editores
saírem de trás da voz institucional do papel – uma voz que tem cada vez menos
confiança – e tornarem-se humanos. Claro, eles devem misturar negócios e lazer53”.
Alguns jornais parecem, apesar das normas impostas, incentivar a utilização das
redes sociais e a interacção com os leitores. A negação da importância destes espaços
pode mesmo ser prejudicial. Em todas as regras o que pode não ficar claro é o limite que
separa a vida pessoal da vida profissional, ou se quisermos, a dificuldade crescente em
separar esfera pública de esfera privada.
A utilização do Facebook pelos media é um dado adquirido, nomeadamente
como agregador de notícias, como plataforma de difusão de informação e até como uma
forma de captar leitores. Neste sentido, reconhece-se a existência de vantagens para os
media. A utilização do Twitter, por exemplo, permite ir ao encontro de fontes e
concretizar uma maior ligação aos utilizadores, nomeadamente no que diz respeito à
interacção e às reacções que caracterizam esta forma de relacionamento. Quanto às
regras promovidas pelos vários meios de comunicação podemos constatar que umas são
mais restritivas que outras. A restrição pode significar a perda de muitas oportunidades,
como alertou Jarvis, nomeadamente no que se refere à possibilidade de colaboração. Em
situações de catástrofes ou conflito a participação dos cidadãos é determinante. Os
acontecimentos que se seguiram às eleições presidenciais iranianas, realizadas a 12 de
Junho de 2009, são um bom exemplo disso. Foi nos blogs, no Youtube, no Twitter e em
redes sociais como o Facebook que foi possível encontrar informação que de outro
modo dificilmente seria conhecida. Contudo, podemos reconhecer a importância de
indicações que lembram questões como a verificação, rigor, exactidão, imparcialidade e
credibilidade. Alguns casos recentes têm, até certo ponto, justificado a difusão destas
regras de conduta. Em Julho de 2010, Octavia Nasr, jornalista que trabalhava há duas
décadas na CNN, foi demitida por escrever uma mensagem no Twitter a lamentar a
morte de Hussein Fadlallah, “guia espiritual” do Hezbollah, uma mensagem que teve
reacções dos apoiantes de Israel. A associação entre o conteúdo publicado nas redes
sociais e a linha editorial de um meio de comunicação social pode implicar a extensão
das regras éticas e deontológicas à Internet.
Alguns meios já integraram na sua equipa um gestor de comunidades a quem
cabe a tarefa de coordenar a informação que circula nas redes sociais, blogues,
comentários, etc. O The New York Times, o ABC.es e o jornal Público, têm já um
52
53
http://paidcontent.org/article/419-wapos-social-media-guidelines-paint-staff-into-virtual-corner/
http://www.buzzmachine.com/2009/05/13/missing-the-point-2/
109
community manager a quem cabe trabalhar com editores e repórteres, bloggers e
potenciar o uso de ferramentas sociais.
O jornalista tem responsabilidade sobre o trabalho que desenvolve, tendo em
consideração as regras éticas e deontológicas que norteiam a profissão. Isso não deve
significar a ausência de uma interacção com os leitores, hoje possível através das mais
diversas formas neste novo modelo comunicacional em rede.
Bibliografia
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110

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