courrier/courrier 30-03-07

Transcrição

courrier/courrier 30-03-07
c onvidado
GENTE D’AMANHÃ
AVA LOWERY
P
JIMMY DELSHAD
‘Mayor’ iraniano
O tornar-se presidente da Câmara da próspera
cidade de Beverly
Hills, Califórnia, este homem de 66
anos acedeu ao
mais alto cargo público jamais ocupado por um cidadão
americano de origem iraniana. Jamshid
Delshad — que transformou o seu nome
persa em Jimmy quando obteve a nacionalidade americana — considera que o alcance simbólico da sua eleição pode suscitar vocações na comunidade iraniana
dos Estados Unidos da América, que considera «uma das mais bem integradas»
do país. Judeu iraniano nascido em Chiraz, o empresário, que fez fortuna na informática e presidiu a uma congregação judia conservadora bastante ligada aos ashkenazes, gosta de afirmar o seu carácter
iraniano e pretende demonstrar que «os
iranianos não são terroristas, mas pessoas pacíficas». Delshad tornou-se um
símbolo na importante comunidade iraniana da Califórnia e não só. Recebeu
mensagens de parabéns de antigos vizinhos muçulmanos do Irão, de onde saiu
há 47 anos. Terá de demonstrar, no entanto, que é, realmente, o presidente da
Câmara dos 35 mil habitantes da sua cidade, e não apenas dos 25 por cento que
têm origem iraniana. Uma parte dos habitantes de Beverly Hills não apreciou o facto de os boletins de voto estarem redigidos em inglês e em… persa. Radio Zamaneh,
Amesterdão, USA Today, McLean (Virgínia) e Tehran Times, Teerão
A
DR
A interligação das principais ameaças com que hoje estaOR traumas dos tempos da ditadura e por assistirmos à
mos confrontados, em Portugal, na UE e globalmente, do terroerosão de princípios que julgávamos inabaláveis em Esrismo internacional ao crime organizado (incluindo o tráfico de
tados democráticos (com gente que devia ser respeitáarmas e de seres humanos), exige uma estreita cooperação envel a branquear Guantánamo, torturas e desaparecimentre todas as forças policiais e entre estas e os serviços de infortos forçados, a pretexto da luta contra o terrorismo),
mação. A obrigação de colaborar eficaz e rapidamente com parenraizou-se entre nós o cepticismo em relação a abordaceiros internacionais, especialmente no âmbito da UE, torna
gens «centralizadoras» da segurança. Mas um (saudável) ceptiimperativo que se eliminem disputas de competências, rivalidacismo não deve cegar quanto à urgência de reformas, como as
des e omissões em que o aparelho de segurança português é
propostas na Lei de Segurança Interna em preparação. Pelo que
fértil; só assim se eliminará tamdela sei, e o blogue do MAI foi
bém a projecção dessas disfunútil, prefiro o realismo cauteloso.
ANA GOMES
ções em instâncias de coordenaParece-me razoável que um
Eurodeputada socialista e ex-dirigente do PS
ção internacional, gravemente
futuro secretário-geral do SISI
com Ferro Rodrigues, nasceu em Lisboa em 1954.
comprometedora da nossa credi(Sistema Integrado de Segurança
Diplomata formada em Direito, foi consultora
bilidade e eficácia.
Interna) «articule, coordene» e
de Eanes em Belém e representou Portugal
A nova lei tem de resolver
ajude à «cooperação» entre as
na ONU, Tóquio e Londres. Destacou-se na secção
os problemas da coordenação e
forças policiais (PSP, GNR, PJ,
de interesses de Portugal na Indonésia (e tornou-se
comando. Não julgo, por isso, neSEF). Não considero grave que,
embaixadora), pela defesa do povo de Timor-Leste.
gativo que o PM assuma a resem situações excepcionais, o diponsabilidade desse comando. Guardo em triste memória um
to secretário-geral venha assumir «funções de direcção, comananterior PM a alijar responsabilidades pelo gritante desfunciodo e controlo», de forma a garantir a eficácia das polícias. E
namento da PJ num caso (Casa Pia), ao mesmo tempo que se
também não me choca que esse secretário-geral responda ao priexibia a exortar a mesma PJ a exercer «mão pesada sobre os
meiro-ministro, tanto mais que as forças policiais que coordenaincendiários»...
rá pertencem a dois ministérios, logo, sob tutela de dois minisMas, para o funcionamento democrático do sistema de segutros que, obviamente, respondem perante o PM.
rança, é fundamental garantir o que tem faltado: um eficaz conNos outros países da UE, os modelos variam: tutelas partilhatrolo parlamentar. Em total respeito pelas competências pródas entre vários ministérios (França, Alemanha, Reino Unido)
prias da AR e pelos poderes governamentais, importa que o
ou reunidas num só (Espanha, Bélgica, Grécia); sob o Ministério
Governo submeta o candidato a secretário-geral do SISI a audida Justiça (Luxemburgo, Irlanda, Dinamarca) ou do Interior (Esções parlamentares e se considere politicamente vinculado pelovénia, Lituânia, Finlândia); forças policiais fundidas sob colo juízo da AR, mesmo se for negativo. E importa que o secretámando único (Áustria) ou várias forças policiais sob comandos
rio-geral preste regularmente explicações na AR e defenda dianseparados (Eslováquia, França), etc.
te dela, anualmente, a estratégia do SISI para o ano seguinte.
O que distinguirá o sistema proposto é a colocação do SISI
Aqueles que vêem na nova lei uma ameaça ao Estado de
sob a alçada do primeiro-ministro. Ora, num país como Portudireito democrático deviam antes exigir aos parlamentares que
gal, onde as polícias e serviços de informação se habituaram a
não se castrem politicamente, fazendo do Parlamento uma me«brincar ao gato e ao rato» entre si, faz sentido responsabilizar
ra caixa de ressonância do(s) partido(s) no poder.
politicamente o PM pela obrigatoriedade dos serviços de seguNão é uma lei que visa racionalizar o sistema de segurança
rança funcionarem de forma integrada e transversal — e, em
interna e que é discutida com tempo e transparência que me
especial, em caso de crise. Os comandos, sublinhe-se, continuatira o sono. É antes o conformismo, a demissão. Porque assim se
rão sob a tutela dos respectivos ministérios. Só o SISI — que
estimulam ineficiências e abusos. E assim se perpetua desresraramente vai «mandar» nas polícias — é que vai ficar a prestar
ponsabilização e impunidade.
contas ao PM (e não as próprias polícias).
CABA de fazer
16 anos, tem
um irmão mais velho e três irmãs
mais novas. A
mãe e o padrasto,
ambos juristas, definem-se
como
«não muito liberais, mas defensores da lei e da ordem». A história passa-se nos arredores de Montgomery, capital do Alabama. Ava é do género activista política. Esta aluna de liceu é autora do
«site» peacetakescourage.com, que recebe 30 mil visitas diárias. Através dele, difunde «clips» de vídeo contra a guerra no
Iraque, que ela própria realiza «e que são
recomendados por Micheal Moore», explica a revista Mother Jones, que dedica um
longo artigo à jovem. Aos 12 anos, convenceu a mãe a deixá-la estudar em casa, pois a escola aborrecia-a e não a autorizava a usar uma «T-shirt» de apoio à dupla Gore-Lieberman nas presidenciais de
2004. Aos 15, The New York Times questionava se «uma adolescente com um computador [podia] tornar-se um guru da comunicação social». Um dos seus vídeos
foi seleccionado para lançar o Yearly Kos
2006, a mais concorrida convenção de
bloguistas americanos. As suas actividades valem-lhe, evidentemente, muitas cartas e «e-mails» nem sempre afáveis, que
já foram até às ameaças de morte.
A
DR
Quem tem medo do SISI?
Lutadora
PALAVRAS DITAS
GLORIA
MACAPAGAL-ARROYO,
Presidente das Filipinas
BASSEM RIDA AL-HUSSEINI,
conselheiro do primeiro-ministro iraquiano
l Positiva
«Tomámos as precauções necessárias
para o enforcamento de Taha Yassin Ramadan [ex-vice-Presidente iraquiano], para evitar o incidente que ocorreu com
Barzan [meio-irmão de Saddam Hussein,
cuja cabeça se separou do corpo durante
a sua execução]. Pesámos Ramadan para escolher uma corda apropriada».
Asharq al-Awsat, Londres
«Uma imprensa livre,
dinâmica e responsá- Íx Ilustração de
vel, para fazer mexer Miel, Singapura
as pessoas na direcção certa, rumo a
uma renovação nacional e a reformas».
Reconhecendo o poder dos meios de comunicação para «mudar o país», incita-os
a fazer mais «boas notícias». Nos últimos
meses, foi criticada por não ter conseguido esclarecer muitos assassínios de jornalistas. Philippine Daily Inquirer, Manila
l Perfeccionista
MEL C,
antiga Spice Girl
l Esteta
THEOPHIL GRABAND,
presidente do directório
do banco de Nuremberga, TeamBank
l Prudente
«Não se trata de um tratamento por tu de
simpatia, mas de uma expressão de profissionalismo na acepção do ‘business-you’ inglês». Esclarecimento: este
novo modo de tratamento, defendido pelo
líder deste banco, nada tem que ver com a
sobrevivência do espírito do Maio de 68.
Focus, Munique
«As tatuagens são ridículas. Eu própria
tenho dez. Numa pessoa esbelta e bronzeada ainda vá, mas quando se é gordo,
é bizarro». The Observer, Londres
KAZIMIERZ JAWORSKI,
deputado regional do partido polaco
Direito e Justiça (PiS, conservador)
l Fundamentalista
Propõe abrir as reuniões da Assembleia
Regional dos Cárpatos com uma oração.
«Para estarmos mais centrados na sabe-
doria», explica. E se houver ateus entre os
deputados? «Nem pensar! São todos
crentes!» Gazeta Wyborcza, Varsóvia
FRANZ MAGET,
presidente do grupo parlamentar do SPD
(social-democrata) na Baviera
l Satisfeito
«Berlim está fixa». É a conclusão de um
projecto controverso desde há vários
anos: a criação, em Berlim, do Centro de
Documentação contra as Expulsões, que
apresentará a história dos conflitos do século XX e das transferências de populações, em particular de alemães da Europa
de Leste, no fim da Segunda Guerra Mundial. Süddeutsche Zeitung, Munique
ROCKY ANDERSON,
presidente da Câmara democrata de Salt
Lake City
l Enérgico
«Bush é um criminoso de guerra. Lançar
um processo de destituição seria o primeiro passo para a reconciliação nacional e para uma penitência por todos os
ultrajes cometidos em nome da nossa
nação». The New York Times, Nova Iorque