Case Study 5: SDH on Portuguese analogue television 2.6.1. Full

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Case Study 5: SDH on Portuguese analogue television 2.6.1. Full
Case Study 5: SDH on Portuguese analogue television
2.6.1. Full report
2.6.
Relatório de Análise da Legendagem em Teletexto
nos Canais de Televisão Portugueses
RTP1 – RTP2 – SIC – TVI
Outubro – Dezembro 2003
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1. Introdução
1.1. Situação Actual
De acordo com os Censos 2001, existem em Portugal 84 156 indivíduos com deficiência auditiva
declarada. Se for tido em conta o facto de que a surdez se encontra frequentemente associada ao
avanço da idade, será de concluir que, numa sociedade em envelhecimento como a Portuguesa,
onde 1 702 120 indivíduos tinham, em 2001, mais de 65 anos, haverá certamente um número
mais alargado de pessoas afectadas por surdez. Tudo leva a crer que grande parte destas pessoas
não farão parte da comunidade Surda portuguesa e não saberão língua gestual, nem terão
qualquer outra forma de comunicação que não através da língua portuguesa oral e escrita.
Limitações sensoriais, levam a maiores dificuldades na percepção do mundo em termos gerais e,
de modo particular, na recepção dos textos audiovisuais que povoam a era dos media em que
vivemos.
A televisão tem actualmente um papel muito importante na vida de todos. É através dela que a
maioria das pessoas se mantém informada sobre as notícias do mundo; ocupa os seus tempos de
lazer; e enriquece a sua cultura geral. A oferta televisiva é hoje alargada e a introdução da
televisão por cabo veio aumentar significativamente o leque de opções outrora existentes. No
entanto, a maior parte dos portugueses tem apenas acesso a um número restrito de canais
televisivos. Em Portugal continental, quatro canais – RTP1, RTP2, SIC e TVI – servem os
telespectadores, 24 horas por dia, com programação diversa e concorrendo entre si pelos
melhores “shares”. Cada canal procura, através de mapas de programação diferenciada, fidelizar
os seus públicos oferecendo-lhes em cada parte do dia programas de determinada tipologia com
vista a captar o interesse dos potenciais telespectadores desse período. No entanto, verifica-se
que, em termos gerais e à excepção da RTP2, os três principais canais (RTP1, SIC e TVI)
oferecem “mais do mesmo”, pois o tipo de programas que exibem em cada período assemelha-se
muito entre si, dando-se com frequência a exibição em simultâneo de programas semelhantes,
(ex: telenovelas), o que deixa pouca hipótese de escolha; leque que se reduz significativamente
para públicos com surdez.
Em cumprimento do Artigo 36 da Lei da Televisão (Lei nº31-A98), no qual se lê que as
televisões portuguesa “devem dedicar pelo menos 50% das suas emissões, com exclusão do
tempo consagrado à publicidade, televenda e teletexto, à difusão de programas originariamente
em língua portuguesa”, grande parte da programação actualmente exibida nos quatro canais de
televisão portuguesa é falado em língua portuguesa. Os poucos programas falados em língua
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estrangeira, particularmente longas-metragens, surgem habitualmente ao fim da noite ou ao fim
de semana. Estes são acompanhados de legendagem aberta com tradução para português, até
recentemente, a única forma de acesso ao texto televisivo disponível à grande maioria dos
telespectadores surdos do país. Essa legendagem, aberta a todos os telespectadores, não
contempla qualquer solução facilitadora para públicos com surdez. Tem como único objectivo
oferecer uma tradução das palavras ditas numa língua estrangeira, partindo do pressuposto que o
público receptor tem acesso a toda a informação sonora e paralinguística (música, efeitos
sonoros, tom de voz) do texto original. Esta legendagem, embora seja um precioso auxiliar para
ouvintes e surdos, não garante condições ideais para quem não ouve, pois muito se perde na
simples tradução de palavras.
Para além desta legendagem aberta, até Setembro de 2003, apenas a RTP1 e RTP2 ofereciam
legendas, de programas falados em português, via teletexto. Embora se assumisse, à partida, que
tal legendagem se destinava essencialmente a públicos surdos, nunca se verificou qualquer
esforço por criar condições de acesso efectivo. Verificava-se que a qualidade das legendas era
muito fraca, sem preocupações de correcção técnica e/ou linguística e sem qualquer informação
complementar sobre informação paralinguística.
Com a assinatura do acordo entre televisões, em Agosto de 2003, os operadores privados de
televisão viram-se obrigados a passar a emitir 2 horas e meia por semana de programas com
língua gestual, e 5 horas por semana de programas acompanhados por legendagem em teletexto.
Embora a razão subjacente a este acordo fosse de ordem económica, tal imposição poderá ser
encarada como uma oportunidade para melhorar as condições de acesso à informação e cultura
por parte de pessoas surdas. A verdade é que, com a introdução destas medidas, alguma coisa
mudou no meio televisivo português. Hoje os quatro canais cumprem o acordo firmado. Os
canais privados – SIC e TVI – optaram por legendar novelas da noite e a RTP reforçou a sua
oferta de legendas em teletexto. A questão que se coloca agora é se, de facto, estão reunidas
condições reais de acesso ou se apenas se cumprem acordos sem grandes critérios ou
preocupações de qualidade.
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1.2. Justificação e objectivos da presente análise
Cumprido o prazo de implementação previsto no acordo firmado entre os operadores televisivos,
e tendo em vista uma avaliação dos resultados obtidos, surge como pertinente uma análise dos
serviços ora prestados à comunidade Surda no que diz respeito ao acesso ao texto televisivo.
Neste trabalho, iremos unicamente proceder a uma análise da qualidade da legendagem dos
programas falados em português e legendados via teletexto agora oferecida pelos quatro canais
de televisão portugueses – RTP1, RTP2, SIC e TVI. Um outro estudo deveria ser feito, por
especialistas na área, em relação à presente oferta de interpretação gestual nas televisões
nacionais.
A reflexão que se segue assenta na consciência de que existe uma grande variedade de
“públicos” televisivos, com competências e exigências diferenciadas. Tal leva a que haja
necessidade de um meio facilitador do acesso à informação áudio que seja útil ao maior número
possível de telespectadores. A legendagem surge como uma forma de acesso abrangente que não
só servirá a comunidade Surda mas também públicos diversos, entre os quais se incluem as
comunidades imigrantes actualmente em número significativo em Portugal. Por essa razão, esta
análise será uma parte de um estudo mais alargado. Apenas serão focados os aspectos mais
relevantes para a comunidade Surda e procuraremos encontrar respostas para várias questões
concretas ligadas à qualidade da legendagem em teletexto hoje oferecida.
A análise aqui feita reflecte a observação atenta de inúmeros programas exibidos nos 4 canais
televisivos ao longo dos últimos meses – Outubro, Novembro e Dezembro de 2003 – e procurará
reflectir sobre vários aspectos considerados fundamentais para um acesso aceitável ao texto
televisivo. Para além das conclusões da observação directa efectuada, serão aqui feitas algumas
recomendações que poderão conduzir a uma melhoria da qualidade dos serviços prestados.
Os resultados da análise serão apresentados em três momentos:
•
Análise individual de cada canal (a RTP1 e RTP2 serão reunidos num só grupo, uma vez
que até à data o trabalho de legendagem em teletexto apresentado nos dois canais é
resultado de um mesmo esforço).
•
Exemplos de práticas correntes e recomendações para a correcção de problemas.
•
Apresentação de um quadro síntese da análise realizada A fim de facilitar a leitura de
resultados, será utilizado um código icónico simples:
☺ satisfatório / bom
razoável mas poderia melhorar
não satisfaz / fraco
Todas as observações serão acompanhadas de propostas de soluções e no final será feita uma
listagem de sugestões para a melhoria da qualidade das legendas via teletexto em Portugal.
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2. Análise da Legendagem em Teletexto por canal
2.1 RTP
A RTP (1 e 2) foi a primeira estação televisiva a disponibilizar legendagem de programas falados
em língua portuguesa através de páginas de teletexto (887 – RTP1 e 888 – RTP2). A introdução
deste serviço deu-se oficialmente a 15 de Abril de 1999 tendo, no primeiro ano, sido legendadas
“800 horas de emissões, entre programas de informação, humor, séries documentais e
telenovelas” (Jornal a Capital, 13 Abril 2000, pg.31). Este número de horas tem vindo
gradualmente a crescer e, particularmente no mês de Dezembro de 2003 viu-se um acréscimo
exponencial de horas de programas acompanhados de legendagem em teletexto. Actualmente
legendam-se telenovelas (ex: Lusitânia Paixão); documentários (essencialmente na RTP2);
programas infantis (ex: Noddy); e na época do Natal, para além de clássicos portugueses,
surgiram legendados programas de variedades (ex: Natal dos Hospitais). Inicialmente, apenas se
legendavam programas com guião, o que limitava o leque de oferta, mas recentemente, passouse a legendar programas que não trazem guião, obrigando ao trabalho de “tirar de ouvido”,
processo moroso e difícil. Os programas legendados são maioritariamente falados em português
continental e as legendas surgem como uma “transcrição fiel” das palavras proferidas. O trabalho
de legendagem da RTP é garantido por uma equipa interna e conta com a colaboração de jovens
Surdos que digitam guiões que são depois adaptados à forma de legendas.
A RTP distancia-se dos restantes canais pela sua diversidade de oferta e pela sua antiguidade no
fornecimento deste serviço.
Aspectos positivos:
−
A RTP oferece, neste momento, uma maior diversidade de programas legendados em
português.
−
Embora ainda apresente lacunas, verificou-se, nos últimos tempos, uma tentativa de
alteração de procedimentos e práticas de legendagem existentes.
−
A página da net (www.rtp.pt) identifica, com um ícone, os programas acompanhados de
legendagem em teletexto.
−
Surge, com alguma frequência, uma mensagem escrita no topo do ecrã, no início de
programas com legendagem em teletexto, indicando a existência do mesmo.
−
Todos os programas legendados em teletexto surgem “assinados”.
Aspectos negativos:
− Nem toda a legendagem apresenta níveis de qualidade aceitáveis.
− Subsistem incorrecções linguísticas e técnicas:
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− Surgem erros ortográficos e gramaticais.
− Não existe adaptação e simplificação do texto escrito de forma a facilitar a leitura.
− Muitas legendas não têm tempo de leitura suficiente.
− A divisão de frases dentro das legendas e entre legendas não obedece a qualquer
critério.
− A introdução de novas soluções não está a ser feita de forma aturada e consistente.
2.2. SIC
A SIC passou a oferecer legendagem em teletexto, através da página 888, a partir de 6 de
Outubro de 2003. Iniciou este serviço através da legendagem de uma novela brasileira em
horário nobre. O facto de oferecer a legendagem de um programa falado em português do Brasil,
leva a que a mesma não possa ser objectivamente comparada com as legendas fornecidas pelos
outros canais. Embora, aparentemente, se trate da mesma língua, o trabalho em causa é
essencialmente um trabalho de tradução e adaptação (tradaptação), obrigando a uma passagem
de termos e de expressões de uma “língua” a outra.
A legendagem oferecida pela SIC surgiu, à partida, como diferente e reuniu condições que
permitiram inovar. Tal surgiu da acção de uma equipa de trabalho pouco convencional (professor
e alunos) que aplicaram novas técnicas de legendagem com base num trabalho de investigação,
estabelecendo novos padrões susceptíveis a serem utilizados em outros tipos de programas. Após
a fase experimental, que coincidiu com o fim da novela “Mulheres Apaixonadas”, a legendagem
da novela que tomou o seu lugar passou a ser garantida por uma empresa de legendagem
fornecedora de serviços que manteve alguns dos elementos da referida equipa e, por conseguinte,
mantiveram-se, grosso modo, os padrões de qualidade do trabalho anterior.
Aspectos positivos:
− Todas as soluções de legendagem têm fundamentação científica e técnica.
− Existem preocupações reais de condições de acessibilidade:
− Correcção linguística.
− Identificação de falantes.
− Informação complementar sobre efeitos sonoros.
− Informação sobre música.
− Informação sobre emoções conferidas pelo tom de voz.
− Existência de página de teletexto com explicação dos ícones utilizados e significado das
cores aplicadas.
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Aspectos negativos:
−
Pouca diversidade de programas legendados em português.
−
Inexistência da identificação de tradaptador e legendador.
−
Por vezes tempo de leitura insuficiente.
2.3. TVI
Dando cumprimento ao acordo firmado em Agosto, a TVI passou a fornecer legendas na
telenovela “Queridas Feras” a partir de 30 de Novembro 2003, data da sua estreia. O trabalho,
que surgiu assinado nos primeiros episódios, está a ser realizado pela empresa de tradução Ideias
e Letras e procura, na sua essência, utilizar algumas das soluções propostas pela legendagem da
SIC. Uma vez que a novela é falada em português continental, as legendas apresentam-se como
uma transcrição quase directa das palavras ditas. Tal resulta em vários problemas técnicos e
pouca correcção linguística. Tanto a TVI como a empresa de tradução fornecedora do serviço
possuem equipamento actualizado o que permite a realização de trabalho de maior rigor e
qualidade, situação que, à data não se verifica, sendo o produto final de baixa qualidade a muitos
níveis.
Aspectos positivos:
−
Existe o esforço para fornecer informação complementar para além das falas.
Aspectos negativos:
− Existem muitas incorrecções ao nível linguístico e técnico:
− Surgem erros ortográficos e gramaticais.
− Não existe adaptação e simplificação do texto escrito de forma a facilitar a leitura.
− Muitas legendas não têm tempo de leitura suficiente.
− A divisão de frases dentro das legendas e entre legendas não obedece a qualquer
critério.
− A informação sobre a música é inconsequente.
− A utilização de smileys é feita de forma inconsistente.
− Os comentários introduzem informação em excesso ou apresentam interpretações,
por vezes pouco objectivas e mesmo incorrectas.
− Existe inconsistência na utilização de cores.
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3. Análise Detalhada de programas exibidos entre Outubro e Dezembro de 2003
3.1. Indicação da existência de legendagem em teletexto.
Todos os canais utilizam um logótipo, no canto superior direito indicador na página do teletexto onde se encontram as
legendas, no entanto, muitas vezes o símbolo não é perceptível. A RTP inclui, no início de alguns programas, em
legendagem aberta, a indicação de que o programa é legendado em teletexto. Esta informação é muito importante pois
muita gente ainda desconhece o significado do ícone de teletexto e não usufrui de um serviço que lhes é oferecido. Esta
indicação deveria surgir em todos os canais, no início e após os intervalos de todos os programas acompanhados com
legendagem em teletexto.
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3.2. Informação em rodapé
É comum em todos os canais de televisão passar, em rodapé e em aberto, legendas móveis sobre os programas a exibir a
seguir a seguir. Esta informação é muito confusa para quem está a ler legendas em teletexto. Recomenda-se que, em
programas acompanhados de teletexto, tal situação seja completamente eliminada.
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3.3. Correcção ortográfica e gramatical
Em termos gerais, verifica-se correcção ortográfica em todos os canais. No entanto, ainda surgem alguns erros, gralhas, e
imprecisões, especialmente no caso de termos estrangeiros ou técnicos. É, no entanto, mais frequente a existência de
incorrecções gramaticais, especialmente na utilização de preposições e na conjugação verbal. É de realçar que as legendas
deverão servir de “modelo” linguístico pois serão, para muitos telespectadores, um meio de aprendizagem e de
aperfeiçoamento de leitura e escrita. No que toca a correcção ortográfica, recomenda-se vivamente uma revisão final de
todos os trabalhos com vista a corrigir gralhas e erros ortográficos que possam ainda existir. É fundamental o recurso a
bons dicionários e material de consulta de modo a clarificar termos e conceitos. Para clarificação de dúvidas de sintaxe,
deverão ser utilizados prontuários e gramáticas de língua portuguesa.
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3.4. Vocabulário Difícil
A natureza de cada programa determina o vocabulário nele utilizado. É natural que num documentário surja vocabulário
específico e dificilmente alterável. Uma sobrecarga a este nível poderá tornar a leitura de legendas penosa e
desmotivadora. Esta situação é particularmente notória na RTP1 e 2, onde existe uma transcrição directa de tudo o que é
dito. Embora frequentemente a comunidade Surda reclame tal transcrição, e porque a leitura é um processo mais lento do
que a fala/audição, verifica-se não existir tempo de leitura suficiente (tanto para surdos como para ouvintes), situação que
se agrava quando são utilizados termos menos comuns ou expressões novas. Também expressões idiomáticas e metáforas se
tornam de difícil descodificação, podendo mesmo ser incompreensíveis para muitas pessoas. Recomenda-se o recurso a
sinónimos mais simples e curtos, sempre que possível.
O estádio só ficou completo
E essa quantidade de elogios
Eu só queria saber
depois do torneio começar.
no teu nome.
se a inspecção já fez alguma coisa.
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3.5. Estrutura frásica complexa
À semelhança do que acontece com vocabulário difícil, frases longas e complexas podem dificultar muito a leitura, tanto
de telespectadores surdos como ouvintes. Embora se procure aproximar ao máximo o texto escrito ao texto oral, por vezes
surgem estruturas gramaticais complexas que poderão ser simplificadas sem prejuízo da mensagem. O problema torna-se
mais grave quando uma frase composta se estende por várias legendas. Recomenda-se a simplificação das frases através
do recurso a estruturas frásicas fáceis, evitando-se formas compostas ou estruturas complexas.
O solo duro e seco
Pelo que vejo,
Ele só faz fitas
mostra uma forma de vida
são os festejos destes idiotas…
porque o obrigas a fazer uma coisa
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Em 1910,
o primeiro campeonato não-oficial
O Uruguai
a Argentina organizou e venceu
sul-americano.
foi vencedor oficial em 1916.
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3.6. Divisão de frases dentro da mesma legenda
Um dos elementos que mais contribuem para a facilidade ou dificuldade da leitura é a distribuição da informação dentro de
uma mesma legenda. Verifica-se que apenas na SIC existe maior correcção na divisão interna de legendas. Abundam
exemplos, nos restantes canais, de incorrecções a este nível. Será este um dos problemas que mais dificultam a leitura,
podendo mesmo tornar imperceptíveis frases gramaticalmente correctas, ou alterar o sentido da frase numa leitura corrida.
Recomenda-se que a divisão dentro de uma mesma legenda se faça de forma a manter unidades de sentido intactas.
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3.7. Divisão de frases em várias legendas
Verifica-se, particularmente em programas da RTP e da TVI, grandes problemas na divisão de frases longas e compostas
por várias legendas. Tal dificulta muito a leitura e exige um maior esforço de memória, podendo mesmo comprometer a
compreensão da mensagem. Recomenda-se que se evitem frases longas espalhadas por várias legendas. É preferível
transformar uma frase longa em várias frases curtas.
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17
3.8. Identificação de falantes
É frequente, particularmente em novelas, séries e longas-metragens haver diálogos em que várias pessoas se encontram no
ecrã. Nessas situações torna-se difícil, para quem não ouve, identificar os falantes. Existem várias técnicas que permitem
resolver tal problema. A forma mais simples passa por sinais de pontuação (travessão), algo mais complexo será a
utilização de diferentes cores, o posicionamento da legenda no ecrã, ou mesmo a identificação expressa do falante (com
legenda suplementar com nome).
A SIC introduziu com as legendas da novela “Mulheres Apaixonadas” práticas de identificação de falantes muito precisas.
Utiliza, de forma consistente, a deslocação de legenda como principal técnica identificadora de falantes. A TVI utiliza
técnicas semelhantes; no entanto, fá-lo de forma imperfeita e inconsistente. Tal inconsistência resulta em alguma confusão
para os telespectadores.
Em nítido progresso em relação a práticas anteriores, verifica-se actualmente uma maior preocupação por parte da RTP em
auxiliar os telespectadores nessa identificação, no entanto, não existe um padrão utilizado em todos os programas. Tal
inconsistência e a falta de normas transformam algo positivo em factor destabilizador, pois os telespectadores passam a ter
maior dificuldade em seguir as legendas. Recomenda-se consistência e uniformização de práticas pelo menos em cada
canal. De forma ideal, todos os canais deveriam seguir normas comuns de forma a facilitar tal identificação.
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Nenhum identificador do falante
Deslocação de legenda para debaixo do falante
Identificação explícita do falante
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3.9. Vozes exteriores à imagem
A identificação de falas de personagens fora do ecrã é muito importante para pessoas surdas, pois na impossibilidade de
identificar a personagem pela voz, há necessidade de o fazer de forma mais explícita. Verifica-se que cada canal de
televisão tem formas diferentes de resolver o problema. No entanto, é frequente que tal identificação não exista mesmo. Na
RTP, tal identificação é por vezes feita através da mudança de cor (normalmente legendas a amarelo). No entanto, tal
estratégia não tem sido utilizada de forma coerente e sistemática, o que leva a que se gere alguma confusão.
Duas personagens perfeitamente visíveis – legendas cores diferentes.
A SIC e a TVI fazem recurso a legendas explicativas e a SIC complementa puxando a legenda para o lado onde se encontra
a personagem (mesmo que não visível). Recomenda-se uniformização de procedimentos entre todos os canais e que todos
os casos sejam devidamente assinalados.
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3.10. Música
A música é frequentemente utilizada em filmes, séries e novelas, como um elemento importante. Surge para produzir
efeitos muito concretos. Por vezes tem valor narrativo e acrescenta informação importante e necessária para a compreensão
da mensagem. Pela sua natureza e riqueza, torna-se difícil complementar as legendas sobre as falas com elementos visuais
que “reflictam” os efeitos produzidos pela música. Os equipamentos de legendagem por teletexto existentes não oferecem
ainda soluções ideais para a visualização de música. Tal exige um esforço significativo para que sejam encontradas
soluções minimamente expressivas. A SIC resolveu de forma aceitável as limitações impostas pelo sistema e introduziu,
desde logo, informação sobre os efeitos musicais.
Identificação ou descrição do tipo de música
Identificação de título – património cultural
Transcrição da letra da canção
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Presentemente, embora com algumas incoerências, vários programas da RTP introduzem informação sobre a música.
Surge identificado o início e o fim da música, mas nada acrescenta sobre o valor narrativo da mesma. Não se mantém
qualquer informação sobre a sua continuidade enquanto a música se ouve e raramente a introdução da referência a música
acrescenta informação válida ao texto total. A existir, toda a informação sobre música deverá ser relevante e coerente.
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Na TVI também se inclui informação sobre a música. No entanto, tal é feito sem qualquer critério ou coerência, tornando-se um factor destabilizador em vez de ser um elemento de enriquecimento narrativo. A falta de consistência na forma de
indicar a música dificulta a sua interpretação e anula o efeito pretendido.
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3.11. Informação complementar
Para quem não ouve, há pormenores que escapam à visão, nomeadamente efeitos sonoros e a qualidade das vozes. O tom de
voz pode transmitir emoções e inclusivamente transmitir mensagens opostas ou complementares às palavras ditas. Essa
informação é fundamental para uma compreensão mais completa do texto audiovisual. A legendagem da SIC introduziu
várias soluções para a introdução de informação complementar, nomeadamente legendas explicativas e smileys. A RTP e a
TVI têm aplicado algumas das soluções avançadas mas, à semelhança do que acontece em relação à música, tal é feito de
forma inconsistente e por vezes incoerente. A TVI sobrecarrega as legendas com informação complementar irrelevante,
interpretando falas de forma abusiva e frequentemente induzindo em erro os espectadores, pois o efeito produzido pelo tom
de voz não corresponde à explicitação apresentada. Para além das dificuldades citadas, a falta de consistência na
localização dos comentários e a alternância das cores dificultam ainda mais a tarefa de descodificação necessária.
Recomenda-se pertinência e coerência em toda a informação complementar.
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4. Quadro Síntese
RTP
SIC
Coerência entre episódios (novelas)
☺
Correcção ortográfica
☺
Correcção gramatical
☺
☺
Correcção formal (português escrito)
☺
Estrutura frásica simples e clara
☺
Vocabulário simples e claro
Organização frásica dentro de cada legenda
☺
Divisão de frase dentro da legenda
☺
Divisão de frases por várias legendas
☺
Identificação de falantes
☺
Coerência na forma de identificação de falantes
☺
Clarificação de falantes fora do ecrã
☺
Informação sobre música com valor narrativo
☺
Coerência na informação sobre música
☺
Informação sobre efeitos sonoros
☺
Informação sobre emoções transmitidas pela voz
☺
Tempo de Leitura
Problemas de sincronia de legendas
☺
Identificação de autor da legendagem
☺
Informação adicional on-line
Informação complementar no teletexto
☺
TVI
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5. Conclusões / Recomendações
O último trimestre de 2003 trouxe mudanças significativas ao panorama nacional de legendagem
para surdos. Embora a oferta ainda não seja a desejada, deu-se um acréscimo significativo da
quantidade de programas com legendagem em teletexto. Ultrapassado um primeiro patamar de
investimento, surge agora a necessidade de alargar o leque da oferta presente – especialmente
através da legendagem de blocos noticiosos e programas de informação – e melhorar
substancialmente a qualidade dos serviços já prestados. Essa melhoria implica um maior
investimento em equipamentos dedicados; em formação de quadros técnicos; num trabalho
aturado de observação e análise das práticas correntes com vista à apresentação de sugestões e
soluções para os diferentes problemas; e na criação de normas transversais a todos os canais para
uma maior uniformização de práticas de legendagem em teletexto. É nesse sentido que se deixam
aqui 4 recomendações fundamentais:
1. Verifica-se que, em termos gerais, os sistemas de teletexto utilizados pelos diferentes
operadores televisivos oferecem condições razoáveis de transmissão. No entanto, é
frequente haver falhas técnicas na fase de emissão. Tal não se deve ao trabalho de
tradução/adaptação/legendagem, mas ao próprio sistema de transmissão que tem
limitações e condicionalismos inerentes ao seu funcionamento. Quantos mais programas
forem transmitidos com legendagem em teletexto, maior a necessidade de investir em
equipamento afecto a este serviço. Existe já no mercado equipamento com níveis de
fiabilidade elevados, permitindo a exploração de soluções mais adequadas às
necessidades de públicos com surdez. No momento de se passar a oferecer legendagem
“ao vivo” de telejornais, haverá necessidade de tornar operacional o bom equipamento já
existente (TVI); actualizar ou substituir o equipamento já obsoleto (RTP); e adquirir
equipamento específico à legendagem em teletexto (SIC).
2. Em termos gerais, e à excepção da equipa que trabalhou no projecto experimental na SIC,
não existem, à data em Portugal, técnicos especializados para a realização de legendagem
para surdos. O trabalho está a ser desenvolvido por pessoas com experiência em
legendagem aberta interlinguística (TVI) ou mesmo por pessoas sem qualquer preparação
na área da tradução (RTP). Os níveis de qualidade serão substancialmente melhorados se
forem aproveitados os recursos humanos já especializados e se for oferecida formação
aos técnicos envolvidos neste trabalho que exige competências ao nível linguístico,
conhecimentos técnicos e um conhecimento real das necessidades dos públicos surdos.
3. Só se tem uma verdadeira noção da qualidade de um serviço se for feita uma
monitorização e avaliação do mesmo. Tal deverá ser feita de forma isenta e aturada, por
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um grupo que compreenda representantes dos diferentes operadores, elementos da
comunidade Surda e técnicos especializados. A criação de um observatório da
qualidade da legendagem poderá desenvolver condições de reflexão sobre as práticas
vigentes e servir de incentivo à qualidade.
4. Verifica-se, actualmente, numa diversidade de práticas de legendagem em cada canal,
resultante da nova situação gerada pelo acordo firmado entre as televisões. Embora seja
presentemente um elemento destabilizador para os telespectadores, a busca de um
“estilo” próprio deverá ser encarado como uma fase importante de um processo de
maturação que se vive presentemente na área. Verifica-se uma tendência geral, por parte
da RTP e da TVI, para a utilização das propostas avançadas pela SIC, embora de forma
inconsistente. Tal resulta em confusão para os telespectadores que deixam de identificar e
interpretar de forma correcta as mensagens que lhes são fornecidas. Considera-se que,
para benefício de todos, seria de estabelecer normas “básicas” que facilitem a
compreensão dos códigos utilizados pelos diferentes canais de forma a evitar confusões
que daí possam advir.
5 de Janeiro de 04
Josélia Neves
(professora de Tradução Audiovisual
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria)

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