instituto científico de ensino superior e pesquisa curso de pedagogia

Transcrição

instituto científico de ensino superior e pesquisa curso de pedagogia
INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA
CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR
FATORES QUE OCASIONARAM, A EXCLUSÃO ESCOLAR DE JOVENS E
ADULTOS DO SERPRO – SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE
DADOS, NA FAIXA ETÁRIA PREVISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA UM OLHAR DO PRÓPRIO SUJEITO.
VANESSA CRISTINA DE MAGALHÃES BOMTEMPO
BRASÍLIA, JULHO DE 2003
INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA
CURSO DE PEDAGOGIA – ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR
FATORES QUE OCASIONARAM, A EXCLUSÃO ESCOLAR DE JOVENS E
ADULTOS DO SERPRO – SERVIÇO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE
DADOS, NA FAIXA ETÁRIA PREVISTA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA UM OLHAR DO PRÓPRIO SUJEITO.
VANESSA CRISTINA DE MAGALHÃES BOMTEMPO
Monografia apresentada à Faculdade
de Educação do ICESP, como
atividade desenvolvida na disciplina
TCC II, sob a orientação da Prof.
Najla Veloso Sampaio Barbosa.
BRASÍLIA, JULHO DE 2003
AGRADECIMENTO
A todos que participaram dos mais variados momentos de minha vida durante
esse curso.
Aos meus colegas de classe, à minha família, e é claro sem poder esquecer
à minha professora, orientadora Najla Veloso, que, sem dúvida, foi uma grande
companheira enquanto professora, e também durante esse percurso de orientação
da minha monografia.
A todos vocês, meu obrigada sincero e com carinho.
HISTÓRIA DE VIDA
PARA NUNCA MAIS CHORAR – Maura Roberti
Contribuição dos amigos José Carlos e Maria Lú
Passava do meio dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol
escaldante convidava a todos para um refresco. Ricardinho não agüentou o cheiro
bom do pão e falou:
- Pai, tô com fome!
O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em
busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um
pouco de paciência...
- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!
Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o
filho aguardar na calçada enquanto entra na Padaria a sua frente. Ao entrar dirigese
a
um
homem
no
balcão:
- Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome.
Não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um emprego e nada
encontrei. Eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um pão para que eu
possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o chão de seu
estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o Senhor precisar.
Amaro, o dono da Padaria estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido,
pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho. Agenor
pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que imediatamente pede que os
dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do
famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão, bife e ovo.
Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua. Para Agenor,
uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da
esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá.
Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada.
A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um
manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena família em casa, foi demais
para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e
necessidades.
Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:
- O Maria! Sua comida deve estar muito ruim! Olha o meu amigo está até
chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato...?
Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que
agradecia a Deus por ter esse prazer. Amaro pede então que ele sossegue seu
coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho.
Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome
já estava nas costas. Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa
nos fundos da Padaria, onde havia um pequeno escritório. Agenor conta então
que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então, sem uma
especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos
"biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não recebia nada.
Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na Padaria, e
penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos
15 dias. Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança daquele homem e
marca para o dia seguinte seu início no trabalho.
Ao chegar em casa com toda aquela "fartura", Agenor é um novo homem - sentia
esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus estava lhe abrindo
mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores. No dia
seguinte,às
5
da
manhã,
Agenor estava na porta da Padaria ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro
chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia porque
estava ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes, mas
algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela pessoa. E, ele não se enganou durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento,
sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres.
Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu
vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da Padaria, e que ele
fazia questão que Agenor fosse estudar. Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia
de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta...
Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula. Vamos encontrar o Dr.
Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e
depois outro, e depois mais outro.
Ao meio dia ele desce para um café na Padaria do amigo Amaro, que fica
impressionado em ver o "antigo funcionário" tão elegante em seu primeiro terno.
Mais dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela
que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que
o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da
sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os
tipos, um prato de comida diariamente na hora do almoço. Mais de 200 refeições
são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora
nutricionista Ricardo Baptista.
Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e
Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um,
contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma
hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido.
Ricardinho, o filho mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que seu pai
fundou com tanto carinho:
"Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem esperanças e
você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me deu Deus, e isso
não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma...
E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar."
Resumo
O presente estudo aborda alguns aspectos característicos da Educação de
Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados.
Registra as observações da escola, dos alunos, dos professores na convivência
entre os atores em sua atividade de alfabetização. Evidencia dados coletados
sobre os fatores sócio – econômicos e pessoais dos alunos desse trabalho
educativo, por meio de entrevistas. Os autores que lhe dão sustentação teórica
são Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão. Por fim, evidencia alguns dos
fatores que fazem com que os jovens e adultos do SERPRO estejam se
alfabetizando fora da idade regular.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO..................................................................................................10
CAPÍTULO I : OBJETO DE ESTUDO....................................................................11
CAPÍTULO II : REFERENCIAL TEÓRICO............................................................14
CAPÍTULO III: ANÁLISE DOS DADOS.................................................................21
CAPÍTULO IV : CONCLUSÃO...............................................................................27
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO.........................................................................30
ANEXOS.................................................................................................................31
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
GRÁFICO 1........................................................................................................... 23
GRÁFICO 2........................................................................................................... 24
GRÁFICO 3........................................................................................................... 25
AP R E S E N T AÇ Ã O
“ A a l f a b e t i za ç ã o é o p r i m e i r o p a s s o p a r a a
educação e degrau imediato para uma etapa
c i v i l i za t ó r i a . A p a l a v r a a j u d a o h o m e m a t o r n a r se homem: assim, a linguagem passa a ser
cultura. Através da decodificação da palavra, o
a l f a b e t i za n d o v a i s e d e s c o b r i n d o c o m o h o m e m ,
sujeito de todo o processo histórico". Paulo
Freire
Este tema foi escolhido por mim pelo fato de na Empresa
em que trabalho, SERPRO – Serviço Federal de Processamento
de Dados,
ter sido inserida a Educação de Jovens e Adultos
para funcionários que não são alfabetizados, ou que começaram
seus estudos e por algum motivo tiveram de interrompê-los.
Por ter contato com as pessoas inseridas nesse processo
de
educação,
é
que
despertou
em
mim
a
curiosidade
de
aprofundar mais neste tema e descobrir quais os motivos que
levaram
essas
pessoas
a
estarem
somente
agora
se
alfabetizando.
O presente trabalho teve o intuito de mostrar a situação
desses jovens e adultos que estão se alfabetizando em idade
irregular.
Procurei evidenciar os principais fatores que ocasionam a
exclusão desses jovens e adultos da escola e, se os
fatores
sociais e econômicos são causadores dessa exclusão.
Para
construir
esse
projeto,
utilizei
referências
bibliográficas de Paulo Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão.
Observei também durante todo o trabalho, a partir das
discussões
dos
sujeitos
envolvidos,
quais
as
maiores
dificuldades enfrentadas pelos alunos da Educação de Jovens e
Adultos, para iniciarem a educação em idade regular.
CAPÍT UL O I – O BJET O DE EST UDO
Consultando o site do MEC – Ministério da Educação e
Cultura, verifiquei em algumas matérias, que no Brasil a taxa de
analfabetismo registrada em 1970 era de 33,6% da população
acima de 15 anos de idade. Este índice em 1997, já havia
recuado para 14,7% o que corresponde a cerca de 15,8 milhões
de pessoas.
São
vários
os
fatores
que
propiciam
essa
taxa
de
analfabetismo. É esse o intuito desse trabalho. Evidenciar quais
são esses fatores que fazem com que tantos jovens e adultos
estejam se alfabetizando em idade irregular, na perspectiva dos
próprios sujeitos, que são os alunos da “Escolinha” de Jovens e
Adultos do SERPRO- Serviço Federal de Processamento de
Dados.
Levantamos algumas hipóteses de acordo com leituras
feitas sobre o assunto e desejamos confirmá-las ou não de
acordo com a pesquisa.
Dessas
exclusão
hipóteses,
devido
ao
decorrer do trabalho.
uma
trabalho
que
podemos
infantil,
ressaltar
é
a
da qual falaremos no
Outra hipótese para essa exclusão é que
o indivíduo que logo durante o processo de educação formal, é
vítima de insucesso, não atingindo os níveis requeridos, é
conduzido para fileiras fechadas, ou seja é deixado de lado, sem
uma observação especial do professor, sem uma aula de reforço
para que ele consiga acompanhar novamente o grupo. Esse
aluno constitue as primeiras categorias de exclusão no quadro
do sistema formal de escolarização.
Existe também outro fator que tentaremos verificar. Tratase das pessoas que já nascem economicamente excluídas, são
aquelas crianças filhas de uma classe
desprovida de recursos
financeiros, que não tem condições de colocar os filhos na
escola, e que dificilmente superarão a situação de exclusão da
qual são vítimas.
Embora a Constituição afirme a igualdade de todos e
assegure a todos a mesma liberdade, só por desinformação de
alguém poderá dizer que o filho de pais pobres tem a mesma
liberdade e a mesma ascensão social quanto ao acesso aos
direitos
fundamentais
que
os
filhos
de
pais
ricos.
Mas
na
verdade crianças filhos de pais desfavorecidos quanto ao fator
econômico
tem
os
mesmos
direitos,
mas
não
as
mesmas
oportunidades de ingressar em um estudo de qualidade.
É grande o número de crianças brasileiras que nasce em
situação
de
exclusão
social.
Muitas
dessas
crianças
não
ultrapassam o primeiro ano de vida, segundo pesquisa realizada
no site do Mec, e se resistirem estarão sempre à margem da
sociedade ou numa longínqua retaguarda, vítimas da fome e da
falta
de
cuidados
de
saúde,
com
pouca
ou
nenhuma
possibilidade de educação, morando na rua ou em condições
extremamente precárias, sofrendo humilhações e agressões à
sua pessoa e completamente desprovidas de bens materiais.
E é por isso que vejo a importância deste trabalho para
mostrar
os
principais
adultos. Pois
pontos
da
exclusão
essas crianças que são
desses
jovens
e
excluídas da escola,
crescerão excluídas, e se tornarão jovens e adultos excluídos de
uma sociedade onde o estudo é primordial para uma vida de
sucesso.
O meu trabalho de conclusão de curso foi realizado na
“∗Escolinha” de Jovens e Adultos do SERPRO – Serviço Federal
de Processamento de Dados, com o intuito de verificar “Fatores
que Ocasionaram a Exclusão Escolar de Jovens e Adultos do
SERPRO na Faixa Etária Prevista para a Educação Básica. Um
Olhar do Próprio Sujeito”.
O método utilizado na pesquisa foi o estudo de caso, pelo
fato de o número de interlocutores significar parcela reduzida e
não amostragem estatística de fenômeno sociológico, político,
econômico. Investiguei os fatores que concorreram para que
aqueles alunos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento
de Dados, estivessem estudando somente agora. Os resultados
que obtive são relacionados somente a eles e não podem a
priori ser considerados como referências nacionais ou mesmo
locais.
Como
instrumentos,
utilizei
visitas
à
instituição
para
observação, conversas informais com a coordenação do projeto
e com professores, além de
entrevista gravada com 08 (oito)
alunos que participam da educação de jovens e adultos em curso
de
alfabetização
promovido
pela
empresa.
As
questões
abordadas tinham o intuito de evidenciar as percepções dos
∗
A palavra “Escolinha” utilizada em todo trabalho, nada mais é do que uma forma carinhosa de
citar o local de minha pesquisa de campo a escola de EJA do SERPRO, que é reduzida a somente
uma sala de aula. Por ter havido questionamento quanto a essa nomenclatura, coloco essa nota
pois outros leitores poderão também ter a mesma dúvida.
sujeitos alfabetizandos acerca dos fenômenos e aspectos que
favoreceram a não escolarização na idade de acesso ao ensino
regular.
Os alunos se sentiram a vontade para
responder a todas
as perguntas e foram o grande enriquecimento de meu trabalho.
Me emocionei muito durante as respostas dos mesmos, por
saber um pouco da vida de cada um e de suas dificuldades na
vida, até então, e de seu esforço para estarem nesse momento
na escola.
CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO
A escolha de citar a literatura de autores como Paulo
Freire, Moacir Gadotti e José E. Romão em meu trabalho, foi
devido à vasta produção dos mesmos sobre o tema “Educação
de Jovens e Adultos” , e por estarem a tanto tempo inseridos
nesse processo da Educação do Brasil.
No
livro
“∗ A
Importância
do
Ato
de
Ler,
o
autor
nos
esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do
mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura na
alfabetização, colocando o papel do educador dentro de uma
educação, onde o seu fazer deve ser vivenciado, dentro de uma
prática
concreta
de
libertação
e
construção
da
história,
inserindo o alfabetizando num processo criador, de que ele é
também um sujeito.
∗
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. Ed. Cortez, 1986. Paulo Freire foi
professor de Português, no Colégio Oswaldo Cruz, depois diretor do setor de Educação e Cultura
do SESI, onde teve contato com a educação de Jovens e Adultos. Ele é também Doutor em
Filosofia e História da Educação.
Segundo Paulo Freire, “ a leitura do mundo precede
a
leitura da palavra”(Freire, 1986,p.11). É necessário entender o
que acontece em sua volta para fazer uma leitura crítica das
palavras, do que você ouve, interpretar o que você está lendo e
não
somente
aceitar
colocações
formadas
por
alguém
que
deseja que você entenda o que ele quer que você entenda, e
não descubra o sentido que as vezes está embutido em algumas
palavras.
Paulo Freire(1986) cita exemplos de sua vida em que ele
aprendeu a leitura da palavra, onde foi alfabetizado por seus
pais com palavras de seu mundo, tornando assim, mais fácil sua
alfabetização.
Quando foi para a escola, já estava alfabetizado, e com
sua professora continuou o aprendizado sempre tendo uma
l e i t u r a d o m u n d o . C o m e l a d i z P a u l o F r e i r e “a l e i t u r a d a p a l a v r a ,
da frase,
da sentença, jamais significou uma ruptura com a
“leitura”do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da
“palavramundo”(Freire, 1986,p.17).
Essa forma de compreender o que realmente está escrito é
muito importante pois torna a leitura prazerosa e interessante. O
aluno percebe que está sendo inserido em um contexto real, de
que ele faz parte.
Paulo
Freire(1986)
conta
de
sua
experiência
enquanto
estudante e professor e mostra que é realmente importante o
alfabetizando entender o que ele está lendo, fazer uma relação
daquela
leitura
com
o
mundo
para
ficar
mais
fácil
sua
interpretação durante a leitura. Se ele apenas lê para decorar ou
memorizar
a
leitura
ele
entendendo aquela leitura.
não
vai
estar
absorvendo
nem
“A a l f a b e t i za ç ã o é a c r i a ç ã o o u a m o n t a g e m d a e x p r e s s ã o
e scrita d a e xp re ssã o o ra l”(Fre ire , 1 9 8 6 ,p .2 1). S e gu n d o o a u to r
quando o aluno descobre essa forma de entender a escrita, aí
sim chega o momento dele criar.
na
percepção
crítica,
“O a t o d e l e r i m p l i c a s e m p r e
interpretação
e
“ r e- e s c r i t a ”
do
lido”.(Freire, 1986,p.24)
Um aspecto que achei importante é quando Paulo Freire diz
q u e “q u a l q u e r a l u n o t e m o d i r e i t o d e d i ze r a s u a p a l a v r a . D i r e i t o
deles de falar a que corresponde o nosso dever (educador) de
e s c u t á - l o s ”” ( F r e i r e ,
1986,p.30).
É
o
que
deveria
sempre
acontecer, o professor ouvir o aluno e saber falar para que esse
aluno possa compreende-lo e aprender o que lhe foi passado.
É interessante ressaltar também duas afirmações de Paulo
Freire:
Quem apenas fala e jamais ouve; quem
“ i m o b i l i za ” o
conhecimento
e
o
transfere
a
estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas
próprias palavras, quem considera petulância a
classe trabalhadora reivindicar seus direitos,
não
tem
realmente
nada
que
ver
com
a
libertação nem democracia (Freire,1986,p. 30).
A
outra
afirmação
diz,
“S ó
educadoras
e
educadores
autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato
de
ser
educado
pelos
e d u c a n d o s ”( F r e i r e ,
1986,p.32).
Verificamos dessa forma o quanto é necessário o educador
saber ouvir, dialogar com o aluno, ou seja ter a capacidade de
poder aprender com os educandos, com suas experiências de
vida, com os conhecimentos que eles trazem para a sala de
aula.
Pude observar que Paulo Freire(1986) enfatiza em boa
parte desse livro que o aluno deve ser livre para o pensar, o
educador deve deixá-lo livre para trazer suas experiências para
a sala de aula e deve também deixar que ele se torne um sujeito
participativo de sua etapa de alfabetização.
Paulo Freire(1986) leva-nos também à compreensão da
prática democrática e crítica da leitura do mundo e da palavra,
onde a leitura não deve ser memorizada mecanicamente, mas
ser desafiadora que leve o alfabetizando a pensar e analisar a
realidade em que ele vive. É essencial que saibamos valorizar a
cultura popular em que nosso aluno está inserido, partindo desta
cultura e procurando aprofundar seus conhecimentos, para que
participe do processo permanente da sua libertação.
Sobre isto destaca Paulo Freire.
A insistência na quantidade de leituras sem
o
devido
adentramento
compreendidos,
m e m o r i za d o s ,
e
revela
nos
não
uma
textos
a
ser
mecanicamente
visão
mágica
da
palavra escrita (Freire, 1986,p. 19).
Para uma leitura crítica o aluno deve ler com curiosidade
de entender o que está lendo, até mesmo relacionando a algo
real para ficar mais fácil a compreensão. Essa leitura deve ser
prazerosa, onde o educando consiga absorver o foco principal
do que está lendo. É necessário que ele seja estimulado, que
desenvolva a criatividade e que tenha uma educação que una a
prática e a teoria. Paulo Freire entende da seguinte forma essa
maneira de ajuda-lo:
o fato do aluno necessitar da ajuda do
educador,
como
pedagógica,
ocorre
não
em qualquer relação
significa
dever
a
ajuda
do
educador anular a sua criatividade e a sua
responsabilidade
na
construção
de
sua
linguagem escrita e na leitura desta linguagem
(Freire,1986,p.21).
O livro “
José
Romão
∗
Educação de Jovens e Adultos “ de Gadotti e
define
alguns
termos
para
mostrar
o
que
a
educação de adultos é ou pode ser, em si mesma. Quais as
possibilidades para a transformação das
condições existentes
no momento, como a moradia, saúde etc.
Para Gadotti:
A educação popular, como uma concepção
geral da educação, via de regra se opôs a
educação
de
adultos
impulsionada
pela
educação estatal e tem ocupado os espaços que
∗
GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E (Org.). Educação de jovens e adultos. Teoria, prática e
proposta. São Paulo. Ed. Cortez, 1995. Moacir Gadotti é Licenciado em Pedagogia(1967) e em
Filosofia(1971). José Eustáquio Romão, é Professor Universitário, Licenciado em História e OSPB,
Doutor em História Social e Doutor em História e Filosofia da Educação.
a educação de adultos oficial não levou muito a
sério (Gadotti,1995,p.26).
Segundo o autor, essa educação baseia-se em um respeito
pelo senso comum que traz os setores populares em sua prática
cotidiana,
problematizando
esse
senso
comum,
tratando
de
descobrir a teoria presente na prática popular, teoria ainda não
conhecida pelo povo, problematizando-a, incorporando-lhe um
raciocínio mais rigoroso, científico e unitário.
Os jovens e adultos precisam ter uma boa educação para
superar
suas
condições
precárias
de
vida.
Esse
tipo
de
problema não deveria existir, cada pessoa deveria ter pelo
menos o básico para viver. Para Gadotti (1995) essas más
condições de vida
como a moradia, saúde, alimentação, estão
na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os baixos
salários
e
as
péssimas
condições
de
vida
comprometem
o
processo de alfabetização dos jovens e adultos.
P a r a G a d o t t i , “ o a n a l f a b e t i s m o é a e x p r e s s ã o d a p o b r e za ,
conseqüência
inevitável
in ju sta ”(Ga d o tti,1 99 5 ,p .2 8 ).
combater
suas
causas.
de
Para
uma
estrutura
combatê-lo
Conhecer
a
condição
é
social
necessário
de
vida
do
educando, como moradia salário, família, entre outros. Mas
conhecendo de perto. Por isso o processo de alfabetização é
facilitado quando o educador é do próprio meio. De acordo com
isso Gadotti nos fala que:
“Os
condições
educadores
culturais,
precisam
do
jovem
respeitar
e
do
as
adulto
a n a l f a b e t o . E l e s p r e c i s a m f a ze r o d i a g n ó s t i c o
histórico-econômico do grupo ou comunidade
que irão trabalhar e estabelecer um canal de
comunicação entre o saber técnico e o saber
p o p u l a r ” ( G a d o t t i , 1 9 9 5 , p . 2 8 ).
É
necessário
o
educador
estudar
o
lugar
que
ele
vai
trabalhar e formar uma didática totalmente voltada para aquelas
pessoas
em
especial.
Por
esse
motivo
decidi
que
minha
pesquisa deveria ser feita no SERPRO porque os alunos e os
professores que são todos funcionários da Empresa, convivem
no mesmo ambiente, tornando assim mais fácil esse diagnóstico
que Gadotti (1995) cita.
É m u i t o i m p o r t a n t e l e m b r a r q u e c o n f o r m e d i z G a d o t t i , “O
educador popular é um animador cultural, um articulador, um
o r g a n i za d o r ” ( G a d o t t i , 1 9 9 5 , p . 2 9 ). O p r o f e s s o r p r e c i s a i n s e r i r
exemplos do cotidiano dos alunos, organizar qual a melhor
maneira de lhes transmitir conhecimento.
Para
Gadotti (1995), a educação de adultos deve ser
sempre uma educação
que desenvolve o conhecimento e a
integração na diversidade cultural. O educador deve ser mostrar
como um bom adepto do diálogo.
O professor deve saber falar com o alfabetizando, saber
ouvir, e até mesmo aprender com experiências trazidas pelo
aluno, fazendo com que esse aluno saiba porque ele está
estudando aquela matéria, e qual o verdadeiro sentido daquelas
palavras que ele está lendo.
Segundo Gadotti (1995), o educador tem que auxiliar o
aluno para que além de
ele
enxergar
palavras prontas nos livros,
perceba que é livre para descobrir o significado da leitura.
Por isso ele diz que:
N a v e r d a d e n i n g u é m a l f a b e t i za n i n g u é m . O
a l f a b e t i za d o r n ã o a l f a b e t i za o a l u n o . E l e é o
mediador entre o aprendiz e a escrita, entre o
sujeito
e
o
objeto
apropriação
deste
processo
do
de
conhecimento
(Gadotti,1995,p.34).
De acordo com o que Gadotti (1995) diz, além de tudo que
já vimos sobre a necessidade do aluno adulto, por ele ter uma
melhor percepção da vida ele quer ver a aplicação imediata do
que está aprendendo, pois sua ignorância lhe traz angústia,
complexo de inferioridade. Por isso é necessário que tudo isso
seja analisado, pois o primeiro direito do alfabetizando é o
direito de se expressar. É preciso também ter uma seqüência na
alfabetização desse aluno, porque se ele aprende mas não
pratica o que aprendeu, regride ao analfabetismo.
CAPÍT UL O III – ANÁL ISE DE DADO S
A
pesquisa
foi
realizada
na
“Escolinha”
de
Jovens
e
Adultos do SERPRO – Serviço Federal de Processamento de
Dados, situada na SGAN Quadra 601 módulo V - Sede do
SERPRO, na Asa Norte.
O objetivo da escola é o incentivo ao estudo e formação
educacional
de
seus
funcionários
que
ainda
não
são
alfabetizados, ou que fizeram somente uma ou duas séries e que
por algum motivo interromperam seus estudos. Esses alunos
( funcionários ), são dispensados de suas atividades uma hora
por dia,
de
segunda
a sexta-feira, para estarem com uma
professora que os orienta em suas atividades educacionais. As
aulas são divididas entre os turnos matutino e vespertino, onde
duas professoras se revezam pela manhã dando cada uma delas,
uma aula, com duração de uma hora, para turmas diferentes. Na
parte
da
tarde
acontece
tudo
da
mesma
forma,
mudando
somente as professoras que são outras duas estagiárias.
Em visita a escola para interá-los de meu objetivo, que
seria a pesquisa sobre “Fatores que Ocasionaram a Exclusão
Escolar
de
Jovens
Prevista para
e
Adultos
do
SERPRO
na
Faixa
Etária
Educação Básica - Um Olhar do Próprio Sujeito”,
fui recebida pela responsável do projeto de Educação de Jovens
e Adultos, Selma dos Reis Froes Nunes, a qual me recebeu
muito
bem,
me
explicando
como
funciona
a
escolinha
do
SERPRO, quantos alunos possuem, quantos professores, e seus
objetivos.
Fui então encaminhada para uma conversa informal com
algumas das professoras onde novamente falei de meu objetivo,
e elas se propuseram a me auxiliar permitindo que eu visitasse
as aulas e entrevistasse os alunos.
Para realização desse trabalho utilizei como instrumento a
entrevista, a qual foi aplicada a 08 (oito) alunos e foi também
gravada, e que depois transcrevi na íntegra para o papel.
( anexos)
A escola é formada até o presente momento por 12 alunos
e 04 professores, onde 100% dos professores são do sexo
feminino.
A escola por ser localizada dentro da Empresa SERPRO, é
composta somente de uma sala de aula, onde as professoras se
revezam entre os turnos matutino e vespertino para dar aulas a
grupos diferentes de alunos. Uma vez por mês a coordenadora
do Projeto faz uma reunião de coordenação com as professoras.
A coordenação do projeto de Educação de Jovens e Adultos é
feita por
funcionários da Empresa, que trabalham na área de
Recursos Humanos e foram destinados a criar essa escolinha
que começou com as primeiras séries e que agora já implantou
até a 5 série, e já estão com projetos para a 6 série.
O relacionamento entre alunos e professores é totalmente
agradável e harmonioso.
Nos
dias
em
que
estive
fazendo
minha
observação,
verifiquei o quanto os alunos gostam de seus professores.
Durante a entrevista eles sempre os elogiavam. Pude constatar
que
os
professores
realmente
respeitam
seus
alunos,
suas
diferenças e suas experiências de vida.
As professoras fazem parte do quadro de estagiários do
SERPRO, e todas estão cursando Pedagogia. Para estagiar na
Escolinha de Jovens e Adultos do SERPRO, é necessário estar
cursando a partir do segundo semestre do curso de Pedagogia.
Os sujeitos entrevistados, alunos do EJA do SERPRO,
podem ser caracterizados da seguinte forma.
Dos 08 alunos entrevistados, 50% são homens e 50% são
mulheres.
G R ÁF I C O I
homens
mulheres
Questionando esses mesmos alunos quanto a idade obtive
os seguintes números:
De 20 à 30 anos são 12,5% dos alunos.
De 30à 40 anos são 25% dos alunos.
De 40 à 50 anos são 37,5% dos alunos.
E de 50 a 60 anos são 25% dos alunos.
G R ÁF I C O I I
20 a 30 anos
30 a 40 anos
40 a 50 anos
50 a 60 anos
Dos
08
(oito)
alunos
entrevistados
e
questionados
a
respeito de sua infância, ou seja se trabalharam quando criança:
75%
dos
interlocutores,
alegaram
que
não
estudaram
quando criança porque trabalhavam para ajudar a família;
12,5%
afirmaram
não
terem
estudado
por
falta
de
interesse, mesmo havendo incentivo dos pais;
12,5% responderam que não estudaram por cuidar de casa
e
filhos, ficando assim preso também ao fator econômico por
não ter como pagar alguém para cuidar dos filhos e cuidar da
casa, tendo acesso à escola somente depois dos filhos criados.
G R ÁF I C O I I I
Trabalhavam
quando criança
Falta de interesse
próprio
Dedicaram ao lar
e a família
De acordo com o que já havia citado nesse trabalho,
quando falamos sobre o problema sócio-econômico do país;
verificamos que os problemas de moradia, saúde, alimentação
entre
outros
são
os
grandes
causadores
das
raízes
do
analfabetismo, ou seja, a criança que não tem uma moradia fixa,
uma boa alimentação e uma boa saúde, é difícil essa criança ter
um
bom
rendimento
nos
estudos,
e
assim
o
número
de
analfabetos pode ficar cada vez mais significativo.
P a r a G a d o t t i , “o a n a l f a b e t i s m o é a e x p r e s s ã o d a p o b r e za ,
conseqüência
inevitável
de
uma
estrutura
social
injusta”(Gadotti,1995,p,28).
Coloco novamente essa citação, pois ela nos leva a pensar
como uma estrutura social influi em toda a educação de um
indivíduo. Se nesse nosso país existem poucos com muito e
muitos com tão pouco, é aí que está a maior injustiça. Enquanto
uma classe tão restrita pode usufruir de uma boa educação, a
maioria da população é tão pobre e desprovida de recursos que
não tem nem mesmo o que comer, e quem dirá condições para
estudar.
E é daí que cresce o número de pessoas que não se
alfabetizam, e é claro não concluem nem mesmo o ensino
fundamental. Esses fatores fazem com que o analfabetismo seja
a expressão, a conseqüência da pobreza que existe por causa
de uma sociedade injusta e de rendas tão mal distribuídas.
CAPÍT UL O IV - CO NCL USÃO
Essa
pesquisa
foi
de
grande
importância,
pois
me
proporcionou um contato maravilhoso com pessoas (alunos), que
passavam por mim todos os dias nos corredores da empresa que
trabalho,
SERPRO,
trocávamos
um
bom
dia,
mas
eu
não
imaginava que fossem pessoas tão especiais e batalhadoras.
Essa
convivência
com
esses
pesquisa me possibilitou rever
que eu
alunos
durante
toda
a
minha
conceitos e mudar concepções
já havia estabelecido, sem buscar informações do
próprio sujeito.
A pesquisa aos poucos foi se tornando realidade. Elaborei
um roteiro de entrevista gravada com os alunos da “Escolinha”
de Jovens e Adultos do SERPRO .
Transcrevi
essas respostas
e comecei a analisá-las de acordo com as citações dos autores
que utilizei em minha monografia.
D a a n á l i s e f e i t a n a “ E s c o l i n h a ” , d e i in í c i o à m i n h a a n á l i s e
de dados onde descrevi todas as informações que obtive nessa
pesquisa.
Algumas dificuldades surgiram na medida em que tinha que
transcrever o que vi e ouvi daqueles alunos, entre elas suas
histórias, sua infância, a vontade que a maioria demonstrava em
ter estudado quando criança, enfim a realidade de cada um.
Aprendi muito com essa pesquisa, com cada um daqueles
alunos. Ë impressionante a força de vontade que eles têm, a
esperança de uma vida melhor através dos estudos.
No início do projeto de pesquisa eu não imaginava a
imensidão desse problema que é o analfabetismo. Mas depois da
pesquisa que fiz com esses alunos do SERPRO, percebi que o
trabalho infantil, de que eles foram vítimas, não possibilitou o
acesso dos mesmos à escola em idade regular.
Foi constatado também em minha pesquisa que 87.5% dos
alunos foram vítimas do problema sócio-econômico existente em
nosso
país,
começaram
ou
os
seja,
não
estudos
e
estudaram
tiveram
quando
que
parar
criança,
por
falta
ou
de
condições financeiras dos pais, tendo que trabalhar em casa ou
fora, para ajudar na sobrevivência da família.
Pude também verificar que de acordo com o que Gadotti
(1995) fala e depois podendo comparar com as respostas da
entrevista que fiz com os interlocutores de minha pesquisa, o
aluno que começa seus estudos e
aprende a ler e escrever e
depois, por algum motivo, tem que interrompê-los e não tem
como praticar a leitura e a escrita volta a ser analfabeto.
Constatei isso em conversa informal com alguns alunos
onde eles me disseram que já haviam estudado quando criança,
mas precisaram parar e com a falta da prática desaprenderam e
agora quando retornaram começaram do início novamente pois
já não se lembravam do que haviam aprendido.
As pessoas formam suas palavras através da leitura que
elas
fazem
do
ambiente
que
vivem,
das
pessoas
que
se
relacionam, e dessa forma pude observar que na “Escolinha” de
Jovens e Adultos do SERPRO, os professores buscam isso, eles
permitem que os alunos busquem experiências de seu cotidiano
para debaterem em sala de aula.
Quando sentem que o aluno
não está absorvendo o conteúdo, fazem exercícios relacionados
ao
dia
a
dia
deles,
como
por
exemplo
no
dia
em
que
a
professora fez um café na sala de aula, debatendo com os
alunos,
que
inclusive
alguns
trabalham
na
copa,
sobre
matemática. Quantas colheres disso, quantas daquilo, medidas
etc. Assim fica mais fácil para o aluno assimilar.
E dessa forma, verifiquei que a equipe de educadores do
SERPRO age com todo respeito ao conhecimento do aluno. Os
alunos
são
ouvidos
e
suas
experiências
preservadas
para
adquirirem novos conhecimentos.
Acredito
que
através
de
programas
voltados
para
a
educação de Jovens e Adultos, sendo eles públicos ou privados,
como é o caso do SERPRO, teremos cada dia mais alunos
completando as séries básicas. Não podemos esquecer também,
que é necessário acabar com o trabalho infantil e com vários
outros fatores que propiciam a exclusão da escola em idade
regular. Precisamos que todas as crianças em idade de acesso à
escola estejam realmente na escola, pois só assim eliminaremos
tantas salas de aula formadas por jovens e adultos.
REF ERENCIAL BIBL IO G RÁF ICO
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. Ed.
Cortez, 1986.
GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José E (Org.). Educação de jovens
e
adultos.
Teoria,
prática
e
proposta.
São
Paulo.Ed.
Cortez,1995.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO.. Capturado em
21 de Outubro de 2002. Online.
Disponível na Internet http:// www.mec.gov.br
Disponível na Internet http:// www.história de vida.com.br
INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR
E PESQUISA
C U R S O D E P E D AG O G I A – AD M I N I S T R AÇ ÃO E S C O L AR
I N S T R U M E N T O D E C O L E T A D E D AD O S
Questionário
Al u n o s
Este questionário tem o objetivo de coletar dados para
pesquisa que objetiva investigar a temática Educação de Jovens
e
Adultos.
Como
campo,
selecionamos
o
Serpro
-
Serviço
Federal de Processamento de Dados.
Agradeço antecipadamente sua colaboração no sentido de
fornecer os dados necessários para as análises.
Reafirmo que este documento será utilizado apenas como
referencial desta pesquisa.
Obrigada,
Vanessa.
I - Dados pessoais:
12345-
Nome:
Idade:
Local de Nascimento:
Casado (a):
Tem filhos? Quantos?
II – Informações
6- Você trabalhava quando criança/ ou adolescente?
7- Você chegou a começar seus estudos quando criança?
8- Se não, por que motivos?
9- Se sim, quais os fatores que o levaram a deixar a escola ?
10- Que motivações levaram você a retomar os estudos?
R E S P O S T AS D O S I N T E R L O C U T O R E S Q U AN T O A
E N T R E V I S T A:
Interlocutor 1
Idade: 38 anos
Local de Nascimento: Itacaré – BA
Casado: Sim
Tem filhos? Tenho. Quantos? quatro filhos.
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Comecei a trabalhar com idade de 8 (oito) anos. Por
causa desse trabalho, eu trabalhava com meus pais e não foi
possível
eles
me
colocarem
na
escola,
porque
a
gente
trabalhava na roça. Meu pai era daqueles homens “cabeçudo”e
aí não deixava a gente estudar porque tinha que ajudar ele, e aí
o tempo foi passando e a gente não estudou.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Não. Aprendi a assinar o nome em casa com o meu
cunhado, marido da minha irmã.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Eu
já
tentei
várias
vezes,
inclusive
o
pouco
que
eu
aprendi a ler e escrever foi porque em 1992 eu entrei em um
colégio na 410 sul. E é por causa dos objetivos, a gente sempre
tem que pensar num futuro melhor.
Eu estava trabalhando, e lá eles exigiam um grau de
escolaridade. E aí eu matriculei e fui estudar para pegar o
certificado que eu estava estudando, se eu não adquirisse o
certificado
eu
não
podia
ficar
com
a
vaga
que
eu
estava
assumindo.Quando eu mudei para o Goiás, ficou difícil, eu
estudar e trabalhar e aí eu saí do colégio. E agora comecei aqui
no SERPRO esse ano.
Interlocutor 2
Idade: 35 anos
Local de Nascimento: Pernambuco
Casado: Sim
Tem filhos? Tenho. Quantos? quatro filhos, dois meninos
e duas meninas.
Você trabalhava quando criança/ ou adolescente?
Trabalhava um pouco né! Trabalhei em roça, depois de
roça fui trabalhar na área de comércio.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Comecei, parei.
Se sim, quais os fatores que o levaram a deixar a
escola?
Tinha que se virá para conquistar algumas coisas.
Eu estudei até os dezessete, dezoito anos, mais ou menos.
Fiz o 1º, 2º,3º e 4º anos, depois parei, voltei fiquei até o 6º ano
e parei de novo.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Eu comecei praticamente essa semana. E porque é o
seguinte. A gente sabe muito poucas coisas, e acho que é
interessante a gente saber muito mais e então peguei essa
oportunidade aí e estou querendo voltar no 6º ano. Estou
tentando pra ver se vai dar certo, se não der tem que esperar
mais.
Interlocutor 3
Idade: 19, não 29 anos.
Local de Nascimento: Arco Verde. Pernambuco
Casado: Não
Tem filhos? Não
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Na roça.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Quando eu era criança não. Comecei a estudar depois que
eu cheguei aqui em Brasília, com vinte anos mais ou menos.
Quais os fatores que o levaram a deixar a escola?
Eu mudei. Estava aqui na Ceilândia, aí mudei para o
Goiás, aí “bagunçou “tudo. Trabalhando, estudando, saindo mais
tarde do serviço, aí não dava pra estudar.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Hoje em dia se não tiver estudo, a gente não tem nada.
Mas é bom. Saber ler é bom demais. Comecei aqui no SERPRO
e fiz do 1º ao 4º ano, aí terminei, fiz o 4º ano de novo pra não
ficar parado e aí esse ano começou o 5º ano e eu estou aqui.
Interlocutor 4
Idade: 48 anos
Local de Nascimento: Goiânia
Casado: Não. Solteira
Tem filhos? Tenho. Quantos? Um casal
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Não.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Estudei. Eu fiz até a 5 série.
Se sim quais os fatores que a levaram deixar a escola?
Foi malandragem mesmo. O meu pai me deu todas as
condições de estudar.
A minha mãe morreu quando eu tinha 06 meses e o meu pai
para suprir essa falta deixava eu fazer tudo, eu que impunha
meus limites, e aí eu não quis mais estudar.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Vontade. Acho que nunca é tarde pra gente aprender.
Interlocutor 5
Idade: 60 anos
Local de Nascimento: São José da Lagoa da Prata. PA
Casado: Sim
Tem filhos? Tenho. Quantos? Quatro filhos e quatro
netos.
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Sim. Comecei a trabalhar; morava no sítio, comecei a
trabalhar novo, com uns dez anos.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Não. Naquela época não existia escola naquela região
onde nós morávamos, morava na roça. Agora de uns anos
desses pra cá é que a gente veio ver que tem escola lá na
região.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Eu já tentei várias vezes aqui em Brasília. É porque
quando eu começava a estudar, muitas vezes a gente começava
a trabalhar e ia embora pra roça e a coisa continuava do mesmo
jeito. Aí agora é que começamos a estudar de novo e agora é
uma hora por dia mais pra mim está valendo a pena, porque a
gente está recordando o que já havia esquecido.
Interlocutor 6
Idade: 56 anos
Local de Nascimento: Monte Alegre. PI
Casada: Casada
Tem filhos? Tenho. Quantos? Seis
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Não. Só vim trabalhar depois dos meninos grande.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Estudei até a 4 série. Lá no Piauí eu estudei até mais ou
menos a 3 e cheguei aqui e fiz a 4 .
Se sim, quais os fatores que a levaram deixar a
escola?
Eu fiquei grávida do último menino e aí eu saí do colégio
e não voltei mais.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
É a gente aprender pelo menos, escrever corretamente.
Porque muita coisa a gente não vai aprender. Aprender fazer
uma continha. E graças a Deus eu já sei.
E muita coisa a gente esquece. Eu já tinha dezoito anos
que eu não estudava. Aí eu voltei para a Escolinha, aí eu já sei
fazer continha, recordei muita coisa que eu já tinha esquecido.
Interlocutor 7
Idade: 46 anos
Local de Nascimento: Água Branca - PI
Casada: Divorciada
Tem filhos? Tenho. Quantos? Seis
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Eu vim pra Brasília com oito anos e comecei a trabalhar
com oito anos, de babá, em casa de família.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Não tinha tempo, as vezes a gente ia trabalhar, quando
chegava no colégio, já era passado de hora aí não deixavam a
gente entrar, tinha que voltar de novo e assim foi a minha vida.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Há, porque a gente tem que estudar né! Aprender mais
alguma coisa. A gente aprendeu um pouquinho, mas a gente
esqueceu, então a gente tem que estudar pra conseguir alguma
coisa na vida.
E a minha professora tem paciência comigo, é um doce,
me
coloca
lá
no
cantinho,
vai
soletrando
e
eu
estou
conseguindo.
Interlocutor 8
Idade: Oh, minha idade certa é 44 anos
Local de Nascimento: Nasci em Anápolis
Casada: Viúva
Tem filhos? Tenho. Quantos? Seis
Você trabalhava quando criança/ou adolescente?
Desde os sete anos pra ajudar minha mãe.
Você chegou a começar seus estudos quando criança?
Eu estudei, pouco né. Sempre saía, porque eu vim trabalhar aqui.
Se sim, quais os fatores que a levaram a deixar a escola?
Eu engravidei com doze anos e larguei. Quando eu fiquei grávida, eles
ficavam falando de mim na escola, eu fiquei com vergonha e saí. E aí vem um
menino, vem outro, todo ano um menino.
Que motivações levaram você a retomar os estudos?
Pelo curso que teve aqui, o 1º curso. Aí eu pensei que eu tinha que
escrever coisas, lá na frente, a Maria ficava falando que tinha que fazer uma
redação, chegava lá falando tanta coisa que eu ficava com medo de escrever,
fazer uma palavra errada, porque eu erro muito a letra, quando é dois “s”, o “z”e o
“s”, o “c”e o “s, eu erro demais.
Agora eu estou tão boa que você precisa ver.
Graças a Deus.

Documentos relacionados

Feliz Aniversário! - Igreja do Nazareno em Anchieta

Feliz Aniversário! - Igreja do Nazareno em Anchieta necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carente...

Leia mais