Baralhar e dar de Novo

Transcrição

Baralhar e dar de Novo
Baralhar e dar de novo
Posted by Elora on December 20, 2007
Caro Fokas:
Estou desesperada e já não sei a quem recorrer. Pode parecer paranóia mas sinto as
minhas horas vigiadas, os meus caminhos repisados, os meus olhares desviados. O
ambiente em Laguna parece perder a vivacidade que lhe é característica e os roxos e
laranjas da decoração empalidecem e debotam à medida que a ansiedade vai roubando
ar ao meu peito.
Tudo começou no dia do Baile do Caneco. Foi um dia em que o Frio parecia dominar
Laguna e por entre o despe do aniversário da Blue e o veste para o baile, a minha
atenção espalhava-se pela praia, saltitando entre os clientes habituais que entravam e
saiam, misturados com os peeps do costume. Um avatar desconhecido, com nome de
agente secreto aproximou-se de mim e desatou a elogiar-me a forma como se sofresse
de miopia aguda. Só o que me faltava para completar o caos em que giravam os meus
pensamentos, pensava eu enquanto geria a troca de línguas, entre voice e texto, e
revolvia o inventário à procura dos sapatos perfeitos.
No meio da confusão que dominava o bar, recebo uma mensagem que diz apenas: “Isto
combina com o teu vestido.”, acompanhado de um ficheiro. Abro o ficheiro e verifico
conter um conjunto completo de jóias de um designer famoso, Random Calliope.
Respondo rapidamente ao IM: “Quem és tu?”. E recebo como resposta: “O meu alt
conhece-te…”
Procurei visualizar o avatar em questão… Tratava-se de um homem, alto, moreno e
vestido com um smoking irrepreensível. AnTonis Tereshchenko de seu nome.
Encontrava-se acompanhado por uma mulher alta e linda, loura, vestida com um
enorme casaco de peles branco e que, no momento em que olho, se eclipsa em pleno ar.
Espera, gritei enquanto o vejo desaparecer também.
Recorro ao perfil que, como de certeza já verificaste, não diz absolutamente nada.
Envio-lhe outra mensagem, já completamente à nora: “Mas porque é que me deste
isto?” e recebo como resposta: “Pergunta ao Nuno.” “Qual Nuno?” escrevo
freneticamente, a conter a respiração. O meu irmão Nuno, que tinha acabado de sair do
bar, andava estranho já há uns dias e o meu coração batia mais depressa com a ideia de
que o meu irmão pudesse estar metido em sarilhos.
“Second Life: User not online - message will be stored and delivered later.” Veio a
mensagem de resposta. Não voltei a ver o dito AnTonis, não responde às minhas
mensagens, nem ao meu pedido de amizade e nunca aparece no search como estando
on-line. Quanto ao meu irmão Nuno, seguiu o mesmo caminho. Desde esse dia nunca
mais o vi, deixou de responder às minhas mensagens e de frequentar o bar. No dia dos
anos dele, dois dias depois, furiosa com a falta de respostas, apaguei-o da minha lista.
Eu sei que foi um erro, mas estava cansada de vê-lo a entrar e a sair sem nunca me
responder… Agora nem sequer sei quando está on-line. Estou preocupadíssima e só tu
me podes ajudar. Eu sei que tens contactos dentro do Liden Lab que te podem dar mais
informações sobre o dito AnTonis. Quem é o alt dele que me conhece? Sei também que
andas metido com uma miúda que está à frente do departamento da Polícia Judiciária
no SL. E sei que foste tu que despoletaste os acontecimentos que levaram a que, há uns
dias atrás, fosse encontrada uma loura nua numa piscina em Laguna. Por tudo isto sei
que apenas tu me podes ajudar. Conto contigo,
Elora.
Fokas
Says:
December 20, 2007 at 10:48 pm e
Elora,
Depois de ler o teu pedido de ajuda urgente, meti-me imediatamente em
campo. Tenho a confirmação que o AnTonis efectivamente já consta nos
ficheiros e que domina vários bares na SL. Como tu sabes, essa malta é das
mais dificeis de controlar.Temo que o teu irmão Nuno tenha feito alguns
disparates e que esteja algures na SL. Mas para teu sossego, alguém esteve
com ele na semana passada e ele sabe a senha. O problema maior é
recuperar o disco rígido com a informação dos teus dados pessoais que poderá
estar em mãos menos próprias.Para já evita apenas frequentar cabeleireiros
manhosos e muito menos jantares em restaurantes chineses. O teu dossier
pode ser complicado por seres empresária da noite mas o “Ja” para já não
bardinou. Vou-te mantendo ao corrente dos desenvolvimentos logo que tenha
mais novidades. A pikena que tu falas detem de facto alguma informação
confidencial e conhece muito vadio que anda por aí. O teu irmão ontem já foi
avisado, ele sabe se falar demais tem os dias contados e acho que não é gajo
para ver a casa a arder. A loura que tu viste nua não era quem pensas mas
uma agente nossa infiltrada…estava lá para ver se o AnTonis xibava e foi ideia
do Nuno. Não queria que fosses de maneira nenhuma envolvida nesta
operação, mas a vida é como ela é. Toma um Kompensan e não penses que
és a única vítima envolvida em casos de sedução virtual! Olho míssel, cara
linda!
Desculpa este comentário tão breve mas tenho assuntos graves a tratar!
Blue Elora
Posted by Fokas on December 21, 2007
Depois de muitos anos sem saber nada dele, sábado passado numa festa de uma amiga comum
da SL, acenou-me de longe e meteu-se comigo:
- Ó Fokas..pá, não te lembras de mim? Palavra puxa palavra e o “Old Spice” de cachimbo
aceso conta-me a sua vida, não me poupando a pormenores perfeitamente dispensáveis para
quem não se via há uns bons 33 anos.
Lembro-me do gajo na Bulgária durante aqueles anos da “Guerra Fria” onde nos encontrámos
pela primeira vez.. O pai, um alto funcionário do Partido da concelhia de Santarém, tinha
mandado o filho estudar Medicina para lá. Ora o “Old Spice” não gramava mexer em sangue e o
curso transformou-se num pesadelo quando teve que assistir à primeira autópsia. O “Old
Spice”, tal como eu acabou por desistir, e seguimos os nossos caminhos.
Eu acabei por ser enviado para Berlin Leste onde tive o privilégio de conhecer o famoso Wolff
,“O lobo das estepes” e depois de algumas peripécias, acabei recambiado de volta para
Portugal, desiludido com os sucessos do socialismo real.
Montei o meu negócio de tradução de séries idiotas para as televisões privadas e nunca mais
ouvi falar no “Old Spice”.
Eis que envolvido numa sucessão de acontecimentos misteriosos passados em Laguna, volto a
encontrar o velho “Old Spice” na escadas que sobem para o ginásio. O “Old Spice” com uma
toalha ao ombro obedecendo a uma PT com a idade da minha filha, sempre com o cabelo
encharcado com aquele perfume rasca das festas de garagem.
Como não acredito em coincidências, puxei o gajo para um canto e perguntei-lhe a matar:
- Opá…andas a seguir-me? O que é que fazes aqui? O “Old Spice” hesitou, olhou-me com uns
olhos muito abertos e respondeu:
- Fokas…andas a usar gasolina para acender a lareira. Na volta ..queimas-te!
- Porra pá…diz lá o que queres dizer!
- Quatro suicídios em menos de seis semanas na SL: este é o balanço depois da descoberta do
corpo desnudado de Maria João Alves Serrinha, uma algarvia, na piscina perto de um bar de
uma tal Elora, que pelos vistos tu conheces bem! A moça, segundo as informações da P. ao que
tudo indica, tem a marca do desespero na origem deste drama.
- Quem é a P. “Old Spice”? …não estou a entender nada.
- Ao que tudo indica…continuou…a Maria João era fadista com alguns sucessos no decurso dos
anos sessenta, época em que a sua “écharpe” de franjas, a bolsa branca e a voz melancólica lhe
angariaram um público fiel. Antes de aparecer na piscina da tua amiga foi vista no Barreiro no
“Fondue” e depois na “Cleopatra” na Moita acompanhada por um mafioso chamado AnTonis
Tereshchenko. (À SUIVRE)
Com medo das Sombras
Sombras
Posted by Elora on December 26, 2007
Caro Fokas,
As noticias não são boas. Procurei pelo teu “Old Spice” sem sucesso. O máximo que
encontrei foi um Olderdude Spicer. Mais uma vez o perfil não diz nada. Outros indícios
começam a aparecer. O meu irmão Nuno foi visto perto de uma terra chamada
Heimdal. Nem rasto do dito AnTonis. Andei a investigar a fadista e penso tratar-se de
Fadista Edelweiss, mais uma vez sem esclarecimentos no perfil. Quem a conhecia era
o Portugal Decosta, mas há mais de uma semana que ninguém lhe põe a vista em
cima, nem a ele nem ao Rui Tigerpaw. Temo o pior!
Não sei se deves confiar nas informações da P. Penso que é capaz de trabalhar para
o inimigo. Aqui há dias, debaixo da macieira, estava a experimentar uma t-shirt nova
quando subitamente a P. apareceu e a t-shirt se transformou numa tatuagem em
forma de tigre. Muito estranho. Por outro lado a Afrodite Ewry andou uns tempos
desaparecida. O Tagus está fechado e fala-se em demolição. Cada vez ne sinto
menos segura.Há dias apareceu uma loura no meu bar a tentar enganar-me (trick you,
segundo palavras dela) e ontem na festa do Tp alguém me passou uma bebida
envenenada. Não sei o que era, mas dei por mim aos pulos pela skybox fora, de
cócoras e não me lembro de mais nada.
Temo pela minha existência. Se eu desaparecer sem deixar rasto procura-me para
leste. Deixo à Blue o lugar de Bartender e à Ver os calções belgas. E a ti, Fokas, e
responsabilidade de me encontrares.
Continuo a contar contigo,
Elora
Fokas
Says:
December 27, 2007 at 6:33 pm e
Cara Elora,
Penso que o teu medo da sombra é apenas uma consequência de algum exagero
cometido durante este dias de Natal. Agora regresada ao jogo cristalino dos espelhos,
à cintilação do verde entre os pinheiros, tornas outra vez ao teu mundo de pomares e
de azenhas sonhadas e sempre incompletas mas onde os homens conservam a
exacta
dimensão
dos
sonhos.
A
vida
só
tem
um
problema.
Toma um chá de menta para baixar a tensão ou fuma qualqer coisa que te faça sorrir.
A situação está perfeitamente controlada e não vale a pena criar grande alarido com
as vizinhas. O teu russo apanhou um avião da Aeroflot e não quer ter problemas
maiores depois daquilo que viu na SL.As possíveis divergências religiosas não
justificam o suicídio da Maria João Fadista, mas não oferecem também quaiquer
dúvidas sobre o frasco de Xanax que ela tinha ingerido quando resolveu dar umas
braçadas
na
piscina.
Afinal todos estamos um bocado desiludidos pelo “portuguese way of life”. Aproveita
os dias frios de Sol para passear com o teu cão. Depois te explico mais promenores!
Agora tenho muito que fazer. Beijinhos e porta-te mal..!
Missa do galo
Posted by Fokas on December 27, 2007
O caso da inglesa que tinha sido encontrada morta fora bastante badalado pela
imprensa britânica. No “Escândalo em Portucalis”, como anunciavam as primeiras
páginas dos tablóides londrinos a compatriota era descrita como uma moça tímida,
secretária da direcção de uma conhecida firma de “solicitors” da City , frequentadora
de bares e “boites” algarvias. A família, ainda chocada com as notícias, não sabia
porque razão a sua filha tinha escolhido um país do terceiro mundo para passar as
férias. Tinha recebido apenas um postal de Vilamoura, mostrando umas praias
maravilhosas e uma leve referência a um Joe, ”O encanto das ilhas” que eles tinham
entendido com sendo apenas um madeirense rico que ela tinha conhecido.
A inglesa tinha ficado apaixonada por Portucalis , era uma frequentadora habitual do
Tagus Sea Club e ninguém levava a mal que a “bifa” passasse as tardes a fazer
“topless” na piscina quase deserta do Tp e aparecesse depois a horas
despropositadas sempre acompanhada por jovens e distintos vizinhos. Os habitantes
conheciam as suas bizarrias e ninguém lhe recusava um sorriso nem uma brincadeira
mais ousada, mesmo quando nas noites mais longas, o calor da cerveja ingerida no
Bar do Imso transbordava pelos corpos. Segundo o testemunho de um deles, um tal
Fidalgo, confirma-se que na noite anterior ao seu desaparecimento, a ruiva tinha-lhe
dirigido a palavra normalmente, apesar dele ter reparado que os olhos azuis se
estavam a desbotar ligeiramente e que apresentava as pupilas dilatadas como se
tivesse tomado um medicamento forte de mais para aliviar as dores de cabeça.
Dia 24 de Dezembro, volto à infância, fabuloso lugar de onde nunca saí. Depois da
Missa do Galo recebo um estranho SMS:“Sonhos e Bacalhau. A Mermaid está aí por
perto. Reunião amanhã ao almoço na sede da UEC. A Tokyoska leva o bolo-rei.
Abraços Old Spice”.
Pensei com os meus botões: Grande cardina…o Old Spice deve estar bem
constipado.
Deitei-me inquieto e sem notícias da Elora. Qualquer coisa não estava a correr bem.
Adormeci e quando acordei de manhã cedo, tinha o sabor agridoce de uma “Ceia
Farta” e muita ginjinha à mistura. Despedi-me das manas e dos velhotes e rumei
rapidamente para Lisboa.
Que assunto assim tão relevante queria o Old Spice discutir no dia de Natal, para
juntar a Mermaid e a Tokyoska neste filme? A Mermaid só a conhecia há poucos
meses na SL. Sempre discreta e frequentando locais públicos, sabia apenas que
passava os fins de semana perto das Caldas, que não tinha namorado e andava
sempre armada com o seu portátil on-line. Nada que pudesse alguma vez ligá-la ao
grupo do Old Spice.
Mas porque é que a Elora me estava a falar de uma P. que encontrara debaixo da
macieira e que transformara uma simples “t-shirt” numa tatuagem de tigre? Não era
de certeza a Tokyoska que eu conhecera no Jamaica num período difícil da minha
vida.
Havia no entanto uma peça que não encaixava bem e que me remetia sem saber
porquê para os episódios dramáticos ocorridos em pleno período delirante das
exibições do “Guterrismo”. Anos em que o império soviético se desfazia como um
baralho de cartas, com o louco do Yeltsin a vender a prata da casa aos amigalhaços e
a crise dos camaradas da “Rive gauche”, incapazes de controlar as dissidências
internas no Partido assistindo à actividade impune da máfia russa, que desembarcava
todos os meses centenas de Ucranianas por toda a margem sul, confundindo as
famílias dos serenos militantes.
A Leste…
Posted by Elora on December 29, 2007
Caro Fokas,
Estavas enganado. Não é quem pensavas. Procura-me a Leste.
Aguentarei até que me encontres.
Elora
Blue(Angel)
December 29, 2007 at 4:13 am e
Eu não acredito, Fokas!!! Eu avisei-te!!! Não me deste atenção!!! Eu disse para
deixares o mano-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá e para te concentrares na El, para ela
não desaparecer!!! E agora??? Eu não quero trabalhar no bar!!! Eu quero continuar
livre!!! E acima de tudo eu QUERO A MINHA MANA!!!! Mana, mana, onde estás tu
mana? (homenagem ao Palma, Jorge Palma) Fokas, traz a El de volta, por favor!!!
Ouve o pedido de uma mana desesperada!!! Que grande desgraça!!!
Fokas
December 29, 2007 at 4:29 pm e
Blue,
Tenho apenas como única pista um bilhete amarrotado encontrado no cesto do lixo do Hotel Ibis
da via rápida de Oeiras, neste tom:
“Meu Amorzão:
Vai à sala dos jornais e sai pela porta onde está marcado “Extintores”. Segue depois o primeiro
corredor à esquerda e procura a flecha P.A.T. Vai até ao final e olha pelo postigo da portacoração.
Se me vires em cima encarrapada em cima dum fulano podes crer que é fita.
Até amanhã
Elora”
A vida é a arte do encontro! Vamos ter que saber se alguém na SL se queixa do
desaparecimento de algum namorado.Eu tenho as minhas suspeitas…podes sempre perguntar
onde anda o Ismo. Pode ser que alguém te desligue o telefone na cara.
Vais ver que tomar conta do bar pode ser um trabalho recompensante e altamente
lucrativo…podes vira a obter muitas informações dos clientes habituais…esse o desejo da tua
amiga e ela lá deve ter as suas razões!
Tenho ainda mais dois casos difíceis nas mãos para resolver até ao fim do ano. Mas não te
preocupes, a Elora sabe a palavra passe e pode contactar-me a qualquer momento.
Vontade cumprida!!!
Posted by Blue(Angel) on December 30, 2007
“Mana El,
um dia e já me estás a fazer falta, muita!!! Espero que consigas passar por aqui para
ler estas linhas. Estou preocupada. O Leste é tão grande e vasto e tu por aí. Não nos
podemos esquecer do mano-blá-blá-blá-blá-lá cujas atitudes ainda hoje não
compreendemos logo tudo é possível. E se ele mudou de skin? E se está diferente e
tu não o reconheces? Não sou de dramas, mas este teu desaparecimento súbito
depois do início da investigação é suspeito, é muito suspeito.
Eu bem avisei o Fokas e ele não leu com a devida atenção as minhas palavras.
Adverti-o para estar de olho em ti e para não te perder. Tenho em crer que ele está
com demasiados casos em mão e temo que fiques relegada para um plano que não
mereces: o segundo, terceiro ou quiçá pior. Sei que não é nada grave, tenho a certeza
de que não é nada grave, no entanto foi um dia inteirinho sem te ver e sem qualquer
notícia. A preocupação começa a tomar conta de mim em grande escala. Bendito
passeio de borboleta, tai chi e freebies que me distraíram durante alguns momentos,
escassos, muito escassos. Todos me perguntam por ti e eu nem sei o que dizer.
O Fokas hoje nem apareceu (e a nota que diz que encontrou tanbém não me ajuda
nada de nada) e eu sinto-me impotente perante esta situação. Até que voltes vou
assumir as funções que me designaste, se a Ver aparecer, entretanto, digo-lhe dos
calções belgas.
beijocas larocas com saudades
Blue(Angel)”
Ni dieu ni maitre….só chatiches!
Posted by Fokas on December 30, 2007
Eram 12:45 quando entrei na Calçada de Carriche a alta velocidade e me enfiei pelo túnel do
Campo Grande, sem prestar atenção ao radar, que me avisou… mesmo no dia de Natal que ia
apanhar mais uma multa!
Consegui chegar finalmente à Sousa Martins e com uma sorte do caneco, arranjar logo um lugar
mesmo à porta do “Mossulo”. A sede da UEC, era um prédio de apartamentos de luxo, que o
Partido tinha transformado para realizar umas “mais-valias” e era habitado agora por famílias da
alta classe média lisboeta. Na porta, um “post-it” rosa, em forma de coração, marca
inconfundível da Tokyoska: ”Vê se acordas! Toca para o 4º direito e põe os sonhos em cima da
mesa!”.
À porta do apartamento do 4º, fui apalpado de cima a baixo por um gajo de farda azul, no qual
reconheci outro membro do Serviço, o “Leão Bronstein”, um antigo camarada do liceu, que
revoltado com os resultados do Sporting, tinha rasgado publicamente o cartão de sócio e se
tinha convertido simplesmente ao Judaísmo. O apartamento mobilado luxuosamente, era
ocupado nem mais nem menos, pela Tokyoska, conhecida nos meios, pelos seus olhos verdes
enormes, meio rasgados e ajaponesados e que passeava pelo corredor com as chaves do carro na
mão, desenhando círculos, como se tivesse saído da passarela..
-Boas Fokas, podias ao menos ter feito a barba. Tens um ar porco e desmazelado! Vai lavar essa
cara e limpa-me essas unhas… Parece que vens do campo! Ainda sabes onde são as toilettes, ou
já te esqueceste? Não vais almoçar assim nesta figura. Já cá estão todos e temos muito para
conversar. O “Old Spice” está lixado contigo! Quer saber de uma tal Elora que apanhou esta
manhã o voo da Aeroflot para Moscovo!
Sempre muito querida a Tokyoska… armada em call girl das Avenidas, desde que tinha
abandonado a política activa há anos e casado entretanto com um empresário famoso da praça.
Tivemos um caso muito breve anos atrás, quando nos fechámos por uns dias no Hotel do Mar
em Sesimbra. Durante muito tempo nunca mais a vi…era muita areia para a minha camioneta.
Só a voltei a encontrar recentemente na SL por mero acaso, onde debaixo do ingénuo “nick”de
Camila Outlander me informou que residia em Portucalis e andava atrás de uma inglesa. Nada
de extraordinário numa mulher madura que continuava à procura de novas aventuras… pensei
eu com os meus botões. Agora com as primeiras rugas anda a curtir uma de feminista…Tudo
bem…
Da sala ao lado ouvia-se a voz do “Old Spice” aos gritos e o som de um telefone que tombava:
- Esse anormal do Fokas já chegou??? Hoje é que vou aos cornos a esse gajo!!! Incompetente do
caraças…deixa-me fugir a miúda do bar que valia o peso em ouro e vai-me passar o Natal com
as maninhas…
Chegada da Guerra
Posted by Elora on January 1, 2008
Caro Fokas:
Acordei subitamente na tarde de Sábado, a meio de uma violenta queda. Não fora
umas maluqueiras com o Imso e nem teria tido a presença de espírito suficiente para
abrir o pára-quedas. Não sei como ali fui parar, nem em que avião. Caí com um forte
estrondo em cima de uma formação de pedra que vim depois a descobri ser uma anta
e passei uma das noite mais geladas da minha vida, dentro dela, enrolada no bendito
pára-quedas. Bem tentei aguentar e esperar que me encontrasses, mas ao meio-dia
de Domingo percebi que tal não ia acontecer e dirigi-me a Oeste. A paisagem era
verde, com montes suaves salpicados de Oliveiras. Aqui e ali encontrava estradas de
terra batida ou de alcatrão em muito mau estado que procurava seguir mas que
desembocavam todas em lagos e lagoas envoltas em nevoeiro, como se um dilúvio
súbito tivesse enchido os vales de água e interrompido as estradas que os cruzavam.
Ao anoitecer e esfomeada ( a partir de hoje não me peçam azeitonas nos Martinis)
cheguei a um viaduto que atravessava as lagoas e me permitiu apanhar boleia até à
povoação mais próxima, Monsaraz. Nessa noite dormi num convento, convertido em
Estalagem, o que me despojou dos últimos fundos que possuía. Não consegui
telefonar, todos os número que sabia de cor davam sinal de ocupado, e o único sítio
com Internet estava fechado devido às festas. Senti-me como no raio do anúncio da
PT!
Não tinha quaisquer documentos comigo, nem telemóvel, nem Multibanco. O pouco
dinheiro perdido no bolso das calças gastou-se com a primeira dormida e não tive
coragem de pedir mais boleias uma vez que as estradas pareciam estar cheias de
Citröens Diane vermelhos. Por fim, ao descobrir que eu era Bartender, a dona da
Estalagem prometeu-me boleia para Lisboa a troco de servir bebidas no Reveillon da
Estalagem. Cheguei agora, podre de sono e com cada vez menos pistas. Não
conheço nenhuma das pessoas que descreves e o bilhete que encontraste é,
obviamente, uma falsificação. Acho que vou dormir três dias seguidos. Beijos,
Elora
Happy new year!
Posted by Fokas on January 1, 2008
Não interessa agora discutir o detalhe das conversas ao almoço. Depois dos
insultos habituais, o “Old Spice” acalmou. Ao lado da Mermaid, sempre
lindíssima, bem arranjada e de telemóvel em punho… não me admirava que os
putos do Politécnico andassem todos apaixonados…a minha maior surpresa foi
encontrar no apartamento da Tokyoska, a famosa Margarita Philbin.
Fumando uma alta cigarrilha, vestindo um saia e casaco vermelho de couro
agarrados ao corpo, e aquele sexy e inconfundível sinalinho na cara .. eu, o
Fokas, estava pela primeira vez em frente de um dos maiores mitos da SL! Entre
uma boca de beijar deliciosamente recortada e aqueles truques de pernas, a
Philbin, sabia como meter um gajo em sentido! Queria saber todos os
pormenores que me tinham ligado à Elora.
No final da conversa com um sorriso cínico rematou a matar: - O “Old Spice”
tinha razão… Fokas, és um idiota de um amador armado em esperto! Tens sorte
que as tuas maninhas te achem graça e tenham andado comigo na
Faculdade…senão acabavas antes do fim do ano em sopa de “borsch” ou feito
em “meat balls”!
Conhecia bem demais a culinária russa para achar graça a estas piadinhas da
Philbin.
- Olha Philbin, preferia começar contigo com umas entradas… caviar, uns blinis
e outros pastéis acompanhados de uma vodka “Stolichnaya” geladinha! Depois
se via o prato a pedir…
A Philbin, olhou para mim com um ar de desafio e respondeu sem hesitar: Assim
seja…Fokas, marca a mesa para o jantar! Segunda-feira, vai-me buscar a casa às
8.30 e vê se te vestes convenientemente…odeio ser vista na noite de Fim do Ano
com gajos pelintras!
Estava lixado. Apanhado nas garras da Margarita Philbin sem qualquer hipóteses
de fuga.
- E vai pensando, meu lindo…nas datas, locais, pessoas presentes, emails e
informações confidenciais que tenhas andado a trocar com a tua amiguinha
Elora! Quero saber tudo direitinho, senão quem vai aparecer no Tagus a boiar…
és tu!
E gritou para o Bronstein: - Leão, manda dizer ao Electro para estar calmo por
agora! No fim do ano quem vai depenar o ganso …sou eu!
Réveillon
Posted by playingmargarita on January 2, 2008
Muito honestamente, gosto de alimentar o mito. Dá-me gozo apreciar as histórias que
são inventadas sobre mim, os tais factos que fazem de mim o que sou. A Philbin.
Estranhamente, dei por mim a confidenciar ao Fokas a história da minha vida,
sentados a uma mesa recatada do Hôtel de Paris, com foie gras a fazer as vezes do
caviar e champagne no lugar da Stolichnaya, mas as marcações de última hora são
mesmo assim e de nada adiantou mencionar o meu nome ou o do meu pai.
Por alturas do magret de canard já o Fokas sabia, por entre mal-sucedidas tentativas
de sedução, que eu era filha ilegítima de um almirante e que tinha passado a minha
infância e maior parte da adolescência entre marinheiros. De facto, a minha mãe, em
desespero, tinha-me levado ao navio para que o meu pai cuidasse de mim, e ele ali
me acolheu na impossibilidade de me levar para casa da mulher. Foi assim que
aprendi não só a lidar com os homens, mas também a pô-los em sentido.
Cedo descobri que é muito fácil seduzir um homem: um cruzar de pernas, um
movimento mais lânguido, um simples entreolhar fazem com que eles passem de
gelado a mousse num único instante. E depois, este sinalinho era puramente
irresistível. Mas aprendi também a usar os travões no momento certo, graças não só
aos ensinamentos do meu pai mas também ao seu cargo no navio, evidentemente.
Mas agora, estava a custar à allumeuse resistir aos encantos do Fokas, e preparavame para partilhar com ele uma colherinha da minha mousse aux agrumes et vainille
quando chegou o telegrama do Leão:
“DIRIJAM-SE IMEDIATAMENTE CRATO STOP LOURENÇO E MULHER AVISTADOS
POUSADA STOP SUSPEITA-SE TERESA STOP.”
Com tudo isto, nem houve tempo para o café nem para o fim da minha história. O meu
prometedor réveillon ia ser passado ao volante do Aston Martin, a caminho do
Alentejo. Mas o importante mesmo era resgatar a Teresa e o Othelo. Haveria muitos
mais anos para réveillons.
Flor da Rosa
Posted by playingmargarita on January 2, 2008
Foi logo a seguir à Vasco da Gama, quando resolvi acender o primeiro cigarro da
viagem, que me apercebi que, com as pressas, tinha deixado a boquilha em cima da
mesa. Como uma das minhas imagens de marca, facilmente comprovaria a minha
presença no Hôtel de Paris na noite de réveillon. Nem eram precisos testes de ADN,
aquela boquilha de madrepérola e prata era, sem dúvida alguma, da Philbin.
— Fokas, disse-lhe eu, liga imediatamente para o Hôtel e pede para falar com a
Summer.
— Summer? Quem é essa?
— Não te preocupes, é de confiança. Andou no colégio comigo e com a Tokyoska, e
trabalha para nós. O Hôtel é para disfarçar. Pede-lhe para recuperar a boquilha, sem
falta. Diz que falas da minha parte.
— Mas que raio tem essa boquilha? É valiosa? Eu dou-te uma, quando chegarmos a
Lisboa.
— É valiosíssima, Fokas, e insubstituível. Puramente insubstituível.
— Cheira-me a esturro. Aliás, a homem. Confessa lá, ó Margarita.
— Não me apetece falar disso, Fokas. Há coisas mais importantes agora. Tais como
encontrar a Teresa e o Lourenço.
— Sim, mas daqui até lá, ainda vão umas horinhas. Conta lá a história da boquilha.
— Não Fokas, tudo menos isso. Conta-me tu tudo o que sabes sobre a Elora.
Leste só se for a máfia russa
Posted by Imso Obscure on January 3, 2008
Andava eu nas minhas deambulações, a fazer um trabalho de sapa para a judite sobre
o apito dourado e as casas de alterne, quando deparei com a realidade
cristalina…Afinal tanto trabalho de investigação, tanta noite perdida para leste por
causa da Elora, a melhor das investigadoras francesa, a Philbin ao barulho, e de leste
só a máfia russa…pois que me bastou passar em laguna para perceber que alguém se
fez passar pela Elora, e ver que em laguna está alguém a trabalhar que parece a
Elora, mas se olharmos bem, faltam-lhe aquelas curvas sensuais, e aquele riso que só
a nossa bartender tem…enfim falta-lhe “massa”, e não estou a falar de dinheiro.
Mas voltando à vaca fria, andava eu nas minhas deambulações quando uma noite ,
num cabaré rasca, desses onde os dirigentes da nossa bola almoçam com os àrbitros
e lhes oferecem relógios, ouvi uma voz inconfundível a cantar…
Sim…afinal a Elora está perto, e mais, canta como ninguém.
Tentei aproximar-me dela, mas um matulão que controlava a situação, não me deixou,
um gaijo qualquer com um apelido russo….estava ali de pedra e cal para que ninguém
se aproximasse do rouxinol que cantava.
Nem mesmo quando ela sacou da boquilha para fumar um cigarro, não percebi se era
verdade, mas até me parecia a boquilha da Philbin.Mas adiante…
Devo confessar que me deixei enfiar na bruma e os segui, e que o meu zoom fez
maravilhas e me permitiu aquilatar da verdade…A Elora está presa
Ouvi dizer inclusivé que ia haver um leilão de escravas nas mãos da máfia russa, por
isso meninos é melhor começarmos a quotizarmo-nos, ou arranjar maneira de resgatar
aquela que é a mais recente matrioska.
Ajudem-me depressa senão eles ainda me descobrem
Imso
Uma Outra Boquilha?
Posted by M2life Paravane on January 4, 2008
Os despojos da passagem do ano conduziram K. até ao bar do Hotel Paris. Àquela hora o bar
já estava vazio de pessoas, apenas copos com fantasmas de bebidas povoavam as mesas. O
que
restava
duma
noite
que
K.
intuía
ter
sido
animada.
A caminho do balcão, numa mesa, entre dois flutes de champagne e um prato quase cheio de
tostas cobertas de foie gras, K. viu uma boquilha. Não resistindo, pegou nela e levou-a consigo
para o balcão.
A boquilha era lindíssima, de madrepérola e prata, muito longa, fazendo lembrar as que as
mulheres usavam nos anos 20, combinando com os colares de pérolas falsas e os vestidos
brilhantes e direitos.
O final da noite, aliado ao tempo frio e chuvoso, convidava ao conforto do Jameson de 15 anos.
K. não tinha pressa e entre dois goles do uísque quente e macio, rolava entre os dedos,
lentamente, a boquilha. Estava no seu terceiro gole quando o som inesperado do telemóvel
(que se esquecera de desligar) quase o fez cair do banco. Era June perguntando se podia ir ter
com ele.
A claridade difusa e molhada da manhã já inundava o bar quando June chegou. Passados os
cumprimentos habituais e as perguntas sobre a noite, June reparou na boquilha que K.
continuava a rolar entre os dedos. “Essa boquilha… eu conheço-a ou então é muito parecida
com a que uma amiga minha costuma usar”. K. parou de rolar a boquilha e passou-a a June.
“Sem dúvida que é igual à da Philbin”. “Philbin?”, perguntou K., “não conheço”. Observando
com toda a atenção o objecto que tinha na mão, June não respondeu de imediato. “Parece
mesmo a boquilha da Philbin”. “Mas quem raio é a Philbin?”, voltou a perguntar K..”É uma
amiga minha que mora em Portucalis. A sua boquilha tem uma particularidade quase única: o
filtro, que é de uma marca raríssima. Vou abri-la”.
Com todo o cuidado, segurando a boquilha com as duas mãos, June começou a desenroscar o
bocal de modo a chegar ao filtro. Quando acabou, ao separar as duas peças da boquilha, caiu
para cima do balcão um pequeno rolo. “Que é isto”, perguntou June. K. pegou no pequeno rolo
e depois de o observar atentamente disse “Isto é um microfilme amiga. Essa tal de Philbin é
espia ou quê?”.
Com os contornos sugados pela claridade vinda da rua, nem K. nem June se aperceberam do
vulto que entrou no bar do Hotel Paris e rapidamente chegou ao balcão apoderando-se do
microfilme, antes escondido no interior da boquilha.
Prego a fundo
Posted by Fokas on January 4, 2008
Havia nevoeiro lá fora, na noite de S. Silvestre. Mas no cantinho do Hotel Paris a noite ainda era uma
criança quando o telemóvel tocou! A Philbin insistira em partir imediatamente, colocara a boquilha de
madrepérola na mesa e dissera-me simplesmente: - Deixa-te de conversas moles… Fokas! O assunto
agora é sério. Levanta-te e vai-me buscar o casaco!
A Philbin nem me deixara argumentar… Rostos sorridentes e tolos cirandavam à minha volta. Ao lado do
meu ouvido bom, soprava uma enorme língua de sogra de papel, cujos gritos agudos me enchiam de
maus pressentimentos, como a imagem aflitiva da ressureição, entre as minhas pernas, impossível de
conter…Parece muito estúpido não é? De vez em quando, explodiam ”crakers” e gritinhos idiotas. As
salas enormes do Hotel Paris estavam pejadas de gente mas era a Elora quem estava no centro das
minhas atenções, coisa que ela não queria por certo… Ou talvez por uma vez, talvez quisesse? Aliás
como é que eu tinha vindo parar a esta estória? O que é que eu procurava aqui, no meio de crentes
desesperados e de reformistas falhados que frequentavam o Hotel Paris?
Levei o Moet et Chandon, para o Aston Martin da Margarita, não fosse a boca secar-me no meio de mais
uma viagem incerta. - Temos que chegar ao Crato antes de amanhecer! Podes ir contando tudo o que
sabes sobre a Elora, que talvez assim não adormeça…Pior emenda que o soneto…eu receava
desembocar em terreno pantanoso. Bebi foi o resto da garrafa sem dizer uma palavra sobre a Elora e
desviei a conversa para assuntos menos escaldantes. Mas senti que faltava neste momento à minha
vida, esse género de artista que todos nós tornamos na SL. O medo e o champagne estavam a paralizar
as minhas palavras. Eu estava em apuros, na altura, tanto moralmente, como noutro qualquer sentido para ser breve - era como se a minha vida desabasse, a qual de resto, estava em ruínas -, e na minha
fragilidade, mostrava-me disponivel para todo o tipo de influências. Estava sozinho ao lado de uma
mulher que conduzia como uma louca, cena que muitos que eu conheço nem ousariam pensar, muito
menos desejar. De repente a imagem secundária que eu tinha deixado adormecer (mas é melhor deixar
isso por agora) acordava subitamente com aromas de Channel 5 em plena estrada alentejana.
A Philbin parecia que estava a ler os meus pensamentos. De repente olhou-me com um ar super
desagradável, parou o carro no meio da estrada.- Quem és tu?- perguntou: Não quero ouvir mais merdas
durante esta viagem! Por instantes , examinou-me com um ar severo. - Deixa de olhar para mim como um
parvo! Gostas de coisas difíceis? - perguntou a seguir. Depende da qualidade - disse-lhe, porque julguei
que estava a dar-se ares. Foi uma conversa terrivelmente estúpida que me dispenso de contar. Só me
lembro que recebi uma bofetada na cara enquanto ela me gritava que estava farta de homens que nem a
porrra de um pneu sabiam mudar!
O dia já estava a nascer quando ela me deu um beijo de lado e sorriu…- Desculpa Fokas…obrigado por
me teres ajudado a mudar o pneu. Sózinha não teria sido capaz… Virei-me para o lado e adormeci
finalmente sossegado.