Ciência Veterinária nos Trópicos v. 16 nº 1/2/3

Transcrição

Ciência Veterinária nos Trópicos v. 16 nº 1/2/3
Ciência Veterinária
nos Trópicos
v. 16 nº 1/2/3
janeiro-dezembro/2013
CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA
VETERINÁRIA DE PERNAMBUCO –
CRMV-PE
DIRETORIA EXECUTIVA
Med. Vet. Erivânia Camelo de Almeida
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Med. Vet. Gerson Harrop Filho
Vice-presidente
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EDITORA
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Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual
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Reconhecida como veículo de divulgação
técnico-científica pelo Conselho Federal de
Medicina Veterinária (CFMV), Resolução nº
652, de 18 de novembro de 1998.
2
CONSELHO EDITORIAL
Cristiano Barros de Melo
UFSE - DEA/CCBS
Eduardo Alberto Tudury
UFRPE - Depto. de Medicina Veterinária
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UFMG - Escola de Veterinária
José Augusto Bastos Afonso
UFRPE - Clínica de Bovinos de Garanhuns
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JORNALISTA RESPONSÁVEL
Eldemberga Grangeiro dos Anjos
Reg. Prof. 3686 DRT-PE
REVISÃO TÉCNICA
Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual
EDITORAÇÃO GRÁFICA
Jônathas Souza
INDEXAÇÃO
PERIODICIDADE
Revista Ciência Veterinária nos Trópicos está
indexada na base de dados da Cabi Abstracts,
Agris e Agrobase.
SITE
Quadrimestral
Edições da Revista Ciência Veterinária nos
Trópicos estão disponíveis no site
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Sumário
Contents
Editorial ..................................................................... 05
Editorial ..................................................................... 05
ARTIGO DE REVISÃO
REVIEW ARTICLE
MÉLO, S.K.M.; SILVA, E.R.R.; HUNK, M.M.;
MANSO, H.E.C.C.C.
MÉLO, S.K.M.; SILVA, E.R.R.; HUNK, M.M.;
MANSO, H.E.C.C.C.
ARTIGO CIENTÍFICO
SCIENTIFIC ARTICLE
PEREIRA, M.F; MOTA, R.A.; PEIXOTO, R.M.;
PIATTI, R.M.
PEREIRA, M.F; MOTA, R.A.; PEIXOTO, R.M.;
PIATTI, R.M.
Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no
estado de Pernambuco, Brasil .................................... 18
Abortion in sheep and goats in Pernambuco
State, Brazil - case study ............................................ 18
ARTIGO CIENTÍFICO
SCIENTIFIC ARTICLE
VAZ, S.G.; ALMEIDA, T.L.A.C.; MANSO FILHO, H.C.;
TEIXEIRA, M.N.; RÊGO, E.W.; FREITAS, A.A.
VAZ, S.G.; ALMEIDA, T.L.A.C.; MANSO FILHO, H.C.;
TEIXEIRA, M.N.; RÊGO, E.W.; FREITAS, A.A.
Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica
Veterinária ............................................................... 31
Risk Map in Clinical Veterinary Pathology
Laboratory ................................................................ 31
ARTIGO CIENTÍFICO
SCIENTIFIC ARTICLE
MACHADO, M.B.; SILVEIRA, P.P.M.; BANDEIRA, J.T.;
MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; BARÇANTE, T.A.
MACHADO, M.B.; SILVEIRA, P.P.M.; BANDEIRA, J.T.;
MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; BARÇANTE, T.A.
Prevalência de mormo no estado de Pernambuco
no período de 2006 a 2011 ..................................... 37
Glanders prevalence in the State of Pernambuco,
Brazil, from 2006 to 2011 ....................................... 37
ARTIGO CIENTÍFICO
SCIENTIFIC ARTICLE
SILVEIRA, P.P.M.; MACHADO, M.B.; BANDEIRA, J.T.;
MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; SILVEIRA, A.V.M.;
ROCHA, C.M.B.M.
SILVEIRA, P.P.M.; MACHADO, M.B.; BANDEIRA, J.T.;
MORAIS, R.S.M.M.; SANTOS, F.L.; SILVEIRA, A.V.M.;
ROCHA, C.M.B.M.
Comparação da Prevalência do Mormo entre as
Zonas da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco,
de 2005 à 2011 ........................................................... 45
Glanders Prevalence comparision between
Zona da Mata, Agreste and Sertão from
Pernambuco, Brazil, from 2005 to 2011 ............... 52
ARTIGO CIENTÍFICO
SCIENTIFIC ARTICLE
RIFAS JÚNIOR, J.R.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.;
BRANDESPIM, D.F.; MOTA, R.A.; ANDERLINI, G.A.
RIFAS JÚNIOR, J.R.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.;
BRANDESPIM, D.F.; MOTA, R.A.; ANDERLINI, G.A.
Avaliação sobre o conhecimento de Zoonoses
em profissionais e acadêmicos da Medicina e
Medicina Veterinária na cidade de MaceióAlagoas-Brasil ............................................................ 53
Evaluation of the knowledge of Zoonoses
by
professional
and
academic
of
Medicine and Veterinary Medicine in Maceió­
Alagoas-­Brazil ......................................................... 53
Informações Gerais .................................................. 04
Brucelose Canina: Revisão de literatura .................. 07
General Information................................................. 04
Canine Brucellosis - Review ..................................... 07
3
Informações Gerais
A
revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente
pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco
(CRMV – PE), e destina-se a divulgação de trabalhos técnico-científicos
(trabalhos originais de interesse na área de ciência veterinária e zootecnia,
ainda não publicados, nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim) e
de notícias de cunho profissional, ligadas a área de ciência veterinária em meio
digital.
Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal
de Medicina Veterinária (Resolução no 652, de 18 de novembro de 1998).
Endereço para correspondência:
Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE)
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obtidas através do site: http://www.rcvt.org.br e do e-mail:
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Os artigos publicados nesta Revista são indexados nas bases de dados: CABI
ABSTRACTS, AGRIS E AGROBASE
Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 16, n 1,2,3 (2013) –
Recife: CRMV – PE, 2013
Quadrimestral
ISSN 1415-6326
1. Veterinária – Ciência – Periódico
I. Conselho Regional de Medicina
Veterinária de Pernambuco, Recife, PE.
CDD 636.08905
4
Editorial
A
revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente
pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco
(CRMV – PE), e destina-se a divulgação de trabalhos técnico-científicos
(trabalhos originais de interesse na área de Ciência Veterinária e
Zootecnia, ainda não publicados, nem encaminhados a outra revista
para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas a área de Ciência
Agraria em meio digital.
No atual volume os leitores podem encontrar importantes publicações na área o
escopo da publicação com ênfase nas zoonoses que acometem alguns dos animais
envolvidos nos sistemas de criação em Pernambuco, tanto nas áreas rurais como
nas áreas urbanas, além de importante aspecto sobre os cuidados nas práticas
laboratoriais, muitos delas associadas ao diagnóstico das zoonoses descritos nas
publicações descritas nesse periódico.
Duas publicações abordam a situação do mormo no estado de Pernambuco.
Essa enfermidade, desde o inicio desse século, tem não só causado inúmeras perdas
nos criatórios de equídeos em Pernambuco, mas parece se alastrar por todo o
Brasil. Além do mais, o mormo, tem comprometido a exportação de animais e
causado alguns transtornos em centros de importantes animais de trabalho, como
nas cavalarias militares.
Outras duas publicações, em espécies diferentes, demonstram a combinação
entre enfermidades reprodutivas e as zoonoses. Nos pequenos ruminantes foi
demonstrado diferentes causas de abortos e, entre elas, a toxoplasmose, tão
comum nos pequenos animais. Já no trabalho sobre a brucelose em caninos foi
discutido um linha de procedimento para o diagnostico da enfermidade nesses
grupo de animais. Observem aqui como os profissionais da saúde pública devem
estar atentos aos “movimentos” de patógenos entre espécies e os envolvidos com
as criações em fazendas, tanto veterinários como zootecnistas, devem atentar para
a implicação da presença dos “pets” nesses estabelecimentos.
Finalmente no atual volume, o leitor é levado a `observar os cuidados que devem
ser observados ao longo do processamentos das amostras em seus laboratórios
e com os diferentes envolvidos com os sistemas sanitários compreendem o seu
mundo ao redor. Nada mais importante para que todos nós reciclemos os conceitos
de saúde animal, que devem ser re-inscritos sobre a edge do programa mundial do
“One Health”, ou seja, Saúde para todos, animais e humanos.
Boa leitura a todos.
Zoot. Helena Emília C. C. Cordeiro Manso
5
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7 - 17 - janeiro/dezembro, 2013
Brucelose Canina:
Revisão de literatura
Stephânia Katurchi Mendes MÉLO1*, Elizabeth Regina Rodrigues da SILVA1, Monica
Miranda HUNK1, Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO1
RESUMO
A crescente importância conferida pela sociedade aos animais de companhia faz com que grande atenção seja dispensada à sanidade desses animais.
Dentre as doenças que podem causar problemas reprodutivos em machos
e fêmeas, destaca-se a brucelose canina, zoonose que acarreta grandes prejuízos aos criadores de cães. Os sintomas mais significativos são o abortamento nas fêmeas, orquites e epididimites nos machos e infertilidades em
ambos os sexos. Os testes sorológicos são os métodos diagnósticos mais
frequentemente utilizados no diagnóstico. Estes testes podem resultar em
resultados falso positivos e em casos crônicos em falso negativos havendo
a necessidade do isolamento bacteriano para firmar diagnóstico definitivo
da doença. O tratamento consiste de antibioticoterapia, a qual não obtém
resultado muito satisfatório devido à persistência intracelular do agente.
O homem apresenta certa resistência ao agente, no entanto muitos casos
já foram relatados em humanos, ficando o alerta para os profissionais de
saúde quanto ao caráter zoonótico desta doença. Portanto, é importante
ter um maior conhecimento sobre a doença, possibilitando aos Clínicos
Veterinários a diagnosticar e instituir um plano de controle e profilaxia
adequados.
PA L AV R A S - C H AV E
BIOPA - Laboartório
de Biologia Molecular
Aplica à Produção Animal,
Departamento deZootecnia,
Universidade Federal Rural
de Pernambuco
1
*Autor para
correspondência
Brucella canis, Cães, Aborto, Zoonose
ABSTRACT
Canine Brucellosis: Review
Modern society is giving increasing importance to pets, so that great attention
should be paid to the health of these animals. Among the diseases that can cause
reproductive problems in males and females, there is the canine brucellosis, a
zoonosis that causes great losses to dog breeders. The most signif­icant injuries
are abortion in females, orchitis and epididymitis in males and infertility in both
sexes. Serological tests are the most often used methods in the diagnosis. These
tests can result in false positives and false negatives in chronic cases so it is necessary to accomplish bacterial isolation as a definitive diagnosis. Treatment consists
of antibiotics, which did not get very satisfactory results due to the intracellular
persistence of the agent. Man presents a certain resistance to the bacteria, however many cases have been reported in humans, and healthcare professionals
should be alert regarding this zoonotic disease. Therefore, it is important to have
a greater knowledge of the dis­ease, enabling Veterinarians diagnose and establish
a plan of appropriate control and preventive measures.
KEYWORDS
Brucella canis, Dogs, Abortion, Zoonosis
7
7
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
INTRODUÇÃO
NEY, 1970; NELSON & COUTO, 2001).
A B. canis pode ser transmitida pelo sêmen,
principalmente durante as primeiras seis a oito
semanas de infecção, pela urina, e também por
fômites contaminados (NELSON & COUTO,
2001).
A presença do agente no organismo causa
principalmente alterações reprodutivas como infertilidade, abortamentos, principalmente no terço final da gestação e a ocorrência de natimortos
ou do nascimento de filhotes débeis. Ocasionalmente afeta outros tecidos causando alterações
como uveíte, discoespondilite, osteomielite e dermatite (NELSON & COUTO, 2001; WANKE,
2004; HOLLETT, 2006).
Como a possibilidade de êxito com o tratamento é incerta e os animais se tornam uma
fonte de infecção para outros cães e pessoa, o
tratamento não é recomendado, pois os cães tratados estarão sempre susceptíveis a reinfecção
(ETTINGER, 1992).
Segundo o LABORATÓRIO CEPAV (2003),
a brucelose ainda não tem cura, sendo assim o
animal infectado permanece portador por toda
a vida. Todavia, alguns medicamentos podem ser
utilizados para minimizar os sintomas clínicos
da doença e sendo utilizada de acordo com a fase
da enfermidade em que o animal se encontra, e
quanto mais tardia a doença for diagnosticada,
mais difícil será o tratamento.
Para prevenção e controle dessa doença, deve-se testar todo o lote reprodutor quanto a
Brucella antes de empreender um programa de
acasalamento e, teoricamente, antes de cada acasalamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por
ano nos machos. Os animais positivos devem ser
eliminados de canis de reprodução ou esterilizados (SHERDING & BICHARD, 1998).
A incidência da Brucelose nos animais e no
homem vem diminuindo devido ao aumento de
medidas de controle, no entanto, devido à geografia, o clima, densidade populacional dentre
outros fatores, favorece a permanência do agente principalmente na América Latina (LUCERO
et al., 2007).
A brucelose canina foi descrita em 1966, por
Carmichael, nos Estados Unidos da América durante episódios de abortamento em canis da raça
Beagle em diversos estados americanos. Sendo
isolado de tecidos fetais e placentários, um microrganismo cujas características de cultivo, bioquímicas e sorológicas indicavam ser um microrganismo do gênero Brucella, e verificando-se que
o mesmo apresentava características distintas
das demais espécies do gênero Brucella já descritas, sendo designado Brucella canis (CARMICHAEL, 1966; JONES et al., 1968; MOORE,
1969).
No Brasil, a brucelose canina foi descrita primariamente em 1977 por Godoy e colaboradores, no estado de Minas Gerais, isolando a bactéria de uma cadela com histórico de abortamento
e reagente a prova de soroaglutinação lenta
(SAL) (GODOY et al., 1977).
A brucelose canina é causada pela Brucella
canis, um cocobacilo Gram-negativo que tem
morfologia colonial irregular que o distingui
das demais espécies de Brucellas. Caracteriza-se
como doença infectocontagiosa crônica e é considerada uma zoonose. A transmissão envolve o
contato direto com o microrganismo que é capaz
de penetrar em qualquer mucosa, sendo a oral,
conjuntival e vaginal as mais importantes. As fêmeas transmitem a doença durante o estro, no
momento da cobertura, por via transplacentária,
após o aborto, leite e urina. Sendo, aerossóis advindos do material abortivo a principal via de E T I O L O G I A
infecção, devido à presença de grande quantidaO gênero Brucella é constituído por bactérias
de de microrganismos (CARMICHAEL & KEN- intracelulares facultativas, com seis espécies re-
8
Stephânia K. M. MÉLO et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
conhecidas, cada uma acomete um hospedeiro
preferencial, sendo assim, identificadas conforme seu hospedeiro, características morfológicas, propriedades metabólicas, sorotipagem e
fenotipagem (ALTON et al., 1976). As espécies
do gênero Brucella são bastante sensíveis aos
desinfetantes comuns, à luz e a dessecação. Em
cadáveres ou tecidos contaminados enterrados,
podem resistir vivas por um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou
em regiões quentes, um a dois meses em clima
frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em
regiões quentes (CORRÊA & CORRÊA,1992).
A B. canis causa uma enfermidade infecto-contagiosa crônica, reconhecida como pequeno
(1,0 - 1,5 µm) cocobacilo, Gram negativo, aeróbico, imóvel, não esporulado e não encapsulado,
que se distingue de outros do gênero Brucella,
por apresentar colônias com morfologia rugosa
e aspecto mucóide, e características bioquímicas
próprias (CARMICHAEL & SHIN, 1996; CARMICHAEL & GREENE, 1998; WANKE, 2004).
fenotipagem (ALTON et al., 1976). As espécies
do gênero Brucella são bastante sensíveis aos
desinfetantes comuns, à luz e a dessecação. Em
cadáveres ou tecidos contaminados enterrados,
podem resistir vivas por um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou
em regiões quentes, um a dois meses em clima
frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em
regiões quentes (CORRÊA & CORRÊA,1992).
A B. canis causa uma enfermidade infecto-contagiosa crônica, reconhecida como pequeno
(1,0 - 1,5 µm) cocobacilo, Gram negativo, aeróbico, imóvel, não esporulado e não encapsulado,
que se distingue de outros do gênero Brucella,
por apresentar colônias com morfologia rugosa
e aspecto mucóide, e características bioquímicas
próprias (CARMICHAEL & SHIN, 1996; CARMICHAEL & GREENE, 1998; WANKE, 2004).
INCIDÊNCIA
Dados sobre a ocorrência de B. canis no estado de São Paulo são pontuais e em sua maioria
baseados em exames sorológicos. Observa-se na
I M P O R TÂ N C I A
tabela 1, uma ocorrência variando entre 3,61%
O gênero Brucella é constituído por bactérias e 41%, de acordo com a população de cães exaintracelulares facultativas, com seis espécies re- minados, e do método diagnóstico utilizado.
conhecidas, cada uma acomete um hospedeiro
preferencial, sendo assim, identificadas confor- T R A N S M I S S Ã O
me seu hospedeiro, características morfológiA transmissão ocorre, geralmente, pela ingescas, propriedades metabólicas, sorotipagem e
TABELA 01
Ocorrência da Brucelose canina causada por Brucella canis na cidade de São Paulo de acordo com métodos
sorológicos e/ou bacteriológicos de diagnóstico.
Autores
Número de Animais
Procedência dos Cães
Positivos
Diagnóstico Utilizado
Sandoval et al., 1976
221
Errantes
8 (3,61%)
SAL
Larsson et al., 1981
27
Canis e Errantes
Cortes et al., 1988
3386
Canis e Errantes
Keid et al., 2004a
171
Canis
Keid et al., 2004b
139
Canis
5 (18,51%)
SAL
3 (11,12%)
HEMOCULTURA
254 (7,5%)
IDGA
58 (33,91%)
IDGA
24 (14,03%)
HEMOCULTURA
5 (41%)
HEMOCULTURA
SAL: Soroaglutinação lenta. IDGA: Imuno difusão em gel de Agar.
Brucelose Canina: revisão de literatura
9
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
tão ou inalação de microorganismos presentes
em tecidos fetais abortados, descargas vaginais
do parto ou do abortamento, assim como em
urina. A transmissão venérea pode ocorrer tanto
do macho para a fêmea, devido à eliminação do
agente no sêmen, quanto da forma inversa, uma
vez que as descargas vaginais de fêmeas infectadas durante o estro também possuem altas concentrações do microorganismo (JOHNSON &
WALKER, 1992; CARMICHAEL & GREENE,
1993; MIRANDA et al., 2005).
Segundo Organização Internacional de Epizootias (OIE, 2005), entre os animais, a Brucella é geralmente transmitida pelo contato com a
placenta, feto, fluidos fetais e descargas vaginais
de animais infectados. Os animais são infectados após um abortamento ou parto completo. A
bactéria pode ser encontrada no sangue, urina,
leite ou sêmen; produzida no leite e sêmen, pode
ter sua vida prolongada. A brucelose pode ser
transmitida por fômites,e em condições de alta
umidade, baixa temperatura e se luz solar, os microorganismos podem se tornar resistentes por
muitos meses na água, fetos abortados, esterco,
pêlos, fenos, equipamentos e roupas.
Nos cães, as principais portas de entrada da
bactéria compreendem principalmente as mucosas oronasal, genital e conjuntival (CARMICHAEL & GREENE, 1998). Infecções
experimentais já foram induzidas pelas vias intravenosa, subcutânea, intraperitoneal e intravaginal (MEYER, 1983).
A infecção oral é a mais frequente e a dose
mínima infectante por esta via é de cerca 106 microrganismos, enquanto a dose mínima infectante por via conjuntival é 104 a 105 microrganismos. A dose infectante mínima por via venérea
é desconhecida (CARMICHAEL & GREENE,
1998).
A eliminação pelo sêmen é decorrente da presença de microrganismos na próstata e no epidídimo. A quantidade de bactérias isoladas a partir
do sêmen em cães infectados é alta nas primeiras
10
Stephânia K. M. MÉLO et al.
seis a oito semanas pós-infecção. Entretanto, a
eliminação intermitente do organismo em baixas
concentrações, foi relatada por até 60 semanas
pós-infecção, podendo continuar por até dois
anos (JOHNSON & WALKER, 1992; CARMICHAEL & GREENE, 1993).
As fêmeas podem, também, excretar as brucelas pelo leite, ainda que em pequena concentração e com pouca importância na infecção dos filhotes, uma vez que normalmente, estes animais
já foram infectados intra-uterinamente (CARMICHAEL & GREENE, 1998). Contrariamente, Johnson e Walker (1992) consideram o leite
como importante via de transmissão, decorrente
do potencial de dispersão do microrganismo no
meio ambiente.
A transmissão da bactéria por fômites, utilização de vaginoscópio e seringas contaminadas,
assim como da realização de transfusões sanguíneas e inseminações artificiais, com sangue ou
sêmen de animais infectados, já foram relatadas
(CARMICHAEL & GREENE, 1998).
A eliminação da bactéria pela urina tem início
uma a quatro semanas depois do início da bacteremia e persiste por pelo menos 18 semanas.
Portanto, as tentativas de isolamento da urina
neste período geralmente produzem resultado
positivo (JOHNSON & WALKER, 1992).
PAT O G E N I A
A infecção pode ocorrer através das membranas mucosas (oral, ocular, nasal e genital). Após
a penetração no organismo, o agente é fagocitado por macrófagos ou outras células fagocitárias, transportado para órgãos genitais e linfonodos, desenvolvendo linfadenopatia transitória
e no interior dos leucócitos realiza bacteremia
(JOHNSON e WALKER, 1992; CARMICHAEL
& GREENE, 1998).
Durante a fase de bacteremia ocorre disseminação bacteriana por todo o organismo do hospedeiro, mas preferencialmente para tecidos ricos
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
em esteróides gonadais e em células reticuloendoteliais como baço, fígado, linfonodos, medula
óssea, útero de fêmeas gestantes, próstata, epidídimos e testículos. Outros sítios de localização
são os rins, circulação dos discos intervertebrais,
meninges e câmara anterior dos olhos (CARMICHAEL, 1979; GREENE, 1995). Uma vez cessada a bacteremia, esses tecidos podem constituir
sítios de persistência bacteriana, caracterizando
a fase crônica da infecção (JOHSON & WALKER, 1992; GREENE, 1995; CARMICHAEL &
SHIN, 1996).
Após a bacteremia, títulos de anticorpos persistentes e não protetores contra B. canis começam a ser detectados, a resposta imune é predominantemente celular. Entretanto, parecem ter
pouca influência sobre a bacteremia e o número
de microrganismos encontrados nos tecidos (figura 1) (WANKE, 2004).
inaparentes (ETTINGER, 1992). A B. canis infecta o útero nas fêmeas prenhes e coloniza as
células epiteliais placentárias, resultando em
morte embrionária ou fetal, abortamentos tardios no terço final da gestação, podendo ocorrer retenção de placenta e/ou corrimento vaginal
persistente. Algumas fêmeas podem apresentar
vários abortamentos consecutivos. Em alguns
casos, podem levar a gestação a termo com nascimento de natimortos, filhotes fracos que morrem em poucos dias, ou filhotes aparentemente
sadios, exceto pela bacteremia persistente e o
enfartamento de linfonodos, que geralmente é o
único sinal clínico da infecção até a maturidade
sexual (JOHNSON & WALKER, 1992; CARMICHAEL & GREENE, 1998; WANKE, 2004).
As cadelas infectadas não prenhes comumente não mostram sinais de infecção, mas podem
eliminar o microrganismo na urina e secreções
vaginais por período de tempo variável (JOHNSON & WALKER, 1992).
SINAIS CLÍNICOS
As manifestações clínicas de brucelose mais
Em sua maioria, as infecções por B. canis são
FIGURA 01
Patogenia da brucelose canina.
URINA
SECREÇÃO VAGINAL
MUCOSA ORONASAL E CONJUNTIVA
SÊMEN
MUCOSA GENITAL
FAGOCITOSE
(LINFONODOS)
BACTEREMIA
DISCO INTERVERTEBRAL
OLHOS
TRATO GENITAL
FÊMEA
ÚTERO
OVÁRIO
MACHO
EPIDÍDIMO
PRÓSTATA
Brucelose Canina: revisão de literatura
11
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
frequentes nos machos, são as epididimites e
prostatites severas. A epididimite desenvolve-se
cerca de cinco semanas pós-infecção. Durante a
fase aguda da doença, o testículo e o epidídimo
aumentam de tamanho, e este último torna-se
sensível devido à presença de fluido serosanguinolento na túnica albugínea. O epidídimo diminui de tamanho na fase crônica da infecção,
apresentando consistência firme e geralmente há
atrofia epididimária (CARMICHAEL & GREENE, 1993, WANKE, 2004).
A dermatite e o edema escrotal são resultados
do hábito frequente de lamber o escroto. Orquites e aumento dos testículos raramente ocorrem
na fase aguda, mas os machos cronicamente infectados desenvolvem atrofia testicular uni ou
bilateral (CARMICHAEL & GREENE, 1993,
WANKE, 2004).
Danos testiculares desenvolvidos pela ação
direta da bactéria, iniciam uma resposta auto-imune contra os espermatozóides e determinam
distúrbios na espermatogênese, alterações da
morfologia e redução na motilidade dos espermatozóides, presença de células inflamatórias e
redução de volume do ejaculado. Acredita-se que
este fenômeno auto-imune, esteja envolvido na
patogenia da esterilidade, que geralmente ocorre nas infecções crônicas. Independentemente do
desenvolvimento da esterilidade, os cães continuam excretando a bactéria no fluido seminal
(CARMICHAEL & GREENE, 1993, WANKE,
2004).
Ocasionalmente, B. canis infecta outros tecidos além do linforeticular e reprodutivo, podendo ocorrer hepato e esplenomegalia, uveítes,
discoespondilites, osteomielites, meningites, glomerulonefrites e dermatites piogranulomatosas
(SOUZA et al., 2003).
Relata-se recuperação espontânea da infecção entre um e cinco anos pós-infecção (CARMICHAEL, 1990). Animais que se recuperaram
da infecção apresentam títulos aglutinantes baixos ou ausentes e podem apresentar-se imunes
12
Stephânia K. M. MÉLO et al.
à re-infecção (CARMICHAEL, 1990; GREENE,
1995).
Mesmo sendo uma doença sistêmica, raramente cães adultos manifestam sinais clínicos
sistêmicos severos, sendo o principal problema à
ocorrência de prejuízos no desempenho reprodutivo (JOHNSON & WALKER, 1992).
A presença dos sinais clínicos é sugestiva da
infecção, mas o único método definitivo para o
diagnóstico da brucelose em cães é o isolamento
bacteriano do agente que fornece diagnóstico definitivo quando a bactéria é isolada. Entretanto,
é demorado, e resultados negativos na cultura,
decorrentes de pequena quantidade de microorganismos viáveis ou contaminação da amostra,
não eliminam a possibilidade de infecção (WANKE, 2004).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é sugerido pela história clínica,
por anormalidades no sêmen e relativa ausência
de anormalidades físicas. Todavia, o diagnóstico
definitivo consiste no isolamento do microorganismo, caracterizando-se como método que
consome muito tempo e por isso pouco prático
como teste de rotina em animais assintomáticos.
O sucesso do diagnóstico ainda depende da escolha do material a ser cultivado (NELSON &
COUTO, 2001).
DIAGNÓSTICO DIRETO
O cultivo microbiológico do agente é considerado o método definitivo e direto (figura 2) para
o diagnóstico da infecção por Brucella canis
(MOORE, 1969; CARMICHAEL, 1976).
O microorganismo pode ser isolado a partir
da cultura do sangue, aspirado de medula óssea, sêmen, secreção vaginal, urina, leite, humor
aquoso, órgãos como o fígado, baço, linfonodos,
útero, ovário, próstata, epidídimo, testículo ou
ainda líquido amniótico, placenta, rins, fígado,
baço, pulmão e fluidos pleurais de fetos aborta-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
dos (JOHNSON & WALKER, 1992, WANKE,
2004).
O sangue é a melhor amostra a ser cultivada
na tentativa de isolamento, uma vez que nos cães
a bacteremia é prolongada. Após uma a quatro
semanas da infecção, o agente já pode ser isolado na hemocultura, persistindo por no mínimo
seis meses e de forma intermitente pode durar
até 64 meses ou mais. Porém, em animais cronicamente infectados a bacteremia pode estar
ausente impossibilitando o isolamento (JOHNSON & WALKER, 1992, WANKE, 2004).
A cultura da descarga vaginal no período
imediatamente após o abortamento ou durante
o estro é o mais indicado para tentativa de isolamento do agente nas cadelas (JOHNSON &
WALKER, 1992), uma vez que estas descargas
podem conter elevadas concentrações da bactéria por até seis semanas pós-abortamento (CARMICHAEL & KENNEY, 1970; CARMICHAEL
& GREENE, 1998).
As culturas de urina e sêmen podem ser úteis
para o diagnóstico, mas se colhidas isoladamente não são confiáveis, uma vez que um resultado
negativo não exclui a possibilidade de infecção
(GREENE, 1995).
A cultura de sêmen realizada entre três e onze
semanas pós-infecção revela quantidade muito
elevada de microorganismos. Depois de 12 semanas a quantidade de microorganismos eliminados começa a diminuir até tornar-se praticamente negativa após 60 semanas (JOHNSON &
FIGURA 02
WALKER, 1992).
Keid (2001) concluiu que o cultivo de sêmen e
swab vaginal não apresentam valor para o diagnóstico laboratorial da brucelose canina por B.
canis visto que foi pequeno o número de isolamentos obtidos nestes materiais.
Segundo Paulin (2003), em meio sólido e condições ideais, uma cultura leva de três a sete dias
para a visualização das colônias, embora se recomende a incubação por no mínimo três semanas.
As colônias são pequenas, translúcidas, brilhantes, convexas, de bordos arredondados e bem
definidos e, geralmente, de coloração leitosa. À
microscopia óptica comum apresentam-se isoladas, aos pares ou em pequenos grupos.
DIAGNÓSTICO INDIRETO
Em função das dificuldades do isolamento do
agente, diferentes tipos de diagnósticos sorológicos foram desenvolvidos, variando em sensibilidade, especificidade e complexidade (WANKE,
2004).
Anticorpos não protetores, produzidos contra
antígenos da parede celular e do citoplasma da B.
canis, podem ser detectados com oito a 12 semanas pós-infecção. Os títulos de anticorpos permanecem altos enquanto persiste a bacteremia.
Quando a bacteremia torna-se intermitente, os
títulos de anticorpos declinam e podem tornar-se duvidosos ou negativos, enquanto o microrganismo ainda persiste nos tecidos. Em alguns
Mecanismo do diagnóstico direto da Brucelose Canina.
POSITIVO
HEMOCULTURA
NEGATIVO
RETESTAR EM UM MÊS
Brucelose Canina: revisão de literatura
13
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
casos, há flutuações nos títulos de anticorpos na
presença ou na ausência de bacteremia (JOHNSON & WALKER, 1992).
Resultados falso-positivos podem acontecer
em decorrência da reatividade cruzada com outros microrganismos, uma vez que alguns determinantes antigênicos da parede celular da B. canis podem ser semelhantes aos de Brucella ovis,
Brucella abortus, espécies mucóides de Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus sp. e Bordetella bronchiseptica. (GREENE, 1995; CARMICHAEL & SHIN, 1996).
Resultados falso-negativos podem ocorrer nas
primeiras quatro semanas pós-infecção uma vez
os testes falham em detectar os anticorpos produzidos nesta fase e em outras fases da doença,
por flutuações nos títulos de anticorpos (JOHNSON & WALKER, 1992; MEGID et al., 2000).
O sorodiagnóstico da brucelose canina pode
ser realizado empregando-se as seguintes provas: soroaglutinação rápida (SAR), soroaglutinação lenta (SAL), imunodifusão em gel de ágar
(IDGA) e ensaio imunoenzimático (ELISA).
Pelas características de especificidade moderada da sorologia e da baixa sensibilidade do
isolamento, nenhum deles é, sozinho, adequado
para o diagnóstico de todos os casos de brucelose (FLORES-CASTRO & CARMICHAEL,
1978). Desta maneira é interessante associá-los e
tentar descobrir em que fase da doença o animal
se encontra, uma vez que em cada fase haverá
maior probabilidade da bactéria ser isolada em
determinada amostra (JOHNSON & WALKER,
1992).
S O R O AG LU T I N AÇÃO R Á P I DA
A SAR (figura 3), além de rápida, é sensível
e costuma ser utilizada como procedimento de
triagem, por detectar anticorpos precocemente,
com aproximadamente seis semanas após o início da bacteremia, até um período máximo de
três meses após a mesma (GEORGE & CARMI-
14
Stephânia K. M. MÉLO et al.
CHAEL, 1978; JOHNSON & WALKER, 1992).
Ao realizar o teste, e o resultado der positivo,
haverá grande probabilidade de que o animal
seja doente, uma vez que a brucelose é doença
crônica. Quando a prova é suspeita, deve ser repetida um a dois meses após. Caso se mantenha
o mesmo título, ou o título diminua, a prova e
o animal serão julgados negativos, ou seja, sem
brucelose (CORREA & CORREA, 1992).
É considerada altamente acurada na identificação dos cães não infectados, existindo alta
correlação entre teste negativo e ausência de
infecção. Como outras bactérias podem ter determinantes antigênicos semelhantes aos da B.
canis, podem ocorrer resultados falso-positivos,
por reações cruzadas com anticorpos produzidos
contra estes microrganismos (CARMICHAEL,
1969; JOHNSON & WALKER, 1992; CARMICHAEL & GREENE, 1993; GREENE, 1995;
CARMICHAEL & SHIN, 1996).
T R ATA M E N TO
O tratamento com antibiótico é difícil, devido
à natureza intracelular da B. canis, e todos os
animais infectados devem ser considerados
como potenciais portadores por toda a vida,
pois, os títulos de anticorpos declinam após o
tratamento, mas podem permanecer em níveis
significativos durante seis semanas após ter sido
após o microorganismo ser eliminado da corrente
sanguínea, mas os títulos aumentam novamente,
se vier a ocorrer recidiva da infecção mesmo após
de finalizado o tratamento (CARMICHAEL &
GREENE, 1998).
Em geral há declínio da bacteremia e dos títulos de anticorpos séricos com o início da antibioticoterapia. Muitas vezes não há retorno da
bacteremia, mas o microorganismo persiste em
determinados órgãos (JOHNSON & WALKER,
1992).
Como a possibilidade de êxito com o tratamento é incerta e os animais se tornam uma fon-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
FIGURA 03
Mecanismo do diagnóstico direto da Brucelose Canina.
HEMOCULTURA
POSITIVO
POSITIVO
PCR
SAR - 2ME
NEGATIVO (RETESTAR)
NEGATIVO
te de infecção para outros cães e pessoa, o tratamento não é recomendado, pois os cães tratados
estarão sempre susceptíveis a reinfecção. A tabela x demonstra os efeitos da antibioticoterapia.
Caso o tratamento seja realizado, os animais infectados devem ser esterelizados para minimizar
a disseminação (ETTINGER, 1992).
Segundo Wanke (2004), os tratamentos que tiveram relativos sucessos são:
Tetraciclina (30 mg/kg), VO, duas vezes ao dia,
durante 28 dias; Estreptomicina (20 mg/kg), IV,
uma vez ao dia, durante 14 dias. Foram submetidos a esse tratamento 105 cães, desses 81 foram
negativados; Tetraciclina (30 mg/kg), VO, três
vezes ao dia, durante 30 dias; Estreptomicina
(20 mg/kg), IM, nos dias 1 a 7 e 24 a 30. Foram
submetidos a esse tratamento 19 cães, 14 foram
negativados com um ciclo, 2 animais com dois
ciclos e 3 cães foram refratários; Monociclina
(10 mg/kg), duas vezes ao dia; Estreptomicina
(4,5 mg/kg), IM, durante 7 dias consecutivos;
Oxitetraciclina de longa ação (20 mg/kg), IM,
uma vez por semana, durante um mês, associada a Estreptomicina (20 mg/kg), IM, uma vez ao
dia, durante 1 semana. Dos 24 cães tratados 21
foram negativados. Nesse mesmo estudo, não
foram obtidos sucessos com Ampicilina e observou-se bons resultados com 4 semanas de tratamento com enrofloxacina.
RETESTAR EM UM MÊS OU
BIANUALMENTE (CANIL)
PREVENÇÃO E CONTROLE
A prevenção da infecção é particularmente importante nos canis comerciais, já que uma vez
que a infecção é introduzida numa população
canina confinada, sua disseminação ocorre rapidamente, acometendo diversos animais. Exames
bacteriológicos e sorológicos rotineiros devem
ser realizados a cada seis meses, assim como nos
animais previamente ao acasalamento. Novos
animais introduzidos no plantel devem antes
ser submetidos aos exames clínicos e laboratoriais e então devem ser mantidos em quarentena
durante oito a doze semanas, quando os testes
laboratoriais forem repetidos. Os cães que apresentarem sinais clínicos sugestivos de brucelose
não devem ser introduzidos no plantel (WANKE, 2004).
Todos os animais reprodutores devem ser regularmente testados para anticorpo B. canis, antes
de empreender um programa de acasalamento e,
teoricamente, antes de cada acasalamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por ano nos machos.
Em canis todos os animais positivos devem ser
eliminados da reprodução. Um macho reprodutor não deve retornar ao serviço, mesmo após o
tratamento com antibioticoterapia (NELSON &
COUTO, 2001).
Devido ao custo do tratamento e da manutenção de animais inférteis, a redução do status
Brucelose Canina: revisão de literatura
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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 7-17 - janeiro/dezembro, 2013
reprodutivo dos animais, do número de filhotes
que sobrevivem a amamentação e a persistência
da infecção no canil, é muito mais econômico
testar e descartar os animais infectados do que
tentar o tratamento (NELSON & COUTO,
2001).
O controle da brucelose em canis infectados
baseia-se nas seguintes medidas: identificação e
remoção de todos os animais positivos do local,
identificação das vias de transmissão, higienização das instalações, repetição mensal dos exames laboratoriais a fim de identificar todos os
animais positivos e evitar que novos surtos venham ocorrer (CARMICHAEL & SHIN, 1996).
Uma vez que a infecção é confirmada num
plantel, todos os animais devem ser testados sorologicamente e bacteriologicamente, em intervalos mensais para identificação dos positivos
(JOHNSON & WALKER, 1992).
Com relação aos animais de companhia, devem-se ter outras condutas, como tratamento
com antibioticoterapia e a esterilização, pois
terminam com as secreções genitais e a eliminação do microorganismo por essa via, porem, não
excluem a possibilidade de o animal permanecer como fonte de infecção para outros cães e
até mesmo para pessoas de seu convívio (HOLLETT, 2006).
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Brucelose Canina: revisão de literatura
17
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
Estudo de casos de aborto em
caprinos e ovinos no estado de
Pernambuco, Brasil
Márcia de Figueiredo PEREIRA1; Rinaldo Aparecido MOTA1, Rodolfo de
Moraes PEIXOTO2 ; Rosa Maria PIATTI3.
RESUMO
Professor Adjunto
do Departamento de
Medicina Veterinária
da UFRPE. Av. Dom
Manoel de Medeiros,
s/n, Dois Irmãos, Recife,
Pernambuco. E-mail:
marcia.pereira@dmv.
ufrpe.br
2
Médico Veterinário.
3
Pesquisadora do
Instituto Biológico de São
Paulo
1
Foram estudadas causas infecciosas de aborto em fetos caprinos e ovinos,
em especial Aborto Enzoótico Ovino, Toxoplasma gondii e brucelose, no
Estado de Pernambuco, Brasil. Utilizou-se 23 amostras de fetos, natimortos e neonatos procedentes de criatórios, a partir de 8 semanas de gestação,
incluindo um neonato. Os fetos apresentavam-se em estado de autólise variável e 4 estavam em processo de mumificação. Os achados mais comuns
foram: líquido serosanguinolento na cavidade torácica (17 - 73,91%),
edema subcutâneo (10 - 43,48%), líquido serosanguinolento na cavidade
abdominal (7 - 30,43%), no saco pericárdico (9 - 39,13%) e hemorragia
subcutânea (8 - 34,78%). O achado histopatológico mais freqüente foi a
reação do endotélio vascular, observada no pulmão (9/39,13%), além de
coração, fígado, rim, baço e cérebro. Somente um feto (4,35%) apresentou
lesões características de toxoplasmose. As amostras submetidas ao PCR
foram negativas para Chlamydophila spp. No exame microbiológico das
secreções vaginais foram identificadas Streptococcus spp. e Escherichia
coli em uma matriz caprina e Staphylococcus spp. em outra. Não se isolou
Brucella sp em nenhuma das amostras estudadas. A ausência da placenta
na maior parte dos fetos examinados e o avançado estado de autólise dos
fetos dificultaram o diagnóstico das causas de abortamento.
PA L AV R A S - C H AV E
Aborto, caprinos, ovinos, anatomia patológica, PCR.
ABSTRACT
Abortion in sheep and goats in Pernambuco State, Brazil - case study
18
Infectious causes of abortion associated to reproductive disorders in goat and sheep foetus were studied, in the State of Pernambuco, Brazil. Samples of 23 foetus, stillborn and
newborn were pro­cedent from goat and sheep raising flocks, from 8 of gestation, including a two weeks old newborn. Most foetus were autolized, and 4 (17.39%) were in
mummifying process. The most frequent find­ings were the presence of serohaemorhagic fluid in the thoracic cavity (17/73.91%), subcutaneous oedema (10/43.48%), presence of serohaemorhagic fluid in the abdominal cavity (7/30.43%), in the pericardic sac
(9/39.13%) and subcutaneous hemorrhageae (8/34.78%). Histopathologic find­ings included endotelium vascular reaction in the lungs (9/39.13%), but also in the heart, liver,
kid­ney, spleen and brain. Only one embryo (4.35%) presented characteristic injuries of
toxoplasmosis. All samples sent for PCR were negative for Chlamydophila spp. Microbiological examination of vaginal secretions identified Streptococcus spp. and Escherichia
coli in a goat matrix. In another one, the isolation of Staphylococcus spp. was possible.
Brucella sp was not isolated in any sample. Absence of placenta and advanced autolysis
in most foetus made difficult diagnosing the causes of abortion.
KEYWORDS
Abortion, goat, sheep, anatomopathology, PCR
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
INTRODUÇÃO
A criação de ovinos e caprinos no Nordeste, apesar de representar uma importante atividade econômica, ainda apresenta um baixo
desempenho produtivo e reprodutivo (Barros,
2004) em decorrência da falta de organização
dos criadores, assistência técnica especializada e
da precariedade do manejo higiênico-sanitário,
acarretando sérios problemas sanitários (Vieira
et al., 1998). O abortamento tem sido relacionado como uma importante falha reprodutiva,
com uma taxa de 13,0 a 45,3%, capaz de causar
grandes perdas econômicas (Silva e Silva, 1983;
Leal et al., 1992; Poudevigne et al, 1988; Pinheiro et al., 2000). Contudo, ainda são escassos os
trabalhos referentes às suas causas no Brasil.
As causas de aborto em ovinos e caprinos são
numerosas e incluem agentes infecciosos como
o Toxoplasma gondii, Chlamydophila abortus,
Brucella spp., Coxiella burnetii, Listeria monocytogenes, Campylobacter spp., Salmonella sp.,
Leptospira sp. e vírus Border, entre outros (Nascimento e Santos, 2003; Pérez et al., 2003; Mobini et al., 2004).
O objetivo deste trabalho foi estudar as causas infecciosas de aborto associadas a distúrbios
reprodutivos em fetos caprinos e ovinos do Estado de Pernambuco no Estado de Pernambuco,
Brasil.
M AT E R I A L E M É TO D O
As amostras utilizadas eram provenientes de
propriedades do estado de Pernambuco. Foram
utilizadas 23 amostras de fetos, natimortos e
neonatos encaminhados ao DMV/UFRPE para
diagnóstico. Os procedimentos de necropsia dos
fetos e coleta de material foram executados de
acordo com Perez et al. (2003).
Para estimar a idade dos fetos, natimortos e
neonato, da espécie caprina, utilizou-se a fórmula CCC, onde 28,8 + 0,37. X = idade em dias,
sendo X a medida da base do crânio a base da
cauda (Souza, 2000). Para ovinos, a idade foi estimada, baseando-se em uma tabela descrita por
Schwarze (1970). Também foram utilizadas as
características de desenvolvimento cronológico
descritas por Sivachelvan et al. (1996) para determinação da idade em semanas para ovinos e
caprinos.
Durante a necropsia, foram coletados fragmentos de cérebro, cerebelo, pulmão, coração,
baço, fígado, rim e placenta, quando disponível.
As amostras foram fixadas em solução de formalina a 10% tamponada. Posteriormente, o material foi recortado e submetido à técnica rotineira
de desidratação, diafanização e inclusão em parafina. Os blocos foram então cortados em micrótomo a 4μm, as lâminas foram coradas pela
hematoxilina-eosina (Prophet et al., 1992).
Os achados histológicos foram classificados
como ausentes, lesões não relacionadas, consistentes ou características para Toxoplasmose
(Bueno et al., 2004) e clamidiose.
As amostras de cérebro, pulmão, coração, fígado, baço, rim e placenta foram colocadas em
tubos de ependorf, congeladas e encaminhadas
ao Laboratório de Doenças Bacterianas da Reprodução do Instituto Biológico de São Paulo
para detecção de Chlamydophila abortus pela
técnica de Polimerase Chain Reaction (PCR)
(OIE, 2000).
Algumas propriedades de onde os fetos haviam
sido enviados foram visitadas e foram realizados exames clínicos, de acordo com Rosenberger (1993), em quatro ovelhas e 15 cabras com
histórico de problemas reprodutivos. Também
se coletou, em três cabras secreção vaginal purulenta, utilizando-se swabs estéreis que foram
posteriormente encaminhados sob refrigeração
ao Laboratório de Doenças Bacterianas do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco para a realização de exames microbiológicos, para fins de
diagnóstico diferencial.
Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]
19
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
As amostras para PCR (aproximadamente 2
gramas de cada fragmento de rim, coração, pulmão, fígado e baço) foram macerados conjuntamente no homogeneizador de forma a obter-se
um “pool”. Este foi ressuspendido em tampão
Tris-EDTA 0,1M pH 7.4 e armazenados a –20oC
até o momento da extração do DNA. Placenta,
carúncula, conteúdo torácico e conteúdo abdominal foram homogeneizados separadamente
(OIE, 2000).
A extração do DNA foi realizada utilizando o
reagente comercial DNAzol (Invitrogen) e o protocolo adaptado de Chomczynski (1993). Para
diagnóstico da Chlamydophila spp., oligonucleotídeos iniciadores (primers) foram utilizados
– região conservada do gene que codifica para a
proteína omp-2 (Proteína de membrana externa
– 60 KDa – rica em cisteínas), que corresponde
a um fragmento de aproximadamente 587 pares
de bases (Hartley et al., 2001).
CH1- 5’ ATG TCC AAA CTC ATC AGA CGA G 3’
CH2- 5’ CCT TCT TTA AGA GGT TTT ACC CA 3’
Como controle positivo da reação foi utilizada a amostra de Chlamydophila abortus S26/3.
Como controle negativo da reação foi utilizada
a mistura da reação da PCR sem DNA, contendo
10μL de água ultra-pura (OIE, 2000).
O material proveniente da secreção vaginal
foi cultivado em ágar base enriquecido com 8%
de sangue ovino, ágar Levine e ágar Brucella.
As placas foram incubadas a 37ºC em aerobiose e microaerofilia, respectivamente por 24 a 72
horas. As colônias bacterianas isoladas foram
estudadas quanto aos aspectos morfológicos e
tintoriais pela técnica de coloração de Gram e
identificadas utilizando-se provas bioquímicas
(Carter, 1986).
RESULTADO S E DISCU SSÃO
Foram examinados 23 fetos, sendo 21 abor-
20
Márcia de Figueiredo PEREIRA et al.
tos, um natimorto e um neonato. Destes, 18
(78,26%) eram caprinos e cinco (21,74%)
ovinos. Onze (47,83%) eram machos e doze
(52,17%) fêmeas. Os fetos mediam entre 50 e
435 mm, com média de 285,22 mm e idade estimada de 47 a 184 dias. Na espécie ovina, houve
variação entre 405 e 435mm, correspondente às
idades 126 e 133 dias, respectivamente. Todos os
fetos examinados tinham acima de 8 semanas de
gestação, sendo que 14 (60,9%) tinham entre 8 e
16 semanas, 8 (34,8%) tinham mais de 16 semanas e um neonato com duas semanas de nascido.
Entre os fetos com mais de 16 semanas de gestação, um encontrava-se completamente formado
e a termo (Tabela 1).
Estes achados estão de acordo com o que foi
observado por Engeland et al. (1998) que relataram perdas fetais após os 90 dias de gestação em
caprinos. No presente trabalho, de 21 abortos
examinados, 20 (95,23%) tinham mais de 12 semanas de idade (Tabela 1).
No estado da Paraíba, as mortes perinatais
foram estudadas e se observou que em cabritos
e borregos, respectivamente, somente 1,69% e
4,44% ocorreram antes do parto e 16,94% e
10,0% ocorreram durante o parto. Acredita-se,
no entanto, que os abortos sejam subestimados,
pois são observados com freqüência nas propriedades da região (Medeiros et al., 2005; Nóbrega
Jr et al., 2005).
Ao exame macroscópico, a aparência dos animais foi classificada de acordo com o estado de
conservação, sendo um (4,35%) considerado
fresco, 4 (17,39%) parcialmente autolisados, 14
(60,87%) muito autolisados e 4 (17,39%) em
processo de mumificação (Tabela 1). Estes números, embora a amostra não seja considerável,
aproximam-se do que foi relatado por Engeland
et al. (1998) que examinaram abortos em rebanhos caprinos na Noruega e relataram que 16%
dos fetos apresentavam aparência fresca, 19%
estavam mumificados em diferentes graus e 65%
estavam decompostos.
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TABELA 01
Número dos fetos, natimortos e neonatos com respectiva espécie, sexo, tamanho, idade
em dias e em semanas e aparência.
Feto
Espécie
Sexo
Medida (mm)1
Idade (dias)2
Idade (semanas)3
Aparência
1
caprino
macho
235
116
12 a 13
Autolisado
2
caprino
fêmea
230
114
13 a 14
Autolisado
3
caprino
macho
265
127
13 a 14
pouco autolisado
4
caprino
macho
290
136
15 a 16
pouco autolisado
5
caprino
macho
350
158
17 a 20
Autolisado
6
caprino
fêmea
365
164
17 a 20
Autolisado
7
caprino
macho
275
130
15 a 16
Autolisado
8
caprino
fêmea
380
169
17 a 20
Autolisado
9
caprino
macho
370
166
16 a 17
Autolisado
10
caprino
macho
350
158
17 a 20
Autolisado
11
ovino
macho
435
133
17 a 20
pouco autolisado
12
ovino
fêmea
405
126
17 a 20
Autolisado
13
caprino
fêmea
400
-
02
fresco
14
caprino
fêmea
270
129
14 a 15
Autolisado
15
caprino
fêmea
250
121
14 a 15
Autolisado
16
caprino
fêmea
160
88
12 a 13
mumificado
17
caprino
ND
140
81
12 a 13
mumificado
18
caprino
fêmea
170
92
12 a 13
mumificado
19
caprino
macho
50
47
8a9
pouco autolisado
20
ovino
fêmea
215
108
13 a 15
mumificado
21
ovino
fêmea
270
129
14 a 15
Autolisado
22
ovino
macho
420
184
20 a 22
Autolisado
23
caprino
macho
265
127
13 a 14
Autolisado
Medida entre a base da nuca e a base da cauda.
Idade estimada pela fórmula CCC (28,8 + 0,37.X = Idade em dias)
3
Idade estimada pelo desenvolvimento do feto, segundo Sivachelvan et al. (1996).
1
2
Os processos infecciosos septicêmicos, como
os causados por Salmonella sp. ou Listeria sp.,
produzem degeneração, autólise e edemaciação dos fetos (Pérez et al., 2003). No entanto,
a autólise observada na maioria dos animais
examinados neste trabalho deve ser atribuída à
demora na colheita e envio ao laboratório e má
conservação dos fetos. Este é um fator limitante
no diagnóstico das causas de aborto.
Na Tabela 2, estão resumidas as alterações
macroscópicas observadas nos animais. O achado mais comum foi a presença de líquido sero-
sanguinolento na cavidade torácica, observado
em 17 (73,91%) fetos, seguido do edema subcutâneo, verificado em 10 (43,48%) fetos. A presença de líquido serosanguinolento na cavidade
abdominal e no saco pericárdico e a hemorragia
subcutânea foram observadas em 7 (30,43%), 9
(39,13%) e 8 (34,78%) animais, respectivamente.
O fígado apresentou-se friável em 6 (35,29%)
fetos caprinos como também em um (20,0%)
ovino. De acordo com Riet-Correia & Mendez
(2003), a presença de líquido sero-hemorrági-
Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]
21
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
Achados de necropsia em fetos, natimortos e neonatos ovinos e caprinos, Recife, PE, 2006.
TABELA 02
N
ES1
LCT2
1
x
x
2
x
x
LCA3
LP4
HS5
HC6
HP7
Con8
Pne9
LH10
Mum11
x
3
x
4
5
x
6
x
x
x
x
x
x
x
x
7
x
x
x
8
x
x
x
9
x
x
10
x
x
x
11
x
x
x
x
x
x
x
x
12
x
13
14
x
x
15
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
16
x
17
x
18
x
x
19
x
20
21
S/A12
x
x
x
x
x
22
x
x
23
x
x
x
x
x
10
17
7
9
8
43,48% 73,91% 30,43% 39,13% 34,78%
1
4,35%
1
4,35%
2
8,70%
2
8,70%
1
4,35%
4
17,39%
2
8,70%
ES = Edema subcutâneo; 2 LCT = Líquido na cavidade torácica; 3 LCA = Líquido na cavidade abdominal; 4 LP = Líquido pericárdico;
HS = Hemorragia subcutânea; 6 HC = Hemorragia no coração; 7 HP = Hemorragia pulmonar; 8 Con = congestão de órgãos; 9 Pne = pneumonia;
10
LH = lesão hepática; 11 Mum = mumificação; 12 S/A = sem alterações.
1
5
co nas cavidades torácica e abdominal e a autólise, principalmente no fígado e rim, além de
ausência de sinais de viabilidade fetal, indicam
que a morte ocorreu antes do parto. Portanto, a
presença de líquido subcutâneo, nas cavidades e
no pericárdio, pode ser uma alteração pós-morte no feto. Um fluido gelatinoso sanguinolento pode ser evidenciado no tecido subcutâneo
após 96 horas. O hidrotórax é observado entre
24 horas até 144 horas após a morte do feto. A
ascite inicia-se após 16 horas, adquirindo uma
22
Márcia de Figueiredo PEREIRA et al.
coloração hemorrágica por volta das 72 horas e
desaparece após 144 horas (Pérez et al., 2003).
Portanto, estes achados podem estar relacionados a causas infecciosas de abortamento, como
clamidiose, brucelose e campilobacteriose (Jones
et al., 2000). Contudo, não são específicos para
o diagnóstico da causa de aborto nos pequenos
ruminantes.
Ao exame macroscópico, dois (8,7%) cabritos
apresentaram pneumonia (Tabela 2). À histopatologia, foi observado infiltrado inflamatório no
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TABELA 03
N
Achados histopatológicos em pulmão, coração, fígado, rim e baço de fetos, natimortos e
neonatos de caprinos e ovinos, Recife, PE, 2006.
Pulmão
EV
01
Coração
In
EV
X
X
02
X
03
X
04
X
05
X
X
06
X
X
Fígado
EV
X
X
Rim
In
NM
EV
Ci
X
X
Baço
Hi
De
De
EV
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
In
Dp
X
X
X
07
X
X
08
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
09
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
X
X
A
A
A
A
A
A
A
A
A
10
X
11
X
12
A
A
13
X
X
14
X
X
15
A
A
16
X
X
17
A
18
A
A
A
X
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
19
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
20
X
21
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
22
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
23
X
EV = endotélio vascular reativo; Hi = hiperemia; De = alterações degenerativas; In = infiltrado inflamatório; NM = áreas de necrose e mineralização;
Ci = alterações circulatórias; Dp = depleção de células linfóides; A = autólise.
pulmão de oito (34,78%) fetos (Tabela 3). O infiltrado inflamatório é sugestivo de etiologia infecciosa, mas isoladamente é insuficiente para determinar o diagnóstico etiológico (Okana et al.,
2003). Em pequenos ruminantes, a pneumonia
é relatada em fetos abortados em conseqüência
de infecção por Campylobacter ou Leptospira sp
(Jones et al., 2003; Campero et al., 2005; Szeredi
et al., 2006). A presença de problemas pulmonares não é rara como causa de morte em ovinos
e caprinos. Medeiros et al. (2005), examinando
59 cabritos com infecção neonatal necropsiados
na Paraíba, relataram que 12 apresentaram afec-
ções respiratórias (pleurite e broncopneumonia).
Ao exame microscópico, todos os fetos apresentaram algum grau de autólise em pelo menos
uma das amostras colhidas. Em nove (39,13%)
fetos, a autólise foi a única observação possível
à histologia (Tabela 3). Isso acontece nesse tipo
de material devido à morte ocorrer algum tempo
antes do abortamento, como também ao longo
período de tempo que o tratador leva até encontrar os fetos abortados nas pastagens (Okano et
al., 2003).
Com relação aos achados do pulmão foram
Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]
23
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
TABELA 04
N
Achados histopatológicos
no cérebro de fetos,
natimortos e neonatos de
caprinos e ovinos, Recife,
PE, 2006.
Cérebro
1
2
ES
LCT
LCA3
LP4
3
x
x
x
x
4
x
x
6
x
x
7
x
HS5
x
8
9
12
13
x
x
2
5
22
Total
3
1
1
Ci = alterações circulatórias;
EV = endotélio vascular reativo;
3
Mg = reação de células microgliais;
4
Tr = Presença de trombos;
5
NM = áreas de necrose e mineralização.
1
2
*As amostras de encéfalo dos fetos 1, 2, 5, 10, 11,
14 a 21 e 23 não pode ser processado devido ao
avançado estado de autólise.
observadas reação do endotélio vascular, migração leucocitária, edema, hiperemia, pneumonia
intersticial e degeneração da parede vascular, respectivamente em 9/23 (39,13%), 4/23 (17,39%),
1/23 (4,34%), 3/23 (13,04%), 3/23 (13,04%),
5/23 (21,74%). Esta última lesão também foi
encontrada no coração de um caprino. No coração de 3/23 animais foi observada reação do
endotélio vascular. No fígado, observou-se hiperemia, dilatação dos sinusóides, degeneração
de hepatócitos e necrose seguida de calcificação
em 2/23 (8,70%), 2/23 (8,70%), 4/23 (17,39%),
1/23 (4,34%), dos caprinos, respectivamente.
Focos de hematopoese, considerados normais no
feto, também foram vistos no fígado. No baço,
foi visualizado depleção linfóide 2/23 (8,70%),
reação do endotélio vascular 2/23 (8,70%) e infiltrado inflamatório em 2/23 (8,70%). Nos rins
24
Márcia de Figueiredo PEREIRA et al.
foram encontradas áreas de hemorragia na cortical em 1/23 (4,34%), reação do endotélio vascular em 3/23 (13,04%) e degeneração de epitélio
tubular em 1/23 (4,34%).
O achado histopatológico mais comum foi
uma reação do endotélio vascular, observada no
pulmão de nove (39,13%) fetos, mas também
no coração, fígado, rim, baço (Tabela 3) e cérebro (Tabela 4). Onze (47,83%) fetos apresentaram alguma alteração histológica no pulmão,
6 (26,09%) no fígado, 3 (13,04%) no rim, 4
(17,39%) no baço (Tabela 3) e 4 (17,39%) no
cérebro (Tabela 4).
A reação do endotélio vascular e a congestão
encontrada em alguns dos órgãos, não têm muito
significado para diagnóstico devido a sua inespecificidade (Jones et al, 2000). Porém, são eventos
encontrados em processos inflamatórios, sendo,
então, sugestivos de algum tipo de infecção.
Lesões hepáticas foram observadas em seis
(26,08%) amostras, incluindo hiperemia em três
(13,04%), alterações degenerativas em cinco
(21,74%), infiltrado de células inflamatórias em
três (13,04%) e focos de necrose e mineralização
em um (4,34%). Em nove amostras (39,13%), o
fígado já apresentava autólise avançada, impossibilitando a avaliação histológica.
A presença de alterações degenerativas caracterizadas por vacuolização citoplasmática dos
hepatócitos e do epitélio tubular renal foi relatada em fetos normais e foi associada a acúmulo de glicogênio. Este achado é fisiológico e está
relacionado ao desenvolvimento fetal. Por outro
lado, necrose de hepatócitos e de túbulos renais
também é relatada em abortos infecciosos (Okano et al., 2003).
A hepatite necrótica multifocal é uma lesão específica também do aborto por Campylobacter
sp, mas não é uma lesão patognomônica. Alterações semelhantes ocorrem no aborto por Listeria
sp (Kennedy e Miller, 1992).
No rim, além da reação do endotélio vascular
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observada em três animais, alterações circulatórias foram identificadas em um animal. Outras
nove amostras estavam muito autolisadas para
exame histológico.
O rim e o fígado são órgãos que entram em
autólise muito rapidamente, e, portanto, seu
exame histológico é geralmente difícil ou impossível. Apesar disso, é importante realizar o
exame destes órgãos, pois alguns agentes causadores de abortamento podem ser identificados
neles, como a Leptospira sp. e outras bactérias
(Acland, 1998).
A depleção linfóide com reação fagocitária é
um sinal de processo inflamatório, sendo, além
disso, identificada a degeneração de células linfóides e migração e marginação no baço, todos
característicos de inflamação (Jones et al, 2000).
Os centros germinais esplênicos podem apresentar-se hipocelulares em estados hiperimunes,
associados a processos infecciosos. Infecções
maciças causam linfólise das células do centro
folicular, com produção de debris nucleares e
exposição das células reticulares dendríticas. Os
fragmentos nucleares são rapidamente removidos e o centro folicular aparece vazio (Valli,
1992).
Em fetos bovinos normais, a ausência de folículos linfóides foi considerada como imaturidade do tecido linfóide, relacionada à idade do feto
(Okano et al., 2003).
Em 14 (60,87%) animais, não foi possível realizar o processamento histopatológico do sistema nervoso central devido ao avançado estado
de autólise, tornando o cérebro liquefeito (Tabela 4). Nos nove fetos onde o material estava
viável para exame histológico foram observadas
alterações circulatórias e reação do endotélio
vascular em 3 (33,33%) e 2 (22,22%) fetos, respectivamente. Em cinco (55,55%) amostras foi
observada reação de células microgliais. Em um
feto que apresentava necrose com calcificação
no cérebro também foi observada a mesma lesão
na placenta obtida juntamente com este feto. A
microgliose, principalmente quando associada à
necrose e mineralização, é relatada pelos autores
em abortos por T. gondii e Neospora caninum
(Dubey et al., 1990; Jenkins et al., 2002).
No cerebelo (3/17), além da congestão observada em um dos animais, também foram observadas áreas de hemorragia em dois animais e reação do endotélio vascular em um outro animal.
Em um feto, foi observado a presença de
trombo intravascular no cérebro e no fígado,
um achado também associado à infecção pelo T.
gondii (Dubey et al., 1990).
Somente quatro fetos vieram acompanhados da placenta. Destes, dois apresentaram espessamento, áreas de necrose e mineralização,
confirmado pelo exame histopatológico. Uma
das placentas apresentou somente infiltrado inflamatório mononuclear (Tabela 5). A ausência
da placenta para exames e diagnóstico tem sido
incriminado por reduzir as possibilidades de
diagnóstico das causas de abortamento (Plant
et al., 1972; Pérez et al., 2003). Acredita-se que
todos os agentes infecciosos causadores de aborto multiplicam-se e passam pela placenta em seu
trajeto para o feto (Pérez et al., 2003). Muitos
agentes infecciosos ocasionam alterações macroscópicas e microscópicas exclusivamente na
placenta, como pode ocorrer nos casos de infecção por Campylobacter jejuni e Coxiella burnetii
(Szeredi et al., 2006). A Chlamydophila abortus,
Coxiella burnetii e Brucella sp ocasionam as lesões mais significativas na placenta (Molello et
al., 1963; Pérez et al., 2003). Para o diagnóstico
do T. gondii, a placenta é um dos materiais preferidos para o exame histopatológico (Bueno et
al., 2004). Por isso, a ausência da placenta na
maioria dos casos de abortamento estudados
prejudicou o diagnóstico de suas causas.
Nos rebanhos acometidos pela toxoplasmose,
observa-se o adiantamento da data prevista dos
partos em um grupo de matrizes (partos prematuros) e o nascimento de animais debilitados e
Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]
25
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
pouco viáveis intercalados com partos normais
e expulsão de fetos mumificados. Estes achados
foram observados neste estudo, inclusive a mumificação fetal que é freqüente na espécie caprina (Barberan e Marco, 1997) e foi observada em
dois fetos caprinos de gestação gemelar e procedentes de uma propriedade estudada, além de um
outro caprino de gestação simples e um ovino. A
mumificação do feto morto pode ser conseqüência de doenças genéticas, infecções virais e protozoários e insuficiências placentárias (Kennedy
e Miller, 1992). Segundo Pérez et al. (2003), em
pequenos ruminantes, a mumificação é observada principalmente em casos de abortamento por
Toxoplasma gondii e pestivírus, mas deve-se fazer o diagnóstico diferencial com clamídia, Febre
Q e vírus de Border (Mobini et al., 2004). Até o
momento, a Coxiella burnetii e o vírus de Border
não foram relatados no Brasil. A Clamídia, por
outro lado, já foi isolada em búfalos (Freitas e
Machado, 1988) e touros (Gomes et al., 2001) e
há estudos sorológicos demonstrando a presença
da infecção em ovinos e caprinos (Piatti et al.,
2006).
As lesões anátomo e histopatológicas foram
classificadas de acordo com descrições prévias
dos achados na Toxoplasmose (Bueno et al.,
2004; Pérez et al., 2003), em inespecífica ou ausente, compatível ou característica de toxoplasmose fetal. Somente um feto (4,35%) apresentou
lesões características de toxoplasmose, caracterizada por áreas focais de necrose e mineralização com infiltrado inflamatório circunjacente no
encéfalo, placenta e fígado (Feto no. 7). Cinco
(21,74%) fetos apresentaram alterações consideradas compatíveis com toxoplasmose, sendo 4
mumificados e um com foco de necrose e mineralização na placenta e no encéfalo, embora não
tenha sido realizado outros testes laboratoriais
para confirmar a presença de formas parasitárias
nos tecidos examinados. Por outro lado, foram
encontrados 26,4% de sororeagentes para T.
gondii nos rebanhos de onde alguns fetos eram
26
Márcia de Figueiredo PEREIRA et al.
provenientes. Este achado associado às lesões
histopatológicas compatíveis com este protozoário, faz suspeitar da participação deste agente
como causa de aborto em caprinos e ovinos na
região estudada.
As lesões típicas observadas em placentas infectadas pelo T. gondii são focos de inflamação
e necrose localizados exclusivamente nos cotilédones, enquanto que as áreas intercotiledonárias
geralmente não estão afetadas. Esses focos são
brancos, calcários e geralmente múltiplos e encontrados somente na metade das placentas afetadas (Barberan e Marco, 1997). Neste trabalho,
encontrou-se lesão de necrose e calcificação em
cérebro e placenta de um feto caprino abortado
(Figuras 3 e 4). Estes achados, nestas duas estruturas, são sugestivos da infecção pelo T. gondii,
no entanto, para o diagnóstico desta enfermidade, outros exames laboratoriais seriam necessários, tais como, isolamento do parasita através
de inoculação intraperitonial em camundongo,
imunohistoquímica e PCR.
Dois fetos (4 e 12) apresentaram lesões macroscópicas compatíveis com a infecção por clamídia, caracterizadas por hemorragias no miocárdio e no pulmão (Jones et al, 2000; Szeredi et
al., 2006). No aborto por clamídia, os principais
achados macroscópicos na placenta são focos de
necrose nos cotilédones, espessamento do córion
com formação de pseudomembranas amarelo
acinzentadas e no feto ascite, edema subcutâneo,
líquido avermelhado nas cavidades, petéquias no
coração e pulmões e manchas amareladas no fígado. À histopatologia, as áreas de necrose dos
cotilédones estão cercadas por infiltrado focal e
difuso de neutrófilos e plasmócitos, degeneração
vascular hialina na placenta e infartos esplênicos, dilatação dos capilares e extravasamento de
sangue (Caro et al., 2003), necrose de coagulação no fígado, com infiltrado mononuclear, no
feto (Kennedy e Miller, 1992). As lesões histológicas encontradas no material estudado não foram, portanto, suficientes para associar os abor-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
tamentos a este agente.
Neste estudo, 10,3% das amostras de caprinos
e ovinos examinadas para a pesquisa de anticorpos anti-Chlamydophila sp. foram sororeagentes. Contudo, apesar da infecção estar presente
em alguns dos rebanhos de onde foram colhidos
os fetos, não se pode atribuir os casos de aborto
a esse agente, uma vez que 100% das amostras
foram negativas na pesquisa do DNA da bactéria. Considerando que apenas duas amostras
de placenta foram incluídas neste teste e que, na
maioria dos casos, a infecção por clamídia está
restrita à placenta, permanecendo o feto livre de
infecção (Szeredi et al., 2006), a clamidiose não
pode ser completamente descartada como uma
das possíveis causas de abortamento entre os
animais estudados.
Os fetos 5 e 6 eram procedentes de uma propriedade do município de Vicência, onde foram
realizados exames clínicos, microbiológicos e sorológicos em cabras que haviam abortado. Uma
cabra que havia parido dois cabritos natimortos
e um vivo dois dias antes do exame, apresentava
corrimento vulvar sanguinolento. O exame bacteriológico do material isolou Streptococcus sp
e Escherichia coli. Esta cabra apresentou sorologia negativa para clamídia e brucela e positiva
para Toxoplasma gondii, porém com título baixo (1:64).
O animal 13, um neonato de 2 semanas de
vida, era proveniente de uma propriedade onde
havia animais sorologicamente positivos para
clamídia e toxoplasma. Em visita à propriedade, foi examinada uma cabra com corrimento
vulvar catarral, de onde foi isolado Staphylococcus sp. Esta mesma cabra apresentou sorologia
positiva para clamídia (1:32) e para toxoplasma
(1:256). Não se isolou Brucella sp em nenhuma
das amostras estudadas.
Os agentes infecciosos foram considerados
uma causa menos importante de aborto em alguns trabalhos. Engeland et al. (1998) relatou
não haver conseguido isolar agente infeccioso
em 95% de abortos examinados. Nos demais fetos, isolou-se Listeria monocytogenes, inclusive
de descargas vaginais de uma cabra. Os autores
também relacionaram casos de aborto a sorologia positiva para T. gondii, mas não encontraram
evidência de infecção por Neospora caninum ou
Chlamydophila abortus.
Algumas bactérias como Escherichia coli, Serratia marcescens, Pseudomonas sp, Staphylococcus spp. e Arcanobacterium pyogenes, podem
estar eventualmente envolvidos em casos esporádicos de abortos nestas espécies. Contudo, estas
bactérias são muito ubíquas no meio ambiente
e geralmente não se associam a surtos de abortos. Considerando os resultados obtidos neste
estudo quanto ao isolamento de bactérias como
Staphylococcus spp., Escherichia coli e Streptococcus spp. da mucosa vaginal de matrizes da
espécie caprina que apresentavam histórico de
aborto, não é possível confirmar o envolvimento
destas bactérias, uma vez que segundo Kirkbride (1990), para confirmar a participação destas
bactérias em casos de abortos nestas espécies é
necessário que seu isolamento ocorra em cultivo
puro e que este esteja associado a lesões purulentas na placenta ou tecidos fetais. As bactérias foram isoladas em culturas puras, contudo não foi
possível o estudo das lesões nos fetos e placenta
para confirmar tal etiologia uma vez que quando
da visita às propriedades, os fetos e placentas já
não existiam mais. Esse fato é muito freqüente
no campo, dificultando na grande maioria das
vezes a obtenção de amostras adequadas para o
estudo etiológico dos casos de abortos.
Quanto ao aborto por Brucella sp, os resultados deste estudo descartam a participação desta
bactéria nas falhas reprodutivas nas propriedades estudadas, uma vez que todos os animais testados independente de terem abortado ou não,
foram negativos aos testes sorológicos utilizados
no diagnóstico da infecção. Outro achado clínico freqüentemente relatado na brucelose ovina,
além dos abortos, retenção de placenta e endo-
Estudo de casos de aborto em caprinos e ovinos no estado [...]
27
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 18 - 30 - janeiro/dezembro, 2013
metrite nas fêmeas, é a epididimite nos machos
que pode ser detectada pela palpação da cabeça,
corpo e cauda do epidídimo (Blasco e Barberan,
1990). Contudo, este sinal clínico não foi observado ao exame clínico dos testículos dos reprodutores das propriedades visitadas, confirmando
os achados dos exames sorológicos que excluem
a doença nos rebanhos.
Outros fatores associados a ocorrência de
aborto e não avaliados neste estudo, podem estar
presentes e serem causa dos mesmos. Condições
ambientais, como iluminação nos alojamentos
dos animais e presença de concentrações altas de
animais são relacionadas a ocorrência de aborto
(Engeland et al., 1998). Segundo Medeiros et al.
(2005) a maioria dos casos de morte perinatal
está associada a falhas de manejo.
As causas nutricionais, metabólicas e tóxicas
também podem estar implicadas na etiologia dos
abortos (Mobini et al., 2004). Grande parte das
criações de caprinos e ovinos em alguns estados
da região Nordeste não possuem um manejo nutricional diferenciado para as fêmeas em final de
gestação e lactação (Medeiros et al., 2005). Um
alto percentual de aborto tem sido observado na
época seca (Silva e Silva, 1983). Há, ainda, numerosas plantas na região que têm efeito abortivo, como Aspidosperma pyrifolium (“pereiro”)
(Nóbrega Jr. et al., 2005).
Este é o primeiro estudo de casos de aborto
em Pernambuco incluindo a tentativa de diagnóstico etiológico por métodos histológicos e
PCR para C. abortus. A falta da placenta entre
o material enviado e avançado estado de autólise das amostras contribuíram significativamente
para que não fosse possível determinar o agente
etiológico da maioria dos casos. Porém, pelo menos um feto enviado com a placenta apresentava
características histopatológicas de aborto por T.
gondii, o que alerta para a possível importância deste agente nos abortamentos em caprinos e
ovinos, uma vez que o mesmo encontra-se disseminado nos rebanhos estudados nas Regiões da
28
Márcia de Figueiredo PEREIRA et al.
Zona da Mata e Agreste Pernambucano.
CONCLUSÃO
O Toxoplasma gondii está presente nos rebanhos de caprinos e ovinos e é um agente potencial do abortamento destas espécies. A participação da Chlamydophila abortus na ocorrência
de abortos em ovinos e caprinos não deve ser
descartada, apesar do agente não ter sido identificado nas amostras estudadas. O diagnóstico
das causas de abortamento em caprinos e ovinos
é limitado pela má conservação do material e
porque ainda não há um hábito dos proprietários encaminharem a placenta junto com o feto
ao laboratório. Os programas sanitários devem
incluir a educação de criadores e trabalhadores
que atuam em caprino e ovinocultura para que
estes saibam qual o material adequado a ser enviado para diagnóstico, além de não deixar que
restos de abortos contaminem o ambiente, perpetuando possíveis agentes infecciosos no rebanho.
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Mapa de Risco do
Laboratório de Patologia
Clínica Veterinária
Simone Gutman VAZ;1* Telga Lucena Alves Craveiro de ALMEIDA2; Hélio Cordeiro MANSO
FILHO3; Miriam Nogueira TEIXEIRA4; Eneida Willcox RÊGO4; Aderaldo Alexandrino de FREITAS4
RESUMO
As avaliações de risco constituem um conjunto de procedimentos com
objetivo de estimar o potencial de danos à saúde ocasionados pela exposição de indivíduos a agentes ambientais. Objetivou-se elaborar o Mapa de
Risco, do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária do Departamento
de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Campus Recife. As atividades da rotina do laboratório foram registradas,
analisadas, bem como os tipos de riscos categorizados. A metodologia utilizada consistiu de entrevistas com roteiro, participação dos estudantes,
técnicos administrativos e professores. Quanto ao layout, obteve-se verificando in locun a disposição das bancadas, e dinâmica de uso dos equipamentos e materiais (químicos, físicos e biológicos), utilizando recursos
fotográficos e planta baixa. O risco biológico, de acidentes e ergonômico
foram considerados altos. Já o risco físico e químico foi referido como baixo. Com Mapa de Risco identificou-se as fontes de risco (perigos) químico,
físico, biológico, ergonômico e de acidentes aos Professores, Estudantes e
Técnicos Administrativos, e sensibilizou todos sobre os riscos individuais e
coletivos inerentes ao local pesquisado.
PA L AV R A S - C H AV E
Mestranda do Programa
de Pós-Graduação em
Ciência Veterinária –
UFRPE. e-mail: simone_
[email protected]
2
Doutoranda Programa
de Pós-Graduação em
Ciência Veterinária –
UFRPE
3
Professor do
Departamento de
Zootecnia, UFRPE, Recife,
PE
4
Professor do
Departamento de
Medicina Veterinária,
UFRPE, Recife, PE
1
*Autor para
correspondência
agentes ambientais, perigo, saúde, segurança, trabalho
ABSTRACT
Risk Map in Clinical Veterinary Pathology Laboratory
Risk assessments are a set of procedures in order to estimate the potential damage
to health caused by exposure of individuals to environmental agents. This report
aimed to develop the Risk Map in the Clinical Veterinary Pathology Laboratory,
Department of Veterinary Medicine, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Recife Campus. The routine activities of the laboratory were recorded, analyzed,
and types of risks were categorized. We used interviews with resource script,
participation of students, teachers and administrative staff. As for the design, it
was obtained in locun checking the layout of the benches, and dynamic use of
equipment and materials (chemical, physical and biological), using photographic
resources and floorplan. The biological risk of ergonomic injuries and were considered high. Physical and chemical risks were considered low. Risk Map identified sources of risk (hazards), chemical, physical, biological, ergonomic and accidents to Teachers, Students and Technical Administrators, and touched on all the
individual risks and collective, from the study location.
KEYWORDS
environmental agents, danger, health, safety, labor
31
31
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013
INTRODUÇÃO
As avaliações de risco objetivam estimar o potencial de danos à saúde ocasionados pela exposição de indivíduos a agentes ambientais. Tais
avaliações auxiliam no controle e na prevenção
dessa exposição (PORTO et al. 1997).
Freitas et. al., (2003) consideram que estas
avaliações são realizadas tradicionalmente por
especialistas – que aplicam métodos científicos
para identificar e mensurar quantitativamente
os riscos. Baseiam-se também em instrumentos
pré-definidos por comissões de biossegurança
ou controle de qualidade para avaliar os riscos
e a conformidade com as práticas de segurança,
tendo como objetivo explícito garantir a observância de padrões estabelecidos por especialistas, que dominam um saber técnico, modelando
inclusive o comportamento dos trabalhadores
(ROCHA et al.,2000 ; CARDOSO et al., 2000).
A avaliação de riscos ambientais, à qual se filiam a metodologia de mapa de risco, prioriza a
identificação dos riscos enfrentados pelos trabalhadores e isso implica numa discussão coletiva
sobre as fontes dos riscos, o ambiente de trabalho e as estratégias preventivas para reduzir os
riscos identificados (SANTOS et al., 2000; HÖKERBERG et al., 2006).
Portanto, Mapa de Risco “uma representação
gráfica de um conjunto de fatores que podem estar presentes nos locais de trabalho, carretando
prejuízos à saúde dos trabalhadores: acidentes
e doenças de trabalho” (MATTOS & SIMONI,
1993).
O trabalho nas instituições de saúde envolve
riscos gerais e outros específicos a cada área de
atividade, podendo inclusive ser classificados
em: Riscos de Acidentes, Riscos Ergonômicos,
Risco Físico, Riscos Biológicos e Riscos Químicos (BRASIL, 1978a).
Os equipamentos de proteção têm o seu uso
regulamentado pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, em sua Norma Regulamentadora nº
32
VAZ SG et al.
- 6 (NR-6). São classificados em equipamentos
de proteção individual (EPI) ou coletiva (EPC).
Equipamento de proteção individual é todo dispositivo de uso individual, destinado a proteger
a saúde e a integridade física do trabalhador
(BRASIL, 1978 a). Os equipamentos de proteção
coletiva são dispositivos utilizados no ambiente
laboral com o objetivo de proteger os trabalhadores dos riscos inerentes aos processos de trabalho (BRASIL, 1978 b).
O mapeamento de risco surgiu na Itália no final da década de 60 e início de 70, através do
movimento sindical, com origem na Federazione
dei Lavoratori Metalmeccanici (FLM) que, na
época, desenvolveu um modelo próprio de atuação na investigação e controle das condições de
trabalho pelos trabalhadores, o conhecido “Modelo Operário Italiano” (MATTOS & SIMONI,
1993). Chegou ao Brasil no início da década de
80, com diferentes versões. Uma enfocando a
Saúde e Ambiente de Trabalho (DIESAT, 1989);
e outra a Segurança e Medicina do Trabalho
(ABRAHÃO, 1993).
No Brasil tornou-se a partir da Portaria nº 5
de 18/08/94 do Departamento Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (DNSST) do
Ministério do Trabalho (MTb), que estabeleceu
a obrigatoriedade da confecção do Mapa de Riscos Ambientais para todas as empresas do país
que tenham Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes (CIPA) conforme relatado por Teixeira et al. (1998).
Segundo a legislação brasileira em Segurança e
Medicina do Trabalho, em particular a NR-5, a
construção do Mapa de Risco é responsabilidade da CIPA, que deve desenvolver atividades que
possibilitem a participação de todos os trabalhadores da empresa, de tal forma que a observação
das condições de trabalho e as recomendações
para as melhorias sejam resultados do conhecimento do conjunto dos trabalhadores. Para que
isso aconteça é necessário em primeiro plano, um
estudo preliminar das atividades e do ambiente
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013
QUADRO 01
Simbologia usada no Mapa de risco com Esboço do LPVC.
Símbolo
Significado
Símbolo
Significado
Pia
Estufa
Microscópio
E
Estantes
Recepção de Amostras
D
Destilador
Computador
C
Centrífuga
Telefone
BM
Banho-maria
Deionizador
G
Geladeira
Contador de Células
F
Freezer
de trabalho (MATTOS & SIMONI, 1993).
O descaso aos riscos presentes nas atividades de pesquisa em laboratórios ou mesmo em
trabalhos de rotina, já prejudicou e tem prejudicado ao longo do tempo, vários profissionais.
Segundo Orestes-Cardoso et al. (2009), em seu
trabalho em duas Faculdades de Odontologia
de Recife-PE, constatou-se que a prevalência de
alunos acidentados nas duas instituições foi de
25,3%, com percentual mais elevado nos alunos
do 8º ao 10º períodos (35,3%). Dos acidentados, 34,2% foram orientados por professores
em relação às medidas profiláticas. A maioria
(73,7%) se restringiu a lavar o ferimento com
água e sabão. Apenas 13,2% procuraram serviço
médico especializado em acidentes ocupacionais,
no entanto, 88,7% classificaram o conhecimento
que tinham acerca de medidas profiláticas pós-acidentes de razoável a bom.
Neste contexto, objetivou-se com este trabalho elaborar o Mapa de Risco do Laboratório
de Patologia Clínica Veterinária (LPCV) do Departamento de Medicina Veterinária (DMV)
da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE)- Campus Recife.
M AT E R I A L E M É TO D O
O Mapa de Risco foi desenvolvido no Departamento de Medicina Veterinária/UFRPE- Campus/Recife, no Laboratório de Patologia Clínica
Veterinária (LPCV), no período de dezembro de
2009 a fevereiro de 2010.
Os aspectos da rotina foram descritos
mediante informações dos técnicos de nível superior (Médicos Veterinários), técnico-administrativos e estagiários (graduandos em Medicina
Veterinária) em reuniões e diálogos individuais.
Para descrição da rotina utilizou-se o roteiro segundo Cabral (2010). A referência para as categorias de risco foram as propostas pela NR-5,
identificando os potencias riscos, o uso ou não
dos equipamentos de proteção individual e coletiva. Quanto ao esboço do laboratório, obteve-se
verificando in locun a disposição das bancadas,
e dinâmica de uso dos equipamentos e materiais (químicos, físicos e biológicos), utilizando
para isto recursos fotográficos e simbologia para
identificar os equipamentos (Quadro 1).
Os riscos foram definidos por círculos de diâmetros diferentes que correspondem ao risco pequeno, médio ou grande. E ainda, preenchidos
pelas cores verde, azul, vermelho, amarelo e mar-
Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária
33
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013
FIGURA 01
A. Esboço do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, mostrando os tipos de risco encontrados e suas intensidades; B.
Esboço do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, mostrando os tipos de risco encontrados e suas intensidades com
laboratório ocupado por pessoas.
A
B
Risco físico (pequeno): calor das estufas e ruído das centrífugas.
Risco químico (pequeno): reagentes químicos em geral.
Risco biológico (grande): bactérias, fungos, protozoários, parasitas.
FIGURA 02
34
Risco ergonômico (grande): postura inadequada, excesso de
atenção e concentração, repetitividade, acúmulo de responsabilidades.
Risco de acidentes (grande): probabilidade de incêndio ou explosão, quebra de vidrarias, material perfurocortante, quedas dos
bancos, derrame de amostras, queimaduras.
A. Armários e destilador com potencial de risco químico e de acidentes; B. Armário visto de perto com potencial de risco
químico e de acidentes; C. Refrigerador com potencial de risco químico, físico, biológico e de acidentes; D. Janela receptora
de amostras com potencial de risco biológico; E. Bancadas e mesa com potencial de risco físico, biológico, ergonômico e
de acidentes; F. Mesa com potencial de risco ergonômico, armários com potencial de risco de acidentes e refrigerador com
potencial de risco biológico; G. Instalação elétrica inapropriada com potencial de risco de acidentes; H. Instalação hidráulica
com potencial de risco biológico; I. Bancada com potencial de risco químico, físico, biológico e de acidentes; J. Bancada com
potencial de risco ergonômico; L. Mesa com potencial de risco ergonômico; M. Bancada com potencial de risco biológico, físico
e de acidentes; N. Bancadas e refrigerador com potencial de risco biológico e físico.
VAZ SG et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013
TABELA 01
Tipos de Risco
Resumo dos riscos identificados no Laboratório de Patologia Clínica Veterinária.
Cor de identificação
Pequeno
Grande
Recebimento, processamento e armazenamento: amostras
biológicas.
Biológico
Marrom
Químico
Vermelho
De Acidentes
Azul
Incêndio: instalações elétricas impróprias, armazenamento
inadequado de substâncias químicas.
Ergonômico
Amarelo
Altura e tipo de banco, da bancada e postura no uso.
Físico
Verde
Substâncias químicas: não
causticas, pouco utilizadas.
Calor: estufa e destilador;
Ruído: microcentrífuga
rom que indicam respectivamente o risco físico,
Foi detectado risco ergonômico alto, pois o
de acidentes, químico, ergonômico e biológico trabalho na bancada com auxílio de equipamen(TEIXEIRA & VALLE, 1996).
tos, o uso de vidrarias e microscópios poderiam
ocasionar problemas advindos da altura e tipo
de banco, da bancada e postura no uso, riscos
R E S U LTA D O S E D I S C U S S Ã O
estes nem sempre percebidos o que exigia uma
Foi observado que as pessoas não estiveram
maior atenção e concentração.
expostas aos riscos de forma igualitária, seja em
O risco físico, considerado como baixo, foi rerelação ao tempo de exposição, distrIbuição espacial ou quanto à natureza da atividade desen- lacionado ao calor produzido pela estufa e destilador, e ao ruído, gerado pela microcentrífuga
volvida (Figura 1 e 2).
utilizada diariamente de forma intermitente.
Os riscos identificados no ambiente do LPCV
A opinião das pessoas (Professores, Estudanestão resumidos na Tabela 1.
tes, Técnicos) que usavam ou trabalhavam no
O risco biológico foi considerado alto uma vez
Laboratório sobre a rotina LPCV, bem como a
que o recebimento, processamento e/ou armazeintensidade de riscos, foi necessária coadunando
namento de amostras, limpeza de equipamentos
com Hökerberg et al., (2006).
e lavagem de material, são circunstâncias potenAtravés da análise do Mapa de Risco foi poscialmente contaminadas, e principalmente quansível
compreender alguns elementos do aspecto
do não se utiliza EPI.
concreto do trabalho, tais como: riscos mais freAs substâncias químicas eram relativamente
quentes capazes de acarretar prejuízos à saúde
pouco utilizadas, não cáusticas e armazenadas
dos envolvidos no Laboratório, acidentes e posem frascos hermeticamente fechados, o que indisíveis doenças de trabalho assim como descrito
cou o risco químico como baixo.
por Hökerberg et al., (2006). Possibilitou tamQuanto ao risco de acidentes foi identificado bém a visibilidade da exposição das pessoas aos
potencial de incêndio e/ou explosão pelo uso de riscos, nos procedimentos realizados no Laborainstalações elétricas provisórias em mau estado tório de Patologia Clínica Veterinária (MATTOS
de conservação. Foi verificado armazenamento & SIMONI, 1993).
inadequado de reagentes químicos, possibilidaTais fatores têm origem nos diversos elemende de acidentes com materiais perfurocortantes
tos do processo de trabalho, como: materiais,
ou por quebra de vidrarias e ainda, queimaduras
equipamentos, instalações, conforto térmico, sudurante uso de estufas, referindo-se, assim, como
primentos, carga e espaços de trabalho (MATrisco alto.
TOS & SIMONI, 1993).
Mapa de Risco do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária
35
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 31-36 - janeiro/dezembro, 2013
CONCLUSÕES
TOS,U.A.O. O processo de construção de mapas de risco em um hospital público. Ciênc. saúde coletiva vol.11
no.2 Rio de Janeiro Apr./June 2006
O Mapa de Risco identificou as fontes de risco
(perigos) químico, físico, biológico, ergonômico MATTOS, U. A O.; SIMONI, M. Roteiro para construção
do mapa de risco. Rio de Janeiro: Cesteh/Fiocruz – Coe de acidentes presentes no laboratório e sensibippe/UFRJ, 1993. 17 p.
lizou a todos sobre os riscos individuais, coleti- ORESTES-CARDOSO, SM; FARIAS, ABL; PEREIRA,
vos internos ao Laboratório de Patologia Clínica
MRMG; ORESTES-CARDOSO, AJ; CUNHA JÚNIOR, IF. Acidentes perfurocortantes: prevalência e
Veterinária.
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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
Prevalência de mormo no estado
de Pernambuco no período de
2006 a 2011
Marcelo Brasil MACHADO1, Pedro Paulo M. da SILVEIRA2, Jéssica de Torres BANDEIRA3, Renato
Souto Maior Muniz de MORAIS4, Fernando Leandro dos SANTOS5, Thales Augusto BARÇANTE6
RESUMO
O mormo é uma doença infecto-contagiosa de caráter agudo ou crônico,
causada pela bactéria Burkholderia mallei. Acomete diversos mamíferos,
principalmente, os equídeos, sendo maior a casuística em asininos e muares. Sendo uma zoonose de relevância econômica, foi realizado estudo epidemiológico dos focos de mormo em Pernambuco no período de 2006
a 2011, com o objetivo de verificar a distribuição espacial, temporal e a
duração do saneamento das propriedades afetadas. A população objeto
das investigações epidemiológicas foi constituída de 94,36% de equinos,
3,78% de muares e 1,86% de asininos, distribuída em todo o Estado.
Verificou-se geograficamente que a mesorregião da Zona da Mata de Pernambuco, no período estudado, foi a que apresentou maior número de
focos seguida das mesorregiões do Agreste e Sertão. A distribuição temporal revelou que não há um comportamento regular na detecção de focos,
sendo isso atribuído à dependência da detecção dos casos de animais em
trânsito. Quanto á duração, cerca de 90% dos focos foram saneados em
até 180 dias. Deste modo, verificou-se que os focos investigados foram,
em sua maioria, na criação de equino, por esta ser a espécie mais transportada, exigindo-se o exame negativo para o mormo, causando impacto
econômico nas criações de cavalos.
PA L AV R A S - C H AV E
1
Fiscal Estadual
Agropecuário – Adagro
2
Fiscal Federal
Agropecuário
3
UFRPE – Programa
de Pós Graduação em
Ciência Veterinária
4
Médico Veterinário
autônomo
5
UFRPE – Professor
do curso de Medicina
Veterinária
6
UFLA – Professor
do Programa de Pósgraduação Lato Sensu em
Defesa Sanitária Animal
Brasil, Equideocultura, Saneamento, Sanidade, Zoonose
ABSTRACT
Glanders prevalence in the State of Pernambuco, Brazil, from 2006 to 2011.
Glanders is an infectious disease of acute or chronic nature, caused by the bacterium Burkholderia mallei. It affects many mammals, especially the horses, and casuistry is higher
in asses and mules. As a zoonosis of economic importance, it was conducted an epidemiological study of outbreaks of glanders in Pernambuco in the period of 2006-2011,
with the objective of verifying the spatial distribution, temporal and sanitation duration
of the affected properties. The object of epidemiological research population consisted
of 94.36% of horses, 3.78% of mules and 1.86% of donkeys, distributed throughout
the state. In the period studied, it was found that the “Zona da Mata” of Pernambuco
showed the largest number of outbreaks, followed by others regions. The temporal distribution showed that there is a regular behavior in outbreaks. This can be attributed to
the dependence of the detection of cases of animals in transit. As for the duration, about
90% of outbreaks were resolved in 180 days. Thus, it was found that the outbreaks were
seen mostly in horses breeding, because this is the specie most transported, requiring a
negative test for glanders, and causing economic impact on breedings.
KEYWORDS
Brazil, Equideocultura, Sanitation, Health, Zoonoses.
37
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
INTRODUÇÃO
O mormo é uma doença infecto-contagiosa
de curso agudo ou crônico que acomete, principalmente, os equídeos, mas também pode acometer os carnívoros, o homem e, eventualmente, pequenos ruminantes, seu agente etiológico
é a Burkholderia mallei (MOTA, 2000; 2006).
A bactéria é imóvel, crescendo na presença de
oxigênio e na presença de nitrato, apresenta-se como anaeróbia facultativa e não esporula
(HIRSH e ZEE, 2003).
É uma das enfermidades mais antigas de equídeos já descrita, mencionada por Aristóteles
e Hipócrates nos séculos II e IV a.C. (DIEHL,
2013). A doença foi introduzida no Brasil, provavelmente, no início do Século XIX, com a importação de cavalos de Portugal, sendo a Ilha de
Marajó, no Pará, o primeiro local com registros
da doença. (ITO et al., 2008). Apesar de ser uma
zoonose rara em humanos , quando o acomete, geralmente é fatal (DIEHL, 2013). Em 2009
houve casos em cientistas e pesquisadores (OIE,
2009)
As mais importantes vias de excreção da Burkholderia mallei são a respiratória e a digestiva,
uma vez que as lesões pulmonares crônicas nos
brônquios se rompem, desencadeando uma infecção das vias aéreas superiores, que resulta na eliminação da bactéria no ambiente (RADOSTITS
et al., 2002; MOTA, 2006). A mais importante
fonte de infecção são os animais portadores assintomáticos (OIE, 2009; LEOPOLDINO et al.,
2009). Instrumentos de uso coletivo dos animais,
também são passíveis de veicular o agente. Embora incomum, já se confirmou a possibilidade
de transmissão vertical da égua para o feto, bem
como a transmissão sexual (TELES, 2012).
De acordo com a Instrução Normativa Nº 50,
de 14 de Setembro de 2013 do Ministério da
Agricultura Pecuária de Abastecimento (MAPA),
a enfermidade está incluída na lista das doenças
de notificação obrigatória imediata de qualquer
38
Marcelo Brasil MACHADO et al.
caso suspeito. A mesma deve ser realizada ao serviço veterinário oficial, sendo obrigatória para
qualquer cidadão, assim como aos profissionais
que trabalham na área de ensino, pesquisa ou
diagnóstico em saúde animal (BRASIL, 2013).
Sendo o Mormo uma doença reemergente e
inexistir um banco de informações sobre epidemiologia, sobretudo relacionado aos quantitativos de focos e a distribuição ao longo dos anos,
objetivou-se determinar o perfil da distribuição
dos focos no tempo/espaço no Estado de Pernambuco, bem como tempo de duração do saneamento de propriedades foco, no período de
2006 a 2011.
M AT E R I A L E M É TO D O S
As informações constantes são oriundas do
banco de dados da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco
(ADAGRO-PE), relativas ao número de propriedade e focos e a distribuição geográfica no período de 2006 a 2011. A contagem das propriedades seguiu-se a numeração absoluta apenas
na abertura do foco. Para contagem dos focos,
registrou-se cada um deles, a cada notificação.
Para fins de distribuição geográfica dos
municípios, considerou-se a divisão do Estado
em três mesorregiões: Zona da Mata, Agreste e
Sertão. Essa classificação usou o padrão climático dominante nas áreas. Em cada região há uma
característica da finalidade da propriedade e a
espécie que predomina na criação.
Em relação ao saneamento, foram aplicadas
as medidas sanitárias cabíveis aos focos de mormo, segundo a IN 24/2004, do MAPA. Para fins
de averiguar a distribuição temporal da duração
dos focos, classificaram-se em períodos. Assim,
para o saneamento em duas colheitas de sangue
até a desinterdição, a classificação foi de um período; quando houve necessidade de três colheitas, a classificação foi de dois períodos e assim
sucessivamente.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
O estudo permitiu a análise estatística descriti- te pela finalidade econômica das propriedades,
va dos dados que estão apresentadas sob a forma plantio de cana-de–açúcar, e consequentemente
de tabelas, gráficos e figuras.
a forma de utilização dos animais com o sistema de manejo aplicado, que favorece a rápida
propagação da doença entre os animais, já que
R E S U LT A D O S
são criados em estábulos coletivos com cocho
No período de 2006 a 2011 foram saneadas
e bebedouro únicos; no segundo, observaramem conformidade com a Instrução Normativa,
-se falhas graves no manejo sanitário, sobretu24/04 do MAPA (BRASIL, 2004), um total de
do em relação à incorporação de novos animais
204 propriedades e 235 focos. A divergência enao plantel, a ausência e a dificuldade de maior
tre número de total de propriedades e o de focos
controle no trânsito dos equídeos usados como
esteve relacionado ao reaparecimento de novos
transporte de pessoas. Outros fatores que favocasos após pelo menos um saneamento encerrarecem a introdução, propagação e persistência
do. Dentre esses 31 novos focos, 10 propriedada bactéria causadora do mormo, as condições
des retornaram ao saneamento, das quais, duas
socioeconômicas das regiões, o clima quente e
são Centros de Vigilância Ambiental, portanto
úmido, chuvas abundantes e aglomerados de
fogem ao padrão das demais propriedades de
animais, que são as circunstâncias que muito se
criação de equídeos, pois são locais que alojam
assemelham às da Zona-da-Mata do Estado de
animais errantes, em sua maioria enferma e conPernambuco. Podem ser acrescentados ainda, os
sequentemente tem uma elevada rotatividade de
eventos de vaquejadas e outros eventos equesanimais.
tres que envolvem a aglomeração dos equídeos
A população envolvida na investigação foi (VERMA, 1988).
constituída de 233 asininos, 473 muares e 11.808
A segunda maior frequência de focos está no
equinos e sua distribuição relativa é 1,86%,
Agreste, onde predomina a maior população de
3,78% e 94,36%, respectivamente.
equinos do estado, segundo o IBGE (2011), cujo
A distribuição dos focos no Estado de Pernam- tipo de propriedade consiste em haras, fazendas
buco não se apresenta de modo uniforme entre e sítios, tendo por finalidade hobby. Nessas proas regiões, sendo que o sertão apresentou a me- priedades o sistema de criação, em sua maioria,
nor frequência ao longo do período estudado e é de baias individuais ou em piquetes com redua Zona da Mata sempre apresentou os maiores zido número de animais. Como a finalidade da
valores, como está ilustrado na Tabela 1.
criação é para trânsito como, exposições, leilões
Quanto à distribuição dos focos, predomi- e outros eventos equestres diferentes daquela da
nantemente na Zona da Mata, dois aspectos po- Zona-da-Mata, os cuidados sanitários, controle
dem ser considerados em relação a essa maior de trânsito e o destino dos egressos são mais rifrequência: no primeiro, se deve em grande par- gorosos. Os dois elevados números de focos do
Mesorregião
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Total
Zona da Mata
14
68
17
22
19
25
165
Agreste
16
4
19
5
3
9
56
Sertão
1
1
0
3
0
0
5
Total
31
73
46
30
22
34
236
TABELA 01
Distribuição e frequência absoluta de focos de mormo no Estado de Pernambuco, segundo a região
geográfica, no período de 2006 a 2011.
Prevalência de Mormo no estado de Pernambuco no período [...]
39
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
Agreste pernambucano foram relacionando-se
aos prováveis dois últimos grandes focos Mormo no Estado.
O Sertão historicamente verifica-se com baixa frequência de focos, muitos deles envolvendo poucos animais. Isso pode ser explicado pela
circunstância da finalidade da criação, que se
caracteriza por ser de subsistência com poucos
animais e com um menor número de haras, com
baias individuais, cuidados mais aprimorados,
além da barreira climática, com menor umidade
e temperaturas mais elevadas, que não favorecem o desenvolvimento do agente.
Quanto à distribuição anual, foi possível verificar que não houve homogeneidade em relação
à incidência de focos temporalmente ao longo
dos meses. Pôde-se perceber uma grande variedade de distribuição, havendo até meses sem focos relatados. Essas informações podem ser verificadas, detalhadamente, nos Gráficos de 1 a 6.
GRÁFICO 01
Distribuição da frequência de novos focos de Mormo
no Estado de Pernambuco, no ano de 2006.
GRÁFICO 02
Distribuição da frequência de novos focos de Mormo
no Estado de Pernambuco, no ano de 2007.
GRÁFICO 03
Distribuição da frequência de novos focos de Mormo
no Estado de Pernambuco, no ano de 2008.
GRÁFICO 04
Distribuição da frequência de novos focos de Mormo
no Estado de Pernambuco, no ano de 2009.
GRÁFICO 05
Distribuição da frequência de novos focos de Mormo
no Estado de Pernambuco, no ano de 2010.
GRÁFICO 06
Distribuição da frequência de novos focos de Mormo
no Estado de Pernambuco, no ano de 2011
40
Marcelo Brasil MACHADO et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
Uma interpretação mais detalhada da circunstância que desencadeia o processo de saneamento revelou que a identificação dos focos foi
dependente do controle de trânsito de equídeos
dentro da região onde ocorre mormo. Assim, os
focos foram abertos à medida que um animal foi
detectado no exame para fins de trânsito. Bem
verdade que o número menor de casos foi por
denúncia do próprio criador, como já foi tratado anteriormente, e outros focos foram relativos
aos centros de vigilância mantidos pelas prefeituras, que apreendem animais errantes, os quais
antes de serem devolvidos aos proprietários foram submetidos ao teste da fixação do complemento para Mormo.
Comparando-se os seis anos, notou-se que
não houve um mês que se repetisse na série histórica apresentando maior número de incidência
de focos, sendo os meses de dezembro e janeiro
os que apresentaram, respectivamente, os maiores valores. Alternativamente, quando analisado
os meses com menor incidência de focos, percebeu-se que os meses de outubro e novembro
se destacaram. O Gráfico 07 ilustra os dados
anuais ordenados todos juntos, possibilitando
uma comparação entre as incidências de focos
de Mormo por mês entre os anos.
GRÁFICO 07
Quanto à distribuição do período de saneamento das propriedades, verifica-se na Figura 1
que cerca de 90% delas foram saneadas no intervalo de seis meses e as demais, incluindo os
CVAs, centro de vigilância ambiental, esse período foi maior que seis meses. Do ponto de vista
prático, imediato e econômico, o saneamento
das propriedades com Mormo é relativamente
rápido, porém um número pequeno de propriedades pode passar mais tempo interditada, sendo os proprietários capazes de fazer várias incursões junto ao serviço oficial, no sentido de tornar
o saneamento mais rápido e com isso desinterditar a propriedade. Um aspecto em relação a
essa última afirmação é que o número de exames
para Mormo para fins de trânsito de equídeos no
período estudado foi de cerca de 105.000, frente a uma população de equídeos no Estado de
Pernambuco de cerca de 200.000 cabeças (IBGE,
2011), revelando que há uma intensa movimentação desses animais e a interdição causa de fato,
severo transtorno ao proprietário, independente
do motivo que o leva a movimentar seu animal.
Há de considerar que a interpretação desses
dados não permite que se estabeleça de imediato um paralelo de comparação com processos de
saneamento em propriedade por outras causas,
Distribuição da frequência acumulada de novos focos de Mormo no Estado de Pernambuco, segundo o mês e ano.
Prevalência de Mormo no estado de Pernambuco no período [...]
41
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
FIGURA 01
Distribuição relativa das propriedades foco, segundo o
período de saneamento, no período de 2006 a 2011.
em que as doenças possibilitem a ação incisiva
ou não do Estado para erradicá-las. Em relação a
Mormo, a maioria dos trabalhos publicados tem
como tema a evolução ou sensibilidade/eficiência de diferentes técnicas de exames para o diagnóstico, todavia nenhuma aborda a evolução do
saneamento em situação real. Manninger (1947)
relatou o diagnóstico de Mormo com o uso do
teste da maleína na Alemanha, todavia, foram
números relativos aos reagentes em cada série de
testes, mas não o número de focos e a distribuição temporal e geográfica deles, de modo que se
visualiza a situação da doença aquela época na
Alemanha e impossibilita fazer uma comparação
com a situação atual. No Brasil tem-se o relato
de Xavier (1930), abordando um saneamento de
um foco em São Paulo com o teste da maleína
seguidas vezes, em que pese os detalhes da circunstância, mas esse trabalho descreve que se
aplicava a maleína apenas nos animais com sintomas que pudessem ser confundidos com os do
Mormo, diferentemente da situação atualmente
aplicada ao foco, quando todos os animais são
testados, tenham sintomas ou não.
A detecção dos focos e o saneamento possibilitam, ao setor público, verificar imediatamente como a doença é distribuída pelo Estado,
seja em função do tempo, ou da área geográfica
42
Marcelo Brasil MACHADO et al.
e o risco que ela representa ao plantel de equídeos do Estado, visto que a transmissão ocorre
na maioria das vezes por convívio entre os animais em que há bebedouros ou cochos coletivos
(SANTOS, MANSO FILHO E MENDONÇA,
2007) ou mesmo o contato direto dos homens
(VAN DER SCHAAF, 1964), que lidam com eles.
Na zona do Sertão onde predomina os asininos e os equinos, respectivamente, o aparecimento da enfermidade é menos comum, uma vez que
os eventos e a concentração de animais ocorrem
em menor número.
No Gráfico 8, nota-se a média e desvio padrão
do número de animais reagentes ao teste da FC,
fixação do complemento, no período estudado.
Nele verifica-se que o número de positivos é
relativamente baixo, inferior a 20% e o desvio
padrão, quase sempre acompanha o comportamento da média.
Na Figura 2, observa-se que mais de dois terços dos focos identificados em Pernambuco, no
período estudado encontravam-se na Zona da
Mata, seguido do Agreste e um percentual menor, 2,1%, no Sertão. Isso pode, em princípio ser
atribuído aos tipos da criação, estábulos coletivos com cocho e bebedouros únicos e as condições sanitárias das criações, como citaram Mota
et al (2.000) e Santos, Manso Filho e Mendonça
(2007).
No Gráfico 9, seguindo a mesma distribuição
geográfica das propriedades-foco, nele observa-se o percentual de animais positivos, segundo as
espécies constitutivas da população investigada,
no período estudado. Na Zona Mata do Estado
de Pernambuco, observa-se menor número de
animais em cada foco, mas o percentual de positivos é quase sempre elevado para os asininos e
equinos, e mais baixos para os muares. Podendo
isto ser reflexo do sistema de criação das propriedades daquela região e a utilidade dos animais.
No Agreste a situação é menos grave, há menor
percentual de positivos, independentemente da
espécie, podendo isto ser atribuído a finalidade e
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
GRÁFICO 08
FIGURA 02
Distribuição da média e desvio padrão de reações positivas para Mormo nas propriedades em regime de saneamento
para Momo, no Estado de Pernambuco, no período de 2006 a 2011.
Distribuição das propriedades-focos, segundo a região
geográfica, no período de 2006 a 2011, no Estado de
Pernambuco.
GRÁFICO 09
Distribuição percentual dos animais positivos para
Mormo, em relação às espécies investigadas, segundo
a distribuição das propriedades focos, no período de
2006 a 2011.
ra tenham se encontrado 225 animais positivos
frente a uma população investigada de aproximadamente 13.000 animais, a interrupção da
movimentação da propriedade aumenta seus
custos por pelo menos seis meses.
Os focos ainda são, em sua maioria, na Zona
da Mata, onde concentra maior população de
equídeos, particularmente de muares, utilizada
como força de trabalho e cujo impacto econômiCONCLUSÃO
co e risco assume grandes dimensões e isto não
O regime de saneamento tem revelado que diminui o impacto econômico da doença, pois,
Mormo ainda é um problema no agronegócio do se não há o efeito negativo da interrupção do
cavalo, particularmente em Pernambuco. Embo- trânsito, afinal de contas os animais limitam-se
o sistema de manejo das criações, quando prevalecem os haras, sítios e pequenos criatórios. No
sertão, o maior percentual de asininos positivos
reflete o maior grupo de animais investigados e a
espécie mais comum da região geográfica. Equinos são os que possuem um percentual mais baixo de casos, seguido dos muares. Estes últimos
não tão comuns naquela região.
Prevalência de Mormo no estado de Pernambuco no período [...]
43
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 37-44 - janeiro/dezembro, 2013
Medicina Veterinária, v. 4, n.12, p.21-25. 2009.
ao transporte de carga nas propriedades,
As medidas de controle de trânsito, seja inter- MOTA, R. A.; BRITO, M. F.; CASTRO, F. J. C.; MASSA,
M. Mormo em equídeos nos Estados de Pernambuco e
no ou externo, devem ser mantidas como meio
Alagoas. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.20, n.4, p.
155-159. 2000.
de impedir que o Mormo se propague às outras
regiões, do Estado ou fora deles, além de se pro- MOTA, R. A. Aspectos etiopatológicos, epidemiológicos
e clínicos do mormo. Vet. e Zootec. V.13, n.2, p.117curar formas mais efetivas de se fazer levanta124. 2006.
mentos em um número maior de animais nos
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diversos estados que apresentem a enfermidade.
Manual of diagnostic tests and vaccines for terrestrial
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Comparação da Prevalência do Mormo
entre as Zonas da Mata, Agreste e Sertão de
Pernambuco, de 2005 à 2011
Pedro Paulo M. da SILVEIRA1, Marcelo Brasil MACHADO2, Jéssica de Torres BANDEIRA3, Renato
Souto Maior Muniz de MORAIS4, Fernando Leandro dos SANTOS5, Ana Virgínia Marinho SILVEIRA6,
Christiane Maria Barcellos Magalhães da ROCHA 7
RESUMO
O mormo acomete os equídeos, outros mamíferos e ocasionalmente o homem. Este estudo descreve os resultados dos testes diagnósticos realizados
para trânsito de equídeos no período de 2005 à 2011. Os testes foram
realizados na Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. Todos os
positivos no exame da fixação de complemento (FC) sem sintomatologia
clínica eram confirmados pela prova da maleína. Foi utilizada a base de
dados da Superintendência Federal de Agricultura no Estado de Pernambuco (SFA-PE), alimentada por meio de relatórios mensais elaborados por
dois laboratórios credenciados para realização do diagnóstico do mormo. Foi feita análise descritiva da série histórica 2005 à 2011 dos casos
de mormo e calculada a prevalência. A prevalência foi estratificada pelas
regiões de Pernambuco. Foi feito o teste qui-quadrado para testar a associação entre a prevalência do mormo (variável direta) e diagnóstico de AIE
nas regiões do Estado (variáveis independentes).Verificou-se 68 animais
positivos, com uma média de 9,71 casos por ano. Conclui-se que: 1.há
maior prevalência de mormo na Zona da mata (p<0,05); 2.há associação
entre a ocorrência de Mormo e AIE (p<0,05); 3. o número de testes realizados para diagnóstico do mormo e AIE apresenta sazonalidade causada
pela distribuição dos eventos hípicos.
PA L AV R A S - C H AV E
Fiscal Federal Agropecuário,
Fiscal Estadual Agropecuário
– Adagro
3
UFRPE – Programa de
Pós Graduação em Ciência
Veterinária
4
Médico Veterinário autônomo
5
UFRPE – Professor do curso de
Medicina Veterinária
6
UFRPE – Professora do curso
de Gastronomia
7
UFLA – Professor do Programa
de Pós-graduação Lato Sensu em
Defesa Sanitária Animal
1
2
ADAGRO, Equídeos, Defesa Sanitária Animal
ABSTRACT
Glanders Prevalence comparision between Zona da Mata, Agreste and Sertão from
Pernambuco, Brazil, from 2005 to 2011
Glanders affects equines, other mammals and occasionally man. This study describes the
results of diagnostic tests for equine traffic from 2005 to 2011. The tests were conducted in the Zona da Mata, Agreste and Sertão of Pernambuco. All animals positive in the
complement fixation test (FC) without clinical symptoms were confirmed by the evidence
of mallein. It was used database of the Federal Agriculture in the State of Pernambuco
(SFA-PE), fed through monthly reports from two laboratories accredited to perform the
diagnosis of glanders. Descriptive analysis and calculated prevalence were accomplished
on the time series in 2005 to 2011 cases of glanders. Prevalence was stratified by region of
Pernambuco. The chi-square test was done to test the association between the prevalence
of glanders (direct variable) and diagnosis of AIE in the regions of the state (independent variables). There were 68 positive animals, with an average of 9.71 cases per year.
It is concluded that: 1. There is a higher prevalence of glanders in the Zona da Mata (p
<0.05); 2. There is an association between the occurrence of glanders and AIE (p <0.05);
3. The number of tests for diagnosis of glanders and AIE presents seasonality caused by
the distribution of equestrian events.
KEYWORDS
ADAGRO, Animal Health Protection, Equines
45
45
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013
INTRODUÇÃO
O mormo é uma enfermidade infecto-contagiosa de caráter zoonótico que acomete os equídeos (burros, cavalos e jumentos), outros mamíferos e o homem. Não existe um tratamento
eficaz para essa enfermidade, sendo o sacrifício a
única maneira de controlar a doença. Tem grande importância na saúde pública, por acometer
os humanos, principalmente aqueles que lidam
diretamente com os animais doentes.
Oficialmente o último foco de mormo no Brasil
ocorreu no município de São Lourenço da Mata,
em Pernambuco no ano de 1968, após esse período o mormo foi considerado erradicado no
Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Uma vez que todo material coletado nesse período para isolamento da bactéria
não crescia em laboratório, impossibilitando a
confirmação do diagnóstico. Passados 30 anos
sem notificação oficial, o mormo voltou a ser notificado no ano de 1999, em dois municípios as
mata sul de Pernambuco (Cortês e Serinhaém) e
no município de São José da Laje, no Estado de
Alagoas. (MAPA 1999)
O Estado de Pernambuco possui uma população estimada em 280.910 (duzentos e oitenta
mil, novecentos e dez) eqüídeos, sendo 138.811
(cento e trinta e oito mil oitocentos e onze)
equinos; 91.634 (noventa e hum mil seiscentos
e trinta e quatro) asininos e 50.465(cinquenta mil,quatrocentos e sessenta e cinco) muares
(IBGE 2006). Os equídeos estão distribuídos nas
Zonas da Mata, na qual predomina os equinos
e os muares, em decorrência das atividades, em
grande parte, voltadas para o transporte de cana
de açúcar; Zona do Agreste, composta de mais
equinos, utilizados no trabalho das fazendas de
criação, granjas, pequenas chácaras e pequenos
produtores rurais e Zona do Sertão, onde existe
a maior concentração de asininos.
Os animais da Zona da Mata (equino e muares) trabalham em usinas e engenhos no trans-
46
Pedro Paulo M. da SILVEIRA et al.
porte da cana de açúcar, já na região do agreste a população de equinos é bem maior que a
de muares e além dos trabalhos nas fazendas
de criação, tem-se também maior quantidade
de eventos agropecuários como leilões, exposições, vaquejadas, feira de animais e na Zona do
Sertão, predomina os asininos que antigamente
trabalhavam nas fazendas e transportavam pequenas cargas para as cidades nos dias de feira.
Com a reinsurgência do mormo no final de século passado (1999), o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) foi obrigado
a instituir legislação especifica e restringir o trânsito de equídeos com o objetivo de controlar a
enfermidade no Estado. Com isso o MAPA passou a credenciar laboratórios para realização do
diagnóstico do mormo, cadastrar médicos veterinários para colheita de sangue para diagnóstico. A partir de 2002, a Agência de Defesa e
Fiscalização Agropecuária (ADAGRO), passou
controlar a enfermidade e fiscalizar o trânsito
desses animais no Estado.
Sabe-se que o mormo é transmitido de um animal para o outro por meio das secreções do animal doente, veiculada na água e alimentos contaminados. Observa-se que os muares são mais
sensíveis, por isso desenvolvem a forma aguda
da doença e os equinos são considerados portadores crônicos. Na Zona da Mata pernambucana onde predomina os muares e equinos usados no trabalho de transporte da cana, o manejo
sanitário é deficiente, onde os animais são alojados em estábulos coletivos, pouco arejados e
úmidos, tendo em comuns cochos e bebedouros,
com acesso livre. Essas condições são favoráveis
à transmissão e disseminação da enfermidade,
causando grandes surtos na criação e o conseqüente prejuízo econômico na atividade. Na
Zona do Sertão onde predomina os asininos e
os equinos, respectivamente, o aparecimento da
enfermidade é pouco comum, uma vez que os
eventos e concentração de animais são em menor número. Na região do Agreste, predomina
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013
a criação de equinos, sobretudo aqueles usados
para fins de hobby, esporte e exposição. Nessas
criações possuem poucos registros de casos da
doença.
Objetiva-se demonstrar a situação do mormo
em relação aos equinos que transitam, observando sua regionalização e prevalência no Estado
de Pernambuco, comparando a distribuição dos
casos nas Zonas do Agreste, da Mata e do Sertão.
M AT E R I A L E M É TO D O S
Coleta de Dados
Esse estudo foi realizado no Estado de Pernambuco, no período de 2005 à 2011, em equídeos que iriam se deslocar para participar de
eventos hípicos. Os testes de diagnóstico para o
mormo foram realizados em animais das Zonas
da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. Para
todos os testes positivos no exame da fixação de
complemento (FC) em que o animal não apresentava sintomatologia clínica, eram exigidos o
diagnóstico confirmatório realizado pela prova
da maleína.
Em Pernambuco é obrigatório a apresentação
dos exames sanitários para transitar, assim foram levantadas informações sobre animais testados com diagnósticos positivos e negativos para
mormo e AIE, realizados para obtenção da Guia
de Trânsito Animal (GTA), que é gerada apenas
quando os exames são negativos. Este trabalho
utilizou a base de dados da Superintendência
Federal de Agricultura no Estado de PernamTABELA 01
Resultados
buco (SFA-PE), informados por meio de relatórios mensais elaborados por dois laboratórios
credenciados para realização do diagnóstico do
mormo.
Análise dos Dados
Foi feita análise descritiva da série histórica
2005 à 2011 dos casos de mormo e calculada a
prevalência. A prevalência foi estratificada pelas
Zonas da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco. Foi feito o teste qui-quadrado para testar a
Associação entre a prevalência do mormo (variável direta) e diagnóstico de AIE nas regiões do
Estado (variáveis independentes).
R E S U LT A D O S
Houve associação significativa (valor de
P<0,05) entre os resultados positivos de Mormo
e AIE em relação aos equídeos no Estado de Pernambuco. Os equídeos apresentaram uma probabilidade 6,751 vezes maior de serem soropositivos para AIE que para o Mormo. (tabela 1).
A variação dos casos de mormo durante os
anos demonstra comportameto diferenciado nas
diferentes regiões do Estado (gráf.1). Nos meses de maio a agosto (Graf.2) se concentram os
eventos agropecuários que ocorrem durante o
ano. As vaquejadas, as exposições agropecuárias específicas para equinos, fazem com que
nesse período ocorra um maior trânsito dentro
do estado e como conseqüência um aumento nas
fiscalizações com barreiras fixas e móveis e nos
eventos agropecuários. Isto também traz uma
maior conscientização do criador que para tran-
Associação entre os resultados positivos e negativos entre mormo e AIE para os eqüídeos, no
período entre 2005 à 2011 no Estado de Pernambuco
Mormo
AIE
Total
N
%
n
%
103.861
99,94
104.961
99,19
Negativo
68
0,06
855
0,81
923
Total
103.929
100
105.816
100
209.745
Positivo
208.822
Comparação da Prevalência de Mormo entre as zonas da [...]
47
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013
GRÁFICO 01
GRÁFICO 02
GRÁFICO 03
48
Distribuição anual dos casos de Mormo nas Zonas da Mata, Agreste e Sertão do estado de
Pernambuco no período de 2005 a 2011
Meses com maior número de exames no
teste da Fixação de Complemento (FC),
no período de 2005 a 2011, no Estado de
Pernambuco
Meses com menor número de exames no
teste da Fixação de Complemento (FC),
no período de 2005 a 2011, no Estado de
Pernambuco.
Pedro Paulo M. da SILVEIRA et al.
sitar com seus animais, sabe que necessita estar
com documentação sanitária em dia e dentro do
prazo de validade.
Com o fim dos eventos agropecuários para
equinos, os meses de dezembro a fevereiro foram
aqueles que tiveram menor número de exames de
Fixação de Complemento realizados para Mormo, sendo esse período considerado de descanso
(férias) para os vaqueiros e tratadores (Graf.3).
A quantidade de exames realizados no período
de 2005 à 2011, aumentou ano a ano, com um
total de exames realizados de 103.929. (Gráfico
4). Houve variação do número de casos entre os
anos. No período estudado, o total de exames
positivos foi 68 (gráfico 4). O aumento do número de exames realizados esteve relacionado com
o trabalho de educação sanitária, realização de
palestras, distribuição de folders nos locais dos
eventos agropecuários e nos diferentes municípios em que ocorreu maior quantidade de animais positivos, havendo a intensificação da vigilância nos eventos e no trânsito dos equídeos. A
Zona da Mata é a que apresenta o maior número
de casos neste período, porém houve aumento
ao longo dos anos na Zona do Agreste e Sertão
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013
GRÁFICO 04
Exame de mormo com a finalidade de trânsito no Estado de Pernambuco no período de 2005 a
2011.
(Gráf.5).
DISCUSSÃO
O maior número de exames positivos na Zona
da Mata (Gráf. 4), em relação ao agreste, se deve
ao fato dos proprietários de engenhos (produtores de cana de açúcar) também possuírem
cavalos que transitam para participar de eventos hípicos e são criados em coabitação com os
animais de trabalho quando podem se contaminar. No Agreste, ocorre o maior número de
eventos agropecuários relacionados à indústria
do cavalo. Com a realização dos eventos hípicos,
há uma aglomeração dos animais proporcionando um aumento do risco de transmissão do
agente, como citam (HOWE e MILLER, 1947;
GANGULEE et al.1966). Facilitado pela forma
de transmissão que são os cochos e bebedouros
coletivos (MOTA et. al. 2000).
Um fator importante para manutenção e disseminação do agente é o muar de descarte (aparentemente sadio), oriundos dos engenhos localizados na Zona da Mata que são comercializados
nas feiras da região do Agreste. Eles são adquiridos por fazendeiros e donos de haras, para o
transporte de capim nas propriedades. A presença deste animal doente funciona como reservatório e potencial transmissor aos demais equídeos
da propriedade. (ZUBAIDY e AL-ANI, 1978)
(MOTA et. al., 2000).O aparecimento da enfermidade no Sertão em 2009 e 2010 (Gráf. 4) pode
ser explicado em parte pelo trânsito de animais
de vaquejada. Muitos desses animais são provenientes da região do Agreste pernambucano.
Com o quantitativo de exames para diagnóstico do mormo realizados no período estudado,
pode-se observar que o mormo tem uma menor
casuística em relação a Anemia Infecciosa Eqüina
(AIE); no entanto, quando os equídeos são criados coletivamente, dividindo o mesmo estábulo,
cocho e bebedouro, numa coabitação constante,
favorece a rápida transmissão da enfermidade e
a consequente contaminação e morte dos os animais. A análise comparativa dos dados relativos
ao número de exames do período estudado, envolvendo a AIE, observa-se no Gráf. 4, que o número de exames relativos as duas enfermidades
se equivalem, todavia, a grande diferença está no
número de exames positivos dessas doenças, que
representa um percentual de 0,065% de exames
positivos para mormo e de 0,808% de exames
Comparação da Prevalência de Mormo entre as zonas da [...]
49
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013
GRÁFICO 05
50
Distribuição dos soropositivos para mormo pelo Teste da Fixação de Complemento nas regiões da Zona da
Mata, Agreste e Sertão do Estado de Pernambuco no período de 2005 a 2011
Pedro Paulo M. da SILVEIRA et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 45-52 - janeiro/dezembro, 2013
positivos para AIE.
Atualmente não existe tratamento ou vacina
eficaz contra essa enfermidade (AMEMIYA et
al. 2002), onde todos os animais diagnosticados
com mormo, deverão ser sacrificados seguindo
a legislação vigente( IN nº 24). As medidas profiláticas, como evitar aglomerações de eqüídeos,
fiscalização e controle do trânsito, participar de
eventos hípicos fiscalizado são ações básicas,
mais eficientes (MAPA, 2003) o que parece explicar a baixa prevalência encontrada.
A população de equídeos com um bom manejo sanitário possui uma baixa prevalência para
essa enfermidade. A associação do controle da
doença, com a eficácia do diagnóstico, educação
sanitária constante, maior conscientização dos
proprietários, intensificação da vigilância passiva e ativa e a exigência dos exames para trânsito são estratégicas para evitar a propagação da
doença entre os plantéis de equídeos.
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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013
Avaliação sobre o conhecimento de
Zoonoses em profissionais e acadêmicos
da Medicina e Medicina Veterinária na
cidade de Maceió-Alagoas-Brasil
Jorge Rêgo RIFAS JÚNIOR1; José Wilton PINHEIRO JUNIOR2; Daniel Friguglietti BRANDESPIM3;
Rinaldo Aparecido MOTA4; Giulliano Aires ANDERLINI5
RESUMO
Objetivou-se com este estudo avaliar o conhecimento de Médicos Humanos e Veterinários, assim como de formandos em Medicina Humana
e Veterinária sobre o que são zoonoses. Foram entrevistados 31 Médicos
atuantes na área de clínica médica, 27 veterinários atuantes na área de
clínica médica de pequenos animais, 70 estudantes formandos em medicina e 57 em veterinária. Na avaliação sobre o conhecimento conceitual
de zoonoses, 44,4% dos veterinários e 42,2% dos concluintes do curso de
medicina veterinária assinalaram de forma correta, o que foi afirmado por
3,4% dos médicos e 12,9% dos formandos em medicina. Quando associado o conhecimento prévio entre os formandos de medicina e medicina veterinária e entre os profissionais médicos e veterinários, observou-se uma
associação significativa (p<0,001). Diante o exposto sugere-se a necessidade de reformulação das metodologias aplicadas nas disciplinas de Saúde
Pública no que concerne ao conceito das zoonoses, bem como o desenvolvimento de campanhas informativas e de reciclagem dos profissionais.
PA L AV R A S - C H AV E
Médico Veterinário, autônomo,
Maceió, Alagoas, Brasil
1
Unidade Acadêmica de
Garanhuns, Universidade
Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), Av. Bom Pastor s/n,
Boa Vista, Garanhuns, PE
55296-901, Brasil. E-mail:
[email protected] (Endereço
para correspondência)
2
Unidade Acadêmica de
Garanhuns, Universidade
Federal Rural de Pernambuco,
Garanhuns, Pernambuco, Brasil.
3
Departamento de Medicina
Veterinária, Universidade
Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), Garanhuns,
Pernambuco, Brasil.
4
Centro de Estudos Superiores
de Maceió, Faculdade de
Ciências Biológicas, Centro de
Estudos Superiores de Maceió
(CESMAC), Alagoas, Brasil.
5
educação em saúde, medicina, medicina veterinária, zoonoses
ABSTRACT
Evaluation of the knowledge of Zoonoses by professional and academic of
Medicine and Veterinary Medicine in Maceió-Alagoas-Brazil
The objective of this study was to evaluate the knowledge of Human and Veterinary Doctors, as well as graduates in Human and Veterinary Medicine on what
are zoonosis. Thirty-one doctors active in the area of clinical medicine, 27 veterinarians active in the area of small animals clinic, 70 graduates in medicine and
57 veterinary students were interviewed. In evaluation on the conceptual knowledge of zoonosis, 44.4% of veterinarians and 42.2% of students graduating in
veterinary medicine correctly replied, what was stated by 3.4% of physicians and
12.9% of medical students. When associated with the prior knowledge between
graduates of medicine and veterinary medicine and between doctors and veterinary professionals, we observed a significant association (p <0.001). Thereby, we
suggest the need for a reformulation of the methodologies used in the disciplines
of Public Health regarding the concept of zoonosis, as well as the development of
information campaigns and retraining of professionals.
KEYWORDS
health education, medicine, veterinary medicine, zoonoses.
53
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013
INTRODUÇÃO
Acredita-se que a ciência médica, de uma
forma geral, tem sido cada vez mais tecnicista,
especializada, fragmentada e curativa, contrapondo-se à sua essência humana, geral, preventiva e educativa (ENGEL, 1977; CAPRA, 1982;
CORDEIRO, 2001). Os educadores, submetidos
aos avanços técnico-científicos, tem se preocupado com a formação do homem para o mercado
de trabalho, objetivando dispor à sociedade um
profissional competitivo e tecnocrático, o que
tende a limitar a criatividade e o senso crítico
humano, privando-o de uma visão holística do
saber (DELLORS, 1999).
É função da escola médica auxiliar o estudante
a compreender o sentido preventivo, educativo e
social de sua atividade, considerando que a medicina individual, mercantilista e tecnicista fracassa em responsabilidade social (VENTURELLI, 1977; ALMEIDA, 2001), seja no âmbito da
medicina humana ou da veterinária.
Após a Segunda Guerra Mundial, a medicina
veterinária, na saúde pública, caracterizou-se
pelo trabalho direcionado para a população,
através da utilização da epidemiologia no desenvolvimento de programas de controle de zoonoses pelos órgãos de saúde pública (PFUETEZENENREITER et al., 2004).
A história da medicina veterinária mostra claramente a interação entre médicos veterinários e
médicos humanos, quando os primeiros ocupam
cargos importantes e de relevância técnica administrativa para a saúde pública (SCHWABE,
1984). No Brasil, o Conselho Nacional de Saúde,
órgão do controle social do Ministério da Saúde,
reconhece o médico veterinário como profissional de saúde e identifica a medicina veterinária
como profissão de saúde de nível superior para
atuar neste Conselho (BRASIL, 1997; BRASIL,
1998).
Visando uma melhoria no âmbito da Saúde
Pública, a medicina moderna entende que a edu-
54
José Rêgo RIFAS JÚNIOR et al.
cação para comunidade deve ser realizada com
campanhas a favor da saúde, através de medidas
preventivas (RODRÍGUEZ et al., 2007). Esta
ação deve ter gerenciamento transdisciplinar,
onde exista a possibilidade de comunicação não
apenas entre os campos disciplinares, mas entre
os agentes em cada campo, havendo cooperação através de uma abordagem que passa entre,
além e através das disciplinas, numa busca de
compreensão da complexidade do processo saúde-doença (VILELA e MENDES, 2003), o que
abrange as zoonoses.
As zoonoses são enfermidades transmissíveis entre os animais vertebrados e o homem
(ACHA e SZYFRES, 1986), sendo que o estreitamento do relacionamento das pessoas com seus
animais de estimação, seguido pelo aumento
progressivo do número destes animais, sejam domiciliados ou peridomiciliados, de modo geral,
em todo o Brasil, associado ao fácil acesso destes
aos locais de lazer e ambientes públicos, aumentam o risco de infecção, especialmente para as
crianças (SCAINI et al.).
Neste contexto, objetivou-se com este estudo avaliar, de forma geral, o conhecimento de
profissionais e acadêmicos médicos e veterinários sobre o que são zoonoses a fim de analisar
a forma como estas são abordadas nas clínicas
veterinárias, consultórios médicos e nos cursos
de graduação em medicina e veterinária.
M AT E R I A I S E M É TO D O S
O estudo foi desenvolvido no município de
Maceió, sendo entrevistados 31 médicos humanos que atuavam em clínica médica e 27 médicos
veterinários que atuavam em clínica médica de
pequenos animais, e 70 estudantes formandos
em medicina humana e 57 em medicina veterinária. A coleta das informações foi realizada através de entrevistas utilizando-se questionário com
questões objetivas sobre o conceito de zoonose,
sendo aplicado por apenas um dos autores.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013
Para avaliação dos dados realizou-se análise
estatística descritiva por meio de distribuições
absoluta e relativa, além da técnica de estatística
inferencial, utilizando-se o teste qui-quadrado de
independência. O nível de significância utilizado
na decisão dos testes estatísticos foi de 5%. O
programa utilizado para a obtenção das análises
estatísticas foi o EpiInfo versão 6.04 (DEAN et
al., 1990).
medicina e médicos (Tabelas 1 e 2).
Apesar da inserção do médico veterinário
na saúde pública observou-se neste estudo que
56,1% dos formandos de medicina veterinária e
51,9% dos médicos veterinários responderam de
forma equivocada sobre o conceito de definição
do que é uma zoonose.
Quando se avaliou o conhecimento dos acadêmicos de medicina e médicos de uma forma
isolada observou-se que 84,3% e 89,7%, resR E S U LT A D O S
pectivamente, responderam que zoonose é uma
Na avaliação sobre o conhecimento conceitual enfermidade transmitida unicamente do animal
de zoonoses, 44,4% dos médicos veterinários e para o homem.
42,2% dos concluintes do curso de medicina
veterinária assinalaram de forma correta, serem D I S C U S S Ã O
tais enfermidades inter-transmissíveis para huAs freqüências verificadas sobre a avaliação
manos e animais, o que foi afirmado por 3,4% do conhecimento conceitual de zoonoses podem
dos médicos humanos e 12,9% dos formandos ser consideradas aquém do esperado, pois, uma
em medicina humana.
vez que estas duas classes profissionais da saúQuando associado o conhecimento prévio en- de representam as principais disseminadoras de
tre os formandos de medicina humana e medi- conhecimentos sobre prevenção e controle das
cina veterinária e entre os médicos humanos e zoonoses, esperava-se encontrar valores iguais
veterinários, observou-se uma associação signifi- ou superiores a 80,0%.
cativa, demonstrando um nível de conhecimento
Observou-se que tanto no curso de medicina
dos formandos de medicina veterinária e médi- quanto no de medicina veterinária, os discentes
cos veterinários superior aos dos acadêmicos de aprendem a direcionar o pensamento à medicina
TABELA 01
Associação sobre o conhecimento prévio do conceito zoonose entre os formandos em Medicina
Humana e Veterinária, Maceió, Alagoas
Resultados
Formandos em Medicina
Humana
Formandos em Medicina
Veterinária
F.A.
F.R. (%)
F.A.
F.R. (%)
Doença transmitida de animais
para humanos
59
84,3
32
56,1
Doença transmitida de cães
ou gatos para humanos
2
2,8
-
-
Doença transmitida de animais
para humanos e de humanos
para animais
9
12,9
24
42,2
Não é doença/Não sabe
-
-
1
1,7
Total
70
100,0
57
100,0
Valor de p
p < 0,001*
F.A. – Freqüência Absoluta; Freqüência Relativa
*Associação significativa a 5,0%; Qui-quadrado = 15,86
Avaliação sobre o conhecimento de Zoonoses em [...]
55
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013
TABELA 02
Associação sobre o conhecimento prévio do conceito zoonose entre os Médicos Humanos e
Veterinários, Maceió, Alagoas
Resultados
Médico humano
Médico Veterinário
F.A.
F.R. (%)
F.A.
F.R. (%)
Doença transmitida de animais
para humanos
26
89,7
14
51,9
Doença transmitida de cães
ou gatos para humanos
2
6.9
-
-
Doença transmitida de animais
para humanos e de humanos
para animais
1
3,4
12
44,4
Não é doença/Não sabe
-
-
1
3,7
Total
29
100,0
27
100,0
Valor de p
p < 0,001*
F.A. – Freqüência Absoluta; Freqüência Relativa
*Associação significativa a 5,0%; Qui-quadrado = 16,67
curativa e individual e este, quando é analisado a
partir do modelo fleckiano, demonstra que aquilo que não concorda com o sistema (no caso,
aquilo que foge à relação orgânica-doença e seus
correspondentes) parece inobservável (PFUETEZENENREITER e ZYLBERSZTAJN, 2008) .
Ao estudar as percepções de estudantes de
medicina veterinária sobre a atuação na área de
saúde, Pfuetzenenreiter e Zylbersztajn (2004) verificaram que os estudantes ingressam no curso
de medicina veterinária com uma visão e uma
expectativa voltada para a medicina curativa,
e para que haja uma modificação nesse quadro
será necessário que os diversos setores das Instituições de ensino percebam que os estudantes
devem ter uma formação integral para atender
as diversas áreas de atuação do médico veterinário.
Ainda segundo esses autores caso não haja alterações na matriz curricular acompanhadas de
reformulação dos projetos políticos pedagógicos
de formação dos estudantes, em caráter generalista, qualquer alteração será inútil e insatisfatória. Diante da realidade observada Arámbulo
(1991) recomenda a mudança de abordagem
dos currículos, com concentração excessiva na
clínica, que favoreça uma educação mais voltada
56
José Rêgo RIFAS JÚNIOR et al.
para a saúde pública.
Ao responderem que zoonose é uma enfermidade transmitida unicamente do animal para o
homem, 84,3% e 89,7%, respectivamente, de
acadêmicos de medicina e médicos, corroboraram com a tendência de muitos profissionais,
que sem o devido conhecimento sobre o tema,
incriminam e até condenam os animais domésticos como os responsáveis pelas doenças nos
humanos.
De acordo com revisão realizada por Pfuetzenreiter et al (2004) as zoonoses estão inseridas em
uma das principais vertentes da saúde pública
veterinária, sendo tais enfermidades consideradas como um importante indicador sócio-econômico, pelos agravantes de saúde no ser humano
e dos prejuízos econômicos na cadeia produtiva
animal. Para que haja um controle e prevenção
dessas doenças no homem, se faz necessário a
adoção de medidas de controle no animal e para
que isto ocorra as autoridades de saúde pública e
agricultura devem se unir para elaborar medidas
por meio da saúde pública veterinária.
Enquanto a matriz curricular dos cursos de
medicina privilegiar a formação acadêmica dissociada de demais aspectos, como os históricos,
sociais, econômicos e culturais, enfatizada e dire-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 16, no 1/2/3, p. 53-58 - janeiro/dezembro, 2013
cionada ao curativismo como principal elemento
deste referencial, incorporando-se desta forma a
noção de unicausalidade (uma causa, produzindo um efeito) e biologicismo (as doenças e suas
curas sempre acontecem no nível biológico); excluindo-se portanto, a teoria da multicausalidade da doença e incluindo-se fatores sociais, econômicos, culturais e ambientais, o curativismo,
como mencionado, será sempre o elemento essencial foco do ensino, direcionado ao diagnóstico e cura das enfermidades, já que o conceito
de saúde é a ausência da doença no indivíduo,
quando considerado isoladamente na prática clínica (BRIATI, 2001).
A saúde coletiva ou de uma comunidade depende também das interações dos grupos sociais
e dos diferentes grupos de profissionais envolvidos com a saúde humana, em caráter multidisciplinar, além de outros fatores como as políticas
governamentais, além da formação profissional
dos diversos atores envolvidos na promoção da
saúde, como por exemplo, médicos, enfermeiros,
dentistas, farmacêuticos, nutricionistas e médicos veterinários entre outros que muitas vezes
colaboram entre si e atuam sobre o ambiente em
prol do bem-estar humano (SANTOS, 1991).
CONCLUSÃO
Diante do exposto sugere-se a necessidade de
reformulação das metodologias aplicadas nas
disciplinas de Saúde Pública no que concerne ao
conceito das zoonoses, bem como o desenvolvimento de campanhas informativas e de reciclagem dos profissionais, para que a situação atual
destas enfermidades não seja potencializada por
uma série de informações equivocadas, estas
geradas, pelo desconhecimento destes próprios
profissionais que deveriam estar na linha de
frente, colaborando com as Secretarias de Saúde
no combate, controle e até erradicação de certas
zoonoses do nosso meio social.
AGRADECIMENTOS
Jorge Rêgo Rifas Júnior e Giulliano Aires Anderlini participaram da concepção, delineamento e redação do trabalho, José Wilton Pinheiro
Junior, Daniel Friguglietti Brandespim e Rinaldo
Aparecido Mota participaram da redação do artigo e revisão crítica.
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