AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS:
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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS:
ÉRICA MÁRCIA LEITE BARROS AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS: UMA PERCEPÇÃO DOS AGENTES DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MERCADO DO ESPÍRITO SANTO Dissertação desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil. Orientador: Prof. João Calmon Nogueira da Gama. VITÓRIA 2005 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Eventos relacionados com construção sustentável e avaliação ambiental de edifícios ...................................................................................... 21 Quadro 2 - Iniciativas relacionadas ao desenvolvimento de metodologias de avaliação ambiental de edifícios ...................................................................... 24 Quadro 3 - Grupo de Normas ISO 14000 ....................................................... 36 Quadro 4 - Objetivo das normas ISO 14000 ................................................... 37 Quadro 5 - Códigos de energia para edifícios ................................................ 42 Quadro 6 - Características gerais do Programa C-2000 ..................... Quadro 7 - Características gerais do CBIP ..................................................... 49 Quadro 8 - Principais Programas e Políticas Públicas de incentivo à avaliação e certificação ambiental de edifícios ................................................................ 62 Quadro 9 - Etapas da LCA e respectivos procedimentos ............................... 69 Quadro 10 - Ferramentas LCA para avaliação de edifícios ou produtos construtivos ...................................................................................................... 83 Quadro 11 - Principais sistemas existentes para avaliação ambiental de edifícios ............................................................................................................ 87 Quadro 12 - Justificativa dos sistemas de avaliação ambiental de edifícios .. 90 Quadro 13 - Créditos respectivos para cada categoria BREEAM .................. 95 Quadro 14 - Classificação provável no BREEAM, conforme pontos obtidos na lista de verificação simplificada ........................................................................ 96 Quadro 15 - Categorias de Desempenho LEEDTM ....................................... 100 Quadro 16 - Níveis de classificação LEEDTM ................................................ 104 Quadro 17 - Ciclos de desenvolvimento GBC .............................................. 106 Quadro 18 - Classes de benchmarks ............................................................ 109 Quadro 19 - Indicadores de Sustentabilidade Ambiental utilizados pelo GBTool v 1.81 ............................................................................................................. 110 Quadro 20 - Questões e categorias de desempenho ................................... 112 Quadro 21 - Seções que estruturam o GBTool ............................................. 117 Quadro 22 - Quadro resumo das metodologias de avaliação de desempenho mais usadas ................................................................................................... 122 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Exemplo de Cálculo de incentivo financeiro CBPI ......................... 49 Tabela 2 - Categorias avaliadas no GBTool com ponderações default do sistema ........................................................................................................... 115 Tabela 3 - Pesos utilizado nos estudos de casos realizados por Silva (2003) .. 3 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Aspectos compreendidos no desenvolvimento sutentável ............. 16 Figura 2 - Etapas da metodologia LCA ........................................................... 68 Figura 3 - Dimensões da LCA ......................................................................... 71 Figura 4 - Etapas operacionais da fase de análise do inventário ................... 73 Figura 5 - Elementos para uma Avaliação de Impactos ................................. 79 Figura 6 - Etapas da fase Interpretação .......................................................... 82 Figura 7 - Esquema da metodologia BREEAM 98 .......................................... 97 Figura 8 - Exemplo de lista de verificação para certificação LEED .............. 103 Figura 9 - Estrutura hierárquica do GBTool .................................................. 116 Figura 10 - Blocos de entrada e saída de dados na GBTool ........................ 119 Figura 11 - Gráfico de desempenho global (esquerda) e de cada categoria de desempenho .................................................................................................. 120 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 3 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................ 3 1.2. PRINCIPAIS CONFER. E CENTROS DE PESQUISA NO TEMA ............ 9 1.3. JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 13 1.4. HIPÓTESE DO TRABALHO ................................................................... 16 1.5. OBJETIVOS ............................................................................................ 16 1.5.1. Objetivo Geral ...................................................................................... 16 1.5.2. Objetivos específicos ......................................................................... 16 1.6. METODOLOGIA ..................................................................................... 17 1.6.1. Pesquisa bibliográfica ........................................................................ 17 1.6.2. Fluxograma da metodologia .............................................................. 19 1.7. ORGANIZAÇÃO DESTE TRABALHO ................................................... 20 2. BASES NORMATIVAS, PROGRAMAS E POLÍTICAS DE INCENTIVO A AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS .............. 21 2.1. BASE NORMATIVA RELACION. COM AVALIAÇÃO AMBIENTAL ..... 21 2.1.1. ISO 14000 ............................................................................................. 22 2.1.2. Códigos específicos de energia para edifícios ................................ 28 2.2. PROGRAMAS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO À AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS ............................................29 2.2.1. Programas Canadenses ..................................................................... 29 2.2.2. Programas americanos ...................................................................... 39 2.2.3. Programas Europeus e Asiáticos ...................................................... 43 2.2.4. Programas Brasileiros ........................................................................ 45 3. ANÁLISE DO CICLO DE VIDA: UMA ABORDAGEM NA AVALIAÇÃO DE EDIFÍCIOS ............................................................. 50 3.1. ETAPAS DE UMA LCA .......................................................................... 53 3.1.1. Definição de metas e escopo ............................................................. 54 3.1.2. Análise do Inventário .......................................................................... 57 3.1.3. Avaliação dos impactos ..................................................................... 61 3.1.4. Interpretação dos dados .................................................................... 64 3.2. PONTENCIALIDADES ........................................................................... 65 3.3. LIMITAÇÕES .......................................................................................... 67 4. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS ........ 71 4.1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 71 4.2. BREEAM .................................................................................................. 75 4.2.1. Estrutura .............................................................................................. 77 4.2.2. Características do método ................................................................. 79 4.2.3. Potencialidades .................................................................................... 83 4.2.4. Limitações ........................................................................................... 83 4.3. LEEDTM .................................................................................................... 84 4.3.1. Metodologia ......................................................................................... 87 4.3.2. Potencialidades ................................................................................... 89 4.3.3. Limitações ............................................................................................ 89 4.4. GBC ...................................................................................................... 90 4.5. CARACTERÍSTICAS DO GBTOOL ..................................................... 93 4.5.1. Valores de referência (Benchmark) ................................................... 93 4.5.2. Indicadores de sustentabilidade ambiental ...................................... 95 4.5.3. Áreas e Categorias de desempenho ................................................. 96 4.5.4. Sistema de pontuação ........................................................................ 98 4.5.5. Sistema de ponderações .................................................................... 99 4.5.6. Sistema métrico ................................................................................ 100 4.5.7. Estrutura do GBTool ......................................................................... 101 4.5.8. Comunicação dos resultados .......................................................... 104 4.5.9. Potencialidades ................................................................................. 105 4.5.10. Limitações ....................................................................................... 106 Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 87 4. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS 4.1. INTRODUÇÃO O conceito de Análise do Ciclo de Vida (LCA) – originalmente desenvolvido na esfera de avaliação de impactos de produtos, conforme apresentado no Capítulo 3 – forneceu a base conceitual para o desenvolvimento das metodologias para avaliação ambiental de edifícios a partir da década de 90 na Europa, nos EUA e no Canadá. A intenção era elaborar estratégias para o cumprimento de metas ambientais locais estabelecidas a partir da UNCED do Rio de Janeiro (Silva, 2000). Em virtude das dificuldades práticas de utilização de LCA para avaliação global de edifícios, a maioria dos métodos não a emprega como ferramenta de apoio à atribuição de créditos ambientais relacionados ao uso de materiais. Em geral, aproveitam apenas do conceito de ciclo de vida e utilizam-no para aumentar a abrangência da avaliação do edifício, ainda que a maioria deles utilize o conceito de “berço ao sítio”1 (cradle-to-site) em vez de “berço ao túmulo”, conceito-base da LCA. Os estágios posteriores – demolição, reciclagem e reuso – ainda são tratados genericamente (projeto para adaptabilidade e demolição, uso de materiais biodegradáveis, recicláveis e reutilizáveis), mas muitos pesquisadores buscam ampliar essa abordagem (Agopyan & Silva, 2003). Segundo um, o Canada’s ATHENA Sustentable Materials Institute, os esquemas de avaliação ambiental de edifícios podem ser englobadas em três níveis distintos: • Nível 1: inclui ferramentas de comparação de produtos e aquelas que fornecem dados e informações que são usadas por outras ferramentas de avaliação. Ex: BEES, SimaPro 1 Entende-se por “berço ao sítio” a consideração dos impactos inerentes aos materiais e ao edifício apenas até a etapa de uso/ocupação do mesmo. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios • 88 Nível 2: engloba ferramentas de apoio a decisões de projeto de todo o edifício. São ferramentas usadas principalmente na etapa de projeto e geralmente focam em uma área específica, tais como, custo do ciclo de vida, efeitos ambientais do ciclo de vida, iluminação, operação de energia, materiais, dentre outros. Essas ferramentas avaliam o que Zimmermann et al. (2002) chamam de “desempenho potencial”, ou seja, o desempenho ambiental baseado em propriedades e características inerentes ao edifício e não questões quanto ao “desempenho real” do edifício em operação. Ex: ATHENA, Eco Quantum, ENVEST, Radiance, DOE 2 e 10. • Nível 3: são as ferramentas que consistem em um Programa de Avaliação de todo o edifício. Fornecem ampla cobertura de questões ambientais, econômicas, sociais e outras relevantes para sustentabilidade. Usa tanto dados objetivos – freqüentemente a partir das ferramentas do Nível 2 – como subjetivos. Ex: BREEAM e suas variáveis, GBTool, LEEDS. Atualmente, praticamente cada país europeu, juntamente com Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e Hong Kong, possui um sistema de avaliação e classificação de desempenho ambiental de edifícios conforme Quadro 11 (Agopyan & Silva, 2003). Quadro 11 - Principais sistemas existentes para avaliação ambiental de edifícios PAÍS SISTEMA COMENTÁRIOS Sistema com base em critérios e benchmarks 2, para várias tipologias de edifícios. Um terço dos itens avaliados são Reino Unido BREEAM (BRE Environmental Assessment Method) parte de um bloco opcional de avaliação de gestão e operação para edifícios em uso. Os créditos são ponderados para gerar um índice de desempenho ambiental do edifício. O sistema é atualizado regularmente, a cada 3 - 5 anos (Baldwin et al., 1998). 2 Valores de referência Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 89 Projeto de pesquisa que visa melhorar a retro-alimentação PROBE (Post-occupancy Review of Building Engineering) sobre o desempenho de edifícios, através de avaliações pósocupação – com base em entrevistas técnicas e com os usuários – e de método publicado de avaliação e relato de energia (Cohen et al., 2001). Sistema com base em critérios e benchmarks, inspirado no BREEAM. O sistema é atualizado regularmente (a cada 3 - 5 LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) anos) e versões para outras tipologias estão em estágio piloto. Na versão para edifícios existentes, a linguagem ou Estados Unidos as normas de referência foi modificada para refletir a etapa de operação do edifício (USGBC, 2001). MSDG (Minnesota Sustainable Design Guide) Sistema com base em critérios visando o emprego de estratégias de projeto ambientalmente responsável. Ferramenta de auxílio ao projeto (Carmody et al. 2000). Internacional GBC (Green Building Challenge) Sistema com base em critérios e benchmarks hierárquicos. Ponderação ajustável ao contexto de avaliação (Cole, 2000; Larsson, 2000). Hong Kong HK-BEAM (Hong Kong Building Environmental Assessment Method) Adaptação do BREEAM 93 para Hong Kong, em versões para edifícios de escritórios novos (CET, 1999a) ou em uso (CET, 1999b) e residenciais (CET, 1999c). Não pondera. Alemanha EPIQR Permite a avaliação de edifícios existentes para fins de melhoria ou reparo (Lützkendorf, 2002) Sistema com base em critérios e benchmarks, modificado Suécia Environmental Status of Buildings segundo as necessidades dos membros. Sem LCA ou ponderação (Glaumann & Von Platen, 2002) Sistema com base em critérios e benchmarks hierárquicos, Noruega influenciado pelo BREEAM. Possui duas versões, uma para EcoProfile edifícios comerciais e outra para residenciais (Pettersen, 2002; Glaumann & Von Platen, 2002). Sistema com base em critérios e benchmarks, com Finlândia PromisE Environmental Classification System for Buildings ponderação fixa para quatro categorias: saúde humana (25%), recursos naturais (15%), conseqüências ecológicas (40%) e gestão de risco (20%) (Aho, 2002; Huovila et al., 2002). Inspirado no BREEAM, o sistema é dedicado a edifícios Canadá BEPAC (Building Environmental Performance Assessment Criteria) comerciais novos ou existentes. É orientado a incentivos e distingue critérios de projeto e de gestão, separados para o edifício-base e para as formas de ocupação que ele abriga (Cole, Rousseau & Theaker, 1993), BREEAM Canada Adaptação do BREEAM para o Canadá (Skopek, 2002) Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 90 Sistema com base em critérios e benchmarks destinado a Áustria Comprehensive Renovation residências para estimular renovações abrangentes e não apenas parciais (Geissler, 2002). Sistema com base em critérios e benchmarks. Para edifícios novos e existentes. Atribui uma classificação única, a partir Austrália NABERS (National Australian Building Environment Rating Scheme) de critérios diferentes para proprietários e usuários. Em estágio-piloto. Os níveis de classificação são revisados anualmente (Vale et al., 2001). Sistema com base em critérios e benchmarks. Pondera França apenas os itens nos níveis inferiores. O resultado é um perfil ESCALE de desempenho global, detalhado por sub-perfis (Chatagnon et al, 1998). Sistema com base em critérios e benchmarks. Composto por várias ferramentas para diferentes estágios do ciclo de vida. Japão CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency). Inspirada na GBTool, a ferramenta de projeto trabalha com um índice de eficiência ambiental do edifício (BEE), e aplica ponderação fixa e em todos os níveis (JSBC, 2002). Fonte: Atualização a partir de Agopyan & Silva, 2003. Embora não exista uma categorização consolidada e formal dos esquemas de avaliação de edifícios, Agopyan & Silva (2003) propõem uma divisão em dois segmentos: • Quando o objetivo é promover a construção sustentável através de mecanismos de mercado. Devem apresentar uma estrutura simples (em geral em forma checklist) para ser facilmente absorvida pelo mercado. Porém, normalmente, estão vinculados a algum tipo de certificação no intuito de divulgar o reconhecimento diante desse mercado. Ex: BREEAM, HK-BEAM, LEEDTM, CSTB ESCALE, CASBEE, dentre outros. • Métodos orientados para pesquisa com maior fundamentação científica e voltados para o desenvolvimento metodológico, como por exemplo, BEPAC e GBC. Outras categorizações são feitas em relação aos métodos de avaliação separando, por exemplo, grupos de ferramentas de avaliação de apoio ao projeto das ferramentas de avaliação pós-ocupação e ainda aquelas que Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 91 agrupam as ferramentas quanto a sua abrangência (ferramentas de avaliação de edifícios novos / existentes; comerciais / residências) dentre outras. Este trabalho pretende estudar os sistemas existentes de avaliação ambiental de edifícios com metodologias abrangentes, de forma a contribuir como embasamento científico para um melhor entendimento do tema. Os métodos escolhidos buscam criar esse panorama conforme Quadro 12. Quadro 12 - Justificativa dos sistemas de avaliação ambiental de edifícios MÉTODO DE AVALIAÇÃO JUSTIFICATIVA DE ESCOLHA Foi o pioneiro servindo como base para diversos sistemas BREEAM orientados ao mercado. Contempla diversidades geográficas, culturais, tecnológicas e GBC econômicas na avaliação e será utilizado no estudo de caso. Atualmente é o método de maior potencial de crescimento TM LEED recebendo investimentos maciços para sua maior difusão e aprimoramento (Silva, 2003) 4.2. BREEAM (BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT ENVIRONMENTAL ASSESSMENT METHOD) BREEAM foi a primeira tentativa de formular uma metodologia para especificar e mensurar o desempenho ambiental e melhorar a qualidade do meio ambiente construído com relação à eficiência de energia, saúde e conforto, operação e gestão. Dentre várias publicações, Baldwin et al. (1998) e Bryan et al. (2000) registram que atualmente é o método mais reconhecido internacionalmente. Sua principal meta é fornecer uma ferramenta capaz de estimular a demanda de mercado por green buildings, pelo fornecimento de informações claras e reais no desempenho ambiental (Lowe et al, 2000). Segundo Adams (2003) e Baldwin et al. (1998), os principais objetivos do esquema são: • identificar edifícios de menor impacto ambiental no mercado; • encorajar práticas ambientais de excelência no projeto, operação, gestão e manutenção de edifícios; • estabelecer critérios e padrões além dos obrigatórios por leis, normas e regulamentações existentes; Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios • 92 conscientizar e orientar proprietários, ocupantes, projetistas e usuários de edifícios dos benefícios de edifícios com menor impactos ambientais. Foi desenvolvido inicialmente no Reino Unido, em 1988, numa ação conjunta do BRE 3 e o setor privado 4 (Bryan et al., 2000; Lowe et al., 2000). Começou como uma maneira de melhorar o desempenho ambiental de edifícios novos no estágio de projeto. Desde então, é atualizado regularmente (a cada 3 - 5 anos) sendo por isso beneficiado com novas pesquisas, que objetivam refletir as mudanças que ocorrem nas regulamentações e no mercado, para que continue a representar a prática de excelência atual, sobressaindo-se além do requerido nas regulamentações (BRE, 2002). A primeira revisão ocorreu em 1993 (Baldwin et al., 1993), estando hoje na sua terceira versão, BREAAM’98, com grande difusão no mercado. Atualmente, BREEAM‘98 é capaz de ser aplicado em edifícios de escritório (novos e existentes), além de residências, supermercados, lojas de departamento e unidades industriais novas (Grace, 2000). Agopyan & Silva (2003) apontam cinco alterações introduzidas no BREEAM’98 em relação à versão anterior, BREEAM’93: • unificação dos sistemas para edifícios novos e existentes, distintos nas versões anteriores; • ampliação do escopo para incluir dois blocos opcionais: qualidade do projeto e execução e procedimentos de gestão e operação; • eliminação dos aspectos que passaram a ser contemplados pela legislação ou pela prática geral; • inclusão de novos itens para incorporar os avanços no conhecimento, entre eles, a especificação de materiais e a consideração de comutação de 3 4 Building Research Establishment Stanhope Properties plc. e ECD (Energy and Environmental Consultants) Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 93 transporte, objetivando assegurar a abrangência dos aspectos ambientais e de sustentabilidade; • introdução de um método de ponderação para determinar objetivamente um índice de desempenho para definir a classificação do edifício. Novas versões do BREEAM foram adaptadas a outros países priorizando aspectos de relevância local e regional na avaliação. Em 1995, uma nova versão incluindo edifícios de escritórios já em uso, foi introduzida no Canadá pelo International Standards Association (CSA) em cooperação com o BRE e ECD Canadá como parte do programa Building Quality Management (BQM). O conteúdo tem sido adaptado às condições canadenses. Em Hong Kong, uma versão do BREEAM foi desenvolvida pela Associação de Colaboradores Imobiliários de Hong Kong e pela Universidade Politécnica de Hong Kong. Na Austrália, BREEAM OZ foi especificamente desenvolvido a tempo para a avaliação dos edifícios usados nos jogos olímpicos (Skopek, 1997). Outras versões estão sendo desenvolvidas na Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia e Estados Unidos. Segundo Larsson (2000), BREEAM fornece uma certificação de desempenho adequada aos propósitos de mercado, e tem conquistado em torno de 15% a 20% do mercado de edifícios comerciais novos no Reino Unido. 4.2.1. Estrutura A estrutura de avaliação BREEAM’98 office compreende três módulos direcionados às questões ambientais. O primeiro fornece uma avaliação central e caracteriza-se pelo “desempenho do edifício”. A partir da versão 98 passou a ser aplicado a edifícios de escritório novos e existentes. O segundo, denominado “projeto e execução”, é aplicado apenas a edifícios novos em estágio de projeto. Finalmente o terceiro módulo aborda assuntos ambientais relacionados a “gestão e operação” dos edifícios em uso (BRE, 2002, Curwell, 2001). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 94 4.2.1.1. PRIMEIRO MÓDULO: DESEMPENHO DO EDIFÍCIO As questões ambientais analisadas neste módulo resultarão em uma avaliação verdadeira e comparativa dos impactos ambientais potenciais entre os edifícios, em todas as suas idades e em torno de várias questões abordadas, para fornecer uma ferramenta consistente e suprir as expectativas do mercado. Fornece a base para o índice de desempenho ambiental. 4.2.1.2. SEGUNDO MÓDULO: PROJETO E EXECUÇÃO Esta parte da avaliação pode ser opcional e complementar, para otimizar o resultado de um exercício de projeto / execução. Aborda a avaliação de edifícios novos ou em reforma, ainda em estágio de projeto. Cobrirá aquelas questões ambientais que são de relevância durante o processo projetual, tais como, uso do solo, especificação de materiais e sistema construtivo. 4.2.1.3. TERCEIRO MÓDULO: GESTÃO E OPERAÇÃO Esta parte da avaliação será realizada somente em um edifício que já foi ou está ocupado. Devem participar, além dos ocupantes, os administradores do edifício que tem o papel de gerenciá-lo através de auditoria. Isto trará benefícios financeiros, legais, estéticos e de bem estar significativos aos usuários. Pretende-se também, que esta parte da avaliação forneça, não somente uma revisão do desempenho, mas que seja igualmente capaz de conduzir o desenvolvimento de um plano de ação que possa ser levado adiante pelo usuário para melhoria do desempenho ambiental do edifício. Inicialmente a metodologia BREEAM fornece uma lista de verificação (checklist) simplificada, que detalha os requisitos específicos para a obtenção dos créditos ambientais, visando orientar as equipes de projeto e gestão do edifício. A metodologia completa é acessível apenas aos avaliadores credenciados, que verificam o atendimento de itens mínimos de desempenho, projeto e operação dos edifícios e atribuem os créditos correspondentes (Agopyan & Silva, 2003). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 95 4.2.2. Características do método 4.2.2.1. COLETA DE DADOS A avaliação inicia-se pela coleta dos dados necessários, que deverão ser considerados em paralelo ao longo de todo processo de avaliação. Para edifícios existentes, os dados são obtidos a partir de um questionário, realizado durante visita técnica ao edifício e diversas reuniões com o gestor do mesmo. Para edifícios novos, uma pré-avaliação baseada numa lista de verificações (checklist) auxilia os projetistas a identificarem os itens mínimos de desempenho, projeto e operação dos edifícios (Curwell, 2001). 4.2.2.2. CATEGORIAS DE AVALIAÇÃO A metodologia cobre questões que variam desde poluição atmosférica global até as relativas ao entorno local do edifício, conforto e saúde dos ocupantes (Skopek, 1997). O desempenho ambiental é avaliado sob nove categorias principais (Curwell, 2001; Grace, 2000): • gestão: aspectos globais de políticas; • uso de energia: energia operacional e questões relacionadas ao CO2; • saúde e conforto: questões do interior do edifício e de seu exterior; • poluição: poluição do ar e da água; • transporte: relação entre o CO2 e o transporte ou fatores referente a localização do edifício; • uso do solo, solos verdes ou terras descampadas; • ecologia local: valores ecológicos do local; • uso de materiais: implicações ambientais dos materiais de construção; • uso de água: redução do consumo e maior eficiência da água. Dados quantitativos, como energia e consumo de água, são coletados pelos avaliadores treinados pelo BRE juntamente com a equipe de projeto. Dados relativos a materiais e baseados na tecnologia construtiva do Reino Unido são obtidos através de consulta em um guia de orientação criado pelo BRE (BRE Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 96 Green Guide5), para especificação de materiais com enfoque em seus perfis ambientais (Curwell, 2001). 4.2.2.3. INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Após a coleta prossegue-se com as interpretações dos dados e cálculos, da seguinte forma: para cada uma das categorias citadas acima, são distribuídos requisitos de desempenho fixados pelo BRE. Esses requisitos funcionam como ponto chave para uso de projetistas e gestores de edifícios em escolhas específicas e criteriosas para a obtenção dos créditos ambientais. Aos requisitos, são associados créditos (Quadro 13), concedidos quando o edifício atende ou excede os desempenhos referência (benchmarks) de acordo com a interpretação de dados qualitativos coletados. Em seguida calcula-se o percentual de créditos adquiridos em cada categoria. Sobre cada pontuação da categoria é aplicada uma ponderação ambiental necessária para produzir uma pontuação global do edifício. Quadro 13 - Créditos respectivos para cada categoria BREEAM CATEGORIAS (% Total de Pontos) Gestão (14,1%) Aspectos globais de política e procedimentos ambientais Saúde/Conforto (14,1%) Ambiente interno e externo ao edifício Uso de energia (19,6%) Energia operacional e emissão de CO2 Transporte (11,3%) Localização do edifício e emissão de CO2 relacionada a transporte Uso de água (4,5%) Consumo e vazamentos Uso de materiais (9,8%) Implicações ambientais da seleção de materiais Uso de solo (3%) Direcionamento de crescimento urbano (evitando greenfields e 5 Baseados em dados da LCA, fornece os créditos atribuídos para cada material. PONTOS (Máx. 1062) 150 pts 150 pts 208 pts 120 pts 48 pts 104 pts 32 pts Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 97 encorajando a recuperação de brownfields e uso de vazios urbanos) Ecologia local (9%) 96 pts Valor ecológico do sítio Poluição (14,5%) 154 pts Poluição de água e ar, excluindo CO2 Fonte: Baldwin et al., 1998. 4.2.2.4. PONDERAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO O sistema de ponderações é predeterminado, resultado de um processo de discussão entre profissionais multidisciplinares, além de outras instituições de interesse público ou privado do Reino Unido, atualizado de tempos em tempos (Curwell, 2001). Nas versões anteriores ao BREEAM’98, as categorias de avaliação eram agrupadas segundo a escala dos impactos: global, local e interna. O HK-BEAM utiliza esse critério até hoje. Fatores de ponderações foram introduzidos na versão 98 para as categorias de créditos ambientais, com o objetivo de determinar um índice de desempenho ambiental (EPI), com valores variando de zero a 10 (Figura 7). A classificação é feita de acordo com o EPI obtido, enquadrando o edifício em quatro níveis de certificação, de acordo com Quadro 14 (Agopyan & Silva, 2003). Quadro 14 - Classificação provável no BREEAM, conforme pontos obtidos na lista de verificação simplificada NÍVEL DE PROJETO E EXECUÇÃO GESTÃO E OPERAÇÃO Aprovado ≥200pts (25%) ≥160pts (21,1%) Bom ≥300pts (37,5%) ≥280pts (36,9%) Muito Bom ≥380pts (47,5%) ≥400pts (52,8%) Excelente ≥400pts (61,3%) ≥5200pts (68,6%) CLASSIFICAÇÃO Fonte: Agopyan & Silva, 2003 Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 98 Figura 7 - Esquema da metodologia BREEAM 98 Fonte: Baldwin et al., 1998. A aplicação de ponderações por requisitos é implícita, uma vez que o número desses requisitos varia entre as diferentes categorias. 4.2.2.5. REGISTRO DOS RESULTADOS Os cálculos e interpretações serão registrados em dois estágios. Um relatório preliminar deve indicar o desempenho do edifício, o uso de práticas de excelência, débitos pendentes e fornecer medidas práticas e reais para melhorar a classificação. Qualquer melhoramento deve constar do segundo relatório que será acompanhado do certificado. Esse relatório fornece a classificação alcançada e pode ser usado para verificar e conferir maior credibilidade ambiental a uma organização. Toda a certificação BREEAM é realizada pelo BRE (BRE, 2002; Skopek, 2002; ECD6, 2003). 6 Energy Environmental Canadá Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 99 4.2.3. Potencialidades O sucesso obtido pela metodologia BREEAM deve-se em grande parte (Grace, 2000; Silva et al. 2002): • a forma abrangente de englobar aspectos como energia, impacto ambiental, saúde e produtividade; • possibilidade de identificação confiável e realista para melhoria, com possíveis ganhos financeiros adicionais; • abordagem de desempenho de referência (benchmark). BREAAM foi desenvolvido para fornecer flexibilidade e por isso é capaz de atender às exigências do setor público e privado. Através de uma metodologia simplificada, é possível que projetistas e gestores do edifício disponham de uma pré-avaliação, o que auxilia nas escolhas de opções com menor impacto do edifício. 4.2.4. Limitações Faltam a esta metodologia, parâmetros mais flexíveis às diversidades culturais, tecnológicas, econômicas e ambientais dos vários paises. Portanto, BREEAM apesar de embasar diferentes versões em diferentes países, torna-se limitado globalmente. Por exemplo, ao considerar a quantidade de CO2 liberado para a atmosfera como o principal meio para classificar o impacto ambiental de origem energética. Isso é uma preocupação coerente nos países com matriz energética fortemente baseada no uso de combustíveis fósseis. Porém no caso dos países cuja principal fonte energética seja a hidroelétrica, o resultado poderá ser equivocado nesta categoria, não podendo ser confiável para o caso brasileiro, por exemplo. Além disso, não fornece uma escala de desempenho com base científica e não utiliza os conceitos de LCA. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 4.3. 100 LEEDTM (LEADERSHIP IN ENERGY AND ENVIRONMENTAL DESIGN) O esquema de avaliação LEEDTM foi desenvolvido nos Estados Unidos pelo US Green Building Council (USGBC), uma instituição voluntária financiada pelo National Institute of Standards and Technology (NIST), formada por arquitetos, construtores, fabricantes de produtos, grupos ambientais, proprietários de edifícios e agências governamentais, representando todo segmento da indústria construtiva. É uma ferramenta voluntária7 de classificação e certificação ambiental direcionada ao mercado, com base em princípios energéticos e ambientais pré-estabelecidos, que buscam fazer um balanço entre práticas de mercado conhecidas e conceitos tecnológico novos (Silva, 2000; Lindsey & Todd, 2000; DNC, 2002). LEEDTM identifica e informa a eficiência e o desempenho ambiental do edifício de forma global, ao longo de seu ciclo de vida, tendo como objetivo geral estabelecer preceitos inerentes ao conceito de green building e fornecer uma padronização para medir a dimensão ambiental relativa dos projetos. A USGBC está à frente desse sistema de avaliação e pretende realizar uma transformação no mercado em direção ao projeto sustentável. Assim, LEEDTM pode funcionar como um guia para projetistas e construtores (LEED, 2002; DNC, 2002). O sistema é projetado para ter um conteúdo claro e de simples operação, o que o torna muitas vezes alvo de críticas. LEEDTM utiliza como referência conceitos já estabelecidos em normas e recomendações de instituições com credibilidade reconhecida como, por exemplo, a American Society of Heating, Refrigeration and Air Conditionning Engineer (ASHRAE), a American Society for Testing and Materials (ASTM), a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e o Departamento de Energia (DOE) (Silva, 2000). O apoio de associações e fabricantes de materiais favorece a sua ampla disseminação nos EUA. 7 Os esquemas de avaliação de desempenho ambiental de caráter voluntário permitem estimular o mercado para acelerar o alcance de metas estabelecidas ou mesmo ultrapassá-las (USGBC, 2001). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 101 LEEDTM é um documento-consensual aprovado por 13 representantes da categoria da indústria de construção representadas no conselho gestor do sistema (Agopyan & Silva, 2003). Inicialmente foi projetada para edifícios de escritórios, mas, atualmente, é aplicável em edifícios de escritórios, institucionais (bibliotecas, museus, igrejas, dentre outros) e residências com mais de quatro pavimentos, novos e existentes (USGBC, 2001). Contudo, preocupa-se com projeto e questões construtivas, sem considerar o comportamento pós-ocupação. Abrange seis categorias de desempenho conforme Quadro 15: Quadro 15 - Categorias de Desempenho LEEDTM CATEGORIAS PRÉ-REQUISITOS PONTOS (% total de Pontos) (7 PReq) (max. 69 pts) Sítios sustentáveis (20%) até 14 pontos Seleção de área 1 Redesenvolvimento urbano 1 Redesenvolvimento de áreas contaminadas (Brownfield) 1 Transporte alternativo Redução de perturbação no sítio original • Controle de erosão e sedimentação até 04 até 02 Gestão de água da chuva até 02 Paisagismo e projeto de áreas para redução de ilhas de calor até 02 Redução de poluição luminosa 1 Uso eficiente de água (7%) até 05 pontos Paisagismo com uso eficiente de água até 2 Tecnologias inovadoras para reutilização de água 1 Conservação de água até 2 Energia e atmosfera (25%) Otimização do desempenho energético Uso de energia renovável Verificação de conformidade pré-entrega adicional (1pt) até 17 pontos • Verificação de conformidade pré-entrega (commissioning) eficiência energética mínima 2 a 10 até 3 1 Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios Redução de HCFC8 e Halons (dano a camada de ozônio) • Redução de CFCs nos 102 1 equipamentos de Mensuração e verificação de desempenho condicionamento e 1 ventilação artificial Uso de tecnologias renováveis e de poluição zero: solar, eólica, 1 geotérmica, biomassa e hidroelétricas de baixo impacto Materiais e recursos (19%) até 13 pontos Reutilização de edifícios até 3 Gestão de RCD até 2 Reutilização de recursos Materiais com conteúdo reciclado • Coleta e armazenamento de material reciclável produzido até 2 até 2 pelos usuários do edifício Materiais regionais/locais até 2 Materiais rapidamente renováveis 1 Uso de madeira certificada 1 Qualidade do ambiente interno (22%) até 15 pontos Monitoramento de CO2 1 Aumento eficiência de ventilação 1 Plano de gestão de qualidade do ar interno durante o processo de construção Materiais com baixa liberação de VOCs9 até 2 • Qualidade do ar interno mínima até 4 • Controle ambiental de Controle de poluição interna por origem química fumaça de cigarros 1 Controlabilidade dos sistemas pelos usuários até 2 Controle térmico até 2 Luz natural e vista para o exterior até 2 Inovação e processo de projeto (7%) até 5 pontos Inovação (estratégias de projeto e uso de tecnologias) até 4 Envolvimento do Profissional habilitado pelo LEEDTM até 1 Fonte: San Jose, 2002; Agopyan & Silva, 2003. 8 Hidroclorofluorcarbono 9 Volatile Organic Compounds (Compostos orgânicos voláteis) Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 103 LEEDTM também inclui pontos referentes a inovações construtivas e aqueles que favorecem a credibilidade profissional no processo projetual. A versão 1.0 foi lançada em Janeiro de 1999, testada e refinada por um conselho de especialistas. Com base no teste piloto, 12 edifícios receberam a certificação. A versão 2.0 já está disponível (Lindsey & Todd, 2000) desde 2000 e a versão 3.0 está sendo preparada e deverá ser lançada em breve (Agopyan & Silva, 2003). 4.3.1. Metodologia LEEDTM é uma ferramenta que utiliza valores de referência (benchmark) que permite ao usuário demonstrar o quanto ambientalmente corretos são seus edifícios em comparação a outros. A metodologia é estruturada em três etapas, a saber: 4.3.1.1. 1ª ETAPA: NIVELAMENTO Essa etapa objetiva verificar se um edifício é ou não elegível para ser efetivamente avaliado. O critério mínimo exigido é o cumprimento de uma série de pré-requisitos que devem ser satisfeitos em uma pré-avaliação. 4.3.1.2. 2ª ETAPA: ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO Consiste no preenchimento de uma lista de verificação (checklist), que, apresenta as categorias e seus pré-requisitos respectivos, assim como o número possível de pontos capazes de ser obtido. O preenchimento consiste em atribuir pontos a cada um dos créditos presentes nas respectivas categorias, apenas quando estão acima das necessidades mínimas, ou seja, àqueles que não alcançarem os valores de referência (benchmarck) estabelecidos como pré-requisitos não recebem pontos e o campo da lista deve ficar em branco (Figura 8). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 104 Figura 8 - Exemplo de lista de verificação para certificação LEED. Fonte: USGBC, 2002. Após o preenchimento prossegue-se com a somatória dos números de pontos de cada categoria e posteriormente um total de toda lista de verificação. Com base neste total, é concedido um certificado de classificação Prata, Ouro ou Platina ou o edifício pode receber apenas a classificação Certificado obedecendo a escala do Quadro 16 (LEED 2002; USGBC, 2001). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 105 Quadro 16 - Níveis de classificação LEEDTM NÍVEIS DE CLASSIFICAÇÃO PONTOS (69 Centrais) LEEDTM Certificado 26-32 pontos (40-50%) LEED Prata (Silver) 33-38 pontos (51-60%) LEED Ouro (Gold) 39-51 pontos (61-80%) LEED Platina (Platinum) ≥ 52 (≥ 81%) Fonte: San Jose, 2002; Silva, 2003. 4.3.1.3. 3ª COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS A comunicação dos resultados ocorre através da própria lista preenchida, que indica os créditos recebidos e o valor dos pontos obtidos. 4.3.2. Potencialidades É uma ferramenta fácil de usar, principalmente, porque a maiorias dos dados necessários estão acessíveis e são de fácil compreensão por arquitetos e construtores. A lista de verificações é relativamente simples e os créditos são preenchidos facilmente. Portanto, LEEDTM pode ser usado como ferramenta pela equipe de projeto visando identificar estratégias ambientais potenciais para a concepção do edifício e encorajar o green design (Lindsey & Todd, 2000). 4.3.3. Limitações A limitação básica dessa metodologia é a sua implementação dentro do mercado de um único país, ou seja, as categorias e créditos refletem as condições específicas dos Estados Unidos. Por isso, é confiável apenas para normas e regulamentos americanos, dificilmente aplicáveis a outros locais. Os critérios LEEDTM são uniformes em todo o país e para vários tipos de ambiente, tais como urbano, suburbano e rural. Usuários têm percebido que essa abordagem resulta na inaplicabilidade de vários critérios a projetos específicos (Lindsey & Todd, 2000). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 106 Além disso, LEEDTM avalia apenas aquelas áreas escolhidas pela equipe de projeto que assumem ser forte, ou seja, silencia as áreas de fraqueza ou de reduzido desempenho. Existe uma clara concentração dos créditos em certas categorias. Assim, o panorama de um edifício avaliado pelo LEEDTM é incompleto e não necessariamente reflete o desempenho green do edifício como um todo (Silva et al., 2002; Lindsey & Todd, 2000). LEEDTM também não inclui um sistema de ponderações em cada categoria para diferenciar a escala de importância de cada item. Todos os itens apresentam o mesmo peso. A USGBC usa essa abordagem devido à falta de consenso de uma metodologia para ponderar categorias diferentes (Silva et al., 2002; Lindsey & Todd, 2000). No entanto, o número variável de itens dentro das categorias define implicitamente pesos para cada uma delas (Agopyan & Silva, 2003). Pode-se considerar ainda como limitação, a não abrangência referente à questões relacionadas a planejamento para recuperação e reuso ou reciclagem de materiais durante a renovação ou demolição futura do edifício e questões de gestão construtiva para reduzirem resíduos. Além disso, não considera o comportamento pós-ocupação. 4.4. GBC (GREEN BUILDING CHALLENGE) GBC é um consórcio internacional cuja meta primordial é fornecer um novo método para avaliação de desempenho ambiental de edifícios. É usado por agências governamentais e outras organizações de forma que os países participantes possam incorporá-lo ou adaptá-lo a seus próprios métodos. O GBC caracteriza-se por ciclos sucessivos de pesquisa e difusão de resultados. Até o momento três ciclos foram concluídos e até 2005 o quarto será finalizado com a SB’05, em Tókio (Quadro 17). Atualmente, está em contínua exploração, refinamento, testes e ajustes envolvendo inputs coletivos das equipes participantes. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 107 Quadro 17 - Ciclos de desenvolvimento GBC CICLO DESCRIÇÃO A etapa de desenvolvimento inicial (24 meses), integralmente financiada Ciclo inicial (1996 a 1998) pelo governo do Canadá, envolveu 15 países e culminou em uma conferência internacional em Vancouver, Canadá – a GBC'98 em que foram apresentados 34 edifícios estudo de caso. Desenvolvida nos 18 meses seguintes, com a apresentação de 36 Segundo ciclo (1998 a 2000) projetos de 19 países. Os resultados foram divulgados na conferência Sustainable Buildings 2000. Ocorreu no intervalo de 24 meses, envolvendo pesquisas conduzidas em 24 países, entre eles o Brasil, cujos resultados foram divulgados em nova conferência internacional (SB’02/GBC’02), realizada em Oslo, Noruega. Terceiro ciclo (2000 a 2002) O governo canadense deixou de ser responsável pela gestão do processo. A coordenação do GBC, assim como a co-responsabilidade pela seqüência de conferências Sustainable Buildings (SB) foi absorvida pela iiSBE (International Iniciative for Sustainable Built Environment) em 2000. Fonte: Cole & Larsson, 2000; Agopyan & Silva, 2003. O pensamento que norteia essa metodologia parte do princípio de que os países participantes apresentam agendas ambientais e necessidades diferentes, o que inevitavelmente cria expectativas diferentes da ferramenta de avaliação. Essa evidência faz refletir a flexibilidade que este sistema de avaliação procura alcançar com relação às diferentes prioridades, tecnologias, tradições construtivas ou valores culturais dos vários países ou regiões de um mesmo país (Cole, 1999; Sustainable Building, 2001; Silva & Silva, 2000). Portanto, diferente dos outros programas, o GBC não pretende criar uma metodologia com foco voltado a atender as expectativas de mercado, não devendo, assim, ser usado com o propósito meramente comercial. No entanto, o rápido crescimento de corporações globalizadas e seus desejos de trabalhar com normas comuns têm despertado o interesse nesse enfoque, mais flexível, o que justificará sua significativa importância comercial em médio prazo (Building Groups, 2002; Sustainable Building, 2001). O programa de avaliação GBC foi produzido inicialmente – e até 1998 – na forma de um software complexo e de difícil atualização e utilização. No segundo ciclo houve a migração para uma plataforma Excel constituída por Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 108 uma série de onze planilhas-padrão, que facilita a descrição completa do edifício e seu desempenho, permitindo aos usuários realizar avaliações relativas a valores de desempenho referência (benchmarks) (Agopyan & Silva, 2003). O software denominado GBTool foi desenvolvido originalmente pela Natural Resourse Canadá, como uma segunda geração de métodos de avaliação de edifícios, frente à limitação dos existentes e à percepção de que haviam áreas ignoradas ou pobremente definidas em outros sistemas (Sustainable Building, 2001). O objetivo geral do GBC é fornecer uma base metodologia sólida e o mais científica possível, dentro das limitações do estado atual do conhecimento, buscando, porém, através de pesquisas contínuas, o aprimoramento. Diferente do enfoque do GBC, os sistemas de avaliação de desempenho ambiental de edifícios fornecem alguma forma de classificação de desempenho vinculada a um sistema de certificação (Agopyan & Silva, 2003). Embora muitos dos critérios de desempenho referidos no GBC 2000 sejam genéricos e aplicáveis a uma ampla faixa de tipos de edifícios, o sistema de escala de pontuação no GBTool foi estruturado para abranger três tipos específicos de edifícios: residencial multi-familiar, escritórios e escola. Estes foram selecionados como representantes dos tipos de edifícios mais genéricos existentes, sendo isso fundamental para maximizar os valores para comparações internacionais (Ziping, 2002; Cole & Larsson, 2000). Pode-se sintetizar três aplicações distintas do método de avaliação ambiental, evidentes durante o processo de desenvolvimento e teste do GBTool (Cole, 1999): • fornecer critérios simples, verificáveis e objetivos, de forma a respaldar proprietários e construtores de edifícios no esforço realizado em relação a normas de desempenho ambientais melhores e mais abrangentes. Assim, terão um meio de demonstrar tal esforço como um mecanismo para estimular maior receptividade e demanda do mercado; Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios • 109 fornecer a base para respaldar decisões de projeto, isto é, direcionar e orientar todos os estágios durante o desenvolvimento do projeto para enfocar questões prioritárias e sugerir o possível intercâmbio entre as opções; • fornecer uma avaliação objetiva de um impacto construtivo no meio ambiente, isto é, uma ferramenta para avaliar energia e fluxo de massa entre edifício e sistema natural e fornecer um critério padrão para medir o progresso em direção à sustentabilidade. Os resultados diretos da metodologia fornecem uma contínua troca de idéias, pelos melhores pesquisadores da área. Setores organizacionais, tanto públicos como privados, estão sendo encorajados para usar tais resultados, objetivando desenvolver novas gerações de sistemas de certificação em curto prazo, para aplicações industriais na Coréia, Hong Kong, Canadá e Japão. A metodologia de avaliação de edifício proposta pelo GBC já tem influenciado a recente versão do BREEAM´98 (Sustainable Building, 2001). 4.5. CARACTERÍSTICAS DO GBTOOL Segundo Agopyan & Silva (2003), as principais características utilizadas no GBC buscam: • realizar comparações internacionais de desempenho; • fornecer resultados inerentes às particularidades locais; • fornecer resultados com maior embasamento científico. 4.5.1. Valores de referência (Benchmark) No GBC 98 as equipes participantes estabeleceram um “edifício referência” apresentando as mesmas dimensões, forma, uso, esquema de operação e seguindo as mesmas normas e práticas regionais que o edifício estudo de caso. Contudo, esta abordagem mostrou dificuldade tanto conceitual como para implementação prática. Assim, as equipes passaram a utilizar valores de desempenho referência (benchmarks) a partir de base de dados e outras fontes Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 110 de dados estatísticos válidos para os respectivos países (Cole & Larsson, 2000). O valor de desempenho referência (benchmark) deve refletir as exigências da legislação atual ou estar de acordo com práticas construtivas típicas de edifícios, também típicos. É consenso entre os pesquisadores que, a disponibilidade e aplicabilidade de valores de desempenho para caracterizar a referência, varia com o edifício e a localização. Por isso, as equipes nacionais de avaliação10 devem determinar e justificar um adequado e coerente valor dentro de uma visão global de pretensões do GBC. A GBTool utiliza-se de Benchmarks distribuídos em seis classes, conforme Quadro 18: Quadro 18 - Classes de benchmarks CLASSES ABORDAGEM Informações gerais de projeto (vida útil prevista); implantação, orientação e gerenciamento de resíduos e água de chuva; uso de materiais (redução, Aspectos gerais do edifício reutilização e reciclagem); estimativa de CO2 incorporado a estrutura e ao envelope (proporção das emissões operacionais) Valores-padrões para estrutura, de acordo com o peso da estrutura (Kg/m2) Energia incorporada Densidade de ocupação e consumo de Apenas para ocupação residencial água quente e fria Benchmarks gerais, De energia e de comutação de transporte Taxa de renovação (ar externo); quantidade máxima de ar recirculado, Ventilação mecânica (dados de projeto) Ventilação natural porcentagem de área refrigerada, UR de projeto, área das zonas de refrigeração, grupo de itens referentes a aquecimento e refrigeração etc. Grupo de itens referentes a aquecimento, Fonte: Silva et al, 2002. 10 relação área operáveis/área de piso; e relação área duto ventilação/ área de piso. São equipes formadas por pesquisadores ou especialistas em cada país participante. janelas Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 111 4.5.2. Indicadores de sustentabilidade ambiental Para facilitar as comparações internacionais o GBC adota uma série de medidas de desempenho, características de práticas da construção sustentável denominadas de indicadores de sustentabilidade ambiental. Na versão 2K (2000) apenas quatro indicadores eram usados: • área de solo consumida pelo edifício e atividades relacionadas; • consumo anual de energia primária; • consumo anual de água; • emissão anual de gases causadores de efeito estufa (GHG) durante a operação do edifício. Durante o encontro do International Framework Commottee em Santiago realizado em março de 2001, preocupou-se em detalhar mais esta lista chegando a cerca de 20 itens (SILVA et al, 2002). Na versão usada atualmente GBTool 1.81 (2002) doze indicadores foram testados (Quadro 19). Quadro 19 - Indicadores de Sustentabilidade Ambiental utilizados pelo GBTool v 1.81 INDIDADORES DE SUSTENTABILIDADE (os valores são normalizados por área e por área de ocupação) ESI-1 Consumo total de energia primária inorporada (GJ) ESI-2 Consumo anual de energia primária inorporada (MJ) ESI-3 Consumo anula de energia primária para a operação do edifício (MJ) ESI-4 Consumo anual de energia primária não-renovável para a operação de edifício (MJ) ESI-5 Consumo anual de energia primária incorporada e para a operação do edifício (MJ) ESI-6 Área de solo consumida pela construção do edifício e serviços relacionados (m²) ESI-7 Consumo anual de água potável para operação do edifício (m³) ESI-8 Uso anual de água cinza e água de chuva para operação do edifício (m³) ESI-9 Emissão anual de gases de efeito estufa pela operação do edifício (kg. CO2 equivalente) ESI-10 Vazamento previsto de CFC-11 equivalente por ano (gm) ESI-11 Massa total de materiais reutilizados empregados no projeto, vindos do próprio terreno ou de fontes externas (kg) Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios ESI-12 112 Massa total de novos materiais (não reutilizados) empregados no projeto, vindos de fontes externas (kg) Fonte:Agopyan & Silva, 2003. 4.5.3. Áreas e Categorias de desempenho GBTool cobre uma ampla faixa de questões ambientais, incluindo algumas não abordadas em outros sistemas. Contudo, nem todas estão vinculadas à escala de desempenho (categorias opcionais), e por isso não apresentam pontuação. As áreas de desempenho para avaliação atual no GBC são (iiSBE, 2002; Silva et al., 2002): • uso de recursos naturais: energia, solo, água e materiais não renováveis; • cargas ambientais: emissão de dióxido de carbono, poluição do ar, depredação da camada de ozônio, resíduos sólidos e líquidos, efeitos no entorno; • qualidade do ar interno: qualidade do ar, ventilação, conforto térmico, iluminação natural e conforto acústico, poluição eletromagnética; • qualidade dos serviços (opcional): adaptabilidade, durabilidade, flexibilidade, controlabilidade pelo usuário, espaços externos e impactos nas propriedades adjacentes; • aspectos econômicos (opcionais): ênfase no ciclo de vida; • gestão de pré-ocupação (opcional): planejamento do processo de construção, verificação da pré-entrega e planejamento da operação; • transporte (ainda não operacional). As primeiras quatro áreas são consideradas “centrais” e obrigatórias na avaliação do GBC. Elas contêm as questões ambientais mais diretas e aceitas em todos os métodos de avaliação ambiental de edifícios. Cada área de desempenho engloba diversas categorias de desempenho, conforme Quadro 20. Essas correspondem ao desempenho principal característico, que, coletivamente define o desempenho completo de um edifício estudo de caso. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 113 Cada categoria é subdividida em critérios e estes algumas vezes em subcritérios. Ambos são ponderados com o objetivo de indicar seu grau de importância dentro de sua categoria. Ajustes nesta ponderação podem ser feitos, procurando garantir a relevância dos resultados para cada contexto de avaliação específico, buscando refletir as condições locais de aplicação da avaliação (Cole & Larsson, 2002). Segundo Silva et al. (2002), ainda não há consenso referente a um método científico que estabeleça uma padronização das ponderações. Quadro 20 - Questões e categorias de desempenho ÁREAS DE DESEMPENHO CATEGORIAS DE DESEMPENHO R1: Uso de energia primária líquida do ciclo de vida R2: Uso do solo e mudanças na qualidade do solo R: Uso de recursos naturais R3: Consumo líquido de água potável Refere-se à depredação dos recursos naturais R4: Reutilização de estrutura ou materiais existentes e/ou reciclagem de materiais. R5: Quantidade e qualidade de materiais usados de fora do local L1: Emissão de gases que contribuem para o efeito estufa L2: Emissões de substâncias que liberam ozônio L3: Emissões de gases que conduzem a acidificações L: Cargas ambientais Refere-se às descargas finais da construção, L4: Emissões que levam a formação de foto-oxidantes L5: Emissões com potenciais de eutroficação operação e demolição dos edifícios que causam impactos nos sistemas naturais L6: Resíduos sólidos L7: Efluentes líquidos L8: Resíduos perigosos L9: Impactos ambientais locais e adjacências Q1: Qualidade do ar e ventilação Q: Qualidade do ar interno Q2: Conforto térmico Relacionadas às características do edifício que afetam Q3: Luz diurna e Iluminação a saúde e conforto dos ocupantes do edifício e Q4: Barulho e acústica controlabilidade dos sistemas ambientais Q5: Poluição eletromagnética S: Qualidade de serviços S1: Flexibilidade e adaptabilidade Relacionadas às questões funcionais que mesmo S2: Capacidade de controle dos sistemas Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios indiretamente tem um profundo efeito no desempenho 114 S3: Manutenção do desempenho ambiental dos edifícios S4: Privacidade, acesso à luz do sol e vistas S5: Qualidade de amenidades e desenvolvimento do local S6: Impacto na qualidade de serviço do local e adjacências E: Aspectos Econômicos E1: Desempenho econômico Relacionadas a custos M: Gestão de pré-ocupação M1: Planejamento de processos de construção Relaciona-se ao desempenho obtido a partir do M2: Desempenho direcionado planejamento efetivo na operação para edifícios M3: Planejamento de operações dos edifícios Vários critérios e/ou sub critérios de desempenho podem não ser aplicáveis para alguns casos. O GBTool fornece esta alternativa conferindo a estes pontuação zero. A decisão da não aplicabilidade dos critérios é tomada pelas equipes, devendo ser racionalmente justificada, uma vez que, tem uma considerável influência no somatório da pontuação. Deve ser aplicada em circunstâncias onde os critérios de desempenho não são pertinentes para o projeto do estudo de caso e não onde dificuldades técnicas dificultam a realização da avaliação (Cole & Larsson, 2002). 4.5.4. Sistema de pontuação O GBTool utiliza-se de um sistema de pontuação capaz de abranger critérios qualitativos e quantitativos, segundo uma escala de graduação de desempenho (Cole & Larsson, 1997; NRCan & CANMET, 1998). Todos os critérios e sub-critérios de desempenho adotados são avaliados quantitativamente segundo uma escala de desempenho estabelecida entre -2 (desempenho inferior ao mínimo aceitável) a +5 (meta de desempenho além das práticas de projeto, execução e operações convencionais). O “zero” na escala de desempenho corresponde ao desempenho referência (benchmarks) previamente definido de acordo com as normas atuais e/ou práticas típicas da região. Todos os desempenhos são avaliados em relação a essa condição. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 115 A pontuação +5 na escala representa um desempenho alvo, sendo possível ser atingida com a utilização de tecnologias disponíveis, mesmo que não usuais, caso preocupações com custos não sejam um problema (Silva et al., 2002; Ziping, 2002; Silva & Silva, 2000). Pontuações negativas (-1 ou -2) indicam que o desenvolvimento é claramente inferior ao aceito pelas normas em vigor. É improvável ocorrer já que o benchmark representa o atendimento às normas mínimas necessárias, mas poderá ocorrer em áreas de desempenho não cobertas pela lei. Para os critérios e sub-critérios descritos qualitativamente, é permitido entrar com descrições textuais que abranjam as características necessárias para adquirir a respectiva pontuação. O conceito de escala de pontuação está implícito na pontuação BREEAM e no LEED, mas esta idéia de uma escala clara que aponta inclusive desempenho negativo, foi introduzida pelo GBC e incorporada em sistemas como o CASBEE, lançado em 2002 e o ESCALE ainda em desenvolvimento (Agopyan & Silva, 2003). 4.5.5. Sistema de ponderações O uso de pesos ainda é um aspecto polêmico na avaliação de desempenho de edifício, mas é uma necessidade essencial para valorar a importância entre diversos critérios e sub-critérios de desempenho. No GBTool a ponderação é personalizável nas categorias para que a metodologia atenda às particularidades locais (Tabela 2). A pontuação das categorias principais é multiplicada pelos fatores de ponderação correspondentes, definidos pelas equipes nacionais de avaliação segundo condições locais e contextuais. Os fatores de ponderação dos itens das categorias (critérios e sub-critérios) são divididos igualmente (fixados por default) e o usuário não pode alterar. Apenas os pesos das categorias são personalizados (Agopyan & Silva, 2003). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 116 Tabela 2 - Categorias avaliadas no GBTool com ponderações default do sistema CATEGORIAS PESO (TOTAL 100%) Uso de Recurso 20% Cargas ambientais 25% Qualidade do ar interno 20% Qualidade dos serviços 15% Aspectos econômicos 10% Gestão pré-ocupação 10% Transporte Ainda não operacional Fonte: Agopyan & Silva, 2003 4.5.6. Sistema métrico Como o GBTool será aplicado em torno de uma ampla faixa de regiões e tipos de edifícios, cada um deles com diferentes práticas construtivas, custos energéticos, escolhas de materiais e expectativas de desempenho, foi impossível oferecer um sistema métrico preciso e universal. Assim, o sistema foi projetado para ter uma abordagem e estrutura comum, mas passíveis de serem alteradas pelas equipes nacionais de avaliação para adequar-se às necessidades nacionais e regionais. Para isso, as expressões utilizadas na programação do sistema referente aos critérios e sub-critérios de desempenho sempre permanecem consistentes e de acordo com o esperado na essência do GBC, não sofrendo com possíveis variações em palavras ou pesos (Cole & Larsson, 1999). Com relação ao sistema de unidades, o GBTool procura enquadrar sempre que possível à norma (SI), portanto, os valores devem estar sempre convertidos para tal. Porém, duas unidades não familiares são incluídas para normalizar valores de desempenho para ocupação: Kaph (mil pessoas ano por horas de ocupação) e Maph (milhões de pessoas ano por horas de ocupação). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 117 4.5.7. Estrutura do GBTool A estrutura do GBTool pode ser descrita em vários níveis hierárquicos de detalhamento (Figura 9): Ponderação Ponderação Áreas de desempenho Ponderação Categorias de desempenho Critérios de desempenho Sub-critérios de desempenho Figura 9 - Estrutura hierárquica do GBTool. A pontuação final do edifício é derivada pela agregação ponderada sucessiva de pontuações nesses quatro níveis hierárquicos, resultando em um acúmulo sucessivo de ponderações um tanto subjetivo. Segundo Cole & Larsson (1999), a estrutura do GBTool pode ser dividida em dois módulos: Módulo de entrada de dados do Edifício Verde 11 (Inputs) e Módulo de Avaliação do Edifício Verde 12. Ambos são desenvolvidos através de um programa de banco de dados interativo. Conceitualmente o GBTool é um sistema relativamente simples, e consiste em um software baseado em uma planilha comum do Microsoft Excel de fácil preenchimento, embora apresente nos dois módulos campos para cálculo. Essa planilha pretende facilitar o trabalho das equipes nacionais de avaliação em especificar o valor de referência e em modificar os valores de pontuação e ponderação. 11 Green Building Imputs (GBI) 12 Green building Asessment (GBA) Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 118 A planilha inicia-se com duas páginas. A primeira denominada INTRO (Introdução) fornecendo um guia de uso do GBTool e notas de mudança em relação as versões anteriores. A outra se refere à Identificação Geral (ID) do edifício, como nome, localização, vida útil prevista, uso previsto, dentre outros. As páginas seguintes estão divididas em 4 (quatro) seções conforme Quadro 21: Quadro 21 - Seções que estruturam o GBTool SEÇÕES PÁGINAS DE TRABALHO Cntxt (Contexto) DESCRIÇÃO Caracterização da área urbana, vizinhança e do lugar. Atribuição às questões e categorias de desempenho, Vote (Voto) valores correspondentes a ponderações relacionadas a sua importância relativa. Seção I EnGen (Geração de energia) Entrada de dados relativos a geração de energia Atribuição de uma base para futuras pontuações. Bmark (Valores de referência-Benchmark) Dados de entrada equivalentes às práticas usuais da região, considerando o tipo e a classe do edifício. Dados de entrada relativos a todas as áreas (piso, Área (Áreas) parede, vãos, telhados) para diversas funções que o edifício abriga. Arch (Arquitetura) Tech (Tecnologia) Dados de entrada das características detalhadas dos aspectos arquitetônicos do edifício. Dados de entrada das características detalhadas dos aspectos tecnológicos do edifício. Seção II Matrl (Material) Dados de entrada das características detalhadas dos materiais usados no edifício. Dados de entrada referentes a ocupação, operação e Ops (Operações) planejamento do gerenciamento de pré-operações e processos construtivos do edifício. Seção III Economic e LCC (Economia e Custo do ciclo Dados de entrada econômicos, como custos, taxas de de vida) inflação e descontos. Assess (Avaliação) Rprt (Relatório) Contém campos de pontuações para todos os critérios e sub-critérios. Resume e mostra todas as características chave e dados de desempenho do Benchmark e do edifício Seção IV estudo de caso Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 119 Fornece uma visão geral de todas as ponderações Weight (Ponderações) (pesos) usadas para resultar a pontuação do desempenho nos diferentes níveis. Mostra resultados da avaliação baseado em sua Result (Resultado) pontuação e ponderações através de indicadores de sustentabilidade ambiental e diagramas de barras. Fonte: Com base no Software. Agopyan & SIlva (2003) propõem outra categorização conforme os blocos de entrada e saída de dados (Figura 10): • planilhas de entrada de dados (6): o contexto; o descrição da matriz energética; o descrição do edifício; o áreas; o característica do envelope; o aspectos econômicos; • planilha de caracterização de desempenho de referência (benchmark); • planilha para definição de fatores de ponderação; • planilha de avaliação, preenchida semi-automaticamente com base nas informações das planilhas citadas anteriormente; • planilhas de saída de dados (2): o relatório; o resultados. As planilhas para definição de benchmark e de fatores de ponderação são de responsabilidade exclusiva da equipe de avaliação enquanto que os projetistas, executores e operadores do edifício fornecem apenas a descrição do edifício. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 120 Figura 10 - Blocos de entrada e saída de dados na GBTool Fonte: Agopyan & Silva, 2003. As várias seções de entrada de dados do GBTool, apresentam códigos de cores para identificar o que e como os campos devem ser completados pelo usuários e o que deve ficar intacto. Assim temos: • campo amarelo: os usuários devem entrar com textos (dados descritivos); • campo azul turquesa: os usuários devem entrar com dados numéricos; • campo azul: os usuários devem escolher dentre as opções oferecidas em uma caixa de diálogo aberta após um “clique” no campo. • campo cinza: fornece o resultado de um cálculo feito dentro do GBTool, ou uma informação relatada e não deve ser alterado pelo usuário. 4.5.8. Comunicação dos resultados O GBTool gera automaticamente o gráfico de desempenho global e do desempenho em cada categoria, além de seis gráficos parciais, um para o desdobramento de cada área implementada (Figura 11). Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 121 Figura 11 - Gráfico de desempenho global (esquerda) e de cada categoria de desempenho. A linha grossa vermelha indica a nota 0 e representa a prática típica (Benchmark). Fonte: Agopyan & Silva, 2003. 4.5.9. Potencialidades Segundo iiSBE (2002) as principais diferenças entre o programa GBC e outros sistemas de avaliação de desempenho ambiental caracterizam-se como amplos benefícios desta ferramenta, tais como: • por ser parte de um processo que envolve diversos países, não pretende ter uma aplicação comercial direcionada a um contexto específico. O GBTool considera a existência de condições variadas entre países e até dentro de um mesmo país. Por isso o software usado é projetado para permitir fácil identificação dos fatores locais para benchmarks, pesos e contextos; • o envolvimento de vários países no processo GBC aumentou a probabilidade de que todas as questões de desempenho tenham sido consideradas; • o GBTool permite ao usuário especificar até quatro tipos de uso no estágio de projeto e até quatro diferentes unidades dentro de um mesmo projeto, sendo adequado para edifícios complexos e modernos, ao contrário de outros sistemas de avaliação, que são limitados a reduzidos tipos de edificação. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 122 O GBC é o único sistema que vai além da avaliação de desempenho ambiental ao considerar também o desempenho econômico, que procura estimar o custo envolvido na obtenção de um determinado nível de desempenho ambiental, com a intenção de estimular o emprego de métodos de valoração em longo prazo e de reunir dados para desmistificar o pré-conceito de que edifícios com melhor desempenho ambiental são necessariamente muito mais caros que um edifício comum (Agopyan & Silva, 2003). Outra particularidade do GBTool apontada por Silva (2003) é o fato de ser o único sistema de avaliação implementado pautado pela abordagem de desempenho. A maior parte das metodologias é prescritiva e orientada a dispositivos ou estratégias, e trabalham com listas de verificação (checklists) que concedem créditos em função da aplicação de determinadas estratégias de projeto ou especificação de determinados equipamentos. Esta é uma saída com nível de complexidade muito menor, que presume que um grupo de estratégias e equipamentos provavelmente levará a alguma melhoria de desempenho, ainda que ela não possa ser estimada. 4.5.10. Limitações O usuário do GBTool deve estar consciente das seguintes limitações (Buildings Groups, 2002): • o sistema só pode ser aplicado a edifícios de escritórios, residências multifamiliares e escolas; • o sistema é um programa e não um modelo de simulação. Usuários devem usar outra ferramenta de software para simular, por exemplo, desempenho energético, energia incorporada estimada e emissões, conforto térmico previsto, qualidade do ar, dentre outros; Agopyan & Silva (2003) apontam ser necessária a revisão detalhada das referências adotadas na ferramenta GBTool, assim como o rastreamento de erros da ferramenta. Estas tarefas são dificultadas pela grande quantidade de fórmulas distribuídas nas várias planilhas que compõem o GBTool, muitas delas calculadas automaticamente e não acessadas pelo usuário. Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios 123 Quadro 22 - Quadro resumo das metodologias de avaliação de desempenho mais usadas BREEAM CATEGORIAS DE DESEMPENHO POTENCIALIDADES LIMITAÇÕES APLICAÇÃO AVALIADAS • Aplica-se a diversos tipos • Utilização de recursos naturais • Geração de poluição e emissões* • Qualidade do ambiente interno* de edifício • É um método claro e de fácil compreensão • Utiliza ponderações para cada categoria, chegando a operações* Edifícios de escritório (novos CO2 liberado para a atmosfera e existentes), residenciais, como o principal meio para supermercados, lojas de classificar o impacto ambiental departamento e unidades de origem energética industriais novas • Faltam parâmetros mais um número único e de fácil flexíveis às diversidades interpretação • Gerenciamento de • Considerar a quantidade de culturais, tecnológicas, • É amplamente utilizado, econômicas e ambientais dos com diversos edifícios já diferentes países FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO Questionários, listas de verificação (cheklist) avaliados LEEDS CATEGORIAS DE DESEMPENHO POTENCIALIDADES LIMITAÇÕES APLICAÇÃO AVALIADAS • Sustentabilidade local • Eficiência de água • Energia e atmosfera • Materiais e recursos • Fácil de usar forte auxílio a projetistas. Edifícios comerciais, realidade americana institucionais e residenciais de múltiplo uso • Lista de verificação simples e rápida de usar, fornecendo • Implementação restrita a • Silencia as áreas de fraqueza ou de reduzido desempenho do AVALIAÇÃO edifício • Não inclui um sistema de • Qualidade interna do ar FERRAMENTA DE ponderações em cada Checklist para preenchimento e cálculo de pontos categoria GBC CATEGORIAS DE DESEMPENHO POTENCIALIDADES LIMITAÇÕES APLICAÇÃO AVALIADAS • Utilização de recursos • Respeita as diversidades e • Não avaliar desempenho naturais realidades locais e regionais durante as condições Edifício residencial multi- operacionais, ou seja, antes da familiar, escritórios e escola. • Geração de poluição e emissões • Categorias de desempenho ocupação. bastante abrangentes Capítulo 4 - Sistemas de Avaliação Ambiental de Edifícios emissões bastante abrangentes • Qualidade do ambiente • Utiliza ponderações para interno hierarquizar as categorias de • Longevidade • Processo • Contexto de Inserção acordo com o benchmark local • Torna-se válido por uma equipe internacional • Aplicável a tipos restritos de 124 FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO edifícios • Complexo para uso • Necessita monitoramento profundo pela equipe nacional, em todas as etapas do processo de avaliação. GBTool (software com base em uma planilha do Microsoft Excel) Capítulo 1 - Introdução 15 1. INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO No início dos anos 70, em plena crise do petróleo, diversas publicações importantes apresentavam um ponto comum: discussões relativas a super exploração do meio ambiente pelo homem, especificamente, o desenvolvimento econômico e sua repercussão diante as limitações ambientais necessárias para acompanhar esse crescimento global (NSSD1, 2003). Diante dessas preocupações, as questões ambientais passaram a fazer parte do escopo de diversas políticas sócio-econômicas discutidas na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972 (Agopyan & Silva, 2003). Em 1987, o Comitê Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente (World Commission on Environment and Development) definiu desenvolvimento sustentável como sendo a capacidade de atender as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades. Porém, esse clássico conceito, apesar de correto e coerente, é um tanto vago, tendo em vista a dificuldade de prever as necessidades plenas das gerações futuras. Como relata Viggiano (2004), pode-se conhecer as necessidades básicas do ser humano nos dias atuais, tanto a nível pessoal quanto coletivo, entendendo que tais necessidades flutuam entre limiares absolutamente díspares. Não só o futuro incerto pode estar comprometido, mas também o presente. Dessa forma, o conceito de sustentabilidade deve ser definido não só como um conjunto de ações presentes ou futuras, mas também como um conjunto de atitudes. Assim, o desenvolvimento sustentável proporciona um novo marco básico de referência para todas as atividades humanas, buscando manter a qualidade 1 National Strategies for Sustainable Development Capítulo 1 - Introdução 16 geral de vida, assegurando o acesso aos recursos naturais e evitando a continuidade dos prejuízos ambientais. A abordagem foi gradualmente aceita ao redor do mundo com respeito a quase todos os aspectos do desenvolvimento humano buscando um equilíbrio entre as dimensões sociais, econômicas e ambientais (Figura 1). A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada no Rio de Janeiro (ECO’92), estabeleceu metas ambientais a serem cumpridas por diversos países, a chamada Agenda 212 que consolida a idéia de compatibilidade entre o desenvolvimento, sobretudo dos paises considerados em patamares insatisfatórios de renda e riqueza, e a conservação do meio ambiente para que as gerações futuras tenham o direito ao usufruto da vida em ambientes saudáveis. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DIMENSÃO AMBIENTAL Proteção do ambiente físico e seus recursos, e o uso destes recursos. DIMENSÃO ECONÔMICA Requer um sistema econômico que facilite o acesso a recursos e oportunidades e o aumento de prosperidade para todos. DIMENSÃO SOCIAL Garantir diretos humanos básicos e desenvolvimento de níveis aceitáveis de qualidade de vida Figura 1 - Aspectos compreendidos no desenvolvimento sutentável. A Agenda 21 já foi interpretada em diversas agendas locais e setoriais. Segundo Agopyan & Silva (2003), a participação econômica significativa, aliada ao aumento da percepção da dimensão dos impactos ambientais pelo setor construtivo em todo mundo, resultou em diversas medidas para reduzir tais impactos, culminando em uma releitura da Agenda 21, específica para a construção civil, com abordagem que envolve todo o ciclo de vida das edificações. 2 Agenda 21 é o documento consensual elaborado entre governadores e instituições da sociedade civil de 179 países. Traduz em propostas de ações o conceito de desenvolvimento sustentável. Capítulo 1 - Introdução 17 A Agenda Habitat II é, no setor da construção civil, a interpretação de maior relevância estabelecida na Conferência das Nações Unidas realizada em Istambul em 1996 (CIB3, 1999). A partir da assinatura do Protocolo de Quioto (MCT4, 1998), países industrializados comprometeram-se a reduzir, até o período entre 2008 e 2012, suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990. Nesse contexto, a indústria da construção civil e o ambiente construído são peças indissociáveis para o desenvolvimento sustentável da sociedade. A interação do edifício com o meio ambiente ocorre de diversas formas. Como os edifícios têm uma vida longa, causam um efeito profundo no ambiente, tanto na fase de construção, como na operação e demolição (interação prolongada). Além disso, a indústria da construção civil emprega grande volume e diversidade de materiais e componentes, e o edifício gera alto volume de resíduos depositados no meio ambiente urbano. Mais recentemente, surgem termos mais restritivos como, sustentabilidade construtiva e green building, incorporados ao conceito global de desenvolvimento sustentável e relacionados especificamente a indústria construtiva. Esses conceitos variam conforme as prioridades de cada país, relacionados ao clima, cultura e tradições construtivas, estágio de desenvolvimento industrial, natureza das edificações existentes e características dos diversos agentes envolvidos no processo construtivo de cada país. Green Building é o termo usado para classificar edifícios com menor impacto ambiental e energeticamente eficientes. Na verdade, uma abordagem green relativa ao ambiente construído, envolve uma visão holística, porém mais específica que sustentabilidade, contemplando somente sua dimensão ecológica, sem considerar, no entanto, questões sociais, urbanas e econômicas. As preocupações principais são: eficiência energética e energias 3 International Council for Research and Innovation in Building and Construction. 4 Ministério da Ciência e Tecnologia. Capítulo 1 - Introdução 18 renováveis, impactos ambientais diretos e indiretos, conservação das fontes naturais, eficiência no uso de água e do solo, reciclagem, qualidade do ambiente interno. Essa nova abordagem exigirá dos arquitetos, engenheiros e construtores, uma consciência maior quanto à importância dos recursos globais de energia, devendo considerar esses conceitos desde a etapa de planejamento e projeto até a demolição do edifício, ou seja, abrangendo todo o ciclo de vida da edificação para, de fato, reduzir seu impacto no meio ambiente. Segundo a associação francesa Haute Qualité Environmentale (HQE, 2001), o edifício interage com o meio ambiente em diversos momentos de sua existência (planejamento, implantação, uso, manutenção, reabilitação e demolição), envolvendo diferentes agentes da cadeia produtiva dentre os quais projetistas, empresas construtoras e fornecedores. Por isso, estão sendo desenvolvidas, nos países do Primeiro Mundo, estratégias amplamente estimuladas por agências governamentais, instituições de pesquisa e pelo setor privado, em geral, de caráter voluntário, que buscam garantir a minimização dos impactos ambientais das edificações. Através da promulgação de Códigos e Regulamentações, essas Políticas públicas procuram impor requisitos ambientais a várias atividades econômicas, resultando, de fato, em uma demanda por produtos e serviços ambientalmente menos agressivos. Paralelamente, os padrões internacionais de eficiência ambiental foram elevando-se gradativamente e algumas instituições passaram a conceder financiamentos, preferencialmente, a projetos com bons resultados nas avaliações ambientais. Outras iniciativas voluntárias têm contribuído para essa questão, o apoio a instituições de pesquisa ou a divulgação de informativos técnicos e práticos para orientação dos profissionais da indústria construtiva, em particular os projetistas, procurando garantir um enfoque ambiental desde a concepção do edifício. Buscando garantir o cumprimento das metas estabelecidas nas agendas ambientais e visando encorajar a demanda do mercado por níveis superiores Capítulo 1 - Introdução 19 de desempenho ambiental, surgem as metodologias para certificação, classificação, rotulagem e avaliação ambiental de edifícios, essa, sustentadas na década de 90, pelos conceitos de análise do ciclo de vida (Life Cycle Assessment - LCA) nos países da Europa e América do Norte (Silva, 2003). Estes instrumentos diferem na quantidade e no nível de agregação das informações apresentadas. Um selo ambiental representa apenas um produto que atendeu a determinados pré-requisitos ambientais pré-estabelecidos. Os esquemas de classificação posicionam o produto em relação a alternativas disponíveis no mercado. As certificações ambientais fornecem uma descrição estruturada de aspectos ambientais do produto, porém não permitem comparação direta entre alternativas. Todavia, é consenso entre pesquisadores e agências governamentais, que avaliação de desempenho ambiental, juntamente com um sistema de certificação, é um dos métodos mais eficientes para avaliar o nível de desempenho ambiental, tanto de edifícios existentes, como de projetos novos. Além da motivação a partir da perspectiva quanto à melhoria do desempenho, o desenvolvimento de um método de avaliação adequado, permite também, criar parâmetros para divulgação mercadológica, especificar desempenho ambiental, auxiliar projetistas, além de apoiar o desenvolvimento de legislações e normalizações referentes ao desempenho ambiental e embasar auditorias ambientais. Podem servir, ainda, de referência para incentivos e assim promover boas práticas ambientais. Em síntese, as metodologias de avaliação ambiental de edifícios objetivam medir quão bom ou ruim é o desempenho ambiental de um edifício em relação a um conjunto determinado de critérios. Por exemplo, diante de desempenhos conhecidos tomados como referência, é possível julgar e identificar onde é necessário efetuar melhorias estratégicas. Neste contexto, surgem as questões: “Quais preocupações ambientais incluir numa avaliação?”, “O que define Qualidade Ambiental de edifícios?”. Segundo Cardoso (2003) qualidade ambiental de um edifício é sua capacidade de satisfazer exigências relacionadas a: Capítulo 1 - Introdução • controle dos impactos ambientais causados ao ambiente externo; • criação de um ambiente interno confortável; • aspectos econômicos e sociais. 20 Diante do exposto, torna-se fundamental nesse momento conceituar também impacto ambiental, como sendo qualquer modificação ocorrida no meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização (NBR ISO 14001). Impacto ambiental não deve ser confundido com aspecto ou preocupação ambiental conforme cita Cardoso (2003), aspecto ambiental é o elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente. Surge assim mais um questionamento: “Que preocupações ambientais incluir numa avaliação de desempenho dos edifícios?”. A disponibilidade de métodos é crescente, com distinções fundamentais entre eles. No entanto todos abrangem minimamente cinco preocupações: • utilização de recursos naturais (energia, água, materiais, eficiência no uso do solo); • geração de poluição e emissões (emissões para o ar; resíduos sólidos; efluentes líquidos; outras cargas ambientais); • qualidade do ambiente interno; • comprometimento ambiental de todos os agentes envolvidos e qualidade do gerenciamento da operação do edifício; • contexto de Inserção (distâncias de transportes, impactos no entorno, entre outros). A maior parte das metodologias de avaliação adotam critérios de desempenho ambiental que representam uma disposição quantitativa a ser atingida ou um determinado nível de desempenho a ser alcançado em uma certa preocupação ambiental. Para que os resultados de avaliação de desempenho possam ser Capítulo 1 - Introdução 21 comparados, os métodos utilizam-se, quase sempre, de indicadores de desempenho ambiental. Muitos métodos são baseados em valores de referência (benchmark), o que significa que créditos ambientais são adquiridos de acordo com o resultado da comparação entre o desempenho de um edifício sob avaliação e um desempenho de referência previamente estabelecido. Esse desempenho de referência poderia ser, por exemplo, um nível mínimo de desempenho estabelecido em Norma ou Lei, ou uma prática comum no mercado local. Para que uma metodologia seja aceita internacionalmente é necessário que tenha uma cobertura abrangente de preocupações ambientais. Diante deste aspecto os métodos de avaliação de edifícios mais usados e consagrados serão relacionados neste trabalho, buscando enfatizar suas vantagens e desvantagens e as ferramentas de ação utilizadas. 1.2 PRINCIPAIS CONFERÊNCIAS E CENTROS DE PESQUISA NO TEMA A partir da década de 90, o desempenho ambiental dos edifícios passou a ser alvo de pesquisadores incentivados fortemente por agências governamentais e pelo setor privado buscando definir as estratégias para minimizar os impactos ambientais dos edifícios. Nesse contexto, uma série de eventos internacionais e nacionais tem sido promovido com o objetivo de propor, discutir e trocar informações sobre esse tema. Dentre eles pode-se citar o indicado na Quadro 1: Quadro 1 - Eventos relacionados com construção sustentável e avaliação ambiental de edifícios ANO ORGANIZAÇÃO CIB 1995 IBPSA 5 5 EVENTO 1° International Conference on Buildings and the Environment 1° Building Simulation 1995 International Building Performance Simulation Association LOCAL Garston, UK Madison, EUA Capítulo 1 - Introdução 22 1996 CIB W62 1997 CIB CIB 1998 NRCan CIB W62 1999 22° Water Supply & Drainage for Buildings 2nd International Conference on Buildings and the Environment CIB World Building Congress Construction and the Environment Green Building Challenge 98 24th Water Supply & Drainage for Buildings IBPSA Building Simulation 1999 NOVEM / CIB Sustainable Building 2000 (SB 2000) ANTAC 2000 PCC.EPUSP / CIB ISIAQ6 CIB W62 DAC / FEC / UNICAMP ANTAC VIII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ENTAC) CIB Symposium on Construction and Environment – Theory into practice Healthy Buildings 2000 26th Water Supply & Drainage for Buildings Lostorf, Suíça Paris, França Gävle, Suécia Vancouver, Canadá Rotterdam, Holanda Praga, República Tcheca Maastricht, Holanda Salvador, BA São Paulo, Brasil Espoo, Finlândia Rio de Janeiro, Brasil ENCAC Campinas, Brasil II Encontro Nacional (ENECS) e I Canela, Brasil Encontro Latino Americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis (ELECS) XVIII International Conference on 2001 Passive PLEA7 Florianópolis, Brasil and Low Energy Architecture ASHRAE8 IAQ 2001 São Francisco, EUA IBPSA Brasil Building Simulation 2001 Rio de Janeiro, Brasil CIB W62 27th Water Supply & Drainage for Buildings 2001 6 International Society of Indoor Air Quality and Climate 7 Passive and Low Energy Architecture 8 American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers Portoroz, Slovenia Capítulo 1 - Introdução 23 Nações Unidas Biggforsk / iiSBE / 2002 CIB IAIAS9 World Summit on Sustainable Johannesburg, África Development (Rio+10) do Sul Sustainable Building 2002 (SB02) Oslo, Noruega Indoor air 2002 Monterey, EUA 28th Water Supply and Drainage for Iasi, Romania CIB W62 Buildings III Encontro Nacional (ENECS) sobre ANTAC Edificações e Comunidades São Carlos, Brasil Sustentáveis Queensland Univ. / 2003 Salford Univ. / International Conference on Smart & Carnegie Mellon Sustainable Built Environment – Univ. CIB/Brisbane SASBE Brisbane, Austrália City council PLEA XIX International Conference on Passive and Low Energy Architecture Santiago, Chile Healthy Buildings 2003 Singapura ISIAQ Eindhoven, Holanda IBPSA Building Simulation 2003 CIB W62 29th Water Supply and Drainage for Buildings Ankara, Turquia ANTAC / CIB / iiSBE ENTAC / claCS 04 (SB04 regional) São Paulo, Brasil ASHRAE IAQ 2004 Tampa, EUA Sustainable Building 2005 (SB05) Tóquio, Japão 2004 2005 CIB / iiSBE / OECD10 / IEA11 / UIA12 Fonte: Silva, 2003. Em relação ao desenvolvimento de metodologias de avaliação ambiental de edifícios, Silva (2003) aponta algumas instituições e suas respectivas iniciativas, de acordo com a Quadro 2: 9 International Academy of Indoor Air Sciences 10 Organization for Economic Co-operation and Development. 11 International Energy Agency. 12 Union Internationale des Architectes. Capítulo 1 - Introdução 24 Quadro 2 - Iniciativas relacionadas ao desenvolvimento de metodologias de avaliação ambiental de edifícios PAÍS / REGIÃO Austrália INSTITUIÇÃO INICIATIVA Sustainable Technology / BHP (Steel) LISA (LCA in Sustainable Architecture), Research software LCA Department of Public Works and Services, da cidade de Sidney LCAid, software de auxílio a projetistas Environment Australia (Department of the NABERS (National Australian Building Environment and Heritage) Environment Rating Scheme) US Green Building Council (USGBC) LEEDTM (Leadership in Energy and Environmental Design) Greenbuilder (Austin, Texas) Estados Unidos High Performance Building Guidelines Administrações municipais e estaduais (New York City, New York) Minnesota Sustainable Design Guide MSDG (Estado de Minnesota) Europa Building Research Establishment (BRE), no Reino Unido BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) e Universidade de ESCALE Savoy, na França Centre for Building Environment (CBE) do 13 Royal Institute of Technology (KTH ), na Environmental Status of Buildings e Eco-effect Suécia Danish Building and Urban Research (BYogBIG14), na Dinamarca Finnish Association of Building Owners and Construction Clients (RAKLI), na Finlândia Building Research Institute (NBI15), na Noruega 13 KTH – Kungi Tekniska Högskoln. 14 Statens Byggeforskninginstitut. 15 Byggforsk BEAT 2002 PromisE - The Finnish Environmental and Classification Systen Eco-Profile Capítulo 1 - Introdução 25 W/E consultants e Municipalidade de Rotterdam, Holanda Rotterdams Puntensysteem Environmental Research Group, da British BEPAC (Building Environmental Columbia University Performance Assessment Criteria ) Canadá National Resources Canada – NRCan Japan Sustainability Building Consortium Japão (JSBC) Building Research Institute Hong Kong, China Centre of Environmental Technology, Ltd CBIP, C-2000 e início do processo Green Building Challenge (GBC) CASBEE BEAT (Building Environmental Assessment Tool) HK-BEAM Fonte: Silva, 2003. 1.3 JUSTIFICATIVA “Os edifícios alteram significativamente o meio-ambiente, seja na fase de projeto, produção ou de uso e manutenção”, essa afirmativa está consolidada e facilmente perceptível nas mais diversas publicações da área, com números precisos e preocupantes, como se segue: • O volume de recursos naturais utilizados pela construção civil, grande parte não-renováveis, corresponde a pelo menos um terço do total consumido anualmente por toda a sociedade (Sjöström, 1992; Roodman & Lenssen, 1995). Conforme o país de 14% a 75% da totalidade de recursos naturais extraídos destinam-se a construção civil. No Japão, em 1995, estimou-se o consumo para a construção civil em cerca de 50% dos materiais circulantes na economia. Em 1998, no Reino Unido, o consumo estimado variou de 250 a 300 milhões de toneladas de agregados/ano. Nos Estados Unidos, em 1999, o volume estimado indica um consumo anual setorial de 2 bilhões de toneladas (75% do material consumido na economia norte americana (John, 2000). • O setor de construção é responsável pelo uso de energia correspondente a 40% do total utilizado mundialmente a cada ano (Lippiatt, 1998). Aproximadamente 80% desse valor são consumidos no beneficiamento, produção e transporte de materiais (Industry and environment, 1996), que Capítulo 1 - Introdução 26 também produzem emissões que provocam aquecimento global (efeito estufa), chuva ácida e poluição do ar. Na Inglaterra, por exemplo, os edifícios consomem cerca de 40% a 50% da energia utilizada em todo país. Já nos Estados Unidos há um consumo de 62,5% da energia produzida no país (USGBC16, 2002) e no Brasil estima-se que esse consumo atinja 42% (John, 2000). • Os edifícios quantificam 45% de emissões de dióxido de carbono (CO2) e por isso tornam-se um elemento chave no aquecimento global (Skopek, 2002). • Nos Estados Unidos, os edifícios representam, aproximadamente, o consumo de 12% de água potável (USGBC, 2002). A distribuição não homogênea do crescimento populacional e do desenvolvimento das atividades humanas, agravada pela distribuição geográfica de fontes de água também irregular, contribuem para o aumento de pressões sobre os mananciais disponíveis e de fácil acesso – os quais representariam cerca de 0,3%do volume total de água do planeta (Degani, 2003). • Nos Estados Unidos, a indústria de construção gera entre 20% e 30% do volume total de resíduo sólido urbano (Wilson, 1991) e cerca de 136 milhões de toneladas de entulho por ano (USGBC, 2002). Sendo 48% gerados nas demolições, 44% provenientes de reformas e apenas 8% de novas construções. Revelando ainda os valores médios de 1,99 kg/m² de resíduos para construções residenciais novas e 1,76 kg/m² para construções não residenciais novas (Degani,2003). No Brasil, a parcela referente ao volume de resíduos sólidos gira em torno de 45% do total (Pinto & Agopyan, 1999). Além desses dados, constatações freqüentes nas pesquisas devem ser consideradas ao se estabelecer a influência dos edifícios no grande impacto ao meio ambiente, tais como: 16 United States Green Buildings Council Capítulo 1 - Introdução • 27 A iluminação, o condicionamento ambiental e a operação do edifício também consomem energia, em quantidade diretamente relacionada às decisões de projeto e à eficiência dos equipamentos utilizados. • Na fase de uso do edifício, gera-se esgoto a ser tratado e liberação de voláteis (VOCs) e CFC levando a, respectivamente, dificuldades de gestão urbana, prejuízos à saúde e ao rendimento dos usuários e danos à camada de ozônio que podem ser irreversíveis. • A extração descontrolada de matérias-primas não-renováveis pode levar ao esgotamento de reservas e perdas na biodiversidade. • Além de impactos restritos ao meio ambiente, os edifícios também provocam grandes impactos urbanos, aumentando, por exemplo, a demanda por serviços de infra-estrutura pública (abastecimento de água, fornecimento de energia, transporte, entre outros) nas regiões de sua influência (HPB17, 1999). São várias as lições tiradas das conseqüências acima citadas, e são especialmente interessantes as seguintes enumeradas pelo Business Council for Sustainable Development - Gulf of México (Degani, 2003): • NO AWAY - não existe o “por aí” ou “em algum lugar”, todo o material descartado tem um determinado destino e lá é acumulado prejudicando o meio ambiente hoje ou amanhã; • LIMITS - o ecossistema é limitado não suporta tudo; • SYTEMIC DELAYS - o sistema leva um tempo ao tentar reequilibrar um impacto gerado; • PERFECT KNOWLEDGE - não é preciso esperar pelo conhecimento completo ou pelas provas científicas absolutas, é preciso começar a agir em todos os níveis, através do governo, da comunidade em geral e do meio empresarial. 17 Hight Performance Building Capítulo 1 - Introdução 28 De fato, a indústria da construção assume um papel significativo, uma vez que representa a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente. Como os edifícios têm vida longa, há um consumo de recursos e geração de resíduos em proporções que, muitas vezes, superam as de outras atividades econômicas. Portanto, fundamenta-se a importância em investir nessa área de pesquisa, buscando, em última instância, contribuir para redução do impacto ambiental na Construção Civil. A avaliação ambiental de edifícios é um instrumento poderoso para identificar os pontos críticos na geração de impactos ambientais de edifícios e, conseqüentemente, as possibilidades mais efetivas para intervenção na construção de outros edifícios. 1.4 HIPÓTESE DO TRABALHO O impacto ambiental dos edifícios não está sendo considerado na implementação do empreendimento construtivo, nem mesmo como procedimento formal de legitimação ou como um instrumento efetivo de negociação e mediação. A pesquisa será desenvolvida admitindo-se essa hipótese, em que os agentes da indústria da construção civil do Espírito Santo não se preocupam com o desempenho ambiental dos edifícios projetados e desconhecem conceitos relacionados e principalmente a existência de metodologias de avaliação de desempenho ambiental. 1.5 OBJETIVOS 1.5.1 Objetivo Geral O objetivo principal deste trabalho foi aferir o nível de envolvimento dos agentes da construção civil em relação às preocupações ambientais e categorias ambientais propostas na metodologia do GBC e perceber o grau de entendimento desses agentes em relação aos conceitos estabelecidos por essa metodologia. Capítulo 1 - Introdução 29 1.5.2 Objetivos específicos Para que este objetivo maior fosse alcançado, metas específicas deveriam ser também atendidas: • realizar um levantamento bibliográfico das pesquisas relacionadas à avaliação ambiental de edifícios e estudo de caso de avaliações já realizadas; • aperfeiçoar-se nas metodologias de avaliação de desempenho ambiental especialmente a do GBC, que vem sendo crescentemente trabalhada por equipes internacionais, mas que ainda encontra-se em fase de amadurecimento no Brasil; • despertar nos agentes da construção civil a importância de uma avaliação de desempenho ambiental de edifícios e a relevância do papel de cada um quanto a atitude ambiental em relação ao edifício. 1.6 METODOLOGIA Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se devem empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa. O desenvolvimento desse trabalho foi construído a partir da pesquisa descritiva auxiliada pela pesquisa bibliográfica que, vão nortear os capítulos da dissertação. A pesquisa bibliográfica será utilizada para consolidar conceitos, levantar questões e proposições, além de fundamentar a realização da pesquisa descritiva. A pesquisa descritiva, em geral está associada com diversos esquemas de pesquisa, tais como estudos exploratórios, estudos descritivos e estudo de caso (Cervo & Bervian, 1996). Segundo Yin (1996), o que irá ajudar a escolher a melhor estratégia de pesquisa é a observação do tipo de questão a ser formulada (problema em forma de pergunta), o controle ou não que o pesquisador poderá exercer sobre Capítulo 1 - Introdução 30 as variáveis que atuam sob o problema de pesquisa e se o foco do problema é contemporâneo ou histórico. 1.6.1 Pesquisa bibliográfica Nesta fase buscou-se responder às seguintes questões: “Quem já escreveu e o que já foi publicado sobre o assunto?”, “Que aspectos já foram abordados?”, “Quais as lacunas existentes na literatura?”. Para Luna (1997), a revisão de literatura em um trabalho de pesquisa pode ser realizada com os seguintes objetivos: • determinação do “estado da arte”: o pesquisador procura mostrar através da literatura já publicada o que já sabe sobre o tema, quais as lacunas existentes e onde se encontram os principais entraves teóricos ou metodológicos; • revisão teórica: o problema de pesquisa é inserido dentro de um quadro de referência teórica para explicá-lo. Geralmente acontece quando o problema em estudo é gerado por uma teoria, ou quando não é gerado ou explicado por uma teoria particular, mas por várias; • revisão empírica: você procura explicar como o problema vem sendo pesquisado do ponto de vista metodológico procurando responder: “Quais os procedimentos normalmente empregados no estudo desse problema?”, “Que fatores vêm afetando os resultados?”, “Que propostas têm sido feitas para explicá-los ou controlá-los?”, “Que procedimentos vêm sendo empregados para analisar os resultados?” "Há relatos de manutenção e generalização dos resultados obtidos?”, “Do que elas dependem?; • revisão histórica: você busca recuperar a evolução de um conceito, tema, abordagem ou outros aspectos, fazendo a inserção dessa evolução dentro de um quadro teórico de referência, que explique os fatores determinantes e as implicações das mudanças. Inicialmente, pretendeu-se realizar um levantamento geral da bibliografia disponível sobre o tema (estado da arte), a fim de identificar as fontes capazes de fornecer as respostas adequadas à solução do problema proposto. Uma Capítulo 1 - Introdução 31 leitura rápida desse material foi feita para a seleção, agrupamento e categorização das informações. Isso facilitou a organização do material e das idéias, direcionando novas buscas complementares mais específicas para um momento seguinte de leitura profunda das fontes, onde foram realizadas as tomadas de apontamentos e confecção de fichas didáticas e analíticas. Para a identificação e localização das fontes, como técnicas ou ferramentas, foi utilizado: consulta a base de dados, consulta a anais de congresso, consulta a sites da internet, revistas técnicas da área, jornais, teses e dissertações defendidas e, se possível, consultas a bibliotecas de outras universidades. As fontes deviam contemplar as seguintes questões: • bases normativas relacionadas ao tema; • principais conferências, iniciativas e centros de pesquisa no tema; • conceitos, objetivos, aplicações, metodologias, potencialidades, limitações de Análise do Ciclo de Vida (LCA), uma vez que estudos e métodos para avaliação ambiental de edifícios têm sido especialmente derivados desta metodologia internacionalmente aceita. • estado atual dos sistemas de avaliação ambiental de edifícios: abordagem, objetivos, aplicações, limitações, potencialidades, estrutura de avaliação, critérios de pontuação e ponderações, comunicação dos resultados. Além da aquisição de informações e maior conhecimento sobre o tema, a pesquisa bibliográfica foi capaz de subsidiar a identificação de critérios para seleção da amostra utilizada na pesquisa descritiva, a elaboração dos instrumentos adequados para coleta de dados e ainda auxiliar a interpretação dos dados. A escolha pelo método da pesquisa descritiva, bem como dos métodos usados para nortear essa pesquisa, deu-se a partir de diversos fatores contextualizados a partir da pesquisa bibliográfica conforme será descrito no capítulo 5 desta dissertação. Capítulo 1 - Introdução 32 1.6.2 Fluxograma da metodologia As etapas para o direcionamento do trabalho seguirão o seguinte fluxo: PESQUISA DESCRITIVA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Levantamento de fontes de forma abrangente Entrevistas Leitura rápida Definição da amostra Entrevista Levantamento de fontes mais específicas Seleção e categorização das informações Definição da Pauta da Entrevista Tabulação dos Resultados Análise dos Resultados Tomada de apontamentos e confecção de fichas CONSIDERAÇÕES FINAIS A metodologia da pesquisa será descrita no Capítulo 5. 1.7 ORGANIZAÇÃO DESTE TRABALHO O desenvolvimento deste trabalho foi construído em Capítulos que procuram seguir uma ordem lógica e fluente a partir da metodologia adotada. A Introdução buscou contextualizar o trabalho, bem como definir objetivos, criar hipóteses e descrever a metodologia usada. No Capítulo 2, procurou-se destacar as bases normativas que buscam melhorar o desempenho ambiental dos edifícios, além de descrever as políticas de incentivo de repercussão internacional nesse sentido. Para dar continuidade a essa abordagem, foi necessário conceituar Análise do Ciclo de Vida (LCA), no Capítulo 3, uma vez que, foi a partir dessa referência que surgiram diversos sistemas de avaliação ambiental de edifícios. No Capítulo 4 discutem-se as vantagens e limitações dos sistemas de avaliação ambiental de edifícios mais consolidados internacionalmente, enfatizando suas metodologias e aplicações. A descrição, o registro e as recomendações relativas a pesquisa foram descritas no Capítulo 5. Definidas a partir de uma pesquisa de percepção para Capítulo 1 - Introdução 33 aferir o conhecimento de agentes da indústria da construção civil sobre o tema abordado. O Capítulo 6 reúne as principais considerações sobre o trabalho e aponta as prioridades para continuidade da pesquisa. As referências bibliográficas utilizadas no trabalho estão listadas no Capítulo 7. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 34 2. BASES NORMATIVAS, PROGRAMAS E POLÍTICAS DE INCENTIVO A AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS 2.1. BASE NORMATIVA RELACIONADA COM AVALIAÇÃO AMBIENTAL Os agentes sócio-econômicos estão pressionando o setor industrial para modificar as relações entre as atividades produtivas, em virtude dos problemas causados no meio ambiente. Buscando atender às novas exigências do mercado, cada vez mais globalizado e competitivo, as respostas dos empresários estão sendo dadas através de conformidade às mudanças na legislação, acordos voluntários e tecnologias alternativas ambientalmente adequadas. Na última década, diante da difusão dos conceitos de sustentabilidade e mais especificamente do green building, é perceptível que o sucesso econômico somente ocorrerá quando o empresariado descobrir que essas políticas, regulamentos, acordos voluntários e questões ambientais poderão ser transformados em estratégias competitivas para os negócios da empresa (Furtado, 1995). No entanto, como constata Silva (2003), regulamentações podem ser muito efetivas se bem enfocadas, mas elas geralmente definem um nível de desempenho minimamente aceitável e são, portanto, normalmente insuficientes para conduzir a indústria a altos padrões normativos. Em relação à indústria construtiva, existe uma variedade de normas, as quais fornecem orientações com respeito a questões ecológicas individuais e a sustentabilidade. Seus instrumentos mais relevantes segundo Haas et al. (2002) são: • previsões e perspectivas para indicar o desenvolvimento global e nacional; • indicadores de desenvolvimento sustentável; • regulamentos relacionados ao setor construtivo; Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios • 35 análise do ciclo de vida (LCA). Enquanto previsões e indicadores focam em um contexto nacional e global, regulamentos e LCA auxiliam a avaliação de edifícios individualmente. Neste capítulo serão analisados os regulamentos existentes que exercem influencia direta ou indireta na avaliação ambiental de edifícios. 2.1.1. ISO 14000 A Organização Internacional de Normalização1 (International Organization for Standardization) desenvolveu, desde Setembro de 1994, Normas de Gestão Ambiental que receberam o nome de Série ISO 14000. A série ISO 14000 é um conjunto de normas que buscam a boa prática de gestão ambiental, gestão esta entendida como um processo gradual e contínuo de melhorias ambientais. Apesar de ser uma norma de aceitação mundial, apresenta caráter voluntário, não havendo instrumentos legais que obriguem sua adoção pelas empresas. Servem como ferramenta para gerenciar os Programas Ambientais das empresas e fornecer um sistema para medir, avaliar e fazer auditorias destes programas. Não são específicas para o setor industrial. Podem ser aplicadas igualmente para todos os tipos e tamanhos de organizações públicas ou privadas, do setor produtivo ou de serviços, e são designadas para atender as diversidades geográficas, culturais e sociais. Contudo, todas as atividades da organização devem ser consideradas para o levantamento dos aspectos e impactos ambientais, considerando as práticas atuais, passadas e futuras. O objetivo das normas ISO 14000 é fornecer uma estrutura de gerenciamento capaz de garantir processos operacionais consistentes e projetados para adquirir determinadas metas ambientais. Assim, além de fazer um sistema de gerenciamento mais eficiente, a adoção destas normas ajudará a tornar mais 1 Federação Mundial de organismos de padronização de 140 países, representando cerca de 95% da produção mundial. No Brasil o único organismo é a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (Reis, 2002). Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 36 efetivos os programas ambientais das empresas e incorporar sua credibilidade ambiental (INFORMINTL, 2002). De acordo com o plano atual, a série ISO 14000, compreende 23 normas individuais, guias e artigos técnicos, todos relacionados à gestão ambiental de qualquer organização. A ISO 14000 é estruturada nas seguintes normas básicas, conforme Quadro 3, cada um com seus objetivos definidos de acordo com Quadro 4. Quadro 3 - Grupo de Normas ISO 14000 GRUPO DESIGNAÇÃO ISO 14001:1996 Sistema de Gestão Ambiental ISO 14004:1996 (EMS) TÍTULO Sistema de Gestão Ambiental - Especificação com Diretrizes para Uso. Sistema de Gestão Ambiental - Diretrizes Gerais Sobre Princípios, Sistemas e Técnicas de Apoio. Informações para Orientar Organizações ISO TR 14061: 1998 florestais no Uso das Normas de Sistema de Gerenciamento Ambiental ISO 14001 e ISO 14004. ISO 14010:1996 Auditoria ambiental e Investigações relativas ao Meio Gerais. Diretrizes para Auditoria Ambiental - ISO 14011:1996 Ambiente (EA) Procedimentos de Auditoria - Auditoria de Sistema de Gestão Ambiental. ISO 14012:1996 ISO/WD 14015: 2001 Rotulagem ambiental (EL) Diretrizes para Auditoria Ambiental - Princípios ISO 14020:1998 ISO/DIS 14021: 1999 Diretrizes para Auditoria Ambiental - Critérios para Qualificação de Auditores Ambientais. Avaliação Ambiental de Sites e Entidades. Rótulos e Declarações Ambientais - Princípios Gerais. Rótulos e Declarações Ambientais – Auto Declaração Ambiental. Rótulos e Declarações Ambientais - ISO/FDIS 14024: 1998 Declarações Ambientais Tipo I - Diretrizes de Princípios e Procedimentos. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios ISO/WD/TR 14025 (A publicar) ISO/FDIS 14031: 1999 37 Rótulos e Declarações Ambientais Declarações Ambientais Tipo III - Diretrizes de Princípios e Procedimentos. Gerenciamento Ambiental - Avaliação do Desempenho Ambiental - Diretrizes. Avaliação de desempenho Gerenciamento Ambiental - Avaliação do ambiental (EPE) ISO/TR 14032: 1999 Desempenho Ambiental - Estudo de Caso Ilustrando o Uso da ISO 14031. ISO 14040:1997 Gerenciamento Ambiental - Análise do Ciclo de Vida - Princípios e Estrutura. Gerenciamento Ambiental - Análise do Ciclo de ISO 14041:1998 Vida - Definição dos Objetivos, Escopo e Análise do Inventário. ISO/CD 14042: 1999 Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) ISO/DIS 14043: 1999 Gerenciamento Ambiental - Análise do Ciclo de Vida - Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida. Gerenciamento Ambiental - Análise do Ciclo de Vida - Interpretação do Ciclo de Vida. Gerenciamento Ambiental - Análise do Ciclo de ISO/TR 14048: 1999 Vida - Forma da Documentação de Dados da Análise do Ciclo de Vida. ISO/TR 14049: 1999 ISO 14050:1998 Termos e definições (T&D) ISO Guide 4:1997 Gerenciamento Ambiental - Análise do Ciclo de Vida - Exemplos para Aplicação da ISO 14041. Gerenciamento Ambiental - Vocabulário. Diretrizes para Inclusão de Aspectos Ambientais em Normas de Produtos. Fonte: Jensen, 2002; Reis, 2002. Quadro 4 - Objetivo das normas ISO 14000 GRUPO OBJETIVOS • Auxiliar as organizações a estabelecer um novo Sistema de Gestão Ambiental ou melhorar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) existente, considerando os requisitos legais e as informações significativos. sobre os impactos ambientais Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 38 • Estabelecer os princípios gerais e procedimentos para conduzir uma auditoria a um Sistema de Auditoria ambiental e Investigações relativas ao Meio Ambiente (EA) Gestão Ambiental. • Verificar a conformidade das auditorias com os critérios pré-definidos. • Fornecer indicações sobre os critérios para qualificação de Auditores Ambientais. Rotulagem ambiental (EL) • Fornecer diretrizes para rotulagem ambiental (selos verdes) de produtos. • Definição de um processo de avaliação do desempenho ambiental dos sistemas das Avaliação de desempenho ambiental (EPE) organizações. • Fornecimento de exemplos de indicadores ambientais. • Encorajar as entidades oficiais, as organizações Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) privadas e o público para uma abordagem dos assuntos ambientais de forma integrada durante todo o seu ciclo de vida. Termos e definições (T & D) • Definir e a terminologia aplicada em toda norma Fonte: Feldman & Tibor, 1996; Jensen, 2002; Reis, 2002. Com relação ao tema dessa dissertação – avaliação de desempenho ambiental de edifícios – as normas referentes aos grupos Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e Auditoria ambiental, não fornecem parâmetros de desempenho ambiental, ou seja, não estabelecem necessidades absolutas para o mesmo, com exceção da exigência do comprometimento com a melhoria contínua, atendimento a legislação e prevenção da poluição. Com relação à Rotulagem Ambiental, a forma mais conhecida é o “selo verde”, uma prática bastante difundida no mercado, notadamente onde os consumidores apresentam maior nível de exigência de qualidade ambiental, como Europa e EUA. No Brasil, esse grupo de normas continua, até o momento, em elaboração e discussão. Os selos verdes ou rótulos ecológicos atestam, por meio de uma marca colocada voluntariamente pela organização, que determinados produtos são adequados ao uso, estando de acordo com critérios de excelência de qualidade, e apresentam menor impacto ambiental em relação a outros Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 39 similares (Regazzi, 2003), entretanto, não avaliam o desempenho do produto, buscando apenas enquadrá-lo dentro de determinados critérios pré-definidos. Países em todo mundo têm instituído programas de rotulagem que premiam esses selos verdes. A Alemanha começou em 1978, o Canadá e o Japão em 1988 (Feldman & Tibor, 1996). No âmbito internacional a rotulagem ambiental está sendo discutida na ISO desde 1994, com a efetiva participação do Brasil. Nesse contexto, a série ISO oferece três alternativas de declarações ambientais (Feldman & Tibor, 1996): • Selo Tipo I ou "selo verde" dos produtos. Existe norma aprovada desde 1999 (ISO 14024) que trata dos princípios e procedimentos para sua implantação; • Selo Tipo II, que se refere às auto-declarações ambientais, ou seja, as declarações realizadas pelos fabricantes e produtores quanto à qualidade ambiental de seus produtos. Norma aprovada em 1999 (ISO 14021), que contém as diretrizes para o uso deste tipo de rotulagem; • Selo Tipo III, semelhante ao Tipo I, porém obriga a que os produtos possuam em suas embalagens o detalhamento dos impactos ambientais referentes a cada um dos seus elementos constituintes. Além disso, exige a análise crítica, por terceira parte, do ciclo de vida adotado. Este tipo de rotulagem, por ser de difícil aplicação, de resultados duvidosos e por até o momento não ter sido implementada com sucesso em nenhum país, está ainda sendo questionada quanto à sua aplicabilidade. Apesar do documento normativo (TR 14025) ter sido aprovado em 2000, até hoje não se chegou a um consenso sobre a necessidade e viabilidade de seu uso, face às dificuldades técnicas de sua modelagem. A linha que mais atende a finalidades do selo é a que prevê a disponibilização de mecanismos capazes de incentivar a adoção da auto-declaração ambiental do fornecedor (selo Tipo II) em substituição à rotulagem ambiental realizada por terceira parte (selos Tipo I e III). Esta proposta fundamenta-se nos seguintes motivos: é voluntária, mostra envolvimento do setor produtivo com as Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 40 questões ambientais, é mais eficaz – se conduzida de acordo com as normas – e de menor custo – além da independência dos órgãos certificadores, principalmente dos internacionais – (Regazzi, 2003). Já nas normas de Avaliação de Desempenho Ambiental, a meta é fornecer uma ferramenta para avaliar, monitorar e aperfeiçoar o desempenho do Sistema de Gestão Ambiental das organizações, ou seja, fornecer à gerência uma ferramenta útil para gerar informações precisas necessárias à medição e rastreamento do desempenho ambiental, para que possa atingir suas metas. O processo de avaliação de desempenho ambiental pretende cobrir todo ciclo de vida dos produtos e serviços da empresa, desde a entrada de matériasprimas, passando pela produção e finalizando com o descarte após o uso. Nesse contexto são selecionados indicadores de desempenho ambiental que proporcionam à organização marcos básicos com os quais é possível avaliar o progresso (Feldman & Tibor, 1996). A ISO 14031: Gerenciamento ambiental - Avaliação de desempenho ambiental - Orientações, fornece orientação ao projeto e uso da avaliação de desempenho ambiental dentro de uma organização, auxiliando na identificação e seleção de indicadores de desempenho ambiental. No entanto, esse documento não estabelece níveis de desempenho ambientais, ou seja, não fornece uma metodologia que capacita a comparação de produtos. Esta norma não pretende ser usada com o propósito de certificação e registro de desempenho ambiental. Contudo, a Norma ISO 14032: Exemplos de avaliação de desempenho ambiental, fornece exemplos a partir de organizações reais para ilustrar o uso das orientações da ISO 14031. Com relação às normas pertencentes ao grupo Avaliação do Ciclo de Vida (LCA), especificam as exigências e os procedimentos necessários para a definição e preparação de todas as etapas para uma avaliação através da análise ciclo de vida (LCA). A avaliação do ciclo de vida tem várias fases incluindo: Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 41 • definição de metas e o escopo da avaliação; • análise do inventário do ciclo de vida, que envolve a medição dos materiais e energia utilizados e as emissões ambientais que ocorrem ao longo de todo contínuo ciclo de vida do processo; • avaliação do impacto do ciclo de vida, que examina os efeitos reais e potenciais do impacto sobre o meio ambiente e a saúde humana, através das informações obtidas dessa análise de inventário; • avaliação da melhoria do ciclo de vida, que utiliza as informações da avaliação do impacto para realizar uma avaliação sistemática, com base no conhecimento obtido da análise do inventário dos impactos ambientais, identificando as partes do sistema que podem ser alteradas, de modo a reduzir a carga ou impacto global do sistema de produtos ou serviços. No relatório técnico da Norma ISO 14047 são exemplificados, através de ilustrações práticas, como realizar uma análise do ciclo de vida de acordo com a ISO 14042. O objetivo não é certificar o produto, e sim, fazer uma análise para verificar onde, dentro de todo o ciclo de vida deste, estão os pontos que causam maior impacto ambiental e assim propor recomendações para melhoria do desempenho ambiental. No entanto, embora teoricamente ideais, os estudos de LCA são intensivos em tempo e recurso. A coleta de dados é complexa e cara, e a metodologia ainda não foi normatizada. Conceitualmente, apenas a definição das metas, o escopo e os estágios da análise do inventário do ciclo de vida de um processo de avaliação global estão razoavelmente bem estabelecidos e definidos. A avaliação de impactos e a avaliação de melhorias são métodos conceitualmente definidos, mas não desenvolvidos ou documentados. 2.1.2. Códigos específicos de energia para edifícios Ao redor de todo mundo surgem códigos específicos que pretendem promover a eficiência energética através de regulamentações, envolvendo jurisdições Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 42 federais, estaduais e locais além de instituições não governamentais e o setor industrial. Objetivam fornecem um certo grau de controle sobre a prática de projeto de edifícios e encorajar projetos mais conscientes. Os projetos de regulamentação são sofisticados, e consideram, quase sempre, um padrão mínimo a alcançar congruentes com as práticas convencionais, e se necessário utilizam-se de simulações para aferir a abordagem ao longo de todo ciclo de vida. No entanto, apenas poucas jurisdições têm adotado tais normas, devido, principalmente, a grande dificuldade da indústria construtiva em estabelecer um consenso para ações na área energética. As principais intenções dessas regulamentações, objetivando sempre melhorar a eficiência energética de edifícios residenciais e comerciais, são: • ajudar a desenvolver um melhor modelo nacional de código energético; • auxiliar a promulgação de códigos federais referentes a energia de edifícios; • desenvolver e distribuir ferramentas e materiais de acordo com o uso; • fornecer assistência técnica e financeira para ajudar os Estados a adaptarem e implementarem os códigos energéticos para edifícios; • colaborar com os empresários para estabelecer as necessidades industriais e fornecer informações em conformidade de produtos, além de novidades relacionadas aos códigos energéticos. Alguns exemplos de códigos energéticos para edifícios estabelecidos por vários países estão desritos no Quadro 5. Quadro 5 - Códigos de energia para edifícios PAÍS CÓDIGO Enerieeinsparungsgesetz DESCRIÇÃO Lei que tem como objetivo a preservação e economia de energia. Alemanha Waermeschutzverordnung Código Federal direcionado ao controle do uso racionalizado de energia. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios The Building Code of Austrália 96 Austrália 43 O código de edificações da Austrália, datado de 1996, inclui medidas de controle de eficiência - Energy Efficiency Measures in BCA energética. A agência austríaca da energia (E.V.A.) desenvolve projetos, publicações e serviços para Áustria Austrian Energy Agency (E.V.A.) preparar condições para alcançar a eficiência de energia, energias renováveis e inovações tecnológicas ligadas a energia. O Office Energy Efficiency (OEE) apresenta uma Canada’s Energy Efficiency Regulations série de regulamentos relacionados as mais diversas áreas que interferem na eficiência energética de produtos e construções. Energy Efficiency Act and Energy Canadá Dinamarca Efficiency Regulations of Canada Leis e regulamentações canadenses relacionados cm o controle da eficiência energética. Model National Energy Code of Canada Código Energético Nacional do Canadá for Buildings 1997 direcionado para edifícios. Model National Energy Code of Canada Código Energético Nacional do Canadá for Houses 1997 direcionado para casas. Danish Energy Agency (DEA) Agência Dinamarquesa de Energia, fiscaliza e regulamenta o uso eficiente de energia. Normas de controle e padronização da Normativa de la Edificacíon Espanha construção civil, incluem além das normas básicas (NBE), uma norma relacionada às condições térmicas nos edifícios. Código Técnico de la Edificacíon Código técnico de edifícios da Espanha. Energy Policy Act of 1992 Ato da política de energia de 1992 Energy Legislation in USA Estados Unidos Legislação federal americana relacionada a energia (uso e conservação). Code of Federal Regulations (CFR) Código federal de regulamentação. Energy Efficiency Code for New Federal Código de eficiência energética direcionado a Residential Buildings novas edificações residenciais. Leis, Regulamentos e Códigos de cada Cada estado tem autonomia para desenvolver Estado leis regulamentos e códigos próprios. Agência do Meio Ambiente e da Matriz de França Agence de l’Environnement et de la Energia, estabelece normas e códigos Mâtrise de l’Energie (ADEME) relacionados a preservação ambiental e ao controle do uso de energia. Holanda Nederlands Normalisatie Instituutt (NMI) Instituto holandês que desenvolve, entre outras, normas de controle do uso de energia. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 44 Associação para os colaboradores e os usuários Normalisatie Kringen Nederland (NKN) das normatizações na Holanda. Desenvolvido pelo governo de Hong Kong em Hong Kong Building (Energy Efficiency) Regulation 1995, regulamenta a eficiência energética de edifícios. Building Regulation Part L: Conservation of fuel and power relacionada a conservação de energia e combustível. Codes and Guides of British Standasrds Inglaterra Parte de uma regulamentação de edifícios, Institution (BSi) Códigos e guias desenvolvidos pela Bsi, uma instituição britânica de padronização e normatização. Instituição formada por coordenadores Chartered Institution of Building Services Engineers (CIBSE) (construtores e engenheiros) de obras, que estabelece critérios e padrões direcionados ao uso racional da energia. Um conjunto de vários códigos, leis, regulamentos, listas e critérios, relacionados Japão com a eficiência energética das construções, Energy Efficiency Laws (ECCJ) definindo e direcionando ao uso racional da energia. As versões mais antigas datam de 1979 e estão constantemente sendo atualizadas. Energy Efficiency Standadization – Residential Energy Efficiency Building Codes in the Russian Federation energia estabelecida a partir de códigos energéticos para edifícios residenciais. (CENEf) Rússia Padronização do controle da eficiência de The Federal Law on Energy Saving Lei federal destinada a economia de energia. Russian Ferderation Construction Code Códigos, normatizações e padronizações & Standards (SNiP) federais destinados a construção civil. Fonte: Building Energy Standards and Codes (BESC) 2.2. PROGRAMAS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO À AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFÍCIOS 2.2.1. Programas Canadenses O Governo do Canadá, juntamente com parceiros da indústria privada, vem desenvolvendo pesquisas e programas em direção ao desenvolvimento sustentável. O Centro de Pesquisas Naturais Canadá (NRCan) é o departamento do Governo Federal especializado no desenvolvimento e uso de recursos naturais, de energia sustentável, de minerais e metais, de florestas e Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios de ciências do solo responsável. 45 Dentro de uma perspectiva nacional e internacional, usa ciência e tecnologia em política e em programas, tendo em vista o melhor uso dos recursos favorecendo a qualidade de vida dos canadenses, agora e no futuro. Como resultado destes incentivos, o setor da indústria construtiva passa a espelhar as mudanças no pensar, tanto por parte dos profissionais envolvidos no setor como também na população consumidora. Uma maior responsabilidade ambiental, a eficiência de energia e água, um ambiente interno mais saudável, dentre outros fatores, passam a figurar no cenário do mercado imobiliário como diferencial capaz de vencer a concorrência. Para isso, é necessário mais do que incentivo, mas também uma forma consistente e confiável de certificação como garantia deste diferencial. 2.2.1.1. PROGRAMA C-2000 O programa C-2000 foi projetado em 1993 objetivando um aumento do nível de desempenho dos edifícios. A princípio dois itens eram questionáveis e fundamentais pra o sucesso do programa: • como seria oferecido e quanto seria o incentivo financeiro; • qual seria o melhor ponto para intervenção dentro do processo de desenvolvimento de projeto. Contudo, as solicitações técnicas do C-2000 estavam definidas e devem abranger desempenho energético, impactos ambientais, ambiente interior do edifício, funcionalidade e uma gama de outros parâmetros relacionados. No entanto, para alcançar esses objetivos, já era esperado um aumento substancial nos custos de projeto e construção. Após uma análise preliminar dos custos atuais de projeto e uma pesquisa informal com os projetistas, alocações de recursos foram feitas para apoiar esse aumento nos custos. As contribuições foram distribuídas de acordo com uma escala variando de 7% para grandes projetos e 12% para projetos pequenos. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 46 Os dois primeiros projetos C-2000, Crestwood 8 e Green on the Grand, receberam fundos de acordo com essa fórmula, em uma faixa de $400.000 a $750.000 (Dólares Canadenses), e financiamento desta magnitude foi também planejado para projetos subseqüentes. Entretanto, depois que os primeiros seis projetos foram realizados e dois deles finalizados, percebeu-se que o aumento dos custos foi menor que o esperado, apenas 7% a 8% superior aos edifícios convencionais. Após uma investigação cuidadosa, constatou-se que esse aumento modesto devia-se ao fato dos projetistas usarem tecnologias menos sofisticadas e menos caras do que previsto antes na fase de projeto (Larsson, 2000). Contudo, todos os projetistas concordam que aplicações de um processo de projeto integrado necessário ao Programa C-2000 foi a principal razão pelo qual altos níveis de desempenho puderam ainda ser alcançados. Aparentemente, revelou-se que a maioria dos benefícios de intervenção foi adquirida durante o processo de projeto (Larsson, 2000). Essas constatações conduziram a mudanças no Programa C-2000, de forma que a assistência técnica e financeira passaram a ser fornecidas apenas para edifícios em processo de projeto, para cobrir custos como o fornecimento de consultores de projetos, simulações de energia e para financiar o tempo extra de trabalho das equipes de projeto principais. O processo C-2000 chama-se atualmente Processo Integrado de Projeto (Integrated Design Process, IDP), e a maioria das intervenções de projeto estão agora focadas em fornecer consultoria no processo de projeto no estágio mais inicial. Seis projetos foram construídos desta forma, e todos atingiram as necessidades de desempenho do IDP, ou chegaram muito próximo, e os custos oscilaram levemente acima ou abaixo da base orçamentária previamente estabelecida. Segundo Larsson (2000), a abordagem do IDP está criando raízes, e como reflexo, diversos proprietários têm usado processos similares para construir, mesmo sem apoio financeiro. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 47 Especificamente, as seguintes exigências do C-2000 têm provado ser importantes, de acordo com o Quadro 5. Um software simples, usado como ferramenta de projeto, foi produzido para auxiliar as equipes de projeto registradas no Programa. Uma dessas, esboça etapas genéricas do processo de projeto e fornece uma forma simples para projetistas registrarem suas estratégias e objetivos de desempenho. Outra, facilita um consenso entre cliente e a equipe de projeto referente a importância relativa de várias questões. Quadro 6 - Características gerais do Programa C-2000 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PROGRAMA C-2000 8 edifícios construídos ou em construção Número de Projetos até 2002 14 edifícios projetados Orçamento Anual Aproximadamente 200 mil dólares Consumo de energia Poluição ambiental e emissões Áreas de desempenho Qualidade interna do ar Funcionalidade Meta energética 50% superior ao exigido na MNECB • Trabalho interdisciplinar entre arquitetos, engenheiros, e pessoas relacionadas a operação imediatamente a partir do início do processo de projeto; • Discussão da importância relativa de vários critérios de desempenho e o estabelecimento de um consenso neste assunto entre clientes e projetistas; • O fornecimento de um aplicativo facilitador de projeto, para Exigências elevar os níveis de desempenho durante o processo e trazer tecnologias especializadas; • Uma clara articulação de objetivos e estratégias de desempenho, para serem atualizadas durante o processo; • O uso de simuladores de energia para fornecer relativamente informações objetivas de um aspecto chave de desempenho; • Documentação das principais etapas e assuntos importantes no processo. Fonte: Larsson, 2000. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 48 O processo IDP C-2000 está agora sendo usado como um modelo para desenvolvimento de um padrão internacional genérico, pela Tarefa 23 da Agência Internacional de Energia (Internatiobnal Energy Agency), e discussões já estão acontecendo com um instituto canadense de arquitetura (Royal Architectural Institute of Canadá, RAIC) para avaliar a possibilidade do processo ser aceito como uma forma alternativa de entrega de serviços profissionais. 2.2.1.2. PROGRAMA DE INCENTIVO A EDIFÍCIOS COMERCIAIS (CBIP) Em 1997, foi lançado pelo Centro de Pesquisas Naturais do Canadá (Natural Resources Canadá, NRCan) um programa nacional para direcionar a indústria em direção a eficiência energética. Com base nas lições aprendidas no C2000, decidiu-se oferecer incentivos financeiros para incorporação de atributos, relativos à eficiência energética, em novos projetos de edifícios comerciais, institucionais e mais recentemente, industriais. O incentivo pretende estar disponível aos indivíduos, às organizações lucrativas e não lucrativas, às instituições, aos governos territoriais, regionais e municipais, e a determinadas corporações federais (PEBC, 2002). O objetivo deste novo incentivo é encorajar a prática de projeto com eficiência de energia e produzir constantes mudanças, tanto em projeto de edifícios, como na indústria construtiva canadense. O CBIP avalia os projetos e concede àqueles que cumprem as exigências um incentivo financeiro. No caso de edifícios grandes, o cliente deve usar o software específico, de simulação de desempenho de energia (EE4 - CBIP) para demonstrar que o projeto proposto atingirá o nível de qualificação mínimo de 25% sobre o exigido na MNECB, diferente dos 50% necessários no Programa C-2000. EE4 - CBIP estima o custo anual de energia para um edifício ainda na etapa de projeto. O cálculo é feito, simultaneamente, considerando que o edifício segue apenas as normas do MNECB e se considerasse as exigências do CBIP. Assim, é traçado um paralelo entre as duas situações, passível de comparação. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 49 Para incentivar construtores de edifícios comerciais pequenos a participarem do CBIP, são fornecidos pacotes técnicos prescritivos de medidas para eficiência de energia para tipos específicos de edifícios. Quando estas medidas estão incluídas no projeto, este será avaliado e o PEBC (2002) afirma que, com certeza, irá alcançar o nível de qualificação. CBIP objetiva ajudar a reduzir o custo extra necessário ao se projetar edifícios eficientes energeticamente. O incentivo para um edifício que alcança os critérios estabelecidos pelo programa será calculado como um incentivo financeiro único, equivalente a duas vezes a diferença entre o custo anual de energia estimado se o edifício fosse construído considerando o MNECB e o custo energético anual estimado sobre o projeto aprovado pelo CBIP. Veja um exemplo na Tabela 1. Tabela 1 - Exemplo de Cálculo de incentivo financeiro CBPI SITUAÇÕES CUSTO ANUAL ESTIMADO Se construído de acordo com as exigências do MNECB $100.000 Projeto aprovado pelo CBIP: $75.000 (25% a menos que o MNECB) Economia no custo energético anual estimado: $25.000 ($100.000 -$75.000) VALOR DO INCENTIVO CBIP: $50.000 ($25.000 X 2) Foi estabelecido um nível máximo de incentivo em relação ao custo de energia anual previsto (Padrão MNECB) de $80.000 ou de acordo com os custos totais de projeto, o que for menor. Múltiplos ganhos de incentivo para um mesmo projeto reaproveitado são permitidos até 12 vezes ou um ganho máximo de incentivo limitado a $500.000 por agente recebedor do incentivo. Uma análise dos resultados preliminares no Programa CBIP apresentado no Advanced Building Newsletter, mostrou que, até o Outono de 1998 projetos típicos CBIP estavam recebendo financiamento na faixa de $35.000, devido a seu desempenho e/ou o porte dos edifícios não permitirem alcançarem um valor máximo. O incentivo, agora, aumentou para três vezes o custo anual de energia prevista de modo a fornecer um incentivo maior para projetos menores, mas o limite de $80.000 permanece (Larsson, 2000). Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 50 No Quadro 7 as características gerais e as exigências do Programa CBIP Quadro 7 - Características gerais do CBIP CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PROGRAMA CBIP Número de Projetos até 2002 Orçamento Anual 300 além daqueles que já estão em construção ou finalizados Aproximadamente 10 milhões de dólares Consumo de energia Áreas de desempenho Emissões e efeito estufa Meta energética 25% superior ao exigido na MNECB • Requisição para verificação da disponibilidade de fundos ao NRCan indicando o valor necessário previsto, a justificativa de intenção de construção de um edifício eficiente energeticamente e ainda Exigências especificações de tamanho, tipo de ocupação e localização. • Fornecimento de projeto detalhado. • Preenchimento das folhas de trabalho fornecida pelo software de simulação EE4 -CBIP comprovando a aptidão para o incentivo. Há uma tendência, atualmente ao trabalho conjunto dos Programas C-2000 e CBIP, de forma que quase todos os novos projetos C-2000 também participam do Programa CBIP. Projetos C-2000 correntes recebem, atualmente, uma assistência financeira total de $5.000 a $25.000 durante apenas o processo de projeto, isto é, uma considerável redução dos níveis de apoio em relação aos dados anteriormente. Entretanto, a combinação dos programas resulta em apoio personalizado e em um apoio financeiro total máximo disponível de até $100.000 para um pequeno número de projetos por cada ano. Recentemente, um terceiro elemento tem sido adicionado ao programa combinado: promover a adoção de tecnologias renováveis. Um programa de suporte desenvolveu um software capaz de fornecer uma avaliação do potencial técnico e econômico de tecnologias de energia renovável. Ambos programas, C-2000 e CBIP, estão, agora, encorajando questões renováveis em um estágio inicial de seus projetos (Larsson, 2000). Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 51 Para profissionais na área de projeto, assim como construtores e proprietários de edifícios, esses incentivos inicialmente funcionam como uma forma de arrecadar fundos e de ser um diferencial no mercado. No entanto, o meio ambiente é que se beneficia com essas atitudes e, a longo prazo, a economia de energia será o principal reflexo dessas iniciativas. Além disso, os programas permitem que aqueles profissionais relacionados à indústria construtiva tornemse familiares com as práticas de eficiência de energia, o que ajudará às decisões futuras de aperfeiçoamento das estratégias de projeto. É visível que, todos os projetos que alcançaram incentivos, ao serem submetidos a alguma metodologia de avaliação por desempenho, conseguem sobressair-se nos sistemas de certificação. 2.2.1.3. PROGRAMA R-2000 R-2000 é um programa resultante de 20 anos de intensas pesquisas e avanços realizados pelo Governo do Canadá e por seus parceiros industriais. É administrado pelo Centro de Pesquisas Naturais do Canadá (Natural Resources Canadá - NRCan), que promove o uso de práticas e tecnologias construtivas ambientalmente mais “amigáveis” para residências. É o líder mundial em tecnologia de eficiência energética em residências e tem gerado grande interesse fora do Canadá, e apresenta licença para uso no Japão e em vários estados americanos (OEE, 2002a). A participação no programa é voluntária. Segundo OEE (2002a), construtores escolhem trabalhar com o padrão R-2000, pois consideram ser uma forma de ganhar mercado ao construir residências com melhor desempenho do que as oferecidas pelos concorrentes que usam práticas tradicionais. Energy Publications (2002) garante a existência de vários benefícios para os proprietários de uma residência R-2000, tais como, melhor qualidade do ar, maior responsabilidade ambiental, melhor isolamento acústico, melhor conforto térmico, economia de energia e como resultado final, uma vida mais saudável. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 52 Com relação ao fator custo, uma residência construída dentro do programa R2000, custa inicialmente 2% a 6% mais quando comparada às construções residenciais convencionais. Porém, dependendo da forma de pagamento ou hipoteca, essa diferença pode cair. Energy Publications (2002) afirma que, a relação custo e benefício a longo prazo é vantajosa, considerando economia de energia, ar interno mais saudável, melhor conforto e um aumento significativo no valor de revenda. O programa R-2000 inclui: • normas referentes a eficiência energética continuamente atualizadas, aplicáveis a novas residências; • cursos de treinamento e educação avançada para construtores de residência; • testa, avalia, certifica e literalmente rotula residências novas inscritas no programa e aprovadas. A norma R-2000 é baseada em uma meta de consumo de energia para cada residência e uma utiliza-se de uma série de exigências técnicas com as seguintes características (Energy Publications, 2002): • sistema de ventilação contínua em toda a residência; • uso de materiais e equipamentos mais “amigáveis”ao meio ambiente; • sistemas de aquecimento e ventilação avançados; • utensílios com eficiência de energia e iluminação; • janelas e portas com melhor eficiência de energia; • envelopes construtivos mais compactos para reduzir correntes de ar e perdas de calor; • elevados níveis de isolamento. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 53 O padrão R-2000 demanda um elevado nível de eficiência energética, além do necessário nas normas construtivas vigentes. Desde que o programa foi lançado, quase 9000 residências foram construídas e certificadas. Algo próximo de 900 construtores foram licenciados para construir residências R-2000. Como resultado, percebe-se uma melhora significativa da qualidade das residências, com benefícios econômicos, para saúde das pessoas e para o meio ambiente. Isso impulsiona as iniciativas governamentais em direção à melhoria da qualidade das normas existentes e o desenvolvimento de incentivos em relação a essas questões (OEE, 2002a). R-2000 também conta com a participação de vários parceiros em todo Canadá, incluindo associações provincianas de construtores de residências, governos provincianos, fabricantes de produtos e concessionárias publicas de energia. Como resultado, fabricantes têm desenvolvido vários produtos construtivos exclusivos, tais como, janelas de alto desempenho, ventiladores de recuperação de calor e sistemas de refrigeração e aquecimento (OEE, 2002a). 2.2.1.4. FBI - FEDERAL BUILDING INITIATIVE A Iniciativa Federal no Setor Construtivo (FBI) foi desenvolvida pelo escritório de eficiência energética do Centro de Pesquisas Naturais Canadá (NRCan) em 1991, para ajudar os departamentos federais e agências a reduzir seus consumos de energia e de água e a emissão de gases causadores do efeito estufa. FBI foi projetado para fornecer aos departamentos do governo federal uma organização fiscal para gerenciar seus orçamentos energéticos, através da melhoria da eficiência de seus edifícios sem qualquer aumento nos custos e devendo estar de acordo com as normas canadenses de responsabilidade ambiental. A combinação do mecanismo de financiamento e a disposição de produtos e serviços disponíveis para os departamentos federais poderiam fornecer uma forma efetiva de cortar custos energéticos e reduzir a emissão de gases dos edifícios em operação (OEE, 2002b). Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 54 Atualmente, o programa é considerado um sucesso, contando sempre com a parceria de firmas especializadas em gerenciamento de energia, como coordenadores, projetando, melhorando e monitorando medidas de eficiência energética. Segundo OEE (2002b), FBI inclui: • promoção de programas de serviços e produtos fazendo-os visíveis em todo mundo; • contribuição para alcançar, até 2010, a meta de 31% a menos de emissões de gases que os níveis de 1991; • apoio às metas do governo canadense para aumentar a consciência da importância da eficiência energética e mudanças nas condições ambientais; • retroalimentação e atualização de aproximadamente 6500 edifícios federais e equipamentos, gerando $26 milhões em economia anual e $ 190 milhões em investimentos financeiros particulares. As facilidades encontradas no FBI relativas à eficiência energética são importantes, e tanto tem beneficiado o meio ambiente e promovido a saúde dos locais de trabalho com incentivo à produtividade, quanto também, economizado em contas e em impostos. 2.2.2. Programas americanos O enfoque americano com relação a programas de incentivo ao green building não é, em geral, direcionado pelo Governo Federal, mas principalmente, por associações formadas pela indústria construtiva ou por outros grupos não lucrativos, com o objetivo de reforçar a tendência geral em direção ao desenvolvimento sustentável. Os programas comunitários green building estão crescendo e progredindo a cada dia para promover a aceitação pública de seus benefícios, assim como incentivar construtores a adotar práticas com maior responsabilidade ambiental. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 55 Smart Communities Network (2002) auxilia a identificação dessas iniciativas como segue abaixo. Construir uma Clark Melhor é um programa de classificação de green building no distrito de Clark, Washington, que certifica residências novas e reformadas. É uma iniciativa voluntária operada pela Associação da Indústria Construtiva do sudoeste de Washington. Construir uma Kitsap Melhor é um programa que promove construções com maior responsabilidade ambiental, conceitos de economia de energia, qualidade do ar e uso de recursos naturais no distrito de Kitsap, Washington. É aplicável para residências novas ou projetos de reforma. O programa estabelece um padrão “Normas Adicionais” para melhorar o desempenho dos edifícios e fornecer benefícios econômicos e ambientais significativos para os ocupantes e as futuras gerações. Caracteriza-se por incluir pontos de peso por item e um livro guia com cuidadosa descrição das áreas e reservas locais aprovadas. Na cidade de Seattle, também em Washington, o programa Seattle Sustainable Building procura melhorar as políticas rumo ao crescimento sustentável dos edifícios, fornecendo um guia para os servidores da cidade e oferecem assistência técnica e incentivos. Construir Verde (Built Green) da Associação dos principais construtores (MBA) dos distritos de King e Snohomish, Washington, juntamente com a parceria de agências governamentais, projetado para fornecer aos ocupantes, residências confortáveis, duráveis e ambientalmente amigáveis. O programa oferece aos consumidores um sistema de classificação fácil de entender, que quantifica as práticas construtivas mais corretas do ponto de vista ambiental para construção de residências novas e em reforma. A certificação das residências é feita após o preenchimento adequado de um checklist, organizado em seis categorias com itens de ações ambientais sendo possível obter classificações de 1, 2 e 3 estrelas. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 56 Outros programas seguem a mesma metodologia, com preenchimento de uma lista de verificações (cheklist) constando de requisitos ambientais mínimos a serem atendidos associados a pontuações específicas. Esses programas são utilizados como um guia de orientação e aplicados como ferramenta de marketing para residências que reúnem critérios green específicos. Dentre eles pode-se exemplificar alguns. Construir Verde no Colorado (Built Green Colorado), desde 1995, originado na região do Metrô em Denver, Colorado, atuando atualmente em todo o estado. É uma iniciativa que conta com esforços conjuntos das associações de construtores e da concessionária pública de energia. O objetivo alvo é encorajar construtores de casas a usar tecnologias, produtos e práticas que forneçam melhor eficiência de energia e redução de poluição, garantam ar interno mais saudável, reduzam o uso de água, preservem recursos naturais e melhorem a durabilidade reduzindo a manutenção das edificações. Programa de Pontuação de Green Building (Green Points Building Program), ainda no Colorado. É utilizado em novas construções, projetos de ampliação maiores que 152,40m2 e projetos de reforma. Além de atender aos objetivos ambientais do programa anteriormente citado, apresenta um adicional ao promover a reciclagem de materiais construtivos e redução de resíduos sólidos. O programa confere aos construtores um “aval construtivo” obtido após apuração dos créditos obtidos pela seleção de medidas greens. O Programa Green Building da Cidade de Austin (City of Austin Green Building Program) é também voluntário e classifica e certifica residências na escala de 1 a 4 estrelas, sendo que os que alcançam mais estrelas são os que apresentam mais características greens. O programa também fornece assistência a profissionais da indústria da construção tais como arquitetos, engenheiros e construtores. Além desses, existem os programas de ação integrada com o objetivo de promover a eficiência de recursos construtivos e incentivar o projeto sustentável na prática local. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 57 Programa Green Building da Cidade de Portland (City of Portland´s Green Building Program). Coordenando a perícia e os recursos de seis departamentos da cidade, esta iniciativa estabelece metas radicais, além de recomendar estratégias selecionadas cuidadosamente para aumentar os resultados locais e desenvolver soluções, a custos acessíveis, para construtores, colaboradores, proprietários de construções e usuários. Programas com os mesmos objetivos e metodologias similares são encontrados em São Jose, Califórnia, Havaí e Nova Jersey. A Iniciativa Green Building do Estado de Nova York (New York Sate Green Building Initiative) oferece um programa de incentivos através de taxas desenvolvidas para construtores de edifícios que buscam construir de forma ambientalmente correta. No Arizona o Programa Green Building Scottsdale (Scottsdale Green Building Program), encoraja uma abordagem global de projeto e técnicas construtivas para minimizar os impactos ambientais, objetivando a redução do consumo de energia dos edifícios. Avalia residências conforme seis tipos de impactos ambientais. O Programa Residencial EarthCraft (EarthCraft House Program) é uma iniciativa de uma associação dos melhores construtores residenciais de Atlanta, Geórgia, que fornece treinamento, auxílio técnico para projeto e construção, marketing de materiais para construtores participantes. Projetos de edifícios alcançam pontos pela implementação de várias categorias: planejamento local, eficiência energética, redução de água, conservação de água e qualidade interna do ar. Programas com enfoques mais restritos são também comuns. Existem os que restringem-se em incentivar a eficiência energética e são muitos, tais como: Home Energy Rating Systems (HERS) Programs, Energy Efficient Mortage (EEM) Program, EPA Programs, o Programa do Conselho Americano para uma econômica eficiência energética (ACEEE), dentre outros. São, em geral, Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios programas voluntários que fornecem assistência técnica, 58 recursos e ferramentas para instituições, agências governamentais e outras organizações, para produzir edifícios com melhor eficiência de energia. Outros programas apenas fornecem, através de publicações, banco de dados e pesquisas online, via internet, orientações a construtores e usuários direcionadas ao green building. Apesar de não avaliarem ou classificarem os edifícios, tornam-se fundamentais para embasar metodologias usuais, contribuindo, muitas vezes, com ferramentas de auxílio para este processo. Como tal, pode-se citar, o Governor´s Green Government Council na Pensilvânia, o Green Building Design and Construction, na Califórnia e Battery Park City Green Guidelines, em Nova York. 2.2.3. Programas Europeus e Asiáticos Várias iniciativas de implementar políticas e programas voltados à construção de edifícios ambientalmente responsáveis vem sendo desenvolvidas na Europa e na Ásia, disseminando o conceito de green building até mesmo em países africanos. Dentre as diversas iniciativas cabe ressaltar alguns exemplos. 2.2.3.1. SUSTAINABLE BUIDING PROJECTS - SUÉCIA (Formas, 2002) Segundo a iniciativa sueca Sustainable Buiding Projects a sustentabilidade social, econômica e ecológica pode ser a base de todas as atividades em planejamento, construção e gerenciamento. A Suécia tem estabelecidas 15 metas de qualidade ambiental a longo prazo, para elucidar a dimensão ecológica do desenvolvimento sustentável, entre as quais está uma construção ambientalmente correta. Planejamento comunitário, pesquisas e desenvolvimento, educação, disseminação da informação e um diálogo entre diferentes setores da sociedade são alguns dos instrumentos políticos que estão dando destaque na estratégia para estimular o desenvolvimento de uma sociedade sustentável. Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 59 2.2.3.2. THE URBAN ECOLOGY PROGRAM - NORUEGA (NABU2, 2003) O Urban Ecology Program apresenta a visão ambiental da cidade de Oslo, Noruega definida a partir de metas, áreas de ênfase e estratégias que culminam em programas para a política ambiental da cidade. Há um grande número de iniciativas apontando para o desenvolvimento sustentável e estes esforços têm começado a mostrar resultados concretos. O Programa é complementado pelo Urban Ecology Guide, desenvolvido por iniciativa de um Centro para Arquitetura e Planejamento Sustentável (NABU) em parceria com a comunidade da cidade, órgãos públicos e outras entidades voltadas ao desenvolvimento sustentável. O guia apresenta uma amostra dos melhores e mais inovadores projetos ecologicamente responsáveis concluídos ou em andamento em Oslo. 2.2.3.3. CRITÉRIOS GREEN BUILDING NA CHINA (Shi, 2002) A Lei de Proteção Ambiental e a Lei de Construção são os fundamentos básicos do green building na China. Com base nessas duas leis, uma série de normas, regulamentos e instituições têm definido diferentes perfis para os critérios ambientais.Estas normas e instituições têm apresentado um grande efeito nos perfis dos edifícios, tendendo a construção ambientalmente responsável e para análise do ciclo de vida desde a fase de projeto. Se um projeto tem a possibilidade de apresentar uma grande influência no ambiente, um relatório ambiental deve ser feito com as seguintes informações: • situação ambiental atual do entorno do projeto; • análise e previsão das influências ambientais do edifício; 2 Norwegian Architects for Sustainable Development Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 60 • análise econômica e técnica das medidas de proteção ambiental; • sugestões para o monitoramento ambiental do projeto; • análise de custo e benefício da influência ambiental do projeto, entre outros. De acordo com a conclusão do relatório, caso o projeto tenha um desempenho ambiental ruim, ele não poderá ser construído. Este programa vem atuando com sucesso, desde a emissão do regulamento em 1998, e protegendo o ambiente natural da possível degradação provocada por projetos e construções. 2.2.4. Programas Brasileiros O mercado brasileiro ainda é iniciante com relação às políticas direcionadas ao green building. Entretanto, já existem diversos produtos que são considerados como “ambientalmente amigáveis”, além de diversas iniciativas pontuais ao longo de todo país. Faltam, portanto, soluções globais que são dificultadas pela falta de dados básicos, principalmente relacionados a descargas (poluição e emissões) ambientais e durabilidade dos produtos construtivos, assim como dados climáticos necessários como apoio às simulações de edifícios. Em nível nacional, existe uma proposta de resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), já aprovada na Câmara Técnica de Controle Ambiental em 2002, que dispõe sobre resíduos da construção civil. A proposta determina a necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil, uma vez que estes representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas e são depositados em locais inadequados, contribuindo para a degradação da qualidade ambiental (CONAMA, 2002). Em nível estadual, São Paulo é o que mais caminha nesta direção, devendo ser destacado a criação de uma Câmara Ambiental exclusiva para o setor construtivo, o Programa Estadual para Conservação de Água e a Política Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 61 de Gerenciamento de Resíduos. Também no Estado de São Paulo a prática de coleta de água da chuva é hoje obrigatória (Silva et al. 2002). Em Belo Horizonte, políticas direcionadas ao resíduo de construção e doméstico têm sido implantadas com sucesso para reciclá-los, de forma a reduzir os depósitos ilegais e custos de transporte, custos ambientais, saúde dentre outros. Falta, no entanto, uma política mais abrangente para incentivar mais pesquisas, objetivando os benefícios comerciais a partir destes resíduos. No sul do Brasil, através do Departamento de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), está sendo desenvolvido um projeto de pesquisa para a implementação de um Centro Experimental para Tecnologias Residenciais Sustentáveis (CETHS) de acordo com princípios sustentáveis: uso de fontes energéticas sustentáveis, gerenciamento de resíduos sólidos e líquidos, uso de materiais construtivos com baixo impacto ambiental, produção local de alimentos e atenção às questões sociais e educacionais. Segundo Silva et al. (2002), em nível Federal, pode-se destacar: • Programa Nacional de Eficiência de Energia Elétrica (PROCEL) lançado em 1985/86 coordenado pelo Ministério das Minas e Energia (MME) e pelo Ministério da Indústria e Comércio. A meta em longo prazo (2015) é reduzir o consumo energético para 130 bilhões KwH, o que corresponde a duas vezes a produção da Represa de Itaipu. • Programa FINEP/Habitare. Programa Habitare foi lançado em 1994 pelo Ministério das Ciências e Tecnologia e FINEP (Agência de Financiamento Nacional do Brasil). Aplica-se apenas ao setor residencial. Este programa oferece embasamento para o surgimento de diversos projetos que objetivam a sustentabilidade das construções. Dentre sua vasta linha de ação, o Programa objetiva (HABITARE, 2003): ° desenvolvimento de métodos de avaliação do impacto ambiental dos materiais e das tecnologias destinadas à construção civil; Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios ° 62 concepção e implantação de alternativas para redução do desperdício na cadeia produtiva da construção civil; ° desenvolvimento de diretrizes de projeto e operação visando o uso racional de água e energia na habitação, com redução nos custos globais das soluções construtivas; ° desenvolvimento de tecnologias de baixo impacto ambiental; ° elaboração de propostas de políticas públicas para incentivar reciclagem de resíduos e seu aproveitamento na construção civil e redução do impacto ambiental. • Programa Nacional para Qualidade e Produtividade da Habitação (PBQPHabitat). É um programa voluntário lançado em 1998, direcionado para apoiar o esforço brasileiro de modernidade através da promoção de qualidade e produtividade do setor construtivo. PBQP-Habitat é também um instrumento federal para cooperar com o compromisso estabelecido na II Conferêcia de Habitações, em Istambul. • Programa Nacional contra o Desperdício de Água (PNCDA), lançado em 1998, através da articulação de quatro ministérios, promovendo a conservação de água e um programa nacional para um uso mais racional da água. • Eco-Label brasileiro. As discussões iniciais ocorreram apenas após o Rio´92, principalmente devido ao risco da proibição de exportação. Critérios foram definidos em 1995, mas, apenas em 2000 o Ministério de Minas e Energia e a Associação Brasileira de Normas Técnicas iniciou o trabalho que considera o estabelecimento de um rótulo ambiental brasileiro. Em 2001, o Brasil presenciou uma severa crise de energia, o que resultou da necessidade de um sistema de racionamento na maioria dos estados brasileiros. Como conseqüência ocorreu um aumento da conscientização da população em relação a um maior respeito ambiental. Com relação ao setor Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 63 construtivo, nota-se, principalmente no Estado de São Paulo, uma preocupação dos construtores em estabelecer parcerias para caracterizações de edifícios com relação ao seu desempenho ambiental e num futuro próximo desenvolvimento de um esquema de certificação e rotulagem destes edifícios. Quadro 8 - Principais Programas e Políticas Públicas de incentivo à avaliação e certificação ambiental de edifícios PAÍS PROGRAMA OU POLÍTICA DESCRIÇÃO PÚBLICA Solicitações técnicas abrangem: desempenho energético, impactos ambientais, ambiente interior, C-2000 funcionalidade, entre outros parâmetros relacionados, a partir da aplicação de um processo de projeto integrado desde a fase inicial. Destinados a edifícios comerciais, institucionais e industriais, objetiva encorajar a prática de projeto com CBIP eficiência energética, produzir mudanças nos projetos de edifícios e na indústria construtiva, a partir de avaliação e incentivo financeiro. Canadá O programa, de participação voluntária, define normas referentes a eficiência energética e cursos de R-2000 treinamento voltados para a construção de residências, além de testar, avaliar e certificar as residências inscritas e aprovadas no programa. Projetado para fornecer a departamentos federais e agências uma organização fiscal de modo a reduzir FBI seus consumos de energia e de água e a emissão de gases causadores do efeito estufa, melhorando a eficiência de seus edifícios sem aumento nos custos e com responsabilidade ambiental. Estados Unidos Construir uma Clark Melhor Construir uma Kitsap Melhor Programas comunitários green building que buscam incentivar construtores, principalmente de residências, a Seattle Sustainable Building adotar práticas com maior responsabilidade ambiental. Construir Verde Construir Verde no Colorado Programa de Pontuação Green Building Programas que adotam uma lista de verificação (checklist) com os requisitos ambientais mínimos a serem atendidos. Utilizados como guia de orientação e aplicados como ferramenta de marketing pra residências Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios Programa Green Building da cidade de Austin 64 aplicados como ferramenta de marketing pra residências que reúnem critérios green. Programa Green Building da cidade de Portland Iniciativa Green Building do Estado Programas de ação integrada com o objetivo de de Nova York promover a efiiência de recursos construtivos e incentivar o projeto sustentável na prática local. Programa Green Building Scottdale Programa Residencial Earth Craft Sustentabilidade social, econômica e ecológica como Suécia Sustainable Buiding Projects base de todas as atividades em planejamento, construção e gerenciamento. Definição de metas ambientais a longo prazo. Definição de metas, áreas de ênfase e estratégias que Noruega The Urban Ecology Program, em Oslo culminam em programas para a política ambiental da cidade. Publicação de Guia com uma amostra dos melhores e mais inovadores projetos ecologicamente responsáveis concluídos ou em andamento em Oslo. Uma série de normas, regulamentos e instituições têm definido diferentes perfis para os critérios ambientais. China Critérios Green Building Relatório de impacto ambiental define os critérios para a construção dos edifícios que têm influência sobre o ambiente natural. Busca determinar diretrizes para a redução dos Resolução CONAMA impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil. Coordenado pelos Ministérios das Minas e Energia e da PROCEL Indústria e Comércios, objetiva reduzir a longo prazo o consumo de energia. Brasil FINEP / Habitare Oferece embasamento para o surgimento de projetos que busquem a sustentabilidade das construções. Direcionado a apoiar o esforço brasileiro de PBQP-Habitat modernidade através da promoção de qualidade e produtividade do setor construtivo. PNCDA Eco-Label brasileiro 2.2.4.1. Programa que visa promover conservação e o uso mais racional da água. Busca estabelecer um rótulo ambiental brasileiro. A SITUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO (BELLO, 2004) Capítulo 2 - Bases normativas, Programas e Políticas de incentivo a avaliação ambiental de edifícios 65 No Espírito Santo, as políticas públicas relacionadas à avaliação e ao controle do desempenho ambiental na construção civil estão inseridas no contexto da Agenda 213, que mesmo não sendo diretamente direcionadas ao mercado da construção civil, influenciam-no de alguma forma, visando um planejamento para se desenvolver com qualidade e benefícios que atinjam a todos e por bastante tempo, sem que para isso haja prejuízo para o meio ambiente. Mesmo que a Agenda 21 ainda pareça não ser capaz de exercer um comprometimento legal, no Espírito Santo várias experiências mostram que a aplicação desse planejamento pode transformar a realidade e a imagem das cidades. A experiência mais antiga é a da capital, Vitória, que elaborou sua Agenda 21 em 1996, contida num documento intitulado “Vitória do Futuro”. O que era para ser o planejamento estratégico se tornou a primeira Agenda 21 do Espírito Santo e uma das primeiras do país. Um grupo de especialistas de diversas áreas, entre as quais, economia, cultura, meio ambiente, turismo, segurança, e urbanismo, assessorou toda elaboração do Vitória do Futuro e sua revisão realizada em 2002, que contou ainda com a participação popular e de representantes de vários segmentos da sociedade, como empresas, associações e poder público. Na Grande Vitória, outras experiências semelhantes foram realizadas pelos municípios da Serra – elaborada em 2000, para um período de 20 anos –, Cariacica – concluída recentemente através de uma parceria com a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) – e Vila Velha – concluída em julho deste ano. Alguns municípios do interior do estado, como Presidente Kennedy e Alto Rio Novo, também têm buscado iniciar a discussão de implantação da Agenda 21. 3 A Agenda 21 surgiu na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como ECO’92, em que 178 países se comprometeram a buscar o desenvolvimento sustentável, elaborando agendas 21 nacionais e locais. Trata-se de um planejamento para 20 anos ou mais, baseado em 21 pontos que visam o desenvolvimento econômico com justiça social e preservação ambiental (BELLO, 2004). Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 66 3. ANÁLISE DO CICLO DE VIDA (LIFE CYCLE ASSESSMENT LCA): uma abordagem na avaliação de edifícios Até os anos 70, o uso de energia era o foco da abordagem ambiental na indústria. No entanto, após a crise do petróleo, outras facetas importantes passaram a figurar como fundamentais para minimizar os impactos ambientais, tais como, energia incorporada aos materiais e o volume de resíduos gerados nas atividades de construção e demolição, dentre outros (Agopyan & Silva, 2003). Desde então, essa crescente preocupação vem promovendo o desenvolvimento de novas ferramentas e métodos que buscam adicionar uma dimensão científica à discussão ambiental de modo a auxiliar, de forma menos subjetiva, a compreensão, o controle e a redução desses impactos. Na década de 90, essas metodologias eram sustentadas pelos conceitos de Análise do Ciclo de Vida (Life Cyle Assessment - LCA) nos países da Europa e América do Norte, que passaram a disponibilizar ferramentas para certificação, classificação, rotulagem e avaliação ambiental de edifício (Agopyan & Silva, 2003). Portanto, uma vez que esta metodologia, internacionalmente aceita, serviu de base conceitual e referência para outras, torna-se indispensável seu o conhecimento, assim como das ferramentas disponíveis atualmente para sua aplicação, objetivando a criação de uma visão holística do amplo universo que envolve a avaliação ambiental de edifícios,. O conceito original, definido pela Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) em 1991, considera LCA como sendo um processo para avaliar as implicações ambientais de um produto, processo ou atividade, através da identificação e quantificação das emissões ambientais e do uso de energia e material, com a avaliação do impacto ambiental destes usos, além da identificação e avaliação das oportunidades de realizar melhorias ambientais. Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 67 Essa definição, no entanto, foi consolidada apenas em 1997 na série ISO 140001, como descrito no Capítulo 2 desta dissertação. Em síntese, entende-se por Análise do Ciclo de Vida (LCA) o procedimento para análise e avaliação de impactos ambientais de um material, produto, processo ou serviço durante todo seu ciclo de vida, partindo-se do princípio de que todos os estágios da vida de um produto ou serviço contribuem para o impacto ambiental. Por isso, para uma análise formal consistente, deve-se analisar obtenção de matéria-prima, manufatura, transporte, distribuição, instalação, operação, e ainda, uso, manutenção e disposição final do produto (reciclagem e gerenciamento de resíduos), caracterizando o que se tornou conhecido como o enfoque “berço ao túmulo”2 (Jönsson, 1999; SETAC, 1999; Silva, 2000). Por ser tão abrangente, há uma preocupação com a transparência e os aspectos éticos do método, visando evitar dados imprecisos, inconsistentes e desqualificados. Assim, podem-se caracterizar como objetivos principais (SETAC, 1991; Jönsson, 1999): • procurar descrever com exatidão, de forma consistente e completa, as interações entre o processo considerado e o meio-ambiente; • contribuir para a compreensão da natureza global, independente das conseqüências das atividades humanas sobre o meio ambiente; • produzir informações capazes de identificar meios para reduzir os impactos ambientais considerando o uso de reservas naturais, a saúde humana e as conseqüências ecológicas. Entretanto, por se tratar de um método que envolve a quantificação de todos os impactos ao longo de todo o ciclo de vida do produto, torna-se profundo e 1 particularmente na ISO 14040 – Environmental Management – Life Cycle Assessment 2 do inglês, cradle-to-grave Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 68 complexo para avaliar o desempenho de um edifício como um todo, podendo muitas vezes apresentar-se caro e extenso (Baumann & Rydberg, 1994; Beetstra, 1996). Porém, como afirma Silva (2000) esta abrangência proporciona uma dimensão científica à discussão ambiental, o que tem garantido o recebimento de investimentos em pesquisa, incluindo o setor da construção civil. Em geral, as LCA’s podem ser aplicadas para (Guinèe et al., 1993; Agopyan & Silva, 2003): • avaliação de uma determinada tecnologia, processo ou produto para verificação de sua adequação ambiental; • identificação de pontos estratégicos para propor melhorias em um processo ou produto; • comparação entre diferentes tecnologias, processos e produtos destinados a mesma função; • orientação à técnicos e consumidores para servir como base para rotulagem ambiental e/ou subsidiar a introdução, ou não, de um determinado produto ou serviço no mercado. No setor construtivo, a LCA está focada, principalmente, nos materiais de construção e planejamento de equipamentos (Vares, 1999). Segundo Agopyan & Silva (2003), os conceitos de análise do ciclo de vida tem sido aplicados direta ou indiretamente como descrito a seguir: • formulação de catálogos de dados ambientais, sistematizados a partir da avaliação de materiais de construção, de modo a orientar projetistas em busca da melhoria de processos e produtos; • fornecimento de diretrizes para rotulagem ambiental de produtos; Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios • 69 formulação de ferramentas computacionais de suporte a decisões e auxílio ao projeto, específicas no uso de LCA para medir ou comparar o desempenho ambiental de materiais e componentes de construção civil. 3.1. ETAPAS DE UMA LCA De acordo com a ISO 14040 (1997), o estudo típico do LCA compreende quatro etapas (Figura 2 e Quadro 9): • definição de metas e escopo do estudo; • análise do inventário ou aquisição e tratamento dos dados; • avaliação dos impactos, onde deve-se entender a relevância ambiental de cada dado; • interpretação dos dados, onde os impactos resultantes são comparados as metas inicialmente definidas. Figura 2 - Etapas da metodologia LCA. 3 Fonte: SETAC, 1999; UNEP , 2001. 3 United Nations Environment Programme Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 70 Quadro 9 - Etapas da LCA e respectivos procedimentos ETAPAS Definição do Escopo PROCEDIMENTO Estabelece o objetivo do estudo, sua abrangência e profundidade, limites do sistema e unidade funcional. Estudam-se os fluxos de energia e materiais para a identificação e Análise do inventário do ciclo de vida - LCI quantificação de dados ambientais de entrada (inputs) – consumo de recursos naturais – e de saída (outputs) – emissão para o ar, água e solo, associados a um produto durante todo o ciclo de vida. Avaliação do impacto Interpretação dos dados Caracteriza os fluxos segundo uma série de indicadores de impacto ambiental. Confronta os impactos resultantes com as metas propostas na primeira etapa. A partir da análise global dos impactos ambientais tem-se subsídio para estabelecer um plano de ação para a qualidade ambiental de materiais, produtos e serviços. 3.1.1. Definição de metas e escopo Segundo o PRE (2001), é necessário iniciar o estudo através de uma clara e inequívoca definição de metas, sua abrangência e limites, a unidade funcional, a metodologia e todos os procedimentos para garantir que a análise do objeto em estudo atinja o objetivo proposto para a avaliação. Este é o momento de definições que nortearão todo sistema de avaliação, tais como: • o motivo pelo qual a LCA será realizada, e qual será sua aplicação; • definição precisa do produto, seu ciclo de vida e a função que realiza; • os parâmetros ambientais; • definição de uma unidade funcional necessária como base comparativa; • definição e descrição dos limites do sistema; • descrição de como distribuir os fluxos; • as estratégias para coletas e armazenamento de dados; Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios • 71 definição da qualidade dos dados necessários, devendo ser restritos aos fluxos estritamente necessários a avaliação dos impactos; • formulação das hipóteses e suas limitações; • descrição das considerações adotadas em relação aos procedimentos de avaliação e a subseqüente interpretação a ser usada; • definição de possíveis audiências futuras e a forma com que os resultados serão comunicados; • a forma como uma possível revisão será feita; • o tipo e formato do relatório do estudo; • o processo de revisão crítica que se pretende adotar. Esta etapa torna-se indispensável, uma vez que a Análise do Ciclo de Vida pode ser aplicada para diferentes finalidades e, o tipo de aplicação influenciará a natureza e a seqüência de decisões a serem tomadas ao longo do processo. Em cada uma das diferentes aplicações, algum tipo de comparação é feita. Todos os diferentes dados devem ser relacionados numa única base de comparação, e por isso faz-se necessário estabelecer uma unidade funcional, de forma a quantificar o desempenho dos produtos sob uma mesma medida. Por exemplo, compara-se 1m2 de parede acabada de gesso acartonado com 1m2 de parede acabada de alvenaria e não 1 bloco com 1 painel de gesso (Jönsson, 1999; Silva & Silva, 2000; PRE, 2001). Além disso, a complexidade entre as inter-relações dos vários subsistemas dos produtos também deve ser considerada neste momento. É necessário estabelecer limites para o sistema do produto aplicado. Por exemplo, para fabricação de uma parede de gesso acartonado são necessários caminhões para seu transporte. Caminhões também são produtos com ciclo de vida. Para produzir caminhões são necessários: aço, combustível, outros materiais e serviços. A produção de combustível, requer o uso de caminhões e assim por Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 72 diante. Por isso, devem-se definir limites em torno de todos os sistemas excluindo as fases que não geram impactos significativamente no processo. Além disso, devem-se considerar os limites tecnológicos, geográficos e o tempo necessário para garantir que a análise do sistema do produto em estudo atingirá a meta proposta. Porém, todas essas considerações devem ser feitas de forma cuidadosa, pois o resultado final pode ficar distorcido caso algum fluxo importante seja desconsiderado. É difícil definir, no entanto, quais partes do sistema total serão incluídas ou não na análise. Segundo Häkkinin et al. (2002) e Kaipiainen (2002), guias de orientação a LCA, tais como o guia Nordic LCA Guide publicado em 1995, que contém uma lista do que é tipicamente deixado fora da análise tem sido elaborados. Infraestrutura, acidentes e impactos ambientais causados por mãode-obra são alguns destes fatores. O resultado é significativamente afetado pela concentração de impactos ambientais criados no processo dentro de diferentes produtos do mesmo processo. A norma ISO 14040 estabelece o conteúdo mínimo do escopo em uma Análise pelo Ciclo de Vida que são propostos por Chehebe (1998) em três dimensões, conforme Figura 3. EXTENSÃO: onde iniciar e parar a LCA LARGURA: quantos e quais subsistemas incluir PROFUNDIDADE: nível de detalhes do estudo Figura 3 - Dimensões da LCA. Fonte: Chehebe, 1998. Ao finalizar essa etapa, um guia será concretizado para ajudar a direcionar as etapas subsequentes. Esse guia, contudo, não deve ser estático podendo ser Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 73 ajustado caso as escolhas iniciais não sejam ótimas ou aplicáveis. Portanto, cada adaptação deve ser consciente e cuidadosa. 3.1.2. Análise do Inventário Após a definição dos objetivos e de todo o escopo do esquema de avaliação, prossegue-se com a fase denominada de Análise do Inventário. É nessa fase que ocorre a coleta e tratamento dos dados e qualificação das hipóteses, baseados no estudo de fluxo de materiais e energia durante todo o ciclo de vida, fornecendo um resultado sistemático e quantitativo. Portanto, é neste estágio que são identificados e quantificados todos os dados ambientais (processos de entrada e saída) associados aos processos industriais que ocorrem durante o ciclo de vida de um produto, embalagem, processo, material ou atividade em questão. Segundo Chehebe (1998), a fase de análise do inventário deve estar organizada de acordo com a Figura 4. A condução do inventário é um processo interativo. A seqüência de eventos invariavelmente envolve a checagem de procedimentos, visando assegurar a obediência aos requisitos de qualidade estabelecidos na primeira fase. Chehebe (1998) sugere que, antes de se iniciar um programa exaustivo de coleta de dados, faz-se necessário realizar uma investigação preliminar das informações, de forma mais abrangente, enfatizando mais a integridade dos dados e menos a precisão e a qualidade dos mesmos. Essas informações funcionarão para ajustar as decisões tomadas na etapa anterior de planejamento, otimizando-a, de modo a iniciar a fase de Análise do Inventário de fato. A coleta de dados é realizada através de entrevistas, pesquisas de literatura, medições e cálculos teóricos. As fontes de informações devem ser as mais recentes possíveis, precisas, reais e ricamente documentadas, já que a Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 74 credibilidade do resultado final da análise depende, em grande parte, da qualidade da coleta de dados (Chehebe, 1998). Figura 4 - Etapas operacionais da fase de análise do inventário. Fonte: Chehebe, 1998. As principais bases bibliográficas são: Normas técnicas, estatísticas ambientais, licenças ambientais, literatura técnica, informação interna nas empresas, associações de classe, fornecedores reais ou potenciais e banco de dados de Análise do Ciclo de Vida tipo Buwal (Habersatter, 1991; Frischknecht, 1993). O volume de informações a ser coletado é grande e por isso deve ser convenientemente armazenado, de forma sistemática, para poder, se necessário, recuperá-lo e conhecer suas origens. Como instrumentos são usados fluxogramas e formulários padronizados, além de questionários formulados com questões claras e objetivas. Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 75 Segundo o PRE (2001), são considerados como processos de entrada (inputs) os dados relativos ao consumo de recursos naturais, que podem ser divididos em dois tipos: • processos ambientais de entrada: são os provenientes de matérias primas e reservas energéticas que, de acordo com Chehebe (1998), nem sempre estão disponíveis; • processos econômicos de entrada: são os provenientes de produtos, produtos semi-acabados ou energia, os quais são processos de saída de outros processos. Similarmente existem dois outros tipos de processos de saída (outputs): • processos ambientais de saída: emissões para o ar, água e solo; • processos econômicos de saída: processos de um produto, um produto semi-acabado ou energia. A partir da definição dos processos de entrada e saída, é possível delinear um inventário do ciclo de vida de todos os processos ambientais (de entrada e saída) associados ao produto. O resultado é chamado de Tabela de impactos e é realizado através de uma ferramenta computacional (Silva & Silva, 2000; PRE, 2002). Além disso, é importante checar se as informações coletadas até então estão completas e compatíveis com os dados obtidos de outras fontes. Segundo Chehebe (1998), esse momento chamado de Validação dos Dados envolve, por exemplo, balanços de massa, balanços de energia ou análises comparativas de fatores de emissão. Valores disformes ou absurdos e ausência de dados devem ser investigados. Feito isso, parte-se para a etapa denominada Normalização. Nesta fase da análise serão determinados, para cada unidade de processo, fluxos de referência apropriados. Baseado no fluxograma e nos limites definidos para o sistema, as unidades de processo são interconectadas, para permitir o cálculo Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 76 completo de todo sistema. Todos os dados de entrada e saída devem referir-se a unidade funcional, por exemplo, comparar o m² de alvenaria ao m² de gesso acartonado, como descrito anteriormente. Faz-se então, a revisão de todo o sistema relacionado ao produto, analisando e reavaliando os limites e os critérios de corte estipulados na fase de definição de metas e escopo. Esse momento, conhecido como Refinamento do sistema, deve ser acompanhado do que é chamado de análise de sensibilidade, que decide sobre a necessidade de alterações significativas na primeira etapa da LCA. A análise de sensibilidade pode resultar em exclusão de estágios do Ciclo de Vida ou subsistemas, exclusão de fluxos de materiais insignificantes para o resultado da avaliação e inclusão de novas unidades de processo. Até esse momento é fundamental a documentação de todos os passos realizados na análise. O passo seguinte, referido como Alocação, é um estudo criterioso com o propósito de identificar a rede de operações e processos ligados dentro do sistema e alocar as cargas ambientais relevantes de forma adequada. Este estudo, parte do princípio de que os sistemas de produto incluem múltiplos processos que, muitas vezes, geram, além do produto principal, alvo da análise, subprodutos também responsáveis por efeitos ambientais importantes. Os princípios de alocação também devem ser aplicados às situações de reuso e reciclagem. O processo de inventário parece simples em princípio, mas na prática, está sujeito a um grande número de problemas práticos e metodológicos, tais como, a dificuldade de se estabelecer os limites do sistema, as variações geográficas, a falta de qualidade dos dados e a dificuldade em caracterizar a escolha tecnológica em pior, regular e melhor (ou moderna) (PRE, 2002). Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 77 Apesar dessas dificuldades, é freqüente e completamente possível realizar um inventário com sucesso. Entretanto, segundo PRE (2002), não é razoável tratar os resultados como uma verdade absoluta. Fatores como a escolha da tecnologia e sistemas limites, bem como, a qualidade dos dados, deve ser levada em consideração quando estes forem interpretados. Por isso, ocorrem, muitas vezes, discordâncias entre especialistas quanto à significância ambiental do produto, apenas com os resultados quantitativos desta etapa. Os resultados do inventário do Ciclo de Vida podem ser utilizados de várias formas, como sintetiza Chehebe (1998): • criar uma base de informações consolidada em relação às necessidades totais de recursos, consumo de energia e emissões; • identificar em que ponto, dentro de todo o ciclo de vida ou dentro de um processo específico, é possível reduzir consideravelmente as necessidades de recursos e emissões; • comparar as entradas e saídas do sistema com produtos alternativos, processos ou atividades; • amparar o desenvolvimento de novos produtos, processos ou atividades com o intuito de reduzir as necessidades de recursos e/ou emissões. Já a Norma ISO 14040 estabelece, objetivamente, que o inventário deve resultar num conteúdo necessário a uma correta e clara interpretação por parte do leitor dos resultados obtidos. 3.1.3. Avaliação dos impactos Representa a interpretação e avaliação qualitativa e quantitativa da magnitude e significância dos impactos ambientais potenciais das intervenções ambientais, fornecidas a partir dos resultados obtidos na análise do inventário (Chehebe, 1998). Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 78 A Avaliação dos Impactos se faz necessária a partir do momento que a tabela resultante do inventário é difícil de ser interpretada, no sentido de caracterizar os efeitos ambientais (riscos e impactos). Assim, neste estágio, os fluxos de recursos e emissões, caracterizados segundo vários indicadores definidos de impacto ambiental, entre outros: energia incorporada, emissões, consumo de recursos, potencial para reciclagem e toxicidade (ISO 14040, 1997). Segundo PRE (2002), existem dois problemas para a avaliação dos impactos: a inexistência de dados para calcular o dano por impacto ambiental e a provável inexistência de uma forma estabelecida para avaliar quantitativamente o dano ao meio ambiente (se esse dano puder ser calculado). Além dessas dificuldades, outra questão importante deve ser considerada, a forma de valorar e comparar diferentes categorias ambientais muitas vezes subjetivas que dependem de valores sociais, culturais, étnicos e políticos (Silva & Silva, 2000). A padronização dos procedimentos para a transformação dos dados do inventário em categorias de impacto, ainda está em estudo para constituir a futura Norma ISO 14042 (Chehebe, 1998). Há discordância entre cientistas a respeito, principalmente, da etapa de atribuição de pesos, o que culminou com a aprovação – em Kioto/Japão em Maio de 1997 – do texto ISO CD 14042 que propõe um processo de avaliação de impacto composto no mínimo dos seguintes elementos, conforme Figura 5: • seleção e definição das categorias: são identificados os grandes focos de preocupação ambiental, as categorias e os indicadores que serão usados no estudo. As categorias devem ser estabelecidas com base no conhecimento científico dos processos e mecanismos ambientais. Quando isso não for possível, submete-se ao julgamento de valores. Como exemplo de categorias de preocupações ambientais usuais podemos citar: exaustão de recursos não renováveis, aquecimento global, redução da camada de Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios ozônio, toxicidade humana, ecotoxicidade, acidificação, 79 oxidantes fotoquímicos, nutrificação, dentre outros; • classificação: classificação e agrupamento dos dados do inventário nas diversas categorias selecionadas; • caracterização: os dados do inventário, já atribuídos a uma determinada categoria, são convertidos, de forma que os resultados sejam expressos como um indicador numérico para aquela categoria. Deve-se, para isso, utilizar os chamados fatores de equivalência (ou de caracterização) baseados em conhecimentos científicos e universalmente aplicáveis para todas as condições. O indicador da categoria deve representar a carga total ambiental ou a significância do uso dos recursos para a categoria; • atribuição de pesos: técnicos especializados poderão atribuir pesos aos resultados da avaliação de impactos, baseando-se na análise técnica da magnitude e significância do impacto. Alguns pesquisadores consideram essa etapa empírica, já que ponderações estão submetidas a valores envolvendo critérios subjetivos. O PRE (2002) sintetiza a fase de avaliação em três etapas: • classificação e caracterização: onde todos os produtos são classificados de acordo com o efeito que tem no meio ambiente; • normalização: que geralmente é estabelecido através de um valor referência (benchmark) de um efeito total conhecido para cada classe, possibilitando compreender o tamanho relativo de um efeito; • avaliação ou atribuição de pesos: que é o julgamento final considerando a importância distinta de cada classe de efeito no sistema. Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 80 Figura 5 - Elementos para uma Avaliação de Impactos. Fonte: Chehebe, 1998. 3.1.4. Interpretação dos dados Antes do relatório final, é necessário fazer uma interpretação dos resultados alcançados e dos critérios adotados durante sua realização. O objetivo deste estágio é confrontar os impactos resultantes com as metas propostas inicialmente, tirar conclusões, explicar informações e fornecer recomendações para, por exemplo, o uso potencial de outras técnicas de avaliação ambiental, tais como, a avaliação de riscos e a avaliação de impacto ambiental (Chehebe, 1998). Além disso, a interpretação dos resultados deve também evidenciar as limitações que podem tornar os objetivos iniciais inviáveis ou impraticáveis. Segundo Chehebe (1998), essa etapa compreende três fases, conforme a Figura 6: Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios • 81 identificação das questões ambientais mais significativas: é realizada com base nos resultados da análise do inventário e/ou LCA, e considera os objetivos e o escopo do estudo. Primeiro é feita a estruturação das informações provenientes do inventário e em seguida a identificação das questões ambientais relevantes ao estudo, por fim, determina-se as emissões ambientais do sistema de produto; • avaliação: visa sintetizar todo o estudo com base na LCA e nos dados estruturados na primeira etapa da interpretação. São verificadas a integridade, sensibilidade e consistência dos fatos e cálculos; • conclusões, recomendações e relatórios sobre as questões ambientais significativas. Figura 6 - Etapas da fase Interpretação. Fonte: Chehebe, 1998. 3.2. PONTENCIALIDADES A LCA é uma metodologia regulamentada junto a órgãos governamentais de diversos países, usada cada vez mais (Quadro 10), uma vez que a qualidade Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 82 ambiental é o resultado de um processo global e integrado em um sistema complexo e profundo que abrange todo o edifício. O método representa abordagens racionais, capazes de avançar juntamente com o rápido crescimento tecnológico atual e avaliar as mais novas práticas precisamente, onde os impactos ambientais estão associados tanto ao projeto, como também a materiais de construção. Com relação ao setor construtivo, ao identificar os impactos envolvidos, a LCA orienta ações para o aperfeiçoamento do desempenho ambiental, tanto dos materiais, como dos serviços. Além disso, apresenta vários benefícios nas diversas formas em que a metodologia pode ser aplicada. Quando o objetivo for, por exemplo, certificação ambiental, a LCA torna-se hábil como ferramenta de competitividade econômica e ambiental, além de selecionar indicadores para a avaliação de desempenho. As informações coletadas, assim como, os resultados de suas análise e interpretações podem ser úteis para tomada de decisões, na seleção de indicadores ambientais relevantes para avaliação do desempenho de projeto ou reprojeto de produto ou processo. Desta forma, a LCA é capaz de fortalecer o planejamento estratégico de muitas empresas atenta à responsabilidade ambiental e à obtenção de financiamento para pesquisas. Isso é fato, já que a LCA ajuda a melhorar o entendimento dos aspectos ambientais ligados ao processo produtivo de uma forma mais ampla e, conseqüentemente, a identificação das prioridades para proteção ambiental. Como auxílio a tomada de decisões de projeto, a LCA participa incorporando critérios, indicadores e normas de desempenho ambiental no processo de produção, além de contribuir para inserção de dados ambientais sistematizados em catálogos de materiais ou serviços. Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 83 A LCA também ajuda a encorajar as indústrias a considerar, sistematicamente, as questões ambientais associadas ao sistema de produção (insumo, matériaprima, manufatura, distribuição, uso, disposição, reuso, reciclagem). 3.3. LIMITAÇÕES Alguns aspectos chaves contribuíram na dificuldade da utilização prática cotidiana da LCA (Silva &Silva, 2000; UNEP, 2002): • qualidade e disponibilidade de fontes de dados; • limitações de custo; • falta de uma unidade para comparação dos impactos; • procedimento de alocação de impactos no caso de co-produtos e produtos com teor reciclável; • inclusão de impactos resultantes do gerenciamento de resíduos; • incapacidade para quantificar determinados impactos (vida humana relacionada a certos danos ambientais); • ausência constante de revisões estatísticas dos inventários em diversos produtos complexos; • incorporação insuficiente de conhecimentos científicos de campos multidiciplinares. A comunicação das informações apresentadas pela metodologia da LCA tornase, muitas vezes, confusa e controversa, principalmente, como instrumento de avaliação ambiental útil à prática de mercado. No meio técnico, a análise do inventário é considerada bem definida, no entanto, muitas vezes, limita-se a uma descrição parcial dos impactos ambientais do sistema, à medida que considera apenas aspectos que possam ser quantificados (Silva & Silva, 2000). Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 84 Quadro 10 - Ferramentas LCA para avaliação de edifícios ou produtos construtivos PAÍS FERRAMENTA DESCRIÇÃO LCA Ferramenta de apoio para decisões na construção. Desenvolvida em resposta a solicitação por parte de arquitetos e profissionais de Austrália LISA indústria por uma ferramenta simplificada de LCA para auxiliar na avaliação dos aspectos ambientais dos projetos de edifícios (green design). (Departamento de Energia dos EUA) Fornece um perfil ambiental do projeto, possibilitando a comparação de diferentes escolhas de materiais, componentes e serviços, Canadá ATHENA Model DOE abrangendo as seguintes questões ambientais: energia incorporada, uso de reservas, poluição do ar e água, emissões de gases do efeito estufa e produção total de resíduos sólidos. Avalia a performance ambiental de produtos e da construção, manutenção ou demolição de partes de um edifício e de edifícios. A ferramenta baseia-se em um banco de dados relacional, construído em Microsoft Access 97, contendo dados ambientais e uma interface do usuário com um inventário integrado e a ferramenta Dinamarca BEAT 2000 de análise. O banco contém dados ambientais por unidade do processo e baseados nestes dados a ferramenta de inventário pode calcular os impactos ambientais, tais como, o consumo total de energia, o consumo total de matéria-prima (incluindo combustíveis) e a emissão total para o ar, água e solo. O programa de computador, LCA-HOUSE, foi criado para donos de imóveis, construtores e projetistas. Permitindo que eles utilizem o método da Análise do Ciclo de Vida (LCA) para avaliar diferentes tipos de edifícios e materiais. Os dados de entrada para programa LCA-HOUSE incluem perfis ambientais de materiais de construção, modelo construtivo, áreas do edifício e consumo estimado de Finlândia LCA-HOUSE energia. Os dados de saída incluem um perfil ambiental contendo fatores como: consumo de recursos materiais (renováveis e não renováveis), consumo de recursos de energia (renováveis e não renováveis), acidificação, produtos químicos foto oxidantes. Permitindo a partir da verificação e comparação das diversas opções, a substituição na escolha de materiais e técnicas construtivas por opções ecologicamente mais amigáveis. Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 85 O TAKE-LCA pretende fornecer uma análise do ciclo de vida de produtos e sistemas do HVAC. O dados de saída incluem recursos de energia, conteúdo de energia dos materiais e os produtos HVAC, TAKE-LCA emissões atmosféricas (CO2, CO, NOx, SO2, HC, CH4, partículas), impactos ambientais, mudança de clima (calculada com o Ecoindicator 95-method), acidificação (calculado com o Ecoindicator 95-method e DAIA-method) produtos químicos foto oxidantes (calculado com o Ecoindicator 95-method e DAIA- method). Simulações iniciais de desempenho do ciclo de vida do edifício para prover engenheiros e arquitetos com indicadores ambientais, entre os quais, aquecimento global, potencial de acidificação e entroficação, exaustão de reservas naturais, etc. O banco de dados EQUER Swiss Oe Koinventare e outros dados coletados no momento do projeto europeu REGENER são usados para fabricação de material e outros processos (energia, água, resíduo e transporte). EQUER é ligado a uma ferramenta de simulação de energia COMFIE. A substituição de componentes no final de sua vida é automaticamente quantificada. O software TEAM™ 3.0 é uma ferramenta profissional para avaliar o ciclo de vida ambiental e os perfis de custo de produtos e tecnologias, incluindo edifícios. O software é modular, e tem acima TEAM de 600 módulos com abrangência global. Uma nova função tem sido implementada para habilitar a modelagem de fluxos constantes, quaisquer que sejam os valores de propagação, como por exemplo, França os impactos de manutenção diários. O ESCALE permite o usuário para avaliar e acompanhar as performances ambientais de um edifício ainda no estágio de projeto. Os resultados são apresentados segundo critérios de avaliação, 11 ESCALE critérios principais têm sido definidos (correspondentes ao ambiente externo em diferentes escalas e ao conforto e saúde dos usuários). Para cada avaliação, dois níveis de modelos são disponibilizados, simplificados ou detalhados. O perfil final é expresso em escores de performance facilmente compreendidos. O PAPOOSE é uma ferramenta de cálculo que serve identificar e classificar os impactos ambientais de edifícios. Os resultados mostram os componentes do edifício que têm a maior contribuição PAPOOSE para o impacto ambiental. O projetista ou construtor pode melhorar performance simplesmente mudando o componente ou material mais poluidor. Este processo pode ser continuado até o perfil ambiental ser ótimo. EcoPro calcula os impactos de energia e usos e fluxos de materiais Alemanha ECOPRO no ambiente. Permite a modelagem de ciclos de vida de produtos graficamente. Os sistemas de ciclo de vida podem conter muitos subsistemas de acordo com a interação e intenção do usuário. Japão BRI LCA BRI LCA é uma ferramenta de análise do ciclo de vida de energia e Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 86 CO2, que pode ser operado em um computador pessoal. Esta ferramenta avalia edifícios comerciais, edifícios residenciais e casas unifamiliares. O programa é composto de várias rotinas principais que combinadas avaliam o impacto do tipo de edifício, localização, escolha de materiais e componentes, estilo de vida dos ocupantes, características dos espaços de trabalho, construção e métodos de demolição e transporte. Eco-quantum é uma ferramenta de cálculo, baseada nos princípios EcoQuantum de LCA, que serve de suporte aos envolvidos no processo da construção, fornecendo uma informação quantitativa quanto ao impacto ambiental de edifícios como um todo. Holanda Eco-instal é uma ferramenta de análise ambiental baseada na Eco-Instal metodologia LCA, que calcula o efeito ambiental integral de uma instalação em um edifício, a partir de um software. O resultado pode ser utilizado para escolhas conceituais já na etapa de projeto. Um programa de computador em Access 2.0, que calcula dados Suécia EcoEffect baseados na metodologia LCA, relativos às áreas de material e energia, agregando pontos baseados em critérios relativos, parte ao ambiente interno e parte ao ambiente externo. Avaliar os impactos ambientais do ciclo de vida de um projeto proposto pode ser difícil de demorado mesmo para aqueles especialistas com conhecimento e experiência. O EVEST torna possível ao usuário avaliar os impactos ambientais do ciclo de vida Reino Unido EVEST DOE de um edifício proposto, de modo a avaliar e explorar várias opções de projeto. Configurado para uso rápido e fácil, o EVEST também avalia o uso energético operacional e é particularmente útil nos estágios iniciais de projeto. Baseado em padrões consensuais, é projetado para ser prático, flexível e transparente. O software (for Windows) de apoio a decisões aponta para projetistas, construtores e fabricantes de produtos, incluindo dados de desempenho econômico e ambientais para um número de produtos construtivos. BEES mede o desempenho ambiental dos produtos e dos edifícios pelo uso da avaliação ampliada do cio de vida (LCA) abordada na ISSO 14000. Todos os estágios de um produto são analisados: Estados Unidos BEES DOE aquisição de matéria prima, manufatura, transporte, instalação, uso e reciclagem e gerenciamento dos resíduos. O desempenho econômico é medido usando o método de custo do ciclo de vida da norma da ASTM, que cobre os custos de investimentos iniciais, reposições, operações, manutenção e reparo e demolição. Desempenhos ambiental e econômico são combinados dentro de uma medida de desempenho global usando a norma ASTM para Multi-Attribute Decision Analysis. Para análise completa BEES, Capítulo 3 - Análise do Ciclo de Vida: uma abordagem na avaliação de edifícios 87 produtos construtivos são definidos e classificados de acordo com a classificação da norma ASTM conhecidos como UNIFORMAT II. Fonte: <http://annex31.wiwi.uni-karlsruhe.de/TOOLS.html> <http://www.uni-weimar.de/scc/PRO/TOOLS/inter.html> para elementos construtivos 125 Capítulo 5 - Estudo de Percepção 5. ESTUDO DE PERCEPÇÃO 5.1. INTRODUÇÃO 5.1.1. Utilização Do GbTool Em um primeiro momento, como forma de exercitar o aprendizado a respeito do tema dessa dissertação – avaliação de desempenho ambiental de edifícios – pretendeu-se fazer a avaliação de dois edifícios comerciais considerados típicos na Grande Vitória - ES utilizando a metodologia do GBC. A escolha pelo uso da metodologia GBC teve como base a sua coerência e abrangência em avaliar o desempenho ambiental dos edifícios e particularmente devido aos seguintes aspectos: • por ser a única ferramenta de avaliação ambiental de edifícios desenvolvida especificamente para permitir e facilitar a sua adaptação a diferentes contextos, com ponderações direcionadas para cada relevância do aspecto em cada situação específica; • por apresentar uma estrutura organizada em função de impactos ambientais associados a elementos ou características do edifício seguindo o formato LCA e não em função de atribuições de créditos ambientais isolados; • por ter uma abrangência de praticamente todos os campos potenciais de aplicações, pois foi desenvolvido desde o inicio para superar as limitações dos demais sistemas de avaliação existentes até então; • por fornecer resultados com maior embasamento científico já que busca o maior uso possível de critérios orientados ao desempenho e fundamentações consistentes para a definição de benchmarks. O Estudo de caso permitiria a comparação com outros edifícios avaliados no Brasil, além de possibilitar através dos indicadores de desempenho comparações internacionais. 126 Capítulo 5 - Estudo de Percepção No entanto, esse estudo de caso não foi possível, uma vez que: • o manuseio da ferramenta mostrou-se bastante complexo, em uma estrutura em Visual Basic, com uma lógica dinâmica e dificilmente compreendida no prazo existente para conclusão da dissertação. • a sensibilidade dos dados de entrada em relação a variação dos valores resultantes na pontuação final não são tão simples quanto imaginava-se, sendo necessário compreender a lógica do sistema para maior confiabilidade no momento de interpretar os dados finais • dificuldade em definir a amostra do estudo de caso uma vez que as tentativas foram descartadas pois apresentavam insuficiência de registros dos dados durante as fases de projeto e construção o que levava a pesquisadora a ter que estimar uma grande quantidade de dados, o que demandaria um tempo maior para a dissertação. A partir dessas dificuldades algumas questões tiveram que ser consideradas conforme descritas no QUADRO abaixo: 5.1.2. Ensaio com as Ponderações Em uma experiência alternativa para compreender o GBTool a pesquisadora concentrou-se na folha de trabalho denominada Vote do software. Nessa parte do sistema a equipe nacional é responsável por atribuir valores correspondentes a ponderações para definir a importância relativa de cada questão e categoria de desempenho em relação às demais. Essa definição deve basear-se em políticas regionais, regulamentações ou uma base consensual realizada por uma equipe composta por até seis especialistas. A equipe nacional pode também optar pelo valor default do sistema. Os valores das ponderações devem totalizar 100%. O parâmetro utilizado inicialmente foi a avaliação de desempenho ambiental já realizada como Estudo de caso na tese de Doutorado de Vanessa Gomes da Silva, publicada integralmente em Agopyan & Silva (2003) utilizando a 127 Capítulo 5 - Estudo de Percepção metodologia do GBC. Trata-se da avaliação de um conjunto comercial de padrão simples com uso misto (escritório e hotel) localizado em Campinas, São Paulo. A estratégia para determinar sistematicamente uma ponderação adaptada à realidade brasileira foi feita a partir da composição de um pequeno painel de especialistas, que utilizou uma ferramenta de suporte ao processo de análise hierárquica, denominada Analytic Hierarchy Processs (AHP), desenvolvida em ambiente MS Excel, com recursos básicos de MS Visual Basic,. A vantagem da utilização do AHP é tornar o processo de ordenamento e seleção muito transparente, revelando, em detalhe, o julgamento do agente de decisão. O procedimento de consulta a um painel de especialistas já foi utilizado em experiências semelhantes, como o BREEAM, e é estimulada pela inclusão da planilha “VOTE” na GBTool. Em muitos países a existência de um amplo e detalhado conjunto de normas técnicas, ainda que não solucione o problea completamente, permite assumir valores para a prática típica e padrões da indústria para boa parte dos iten relevantes. Adicionalmente, alguns países já contam com inventários de ciclo de vida de materiais de construção, que permitem informar com maior precisão a energia e emissões neles incorporadas. No caso brasileiro a defasagem ou ausência de normas técnicas e de dados nacionais em geral dificultava de sobremaneira a definição teórica das ponderações. Os pesos utilizados nos estudos de caso estão reunidos na Tabela 3: Tabela 3 - Pesos utilizado nos estudos de casos realizados por Silva (2003) CATEGORIAS R - Consumo de Recursos PESO (TOTAL 100%) 38% R1 - Uso de energia primária (líquida) ao longo do ciclo de vida 25 R2 - Uso de solo e alteração na qualidade do solo 5 R3 - Consumo (líquido) de água potável 35 R4 - Reuso de estrutura ou materiais (existentes no sítio) e/ou encaminhamento de 0 128 Capítulo 5 - Estudo de Percepção materiais para reciclagem fora do sítio R5 - Quantidade e qualidade de materiais (externos ao sítio) utilizados L - Cargas Ambientais 10 25% L1 - Emissão de gases causadores de efeito estufa 20 L2 - Emissão de substâncias nocivas à camada de ozônio 20 L3 - Emissão de gases causadores de acidificação 10 L4 - Emissões levando à formação de foto-oxidantes 10 L5 - Emissões com potencial de eutroficação 0 L6 - Resíduos sólidos 20 L7 - Efluentes líquidos 13 L8 - Resíduos perigosos 3 L9 - Impactos ambientais no sítio e propriedades adjacentes 2 Q - Qualidade do Ambiente Interno 37% Q1 - Qualidade do ar e da ventilação 25 Q2 - Conforto Térmico 25 Q3 - Conforto Lumínico 25 Q4 - Conforto Acústico 20 Q5 - Poluição eletromagnética 5 Fonte: Agopyan & Silva, 2003 O ensaio desenvolvido nessa dissertação teve como objetivo verificar a sensibilidade de tais ponderações no resultado da avaliação de desempenho ambiental global e nas diversas questões principais de desempenho e respectivas categorias. Os dados de entrada não foram modificados permanecendo como na avaliação realizada por Silva (Agopyan & Silva, 2003). Apenas os percentuais de ponderações foram alterados. Procedeu-se da seguinte forma: • inicialmente foram atribuídas ponderações usadas nas avaliações em outros países como Canadá, USA, Chile, Itália, Espanha, Japão a partir de dados obtidos em (SB02 Conference, 2002). Dessa forma as ponderações adaptadas para os contextos daqueles países figurariam como dados para ponderação de um edifício brasileiro. O resultado apresentou mudanças insignificantes nos resultados da avaliação. 129 Capítulo 5 - Estudo de Percepção • Percebeu-se que em todos os países existe um certo equilíbrio para as questões principais de desempenho, ou seja, não há discrepância nas ponderações nos diversos países. • Num segundo momento foram propostos exageros, supervalorizando uma questão em detrimento das demais com o objetivo de saber qual a questão de desempenho que mais provoca relevância na avaliação. • Percebeu-se que os resultados não seriam conclusivos, uma vez que por falta de conhecimento de todos os vínculos do sistema GBTool, e o fato de que a ferramenta não permite alterar apenas uma variável de ponderação enquanto as demais permanecem constantes, erros de interpretação poderiam ocorrer quando uma variável for privilegiada. • Dessa forma o ensaio não pode ser concluído. A partir das dificuldades encontradas, alguns fatos levaram a formulação de questionamentos que são descritos no Quadro 23 abaixo: Quadro 23 - Análise das dificuldades do ensaio DIFICULDADES Perceber a lógica do sistema em relação à sensibilidade de dados que não condizem com a realidade brasileira. Encontrar dados do edifício, principalmente das etapas de projeto e construção. QUESTÕES Como propor modificações na ferramenta, úteis ao contexto brasileiro com variáveis nem sempre perceptíveis no sistema? Os agentes envolvidos com a indústria da construção civil no Brasil (projetistas, construtores, fornecedores) estão cientes da responsabilidade ambiental a eles conferida? O resultado da avaliação seria afetado por essas Entrar com dados uma vez que os intervalos de escolha limitações da ferramenta? disponível pela ferramenta não condizem com a realidade brasileira. Os dados estimados não implicariam em resultados imprecisos? Diálogo com construtores e projetistas para definição da escolha de um edifício estudo de caso Os agentes da indústria da construção civil conhecem conceitos como “desempenho ambiental de edifícios”, “avaliação de desempenho ambiental ”? Falta de um Programa Nacional de incentivo que O que esses agentes tem feito nesse sentido? direcione a indústria da construção civil em direção a Como direcionar esses agentes em relação a importância minimizar os impactos ambientais causados pelos do tema? edifícios. 130 Capítulo 5 - Estudo de Percepção edifícios. O que esses agentes tem feito em direção a minimização do impacto ambiental dos edifícios? Qual seria a questão de desempenho ambiental que teria maior peso no contexto brasileiro na avaliação? Atribuir ponderações cientificamente de forma precisa. Dentro dessas questões principais, quais categorias teriam maior ponderação? Os parâmetros de ponderações, mesmo contando com seis especialistas, não seriam um tanto empírico? Percebeu-se que seria fundamental aferir a percepção dos agentes envolvidos diretamente com o setor da indústria da construção civil quanto ao tema abordado e em específico a sensibilidade desses quanto as questões de desempenho do edifício que mais causam impacto no meio ambiente. 5.2. PESQUISA DE PERCEPÇÃO Segundo Gil (1991), pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos, nos casos em que não se dispõe de informações suficientes para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema. Dessa forma, em virtude da importância em avaliar o desempenho ambiental dos edifícios existentes com vistas a buscar alternativas para minimizar os impactos ambientais causados e projetar com maior eficiência os novos edifícios, somando-se as dificuldades encontradas para realização de uma avaliação de um edifício estudo de caso em Vitória-ES descritas no Quadro 23, partiu-se para a realização de uma pesquisa de percepção. Seu objetivo geral foi aferir o conhecimento dos agentes da indústria da construção civil em relação ao tema abordado, devido a importância na participação e envolvimento destes diante da relevância da problemática do impacto dos edifícios no meio ambiente. 131 Capítulo 5 - Estudo de Percepção 5.2.1. Metodologia Existe uma variedade enorme de enfoques que definem diversos tipos de pesquisa, com denominações ora específica ora abrangente. Porém, percebese que, basicamente, três abordagens estão sempre presentes, permitindo sugerir uma classificação genérica dos métodos de pesquisa, conforme Quadro 24. Quadro 24 - Classificação dos tipos de pesquisa. TIPOS DE PESQUISA ENFOQUE OBJETIVOS Definir a freqüência com que o Descrição, registro, interpretações Pesquisa Descritiva de análise e populações ou fenômeno ocorre, sua natureza e a relação com outros fenômenos, fenômenos atuais sem manipulá-los, variáveis e fatos. Visa descrever as utilizando técnicas padronizadas de características de coleta de dados. Assume, em geral, a população fenômeno forma de Levantamento. estabelecimento de relações entre ou determinada ou o variáveis. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema Pesquisa Exploratória pesquisado; análise de exemplos que Visa proporcionar maior familiaridade estimulem a compreensão. Assume, com o problema com vistas a torná-lo em geral, as formas de explícito ou a construir hipóteses. Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso. Quando Pesquisa Explicativa realizada nas ciências Visa identificar os fatores que naturais, requer o uso do método determinam ou contribuem para a experimental, e nas ciências sociais ocorrência dos fenômenos. requer o uso do método observacional. Assume, em geral, a Aprofunda formas de Pesquisa Experimental e realidade porque explica a razão, o o conhecimento Pesquisa Expost-facto. “porquê” das coisas. Fonte: Cervo & Bervian, 1996; Gil, 1991; Marconi & Lakatos, 1999. Contudo, essa classificação não é excludente e os processos usuais costumam utilizá-la de forma associativa. A pesquisa bibliográfica, por exemplo, serve na maioria das vezes, como suporte teórico ou complemento para os outros tipos. da 132 Capítulo 5 - Estudo de Percepção No caso dessa dissertação, trata-se de um estudo de natureza descritiva, que não busca estabelecer relações de causa e efeito. Alias, a própria concepção sistêmica deste trabalho eliminaria, de certa forma, a possibilidade de realizarmos algum estudo deste tipo. Mais importante para caracterizar este estudo é o fato de ele se basear em estudo de campo com baixo poder de inferência sobre o universo total e se respaldar nas intuições e percepções das pessoas. Dentro do universo dos tipos de pesquisa, vários são os métodos de pesquisas. Para Gil (1991) os principais são os caracterizados no Quadro 25. Quadro 25 - Métodos de Pesquisa MÉTODO DE PESQUISA Pesquisa Bibliográfica Pesquisa Documental DESCRIÇÂO Desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos científicos. Diferencia-se da pesquisa bibliográfica pois utiliza fontes que apóiam-se em materiais que ainda não receberam análise e tratamento. Consiste na realização de um experimento (determinar um objetivo de Pesquisa Experimental estudo, selecionar variáveis que sejam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observações dos efeitos que a variável produz no objeto) Tem-se um experimento que se realiza depois dos fatos. São situações que Pesquisa Ex-post-facto se desenvolvem naturalmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controle. O pesquisador não tem controle das variáveis. Considera a coleta de dados através de questionários auto-aplicáveis ou de Pesquisa de Avaliação ou Levantamento (survey-research) entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas aplicadas a um grupo significativo de fontes acerca de um problema a ser estudado para, em seguida, mediante analise quantitativa ou qualitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. É caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa Estudo de caso praticamente impossível mediante outros delineamentos considerados. Requer simplicidade nos procedimentos de coleta e analise de dados em relação a outros tipos de delineamento, porem oferece dificuldades na generalização dos resultados obtidos. Tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em Pesquisa de ação estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou 133 Capítulo 5 - Estudo de Percepção participativo. Diferencia-se da pesquisa ação por não ser uma ação planejada. Envolve a distinção entre ciência popular e ciência dominante, considera posição Pesquisa participante valorativas, derivadas do humanismo cristão e de certas concepções marxistas. Está comprometida com a minimização da relação entre dirigentes e dirigidos. Fonte: Gil, 1991. Os métodos de pesquisa apresentados nas diversas classificações também não são excludentes. Uma mesma pesquisa pode estar, ao mesmo tempo, enquadrada em várias classificações, desde que obedeça aos requisitos inerentes a cada tipo de pesquisa. Analisando o conceito de cada um dos métodos de pesquisa descritos e procurando enquadrá-los em relação aos objetivos dessa dissertação, considera-se: Quadro 26 - Métodos de Pesquisa de acordo com os objetivos dessa dissertação MÉTODO DE PESQUISA DESCRIÇÂO Aplicável, uma vez que a revisão de literatura refere-se à fundamentação teórica necessária para tratar o tema e o problema de pesquisa. Por meio da Pesquisa Bibliográfica análise da literatura publicada será traçado um quadro teórico fundamental para a estruturação conceitual que dará sustentação ao desenvolvimento da pesquisa. Pesquisa documental Pesquisa experimental Pesquisa ex-post-facto Pesquisa de avaliação ou levantamento (survey-research) Não aplicável, pela dificuldade de acesso ou mesmo ausência de informações documental em relação ao tema. Seria difícil, lento e custoso arquitetar e acompanhar um experimento que pudesse fornecer subsídios significativos para este trabalho. Não aplicável. Não se trata de fenômeno espontâneo. Aplicável e adequado em se tratando de acessar uma amostra com um número significativo de participantes a fim de se obter conclusões com base em dados e informações que se objetiva coletar. Não aplicável, devido a dificuldade na coleta de dados para avaliação de Estudo de caso desempenho ambiental e a complexidade da ferramenta mais adequada ao contexto brasileiro, num prazo limitado para a conclusão da dissertação. Pesquisa de ação e Pesquisa participante Não aplicável. Estas metodologias são normalmente utilizadas para estudo sociais e sobre a coletividade. 134 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Desta forma, conclui-se que a metodologia utilizada será a pesquisa de avaliação ou levantamento tendo como base fundamentos teóricos a partir da pesquisa bibliográfica realizada. Quanto à abordagem do problema que cada método de pesquisa pode enquadrar, Gil (1991) os categoriza em: Quadro 27 - Categorização dos métodos de pesquisa quanto à abordagem ABORDAGEM DESCRIÇÃO Considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o Pesquisa Quantitativa uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.). Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de Pesquisa Qualitativa pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento- chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. Fonte: Gil, 1991. Conforme a análise e as considerações dos tipos e métodos de pesquisa, conclui-se que essa pesquisa deve receber ambas abordagens para atender aos objetivos propostos. A abordagem quantitativa procurou enfatizar a analise dos dados objetivamente coletados e a qualitativa para o registro de algumas verbalizações de suma importância para analise dos dados. 5.2.2. Coleta de dados A coleta de dados ocorreu após a delimitação dessa pesquisa com base na revisão bibliográfica, buscando atender aos objetivos definidos a partir da formulação do problema. 135 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Diversos autores categorizam os instrumentos de coleta de dados tradicionais como: • OBSERVAÇÃO: quando se utilizam os sentidos na obtenção de dados de determinados aspectos da realidade. • ENTREVISTA: é a obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. A entrevista pode ser: o padronizada ou estruturada: roteiro previamente estabelecido; Consiste em fazer uma série de perguntas a um informante, segundo um roteiro pré-estabelecido. O teor e a ordem das perguntas não podem ser alterados; o despadronizada ou não-estruturada: não existe rigidez de roteiro. Podem-se explorar mais amplamente algumas questões. Consiste em fazer uma conversações informais, que pode ser alimentada por perguntas abertas proporcionando maior liberdade para o informante. • QUESTIONÁRIO: é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar acompanhado de instruções. As instruções devem esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar o preenchimento. As perguntas do questionário são claras, objetivas, com respostas curtas e previsíveis e podem ser abertas (“Qual é a sua opinião?”), fechadas (duas escolhas: sim ou não) ou de múltiplas escolhas (fechadas com uma série de respostas possíveis). • FORMULÁRIO: é uma coleção de questões e anotadas por um entrevistador numa situação face a face com a outra pessoa (o informante). O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista, ou seja, o pesquisador esteve presente com o objetivo de recolher através do interrogatório do informante dados para pesquisa. 136 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Nesse sentido e de acordo com os objetivos definidos nessa dissertação, a entrevista semi estruturada foi considerada mais adequada, devido a sua forma de condução, que tem as características do que Queiroz (1987) denominou depoimento pessoal. Este tipo de entrevista facilita a análise de testemunhos em relação a variáveis pré-determinadas, além de permitir a introdução de elementos e aprofundar outros evitando a dispersão mais ou menos caótica da entrevista aberta não estruturada. A escolha da entrevista semi estruturada justifica-se também pela necessidade do envolvimento e presença do pesquisador ao objeto de estudo e á fonte dos dados, tendo em vista as variáveis abrangentes relacionadas ao tema da pesquisa, a necessidade de um envolvimento perceptivo, e pela necessidade de confiabilidade sobre os dados e informações a serem coletados. As entrevistas foram realizadas seguindo os seguintes critérios; • o roteiro da entrevista foi previamente elaborado delineando cuidadosamente o objetivo a ser alcançado para que as informações necessárias não deixassem de ser colhidas no momento de sua realização; • as entrevistas tiveram caráter individual, para garantir a abordagem quantitativa da análise sem interferência das discussões nos dados colhidos; • o local e o horário da entrevista foram marcados com antecedência, buscando garantir a atenção do entrevistado para a pesquisa; • procurou-se assegurar um número suficiente de entrevistados. 5.2.3. Definição da amostra População (ou universo da pesquisa) é a totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo. Amostra é parte da população ou do universo, selecionada de acordo com uma regra ou plano (Menezes & Silva, 2001). 137 Capítulo 5 - Estudo de Percepção A população definida para a pesquisa em questão envolve todos os agentes que indireta ou diretamente participam da industria da construção civil, seja em qualquer uma das etapas do ciclo de vida do edifício (projeto, construção, operação, manutenção e demolição). Nesse contexto pode-se incluir dentre outros, projetistas (em geral, arquitetos e engenheiros), construtores, fornecedores, colaboradores, usuários. A amostra, no entanto restringiu-se a projetistas, construtores e fornecedores de acordo com a seguinte proporção e justificativas conforme Quadro 28: Quadro 28 - Proporção da população definida para a pesquisa AMOSTRA PROPORÇÃO JUSTIFICATIVA Uma vez que é na etapa de projeto que são definidas as características do edifício, a fim de que sejam atendidas as necessidades de seus usuários, o processo de projeto revela-se como uma das fases que mais influenciam o desempenho de uma Projetistas edificação (John, 1989). Os projetistas são os responsáveis pelas 70% escolhas e decisões em relação aos materiais e tecnologias relativas ao edifício que podem ser ou não as melhores do ponto de vista ambiental e acompanham - ou pelo menos deveriam acompanhar – as interferências destas escolhas durante todas as etapas do processo de construção do edifício (Bagatelli, 2002). Uma vez que são os gerentes da construção do edifício e Construtores 20% participantes e concretizadores das ações projetuais utilizando métodos com menor ou maior impacto ambiental. Fornecedores Uma vez que disponibilizam materiais e tecnologias divulgando (ou 10% não) seu desempenho ambiental. A distribuição das etapas de pesquisa, piloto e aprofundada, seguiu também essa proporcionalidade de acordo como o Tabela 4: Tabela 4 - Distribuição das etapas de pesquisa AMOSTRA ETAPA PILOTO ETAPA APROFUNDADA TOTAL Projetistas 29 28 57 Construtores 8 8 16 Fornecedores 4 4 8 TOTAL 41 40 81 Capítulo 5 - Estudo de Percepção 138 A amostra limitou-se a incluir profissionais da Grande Vitória/ES, uma vez que numa pesquisa realizada junto ao CREA, em maio de 2004, constatou-se que esses são representativos em relação ao Estado do Espírito Santo uma vez que mantêm um vínculo de serviços profissionais com as demais cidades. Dentre os projetistas estão incluídos arquitetos e engenheiros responsáveis por projetos arquitetônicos, estruturais e de instalações elétricas, hidro-sanitárias dentre outros. A amostra limitou a experiência desses profissionais em 5 anos para assegurar um mínimo de prática profissional para aferir um melhor entendimento da real postura do mercado. Para tanto, também foi assegurado que a amostra incluísse apenas profissionais com execução de mais de 50.000 m2 de área projetada. Os construtores da amostra permeiam dentre os com maior repercussão no mercado, todos certificados ISO 90001. A escolha por construtores certificados pelas normas ISO 9000 se deu pelo fato desta família de normas representarem um consenso internacional em boas práticas de manejo que pretende assegurar que a organização pode fornecer produtos e serviços que atendam a exigência de qualidade do cliente (EMBRAPA, 2005). Dentre os fornecedores foram incluídos aqueles que fornecem materiais usados mais freqüentemente nos edifícios e na maioria das obras em Vitória/ES, tais como fornecedores de cerâmica, cimento, telhas, granitos, ar condicionados, dentre outros. 5.2.4. Estruturação da entrevista Inicialmente a entrevista apresentou um cabeçalho introdutório para coletar informações referentes ao informante tais como nome, profissão, formação profissional, tempo de profissão, e áreas principais de atuação. 1 A International Standards Organization, mais conhecida como ISO, é o órgao que estabelece os padrões internacionais de trabalho e de garantia de qualidade nas empresas. Desde 1987 foi criada uma série de normas, conhecidas como ISO 9000, que deram início a um sistema de gestão de qualidade (ABES, 2005). 139 Capítulo 5 - Estudo de Percepção O restante da entrevista foi estruturada em blocos de acordo com o Quadro 29: Quadro 29 - Estruturação da Entrevista BLOCOS OBJETIVOS PERCEPÇÃO Aferir o conhecimento do entrevistado em relação a conceitos tais como: • 1 - Conhecimento do tema • • 2 - Grau de importância das áreas ambientais Perceber durante a entrevista não Desempenho ambiental de edifícios estruturada a familiaridade do entrevistado com as questões Avaliação e ferramentas de propostas e a co-relação feita por ele avaliação de desempenho para buscar respostas diante do tema ambiental de edifícios proposto. Impacto ambiental de edifícios Aferir a capacidade do entrevistado em Perceber a dificuldade encontrada para classificar hierarquicamente as áreas e a hierarquização da importância de categorias de desempenho ambiental cada área e categoria de desempenho usadas na metodologia do GBT em assim como sentir a conexão lógica relação ao peso atribuído a cada uma atribuída pelo entrevistado em relação no contexto brasileiro. a cada classificação. Perceber até que ponto o tema, desempenho ambiental é considerado Aferir o grau de importância conferido em sua atividade profissional pelo pelo entrevistado ao tema ambiental entrevistado. particularmente ao impacto ambiental 3 - Atitudes ambientais dos edifícios brasileiros. Perceber se existe uma demanda de uma metodologia para avaliação de Aferir o comprometimento desses desempenho ambiental de edifícios profissionais em relação ao desempenho ambiental dos edifícios. Perceber o envolvimento e comprometimento dos entrevistado em relação ao tema De acordo com essas proposições a entrevista pautou-se em dez abordagens realizadas a partir de diversas questões ou até sub-questões que surgiam a partir da pauta principal que não podiam ser desconsideradas: 1) Sobre o entendimento da definição de desempenho ambiental de edifícios. Questões: Você já ouviu fala algo sobre desempenho ambiental de edifício? O que você entende por desempenho ambiental de edifícios? Você considera o edifício como sendo um potencial impactante do meio ambiente? Capítulo 5 - Estudo de Percepção 140 Sub-questões: Você entende que o edifício apresenta uma vida longa? Você conhece o conceito de ciclo de vida do edifício? Você tem conhecimento da ISO 14 000? 2) Sobre o entendimento de avaliação ambiental de edifícios. Questões: Você já ouviu fala algo sobre avaliação de desempenho ambiental de edifício? O que você entende por isso? No seu entendimento pra que serve? Você conhece alguma ferramenta / instrumento de avaliação ambiental de edifícios? No seu entendimento o que você considera importante estar avaliando numa abordagem de desempenho ambiental do edifício? 3) Sobre as áreas de desempenho ambiental de edifícios. Questões: No seu entendimento, qual é a preocupação quanto ao impacto ambiental que teria uma maior peso durante uma avaliação de desempenho ambiental?2 Qual dessas áreas você considera mais prejudicial ao meio ambiente e por isso, que teria maior peso durante uma avaliação de desempenho ambiental?3 4) Sobre o Consumo de Reservas Naturais. Questão: No seu entendimento, em relação à preocupação quanto ao Consumo de Reservas Naturais, qual das categorias você considera de maior peso numa Avaliação de desempenho ambiental de edifícios4? Por que?5 2 As áreas de desempenho ambiental consideradas no GBTool são apresentadas e explicadas. 3 É solicitado ao entrevistado que categorize hierarquicamente de acordo com a importância de cada área em escala crescente (maior peso em direção ao de menor peso) para a avaliação de desempenho ambiental. 4 As categorias propostas no GBTool são apresentadas e caso surjam dúvidas conceituais, essas são explicadas, procurando não interferir na resposta questionada, apenas esclarecer. 5 É solicitado ao entrevistado que categorize hierarquicamente de acordo com a importância de cada uma para a avaliação de desempenho ambiental, em escala crescente (maior peso em direção ao de menor peso). Capítulo 5 - Estudo de Percepção 141 5) Sobre Cargas Ambientais (Emissões de poluentes). Questão: No seu entendimento, em relação à preocupação quanto às Cargas Ambientais, qual das categorias você considera de maior peso numa Avaliação de desempenho ambiental de edifícios? Por que? 6) Sobre Qualidade Interna do Ar. Questão: No seu entendimento, em relação à preoupação quanto à Qualidade Interna do ar, qual das categorias você considera de maior peso numa Avaliação de desempenho ambiental de edifícios? Por que? 7) Sobre Qualidade dos Serviços. Questão: No seu entendimento, em relação à preocupação quanto à Qualidade dos Serviços, qual das categorias você considera de maior peso numa Avaliação de desempenho ambiental de edifícios? Por que? 8) Sobre Gestão Pré-ocupação. Questão: No seu entendimento, em relação à preocupação quanto à Gestão Pré-Ocupação, qual das categorias você considera de maior peso numa Avaliação de desempenho ambiental de edifícios? Por que? 9) Sobre a atitude profissional. Questões: Quando você vai fazer um projeto (construção, propaganda de um produto) você considera alguma atitude buscando minimizar o impacto ambiental? Qual? Você utiliza isso como um diferencial do seu produto? Sub-questões: Você já procurou informações sobre o desempenho ambiental de algum produto ou serviço que você especifica (indica, utiliza, comercializa)6. Você teve dificuldade em encontrar essas informações? 6 As questões são direcionadas para o entrevistado (projetista, construtor ou fornecedor) 142 Capítulo 5 - Estudo de Percepção 10) Postura profissional. Questões: Você considera importante incorporar tais conceitos em sua prática profissional? O que você mudaria em relação à forma como vem atuando? Se você tivesse em suas mãos uma ferramenta de avaliação de desempenho ambiental de edifícios e percebesse que o desempenho daquele edifício que você está trabalhando não foi satisfatório você mudaria sua postura simplesmente pelo quesito ambiental? Durante a entrevista foi necessário o esclarecimento de diversos conceitos e abordagens para alcançar o direcionamento pretendido e evitar distorções devido a entendimentos dúbios. Todavia, essa postura precisou ser cuidadosa no sentido de não influenciar e direcionar a resposta. A entrevista objetivou coletar dados quantitativos e qualitativos, buscando captar as falas reais dos entrevistados. Foi realizada contando com um aparelho gravador exceto quando, por problemas técnicos, isso não foi possível. 5.3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Sob o aspecto quantitativo, a pesquisa deu ênfase a análise dos dados que foram objetivamente coletados em suas abordagens distintas. Em relação a analise qualitativa, procurou-se preservar as falas dos entrevistados integralmente (todas expressas gramaticalmente entre aspas), como forma de contextualizar os dados quantitativos. 5.3.1. Sobre o Conhecimento do Tema Sobre o entendimento da definição de desempenho ambiental de edifícios, a pesquisa alcançou os resultados quantitativos descritos a Tabela 5. 143 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Tabela 5 - Resultados obtidos sobre o entendimento da definição de desempenho ambiental de edifícios RESPOSTA PROJETISTAS CONSTRUTORES FORNECEDORES % TOTAL Realmente entendiam 13,33% 57,14% 0% 15% sobre o tema Apresentavam SIM uma noção real, porém 40% 50% 14,29% incompleta 71,43% 0% 0% 17,50% 47,50% sobre o tema. Achavam que sabiam, mas desconheciam 46,67% 0% 0% 15% o tema. NÃO 50% 28,57% 100% 52,50% As respostas a essa questão são variáveis. A apresentação dos resultados quantitativos foI baseada nas respostas dos entrevistados, a partir de uma análise de toda a entrevista, uma vez que, muitos responderam “SIM” a questão proposta, no entanto, no decorrer da conversa percebe-se que o entendimento é equivocado. Respostas como “é o desempenho do edifício diante das experiências sensoriais”,ou restritivas como “é o desempenho do relatório de Impacto Urbano e Impacto Ambiental exigido pelas prefeituras”, juntamente com outros apontamentos nos levam a acreditar que essas pessoas realmente não sabem sobre o que estamos falando. Algumas das pessoas que responderam “SIM”7, em geral opinaram de maneira superficial sobre o tema, associando o conceito a preocupações pontuais em torno do uso de energia, água, materiais ou conforto ambiental (ventilação ou iluminação). Como disse um entrevistado “é uma coisa maior e mais complexa que vai desde a otimização de energia até a questão ambiental propriamente 7 Foram considerados SIM os que responderam: “mais ou menos”, “especificamente não”, “imagino o que seja”, que ao longo da entrevistas mostraram que apresentavam noções sobre a questão. Capítulo 5 - Estudo de Percepção 144 dita”, sendo que “a questão” refere-se ao conforto ambiental durante a fase de uso do edifício. A ligação direta de desempenho ambiental de edifício e conforto ambiental foi, entre os arquitetos, muito comum (50% dos arquitetos entrevistados). “Sei sobre o desempenho, apenas o que estudei na faculdade, nas aulas de conforto ambiental” diz objetivamente uma entrevistada. Esse vínculo tem uma interpretação clara uma vez que dentro dos programas de ensino das universidades – grade curricular – a questão ambiental resume-se as aulas de conforto ambiental onde a abordagem restringe-se a questões de conforto térmico, acústico, iluminação e orientação solar na implantação da edificação. Os arquitetos entrevistados associam a importância da preocupação em relação ao desempenho ambiental a etapa de elaboração do projeto como, por exemplo, iniciando suas frases com “fazer um projeto que gaste menos energia” ou “projetar com técnicas e recursos mais otimizados”. Já os construtores percebem a abordagem em relação as escolhas feitas na etapa de projeto, mas, principalmente, em relação as alternativas para oferecer um edifício diferenciado no mercado, como, por exemplo, disse um entrevistado “é utilizar alternativas tecnológicas para diminuir o consumo de energia como utilizar painéis solares ou melhorar o reaproveitamento de água do edifício” A palavra “desempenho” ainda é estranha a quase todos os entrevistados. Sem critérios e parâmetros para entender, as respostas voltam-se para aspectos isolados e prescritivos. A eficiência global do edifício apresentando um comportamento adequado ambientalmente ainda não é a lógica do pensamento dentro de uma visão holística de todo o ciclo de vida do edifício. Com relação ao entendimento sobre a avaliação ambiental de edifícios (ADAE), os resultados são aqueles descritos na Tabela 6. 145 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Tabela 6 - Resultados obtidos sobre o entendimento da definição de avaliação ambiental de edifícios (ADAE) RESPOSTA PROJETISTAS Realmente entendiam sobre CONSTRUTORES FORNECEDORES TOTAL 0% 10,34% 0% 7% o tema Apresentavam uma noção real, SIM porém incompleta 0% 17% 12,50% 44,83% 0% 0% 12% sobre o tema. Achavam que sabiam, mas desconheciam o 17% 12,50% 0% 15% tema. NÃO 55% 75,00% 100% 63% TOTAL 100% 100,00% 100% 97,00% A questão relativa ao entendimento sobre a avaliação ambiental de edifícios (ADAE) foi levantada na seqüência da entrevista após a discussão do conceito de desempenho ambiental. Portanto, o entrevistado já estava envolvido com o caminhar do tema e pela própria etimologia da questão alguns projetistas arriscaram em conceituações iniciadas com “deve servir para ‘medir’, ‘aferir’ ou ‘quantificar’” o desempenho ambiental de edifícios. Porém o resultado entre os construtores e fornecedores foi o desconhecimento completo. “Não sabia nem que existia isso em relação ao edifício”. Foi comum, entre os projetistas a associação de ADAE com: • avaliação pós ocupação; • relatório de impacto urbano e ambiental; • análise de projetos pelo usuário (lista de verificação, checklist); • licença de implantação, licença de projeto e licença de obra. Capítulo 5 - Estudo de Percepção 146 A associação de normas e legislações como critérios necessários para a realização de uma ADAE é verbalizada em diversas falas. Isso demonstra o entendimento, mesmo que de forma empírica, para uma avaliação de desempenho são necessários critérios e procedimentos de desempenho bem como níveis de desempenho a serem alcançados. Em relação a ADAE, é perceptível entre os projetistas que “não há consciência de que seja possível e real”, como sintetiza um arquiteto e completa “nós somos leigos”. Ao longo da entrevista, fica claro que a preocupação em relação às questões ambientais ainda é um tanto incipiente. “Quando se faz, ainda é de forma um tanto tupiniquim” diz um projetista referindo-se a ausência de planejamento e gestão ambiental em relação ao edifício. A preocupação ainda não é consciente e perceptível por todos os profissionais. Assim, a importância em se avaliar o desempenho ambiental de um edifício ainda não faz sentido para buscar traçar indicadores ambientais, ou para quantificar os impactos ou mesmo pra se posicionar no mercado, uma vez que o mesmo ainda não demonstra essa exigência. Alguns itens sobre o que seria importante avaliar para minimizar o impacto do edifício no meio ambiente são citados por muitos entrevistados, mesmo aqueles que disseram “não tenho conhecimento do que seria e nem pra que serve” uma avaliação de desempenho ambiental. Conforto do usuário é o item de maior preocupação dentre as citações feitas pelos projetistas. Percebe-se que os entrevistados, de forma geral, associam avaliação do edifício com a percepção do usuário durante o uso do edifício. O conceito global de ciclo de vida ainda não é compreendido de forma natural em se tratando de avaliar o edifício do ponto de vista de seu impacto no ambiente. Com relação ao conhecimento de alguma ferramenta de avaliação ambiental de edifícios, a pesquisa alcançou os resultados quantitativos descritos a Tabela 7. 147 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Tabela 7 - Resultados obtidos sobre o conhecimento de alguma ferramenta de avaliação ambiental de edifícios RESPOSTA PROJETISTAS CONSTRUTORES FORNECEDORES TOTAL SIM 16,67% 0% 0% 12,20% NÃO 83,33% 100% 100% 60,98% Dentre os projetistas que responderam SIM, apenas 6,67% realmente conheciam e souberam exemplificar ferramentas de ADAE. Porém, 10% conheciam ferramentas de simulação e avaliação restritas a área de conforto acústico e luminotécnico ou citaram APO (Avaliação Pós Ocupação). 5.3.2. Sobre o grau de importância das áreas e categorias de desempenho ambiental Em relação à importância relativa das áreas avaliadas pelo GBTool os resultados quantitativos obtidos são os descritos a Tabela 8. Tabela 8 - Resultados obtidos quanto a importância relativa das áreas avaliadas pelo GBTool CATEGORIA DE DESEMPENHO CONSIDERADA DE AREA DE DESEMPENHO MAIOR PESO AMBIENTAL PROJETISTAS Consumo de reservas naturais (RN) Cargas ambientais (CA) Qualidade do ambiente interno (QAI) Qualidade dos Serviços (QS) Aspectos econômicos (AE) Gestão Pré- Ocupação (GPO) 55,17% dos respondentes 13,79% dos respondentes CONSTRUTORES FORNECEDORES 50% dos respondentes 50% dos respondentes 0% dos respondentes 25% dos respondentes 10,34% dos 12,5% dos respondentes respondentes 10,34% dos 12,5% dos respondentes respondentes 0% dos respondentes 10,34% dos respondentes 12,5% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 25% dos respondentes Capítulo 5 - Estudo de Percepção 148 O Consumo de reservas naturais é responsável pela maior preocupação dos entrevistados, seja projetista, construtor ou fornecedor, uma vez que “é um assunto que está mais em voga” e “é básico, ou seja, impossível viver sem”. Dentre os projetistas que responderam que a preocupação que deveria apresentar maior peso numa ADAE seria Consumo de Reservas Naturais, 68,75% colocam a questão de cargas ambientais como a preocupação seguinte, uma vez que “existem uma relação dialética entre essas preocupações”. Nesse sentido, o senso comum entre esses profissionais reflete a constatação de Lyle (1994), em que o homem, ao se relacionar com o meio, utilizando os recursos naturais para os seus processos básicos, tem agido como se estes fossem infinitos, ou seja, os dejetos produzidos não voltam para o meio ambiente de maneira produtiva. O processo tem um caráter linear e não cíclico, aumentando o risco de escassez destes recursos e aumentando os impactos gerados no meio ambiente. Esses dois itens são, no entendimento dos entrevistados “...mais ligados ao meio ambiente propriamente dito, o resto é uma preocupação com o usuário...”. Existe uma dificuldade em incorporar no conceito de desempenho ambiental do edifício (baixo impacto ambiental) a melhora da qualidade de vida do usuário. O termo desempenho associado a Meio Ambiente é visto ainda com uma grande relação à preservação dos ecossistemas (fauna e flora) e redução da poluição. Respostas como “... o objetivo da construção é o homem e não o meio ambiente...” traduz o pensamento de muitos. Os Aspectos econômicos foram considerados por 72,41% dos projetistas e 75% dos fornecedores como a área que deve receber menor peso numa avaliação de desempenho ambiental de edifícios. No entanto, para 10% dos construtores, o custo do empreendimento é a maior preocupação diante do desempenho ambiental de edifício. Contudo, é perceptível a dificuldade em associar desempenho econômico a desempenho ambiental. Pelo contrário, fica claro nas falas de muitos Capítulo 5 - Estudo de Percepção 149 entrevistados que “... desempenho ambiental é a princípio, incoerente com o conceito de desempenho econômico...”. “... Muita coisa a gente conhece, como tecnologias construtivas que possivelmente diminuiriam o impacto ambiental, mas não tomamos providência devido ao alto custo dessas medidas...”. No entanto, como afirma RMI (1998), os aspectos econômicos relacionados a um edifício devem ser analisados para períodos de longo uso, quando é possível analisar com mais variáveis as vantagens da aplicação dos conceitos de sustentabilidade e de baixo impacto ambiental. Essa visão, ainda não está enraizada dentre os profissionais, em que as decisões pelo menor custo inicial impostas pelo atual mercado e aceita pelos profissionais envolvidos na construção civil, podem levar a custos muito maiores quando analisados dentro do ciclo de vida da edificação. Respostas como “os aspectos econômicos não são importantes se forem tomadas medidas ambientalmente adequadas nas outras preocupações”, são raras. A indústria da construção é uma das maiores atividades econômicas de nosso país8. Este cenário tem mostrado que pequenas alterações nas decisões nas fases preliminares do processo (projeto e construção) podem provocar mudanças significativas na economia nacional. A sustentabilidade na área da construção pode vir a ser uma alavanca para a diminuição das crises econômicas nacionais, pois além de garantir a efetiva manutenção dos recursos ambientais, pode gerar economia nos custos de transporte e consumo de energia e até influenciar na geração de empregos, devido à demanda dos produtos e serviços de baixo impacto ambiental. 8 No Brasil, a indústria da construção representa cerca de 11,8% do PIB, Produto Interno Bruto, equivalente a U$ 115 bilhões de dólares em 1998, tendo um crescimento previsto do PIB de 3,15% (ASBEA, 2001). 150 Capítulo 5 - Estudo de Percepção 5.3.2.1. IMPORTÂNCIA RELATIVA DAS CATEGORIAS NAS ÁREAS DE DESEMPENHO AMBIENTAL Em relação à Categoria “Consumo de Reservas Naturais” os resultados quantitativos obtidos são os descritos a Tabela 9. Tabela 9 - Resultados obtidos sobre a importância da Categoria “Consumo de Reservas Naturais” nas áreas de desempenho ambiental CATEGORIA CATEGORIA DE DESEMPENHO CONSIDERADA DE MAIOR PESO CONSUMO DE RESERVAS PROJETISTAS CONSTRUTORES FORNECEDORES TOTAL9 NATURAIS 34,48% dos 25% dos 25% dos respondentes respondentes respondentes 24,14% dos 37,5% dos 0% dos respondentes respondentes respondentes 6,90% dos 12,5% dos 0% dos respondentes respondentes respondentes aproveitam alguma estrutura 34,48% dos 12,5% dos 50% dos existente no local, se são respondentes respondentes respondentes Consumo de energia (CE) Consumo de água (CA) Uso do solo (mudanças na sua configuração e composição natural) (US) 32,5% 25% 7,5% Uso de materiais (se 32,5% recicláveis ou reusados) (UM) O consumo de energia foi a categoria considerada pelos entrevistados como de grande peso. Essa percepção deve-se ao fato da falta de energia já configurar na mídia como um problema eminente em diversos países. O Brasil, os Estados Unidos, a Nova Zelândia, dentre outros, têm enfrentado nos últimos anos problemas de abastecimento. “Apagões” e “blecautes” passam a ser uma ameaça constante e programas de racionamento, rodízios e cotas de consumo passam a ser uma realidade no dia-a-dia das pessoas. Por isso, a percepção da necessidade de melhorar o desempenho energético das edificações pelos profissionais da área já é uma realidade imprescindível e urgente. 9 A soma dos percentuais não totaliza 100%, uma vez que alguns entrevistados, disseram não conseguirem definir qual categoria teria um maior peso numa ADAE. Todas teriam igual peso. 151 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Como a energia elétrica produzida no Brasil provém quase integralmente das hidroelétricas, muitos entrevistados associaram esta produção ao consumo de água, principalmente entre os projetistas e construtores. Estes profissionais ao comparar das duas categorias (CE e CA) apresentam respostas similares como, por exemplo “... a água já está escassa e não podemos produzir mais, mas alternativas para a geração de energia é possível estudar e desenvolver novas”. No entanto, outro grupo considera o consumo de energia mais importante, com o entendimento de que “... com energia eu faço tudo, dessalinizo a água do mar e reciclo materiais...”. A dificuldade em hierarquizar as categorias CE e CA ocorreu em 27% das entrevistas. Por fim, após uma reflexão “difícil”, como verbalizam muitos entrevistados, as respostas surgiam, em geral, obedecendo ao seguinte critério: “... a energia é a questão mais cara, e a água é a questão mais séria...”. A ligação entre a importância relativa do Consumo de Água em uma ADAE ao baixo custo da água foi comum. “... Se eu tivesse em Vancouver eu me preocuparia, pois a água é cara,..., mas no Brasil, ainda não...”. A falta de fiscalização em relação ao consumo de água também é interpretada por muitos como um impacto ambiental ainda não preocupante. O uso de materiais também já é considerado como de grande peso numa ADAE. A prática de reciclagem e reutilização de materiais já faz parte da consciência dos profissionais entrevistados, no entanto “... o conhecimento dos materiais alternativos e a facilidade de compra nas lojas de material de construção ainda não existem...”. A consciência da energia embutida nos materiais construtivos utilizados e a demanda do consumo de reservas naturais nesse sentido é praticamente inexistente. Alguns poucos arquitetos, dentre os projetistas, citaram rapidamente a importância nas “... escolhas dos materiais com menor impacto ambiental na etapa de projeto...”. Em relação à Categoria “Cargas Ambientais” os resultados estão descritos no Tabela 10. 152 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Tabela 10 - Resultados obtidos sobre a importância da Categoria “Cargas Ambientais” nas áreas de desempenho ambiental CATEGORIA CARGAS AMBIENTAIS CATEGORIA DE DESEMPENHO CONSIDERADA DE MAIOR PESO PROJETISTAS CONSTRUTORES 20,69% dos 12,5% dos respondentes respondentes FORNECEDORES TOTAL GHC, gases que promovem o Efeito Estufa. (GE) ODS, gases que liberam 0% dos respondentes 19,51 % dos respondentes ozônio. (GO) Gases que conduzem a acidificação e causam 0% dos envelhecimento do respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes ecossistema.(GA) Resíduos sólidos (RS) Resíduos líquidos (RL) 13,79% dos respondentes 24,14% dos respondentes Resíduos poluentes de alto 20,69% dos risco (RPAR) respondentes Impacto local e no entorno 20,69% dos (ILE) respondentes 25% dos respondentes 12,5% dos 17,07 % dos respondentes respondentes 25% dos respondentes 25% dos respondentes 25% dos respondentes 0% dos respondentes 26,83 % dos respondentes 12,5% dos 21,95 % dos respondentes respondentes 0% dos respondentes 14,63 % dos respondentes Os resultados apresentados na Tabela 9 não fornecem uma leitura muito clara do posicionamento geral. Percebe-se resultados um tanto lineares com peso equilibrados nas diferentes categorias. Os itens GE e GO foram considerados juntos ao estabelecer peso a uma avaliação de impacto ambiental dos edifícios por 17,07% dos respondentes e 12,20% consideraram os itens GE, GO e GA juntamente e de maior importância dentre as outras categorias completando os percentuais da Tabela 10. A categoria de desempenho GA não foi considerada com um peso importante numa avaliação ambiental de edifícios em relação às demais. Ao ouvir o termo, “efeito estufa” ou “camada de ozônio”, os entrevistados manifestam algum entendimento do ponto de vista ambiental e importantes para uma avaliação do desempenho do edifício, mas acreditam que “... provocam um dano um tanto reduzido...” quando considera-se as demais categorias. No entanto, quanto ao Capítulo 5 - Estudo de Percepção 153 item GA, a percepção de que isso seja necessário numa ADAE é incompreendida. O parâmetro bastante utilizado para hierarquizar a importância relativa das categorias referente a questão Cargas ambientais, foi a dificuldade ou facilidade em corrigir os impactos causados. O pressuposto era que, o impacto ambiental sempre irá ocorrer e, nesse sentido, qual deles é possível tratar para reduzir tal impacto. O pensamento não foi direcionado, nem pelos projetistas, no sentido de adotar medidas preventivas necessárias para reduzir o impacto após uma leitura feita a partir da ADAE. Nesse contexto, as emissões gasosas são “dificilmente controladas” quando já ocasionadas, e os resíduos sólidos e líquidos “... a gente dá conta de controlar ou planejar o controle...”. Em relação a categoria RPAR, percebe-se uma dificuldade entre os entrevistados de entenderam essa problemática em uma avaliação ambiental de edifícios. A referência atribuída a essa categoria é considerada como “...pontual em relação ao edifício...”, necessária apenas “... para edifícios específicos... industriais talvez”. Em geral, trata-se de uma categoria considerada “... importante, mas específica” em que não há necessidade de se “...avaliar em todos os casos...”. Porém, existem aqueles que não atribuíram uma importância relativa a essa categoria, pois acreditam que a ocorrência do impacto seja ocasional, mas “...quando ocorre o estrago é grande...”. A categoria RL é considerada como de maior peso tanto para projetistas quanto para fornecedores e construtores em um percentual equivalente 25%. Contudo, para os construtores numa ADAE os resíduos sólidos são bastante preocupantes e por isso apresentam peso equivalente. Essa preocupação é referida em 100% dos entrevistados associada aos resíduos de obra, entulho evidente como uma problemática ainda não solucionada. Em relação a Categoria “Qualidade Interna do Ar” os resultados estão descritos na Tabela 11. 154 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Tabela 11 - Resultados obtidos sobre a importância da Categoria “Qualidade Interna do Ar” nas áreas de desempenho ambiental CATEGORIA QUALIDADE DO CATEGORIA DE DESEMPENHO CONSIDERADA DE MAIOR PESO AMBIENTE INTERNO PROJETISTAS CONSTRUTORES FORNECEDORES 31,03% dos 37,5% dos 50% dos respondentes respondentes respondentes Conforto acústico 6,90% dos 12,5% dos (CA) respondentes respondentes Conforto térmico (CT) Ventilação (V) Iluminação (I) 0% dos respondentes TOTAL 34,15% 7,32% dos respondentes 17,24% dos 25% dos 50% dos 21,95% dos respondentes respondentes respondentes respondentes 17,24% dos 12,5% dos respondentes respondentes Poluição 3,45% dos eletromagnética (PE) respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 14,63% dos respondentes 2,44% dos respondentes Na Tabela 11 a somatória dos percentuais entre os projetistas não totaliza 100%, uma vez que 13,79% dos respondentes consideram o conforto térmico e a ventilação com pesos de importância equivalentes e prioritários em relação aos demais quanto ao impacto no desempenho dessa categoria. Similarmente 3,45% consideram num mesmo patamar de importância conforto térmico e Iluminação. Além disso, 6,9% consideram todos de igual importância, não sendo possível hierarquizar os pesos de tais categorias. Mesmo aqueles (100%) que responderam que conforto térmico tem uma importância maior dentre as demais categorias, incluindo todos os entrevistados (projetistas, construtoras e fornecedores) questionaram porque a distinção entre conforto térmico e ventilação, “...já que estão interligados...”. “... No Brasil, uma boa ventilação representa um conforto térmico adequado...” já que “... permite a renovação do ar quente...”. Torna-se importante ressaltar que 75,61% dos respondentes consideraram a Poluição eletromagnética como a categoria de menor impacto, pois “...a seriedade dos riscos ainda é imprevisível...”. Publicações recentes alertam para os possíveis danos a saúde provocados pelas irradiações eletromagnéticas. O 155 Capítulo 5 - Estudo de Percepção campo eletromagnético emitido por antenas de TV, de celular e rádio provoca interferência em aparelhos eletroeletrônicos - de marcapassos e válvulas cardíacas a rádios e computadores - e ainda pode afetar plantas, animais e até o homem (Falcão, 2000). Com a explosão da telefonia celular, centenas de antenas foram instaladas nas cidades, mas a insegurança em sobre os efeitos prejudiciais ao ser humano ainda são questionáveis10. “...Como não pode ser vista, sentida nem cheirada, pouca gente se dá conta de que ela existe.” Em relação a Categoria “Qualidade dos Serviços” os resultados estão descritos na Tabela 12. Tabela 12 - Resultados obtidos sobre a importância da Categoria “Qualidade dos Serviços” nas áreas de desempenho ambiental CATEGORIA CATEGORIA DE DESEMPENHO CONSIDERADA DE MAIOR PESO QUALIDADE DOS SERVIÇOS Flexibilidade e adaptabilidade Controlabilidade pelo usuário Manutenção do desempenho PROJETISTAS CONSTRUTORES 29,17% dos 0% dos respondentes respondentes 8,33% dos 12,5% dos respondentes respondentes 16,67% dos 37,5% dos respondentes respondentes Privacidade e acesso à 4,17% dos 0% dos iluminação e visuais respondentes respondentes 12,50% dos 12,5% dos respondentes respondentes Desenvolvimento do entorno Impacto nas propriedades 20,83% dos 25% dos adjacentes respondentes respondentes 10 FORNECEDORES 0% dos respondentes 75% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 0% dos respondentes 25% dos respondentes TOTAL 19,44% dos respondentes 16,67% dos respondentes 19,44% dos respondentes 2,78% dos respondentes 11,11% dos respondentes 22,22% dos respondentes Segundo concluem Mendez e Virtuoso (2003) em uma pesquisa realizada em Criciúma (SP) as experiências brasileiras e mundiais indicam fortes indícios que as radiações emitidas pelas antenas da telefonia celular afetam a saúde populacional, por isso a comunidade acadêmica brasileira e mundial da área recomenda adotar o Principio de Precaução. Os organismos governamentais estão sendo incentivados a financiar pesquisas na área da poluição eletromagnética ambiental. Capítulo 5 - Estudo de Percepção 156 Todavia, entre os projetistas, 4,17% dos respondentes atribuíram igual peso Desenvolvimento do entorno e impacto nas propriedades adjacentes. Similarmente, 4,17% responderam que juntamente com essas duas categorias, Privacidade e acesso a iluminação e visuais teriam o mesmo peso em relação ao impacto de desempenho ambiental de edifícios. “... essas preocupações dever ser pensadas paralelas, não é possível separar...”. Por isso, a soma total dos percentuais não totaliza 100%. Foi comum o questionamento, “...Isso tem a ver com desempenho ambiental?...” Esse entendimento associando a qualidade de vida como desempenho ambiental ainda é um tanto rudimentar. As categorias Impacto das propriedades adjacentes e desenvolvimento do entorno eram, nesse, contexto, as únicas reconhecidas como “...possível de associar a desempenho ambiental...”. Para os projetistas a categoria flexibilidade e adaptabilidade foi considerada com uma importância relativa maior numa ADAE, uma vez que esse discurso enquadra-se em uma tendência “modernista”11 na forma de projetar. No entanto, há de se considerar a preocupação desses profissionais, em particular os arquitetos em relação ao impacto do edifício no entorno. “... o entorno é uma das primeiras preocupações que a gente tem quando começa a projetar um edifício...”. No entanto, poucos acreditam que “...o entorno independe do edifício em si...” Tanto os construtores quanto os projetistas associaram a categoria Privacidade e acesso à iluminação e visuais ao Plano Diretor Urbano (PDU) Municipal. Nesse sentido, é senso comum que “...não se pode fazer muito...”, pois “ o 11 A Arquitetura Moderna surgiu na primeira década do século XX trazendo rofundas mudanças no fazer arquitetônico em todos os seus aspectos: conceitual, construtivo e projetual. As transformações sociais, intelectuais e tecnológicas culminaram com a substituição do classicismo vigente e o conseqüente abandono da sua expressão figurativa, das suas técnicas de produção e das suas limitações funcionais (Pizzato, 2003). Racionalismo, funcionalidade, expressão geométrica tornaram-se regras para tornar mais didático o ensino do projeto arquitetônico, deixando fortes marcas na formação acadêmica dos profissionais atuais. 157 Capítulo 5 - Estudo de Percepção PDU é quem define esses parâmetros...”. O atual PDU de Vitória define o uso e ocupação do solo através do zoneamento do município segundo critérios que envolvem principalmente a previsão futura quanto a capacidade de infraestrutura e do sistema viário. Para cada zona foram atribuídos índices urbanísticos que definem gabaritos, taxas de ocupação e afastamentos (Lei 4167/94). A Categoria Manutenção do Desempenho foi amplamente associada a gastos quando consideradas de maior peso numa avaliação. O foco não foi o desempenho ambiental da edificação e sim econômico. Em relação a Categoria “Gestão Pré-Ocupação” os resultados estão descritos no Tabela 13. Tabela 13 - Resultados obtidos sobre a importância da Categoria “Gestão PréOcupação” nas áreas de desempenho ambiental CATEGORIA CATEGORIA DE DESEMPENHO CONSIDERADA DE MAIOR PESO GESTÃO PRÉOCUPAÇÃO PROJETISTAS Planejamento do processo 91,67% dos construtivo respondentes Verificação na Pré entrega 0% dos respondentes Planejamento da Operação 8,33% dos respondentes CONSTRUTORES FORNECEDORES 50% dos respondentes 75% dos respondentes 12,5% dos respondentes 25% dos respondentes 25% dos respondentes 0% dos respondentes TOTAL 82,86% dos respondentes 5,71% dos respondentes 11,43% dos respondentes Fica evidenciado que todos os agentes entrevistados reconhecem a importância do Planejamento do processo construtivo como “...fundamental pra evitar qualquer impacto...” seja ele econômico ou ambiental. Os projetistas e construtores enfatizam o projeto como o ponto inicial de qualquer planejamento, onde “...as decisões podem ser tomadas e as escolhas aceitas ou não...”. Contudo, a Verificação na pré entrega ainda não é considerada como uma ferramenta importante para a retroalimentação do planejamento. A categoria Planejamento da Operação foi associada pelos construtores ao restrito Manual do Usuário entregue quando o morador recebe sua edificação. 158 Capítulo 5 - Estudo de Percepção O mesmo é responsável por passar as informações ao usuário referente a manutenção e uso do edifício, mas não existe a preocupação efetiva e completo em relação ao Planejamento da Operação. 5.3.3. Sobre as atitudes e posturas ambientais 5.3.3.1. SOBRE CONSIDERAR ALGUMA ATITUDE FAVORÁVEL AO DESEMPENHO AMBIENTAL NO MOMENTO DE PROJETAR Os resultados relativos ao fato de levar em consideração alguma atitude favorável ao desempenho ambiental no momento do projeto estão descritos na Tabela 14. Tabela 14 - Resultados obtidos sobre considerar alguma atitude favorável ao desempenho ambiental no momento de projetar RESPOSTA PROJETISTAS CONSTRUTORES FORNECEDORES TOTAL SIM 72,41% 87,50% 50% 78,95% NÃO 27,59% 12,50% 50% 21,05% Dentre os respondentes que disseram SIM, 77,78% preocupam-se com a Qualidade Interna do Ar nas edificações e adotam medidas para garantir o desempenho nesse sentido. As categorias mais citadas nessa área foram ventilação e iluminação, uma vez que são condicionantes relacionados a um aprendizado acadêmico intrínseco aos profissionais para caracterizar uma edificação como de desempenho eficaz ou não. Outra área que vem recebendo empenho desses profissionais que responderam SIM refere-se ao consumo de reservas naturais citados por 59,26% dos respondentes, sendo que dentre eles 37,50% procuram o melhor uso do solo, com mudanças mínimas em sua configuração e composição natural, 50% citam a importância do uso de materiais recicláveis ou re-usados ou que apresentam um menor impacto ambiental e 56,25% preocupam-se também com a otimização do uso da energia e água. Capítulo 5 - Estudo de Percepção 159 A qualidade dos serviços foi citada por 33,33% dos respondentes sendo que 44,44% desses preocupam-se com o impacto nas propriedades adjacentes, 33,33% dizem buscar maior flexibilidade das edificações, 12,5% preocupam-se com a manutenção do desempenho da edificação e 11,11% em preservar o acesso as visuais. Ergonomia da edificação foi citada também como uma preocupação em relação ao uso do edifício. As questões referentes às Cargas ambientais foram citadas apenas por 22, 22% dos respondentes, em geral restritas a preocupações referentes a geração de lixo e entulho. Entre os construtores, a preocupação com os resíduos é citada por 100%, uma vez que as administrações públicas brasileiras não oferecem regularmente os serviços de coleta e a formalização de legislações ambientais brasileiras – CONAMA nº307 – que tendem a vigorar como exigência para o setor construtivo. Em geral, percebe-se que não existe uma preocupação ambiental consciente. As atitudes ambientais são consideradas um tanto que “...por acaso...” tendo em vista outros valores tidos “.....como essenciais ao contexto da edificação...” . Custo e estética encabeçam esses valores. No entanto o “conforto do usuário”12 é citado ao longo da entrevista por todos os respondentes, não como uma questão ambiental, mas como uma ferramenta de marketing: “... eu tenho colocado a possibilidade de aquecimento solar ou a gás, não para minimizar o impacto ambiental e sim para que meu cliente entenda que ele vai economizar com energia e prefira o meu edifício. É lógico que com isso eu minimizo o consumo de energia...”. 12 Estando englobados, nessa expressão, itens como qualidade dos serviços e qualidade do ambiente interno do ar de uma forma geral. 160 Capítulo 5 - Estudo de Percepção Dentre os construtores é unânime que a preocupação ambiental “... não é o ponto fundamental considerado como diferencial no mercado capaz de direcionar as escolhas dos clientes...”. Os resultados do questionamento junto aos entrevistados, se já sentiram necessidade ou realmente precisaram obter alguma informação sobre o desempenho ambiental de um produto ou serviço, para nortear o projeto, planejamento ou construção do edifício, estão descritos na Tabela 15. Tabela 15 - Resultados obtidos quanto a necessidade de obtenção de informação sobre desempenho ambiental RESPOSTA PROJETISTAS CONSTRUTORES TOTAL SIM 68,97% 71,43% 69,44% NÃO 31,03% 28,57% 30,56% Essa questão foi levantada durante as entrevistas com projetistas e construtores. No entanto, o resultado apresentado não pode ser considerado representativo. Os respondentes que disseram SIM exemplificaram a questão numa necessidade específica, ao procurar informações sobre produtos que apresentam danos ambientais conhecidos e consolidados (telhas de amianto), ou quando o marketing do produto é dito “ecológico” (telha ecológica), ou ainda por acaso, quando a preocupação é “...garantir uma eficiência do produto...” (isolamentos acústicos). Quando se trata de um produto qualquer, a preocupação ambiental inexiste. Dessa forma, a preocupação volta-se em específico para o produto específico e não uma preocupação sistêmica com diversas outras categorias de desempenho ambiental do edifício. Dentre os construtores, “... não é uma preocupação romântica (referindo-se a questão ambiental) e sim racional...”. Contudo, percebe-se que existe uma preocupação em estar viabilizando novas tecnologias (aquecimento solar, sistemas industrializados e pré-moldados, coleta seletiva de resíduos, bombas para reaproveitamento de água, dentre outros) que trazem um 161 Capítulo 5 - Estudo de Percepção beneficio ambiental a edificação mesmo que por uma questão de racionalidade construtiva. Todavia, foi unânime a dificuldade de encontrar informações sobre o desempenho ambientais de produtos e serviços. Vários respondentes mostraram dificuldade em saber quais seriam essas informações a procurar. 5.3.3.2. SOBRE A IMPORTÂNCIA DA POSTURA AMBIENTAL NO MOMENTO DE PROJETAR/CONSTRUIR OU FORNECER UM SERVIÇO OU PRODUTO Todos os projetistas responderam SIM a questão, no entanto 44,83% acrescentaram “depende” a sua informação. Dentre estes, 27,59 dizem que dependeriam do cliente, ou seja “se o cliente for eco-alfabetizado13, fica mais fácil trabalhar” diz um respondente. O custo e as implicações no projeto arquitetônico também foram citados como uma ponderação a ser feita ao se aceitar uma avaliação de desempenho ambiental no momento de projetar ou construir um edifício. Dentre os construtores as respostas não foram diferentes. No entanto, porém ressaltam que o ambiental é um dos valores a ser acrescentado em todo processo construtivo, aliado a custos, estética, racionalidade dentre outros. A questão ambiental poderá entrar no contexto para viabilizar um empreendimento, mas “... ainda não dita regras...”. O custo foi citado por 100% dos construtores tendo em mente que, “... considerar o edifício do ponto de vista ambiental é um processo em construção, pois o cliente é um investidor e nem sempre está disposto a gastar mais por isso...”. 13 Ser ecologicamente alfabetizado, ou "eco-alfabetizado", significa entender os princípios básicos de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) para usar esses princípios como forma de criar comunidades humanas sustentáveis. Capítulo 5 - Estudo de Percepção 162 Nesse contexto, muitos entrevistados retomam a pauta inicial da entrevista ADAE e percebem que “... se for possível quantificar o impacto ambiental, talvez nos vejamos obrigados eticamente a tomar alguma atitude...”, “...como se fosse plantar uma semente nesse universo de pensar...”. Nesse caso, além da percepção da importância de se fazer uma ADAE, eleva-se o compromisso moral relacionado ao meio ambiente, dentro do conceito inicial de sustentabilidade, onde é necessário não colocar em risco o ar, a água, o solo para melhorar a qualidade da vida do homem na Terra hoje e sempre. Em relação aos fornecedores, 100% admitem que essa questão ainda não é abordada nem como marketing para vender o produto, a não ser em casos muito específicos em que o produto traz um diferencial gritante em relação aos demais. Mesmo assim, “...falta consciência, educação ambiental entre os clientes...”. “... Muitos admiram a qualidade ambiental do produto, quando esse é o discurso, mas a “...qualidade, durabilidade, estética e custo ainda são fatores determinante para a escolha de um produto...”. É perceptível que existe um despreparo até mesmo pra que a questão ambiental seja utilizada como uma preocupação ou como marketing para o fornecimento do produto. Dos fornecedores, 50% buscaram nas especificações técnicas do produto fornecido algum dado sobre o desempenho ambiental do mesmo, uma vez que desconheciam; 25% soube informar as características ambientais do produto, e o restante (25%) disse que não existe essa preocupação e não fez gestão para procurar a informação. Contudo, 100% desses fornecedores desenvolveram a conversa priorizando a importância de conhecer a “fábrica” e todo o processo industrial daquele produto, com o intuito de garantir ao cliente que se trata de uma empresa idônea, onde não existe exploração de mão-de-obra, com preocupações ambientais no sentido de reduzir “poluentes” e despejos no meio ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • ABES - Associação Brasileira das Empresas de Software. Sistemas de qualidade. Disponível em: <http://abes.org.br/gruptrab/QUALIDADE/iso 9000.htm>. Acesso em: 05 jan. 2005. • AGOPYAN, V.; SILVA, Vanessa Gomes da. 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