Beira do Rio 84 / junho julhohot! - Jornal Beira do Rio

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Beira do Rio 84 / junho julhohot! - Jornal Beira do Rio
issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010
Entrevista
“A globalização
tende a aumentar o
etnocentrismo"
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 84 • Junho/Julho, 2010
Karol Khaled
UFPA investe em tecnologia
Projeto propõe análise de sofrimentos
psíquicos causados pela intolerância
diante das diferenças culturais.
Rosyane Rodrigues
acontece com as pessoas aqui acontece em qualquer lugar. Os mecanismos psíquicos se assemelham, são
universais. O objetivo da Psicanálise
é fazer com que aquilo que não é dito
em outro lugar possa ser dito ali, no
espaço terapêutico
Beira do Rio – Quais são os objetivos do Projeto "Processos identificatórios e diversidade cultural:
proposta de constituição de um
dispositivo terapêutico”?
Suzana Pastori – O objetivo é
pensar que a questão psíquica tem
relação com a questão cultural. É
uma tentativa de constituir um dispositivo terapêutico grupal, destinado
a pessoas que vêm do interior. O
importante nesse Projeto é você tomar como referência alguns aspectos
culturais e voltar a atenção para isso.
Ao longo do meu trabalho, percebi
que as pessoas que vêm do interior,
principalmente, perdem o referencial
cultural e familiar.
Beira do Rio – Explique o que seria
esse "dispositivo terapêutico"?
S.P. – É um espaço onde as pessoas
poderiam falar, dizer os "não-ditos",
aquilo que não tem espaço para
ser dito em outro lugar por não ser
socialmente aceito ou ser proibido.
Embora existam as especificidades
de trabalhar com grupo, ou seja, que
você possa partilhar o que é dito, isso
faz com que as pessoas sintam-se
encorajadas a falar e a dizer coisas
que não teriam espaço em outros
ambientes. O trabalho
é este: fazer com que
essas coisas possam ser
ditas e partilhadas com
outras pessoas com a
mesma experiência.
Beira do Rio – Que sintomas apresentam os migrantes que estão em
sofrimento psíquico?
S.P. – Precisamos ter cuidado para
não generalizar, mas os principais são
medo, perda da autoestima e ansiedade. Muitos sintomas
têm relação com os
lutos não elaborados e
as crises que se apresentam após as perdas de
pessoas, principalmente
familiares. Ainda que
os sintomas apareçam
em outros grupos, entre os migrantes, eles
apresentam algumas
particularidades, já que
eles apresentam uma
Medo, perda da
fragilidade psíquica. As
culturas tradicionais esautoestima e
tão colocadas num plaansiedade são
no negativo, então, isso
tem consequências psísintomas de
quicas para as pessoas
que estão ligadas a essa
sofrimento.
cultura. O luto também
Beira do Rio – Em
que medida a Psicologia pode contribuir
para a construção de
uma nova identidade
nesse novo lugar?
S.P. – A proposta desse
trabalho é constituir
um espaço onde essas coisas possam ser
ditas, possam existir
de alguma forma. A
Psicanálise, particularmente, trabalha com
o que é negativizado,
aquilo que é excluído
da consciência. O que
acabam formando grandes conglomerados familiares em lugares muito
pequenos. Muitas vezes, não há um
vínculo afetivo, algumas pessoas se
veem compulsoriamente levadas a
ajudar, porque a questão familiar é
mais forte, nem sempre é por afetividade. Percebo claramente o peso que
é receber e sustentar pessoas com as
quais não se tem muito vínculo.
Beira do Rio – A globalização tem
servido para borrar fronteiras. Isso
tem aumentado o etnocentrismo
ou contribuído para o exercício da
relativização cultural?
S.P. – Nós fizemos um congresso
internacional baseado nesse tema justamente pensando nas consequências
psíquicas dos efeitos da globalização,
e isso é uma coisa mundial. A globalização tem um aspecto
que é de aproximação,
mas ela tende a aumentar o etnocentrismo,
porque você não pode
se igualar completamente ao outro, você
Beira do Rio – De
tem necessidade de
onde vem a maioria
manter uma diferença.
dos pacientes atendiEsse apagamento de
dos? Como eles chefronteiras faz com que
gam até o Projeto?
se acirre a necessidade
S.P. – A Clínica de
de estabelecer a difeA nossa forma
Psicologia recebe essas
rença em relação ao
pessoas. Geralmente,
outro. No Brasil, com
de lidar com
elas vêm para Belém
uma experiência de
em busca de escolarimigração constituída,
a diversidade
dade para os filhos e
desde o início, por poé negando a
tratamento de saúde,
vos diferentes e com
muitas vezes, em busca
grande diversidade
diferença.
de melhores condições
cultural, a tendência é
de vida. Eles chegam a
negar a diferença. Mas
um consultório clínico
isso não quer dizer que
ou hospital público por encaminhaa gente não procure se constituir como
mento. No Projeto, estão os pacientes
diferente. Fazemos comparações com
que vêm do interior.
outras nações como se o Brasil fosse
um país onde não existisse racismo.
Beira do Rio – É possível fazer em
Ele existe sim e talvez a nossa forBelém um mapeamento de migranma de lidar com a diversidade seja
tes, ou seja, eles vêm morar em árejustamente negando a diferença ou
as ocupadas por conterrâneos?
procurando negá-la. Nós precisamos
S.P. – Nós não temos esses dados,
é poder dar conta da diferença, pois
mas muita gente vem para Belém,
nela recai essa necessidade de você
porque já tem um parente aqui e
reconhecer e respeitar o outro.
O
Conectados: alunos utilizam rede sem fio na orla do campus universitário, em Belém
Aniversário
Alter do Chão
Ciências para
quem está
começando
Descoberta reserva de água
potável na Amazônia
Clube de Ciências comemora 30
anos de atividades divulgando
Ciências e Matemática para o
público infanto-juvenil. Pág. 8
Cultura
O aquífero está localizado em uma
formação geológica sob os Estados
do Amazonas, Pará e Amapá. Os 86
quatrilhões de litros d'água seriam
suficientes para abastecer 100 vezes
a população mundial. Pág. 10
Tamará Saré/Ag. Pará
Beira do Rio – O que causa maior
sofrimento: a perda do contato com
a cultura do local de origem ou o
processo de adaptação em um novo
contexto cultural?
S.P. – Acho que as duas coisas estão
interligadas. Por exemplo, o novo
contexto cultural com a vida em
Belém, que é uma cidade grande e
cosmopolita, está completamente
interligado a uma dificuldade em se
apropriar de determinados elementos
culturais que possam ser úteis no seu
dia a dia. Ser caboclo – como são
chamados os que são do interior – é
difícil, pois o que marca a sua identidade não são elementos positivos ou
favoráveis. Mas você não consegue,
simplesmente retirar esses elementos
da sua vida, da sua maneira de ser. Esses elementos que são constitutivos.
Mas como você vai fazer com que
eles existam, façam
parte da sua vida numa
cidade como Belém?
Suzana Pastori: "Ser caboclo marca a sua identidade com elementos negativos"
Escola de Música da UFPA
intensifica movimento cultural na
Catedral Metropolitana de Belém.
Pág. 4
Centro de Tecnologia da
Informação e Comunicação da Universidade
Federal do Pará está desenvolvendo diversos projetos com o
objetivo de ampliar e melhorar
os serviços de telecomunicação
nos campi universitários. Entre
eles, está a rede wireless (sem
fio), que garante o acesso gratuito à internet em locais abertos
da Universidade. Já é possível
utilizar o serviço no Campus
Básico, na orla, no Restaurante Universitário e no Ver-oPesinho. Além disso, as contas
de e-mail e sites institucionais
estão com maior capacidade
de armazenamento e a rede de
informação ganhou agilidade e
segurança. Págs. 6 e 7
Saúde
Portas abertas
para música
clássica
Pesquisa
investiga águas
minerais
Nome da reserva foi inspirado na fomosa praia de Santarém
Professores e alunos de Geologia
e Engenharia Sanitária realizarão
estudo sobre a qualidade das águas
comercializadas no Pará. Pág. 11
Psicologia
Entrevista
Karol Khaled
tem a ver com os entraves para esse
resgate de valores culturais
fotos Karol Khaled
Nos últimos 20 anos, a sensação de que vivemos numa aldeia global está
cada vez mais presente. A globalização trouxe consequências para a economia,
para os sistemas governamentais e também para o cidadão. Esse novo mundo,
onde as fronteiras estão desaparecendo, põe em risco aquilo que o indivíduo
tem de mais caro: a sua identidade. Abrir mão da sua cultura para melhor
adaptar-se e sofrer menos com a discriminação tem sido a opção para quem
precisa sair do seu lugar.
O Projeto "Processos identificatórios e diversidade cultural: prosposta
de constituição de um dispositivo terapêutico”, coordenado pela professora
Suzana Pastori, da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Pará,
tem estudado esse processo na realidade amazônica, com pacientes vindos do
interior do Pará. A estratégia de sobrevivência no novo lugar traz um sofrimento
psíquico que não passa despercebido nos consultórios médicos. Em entrevista
ao Jornal Beira do Rio, a professora explica melhor como isso acontece e de
que maneira o Projeto está auxiliando esses pacientes.
Suzana Pastori
conversa sobre os
sofrimentos psíquicos
na globalização Pág. 12
Opinião
Rodolfo Salm discute
os efeitos da construção
da Hidrelétrica de Belo
Monte. Pág. 2
Coluna do Reitor
Carlos Maneschy escreve
sobre o papel da UFPA no
fortalecimento da eduação
básica. Pág. 2
Laboratório
ajuda a lidar
com perdas.
Pág. 9
O
Carlos Maneschy
Que tipo de água está na sua mesa?
[email protected]
A UFPA e o fortalecimento da educação básica
Karol Khaled
nesse processo?
É inegável que as instituições
de ensino superior têm contribuído na
tarefa de garantir melhores condições
de desempenho às ações realizadas no
espaço das escolas básicas. Entretanto,
muito ainda precisa ser feito!
Observe-se, de saída, que às universidades cabe a responsabilidade pela
formação do professor de ensino básico,
seguindo instruções definidas em leis
e normas bem conhecidas. Como nos
anos mais recentes é visível o aumento
das matrículas em cursos voltados às
licenciaturas, e considerando-se que a
educação continuada de professores da
rede escolar tem sido realizada preponderantemente no ambiente acadêmico, a
atuação das universidades no campo da
formação docente tem ganhado mais destaque. O resultado dessa contribuição está
refletido nas estatísticas que revelam os
avanços obtidos na qualificação dos professores atuando na educação básica.
Porém, se esse efeito positivo
deve ser destacado, algumas lacunas verificadas na relação entre ensino superior e
básico são inegáveis, traduzidas no pouco
diálogo e intercâmbio entre educadores
desses níveis de ensino, bem assim na
incapacidade das universidades em apresentar projetos educacionais alternativos
que incorporem e valorizem aspectos de
diversidade e interdisciplinariedade na
apresentação e tratamento dos temas que
compõem os conteúdos das disciplinas e
tarefas escolares.
Dessas constatações, revela-se a
necessidade de um maior envolvimento
e olhar mais atento das instituições de
ensino superior à "pré-universidade".
Experiências desenvolvidas pelos seus
pesquisadores que sinalizem para a melhoria do aprendizado e para a eficácia da
gestão escolar continuam sendo bastante
esperadas.
Se a Universidade Federal do
Pará não tem contribuído para o fortalecimento das ações desenvolvidas no
ensino básico no ritmo e escala esperados, à semelhança de outras instituições,
também tem tido participação expressiva
no processo de formar e capacitar professores para a rede de ensino estadual.
Com um modelo de interiorização
considerado um dos mais eficientes do
País, a UFPA, por quase 30 anos, vem
formando e capacitando docentes para a
educação básica. Essa iniciativa institucional, mesmo avaliada como estratégica
e de resultados extremamente positivos,
não foi suficiente para dar conta do déficit
de professores atuando no ensino básico
sem a requerida formação, em decorrência do número excessivo de professores
leigos em atividade no Estado.
Somente pela intervenção de um
ambicioso programa federal se conseguiria o apoio para dar cabo de tamanha
tarefa com o sucesso devido, o que se es-
OPINIÃO
Rodolfo Salm
pera alcançar com a instituição do Plano
Nacional de Formação de Professores
da Educação Básica (PARFOR).
Esse programa é uma ação do
MEC, em colaboração com as secretarias
de educação e as instituições públicas de
educação superior, para ministrar cursos
superiores a professores sem formação
adequada à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB).
As licenciaturas das áreas de
conhecimento da educação básica serão
ministradas no PARFOR, nas modalidades presencial e a distância: cursos
de 1ª Licenciatura, para professores sem
graduação; de 2ª Licenciatura, para licenciados atuando fora da área de formação e
de Formação Pedagógica, para bacharéis
sem licenciatura.
No Pará, a UFPA se incorpora
ao PARFOR no propósito de reduzir o
número de docentes leigos. Serão mais
de 20.000 professores formados nas mais
distintas áreas, entre quatro e seis anos.
Essa inédita experiência vai exigir um
enorme envolvimento institucional.
E, no final da coluna, um comunicado: no próximo número do Beira do
Rio, a Coluna do Reitor torna-se um
espaço editorial que será compartilhado
com os pró-reitores. Assim, contamos
ampliar a oferta de informação à comunidade universitária, a partir da visão
especializada de cada participante da
administração superior.
[email protected]
Avatar II: a luta contra Belo Monte
ames Cameron, diretor de Titanic e da
badalada aventura ecológico-espacial
Avatar, esteve em Altamira, no final
de março, para conhecer a região onde
se pretende construir a Hidrelétrica de
Belo Monte. Dias antes, o cineasta havia
“implorado” ao presidente Lula que
reconsiderasse a decisão da construção
da monumental obra no Xingu. Ele
dirigiu-se de barco à Terra Indígena Arara,
da Volta Grande do Xingu. Lá, reuniu-se
com índios de várias etnias e, mais tarde,
encontrou-se conosco, os não-índios que
também lutam contra a concretização
deste projeto desastroso.
Para municiá-lo com informações
importantes para esta luta, falamos de
nossas preocupações. Eu fiz questão de
lembrar a extrema fragilidade ecológica
da floresta da bacia do rio Xingu, fragilidade esta que faz com que, nos longos
períodos muito secos, a floresta queime
com facilidade. Assim, as grandes ondas migratórias que acompanhariam a
construção da barragem levariam, em
poucos anos, à destruição da metade de
toda a floresta amazônica. E que isso tudo
faz da campanha contra Belo Monte a
mais importante empreitada ecológica
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA
[email protected] - www.ufpa.br
Tel. (91) 3201-7577
da atualidade.
A reação às declarações de Cameron foi imediata. O jornalista Sérgio
Motta publicou, em seu blog no Monitor
Mercantil, já dia 29, um artigo que começa assim: “Os membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU lideram
na produção e exportação de armas e controlam 95% do arsenal nuclear da Terra.
Os Estados Unidos foram o único país
do mundo a jogar bombas atômicas em
seres humanos. A China ocupou o Tibet,
mas o premiado diretor de Exterminador
do Futuro, Titanic e Avatar, James Cameron, vem ao Brasil dizer que não deve ser
construída a Hidrelétrica de Belo Monte”.
Curiosa (e, por que não, apropriada) é a
comparação da construção da Hidrelétrica de Belo Monte com algumas das
maiores tragédias da humanidade, em
sua lamentável defesa de que também
poderíamos cometê-las. Para o jornalista,
Cameron, ao somar-se aos que protestam
contra o Projeto Belo Monte, “adverte
o Brasil para não crescer, ou então para
crescer com base em óleo e carvão”.
Como se a energia de Belo Monte, que
tem como objetivo final principalmente a
mineração nesta região (e a consequente
11
Saúde
Coluna do REITOR
ensino básico no Brasil apresenta
indicadores de qualidade que
revelam uma realidade ainda
dramática, apesar dos avanços inquestionáveis observados nos últimos 15 anos.
Esse quadro é avaliado por muitos especialistas em políticas públicas como um
dos maiores óbices para que o país possa
ganhar o impulso socioeconômico que
lhe faça emergir e consolidar-se como
uma potência.
Dos registros e gráficos mais
recentes levantados pelo Ministério
da Educação (MEC), ressalte-se, de
modo particular, o número significativo
de jovens entre 18 e 24 anos que não
concluíram o ensino fundamental (em
torno de 25%); o grande número de professores leigos atuando na escola básica
- são mais de 100 mil no Pará; a baixa
percentagem de concluintes no ensino
médio, considerando que menos de 1/3
dos alunos que ingressam na primeira
série desse nível conclui o terceiro ano.
Qual o papel das universidades
no esforço de alteração desse cenário?
De que forma, e em que dimensão, podem elas servir de elemento instituidor
de novas práticas e conceitos pedagógicos que, por meio de procedimentos
e métodos didáticos mais inovadores,
motivem estudantes a perceber a escola como um agente capaz de alterar
e valorizar sua vida, tendo professores
qualificados como referência decisiva
J
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –
destruição da Amazônia), fosse nos trazer
desenvolvimento econômico. Não traria.
Essa energia seria usada, como na história de Avatar, para atender a interesses
alienígenas, voltados à exploração da
bauxita, o nosso “unobtainium” (fictício minério valiosíssimo do filme), por
grandes mineradoras multinacionais que
estão instalando-se rapidamente em toda
a região amazônica.
James Cameron comparou a luta
dos Kayapó que se opõem à usina à dos
Na’vi, povo criado por ele no filme e que
vive na floresta de Pandora. Antes da
vinda do diretor ao Brasil, Marina Silva
já fizera a mesma comparação: “Quem
pensa que a história relatada no filme
Avatar só pode ocorrer em outro planeta,
engana-se: Pandora também pode ser
aqui”, em referência à Belo Monte.
Sou mais pessimista que James
Cameron quanto à tecnologia e ao futuro
da humanidade. Em 2154, não acredito
que estaremos chegando a galáxias
distantes em naves espaciais colossais
para roubar energia de planetas ainda
virgens. Estaremos, na verdade, aqui,
definhando. Seremos uma espécie
ameaçada de extinção pelo longo pro-
cesso de degradação ambiental e por
termos exaurido e contaminado nossas
principais fontes de vida e energia.
Algumas analogias presentes no filme
são perfeitamente didáticas. A minha
preferida é a observação da Dra. Grace
Augustine, a botânica interpretada pela
atriz Sigourney Weaver, em relação ao
Unobtainium: “a riqueza deste mundo
não está no solo, está em toda a nossa
volta, os Na’vi sabem e estão lutando
para defender isso”.
O desfecho desta história real é
difícil de antecipar. Apesar do leilão ocorrido dia 20 de abril, não há nada definitivo
sobre Belo Monte. Nós não temos aqui,
na Terra, aqueles seres gigantes alados,
convocados em Pandora para auxiliar os
Na’vi na sua luta final contra os terráqueos alienígenas. Mas não faltam guerreiros
dispostos a matar e a morrer pela vida do
rio, que também é sagrado para os que
vivemos aqui.
Rodolfo Saml é PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia,
professor adjunto da Faculdade de Biologia da UFPA, Campus de Altamira.
Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e
Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição:
Rosyane Rodrigues; Reportagem: Dilermando Gadelha/Diolene Machado/ Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/ Igor de Souza/Jéssica Souza
(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Moenah Castro/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/
Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Felipe Acosta; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão:
Júlia Lopes/Karen Correia; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.
Pesquisa investiga qualidade de águas minerais vendidas no Pará
Yuri Rebêlo
S
egundo os especialistas, cerca
de 70% do corpo humano é
formado por água. Ela é essencial para o transporte de alimentos,
de oxigênio e de sais minerais, além
de estar presente em todas as secreções (como o suor e a lágrima), no
plasma sanguíneo, nas articulações,
nos sistemas respiratório, digestivo e
nervoso, na urina e na pele. Por isso
é recomendado que um ser humano
adulto tome, em média, dois litros e
meio de água por dia. Para suprir a sua
necessidade diária e por não confiar
na qualidade da água do abastecimento público, boa parte da população
recorre à água mineral. Mas o que é
uma água mineral? Qual a diferença
desse tipo de água para águas comuns,
provindas de lençóis freáticos? Será
que o que nos é vendido realmente
atende aos padrões mínimos para ser
considerado água mineral? Responder
a esses questionamentos é o objetivo
da Pesquisa “As Águas Minerais
na Região Metropolitana de Belém:
diagnósticos e proposições técnicas
e sociais”.
O Projeto, coordenado pelo
professor Milton Matta, do Instituto de Geociências, foi motivado a
partir de um Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC), no qual o aluno
Desaix Paulo Balieiro Silva propôsse a coletar amostras de águas nas
fontes de quatro das principais empresas de água mineral de Belém:
Belágua, Nossa Água, Mar Doce e
Indaiá, e compará-las com amostras
n Potável ou
mineral?
Karol Khaled
Mácio Ferreira
2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010
Classificada como mineral, a água tem maior apelo e valor comercial
de água tirada de garrafas comuns
das mesmas marcas, compradas em
supermercados, porque, assim, seria
possível verificar como os processos
físico-químicos se modificam depois
da retirada da água, do envasamento e
da venda. Para a surpresa dos pesquisadores, foi constatado que nenhuma
das águas poderia ser classificada
como “água mineral”, mas como uma
“água potável de mesa”.
Na época da defesa do TCC,
em 2005, o professor Milton Matta
foi intimado a prestar depoimento
no Ministério Público, acerca desse
problema. O Ministério Público
emitiu uma notificação dando prazo
de 20 dias para que as empresas relacionadas se pronunciassem e tomou
providências após ouvir as partes
interessadas. Agora, o Ministério
Público Federal, no Pará, formalizou
o pedido de mudança nos rótulos das
garrafas de água potável que estão
sendo vendidas como água mineral no
Estado. De acordo com o procurador
federal Bruno Araújo Soares Valente,
a fraude foi descoberta a partir do
estudo realizado na Universidade
Federal do Pará (UFPA).
n Ministério Público comprova irregularidades
De acordo com o Ministério
Público, novas irregularidades foram
encontradas em outras marcas de
águas vendidas no Pará. De acordo
com o Código das Águas Minerais,
aprovado no ano de 1945, “para que
seja considerada água mineral, ela precisa ter determinadas substâncias, em
determinada quantidade, que possuam
uma ação terapêutica comprovada.
Isso não é constatado nessas águas”,
disse Desaix Silva.
Por isso, baseado nessa pesquisa, o professor Milton Matta elaborou
um projeto que visa estudar oito
grandes marcas de água da Região Metropolitana de Belém, sobre diversos
aspectos, tanto geológicos quanto sob
o ponto de vista da engenharia sanitá-
ria, a fim de atestar vários fatores que
podem estar interferindo na qualidade
da água vendida como mineral.
Mas qual a diferença entre
uma “água mineral” e uma “água
potável de mesa”? Segundo o Artigo
1° do “Código de Águas Minerais” do
Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), as “águas minerais
são aquelas provenientes de fontes
naturais ou de fontes artificialmente
captadas, que possuam composição
química ou propriedades físicas ou
físico-químicas distintas das águas
comuns, com características que lhes
confiram uma ação medicamentosa”.
Já o Artigo 3° do Código diz que águas
potáveis de mesa são as águas de composição normal, provenientes de fontes
naturais ou de fontes artificialmente
captadas, que preencham tão somente
as condições de potabilidade para a
região. Dentro desses parâmetros, as
águas coletadas eram “águas potáveis
de mesa”.
Essa similaridade foi facilmente
identificada, pois o professor Milton
Matta já tinha estudos com as águas de
Belém e os resultados foram os mesmos. “Em minha tese de doutorado,
em 2002, estudei as águas subterrâneas
da região de Belém e de Ananindeua,
e conheço-as muito bem. Então, as
águas ditas minerais, das quatro marcas
analisadas, apresentam, exatamente, a
mesma composição que águas subterrâneas comuns de Belém. Nenhuma delas
era diferente”, afirma o professor.
pesquisador conta que, a longo
prazo, o consumo frequente de uma
água com característica tão ácida
pode causar diversos males, como
gastrite, úlcera, câncer estomacal.
De acordo com o professor, essa
não é uma característica somente
das águas minerais, isso acontece
com todas as águas da Amazônia.
De uma maneira geral, as águas da
região são ácidas, quer sejam de
poços, de rios, quer sejam minerais.
Um outro projeto que está sendo
elaborado pela Faculdade de
Geologia, em parceria com a área
de Medicina, estudará, exatamente,
os casos de doenças causadas
pelas águas ácidas da Amazônia,
entre outras doenças de veiculação
hídrica.
O perigo da água ácida
O u t ro a s p e c t o q u e t e m
interessado o professor Milton Matta
é em relação ao pH das águas
minerais vendidas em Belém. Para
o professor, esse é um problema
importante. “Se você pegar qualquer
garrafinha de água mineral, o pH
varia de 3,6 a 4,2. Ora, isso é ácido.
O pH tinha que ser entre 6.5 e 8.5,
segundo a legislação vigente”. O
Mas qual a desvantagem de
classificar o seu produto como água
potável de mesa e não como água
mineral? É o mercado e o apelo comercial. O professor Milton Matta
comenta que as empresas preferem
classificar as águas como minerais
para trazer maior credibilidade e apelo comercial ao seu produto. Mas isso
não é razoável, porque as pessoas, de
uma maneira geral, não tomam água
mineral por causa da mineralização,
mas pela sua potabilidade.
Um fator que deve ser levado
em conta para a classificação da água
como mineral é a ação medicamentosa que essa água proporciona. E
nenhuma das águas analisadas apresentava qualquer tipo de ação dessa
natureza. Segundo Milton Matta, não
existe nenhum problema no processo
de extração, envasamento e comercialização da água, pelo menos em
uma das fábricas que deu acesso aos
estudantes. “Eu vi o trabalho que
eles fazem lá, desde a captação até
o engarrafamento. Não há nenhum
problema com eles.”
O Projeto tem duração de 12
meses, e a proposta é que ele seja
feito durante um ciclo hidrológico
completo, com coletas de água tanto
durante as estações secas, quanto
durante as estações chuvosas. Para
desenvolver a pesquisa, foram elaborados dez planos de trabalho, que
serão executados por dez alunos,
cinco de Geologia e cinco de Engenharia Sanitária. Cada aluno será
orientado por um dos sete professores
envolvidos no Projeto, entre eles, o
próprio Milton Matta.
Assim, será possível apresentar
um resultado mais abalizado com relação à qualidade das águas minerais
vendidas em Belém, levando em consideração diversos parâmetros, como
pH, salinidade, condutibilidade hidráulica, sódio total dissolvido, transparência, turbidez, dureza, oxigênio
dissolvido, temperatura, nitrogênio,
cloretos, ferro, oxigênio consumido
e coliformes, critérios importantes
para a comercialização e a garantia
de qualidade. Dessa forma, também
é possível reafirmar se as águas são
realmente minerais ou não.
O Projeto das águas minerais
conta com a parceria do governo do
Estado do Pará, do Conselho Regional de Engenharia (CREA-PA), do
Departamento Nacional de Produção
Mineral, do Ministério Público, da
Agência Brasileira de Água Mineral, do Congresso de Interação da
Sociosfera da Amazônia, além da
parceria das próprias empresas de
água mineral. Dessa maneira, todos
sairão ganhando: as empresas, pois
ficaria comprovada a qualidade das
águas comercializadas; a sociedade, que obtém informações sobre a
qualidade das águas que consome e
a comunidade científica, que realiza
pesquisas importantes na área.
10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –
Futebol
Amazônia guarda reserva de água potável
Esporte a serviço da Ditadura
U
ma enorme dimensão física
formada por fauna, flora, rios
e diversos ecossistemas, componentes fundamentais de manutenção
do equilíbrio dinâmico da Terra e de
relevância estratégica para toda a humanidade: não é de hoje que a região
amazônica atrai olhares do mundo
inteiro. A biodiversidade da maior
floresta tropical do planeta é tida como
uma fonte inestimável de possibilidades econômicas à espera de estudos e
descobertas. E é nesse cenário que se
localiza o Aquífero Alter do Chão, uma
reserva com cerca de 86,4 quatrilhões
de litros de água subterrânea, suficiente para abastecer a população mundial
em cerca de 100 vezes.
É isso mesmo: 86,4 quatrilhões
de litros de água potável, localizados
em uma formação geológica sob os
Estados do Amazonas, Pará e Amapá.
Esse número impressionante foi obtido com base em pesquisas realizadas
pelo professor André Montenegro
Duarte, do Instituto de Tecnologia, da
Universidade Federal do Pará, como
resultado da sua tese de Doutorado
em Geociências, que investigou a
potencialidade das águas na Amazônia. A tese, orientada pelo professor
Francisco Matos de Abreu, do Instituto de Geociências da UFPA, indicou
números preliminares, os quais ainda
necessitam de confirmação.
O Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos, integrado por André
Montenegro, Francisco Matos e ainda
Tamará Saré/Ag. Pará
Aquífero tem água suficiente para abastecer população mundial
Relações de poder beneficiaram militares e clubes
Diolene Machado
"O
Nome da reserva é homenagem à praia situada em Santarém, na região tapajós
pelos pesquisadores Milton Mata
(UFPA), Mário Ribeiro (UFPA) e
Itabaraci Nazareno (Universidade
Federal do Ceará/UFC), prossegue as
investigações, mas necessita de recursos financeiros para confirmar as informações iniciais reunidas com base no
cruzamento de dados provenientes da
perfuração de poços para a pesquisa
petrolífera e poços de extração de água
construídos em Santarém, Manaus e
outras localidades.
"Os poços da pesquisa de petróleo perfurados pela Petrobras, por
exemplo, foram fontes importantes
de informação, porque, sendo bastante
profundos, fornecem indicações sobre
a espessura dos aquíferos. Já com os
poços para abastecimento, chegamos
a parâmetros hidrogeológicos funda-
mentais para se ter ideia do volume
e da produtividade de água do Alter
do Chão”, explica o orientador da
pesquisa, professor Francisco Matos.
Cerca de 40% do abastecimento de
água de Manaus é originário do aquífero Alter do Chão, como também é o
caso de Santarém e de outras cidades
situadas sobre a Bacia Sedimentar
Amazônica.
n Protegida da contaminação
n Valor estratégico da reserva
O aquífero é um tipo de formação geológica capaz de armazenar e
liberar a água. Há outras unidades que
podem armazenar, mas não permitem
que a água que está dentro delas seja
utilizada. Para fazer uma analogia,
o aquífero seria como uma esponja,
como as que servem para lavar louças
em casa. A esponja fica cheia d'água,
mas se ela for movimentada ou pressionada, a substância é liberada.
O nome Alter do Chão se dá
em referência a uma das mais belas
praias do País, situada na região de
Santarém. Segundo Francisco Matos, a existência desse aquífero já é
conhecida na literatura da área desde
a década de 50. "Ainda não temos
uma avaliação exata sobre a sua real
extensão e a quantidade de água que
contém. A novidade da pesquisa de
André Montenegro é, justamente, o
valor apontado de 86,4 quatrilhões
de litros de água, que é, realmente,
uma coisa fabulosa em termos de
reserva", ressalta o professor Francisco Matos.
As águas subterrâneas representam a maioria das águas no mundo. "Se você pensar, por exemplo, no
caso da Amazônia, as águas visíveis,
ou seja, as contidas nos rios, lagos,
chuvas, representam 16% do total
existente, enquanto 84% correspondem à água subterrânea”, explica
Extrapolando o contexto amazônico e analisando o contexto
mundial, a água é um recurso que,
em grande parte do planeta, está se
tornando escasso. Do total de água
existente no mundo, 97,5% são de
águas que se encontram nos oceanos, ou seja, água salgada, restando
apenas 2,5% de água doce, dos quais,
1,75% se encontra em calotas e geleiras polares. Sobra, portanto, tão
somente 0,75% que ainda precisa ser
repartido entre cerca de seis bilhões
de pessoas (total de habitantes da
Terra).
Em se tratando dessa escassez, o pesquisador da UFPA André
Montenegro Duarte, com base nas
pesquisas realizadas acerca do
aquífero Alter do Chão, propõe um
conceito que visa a preservação das
águas mundiais denominado valor do
"não uso". Esse conceito surgiu há,
mais ou menos, 60 anos, mas ainda
é muito pouco difundido, tanto no
meio econômico como na sociedade
em geral. A definição parte do princípio de que os recursos naturais têm
um valor de uso, direto ou indireto,
como é o caso da água, e o de "não
uso", que é o valor de existência
desse bem.
Isso quer dizer que o recurso
ganha valor e importância pelo simples fato de ser mantido na natureza.
o professor. Isso quer dizer que os
aquíferos são grandes depósitos de
água de qualidade, pois as águas subterrâneas são muito mais protegidas
do que as águas superficiais, uma vez
que estão menos sujeitas a processos
externos de contaminação.
É assim que os aquíferos da
Amazônia, na relação que estabelecem com as outras formas de ocorrência de água, dentro do chamado
ciclo hidrológico, agregam grande
valor ambiental, econômico e estratégico. Além do Alter do Chão,
outro aquífero importante na região
é o denominado Pirabas, situado em
profundidades entre 100 e 120 metros. Ele oferece água de excelente
qualidade na Região Metropolitana
de Belém e é responsável por, aproximadamente, 20% do abastecimento
público.
No Brasil, há outros aquíferos
importantes, como é o caso do Guarani, considerado o maior aquífero
nacional e com grande valor estratégico, pois está em uma região com
grande demanda de água, abrangendo
os Estados de Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
estendendo-se à Argentina, ao Paraguai e ao Uruguai. No Nordeste, estão
os aquíferos Urucuia (BA), Serra
Grande(PI) e Cabeças (MA).
"Para citar um exemplo, pensemos
no Rio Amazonas, cuja extensão é
imensa. Além dos recursos em fauna
e flora que nele podemos encontrar
ou mesmo da própria água que contém, o Rio tem um imenso potencial
de transporte. Esses aspectos lhe conferem valor econômico. E justamente
devido à riqueza que oferece, o Rio
Amazonas também tem valor só por
existir", explica André Montenegro.
No caso do aquífero Alter do Chão,
as dimensões impressionantes que
possui permitem que seja utilizado
de forma sustentável como recurso
econômico e, ao mesmo tempo,
como reserva estratégica.
Em outras palavras, o conceito
do "não uso" gira em torno da consciência da sociedade de que o recurso
natural pode ter grande valia por ser
preservado. E complementa o pesquisador: "o mundo, e a Amazônia
em de um modo especial, não pode
ser visto apenas como um local do
qual se retira o que se precisa ou o
que pode gerar lucro, uma vez que é
um sistema muito suscetível a danos.
É grandioso, mas muito frágil. Nós temos abundância de recursos naturais
que o 'não uso' deles pode possibilitar
uma lógica econômica que privilegie
um desenvolvimento mais justo e
igualitário". A UFPA tem trabalhado
para gerar essa consciência.
Brasil é o país do futebol", "A Inglaterra criou
mas o Brasil aperfeiçoou", dizem os apaixonados por
esse esporte. A professora de História
Sinei Monteiro integra esse time. A
paixão pelo futebol, as relações de
trabalho e os jogos de poder sempre
despertaram sua atenção. Os cinco
anos de estudos sobre o tema, iniciados ainda na graduação, resultaram
na Dissertação de Mestrado “Futebol,
Ditadura e Trabalho: uma análise das
relações políticas e sociais no campo
desportivo paraense (1964 - 1978)”,
apresentada no Programa de PósGraduação em História Social da
Amazônia.
“No Trabalho de Conclusão de
Curso, abordei as torcidas do Clube
do Remo. Na especialização, escrevi
sobre futebol e ditadura. Agora, aprofundei o estudo sobre o tema abordando futebol, ditadura e as relações de
trabalho. Tive, assim, experiência e
leitura para desenvolver um trabalho
mais maduro na pós-graduação”,
explica Sinei Monteiro.
A diversidade de documentação dos arquivos da Biblioteca Arthur
Viana, das atas de entidades desportivas, dos processos e depoimentos, além de uma vasta bibliografia
referente ao objeto de investigação
possibilitaram à pesquisadora fazer
um trabalho com foco no significado
do futebol na sociedade brasileira,
Karol Khaled
Alter do Chão
Jéssica Souza
3
Rivalidade entre o Clube do Remo e o do Paysandu foi responsável pela popularização do futebol no Pará
enfatizando a sociedade paraense
no contexto da Ditadura Militar no
Brasil.
"A ideia de estudar o campo
futebolístico no Pará, neste cenário,
surgiu, justamente, na tentativa de
compreender o futebol como um objeto rico de significado social, político
e cultural, além das relações sociais e
políticas construídas ao longo do século XX, dentro do campo desportivo
paraense", enfatiza a professora.
O futebol fascina as sociedades
desde os primeiros momentos de sua
criação, na Inglaterra, no final do século XIX. Cada sociedade apropriou-
se desse esporte de acordo com suas
vivências culturais e práticas políticas. No Brasil, a chegada do futebol
fez-se por meio de pequenos grupos
ligados a uma elite, como em outros
países. Mas foi ganhando, aos poucos,
contornos mais populares, sendo praticado nos terrenos baldios.
n Construção de identidade nacional na Era Vargas n Mangueirão: a
Dos campos improvisados até
seu reconhecimento pelas autoridades governamentais, como prática
esportiva de grande alcance popular,
não levou muito tempo. Desde a
primeira década do século XX, já
se notava a presença de políticos
nos espaços relacionados ao futebol.
Mas sua utilização como instrumento de propagação política começou
no governo Vargas, na década de 30,
reforçando a expansão desse esporte
na sociedade, como meio essencial
de criação de identidade no Brasil.
Enquanto Getúlio Vargas
buscou no futebol um importante
apoio para efetivar seu projeto de
construção da nacionalidade brasileira, no período militar, o esporte
passou a servir como elemento de
propaganda do governo dentro e fora
do País. "Futebol e Ditadura Militar
conviveram e se beneficiaram, mutuamente, durante o regime implementado pelo Golpe de 1964. O governo
brasileiro se valia do futebol para
sua promoção, já que esse esporte
representava um país imbatível e
em desenvolvimento. Também era
necessário levar até às massas uma
imagem positiva do Golpe.
Mas, ainda que o futebol
tenha servido ao governo como elemento de estratégia política, não se
pode considerar que ele tenha atuado
como o ator que roubou a cena. O
sucesso do governo foi resultado, em
grande medida, da falta de identificação da maior parte da população
com os movimentos armados que
objetivavam derrubar a Ditadura
Militar.
n Século XX: surgem os grandes clubes paraenses
A prática desse esporte, trazido
do continente europeu por homens de
famílias ilustres, também ganhou espaço
entre a elite da capital paraense. Considerar os padrões da Europa como modelo
de civilização era comum na sociedade
brasileira, e Belém também acompanhava esse modelo no momento em que se
vivenciava a riqueza proporcionada pela
exploração da borracha na região.
A difusão desse esporte no Pará, a
partir da primeira década do século XX,
foi resultado, em grande parte, dos festivais esportivos promovidos nos bairros
de Belém e do surgimento de clubes
dirigidos pela elite paraense: em 1903,
o surgimento da Tuna Luso Caixeral,
atual Tuna Luso Brasileira; em 1905, do
Grupo do Remo, atual Clube do Remo e,
em 1913, do Paysandu Foot - Ball Club,
atual Paysandu Sport Club.
O aparecimento desses times foi
decisivo para o início da popularização
do futebol na sociedade paraense. No
entanto, a grande responsável por essa
maior aceitação popular foi a competitividade entre os Clubes do Remo e do
Paysandu Sport Club. Uma rivalidade
construída ao longo do tempo, a partir
do processo de popularização do futebol,
com a criação de clubes, associações,
festivais esportivos e construção de
estádios.
O fim do amadorismo no futebol
brasileiro teve início nos anos 30, com
a saída de muitos jogadores para o fute-
bol europeu, resultando na necessidade
de estabelecer medidas que pudessem
valorizar o jogador de futebol e tornálo um grande profissional. Apesar do
esforço, principalmente da imprensa, em
modificar as relações nada profissionais
dentro dos clubes de futebol, esse assunto tornou-se um problema ao longo das
décadas seguintes.
Em Belém, por volta de 1964,
mesmo os clubes de futebol considerados "pequenos", como o "Júlio César",
já mantinham jogadores profissionais.
Mas ainda não havia uma rigidez dos
clubes paraenses com relação ao caráter
profissional do jogador, já que muitos
eram emprestados para participar de
torneios de bairros.
"praça esportiva"
Com a criação dos primeiros
clubes, havia, também, a necessidade
de se criar uma "praça esportiva" para
a realização das competições e abrigar grupos de dirigentes do esporte.
Foi durante o período militar que o
futebol ganhou políticas de incentivo
para sua manutenção e crescimento,
a exemplo da construção de estádios
como o "Mangueirão", no Pará.
O processo de construção
deste estádio teve interferência de
autoridades militares e políticos
influentes paraenses. O projeto de
construção do "Mangueirão" foi
assumido em 1969 pelo engenheiro
Alcyr Meira, que recebeu essa tarefa do governador Alacid da Silva
Nunes. Em 1976, a disputa em torno
do nome foi motivo de discussões
entre políticos paraenses. Em 25
de fevereiro de 1978, o estádio foi
inaugurado como “Alacid Nunes”,
em homenagem ao iniciador do
projeto. Porém, essa nomeação
não alcançou popularidade, pois o
torcedor paraense adotou o nome
"Mangueirão", sendo utilizado até
hoje. A construção de um estádio
estadual servia como via de popularidade do governo e de promoção a
cargos políticos, além de expressar
a ideia de grandiosidade do discurso
político entre os militares.
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –
Cultura
Psicologia
Laboratório ajuda a entender perdas
Música na Catedral atrai fiéis
Equipes preparam médicos e pacientes para suportarem a dor
Killzy Lucena
P
Projeto está aberto a todos os grupos que queiram apresentar repertório instrumental e clássico
Cavaille-Coll.
O Projeto não tem como finalidade criar um grupo exclusivo
para se apresentar nos recitais, mas
englobar os grupos musicais já
existentes em Belém. Para participar
do Projeto, os grupos interessados
devem mandar para o coordenador
uma pauta com o repertório das
músicas que pretendem tocar, preferencialmente sacras ou instrumentais
e datadas do período clássico ou
anterior.
"A música sacra é uma expressão artística riquíssima. Ela
leva o homem a entrar no contexto
n Curso terá encerramento com concerto aberto
O Projeto também oferece
um curso de órgão, que atende a
estudantes avançados de piano e
profissionais já graduados. O curso,
que já está na sétima aula, acontece
quinzenalmente na Catedral da Sé e
é ministrado pelo professor Guido
Oddenino, graduado em órgão pelo
Conservatório de Torino, na Itália.
"Nas aulas, aprendemos a manusear
e a utilizar toda a potencialidade do
órgão Cavaille-Coll, assim como a
executar os repertórios distribuídos
por ele", diz André Gaby, que também é aluno do curso.
Como encerramento do curso,
será realizado um concerto de órgão
na Sé, no dia 1º de julho. “Vai ser
bastante interessante. Não me lembro de ter assistido a um recital de
órgão solo, em Belém, nos últimos
15 anos”, diz o professor André
Gaby.
Os participantes do Projeto
colaboram com os recitais, com o
curso de órgão, com a schola cantorum, que é o coral da Sé, e com
os cantos gregorianos na missa das
9 horas da manhã, na Catedral. Segundo o professor, essa colaboração
também irá gerar pesquisas sobre
a relação entre os fiéis, a Igreja e
os cantos, que são caracterizados
por uma melodia suave e cantados
em uníssono. Pode participar das
missas quem faz parte do Projeto
e também quem tiver interesse e
conhecimentos musicais sobre os
cantos gregorianos.
O "Música na Catedral" já
teve duas apresentações. A primeira, em março, aconteceu nos salões
pontificais e seus participantes interpretaram peças de Bach para violino
e viola, acompanhadas de piano. O
recital reuniu um público de cerca
de 20 pessoas.
A segunda apresentação, que
contou com a participação do Madrigal da UEPA e da Camareta Instrumental da EMUFPA, aconteceu
em abril, em homenagem à Páscoa.
Entre as músicas que foram tocadas,
estão “A Missa em Si bemol Maior”,
do compositor brasileiro José Maurício Nunes Garcia, e "Membra Jesu
Nostri", uma música do alemão Buxtehude, formada por sete cantatas,
cada uma representando uma parte
do corpo de Cristo. Esta apresentação foi na nave central da Igreja
da Sé e teve mais da metade de seu
espaço ocupado pelo público.
Para André Gaby, não há uma
grande variedade de eventos culturais para a parcela da população que
tem interesse em música clássica e
isso gera uma demanda reprimida
para esse tipo de evento. Segundo
o professor, o fato de o público ter
Órgão é objeto de pesquisa
dobrado da primeira para a segunda
apresentação mostra que existe interesse da população por apresentações com repertório clássico e o que
estaria faltando para o Projeto seria
uma maior divulgação, “cultura não
é uma questão de poder aquisitivo,
mas está relacionada com a educação, com a família”. Por esse motivo, os recitais têm entrada franca.
da religião. Nada tão adequado
como esse repertório para religare
(religar). O ser humano sente necessidade de ter uma experiência com
o extrassensorial, seja qual for a
sua crença", afirma André Gaby, ao
explicar a escolha da música sacra
como foco principal do Projeto.
Saiba Mais Sobre O
Cavaille-Coll
Aristide Cavaille-Coll foi um
artesão francês, do século XIX,
responsável por revolucionar a
produção de órgãos e a composição
de músicas para o instrumento.
Essa revolução foi possível porque
o artesão criou um novo sistema
de funcionamento para o órgão.
Contudo, o que torna o instrumento
paraense tão especial, além de ser
o maior da América Latina, é o fato
de ser um dos pouco Cavaille-Coll,
no Brasil, com sistema mecânico. "Esse
sistema mecânico é o mais antigo que
existe, inclusive quando você toca
todos os registros, o órgão fica muito
pesado, mas ele tem todos aqueles
timbres perfeitos para tocar música
francesa daquele período. Cesar
Frank compôs músicas especificamente
para esse tipo de órgão", diz André
Gaby.
Cavaille-Coll foi, também,
o primeiro fabricante, no mundo, a
produzir órgãos em larga escala.
Ele criou uma estrutura de montagem
em que as peças eram enviadas
para serem montadas no país que
encomendou o instrumento.
Para a divulgação do órgão,
o professor André criou o blog
musicanacatedral.blogspot.com,
no qual serão publicadas todas as
pesquisas e fotografias produzidas
durante o Projeto.
erder é algo a que, definitivamente, o ser humano não
está acostumado. Não está
e nunca estará, independente de
a perda ser grande ou pequena.
Não somos educados para perder
– da mais simples aposta ao ente
querido. Quando isso acontece,
os traumas gerados tornam-se um
problema. Buscando desenvolver
dispositivos preventivos quanto às
manifestações complicadas do luto
é que foi criado, em novembro de
2008, o Laboratório de Estudos do
Luto e Saúde (LAELS).
O objetivo do Laboratório
é fomentar diálogos interdisciplinares acerca de saberes e práticas
relacionadas às condições de luto,
crises e de promoção de saúde. O
Laboratório também disponibiliza os Grupos de Estudo do Luto
(GEL), o Ciclo de Palestra, os Grupos de Suporte em Enfermarias,
prestando assistência aos familiares de pessoas que se encontram
internadas em estado grave, em
cuidados paliativos ou que foram
a óbito.
O trabalho é desenvolvido
em parceria com o Serviço de Psicologia do Hospital Universitário
João de Barros Barreto (HUJBB)
e com o curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psico-
n Atendimento em
hospitais públicos
Alexandre Moraes
N
a Idade Média, quando a
Igreja e os reis eram detentores do poder supremo, os
grandes espetáculos de música, dança e artes cênicas eram apresentados
nas catedrais ou nos salões de palácio. Com o surgimento da burguesia,
após a Revolução Francesa, foram
criados os teatros, que passaram a
dividir o circuito cultural com as
instituições clássicas.
Já na contemporaneidade e
no auge do capitalismo, a cultura
passou a ser vista como uma manifestação fútil que vai de encontro
aos cânones de funcionalidade do
sistema econômico vigente. Resgatar os movimentos culturais da época
clássica e a importância de uma
expressão artística que serve para a
reflexão e o enriquecimento intelectual do homem é um dos objetivos do
Projeto "Música na Catedral".
O Projeto nasceu de uma
parceria entre a Escola de Música
da UFPA (EMUFPA) e a Catedral
Metropolitana de Belém, cujo padre responsável tinha a intenção
de organizar recitais no local, às
quintas-feiras, para intensificar o
movimento cultural na Catedral e
na Cidade Velha. Segundo o coordenador do Projeto, professor André
Alves Gaby, o Música na Catedral
tem o intuito não só de produzir os
recitais, que acontecem numa quinta
de cada mês, mas também pesquisar sobre a Igreja e o seu órgão, o
Fotos Alexandre Moraes
Catedral Metropolitana de Belém abre as portas para a música clássica
Dilermando Gadelha
9
Luto é vivenciado de forma diferente por cada pessoa
logia, da Universidade Federal do
Pará (UFPA), dentro da linha de
pesquisa “Prevenção e Tratamento
Psicológico”. A coordenação é da
psicóloga Airle Miranda, professora da Faculdade de Psicologia.
As reuniões do Laboratório
acontecem no HUJBB, sendo que,
por meio dos Grupos, profissionais
e estudantes têm a oportunidade
de reflexão e de estudo sobre a
temática da morte e do morrer.
Em função das demandas de outras
instituições de saúde, os Grupos
de Estudos do Luto foram implantados também no Hospital de
Clínicas Gaspar Viana (FHCGV),
na Santa Casa de Misericórdia do
Pará (FSCMP) e no Hospital Ophir
Loyola (HOL).
n Processo de "cicatrização" pode levar anos
Segundo Airle Miranda, os
temas sobre perdas são amplos, podendo envolver a perda de saúde ou
óbito do paciente, o rompimento dos
vínculos afetivos significativos ou a
perda de um bem material, de um
animal de estimação e, até mesmo,
outras perdas simbólicas. O luto,
por sua vez, é o processo em que vai
haver um deslocamento da libido
dirigida àquele objeto de amor, a
novos objetos. Pode ser compreendido, segundo alguns autores, como
um processo de cicatrização de uma
“ferida”. “O pesar pode ser entendido
como pensamentos e sentimentos
relacionados e decorrentes de uma
perda significativa. Sua expressão
nas áreas biopsicossocial, ocupacional e espiritual é denominada de
luto, que será vivenciado de modo
diferente por cada pessoa”, explica
a professora.
A psicóloga lembra que as
pessoas acreditam que só vai morrer
aquele que estiver na UTI. Estar na
UTI significa que você está precisando de cuidados intensivos e pode
morrer ou não. A sociedade não consegue lidar com o fato de que todos
vão morrer. Para que isso acontecesse, teríamos de passar por um Processo de Elaboração, que está dividido
em três fases: o aceite cognitivo da
perda (saber que se vai morrer), o
aceite emocional da perda (saber
que pessoas queridas vão morrer)
e a harmonização dos mecanismos
internos e externos para que a pessoa
se acostume à nova realidade.
De acordo com a literatura
médica da área, um óbito envolve,
pelo menos, cinco lutos de pessoas
próximas e por um tempo que pode
variar de meses a anos. Alguns autores falam em dois meses, mas Airle
Miranda observa que a mãe da Isabela Nardoni, Ana Carolina Oliveira,
ainda vivencia o luto e a morte da
filha mesmo passados dois anos.
Citando Allá Bozarth-Campbell, Airle Miranda diz que "a dor é
suportável quando conseguimos acreditar que ela terá fim e não quando
fingimos que ela não existe". Por isso
é natural que as pessoas mudem de
comportamento e sintam-se saudosistas, chateadas, angustiadas, incapazes
de trabalhar, sem apetite ou com muita fome e, como não encontram um
espaço social para enfrentar a perda
de frente, complicam mais ainda o
processo de cicatrização.
n Equipe médica pode associar o óbito à falha
"Encarar a perda é doloroso,
mas é tarefa de todos, principalmente dos profissionais da saúde,
os quais podem, consciente ou inconscientemente, associar o óbito
do paciente à falha da equipe. A
morte de um paciente é significativa
para todo mundo que se vinculou
a ele, até mesmo para o médico,
porque há apego na relação construída médico-paciente”, afirma Airle
Miranda.
A professora diz que superar
a morte é algo que varia de pessoa
para pessoa, mas, em geral, as perdas
trágicas e prematuras vão impactar
sobremaneira quem está vivo. Quem
está internado há muito tempo acaba
criando um espaço de construção do
luto para familiares e conhecidos,
período conhecido como luto antecipatório. Contudo, quando se trata de
uma perda trágica, quando um avião
explode ou some, por exemplo, as
pessoas rejeitam o luto, porque não
acreditam no que aconteceu, por ser
trágico demais.
“A primeira tarefa de atendimento à pessoa que perdeu alguém
é contribuir para o contato com a
realidade, pois isso favorece que
ela se certifique de que a perda
aconteceu. Quando o caso envolve
o desaparecimento do corpo, será
mais difícil, porque velar, prestar
homenagens e enterrar favorece o
processo de separação. Mas, sem o
corpo, fica a fantasia de que a pessoa
não morreu”, explica a professora.
A primeira experiência de pronto atendimento ao enlutado em Belém,
segundo Airle Miranda, aconteceu
no Hospital Universitário Bettina
Ferro de Souza (HUBFS), de 2004 a
2008. Discentes do curso de Graduação em Psicologia, da UFPA, foram
capacitados para fazer intervenções
nas emergências, prestando o pronto
atendimento psicológico àqueles que
vivenciavam a dor. Em quatro anos,
foram atendidos 175 pacientes, a
maioria do sexo feminino. Alguns pacientes, entretanto, eram encaminhados
a outras unidades por apresentarem um
transtorno depressivo maior.
Do total de atendimentos feitos,
24% chegaram por demanda espontânea, 76% foram encaminhados pelo
Hospital e por outras instituições,
46% dos eventos estavam associados
à morte de pessoas significativas, e
destes, 23% apresentavam sintomas
psiquiátricos, como ataques de pânico
recorrentes e limitantes ou até mesmo
ideação ou tentativa de suicídio.
“Foi um serviço pioneiro, e
sentimos a necessidade de ampliá-lo
e trabalhar o luto antecipatório. Nesse
sentido, quando reunimos com os
profissionais e dialogamos sobre o
processo de luto, estamos atendendo
indiretamente o paciente, nas quatro
instituições em que os Grupos estão
presentes. Quanto à experiência do
pronto atendimento, constatamos a
necessidade de que o serviço esteja
disponível com equipes multiprofissionais e interdisciplinares, com
formação específica ao cuidado em
emergências biopsicossociais”, conclui
a psicóloga.
Calendário de
palestras para 2010
Para fazer inscrição, basta enviar
o nome completo para o endereço
[email protected]
30.06.10 - Narcisismo e Luto - Dra.
Ana Cleide, psicanalista, coordenadora
do Laboratório de Psicopatologia
Fundamental da UFPA, docente da
UFPA/IFCH/FP
25.08.10 - Fenomenologia da Violência
e do Luto - Dra. Adelma Pimentel,
coordenadora do Nufen e do Laboratório
de Desenvolvimento Humano da UFPA,
docente da UFPA/IFCH/FP.
29.09.10 - Demandas quando da perda
de uma pessoa querida - Dra. Danielle
Moura, psicóloga clínica.
27.10.10 - Aids e morte na
contemporaneidade - Dra. Lúcia Helena
Alves, psicóloga clínica.
24.11.10 - Grupo de Estudos do Luto
da FSCMP: a roda acontecendo - Dra.
Jacilene Casseb Silva e Dr. Victor A.
Cavaleiro, terapeuta ocupacional,
docente da UEPA e Unama.
1.12.10 - A criança cardiopata e
seus lutos - Dra. Karla Aita, terapeuta
ocupacional, docente da UEPA.
8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –
Energia
Comemorações
Projeto aproxima Ciências e Matemática de público infanto-juvenil
Acervo Projeto
1
979. O Brasil estava passando por
um dos períodos mais obscuros
da sua história: a Ditadura Militar.
As universidades perdiam seu caráter
de espaço de livre circulação de ideias.
Paralelo a isso, a falta de políticas públicas em educação desencadeava um
crescente processo de sucateamento,
como explica a professora Terezinha
Valim, “foi um período muito crítico.
As universidades não tinham nem
programas para financiamento de
projetos”.
Apesar de ser um período em
que as pessoas não se sentiam à vontade para dizer o que pensavam e,
menos ainda, para propor mudanças
para melhorar o diálogo da universidade com a comunidade, uma grande
ideia surgiu. Uma turma do curso
de Licenciatura Curta em Ciências
Naturais, orientada pela professora
Terezinha Valim, criou o Clube de
Ciências da Universidade Federal do
Pará (CCIUFPA). Um Projeto de Ensino, Pesquisa e Extensão que oferecia
aos estudantes de licenciatura a oportunidade de atuarem como professores-estagiários e poderem experimentar,
em sala de aula, atividades educativas
inovadoras. Aos estudantes do ensino
fundamental e médio que participavam
como sócios-mirins, o Clube oferecia o
n Aberto para
todos os cursos
Atividades acontecem aos sábados pela manhã, no Campus Guamá
prazer de aprender ciência por meio de
brincadeiras, passeios e experimentos,
investigando problemas – em vez de,
simplesmente, decorar conceitos e
fórmulas. O Clube iniciou suas atividades de forma modesta e, rapidamente,
passou a atender um grande número
de estudantes.
A criação oficial ocorreu em fevereiro de 1981, mas, de fato, são mais
de 30 anos de atividades. Na falta de
uma data exata para comemorar o ani-
versário, o ano de 2010 foi escolhido
pelos coordenadores para a realização
das atividades comemorativas. A primeira delas aconteceu em abril, durante
a aula inaugural que reuniu professores,
pesquisadores, professores-estagiários,
diretores de escolas, pais e alunos. Na
ocasião, a professora Terezinha Valim,
homenageada pela equipe do Projeto,
apresentou a trajetória de sucesso do
Clube e a sua importância para a Instituição e para a sociedade. n Estágio é oportuniade para ensinar e aprender
Nas décadas de 1970 e 1980,
os estágios docentes aconteciam
somente ao final dos cursos de Licenciatura, que eram divididos entre
disciplinas específicas e disciplinas
para formação do professor. Na
visão de Terezinha Valim, esse modelo prejudicava bastante a formação
profissional dos egressos das licenciaturas. “Os estudantes reclamavam
dizendo que não tinham aprendido a
ser professor durante o curso”, conta
a professora.
Desde sua criação, entre os
principais objetivos do Projeto, estão a Iniciação Científica no ensino
básico e a formação de professores.
Estudantes de qualquer licenciatura
podem participar como professor-estagiário e desenvolver atividades
pedagógicas para ensinar Ciências a
crianças de oito a 17 anos. Formam-se turmas interseriadas, coordenadas
por quatro ou cinco professores-estagiários e um professor orientador,
que ajuda no processo de preparação
das aulas e seleção de atividades.
Ao longo da semana, professores e
estagiários reúnem-se para fazer o
planejamento das aulas que acontecem nas manhãs de sábado. A estudante do 3º semestre de Ciências Sociais, Deizeane
Costa, ainda não teve disciplina de
Docência, mas já sente vontade de
ter experiências em sala de aula.
A professora-estagiária, novata no
Projeto, avalia a experiência no Clube como muito gratificante. “É uma
abordagem multidisciplinar. Na próxima aula, por exemplo, vamos falar
sobre aranhas e eu vou falar sobre ‘a
sociedade das aranhas’, então, cada
um ensina e aprende um pouco. Eles
perguntam coisas que a gente não
se preparou para responder, então,
pesquisamos e respondemos na aula
seguinte e, assim, eu também aprendo”, explica a estudante. Além das aulas semanais, o
Projeto inclui, no seu calendário, uma
gincana científica que acontece em junho. Nela, os estudantes podem rever
o que foi ensinado no primeiro semestre e testar seu aprendizado por meio
de jogos educativos, desafios lógicos
e um quiz (jogo de perguntas) sobre
Ciências. Em novembro, o grupo se
reúne e viaja para trocar conhecimento com comunidades ribeirinhas. É
o Ciência na Ilha. “Nós priorizamos
mostrar a explicação científica para
situações de seu cotidiano: Por que
certos tipos de vegetação crescem lá e
não em outros lugares? Por que algumas ilhas do arquipélago têm formato
alongado? Entre outras questões”,
explica o professor Jesus Brabo, ex-coordenador do Projeto.
Trajetória do Clube de Ciências
1979
1984
1987
2002
2003
Dia 12 de
setembro,
aconteceu a
primeira aula
do Clube.
Curso de Formação Continuada para
professores
da capital e
dos municípios
paraenses.
Início da
interiorização,
aprovado
pela CAPES,
em 15 municípios do
Estado.
Aprovada a
criação do
Mestrado em
Educação em
Ciências e
Matemáticas.
Criação do
Centro de
Formação de
Professores
de Ciências
da Educação
Básica.
2008
Aprovado o
Doutorado
em Educação
em Ciências e
Matemáticas.
2009
2010
Criação do
curso de
Licenciatura
Integrada
em Educação
em Ciências,
Matemática e
Linguagens.
Transformação do
NPADC em
Instituto de
Educação em
Matemática e
Ciência.
Atualmente, as aulas acontecem aos sábados pela manhã, em salas
do Bloco Básico da UFPA, cedidas
pelo Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas (IFCH). São mais de 230
sócios-mirins e 32 professores-estagiários. Para participar, o estudante
de graduação deve estar cursando, no
mínimo, o terceiro semestre e estar
matriculado em alguma licenciatura. Segundo Cristhian Paixão, atual
coordenador do Projeto, desde 2000,
o Clube aboliu a preferência por
estudantes de licenciatura da área de
Ciências Naturais e Pedagogia. Atualmente, há professores-estagiários
dos cursos de História, Geografia,
Ciências Sociais, Letras, entre outros. “Não podemos deixar de fora
estudantes que queiram participar. O
que realmente conta é a dedicação e,
acima de tudo, a vontade de aprender
junto com outros”, comenta o coordenador.
Durante esses 30 anos, o Clube
de Ciências da UFPA fomentou várias
discussões e abriu espaço para as
pesquisas sobre educação em Ciência
e Matemática. São dissertações que
discutem desde a precária formação
e condição de trabalho dos professores na rede pública, até a relação dos
alunos em um ambiente democrático,
como o do Clube. As publicações
estão disponíveis para consulta no
Banco de Dissertações da Biblioteca
da Universidade. Além de pesquisas
na área, o Clube também fomentou o
acesso de estudantes a programas de
bolsas, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
Júnior (PIBIC-Jr.). Vários sócios-mirins já receberam ou ainda recebem
bolsas para desenvolver trabalhos
que tiveram início no Projeto.
Para este ano, as novidades
são: o lançamento de dois livros sobre
o Clube, um com textos e outro com
fotos; e a aproximação do Clube com
os pais dos sócios-mirins. A proposta
é usar a biblioteca, pouco visitada aos
sábados, para realizar atividades de
leitura e Oficinas de Redação com
os adultos enquanto eles aguardam
os filhos.
Interiorização – Em 1984, foi realizado, em Belém, o primeiro curso de
Formação Continuada para Professores de Ciências e Matemática. O
curso pretendia disseminar as ideias
produzidas no CCIUFPA a outros
professores de Ciências e Matemática
e, dessa forma, incentivar a criação de
novos clubes na capital e no interior
do Estado. Atualmente, existem sete
clubes de ciências mesorregionais
– também chamados de Centros
Pedagógicos de Apoio ao Desenvolvimento Científico (CPADC) - em
atividade, nos municípios do interior:
Abaetetuba, Breves, Bragança, Castanhal, Santarém, Marabá e Moju.
Muitos recebem apoio da prefeitura
local ou do governo do Estado.
UFPA tem centro de eficiência energética
Pesquisa e qualificação de mão de obra estão entre as atividades
Igor de Souza
O
modelo de desenvolvimento
humano é fortemente dependente do uso dos recursos
energéticos não renováveis, tais
como petróleo, carvão mineral e gás
natural. Todos foram tão utilizados
que, atualmente, apresentam sinais
de exaustão. Some isso ao fato de que
esses recursos energéticos são apontados como os principais causadores
do agravamento do efeito estufa e,
consequentemente, do aquecimento excessivo da Terra. O que fazer
então?
No Brasil, uma das respostas
encontradas pela Eletrobrás é o investimento em centros nacionais de
pesquisa em eficiência energética,
a partir de convênios com universidades federais. O primeiro foi o
Centro de Excelência em Eficiência
Energética (Excen), localizado na
Universidade Federal de Itajubá
(Unifei/MG), inaugurado em 2006, e
o segundo, implantado em abril deste
ano, na Universidade Federal do Pará
(UFPA). Estamos falando do Centro
de Excelência em Eficiência Energética na Amazônia (Ceamazon).
O convênio entre a Eletrobrás
e a UFPA começou em fevereiro de
2006. As obras para construção do
prédio do Ceamazon iniciaram em
EM DIA
Alexandre Moraes
Clube de Ciências comemora 30 anos
Moenah Castro
5
Coimbra
Até 2011, todos os laboratórios estarão em funcionamento
dezembro de 2008, resultado de um
investimento de, aproximadamente,
R$5 milhões de reais. Coordenado
pela professora da UFPA Maria
Emilia Tostes, o Centro é constituído
por oito laboratórios voltados para
pesquisa, desenvolvimento e formação de recursos humanos na área, sob
a perspectiva do uso mais eficiente
dos recursos energéticos disponíveis,
levando em conta as características
socioeconômicas e ambientais da
região amazônica.
Além de ser o segundo Centro
de Eficiência Energética do País, o
Ceamazon dá início às atividades do
Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT-Guamá), onde está inserido.
O PCT-Guamá é um projeto idealizado entre pesquisadores da UFPA
e o governo do Estado do Pará, cujo
objetivo é viabilizar um ambiente de
apoio à criação e consolidação de
empresas intensivas em tecnologia e
ambientalmente adequadas para o Estado. Além da área energética, o PCTGuamá terá como focos prioritários
de atuação as áreas de biotecnologia,
tecnologia e sistemas de informação,
comunicação e tecnologia mineral.
n Formação de recursos humanos é prioridade
Fazem parte da equipe do Ceamazon professores, alunos de graduação e pós-graduação, os quais atuam
no desenvolvimento de pesquisas
voltadas para a eficiência energética
na indústria, comércio, edificações,
sistemas de geração, transformação e
distribuição de energia. A professora
Maria Emilia Tostes explica que “o
Ceamazon é, antes de tudo, um centro
de formação de recursos humanos
para a Região Norte. Além disso,
temos a prestação de consultorias
para empresas, indústrias, comércios
e cidadãos que anseiam ter, em suas
residências, um melhor aproveitamento da energia e não sabem como
fazer isso".
A eficiência energética é uma
das temáticas mais discutidas atualmente entre pesquisadores, empresários e governos mundiais, que
anseiam a utilização de energia disponível com responsabilidade, sem
desperdício. “Eficiência energética
é você ter sensores de presença no
ambiente, é ter uma lâmpada acesa
somente se a sua iluminação estiver
sendo utilizada. Na indústria, não
se tem eficiência energética quando,
dentro de uma planta industrial, há
vazamento de gás, há contatos ruins
nas instalações, provocando o gasto
exagerado de energia”, exemplifica
Maria Emilia Tostes.
Nas edificações, há exemplos
partindo da observação das cores de
parede, teto e piso, as quais devem
ser claras para o aproveitamento da
luz natural. "Eficiência energética é
arquitetar espaços onde haja circulação de ar e protetores que impeçam
a incidência direta da radiação solar
nos interiores, minimizando o uso da
refrigeração artificial”, acrescenta.
n Convênios beneficiam panificação e cerâmica
Atualmente, estão em pleno
funcionamento o Laboratório de
Sistemas Motrizes Industriais e o
Laboratório de Modelagem e Simulações em Eficiência Energética. Este
último trabalha com empresas do
setor elétrico no intuito de minimizar
as perdas nas redes de transmissão e
distribuição de energia, para que retarde a construção de novas usinas e
evite o desmatamento. O Laboratório
de Modelagem trabalha, também,
com estudos para a implantação de
parques que utilizem a energia proveniente da circulação da atmosfera,
ou seja, do vento, a chamada energia
eólica.
Já o Laboratório de Sistemas
Motrizes Industriais trabalha com os
principais sistemas presentes dentro
da indústria, que são as correias trans-
portadoras, o sistema de compreensão
industrial, de exaustão e bombeamento. Dentro deste laboratório, existem
réplicas reais desses sistemas, as quais
possibilitam a reprodução do que
acontece dentro das indústrias sem
que elas precisem parar a produção
para verificar a melhor forma de viabilizar a eficiência energética, como a
utilização da automação industrial.
Dessa forma, o Ceamazon
efetua demonstrações de tecnologias
de eficiência energética e suas aplicações, tanto em laboratório quanto em
campo, disponibilizando procedimentos, normas e padrões para processos
que propiciem o uso mais eficiente da
energia, assim como a verificação de
indicadores de vazamentos, curtos-circuitos, rompimento de isoladores
e outros problemas que provocam o
desperdício energético. “O importante
é possibilitar que os proprietários enxerguem se há o desperdício de energia dentro de suas plantas industriais,
comércios e residências”, comenta
Maria Emilia Tostes. A previsão é que,
até 2011, os oito laboratórios estejam
em pleno funcionamento.
Como exemplo de atuação do
Ceamazon no âmbito de consultoria,
pode-se citar os convênios estabelecidos com os setores de panificação e
de produção de cerâmica vermelha, os
quais serão focos de desenvolvimento
de pesquisas tecnológicas para melhorar seus processos a partir da eficiência
energética. No segundo semestre
de 2010, o Centro realizará alguns
cursos, entre eles: “Gestão energética
para processos industriais” e “Gestão
da iluminação pública”.
Estão abertas, até 22 de junho,
as inscrições para o Programa
CNPq/ Universidade de Coimbra
para realização de Doutorado -Sanduíche . As áreas apoiadas
são Biologia Molecular ou Celular, Direito e Neurociências. O
objetivo é apoiar o intercâmbio
entre grupos de pesquisa brasileiros e portugueses. Mais informações no site http://www.cnpq.
br/editais/ct/2010/coimbra.htm
Margens
A Revista Margens, do Campus
de Abaetetuba, está recebendo
trabalhos para o seu próximo
número. Os artigos devem ter a
educação ambiental como tema.
Os trabalhos devem ser enviados
até o dia 19 de junho. Mais informações [email protected] ou http://
www.ufpa.br/nupe/Revista.htm
História
No período de 1º a 3 de julho,
acontece, em Mocajuba, o I Encontro de História e Educação.
O objetivo é estimular a criação
de uma rede de discussão sobre
ensino e constituição histórica
das populações na Amazônia
Tocantina. Mais informações nos
sites www.encontrohistoriaeeducacao.blogspot.com e www.
historiaufpamocajuba.blogspot.
com
Mestrado
UFPA lança o primeiro mestrado
em Arquitetura e Urbanismo da
Região Norte. A expectativa é
institucionalizar a pesquisa científica em Arquitetura e Urbanismo na Universidade e fortalecer
o ensino de graduação. O curso
deverá iniciar suas atividades
em agosto.
Prêmio
A professora Silvia Maués Santos Rodrigues, do Grupo de Estudo de Transtornos de Humor
e Ansiedade, do Instituto da
Ciências da Saúde da UFPA, recebeu prêmio no XV Congresso
Médico Amazônico, realizado
em Belém. O reconhecimento
veio com a Monografia “Perfil
sócio-demográfico e transtornos
psiquiátricos menores de adolescentes grávidas no município de
Belém”.
6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2010 –
7
Tecnologia
UFPA investe em tecnologias de informação e comunicação
Projetos do CTIC criam novos serviços e ampliam área de cobertura de internet sem fio
A
Universidade Federal do Pará
é um espaço dedicado à formação profissional e à produção
e divulgação de conhecimento. As
tecnologias de transmissão e compartilhamento de informações são importantes ferramentas que auxiliam na
comunicação e no compartilhamento
de ações e informações entre professores, alunos, técnico-administrativos,
dirigentes e parceiros da Instituição. O
Centro de Tecnologia da Informação
e Comunicação da UFPA (CTIC)
tem atuado na ampliação, melhoria e
criação de redes e serviços de telecomunicação nos campi universitários
e consolida-se, também, como uma
referência na inovação tecnológica.
Já está em fase de funcionamento e ampliação a rede wireless
(sem fio) da UFPA, a qual dará acesso
gratuito à internet, em locais abertos
da Universidade, com foco principal
para as salas de aula. A tecnologia
de uso de rede sem fio corporativa é
um projeto base em softwares livres,
desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa
em Redes de Computação (Gercom)
da Faculdade de Ciência da Computação, do Instituto de Ciências Exatas
e Naturais (ICEN), cuja tecnologia foi
transferida ao CTIC.
O Campus Básico, a orla da
UFPA, incluindo o Restaurante Universitário, e o Ver-o-Pesinho já têm acesso
à internet sem fio gratuitamente. Para
utilizar o serviço, basta procurar o sinal
n CTIC aumenta capacidade de sites e e-mails institucionais
Fotos Karol Khaled
Glauce Monteiro
Rede wireless já está disponível na orla e no Campus Básico, incluindo o RU e o Ver-o-Pesinho
da "UFPA sem fio" que aparece nos
notebooks e celulares, dentro da área de
cobertura, e utilizar os e-mails @ufpa
individuais, para ter acesso à internet.
Um Projeto Piloto com seis pontos formando uma rede em malha – com
várias possibilidades de conexão sem
fio entre os aparelhos – foi instalado
próximo às salas de aula do Campus
Básico, em 2009. A iniciativa foi bem
sucedida e a tecnologia foi repassada
ao CTIC, que administrará as redes da
UFPA.
"O Projeto funcionou a contento e, agora, estamos num momento de
expansão para todo o Campus, começando com a compra de equipamentos
e de antenas para fazermos a instalação
dos kits em pontos estratégicos, que
permitirão o acesso à internet por toda
a Universidade. A ideia é possibilitar
o livre acesso à internet nas áreas externas da Universidade e padronizar
o serviço, aumentando, também, sua
qualidade e a segurança", explica
Antônio Abelém, diretor do CTIC e
coordenador do Gercom.
n Rede sem fio tem tecnologia desenvolvida na UFPA
A solução tecnológica utiliza
softwares livres customizados, ou
seja, modificados para reconfigurar
os roteadores, permitindo que os
aparelhos consigam se interligar,
formando a rede em malha. O Gercom ainda propõe um conjunto de
iniciativas, como uso de programas
livres, para solucionar os desafios de
acesso à internet. Entre as vantagens
desta solução em relação às que estão
disponíveis no mercado, estão o baixo
custo, a facilidade de instalação e
expansão da rede, a compatibilidade
com um número maior de aparelhos
para acesso à internet sem fio e a
possibilidade de gerenciamento centralizado da rede em malha.
"A rede é fácil de ser instalada
e estendida, porque criamos os kits,
que são caixas herméticas, com um
roteador, uma antena e cabos especiais ligados apenas ao sistema elétrico. Cada vez que um kit é ligado,
ele, automaticamente, procura a rede
e se insere nela. Cada um deles tem
um custo máximo de quinhentos reais,
o que é muito barato em comparação
com as opções disponíveis no mercado para internet sem fio em rede”, explica Vagner Nascimento, doutorando
do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Elétrica da UFPA (PPGEE) e integrante do Gercom.
O módulo de gerenciamento da
rede recebeu o nome de Abaré, que, em
tupi-guarani, significa "amigo do homem" e é fruto de uma dissertação de
mestrado de Billy Pinheiro, aluno do
doutorado do PPGEE e ligado ao Gercom. "O Abaré é uma 'arquitetura' para
implantar, monitorar e gerenciar redes
em malha sem fio. Desde que a rede
wireless da UFPA foi instalada, ele já
estava funcionando. O ponto central de
gerenciamento está fixado no CTIC,
responsável pela rede agora”.
O grupo também está pesquisando soluções para a mobilidade, o
roteamento e o aumento da capilaridade da rede wireless da UFPA. Cada
kit com roteador cria sua própria área
de cobertura, que se propaga de forma
circular em seu entorno, chamada de
célula. Quando um usuário caminha
com seu celular ligado à rede UFPA
sem fio, ele, eventualmente, sai da área
de cobertura de uma célula e entra na
de outra.
"Esse processo de transição
deve ser imperceptível para o usuário,
mas, até o momento, os pesquisadores
da área de computação ainda estão
analisando formas de fazer isso perfeitamente. Nós também estudamos
esse assunto e propomos melhorias
nos protocolos de funcionamento
dessas redes que ainda são baseadas
nos modelos de redes celulares e redes
com fio, para que funcionem melhor e
facilitem essa transição. Na UFPA, se
o usuário estiver apenas navegando,
a transição é imperceptível, mas, ao
realizar um download, ele pode notar
esse processo de passagem”, explica
Vagner Nascimento.
n Soluções serão utilizadas no Programa Navega Pará
Outra linha de pesquisa é
sobre técnicas de roteamento, ou
seja, de acesso à internet sem fio.
"Quando alguém se conecta à rede,
os roteadores procuram um caminho
até o ponto onde há internet com
fio, como se realizassem saltos até
o seu destino final. Os roteadores
geralmente escolhem o caminho
mais curto entre os aparelhos, mas
este pode não ser o melhor caminho
para a conexão, porque pode, por
exemplo, já estar com um número
elevado de usuário naquele momento e, por isso, o caminho mais
curto pode não ser o mais rápido
ou o de melhor qualidade. Por este
motivo, utilizamos softwares livres
com múltiplas métricas, ou seja,
múltiplos critérios para a escolha
do caminho para a internet”, resume
Billy Pinheiro.
A rede wireless da UFPA
também pode se tornar autoexpansiva. Atualmente, quando alguém se
conecta à rede, é apenas um usuário
do sistema, a rede em malha, em si,
é transparente para ele. “Estamos
propondo formas de tornar cada
usuário conectado a uma parte da
rede como um novo roteador que
gera sua própria área de cobertura.
Assim, estendendo a rede enquanto
ele está conectado, eliminando, de
forma mais eficiente, pontos escuros
e incluindo, temporariamente, usuários que estariam fora da rede”, explica Antônio Abelém, coordenador
do Gercom e diretor do CTIC.
Ainda segundo o diretor, “esses Projetos têm o apoio da Empresa
de Processamento de Dados do
Estado do Pará (Prodepa), da Secretaria Estadual de Desenvolvimento,
Ciência e Tecnologia (Sedect) e da
Rede Paraense de Tecnologia da
Informação e Comunicação (Rede
TIC), já que a solução tecnológica
será utilizada na expansão do Programa Navega Pará, em locais onde
os cabos e a internet com fio têm
dificuldade de chegar”.
Contas de e-mails e sites institucionais da UFPA ganharam maior
espaço para armazenamento, publicização e troca de informações. A
aquisição de novos equipamentos de
alta tecnologia permitiu a ampliação
dos serviços disponibilizados pelo
Centro de Tecnologia da Informação
e Comunicação (CTIC). Os e-mails @
ufpa já tiveram seu espaço ampliado
de 200 para 500 megabytes (MB) e,
em breve, passarão a ter capacidade
de um gigabyte (GB), assim como
os sites das unidades acadêmicas e
administrativas.
Os principais equipamentos que
permitem esse processo de ampliação
de serviços de internet são conhecidos
como Storage Area Network (SAN),
uma rede de armazenamento entre
diversos dispositivos, como servidores de internet. O SAN adquirido
pela UFPA, com capacidade bruta
aproximada de 16 terabytes (16TB),
possibilitará a expansão da capacidade
de armazenamento útil dos serviços
disponibilizados pelo CTIC, como email ou hospedagem de sites, páginas
web e banco de dados.
Os equipamentos, comprados
em 2009, estão sendo entregues e
instalados. "Tão logo estejam funcionando plenamente, vamos elevar
para um gigabyte o espaço individual
de nossos serviços de internet. Os
servidores mais modernos e robustos
Membros do Grupo de Pesquisa em Rede de Computação, do ICEN, sob coordendação do professor Abelém
permitem que realizemos a 'virtualização de nossos serviços', ou seja,
vamos substituir vários servidores
físicos instalados por um único,
que hospedará, virtualmente, esses
servidores menores, cada um responsável por um serviço, como contas
de e-mail, hospedagem de sites ou
registros acadêmicos. Esses investi-
mentos tiveram o apoio financeiro da
PROAD e da administração superior
da Universidade. São estratégicos e
refletem, diretamente, na melhoria
dos serviços para os nossos usuários
finais", explica Antônio Abelém.
Nos últimos anos, o número
de usuários de e-mail institucional da
UFPA passou de sete para 25 mil, com
n Rede Darwin potencializa telecomunicação
Ainda no primeiro semestre
de 2010, o Centro de Tecnologia da
Informação e Comunicação da UFPA
realizará a substituição total de cabos
de fibra óptica e equipamentos de
rede no Campus Setorial Profissional
e da Saúde. A iniciativa faz parte do
Projeto "Rede Darwin", que já atende
o Campus Básico e promove qualidade, agilidade na conectividade e
segurança da rede de informação da
Instituição.
"Tínhamos uma rede baseada em tecnologia obsoleta e tinha
capacidade distinta em cada local,
por conta da falta de padronização.
O objetivo da Rede Darwin é organizar, padronizar e modernizar os
serviços de rede de comunicação
na UFPA, possibilitando maior taxa
de transmissão de dados, cerca de
um gigabyte por segundo (1 Gps),
e diversificação dos serviços oferecidos", explica Antônio Abelém,
diretor do CTIC. A Rede recebeu o
nome de Darwin em homenagem ao
centenário da Teoria da Evolução,
celebrado no ano passado.
A Rede Darwin do Campus
Básico, já implantada, possui 20
anéis de fibra óptica, espécie de via
por onde passam as informações, que
interligam 45 prédios de unidades
acadêmicas e administrativas. No
Campus Profissional e no Campus
da Saúde, serão 26 novos anéis
Fibra óptica: substituição total de cabos trará qualidade, agilidade e segurança
atendendo 33 prédios. "Cada local
está ligado ao CTIC por duas vias,
ou seja, os dois lados do anel, o que
garante que o serviço de rede e acesso à internet não seja interrompido
em caso de falha ou rompimento
da fibra em um dos lados. A troca
de informação entre os setores da
Instituição ocorre a uma velocidade
de um gigabyte por segundo (1 Gps),
com possibilidade de expansão para
10 gigabytes por segundo", resume
Antônio Abelém.
O próximo passo é estender a
modernização para as redes internas
dos prédios, ou seja, substituir cabos
e equipamentos dentro das unidades,
bem como isolar a rede em relação a
outros serviços, como eletricidade e
telefonia, que podem provocar interferência na transmissão. A renovação
também deve ser implantada nos
campi do interior, desta vez com o
apoio do Projeto Navega Pará, do governo do Estado. Uma das principais
vantagens dessa nova Rede é que ela
é gerenciável, o que quer dizer que
possibilita uma grande flexibilidade
de reconfiguração, assim como um
controle maior sobre o seu uso, potencializando o serviço de manutenção,
tornando-a mais estável.
a extensão dos serviços para os alunos
de graduação. As contas dos alunos
estão sendo criadas automaticamente
quando ingressam na Instituição e as
informações de usuário e senha são
enviadas diretamente para as respectivas faculdades, responsáveis pelo
encaminhamento das informações
para os alunos.
UFPA está pronta para
adotar CAFE
Instituições de Ensino
Superior do Brasil estão
aderindo à Comunidade
Acadêmica Federada (CAFE)
com o objetivo de utilizar
e-mails institucionais como
login de acesso aos diversos
ser viços relacionados às
universidades. O primeiro
serviço compartilhado
é o d e a c e s s o a o Po r t a l
d e Pe r i ó d i c o d a CA P E S ,
que poderá ser acessado
de casa ou de qualquer
ponto de i nter net, o que,
atualmente, é feito apenas
de dentro das dependências
d a U F PA . N e s t e s e n t i d o,
cada instituição será um
' p ro ve d o r d e i d e n t i d a d e '
que certifica que o usuário
pertence a uma Instituição
Federal de Ensino Superior.
A infraestrutura necessária
para adentrar no sistema já
está pronta na UFPA e deve
entrar em operação tão logo
a comunidade seja efetivada
pela Rede Nacional de
Pesquisa (RNP).

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