Youtuber e conteúdo audiovisual propagável1

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Youtuber e conteúdo audiovisual propagável1
Youtuber e conteúdo audiovisual propagável1
Krishma Carreira2
Resumo: Neste artigo vamos analisar o papel do youtuber, nome dado aos produtores
de conteúdo audiovisual que atuam dentro do YouTube. Nosso objetivo é observar os perfis
destes novos criadores e verificar as estratégias adotadas a partir do acompanhamento de
quatro canais de youtubers que têm, através de um constante diálogo, uma comunidade
atuante de fãs que alimenta um forte sistema de recomendação e de divulgação. Os quatro
comunicadores têm excelente performance em outras redes sociais, o que permite ampliar a
propagação do conteúdo. Nossa análise foi embasada em pesquisas e bibliografias nacionais e
internacionais que envolvem autores como Caio Túlio Costa, Don Tapscott, Henry Jenkins,
Manuel Castells, James Gleick, entre outros.
Palavras-chave: YouTube. Youtuber. Conteúdo audiovisual online. Fãs de youtubers.
Engajamento no YouTube.
Youtubers and audiovisual spreadable content
Summary: In this article we are going to analyze the role of the youtuber, name given
to the producers of the audiovisual content that act within youtube. Our goal is to observe the
profile of these new creators and verify the adopted strategies. We have analyzed the channel
of four youtubers. They produce spreadable content; they keep, through constant dialogue, an
active community of fans that feed a strong system of recommendation and disclosure and
have an excelent performance in other social media, which allows them to broaden content
spread. Our analyzes have been based on research and nacional and international
bibliography, that envolves autors like Caio Túlio Costa, Don Tapscott, Henry Jenkins,
Manual Castells, James Gleick, and others.
Keywords: YouTube. Youtuber. Online audiovisual content. Youtubers fans.
Engagement on YouTube.
1
Artigo enviado na modalidade Paper para o Simpósio Internacional de Tecnologia e Narrativas Digitais.
Jornalista graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); mestranda em Comunicação Social na
linha de pesquisa Inovações Tecnológicas Contemporâneas pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp);
pesquisadora do ComTec (Comunicação e Tecnologias Digitais). E-mail [email protected]. Currículo
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9290320751656429
2
Youtuber y contenidos audiovisuales propagável
Resumen: En este artículo vamos a analizar el papel de youtuber, el nombre dado a
los productores de contenidos audiovisuales que operan dentro de YouTube. Nuestro objetivo
es observar los perfiles de estos nuevos creadores y verificar las estrategias adoptadas.
Analizamos cuatro canales de YouTube. Ellos producen contenido propagável; sostienen , a
través de un diálogo constante, una activa comunidad de aficionados que alimentan un
sistema de recomendación fuerte y divulgación y tienen un excelente rendimiento en otras
redes sociales, lo que permite ampliar la difusión de los contenidos. Nuestros análisis se basan
en la investigación y la literatura nacional e internacional, con la participación de autores
como Caio Túlio Costa, Don Tapscott, Henry Jenkins, Manuel Castells, James Gleick , entre
otros.
Palabras clave: YouTube. Youtuber. Contenidos audiovisuales online. Los fans de
Youtubers . Compromiso en YouTube.
1 INTRODUÇÃO
Os avanços tecnológicos mudaram os paradigmas na forma de produzir conteúdo
audiovisual3, de transmiti-lo e de acessá-lo. Eles alteraram também o comportamento de quem
o consome. Estas mudanças ocorreram em um ritmo veloz a partir da criação da web, por Tim
Bernes-Lee, na transição dos anos 80 para 90, o que permitiu conectar o mundo. Com a
WWW (World Wide Web) entramos na Galáxia da Internet (CASTELLS, 2003) e o conteúdo
audiovisual passou a ser cada vez mais acessado a qualquer hora, em quaquer lugar e de
qualquer dispostivo. Em outras palavras, ele tornou-se convergente. “Por convergência,
refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia. (…) Convergência
é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas , mercadológicas, culturais e
sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando” (JENKINS,
2009).
Os dispositivos móveis são um dos grandes responsáveis pelo aumento do número de
acessos. No Brasil, o número de linhas telefônicas móveis está em torno de 280 milhões4.
3
Optamos por usar o termo conteúdo audiovisual no lugar da palavra vídeo. Consideramos a primeira mais
abrangente, pois ela reúne os sentidos de ouvir e ver e a origem da palavra vídeo, do latim vedere, remete
exclusivamente ao olhar.
4
Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/02/numero-de-linhas-celulares-no-brasil-cresce35-em-2014.html>. Acesso em: 22 de set. 2015.
2
Cerca de 66% dos brasileiros usam o celular para entrar na internet5, onde consomem, em
média, por semana, 8 horas de conteúdo audiovisual6. Uma pesquisa da Interactive,
Advertising Bureau (IAB)7 revela que 50% dos brasileiros acessam este tipo de conteúdo
quando estão conectados à rede wi-fi e 22% veem menos TV porque preferem assistir o que
desejam via celular.
No Brasil, a inclusão digital é determinada não por uma questão de idade, como ocorre
em outras regiões, mas principalmente por renda, nível escolar e empregabilidade. “O acesso
tornou-se o bilhete de ingresso para o avanço e para a realização pessoal (...). Diz respeito a
quem está incluído e excluído” (RIFKIN, 2000, p. 12).
Entre os internautas com acesso, 92%8 estão conectados por meio de redes sociais.
Entre elas, o YouTube9, que é objeto deste artigo. Esta plataforma entrou em operação em
fevereiro de 2005. Ela é “o marco zero, por assim dizer, da ruptura nas operações das mídias
de massa comerciais, causada pelo surgimento de novas formas de cultura participativa”
(JENKINS, 2009, p. 348).
Segundo dados da própria plataforma10, no YouTube são enviadas, em média, 300
horas de conteúdo a cada minuto. O Brasil é o terceiro país que mais faz upload (sobe
conteúdo) e o segundo que mais consome conteúdo. A plataforma tem mais de um bilhão de
usuários no mundo (quase um terço da internet) e a metade deles entra no YouTube através de
dispositivos móveis.
O YouTube combina características de redes sociais com mídias sociais. Entendemos
as primeiras como “estruturas sociais formadas por elos (geralmente, indivíduos ou
organizações) com um ou mais tipos específicos de interdependência, como valores, visões,
ideias (...)” (STRAUSS; FROST, 2013, p.234). Já mídia social é aquela que “se refere a
5
Disponível em: <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-decontratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em: 30 de set. 2015.
6
Disponível em: <https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/articles/tipos-consumidores-videos-brasil.html>.
Acesso em: 01 de out. 2015.
7
Disponível em: < http://iabbrasil.net/guias-e-pesquisas/mercado/uso-de-video-mobile-perspectiva-global>.
Acesso em: 25 set. 2015.
8
Disponível em: <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-decontratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em: 30 de set. 2015.
9
O YouTube foi comprado pela empresa Google em outubro de 2006. Disponível em: <
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20725.shtml>. Acesso em: 08 out. 2015.
10
Disponível em: <https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html>. Acesso em: 08 out. 2015.
3
atividades e comportamentos entre as comunidades de pessoas que se reúnem online para
compartilhar informações, conhecimentos e opiniões usando meios de conversação”. E por
sua vez, “meios de conversação são aplicativos baseados na web que permitem criar e
transmitir facilmente o conteúdo na forma de palavras, imagens, vídeos e áudios” (SAFKO;
BRAKE, 2010, p.5).
No YouTube, os elos são formados pelos usuários que fazem upload de conteúdo e
por quem o acessa. Entre os primeiros existe um grupo de criadores digitais que pertence ao
universo de análise deste trabalho. Eles tornaram-se conhecidos por youtubers e estão em
constante conversação com uma leal base de fãs que atua ativamente neste novo ecossistema
midiático.
Ter um site compartilhado significa que essas produções obtêm uma
visibilidade muito maior do que teriam se fossem distribuídas por portais
separados e isolados. Significa também a exposição recíproca das atividades,
o rápido aprendizado a partir de novas ideias e novos projetos e, muitas
vezes, a colaboração de maneiras imprevisíveis, entre as comunidades.
(JENKINS, 2009, p. 348)
Para Don Tapscott, na velha rede, as pessoas navegavam em busca de conteúdo. Já a
nova rede é um meio de comunicação que possibilita a criação do próprio conteúdo,
colaboração e a construção de comunidades (2010).
O conteúdo da plataforma é facilmente propagável pelos usuários para outros sites e
redes sociais em função da atividade intensa dos participantes ou pela qualidade do que é
produzido ou pela força do assunto. No YouTube, alguns usuários transformam-se,
informalmente, em “curadores”. Eles adquirem, assim, uma espécie de autoridade que
determina se algo é interessante ou não para a rede que eles participam.
No YouTube existem desde conteúdos produzidos por grandes empresas de
comunicação como outros feitos por amadores que, através do sucesso conquistado na
plataforma, construíram seu próprio império de comunicação. Estes últimos são os que
interessam para este trabalho, na medida que, com pouca estrutura e totalmente fora do
modelo tradicional de mídia, ganharam, em pouco tempo, tamanha força que levou alguns
inclusive para emissoras de televisão ou mesmo para Hollywood.
4
‘Smosh: The Movie’ poderia ter sido feito para qualquer geração de
adolescentes desde o começo da indústria cinematográfica de Hollywood.
Mas ‘Smosh’ apresenta uma dupla de comediantes do YouTube mais
conhecida por veicular pequenos esquetes diários gratuitos encenados
diretamente para as câmeras (...). A produção foi (...) diretamente para o topo
do segmento de comédias do iTunes, da Apple. E levou seus criadores,
Anthony Padilla e Ian Hecox, a se transformarem nas primeiras celebridades
da era digital a ganhar figuras de cera no Museu Madame Tussauds. Os
criadores de vídeo do YouTube estão tentando usar seus grandes públicos da
internet para tomar Hollywood de assalto, com a realização de seus próprios
filmes”. (KUCHLER; BOND, 2015).
O canal “Smosh” no YouTube, no dia 08 de outubro de 2015, contabilizava
4.840.648.302 de visualizações e 21.249.109 de inscritos11.
Um exemplo brasileiro de canal que migrou de mídia é o “Acelerados”, que é
apresentado por Rubens Barrichello e passou a fazer parte da grade de programação do SBT. “Surgido em agosto de 2014 como um canal no YouTube (youtube.com/acelerados), o
programa se torna o primeiro canal de YouTube a conquistar um espaço fixo em televisão
aberta no Brasil”12.
Outro indício da força do fenômeno youtubers é o fato de que três deles (Hank Green,
GloZell e Bethany Mota) foram selecionados para uma entrevista com o presidente Barack
Obama, transmitida ao vivo pelo YouTube, da Casa Branca, no dia 22 de janeiro de 201513.
2
YOUTUBERS
DOMINAM
ESTRATÉGIAS
DE
PROPAGAÇÃO
DE
CONTEÚDO
Neste artigo nos interessa saber como o fenômeno de comunição chamado youtuber
ganhou a dimensão atual. Para fazer esta análise, foram selecionados quatro canais: o sueco
“PiewDiePie”, o americano “Vlogbrothers” e dois brasileiros: “5incominutos” e “Manual do
11
Disponível em: <https://www.youtube.com/user/smosh/about>. Acesso em: 08 out.2015
Disponível em: <http://www.sbt.com.br/acelerados/programa/sobre/>. Acesso em: 08 out.2015.
13
Disponível em: <http://www.latimes.com/entertainment/envelope/cotown/la-et-ct-obama-youtubers-interview20150122-story.html>. Acesso em: 08 out.2015.
12
5
Mundo”. Eles foram escolhidos em função do número de assinantes e de visualizações, além
das estratégias de comunicação que adotam.
O “PiewDiePie”14 tem mais de 39.740.406 inscritos e já foi visto mais de
9.953.327.503 de vezes. Ele pertence ao youtuber Felix Arvid Ulf Kjellberg (24/10/1989),
que fala de games com muito humor e acaba de lançar um livro. Este jovem ganha 1 novo
assinante a cada 5 minutos.
O “Vlogbrothers”15 é um canal com 2.665.234 de inscritos e 565.894.366 de
visualizações. Ele é da dupla de irmãos Hank Green (05/05/1980) e John Green (24/08/1977).
O primeiro é músico e é um dos youtubers que entrevistou o presidente Obama. John é
escritor de livros como “A Culpa é das Estrelas”, que virou filme. Os dois fazem um canal
com conteúdo educativo, informacional e de entretenimento. Eles criaram o VidCon, um
encontro, nos Estados Unidos, que reúne youtubers do mundo inteiro com o objetivo de
discutir o universo do conteúdo online.
O canal “5incominutos”16 pertence a Kéfera Buchmann (25/01/1993), que atualmente
é atriz, apresentadora e escritora. Ela está há 5 anos no YouTube, onde conquistou 5.978.894
de assinantes e 465.706.246 de visualizações. No canal, Kéfera usa humor com foco no
público feminino, com temas comuns ao universo adolescente. Desde que criou o
“5incominutos”, ela liderou um programa na Rádio Jovem Pan e outro na MTV, participou de
um filme e já lançou um livro.
O “Manual do Mundo”17 tem 4.115.125 de inscritos e foi acessado 653.075.433 de
vezes. Nele, o usuário é convidado a aprender experiências científicas, mágicas, pegadinhas,
receitas, origamis, desafios e brincadeiras. O canal foi criado pelo jornalista Iberê Thenório
(04/12/1981). Baseado no que faz no canal, ele lançou a série “Experimentos Extraordinários”
que foi para o Cartoon Network no final de 2014.
Entre os youtubers analisados, do ponto de vista da idade, todos fazem parte da
geração que Don Tapscott nomeou de Y, também conhecida por Geração do Milênio ou
Geração Internet. Ela inclui pessoas nascidas entre 1977 e 1997, para as quais a “internet é
14
Disponível em: < https://www.youtube.com/user/PewDiePie/about>. Acesso em: 08 out.2015.
Disponível em: < https://www.youtube.com/user/vlogbrothers/about>. Acesso em: 08 out.2015
16
Disponível em: < https://www.youtube.com/user/5incominutos/about>. Acesso em: 08 out. 2015.
17
Disponível em: <https://www.youtube.com/user/iberethenorio/about>. Acesso em: 08 out. 2015.
15
6
como uma geladeira. Eles não se preocupam com os meandros da operação; aquilo é
simplesmente parte da sua vida” (2010, p.55). Tapscott completa: estas pessoas são “a antítese
da Geração TV” (2010, p.33).
Para o doutor em comunicação, Dado Schneider, o YouTube é “ um novo canal que
veio para ficar, é o concorrente direto da televisão para jovens abaixo dos 20 anos”. Ele
acredita que para um grupo um pouco mais velho também. “Os canais de YouTube estão para
a TV, como os shoppings estão para o comércio do centro da cidade. Deslocou-se o público”,
explica18.
Tapscott aponta que entre as características comuns a partir da Geração Y, podemos
citar o gosto por personalização, entretenimento e diversão, colaboração e relacionamento,
velocidade, liberdade e inovação. Para o jornalista, Caio Túlio Costa, esta geração se
considera protagonista na internet.
Tendo bastante público, algum público ou nenhum público, não importa, eles
sempre estão à vontade na rede: conversando com os amigos, coletando
informações, descobrindo aplicativos novos, jogando online ou investindo
numa rede social recém-lançada. Eles estão sempre atualizados em relação
ao que acontece no mundo digital (...). No smartphone, eles teclam com
rapidez usando os dois polegares enquanto os analógicos usam apenas um
dedo, em geral o indicador. Os nativos digitais apreendem o conhecimento
de outra forma. Sua formação se dá com conteúdos digitais nas suas
diferentes formas, seja na Internet ou nos aplicativos (CAIO, 2014).
Os youtubers expressam, portanto, novas vozes em uma ecologia de mídia que passou
a dar espaço para qualquer interessado, independente de raça, gênero, religião, país ou língua.
Liberdade é o conceito central na plataforma. “Falo o que penso, os internautas se sentem
identificados com minhas histórias”, comentou a youtuber Kéfera em uma entrevista19.
Estes comunicadores ofertam conteúdo diversificado dentro de um nicho (educação,
informação, humor, saúde, aventura, gastronomia, etc.). Cada um dos canais do YouTube tem
a possibilidade de aumentar o número de acessos ao gerar valor (no sentido de interesse) para
um determinado grupo. Em meio a uma escolha infinita, a “distribuição abundante e barata
18
Entrevista na matéria “Por que os jovens brasileiros querem se tornar ‘youtubers’”, publicada em 06/06/2015 na versão
online de El Pais. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/09/politica/1431125088_588323.html>. Acesso
em: 18 jun.2015.
19
Trecho de entrevista disponível em: < http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/09/politica/1431125088_588323.html>.
Acesso em: 19 jun. 2015.
7
significa variedade farta, acessível e ilimitada” (ANDERSON, 2006, p. 179).
Os criadores de conteúdo capazes de satisfazer as necessidades de informação ou
entretenimento dos usuários ganham cada vez mais influência, ao mesmo tempo que garantem
liberdade não só nos temas, mas também nos formatos. Os youtubers são livres, portanto, para
experimentação. Mesmo com o crescimento da profissionalização entre os produtores com
maior número de visualizações, uma parte considerável procura manter, de forma estratégica,
a aparência de conteúdo audiovisual caseiro. Este tipo de formato gera uma sensação de
proximidade entre o produtor, os assinantes e também com quem visualiza o canal, mas não
está inscrito. E este sentimento ajuda a manter a conversação típica das mídias sociais. “As
pessoas vão conversar, fofocar e reclamar. Esse comportamento vem da natureza humana”
(SAFKO; BRAKE, 2010, p. 4).
Neste processo de diálogo entre o youtuber e os usuários, os produtores de conteúdo
recebem opiniões, elogios, críticas e dicas através de mensagens e podem ter uma boa
dimensão de como o conteúdo é acessado, compartilhado e analisado. Kéfera, por exemplo,
tem no canal “5incominutos” vários conteúdos com mais do que 5 minutos. A youtuber queria
saber se os fãs gostavam de conteúdo curto, médio ou longo. No dia 21/04/2015, ela postou
“Depender dos Outros”, onde anunciou: “a opinião de vocês é extremamente importante para
mim. Então, eu queria aproveitar este vídeo para fazer uma pergunta para vocês. O que vocês
preferem? Vídeos curtos com até 5 minutos, ou um pouquinho mais do que 5 minutos ou
longos com mais de 10 minutos? Então, eu queria saber o que vocês preferem porque vocês
consomem o meu conteúdo, então, eu quero agradar vocês. Tô pedindo isto para vocês,
porque sei que vocês são legais”. Este conteúdo audiovisual teve, até o dia 08 de outubro de
2015, 1.916.541 de visualizações e Kéfera recebeu 34.615 comentários em resposta20.
A “conversa” não ocorre somente entre youtuber e usuários, mas também entre estes
últimos. Existe um “mix de forças de cima para baixo e de baixo para cima que determina
como um material é compartilhado, através de culturas e entre elas, de maneiras muito mais
participativas (e desorganizadas) ” (JENKINS; GREEN; FORD, 2014, p.24).
O conjunto de fãs (fandom) tem papel fundamental porque desempenha um papel mais
ativo e, por ser mais engajado, recomenda mais o conteúdo e colabora voluntariamente para a
20
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3ngnocUf4ec>. Acesso em 08 out. 2015.
8
propagação. A indicação é uma espécie de farol que joga luz sobre algo que pode interessar ao
internauta. Os fãs alimentam o ciclo que beneficia a exposição do canal e ajudam a criar a
reputação, que “pode ser convertida em outras coisas de valor: trabalho, estabilidade, público
e ofertas lucrativas de todos os tipos” (ANDERSON, 2006, p. 71).
Os youtubers também têm uma boa performance na divulgação de memes, um tipo de
conteúdo que propaga com facilidade no mundo conectado e em rede. “Na evolução cultural,
um meme é um replicador e um propagador – uma ideia, uma moda” (GLEICK, 2013, p.17).
Os memes feitos pelos youtubers, muitas vezes, são recriados pelo usuário que, animado com
o resultado, ajuda a propagá-lo, alimentando as “conversas” entre os fãs e entre estes e as
outras redes sociais de que fazem parte.
Os criadores de conteúdo online analisados neste trabalho também encorajam o acesso
ao que produzem em outras redes sociais, onde são muito atuantes e interagem
constantemente com internautas. Os quatro canais têm melhor desempenho no Twitter, se
levarmos em conta exclusivamente o critério do número de seguidores.
John Green, por exemplo, compartilha opiniões no Twitter e estimula o internauta a
enviar questões, que serão selecionadas para fazerem parte do que a dupla de irmãos do
Vlogbrothers chama de “Question Tuesday”, que é um conteúdo audiovisual veiculado no
YouTube por eles. Felix Arvid Ulf Kjellberg, do PewDiePie, trabalha bem o Twitter também,
fazendo, muitas vezes, vários posts no mesmo dia, alguns usados para agradecer aos fãs ou
para colocar fotos que tirou com alguns deles em eventos.
Já o “Manual do Mundo” tem uma boa presença no Facebook, onde sempre coloca
conteúdo audiovisual e fotos bem produzidas, com um texto que estimula a curiosidade e com
links para o canal no YouTube ou para o site que mantém. A equipe do “Manual o Mundo”
responde os comentários dos internautas e usa uma linguagem informal para se aproximar
deles.
Kéfera explora as características específicas de cada rede social, postando diferentes
conteúdos, com formatos diversos, em cada uma.
A tabela, a seguir, tem os dados sobre a presença dos canais analisados em redes
sociais. John e Hank Green têm contas separadas no Twitter. Ambos estão presentes no
Tumblr, onde não é divulgado o número de seguidores e, por isso, não colocamos esta
informação na tabela.
9
Redes
Sociais
Twitter
Google +
Facebook
PewDiePie
6.665.779
seguidores
1.138.099
seguidores
6.684.160
curtidas
John
Green
4.731.824
seguidores
5incominutos
Instagram
Vine
1.341.685
seguidores
66.041
seguidores
4.643.609
curtidas
3.904.676
seguidores
750.900
Hank
Green
628.759
seguidores
Manual do
Mundo
71.345
seguidores
535.613
seguidores
1.243.060
curtidas
171.112
seguidores
Vlogbrothers
48.630
seguidores
Dados de 13/11/2015
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os youtubers analisados neste artigo se apropriam com habilidade das ferramentas do
universo online. Eles aprenderam a trabalhar com um sistema de recomendação, a criar
comunidades de fãs, a gerar engajamento, participação e comprometimento, a usar memes e
diferentes formatos de conteúdo audiovisual dependendo da rede social onde estão presentes.
“Eles sabem como ninguém que tudo o que não se propaga, está morto” (JENKINS; GREEN;
FORD, 2014, p. 23).
Consideramos o universo do YouTube um excelente campo de estudos de
comunicação com vários objetos como: a narrativa, os formatos, os temas, a comunidade de
fãs, o modelo de negócio, estratégias, entre tantas outras possibilidades. Afinal, se muitos
youtubers começaram como amadores, hoje os que possuem canais com milhões de assinantes
são especialistas no mundo conectado.
4 REFERÊNCIAS
ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2006.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
10
CASTILLO, Michelle. Why presidente Obama agreed to be interviewed by youtubers?
Adweek, New York, 23, jan.2015. Disponível em: <http://www.adweek.com/news/technology/whypresident-obama-agreed-be-interviewed-youtubers-162530>. Acesso em: 26 jun. 2015.
COSTA, Caio Túlio. Um modelo de negócio para o jornalismo digital. Revista de Jornalismo
ESPM. São Paulo, abr./mai./jun. 2014. Disponível em: <http://caiotulio.com.br/2014/04/um-modelode-negocio-para-o-jornalismo-digital/>. Acesso em: 26 jun.2015.
GLEIK, James. A informação: uma história, uma teoria, uma enxurrada. São Paulo:
Companhia das Letras, 2013.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2.ed. São Paulo: Aleph, 2009.
_______________; GREEN, Joshua; FORD, Sam. Cultura da conexão: criando valor e
significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.
KUCHLER; Hannah; BOND, Shannon. Astros do YouTube agora fazem longas. Nova
geração de criadores digitais invade a seara de Hollywood e impulsiona o serviço do Google. Valor.
São Paulo, 15 set. 2015, B6.
MENDONÇA, Heloísa. Por que os jovens brasileiros querem se tornar ‘youtubers’? El País.
São Paulo, 6 jun. 2015. Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/09/politica/1431125088_588323.html>. Acesso em: 26
jun.2015.
RIFKIN, Jeremy. A era do acesso. São Paulo: Mkron Books, 2000.
SCHMIDT, Eric; COHEN, Jared. A nova era digital. Como será o futuro das pessoas, das
nações e dos negócios. Rio de Janeiro: Instrínseca, 2013.
SAFKO, Lon; BRAKE, David K. A bíblia da mídia social. Táticas, ferramentas e estratégias
para construir e transformar negócios. São Paulo: Blucher, 2010.
STRAUSS, Judy; FROST, Raymond. E-marketing. 6.ed. São Paulo: Pearson, 2013.
11
TAPSCOTT, Don. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a
internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Rio de Janeiro: Agir Negócios, 2010.
TOP 20 maiores canais brasileiros do Youtube. R7. Disponível: <http://top10mais.org/top-10maiores-canais-brasileiros-do-youtube/>. Acesso em: 17/06/2015.
YOUTUBERS são mais influentes entres os adolescentes que estrelas como Jennifer
Lawrence e Katy Perry. Pesquisa aponta que tens veem astros do Youtube como mais engajados e
autênticos. R7. São Paulo, 09 ago.2014. Disponível em: <http://entretenimento.r7.com/famosos-e-
tv/youtubers-sao-mais-influentes-entre-os-adolescentes-que-estrelas-como-jennifer-lawrencee-katy-perry-15082014>.
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