Revista Rua nº 6

Transcrição

Revista Rua nº 6
Nº6 Agosto 2016 | Mensal
www.revistarua.pt
Distribuição Comercial
ENTREVISTA
“NÃO NOS DEVÍAMOS
INSCREVER NA LIGA DOS
CAMPEÕES”
JOÃO LUÍS NOGUEIRA,
PRESIDENTE DO ABC
JOGOS OLÍMPICOS
O VIRA MINHOTO
NO SAMBA DO RIO
VERÃO NA SERRA D’ARGA
UM PARAÍSO DA
NATUREZA A
DESCOBRIR
50ANOS
VILAR DE MOUROS
LOUCURA
CONTROLADA
ORIENTA-TE
OBSERVAR
04| EDITORIAL
08| RADAR
12| CÓDIGO POSTAL
Igreja Nossa Senhora das Neves
14| PASSEIO PÚBLICO
20 minutos com Eduardo
Morais - Realizador do
documentário Tecla Tónica
16| TALENTO
Pedro Oliveira
COMPREENDER
21| JOGOS OLÍMPICOS
Quem são os treze atletas que
partem do Minho para o Rio de
Janeiro?
Jesuítas ou misticismo
judaico de fusão
38| IMPRESCINDÍVEL
Breves Culturais
42| VILAR DE MOUROS
ENTREVISTA
João Luís Nogueira presidente
do ABC/UMinho
“Ir à Liga dos Campeões Europeus é um orgulho
e um aumento da credibilidade mas é tudo para
acumular prejuízo.”
Prazer da Natureza, Vilar de
Mouros
64| PETISCAR
Quintinha D'Arga
66| EXPLORAR
Roteiro pela Serra d'Arga
72| BRACARA IMÓVEIS
Modelo chave na mão
74| MIMAR
Must-haves
76| INSTAGRAM
Rita Almeida está na rua
78| AGENDA
Agosto 2016
OPINIÃO
26| HISTÓRIA E RELIGIÃO 06| BRAGA CICLÁVEL
CONHECER
28
62| ESPAIRECER
Nasceu. Arrasou. Fracassou.
Renasceu. Celebramos os 50
anos com a recolha de três
histórias ímpares.
48| ENTREVISTA A
BED LEGS
A “vida de caixeiros viajantes”
leva-os ao palco do
Paredes de Coura.
54| MADE IN
Famalicão puxa pelos negócios.
57| MINHOTOS
PELO MUNDO
Irina Botica, Londres
DESFRUTAR
60| VISITAR
Viana do Castelo
18| HISTÓRIAS DA RUA
por Liliana Trigueiros
34| AVENIDA DA
LIBERDADE
"Preciso de uma academia,
dá-me licença?"
Luís Tarroso Gomes
Rui Marado Moreira
40| CULTURA
por Filipe Miranda
52| MÚSICA
por José Manuel Gomes
70| DE LUA EM LUA,
DE MAR EM MAR
A cura para o sono
nas minhas palvras
80| HUMOR
por Rui Leite Gonçalves
Diretor/Editor
Luís Leite
Rua Dom Frei Caetano Brandão
Nº154 4700-031 Braga
Colaboradores
Leonor Pereira
Andreia Ferreira
Nuno Simões
Nuno Sampaio
Rita Macedo
Adriana Castro
Sofia Moleiro
Sofia Peres
Claúdia Sil
Joana Carneiro
Sara Lopes
Margarida Pereira
Opinião
Luís Tarroso Gomes
Rui Moreira
Liliana Trigueiros
Rui Leite Gonçalves
José Manuel Gomes
Filipe Miranda
Eliana Freitas
Miguel Dejavú
EDITORIAL
Direção de Arte
Carolina Campos
Natureza, música, desporto e muita história.
A
RUA é uma certeza. Talvez por obra do
destino, chegamos à sexta edição e alcançamos os 6.000 seguidores no Facebook.
Endereçamos um agradecimento especial
a todos os nossos leitores e convidamos
toda a gente a juntar-se a nós. O que nos dá alento
e prazer são as mensagens que nos chegam. Dá realmente prazer que vocês, leitores, possam acompanhar
o nosso crescimento em tempo real.
Nesta edição fomos em busca de histórias sobre o festival de Vilar de Mouros. Durante a minha infância, pelo
domingo de manhã, era habitual ouvir o gira discos a
tocar Doors, Deep Purple, Pink Floyd, Manfred Mann,
Janis Joplin, entre outros. A banda sonora costumeira
de fim-de-semana sobrepunha-se ao crescendo furioso
da panóplia de gente que produzia um som de fundo
vindo do Mercado Municipal. Entre os pregões: “À dúzia é mais barato” ouvia-se “Everybody loves my baby”.
Muitas vezes saltamos em cima da cama a dançar, eu
e a minha irmã, numa “loucura controlada”. A calma
da tarde vinha acompanhada pelos acordes do violino
da minha mãe. A música sempre foi uma constante na
minha vida. Em 1971, ainda não era nascido mas as
histórias que ouvi ficaram gravadas para sempre. Em
2016, Vilar de Mouros aproveita o regresso deste evento para celebrar os 50 anos do mais antigo, mais icónico
festival de verão do país. A aventura da liberdade que
preencheu a aldeia minhota pode parecer um oásis à
luz da história que aprendemos nas enciclopédias mas
aconteceu. Fomos em busca de histórias desses tempos.
Vivemos uma época promissora no desporto nacional. Campeões em várias modalidades e com os Jogos
Olímpicos à porta, conversamos com a grande promessa da natação Tamila Holub, campeã europeia júnior
dos 1.500 metros livres. Aos 17 anos está feliz com a
Arte
Joana Ribeiro
sua presença no maior evento mundial multidesportivo
e promete que se houver samba na cerimónia de abertura, vai dançar. Nós também! Força Tamila! #aruaestacontigo.
João Nogueira, presidente do ABC/UMinho desde
2014, diz que o mérito dos feitos desportivos é todo
dos atletas. A dúvida persiste. Terá o clube infra-estruturas com condições para estar presente na Liga dos
Campeões? Uma cidade, um clube, e uma “escola de
campeões” em entrevista.
Há também uma Avenida que preenche as páginas
da RUA com toda a liberdade. Um ponto de vista sobre
o negócio da Academia do Sporting Clube de Braga,
uma obra com estatuto de interesse público. A genética empreendedora de Vila Nova de Famalicão tem-nos
chamado a atenção, aqui deixamos uma reportagem
esclarecedora. Há mais uma associação que se junta a
nós. A rubrica Código Postal ficou a cargo de Margarida Pereira, Coordenadora Geral da JovemCoop. A RUA
abre espaço à divulgação do património e procura fazer
parte da preservação da memória.
As sombras da serra e a sua frescura em águas ímpias
dão-nos alento para descontrair, refrescar e desfrutar.
O turismo de natureza é uma tendência que veio para
ficar e temos mesmo aqui ao lado uma região de referência. Porquê ir para longe quando temos o paraíso
tão perto? Com o pé no chão e a mochila às costas,
partimos à descoberta e pelo caminho deixamo-nos encantar pela Serra d’Arga.
Revista Rua, um passo à frente!
No próximo mês estou na banca à tua espera e com
muitas novidades. Tudo porque me tens pedido para
me poderes levar para casa.
Luís Leite
Diretor
Capa
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Redação
redaçã[email protected]
Rua dos Capelistas, nº30
4º Andar Sala S
4700-307 Braga
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com marketing e publicidade:
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Comercial
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Angélica Noversa
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Luís Sepúlveda Cantanhede,
Rui Marado Moreira
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Universidade Católica - Faculdade de
Filosofia e Ciências Sociais de Braga;
JovemCoop;
Braga Ciclável.
Impressão
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ARTES GRÁFICAS, S.A.
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exclusiva responsabilidade dos autores.
BRAGA CICLÁVEL
W
A Bicicleta na
educação da criança
G
RA
EB
A
A
creditamos que os mais pequenos são os alicerces da nossa
sociedade e, por isso, pensamos ser fundamental educar desde
o berço para a bicicleta, para o uso deste meio de transporte de
forma responsável e consciente. Educar para a familiarização
desta no dia-a-dia, para que amanhã o uso da mesma seja feito
de forma natural.
Contudo, é essencial que exista respeito entre o peão, o carro e a bicicleta,
cumprimento das regras e sinais de trânsito e, acima de tudo, consciência cívica.
Há um longo caminho a percorrer no que se refere à convivência segura
e responsável entre todos os que utilizam a via pública. Esta sensibilização
estende-se não só àqueles que utilizam a bicicleta, mas também às autarquias,
polícia, automobilistas e até mesmo aos próprios peões.
É, portanto, obrigação das entidades de direito proporcionar as condições
necessárias à utilização diária da bicicleta, promover locais seguros para que
as crianças possam pedalar. Mas é, também, obrigação do educador incutir
a bicicleta no quotidiano das crianças. Quem de nós não tinha uma bicicleta
em pequeno? Quem não adorava pedalar? Quem não recorda com euforia a
primeira bicicleta que recebeu como presente?
Junto das escolas, em conjunto com os professores, é possível implementar
programas para a consolidação da cultura da bicicleta. Só é preciso vontade,
não apenas política, mas a partir de casa, pois é no nosso quintal que cultivamos
os frutos do amanhã. Seja com campanhas de sensibilização e formação, com a
criação de circuitos seguros, ou actividades de orientação sobre trânsito seguro.
A promoção de um estilo de vida saudável é também uma das motivações
dos defensores deste meio de transporte, sendo indiscutíveis os benefícios que a
sua utilização significa para a saúde. Numa sociedade cada vez mais sedentária,
e com uma taxa de obesidade e doenças respiratórias nas crianças demasiado
elevada, as vantagens são óbvias e, por isso, devíamos tirar sério partido delas.
Há um caminho longo a percorrer. Mas o caminho faz-se… Pedalando,
acreditamos nós!
Eliana Freitas
OBSERVAR
+
IGREJA NOSSA
SENHORA DAS NEVES
CÓDIGO POSTAL
EDUARDO MORAIS
PASSEIO PÚBLICO
PEDRO OLIVEIRA
TALENTO
LILIANA TRIGUEIROS
HISTÓRIAS DA RUA
Vitória da Selecção Nacional de Futebol, Guimarães
FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
OBSERVAR
RADAR
BREVES
PEGADAS distinguido
internacionalmente
O programa vimaranese
- ‘Programa Ecológico de
Guimarães para a Aprendizagem
do Desenvolvimento Ambiental
Sustentável’ - foi reconhecido
como amigo do Ano Internacional
para o Entendimento Global
(IYGU), uma iniciativa da ‘União
Geográfica Internacional’ (IGU)
que aborda a forma como o ser
humano transforma e molda
a natureza, percebendo as
consequências globais do seu
comportamento quotidiano.
Cidade Desportiva do
SC Braga
Ricardo Rio, presidente da Câmara
Municipal de Braga, visitou as
obras da futura Cidade Desportiva
do Sporting Clube de Braga.
Antes da visita, foi formalizada a
doação, por parte do Município,
dos terrenos onde está a ser
implantada a Academia, bem
como constituído um direito de
superfície de longa duração sobre
o edifício das Piscinas Olímpicas.
Novo espaço de lazer
no rio Guisande
A União de Freguesias de
Guisande e Oliveira S. Pedro tem
um novo espaço de lazer que
com cerca de 8.000 m2 e que se
estende por 120 metros ao longo
do rio Guisande, um pequeno
afluente do rio Este. O projecto
foi um dos vencedores do
Orçamento Participativo 2014.
Startup Braga lança
primeira comunidade
"Beta Tester" em
Portugal
As candidaturas para aderir
à comunidade podem ser
efectuadas online e estão abertas
para todos os que tenham
interesse em ser parte activa no
apoio às startups.
Saber mais em:
startupbraga.com/betacommunity
10
Guimarães reuniu em
Bruxelas
Delegação da candidatura
vimaranense participou em
reunião preparatória para antever
a candidatura a Capital Verde
Europeia 2020. Para além de
Guimarães, também o Funchal
esteve presente neste encontro,
bem como outras cidades
europeias da Bélgica, Eslovénia,
Espanha, Estónia, França,
Finlândia, Holanda, Hungria, Itália,
Polónia, Reino Unido e Suécia.
Famalicão avança com
a requalificação das
escolas de Requião,
Telhado e Louredo
Oito praias de
Viana do Castelo
galardoadas com
Bandeira Azul
Galardão foi atribuído às praias
de Afife, Arda (Mariana), Paçô,
Carreço, Norte, Cabedelo,
Amorosa e Castelo de Neiva.
O Galardão Bandeira Azul
é uma distinção atribuída
anualmente pela Fundação
para a Educação Ambiental
(FEE) a praias (marítimas e
fluviais) e marinas que cumpram
um conjunto de requisitos de
qualidade ambiental, segurança,
bem-estar, infraestruturas de
apoio, informação aos utentes
e sensibilização ambiental. O
Centro de Mar, que funciona num
espaço do navio Gil Eannes, foi
também distinguido.
Orçamento "Tu
Decides!" fomenta a
participação cívica dos
Jovens
O Município de Braga promove
o Orçamento ‘Tu Decides!’, que
contempla uma verba de 75 mil
euros para o ano de 2017. A
entrega de propostas decorre
de 1 de Julho a 30 de Agosto.
Os projectos vencedores serão
conhecidos após o período
de exposição e votação, que
irá decorrer entre 3 e 21 de
Outubro. As propostas deverão
ser entregues em formato digital,
através do endereço electrónico:
[email protected] ou,
presencialmente, no Balcão Único
da Câmara Municipal de Braga.
O Presidente da Câmara
Municipal de Vila Nova de
Famalicão, Paulo Cunha, lançou
mais um conjunto de obras de
requalificação do parque escolar
municipal. Com um investimento
total superior a 700 mil euros,
as obras abrangem também os
espaços exteriores e, no caso de
Requião e Louredo, os edifícios
dos respectivos jardins de infância.
Braga possui uma das
maiores estruturas de
conservação vegetal
do mundo
É uma das maiores estruturas de
conservação vegetal do mundo
e está situada na freguesia de
Merelim S. Pedro, em Braga.
Prestes a celebrar 40 anos de
existência, o Banco Português
de Germoplasma Vegetal possui
uma preciosa colecção de
recursos genéticos vegetais com
grande importância estratégica
para a segurança alimentar a
nível nacional e global. O Banco
Português de Germoplasma
Vegetal possui cerca de 50 mil
amostras de mais de 100 espécies
de cereais, plantas aromáticas
e medicinais, fibras, forragens e
pastagens, cultura hortícolas e
outras espécies.
11
OBSERVAR
RADAR
Vozes da Rua
NÚMEROS
Parabéns a todos pela força, pela
criatividade, pela persistência com
a mídia impressa num mundo em
que o virtual tem ocupado tantos
espaços.
Cristiane Parente
30
milhões
A central térmica a biomassa florestal que está a
nascer em Famalicão resulta de um investimento
de 30 milhões de euros e terá capacidade para
produzir 14,75 megawatts de energia que será
debitada para a rede pública.
125
mil euros
Com um investimento superior a 125 mil euros, a
piscina da Ponte, em Braga, está agora preparada
para receber pessoas com mobilidade reduzida,
para além de possuir novas áreas, nomeadamente,
instalações sanitárias no interior dos balneários.
6
1
1.100
mil euros
Freguesia de Ribeirão, Famalicão, vai
ganhar em breve uma nova centralidade,
com a revitalização de uma das suas artérias
mais emblemáticas, a Avenida Rio Veirão.
Terá o custo de um milhão e cem mil euros.
Número de medalhas para
Portugal no Europeu de Atletismo.
A seleção nacional conquistou
2 medalhas de Ouro, 1 Prata, 2
Bronze e uma medalha de ouro
por equipas.
A praia fluvial de Adaúfe, em
Braga, conquistou a Bandeira
Azul. É a única estância
balnear da região minhota a
exibir esta bandeira.
Acabei de me cruzar com um
exemplar destes. Não a vi na RUA,
mas num hotel na zona de Viana
do Castelo. Parabéns ao Luís Leite
e ao Nuno Sampaio.
Ricardo Lemos
oops...
50
milhões
O grupo alemão Continental escolheu
Famalicão para investir numa nova unidade
de produção de pneus radiais agrícolas
que irá gerar mais de uma centena de
empregos.
'TOU BARADO
"Surreal é tudo isto"
"(...) as conversas que tive com os treinadores... os
telefonemas para aqui e para acolá... Abordámos 57
jogadores para um grupo de 18, mais quatro suplentes"
Rui Jorge, Seleccionador Nacional de Futebol, a 21 de julho ao DN
sobre a dificuldade em ter atletas disponíveis para o Jogos Olímpicos.
12
Desde já os meus parabéns
e votos de sucesso no vosso
projecto editorial bastante
interessante e importante para a
nossa região.
Daniel Bastos
Na edição nº5 de julho de 2016, na
fotorreportagem, onde se lê "após
a chegado" deve ler-se “após a
chegada”.
Em "História e Religião" onde se
lê "para a, a milenar" deve ler-se
"para a milenar". Ainda no mesmo
artigo onde lemos "em voz alto"
deveria ler-se "em voz alta".
Viste um erro?
Nós assumimos o engano.
[email protected]
www.lrb.pt
13
OBSERVAR
14
NUNO SAMPAIO
CÓDIGO POSTAL
4710-443 SENHORA-A-BRANCA
Igreja da Senhora das Neves
TEXTO Margarida Pereira, Coordenadora Geral Ass. Jovem Cooperante Natureza/Cultura
Ao longo destes 500 anos muitas formas desenharam esta
Igreja, pois só no século XVIII, por ordem do arcebispo D. Diogo
de Sousa, a Igreja toma as suas formas mais atuais. Com um
sacrário desenhado por André Soares, todos os recantos deste santuário nos contam uma história. Com um valor ímpar na
cidade, a Igreja da Senhora a Branca apresenta-se este ano em
festa, e por esse motivo, convidamos todos aqueles que nunca
entraram neste espaço a virem partilhar um pouco da beleza e
da história que este local tanto tem para oferecer.
R. de Santa Margarida
V
amos imaginar que estamos em Roma, mais propriamente no Monte Esquilino. Imaginemos agora
a temperatura desse local em pleno mês de Agosto
será quente, muito quente até. Se disséssemos agora que no Monte Esquilino há muito tempo atrás
caiu um forte nevão, seguramente pensaríamos que era impossível, ou então milagre. É exatamente disso que vimos falar na
nossa primeira rubrica no espaço Código Postal da Revista Rua,
de um milagre. Este não é um qualquer milagre, este milagre
deu origem a uma das principais igrejas do Centro histórico de
Braga. Se lhe falarmos da Igreja da Senhora das Neves, certamente esse nome não lhe será muito familiar, já o nome Igreja
da Senhora a Branca, não lhe passará despercebido, mas será
que sabe ao que se deve a existência desta igreja?
O culto da Nossa Senhora a Branca das Neves deve-se precisamente a um forte nevão que ocorreu na região de Roma, no mês
de Agosto, daí as comemorações ocorrerem no dia 5 de Agosto.
Este ano, um dia particularmente especial pois também a irmandade da Senhora a Branca comemora o seu 500º aniversário.
Av. Central
31
Av.
Jardim da
Senhora a Branca
de
o
eir
Jan
CM BRAGA
15
PASSEIO PÚBLICO
16
20 minutos com…
TECLA TÓNICA:
UMA VISÃO DA MÚSICA
ELECTRÓNICA EM PORTUGAL
TEXTO Luís Leite
M
ovido pela curiosidade de saber mais acerca
do universo musical, Eduardo Morais já realizou Meio Metro de Pedra, sobre a história do
rock and roll em Portugal; Música em Pó, sobre
coleccionadores de discos de vinil; Uivo, documentário acerca do radialista António Sérgio; e agora Tecla Tónica onde procura sistematizar a história da música electrónica
na realidade portuguesa, contando com entrevistados como DJ
Vibe, Vítor Rua e José Cid.
A digressão da vídeoteca-ambulante terminará no Pátio Exterior do gnration, em Braga, no dia 13 de Agosto, pelas 22h00,
com entrada livre. Eduardo Morais estará presente na exibição
para uma conversa com os espectadores.
Trabalhaste numa loja de discos nas Caldas da Rainha. Foi
aí que descobriste esta paixão pela preservação da memória
e esse fascínio por encontrar o lado raro da história da música moderna portuguesa?
Quando voltei para as Caldas em 2009, estava meio perdido
profissionalmente e a loja My Generation, do Pedro Rias, era o
meu novo ex-líbris para a cidade. Um local onde podia passar
a tarde toda a falar de música, conhecer bandas velhas e ouvir
discos raros que poucas pessoas podiam ouvir.
Documentar a história da música portuguesa é um acto de
resistência?
Do ponto de vista pessoal, é um prazer enorme. Do ponto de
vista financeiro, é sempre um acto de resistência, sim.
E atenção que eu não vejo de todo o que faço com um patriotismo bacoco, ou com um orgulho imenso por “ser português”.
Simplesmente é o meio que me rodeia e que eu quero conhecer
melhor, para me conhecer a mim mesmo melhor, só.
No fundo, é mesmo só curiosidade em saber mais. Nada mais.
Não há qualquer intenção nos meus documentários e na minha
pessoa em escrever a história da música por cá. Eu podia fazer
o mesmo sem mostrar a ninguém, mas seria um acto bastante
egoísta e isso não me interessa.
A intenção é partilhar com outros o que eu aprendi ao longo
de toda a produção e que os meus documentários sejam vistos
como um livro aberto, que começa na minha pesquisa e termina
na pesquisa de um eventual espectador em conhecer algo novo
após ter visto algo no filme.
Nos teus filmes procuras sempre seleccionar e explorar personagens que quebraram barreiras. Porquê?
A história da cultura moderna do Séc.XX já está praticamente
escrita e eu acredito que muito dificilmente será alterada. O Rui
Veloso será sempre “o Pai do Rock”, o Elvis será sempre o “Rei
do Rock’n’roll“, os Kraftwerk serão para sempre os “pioneiros da
música electrónica”.
Não transformando isto no jogo do “ovo e da galinha”, e sem
tirar qualquer mérito aos mesmos, mas é um facto que antes
deles já existiam músicos e compositores que compunham da
mesma forma e que nunca ficaram para a história, pois na história da música têm-se vindo a escrever sobre os que levam um
certo estilo ou género às massas (ou às franjas, conforme o que
se fala), mas para mim interessa-me muito mais saber quem é
que cometeu a loucura de começar algo sozinho.
Depois da estreia do documentário no IndieLisboa viajaste
com o filme de norte a sul do país. Porque tens apostado
neste formato de distribuição?
Sinceramente, não sei como o fazer de outra forma, mas por
outro lado, chateia-me um pouco o momento competitivo que
o cinema (e a sociedade em geral) está a viver. Parece que só se
dá valor a vencedores de competições.
Então, a intenção desta vídeoteca-ambulante é a mesma de
uma banda que se quer mostrar e tocar o mais possível para
evoluir profissional e pessoalmente. Tenho a felicidade de ter
feito amizades em todas as localidades onde levo os documentários, e se posso aliar essa “visita boémia” a uma mostra de
um trabalho meu e ainda poder conversar com os espectadores
no fim das exibições e trocar ideias novas, para quê “andar à
bulha” com outros filmes?
Em Tecla Tónica documentas a história da música electrónica com uma cronologia bastante linear. Como chegaste aos
primórdios e como decides o fim da história?
Eu não vejo o Tecla Tónica como a “história da música electrónica”, é uma visão pessoal da electrónica na música feita em
Portugal. O termo “música electrónica” é um dúbio por si só, e
é difícil engavetá-lo numa única prateleira, daí a minha abordagem ao tema ter sido feita principalmente pelo lado maquinal.
Infelizmente, muitos dos principais compositores de música
electrónica em Portugal já não estão entre nós, mas foi ao descobrir a sua música que decidi criar este documentário.
A cronologia do documentário é definida sempre com uma
base lógica de acontecimentos que me apetece mostrar. Se a
ramificação X ou Y está de fora do meu trabalho, é porque no
caminho que o documentário segue, eu achei que não fazia
sentido incluir. Também por uma questão de prazos, não consegui incluir toda a gente que queria.
Ao fazer um documentário cronológico, a minha maior dificuldade é sempre decidir o fim. Parece que qualquer interveniente que termine o documentário, é a escolha do realizador/
editor como o derradeiro descendente desta história, quando
não é verdade.
No caso do Tecla Tónica não vou dizer como termina senão,
não tem piada.
no gnration a filmar uma residência artística de um músico que
eu admiro imenso, o Peter Kember, exactamente numa espécie
de estágio pessoal para começar a produzir o Tecla Tónica.
Para além de admirar muito a programação que o espaço tem,
esta primeira volta de exibições terminará exactamente num
local que tão bem me acolheu quando estava de mãos vazias.
É inevitável perguntar: com o fim da digressão de Tecla Tónica abre-se um caminho para novos projectos?
O caminho para os novos projectos já está aberto desde o início do ano, e felizmente tem vários destinos. Tenho entre-mãos
neste momento duas séries documentais: vou voltar a trabalhar
com a Hey, Pachuco! do Barreiro e a sua Câmara Municipal,
num projecto que ainda não se pode desvendar; já para a Antena 3, para além da já lançada “Casas das Máquinas” sobre
estúdios de gravação, estou a começar o projecto “Fios Bem Ligados”, sobre os desafios de se fazer música independente em
Portugal, focando-me nas editoras, direitos de autor, descentralização, produção de concertos, etc.
Moullinex
Pedro Coquenao
Roland System
Vais finalizar a digressão do Tecla Tónica no gnration, em
Braga. Um espaço que tem na sua programação uma aposta
grande na música electrónica. É por isso um fecho especial?
É curioso que em Janeiro do ano passado, passei uma semana
17
TALENTO
PEDRO OLIVEIRA:
UM MUNDO COM
CENTRO NA MÚSICA
TEXTO Nuno Sampaio FOTOGRAFIA Luís Macedo
P
Perfil
Pedro Oliveira começa a tocar bateria em 1995.
Integra, em 1997, a banda Kafka com a qual
percorre o país em concertos, sendo um dos mais
emblemáticos o do festival “Sudoeste”, em 2001.
Em 2004 integra por duas tours os Submarine,
e em 2005 entra como membro efectivo na
banda Green Machine onde faz várias incursões
internacionais. No mesmo ano começa a
actividade de músico de suporte com os artistas
Old Jerusalem e The Partisan Seed.
Em 2007 forma os peixe:avião, uma das mais
emblemáticas bandas do novo rock cantado em
português. Alcança os tops nacionais de vendas
com os discos “Madrugada” e o homónimo
“peixe:avião”, atingindo assim o reconhecimento
da crítica especializada.
Executa, ao longo do tempo, vários trabalhos para
cinema e televisão, sendo de destacar a banda
sonora do filme “O que há de novo no amor”; e
o filme musicado “Ménilmontant” para o festival
Curtas de Vila do Conde, ambos realizados pela
banda peixe:avião.
Em 2010 funda a editora e colectivo de artistas
Pad/Easy Pieces e, juntamente com André Simão
e Graciela Coelho, criam os Dear Telephone.
Actualmente, com os duos Ozo (juntamente com o
pianista Paulo Mesquita), PO+AL (juntamente com
Alexandre Soares) e com o seu projecto a solo
Krake, utiliza uma linguagem mais exploratória
baseada na electrónica e processamento de sinal,
sempre como fonte a bateria preparada.
18
edro teve o prazer, durante a sua carreira, de partilhar gravações e concertos
com músicos tão emblemáticos como Ana Deus, Manuela Azevedo, Bernardo
Sassetti, Alexandre Soares, Sérgio Nascimento, Jorge Coelho, Sensible Soccers, Madame Godard, Nobody´s Bizness, Rose Blanket, entre muitos outros.
Partilhou palcos e abriu concertos para bandas como Massive Attack, AIR,
Tame Impala, Morcheeba, Guano Apes, Einstürzende Neubauten, Swans, Mike Patton,
Black Lips, No Age, Kurt Vile, entre muitos outros nacionais e internacionais.
Pedro Oliveira é também criador do Colectivo Ensemble Insano que reúne 19 músicos da cidade de Barcelos, assim como do “Barcelos Music Market" (feira de troca e
venda de material de música usado) e do Festival “Prata da Casa”, que junta todos os
profissionais da área da música na cidade de Barcelos oferecendo à população vários
concertos gratuitos.
Em 2016 estará também em cooperação com a Câmara Municipal de Barcelos e a
Associação “O Burgo Divertido” na criação do “Jazz ao largo”, um festival de jazz que
ocorrerá em Barcelos durante o mês de Setembro.
19
OPINIÃO
HISTÓRIAS DA RUA
A FAMÍLIA É A
MELHOR MEDICINA
TEXTO Liliana Trigueiros - Psicóloga
Q
uando entro num gabinete e uma família me conta a sua
história há sempre uma palavra, uma página, um pedaço do
modelo de terapia familiar de Andolfi que paira sobre o meu
olhar, a minha forma de agir e de compreender o que me
trazem. Por estes dias tive a oportunidade de reinventar, de
transformar aquilo que sou enquanto psicóloga, a partir de uma experiência formativa com Maurizio Andolfi.
Muitas famílias que nos pedem ajuda vêm com um pedido expresso relativamente a um dos filhos. As motivações podem ser várias como insucesso escolar, mau comportamento, problemas alimentares, delinquência,
consumos de drogas e tantos outros descritos na bíblia dos psicólogos e
psiquiatras - o DSM. Perante esta queixa aparentemente individual, temos
dois caminhos interventivos possíveis: o primeiro e mais habitual centrado
no problema que o adolescente apresenta, com vista à alteração comportamental e eliminação do sintoma. Se o problema se manifesta no filho
porque é que devemos envolver toda a família?
Numa abordagem Andolfiana, é necessário compreender aquilo que
aquele sintoma nos quer mostrar, em que contexto e família aquele sintoma tem lugar e quais os significados que poderá adquirir, não apenas
para o filho portador da doença mas para todos os envolvidos. Torna-se
fundamental conhecer a história da família, os problemas que tendem a
perpetuar-se em várias gerações, a estratégia que a família adotou durante
anos (talvez décadas) para ultrapassar os momentos de crise e, sobretudo,
aquilo que entendem sobre quem cuida, como se dão os afetos ou como
se pertence àquela família. Este é um trabalho mais longo, mais duro seja
para o psicólogo seja, sobretudo, para a família - não será fácil reintegrar
e recriar aquilo que entendemos como certo, as nossas obrigações, as relações e afetos. No entanto, a partir desta perspetiva, conseguimos renovar
a função que cada elemento tem, alterando por conseguinte o papel que o
sintoma adquiriu naquela casa.
Mas o que é isto de pertencer à família ou os papéis que cada um tem?
Se por um lado e objetivamente pertencemos à família na qual crescemos,
por outro nem sempre é verdadeiramente vivido esse sentido de pertença.
Andolfi, sobre esta temática, fala-nos de dependências sanas e insanas. A
primeira respeita precisamente a este sentimento inquestionável sobre de
onde vimos e somos. A segunda aparece, muitas vezes, na adolescência por
exemplo sob a forma de um consumo de drogas ou de um distúrbio alimentar. No fundo, esta dependência à comida ou drogas mostra-nos a substituição de uma dependência sana nunca vivida por uma insana que satisfaz o
vazio da não pertença. Sobre os papéis que os adolescentes desempenham,
ouvi Andolfi ao longo dos seus atendimentos, a perguntar aos jovens: Olha
lá, tu fazes esse trabalho todo voluntariamente para a tua família há quantos anos? Olho para ti e vejo uma rapariga com quinze anos contudo com
uma cabeça e responsabilidades de sessenta. É interessante que quando
fazemos estas perguntas a um adolescente logo se percebe que o problema
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que nos traz traduz a estratégia, ainda que disfuncional, de equilibrar a
sua idade cronológica, o seu papel de filho, com as funções que lhe deram
por ventura demasiado cedo. Há ainda um outro elemento a considerar: o
sintoma encerra também o medo de perda, a urgência de uma mudança,
de uma reflexão. Nesta linha ouvi também Andolfi a perguntar: o que mais
terás tu de fazer para que te vejam?
Olhando para estes exemplos, teremos então que nos debruçar sobre a
alimentação/consumos de substâncias, insucesso escolar - o problema ou
sobre as razões que levam aquele adolescente a sentir que não é cuidado,
amado e, sobretudo, a reverter este processo?
O problema que o adolescente nos traz é uma oportunidade para que a
família reflita sobre si própria, sobre o significado desta dependência insana, sobre uma estratégia que transgrida com as gerações anteriores e
acarrete uma evolução familiar. Ora, de acordo com Andolfi, se o problema
reside na família e não somente naquele que o manifesta, é também com
ela que encontramos a solução, sendo a família a melhor medicina.
As férias são, para muitas famílias, o ajuste de contas. O tempo passado
em conjunto desmascara os problemas latentes ao longo de todo o ano. O
verão é como um espelho: mostra-nos o que temos, as nossas fragilidades,
mas também as inúmeras possibilidades de transformação e redefinição
do lugar, do papel de cada um. É exatamente aqui que reside aquilo que
mais aprendi com Andolfi e que talvez seja a grande mais valia da terapia
familiar - se a crise é entendida como uma oportunidade para crescermos,
se o que temos de mais frágil pode ser revertido num recurso então todas
as famílias poderão ter a oportunidade de viver este verão, este confronto
com aquilo que são como um momento de reflexão e alteração daquilo que
as faz estagnar num tempo e sofrimento que se traduz no sintoma do adolescente, no abandono do mais velho ou na separação do casal.
[email protected]
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22
COMPREENDER
REPORTAGEM
É O VIRA MINHOTO
NO SAMBA DO RIO 2016
TEXTO Luís Leite
São 10 mil atletas de 206 diferentes nações. São 306
provas, em 42 modalidades desportivas. A equipa
olímpica portuguesa, composta por 93 atletas,
representará o país em 16 modalidades desportivas.
A mais jovem atleta portuguesa é bracarense e tem
apenas 17 anos. O Jogos Olímpicos decorrem de 5 a
21 de agosto de 2016.
D
ia 5 de agosto, o mítico estádio do Maracaná recebe a
cerimónia do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. São os jogos mais tensos das décadas mais
recentes, entre conflitos políticos, sociais, segurança e
escândalos de doping. Mas é com o ritmo português que
o samba vai ecoar no Rio 2016. O tom foi dado no dia 10 de julho;
campeões Europeus de Futebol e várias medalhas conquistadas em
diversas disciplinas no Campeonato Europeu de Atletismo. Pode ser o
ponto de partida para o início de um período auspicioso do desporto
português. A alma lusa está aí para fazer furor no país dos nossos
irmãos e por isso avançamos com o ritmo do vira minhoto.
23
Tamila Holub
BRAÇADAS
PARA O SUCESSO
Tens 17 anos, o que esperas do futuro?
Espero que seja tão feliz como está a ser agora. Espero que realmente não
mude de atitude que me mantenha igual, que continue a ser a pessoa que
sou, que o sucesso não me mude e que continue a melhorar as marcas, que
continue a treinar e que continue a ver que o resultado aparece.
O que representa para ti estar nos Jogos Olímpicos?
Representa que se calhar o tempo todo que estive a treinar, o esforço, o sacrificio, tudo, tudo, valeu a pena e que vale a pena continuar, até porque gosto
daquilo que faço. Realmente sou uma pessoa muito surtuda, porque conheço
muitas pessoas que também treinam muito, mas se calhar...não sei, se calhar
não tiveram tanta sorte ou são muitos factores. Eu realmente estou muito
feliz porque consegui aquilo que realmente sonhei, que ambicionei.
Esperavas alcançar esta meta tão cedo?
Sinceramente esperava mas ao mesmo tempo não acreditava muito. Acreditava mais o meu treinador, a minha família, acreditava toda a gente menos eu. Acreditava no fundo, mas era sempre aquela coisa, não consegui
bem imaginar-me a mim nos Jogos Olímpicos. Porque os Jogos são aquela
coisa enorme, fantástica e eu… Nunca me achei nada assim de sobrenatural, basicamente eu treino e depois vejo os resultados e é muito bom perceber que pelos visto treino muito e que o resultado aparece. É muito bom.
Como é ser a campeã europeia de 1.500 metros livres?
É um orgulho enorme, é um orgulho enorme mesmo. Porque lá está. Sentes… Quando estava no pódio e estava a ser a vice-campeã [em 800M livres]
e ouvi o hino de outro país e vi a bandeira, pensei: “também quero uma coisa
assim para mim”. Realmente estou muito feliz por também ter conseguido,
ter feito a mesma coisa, porque é uma sensação fantástica. Realmente não
és só tu, sentes a responsabilidade nas costas, porque as pessoas já começam a contar contigo para representares e continuares a evoluir o desporto
e Portugal.
Quais são os teus objectivos para os Jogos Olímpicos?
Basicamente aproveitar ao máximo a competitividade porque vai ser difícil,
vou tentar lutar por uma final mas é extremamente difícil. Se entrasse no
top vinte ficava bastante satisfeita. Vou mesmo aproveitar, primeiro para
bater o meu tempo, o recorde absoluto, se conseguir isso vou ser muito,
muito feliz.
Bater recordes é uma missão pessoal?
Basicamente é, porque os meus recordes pessoais calham de também serem recordes nacionais por isso, basicamente quando tenho de bater um
recorde pessoal, bato um recorde nacional absoluto ou assim e já tento
nem pensar que é assim tão especial, tento pensar que é uma coisa básica.
Tento não dar tanto valor porque é uma coisa que temos de estar sempre a
melhorar o nosso tempo, a evoluir.
MODALIDADE NATAÇÃO
PROVA 800M LIVRES
NATURALIDADE Cherkasy | Ucrânia
CLUBE Sporting Clube de Braga
PRESENÇAS EM JOGOS 0
Campeã europeia júnior dos 1500 livres, Tamila Holub é a mais jovem atleta da Equipa Olímpica para os Jogos Olímpicos Rio 2016. A bandeira da
natação do Sporting Clube de Braga nasceu a 15 de maio de 1999, filha de
imigrantes ucranianos, e chegou a Portugal com cerca de 2 anos. Holub tem
vindo a realizar uma carreira consolidada. Soma já 27 recordes de Portugal
e é o mais promissor talento da Natação portuguesa.
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Fora do tema desportivo, o que é que esperas dos Jogos Olímpicos no
Rio de Janeiro?
Espero que façam samba na cerimónia de abertura (risos). Quero mesmo
ver. Apesar de todos os comentários, eu até acredito que vai ser tudo bem
organizado e a segurança também, vai ser fantástico, porque é aquele sítio
onde se une tudo, não há aquela diferença. As pessoas são todas iguais,
cada um tem as probabilidades iguais de vencer e é isso que os torna tão
especiais. É por isso que toda a gente diz: "Jogos Olímpicos, somos todos
iguais", e eu quero realmente fazer parte disso.
E vais dançar samba?
(risos) Se houver, ai não!
Dulce Félix
MODALIDADE Atletismo
PROVA Maratona Fem.
NATURALIDADE Guimarães
CLUBE SL Benfica
PRESENÇAS EM JOGOS 1
Estreou-se nos Jogos Olímpicos em Londres
2012, na Maratona. Em 2012 foi campeã europeia de 10.000 metros. Este ano conquistou a
Prata na mesma prova nos Europeus em Amesterdão com um novo recorde pessoal. Maratona,
é a prova que vai disputar no Rio de Janeiro.
José Costa Mendes
Prescindiu da participação nos Europeus de
Moscovo em prol do melhor resultado nos Jogos
Olímpicos. Concilia o desporto com a sua atividade profissional; militar da GNR. Estreia-se nos
Jogos Olímpicos, na disciplina de C1 200M.
Teresa Portela
Hélder Silva
MODALIDADE Canoagem
PROVA C1 200M
NATURALIDADE Braga
CLUBE Clube Náutico do Prado
PRESENÇAS NOS JOGOS 0
MODALIDADE Ciclismo
PROVA Estrada
NATURALIDADE Guimarães
CLUBE Bora-Argon 18
PRESENÇAS EM JOGOS 0
É o mais recente campeão nacional de Estrada.
Faz parte da restrita lista de quatro ciclistas convocados pelo Seleccionador Nacional, José Poeira, para a corrida de estrada, marcada para o dia
6 de Agosto. É o único dos quatro ciclistas que se
vai estrear nos jogos.
MODALIDADE Canoagem
PROVA K1 200M Fem., K4 500M Fem.
NATURALIDADE Esposende
CLUBE SL Benfica
PRESENÇAS EM JOGOS 2
Foi a única canoísta portuguesa a competir em
três provas nos Jogos Olímpicos de Londres
2012: K1 200m, K1 500m e K4 500m. Em 2012
conquistou a Medalha de Ouro em K1 200M conquistada na Taça do Mundo, na República Checa.
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MODALIDADE Canoagem
PROVA K2 1000M Masc., K4, 1000 M Masc.
NATURALIDADE Ponte de Lima
CLUBE Clube Naútico de Ponte de Lima
PRESENÇAS EM JOGOS 1
Fernando Pimenta é Vice-Campeão Europeu,
Vice-Campeão Mundial e desde Londres, Vice-campeão Olímpico juntamente com Emanuel
Silva em K2 1000M. Conquistou a medalha de
prata nos Jogos Olímpicos de Londres, sagrou-se
campeão da Europa de canoagem, em K1 1000,
a dois meses dos Jogos do Rio de Janeiro.
João Ribeiro
Jéssica Augusto
Prestes a tornar-se no mais olímpico de sempre
da canoagem portuguesa, Emanuel Silva tem colecionado medalhas na sua carreira. Nos Jogos
Olímpicos de Londres 2012, juntamente com
Fernando Pimenta, conquistou a única medalha
olímpica portuguesa na canoagem.
Fernando Pimenta
Emanuel Silva
MODALIDADE Canoagem
PROVA K2 1000M Masc., K4 1000 M Masc.
NATURALIDADE Braga
CLUBE Sporting CP
PRESENÇAS EM JOGOS 3
MODALIDADE Atletismo
PROVA Maratona Feminina
NATURALIDADE Paris - França
CLUBE Individual
PRESENÇAS EM JOGOS 3
MODALIDADE Canoagem
PROVA K2 1000M Masc., K4 1000 M Mas.
NATURALIDADE Esposende
CLUBE SL Benfica
PRESENÇAS EM JOGOS 0
Conquistou a Medalha de Bronze na Maratona
do Campeonato da Europa, disputado em Zurique, na Suíça, em 2014. Após ter sido mãe,
regressou a tempo da participação nos Jogos
Olímpicos Rio 2016 e de conquistar a Medalha
de Bronze nos Europeus de Atletismo na prova
da Meia-Maratona Feminina.
Iniciou a prática desportiva em 2005, no Grupo
Cultural Desportivo e Recreativo de Gemeses, no
concelho de Esposende. É Campeão da Europa
e do Mundo em Canoagem. Acredita que a sua
dedicação à Canoagem é a principal razão por
já ter chegado tão longe. Vai estrear-se no Rio
2016 e ambiciona medalhas.
Vânia Neves
João Sousa
Foi o primeiro tenista português a vencer uma
prova do ATP World Tour, o ATP250 de Kuala Lumpur em outubro de 2013 e o ATP250 de
Valência em novembro de 2015. Foi também o
primeiro tenista português a entrar no Top-40
(2014) do ATP World Tour.
Mais um jovem valor da natação portuguesa que
conseguiu o apuramento para os Jogos Olímpicos, sendo a única atleta portuguesa a assegurar
a presença na prova de Águas Abertas no Rio de
Janeiro.
MODALIDADE Taekwondo
PROVA 58 Kg
NATURALIDADE Creixomil, Guimarães
CLUBE Vitória Sport Clube
PRESENÇAS EM JOGOS 0
É o atual campeão da Europa de Taekwondo e
atual Campeonato da Europa de Taekwondo de
Categorias Olímpicas, na categoria de -58 kg, títulos conquistados em 2014, em Baku, e em 2015
na Rússia. Em 2016 já conquistou várias medalhas, Ouro e Prata, em competições internacionais, incluindo o Test Event do Rio de Janeiro.
Salomé Rocha
MODALIDADE Natação
PROVA Águas Abertas
NATURALIDADE Viana do Castelo
CLUBE Fluvial Portuense
PRESENÇAS EM JOGOS 0
Rui Bragança
MODALIDADE Ténis
PROVA Singulares Masculinos
NATURALIDADE Guimarães
CLUBE Individual
PRESENÇAS EM JOGOS 0
MODALIDADE Atletismo
PROVA 10.000M
NATURALIDADE Vizela
CLUBE SL Benfica
PRESENÇAS EM JOGOS 0
Já passou pelos dois grandes de Lisboa, competindo agora pelo SL Benfica. No Rio de Janeiro
irá fazer a sua estreia nos Jogos Olímpicos. A
atleta vizelense obteve em Londres os mínimos
para participar na prova de 10.000 metros nos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
27
COMPREENDER
HISTÓRIA E RELIGIÃO
JESUÍTAS OU O MISTICISMO
JUDAICO DE FUSÃO
TEXTO Cláudia Sil
M
esmo que não quisesse falar de misticismo judaico não o
conseguiria quando o tema é a sigla IHS. Descendo a Rua D.
Frei Caetano Brandão, agora em voga na noite bracarense
onde se pode degustar cozinha de fusão ou beber gin (con)
fusão ou qualquer uma das outras paradigmáticas bebidas
como a caipiroska, evidência líquida de que o mundo se globalizou, avistase ao nº 154 uma padieira de janela onde se lê, entre dois ornatos, IHS.
É realmente surpreendente a percepção de que os transeuntes entendem
que aquelas letras dizem algo: “O que querem dizer?”. Ninguém tem uma
resposta imediata, clara, concisa. A esgaravatação documental não trouxe
nenhuma informação relevante sobre o assunto. Nem Albano Bellino, na
sua magnífica obra “Inscrições e lettreiros da cidade de Braga e algumas
freguezias ruraes”, 1895, fala na dita inscrição ao longo das 180 páginas
desta preciosidade.
O único IHS bem conhecido é a sigla da Companhia de Jesus e toda a
história da sua existência está envolta em enorme mistério, imprecisões e
perseguições. E quando se pensava que já tudo se tinha conjecturado sobre
isto aparece agora, pela primeira vez na história, a ilustre sigla no escudo
do Papa Francisco.
A Companhia, ou Sociedade em tradução literal do latim, de Jesus, foi
fundada em 1534 por Inácio de Loyola que vai estudar para Paris e se junta
a cinco outros companheiros, entre os quais Francisco Xavier e o português
Simão Rodrigues de Azevedo. Inácio esteve, antes disso, em Jerusalém durante um ano e depois, de regresso à Europa, é perseguido pela inquisição.
Primeiro sob a suspeita de pertencer ao movimento dos alumbrados, que
se pode considerar como um dos ramos do, naquela época emergente, misticismo Europeu designado por iluminismo, cujos membros eram na sua
maioria judeus convertidos ao cristianismo. Depois é preso por ter dado
muito nas vistas com as suas pregações baseadas no livrinho por ele escrito
de “Exercícios espirituais”. Apesar disso a ascensão desta organização de
estudantes foi apaixonante e meteórica e 25 anos depois já D. Frei Bartolomeu dos Mártires lhes oferecia a igreja e edifício do Colégio de S. Paulo
em Braga. Estudar sempre foi o seu mote, como faziam todos os místicos,
os cabalistas, como foi Jesus, que por cá tanto haviam e “desapareceram”.
Sobre o significado das letras IHS no logotipo da Companhia existem
diversas versões, algumas que são divergentes dentro da própria igreja católica, outras mais extravagantes ou menos esclarecidas:
- monograma de Jesus em caracteres gregos ΙΗΣ (iota, eta, sigma; Iesous);
- In Hoc Signo (versão de Constantino que significa por este sinal);
- Iesus Hominem Salvator, em latim, quer dizer Jesus Salvador dos Homens;
- Isis, Horus e Set, trindade de deuses egípcios adoradores do Deus Sol.
28
Rodando o escudo pode ler-se a palavra SHI. Remeterá para a letra hebraica shin conectada com o nome de Deus Shadai? E aquilo que se vê agora
como três pregos foi inicialmente, em documento de 1548, uma flor-de-lis
talvez referindo-se à coroa do shin que significa o novo estado das coisas, o
mundo que está para vir, o mesmo significado do sol flamejante. O escudo
tem ainda representada uma espada, não uma cruz como pode parecer à
primeira vista. Quando se vira ao contrário sugere a morte de S. Pedro sendo
que a cruz invertida está também associada à negação do cristianismo.
Isto há Segredos…
29
ENTREVISTA
UMA CIDADE, UM CLUBE,
UMA “ESCOLA DE CAMPEÕES”
É uma espécie de presidente “amuleto”. João Luís Nogueira dirige o ABC/UMinho
desde 2014 e desde então o clube “ganhou quase tudo o que havia para ganhar”. Não
assume o mérito, esse, diz, “é todo dos atletas”, a quem chama “heróis”.
TEXTO Joana Carneiro FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
D
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efine o clube como uma “escola de campeões”
mas quanto a jogar na Liga dos Campeões Europeus na época 2016/2017, “privilégio” a que
o ABC/UMinho tem direito depois de ter sido
(mais uma vez) campeão nacional, o presidente minhoto tem as suas dúvidas: “Se fosse uma
decisão puramente racional não nos inscrevia na
Liga dos Campeões”, assegura.
No entanto, como a razão não interfere com o
sonho, João Nogueira quer passar a fase de grupos da liga “dos grandes” e, “se for só pedir”, receber o Paris Saint Germain.
Porque é que põe em causa a participação na
Liga dos Campeões Europeus?
A participação do ABC só tem lógica se pudermos
jogar em casa, em Braga. É uma das coisas que
nos torna fortes, jogamos para a nossa cidade.
A questão é que Braga ficou mais pequena nas
infraestruturas do que as próprias competências
dos seus clubes, particularmente o ABC/UMinho, que atingiu um nível de competição que a
cidade não acompanhou. Não tem um pavilhão
que possa ser homologado na Liga dos Campeões
Europeus, o que é altamente lamentável.
O acesso à competição grande da Europa está
a ter um sabor agridoce?
Ir à Liga dos Campeões Europeus é um orgulho
e um aumento da credibilidade mas é tudo para
acumular prejuízo. É para aumentar a fatura da
despesa porque as exigências são enormes.
A Federação Europeia de Andebol (EHF), que organiza a competição, está a criar dificuldades?
Apontam o piso e os marcadores e até se entende. Mas isto é tudo uma pescadinha de rabo
na boca. A própria EHF comercializa o piso, vai
tudo ter ao mesmo sítio, quem organiza é quem
vende, decide e manda. Estamos sempre presos.
E as instâncias nacionais?
Têm pouco poder. Não têm intervenção nenhuma porque, de uma forma geral, estão lá para se
servir e não para servir a modalidade, ou seja,
obviamente aceitam aquilo que a Europa mandar, de bom grado. E os clubes que se amolem.
Que paguem, que invistam. Começa a ser uma
competição para ricos, porque é muito cara.
É sempre a pagar. Até as pessoas que eles [EHF
e Federação Portuguesa de Andebol] convidam
para ver os jogos é o clube que paga. Há aqui
uma inversão de tudo, é preciso dar mais importância aos clubes para eles poderem sobreviver.
Sem clubes não há associações, sem associações
não há federação e está-se a espoliar os clubes
até à medula.
Mas já é certo que não vão jogar em Braga?
Somos resilientes. Não faz sentido jogarmos
noutra cidade, seja ela qual for. Acho que vamos
conseguir jogar no Parque de Exposições de Braga (PEB), a Câmara [Municipal de Braga] dispôs-se a apoiar-nos no que diz respeito ao piso e
aos marcadores para aquele espaço. Vamos ver.
E se não conseguirem avançar com a solução
do PEB, o que significa não jogarem em Braga?
Um grande problema, um grande contratempo.
Perde-se o espírito. A nossa cultura é bracarense, regional. Não somos um clube nacional que joga em
qualquer sítio, sítio que tem sempre massa adepta.
Nós jogamos para a nossa cidade. Somos um clube
comprometido exclusivamente com a cidade.
A “casa” do ABC é o Pavilhão Flávio Sá Leite,
que já tem traçado um projeto de reabilitação
mas que ainda não avançou. Porquê?
Andamos há dois anos a falar nela. Mas essas são
perguntas para outro presidente (risos).
Eu confio que ele [Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga] vai inaugurar a obra
neste seu mandato.
Diz muitas vezes que é na ligação com a cidade de Braga que o ABC/UMinho tem a sua
força e que é em Braga que está a missão do
[O ABC/UMinho] Não tem um pavilhão que
possa ser homologado na Liga dos Campeões
Europeus, o que é altamente lamentável
clube, formar cidadãos. A formação é o pilar
do clube?
É uma vertente muito importante, temos cerca
de 300 miúdos, agora também meninas, para
ali fazerem Desporto, mas acima de tudo terem
uma vida sadia. Porque o Desporto é solidariedade, amizade, ter regras, é ter disciplina, é ter
compleição física. Tudo isto junto dá uma mulher
ou um homem perfeitos. Dá um cidadão.
É a tal “escola de campeões”?
É. Não é propriamente pelos títulos, pese embora
o ABC possa sublinhar esse aspeto. Nos últimos
30 anos ganhamos 29 títulos na formação, mais
outros tantos títulos nacionais nos escalões séniores. Em 2016, em 4 títulos possíveis, o ABC
ganhou três e tem o sexto orçamento do campeonato e fê-lo só com jogadores nacionais. O que
quer dizer que o dinheiro não é tudo.
Porque é que salienta o facto do ABC/UMinho
só ter jogadores nacionais?
Não temos um estrangeiro e isto não é xenofobia, a verdade é que também não temos poder
económico para os ir buscar. Isto tem a ver com
racionalidade e rentabilidade de quem recebe
dinheiros públicos, os aplica e aposta nos nossos
jovens, da nossa cidade.
Novamente o compromisso com a cidade.
É uma vertente muito importante do clube. O
ABC/UMinho deve muito à cidade. A economia
de Braga tem ajudado muito. Muitos dos nossos
amigos são empresas locais. Não nos podemos
esquecer de que somos um clube regional e isso
não é propriamente uma fraqueza.
É a aposta na formação que liga tanto o clube
à cidade?
Acredito que ajude. Temos 17 treinadores de formação. Temos miúdos com 3 anos na formação.
Estamos em todos os escalões, quase desde as
fraldas. Às vezes até parece uma creche.
Por regra, o Pavilhão Sá Leite está sempre
cheio quando o ABC joga. Houve jogos com
gente até no telhado. No entanto, só têm 900
sócios.
Uma coisa é o nosso sentimento, outra é a nossa
carteira e as pessoas têm pouco dinheiro. Temos
jogos com duas mil, duas mil e trezentas pessoas. A lotação do Sá Leite é de 1500. É uma das
coisas que pedimos para ter em conta na requalificação do edifício. Mas a afluência aos jogos
mostra bem o nosso papel na cidade.
E depois temos o melhor parceiro do mundo.
A Universidade do Minho (UMinho). Em que
medida contribui para o sucesso do ABC a
parceria com a academia minhota?
Ganham todos. Permitiu que a UMinho fosse
campeã na modalidade, que a seleção nacional
universitária fosse campeã do mundo. Deve-se a
sete, oito atletas do ABC que são estudantes da
33
atletas perfeitos nem autossuficientes. Queremos
atletas que precisem do colega para jogar bem.
São uma verdadeira equipa.
Sim, isso é o que acontece no ABC e torna este
clube um “grande”.
Ganhar títulos também.
Ajuda, isso ajuda. Nós partimos para a competição na qualidade de competidores. Mas competimos assentes em três pilares, dos quais não
abdicamos: disciplina, humildade e organização.
Estes são os valores fundamentais que temos que
pôr em campo. Depois vem a oportunidade de
ganhar o jogo. Temos tido essa felicidade e competência.
UMinho. Ou seja, permitiu que uma universidade sem licenciatura em Desporto fosse campeã
da Europa e desse uma fornada de jogadores de
andebol (risos).
Já o ABC ganha prestígio com um parceiro destes. Ganha benesses no pagamento de propinas,
os nossos atletas não pagam propina.
E voltamos à importância da formação.
Exatamente. Nós apostamos no conhecimento,
nas qualificações e, obviamente, que assim sendo
a UMinho só podia ser o nosso primeiro parceiro.
Uma grande parte dos jogadores do ABC, da
equipa sénior, são universitários.
Em 16, temos 12 universitários, isto embaratece
o custo por causa da parceria com a UMinho. Somos um bocado aquilo que era a Académica no
futebol. São todos muito jovens.
E depois temos o Humberto com 36.
Disse há pouco que o dinheiro não é tudo.
Qual é o orçamento do ABC/UMinho?
(risos) Digamos que é um quarto ou talvez 15
ou 20% do Benfica, Sporting ou Porto. O nosso
orçamento não chega a meio milhão de euros.
Como disse, o dinheiro não é tudo e essa é uma
boa escola de vida. O desporto não é dinheiro,
passa pela humildade, trabalho, solidariedade.
Esse é o segredo do ABC.
É evidente que tivemos a sorte de ter o melhor
treinador português, que é o Carlos Resende. É
um mestre em coaching, na liderança, e isso ajuda os nossos atletas a se superarem.
34
Quanto ganha um jogador do ABC/UMinho?
Se quisermos fazer a média, menos de 1000
euros. Temos estudantes que não ganham 500
euros, embora tenham a propina paga. Estes
miúdos ganham muito pouco. O atleta mais promissor do campeonato é nosso, é o André Gomes
(17 anos) e que seguramente vai ser o melhor
atleta nacional, vai ser difícil de o segurar. Para
a idade ganha muito, pese embora ganhe menos
de 500 euros. Mas estuda de forma gratuita.
Fala com orgulho dos seus atletas.
Imenso. São verdadeiros heróis. Nós temos a
consciência que não temos os melhores jogadores mas temos a melhor equipa, disso não há
dúvida nenhuma. Completam-se. Não queremos
Voltando à Lida dos Campeões Europeus.
Além de jogar em Braga, qual é o objetivo real
e qual é o sonho?
O real é chegar aos oitavos de final. Acho que é
possível. Até porque os potes estão organizados
por níveis e os “grandes” estão todos juntos. O
nosso grupo está ao nosso alcance.
O sonho… bem… se for só pedir, queria receber,
em Braga, o Paris Saint Germain. Era sinal que
tínhamos passado a fase de grupos.
Em 2016, o ABC/UMinho foi campeão nacional, tendo ganho ainda a Taça Challenge, pelo
que conseguiu um lugar na fase de qualificação da Liga dos Campeões Europeus. Pela
frente, o clube minhoto tem os austríacos do
Bregenz, o campeão belga Achilles Bocholt,
e o Maccabi Tel Aviv, de Israel. O clube minhoto espera poder jogar a fase de grupos da
Liga dos Campeões em Braga, no PEB, que irá
sofrer uma intervenção de requalificação no
piso, bancadas, marcadores e balneários para
o efeito, caso a EHF aceite a candidatura à
homologação daquela infraestrutura.
Não temos os melhores jogadores mas
temos a melhor equipa, disso não há dúvida
nenhuma
35
OPINIÃO
EDADREBIL AD ADINEVA
,AIMEDACA AMU ED OSICERP
?AÇNECIL EM-ÁD
Futebol e Autarquia de mão dada, como nos bons velhos tempos!
TEXTO Luís Tarroso Gomes
O
Sporting de Braga (SCB) está a construir uma cidade desportiva que segundo o seu dirigente valorizará o património do
clube em 50 a 60 milhões de euros. Mas, para isso, mais uma
vez, foi preciso um empurrão milionário dos contribuintes:
a cidade desportiva está a nascer em 100 ou 150 mil metros
quadrados de terrenos oferecidos pela Câmara (que os tinha expropriado
por 5 milhões de euros para a criação do Parque Norte). É certo que a
atual Câmara, ao contrário dos executivos anteriores, rodeou-se de algumas cautelas para o eventual incumprimento do SCB. Mas são, na verdade,
soluções juridicamente frágeis no caso de correr mal.
A decisão desta generosa doação foi tomada sem prévia discussão pública
e sem qualquer participação dos cidadãos. É assim e pronto. Infelizmente
mantém-se a política de “cozinhar” soluções para as “vender” ao povo depois
como o único desfecho possível. Envolver os cidadãos na discussão, além de
não ser compatível com tanta pressa, levantaria certamente questões aborrecidas: Quanto valem os terrenos hoje? O que vai acontecer ao Parque Norte?
Que alternativas havia para os terrenos e para o esqueleto da piscina olímpica? Por que razão foram doados e não vendidos? Qual o retorno para a
cidade da opção da doação? (e é para isso que nas cidades a sério se fazem
análises custo-benefício). Enuncia-se um princípio geral de envolver os cidadãos mas, na prática, restringe-se o papel destes ao orçamento participativo
e aos momentos obrigatórios por lei. É muito pouco. Se se quer mudar o
paradigma anterior, então a participação dos cidadãos deve passar a ser um
procedimento enraizado na tomada de decisões públicas.
A pressa significou também graves atropelos à Lei. O Presidente da Câmara afirmou, em finais de Abril, que o parecer do Tribunal de Contas era
“um sinal de luz verde para o arranque das obras”. E - coincidência! - o
SCB avançou em força. Desde Maio que há grandes obras! Porém, somente
no dia 1 de Julho, a Câmara emitiu o alvará autorizando os "trabalhos de
movimentação dos terrenos" relativos à construção da Academia (em Julho
o projeto não estava ainda licenciado). Ou seja, à vista de todos e durante
2 meses foram feitas obras sem qualquer licença conhecida, procedendo-se
a enormes aterros e derrubando-se todas as árvores, incluindo 63 sobreiros.
36
Durante estes dois meses ninguém da Câmara deu pelas movimentações,
apesar dos terrenos serem então da própria Câmara! E, claro, a obra não foi
embargada, nem os seus responsáveis chamados à atenção. Na inauguração do quartel dos Bombeiros, no início de Junho, mais uma vez os responsáveis da Câmara não repararam nas obras mesmo ali ao lado. E em Julho,
na visita às obras da Academia, de novo os responsáveis não repararam que
os trabalhos afinal não começaram apenas após o alvará do dia 1 de Julho.
É difícil acreditar que em 2016 uma obra desta envergadura esteja em
curso sem as necessárias licenças impostas pela lei a qualquer cidadão. Se
se tratasse duma marquise antiga de um particular ou do anúncio de um
comerciante, seguia logo notificação dos serviços municipais para responder em processo de contraordenação. No tempo de Mesquita Machado,
às doações, isenções, facilidades e ao estado de exceção para os grandes
promotores chamava-se, e bem, "uma negociata". E agora? Será apoio ao
empreendedorismo?
OPINIÃO
AVENIDA DA LIBERDADE
PRECISO DE UMA ACADEMIA,
DÁ-ME LICENÇA?
“Mesquita, és tu?”
TEXTO Rui Marado Moreira
N
ão é, mas podia ser. Já dei por mim a pensar se serei o único
bracarense de direita que fica doido quando vê a actual gestão
autárquica, eleita após 37 anos de mesquitismo em nome da
mudança que se impunha, a copiar o pior de certos procedimentos da escola antiga.
Tentemos arrumar rapidamente com a discussão sobre se a SAD do S.C.
Braga precisava ou não que a Câmara oferecesse terrenos para a construção
da Academia. Não precisava, nem precisa, porque gasta em qualquer craque sul-americano, desde que bem impingido por um empresário influente,
o equivalente ao que poderia investir nos terrenos para o seu centro de
estágios. Mas a Câmara deu porque sim, porque é o clube da terra, porque é usual desbaratar recursos em futebol, porque os outros também dão,
porque havia o buraco da piscina municipal, porque estavam os terrenos
parados e “aqui d'el rei” se uma cidade com dois mil anos ficar dez anos ou
vinte sem mexer nuns terrenos. Enfim, é um património que “só” vale alguns milhões de euros, para quê perder muito tempo a pensar nisso? Tudo
como dantes, siga para bingo.
Aliás, parece haver entidades que em Braga têm o exclusivo do acesso
aos grandes negócios. Há meses defendi aqui na Revista RUA que a Igreja
tinha todo o direito de levar avante o seu plano para o São Geraldo. E tem.
Mas que a Câmara co-financie o projecto em quase dois milhões de euros a
dez anos através do arrendamento do que vier a ser o actual Pé-Alado para
a Junta de Freguesia de S. Lázaro, isso é um crime urbanístico pago a preço
de ouro, sobretudo numa zona da cidade com tantos espaços onde é – aí
sim – urgente uma intervenção pública.
Nestes casos, como noutros, o mote parece ser idêntico: dar benesses a
quem se propuser alimentar a ilusão do obreirismo municipal. Mudam-se
os tempos, as lideranças e as finanças, mas não muda o paradigma: três
anos após Mesquita, a autarquia bracarense, talvez picada pela percepção
popular das “festas e festinhas” (de que a comunicação da Câmara é única
culpada) decidiu que era altura de atropelar o que fosse preciso para, ainda
em 2017, apresentar o seu Presidente como um “homem de obra” (como
o outro).
A doença começa agora a apresentar sintomas ridículos: apesar de só este
mês ter sido emitido o competente alvará para movimentação de terrenos
(o projecto ainda não está licenciado), desde Maio que há obras nos terrenos da Academia. Terrenos esses que ainda eram da Câmara quando as
obras começaram “à socapa”. A Câmara viu, mas não quis ver. Ai se fosse
com um de nós...
Continuamos a ter dois tipos de bracarenses: os normais, que querem fazer pequenas obras no que é seu e logo têm os fiscais à perna; e os especiais,
que fazem o que querem no que lhes damos e sobra-lhes tempo. Começamos a ter também a sensação de que mudar era diferente disto.
O mal não acaba aqui. A fúria obreirista já faz danos colaterais. As inaugurações do novo quartel dos bombeiros estão a ter pompas e circunstâncias a mais: primeiro inaugurou-se o quartel, depois a data em que os bombeiros se podiam mudar, depois o dia em que podem usar os balneários,
depois aquele em que poderão cozinhar, etc. Um dia destes comemorar-se-á
finalmente o facto de aquilo estar pronto.
Chegou-me também aos ouvidos que, para lá de problemas sérios no
concurso público, a pressa na conclusão das obras do PEB poderá colocar
em causa nada mais, nada menos, do que a 50.ª edição da AGRO. Uma feira
que irá comemorar meio século e que é uma imagem de marca da cidade
estará em risco por causa da necessidade de ter obras para inaugurar antes
das eleições. A confirmar-se, é um escândalo.
Isto estende-se a outros domínios: já sabemos tudo sobre a Noite Branca
deste ano, menos quem faz, como foi escolhido e quanto custa. Devem estar à espera que o povo vá de férias em Agosto.
No tempo do Mesquita, havia um nome para isto: era a “mesquitada”.
Ao Ricardo Rio, em quem votei convictamente, só peço uma coisa: acabe lá
com as “mesquitadas”, se faz favor...
37
CONHECER
+
VILAR DE MOUROS
FESTIVAIS DE VERÃO
BED LEGS
ENTREVISTA
FAMALICÃO MADE IN
MADE IN
IRINA BOTICA, LONDRES
MINHOTOS PELO MUNDO
Festival Vilar de Mouros, 1971
FOTOGRAFIA Sombras de Alguém
IMPRESCINDÍVEL
Alojamento portátil
pioneiro em Portugal
Snoozy Dreams
Os festivais de Paredes de Coura,
Vilar de Mouros e Meo Sudoeste
vão este ano estrear um modelo
de alojamento móvel, uma espécie
de “hotel” portátil, pioneiro em
Portugal.
Este ano ainda só será
disponibilizado alojamento móvel
que albergue duas pessoas e os
preços variam, conforme os dias
dos festivais, entre os 280 e os
420€.
MÚSICA
Noites de Verão com
cinema ao ar livre
Autarquia de Famalicão;
Cineclube de Joane; Casa das
Artes
A iniciativa denomina-se “Cinema
Paraíso”. As projecções terão lugar
no anfiteatro do Parque da Devesa.
Programação:
03/08 - “Joy”;
10/08 “Todos Querem o Mesmo”;
17/08 “The Walk – O Desafio”;
24/08 “As Férias do Sr. Hulot”.
Todas as sessões são gratuitas e
têm início às 22h00.
Braga
Até 11 de setembro de 2016,
a Biblioteca Lúcio Craveiro da
Silva tem um novo horário de
funcionamento estando aberta
das 9h30 às 18h00, de 2ª a 6ª feira.
Sábados, domingos e feriados
encontra-se encerrada.
INSTITUCIONAL
40
Teresa Veiga vence
prémio famalicense
Grande Prémio de Conto
Camilo Castelo Branco
A autora vence pela terceira vez
o prémio, na sua 24.ª edição, com
a obra “Gente Melancolicamente
Louca”. "É com mestria que a
autora trata o género, de forma
a envolver o leitor nas diferentes
atmosferas narrativas que
constrói”, justificou assim o júri.
LITERATURA
24º Curtas Vila do Conde
“From The Diary of a Wedding
Photographer” foi o vencedor
da Competição Internacional
do 24º Curtas Vila do Conde,
distinguido com o Grande Prémio
DCN Beers. A ficção segue um
antigo estudante de arte aspirante
a cineasta que foi-se ocupando
e ganhando algum dinheiro a
trabalhar como fotógrafo de
casamentos.
CINEMA
Concurso de Curtasmetragens para países
ibero-americanos
Biblioteca Lúcio
Craveiro da Silva com
horário de verão
Israelita Nadav Lapid
venceu o Grande
Prémio DCN Beers
Município de Braga
'Mirrors' valoriza a criação
cinematográfica. O concurso é
destinado a jovens realizadores
com idade igual ou inferior a
30 anos oriundos dos 21 países
da OIJ - Organização Iberoamericana de Juventude. As
inscrições são até dia 2 de
Novembro e a sessão de exibição
de filmes finalistas e entrega de
prémios irá realizar-se no edifício
gnration a 10 de Dezembro.
São admitidos a concurso
animações, documentários,
ficções e filmes experimentais
produzidos em 2015 ou 2016.
site: www.mirrors.cm-braga.pt
email: [email protected]
CINEMA
Museu Soledade
Malvar com nova
exposição
Ana Sofia Costa
Black and Colours é uma
exposição de pintura e grafite
que no próximo dia 7 de Agosto
vai ser inaugurada na Casa Museu
Soledade Malvar, em Vila Nova
de Famalicão.
Entrada livre, de terça a sextafeira, das 10h00 às 13h00 e das
14h00 às 17h30. Até dia 8 de
Setembro.
EXPOSIÇÕES
41
OPINIÃO
D
e tempos a tempos, vou tentando perceber o que é que significa
realmente e qual a importância da música para mim. Ou melhor,
para que serve ou o que vale um tema musical, seja instrumental,
uma faixa ou banda-sonora para teatro, cinema ou performance,
um soundscape ou... uma canção. E especialmente uma canção,
talvez aquilo que mais exige da mão que segura a caneta, dos dedos que tocam
as teclas ou as cordas.
Na canção estará, talvez, aquilo que é de mais sensível. Para começar, uma
canção a sério não mente e exige honestidade. Dentro de uma canção a sério
temos de estar nós; só assim ela se prolonga pelos outros e se torna realmente
algo vivo e com razão de existir. É instrumento de catarse, é expiação, é
um retrato, é um lamento, é uma carta... cada canção é um sopro da nossa
passagem por cá. E nós somos complexidade. Será mesmo isso tudo? E de que
falamos afinal? Pensemos num mestre (e o que me motivou a escrever este
textinho rápido).
Recentemente, pelo facto de ter a sua biografia em leitura, estava a revisitar os
discos do Leonard Cohen - criador de toda uma escola, uma linhagem. Quando
dei por mim a pensar numa canção específica: "Famous Blue Raincoat". Esta
deve ser a canção em que o Cohen, conhecido pela sua abertura e desarmante
sinceridade em relação à sua própria vida e acontecimentos, guarda reservas
formais e diz não dizendo. Nem todo o Zen do mundo o protege daquilo em que
a vida o mergulhou. Há uma depressão crónica carregada de trauma que tem
algo que a combate: a escrita e a canção. Está tudo aqui nestas poucas linhas
e melodias, tudo partido em pedaços de dor. Temos o viver, a Cientologia, os
triângulos amorosos, os engramas, dois homens que são o mesmo, uma mulher
que são todas, um poema magistralmente escrito e posto em canção. Há
demasiado de tudo por aqui... descaradamente escondido, expõe-se o código
que roda entre estes velhos e novos "gypsy thieves", código esse intraduzível
para palavras. É algo de enorme, é corpo de uma dimensão esmagadora.
Na canção, não é possível a um músico que seja apenas competente emular
a vida, apesar de se poder safar com sucesso criando meras sensações que
oscilem entre a luz e a escuridão. Isso é apenas entretenimento. Isto da canção
é outra coisa. Uma coisa muito maior. Não é a indústria ou a encomenda, é
mexer simultaneamente nos sonhos e no sistema nervoso central. É habitar
em nós. É o quanto vale uma canção. Ainda que a gente não pense nisso.
Mesmo a mais corriqueira, quanto vale a canção que leva a noiva ao altar, a
que dedicamos a alguém, a que aprendemos a dedilhar, a que ensinamos a um
filho, a que ouvimos no primeiro beijo? Seguramente, bastante mais do que os
trocos que evitamos sempre dar em troca ("success is survival", L.C.).
Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
42
CULTURA
QUANTO VALE
UMA CANÇÃO?
TEXTO Filipe Miranda
journal
O ROSTO DA SEGURANÇA DA SUA EMPRESA
As mais inovadoras tecnologias, aliadas à segurança permitem que a
sua empresa tenha um rosto. Sim. Hoje, pode saber, na hora, quem
entra e sai das suas instalações esteja onde estiver.
As exigências de segurança nas empresas são cada vez mais elevadas, de forma a garantir o bom estado dos equipamentos, a segurança dos seus trabalhadores e o conforto dos gestores. Garantir
estas necessidades aliadas à inovação e
à melhor tecnologia é o desafio constante da WFR - WiseFrontier, que preconiza soluções de segurança à medida
das necessidades dos seus clientes.
“Somos procurados essencialmente
por médias e grandes empresas que,
diariamente, se deparam com a necessidade de implementar níveis de segurança mais elevados para garantirem o bom
funcionamento do seu negocio” referiu
Manuel Branco, Diretor Geral da WFR WiseFrontier.
Recentemente a WFR implementou
mais um sistema de registo facial de assiduidade, desta vez na Latino Group.
“Sentimos a necessidade de alterar o
layout do edifício, fruto da alteração,
com vista ao aumento da capacidade
produtiva”, explicou Manuel Cruz, Diretor Financeiro da Latino Group. “A
solução implementada cumpre os requisitos relativos ao controlo de ponto,
sendo uma solução completa e de simples utilização e configuração.
Conseguimos agora, a qualquer momento do dia, saber quem está
dentro da empresa e em que sector”.
O controlo de acessos, no seu sentido mais lato, permite controlar
pessoas, assim como viaturas, que estão ou não autorizadas a entrar
num determinado espaço ou local. Este sistema garante a proteção
de pessoas e bens móveis e imóveis. Os equipamentos instalados e
software especializado e de fácil utilização e configuração garantem
o controlo de presenças, acessos e permissões de todas as pessoas
autorizadas, de uma forma integrada e de acordo com os protocolos
de segurança pré-estabelecidos. O objetivo é o de garantir não só a
segurança, como auxiliar estes processos que podem ser realizados
remotamente, garantindo uma melhor experiência aos seus utilizadores a um baixo custo.
A variedade musical também
levou famílias ao festival.
44
VILAR DE MOUROS
O rock ainda se ouve na aldeia da “loucura controlada”. Conhecido como
"Woodstock português", Vilar de Mouros é o festival com raízes mais antigas
do país. A edição de 2016 decorre entre os dias 25 e 27 de Agosto.
TEXTO Luís Leite
45
1971
A estratosfera na aldeia e
um jovem entusiasmado
A
ssim como o país, a maior parte dos espectadores eram estreantes: “Nunca tínhamos ido a nenhum festival, não levámos
comida, não levámos nada, pensávamos que íamos encontrar
sítios para comer, mas não havia”. João Pereira pisou o recinto
de Vilar de Mouros em 1971. O caminho não foi longo. Veio
de Paredes de Coura com um grupo de amigos. Aos 64 anos recorda a época em que “comunicavam com outros meios”. Surgia então o movimento
hippie, que trouxe à pacata aldeia festivaleiros de todo o país. Não é fácil
imaginar a aventura que foi ver um festival desta envergadura pela primeira vez, ainda antes do 25 de Abril, onde tudo que se via era virgem. “Havia
raparigas nuas a tomar banho num rio de fraco caudal, havia cabeludos e
isso espantou-os [a PIDE]”, diz João Pereira. O grupo de jovens, motivado
pela música e “porque os bilhetes eram baratos” chegou à aldeia durante
a tarde. “Deixámos o carro na estrada nacional 13, na subida para Vilar de
Mouros e fomos a pé. Quando chegámos já estava tudo cheio”, relembra
João. Vinham com a ânsia de ver Manfred Mann.
A falta de comida é um assunto retratado em revistas musicais da época.
“Às 02h00 da manhã já não havia comida, já não havia bebida, já não havia
nada”, revela. Mas o ambiente que se vivia entusiasmava-os. Imbuídos no
espírito festivaleiro decidiram ficar para assistir ao concerto “extraordinário” que Elton John proporcionou: “Já tínhamos o cabelo comprido mas
nunca tínhamos visto um espectáculo daquela qualidade”, conclui.
DE VILAR DE MOUROS A PAREDES DE COURA:
UM CAMINHO SEM RETORNO
De Vilar de Mouros 1971 partimos para Paredes de Coura 1977. A história
do festival Paredes de Coura remonta a 1977 quando um grupo de seis
jovens, entusiasmados pelo que viram em Vilar de Mouros, quis replicar
o espírito da corrente hippie que aí se viveu. Entre os organizadores do
então “Rock Music Paredes de Coura” encontrava-se João Pereira. Conversaram com António Augusto Barge, fundador do festival Vilar de Mouros,
para terem acesso ao material de palco necessário para organização de
um evento desta envergadura. A ideia era criar um festival como o de
Woodstock: “Falámos com o Doutor Barge que nos veio apoiar. Fizemos
esse festival e o segundo, depois acabámos porque um conjunto muito
grande português daquela altura não pode vir”. A música vivia uma época
de mudança e expansão. Os hábitos alteravam-se. Começava a surgir a
música inglesa em detrimento da francesa e espanhola que estavam mais
habituados a ouvir. “Naquela altura eramos completamente amadores e
loucos! Não se pagava aos músicos. O que era mais caro era a publicidade, não havia meios, na televisão não havia mais que o primeiro canal”,
explica. O que significa ter vivido o primeiro festival de música do país?
As palavras de João Pereira resumem tudo: “Para quem gosta de rock, um
gajo está feito para aquilo”.
46
Festivaleiros assistem aos
concertos em Vilar de
Mouros, em 1971
No ano de 1971, decorreu
o 1º Festival de Rock de
Música de Portugal
Elton John e Manfred
Mann foram os cabeçasde-cartaz
A banda de Barcelos que
actuou em 1971
E
ntre a música moderna para juventude como anunciava o cartaz
de 1971 estava uma banda de Barcelos, os Celos. Francisco Pimenta do Vale era o baixista deste conjunto de música de baile. A
banda Celos existia desde 1960 mas foi na sua segunda fase que
surgiu a oportunidade de se apresentar no festival Vilar de Mouros de 1971, meio ano após a reformulação do grupo. A oportunidade de
fazerem parte deste marco histórico deveu-se ao filho do Doutor Barge que
os ouviu tocar, gostou e achou que estavam à altura do desafio. Vilar de
Mouros foi “único e irrepetível”, afirma Francisco Pimenta do Vale.
Nunca tinha ido à aldeia de Vilar de Mouros e “chegar lá foi uma surpresa”.
Na época falava-se do lugar como uma zona de lazer. Nunca teria imaginado
aquilo que viu, como viu, com “tanta gente, milhares de pessoas, foi uma
coisa espectacular”. Vilar de Mouros foi “inédito e irrepetível”, afirma.
As surpresas não se ficavam pelo ambiente vivido. Quando chegaram não
havia alojamento apesar da promessa feita pela organização. Acabaram por
ficar na casa do Doutor Barge, junto ao rio: “Ficámos todos para lá a dormir
de qualquer maneira mas o que nós queríamos era estar em Vilar de Mouros, isso pouco importava”, refere. Respirar aquele ambiente era algo que
os transcendia: “Tínhamos de dar o nosso melhor”. Francisco ainda guarda
todos os cartazes de Vilar de Mouros. Aquilo “foi um lançamento ainda mais
rápido do que pensávamos porque só tínhamos meio ano da renovação do
conjunto”, conclui.
Além da actuação também foram festivaleiros. “Foi óptimo, foi espectacular, foi ímpar e irrepetível, juntar tanta qualidade é difícil. Era o melhor que
havia na época”. Francisco já não toca. Por vezes ainda fazia umas brincadeiras mas não tem curiosidade em voltar ao Festival Vilar de Mouros porque
“gosta muito de música” e a música de hoje em dia “é uma baralhada, não se
percebe o que o vocalista está a cantar e não se ouvem todos os instrumentos”. Com 68 anos diz que já não pode ir por aí acima e ficar numa tenda mas
grava os festivais todos e ainda vai ao Rock In Rio.
CELOS ARMADOS COM FENDER,
HAMMOND, LUDWIG E SOUND CITY
Os Celos eram um conjunto de baile e tocavam temas de Shadows, Beatles,
Rolling Stones, Jethro Tull ou Deep Purle, entre outros. “Tínhamos duas ou
três músicas feitas por nós, o resto eram covers, fazíamos tal e qual ou o
mais próximo possível do original”, diz. Após o regresso de José Manuel do
Vale, do Ultramar, em 1970, os Celos fizeram uma renovação com direito a
um grande investimento em material de primeira. “Decidimos que íamos
fazer uma coisa a sério mas não havia dinheiro. Arranjámos investimento
e comprámos guitarras e baixos Fender, órgão Hammond, bateria Ludwig e
amplificadores Sound City”, diz Francisco do Vale. A instalação que compraram tinha vindo para o Cat Stevens que atuou no Porto: “O Cat Stevens tocou
com aquilo. O Govina vendeu-nos a instalação que só tinha sido utilizada
daquela vez!” Esta segunda fase da banda também contou com uma restruturação dos elementos, mantendo quatro elementos originais, Joaquim Matos,
Domingos Ferreira, Francisco e José Manuel Pimenta do Vale. A estes juntaram-se Mário Cerqueira (teclado) e Domingos Alves (saxofone e flauta).
O 25 de Abril determinou o encerramento da banda, com “medo que aquilo não desse”. Todos tinham empregos públicos e com o 25 de Abril temeram
que aquele tipo de música desaparecesse, “havia muito a voga da música de
intervenção”. Podemos julgar que teria sido a altura certa para continuar.
No entanto, cada elemento, pelas suas razões e pelas razões da vida, seguiu
o seu caminho. Em 1974, no Pavilhão Municipal de Barcelos, a banda Celos
deu o seu último concerto. Neste concerto de despedida tocaram com Pedro
Osório que trouxe um contrabaixista estreante, Herman José. O humorista
tocou, pela primeira vez, com um baixo, que curiosamente pertencia a Francisco Pimenta do Vale.
47
“Loucura controlada” e
outras histórias da nova
geração
L
oucura controlada... sem medicamentos... sem espartilhos! Loucura controlada pela vossa magia e amor!”. Em 1996, o Doutor Barge
surgia assim no palco para dar início ao grande Vilar de Mouros.
Entre os festivaleiros, os irmãos Coutinho sentiam em todos os
poros o amor e a magia: “só quem cá esteve é que sabe o que entranha”, afirma Carlos. Da saudade surge a sensação de liberdade que hoje
já “não é a mesma coisa”.
“O VERDADEIRO ESPÍRITO FESTIVALEIRO É AQUI! OLHA SÓ A
ENVOLVÊNCIA, FAZ SENTIR QUALQUER COISA!”
Em 1996, Carlos Coutinho tinha 18 anos. Poderemos dizer que colecciona festivais. As provas estão religiosamente arquivadas numa caixa que traz
consigo. Encontramo-nos com ele em Vilar de Mouros, vinte anos após o seu
primeiro festival, no local exacto onde há 50 anos começou a génese do que é
hoje Vilar de Mouros. Traz consigo uma caixinha onde estão guardadas todas
as histórias: “É a minha vida que está aqui”, garante. Tem todos os bilhetes e
pulseiras. Em cada bilhete há uma memória: “Quando olho para ela [a caixa]
sei que nunca mais verei algumas coisas”. A primeira curiosidade que nos decifra é o local onde acampou: “Foi aqui que aterrei”, confessa. As recordações
estão um pouco nubladas mas é com clareza que afirma não haver festival
48
igual. O local do “aterranço” pode não ser exacto mas a magia que percorre
a sua alma é uma certeza. Desses tempos ficou a alcunha Nuanda, a vontade
de ser livre, “nem que seja por um fim-de-semana” no meio da natureza, no
sopé da Serra d’Arga. “O verdadeiro espírito festivaleiro é aqui! Olha só a
envolvência, faz sentir qualquer coisa!”.
“HOJE HÁ DEMASIADOS FESTIVAIS, PRESCINDO DESSES TODOS,
MAS DESTE NÃO”
É do Chile que nos chega a voz de António Coutinho, ecoando com entusiasmo para falar dos festivais de verão. Marcando presença em quase todas
as edições, desde a temporada de 1996. Tinha 24 anos quando o bilhete
ainda marcava o preço em escudos, quando entrou para o recinto do Festival Paredes de Coura. Na época teve de fazer uma escolha, ou gastava o
dinheiro para compor os óculos partidos ou usava-o para as férias; escolheu
ir ao festival, passando o verão sem óculos. Mas é de Vilar de Mouros que
guarda “muitas histórias”. A paixão pelos festivais deve-se muito ao gosto
pela música, mas também à liberdade e ao descompromisso, “não há relógio,
é a camaradagem”. Desde o roubo dos tachos a ter de levar um amigo ao
hospital e regressar à boleia, as histórias são imensas. Para ele, em Vilar de
Mouros não há só música: “Gostamos muito de música, mas a envolvente no
festival é que é muito boa”.
Os irmãos Coutinho, da terra do mata e queima, Soalhães, são fãs de festivais. Até poderemos dizer que é tradição de família porque - descoberta
mais recente-, as tias também estiveram em 1971 no mítico, no verdadeiro,
o Festival de Vilar de Mouros.
Sombras de Alguém
HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/SOMBRASDEALGUEM
As fotos que vemos a acompanhar esta reportagem mostram
o mítico Vilar de Mouros. São fotografias de 1971, da primeira
edição do festival como o conhecemos, ano em que actuou Elton
John, Quarteto 1111, Manfred Mann, Pop Five Music Incorporated. As fotografias que vemos são memórias que conhecem a luz
do dia pela mão de Filipe Bonito. No seu projecto, Sombras de Alguém, recupera rolos antigos e revela-os. Desconhecemos a autoria e as pessoas que aparecem. Amavelmente, Filipe cedeu-nos as
imagens para compormos esta reportagem sobre a celebração dos
50 anos do festival de Vilar de Mouros. Esperemos que possamos
ajudar a desbobinar a história por traz das imagens.
49
CONHECER
ENTREVISTA
“É UMA VIDA DE
CAIXEIROS VIAJANTES”
Os Bed Legs nasceram em 2011. Começaram num sótão e são agora um
dos nomes confirmados para o Festival Vodafone Paredes de Coura.
TEXTO Rita Macedo e Sara Lopes FOTOGRAFIA Nuno Sampaio
50
F
ernando Fernandes (F.F.), na voz, Tiago
Calçada (T.C.), na guitarra, Hélder Azevedo (H.A.), no baixo, e David Costa
(D.C.), na bateria. Estes são os nomes
das personagens principais desta trama.
Estrearam-se com o EP “Not Bad”, em 2014, e,
em janeiro deste ano, lançaram o primeiro álbum:
“Black Bottle”. O que começou como uma entrevista um pouco tímida, depressa passou a uma conversa animada, com muito riso e alguns cigarros.
Eles atropelavam-se a falar. O Fernando chegou
mesmo a pôr-se de pé e exemplificou uma das
maiores peripécias da banda. Baixou-se, saltou
para o lado, sorrateiramente, como se estivesse,
outra vez, na Arménia, por entre os jatos de água
com que lhe queriam acertar.
Quais as expectativas que têm para o festival
Paredes de Coura?
F.F - O Paredes de Coura sempre foi um festival
de eleição para todos nós, talvez mesmo O Festival de eleição! Ir ao Paredes de Coura ainda miúdos ver Queens of the Stone Age ou Pj Harvey
e, agora, termos a oportunidade de lá ir tocar e
mostrar o nosso som é algo indescritível. Há um
sentimento de realização com este convite. Faznos sentir que estamos a trabalhar bem. Agora é
chegar lá, deixar tudo em palco e desfrutar do
momento.
Qual foi a sensação de terem conquistado um lugar na editor’s pick na Balcony TV de Nova York?
H.A. - Foi uma sensação do caraças. (risos).
F.F. - É altamente porque estamos a chegar a
mais público e internacional. É sempre muito
bom chegar aos Estados Unidos, nem que seja só
a 10 pessoas pela internet.
T.C. – Foi muito engraçado porque eu pensei que
tínhamos sido escolhidos só em Lisboa.
gados. Ninguém anda positivamente positivo,
em Portugal. Ninguém anda positivo com 500
euros por mês. A garrafa negra é este país.
T.C. - Na altura em que estávamos a gravar, não
foi fácil o processo todo e isso também acabou
por se refletir. Lá está, uma pessoa escreve e toca
segundo o que vive. Não é nada pensado. Acaba
por acontecer.
Como surgiu a ideia de usar o crowdfunding
para financiar o Black Bottle?
H.A. - A pior ideia do mundo!
F.F. - Não sei se foi a pior ideia… Não nos preparámos, nem levámos aquilo a sério. Foi a primeira
vez que fizemos. E só no fim é que nos apercebemos que é uma coisa que tem de ser muito
intensa desde o início, a nível de pré-produção.
É um trabalho full-time. Mas surgiu porque nós
precisávamos de ajuda. Desde o início que somos
nós que alimentamos isto e há alturas em que é
muito difícil. Então, numa altura de desespero
nós tentámos arranjar portas. O crowdfunding
foi uma das portas que se abriu, mas não resultou bem porque nós não nos preparámos.
T.C. - Escolhemos mal a altura do ano e também não sabíamos bem o que estávamos a fazer.
Quando demos conta, já não tinha resultado. É
como o Fernando diz, é preciso massacrar e nós
não temos essa personalidade de estar: “olha,
pessoal, está aqui!!!”. Gostamos de fazer música
e claro que também há a componente de a vender, mas, se calhar, nós não somos bons na parte
do: “olha, dás-me 5€ e depois dou-te aquilo…”.
Não somos vendedores.
Qual é a vossa ligação ao projétil?
F.F. - O projétil é uma associação da qual eu faço
parte, era uma associação e é agora um coletivo
artístico. Mas antes de eu fazer parte desse coletivo, o projétil acolheu-nos. Cederam-nos lugar
para ensaiar porque nós estávamos a precisar. E
começamos aí. Depois comecei a envolver-me e
estou agora a tomar conta do projétil, faz já três
anos. E tem sido o nosso atelier também.
H.A - E a parte gráfica é toda de lá, também.
F.F. - O projétil é um dos nossos braços direitos.
Tanto dos Bed Legs, como de muitas bandas cá
de Braga. Lá também ensaiam muitas bandas do
underground, de vários estilos musicais. E também pintores, designers, ilustradores…
Fernando, muita gente diz que tu dás outra
vida aos concertos, que mostras várias personalidades. É a música que te transforma?
F.F. - Tem tudo a ver com a ligação com o público. Antes de ser artista, sou espectador e gosto muito de ver concertos e fazer moche, saltar,
cantar, fazer crowdsurfing - Ia dizer crowdfunding. (risos) Saltava lá para o meio e perguntava
“queres comprar?”. (risos) Usar crowdfunding
durante o crowdsurf. Cd’s numa mão e recebia
dinheiro noutra (risos) - e tem tudo a ver com
essa relação espectador/artista.
Muitos críticos consideram-vos uma lufada
de rock’n’roll há muito esperada em Portugal.
Vocês concordam?
H.A. - Claro. É evidente que concordamos com
tudo o que seja a dizer bem de nós (risos). Se disserem bem, estão corretos…se disserem mal…
(risos).
T.A. - O que acontece é que há muitas bandas
fixes. Mas há uma tendência de se colarem a alguma coisa. Quando aparece uma banda lá fora
como os Tame Impala, há 100 bandas a fazer o
mesmo som. Nós fazemos parte das bandas que
A garrafa existe?
F.F. - Já levamos uma ou duas vezes uma garrafa para concertos, mas depois esquecemo-nos.
Mas usámos nos vídeo-clips. E é uma metáfora.
É uma coisa que não é bem palpável, mas paira
sempre sobre nós, e nos acompanha para todo
o lado. É uma garrafa que nos dá de beber e dá
energia.
Porque é que vocês consideram o álbum Black
Bottle como um lamento?
F.F. - Tem a ver com o imaginário e com o conteúdo do álbum. Se ouvirem as letras, notam que
não são letras de celebração. São mais reflexões
de alguns momentos que foram difíceis na nossa vida. Basicamente, é um sentimento negro,
senão tínhamos a capa do álbum a cores.
H.A. - E não é um sentimento só nosso, é a situação do país. O país lamentava-se.
A troika estava aí. As pessoas andavam todas a
mandar vir. Nós estávamos os quatro desempre-
51
Fizemos uma viagem de seis horas em que estivemos para morrer. Agora, tem piada. Na altura, não teve piada nenhuma.
O que são os Bed Legs, numa palavra?
T.C. - Família.
H.A. - Compromisso.
F.F. - Garra ou atitude.
De todas as músicas que vocês têm, há alguma preferida?
H.A. - Para mim, é a “New World”. É a que ouço
menos e a que menos temos ensaiado.
F.F. - Nós gostamos de todas. Depende do dia.
Se estivermos a andar de carro, assim num dia
mais solarengo, há músicas que talvez não iremos ouvir.
não se colam a nada, fazemos o que gostamos.
H.A. - Os concertos também correm bem porque
o Fernando é o que é. Fazemos o que fazemos e
não estamos colados a nada, nem com rodeios.
Fazemos o que somos e não temos vergonha.
F.F. - Acima de tudo, nós somos apaixonados pelo
que fazemos. Depois, as pessoas têm várias opiniões. É bom que tenham uma opinião positiva sobre nós e ainda bem que há pessoas que acham
que estamos a contribuir para a cultura musical
Portuguesa.
H.A. - Nem é tanto o nosso conteúdo musical.
É mais a nossa energia… Não é nada pensado.
T.A. - A lufada de ar fresco vem daí… fazemos o
que sai. É rock porque gostamos e ouvimos rock.
Como é tocar numa queima?
F.F. - É espetacular. Normalmente, ensaiamos
numa sala pequena e estamos habituados a
pouco espaço e, de repente, temos um espaço
enorme que podemos utilizar à vontade. Tens
duas ou três colunas só para ouvir a tua voz. Tens
tanta gente, mais do que o costume, e, em vez de
tocares num bar para 50 ou 100 pessoas, tocas
para 400 ou 500. No final do nosso concerto, no
dia de Buraka, já estava muita gente, acho que
nunca tinha visto tanta gente num concerto nosso. Já tocamos em duas recepções, um enterro,
uma latada e um arraial.
E ocupaste o palco?
F.F. - Acho que sim, por acaso divertir-me muito
nesse dia.
Como foi fazer parte da programação das festas de S. João?
F.F. - Foi muito bom. Mal recebemos o convite,
52
aceitamos logo. Dá sempre uma "pica" especial tocar em Braga. Ora tocar em Braga, com
os SMIX SMOX SMUX, banda da qual somos
amigos e adoramos o som, no Palco RUM e nas
Festas de S. João, foi algo de brutal. Sentimos
logo que ia ser especial. Tocar numa festa popular foi algo que também achamos engraçado e
deu para chegar a pessoas que normalmente não
estariam num concerto nosso ou nem conheceriam a banda! Resumindo, para nós, enquanto
banda, foi demais e acho que para a malta que
foi assistir também. Pelo menos, ficámos com
essa sensação!
E agora, o que tem planeado? Depois deste
CD o que vem aí?
T.C. - Para já, a ideia é tocar e curtir o CD. De
imediato é isso, curtir o CD e curtir o CD é dar
espetáculos.
F.F. - Ainda estamos tão dentro disto que ainda
não pensámos muito no que vem a seguir, claro que já temos algumas ideias. Mas ainda estamos no processo. Ainda queremos gravar mais
um videoclip e talvez ainda vamos usar mais art
work. Estamos no processo de gozar, mas ainda
temos muita laranja para espremer, muito sumo
para sacar. Porque também fora da música, pelo
menos eu e o Hélder, gostamos de pintar, desenhar, escrever, de realizar. E com essas áreas podemos puxar muita coisa para os Bed Legs.
Há assim alguma história engraçada?
T.C. - Apanhamos um condutor, na Arménia, um
bocado passado. O homem não falava nem uma
palavra de inglês. Só sabia dizer “merci”. Ele era
maluco a conduzir, fazia cada ultrapassagem!
Como banda, qual foi o momento mais marcante?
F.F. - Não há um mais marcante, mas talvez a
apresentação do EP na TOCA. Teve casa cheia.
Vendemos muitos cd’s. Foi muito bom. Tivemos
um público muito diversificado. Isso é brutal. E
pessoas com faixas etárias diferentes e com gostos completamente diferentes a convergir num
evento e a vibrar todos ao mesmo tempo. Foi
demais.
H.A. - Acho que foi mesmo o nosso melhor concerto.
Como surgiu o convite para ir à Arménia?
F.F. - Teve a ver com a associação, a TOCA. A
Arménia estava a recrutar bandas da Europa
toda para representar cada país. Nós representámos Braga e Portugal. Era um festival pela paz
porque a Arménia tinha muita tensão militar com
o Azerbaijão. Foi altamente. Tocámos no parque
do amor, na capital, em Erevan. E um momento
muito marcante foi a luta de água, em Erevan.
Eles têm um evento, uma vez por ano, em que não
podes sair à rua. Se saíres, vais molhar-te todo,
porque as pessoas atiram-te com água. Não querem saber se és uma criança ou um idoso. Molham
toda a gente. Então, tens de pôr o teu telemóvel,
carteira e assim tudo em sacos plásticos para não
se molhar. Aquilo é mesmo uma tensão. Tu andas
na rua a fugir. E quando vês uma garrafa, pegas
nela logo e pedes a alguém para encher. É uma
guerra autêntica. (risos) Há aquela sensação que
temos de nos proteger uns aos outros. É muito
fixe. O que dá mais gozo nisto de tocar ao vivo
é mesmo viajar e poder ter estas experiências. É
uma vida de caixeiros viajantes.
OPINIÃO
FESTIVAIS
VER RADIOHEAD OU
“DAR PÉROLAS A PORCOS”
TEXTO José Manuel Gomes
D
epois do NOS Primavera Sound – sobre o qual já tive oportunidade
de escrever – seguiu-se agora uma romaria ao outro NOS, o
Alive. No cartaz havia Radiohead, Foals, Tame Impala, Two Door
Cinema Club, entre outros (para não falar dos outros dois dias).
Antes de lerem isto, digo já que sou um acérrimo admirador
de Radiohead; mudaram paradigmas na música, conceitos, criaram verdadeiros hinos. Tudo isto dentro dum mundo próprio que só a eles pertence.
Ao contrário de grande parte das bandas, onde o percurso das mesmas
vai do genuíno para o pop vendável, com o decorrer dos sucessivos lançamentos, porém, com estes cinco foi precisamente diferente: apareceram
com “Creep”, música que tinha tudo para os criar e arruinar num ápice,
como uns quaisquer “one hit wonders”. Mas não: os Radiohead foram,
paulatinamente, disco-após-disco tornando-se mais densos, frios, gélidos,
geniais, únicos. Ninguém é como eles, nem que o queiram. Aqui, com eles,
o processo criativo, a marca artística será sempre um interesse superior ao
número de cópias que se vendam.
Quem mais é assim?
Contudo, não fui daqueles que mal se anunciou o nome dos Radiohead se
despachou a comprar bilhete. Não está em causa o ser mais ou menos fã deles do que os outros, mas sim o facto de já ter visto este quinteto inglês um
par de vezes, exactamente no mesmo contexto - de festival – nos últimos 4
anos. O que me levava a querer vê-los era o facto de estarem a promover
o mais recente trabalho, intitulado “A Moon Shaped Pool”, que para mim
está entre os três melhores trabalhos da já longa e incrível colectânea que
possuem. Era este aditivo que me levava a querer ir a Lisboa, ao NOS Alive,
no dia 08 de Julho, quase que por exclusivo.
Sim, sou grande admirador de Foals e Tame Impala, ainda para mais no
mesmo dia e no mesmo palco. Porém, nem tudo é perfeito: O NOS Alive
consegue juntar e criar, na minha opinião pessoal, o melhor cartaz alguma
vez feito num festival português, mas o recinto, o local onde todos aqueles
autênticos All-Star da música global actuam, não poderia ser mais ingrato.
Confesso que o ambiente de festival já é algo que me começa a cansar,
sobretudo porque já não o sinto presente na maior parte dos ditos festivais.
Este contra-senso explica-se em casos como o NOS Alive, onde o recinto
não nos faz sentir num ambiente de música e descontraído; antes há um
afunilar de pessoas sem qualquer preocupação de como elas possam sair de
lá. Basta dizer que não há qualquer inclinação no palco para que entre as
60.000 pessoas que lá vão diariamente consigam ver minimamente quem
toca. Resta, a quem fica mais para trás, acompanhar o concerto através de
ecrãs gigantes. É como ver em casa, mas a ouvir os ecos do palco. Sim, nem
o som de palco safa.
54
Seja como for, lá estava novamente com a missão de ver aquela que é,
para mim, a melhor banda do mundo, mas sem o mesmo entusiasmo de
outrora. Para alguns conhecidos, ver Radiohead é um dos objectivos de
vida; como eu os compreendo, mas gostava de os ver num contexto de
nome próprio, numa sala, com o som próprio para eles, com tudo feito à
medida e preparado convenientemente. Mas mais do que isso: em que só
lá estivesse quem realmente os quisesse ver. Não deixa de ser curioso ver
um dia que supostamente esgotou em poucos dias a bilheteira, ter tanta
gente desatenta ao concerto ou a reagir apenas aos “hits”, ou a dizer que
não conheciam mais de metade das músicas. É como diz aquela expressão:
“é dar pérolas a porcos”.
O auge da noite – até para mim – foi quando tocaram o malogrado tema
“Creep” antes de encerrar com “Karma Police”. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, certo? Passaram mais de 10 anos sem tocar a música
que os trouxe ao estrelato, mas um mudado – divorciado de fresco, antes – Thom York pode ter ajudado ao regresso da música que lhes trouxe
nome. A julgar pela reacção do público e pela perfeição em palco que ali se
formou, ainda bem! Foi de arrepiar. Irrepetível, diria.
Em suma, o concerto foi muito competente, com um Thom York extremamente comunicativo, e com um alinhamento a roçar a perfeição. O que
falhou? As condições de som terríveis e o recinto desapropriado. Terminado
mais este dia, segue-se agora, em Agosto, o meu regresso ao “Couraíso”, o
paraíso da música para todos nós.
Famalicão Made INcubar
– Polo Riopele.
CONHECER
MADE IN
O PULSAR DAS IDEIAS NOVAS
Reconhecida como a segunda maior economia do Minho e o terceiro município mais
exportador do país, representando 3,7% das exportações nacionais, Vila Nova de
Famalicão está a ver crescer uma geração Made IN, marcada por ideias de negócio
inovadoras e alavancadas pelos grandes impérios industriais da região.
TEXTO Andreia Ferreira
C
om uma força têxtil irrevogável, Vila
Nova de Famalicão ergue-se como um
dos municípios mais exportadores do
país. Sozinho, o concelho minhoto
garante 10% das exportações portuguesas do sector têxtil, graças às 850 empresas
da indústria transformadora têxtil e do vestuário, desde a Salsa à icónica Inovafil, que proliferam pelas áreas limítrofes da cidade. Não é à
toa que os melhores laboratórios do mundo na
análise, investigação e certificação de têxteis – o
CeNTI e o Citeve – possam ser encontrados aqui,
dado o tamanho know-how e experiência do
concelho nestas matérias. Mas, com o passar dos
anos, Vila Nova de Famalicão afirmou que nem
só de têxteis se faz o seu fervor. Numa tentativa
de criar um ADN multissectorial, captando o interesse de empresas das áreas da metalurgia e
do sector agroalimentar, por exemplo, a cidade
tem-se mostrado um autêntico paraíso industrial, garantindo emprego e muita vontade de
investimento. Ciente da capacidade da geração
mais jovem, que fervilha de ideias e procura por
um lugar no mundo dos negócios, Vila Nova de
Famalicão vê hoje no empreendedorismo uma
forma de enriquecimento do prestígio municipal. Com a promoção do desenvolvimento económico em mente e numa procura por valorizar
a genética empreendedora interna, captando
novos investimentos que permitam auxiliar os
empresários famalicenses a levar avante os seus
projetos, o município apadrinhou uma iniciativa
nobre e estimulante: o Famalicão Made IN.
rial, direcionada para a exploração do potencial económico do concelho – Famalicão Made
IN. Reforçando a ideia de que o município era
um bom destino para viver e investir, esta campanha visava estimular a atratividade de Vila
Nova de Famalicão em termos de captação de
investimentos nacionais e internacionais, sem
esquecer o incentivo ao empreendedorismo empresarial que já existia. Na altura, a ideia parecia
ambiciosa, mas os resultados foram aparecendo
à medida que a cidade contava os dias. Foram
então apontados três pilares de ação: Famalicão
Made INcubar, onde se enquadram dois polos de
incubação, Famalicão Made INvestir e Famalicão
Made INcentivar. Articulados entre si, estes eixos de intervenção vão dando aso a programas
e ações que materializam a estratégia da inicia-
tiva Famalicão Made IN, fortalecendo a genética
empreendedora e a vocação exportadora natural
do concelho. “O Famalicão Made IN procura valorizar as empresas, facilitar a sua atividade e o
seu crescimento, atrair novos investidores para o
território e estabelecer uma interligação estreita,
permanente e construtiva entre as empresas, a
autarquia e as instituições, particularmente as
que estão ligadas ao ensino e à investigação”, refere a Câmara Municipal. Abrangendo projetos
empresariais de natureza, alcance e dimensão diversa, o Famalicão Made IN tem garantido o contacto permanente entre startups e empresas já
maduras, muito graças ao Gabinete de Apoio ao
Empreendedor, ou Espaço Famalicão Made IN,
que se encontra na Rua Camilo Castelo Branco,
número 108, junto ao edifício da Câmara Mu-
Presidente da Câmara de Vila Nova
de Famalicão no roteiro Made In,
com Alma de Luce.
GENÉTICA EMPREENDEDORA
Em novembro de 2013, a Câmara Municipal
de Vila Nova de Famalicão, com Paulo Cunha
à frente das hostes, assinalava o início de uma
campanha de valorização e afirmação territo-
57
nicipal; ao programa de aceleração de startups
intitulado Elevador; e a uma rede de mentores
composta por empresários de renome da cidade,
que orientam os empreendedores.
UMA REDE DE MENTORES DE EXCELÊNCIA
Com vista a troca de ideias e experiências entre os rostos dos grandes impérios da indústria
famalicense e os novos cérebros empreendedores da cidade, a iniciativa Famalicão Made IN
delineou um programa de aceleração de startups
– o Elevador. A ideia é simples: numa tentativa
de fazer progredir as pequenas empresas e fixar
no concelho negócios de crescimento rápido, o
programa Elevador reúne os principais empresários locais para apoiar, durante seis meses, as
startups instaladas nas incubadoras Famalicão
Made IN e as empresas que estejam a desenvolver os seus planos de negócio no Gabinete
de Apoio ao Empreendedor. Vestindo a pele de
mentores, Filipe Vila Nova (Salsa), José Alexandre Oliveira (Riopele), Renato Cunha (restaurante Ferrugem), Raquel Vieira de Castro (Vieira
de Castro), Tiago Freitas (Porminho) ou Jorge
Ferreira (Meia Dúzia) são alguns dos nomes que
compõem esta rede de excelência, representando os vários sectores industriais.
nhar cerca de cem novos projetos empreendedores, tendo 60 deles já resultado na criação de
empresas e na geração de cerca de uma centena
de postos de trabalho”. Na verdade, ao longo
do período de duração desta iniciativa, foram
muitas as ideias que encontraram bom porto. A
Camionete (projeto de street food que se dedica
à comercialização de sandes de cachaço de porco num veículo ambulante), Ritual (medicina
preventiva, reabilitativa e bem-estar), Another
Life (venda de roupa e acessórios em segunda
mão), OldCare (serviços gerontológicos), LikTuga (confeção de vestuário com incorporação de
cortiça), Miss Pig (comida gourmet), Go Gal –
Access Portugal (agência de viagens incoming)
ou Pluma Barber Shop (barbearia tradicional
para homens) são apenas alguns dos exemplos
de sucesso do Famalicão Made IN.
Juliana Brito, Another Life a sua
empresa dá uma nova vida a peças
de roupa e acessórios em segunda
mão e vintage.
AS INCUBADORAS
Há um ano, as portas da mítica Riopele, uma
das mais distintas empresas do sector têxtil da
cidade, abriam-se para a primeira incubadora
de projetos, no âmbito do Famalicão Made IN.
Resultado de um protocolo entre o município e
a Riopele, esta incubadora foi o berço de várias
ideias de negócio inovadoras. No momento, são
oito os projetos empresariais famalicenses albergados nas instalações fabris desta empresa de referência nacional e internacional. Todavia, fruto
das ideias que brotam na cidade, um segundo
polo receberá mais dez empresas dentro de três
meses. Localizado no Edifício Globus, na zona
industrial de Vilarinho das Cambas, este mais recente polo de incubação e coworking dará acesso a condições especiais para o desenvolvimento
de negócios, durante três anos. De acordo com o
Presidente da Câmara, Paulo Cunha, que tem colocado as visitas aos ícones empresariais do município – Roteiro Made IN – na sua agenda, esta
abertura é “mais uma resposta à inquietude, à
ambição, à necessidade e à motivação” existente
em Vila Nova de Famalicão.
UMA GERAÇÃO MADE IN
Acompanhando todos os projetos em curso,
Augusto Lima é o coordenador do projeto Famalicão Made IN. Nas suas palavras, o Gabinete de
Apoio ao Empreendedor encontra-se “a acompa-
58
Diego El Pluma, na Pluma Barber
Shop, empresa apoiada pelo
Famalicão Made IN.
CONHECER
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“NÃO ERA ALGO QUE
ESTIVESSE NOS MEUS
PLANOS”
Irina Botica, educadora de infância, partiu para Londres após seis
anos consecutivos a tentar colocação no concurso público de
professores. “Todos estes anos concorri e nunca fiquei colocada”.
A vitória do Brexit deixou-a desiludida e com a sensação de que
existem outras pessoas a interferir no seu futuro.
TEXTO Sofia Peres
D
epois de Renato, o atual marido, ter emigrado, Irina começou a
refletir sobre as suas oportunidades profissionais. “Vi-me confrontada com a possibilidade de emigrar”, confessa. Todavia,
só tentou a sua sorte quando o marido conseguiu um contrato
permanente.
A fevereiro de 2012, a educadora chegou à capital inglesa e arranjar
emprego “foi extremamente fácil”, afirma. “Tive três entrevistas numa semana! Ofereceram-me o lugar nas três. Eu escolhi a que mais me agradou.
Em Portugal perdi a conta aos currículos que enviei”. A adaptação decorreu
sem grandes complicações. A maior dificuldade foram mesmo as saudades
de casa. “Não estar presente fisicamente nos aniversários, não ver os mais
pequenos a crescer e não ter os mimos da avó foram os maiores obstáculos
que encontrei cá fora”, revela. Porém, as visitas a Portugal são assíduas:
“Tentamos ir mais ao menos de quatro em quatro meses e o Natal tem que
ser sempre em Portugal”.
O sim à saída de Inglaterra da União Europeia deixou-a desiludida. “No
trabalho, os proprietários da escola tiveram o cuidado de perguntar como
me sentia e de reforçar que não concordam com o resultado do referendo”,
contou. Como vive no centro de Londres, e as pessoas de Londres eram contra este referendo, ainda não sentiu qualquer tipo de consequência. Porém,
afirma que “a situação fora de Londres é mais complicada, porque é onde se
tem que lidar com as pessoas que votaram para sair”. Irina não acha que o
referendo vá alterar a sua vida de forma imediata. Contudo, irá certamente
afetar o seu futuro. “Já tínhamos falado na possibilidade de no futuro irmos viver para o countryside, mas já não estamos bem certos de que será
uma boa escolha. Para além disso, vamos iniciar o processo de obtenção de
passaporte inglês”.
A vontade de regressar a Portugal definitivamente existe, mas considera que este é um plano a muito longo prazo. Por enquanto, limita-se a
aproveitar as oportunidades e a qualidade de vida que Inglaterra lhe pode
proporcionar.
59
DESFRUTAR
+
VIANA DO CASTELO
VISITAR
PRAZER DA NATUREZA
ESPAIRECER
ROTEIRO PELA SERRA
D’ARGA
EXPLORAR
MODELO CHAVE
NA MÃO
BRACARA IMÓVEIS
RITA ALMEIDA
ESTÁ NA RUA
INSTAGRAM
RUI LEITE GONÇALVES
HUMOR
FOTOGRAFIA Luís Leite
VISITAR
O QUE VISITAR
EM VIANA DO CASTELO
Com um design com influências manuelinas e renascentistas, a
arquitetura contemporânea de Viana do Castelo veste-se pela história dos
descobrimentos e desfila pela foz do rio Lima, sob a colina de Santa Luzia.
TEXTO Liliana Fonte Gonçalves
Estação de Comboios de Viana do Castelo
Numa construção que mescla madeira, granito,
azulejo e materiais como o ferro, a estação
de Viana está próxima do centro de cidade e
cumpriu este ano 138 anos de existência.
L
O
nel
lum
reh uf
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Santuário de Santa Luzia
Caracterizado como a “Princesa do Lima”, o
santuário ergue-se no monte de Santa Luzia e
oferece uma panorâmica sobre a cidade. É um
dos ex-líbris da cidade que concilia o mar e o rio.
E
mar
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62
Trabalho em Filigrana
Arte da joalharia portuguesa, exclusivamente
manual, exige aos artesãos um trabalho minucioso
com fios pequenos de metais como ouro ou prata.
São exemplo os corações de Viana.
Navio-hospital Gil Eanes
Construído em Viana do Castelo em 1955, foi
durante décadas navio de apoio hospitalar à
frota bacalhoeira. Desativada essa frota, foi
restaurando e funciona hoje como museu.
Estátua de Caramuru
Estátua inaugurada na passagem de ano de
2009, tem cinco metros de altura e três de
largura, dedicada a Caramuru, navegador
vianense que viveu entre os índios do Brasil.
Museu do Traje
Dedicado aos trajes rurais do concelho, o
museu tem o objetivo de mostrar a identidade
e o património etnográfico vianense. O traje à
vianesa é feito de linho e várias cores.
Funicular de Santa Luzia
É a mais longa viagem de funicular, ou elevador,
de todo o país, com duração de sete minutos
num desnível de 160 metros e com um percurso
de 650 metros. Um símbolo da cidade.
Louça de Viana
Autênticas peças de colecionador, a louça de
Viana é pintada à mão em tons de azul e branco
ou cor-de-vinho. Nas lojas da cidade podem
encontrar-se peças originais e únicas.
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Castelo São Tiago da Barra
Também conhecido como Forte de Santiago da
Barra, o castelo está na freguesia de Monserrate.
De arquitetura militar, destaca-se numa das portas
um escudo real, estilo rococó.
Chafariz da Praça da República
Concluído em 1559 é obra do mestre canteiro
João Lopes "o velho”. Durante séculos foi ponto
de abastecimento de água potável da população
vianense e referência urbana do burgo.
63
DESFRUTAR
ESPAIRECER
NATUREZA QUE
NOS ENVOLVE
Onde antes encontraríamos um parque de campismo na Estrada
do Funchal em Vilar de Mouros, hoje encontramos um aldeamento
turístico com mais de trinta quartos. Entre o mar e o rio, Vilar de
Mouros afirma-se como um local inigualável de fuga à cidade.
TEXTO Sofia Moleiro
P
razer da Natureza - Resort SPA é um
aldeamento turístico de quatro estrelas que apresenta um conceito alternativo. Inserido na natureza, transmite calma e pureza. Ideal para quem
procura um local sossegado para descansar e
deseja abraçar o sossego que o campo transmite.
Aqui podemos respirar o ar puro, sentir a água
fresca do mar e dos rios, descansar no silêncio
da serra. Vilar de Mouros ficou maioritariamente
conhecido pelo seu festival eclético que trazia
multidões até à pequena aldeia. No entanto, há
muito para descobrir em toda esta zona.
DE PARQUE DE CAMPISMO A RESORT
Em tempos, estas terras albergaram sulcos para
tendas. Era aqui que muitas famílias e amigos
passavam dias de campismo. O parque fechou e
a família de Barcelos que idealizou o atual espaço
viu o parque degradar-se. O objectivo seria reabilitá-lo, baseando-o num novo conceito de parque
de campismo com mais conforto e qualidade.
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As villas habitam os antigos espaços das tendas, a piscina exterior encontra-se na mesma
zona, a recepção do Prazer da Natureza fica
exactamente no mesmo local da anterior. Nuno
Santos, director do resort conta-nos que há alguns hóspedes curiosos que entusiasmados com
o recente empreendimento percorrem o resort
apontando: “a minha tenda era ali”.
VILLAS E APARTAMENTOS
Entre os jardins floridos erguem-se villas e apartamentos. Cada villa tem entre um a dois quartos, casa de banho privativa, área de estar com
televisão e uma kitchenette equipada.
A decoração foi inspirada no homónimo festival da freguesia. Os apartamentos são semelhantes às villas tendo ainda vista sobre o resort
proporcionada pela varanda.
Os tons terra das villas fundem-se com a
paisagem. Os materiais utilizados em todo o
equipamento são modernos. Absorvem o calor
durante o dia e mantêm a temperatura à noite,
mesmo assim, cada villa e apartamento está
equipada com ar condicionado.
As pequenas casas estão viradas a poente
para aproveitarem ao máximo a luz solar. Ao
passear pelo resort sente-se o aroma das plantas
aromáticas e das árvores de fruto. A caminho
da piscina, é possível retirar um maracujá das
árvores que crescem junto às villas.
SERVIÇOS E ACTIVIDADES
A paixão por plantas manifestada pelos proprietários inspirou o logótipo e o ambiente do
resort, “a família gosta muito de plantas”, refere
Nuno Santos.
A tulipa, símbolo do empreendimento antevê
os jardins que percorrem o espaço. Em breve
será possível ver tulipas que já foram plantadas.
No Prazer da Natureza podemos encontrar
restaurante, bar, serviço de take-away, spa, piscina interior, ginásio, campos de squash e ténis.
Existem também muitos locais para visitar em
Viana do Castelo e na Serra d’Arga. Conforto e
modernidade aliam-se com o ambiente para proporcionar um Prazer da Natureza.
PRAZER DA NATUREZA RESORT & SPA
QUARTOS
Ideal para famílias
[email protected]
[email protected]
WI-FI GRATUITO
(+351) 258 724 414
(+351) 965 492 966
KITCHENET
(necessário requisitar Kit de cozinha)
· Serviço de take-away
· Restaurante e Bar
Estrada do Funchal, 989
4910-584 Vilar de Mouros
Caminha | Portugal
ESTACIONAMENTO
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PETISCAR
SERRA D'ARGA:
UM MUNDO DE SABORES
Na Serra d’Arga, na aldeia de Dem, é possível encontrar uma
Quintinha com saborosos pratos. A Tasca da Quintinha é um
espaço carinhosamente pensado pela família Pires.
TEXTO Sofia Moleiro FOTOGRAFIA Luís Leite
O
chão tinto escuro, as cadeiras desenhadas em diferentes trejeitos e os móveis de madeira desvendam
uma casa rural que nos acolhe em saborosos pratos. Os sabores são regionais, confeccionados com
produtos locais, “é tudo aqui da zona”, refere com
orgulho Flor Maia, proprietária. Peixe ou carne, tudo nos deleita
na Tasca da Quintinha.
A Tasca da Quintinha é o restaurante da Quintinha d’Agra, um
projecto de Agroturimo, situado em Dem, aldeia do concelho de
Caminha.
Queijos, presunto, azeitonas e pão povoam a mesa dando a
anteceder os pratos principais. Carne barrosã, arroz de pato,
bacalhau com broa, polvo ou o famoso cabrito no forno, fazem
parte da ementa. Os pratos acompanham os produtos da época
e apesar de estarmos em plena Serra d’Arga há peixe à escolha:
“Há tradição de peixe aqui, porque as peixeiras de Vila Praia de
Âncora traziam para trocar por carne”, explica-nos Flor Maia.
O aroma enebriante das carnes chega-nos e entranha-se. O prato tipicamente recheado servido em prato de barro é delicioso de
saborear. A acompanhar o vinho da casa, também da região.
As sobremesas são variadas mas a destacar o cacau de vinho,
uma sobremesa preparada com vinho verde e cacau.
Após degustar todas as iguarias com que se possa deleitar,
sobra apenas espaço para o Xiripiti. O bagaço com mel, receita
caseira, capaz de curar qualquer constipação. Em Agosto, nos
dias 28 e 29 há uma grande romaria até ao Mosteiro de S. João
d’Agra, em Agra de Baixo onde se pode encontrar Xiripiti, bandas
ao despique e muita animação. Flor, faz questão de recomendar
esta festa tradicional.
NÃO SÓ DE SABORES SE FAZ A QUINTINHA D’ARGA
A Quintinha d’Arga possui seis quartos, todos temáticos. Cada
peça foi escolhida a dedo por Flor que as procurou incansavelmente por antigos armazéns e velharias. Nas escadas que nos
guiam para os quartos podemos ver antigas fotografias da zona
e dos seus costumes. No corredor, uma arca de feijões restaurada antecede o Quarto Serra d’Arga, assim denominado devido à
varanda sobre a serra.
O quarto foi pensado para casais em lua-de-mel e está decorado com peluches em forma de coração com mensagens românticas: “o meu marido ofereceu-me estes peluches no dia dos
namorados”, diz-nos enternecida.
No Quarto das Artes encontramos peças de autor que podem
ser adquiridas pelos hóspedes. Desta forma, a família Pires
procura também impulsionar as artes.
PROJECTO FAMILIAR
“Fui a grande impulsionadora deste espaço”, confessa Flor
sorridente. Durante quinze anos, Flor e José Carlos tiveram um
restaurante em Vila Praia de Âncora. Hoje desenvolvem um projecto familiar em Dem. Os filhos ajudam em tudo e fazem parte
da equipa. A dedicação e o empenho transformam o espaço.
A sala de refeições do restaurante também alberga exposições.
Actualmente é possível ver uma exposição de fotografia de Luís
Miguel Rodrigues. As artes, a aposta nos paladares regionais e
o acolhimento familiar são a imagem da Quintinha d’Agra, um
local de descanso, calma e sossego.
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68
EXPLORAR
SERRA D’ARGA:
UM PARAÍSO A DESCOBRIR
A Serra d’Arga situa-se no distrito de Viana do Castelo. Integra a Rede Natura 2000,
uma rede ecológica para o espaço comunitário da União Europeia. Insere-se na primeira
região (na totalidade) a fazer parte da carta de turismo sustentável europeia. É um local
de grande valor ecológico, rico em tradições e costumes. Ao percorrer a Serra é possível
desfrutar de uma paisagem natural única, deixamos aqui algumas sugestões.
TEXTO Sofia Moleiro FOTOGRAFIA Luís Leite
Vista do miradouro, é possível
observar Caminha, Galiza, Rio
Minho e o Oceano Atlântico.
Miradouro Nossa
Senhora das Neves
Este espectacular miradouro permite uma visão única
sobre Caminha, Galiza e o Rio Minho. É de inspirar ar
puro e saborear a paisagem, sendo possível também
visitar a Capela da Senhora das Neves e fazer piqueniques na zona adjacente.
41°50'31.5"N 8°47'26.6"W
Mosteiro de São João d’Arga.
Capela de São João d’Arga.
Mosteiro de São João d’Arga
Mosteiro dedicado a São João Baptista, de origem românica, ainda contém vestígios que reportam ao século XII. A 28 e 29 de Agosto tem lugar uma romaria espetacular a este mosteiro. Desconhece-se a sua origem
mas actualmente reúne uma multidão que dorme na
zona envolvente e assiste a cantigas ao desafio, numa
festa animada pelo som das concertinas.
Arga de Baixo, Caminha, Viana do Castelo
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Salto para uma das lagoas.
Cascata do Pincho
Pincho
O Pincho é um óptimo lugar para desfrutar do Rio
Âncora. As águas cristalinas da cascata e lagoas convidam ao mergulho e ao convívio. De fácil acesso, sendo
possível levar o carro até às imediações.
41°47'51"N 8°45'7"W
Banhistas a desfrutar do Rio.
Azenha de Vilar de Mouros
Azenha
Miradouro
Arga
de Baixo
Em Vilar de Mouros, existe uma zona sossegada onde
poderá aproveitar o rio Coura. A Azenha permite não
só estender a toalha e apanhar banhos solares mas
também fazer um pequeno piquenique. De fácil acesso e com estacionamento.
41º53'20.76"N 8º47'1.788"W
Pincho
Centro de Interpretação da Serra d'Arga
Arga de Baixo
4910-035
258 721 708
[email protected]
De terça-feira a sábado
9h00 às 12h30
14h00 às 17h30
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OPINIÃO
CRÓNICA LITERÁRIA
DE LUA EM LUA,
DE MAR EM MAR
TEXTO Miguel Dejavú
O
relógio olha-me desapontado. Derreto o meu corpo pelo lençol,
arrastando os meus enormes braços para congelar os ponteiros.
Levanto-me. Enquanto caminho, deixo um rasto de pegadas
soltas, isoladas, cansadas, mastigadas nesta sonolência. O
cansaço respira lentamente enquanto a porta aberta espera
por alguém. Vejo no espelho o reflexo de um homem enrugado. Queria
despir esta pele e cobrir-me com a sombra que deixei partir, uma sombra
que se perde em todos os cantos do apartamento.
Os lençóis onde mergulho as minha mágoas ainda têm o teu perfume
alegre. Um aroma que aquece a alma deste sono preso no fio instável do
meu vazio. Nem o sol que espreita pela janela faz secar a saudade do teu
corpo. Percorro as tuas ruas e ouço os ecos de palavras secretas. Na mesa
ainda estão as tuas piadas, repousadas no lugar onde deixavas sempre uma
flor. Saboreio lentamente a memória da tua voz. E este chuveiro que já não
canta? E esta água que caí triste? E a escova de dentes que já não tem par
para dançar? O sabor das tuas mãos ficou espalhado pelo meu corpo. Ainda
sinto a tua presença no limiar das palavras que escorregam pelos meus dedos. Quando abro a porta desta casa vazia sinto o cheiro do silêncio, o som
do tempo estático e o paladar da solidão; ou talvez apenas um rasto disto
tudo, não importa.
Vejo-te em toda e qualquer parte, e em toda a parte sigo-te, sem saber se te
procuro a ti ou se me descubro.
Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
72
73
BRACARA IMÓVEIS
A SOLUÇÃO PARA VENDER OU
ARRENDAR A SUA PROPRIEDADE
Com uma equipa jovem e dinâmica, a Bracara Imóveis aposta acima de tudo numa
maior rentabilidade para o cliente, procurando tornar o processo o mais simples
possível, respondendo às novas necessidades turísticas de Braga.
F
ocados na exigência do cliente, mas também nos
novos desafios do mercado imobiliário atual – nomeadamente da cidade de Braga, onde estão sediados –, a Bracara Imóveis assume-se com um
conceito três em um: “A ideia é que o cliente não
precise de se preocupar com nada: achamos o imóvel,
fazemos a obra e rentabilizamos o negócio” diz Ronaldo
Oliveira, consultor imobiliário e um dos sócios da empresa. Todos os imóveis são entregues prontos a habitar, com
eletrodomésticos, móveis de cozinha e roupeiros. Um investimento pouco avultado com rentabilidade alta, eis o
segredo do sucesso da Bracara Imóveis.
Começando apenas pela venda de imóveis, rapidamente
a equipa percebeu que o mercado evoluía num outro sentido, o que os levou a dedicarem-se também à reabilitação
de propriedades, para posterior rentabilização das mesmas.
Se numa imobiliária tradicional nos apresentam um número
infindável de imóveis por onde escolher, na Bracara Imóveis
o processo é o contrário: a empresa é que parte à procura do
local/propriedade ideal para cada cliente, tendo em conta as
suas expetativas. O imóvel é entregue ao cliente pronto a ser
utilizado e/ ou arrendado, incluindo obras de reabilitação,
equipamentos de cozinha e lavandaria, mobiliário e decoração, ou seja, um verdadeiro “chave na mão”, sendo que
poderá mesmo já ser entregue arrendado, sendo que a equipa pode tratar também de todas as responsabilidades associadas a um proprietário – desde a venda ou arrendamento
do imóvel até à manutenção e gestão do mesmo – para que
o seu cliente não tenha de se preocupar com essas questões.
POR QUÊ A REABILITAÇÃO DE IMÓVEIS?
Após vários estudos de mercado, foi possível perceber
que a rentabilização dos imóveis era bastante superior no
caso de imóveis reabilitados que, depois de remodelados
e modernizados, podem ser aproveitados para alojamento
local, beneficiando geralmente de uma localização central
e com um custo mais baixo do que outro tipo de propriedades. Assim surgiu a vertente Bracara Guest House, que
pretende exatamente funcionar como um facilitador da inserção da sua propriedade na rede de alojamentos locais.
“Uma grande parte dos compradores são investidores que
querem comprar para rentabilizar. O alojamento local dá
uma rentabilidade muito maior que o arrendamento clássico, chegando aos 8, 10 e às vezes ultrapassando os 14%
de rentabilidade”, refere Ricardo Vilela, sócio gerente da
Bracara Imóveis.
74
POR QUÊ INVESTIR EM BRAGA?
Com a saturação do mercado nas grandes metrópoles
portuguesas, os investidores olham para Braga como uma
nova oportunidade de investimento. Nos últimos anos Braga
tem-se tornado um ponto turístico cada vez mais importante
e se antes a maior parte do turismo provinha das festas religiosas, ao dia de hoje a cidade assume-se também como
um polo de cultura – aliando a sua antiguidade e História
com a imagem jovem e dinâmica que atualmente transmite
– sendo que tem sido palco de grandes eventos culturais a
nível nacional e internacional. Segundo Hugo Paiva, “Braga
reúne todas as condições para o sucesso do nosso negócio.
O turismo está a crescer, o alojamento local está a dar os
primeiros passos e o valor do metro quadrado é muito mais
baixo”, estando reunidas, portanto, todas as condições para
a expansão e sucesso deste tipo de investimento.
Localizados em zonas privilegiadas da cidade e rodeados
de várias atrações turísticas, cada imóvel tem a sua decoração própria, fazendo muitas vezes alusão aos principais
pontos turísticos da cidade, o que lhes confere personalidade e distinção em relação aos demais. Contudo, a maior
diferença entre este tipo de alojamento e os usuais hotéis
está essencialmente no tratamento dado ao hóspede, sendo
que a equipa Bracara Guest House prima pela proximidade
e atenção dada a cada um dos seus clientes, tratando-os
como verdadeiros convidados e fazendo-os sentirem-se
em casa. “Muitas pessoas que vieram no início do ano reservaram logo para passar cá o fim desse ano. O feedback
tem sido muito positivo”, remata Adriana, responsável pela
gestão da Bracara Guest House.
253 464 434
www.bracaraimoveis.pt.
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DESFRUTAR
MIMAR
MUST-HAVES
POR Leonor Pereira
VESTIDO PASTORIL
Os vestidos de inspiração pastoril são uma das
principais tendências da estação.
A cor branca é um must-have mas, para maior
interesse visual, procure peças com textura ou
aplicações de rendas ou bordados. Para um look
mais jovial e casual, experimente combiná-lo com
um blusão de ganga e sapatilhas. Coordenado com
umas sandálias de tacão alto e uma clutch, fica
perfeito para uma noite de verão.
CHAPÉU BOATER
O chapéu boater ou gondoleiro
ressurge nesta estação, impulsionado
pelo tema pastoril. Feito em palha,
este modelo é caracterizado pelas abas
retas e copa média. Para um look mais
moderno, opte por fitas largas de cor
de cor escura.Este acessório deve ser
combinado com estilos mais casuais,
sendo o complemento perfeito para os
dias de praia.
ÓCULOS DE SOL COMPÓSITOS
Para um look mais divertido e irreverente, os óculos de sol compósitos
são o acessório must-have.
Este tipo de modelo é caracterizado pela mistura de estilos diferentes
numa única peça, criando assim o efeito dois em um. Para o dia-a-dia,
opte por combiná-los com peças mais simples, dando destaque a este
acessório. Para um visual mais arrojado, pode coordená-lo com peças
estampadas ou cores fortes.
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SANDÁLIAS ROMANAS
As sandálias romanas ou gladiadoras ressurgem nesta
estação como o artigo mais desejável para um look de verão
e festivaleiro. Este tipo de calçado é facilmente reconhecido
pelas múltiplas tiras que envolvem o pé e a perna.
Rasas ou de tacão alto, este tipo de calçado pode ter várias
alturas, desde de canos mais curtos até acima do joelho.
Para um maior destaque, combine esta peça com calções,
saias ou vestidos de linhas mais simples.
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DESLAVADOS
Neste verão, os tecidos e padrões de aparência
deslavada estão em destaque em todas as
categorias de produto masculino.
Privilegie as texturas naturais do algodão e do
linho para criar um estilo descontraído e informal.
TROPICAL SOMBRIO
O tema tropical, tão comum nos meses do verão,
ressurge nesta estação com tonalidades mais sombrias.
Folhas e flores são atualizadas com cores mais escuras,
dando uma aparência mais moderna e jovial.
Combine com peças casuais para um look perfeito nas
férias e festivais de verão.
ÓCULOS DE SOL REDONDOS
Os óculos de sol com armações redondas são os must-have
da estação! Os modelos clássicos em cores escuras ou padrão
tartaruga, possuem um cariz vintage e adequam-se a qualquer
estilo e idade. As lentes coloridas conferem modernidade e
oferecem uma alternativa mais jovem e divertida.
ACESSÓRIOS EM GANGA
Neste verão, os acessórios masculinos são atualizados
com materiais como a ganga e a cambraia.
Este tipo de peça destaca-se pelo seu espírito casual e
descontraído mas adequa-se a vários estilos e idades.
RITA ALMEIDA ESTÁ NA RUA
NO INTERIOR DA AUSÊNCIA
TEXTO Nuno Sampaio FOTOGRAFIA @ana.rita.almeida
“O branco, o neutro, o
ameno são elementos
que habitualmente
fazem parte da
história da minha
fotografia, talvez por
transmitirem a calma
e serenidade que sinto
enquanto fotografo“
É impossível olhar para o teu instagram e não
nos sentirmos isolados no espaço e no tempo.
Como que se ao mundo apenas pertencessem
alguns bocados de outras coisas. De que é que
são feitas as tuas fotografias?
As minhas fotografias são feitas das histórias que
me encantam, da luz que me seduz, do céu que
me inspira, do mar que me ouve, das paredes que
78
falam, das pessoas que me cativam, das janelas
que me despertam, das cores que me acalmam,
dos balanços que me embalam, das linhas que
me atraem, dos sons que me levam e dos sítios
que me abrigam.
No meio dos meus dias surgem pedaços de
tempo e de espaço que me fazem parar, pensar
e muitas vezes sorrir. São esses "quadradinhos"
que eu recorto. Guardam em si uma história e
uma emoção que eu tento registar de forma simples e verdadeira. São fotografias espontâneas,
orientadas pelo meu instinto, sem estudo prévio.
Acontecem.
mitirem a calma e serenidade que sinto enquanto fotografo.
Consideras os teus “recortes” fotográficos
uma forma de deixar o recetor à espera de
uma continuação?
A acontecer será de uma forma natural e não
pensada, já que as minhas fotografias não têm
uma ordem, nem uma sequência definida. Penso que existe apenas uma continuidade no meu
registo, uma linha de cor que atravessa a minha
galeria e o minimalismo constante das minhas
composições. Preocupo-me apenas em sentir que
existe harmonia entre as fotografias e o público.
A luz das tuas fotos é calma, queimada mas
sem a cor do fogo. Procuras sempre o dia em
detrimento da noite?
Sim, é a luz do dia que me atrai. A forma como
interage com os elementos no espaço, as diferenças de intensidade das cores e dos contornos, as sombras e os reflexos criados.
Aprecio os tons suaves e procuro os fundos neutros para realçar o que prendeu o meu olhar
ainda que por vezes seja o cenário o protagonista do recorte. O branco, o neutro, o ameno
são elementos que habitualmente fazem parte
da história da minha fotografia, talvez por trans-
O branco é a soma de todas as cores; também
pode ser entendido como ausência. A tua página do instragram está cheia de branco, de
brancos. Como é que interpretas este espaço
negativo na tua obra?
O branco, os brancos transmitem-me paz. O espaço confere maior dimensão àquilo que me
inspira e maior realce ao que me cativou. Os elementos, ainda que quase sempre minimais e
pequenos, respiram e ganham força. A ausência
de ruído visual orienta o olhar do recetor para o
"protagonista" do recorte e o seu foco para aquilo
que realmente me fez parar e "disparar". Neste es-
paço negativo cabe também a imaginação daqueles que veem para além da história que eu registei.
Quando sais à rua o que é que gostas mais de
fotografar?
Quando saio à rua ando sempre com a "cabeça
no ar” - não fosse o céu sempre parte importante
do enquadramento da fotografia.
Gosto de fotografar aquilo que me faz pensar.
Uma frase numa parede que me fez parar e pensar no que sentiu a pessoa que a escreveu ou no
que faz sentir a quem por ali passa e a lê.
Gosto de fotografar o que se distingue no meio
da confusão. Lembro-me de uma fotografia que
fiz em Lisboa, na Gare do Oriente: havia uma
praça cheia de gente a correr de um lado para
o outro, a olhar para o telemóvel e de phones
nos ouvidos, muitos carros em fila a contornar
o passeio, sons de buzinas de quem anda sempre atrasado e impaciente. No meio daquela agitação toda apareceu um senhor bem-posto, de
fato cinza, a atravessar a praça num passo calmo
que se foi sentar num banco. Ficou ali a olhar.
Sereno. Eu fiquei a observá-lo da varanda. Foi
o contraste que me cativou, que me fez parar,
pensar e fotografar.
Gosto de fotografar ligações entre as pessoas e
entre as pessoas e o espaço. Sinto-me atraída pela
simplicidade das linhas, simetrias e geometrias.
Um fotógrafo com quem gostasses de te sentar
num banco de jardim a conversar? Porquê?
Gostava um dia de sentar-me num banco de jardim com o David Lopez ao lado e, sem olhar para
o relógio, contar e ouvir as histórias que fazem
as nossas fotografias. O David é um fotógrafo de
coração. Sigo o trabalho dele com muita atenção
desde que me tornei utilizadora do instagram.
Admiro a forma inteligente como capta aquilo
que o rodeia, o contraste entre o frágil e o forte,
entre o delicado e o robusto, entre as linhas vincadas e a subtileza dos contornos que imprime
nas suas fotografias. É admirável a luz, a energia
e a emoção que transmite nas suas fotografias a
preto e branco.
Tens um sítio especial onde gostasses de voltar para fotografar?
Capadócia, a terra dos sonhos como eu lhe chamo. É um lugar mágico. O"sussurrar" dos balões,
a imensidão do céu, a acalmia do balanço, a intensidade da luz, a aridez das paredes, os "casulos" escavados nas pedras. É arrepiante!
Um país, uma cidade, uma rua?
Todos os lugares perto do mar.
És uma observadora paciente? Esperas pelo
tempo certo, pelo momento certo?
Sim, sou. Quando saio sem relógio e de mochila às costas gosto de parar para ficar só a olhar
as linhas, os contornos, o que permanece estático e o que tem movimento. Só depois de ter
olhado algum tempo e de ter sentido o que me
envolve pego na máquina e começo a ver pela
minha janela. Quando fora da minha janela se
movimentam elementos que quero como protagonistas do espaço e do tempo que vou recortar,
espero. É nesse tempo de espera que muitas vezes surge mais uma história para contar, uma luz
que quero registar ou uma troca de palavras com
alguém que se mostra curioso.
Qual é a hora do dia que preferes “recortar”?
Aprecio a quietude e o silêncio do despertar. Gosto da luz calma, pura e sem filtros da
manhã, da claridade que vai crescendo com o
passar do tempo e da luz intensa do meio-dia.
Encantam-me as sombras que vão aparecendo
com o baixar do sol e os tons alaranjados. A
contra luz tem o seu charme e as luzes a brilhar no escuro magia.
A hora que gosto mais é aquela em que
consigo um registo que transmite sintonia entre
os elementos da composição. Essa hora não é
constante, muda e transforma os sítios, altera
os pontos de interesse e faz da fotografia algo
dinâmico e fascinante.
Às quartas mostramos as melhores fotos da
semana. No final do mês selecionamos o top 3 e
o vencedor será entrevistado pela RUA.
#ruatop #aminharua
@revistarua
2
3
@sarajvieira
@alexandra__oliveira_
4
@o__belinho_
79
AGENDA CULTURAL
AGOSTO‘16
5
4-6
VIAGEM LITERÁRIA
LITERATURA
A Porto Editora cumpre uma
Viagem Literária a Portugal. A
cada sessão, o jornalista João
Paulo Sacadura conversa com
dois reconhecidos escritores.
Em Braga, os protagonistas são
Alberto S. Santos e José Tolentino
Mendonça. A entrada é gratuita.
NEOPOP
MÚSICA
Após o sucesso da décima edição
e com o agora revelado line-up,
apenas nos falta contar os dias até
Agosto. O maior evento de música
electrónica do país está de regresso
e realiza-se de 4 a 6 de Agosto
junto ao Forte de Santiago da Barra
de Viana do Castelo. Três dias
imparáveis cheios de ritmo, boas
energias e muita música.
DIÁRIO 45€
GERAL 85€/ 95€
Viana do Castelo
ENTRADA LIVRE
Theatro Circo - Braga
21h30
12
BOMBINO
MÚSICA
Neste novo álbum, “Azel”,
Bombino apresenta um novo estilo,
do qual é pioneiro, e que pode ser
chamado de “Tuareggae” – uma
mistura luminosa de rock/blues
Tuareg com uma gota de reggae.
20€
Theatro Circo - Braga
22h
17-19
ESPOSENDE VERÃO
MÚSICA
Dengaz, The Gift e Ana Moura
são os três nomes escolhidos
pelo Município de Esposende
para animar o verão de 2016.
Dengaz atua a 17, The Gift a 18 e
Ana Moura fecha a 19 de agosto.
Não esquecer ainda mais alguns
espetáculos, com referência para os
Red (9), Àtoa (11), Fernando Pereira
(13) e Carolina Deslandes (11 de
setembro).
ENTRADA LIVRE
Bombeiros Voluntários de
Esposende
27
CINEMA NO PÁTIO: BEST
OF CURTAS VILA DO
CONDE + DOCUMENTÁRIO
"OUTROS CANTOS"
CINEMA / MÚSICA
Na noite de 27 de agosto, o
gnration exibe as melhores curtas
da edição de 2016 do Curtas Vila
do Conde e ainda o documentário
que retrata o espetáculo de
comunidade Outros Cantos.
ENTRADA LIVRE
gnration - Braga
22h
19
TERESA SALGUEIRO
MÚSICA
Nesta nova Tour Teresa Salgueiro
assume-se como criadora de
ambientes mágicos de uma
beleza indiscutível e revela a
singular multiplicidade das suas
facetas artísticas, ao interpretar
os seus arranjos originais para
canções portuguesas, temas do
seu repertório de autora, sem
esquecer a homenagem ao seu
antigo grupo, em canções que
todos sentimos de forma muito
próxima.
20€
Theatro Circo - Braga
22h
17-20
PAREDES DE COURA
MÚSICA
Com mais de 20 anos de história, o
festival Vodafone Paredes de Coura
é um dos mais antigos festivais de
Verão e continua a proporcionar aos
amantes de música uma experiência
única num cenário idílico.
De 17 a 20 de Agosto de 2016, o
Vodafone Paredes de Coura está de
regresso à praia fluvial do Taboão.
DIÁRIO 45€
GERAL 90€
Paredes de Coura
OPINIÃO
CRÓNICA DE HUMOR
NUNCA DEFINAS OBJECTIVOS
PARA AS FÉRIAS
TEXTO Rui Leite Gonçalves
A
travessei o país com destino a Albufeira e com três objectivos
traçados: relaxar, apanhar uns banhos de sol e aquecer os
problemas. O plano era simples e humilde, mas assim como em
qualquer empresa pública, foi mal traçado pelos gestores. Desde
já, faço o mea culpa.Descobri que agora há três tipologias de moda
no mundo dos bikinis: temos o bikini ousado que assume os desenhos de um
soutien, temos o bikini que não quer tapar nada mas ainda é vendido como bikini
e que favorece bastante o bronze em zonas antes consideradas pudicas e temos o
bikini “modo pelada”. Este último, além do bronze, traz com ele a possibilidade
de secar o corpo em menos de cinco minutos. Além das vestimentas, as modelos
assumiram também a forma de andar da série “Marés Vivas”. Posto isto, vejo
o objectivo número um radicalmente eliminado sem que eu possa fazer nada
contra isso. Lá se vai a ideia de relaxar.
Fui tentar concentrar-me nos banhos de sol e abstrair-me de qualquer outra
distração alheia, mas tendo em conta o número de bolas de Berlim que saltitavam
de um lado para o outro pela praia fora (cuidado com as mentes perversas), temi
que qualquer desatenção fosse fatal e pudesse acordar com creme de alfarroba
no olho ou no canto do nariz. Sim senhor leitor, há bolas de Berlim com creme
de alfarroba. Os bikinis não são os únicos a sofrer com este fenómeno de
evolução que nos rodeia. A ideia dos banhos de sol é assim vandalizada pela
quantidade astronómia de bolas de berlim que circulam.
Até aqui, não tinha a sensação de plano falhado. Sobrava-me ainda a
possibilidade de concretizar o terceiro objectivo: esquecer os problemas.
Contudo, não há problema maior do que estar no Algarve com um misto de
diferentes culturas. Não me quero alongar muito neste parágrafo, tenho visto
coisas que podem tirar o sono aos menos susceptíveis. Vou limitar-me ao
exemplo de hoje, ao voltar da praia para casa. Na fila para o chuveiro, um casal
de estrangeiros está à minha frente. Avançam assim que têm oportunidade para
tal, ele queixa-se - numa língua que não me é familiar - que tem areia dentro
dos calções. Ela, por sua vez, sorri e coloca a mão dentro dos mesmos calções,
usando como entrada a zona traseira. Limpa com a voracidade de quem sabe o
que faz. Depois deste incidente, não consegui mais do que lavar os pés quando
chegou a minha vez. Ao chegar a casa, mas tão perto de casa, uma rapariga sai do
supermercado apressada com um desodorizante na mão. Olha em volta, abre o
desodorizante, afasta os curtos calções de ganga e coloca-o nas virilhas. Cheguei
a casa e a vontade para começar a cozinhar tinha sido claramente reduzida por
acontecimentos alheios. Amigos, o Algarve acrescenta problemas à nossa lista.
Quanto a mim, num local onde a afluência de pessoal estrangeiro é
elevadíssima, resta-me o contentamento de poder gritar bem alto: “campeões
europeus ca*****”!
Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
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ILUSTRAÇÃO Nuno Simões
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