Pensamento do Dia Pensamento do Dia

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Pensamento do Dia Pensamento do Dia
Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 01 12 2009
-----------------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 01/12/2009
Para salvar a teoria econômica
Antonio Delfim Netto
Creio que pelo menos alguns economistas que dominam brilhantemente as
"modelagens" matemáticas (se forem um pouco menos cínicos do que o prêmio
Nobel Robert Lucas) devem repetir para si mesmos a pergunta que a rainha
Elizabeth II fez aos professores da famosa London School of Economics em
novembro de 2008: "Como foi possível que, depois de mais de um século de
estudos, os senhores foram incapazes de prever a crise que colocou em risco a
economia mundial?" O fracasso da macroeconomia em matéria de "previsão" é fato
passado em julgado. E (com razão ou não) muitos acadêmicos garantem que
"prever" não é obrigação dos economistas e não é a finalidade da teoria econômica
"científica", o que não parece fora de propósito. O fato curioso é que eles mesmos,
quando assumem o papel de "analistas" no mercado financeiro (a serviço de
bancos, fundos e "tutti quanti"), não fazem outra coisa a não ser "prever", para
induzir "cientificamente" os compradores de seus papéis. Aquela atitude defensiva,
entretanto, não poupa a teoria econômica. De um "cientifismo equivocado" que lhe
deu imensa visibilidade e prestígio, há pouco mais de uma década, ela hoje é vista
com desconfiança, quando não desmoralizada.
O sentimento de frustração é geral. Todas as tribos que constituem a confederação
dos economistas sentem esse rebaixamento da opinião pública com relação às suas
aspirações de sugerir políticas capazes de manter a economia num estado de
equilíbrio dinâmico interno e externo. Em resposta à sua incômoda pergunta, a
rainha recebeu duas cartas. Uma assinada por um grupo de economistas
"neoclássicos", encabeçada pelo professor Tim Besley, da British Academy. Outra
de economistas relativamente fora do "mainstream", encabeçada pela professora
Sheila Dow, da University of Stirling.
A primeira é um relato das conclusões de um fórum realizado em 17/6/2009 na
British Academy (especialmente para responder à perplexidade da rainha). Dele
participaram homens de negócios, especialistas do mercado financeiro (da City),
reguladores, professores de economia e membros do governo. Ela desfila uma
longa lista de dificuldades e justificativas. Em resumo diz a carta:
1) muitos economistas previram a possibilidade da crise, mas não o momento de
sua eclosão. O BIS, entretanto, chamou sistematicamente a atenção dos governos
e do mercado para tal risco;
2) apesar da imensidão de analistas (apenas um banco inglês que hoje é do
governo tinha um time de 4.000!), os riscos eram considerados isoladamente
usando "as melhores mentes matemáticas nacionais e estrangeiras", mas
ignorando uma visão global;
3) apesar dos avisos, a maioria estava convencida de que "os bancos sabiam o que
estavam fazendo". Estavam crentes que o "mercado" mudara. Banqueiros e
economistas estavam encantados por ele. Os modelos pareciam prever os
pequenos riscos no curto prazo, mas poucos economistas estavam equipados para
dizer o que aconteceria se as coisas dessem erradas como deram;
4) havia um consenso que seria melhor lidar com as "bolhas" depois que
houvessem ocorrido do que explodi-las preventivamente. Como a inflação
permanecia baixa, a taxa de juros foi mantida muito baixa por muito tempo,
estimulando a ação dos agentes.
Prometendo um novo Fórum da Academia no futuro, a primeira carta termina
dizendo: "Tudo isso, combinado com uma psicologia de rebanho e o mantra dos
gurus financeiros e governamentais, conduziu a uma receita perigosa. Pequenos
riscos individuais podem ter sido estimados corretamente, mas os riscos (não
percebidos) do sistema global eram imensos."
A segunda carta ratifica essas críticas, mas sugere que "a preferência pelas técnicas
matemáticas com relação à substância do mundo real desviou os economistas da
análise do todo". Termina dizendo que o que fez falta foi "uma sabedoria
profissional informada por seguros conhecimentos de psicologia, das estruturas
institucionais e dos precedentes históricos".
A mesma discussão se processa no mundo inteiro. Não se trata, entretanto, de
abolir a matemática. Pelo contrário, ela é indispensável, mas deve ser combinada
com a história, a geografia, a psicologia etc., com inteligência, moderação e
respeito à realidade. Esta não é a primeira vez que o desencanto com as promessas
da ciência econômica acontece. Já em março de 1892, W. Cunnigham, num artigo
publicado no "Economic Journal", dizia que "se existe uma coisa que mais do que
qualquer outra tem imposto sofrimento à economia política (o velho, sério e
modesto nome da atual teoria econômica) é o fato que o público formou uma
opinião exagerada do que ela pode realmente fazer e, portanto, desapontou-se
porque ela não foi capaz de satisfazer tais expectativas".
A despeito disso é mais do que evidente que o conhecimento econômico é
fundamental para uma administração pública que deseje estimular o crescimento
com alguma Justiça social e equilibrios interno e externo, e que ignorá-lo tem
custos sociais imensos. O exemplo mais claro é a obediência às identidades da
Contabilidade Nacional que governos mais sanguíneos tentam frequente e
inutilmente violar e pagam caro por isso.
--------------------------------Valor Econômico - 01/12/2009
Os erros do Banco Central na gestão da
crise financeira –
José Luis Oreiro e Eliane Araújo
Passado um ano da eclosão da crise econômica mundial sobre o Brasil, começam a
se observar os primeiros sinais consistentes de retomada do nível de atividade
econômica. Após dois trimestres consecutivos de queda, no segundo trimestre de
2009, o PIB brasileiro apresentou uma variação positiva com respeito ao trimestre
anterior, de tal forma que do ponto de vista técnico a economia brasileira não está
mais em recessão. No entanto, o resultado positivo do PIB no segundo trimestre
não será suficiente para impedir que a economia brasileira apresente uma taxa de
crescimento apenas levemente positiva ao longo do ano de 2009; resultado esse
que contrasta fortemente com o crescimento superior a 5% no ano anterior.
O saber convencional prevalecente entre os economistas brasileiros atribui essa
queda da produção da indústria aos efeitos da crise econômica mundial sobre as
exportações de produtos manufaturados. Nesse contexto, teria sido impossível
impedir o colapso da produção industrial por intermédio de medidas de política
econômica, mais especificamente, por intermédio de uma redução forte da taxa de
juros no final de 2008. Por outro lado, a forte desvalorização da taxa de câmbio
ocorrida entre outubro e dezembro do ano passado justificaria uma atitude mais
prudente por parte da autoridade monetária com respeito ao início do ciclo de
redução da taxa básica de juros. Com efeito, argumenta-se que o repasse do
câmbio para os preços poderia por em risco a obtenção da meta de inflação para o
ano de 2010, de tal forma que o compromisso com a obtenção da meta
inflacionária não só impediria a redução da taxa de juros, como ainda poderia levar
o Banco Central (BC) a ter que aumentar a taxa básica de juros para conter o efeito
"pass-through".
Esse raciocínio, no entanto, desconsidera dois elementos fundamentais no caso
brasileiro. Em primeiro lugar, a crise econômica mundial chegou ao Brasil em
função da "evaporação de crédito" induzida pelos grandes prejuízos que as
empresas exportadoras brasileiras tiveram com as operações de derivativos
cambiais. Com efeito, o Bank of International Settlements (BIS) estima que os
prejuízos acumulados com essas operações alcançaram a cifra de US$ 25 bilhões,
ou seja, quase 2% do PIB brasileiro (Valor, 08/06/2009). O aumento do risco de
contra-parte decorrente dos prejuízos com os derivativos de câmbio levou os
bancos brasileiros a reduzir as suas operações de crédito, o que atuou no sentido
de ampliar de forma significativa o spread bancário. Esse "choque de crédito"
causou a redução da produção industrial em função não tanto da queda da
demanda por produtos manufaturados, mas da incapacidade das empresas de obter
crédito no volume e nas condições necessárias para manter o nível de produção.
A queda das exportações de manufaturados certamente agravou esse quadro, mas
não foi o fator responsável pela contração da produção industrial verificada no final
de 2008. Conforme apontam dados do Ipea Data, as exportações de manufaturados
apresentaram queda de 20% entre setembro e dezembro de 2008 e outra de
37,5% entre dezembro de 2008 e fevereiro de 2009. Esses números mostram que
a redução mais forte das exportações ocorreu depois da queda mais pronunciada
da produção industrial. Dessa forma, as causas do forte recuo da produção
industrial no último trimestre de 2008 são de natureza eminentemente financeira.
Em segundo lugar, o saber convencional desconsidera o fato de que antes da ação
da crise internacional sobre a economia brasileira já estava em curso um processo
de deflação dos preços das commodities no mercado internacional, que atuaria no
sentido de contra-arrestar a influência sobre os preços domésticos de uma
desvalorização da taxa nominal de câmbio. Assim, os temores de que uma redução
da taxa de juros no final de 2008 pudesse comprometer a obtenção da meta de
inflação em 2009 eram, no melhor dos casos, exagerados.
Nesse contexto, a desconsideração do caráter eminentemente financeiro (via
crédito bancário) da crise que se abateu sobre a economia brasileira no final de
2008 pode ter levado o BC a fazer um julgamento equivocado a respeito da
necessidade de uma redução rápida e forte da taxa de juros. Com efeito, tal como
argumentamos em artigo apresentado recentemente no VI Fórum de Economia de
São Paulo, os modelos de previsão utilizados pela autoridade monetária brasileira,
ao desconsiderarem o assim chamado "canal do crédito", podem ter induzido a
diretoria do Copom não só a avaliar de maneira equivocada o timing e a magnitude
do efeito de uma redução forte da taxa de juros sobre a produção industrial como
ainda pode tê-los induzido a sobre-estimar o impacto da desvalorização do câmbio
sobre os preços. Daqui se segue que o uso de modelos inadequados pode ter
retardado o ciclo de redução da taxa básica de juros e levado o BC a optar por uma
estratégia gradualista ao invés de um "tratamento de choque".
O BC errou, e muito, na condução da política monetária nos primeiros meses da
crise. A insistência em manter os juros inalterados permitiu a ocorrência de uma
queda bastante forte na liquidez do sistema bancário brasileiro, reforçando assim o
fenômeno da evaporação do crédito, que teve um papel decisivo na queda da
produção industrial. A liberação parcial dos depósitos compulsórios em novembro e
dezembro não foi eficaz em restaurar as reservas do sistema bancário face à
contração da base monetária induzida pela venda não-esterilizada de reservas
internacionais durante esse período. O BC tentou fazer o que era aritmeticamente
impossível: restaurar as reservas do setor bancário como um todo num contexto no
qual os juros eram mantidos inalterados e a autoridade monetária vendia dólares
no mercado a vista (com e sem compromissos de recompra) para conter a elevação
da taxa nominal de câmbio. Os efeitos dessa "trindade impossível" se mostraram
devastadores: a liquidez do setor bancário foi reduzida, o crédito desapareceu e a
produção industrial despencou.
Se o BC tivesse feito uma redução forte da taxa de juros na reunião de outubro de
2008 do Copom, então é possível que os efeitos da crise internacional sobre a
economia brasileira fossem significativamente menores. Mais concretamente,
demonstramos no artigo anteriormente citado, que uma redução de 4 pontos
percentuais da Selic em outubro poderia ter reduzido de forma bastante
significativa a queda da produção industrial nos dez meses seguintes. Dessa forma,
a política gradualista adotada pelo BC em janeiro de 2009 não só foi iniciada "muito
tarde" como também não foi a resposta adequada à crise.
A política mais adequada nesse contexto teria sido a realização de um "choque
monetário" no qual o Banco Central realizasse, de uma vez só, parte relevante do
ajuste necessário da taxa de juros.
José Luis Oreiro é professor do Departamento de Economia da Universidade de
Brasília e diretor da Associação Keynesiana Brasileira. [email protected].
---------------------------------Miriam Leitão - O Globo - 01/12/2009
Os mensalões
As cenas são demolidoras da confiança de qualquer pessoa na política. O país se
espanta, depois de achar que nada mais o espantaria. Não que se pudesse dar
crédito aos protestos éticos do Democratas, mas as imagens do que houve em
Brasília superaram as piores expectativas. Agora, cada partido tem seu escândalo.
Existe o mensalão do PT, o do PSDB e o do DEM. São todos, tristemente, iguais.
Tão iguais que já se pode dizer que existe uma tecnologia conhecida, causas
identificadas e um caminho previsível da corrupção no Brasil. Se há um padrão,
pode-se ter uma metodologia de combate ao crime.
— Nos três mensalões, o dinheiro ilegal foi alimentado por empresas fornecedoras
do governo ou de estatais, o que foi possível pela falta de transparência nos
contratos. O remédio é aumentar o acesso da sociedade às informações — diz o
jornalista Fabiano Angélico, diretor de projetos da Transparência Brasil.
Claudio Weber Abramo, que falou ontem aqui no jornal na campanha “São dois
gritando”, acha que uma das causas já identificadas dos desvios é o excesso de
cargos em comissão e a ocupação da máquina pública por estes nomeados, ainda
que não haja garantia de que isso não ocorra com funcionário de carreira.
Fabiano Angélico explicou que no Brasil o número dos cargos que o presidente pode
distribuir é desproporcional ao que acontece em outros países: — O presidente
americano nomeia pessoas para novecentos cargos. No Brasil, o presidente nomeia
mais de sessenta mil cargos. É uma verdadeira usina de corrupção.
Nos Estados Unidos, a pessoa indicada é investigada antes de ser confirmada.
Na montagem do governo Obama houve casos de pessoas que não puderam ser
nomeadas por dúvidas quanto ao seu passado.
Na opinião de Fabiano Angélico, o país precisaria de mais ONGs especializadas em
combate à corrupção, e a imprensa deveria tratar menos da briga política e mais de
como combater o crime.
O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que em toda eleição há risco
de caixa dois, porque isso é “inerente ao modelo” de financiamento eleitoral.
O argumento é que se houver financiamento público exclusivo de campanha isso
não acontecerá. O financiamento público exclusivo não garante nada. O que
poderia ajudar seria o incentivo do governo às doações de pequena quantia por
pessoas — como existe na Costa Rica — o que aumentaria a relação do eleitorado
com o partido, e deixaria os partidos mais independentes em relação às empresas.
Um erro que está ocorrendo é a naturalização do caixa dois, como se fosse um
crime menor. Ao garantir que não houve pagamentos mensais à base para votar
com o governo, José Eduardo Dutra disse ao “Estado de S.Paulo”: “O fato da
existência do caixa dois é notório e comprovado.” O atual escândalo é mais
corrosivo porque é possível ver as cenas, mas não há mensalão melhor ou menor.
Todos são inaceitáveis. No federal, há 39 denunciados e ele movimentou pelo
menos R$ 55 milhões. No do PSDB de Minas Gerais saíram das empresas públicas
R$ 3,5 milhões e houve empréstimos de R$ 11 milhões feitos por Marcos Valério no
Banco Rural para irrigar o sistema.
O mesmo esquema com o mesmo personagem e no mesmo banco ocorreu no
mensalão do governo Lula.
No mensalão do DEM, o país está vendo uma quantidade industrial de cenas de
corrupção através dos vídeos gravados por Durval Barbosa.
No federal, houve também uma farta distribuição de recursos em quartos de hotéis
ou na boca do caixa.
Estava tudo na contabilidade da diretora financeira do SMP&B ou nos registros do
Banco Rural. Só não foi visto.
No federal, o país foi informado do dinheiro na cueca do assessor do deputado
estadual José Nobre Guimarães, irmão do então presidente do PT; mas agora, o
país viu o dinheiro abarrotando os bolsos e as meias do presidente da Câmara
Distrital, Leonardo Prudente.
E a cueca voltou a aparecer como local-depósito, num vídeo exibido pelo site IG
ontem à tarde.
Essa trágica equalização confirma a impressão de que política é assim mesmo: de
que isso é feito “sistematicamente” neste país.
Diante da notícia do que aconteceu em Brasília, José Eduardo Dutra disse: “Quem
com mensalão fere, com mensalão será ferido.” A frase é muito ruim. Sugere que
ninguém denuncie ninguém? Ou sugere que isso é a vingança de quem foi ferido no
primeiro mensalão? Outra causa da repetição dos mesmos crimes é a falta de
punição. No Peru, o homem de confiança de Alberto Fujimori gravou a si mesmo
distribuindo dinheiro para os deputados. O governo caiu, Fujimori fugiu, Vladimiro
Montesinos está preso e agora Fujimori foi condenado. O Peru criou regras de mais
transparência e um judiciário especializado em crimes de corrupção.
Os escândalos vão, em camadas, se sobrepondo.
Diante de um novo caso se esquece o anterior. Esta semana deve voltar ao
Supremo o caso do senador Eduardo Azeredo, no mensalão mineiro, ofuscado pelo
novo escândalo. Do mensalão federal nem se fala, e o PT faz esforço para apagá-lo
da história. E os três são terrivelmente parecidos.
-------------------------------Celso Ming - O Estado de S.Paulo - 01/12/2009
''Cuidado com a especulação''
Intermeadas por períodos de aparente desinteresse pelo tema, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, tem feito advertências contra práticas
especulativas no mercado.
Na semana passada ele voltou ao assunto com a observação de que a moratória do
emirado de Dubai, em consequência de seus negócios imobiliários mirabolantes, é o
tipo de bolha que os investidores devem evitar. O Brasil não é Dubai e não há por
aqui nenhum xeque das Arábias que venha se notabilizando por aventuras
parecidas. Meirelles parece avisar que nem todas as perdas financeiras provocadas
pela crise são conhecidas. Mas o investidor não tem muito o que fazer com a
advertência.
O ministro Guido Mantega já foi mais específico, mas às vezes mais confunde do
que esclarece, porque suas ações são contraditórias. Para ele, as aplicações em
Bolsa chegaram a um nível tal que exigem intervenção das autoridades. Foi a
justificativa que deu quando do início da cobrança de um IOF de 2% sobre
aplicações de estrangeiros em renda variável no Brasil. No entanto, Mantega não
entendeu que devesse desestimular também as operações de brasileiros em Bolsa,
talvez porque precisa atrair o dinheiro do aplicador para esse segmento.
O próprio governo brasileiro parece diretamente interessado num mercado de ações
empinado e cheio de apetite. O Banco do Brasil anunciou emissões de cerca de R$
10 bilhões em ADRs (American Depositary Receipts), o instrumento pelo qual as
ações de empresas brasileiras podem ser negociadas na Bolsa de Nova York. E
prepara alentada subscrição de ações em 2010 (veja o Confira). A Petrobrás
também anunciou para até julho do ano que vem gigantesca subscrição de ações, a
maior da história, provavelmente em torno de R$ 120 bilhões (US$ 70 bilhões),
que, em princípio, só terá sucesso se o mercado de ações continuar sadio.
No final dos anos 90, quando denunciou a "exuberância irracional dos mercados", o
então presidente do banco central americano (Fed), Alan Greenspan, não chegou a
tomar nenhuma providência para coibir essas ou outras práticas congêneres.
Manteve os juros lá em baixo, próximos a 1% ao ano durante bom período e algo
acima disso em períodos seguintes. Mas, pelo menos, ficou claro que se referia ao
mercado de ações e não propriamente ao de imóveis ou de moedas.
No momento, o presidente do Fed, Ben Bernanke, não se mostra particularmente
preocupado com os mercados de risco. Pelo menos, não consta nenhuma
advertência nessa direção. No entanto, alguns analistas não param de avisar que o
lobo está preparando um ataque ao rebanho. O mais insistente é Nouriel Roubini,
que se notabilizou por prever enorme destruição de riqueza com o estouro da bolha
que viria em 2008. Ele só não aconteceu em plenitude porque houve a forte
intervenção dos governos e dos bancos centrais. Roubini avisa que as condições
para a formação das bolhas continuam aí.
Não fica claro a que práticas especulativas Meirelles e, principalmente, Mantega se
referem e quais pretendem desestimular. Deveria o investidor entender que
subscrever ações do Banco do Brasil ou da Petrobrás será enorme risco?
Confira
Grande demanda - O vice-presidente do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro,
informa que é surpreendente o interesse que a colocação de ADRs do Banco do
Brasil está despertando em Nova York.
Ele garante também que o Tesouro Nacional está fortemente empenhado na
montagem do plano de subscrição de ações do Banco do Brasil, previsto para 2010.
"Vamos ultrapassar as condições das ações do Itaú e do Bradesco hoje
apresentadas em Nova York", avisa Souza Monteiro.
O lançamento das ADRs do Banco do Brasil está previsto para amanhã.
-------------------------------Isto É Dinheiro 08 10 2009
Entrevista
Delfim Netto, economista
"Pré-sal é a agenda do século 20, não do 21"
por Leonardo Attuch
Dias atrás, Delfim Netto sofreu um baque.
Teve
dores
e
colocou
dois
stents
no
coração. Aos 81 anos, foi a primeira vez
que se internou num hospital. "Nunca fiz
check-ups por uma razão simples: quem
procura, acha", disse ele à DINHEIRO. O
susto, ao menos, serviu para que Delfim
renovasse seu sentido de urgência.
O
ex-ministro,
que
já
foi
o
czar
da
economia brasileira, diz que o País deve
buscar
uma
nova
agenda
de
desenvolvimento e sustenta que ela não
deve estar ancorada nas descobertas do
pré-sal. "A idade da pedra não acabou por
falta de pedra e a do petróleo não vai
terminar por falta de petróleo", afirma o
professor, que aposta numa revolução energética. Leia a seguir sua entrevista.
DINHEIRO - Como o sr. avalia o momento atual da economia global?
DELFIM NETTO - A crise está passando e eu acredito que os Estados Unidos sairão dela
melhor do que entraram. Estou cada vez mais convencido de que o objetivo básico do
presidente Barack Obama é reconquistar a autonomia energética americana. E isso abre
uma nova agenda industrial. A agenda das inovações do século 21. O erro é imaginar que
os Estados Unidos estão morrendo. Na verdade, eles estão renascendo. Basta olhar a
dimensão do programa de energia deles.
DINHEIRO - Se a era do petróleo pode chegar ao fim, o Brasil erra ao concentrar
todas as suas fichas nas descobertas do pré-sal?
DELFIM - Imagine como um governo teria que ser virtuoso para descobrir o pré-sal e
ainda assim não bater tambor. Seria exigir demais. Se o papa descobrisse um poço dessa
dimensão faria a mesma coisa. Mas o pré-sal não pode ser a concentração de todos os
nossos investimentos. E por quê? Porque a agenda do futuro é a da transformação
energética. E o fato é que uma boa parte da energia fóssil será substituída pela renovável.
DINHEIRO - O sr. acredita que a origem da crise possa ter sido o rombo externo dos
Estados Unidos, causado pelas importações maciças de petróleo?
DELFIM - Na verdade, a causa maior foi o extraordinário desenvolvimento desses
instrumentos financeiros, sem que os bancos centrais soubessem o que estava
acontecendo. Outro ponto foi o fato de os Estados Unidos terem virado lata de lixo do
mundo, comprando tudo o que os outros produziam. Durante seis anos, eles fizeram um
rombo externo de US$ 5,4 trilhões. E eles importam dez bilhões de barris de petróleo por
ano. Isso foi um dos detonadores da crise.
DINHEIRO - Se os Estados Unidos serão capazes de se renovar, a aposta num
mundo pós-americano e multipolar deve ser desconsiderada?
DELFIM - Na minha opinião, eles continuarão na liderança por muito tempo. Potência tem
que ter três atributos: autonomia alimentar, autonomia energética e autonomia militar.
Qual é o único país que pode reunir as três condições? Só eles. Veja a Rússia. Tem
autonomia energética, uma autonomia militar meia-boca e não tem autossuficiência
alimentar. A China está bem no campo militar e tem limitações nas outras duas áreas. A
Europa não tem mais nada.
DINHEIRO - E o Brasil?
DELFIM - Apesar da limitação militar, o Brasil está na dianteira em duas frentes: a de
alimentos e a de energia. E não deve perder isso por conta do pré-sal. A idade da pedra
não acabou por falta de pedra. E a idade do petróleo não vai acabar por falta de petróleo.
DINHEIRO - O sr. aposta na retomada do crescimento nos Estados Unidos?
DELFIM - Aposto que, em dois anos, eles já estarão crescendo mais do que o resto do
mundo. A possibilidade de inflação lá é mínima. E os que falam em risco de solvência do
Tesouro americano podem comprar papel chinês, papel brasileiro, se quiserem.
DINHEIRO - Mas não parece que a saída está sendo simples demais, como se
bastasse imprimir dinheiro?
DELFIM - O erro é imaginar que eles sairão da crise pelo estímulo monetário e fiscal. O
que fará os Estados Unidos sair do buraco é a mudança da agenda industrial, que passa
pelo campo energético. Crescimento é inovação mais crédito. E isso acontecerá
predominantemente lá, ajudando a resolver o problema fiscal americano. Com energia
limpa, eles poderão reduzir a conta da importação de petróleo e também a conta militar.
DINHEIRO - O sr. então é um entusiasta do etanol?
DELFIM - Cada vez mais. De acordo com o Scientific National Bureau, só as florestas
americanas, se fossem adaptadas para produzir etanol a partir de tecnologias de
vanguarda, poderiam responder por 65% de todo o combustível líquido dos Estados
Unidos. Eles vão transformar carvão em combustível líquido, sem emitir gás carbônico. Até
os árabes estão comprando terras no Brasil para produzir etanol. Fora isso, o carro elétrico
está cada vez mais próximo.
DINHEIRO - Como o Brasil deve se posicionar?
DELFIM - Se nós usarmos só o pré-sal, vamos ficar no século 20. Se formos capazes de
compreender a nova agenda, entraremos no século 21 com os quatro motores ligados.
DINHEIRO - O pré-sal, na sua opinião, estaria reforçando tendências estatizantes
deste governo?
DELFIM - Estado que presta é o Estado indutor. Estado produtor é uma porcaria. Ponto.
DINHEIRO - E como fica então o novo modelo do petróleo?
DELFIM - Não tenho a menor dúvida de que seria possível fazer tudo o que nós
queremos, que é reforçar o interesse nacional e o papel da empresa brasileira, com a
legislação em vigor. A mudança é política, mas eu digo isso sem demonizar a política. O
dever de todo governo, que acredita estar cumprindo um bom papel, é continuar sendo
governo. Mas o fato é que, quando a lei for aprovada, todas as empresas do mundo virão
para cá, porque o Brasil tem o mais importante, que é o
respeito aos contratos.
DINHEIRO - Se o Brasil está resolvendo problemas de energia, contas externas
e inflação, o sr. vislumbra um longo ciclo de crescimento?
DELFIM - Vejo o Brasil crescendo de 5% a 7% nos próximos 20 anos. O Brasil tem a
nova agenda. Só não pode jogá-la fora porque descobriu a agenda velha. O Brasil tem
que liderar o futuro. Veja o caso do etanol. Hoje, os americanos se protegem com uma
tarifa. Daqui a dez anos, se não fizermos nada, nós nos protegeremos deles.
DINHEIRO - Como o sr. avalia a disputa eleitoral de 2010?
DELFIM - Nós vamos fazer a eleição crescendo 4,5%. Essa é uma garantia de que os
vendedores de óleo de cobra terão pouco sucesso. Temos duas ou três possibilidades,
mas nenhuma delas vai alterar a nossa dinâmica estrutural de crescimento.
DINHEIRO - E o fator Marina?
DELFIM - Vejo como um fator positivo. Mas, no mundo, não há produção de PIB sem
produção de gás carbônico, assim como não há produção de carne, sem produção de
couro. O fato é que o pobre gosta de crescimento. Ele não tem uma consciência muito
clara do custo ambiental do que se produz. Ele quer o bem-estar material.
DINHEIRO - O risco de uma recaída internacional não comprometeria o ciclo de
crescimento brasileiro?
DELFIM - O Brasil tem coisas extraordinárias. Se a gente pudesse pegar exemplos de
quatro grandes empresas internacionais e quatro grandes empresas brasileiras, as
reações à crise foram muito diferentes. Quem estava nos Estados Unidos, chamou a
rapaziada e disse: Vocês vão para o seguro-desemprego e passem bem. No Brasil, as
pessoas sentaram à mesa e começaram a dialogar.
DINHEIRO - Que riscos então o sr. enxerga no horizonte?
DELFIM - Não existem. O Brasil é, de longe, o melhor dos BRICs. Nós temos uma
vantagem biológica, que é a miscigenação. O que é a evolução? A mudança do meio
ambiente e a capacidade do indivíduo de se adaptar. A nossa adaptabilidade é a maior do
mundo. Somos o quinto maior país do mundo em território, o quinto em população e o
nono em PIB absoluto. E temos um mercado interno que provou ser sustentável. Temos
ainda um sistema institucional estabilizado. E o Brasil é o único dos BRICs que tem um
Supremo Tribunal Federal que garante as liberdades individuais - e muitas vezes é
incompreendido.
DINHEIRO - O que o sr. acha dos empresários e juristas que falam em Estado
policial?
DELFIM - O que houve no Brasil foi uma sociedade secreta, de inspiração robespierriana,
que saiu desmoralizada na sua tentativa de implantar um Estado policial no Brasil. Eles
perderam essa batalha. E o presidente Gilmar Mendes, bem como os outros ministros do
STF, tiveram um papel fundamental. Se eles tivessem sido covardes, o Brasil estaria
frito.
DINHEIRO - O sr. não teme mesmo a onda estatizante?
DELFIM - Isso é terrorismo. Nos EUA, o que houve foi o fracasso do Estado. Depois, o
mesmo Estado veio em socorro de si mesmo. Eu repito: Estado indutor é necessário e
Estado produtor é uma porcaria. Se o Brasil decidir caminhar na linha do Estado
produtor, ele vai paralisar o crescimento lá na frente. Mas essa é a vantagem do sufrágio
universal. Se isso ficar visível, as coisas mudarão. Existem dois sistemas: o mercado e a
urna. O eleitor é a intersecção dos dois.
DINHEIRO - Quem critica então faz terrorismo?
DELFIM - Não, mas deveria criticar com certo relativismo. Não tenho a menor dúvida de
que um banco público, como o Banco do Brasil, tem sido fundamental na disseminação
do crédito. Essa diretoria do BB é toda técnica. São ex-office boys que conhecem o Brasil
e que, quando se aposentarem, serão contratados pelos melhores bancos privados. No
passado, a pior coisa que podia acontecer com um banco público era a nomeação de um
banqueiro privado para dirigi-lo. A primeira coisa que ele fazia era transferir para o BB
seus maus negócios.
DINHEIRO - No seu cenário, então, a chance de algo dar errado é mínima.
DELFIM - De fato, a probabilidade de dar certo é muito alta. A estrada terá alguns
buracos, mas nós vamos chegar lá. E veja que até agora nós nem falamos de câmbio e
juros.
DINHEIRO - O que mudou na sua rotina depois da internação?
DELFIM - As recomendações foram as seguintes: coma tudo o que quiser, mas pela
metade. E que eu continuasse trabalhando no mesmo ritmo. Tive esse problema com 81
anos e só vou ter outro daqui a 81 anos.
DINHEIRO - O sr. parece mais magro.
DELFIM - Perdi 350 gramas.
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ECONOMIA & OUTRAS NOTÍCIAS
Valor Econômico - 01/12/2009
Refis tem adesão recorde e atrai grandes
empresas
Descontos de até 100% em multas, juros e encargos legais e a possibilidade de
parcelar valores bilionários oriundos de discussões judiciais perdidas no Supremo
Tribunal Federal (STF) atraíram grandes empresas - como Braskem, Eletropaulo,
Tectoy, Pronor Petroquímica e Cedro - ao novo programa de parcelamento de
débitos federais, o "Refis da Crise". O número de adesões superou o total verificado
nos três parcelamentos anteriores editados pela Receita Federal - Refis, Paes e
Paex. Até a manhã de ontem, o órgão havia registrado 1,17 milhão de pedidos.
Desse total, 514, 7 mil foram validados com o pagamento da primeira parcela,
gerando uma receita de R$ 1,8 bilhão. Somados, os programas anteriores tiveram
974,2 mil adesões. O prazo para ingresso no Refis da Crise terminou às 20h de
ontem.
O Refis da Crise é considerado o melhor programa de parcelamento editado pelo
governo federal. Ofereceu descontos de até 100% nas multas de mora e de ofício e
prazo de pagamento que chega a 180 meses (15 anos). Um estudo realizado pelo
Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostrou que a adesão era
vantajosa em 80% dos casos, podendo resultar em uma redução de até 75% no
total da dívida. Seduzidas pelas vantagens, muitas empresas migraram de outros
parcelamentos e desistiram de demandas judiciais.
A Braskem incluiu R$ 1,9 bilhão no parcelamento, valor total de ações em que
discutia o direito ao crédito do IPI nas aquisições de insumos sujeitos à alíquota
zero, o crédito-prêmio do IPI e o recolhimento da Contribuição Social sobre o Lucro
Liquido (CSLL). "Pesamos a probabilidade de êxito das discussões judiciais, mas o
benefício concedido chega a 70% do valor total em discussão", afirma Carlos
Fadigas, diretor financeiro e de relação com investidores da Braskem. Os
contribuintes já foram derrotados no Supremo nas questões que tratam do IPI.
Já a Eletropaulo inseriu um total de R$ 910 milhões no Refis da Crise. De acordo
com o fato relevante divulgado pela empresa, o efeito esperado no lucro líquido é
positivo em aproximadamente R$ 250 milhões. Duas das dívidas relacionavam-se a
processos judiciais. Uma das discussões, trata do aumento da alíquota da Cofins de
2% para 3%. A liquidação desse débito, de R$ 842 milhões, será à vista, com a
contratação de financiamento bancário. Outra ação discutia a incidência da CPMF
sobre operações simbólicas de câmbio. Neste caso, o valor da dívida é de R$ 3
milhões.
A Cedro - Companhia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira - também desistiu de
uma ação em que discutia o recolhimento da CSLL. A dívida da companhia
totalizava cerca de R$ 48 milhões, incluindo multas, juros e encargos. Com os
benefícios trazidos pelo parcelamento, a Cedro reduziu a dívida para R$ 20 milhões
e a pagará em 30 parcelas, conforme divulgado no fato relevante. "Houve uma
mudança significativa da jurisprudência sobre o tema e o parcelamento trouxe
diversos benefícios", diz Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Cedro.
A Pronor Petroquímica incluiu R$ 57,9 milhões no Refis da Crise. A adesão trará um
incremento no lucro liquido da companhia de R$ 32,6 milhões no quarto trimestre.
As controladas Engepack Embalagens e Engepack Embalagens São Paulo
ingressaram com um total de R$ 164,6 milhões, referentes à discussão do IPI
alíquota zero, com a utilização de prejuízos fiscais acumulados. A operação não
trará impacto no resultado das controladas ou da Pronor.
Entre os clientes do escritório Demarest & Almeida, 40% das empresas com
discussão judicial ou administrativa em trâmite aderiu ao Refis da Crise. Até ontem,
no começo da tarde, o advogado da banca Marcelo Annunziata trabalhava na
adesão de empresas ao parcelamento. Isso porque o prazo para as empresas
interessas em pagar o Refis à vista, utilizando o depósito judicial, se esgotou
ontem.
Os descontos oferecidos também atraíram a Tectoy, que informou ao mercado sua
adesão ao programa. A companhia espera, com o parcelamento de débitos, ter sua
dívida fiscal reduzida em aproximadamente R$ 4 milhões, com reflexo direto em
seu patrimônio líquido.
Apesar de ser o mais vantajoso parcelamento oferecido pelo governo federal, o
Refis da Crise não escapa do risco de ter, como nos outros programas, um grande
volume de exclusões. Nas edições anteriores, quase a metade dos contribuintes foi
expulso, a grande maioria por inadimplência. A pior situação foi verificada no
primeiro Refis, editado em 2000. Das 129.166 empresas que participaram, apenas
7,1 mil permaneceram no parcelamento. E apenas 6,1 mil quitaram suas dívidas
com o fisco. "Cerca de 90% das exclusões são por falta de pagamento", diz
Frederico Igor Leite Faber, chefe da Divisão de Administração de Parcelamentos da
Receita Federal.
Seis meses após o início do primeiro Refis, só 27 mil empresas ainda estavam no
programa de parcelamento, lembra o ex-secretário da Receita, Everardo Maciel.
"Muitas empresas aderem ao parcelamento só para obter a certidão negativa.
Depois, para de pagar. E no novo Refis não será diferente. Ele é muito atraente,
mas o prazo de pagamento é muito longo", diz ele, que é contra a exigência do
documento para a participação em licitações públicas. "Essa exigência e a
possibilidade de novos parcelamentos acabam gerando esse grande número de
exclusões."
Um balanço definitivo do Refis da Crise deve ser divulgado pela Receita até o dia 14
deste mês. Até lá, todos os pedidos de inscrição serão analisados. Do R$ 1,8 bilhão
arrecadado até agora, R$ 1,2 bilhão veio de pagamentos à vista.
----------------------------Valor Econômico - 01/12/2009
Municípios que perderam receita com a
crise terão mais R$ 500 milhões da União
O presidente da República em exercício, José Alencar, confirmou ontem que o
governo federal vai aumentar em R$ 500 milhões a compensação aos municípios
que perderam arrecadação durante a crise financeira internacional. O valor se soma
aos R$ 2 bilhões acertados anteriormente com os prefeitos, dos quais R$ 1 bilhão já
foram repassados. O restante deverá ser pago até o fim do ano, segundo informou
Alencar durante a abertura da 56ª Reunião da Frente Nacional dos Prefeitos, em
Fortaleza.
Com os R$ 2,5 bilhões, as prefeituras poderão compensar as perdas registradas na
receita com o Fundo de Participação de Municípios (FPM), que é composto por
recursos federais oriundos do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) e do
Imposto de Renda (IR). Esses tributos tiveram suas arrecadações afetadas pela
crise, sendo o IPI em razão das desonerações concedidas pelo governo. Com a
compensação aos municípios, a ideia é pelo menos igualar o valor repassado pelo
FPM em 2008, de R$ 51,3 bilhões.
Entre as mais afetadas pela queda na arrecadação, as secretarias municipais de
Educação reivindicam que R$ 400 milhões sejam destinados especificamente às
suas pastas. O valor representa 20% dos R$ 2 bilhões que as prefeituras contavam
antes do anúncio de Alencar. Diante do anúncio, no entanto, o presidente da União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Carlos Eduardo Sanches,
disse acreditar que os R$ 500 milhões adicionais devem ter como destino a
educação. "É a melhor notícia que tive nos últimos tempos", comemorou.
Apesar da compensação federal às perdas do FPM, as reclamações sobre falta de
dinheiro foram constantes entre os prefeitos presentes ao encontro. Eles
defenderam principalmente uma fatia maior no bolo da arrecadação de impostos no
Brasil, hoje em 17% para os municípios, 25% para Estados e 58% para a União.
Outra reivindicação, mais concreta, foi a criação de um comitê, dentro do governo
federal, no qual sejam avaliadas formas de a Lei de Responsabilidade Fiscal aliviar
um pouco a vida de municípios em apuros financeiros. De acordo com o subchefe
de Assuntos Federativos da Presidência da República, Olavo Noleto, a proposta é
bem vista dentro do governo e deve ser discutida em breve.
Noleto fez questão de salientar, no entanto, que o comitê não tratará, "em hipótese
alguma" de flexibilização da LRF, mas sim da criação de mecanismos que
possibilitem aos municípios que continuem com suas estruturas em funcionamento.
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Argentina exige certificado de brinquedos
e Brasil contra-ataca
Valor Econômico - 01/12/2009
O acordo entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina,
Cristina Kirchner, para reduzir as tensões comerciais, começa a sofrer abalos antes
mesmo de terminar o mês em que foi assinado: em reação a uma nova restrição a
exportações brasileiras decretada na Argentina menos de uma semana depois do
encontro dos presidentes, o governo brasileiro comunicou ontem a Buenos Aires
que passará a restringir as vendas de brinquedos e jogos do país vizinho ao
mercado nacional.
Como o acordo firmado entre os presidentes estabelecia que haveria comunicação
prévia de qualquer medida restritiva, o governo brasileiro informou que, a partir de
dezembro, brinquedos, jogos e similares argentinos estarão sujeitos a licença
prévia. A medida responde à decisão da Secretaria de Comércio Interior da
Argentina, editada na semana passada, que, sem aviso prévio ao Brasil, passou a
exigir dos fabricantes brasileiros certificados emitidos na Argentina - até então, os
argentinos aceitavam certificações emitidas pelas empresas brasileiras.
Segundo um técnico graduado do governo brasileiro, a decisão de submeter os
brinquedos e jogos argentinos a licenciamento não automático é um recado aos
argentinos de que toda medida de restrição ao comércio lá será acompanhada
imediatamente por outra similar, no Brasil.
É uma medida mais simbólica e política, por demonstrar a falta de acerto entre as
duas burocracias. Os empresários do setor já falam em deixar de lado o comércio
com a Argentina. Embora o impacto das barreiras sobre as contas dos dois países
seja pequeno, os fabricantes de jogos e brinquedos veem encolher ano a ano as
vendas ao país vizinho.
Com a demora na liberação de licenças pela Argentina - que já vinha ocorrendo -,
as vendas de brinquedos e jogos brasileiros ao mercado vizinho, que já foram
quase metade das exportações do setor, despencaram de quase US$ 15 milhões
para pouco mais de US$ 5 milhões neste ano, até outubro. No ano passado, de
janeiro a outubro, as vendas somavam quase US$ 8 milhões.
Hoje, o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, quer abordar o assunto com
o ministro de Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, em Genebra, onde o
argentino abrirá uma reunião de comércio dos países pobres e em
desenvolvimento.
"É lamentável, mas não vamos estragar tudo que foi feito por causa de um
episódio", reagiu Amorim, ao comentar, por telefone ao Valor, as novas barreiras
entre os dois sócios do Mercosul. O tema bilateral, segundo explicou, está, por
enquanto, sob a condução do Ministério do Desenvolvimento, enquanto o Itamaraty
comanda outras discussões comerciais. A decisão de criar nova barreira aos
brinquedos brasileiros foi tomada pelo poderoso secretário (ministro) de Comércio
Interior, Gulermo Moreno, que não participou das negociações entre Lula e Cristina
Kirchner.
As vendas dos brinquedos e jogos argentinos ao Brasil, ainda que em pequeno
valor, vinham crescendo exponencialmente: de US$ 237 mil nos primeiros dez
meses de 2008, para US$ 1,35 milhão de janeiro a outubro deste ano (de dez
toneladas para 112 toneladas nesse período). Em volume, as exportações
brasileiras caíram pela metade em 2009. Os brasileiros, que chegaram a ocupar
12% do mercado de brinquedos argentino, hoje têm pouco mais de 2%, enquanto
os chineses passaram a ocupar quase 80% do mercado.
"Temos de esquecer o mercado argentino, não adianta enfrentar o governo do
país", diz, resignado, o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de
Brinquedos (Abrinq), Synésio Baptista da Costa, que soube na semana passada da
decisão de Moreno, quando estava em Buenos Aires, discutindo o tema com
empresários argentinos. "Estávamos conversando, e não me disseram nada, recebi
a notícia pelo meu BlackBerry", conta ele.
Os argentinos alegam que a decisão de Moreno não rompe o acordo com o Brasil,
porque o tema do compromisso entre Lula e Cristina Kirchner eram as licenças não
automáticas nos dois países. Moreno justificou a medida contra os brinquedos
brasileiros como retaliação ao Brasil devido às exigências de certificação criadas em
2007 pela Anvisa, após denúncias de uso de tintas e material tóxicos contra
brinquedos chineses.
No dia 9, em São Paulo, autoridades dos dois países se reunirão para discutir a
agenda sobre as barreiras ao comércio bilateral que será negociada pelos ministros
em janeiro. Vão aproveitar para tentar eliminar ou reduzir obstáculos considerados
mais graves pelos empresários do Brasil e Argentina. A frequência com que os
governos têm sido obrigados a fazer essas reuniões de negociação para redução de
obstáculos ao comércio em setores sensíveis já faz com que técnicos as apelidem
de "troca de reféns".
-------------------------------Jornal do Commercio - Rio de Janeiro - 01/12/2009
Venezuela fecha quatro bancos
O governo venezuelano decidiu fechar quatro bancos devido a irregularidades e
decretou a liquidação de dois deles por falta de solvência. A informação foi dada
ontem pelo ministro da Economia e Finanças, Alí Rodríguez.
Os bancos afetados são Canarias, BanPro, Confederado e Bolívar Banco. No caso de
Canarias e BanPro, "a intervenção revelou que o dano causado foi de tal dimensão
que comprometeu a solvência das instituições, pelo qual procede sua intervenção a
portas fechadas e decreta sua liquidação", segundo o responsável. Rodríguez
destacou que o governo garante o depósito, no caso do Banpro, de 457.000
pessoas, que representam 97% dos clientes, e no Canarias, de 268.000, ou seja
92% dos correntistas.
Por enquanto, esses bancos continuam operando com a supervisão de uma junta
interventora e atendem ao público normalmente, mas a intervenção, a portas
fechadas, significa que desde ontem as quatro instituições que estão sendo
controladas não podem abrir suas portas. O Estado garantiu que vai proteger os
direitos dos cidadãos.
Por sua vez, Bolívar Banco e Confederado registram um dano menor e podem se
recuperar.
----------------------------------O Globo - 01/12/2009
Caem matrículas nos ensinos
fundamental e médio
O número de matrículas na educação básica caiu 1,2% entre 2008 e 2009,
passando de 53,3 milhões para 52,5 milhões de alunos. O número de escolas
também diminuiu desde o ano passado. Este ano são 2.293 instituições de ensino a
menos. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e fazem parte do Censo Escolar da
Educação Básica 2009, com base em informações repassadas por todas as escolas
brasileiras. O ensino básico vai da creche ao último ano do ensino médio e inclui a
educação profissional, especial e de jovens e adultos.
Para o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, a queda nas matrículas não
significa que esteja havendo aumento da evasão escolar. Ele diz acreditar que o
resultado reflita uma melhora no fluxo escolar - menos alunos estariam repetindo o
ano - e uma diminuição na taxa de natalidade brasileira a partir dos anos 80.
- Queda na matrícula não quer dizer que os alunos estão abandonando as escolas.
Há duas razões fundamentais: primeiro, há uma redução no número de
nascimentos; em segundo lugar, as matrículas são afetadas por fluxos. Se você
melhora o fluxo educacional, você tem diminuição da matrícula - disse Fernandes.
Ensino profissionalizante: 65 mil novas vagas este ano O presidente do Inep
afirmou que a taxa de atendimento educacional vem crescendo em todas as faixas
etárias. De fato, o número de creches e de alunos atendidos nessa etapa de ensino
aumentou. Este ano foi registrado um crescimento de 4,6% no número de escolas e
de 8,3% nas matrículas. Em todo o país, 149.297 pequenos estudantes
ingressaram em uma creche. Os únicos estados que tiveram queda foram Roraima
e Rio Grande do Norte.
Na pré-escola o número de matrículas diminuiu 2% de 2008 para 2009. O Inep diz
que a explicação é que, com a mudança do ensino fundamental de oito para nove
anos de extensão, há um reflexo na pré-escola, que perde um ano letivo.
Já o ensino médio teve uma perda de 0,3% nas matrículas.
Os números mostram que, embora a quantidade de matrículas tenha se retraído,
há mais alunos nesta fase da educação básica. Este ano, são 8.288.534 estudantes,
contra 8.272.159, um aumento de 0, 2%, ou 16.375 alunos a mais. No Rio,
entretanto, a queda foi real: 3,2% no número de matrículas e 15.391 alunos a
menos.
O ensino profissionalizante aumentou 8,3%, passando a oferecer 65.655 vagas a
mais este ano. Já as matrículas para o turno integral caíram 10,2% no Brasil. No
Estado do Rio, foram registradas quase 40.000 matrículas a menos, uma redução
de 16% em relação a 2008.
Por outro lado, as atividades complementares, oferecidas após o horário regular,
têm aumentado em todas as áreas. O acompanhamento pedagógico cresceu
40,4%; atividades relacionadas à arte e cultura, 62,9%; e esportes e lazer, 51,4%.
Há 1.441.223 alunos em classes extracurriculares, um aumento de 56,8% com
relação a 2008.
- O aluno em atividade complementar volta à escola num segundo turno para
realizar essa atividade. Isso está aumentando muito, o que é uma solução,
inclusive em termos de segurança, já que os alunos ficam por mais tempo na
escola - disse a diretora de estatísticas educacionais do Inep, Maria Inês Pestana.
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