JOGANDO NA AULA DE MATEMÁTICA Jamille Mineo Carvalho de

Transcrição

JOGANDO NA AULA DE MATEMÁTICA Jamille Mineo Carvalho de
JOGANDO NA AULA DE MATEMÁTICA
Jamille Mineo Carvalho de Magalhães, Jutta Cornelia Reuwsaat Justo,
Kelly da Silva Rebelo
[email protected], [email protected], [email protected]
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA , Brasil
Taller (oficina)
Medio (ensino fundamental)
Formação de professores
Jogos Matemáticos; Educação Matemática; Aprendizagem; Ensino
Resumo
Propomos uma oficina com jogos e atividades de sistematização de conhecimentos
matemáticos como: as quatro operações fundamentais, expressões numéricas,
possibilidades e geometria. A oficina é voltada para professores que ministram aulas
nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Temos como objetivo apresentar situações
de jogos, em que os alunos mobilizam um conjunto de conceitos correlacionados na
escolha das jogadas, que vão ajudar a alcançar os objetivos e a construir novos
conceitos matemáticos. Além disso, o jogo é uma atividade que tem potencial para
desenvolver o trabalho em grupo, que contribui com a formação social do aluno e com
sua aprendizagem. Os jogos utilizados serão Cálculo Plus, Escô e Origamis. A
apresentação de cada jogo será feita em três etapas: primeiro jogaremos o jogo; em
seguida exploraremos, a partir da discussão com o grupo, os conceitos contidos no
mesmo e, por fim, iremos trabalhar as atividades de sistematização dos conteúdos.
Introdução
Os jogos são valorizados por professores, pesquisadores e estudiosos, como nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que é o documento oficial que orienta o
ensino de matemática no Brasil. Iremos trabalhar na oficina com os professores
atividades prática com jogos já que é fortemente recomendada e existe literatura de
apoio. Os PCN são um desses documentos que defendem o jogo como recurso didático
com grande potencial.
Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática está presente, o jogo é uma atividade
natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação
externa e imposta”, embora demande exigências, normas e controle [...] Finalmente, um aspecto
relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer.
Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar
e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja
desenvolver. (BRASIL, 1997, p. 36)
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
69
Devemos observar que para a utilização de jogos são necessários cuidados importantes
como: verificar o conteúdo ao qual está associado, para qual série e idade o jogo está
indicado, quais as teorias de aprendizagem que estão relacionadas ao jogo, quais os
conhecimentos prévios que os alunos devem ter para fazer uso do jogo. Em situações de
jogo, os alunos mobilizam um conjunto de conceitos correlacionados na escolha das
jogadas, que vão ajudar a alcançar os objetivos, e na construção dos novos conceitos. A
valorização do jogo como recurso didático que tornaria as atividades em sala de aula
mais prazerosas e interessantes para alunos e professores. No trabalho de Gómez
(2005), ele destaca a importância do jogo no desenvolvimento humano.
[...] Uma das principais características do jogo: é proporcionar prazer. Essa característica é
objeto de pesquisas psicológicas acerca do papel do jogo no desenvolvimento humano. Dando ao
jogo um papel redutor da ansiedade, dando as crianças certo controle sobre o mundo é uma
forma de expressar os impulsos inconscientes. (GÓMEZ, 2005, p. 386)
O jogo apresenta potencial para a utilização em aulas de matemática e como é uma
atividade que pode desenvolver o trabalho em grupo contribui com a formação social do
aluno e com sua aprendizagem. Vygotsky (1985) denominou a capacidade de realizar
tarefas de forma independente de nível de desenvolvimento real, que determina até onde
a criança já chegou, ou seja, as etapas já conquistadas pela criança. O desenvolvimento
potencial é aquele que o sujeito poderá construir com o auxílio de outros. É a partir
desses dois níveis de desenvolvimento: real e potencial, que Vygotsky (1996) define a
zona de desenvolvimento proximal. Acreditamos que o jogo, quando bem escolhido,
pode ser utilizado como recurso para o desenvolvimento potencial uma vez que, durante
cada partida que está sendo jogada, o aluno pode aprender com o outro.
Oficina
A oficina estruturada com jogos matemáticos tem a intenção de promover a vivência da
prática do jogo em uma aula de matemática e proporcionar discussões sobre essa
prática. Além disso, propiciar atividades que abordem teorias de aprendizagem e
teóricos que defendam o uso de jogos no processo de ensino e aprendizagem,
promovendo discussão e reflexão entre os participantes sobre as teorias e o uso dos
jogos. A oficina tem por objetivo instrumentalizar os professores no trabalho com jogos
matemáticos, sistematizando conteúdos e fazer com que a reflexão faça parte dos
momentos de prática e planejamento dos professores. Os jogos Cálculo Plus, Escô e
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
70
Origami usados em nossa oficina são detalhados a seguir, assim como algumas
sugestões de atividades.
Estes jogos não têm suas origens conhecidas, mas autores como Menezes e Mineo
(2008), Rêgo e Rêgo (1999) já o utilizaram em suas publicações. Os mesmos também
são encontrados em alguns livros didáticos.
Cálculo Plus
Este é um jogo para duas ou mais pessoas, que mistura estratégia com acaso. O Cálculo
Plus pode ser usado com alunos a partir do terceiro ano, pois envolve, originalmente, as
quatro operações. Alterando as operações, acrescentando mais outras, podemos criar
outras variações ou versões para o Cálculo Plus. É um jogo de tabuleiro que tem a
forma hexagonal, o qual pode estar sobre um campo quadrado maior. O tabuleiro está
coberto por pequenos círculos, contendo cada um deles um número, dentro da seqüência
de números naturais que vai de 1 até 216. No entanto, não são usados todos os números
da seqüência sobre os quais os jogadores vão dispor suas peças a cada jogada.
Estrutura: tabuleiro, três dados e fichas para cobrir os valores dos tabuleiros.
Objetivo: Cobrir o maior número possível de grupos de três valores vizinhos ligados em
linha horizontal, vertical ou diagonal. Ganhará o jogo o participante que tiver obtido o
maior número de trios.
Regras: Na sua vez de jogar, o jogador lança três dados. Com os valores resultantes,
compõe uma expressão numérica. Diz em voz alta a expressão com a sua resposta e
cobre o valor correspondente ao resultado no tabuleiro. Se na sua vez de jogar não
houver possibilidade de cobrir um número, passa a vez para o próximo jogador. O jogo
termina quando não houver mais círculos a serem cobertos.
Variação: o jogo pode acabar quando um dos participantes fizer três trios primeiro ou
pode ser determinado um tempo e, ao final deste tempo, o participante que tiver mais
trios vence o jogo.
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
71
Figura 1: Tabuleiro do Cálculo Plus
Fonte: Menezes e Mineo (2008).
Atividades sugeridas
Depois de algumas partidas iniciais, o professor pode propor uma atividade escrita para
os alunos ajudando no raciocínio da escolha das jogadas e associar ao conteúdo
trabalhado. Apresentaremos alguns exemplos inspirados nas atividades propostas por
Menezes e Mineo (2008).
Atividade 1 - Responda às seguintes questões, utilizando as quatro operações:
a) Ao jogar os dados e obter os valores 4, 4 e 1 é possível criar uma expressão que
o resultado seja 16? Como?
b) É possível obter o resultado 0 com os valores 5, 6 e 3? De que maneira?
c) Com os valores 2, 5 e 3 quais os valores que podemos encontrar? Como?
d) Com os valores 6, 6, e 6 quais os valores que podemos encontrar? Como?
e) Utilizando, além das quatro operações, a potenciação e a radiciação, você
poderia obter os resultados dos itens anteriores, incluindo uma destas operações
em sua expressão? Em caso afirmativo, de que maneira(s)?
f) E se você puder acrescentar o fatorial às suas operações, você poderia obter os
mesmos resultados, incluindo o fatorial em sua expressão?
Atividade 2 – Suponha que você lançou os dados e os resultados obtidos foram 3, 3 e 3.
Sendo as operações permitidas adição, subtração, multiplicação e divisão, responda:
a) É possível cobrir o valor 3? De quantas maneiras? Quais são elas?
b) É possível cobrir o número 6? Por quê?
c) É possível cobrir o número 5? Por quê?
d) Que outros valores podem ser cobertos?
Atividade 3 – Complete a tabela com os valores que temos que ter nos dados e que
expressão numérica obtém o resultado.
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
72
Resultado
10
Valor obtido
2
2
Expressão
3
2 x (3+2)
19
64
100
180
Atividade 4 – Observe o jogo de Marcos e Vanessa para em seguida responder as
questões. As fichas são  para Marcos e ♥ para Vanessa.
a) É a vez de Marcos e ele obteve os números 4, 2 e 3. Ele consegue fazer um trio
considerando as regras do jogo? Caso resposta afirmativa, de que maneira?
b) Se fosse a vez de Vanessa e ela obtivesse 5, 6 e 3 no lance dos dados, o que você
faria no lugar dela? De que forma?
Escô
Este é um jogo de duas até quatro pessoas que mistura estratégia com acaso. O Escô
pode ser usado com alunos a partir do segundo ano, pois envolve, originalmente, duas
operações adição e subtração. Acrescentando a multiplicação e a divisão, podemos criar
outras variações ou versões para o Escô. É um jogo de tabuleiro que tem a forma
retangular. O tabuleiro está dividido em pequenos retângulos, numerados de 1 até 9,
sobre os quais os jogadores vão dispor suas peças a cada jogada.
Estrutura: tabuleiro, dois dados e fichas para cobrir os valores dos tabuleiros.
Objetivo: Cobrir todos os números de 1 a 9 no seu lado do tabuleiro. Ganhará o jogo
quem cobrir todos os números primeiro.
Regras: Na sua vez de jogar, o jogador lança os dois dados. Com os valores resultantes,
compõe uma operação. Diz em voz alta e responde. Com a ficha cobre o valor
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
73
correspondente no tabuleiro. Se na sua vez de jogar não houver possibilidade de cobrir
um número, passa a vez para o próximo jogador.
Figura 2: Tabuleiro do Escô
Fonte: autor
Atividades sugeridas
Depois de algumas partidas iniciais, o professor pode propor uma atividade escrita para
os alunos, ajudando no raciocínio da escolha das jogadas e associar ao conteúdo
trabalhado. Apresentaremos alguns exemplos.
Atividade 1 - Você jogou os dados e obteve os valores 4 e 2. Responda: quantos valores
você pode cobrir? Realizando quais operações?
Atividade 2 - Se você obteve os valores 5 e 2 no lance dos dados no início do jogo,
quais valores pode cobrir? Qual deles é o mais vantajoso de cobrir logo? Por quê?
Atividade 3 – Quantas são as possibilidades de obter o número 1? E o número 7? Se
você obtivesse 4 e 3 no lance de dados, cobriria o 1 ou o 7? Por quê?
Atividade 4 - Qual o número mais difícil a ser coberto? Por quê?
Atividade 5 – Observe o jogo de Luís e Maria e depois responda as perguntas. Luís está
jogando no lado vermelho do tabuleiro e Maria no lado rosa do tabuleiro.
a) Qual dos dois tem a maior possibilidade de ganhar o jogo quando for sua vez
de jogar? Por quê?
b) Se for a vez de Maria jogar e em um dado tiver o número 5, qual número
tem que sair no outro dado para que ela ganhe o jogo? Mostre qual operação
ela precisa fazer.
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
74
c) Se for a vez de Luís jogar, quais os resultados que podem sair nos dados para
que ele ganhe o jogo? Se existir mais de uma possibilidade, mostre quais.
Mostre as possíveis operações que ele terá que fazer.
d) Com os valores dos dados iguais a 5 e 2 qual dos dois ganharia a partida? E
com os resultados 6 e 4 quem ganharia?
Origami
O Origami pode ter potencial significativo para o processo de ensino e aprendizagem de
Matemática como recurso metodológico, através do qual os alunos podem ampliar seus
conhecimentos geométricos formais, adquiridos inicialmente por meio da observação do
mundo de objetos e formas que os cercam. Com uma atividade manual que integra
geometria e arte, têm-se a oportunidade de apresentar e discutir uma grande variedade
de conceitos matemáticos.
Na realização das dobraduras, os estudantes familiarizam-se com os diversos tipos de
triângulos, quadriláteros, figuras geométricas, sólidos geométricos e suas propriedades e
características; movimentos de transformação e múltiplas linhas de simetria dentro de
uma mesma figura. Noções de retas perpendiculares, retas paralelas, figuras planas e
sólidas, congruência, bissetrizes de ângulos, relações entre áreas e proporcionalidade
poderão ser introduzidas de maneira igualmente eficaz.
Outras áreas do ensino também poderão fazer bom uso do Origami para motivar o
aluno, cabendo ao professor selecionar adequadamente a dobradura a ser utilizada, de
acordo com o nível de desenvolvimento do aluno e do conteúdo a ser trabalhado. Por
ser muito rico, o Origami apresenta formas que facilmente se adequarão aos objetivos
almejados. Ao se familiarizar com as técnicas do Origami, o professor perceberá o
quanto essa arte oriental tem a contribuir como recurso didático para o processo de
ensino e aprendizagem da Matemática.
Atividade sugerida
Durante a construção do origami o professor deve sempre perguntar aos alunos que
figura geométrica eles acabaram de construir e qual segmento de reta representa cada
marca produzida por cada dobra feita.
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
75
Figura 3: Construção do origami
Fonte: autor
Observando a forma final do copo, podemos distinguir, de cada lado do mesmo, dois
triângulos, um isósceles, maior, e um escaleno. Se encaixarmos o triângulo menor
dentro da “boca” de outro copo de mesmo tamanho e, repetindo este procedimento até
fecharmos a figura, obteremos um octógono regular.
Para obter uma pirâmide de base triangular, faça três copos, vinque-os separando os
dois triângulos que você vê na figura 5, colocando o triângulo menor dentro da “boca”
do copo seguinte, até fechar a figura. Para fazer pirâmides com outros tipos de base,
basta modificar a quantidade de copos e repetir o procedimento anterior.
Referências
BRASIL. (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC_SEF.
Gómez, J. M. (2005). El juego en la educación infantil. In M. d. Chamorro, & M. d.
Chamorro (Ed.), Didáctica de las Matemáticas (pp. 383-417). Madrid: Pearson
Educación.
Menezes, J. E., & Mineo, J. (2008). Jogos operatórios: cálculo plus e cubra 12. In J. E.
Menezes, J. Mineo, R. Santana, S. Silva, & V. Santos, Conhecimento,
interdisciplinaridade e atividades de ensino com Jogos matemáticos: uma proposta
metodológica (pp. 53-66). Recife: UFRPE.
Rêgo, R. G., & Rêgo, R. M. (1999). Matematicativa. João Pessoa: Universitária.
Rêgo, R. G., Júnior, S. G., & Rêgo, R. M. (2003). A Geometria do Origami: atividades
de ensino através de dobraduras. João Pessoa: Universitária.
Vygostky, L. S. (1985). A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes.
Actas del 3er CUREM, 2011
ISBN 978-9974-98-432-5
76