Estudo socio economico do conjunto de glebas Mamuru - Ideflor-bio
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Estudo socio economico do conjunto de glebas Mamuru - Ideflor-bio
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS PESQUISA SOCIOAMBIENTAL NA REGIÃO MAMURU ARAPIUNS - PARÁ RELATÓRIO FINAL Belém - Pará 2009 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS PESQUISA SOCIOAMBIENTAL NA REGIÃO MAMURU ARAPIUNS - PARÁ COORDENAÇÃO GERAL Prof. Manoel Malheiros Tourinho COORDENADORES DE ÁREA Prof. João Ricardo Vasconcellos Gama Eng. Agrônomo Pierre Nader Mattar Eng. Florestal Silvio Roberto Miranda dos Santos EQUIPE DE FAUNA Profª. Ana Silvia Sardinha Ribeiro Médica Veterinária Alanna do Socorro Lima da Silva Cláudio Douglas de Oliveira Guimarães- Acadêmico de Medicina Veterinária DADOS SECUNDÁRIOS Eng. Agrônoma Márcia Alessandra Brito de Aviz - Doutorando Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior - Acadêmico de Agronomia SECRETARIA Zaíra Siqueira Barreto Maria Luciane Mota de Oliveira EQUIPE DE APOIO - LABORATÓRIO DE GEOPROCESSAMENTO/ IDEFLOR Eng. Florestal Pedro Bernardo da Silva Neto Técnico Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto Hugo de Souza Ferreira Eng. Florestal Farid Pinheiro Abdul Massih EQUIPE DE CAMPO Eng. Florestal Daniel da Costa Francez Eng. Florestal Erinelson Pimentel Souza Turismólogo Josiel Carneiro Pinheiro Eng. Florestal Larissa Santos de Almeida Bióloga Maria Rosenildes Guimarães dos Santos Técnico Florestal Mário Roberto Nogueira Colares Técnico Geoprocessamento Ney Rafael Gomes Monteiro Eng. Florestal Paulo Hellyson Técnico Computação Ragner Castro de Aguiar Eng. Florestal Solimara da Silva Moreira Eng. Florestal Sueli Baia dos Santos UFRA / IDEFLOR 1 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará “As nossas terras precisam ser distribuídas para aquelas mãos que fazem-nas produtivas, não para formação de patrimônio especulativo de organização financiada com dinheiro alheio, estrangeiro mesmo, sem pátria, sem vínculo nativo”. (João Bosco Almeida) Em Kondurilândia, Oriximiná, 2001 A nova Olinda pede socorro “Contra investidas dos tubarões à nossa terra não esta a venda, nem a floresta foi à leilão. Ninguém se iluda com as promessas que o progresso só vai melhorar e digo à soja não quero lá, nem madeireira pra nos explorar. Nós defendemos o peixe-boi, as cachoeiras e os animais. O verde e que agora nos vemos lá no Sudeste não se vê mais. Nossa certeza é a Vitória! Fruto da luta e da união com ajuda da organização as grilagens acabarão”. (Odair, 2º Cacique Borari.) Recitado, no “Seminário de Ordenamento Territorial no Conjunto de Glebas Mamuru-Arpiuns”. Santarém, 16 de abril de 2009 “Tupã está no Céu Tupã está na Terra Tupã está na Mata Tupã está no Rio Tupã está em mim Tupã está em ti Tupã está em nós”. Canto do sincretismo sistêmico das etnias indígenas dos rios Mamurú &Arapiuns. Santarém,16 de abril de 2009, durante a abertura do “Seminário de Ordenamento Territorial no Conjunto de Glebas Mamuru-Arpiuns” UFRA / IDEFLOR 2 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará SUMÁRIO p.: 1 APRESENTAÇÃO....................................................................................................... 5 2 INTRODUÇÃO GERAL AO ESTUDO..................................................................... 6 3 PROPÓSITOS E DESENHO DO ESTUDO.............................................................. 10 3.1 AS ETAPAS DO ESTUDO......................................................................................... 11 4 O ENTORNO DINÂMICO (ED): O TERRITÓRIO DO ESTUDO........................ 17 4.1 OS TRAÇOS DA VIDA SOCIAL: TRADIÇÃO E MODERNIDADE NA FRONTEIRA AMAZÔNICA DO ENTORNO DINÂMICO (ED)................................... 4.2 A GEOGRAFIA E OS SISTEMAS DE USO DA TERRA......................................... 17 19 4.3 A POPULAÇÃO E SEUS PRINCIPAIS TRAÇOS DEMOGRÁFICOS................... 22 4.4 OS SERVIÇOS BÁSICOS DE USO PÚBLICO......................................................... 23 4.5 AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS COM O ESTADO DO PARÁ.......................................................................................................... 4.6 A SÍNTESE EXPLORATÓRIA: O ENTORNO DINÂMICO (ED) COMO TERRITÓRIO ONDE SE DÁ A OCORRÊNCIA DE ELEMENTOS E PROCESSOS SOCIAIS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS E CULTURAIS QUE AFETAM O PADRÃO DE USO E RECURSOS NATURAIS DA REGIÃO DO MAMURU ARAPIUNS ....................................................................................................................... 4.7 A INFRAESTRUTURA ATUAL DA REGIÃO DO (ED) E AS PROJEÇÕES FUTURAS.......................................................................................................................... 5 A ÁREA DE INFLUÊNCIA SOCIOAMBIENTAL (AI).......................................... 25 27 33 36 5.1 AMAZÔNIA RURAL CONTEMPORÂNEA: PERSISTÊNCIA E MUDANÇAS NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MAMURU ARAPIUNS........................ 5.1.1 Introdução ao estudo............................................................................................... 43 43 5.1.2 Objetivo do estudo................................................................................................... 44 5.1.3 Fundamentos teóricos e metodológicos do estudo................................................ 44 5.1.4 Resultados oferecidos.............................................................................................. 47 5.1.4.1 O território ou o “habitat” das comunidades.......................................................... 47 5.1.4.2 A população........................................................................................................... 52 5.1.4.3 A comunidade e o seu meio ambiente.................................................................... 54 5.1.4.4 As organizações e as instituições comunitárias..................................................... 58 5.2 AMAZÔNIA RURAL CONTEMPORÂNEA: FAMÍLIA, USO DA TERRA E PRODUÇÃO NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MAMURU ARAPIUNS........................................................................................................................ 5.2.1 Contextualização..................................................................................................... 68 68 5.2.2 Objetivo do estudo................................................................................................... 68 5.2.3 Fundamentos teóricos e metodológicos do estudo................................................ 68 5.2.4 Povo e terra: o subsistema familiar de produção ribeirinha............................... 70 UFRA / IDEFLOR 3 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 5.3. UTILIZAÇÃO DE RECURSOS FLORESTAIS NO CONJUNTO DE GLEBAS MAMURU-ARAPIUNS.................................................................................................... 5.3.1 Contextualização..................................................................................................... 87 87 5.3.2 Metodologia............................................................................................................. 88 5.3.2.1 Área de estudo........................................................................................................ 88 5.3.2.2 Métodos.................................................................................................................. 89 5.3.2.2.1 Amostragem........................................................................................................ 89 5.3.2.2.2 Análise de dados................................................................................................. 90 5.3.3 Resultados e discussão............................................................................................ 90 5.3.3.1 Comunidades e situação fundiária......................................................................... 90 5.3.3.2 Concessão florestal................................................................................................. 91 5.3.3.3 Diversidade de espécies......................................................................................... 92 5.3.3.4 Produto Florestal Não-Madeireiro (PFNM)........................................................... 94 5.3.3.4.1 Tipo de uso e finalidade...................................................................................... 94 5.3.3.4.2 Preço e demanda de comercialização.................................................................. 97 5.3.3.5 Produção madeireira............................................................................................... 101 5.3.4 Conclusão e recomendações................................................................................... 106 5.4 ESTUDO DOS RECURSOS FAUNÍSTICOS DA REGIÃO DOS RIOS ARAPIUNS E MAMURU................................................................................................. 108 5.4.1 Introdução................................................................................................................ 108 5.4.2 Metodologia............................................................................................................. 109 5.4.3 Resultados e discussão............................................................................................ 110 5.4.3.1 Fauna doméstica..................................................................................................... 110 5.4.3.2 Fauna silvestre........................................................................................................ 113 5.4.3.3 A atividade da pesca............................................................................................... 122 5.4.4 Conclusão................................................................................................................. 125 6 COMENTÁRIOS ADICIONAIS AOS ESTUDOS TEMÁTICOS E ANÁLISES CONDUZIDAS NA PESQUISA..................................................................................... 126 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 129 8 ANEXOS........................................................................................................................ 132 8.1 MAPAS GEORREFERENCIADOS DAS COMUNIDADES ESTUDADAS NO CONJUNTO DE GLEBAS MAMURU-ARAPIUNS....................................................... 132 8.2 MODELOS DE QUESTIONÁRIOS APLICADOS.................................................... 132 UFRA / IDEFLOR 4 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 1 APRESENTAÇÃO Este Relatório Final, da equipe da Universidade Federal Rural da Amazônia, marca o encerramento dos trabalhos de pesquisa socioambiental na região do Mamuru - Arapiuns, descrita nos Termos de Referência preparados pelo IDEFLOR, através da Diretoria de Gestão de Florestas Públicas. Constitui-se na quinta e última peça do contrato firmado entre o IDEFLOR e a UFRA, com a interveniência da FUNPEA, após a preparação e entrega do Plano de Trabalho, do Relatório Preliminar, do Relatório Avançado I e do Relatório Avançado II. O presente Relatório Final contempla o estudo do Entorno Dinâmico (ED) da Área de Influência Socioambiental (AI), bem como dados de campo da AI, analisados e discutidos, em três grandes eixos, a citar: 1- Eixo Itaituba - Alto Mamuru (ITA); 2- Eixo Baixo e Médio Mamuru (MAM); e 3- Eixo rio Arapiuns - Translago (ARA), abrangendo todas as áreas de interesse socioambiental que possam de alguma forma interferir nas áreas de estudo para análise da concessão de exploração florestal, permitindo, como previsto nos Termos de Referência, maior transparência e segurança quanto à viabilidade socioambiental das atividades de exploração de produtos e serviços florestais em florestas públicas. UFRA / IDEFLOR 5 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 2 INTRODUÇÃO GERAL AO ESTUDO O estudo socioeconômico e ambiental descrito neste Relatório Final representa um esforço acadêmico de cooperação, conduzido preliminarmente pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (IDEFLOR) e pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), com a interveniência administrativo-financeira da Fundação de Apoio à Pesquisa, Extensão e Ensino em Ciências Agrárias (FUNPEA) e a participação técnico cientifica de professores e pesquisadores do Projeto Várzea e do Projeto Bio-Fauna, do Instituto Sócio Ambiental e dos Recursos Hídricos (ISARH) da UFRA. Os estudos foram acertados entre aquelas organizações com o propósito de: Realização de Pesquisa Socioambiental da região do Mamuru-Arapiuns, com o objetivo de subsidiar o Relatório Ambiental Preliminar (RAP) e os procedimentos relacionados às concessões florestais naquela região. Tendo, ainda, como Objetivos Específicos: a) Traçar um panorama da ocupação demográfica, atividades econômicas dependentes de recursos naturais, aspectos sociais e culturais que caracterizam a área de pretensão direta e seu entorno. b) Produzir uma análise agregada da situação socioeconômica e de infraestrutura e suas interfaces ambientais, na área pretendida para concessões florestais, e das dinâmicas presentes no entorno. c) Mapear os conflitos socioambientais e socioculturais relevantes na política de gestão florestal na região, com destaque para as comunidades tradicionais, enfocando a situação fundiária, econômica e as relações dessas comunidades com o mercado. d) Caracterizar os impactos sociais, ambientais e econômicos (positivos e negativos, diretos e indiretos) decorrentes de concessões florestais nesta região, e a proposição de medidas mitigadoras e potencializadoras para a governança do uso dos recursos florestais nesta região. Os resultados derivados dos estudos socioeconômicos e ambientais serão usados no planejamento, avaliação e no melhoramento da performance dos programas conduzidos pelo IDEFLOR e agências cooperantes, com a finalidade precípua e finalística de preservar os legítimos interesses das comunidades tradicionais1 frente à ocupação de suas glebas com a exploração desordenada e ilegal de suas matas, possibilitando que as mesmas autoproduzam planos de manejo comunitário sustentável dos seus recursos naturais florestais, tanto madeiráveis como não-madeiráveis. UFRA / IDEFLOR 6 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Os estudos aqui resultantes foram conduzidos em área da bacia amazônica, mediatizada pelos rios Amazonas e Tapajós, cujo espaço geográfico é cortado por duas bacias secundárias fluviais formadas pelos rios Mamuru e Arapiuns e cursos tributários (igarapés), compondo uma figura quase trapezoidal, com uma superfície estimada em 110.306,29km², distribuída nos municípios de Itaituba, ao Sul (04º 16' 24" S e 55º 59' 09" W Gr.) da área e com 62.040,95 km2 (Figura 1). Figura 1 - Mapa das áreas de estudos O município de Juruti ao Norte (02° 09’09”S e 56° 05’42”W Gr), com 8.303,97 km²; o município de Aveiro (03º 36’ 15" S e 55º 19' 15" W Gr.) a Sudeste, com 17.074,29 km2; e finalmente o município de Santarém que aporta 22.887,08 km2 de território da área em consideração. __________________ 1 O Decreto nº 6.040, de 07 de fevereiro de 2007, define povos e comunidades tradicionais como: “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. UFRA / IDEFLOR 7 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Convém mencionar a titulo de reforçar a visão do estudioso sobre a paisagem natural da área, que a mesma tem o seu limite ocidental, o curso do rio Amazonas; e o seu limite mais oriental, o médio e baixo curso do rio Tapajós, entre as cidades de Itaituba e Santarém. Tratase de uma área caracterizada pela existência de inúmeras comunidades ribeirinhas, onde mourejam populações tradicionais que vivem do extrativismo florestal, da pesca artesanal e da pequena agricultura incipiente de base familiar. Tais comunidades integram-se entre si através dos rios e igarapés e se volvem de vários modos para uma integração de subordinação com as cidades-sedes municipais como centros comerciais e de serviços especializados, dentre as quais a mais importante é a cidade de Santarém, na confluência dos rios Tapajós e Amazonas. Decorrente dessa abordagem geográfica e georreferencial da área de estudo, é posto que as cidades-sedes dos municípios mencionados (Itaituba, Aveiro e Santarém, nos médios e baixo curso do rio Tapajós; e Juruti no médio curso do rio Amazonas) são importantes e estratégicos “centros” de pressão sobre as comunidades tradicionais ribeirinhas ou continentais. Convencionou-se chamar esses “centros” (ou cidades-sedes dos quatro municípios) de Entorno Dinâmico (ED). Dinâmico porque é exatamente deles que partem decisões de natureza política, econômica e social, que afetam as estruturas sociais comunitárias, sendo nesse Entorno Dinâmico que as populações tradicionais procuram encontrar seus referenciais sociológicos, culturais e econômicos, favorecendo trocas comerciais, aquisição de equipamentos de bem-estar etc. A pesquisa, ao nível das comunidades existentes na denominada Área de Influência Socioambiental (AI), busca conhecer melhor as relações entre seus moradores e a área por eles explorada, quanto à quantidade e à qualidade dos recursos florestais, com o propósito do IDEFLOR estabelecer critérios que possam nortear as concessões de exploração florestal, preservando para aquelas comunidades áreas de terra e mata que permitam, sem sacrifício das gerações, a sua reprodução social, política e cultural. Trata-se também de investigar as relações socioeconômicas e ambientais praticadas pelos sistemas sociais comunitários, as quais podem atuar como catalisadores dos processos de estabilização, resistência ou mudança dos processos sociais existentes. A Área de Influência das comunidades se distribui ao longo dos cursos do rio Mamuru e do rio Arapiuns e ao curso da trajetória da Rodovia Translago. Segundo dados imperfeitos, o número de comunidades nesses três eixos chegam a cerca de 80, entre vilas e povoados e alguns assentamentos do INCRA. Neste sentido, foram aplicados 346 questionários (em anexo) em 20 comunidades dos três eixos da pesquisa (ARA, MAM e ITA). UFRA / IDEFLOR 8 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará No interesse da realização da pesquisa, juntou-se o IDEFLOR e a UFRA. O Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará - IDEFLOR - foi criado através da Lei Estadual Nº 6.963, de 16 de abril de 2007, atendendo à exigência da Lei Federal Nº 11.284, de 02 de março de 2006, que versa sobre a Gestão de Florestas Públicas. O objetivo da legislação é proteger as florestas pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios, bem como regulamentar o acesso a essas áreas, gerando benefícios sociais, ambientais e econômicos. O IDEFLOR é uma entidade de direito público, constituída sob a forma de autarquia, com autonomia técnica, administrativa e financeira. Sua sede está localizada na capital paraense, Belém; porém, com circunscrição em todo o estado do Pará. A principal atribuição do instituto é o exercício da gestão das florestas públicas estaduais, visando à produção sustentável e à gestão da política estadual para produção e desenvolvimento da cadeia florestal no Estado. A missão do IDEFLOR é promover o desenvolvimento sustentável dos diferentes segmentos florestais, por meio de políticas e da gestão de florestas no estado do Pará, garantindo a transparência e a democratização dos benefícios para a sociedade. A Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) sucedeu a Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP). Foi criada através da Lei nº 10.611 de 23/12/2002. A UFRA tem a sua origem mais antiga na Escola de Agronomia da Amazônia (EAA), cuja criação data de 1951. A FCAP, portanto, surgiu a partir da transformação da antiga EAA em FCAP, no ano de 1972. A UFRA coloca-se, assim, como a mais antiga instituição de ensino superior agrícola da Amazônia, possuindo uma trajetória acadêmica de 57 anos, formando gerações de profissionais, realizando pesquisa e disseminando informações nas áreas da agronomia, medicina veterinária, engenharia florestal, zootecnia e engenharia de pesca, sendo a única universidade federal que detém a primazia de estabelecimento de ensino superior especializado em ciências agrárias. Em razão da natureza dos objetivos desse acordo de cooperação bi-lateral, essa pesquisa é conduzida pela UFRA, com o propósito de montar uma “estratégia de integração” da mesma aos objetivos institucionais promovidos pelo IDEFLOR. Na tentativa de favorecer a aceitação das novas ideias e iniciativas que favoreçam a gestão comunal dos recursos naturais, o estudo concentrou as atenções sobre as análises dos aspectos organizacionais e dos elementos, processos e padrões das relações sociais. É enfatizado pela equipe da pesquisa que: as políticas públicas, concernentes às relações entre os moradores e os demandantes externos, devem habilitar o IDEFLOR a avaliar de maneira acurada as relações sociais derivadas dos sistemas sociais presentes nas comunidades, uma vez que é através dessas relações sistêmicas que as ações conduzidas pelos agentes externos, UFRA / IDEFLOR 9 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará tanto públicos quanto privados, podem não só afetar como serem afetadas. Os resultados preliminares apresentados neste relatório são frutos de alguns procedimentos empregados pelos cientistas para estudar os sistemas sociais, enfatizando aqueles mais concernentes com os processos decisórios relativos ao manejo comunitário dos recursos florestais, assim como os métodos de pesquisa mais aplicáveis para se conhecer os elementos, processos e padrões presentes na estrutura social comunitárias e mais pertinentes com as decisões que toma a comunidade, sobre a prática florestal. 3 PROPÓSITOS E DESENHO DO ESTUDO O propósito desse estudo reside, entre outros argumentos, no fato de a Amazônia continental ser colocada como fronteira inexplorada para a maioria dos países que a detém. Abundantes recursos naturais de origem mineral, vegetal e animal fazem dessa parte do planeta uma área de cobiça internacional. Os recursos minerais, como água e minério, não são adaptados a qualquer um outro ecossistema terrestre, como é o caso de um recurso animal ou vegetal. O Brasil é quem bem conhece esse processo, com o episódio da transferência de material botânico da Hevea brasiliensis para os ecossistemas do Oriente, e, como é o detentor da maior fração de território amazônico, é o país que, em face do seu nível de desenvolvimento, tem usado a Amazônia com triplo propósito: primeiro, como região detentora de recursos naturais, de grande procura no mercado mundial, que asseguram ao Brasil inserção vantajosa nesse mercado; segundo, como região ainda não densamente povoada, favorecendo os fluxos migratórios provenientes de regiões brasileiras, onde abunda gente e faltam aqueles recursos, reduzindo naquelas áreas os conflitos sociais decorrentes do fator; terceiro, favorecendo a expansão do setor capitalista de serviço a baixo custo (como a educação), que se locupleta da imigração de mão-de-obra ou da habitação de pouca oferta e grande procura. Todos os três propósitos vêm impregnados de fortes impactos ambientais, sendo que o primeiro é aquele que se liga diretamente aos objetivos do IDEFLOR, por serem as florestas objeto de atentado permanente por parte do capital depredador, interessado em atender vantajosamente (porque quem plantou a floresta foi a natureza e não o capital) a o mercado demandante de produtos madeiráveis e de produtos minerais, ambos causadores de forte impacto nas florestas naturais e no meio ambiente. UFRA / IDEFLOR 10 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Assim, cabe ao Estado estabelecer as normas e os meios legais para o uso e usufruto deste recurso natural. Um desses meios são as concessões para a exploração das florestas publicas, respeitando-se nessas áreas de concessão a presença e o uso da floresta pelas comunidades tradicionais. Em propósito mais específico, este estudo busca fazer um diagnóstico socioambiental de uma dessas áreas pretendidas pelo IDEFLOR, como órgão do estado do Pará detentor da missão de regulamentar as outorgas das florestas públicas à exploração privada; antes, porém, reconhecendo os legítimos interesses das comunidades já tradicionalmente usuárias da floresta e de seus produtos. Já o desenho “quasi-experimental” do estudo, visando a o diagnóstico socioambiental, toma em consideração a área foco objeto de preocupação do IDEFLOR, uma superfície de 1.300 mil hectares, onde se estima uma população comunitária de 12.000 habitantes, distribuídos em terras dos municípios de Aveiro, Itaituba, Juruti e Santarém. A superfície dos quatro municípios perfaz uma área de 110.306 Km2, ou seja, 8,84% do território estadual, onde vive uma população de 404.004 habitantes, o que representa cerca de 6,52% da população do Estado. Segundo dados do IBGE (Tabela 1), estes quatro municípios reúnem cerca de 4,73% da cobertura florestal do estado do Pará, ou seja, 494.880 hectares de matas e florestas, sendo que o município de Itaituba, dentre eles, é o que apresenta maior área florestal, com cerca de 185.582 hectares. Tabela 1 - Uso da terra - matas e florestas, 2006. Descrição Brasil Norte Pará Itaituba - PA Santarém - PA Aveiro - PA Juruti - PA Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2007 Área (ha) 99.887.620 26.283.121 10.469.669 185.582 166.833 122.835 19.630 3.1 AS ETAPAS DO ESTUDO O desenho do estudo, cujo fundamento epistemológico é de natureza exploratória, comparativa e “quasi-experimental”, compreende as seguintes etapas, áreas e abordagens: 1ª. Etapa: estudo do chamado Entorno Dinâmico (ED), compreendendo os municípios de Aveiro, Itaituba, Juruti e Santarém (Figura 2). UFRA / IDEFLOR 11 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Figura 2 - Mapa de localização da área de estudo (Área de Entorno - AE). Mais especificamente, este ED se manifesta visivelmente nos acontecimentos que dominam as suas cidades sedes; face à importância político-institucional destes quatro municípios, optou-se por estudar esse Entorno Dinâmico, à luz de dados secundários, quanto a seis aspectos descritivos: a) os traços da vida social: tradição e modernidade na fronteira amazônica do Entorno Dinâmico; b) a geografia física e os sistemas de uso da terra; c) a população e seus principais traços demográficos; d) os serviços básicos de uso público; e) as relações ecológicas, políticas e econômicas com o estado do Pará; f) a síntese exploratória: o Entorno Dinâmico como território onde se dá a ocorrência de elementos e processos sociais, políticos, econômicos e culturais que afetam o padrão de uso dos recursos naturais na região do Mamuru - Arapiuns. UFRA / IDEFLOR 12 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 2ª Etapa: compreende o estudo da chamada ÁREA DE INFLUÊNCIA (AI) direta sobre a área focal e sobre a floresta da região em estudo. Trata-se daquela área de contato permanente com a floresta e da qual dependem as comunidades para sua sobrevivência e reprodução social. Formada pelas comunidades tradicionais das planícies do rio Mamuru e do rio Arapiuns, com seus respectivos tributários; inclusive as comunidades tradicionais situadas no baixo percurso da rodovia Translago. Para a realização do estudo da AI, adotou-se alguns procedimentos metodológicos, entre os quais se menciona: a) Elaboração de questionários como instrumento básico da investigação, tomando-se em consideração o objetivo geral e os objetivos específicos da Cooperação. Os questionários foram criados levando-se em consideração a teoria geral dos sistemas e a teoria dos sistemas sociais, e centrados em quatro temas, objeto do estudo, a saber: estudo da comunidade, estudo do uso da terra e da unidade de produção familiar, estudo dos recursos florestais e estudo do componente zootécnico e de animais silvestres. b) Confecções de mapas pelo IDEFLOR com as indicações oferecidas pela equipe da UFRA, com o propósito de auxiliar nas definições do plano amostral de coleta de informações primárias com a aplicação dos questionários. c) Estabelecimento da estratégia metodológica, segundo os seguintes parâmetros: I- Parâmetros: de natureza geográfica e de natureza socioeconômica. • O parâmetro de natureza geográfica compreende os seguintes eixos de antropização: - Eixo rio Arapiuns/Translago (ARA) - Eixo Médio e Baixo rio Mamuru (MAM) - Eixo Itaituba e Alto rio Mamuru (ITA) • O parâmetro de natureza socioeconômica e ambiental compreende as comunidades tradicionais, segundo o grau de diferenciação social. II- Aplicação de questionários, por temas, aos sujeitos atores sociais presentes nas comunidades, segundo os eixos de antropização. d) Treinamento dos Enumeradores UFRA / IDEFLOR 13 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará No período de 18 a 21 de novembro de 2008, já em Santarém, foi realizado o treinamento das equipes de campo para orientações gerais, normatização e padronização do trabalho, com o deslocamento do coordenador geral da pesquisa, Prof. Manoel Tourinho, até Santarém para ministrar o treinamento; e, no período de 22 a 23 de novembro, as equipes começaram o trabalho de campo nos três eixos a citar: ARA, ITA e MAM, num trabalho intenso de visita às comunidades, para aplicação dos questionários, que precisou de uma logística flexível em função das peculiaridades locais, dificuldades de acesso e de obtenção de suprimentos. Fotos 1 e 2 - Prof. Manoel Tourinho, coordenador geral da pesquisa, ministrando treinamento para as equipes de campo em Santarém. As equipes de campo, formadas por entrevistadores previamente selecionados em Santarém, receberam o treinamento ministrado pelo professor Manoel Tourinho, coordenador geral do projeto. O treinamento, com duração de 3 dias, teve como conteúdo: a apresentação e discussão da cooperação IDEFLOR/UFRA; o procedimento metodológico e técnicas de abordagens; leitura e discussão dos questionários e formação das equipes de campo, segundo as áreas geográficas e os temas de estudo. A logística de campo se mostrou bastante complexa, em função de diversos fatores, tais como: a) condições climáticas adversas, com início do período chuvoso, e acesso viário precário; b) dificuldade de infraestrutura de apoio ao longo dos percursos realizados, o que fez, por exemplo, com que as equipes tivessem que carregar combustível e suprimentos extras para o campo; c) dificuldade no que tange à carência de fornecedores para alguns materiais e serviços na região, o que ocasionava, em muitos casos, majoração nos preços praticados pelos UFRA / IDEFLOR 14 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará fornecedores dos diversos suprimentos necessários, bem como nas locações de veículos e embarcações; d) dificuldades burocráticas previsíveis na transferência de recursos de custeio para as equipes de campo, além da grande concentração de despesas de custeio que não estavam em sintonia com o cronograma de desembolso previsto para o projeto; e) a resistência de algumas comunidades em responder aos questionários, em função do interesse pela exploração-concessão das áreas, onde se percebe que há uma dificuldade na visão de longo prazo de algumas comunidades. Foto 3 - Coordenadores de área Ricardo Gama e Silvio Santos, com o Prof. Manoel Tourinho e o comandante do barco de pesquisa que adentrou o rio Mamuru. Para vencer os obstáculos naturais mencionados, foram usados veículos para deslocamento fluvial (Barco Motor, Voadeira) e terrestre (veículo tracionado, tipo “Pick-Up” e Motocicleta). Foram contratadas pessoas “guias”, especializadas nas regiões estudadas, com vistas a indicar as melhores vias de acesso e contatos com grupos e pessoas “chave” para informações estratégicas. Cada equipe de campo foi constituída de 1 líder (“Capitão do Mato”) e 3 entrevistadores; exceção para a equipe que operou no rio Mamuru, constituída por 1 líder e 8 entrevistadores. Dentro de cada equipe, os membros se inclinavam a aplicar os questionários específicos de um tema em estudo, ou seja: Comunidades, Recursos Florestais, Uso da Terra e Produção Familiar, e Animais Domésticos e Silvestres. UFRA / IDEFLOR 15 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Fotos 4; 5; 6 e7 - Detalhes do interior do barco de pesquisa no rio Mamuru. Fotos 8 e 9 - Veículos utilizados nas visitas às comunidades de ITA e ARA, já carregados em Santarém com suprimentos, inclusive barris de combustível. Foto 10 - Equipe de campo do eixo ITA, com o coordenador geral, Prof. Tourinho, ao centro, na saída para o campo. Fotos 11 e 12 - Equipe do eixo MAM, discutindo a metodologia a bordo, e navio de pesquisas atracado em comunidade do rio Mamuru. UFRA / IDEFLOR 16 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 4 O ENTORNO DINÂMICO (ED) : O TERRITÓRIO DO ESTUDO Conforme ponderado anteriormente, os estudos do território aqui abordados se apoiam em dados secundários de várias fontes disponíveis e constituem a 1ª fase da pesquisa. Segundo a Teoria dos Sistemas Sociais, o território é importante para se estabelecer as características físicas e ambientais determinantes dos processos de relações sociais entre a comunidade, o homem e a natureza, inclusive os processos e padrões dominantes nas relações. O território determina ainda o tipo de relações entre a comunidade e o ambiente externo. O território aqui considerado pode ser dividido em duas regiões: uma de natureza macro, que se confunde com as superfícies dos municípios de Aveiro, Itaituba, Juruti e Santarém, pertencentes à mesorregião baixo Amazonas e as microrregiões de Itaituba, Óbidos e Santarém, respectivamente, convencionou-se chamar essa região de Entorno Dinâmico (ED); e outra de natureza micro, que se confunde com a superfície do polígono tratado como Área de Influência (AI) das vinte comunidades estudadas. Do ponto de vista macro, corresponde a uma área de 110.306 km2, cujas participações territoriais municipais (da maior para a menor) são, respectivamente, as seguintes: Itaituba, com 56,2%; Santarém, com 20,7%; Aveiro, 15,5%; e a menor participação relativa fica com Juruti, apenas com 7,5%, ou seja, uma superfície cuja soma representa cerca de 8,84% da área total do estado do Pará, que é de aproximadamente 1.247.783,621 km2. Do ponto de vista micro, esta área representa aproximadamente 13.125 km2, o que equivale a pouco mais de 1% do estado do Pará, distribuído entre os municípios de Aveiro, Juruti e Santarém, sendo o município de Juruti aquele que detém a maior fração desse território (Figura 2). A geografia, os sistemas de uso da terra, a história de ocupação do território, a estrutura geossocial e econômica, entre outros, são fatores que determinam o atual estágio socioeconômico e ambiental exercendo um papel importante no funcionamento das comunidades tradicionais, inclusive predispondo a maior ou menor influência do Entorno Dinâmico sobre as mesmas, seus recursos e população. 4.1 OS TRAÇOS DA VIDA SOCIAL: TRADIÇÃO E MODERNIDADE NA FRONTEIRA AMAZÔNICA DO ENTORNO DINÂMICO (ED) Nos primórdios da ocupação europeia, brancos e índios se cruzaram para dar os traços de tradição e modernidade aos municípios que constituem o ED. Ao que parece, a viagem de Pedro Teixeira, em 1626, é o marco histórico da presença do ED na vida colonial, muito embora a criação do município de Santarém tenha demorado cerca de 222 anos, desde a UFRA / IDEFLOR 17 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará descoberta do rio Tapajós por Pedro Teixeira. Trinta e cinco anos depois (1661) daquela descoberta, chegou à região da confluência dos rios Amazonas - Tapajós - o Padre. Berttendorf, Jesuíta, estabelecendo a presença da Igreja na área. Em 1755, foi fundada Santarém, ou seja, 84 anos após a chegada da Igreja. A criação do município se deu 93 anos depois da fundação da cidade. Por isso é interessante anotar que, a partir das descobertas de Pedro Teixeira, em 1626, no Século XVII, os eventos sucessivos, marcos temporais na história do lugar, aconteceram em interregnos mais demorados: assim foram 35 anos da descoberta à chegada do Padre Berttendorf; 84 anos durou o tempo entre a chegada da Igreja e a fundação da cidade de Santarém; e 93 anos daí até a criação do município, ou seja, na medida em que os tempos avançavam em direção à “modernidade”, mais ausência do Estado se notava. Assim, movimentos, como a Cabanagem (1835), do passado longínquo, e os emancipatórios, do presente, podem ter suas raízes nesses fatos, ou seja, expectativas avançam, enquanto o estado recua. Se a Igreja e a Religião estiveram na base das tradições do ED, a “modernidade” se apoiou em outros fatos como: a presença da Cia. Ford Industrial do Brasil, que a partir de 1928 deu início às atividades agronômicas de cultivo da seringueira (Hevea brasiliensis) visando à produção para atender às crescentes necessidades mundiais de borracha em razão, sobretudo, da industrialização e mais tarde da II Guerra Mundial (1938-1946). A presença da Cia. Ford na Amazônia, em geral, pode ser tratada como marco da presença do capitalismo no campo. O Estado brasileiro marcou o seu papel nessa história com a criação, em 1942 esforço de guerra - do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), mais tarde transformada em Fundação SESP, cuja razão foi, sobretudo, o saneamento básico e o controle da malária, que criavam fortes empecilhos ao trabalho dos seringueiros na extração do látex. Dessa “modernidade” faz o período dos governos militares (1964-1988), com a inclusão do ED como Área de Segurança Nacional e a consequente exclusão dos movimentos democráticos e reivindicadores de grupos sociais aí existentes. A rodovia Santarém - Cuiabá (BR-163) - pode ser considerada como fato relevante do período moderno no ED, e tem como marco a chegada, em 1970, do 8º Batalhão de Engenharia de Construções (8º BEC) do Exército. E um outro marco do período foi a construção do UHE Curuá-Una, em 1977, comemorada como a primeira hidrelétrica construída na Amazônia. Nos tempos da democracia plena (após 1988), podem ser registradas as presenças dos campi da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia, 2002), com impactos sociais, econômicos, culturais e ambientais em todo o Entorno. UFRA / IDEFLOR 18 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A Síntese desse período de transição do colonial-tradicional ao republicano-moderno pode ser resumida em três fatos que, em ordem, vão contribuindo para posicionar o ED frente aos novos tempos: primeiro, as atividades econômicas ligadas ao esforço de guerra representado pelo volume das operações da Cia. Ford em Belterra e Fordlândia; segundo, os mecanismos político-institucionais do regime militar, representados pela criação da Área de Segurança Nacional; e terceiro, a presença das universidades, desde a instalação do campus da UFPA, a criação de unidades de ensino superior particulares (FIT, ULBRA), a instalação do campus da UFRA e, mais recente, a criação da UFOP. 4.2 A GEOGRAFIA E OS SISTEMAS DE USO DA TERRA O Entorno Dinâmico (ED), que se configura a partir de terras dos municípios de Santarém (mesorregião baixo Amazonas e microrregião de Santarém); Juruti (mesorregião baixo Amazonas e microrregião de Óbidos); e Aveiro e Itaituba (mesorregião Sudoeste paraense e microrregião de Itaituba); está situado entre os rios Amazonas, ao Oeste, e o rio Tapajós, a Leste, e ocupa uma área de aproximadamente 13 mil km2 e uma população estimada de 404.004 habitantes, cujos limites geográficos são os seguintes: • ao Norte: municípios de Óbidos, Alenquer, Monte Alegre e Prainha; • ao Sul: municípios de Jacareacanga e Novo Progresso; • a Leste: municípios de Altamira, Trairão, Rurópolis, Placas e Uruará; • a Oeste: o estado do Amazonas com o município de Parintins. De um ponto referencial, a distância estimada desse entorno para Belém, capital do Estado, é de: Santarém (698km), Aveiro (795km), Juruti (846km) e Itaituba (887km). Os principais fatores que caracterizam a geografia do Entorno são dados pelo clima, superfície, limites, geografia, relevo, hidrografia e vegetação. O clima é quente e úmido, com temperatura anual variada de 25 a 28 oC, média pluviométrica de 1.920 mm. O relevo dominante é de planícies e planaltos. A planície ocupa a porção Norte e Leste do Entorno (ED) e constitui basicamente as áreas de várzeas formadas pelo rio Amazonas e o delta dos igarapés e rios tributários nessa porção, como o rio Mamuru. Essa planície é submetida às inundações sazonais do rio Amazonas. Representa uma planície fluvial levemente alçada em relação à lâmina d’água, possuindo as menores altitudes regionais, geralmente em torno de 20 metros. Compreende depósitos aluviais. O planalto representa uma superfície entre a planície supramencionada e os planaltos Tapajós - Xingu e Tapajós - Madeira. UFRA / IDEFLOR 19 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A hidrografia do ED pode ser considerada com quatro bacias, sendo destacas a seguir: a) Bacia do rio Amazonas: constitui-se na principal bacia do ED. Tem, no território do município de Juruti, a maior extensão, estimada em 250 km. O rio Amazonas tem grande importância para a região do Entorno, pois favorece o acesso à região (entrada/saída), em razão de sua alta navegabilidade. Suas águas abrigam uma variedade de pescado e uma quantidade de sedimentos de suspensão ricos em nutrientes, que, depositados nas suas margens, terras de várzeas, lhe conferem elevada fertilidade natural. b) Bacia do rio Tapajós: é a segunda em importância para o ED. O rio Tapajós drena águas fluviais das superfícies dos municípios de Santarém e Aveiro, no sentido Sul-Norte, numa extensão de 132 km, até chegar ao Amazonas, defronte à cidade de Santarém. O rio Tapajós, principal formador da Bacia, tem o seu encalce defronte da “Área de Influência” do estudo. Em grande parte da bacia do Tapajós predomina uma vegetação exuberante, com presença de árvores de grande porte, às vezes, com altura de 25 m a 35 m, caracterizando uma Floresta Densa de terra firme, na qual está inserida a Floresta Nacional do Tapajós, na margem direita. Na bacia do Tapajós, além da beleza cênica (praias, lagos), propícia ao turismo de lazer e ao turismo contemplativo (áreas com botos, pássaros), merecem destaque as comunidades que se dedicam ao artesanato (palha/cipós/fibras, madeira, cerâmica), tais como as comunidades de Alter do Chão, Vila Franca, Arumã e Solimões. c) Bacia do rio Arapiuns: localizada na porção Oeste do município, entre as bacias do Tapajós e do Amazonas, a Bacia Hidrográfica do Arapiuns ocupa uma superfície aproximada de 7.064 km2, correspondendo a cerca de 28% de todo o espaço municipal. Último grande afluente do rio Tapajós, o rio Arapiuns é um rio de águas límpidas, muito pobre em fitoplâncton e, em consequência, em vida aquática. Ao longo da bacia do Arapiuns e do rio Aruã, existem inúmeras comunidades que se destacam na fabricação de artesanatos, utilizando como matéria-prima palhas e cipós diversos, além de cerâmica, madeira, tais como Cachoeira do Aruã, Camará, Curi, Monte Sião, Novo Horizonte, Novo Paraíso, São José II e São Luiz. d) Bacia do rio Mamuru: com localização estratégica, tem parte de sua área no estado do Amazonas e parte no estado do Pará. A cabeceira do rio Mamuru situa-se em território paraense às proximidades dos municípios de Itaituba e Aveiro, e segue em direção à ilha de Tupinambarana (habitada no passado por índios Tupinambás), onde está localizado o UFRA / IDEFLOR 20 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará município amazonense de Parintins. Existe muito pouca informação sobre a bacia do rio Mamuru, apesar de sua importância incontestável para a região, haja vista a vasta área ainda nativa, com recursos naturais ainda intocados e eminentemente explorados pelas comunidades tradicionais, eapesar das pressões que já se avizinham, em especial do setor extrativo de madeiráveis. O rio Mamuru é um dos principais rios da região, juntamente com os rios Paraná de Ramos, Paraná do Espírito Santo, Paraná do Limão e Uaicurapá, além dos lagos Aninga, Paranema, Macurani e Lagoa da Francesa, que fazem parte de uma grande rede hidrográfica de vital importância para o município de Parintins quanto à sua preservação, uma vez que banham a sede municipal e estão mais suscetíveis à depredação e poluição. A vegetação e a a fauna silvestre são bastante diversificadas. A maior parte do ED é recoberta pela floresta densa. Em áreas isoladas, ocorre a floresta aberta mista, com presença de espécies palmáceas. Ao longo dos rios, como o Tapajós, onde existe influência de inundações, predominam formações pioneiras. Ao sul do Entorno a vegetação apresenta complexidade, devido à maior altitude e a transição entre a hiléia e o cerrado. Há outras tipologias, como a floresta de cocais e cipoal. Nas áreas de várzeas, predominam as florestas densas inundáveis. Já os recursos da fauna silvestre são acrescentados em espécies silvestres de mamíferos com hábitos frugíveros e herbívoros; portanto, com forte relação de interdependência com a mata. Quanto ao uso da terra (Tabela 2), o ED tem nas florestas o maior uso, são 494.880 hectares, o que corresponde a 47,1% do uso do solo na região do ED, sendo que Santarém detém a maior porção do uso da terra com floresta, cerca de 166.000 hectares; e Juruti, a menor fração de uso, com apenas quase 20.000 hectares. O uso do solo para pastagens é a segunda expressão; são cerca de 371.448 hectares utilizados com a pecuária, ou seja, 35,4% do uso da terra. Em terceiro lugar aparece a área agrícola, com 183.924 hectares, correspondendo a 17,5% do total de uso do solo regional. Tabela 2 - Uso da terra: municípios do Entorno Dinâmico (ED), 2006. Unidade Geográfica Área Agrícola (ha) Aveiro 5.568 Itaituba 109.492 Juruti 2.121 Santarém 66.743 Pará 3.214.318 Razão ED/Pará 5,72% Total do ED 183.924 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2007. UFRA / IDEFLOR Área Florestal (ha) 122.835 185.582 19.630 166.833 10.465.433 4,73% 494.880 Área Pecuária (ha) 12.574 103.113 14.260 55.777 13.167.856 2,82% 371.448 21 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 4.3 A POPULAÇÃO E SEUS PRINCIPAIS TRAÇOS DEMOGRÁFICOS A análise demográfica, ainda que exploratória dos recursos, é importante pelos efeitos que a população exerce sobre o uso dos recursos naturais. Em uma área sujeita a intenso fluxo migratório, a análise tem relevância e pertinência. Ambos “extremos” migratórios, ou seja, o “rico e o pobre” formam um papel importante no conteúdo das formulações públicas que visam encaminhar a questão populacional e recursos naturais. Reduzir a “pegada ecológica” do planeta significa reduzir o nível de consumo na sociedade e isto alterando os hábitos da população seja como consumidores ou como produtores. Inicialmente, a Tabela 3 traz algumas indicações do perfil demográfico do ED. Tratase de um conjunto humano totalizado em 404.004 habitantes, que representavam (em 2000) 32,4% da população paraense, percentual expressivo, considerando que dois municípios, Santarém e Itaituba, respondem por 65% e 23,4% do efetivo populacional do ED, ou seja, 90% da população se concentra nesses municípios, sinalizando aonde devem ser dirigidas as políticas demográficas do Entorno, seja para distribuir de modo mais equilibrado esse contingente, seja para considerar maior alocação de mecanismos compensatórios que visem atenuar a pressão demográfica sobre os recursos naturais. Tabela 3 - Demografia do Entorno Dinâmico (ED) - Habitantes. Descrição População Total (nº hab): - Urbana - Rural Área (km2) Densidade demográfica (hab/km2) Participação relativa/PA (%) Crescimento Demográfico: 1970-2000 (%) Taxa anual - 30 anos: 1970-2000 (%) Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000. Santarém Aveiro Itaituba Juruti 262.538 186.297 76.241 22.887,08 11,47 1.83 94 6,46 15.518 2.980 12.538 7.074,29 0,91 1.37 76 5,80 94.750 64.486 30.264 62.040,95 1,53 4.97 633 21,5 31.198 10.780 20.418 8.303,97 3,76 0.67 67 2,23 A mais expressiva variação demográfica ocorreu nas áreas rurais que reduziram suas atividades enquanto aumenta a urbanização, acompanhando uma tendência que se verifica em toda região Norte e no estado do Pará. O mais expressivo crescimento urbano ficou com Itaituba, que nos últimos 30 anos cresceu 1.608%, enquanto a menor taxa ficou com Aveiro, 168,9% - mesmo assim, acima dos cem pontos percentuais. Contudo, mesmo com este efeito supressivo no crescimento da população rural, no espaço físico do ED, a população não deixou de crescer a taxas superiores à do Estado. Enquanto a taxa para o crescimento médio anual da população girou ao redor de 2,4%, iguais UFRA / IDEFLOR 22 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará taxas para o ED ficaram entre 2,23% em Juruti e 21,5% em Itaituba. Isto demonstrou que o ED surge como “lugar selecionado” beneficiado por expressivos fluxos migratórios puxados por atividades nas áreas florestal, mineral e agrícola (Tabela 4). Tabela 4 - Índices demográficos do Entono Dinâmico (ED) no período de 30 anos (1970 - 2000). Crescimento no período 1970 -2000 (CP) e Taxa Anual de Crescimento no período 1970 - 2000 (TA). Municípios do População Urbana (%) ED (CP) (TA) Santarém 203,79 6,79 Aveiro 168,95 5,63 Itaituba 1.607,79 53,59 Juruti 250,91 8,36 Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000. População Rural (%) (CP) (TA) 3,18 0,11 62,60 2,09 239,51 7,98 30,78 1,03 População Total (%) (CP) (TA) 94,16 3,14 75,96 2,53 646,65 21,56 66,98 2,23 4.4 OS SERVIÇOS BÁSICOS DE USO PÚBLICO Por Serviços Básicos à população entende-se, nesse estudo, aqueles serviços essenciais para a população conquistar níveis de bem estar e tranqüilidade social para enfrentar sem temor ou sobressaltos as adversidades temporais e manter uma performance física-psicológica que permita adquirir atitudes positivas em relação à vida. A presença desses serviços no local, com caráter universal e republicano, torna-se um fator importante e estratégico na contraposição, centralização e dependência. Repercutem de vários modos na sustentabilidade social e política local, ou seja, no “emponderamento” da comunidade. Tabela 5 - Serviços básicos urbanos dos municípios do Entorno Dinâmico (ED). (%) Aveiro Juruti Itaituba Santarém Pará Cobertura de Rede de abastecimento de Água 55,13 Cobertura de Sistema de esgotamento Sanitário 15,80 Cobertura de Sistema de Coleta de Lixo 4,13 Cobertura da Rede de Energia Elétrica 40,10 Posto de Saúde 1 Centro de Saúde 2 Policlínicas 0 Número de Hospitais 0 Leitos de Hospitais 0 Leitos por Habitantes 0,0 Média de consultas, média habitantes/ano 0,06 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD. 82,81 2,70 31,90 50,00 5 0 0 0 84 2,44 0,64 3,83 1,90 69,23 51,50 0 15 0 6 478 4,99 1,95 78,48 37,90 69,00 79,30 34 34 2 7 426 1,57 - 56,15 48,83 73,20 76,7 564 667 22 176 12.217 1,82 1,33 Na análise, considerou-se alguns indicadores em saúde e saneamento, verificando a cobertura que esses serviços apresentam em relação à população do Entorno Dinâmico e do estado do Pará, conforme se pode constatar nas Tabelas 5 e 6, onde se percebe que, em alguns UFRA / IDEFLOR 23 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará municípios do ED, alguns serviços básicos à população urbana se igualam ou superam as marcas de cobertura do estado, como são os casos do abastecimento de água para os municípios de Aveiro, Juruti e Santarém; e a cobertura da rede elétrica para Itaituba e Santarém. Já quanto ao avanço desses serviços, a Tabela 6, a seguir, nos conduz às seguintes observações: com relação ao acesso à água encanada, à energia elétrica e à coleta de lixo, percebe-se um desempenho muito aquém do município de Aveiro, que teve redução de 17,2% no acesso à água em 10 anos, e incríveis 52% de redução no acesso à coleta de lixo no mesmo período e praticamente não houve incremento no acesso à energia elétrica em 10 anos, com aumento de apenas 1,8%. O destaque positivo fica por conta do município de Juruti, onde a coleta de lixo aumentou 2.371,4%, ou seja, mais de 23 vezes, e onde também o acesso à energia elétrica teve incremento de 44,9%, com destaques ainda para o incremento da coleta de lixo em Santarém (117,2%) e Itaituba (94,3%), no mesmo período. Tabela 6 - Acesso à água encanada, à energia elétrica e à coleta de lixo nos 4 municípios do ED e no estado do Pará, no período de 1991 a 2000 (%) * área urbana. Água Encanada Energia Elétrica TX (%) (%) (%) 1991 2000 1991 2000 Aveiro 16,3 13,5 -17,2 39,4 40,1 Santarém 48,9 49,4 +1,0 71,6 79,3 Itaituba 29,2 36,0 +23,3 74,9 81,5 Juruti 7,8 9,0 +15,4 34,5 50,0 Pará 37,7 44,9 +19,1 64,1 76,7 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD. Municípios/Estado TX (%) +1,8 +10,8 +8,8 +44,9 +19,7 Coleta de Lixo (%) 1991 2000 9,8 4,7 32,0 69,5 35,3 68,6 1,4 34,6 47,4 73,8 TX (%) -52,0 +117,2 +94,3 +2.371,4 +55,7 É lógico que o saneamento básico tem impacto direto nas condições de saúde. Nota-se que os sistemas de esgotamento sanitário e o serviço de coleta de lixo são insatisfatórios em todo o ED, onde os percentuais de cobertura situam-se abaixo dos percentuais para o Estado, conforme os números da Tabela 6. Por outro lado, a organização do sistema de saúde para o enfrentamento de problemas daí decorrentes, assim como de outras origens, é visualizada também na Tabela 5. Dos seis indicadores considerados (posto de saúde, centro de saúde, policlínicas, hospitais, leitos hospitalares e leitos por habitantes), apenas Santarém atendeu a todos, seguido de Itaituba. Assim mesmo, vendo-se a razão ideal de 4 leitos/1000 habitantes e 2 a 3 consultas/habitantes/ano, as razões encontradas se colocam abaixo do índice oferecido pela Fundação Hospitalar do Distrito Federal. Outro serviço básico estratégico à população e seus enfrentamentos sociais, econômicos, culturais e políticos é a educação, ou melhor, o acesso aos bens e serviços educacionais. Na Tabela 7, é mostrado o perfil educacional da população no ED. Há UFRA / IDEFLOR 24 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará evidências de um melhoramento sensível em todos os indicadores (analfabetismos e frequência escolar), lembrando, entretanto, que são as cidades-sedes dos municípios, e não as vilas, as mais contempladas com os avanços nas marcas educacionais. Tabela 7 - Analfabetismo e frequência escolar nos 4 municípios do ED e no estado do Pará, no período de 1991 a 2000. % Analfabetismo % Analfabetismo TX (10 - 24 anos) (25 anos ou mais) (%) 1991 2000 1991 2000 Aveiro 16,8 10,4 -38,1 35,4 29,3 Santarém 7,4 4,0 -46,0 22,0 14,8 Itaituba 18,8 8,4 -55,3 37,5 27,5 Juruti 7,9 5,7 -27,9 28,9 21,1 Pará 15,3 8,2 -46,4 28,5 20,6 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD. Municípios/Estado TX (%) -17,2 -32,7 -26,7 -27,0 -27,7 % Freq. Escolar (7 a 14 anos) 1991 2000 60,5 80,8 83,0 94,7 66,7 91,8 75,3 95,2 72,3 90,1 TX (%) +33,55 +14,10 +37,63 +26,43 +24,62 Pode-se perceber que no período de 10 anos, de 1991 a 2000, houve uma significativa redução da taxa de analfabetismo em todos os 4 municípios do ED, assim como no estado do Pará como um todo, tanto na faixa de 10 a 24 anos quanto na faixa de 25 anos ou mais, com destaque para o município de Itaituba, que reduziu em 55,3% as taxas de analfabetismo na faixa de 10 a 24 anos. No que tange à frequência escolar, ainda na Tabela 7, os dados do mesmo período mostram que houve incremento da atividade escolar na faixa dos 7 aos 14 anos para todos os 4 municípios do ED, salientando que apenas Santarém teve um crescimento menor, com 14,10% de acréscimo, o que não chega a surpreender porque as taxas de frequência escolar de Santarém (83%) já eram maiores que todos os outros municípios do ED e que o estado do Pará, portanto com pouca margem para crescimentos significativos. Não obstante os resultados, é preciso não perder de vista a relação entre a oferta desses serviços básicos e o grau de urbanização: Santarém e Itaituba, ambos superam a marca estadual; Juruti avança mais agora como polo minerário; apenas Aveiro se mostra ainda tímido quanto à urbanização de seus moradores. 4.5 AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS COM O ESTADO DO PARÁ O Entorno Dinâmico ocupa uma superfície de 110.306 km2, que corresponde a quase 10% da superfície total do estado do Pará. O município de Juruti mostrou uma razão de apenas 0,67% da superfície estadual, enquanto Itaituba detém 4.97% do território paraense. Santarém (1.83% do estado) e Aveiro (1.37%) não alcançaram a razão de 2%. São frações UFRA / IDEFLOR 25 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará territoriais pouco expressivas. Entretanto, elas definem o modo de relacionamento espacial tanto para dentro das suas fronteiras como para fora. O atual sistema de uso da terra potencializa o perfil ecológico do ED e estabelece as relações ambientais do ED com o Estado e consigo mesmo. Isso porque a agricultura, a pecuária, a exploração florestal e a mineração desenvolvem aspectos específicos quanto aos impactos ecológicos, podendo aumentar a fração de áreas antropizadas e degradadas, caso não sejam atendidos os requerimentos do manejo e uso sustentável dos recursos envolvidos. Nesse particular, merece destaque o avanço da pecuária sobre a floresta, conforme reconhece o próprio governo estadual. O maior crescimento da área de pastagem e de rebanho no País ocorreu no Norte. No Pará, desde 2001, portanto, recentemente foram incorporados 1,3 milhões de hectares. De 2006 para 2007, o aumento da área com pastagens foi da ordem de 4,39%, o menor registro entre os estados da região Norte - Amazônica. Entretanto esse avanço na floresta acontece impulsionado pelo binômio madeira-pecuária, ainda que aconteça em índices baixos: apenas 1,41% da superfície total com pastagens no Estado do Pará (13.167.856 ha), ou seja, são 185.724 ha cobertos com pastagem no ED; e nenhum dos municípios ultrapassa a 1% da cobertura (Tabela 2). A área com matas e florestas no ED, em relação ao total do Estado, é de 4,73 justificando, assim, a preocupação do IDEFLOR com atividades que possam comprometer a cobertura ecológica e causar danos ambientais e sociais às populações tradicionais. As lavouras temporárias surgem com as taxas mais altas da razão ED/estado do Pará: cerca de 14,6%, ou seja, a superfície plantada com lavouras temporárias, possivelmente grãos, chega a 163.460 há; ao contrário dos cultivos permanentes, cujas feições ecológicas são mais agradáveis ao meio ambiente e representam menos de 1% (0,98%) da área total cultivada com “permanentes” no Estado. No ED concentra-se importante área de atividade minerária. São projetos de grande envergadura e alta tecnologia, como a extração de bauxita, no município de Juruti, até a garimpagem manual, como ocorre em Itaituba nos garimpos famosos da região, como os garimpos do Porto Rico, Boa Fé e Cuiú-Cuiú. É interessante apontar que a região do Tapajós, segundo a CPRM, engloba uma reserva garimpeira de 28.752 km2, a qual desde o ano de 1958 representa grande área produtora de ouro. Itaituba, como a maior superfície municipal do Entorno - 62.041km2, 4,97% da área do estado - concentra reservas de calcário, com utilização na fabricação de cimento. As relações políticas do Entorno (ED) com o Estado se efetivaram através de representação que os seus municípios possuem junto ao legislativo e executivo, tanto federal UFRA / IDEFLOR 26 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará quanto estadual. Na Assembléia Legislativa do Estado (ALEPA), 7 deputados são oriundos de colégios eleitorais do oeste do Pará, e com atuação política no Entorno Dinâmico. Dos 7 deputados, 2 são filiados ao PT; 2 ao PMDB; 2 ao PSB e 1 ao PTB; portanto, a atual base política que dá sustentação ao governo tanto federal quanto estadual possui 5 representantes, número que por certo ajuda nas definições e aplicações de medidas públicas no interesse dos objetivos do IDEFLOR. Essa bancada do Entorno representa um percentual de 16,2% dos deputados estaduais. 4.6 A SÍNTESE EXPLORATÓRIA: O ENTORNO DINÂMICO (ED) COMO TERRITÓRIOONDE SE DÁ A OCORRÊNCIA DE ELEMENTOS E PROCESSOS SOCIAIS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS E CULTURAIS QUE AFETAM O PADRÃO DE USO DOS RECURSOS NATURAIS DA REGIÃO DO MAMURU-ARAPIUNS No estudo conduzido, ao se conceber que uma área seria tratada como Entorno Dinâmico (ED) e outra como Área de Influência (AI) do Entorno, a ideia por detrás foi admitir uma possível relação de dependência e de subordinação da segunda, ou seja, da Área de Influência (AI) para com a primeira (ED), de tal modo que seria possível estabelecer a relação paramétrica seguinte: AI = f (ED) Na Figura 3 demonstra-se graficamente como representá-la: Figura 3 - Curva de pressão sobre RRNN A Teoria da Dependência pode contribuir para a interpretação das relações que se processam entre o Entorno Dinâmico (ED) e a (sua) Área de Influência (AI). O Entorno seria tratado como “centro capitalista”, enquanto a Área de Influência como “periferia deprimida”. Embora a Teoria da Dependência tenha surgido no histórico latino-americano dos anos 1960, como concepção de análise macrorregional, das relações de subordinação continental entre a UFRA / IDEFLOR 27 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará América Latina e os Estados Unidos da América ou a Europa, aqui se propõe o seu emprego para exemplar as relações “centro-periferia”, que fecundam relações microrregionais, dentro de um mesmo país ou estado. Entender melhor os fatores responsáveis pela reprodução do sistema capitalista de produção na periferia tradicional, trata-se de desconsiderar o tácito do subdesenvolvimento como produto da mundialização do capital e passar a considerar a perda do controle, pelos habitantes da periferia dependente, sobre seus recursos como fator responsável pelos impactos sobre a transferência de renda da periferia tradicional para o centro dinâmico, gerando, desse modo, uma relação desigual em sua essência, à custa da subordinação, da expropriação da renda e do trabalho, e da desintegração das classes e grupos. Nesse sentido, o contraponto à dependência seria resultado de um processo social e político, enquanto possibilidades que dependem tanto das ações de governo e da governança quanto do surgimento de organizações coletivas que representem os legítimos interesses da periferia dependente. Isso porque não apenas as condições históricas particulares são primordiais nos fundamentos da luta das organizações coletivas, mas também o fato de que são os conflitos sociais de várias origens, entre grupos e classes, que constituem o motor que põe em marcha o desenvolvimento social sustentável, amplo e legitimo. Dessa forma, o crescimento capitalista do Entorno manifesto nas suas dimensões histórica, demográfica, econômica, social, ambiental e política; nas formas concentradas da riqueza, sobremodo no espaço urbano, configuram as variáveis de pressão do Entorno sobre a sua Área de Influência como periferia deprimida. A história regional de ocupação do Entorno, de vários modos, se liga à exploração da riqueza natural e à expropriação do trabalhador. Inicialmente, nos tempos coloniais, gentios e drogas do sertão foram reunidos sob a égide do Estado e da Igreja, com ampla expropriação do conhecimento e do trabalho dos gentios; tudo para satisfação do mercado europeu, intermediado por Portugal. Mais tarde, o Estado, com o ciclo da borracha, acentua essa dependência. Na fase contemporânea, agrava-se o quadro de uso dos recursos naturais alheio às comunidades tradicionais com o avanço da exploração madeireira, da grilagem de terras, da pecuária extensiva e da soja. A expansão populacional de vários modos exerce pressão sobre o uso dos recursos naturais. A Amazônia se coloca como a última fronteira continental (e mundial) de expansão do capitalismo a custos compensadores (suficientes) para os donos do capital. No Entorno, o crescimento populacional nos últimos 30 anos se verifica a níveis superiores às taxas estadual e nacional. O crescimento urbano, como proxi do consumo de bens demandantes de recursos naturais, apresenta taxas surpreendentes: Itaituba, um dos municípios do Entorno, teve a sua UFRA / IDEFLOR 28 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará população urbana aumentada em 1.608%, o que lhe confere um índice de 54% de crescimento anual (Tabela 4). Isso, sem dúvida, teve na exploração madeireira e na mineral seus grandes incentivadores. Outra agravante do quadro de pressão reside no fato de que as taxas de crescimento rural são bastante aquém da urbana; mesmo em Itaituba, apesar do monumental aumento urbano, o correspondente rural apresenta um índice de apenas 8% em igual período, ou seja, entre 1970 e 2000. O vazio rural oferece um quadro favorável ao emprego de tecnologias substituidoras de mão-de-obra e geralmente inadequadas ao ambiente frágil do ecossistema amazônico. A ecologia do Entorno é contemplada em função da razão relativa do uso atual do espaço físico vis-a-vis o estado do Pará. A ocupação do solo com lavouras e com pecuária; a área ainda com mata e floresta; as atividades de mineração, e as externalidades dessa ocupação manifesta nas áreas degradadas formam um conjunto de dimensões que indica o “estado da arte ecológica” da região em estudo. Deve-se levar em conta o fato de que o total da superfície do Entorno - 110.306 km - representa ao redor de 10% da superfície estadual, razão considerável às políticas públicas, uma vez que apenas quatro municípios contribuem com esse percentual. O aspecto socioeconômico do Entorno se revela nessa síntese exploratória através do IDH, índice considerado pelas Nações Unidas (ONU). O IDH tem como objetivo oferecer um contraponto a outro indicador - o PIB - como parte do pressuposto de que, para avaliar a riqueza e o bem-estar-social, não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características que influenciam a qualidade de vida humana. O IDH é um índice composto pelas transformações ocorridas na longevidade, na educação e na renda. Portanto, trata-se de um indicador síntese, cujos valores variam de zero (0) a um (1); quanto mais próximo de 1 o valor deste indicador, maior será o nível de desenvolvimento humano do país ou da região, conforme se pode no observar nos dados apresentados na Tabela 8. Assim sendo, o ED apresentou no ano 2000 um IDH médio da ordem de 0,68, digamos, satisfatório, porém abaixo dos índices do estado (0,72) e do nacional (0,77). Apenas Santarém (0,75) superava a marca estadual; assim mesmo, ligeiramente abaixo do índice nacional (Tabela 8). Considerando que a renda média do Entorno no período foi da ordem de R$ 103,00, abaixo das medias paraense (R$ 168,00) e brasileira (R$ 297,00), significa que há um espaço de crescimento, pois segundo a ONU, a linha da pobreza é delimitada pela possibilidade de aquisição de 2 cestas básicas com a renda per capita; e a linha da indigência é quando a renda per capita permite adquirir no máximo uma cesta básica. Assim, relacionando a cesta básica de dezembro de 2001 ao valor de R$ 158,20, temos que tanto o UFRA / IDEFLOR 29 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará ED quanto o Estado, na média, estão abaixo do limite da pobreza, o que influenciará na curva de consumos de bens e serviços. Da mesma forma, a pobreza relativa tem índices percentuais acima dos índices estadual e nacional, lembrando que alguns apontam essa situação social também responsável por severos prejuízos ambientais. De um modo geral, pode-se dizer que a pobreza na região do Entorno Dinâmico apresenta índice médio preocupante: cerca de 78% dos moradores podem ser incluídos na categoria “pobreza relativa”. Tabela 8 - IDH - Um reflexo do bem-estar social: comparativo do Entorno Dinâmico (ED) com o Pará e o Brasil (1991-2000). Descrição Pará IDH – 2000 0,72 IDH - evolução (%) 11,23 Renda “per capita” (R$) 168,59 Renda crescimento (%) 19,13 Pobreza relativa (%) 51,89 Crescimento relativo (%) -7,12 Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000. Brasil Santarém Aveiro Itaituba Jurutí 0,77 10,06 297,23 29,06 32,74 -18,29 0,75 12,86 139,90 32,01 54,05 -12,65 0,64 7,9 56,22 -2,88 80,8 2,78 0,70 13,18 162,60 13,96 50,51 0,80 0,68 7,14 103,42 -17,27 77,70 8,85 Índices (marcas) estadual e/ou nacional – 2000 Índices que estão abaixo dos índices estadual e/ou nacional Índices que estão acima das médias estadual e/ou nacional Entretanto, pode-se constatar que, com relação à renda per capita no ED, em Santarém, a renda foi crescente, com aumento de 32,01% de 1991 a 2000, maior que as taxas paraense e brasileira, de 19,13% e 29,06%, respectivamente, o que não aconteceu com o município de Aveiro, onde houve retração do crescimento econômico, com diminuição da renda per capita em 2,88%. Com relação à Itaituba, a renda per capita cresceu na ordem de 13,96% de 1991 a 2000; porém, mesmo assim, mostrou-se tímida em relação às taxas do Pará e Brasil; mas a queda de renda mais expressiva se mostrou em Juruti, com redução da renda per capita da ordem de 17,27% no período, o que foi confirmado pelo aumento da pobreza no município (Tabela 9). Tabela 9 - Renda per capita (R$) dos municípios do ED, do Pará e do Brasil, 1991-2000. 1991 Brasil 230,30 Pará 141,52 Santarém 105,98 Itaituba 142,68 Aveiro 57,89 Juruti 66,70 Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000. 2000 Crescimento (%) 297,23 168,59 139,90 162,60 56,22 55,18 29,06 19,13 32,01 13,96 -2,88 -17,27 UFRA / IDEFLOR 30 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará No que tange ao Produto Interno Bruto - PIB 2006, têm-se que o PIB do Estado em 2006 foi da ordem de R$ 44,376 bilhões, crescendo 7,1%, e obtendo a terceira maior variação real entre os estados do Brasil e mantendo-se na 13ª posição no ranking dos Estados. Já o PIB per capita do estado do Pará ficou em R$ 6.241, representando 49,2% do valor per capita nacional, mantendo a 22ª posição no ranking dos estados brasileiros. A estrutura produtiva dos grandes setores do PIB paraense para o ano de 2006 ficou da seguinte forma: Serviços contribuíram com 57,5%, e um Valor Adicionado de R$ 22,885 bilhões; a Indústria teve participação de 33,4%, agregando R$ 13,285 bilhões; e a Agropecuária, com participação de 9,2%, gerando R$ 3,664 bilhões. Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) dos 143 municípios, referentes ao ano de 2006, demonstram que, de acordo com Valor Adicionado (VA) dos setores econômicos, a atividade predominante é o Setor de Serviços, correspondendo a 121 ou 84,6% do total dos municípios paraenses. O Setor Agropecuário é a atividade principal, desenvolvida em 12 ou 8,4% dos municípios; e apenas 10 municípios do Estado, representando 7,0%, têm como base econômica determinante o Setor da Indústria (Tabela 10). Na Tabela 10, pode-se perceber a colocação de 2 municípios do ED do estudo em questão, com destaque para Santarém em todos os setores econômicos (Agropecuária, 2º; Indústria, 10º; Serviços, 4º; e PIB, 7º), além de Itaituba, que aparece em 10º lugar no Estado no setor de serviços, o que denota a importância do ED e a pressão que o mesmo pode exercer na AI do estudo. Tabela 10 - Municípios paraenses líderes no ranking do Valor Adicionado (VA) dos setores econômicos e pelo Produto Interno Bruto (PIB), 2006. Atividades/Municípios Ranking Agropecuária 1º São Félix do Xingu 2º Santarém 3º Paragominas 4º Marabá 5º Acará 6º Novo Repartimento 7º Água Azul do Norte 8º S.M.das Barreiras 9º Cumaru do Norte 10º Conceição Araguaia Fonte: SEPOF/IBGE, 2008 Indústria Barcarena Parauapebas Belém Tucuruí Marabá Ananindeua Canaã do Carajás Oriximiná Almeirim Santarém Serviços Belém Ananindeua Marabá Santarém Barcarena Parauapebas Castanhal Paragominas Tucuruí Itaituba PIB Belém Barcarena Parauapebas Marabá Ananindeua Tucuruí Santarém Castanhal Canaã Carajás Oriximiná Segundo dados da SEPOF, Santarém representou, em 2006, 3,2% da agropecuária do Estado, sendo sua principal subatividade o cultivo de arroz, milho, soja e mandioca (na UFRA / IDEFLOR 31 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará produção de arroz e soja, destaca-se como maior produtor do Estado). A pesca contribuiu com 29,0% no VA municipal e destacou-se com maior participação (5,7%) no Estado. Ainda segundo o mesmo estudo, Santarém participou com 4,2% dos Serviços do Estado. As principais atividades foram: administração pública, comércio e aluguel. Santarém é o terceiro maior centro urbano do Estado. A Tabela 11 a seguir mostra o ranking dos menores PIB per capita a Preço de Mercado Corrente dos municípios do estado do Pará, em 2006. Nestes municípios, o setor principal é o de Serviços, sendo a administração pública a atividade de maior destaque. Os demais setores não são expressivos, sendo constituídos pela agricultura de subsistência; e a Indústria, apenas pela atividade da construção civil, com modesta participação. Tabela 11 - Municípios paraenses com os menores PIB per capita (R$), 2006. Ranking Município PIB per capita (R$) 143º Jacareacanga 142º Curralinho 141º Nova Esperança do Piriá 140º Melgaço 139º Faro 138º Cachoeira do Piriá 137º Aveiro 136º Terra Alta 135º Primavera 134º Muaná Fonte: SEPOF/IBGE, 2008. 1.401 1.582 1.597 1.696 1.697 1.706 1.730 1.759 1.794 1.808 O município de Aveiro possui o 7º pior PIB municipal do Estado, o que denota uma elevada participação do setor de serviços no município. Na Tabela 12, logo a seguir, novamente aparece Aveiro entre os cinco municípios paraenses com maior participação da administração pública no valor adicionado total, o que confirma que o município é altamente dependente das transferências governamentais e muito sensível a estímulos governamentais em sua economia, o que por um lado pode ser muito interessante para o Estado implementar políticas e neutralizar possíveis influências negativas do ED na AI. Tabela 12 - Municípios paraenses com maior participação da administração pública no Valor Adicionado Total, 2002-2006 (%). Municípios Jacareacanga Curralinho Melgaço Faro Aveiro Fonte: SEPOF/IBGE, 2008. 2002 2003 2004 2005 2006 59.69 56,43 55,13 54,21 56,37 59,24 59,77 57,52 54,23 57,11 58,64 60,48 57,56 54,85 58,22 60,28 60,22 57,89 53,75 58,26 59,19 57,43 56,10 55,85 54,92 UFRA / IDEFLOR 32 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará As maiores participações da administração pública na composição do PIB são de municípios com atividades econômicas pouco expressivas e com alto grau de dependência de transferências governamentais, as quais, na dimensão da sua aplicabilidade orçamentária, praticamente constituem a principal fonte de fomento ao funcionamento das economias locais. A utilização das transferências nesses municípios representa a força-motriz que impulsiona as atividades econômicas no contexto das suas respectivas bases produtivas. Ressalta-se que são municípios que apresentam baixo PIB Per Capita. 4.7 A INFRA-ESTRUTURA ATUAL DA REGIÃO DO ED E AS PROJEÇÕES FUTURAS No Pará e em toda a região amazônica, as hidrovias constituem-se como importantes vias de transporte de cargas e passageiros entre os municípios. Para incrementar esse potencial, a Companhia de Portos e Hidrovias (CPH) do Pará foi reativada, e um diagnóstico das condições infraestruturais de pequenos e médios portos públicos, em cerca de 80 municípios do Pará, foi realizado pela Secretaria de Integração Regional; e as ações já estão adiantadas no sentido de formalização de convênios entre o Departamento Nacional de InfraEstrutura de Transportes (DNIT) e o Governo do Estado. Algumas obras já estão em fase de construção. A ideia é aproveitar o enorme potencial do Estado (cerca de 10 mil quilômetros navegáveis), que engloba todas as regiões de integração; e construir portos com previsão para conclusão em 2009 e 2010. Para o baixo Amazonas, mais precisamente para os municípios de Óbidos e Juruti, estão previstos investimentos da ordem de R$ 15 milhões para cada município. Mais R$ 2,8 milhões para o terminal hidroviário - flutuante e rampa de Oriximiná. Na região do baixo Amazonas, o porto de Santarém vem sendo responsável pelo escoamento da produção de soja, que injeta recursos na economia da região. Fotos 13 e 14 - Porto de escoamento de grãos de Santarém e o contraponto do porto convencional, com chegada e saída de produtos comercializados e transportados em pequenas embarcações. UFRA / IDEFLOR 33 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Um outro ponto forte da infraestrutura do baixo Amazonas, mais especificamente da região de Santarém, é a conclusão da BR-163, a Santarém-Cuiabá, que irá estimular o transporte hidroviário para o escoamento da produção de grãos oriundos, principalmente, do Mato Grosso; e provocar a construção de um novo porto previsto para Santarém. No Brasil, poucas regiões apresentam atrativos em termos de infraestrutura de transportes para escoamento da produção em moldes intermodais, como a região em estudo, mas ao mesmo tempo preocupante quanto aos impactos ambientais. A hidrovia Tapajós-Teles Pires dá essa perspectiva, como saída da fronteira agrícola das regiões norte e nordeste do Mato Grosso e centro-sul do Pará. A hidrovia do Tapajós-Teles Pires pode ser considerada uma importante opção de implementação do comércio exterior, com sensíveis reflexos para geração de empregos e surgimento de novos empreendimentos. O rio Tapajós, afluente da margem direita do rio Amazonas, tem 851 km de extensão até a confluência dos rios Teles Pires e Juruena. Sua foz, junto à cidade de Santarém, está a cerca de 950 km de Belém e 750 km de Manaus. A hidrovia pode proporcionar inúmeros benefícios regionais e ser peça fundamental na consolidação do estado de Mato Grosso e parte do Centro-oeste como celeiros mundiais da produção de grãos, mas não se pode evitar danos ambientais decorrentes desta consolidação. Por isso, a hidrovia Tapajós-Teles Pires é hoje objeto de reflexão e de estudos por parte de Organismos Governamentais e Não-Governamentais e de meios empresariais, por conjugar uma perspectiva de desenvolvimento regional e do comércio exterior, com baixo custo, segurança e eficiência, mas em harmonia com a natureza. São inegáveis as vantagens ambientais do transporte hidroviário, quando comparado ao rodoviário ou ferroviário. Os estudos realizados demonstraram que o custo médio de transporte pela hidrovia Tapajós-Teles Pires, entre a região de cachoeira Rasteira, MT e Santarém, PA, é de cerca de R$ 10,20 / t, permitindo projetar uma economia acumulada no custo de transporte equivalente a R$ 158.755.000 nos primeiros 6 anos de operação da via. Considerando-se que a estimativa global de custos para tornar os rios Tapajós e Teles Pires navegáveis, da sua foz até a região de cachoeira Rasteira (1.043 km), é da ordem R$ 148.541.755,00 (set./1997), desta forma, a economia de fretes gerada será suficiente para pagar integralmente o custo de implantação da hidrovia neste período, o que atesta a viabilidade econômica do empreendimento. A análise dos custos de transporte a ser criado pela hidrovia e outras alternativas de saída para os grãos produzidos na área de influência mostrou que as economias são relevantes, UFRA / IDEFLOR 34 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará variando da ordem de R$ 5,00/t até R$ 37,00/t, conforme o município e as distâncias de transporte até os portos de embarque. A área de influência para grãos é cerca de 800.000 km², abrangendo 38 municípios do estado do Mato Grosso, além dos municípios paraenses de : Rurópolis, Uruará, Medicilândia, Altamira e os quatro municípios componentes do ED: Itaituba, Santarém, Juruti e Aveiro. Atualmente, a única rodovia que atinge o rio Tapajós é a BR-230 (Transamazônica), que cruza o curso d'água em Itaituba. De importância para a região, além da Transamazônica, há a rodovia BR-163 (Cuiabá - Santarém), em estado precário de tráfego no estado do Pará; e as rodovias de Mato Grosso, que cruzam a parte superior da bacia contribuinte do rio Tapajós, a montante da confluência dos seus formadores. Estas vias têm particular interesse porque direcionam à hidrovia as cargas provenientes da rica zona agrícola do norte do Mato Grosso e Centro - Oeste do País. Foto 15 - Aspecto atual da BR-163 (Santarém-Cuiabá) A recuperação e o acabamento das rodovias BR-163 (Santarém-Cuiabá) e BR-230 (Transamazônica) estão incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. O que se pensa para a região é um eixo de desenvolvimento do oeste paraense integrado pela Santarém/Cuiabá e pela Hidrovia do Tapajós, com utilização racional e integrada dos recursos hídricos, visando ao desenvolvimento sustentável, de baixo impacto ambiental, com o aproveitamento da inter e intramodalidade entre as rodovias BR- 163 e BR230 e a hidrovia, de modo a externalizar a produção agrícola para fronteiras nacionais e internacionais, e internalizar os efeitos positivos gerados pela exploração dos recursos minerais e hídricos do Estado, possibilitando a geração de oportunidades de investimento. UFRA / IDEFLOR 35 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 5 A ÁREA DE INFLUÊNCIA SOCIOAMBIENTAL (AI) A Àrea de Influência (AI), segundo a proposta da pesquisa socioambiental da região Mammuru-Arapiuns (Pará), é a àrea onde operam as interações sociais mais intensas entre as populações das comunidades tradicionais e a floresta. A AI é constituída de vilas e povoados que se distribuem ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, e às margens da estrada que partindo de Itaituba alcança as cabeceiras do rio Mamuru. Estima-se em torno de 80 comunidades, onde perfilam uma população estimada de 12.000 pessoas, objetos de uma pesquisa direta através de uma amostragem aleatória de 20 comunidades e 3078 habitantes, dos quais 365 moradores foram abordados quanto aos temas centrais da investigação: 1. estudo de comunidade; 2. produção familiar e uso da terra; 3. recursos florestais e 4. animais domésticos e silvestres. Trata-se, portanto, de uma pesquisa do tipo exploratória, empregando-se a técnica de diagnóstico rural rápido (DRR), obtendo-se os dados “in situ”, segundo a metodologia apresentada anteriormente e com base os referenciais teóricos da teoria dos sistemas socias e a teoria da dependência. Procurou-se, assim, perceber as relações e interações de natureza social, econômica, cultural e ambiental, tanto na dimensão interna (sistema social local) quanto na dimensão externa (sistema social mundial), com o propósito de se analisar a existência de relações de dependência presentes na AI. A Área de Influência é constituída de terras dos municipios de Aveiro, Juruti e Santarém e uma pequena fração do município de Óbidos. A superfície estimada da AI é de 312.244 hectaes, que se distribuem segundo os valores absolutos e relativos abaixo: Aveiro - 360.413 ha (27,47%) Juruti - 619.025 ha (47,17%) Santarém - 309.413 ha (23,57%) Óbidos - 23.454 ha ( 1,79%) Esta superfície está consolidada em cinco glebas: Curumucuri, Nova olinda, Nova Olinda II, Nova Olinda III e Mamuru (Figura 4). A Área de Influência (AI) evidencia na sua quase totalidade uma área de baixa antropização. Ligeiras manchas antrópicas são vistas ao longo dos cursos dos rios e dos eixos de penetração terrestre das estradas de acesso, como a Translago e a Itaituba - Alto rio Mamuru. Entretanto, é uma área que devido às suas imensas possibilidades de uso econômico dos recursos naturais - solo agricola, floresta e minérios - pode vir a sofrer uma forte pressão antrópica, atingindo diretamente as populações tradicionais, dificultando às mesmas o acesso UFRA / IDEFLOR 36 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará livre aos recursos naturais, e promovendo uma ampla desarticulação social e a consequente migração da população para os espaços urbanos do Entorno Dinâmico (ED). Uma conjunção de fatores: a consolidação da BR- 163, o polo mineral de Juruti, a expansão da frente granífera Mato Grosso-Pará e o Plano Anual de Outorga Florestal (Lei 11.284/06) podem ser tratados como os fatores mais fortes. Outros de menor força, porém relevantes, ainda podem ser considerados: a presença pouco perceptível do poder público estadual do Pará e a influência maior do estado do Amazonas no vale do rio Mamuru, principalmente no seu baixo curso. Essa conjunção de fatores, mesmo com a crise mundial, sugere que se olhe a AI sob tres perspectivas: quanto ao uso atual e potencial dos solos, quanto à exploração dos recursos florestais e quanto às possibilidades da expansão da economia mineral. Juntos ou isolados, esses fatores repercutirão na estrutura social das comunidades tradicionais, ultimando os elementos, processos e padrões sociais, inclusive demarcando o grau de dependência e de subordinação da AI ao Entorno Dinâmico. Figura 4 - Área dos municípois em relação a área total do conjunto de Glebas MamurúArapiuns. UFRA / IDEFLOR 37 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará São três os tipos de “ameaças” & “possiblidades” (A&P), cujos efeitos (e suas direções) vão depender de como o estado do Pará implemente medidas para o uso dos recursos naturais, mobilização e fortalecimento dos sistemas sociais comunitários. A primeira (A&P) deriva da aptidão dos solos para a produção intensiva de grãos. Segundo o ZEE (Figura 5), a classe de aptidão agrícola do Grupo 1 domina a paisagem da AI. São terras que apresentam aptidão boa para lavouras, com ênfase na produção intensiva de grãos, desde que operados com sistema de manejo compatíveis. Frações menores espelham uma aptidão que vai da classe de uso “boas a restritas” para pastagens, e ao que parece já são usadas assim; essas são terras classificadas como classe do Grupo 4, segundo o ZEE. Há ainda frações do território da AI que foram descritas como inadequadas para o uso agrícola e indicadas para conservação e preservação ambiental ou ecoturismo; são aquelas do Grupo 6 de aptidão agrícola. Figura 5 - Aptidão agrícola e uso das terras da área de influência da Rodovia BR-163. UFRA / IDEFLOR 38 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará O segundo fator de A&P provém da presença de matas e florestas (Figura 6). A cobertura florestal dominante do tipo “Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e Aluvial”, com dossel emergente e uniforme, disponibiliza à atividade madeireira e não-madeireira numa área de cerca de 1.026.875 hectares de floresta. Um manejo e uma finalidade inadequados desse recurso supõem consequências sociais desfavoráveis às comunidades tradicionais, inclusive danos ambientais sistêmicos e diretos nos solos, água e na fauna silvestre. Figura 6. Área de Influência (AI) - Cobertura vegetal e uso da terra do conjunto de Glebas MamuruArapiuns em relação a cada gleba. O terceiro fator de A&P (e mais importante) de ameaças e possibilidades diz respeito às trajetórias da economia mineral na AI. Segundo Jorge João (2008), pesquisador da CPRM Belém, Pará. “As reservas minerais do estado estão associadas ao seu arcabouço geológico em geral e especialmente pelos arranjos estruturais litológicos e estratigráficos [...], que por sua evolução foram especializados mineralogicamente e atualmente respresenta e edifica o portifólio de investimentos e de negócios do Para” (Figura 7). UFRA / IDEFLOR 39 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Ainda de acordo com o autor citado: “Nesse sentido, pode-se afirmar que os dados e os números do setor mineral paraense denunciam o talento mineral do estado e evidenciam uma economia dominante mineral [...]. A produção mineral paraense mostra historicamente uma performance sempre crescente com volumes anualmente ascendentes”. Figura 7. Área do conjunto de Glebas Mamuru Arapiuns em relação às áreas de títulos de direitos minerais no Pará2. ____________ 2 Os autores deste Relatório agradecem o apoio da CPRM e DNPM (Belém-PA), nas pessoas dos Dr. Manfredo Ximenes Pontes, Dr. Marcelo Lacerda Vasques, Dr. Raimundo Abraão Teixeira e Sr. Alexandre Dias Carvalho. UFRA / IDEFLOR 40 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tanto que pesquisadores da CPRM - Superintendência Regional de Belém, fazem referências às amplas possibilidades da bauxita, do ouro e do caulim, minérios estes que existem na AI e adjacências (Figura 7), onde mais de 100 áreas com processos de concessão minerária estão em andamento, cumprindo diferentes fases, conforme se pode avaliar a seguir. Informações colhidas junto ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPMBelém, Pará), referentes aos processos minerários em andamento (posição em dezembro, 2008), mostram um quadro sobre as ameaças & possibilidades decorrentes das atividades em economia mineral na Área de Influência (AI). Foram levantadas informações referentes ao tipo de produto, à finalidade do uso, à atual fase do processo minerário e ao responsável pela solicitação. Conforme se pode ver na Tabela 13, a bauxita, o ouro, os sais de potássio e o aluminio são os produtos minerais que respondem por 92% da centena de solicitações junto ao DNPM, com evidente supremacia para as solicitações referentes à bauxita, que sozinha responde por cerca de 37% dos requerimentos minerários. Quanto ao uso, a finalidade industrial é dominante, com cerca de 77% das indicações. Tabela 13 - Títulos minerários em dezembro de 2008 na Área de Influência (AI) da região do Mamuru-Arapiuns, no estado do Pará. Produto Bauxita Minério de ouro Sais de potássio Minério de alumínio Caulim Minério de manganês Minério de zinco Cascalho Total Uso Industrial Ourivesaria Metalurgia Não informada Construção civil Total Fase Requerimento de pesquisa Autorização de pesquisa Concessão de lavra Requerimento de registro de licença Total # 56 41 24 19 7 3 1 1 152 # 117 23 7 4 1 152 # 74 74 3 1 % 36,84 26,97 15,79 12,5 4,61 1,97 0,66 0,66 100 % 76,97 15,13 4,61 2,63 0,66 100 % 48,68 48,68 1,97 0,66 152 100 Fonte: DNPM, 2008. Elaboração da equipe do projeto UFRA/IDEFLOR UFRA / IDEFLOR 41 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Entretanto, apesar do que pode significar esses valores em termos da potencialidade mineral da AI, as concessões de lavra respondem apenas por 2% das fases percorridas até o final do processo, ou seja, a fase dos requerimentos de licença para exploração, a qual responde por apenas 0,66% do processo minerário. As fases mais frequentes são aquelas dos “Requerimentos” e das “Autorizações de pesquisa”, onde se encontram 97% dos processos minerários (Tabela 14). Tabela 14 - Títulos minerários no estado do Pará e percentuais correspondentes na Área de Influência (AI). 2008. Resumos das fases Quantidade Pará 4.664 2.880 198 11 7.753 Requerimento de Pesquisa Autorização de Pesquisa Concessão de Lavra Requerimento de Reg. de Extração Total AI/PA (%) 1,6 2,6 1,5 9,1 28% (N=27.560) Fonte: DNPM, 2008. Elaboração da equipe do projeto UFRA/IDEFLOR Vejamos agora quem se apresenta como responsável pelas solicitações: segundo os números da Tabela 15, a Cia. Vale do Rio Doce, a Falcon Metais Ltda, a Omnia Minérios S.A. e a Vtech Empreendimentos Minerais Ltda. respondem por 46,8% dos processos minerários da Área de Influência. Quase 66% dos requerimentos são oriundos de “pessoas jurídicas”, portanto empresas; apenas 34% são requerimentos atribuídos a “pessoas físicas”. Tabela 15 - Responsáveis pelos títulos minerários em dezembro de 2008 na Área de Influência (AI) da região do Mamuru-Arapiuns, no estado do Pará Responsável Companhia Vale do Rio Doce Falcon Metais Ltda. Omnia Minérios S. A. Vtech Empreendimentos Minerais Ltda. Lindamar Augusto Rezende Aquarios Serviços Ltda. José Valderi de Oliveira Matapu Sociedade de Mineração Ltda. TPI Molplastic Ltda. Noesio Peres da Costa Francisco de Paula da Silva Sebastião Paulo de Morais Amarillo Mineração do Brasil Ltda. Pedro Tavares e Silva André de Araújo Ferreira Divani Aguiar de Lima Edson dos Santos Rocha Prefeitura Municipal de Juruti Total # 27 19 12 12 12 9 8 8 8 8 7 6 5 4 3 2 1 1 152 % 17,76 12,5 7,89 7,89 7,89 5,92 5,26 5,26 5,26 5,26 4,61 3,95 3,29 2,63 1,97 1,32 0,66 0,66 100 Fonte: DNPM, 2008. Elaboração da equipe do projeto UFRA/IDEFLOR UFRA / IDEFLOR 42 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Finalmente, é importante mencionar que a AI estará sobre forte influência dos fatores de ameaça e possibilidade proporcionada pelos rumos da economia mineral. Conforme os números apresentados na Tabela 16, a menor área requerida para trabalho é de cerca de 884 hectares, e a maior conta com 10.000 hectares. A superfície média dos requerimentos minerários é da ordem de 9.000 hectares. A área total assumida pelos processos minerários é da ordem de 1.370.035 hectares, ou seja, uma superfície de igual expressão à área da AI. Tabela 16 - Superfície dos títulos minerários em andamento na Área de Influência (AI) da região do Mamuru-Arapiuns, no estado do Pará Área (ha) Menor Maior Média Total 884 10.000 9.013 1.370.035 Fonte: DNPM, 2008. Elaboração da equipe do projeto UFRA/IDEFLOR Comparativamente a Área de Influência responde por cerca de 28% dos títulos minerários do estado do Pará (Tabela 14), valor que não pode ser omitido pelo Estado na formulação das políticas públicas para a região, inclusive o PAOF. Convém lembrar que: “O estado do Pará é o maior produtor de bauxita (matéria prima do alumínio) do país [...]. E o 3° produtor mundial [...] e evolui celeremente para ocupar uma posição de topo no ranking internacional [...] Como futuro projeto bauxifero, destacamos o Projeto Juruti, localizado no município do mesmo nome, na porção noroeste do estado, a ser desenvolvido pela Alcoa/Omnia [...]” O projeto terá vida útil mínima de 45 anos. O modelo de extração do minério do solo a ser adotado será o de “extração em faixas”, adequado ao ecossistema amazônico. 5.1 AMAZÔNIA RURAL CONTEMPORÂNEA: PERSISTÊNCIA E MUDANÇAS NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MAMURU-ARAPIUNS 5.1.1 Introdução ao estudo A definição de “povos e comunidades tradicionais”, segundo o que considera o governo do estado do Pará (ver decreto nº 6040 de 07.02.2007), serviu como eixo norteador dos estudos de comunidades realizados pelo Projeto Mamuru-Arapiuns, do IDEFLOR/UFRA. Na definição acima pontuada, surgem as noções de: organização social, ocupação e uso do território e recursos naturais; reprodução social, cultural, religiosa e econômica daquelas populações; uso dos conhecimentos tradicionais, não apenas para inovar o dia-a-dia, UFRA / IDEFLOR 43 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará mas também como serventia prática. Um conjunto de elementos que prescrevem o modo de vida de seus habitantes, fixando as condutas, as formas de solidariedade e as associações interpessoais. São esses estilos próprios e os meios que os determinam que se deseja preservar, não ocultando ou desconsiderando, mas tornando o estado o fiador e legitimador dos direitos ancestrais que possuem as comunidades tradicionais sobre a terra e o seu uso. Foto 16 - Utilização de fibras vegetais na comunidade Camará/rio Arapiuns 5.1.2 Objetivo do estudo O estudo tem o objetivo central de, à luz da Teoria dos Sistemas Sociais, conhecer as relações entre a comunidade e os recursos naturais do seu entorno, assim como as estruturas e os processos sociais que determinam e/ou são determinados pelas dimensões sociais, econômicas, ambientais, culturais e políticas existentes. Interpretados, os resultados podem ser considerados nos programas, projetos e atividades do IDEFLOR com vistas a dois propósitos: o de subsidiar o Relatório Ambiental Preliminar (RAP) e os procedimentos às concessões florestais na região. 5.1.3 Fundamentos teóricos e metodológicos do estudo A literatura sobre o tema dos estudos de comunidade é vasta e com uma variação conceitual enorme. O termo “comunidade” pode se referir às vilas e povoados das regiões agrárias, como pode se referir ao subúrbio de uma grande cidade, ou ainda a um grupo minoritário, como por exemplo, as comunidades quilombolas. Embora aceita a definição de comunidade tradicional dada pelo governo do estado, mesmo assim buscou-se fundamentá-la UFRA / IDEFLOR 44 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará teoricamente com o propósito de “legitimação sociológica”, já que a mesma contém componentes presentes ao conceito de comunidade que serve às pesquisas com o emprego da teoria dos sistemas sociais. Assim, podemos encontrar naquela definição a função do território, dos recursos naturais e dos grupos e da organização social, importantes dimensões quando se deseja estudar as relações sociológicas entre a comunidade e o uso dos recursos naturais, conforme escreve Koenig (1988), que oferece um conceito de comunidade como “um grupo de pessoas que ocupam um território definido com o qual se identificam, e em que há um determinado grau de solidariedade”. Nesse conceito, existem três elementos fundamentais ao emprego da análise das relações entre a comunidade e o uso dos recursos naturais: os grupos sociais; o território definido onde se circunscreve a presença de um determinado recurso natura;l e a interação social, produto da estrutura e da organização da comunidade. Quanto ao método de pesquisa, os estudos de comunidades como uma especialidade da sociologia, não devem ser conduzidos como se elas fossem unidades isoladas, ao contrário, devem-se considerar todas as relações possíveis, empíricas e verificáveis. Em se tratando de juntar a Teoria dos Sistemas Sociais com a Teoria das Comunidades - aqui consideradas como Geimeinschaft, segundo Tonnies (1947) - a perspectiva ecológica (the ecological approach) apresentada por Amos Hawley (1950), em seu livro Human Ecology: A Theory of Community Structure, pode ser considerada. O aspecto distinto no método enfatizado pela vertente ecológica (ou neo-ecológica?) dos estudos de comunidades está na ênfase dos impactos da organização social e não apenas na localização física da comunidade. Os estágios de vida da comunidade, fruto da história natural da mesma, e as interações, produtos das residências comuns, são, entre outras, partes do enfoque ecológico no estudo de comunidades. Foto 17 - Comunidade Vila Sabina/rio Mamuru UFRA / IDEFLOR 45 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Na coleta dos dados junto às comunidades, foram utilizados questionários estruturados, elaborados segundo as teorias usadas com o suporte ao estudo. Os mesmos foram aplicados por entrevistadores recrutados entre o alunado da UFRA-Tapajós, FIT, ULBRA-Santarém e o INEA. Todos eles foram submetidos a um treinamento intensivo, em Santarém, na sede do INEA, para lhes tornar familiar os objetivos do trabalho; os fundamentos teóricos e metodológicos do estudo, inclusive dos critérios adotados nos procedimentos amostrais; o domínio do próprio questionário em si e esclarecimentos sobre possíveis fatos aleatórios que pudessem surgir nas relações sujeito-objeto quando das entrevistas. Fotos 18 e 19 - Prof. Manoel Tourinho, coordenador geral da Pesquisa, durante o treinamento das equipes de campo dos três eixos: ARA, ITA e MAM, realizado em Santarém, em instalações cedidas pelo INEA. As equipes de campo foram organizadas com um líder (“Capitão do Mato”) e três seguidores. Os líderes, todos profissionais em ciências naturais e educação, com larga experiência em trabalhos similares na região do estuário do rio Amazonas e na bacia do rio Tapajós. As equipes, em número de três, foram orientadas para os eixos de estudos selecionados, segundo critérios geográficos, socioambiental e cultural, tais como: eixos de antropização na área de estudo e diferenciação social, ou seja, comunidades maiores e comunidades de referência. As entrevistas foram conduzidas por temas: comunidades; uso da terra e unidade de produção familiar; recursos florestais; animais zootécnicos e silvestres. Foram visitadas 20 comunidades escolhidas segundo os critérios mencionados, distribuídas nas seguintes regiões: Eixo rio Arapiuns - Translago (ARA) - 8 comunidades. Eixo Baixo e Médio Mamuru (MAM) - 8 comunidades. Eixo Itaituba - Alto Mamuru (ITA) - 4 comunidades. UFRA / IDEFLOR 46 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Todas elas foram georreferenciadas com GPS, e a partir de informações fornecidas pelos moradores quanto às direções e distâncias, seguidas e percorridas, para coleta dos produtos da terra e da floresta, caça e pesca, estabeleceu-se uma superfície aproximada das mesmas, assim com forte validação cultural, uma vez que foram determinadas a partir do “saber camponês” e do uso da terra pela comunidade. Para o propósito de análise e interpretação, agrupou-se os dados segundo as dimensões: o habitat, a população, a organização social e política, os serviços (básicos) públicos disponíveis e o meio ambiente. Os dados foram processados no Excel e apresentados em Tabelas com os percentuais numéricos, mostrando as tendências de cada uma das dimensões e variáveis estudadas. Analisados segundo aqueles 5 temas, tratou-se de comparar os 3 eixos da geografia da antropização considerados no estudo, ou seja, ARA, MAM e ITA, ressaltando no relatório a ocorrência de fatos e fenômenos sociológicos, a nível específico de alguma comunidade que servissem para se fazer uma diferenciação entre as regiões e comunidades 5.1.4 Resultados oferecidos 5.1.4.1 O território ou o “habitat” das comunidades Segundo a Teoria dos Sistemas Sociais, território, tamanho e tempo se juntam para estabelecer a base ecológica das relações sociais Homem-Natureza-Homem, “O Homem está na Natureza e a Natureza está no Homem”, Essas três dimensões são parâmetros que se refletem nos processos sociais. Geografia, Tempo e Lugar determinam as interações no sistema social, tanto nas interações internas como nas externas ao sistema local. No território como “habitat” são considerados tanto o ambiente físico quanto o social; tanto o ambiente geográfico quanto o cultural. No caso em tela, os que são estudados sobre o tópico de Habitat são certos fatores presentes no meio que podem determinar tipos de relações sociais, uma vez que essas relações são mais que o relacionamento entre pessoas, mas sim combinações determinadas num tempo e num espaço. O acesso às comunidades; o ano de fundação das mesmas e, portanto, a sua história natural; a causa da motivação dos fundadores; os seus limites territoriais e os materiais empregados na edificação das residências são, entre tantos outros fatores, os considerados para uma primeira aproximação do tópico. Conforme se pode ver na Tabela 17 sobre as condições de acesso, as comunidades estudadas são fluviais: 75% delas declararam o acesso pelo rio; entretanto no MAM, para todas elas, o rio é a única via de acesso; enquanto que as do eixo ITA possuem como acesso a UFRA / IDEFLOR 47 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará via terrestre, em sua maioria. Se considerarmos os rios como corredores naturais de conexão social, isso significa uma função que liga os sistemas sociais comunitários com outros sistemas fora da comunidade. As distâncias e o tempo das viagens apresentam uma grande variação, e os informantes foram mais seguros em falar do tempo da viagem do que na distância percorrida. Assim, 12 comunitários indicaram as distâncias para suas Sedes municipais, enquanto 18 comunitários informaram sobre o tempo de viagem. As distâncias mencionadas variaram entre 48 km e 210 km, e a viagem entre 2 horas e 12 horas, tempo usado para chegar às cidades-sedes. Tabela 17 - Comunidades: acesso, ano de fundação, origem, distâncias da sede e tempo de viagem. Região Comunidade Cachoeira Aruã Câmara Curi Monte Sião ARA Novo Horizonte Novo Paraíso São José II São Luiz Total Fofoca Monte Verde ITA Nova Fronteira Pantanal Areia Total Guaranatuba Jaratuba Marinzal Mocambo MAM Monte Carmelo N.Sª Lourdes Sabina Sumaúma Total Total Geral Rio Acesso Terrestre 1 1 1 1 1 1 1 6 / 75% 1 1 / 25% 1 1 1 1 1 1 1 1 8 / 100% 15 / 75% 1 2 / 25% 1 1 1 3 / 75% Ano de fundação Motivo/origem Distância da sede (km) Tempo de viagem (h) 1901 1975 1955 1953 1998 1996 1985 1999 Grupo Bandeirantes Religioso Construção da Capela Religioso Fund. Escola Organiz.da Comunidade Fund. Escola Busca de Serv. Gov. 150 0 0 0 0 210 0 0 11 8 8 10 12 11 12 12 2004 1990 2000 0 0 Apoio Org. da Associação 0 100 0 48 0 6 0 2 0 1968 1970 1991 1965 1975 2004 1966 1965 Guarananzal Jarazeiro Árvores de Amiri Destilaria nas proximidades Comum.evang./Bíblia Sagr. Mudança da Sede Antiga Maradora Doação/Sumaumeira 123,2 94,3 175,57 80 151,08 112,1 65 95,1 10 8 12 7 11 9 5 8 0 / 0% 5 / 25% Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. As comunidades do Mamuru-Arapiuns são recentes. As mais antigas perfilam no rio Arapiuns: Cachoeira do Aruã foi fundada no início do século passado (1901), Monte Sião e Curi datam dos anos 50 (1953 e 1955). A Cachoeira é uma comunidade secular, tem agora 107 anos. O Monte e o Curi são cinquentenárias. Por certo que nessas comunidades, face ao tempo das suas existências, é mais provável que se apresente um sistema social local, UFRA / IDEFLOR 48 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará sociologicamente mais estruturado. Tempo e lugar geograficamente definidos servem para definir um conjunto de relações sociais maduras e estáveis. Igreja e Escola foram mencionadas como os fatores mais presentes na origem das comunidades no Arapiuns. Ambas, religião e educação, igreja e escola, pontuam bastante como subsistemas socais que influenciam nos processos sociais de uma comunidade e também sobre outros subsistemas, como o familiar, por exemplo. Contrastando, as comunidades do eixo ITA são recentes: uma delas - Monte Verde fundada nos 90, e duas outras são do presente século (anos de 2000 e 2004), provavelmente com estruturas sociais imaturas. São comunidades originadas como consequência do incremento da urbanização, industrialização e da burocratização (poder), com efeitos sobre a ocupação da terra. Tanto que nenhuma denominação das comunidades se refere a qualquer nome que se ligue à cultura material (nome de uma espécie florestal, como Samaueira, por exemplo) ou espiritual (comunidades denominadas com nomes bíblicos, como Monte Sião). São comunidades marcadas por questões políticas, como as grilagens da terra e o conflito social. Para as comunidades tipicamente ribeirinhas do rio Mamuru, as fundações são dos anos 60 - tempo da Belém-Brasília - quando se deu início, com a construção de Brasília, aos planos de integração da Amazônia, com a criação da SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia). Duas delas foram fundadas no tempo do regime militar (1970,1975) e uma já foi fundada nos tempo do atual século, em 2000. Na comunidade Mamuru, as origens estão mais ligadas à exploração florestal, e as denominações locais revelam essa identidade: Samaumeira, Guaranazal, Jarazeiro, Amiri etc. O material usado na construção das casas residenciais na comunidade reflete disponibilidade e uso dos recursos naturais. O ambiente natural e o domínio deste pelas populações tradicionais é visto com uma vantagem frente ao morador urbano que coexiste com o seu ambiente, sem, contudo, dominá-lo. O enfoque da Ecologia Humana, de Amos Hawley (1986), vê formas de reprodução social surgindo do meio ambiente que podem ocorrer em função das adaptações culturais do homem ao seu território ou habitat. As edificações de casas e palácios, e os materiais empregados são manifestações culturais. Por outro lado, os relacionamentos da população com os recursos naturais e o seu uso demandam certas tecnologias que prescrevem relações sociais específicas. “Mutirões”, “Putirões” e outras formas coletivas e solidárias de trabalho são manifestações da integração entre os recursos existentes, o conhecimento (tecnologia) dominado e o grupo social. UFRA / IDEFLOR 49 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Foto 20 - Casa com telhado e paredes de palha, Comunidade Sumaúma, região do rio Mamuru. Na Tabela 18 a seguir, percebe-se uma forte relação entre os materiais usados nas construções e a natureza. O barro, a madeira e a palha foram os materiais mais anotados pelos pesquisadores, porém diferenciados segundo as comunidades estudadas. As paredes das residências, ainda, são erguidas com uso de madeira em 68,9% das construções das residências; seguida da palha, que aparece com 18,5% de uso. Logo, são recursos naturais usados em 87,4% das residências. Esses dois materiais são largamente empregados nas comunidades tradicionais e ribeirinhas do Mamuru e do Arapiuns (97,5% e 90,2%, respectivamente). Tabela 18 - Material de construção das residências da área de estudo ARA, ITA e MAM. Material de Construção ARA ITA MAM Total Geral 87,5 2,5 10 0,4 2,6 68,9 9,4 18,5 30 1,2 61,2 7,5 28 6,7 60,2 3,9 6,2 70,6 23,1 0,2 10 36,6 52,5 Paredes (%) Alvenaria Barro Madeira Mista Palha 1 58,7 8,7 31,5 16,6 46,6 30 6,6 Cobertura (%) Brasilit 27,1 25 Cavaco 41,6 Lage Palha 71,1 33,3 Telha de barro 1,7 Piso (%) Cerâmica 0,5 Cimento 16,8 5 Madeira 16,5 Terra batida 66,1 95 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR 50 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará No MAM, onde o uso da floresta parece ser mais presente na vida comunitária, é bem maior o emprego da madeira, e menor o uso da palha, o que faz sentido pela ocorrência da primeira e maior resistência às intempéries. Nas comunidades do eixo ITA, as formas mistas (30%) e o emprego do barro (16,6%) parecem substituir a madeira. Quanto à Zona de grilagem (e agrícola?), a madeira é usada em menor proporção, apenas 47%. O material usado para levantar as paredes das residências dos comunas, se diferencia também dentro de uma mesma região. Há comunidades ribeirinhas do ARA que o uso da madeira predomina em 90% das residências, como pode ser o caso de Cachoeira do Aruã; e em outras, como pode ser o caso de Novo Paraíso, esse uso baixa a 15% apenas. Modernidade ou falta do recurso? No MAM, há comunidades cujas paredes são edificadas 100% com madeira, como se apresentam em Jaratuba, Nª. Sª. de Lourdes e a Sabina. O material usado para cobertura das residências segue a mesma tendência de uso de materiais provenientes da natureza, empregados para erguer paredes: são telhas de barro, cavaco (1) e a palha que alcançam a expressão percentual de 70,8% do uso para fazer o teto das residências. A palha, que perfaz um total de uso da ordem de 60,2%, tem sua maior expressão como material de cobertura nas comunidades dos rios: mais de 60% das residências foram verificadas como empregando palha. O cavaco perfila com apenas 6,75% do total e tem, entre as comunidades do eixo ITA, sua maior participação: 41,6% das residências recorrem a esse tipo de produto da floresta, enquanto que o uso do cavaco, pelas comunidades tradicionais do MAM, ocorre em apenas 1,3% das residências, e nas do ARA é zero. As telhas de barro são empregadas em apenas 3,8% das residências, e no ARA aparecem em quase 2% das coberturas, enquanto no MAM aparecem em 7,5% das coberturas. Merece uma nota o emprego de “Telhas Brasilit” (de fibras de Amianto?), que ocorre em 28% das residências, com de percentuais elevados em todas as comunidades, inclusive as duas ribeirinhas apresentam uso mais elevados (no MAM alcança 30%) que as continentais do eixo ITA. Nenhuma cobertura com lage de cimento-concreto foi anotada. Os pisos das residências são feitos em sua maioria de terra batida (52,5%) e madeira (36,8%), e as comunidades também se diferenciam quanto aos materiais empregados: no ARA existem mais pisos de terra batida (66,1%) que no MAM (23%), entretanto ambas as regiões, são superadas pelas proporções encontradas nas residências do eixo ITA (95%). A madeira como material empregado em pisos é usada em 70% das residências do MAM e em 17% do ARA. Não foi revelado o emprego de madeira para fazer o piso das residências do ITA. O cimento e a cerâmica são materiais empregados, porém em pequenas proporções UFRA / IDEFLOR 51 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará totais. O cimento chega a 10% das residências, enquanto a cerâmica não alcança 1% do total. Entretanto, merece ser mencionado que o cimento tem emprego destacado nas comunidades do ARA, onde a maior proporção (40%) de residências com piso de cimento ocorre no Curi. 5.1.4.2 A população Os habitantes de uma região são atores importantes quando se trata dos sistemas sociais. O tamanho da população, a sua composição etária, a sua origem, o nível educacional, o tempo presente na comunidade, a sua renda são, entre outras, variáveis que condicionam as interações sociais e favorecem o surgimento de grupos de interesses. Uma característica do sistema social local é ser favorecida com mais chances de atores sociais que se habilitam ao exercício de múltiplos papéis e funções na comunidade. A presença ou ausência de certas instituições na comunidade, como a religião e a educação, produzem diferenças críticas no tipo do sistema social local. São cerca de 3.070 pessoas que vivem nas comunidades estudadas. Em relação aos habitantes do Entorno Dinâmico, representam 0,75% da população total; 0,84% dos moradores urbanos e 2,2% da população recenseada como rural. Distribuídas em classes por tamanho, as comunidades estudadas se distribuem conforme os dados apresentados na Tabela 19 a seguir: Tabela 19 - População, gênero e grupo etário na área de estudo ARA, ITA e MAM. Grupo de população ARA ITA – 50 (Méd.=43hab) 1 1 51 – 100 (Méd.=72hab) 2 1 101 – 200 (Méd.=135hab) 3 201 – 300 (Méd.=243hab) 1 301 – 400 (Méd.=400hab) 2 + 400 hab. Total 8 2 Pirâmide Etária PopulaçãoTotal (Nºhab.) 1585 127 Homens (%) 25,6 24,4 Mulheres (%) 26,9 23,6 Crianças (%) 36,0 49,6 Adultos (%) 52,5 48,0 Idosos (%) 11,4 2,4 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Regiões MAM 1 2 2 2 1 8 1356 25,8 23,8 46,6 49,6 3,2 Total Geral 3 5 5 3 2 1 18 3068 25,7 25,4 41,3 51,0 7,4 As classes de maior frequência, com 5 comunidades, são aquelas entre 101 e 200 habitantes, como a localizada nos rios Arapiuns (com 3 comunidades) e Mamuru (com duas). A média de habitantes nessa classe é de 135 pessoas por comunidade. UFRA / IDEFLOR 52 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A classe entre 51 e 100 habitantes também possui 5 comunidades, sendo 2 para o Arapiuns, 1 para o eixo ITA e 2 localizadas no rio Mamuru. Nessa classe, a população média por comunidade é da ordem de 72 moradores. Com moradores no intervalo de 201 - 300, mostram-se 3 comunidades ribeirinhas no Arapiuns (1) e no Mamuru (2), onde a média é de 243 moradores. Na classe de 301 a 400 habitantes, existem 2 comunidades, cuja média foi da ordem de 400 pessoas; ambas no rio Arapiuns, e estão entre as mais antigas. Acima de 400 habitantes, há uma comunidade, a do Mocambo, no rio Mamuru. Opondo-se ao Mocambo, são as comunidades cujas populações estão abaixo de 50 moradores, com média de 37,5 habitantes, em número de 2 e distribuídas uma no eixo ITA e uma no MAM. É conveniente mencionar que no eixo ITA, talvez por ser uma área de perturbação social e política, apenas duas comunidades souberam informar acerca de suas populações, sendo uma delas o menor grupamento humano do estudo, com apenas 33 pessoas. Foto 21 - Comunidade Camará, rio Arapiuns. A pirâmide etária da população estudada nessas 20 comunidades apresenta um perfil próprio e muito especial, conforme apresentado na Tabela 19. As comunidades do ARA detêm 52% da população estudada; as do MAM cerca de 44% e as do eixo ITA apenas 4%. As distribuições, segundo os grupos de idade, mostram percentuais que não discrepam acentuadamente entre as regiões, onde se nota uma maior participação (51%) do grupo adulto - 16 a 60 anos - grupo que se integra a PEA comunitária como força de trabalho e constitui a base da pirâmide etária. O segundo maior grupo de idade (15 anos) fica com as crianças: 41,3% da distribuição etária total, sendo que nesse grupo já se percebe uma pequena diferenciação entre as regiões e as comunidades; nas comunidades do ITA, aproxima-se de UFRA / IDEFLOR 53 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 50%; nas do ARA, o grupo de crianças chega a 36% apenas; e no MAM, eleva-se para 47% aproximadamente. São as crianças, portanto, as que formam a segunda maior faixa etária da pirâmide populacional. O oposto, ápice da pirâmide, é composto de uma faixa formada pelas pessoas com idade superior a 60 anos, o que representa 7,4% da população, com variação entre as regiões, sendo a presença dos idosos mais acentuada entre as comunidades do ARA, com cerca de 10% de grupo etário. O grupo etário mais jovem tem participação destacada, superior a 60%, na comunidade do Novo Horizonte, no ARA; os adultos da força de trabalho participam com quase 64% no Monte Sião (ARA) e 66% na Sabina (MAM). O grupo idoso tem a sua participação relativa acentuada na comunidade do Curi - 25% - no ARA. Quanto à divisão por gênero, homens e mulheres se distribuem de modo quase paritário. Para o total da população estudada, a masculina participa com 25,7%, e a feminina com 25,4%. As ocorrências entre as regiões, para ambos os sexos, não evidenciam diferenças marcantes, segundo se pode ler nos números levantados pela pesquisa. Os resultados vão na contramão das tendências manifestadas nos estudos demográficos mais apurados, ao se encontrar uma população equilibrada entre homens e mulheres, uma predominância maior dos adultos e uma menor fração de idosos, fatos interessantes, em se tratando de comunidade do tipo Gemeinschaft, sujeita às atrações polares do sistema urbano-moderno. Essa população de 3.068 humanos tem os seus “polos urbanos”, onde buscam serviços e outros equipamentos urbanos: as comunidades do ARA são todas orientadas para Santarém; apenas o Novo Paraíso se vocaciona para o urbano de Juruti; as que formam o eixo ITA buscam na cidade de Itaituba os serviços que precisam, e as do MAM são todas orientadas para as soluções apresentadas e propostas em Parintins, no estado do Amazonas. Para esses três centros urbanos se verificam as frequências de viagens dos comunas da Área de Influência do estudo. Deve-se mencionar que os subsistemas sociais presentes na comunidade, como parte do sistema “comunal” social maior, podem ser parte ou estar conectados com outros sistemas que operam fora do local, e essas conexões se expressam através dos papéis e ações conduzidas pelo atores sociais, alguns exercendo papéis múltiplos, devido aos interlocks organizacionais. 5.1.4.3 A comunidade e o seu meio ambiente MacIver (apud Koenig, 1988) define comunidade como um território no qual se vive. Stein (apud Koenig, 1988), por outro lado, define comunidade com um sistema organizado que mantém determinadas relações com o seu meio ambiente, o qual apesar de ter uma base UFRA / IDEFLOR 54 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará local, não apresenta limites rígidos. É preciso também levar em conta o que propõe David Drew (1989) sobre as relações entre os recursos naturais (água, solo, flora e fauna), a comunidade e a tecnologia produto dessas relações. Outro aspecto que integra a teoria dos sistemas sociais é o papel das decisões tomadas pela comunidade quanto ao uso dos recursos naturais com o emprego de tecnologias. O conhecimento que a comunidade detém do seu entorno geográfico é muito importante para se tomar decisões e acertar os papéis dos atores sociais e de suas organizações complexas e instituições culturais. Na Tabela 20, observamos quando foram indagados se o meio ambiente estava mudando, 95% dos entrevistados responderam que SIM, o ambiente estava mudando. Tabela 20 - Percepção dos impactos ambientais e efeitos na comunidade, e problemas que têm origem na questão ambiental no eixos ARA, ITA e MAM. Descrição / (%) Ambiente está mudando? Essa mudança afeta a vida e trabalho na comunidade? ARA ITA MAM Total Geral Sim Não 95 5 Sim 87,5 Não 12,5 Sim 100 Não - Sim 100 Não - 25 75 100 - 100 - 70 30 Problemas com origem na questão ambiental Doenças Contagiosas - 100 - 100 - 100 - 100 Doenças Infecciosas - 100 - 100 12,5 87,5 5 95 Doenças Respiratórias 100 - 25 75 - 100 45 55 Doenças de Pele 12,5 87,5 25 75 75 25 40 60 - 100 - 100 12,5 87,5 5 95 Água suja 37,5 62,5 75 25 62,5 37,5 55 45 Nascente secando 12,5 87,5 - 100 - 100 5 95 - 100 - 100 - 100 - 100 Escassez de pesca 87,5 12,5 25 75 62,5 37,5 65 35 Escassez de caça 75 25 75 25 100 - 85 15 Água poluída Falta de chuvas Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Quando perguntados se as mudanças estavam afetando a vida e o trabalho na comunidade, 70% dos entrevistados responderam que SIM. Portanto, entre eles, os que apontaram as informações sobre a comunidade, afirmaram que há mudanças ambientais presentes e que estas afetam a vida e o trabalho. Entretanto, quando se busca verificar as respostas nas regiões para diferenciá-las, nas comunidades do ARA, existem 7 delas que apesar de reconhecer que o ambiente está mudando, para 6 delas, essas mudanças não estão afetando a comunidade. Mas por outro lado, todas as comunidades entrevistadas no eixo ITA UFRA / IDEFLOR 55 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará e no MAM foram unânimes em afirmar sobre a mudança (100%) e sobre o efeito (100%) na vida comunitária. A partir da percepção manifesta, indagou-se sobre “problemas” que poderiam estar ocorrendo na comunidade e cuja origem se reporta à questão ambiental. Problemas manifestos com respeito à saúde, como a presença de doenças; à água, quanto à sua quantidade e qualidade como recurso básico à vida comunitária; e à quantidade de caça e pesca como fontes de alimentos presentes na cultura tradicional. Os resultados nos apontam para onde vai a percepção dos moradores das comunidades tradicionais do estudo. Quanto à saúde, existe, para eles, uma relação percebida entre as doenças respiratórias e epidérmicas e a questão ambiental. Segundo o estudo, é de opinião unânime, para os ribeirinhos do Arapiuns (100%), que as doenças respiratórias têm origem ambiental, o que também faz parte da opinião de uma parcela daqueles que vivem no eixo ITA. Teriam como causa as queimadas? Mas parecem ser as doenças da pele aquelas doenças que melhor interpretam para eles a origem ambiental do problema, pois todas as regiões, mesmo com variações percentuais(que foram de 12% até 75%), ligaram essas doenças ao meio ambiente, sendo que o crescimento foi desde 12,5% no ARA, passou para 25% no eixo ITA, chegando a 75% entre as comunidades do MAM. E quanto à água? Não parece existir percepção quanto a agentes químicos poluindo as águas nas regiões estudadas: apenas uma comunidade no MAM apontou este fato. Mas os igarapés e rios como fonte de suprimento são vistos como “sujos” por 55% do total de entrevistados, com uma variação relativa que indica a existência desse problema e dessa relação com o meio ambiente: 37%, segundo as comunidades do ARA; 75%, as do eixo ITA; e 62% , segundo aquelas comunidades do MAM. Pode-se dizer que “nascente secando” ou “falta de chuva” não são indicadas como problemas, para 95% e 100% dos respondentes, respectivamente. Mas o problema mesmo que os leva diretamente à questão ambiental diz respeito à escassez da caça e do peixe. Agora o que sabem os moradores sobre o que está acontecendo nos arredores e vizinhanças? Quais as informações que eles possuem? Analisando os números apresentados na Tabela 21, pode-se contabilizar as informações dos comunas sobre atividades perturbadoras do meio ambiente e da natureza. Sobre a ocorrência de desmatamentos, 45% dos entrevistados confirmam, sendo maior a frequência entre as comunidades dos eixos ITA e MAM; quanto à existência de área já desmatada, 90% dos informantes confirmaram tal existência, sendo que todos os informantes UFRA / IDEFLOR 56 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará do Eixo II responderam afirmativamente. Já com relação à questão do desmatamento ocorrendo em matas ciliares, para a maioria (75%), não há desmatamento nesse importante tipo de vegetação circundante das nascentes, rios e igarapé. Mas foi notória a inexistência de respostas afirmativas entre as comunidades do ARA, pois 100% considerou que por lá não se derruba a mata ciliar. Tabela 21 - Ocorrência de desmatamentos, queimadas, poluição, uso e ocupação do solo na área de estudo dos eixos ARA, ITA e MAM. ARA ITA Sim Não Sim Não Desmatamento ocorrendo 37,5 62,5 50 50 Área já desmatada 87,5 12,5 100 Desmatamento em mata ciliar 100 25 75 Presença de madeireira na área 100 100 Presença de equip. explor. mad. 100 100 Área queimando 62,5 37,5 100 Área já queimada 100 100 Clareiras na mata 100 50 50 Presença de mineradora na área 100 25 75 Extração de areia, barro e seixo 100 100 Presença de poluentes 12,5 87,5 100 Ocorrência de enchente na área 12,5 87,5 100 Mortandade de animais 100 50 50 Ocupação em terra indígena 100 100 Presença de assentamento 12,5 87,5 25 75 Grilagem de terra 100 100 Campo de pouso 100 50 50 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Descrição / (%) MAM Sim Não 50 50 87,5 12,5 50 50 62,5 37,5 12,5 87,5 100 87,5 12,5 62,5 37,5 100 100 100 100 100 100 100 12,5 87,5 25 75 Total Geral Sim Não 45 55 90 10 25 75 25 75 5 95 25 75 95 5 35 65 5 95 100 5 95 25 75 10 90 100 10 90 5 95 15 85 E sobre a presença de madeireiras na área das comunidades? Para 75%, não existe essa presença; mas verificada essa questão nas regiões do estudo, houve unanimidade (100%) entre os informantes do ARA e do eixo ITA negando tal existência, enquanto que no MAM 62% das comunidades reconhecem a presença de firmas madeireiras na área, mas apenas 12% afirmaram sobre a presença de equipamentos de exploração madeireira., Quanto à existência de áreas queimando, para 75% do total dos entrevistados, não havia área sendo queimada na ocasião, exceção para as comunidades do ARA, onde, para 62%, havia sim área queimando. E áreas já queimadas? Houve 95% de afirmação sobre áreas já queimadas. Quanto à existência de “clareiras na mata” que identificam prospecção para exploração madeireira ou garimpeira, no ARA negou-se (100%) a existência de clareiras; entretanto esses percentuais diminuem no eixo ITA, onde 50% afirmam existir, e no MAM, onde alcança 62%. No total, a presença de clareiras na mata teve a sua existência desconhecida por 65% das comunidades investigadas. UFRA / IDEFLOR 57 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Quanto ao uso da terra com atividades que podem comprometer a qualidade ambiental, procurou-se saber da existência de atividades minerais e uso de poluentes químicos no solo. Para 95% das comunidades estudadas, não existe presença de mineradoras e para 100% das comunidades estudadas, não existe presença de extratores de areia, barro e seixos. A presença de mineradoras foi mencionada em apenas uma comunidade (25%) do eixo ITA. A existência de areais, barreiros e pedreiras é negada em todas as três regiões estudadas. A existência de poluentes também é negada por 95% das comunidades; apenas no ARA mencionou-se os resíduos de madeira como poluidores do rio. Com relação a evidências naturais que podem ser atribuídas às alterações ambientais, como ocorrência de enchentes e mortandade de animais, algumas comunidades admitem a ocorrência desses indicadores. Assim, as enchentes são referidas por 25% do total, mas com 100% de indicação no eixo ITA e 12% na região do ARA. Quanto à mortandade de animais, duas comunidades do eixo ITA negaram, ou seja, para 90%, não ocorre mortandade de animais em decorrência de alterações ambientais. A dinâmica de ocupação da terra foi perguntada com o propósito de saber o quanto a comunidade se dá conta das pressões sobre a terra, manifesta em processos de grilagem; assentamentos públicos ou privados; campos de pouso, regulares ou irregulares. Para todas as comunidades, não existe ocupação das terras indígenas existentes nessa Área de Influência do estudo. Os assentamentos foram mencionados apenas por duas comunidades, no eixo ITA e no MAM; e a existência de campos de pouso foram referidos existirem nas regiões do eixo ITA ( 2 referências) e do MAM (1 referência). 5.1.4.4 As organizações e as instituições comunitárias A estrutura de uma sociedade, tenha o tamanho que tiver, é formada de subsistemas sociais. Os subsistemas são as partes que integram o todo, ou seja, subsistemas integram o sistema social. No presente estudo, o sistema social é usado para se entender um conjunto de organizações e instituições sociais, que estão, ou podem estar, inter-relacionadas, cobrindo todos os aspectos da vida social, econômica, cultural, religiosa e política. O sistema social local funciona quando o conjunto de inter-relações existe em determinada área geográfica. No caso aqui relatado, é o espaço geográfico ocupado por cada uma das comunidades. Existindo o espaço, mas não existindo conexões, não existe sistema social. Essas conexões colocam os subsistemas comunitários, parcialmente ou totalmente, conectados com sistemas externos, com os do Entorno Dinâmico, por exemplo. Sabe-se UFRA / IDEFLOR 58 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará também que quanto maior o número de organizações e instituições presentes na comunidade, maiores são as possibilidades do sistema social se desenvolver, devido ao fato de que o número de funções e de papéis (dos atores sociais) será acrescido (multiplex roles); por outro lado, a retirada de uma dessas organizações, modifica o sistema. No cenário estudado, formado por três eixos geográficos de antropização - o ARA, o ITA e o MAM, foram tipificados os seguintes subsistemas sociais: religioso, educacional, de saúde, econômico, de transporte, político, de lazer e recreação e de gênero. Portanto, são 8 Subsistemas Sociais (SS) existentes nas comunidades estudadas, não significando que todos estes, em todas as 20 comunidades levantadas, se apresentem de modo igual em todas elas. Hoje, devido a ações de natureza política pró-ativa, um importante subsistema social nas comunidades tradicionais da área de estudo é o Subsistema Social Religioso, embora se saiba que religião não é uma instituição integradora no sentido lato, certas práticas religiosas, como ações pastorais (da terra, da família, da juventude etc.), facilitam a integração de grupos e expressam certo consenso com respeito a crenças, objetivos, normas e outros elementos do sistema social. Na visão ampla de um estudo sociológico de comunidades tradicionais, a “religião” deve ser entendida como um “mix” de teologia, mágica, fatalismo, moralidade, ativismo e passividade. Esse “mix” varia de uma religião para outra, entretanto, sempre presente em alguma proporção nas diferentes religiões. Existem 33 igrejas nas comunidades estudadas na “Área de Influência”, distribuídas quase igualmente entre católicas e evangélicas (não católicas); há uma superioridade de 1 templo a favor das religiões evangélicas, como se observa na Tabela 22. Nas regiões ribeirinhas do ARA e do MAM, cujas ocupações da terra se ligam à história da Igreja e são mais antigas, ambas as igrejas, católicas e evangélicas, se equivalem. No ITA, de ocupação mais contemporânea, há supremacia das igrejas evangélicas. A força com sistema prove do número de adeptos que elas conseguem mobilizar, seja pela fé, seja pela tradição. Todas as Igrejas das 20 comunidades estudadas mobilizam ao redor de 2.469 adeptos, ou seja, 80.5% da população estimada em 3.068 habitantes. A supremacia católica, entretanto, é notória nas comunidades mais antigas e ribeirinhas, onde os católicos são 3,5 vezes maiores em número que os evangélicos; exceção para o ITA, onde não foram reportados adeptos católicos mas somente evangélicos num total de 240 membros. UFRA / IDEFLOR 59 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 22 - Organizações religiosas e adeptos nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Subsistema Social Religioso ARA 7 ITA 2 MAM 7 7 5 5 Número de adeptos católicos 779 0 976 Número de adeptos evangélicos 194 240 280 Semanal= 6 Diária= 1 Semanal= 7 Semanal= 1 Mensal= 1 Semanal= 3 Mensal= 1 Dia da semana (católicos) Domingo= 2 - Dia da semana (evangélicos) Domingo= 1 Domingo= 1 Semanal= 6 2x semana= 1 2x semana= 3 Semanal= 1 3x semana= 1 Domingo= 7 Sábado= 1 Domingo= 5 Sexta= 2 Quarta= 2 Sábado= 1 Comunidade= 6 Outra comunidade= 1 Comunidade= 4 Outra comunidade= 1 Religião Católica Religião Evangélica Freqüência litúrgica dos católicos Freqüência litúrgica dos evangélicos Residência do presbítero (católicos) Residência do presbítero (evangélicos) Comunidade= 7 Comunidade= 1 Outra comunidade= 0 Outra comunidade= 0 Comunidade= 6 Comunidade= 3 Outra comunidade= 1 Outra comunidade= 1 Atividades ligadas ao meio ambiente Campanha 9 0 1 Educação ambiental 0 0 1 Educação comunitária 1 1 0 Outras ocupações do responsável Agricultor 10 0 7 Funcionário público 1 0 0 Extrativista 1 0 0 Grupo de apoio comunitário 2 0 0 Tesoureiro da associação 0 1 0 Presidente 0 0 2 Agente de saúde 0 0 1 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. O fato de a liderança religiosa morar no local significa uma maior atenção aos problemas paroquiais e locais e possibilidades de interação com grupo religioso através dos atos litúrgicos, cultos, missas, novenas, e ações pastorais. Assim, entre aqueles 36 líderes religiosos (padres, pastores, leigos), apenas 4 foram declarados como morando em outra comunidade que não aquela onde celebra a função religiosa. Essa condição ganha maior força quando se verifica que os encontros litúrgicos ocorrem semanalmente, alguns chegando a realizar 3 encontros semanais. A “Igreja Engajada” realiza atividades relacionadas ao meio ambiente, como Campanhas (do lixo, é um exemplo), à educação ambiental e à educação UFRA / IDEFLOR 60 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará comunitária. As Campanhas aparecem em maior número, com 10 referências, no ARA principalmente. Educação ambiental tem sido fruto da atenção da Igreja do MAM, enquanto a Educação comunitária é trabalhada pela Igreja do ARA e do eixo ITA. Considerando o papel que pode exercer a Igreja na mobilização local e externa em direção a programas e projetos de interesse das comunidades, foram anotados os outros “mundos” vividos pelos atuais líderes religiosos das comunidades, e que não deixam de ser formas de “interlocks” organizacionais, possibilitando um aumento do poder político dos seus ocupantes. Apenas 5 deles eram puramente “pastores”, 31 exerciam outros papéis na comunidade, como a de agricultor, exercida por 18 deles, a maioria (10) agricultores na região do ARA e um extrativista na região do MAM. Outros papéis, como membros de Associações Civis (4); e agente de saúde, que é uma função pública, foram anotados. A educação formal é o principal produto oferecido pelo SS Educacional. Este subsistema tem universalmente servido para fundamentar a transmissão dos diversos aspectos da cultura material e espiritual das gerações mais velhas para os membros mais novos, servindo, a depender da orientação, como instrumento de controle social e servidão ou de libertação e conscientização. De um modo geral, o SS Educacional não deve ser separado da vida comunitária e familiar, e sim integrado. Qual o perfil que apresenta este sistema nas comunidades? Conforme dados descritos na Tabela 23, é possível se ter um panorama do funcionamento desse sistema quanto aos níveis de educação proporcionados às comunidades; quais os agentes financiadores do sistema; a existência de programas de educação continuada profissionalizante; o nível de formação dos professores e a infraestrutura que dispõe a comunidade para ministração das aulas e atividades. O ensino fundamental é oferecido em todas as comunidades da Área de Influência Socioambiental, mas o ensino médio (de segundo grau), apenas em três comunidades, sendo uma no ARA, exatamente em Cachoeira do Aruã; e duas na região do MAM, nas comunidades do Mocambo e da Samaúma. No eixo ITA, não existem escolas ofertando o ensino de segundo grau e nenhum programa de ensino superior, mesmo ensino à distância foi anotado. Em resumo: 100% das comunidades possuem programas de educação fundamental; o ensino superior inexiste para 100% e apenas 15% possuem a oferta do ensino médio. O financiamento do sistema é 100% público, não havendo referências a financiamentos privados, confessionais ou comunitários. UFRA / IDEFLOR 61 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 23 - Subsistema social educacional: educação formal, financiamento, educação informal, nível do professorado e infra-estrutura educacional. Regiões ITA MAM Sim Não Sim Não Sim Não Educação Formal (%) Nível Fundam. 100 100 100 Nível Médio 12,5 87,5 100 25 75 Nível Superior 100 100 100 Financiamento (%) Público 100 100 100 Privado 100 100 100 Confessional 100 100 100 Comunitário 100 100 100 Educação Informal (%) Saúde 100 25 75 100 Trabalho 100 100 100 Educação 100 25 75 100 Nível do Professorado (Número de professores) Fundamental 0 0 0 Médio 22 3 8 Superior 3 1 15 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. ARA Total Geral Sim Não 100 15 - 85 100 100 - 100 100 100 5 5 95 100 95 0 33 19 Quanto à educação informal voltada para atividades sociais e profissionais nos campos da saúde, do trabalho e da educação e cultura, 100% das comunidades ribeirinhas declararam a não existência de qualquer programa em educação informal ou continuada. Entre as comunidades do eixo ITA, duas comunidades - Nova Fronteira e Monte Verde - possuem programas de educação informal nas áreas de saúde e educação de adultos. E o nível de formação dos professores atuando nas comunidades? Um total de 33 professores das comunidades possui formação do ensino médio e 19 tem formação superior. Dos que apresentam uma formação média, 22 deles, ou seja, 67%, estão trabalhando nas comunidades do ARA, principalmente em Cachoeira do Aruã e no Curi; enquanto 8 deles trabalham com as comunidades do MAM, ou seja, 24% do efetivo de professores. Na região do eixo ITA, existem apenas 3 (9%) professores, que atuam em três comunidades: Monte Verde, Nova Fronteira e Pantanal. O pessoal do ensino com formação superior se concentra na região do MAM, onde perfilam 78% do professorado. No ARA, atuam 16% desse grupo de qualificação. O eixo ITA apresenta apenas 1 professor com tal qualificação. A infraestrutura que apoia esses profissionais nas comunidades se traduz em moradia no local, bibliotecas e laboratórios. UFRA / IDEFLOR 62 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Foto 22 - Escola sem telhado na Comunidade São José II, rio Arapiuns. Com relação a professores que moram na comunidade onde ensinam, o MAM possui o maior percentual: 91% são residentes locais; já no eixo ITA, a metade reside na comunidade onde ensina; e no ARA, dos 25 profissionais professores, apenas 8, ou seja, 32%, são residentes nas comunidades. Quanto a bibliotecas como apoio didático e suporte ao alunado, há ausência em 19 das comunidades estudadas; apenas em Cachoeira foi mencionada a existência da única biblioteca da Área de Influência estudada. Inexistem laboratórios. A Associação de Pais e Mestres é um tipo de organização social presente na comunidade com a finalidade de ligar o sistema familiar e o sistema educacional. Apenas na região do MAM existe esse tipo de organização, congregando 30 membros, com funcionamento na escola da comunidade, tendo como líder uma professora e realizando atividades de educação ambiental. A saúde, como afirma Ferrari (1983), é uma condição básica para o funcionamento da sociedade, tornando-a produtiva. Isto porque a doença incapacita as pessoas para que possam desempenhar adequadamente suas funções e papéis sociais. Por isso, em qualquer sociedade ou comunidade, é relevante conhecer a “anatomia e a fisiologia” - a estrutura e o funcionamento - do SS Saúde. Assim, tanto um pequeno e simples posto médico comunitário que funciona apenas com um enfermeiro, quanto um hospital regional onde atuam dezenas de médicos e especialidades são operados com sistema. Isso porque existe uma grande variação na natureza da clientela em busca dos recursos disponíveis para diagnóstico e tratamento. Diferentes crenças sobre a origem das doenças, o emprego de diferentes métodos de tratamento e as diferentes maneiras do humano se prevenir contra elas conduzem os atores do UFRA / IDEFLOR 63 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará sistema a recorrer a múltiplas maneiras para alcançar um objetivo e uma meta. Daí se encontrar um perfil diferenciado de atores como partes do sistema: médicos, enfermeiros, bioquímicos, radiologistas, agentes de saúde, rezadores, curandeiros, parteiras, ervateiras, todos importantes a depender das circunstâncias locais, ou seja, do espaço social onde atuam, na sociedade ou na comunidade, no Gesellschaft ou no Geimeinschaft, conforme a dicotomia de Toennies (1960). Compõe as circunstâncias as características do território onde ocorre a ação social dos atores envolvidos, com os objetivos e metas do sistema. O sistema de saúde de uma comunidade pode (e deve) trabalhar com outros sistemas presentes no local, mas a tendência é perder a eficiência e a eficácia quando a população alvo do sistema é dispersa no território e também quando a relação per capita ator-paciente é desfavorável à boa execução do sistema. No estudo sobre a organização da saúde nas comunidades da Área de Influência (AI), juntou-se a ela o sistema de abastecimento de água, em vista da forte interdependência entre a água usada e a saúde da população. Na região do ARA, o subsistema de saúde aparece mais diferenciado que nas outras duas regiões. O ARA possui duas comunidades ribeirinhas, a da Cachoeira e a do Curi, com postos de saúde que atendem à população através de um agente de saúde e um enfermeiro. Essas duas comunidades e esses dois atores sociais prestam atendimentos ambulatoriais e emergenciais a toda a região, oferecendo serviços de consulta, curativos, primeiros socorros, pequenas cirurgias (suturas) e acompanhamentos. Os atendimentos de emergência são prestados através de barcos especializados - Ambulanchas - operados por equipe própria. Embora apenas duas comunidades sejam aparelhadas com postos de saúde, serviços ambulatoriais existem em duas outras comunidades (Novo Paraíso e São Luiz), e atendimentos emergenciais em outras três comunidades: Novo Paraíso, São José II e Novo Horizonte. A Prefeitura Municipal de Santarém, através da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), é a única instituição pública promotora do subsistema de saúde operado na região. As cidades de Santarém (9) e Juruti (1) são os centros urbanos para onde se dirigem ou são enviados os pacientes atendidos pelo sistema, no ARA. Os eixos ITA e MAM, desprovidos de posto de saúde, têm suas populações atendidas por 4 agentes de saúde, sediados nas comunidades de Nova Fronteira, Mocambo, Sabina e Sumaúma, sendo oferecido o serviço de acompanhamento na comunidade Nova Fronteira, no eixo ITA; e nas comunidades Mocambo, Sabina e Sumaúma na região MAM. UFRA / IDEFLOR 64 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A Prefeitura de Itaituba assiste as comunidades do eixo ITA. No MAM, apesar de ser domínio territorial do estado do Pará, o sistema de saúde local é promovido pela Prefeitura Municipal de Parintins, Amazonas. Como foi referido acima, integra o sistema de saúde local, o serviço de abastecimento de água, cujo uso na higiene corporal, na preparação de alimentos e na utilização de água para se beber torna-se relevante às condições de saúde e saneamento das comunidades. Nas comunidades do ARA, encontra-se uma maior diversidade de fontes supridoras de água para o consumo doméstico; microssistemas, poços ou cacimbas, igarapés, que aparecem como as fontes de abastecimento, cujos controles são de natureza pública e comunitária, privada e até uma fonte confessional pertencente a uma Igreja Evangélica. Apurou-se também que havia casos em que os domicílios usavam mais de uma fonte de abastecimento, como o microssistema e poço por exemplo, levando a uma razão de 1,5 tipo por unidade servida. Há fontes que datam dos Anos: 1950 (3), 1960 (4), 1970 (4), 1980 (1), 1990 (5), e dez (10), estas datam do ano 2000. Os residentes consideraram como “bom” o suprimento de água disponível nas comunidades para o uso domiciliar. Na análise do SS Político como parte integrante do sistema social comunitário, tomouse em consideração a presença do Estado e da organização partidária a nível local, como meios de revelar a vigência do Estado e da presença e intervenção dos partidos políticos. Entre outras formas de organização do poder, eles tendem a consolidar um sistema de organização política de base comunitária. Por outro lado, o subsistema político se diferencia dos demais subsistemas sociais da comunidade, pelo controle e aplicação do poder político nas decisões relativas ao uso dos recursos, alocação de estímulos, benefícios e punições. É um sistema importante da condução do conflito social. Nas regiões estudadas, a presença do Estado e das agremiações partidárias é quase inexistente. O Estado se manifesta através do aparelho policial, apenas em uma comunidade do eixo ITA e outra do MAM, não existindo nas demais 18 comunidades, distribuídas nas três regiões, qualquer presença formal dos poderes executivo, legislativo ou judiciário. Quanto à organização político-partidária, apenas o Partido dos Trabalhadores (PT) é presença na região: em 3 comunidades do ARA - Monte Sião, Novo Paraíso e São Luis - e em todas as 8 comunidades ribeirinhas do MAM. Na área de conflito latente, no eixo ITA, o poder do Estado e o poder político partidário são totalmente ausentes. Pode-se ainda mencionar, como parte do subsistema político da região, a presença do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, embora na área estudada exista apenas 1 Sindicato, com sede na comunidade de Novo Horizonte, no ARA, com cerca de 10 membros. UFRA / IDEFLOR 65 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará O subsistema econômico será estudado quando se abordar a questão da terra como base do sistema familiar de produção e de comercialização, aos quais se integram os subsistemas sociais de geração de energia, transporte e comunicação. Á luz ainda da perspectiva dos sistemas sociais, merece referência o sistema social informal encontrado na área de estudo. Loomis e colegas (1953) nos chamam atenção para a importância dos grupos informais ou organização informal presente nas comunidades tradicionais. Nas comunidades rurais, os sistemas sociais formais (igreja, escola, governo e outros sistemas formais) podem ser de grande importância nas decisões a serem tomadas pela comunidade. Porém, em adição a essas organizações formais, em muitos programas e projetos as decisões passam pelos grupos e organizações informais. Na Tabela 24, foram consideradas as organizações sociais informais existentes nas comunidades, onde as mesmas possuem as suas sedes e os outros papéis exercidos pelos responsáveis, além da condução dos grupos informais. Tabela 24 - Subsistema social informal: organizações sociais das comunidades da área de estudo. Regiões ARA ITA MAM Organizações Sociais - Tipos de Associações Assoc.Voluntárias 2 Assoc.Comunitárias 3 1 4 Associações de Profissionais 1 2 Assoc.de gênero 2 Clubes recreativos 7 1 8 Sindicato 1 Assoc.pais/mestres 1 Comissões de festas religiosas 1 Sim Não Sim Não Sim Não Nº de Associações com sede 16 3 5 9 Atividades Ligadas ao Meio Ambiente Campanha do lixo 3 4 Educação ambiental 9 1 1 Outras ocupações do Responsável Agricultor(a) 12 9 Extrativista 1 Presidente da comunidade 1 Estudante 1 Carpinteiro naval 1 Professora 1 Agente de saúde 2 Dirigente religioso 1 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Subsistema Social Informal Total Geral 2 8 3 2 16 1 1 1 Sim 24 Não 9 7 11 21 1 1 1 1 1 2 1 Ao todo existem 34 organizações informais, agrupadas em 4 tipos de entidades associações, clubes recreativos, comissões e sindicato - que congregam quase 850 membros. UFRA / IDEFLOR 66 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Regionalmente, prevalecem os clubes recreativos, em numero de 16, distribuídos assim: 8 na região do MAM; 7 no ARA e 1 apenas no ITA. Em segundo, aparecem as Associações comunitárias, com um total de 8 associações e novamente as comunidades do MAM detêm maior número delas, com 4 Associações, seguidas do ARA com 3 entidades, e o ITA com apenas uma associação comunitária. O terceiro grupo em frequência são as associações ditas profissionais, totalizando 3 entidades, sendo 1 no ARA e 2 no eixo ITA. Quanto a associações que trabalham com gênero, no caso aqui, mulheres e jovens, foram encontradas duas delas, no ARA apenas. Outras associações, como as de pais e mestres e as comissões de festa, estão presentes apenas em comunidades do MAM. Essas organizações sociais, de caráter informal, são encontradas nas três áreas estudadas, sendo que 16 delas se fazem presentes na região do ARA; 14 na região do MAM e 4 no eixo ITA. Por se tratar de comunidades maiores e mais diferenciadas quanto à estrutura social, as lideranças exercem outros papéis nas comunidades. O papel de agricultor predomina entre aqueles que têm um outro papel tanto no ARA, onde 13 líderes informais declararam exercer atividades agrícolas, quanto no MAM, com 9 declarantes como agricultores. Outros papéis exercidos incluem estudante, carpinteiro naval, professora, agentes de saúde, presidente de comunidade e líder religioso. As organizações sociais realizam atividades ligadas ao meio ambiente, sendo as comunidades do ARA as mais ativas: 3 campanhas do lixo e 9 atividades em educação ambiental. No MAM também predominam as campanhas do lixo, com 4 campanhas e apenas 1 atividade ligada à educação ambiental. Festas e comemorações aparecem como meios de integração e participação nas comunidades estudadas. Na Tabela 25, pode-se observar que as festas religiosas, comemorações, como o “Dia das Mães” e o “Dia das Crianças”, e as festas esportivas são as mais presentes no calendário das comunidades. As festas religiosas, maioria (20), foram mencionadas em todas as três áreas estudadas, sendo no ARA e no MAM onde há maior ocorrência. As comunidades do MAM reservam exclusividade às comemorações que homenageiam as mães e as crianças, e há referência sobre a “Festa da Madeira”. As festas esportivas foram mencionadas apenas no ARA. Esses eventos festivos se distribuem em um calendário em que se pode ver os meses ao longo do ano mais “festivos” para as comunidades: Maio e Junho. Mas, em quase todos os meses do ano (Março a Dezembro), existem festas, promoções e comemorações. E quem organiza essas festividades? A comunidade em primeiro lugar, seguida da Igreja e dos times de futegal e escolas. Quanto ao território de abrangência, 17 eventos têm participação regional e l4 local. O ARA e o MAM são os campeões das festas de caráter regional. UFRA / IDEFLOR 67 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 25 - Festas, promoções e comemorações na área de estudo. ARA 10 Regiões ITA 3 MAM 7 20 Festa do Clube 3 0 0 3 Dia mães/Dia crianças/ Format./Festa da madeira 0 0 8 8 Jun.=5/Mai=3/ Set.= 2/Mar= 1 Ago.= 1 Out.= 1/Nov.= 1 Mai= 4/Dez.= 3 Ago.= 2/Out.= 2 Jul.= 1/Mar.= 1 Jun.= 1/Abr.= 1 Igreja= 7 Comunidade= 4 Time de futebol= 3 Comunidade= 3 Igreja= 1 Comunidade= 12 Escola= 3 Igreja= 1 Mai.= 7/Jun.= 6 Dez.= 3/Out.= 3 Ago.= 3/Set.= 2 Mar.= 2/Nov.= 1 Jul.= 1/Abr.= 1 Comunidade= 19 Igreja= 9 Time de futebol= 3 Escola= 3 Regional= 17 Local= 14 Festas Religiosas Meses Promoção Participação Regional= 9 Regional= 2 Local= 4 Local= 1 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Total Local= 9 Regional= 6 5.2 AMAZÔNIA RURAL COMTEMPORÂNEA: FAMILIA, USO DA TERRA E PRODUÇÃO NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MAMURU-ARAPIUNS 5.2.1 Contextualização Neste capitulo, a partir da definição de “povos e comunidades tradicionais” oferecido pelo governo do estado do Pará, analisa-se os elementos e processos que caracterizam a produção familiar dominante nas comunidades da Área de Influência (AI). A estrutura familiar, a posse e uso da terra e o sistema de produção decorrente são categorias analíticas que influenciam nos processos econômicos, sociais e culturais como fatores determinantes das relações sociais e ambientais nas comunidades. 5.2.2 Objetivo do estudo O estudo do SS familiar e do uso da terra para finalidades de produção tem como escopo central conhecer, à luz da teoria dos sistemas sociais, os elementos e processos fundamentais que caracterizam o perfil socioeconômico e cultural das famílias rurais que vivem e residem nas comunidades tradicionais da região do Mamuru-Arapiuns, AI do ED. 5.2.3 Fundamentos teóricos e metodológicos do estudo As expressões “agricultura familiar” e “família agricultora”, embora possam aparecer como sinônimos na literatura especializada, sobretudo americana, não possuem o UFRA / IDEFLOR 68 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará mesmo significado. A expressão “família agricultora” ou “família rural” não apresenta significados que traduzam um “negócio”, por exemplo, manejado pela mão-de-obra puramente familiar; ou mesmo sobre o destino da produção, se para consumo próprio ou para o mercado. O conceito de “família rural” passa a ter a conotação geográfica de residir fora do espaço urbano - suburbano, podendo a família se dedicar a outras atividades, não necessariamente agrícolas e/ou florestais, inclusive prestação de serviço. Por outro lado, a expressão “agricultura familiar” traz uma conceituação diferente por traduzir atividades da família umbilicalmente ligadas à terra como fator determinante da sua reprodução social. Ao se pretender usar o sistema social familiar como referencial teórico, o ponto de partida é o conceito de agricultura familiar entendida como “aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo” (Wanderley, 1997). Esse conceito se amplia à dimensão do mercado, quando Chayanov (1974 apud Wanderley, 1997) menciona como característica básica, além da utilização da mão-de-obra familiar, a integração parcial ao mercado. No caso em tela, em que se visita a produção familiar das comunidades tradicionais amazônicas, a mesma deve ser entendida em referência a um amplo leque de uso dos recursos naturais, viabilizados através de um complexo de atividades envolvendo a mata, a capoeira, o rio, o quintal; a agricultura, o extrativismo, a criação de animais, a caça e a pesca. A teoria dos sistemas sociais destaca o subsistema familiar como a unidade básica da teoria, muito embora ainda se comente ser escassa a contribuição efetiva da teoria sociológica na análise da família como instituição social. Dentre Weber, Pareto e Durkheim, por exemplo, somente Durkheim faz observações sobre a família como parte da estrutura social (Good, 1959). Apesar de trabalhos pioneiros na Polônia, Inglaterra e Alemanha reconhecerem a família e a religião como as duas maiores instituições; e em tempos mais recentes, sociólogos, como Parsons, Davis e Homans tenham dirigido os seus esforços para esclarecer alguns problemas relativos à teoria sociológica da família, entretanto permanece a indiferença quanto ao fato de que a análise da estrutura e do trabalho familiar não é suficiente para explicar a estrutura social como um todo. Para a sociologia contemporânea, a família é tratada analiticamente como variável dependente (não como variável independente), ou seja, a família pode ser explicada como função de outras instituições, e nunca o contrário, ou seja, a família explicando essas outras instituições. O sistema social familiar cola-se, assim, com resultado da produção familiar; se a agricultura familiar persiste, o sistema social familiar se faz presente. UFRA / IDEFLOR 69 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A família vem, assim, ser tratada com um grupo de parentes ligados por laços consanguíneos, derivada (ou não) da união reconhecida e socialmente legitimada, ocupando uma residência comum onde existe a cooperação para produção e a solidariedade. Logo, a união ou casamento coexiste com a presença da família, embora sejam instituições diferentes. A família, por sua vez, constitui um subsistema da sociedade que contribui à sua existência, do mesmo modo que os grupos de parentesco dela derivados contribuem também para com aquela existência. Se hoje a família (como categoria sociológica) se encontra de vários modos ameaçada de sucumbir, por outro lado, o apelo para sua congregação é muito grande. Colocase hoje diante dela (nela, talvez) a responsabilidade pela preservação dos padrões éticos e morais fragilizados com a cultura moderna. Assim, no estudo em tela, ao analisar a estrutura familiar das comunidades e as relações sociais “convencionadas”, segundo as normas, padrões e valores culturais, admite-se que, diante das contingências ambientais, é ela que pode ajudar na busca do ponto de equilíbrio do uso dos recursos naturais, de acordo a visão de “racionalidade de mundo”3 que a mesma possua e procure trabalhar nessa direção. 5.2.4 Povo e terra: o subsistema familiar de produção ribeirinha A Sociologia da família, como ramo especializado da sociologia geral, ocupa-se dos processos, fatores, problemas, transformações, origens e de todos os fenômenos sociológicos que comprometem a vida familiar. Quando tratada como sistema social - o sistema social familiar - a ênfase é colocada nos grupos de parentesco e nos processos que conduzem à formação e à estruturação da família. A tipologia dos sistemas sociais nos permite caracterizar uma determinada estrutura social, revelando seus aspectos sociais, culturais, psicológicos e econômicos. A produção familiar pode assim ser tratada como a inter-relação entre dois macrossistemas: o familiar e o econômico, os quais podem sofrer influência das organizações sociais que a família participa; da rede de amigos e parentes; e do sistema de crença, costumes e valores. Aspectos demográficos são dimensões importantes para o estudo dos sistemas sociais comunitários, sobretudo, quando a família é o elo que junta a produção econômica e o uso dos recursos naturais. Um fator considerado de início é a distribuição espacial da população amostrada no estudo, entendendo-se a relevância dos dados para estabelecer os índices de pressão sobre os recursos naturais. ___________ 3 “racionalidade de mundo” é um conceito cósmico quanto a percepção tanto das relações internas, locais, comunitárias, familiares; quanto das relações externas, o entorno comunitário, o estado, o país, que afetam o planeta. UFRA / IDEFLOR 70 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A região do Arapiuns é a região que concentra o maior percentual de moradores, mais de 50% do total amostrado (N=3078) aí vivem; a região do rio Mamuru, de ocupação mais recente que a do rio Arapiuns, concentra 44,4% da população; enquanto na contemporânea zona de ocupação do eixo Itaituba - Alto Mamuru, apenas 4% da população amostrada. Logo, as zonas de ocupação tradicional participaram com cerca de 95% da população estudada (Tabela 26). Tabela 26 - Estrutura familiar nas áreas de estudo ARA/ITA e MAM. Descrição Total (N) 3078 ARA (n) (%) 1585 51,5 (n) 127 (%) 4,1 MAM (n) (%) 1366 44,4 48,8 51,2 65 62 50,8 49,2 710 656 52,0 48,0 89,1 10,9 0 127 0,0 100 720 646 52,7 47,3 População Total Gênero: Masculino 773 Feminino 812 Origem: Nativa 1413 Emigrante 172 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. ITA Quanto ao gênero, homens e mulheres estão quase em equilíbrio, mas no Arapiuns existe uma ligeira superioridade do gênero feminino. Ao se igualar em tamanho com o gênero masculino, a mulher passa a ter múltiplos papéis na comunidade e na unidade de produção, além do tradicional papel de “dona de casa”, sobretudo se ela ainda integra a população economicamente ativa. Ainda com respeito aos aspectos demográficos, a origem dos habitantes, se nativos ou migrantes, e o tempo que vivem na comunidade, é relevante em se tratando dos sistemas sociais. Segundo Margaret Stacey (1974), certas condições são necessárias para o desenvolvimento do sistema social local, com destaque para o período de tempo que a população está junta e para a origem dos mesmos. Nas comunidades onde a maioria é nativa e vive na localidade, é altamente provável que haverá algum tipo de sistema social presente. Quando o número de migrante aumenta na localidade, haverá um aumento do “ponto crítico” que tensiona o sistema; e neste caso, se o sistema continua, será com a particularidade de “estado alterado”. O “ponto crítico” é determinado pelo número e/ou tipo de migrante em relação à população local ou nativa ou também quando a comunidade se torna dominada por organizações que não aquelas do sistema social local pioneiro. Assim, certas dimensões demográficas, como a origem dos populares chefes de família; de onde vieram, quando migrantes; e o tempo que vivem na comunidade, servem para caracterizar o sistema social local quanto ao desempenho social na comunidade. Aqueles que nasceram na região da Área de Influência (AI) constituem a maioria dos moradores; UFRA / IDEFLOR 71 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará entretanto, é bom anotar que a proporção dos não-nativos já representa mais de 40% das pessoas estudadas, e é previsível que na próxima década, devido aos atrativos provocados pela abundância de recursos naturais - terra, mata e água - a proporção de migrante se eleve a índices superiores a dos nativos. Na região do ARA, por ser aquela de ocupação mais antiga, a presença de nativos, na população em geral, é proporcionalmente muito superior às demais áreas estudadas, ou seja, a dos eixos MAM e ITA. Percebe-se um decréscimo da presença dos naturais do lugar à medida que se avança das áreas de ocupação mais antigas para as de ocupação mais recente. Enquanto nas comunidades tradicionais do ARA, a proporção de nativos quase alcança os 90% dos residentes; no MAM chega a 45,5%; e no eixo ITA, é simplesmente 0% a presença dos naturais. E de que região geográfica são eles? De onde veio esse povo, hoje, ocupante das comunidades tradicionais estudadas? 72% são nortistas, nascidos na própria Amazônia; 24% deles são nordestinos e apenas 2% são nativos das regiões Sul e Centro-Oeste. Mas é curioso ver que o ARA, de ocupação mais antiga, tem uma população de nortista ligeiramente menor (80%) que o MAM (90%), o que pode ser explicado à luz da história da ocupação humana do vale do rio Arapiuns, por fluxos de nordestinos quando da “batalha da borracha”. O eixo ITA mostra a sua ocupação acontecida por fluxos migratórios provenientes majoritariamente do nordeste, além de ser a única área com migrantes que são provenientes do Sul e do Centro-oeste. Dos números relativos ao tempo que os migrantes vivem em suas comunidades, percebeu-se que o tempo em que vivem aí não é tão remoto como se esperava: a grande maioria, algo ao redor de 50%, tornou-se habitante daquelas terras entre os anos 1970 e 2000; e 30% depois do ano 2000, ou seja, são migrantes atraídos pelos programas governamentais de ocupação da Amazônia que datam do governo militar, e hoje prosseguem com a expansão contemporânea da fronteira agrícola, exploração madeireira, garimpagem e construção de obras de mega porte, como hidrelétricas, portos, rodovias etc. Os mais antigos migrantes encerram uma proporção de 6% apenas, e são aqueles chegados ao MAM antes dos anos 1960 (Tabela 27). Quanto às dimensões demográficas aqui consideradas como descritoras do tipo de sistema social presente, as mesmas perfilam um Estado que pode ser assumido como sistemas estruturados de um modo geral, embora essa situação ofereça variações que caminha do mais estruturado e mais presente, como os sistemas sociais das comunidades do rio Arapiuns, àqueles menos estruturados e menos presentes, como os sistemas do eixo ITA, ao que indica, sistemas sociais ainda em processo de organização e estruturação. UFRA / IDEFLOR 72 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Ao se analisar o sistema de produção comunitário, consagra-se a família como fator de produção dos mais relevantes para as comunidades tradicionais. Sociólogos costumam conceituá-la como a principal instituição social do mundo agrário rural, sem, contudo, deixar de dar destaque a outras instituições sociais, como a escola, a igreja, a terra, o mercado, a saúde e o bem-estar. Todas essas instituições são provedoras de meios e de recursos para o surgimento, na comunidade, de um sistema de relações sociais que levam os seus membros a atenderem às suas necessidades sociais, culturais, econômicas, políticas e espirituais. Por isso, em se tratando de famílias vivendo em comunidades tradicionais, considera-se o grupo familiar também como grupo cultural e não apenas como grupo biológico. Significa confirmar o que já foi mencionado anteriormente, a família como variável dependente: a estrutura da família definida segundo a forma de união, o tipo de família, o tipo de residência e as fontes de sua manutenção. Tabela 27 - Origem, local e tempo de emigração da população não nativa residentes nas áreas de estudo ARA, MAM e ITA. Descrição ARA (n) MAM (%) (n) Nasceu na região? Sim 41 89,1 25 Não 5 10,9 30 Total 46 100 55 De onde veio? Norte 4 80,0 27 Nordeste 1 20,0 3 Sul Sudeste Centro-oeste Total 5 100 30 Quando chegou à região? < 1960 3 1960-1970 4 1970-1980 2 40,0 8 1980-1990 1 20,0 1990-2000 5 > 2000 10 Não informado 2 40,0 Total 5 100 30 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. ITA Total (%) (n) (%) (n) (%) 45,5 54,5 100 0 15 15 0 100 100 66 50 116 56,9 43,1 100 90,0 10,0 100 5 8 1 1 15 33,3 53,3 6,7 6,7 100 36 12 1 1 50 72,0 24,0 2,0 2,0 100 10 13,3 26,7 16,7 33,3 100 4 5 5 1 15 26,7 33,3 33,3 6,7 100 3 4 10 5 10 15 3 50 6,0 8,0 20,0 10,0 20,0 30,0 6,0 100 As famílias das comunidades estudadas foram formadas segundo a união matrimonial conjugal. Esse padrão de união predomina entre os cônjuges das três áreas de estudo: MAM 100%; ARA - 93,5%; e no eixo ITA - 80%. A união consanguínea apresenta-se muito baixa no ARA (6,5%), baixa no ITA (20%), e inexiste entre os moradores casados do MAM (Tabela UFRA / IDEFLOR 73 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 28). Quanto ao tipo de família, quando adotamos uma definição para família como “um grupo de duas ou mais pessoas relacionadas por união consanguínea, conjugal ou adoção voluntária, vivendo juntas”, foram encontrados os seguintes tipos: a família nuclear ou primária - formada pelos esposos e filhos - predomina nas três áreas de estudo, numa proporção superior a 65% dos casos; a família ampliada - aquela cuja composição além dos membros da família nuclear e membros parentes, adiciona membros não-parentes agregados é o segundo tipo em frequência, cuja média é da ordem de 18,6% de casos; e, finalmente, o terceiro tipo presente, a família extensa - aquela que além dos membros do tipo primário, adiciona a residência, parentes dos cônjuges - cuja média de frequência é da ordem de 13,5% e a ocorrência desse tipo é mais frequente nas comunidades de ARA (17%) e MAM (16%). É visto que no meio rural a estrutura da família e a rede de parentesco é afetada pelo sistema de posse da terra e pelas instituições que governam o matrimônio, como a religião, determinando os padrões residenciais. Tais padrões de residência podem simplificar as complexas realidades que o grupo familiar ou sistema social familiar se defronta. Nas comunidades da Área de Influência, o padrão residencial familiar dominante é o da residência neolocal, ou seja, aquela residência em que o grupo conjugal estabelece seu próprio domicílio independente. Esse padrão, que corrobora o tipo familiar nuclear dominante, alcança expressões percentuais superiores a 70%, chegando, como padrão, a quase unanimidade (98%) no MAM. A segunda frequência de padrão é o residencial patrilocal, em que marido e mulher passam a morar com a família do homem, com destaque para a ocorrência desse padrão entre as famílias do ITA, onde a frequência é de 20%,; enquanto no ARA e no MAM alcança os percentuais de 4,3% e 1,8%, respectivamente. O padrão residencial matrilocal, quando vivem com a família da mulher, também surge com maior frequência entre os casais do ITA - 6,7%; inexiste no MAM, e ocorre num percentual de 4,3% no ARA. O padrão matripatrilocal, em que o casal vive certo tempo com a família da esposa e um outro tempo com a família do esposo, só foi encontrado no ARA, onde ocorre numa proporção de 4,3% entre as famílias. Já os casos de residência avuncolocal, em que o casal pode ficar com um tio materno do marido, não foram encontrados em nenhuma das comunidades estudadas (Tabela 28). A questão dos filhos é fator importante na composição e na reprodução social do sistema familiar, em razão das funções que são imputadas à família, como: perpetuação do grupo familiar; orientação filosófica e social às crianças, adolescentes e jovens; garantia, aos filhos, dos meios para suas realizações sociais (status attainment); provimento e garantia sucessória da terra, e socialização quanto às futuras performances na sociedade. UFRA / IDEFLOR 74 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 28 - Forma de união, tipos de famílias e residências encontradas nas comunidades nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Descrição Ocorrência/Frequência (%) ARA ITA MAM Forma de união: Conjugal Consangüínea Tipo de família: Nuclear Extensa (+ parentes) Ampliada (+ não parentes) Tipo de residência: Patrilocal Matrilocal Avuncolocal Neolocal Matripatrilocal Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. 93,5 6,5 80,0 20,0 100,0 0,0 71,7 17,4 10,9 66,7 6,7 26,7 65,5 16,4 18,2 4,3 4,3 0,0 87,0 4,3 20,0 6,7 0,0 73,3 0,0 1,8 0,0 0,0 98,2 0,0 No diagnóstico conduzido nas comunidades da Área de Influência (AI), procurou-se saber sobre: os filhos que residem na casa dos Pais, os que trabalham e onde estudam. Da população total amostrada (N= 3.078), cerca de 12% (n= 378) é constituída de filhos que residem com os pais; 6,20% do total acima é constituída de filhos que trabalham; e cerca de 11% do total se refere aos filhos que estudam, muito embora essa categoria represente 91% (n= 345/ n= 376) do total de filhos residentes com os pais ou com os orientadores (Tabela 29). Para o grupo dos filhos que residem à pirâmide etária, expressa na distribuição dos filhos por categorias em: crianças (até 15 anos), adolescentes (16 a 21 anos) e adultos (maiores de 21 anos), mostra-se, nas três áreas de estudo, uma acentuada existência do grupo de crianças, numa proporção superior a 65% e, adicionando-se a este estrato, o grupo dos adolescentes. Esse estrato dos infanto-juvenis, envolvendo do nascimento aos 21 anos de idade, expressa uma proporção superior aos 80% da população de filhos, revelando a necessidade expressa e urgente de políticas públicas orientadoras voltadas para esse grupo social. Os percentuais para aquelas classes de idade nas três áreas da pesquisa - ARA, ITA e o MAM - mostram uma pirâmide etária com o formato clássico de regiões emergentes ou subdesenvolvidas, onde, há uma base mais larga abrigando o grupo de menor idade; no meio, aqueles de idade intermediária; e no ápice da pirâmide, os filhos de maior idade (Tabela 29). Estudo e trabalho aparecem como tarefas importantes para o grupo social dos filhos das famílias que vivem nas comunidades tradicionais da AI. É bastante elevada a proporção dos que estudam: 91,2% em relação ao total de filhos moradores; enquanto a proporção dos que trabalham alcança a taxa de 50,5%. UFRA / IDEFLOR 75 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A maior proporção de crianças estudando está nas comunidades do rio ARA, onde quase 80% estão na escola, mas essa taxa não é desprezível nos eixos ITA e MAM, onde atingem taxas superiores a 70% das crianças menores de 15 anos. Quanto ao grupo de adolescentes, as famílias do eixo ITA assinalam uma maior proporção estudando (21,2%) em comparação com os filhos adolescentes das famílias dos eixos ARA e MAM. Quanto ao envolvimento dos filhos com o trabalho, essa prática ocorre em proporção elevada em todas as comunidades, mas com justa preocupação para as crianças e adolescentes, que participam numa proporção média de 41,2% e 21,3%, respectivamente. Pelo fato de não se saber as condições em que essas crianças são empregadas, sublinha-se aqui a participação de 56,5% das crianças pertencentes às famílias do eixo MAM (Tabela 29). Tabela 29 - Número encontrado de filhos que residem, trabalham e estudam nas famílias das comunidades nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Descrição Total (N) 378 ARA (n) (%) Filhos que residem na casa: 152 Crianças (até 15 anos) 110 72,4 Adolescentes (16 a 21 anos) 17 11,2 Adultos (> 21 anos) 25 16,4 Filhos que trabalham: 191 62 Crianças (até 15 anos) 27 43,5 Adolescentes (16 a 21 anos) 14 22,6 Adultos (> 21 anos) 21 33,9 Filhos que estudam: 345 132 Crianças (até 15 anos) 103 78,0 Adolescentes (16 a 21 anos) 14 10,6 Adultos (> 21 anos) 15 11,4 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. ITA (n) 37 25 7 5 21 5 4 12 33 24 7 2 MAM (%) 67,6 18,9 13,5 23,8 19,1 57,1 72,7 21,2 6,1 (n) 189 140 28 21 108 61 24 23 180 132 28 20 (%) 74,1 14,8 11,1 56,5 22,2 21,3 73,3 15,6 11,1 Agora uma pergunta de interesse estratégico quando se trata de análise à luz da teoria dos sistemas sociais: onde estudam os filhos e onde a família trata as suas doenças? O diagnóstico apontou que as comunidades apresentam diferenças nas respostas oferecidas pelas famílias. O local onde os filhos menores estudam é majoritariamente a própria comunidade, sobretudo as comunidades tradicionais do ARA e MAM. No ARA, crianças, adolescentes e adultos estudam nas comunidades; apenas uma pequena minoria procura esse recurso na sede do município. Não houve relato dos filhos estudando em outro município. Nas comunidades do MAM, quase 60% das crianças que vão à escola o fazem nas próprias comunidades; já adolescentes e adultos procuram a sede do município e escolas em outros municípios. No eixo ITA, área de ocupação recente, a maior frequência (35,8%) entre UFRA / IDEFLOR 76 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará os filhos (crianças) foi encontrada entre os que estudam nas escolas de outros municípios e não nas escolas das comunidades, o mesmo ocorrendo entre os filhos adolescentes e adultos que frequentam escolas na sede do município (Tabela 30). E em caso de enfermidade, para onde se dirigem os membros da família quando precisam? As respostas, iguais aos locais de estudos, têm resultados variados: as famílias do MAM, todas (100%), buscam os recursos médicos em outros municípios, no caso, o município de Parintins, no estado do Amazonas; as que vivem nas comunidades do eixo ITA buscam tais recursos na cidade de Itaituba (20%) ou em outros municípios (80%), como Santarém; as famílias do ARA são as únicas que apresentam uma diversidade de opções: os postos de saúde das comunidades são usados por cerca de 15% das famílias, enquanto hospitais e clínicas de outros municípios foram apontados por apenas 5% dos entrevistados familiares, a maior proporção, quase 80% das famílias, recorre à cidade de Santarém para atendimento nos postos de saúde , hospitais e clinicas (Tabela 30). Tabela 30 - Onde: estudam e buscam tratamento médico as pessoas residentes nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Frequência (%) Sede do município Outros municípios 65,9 24,4 4,9 2,4 2,4 0,0 0,0 0,0 0,0 15,2 0,0 26,6 53,2 0,0 5,0 14,3 0,0 0,0 7,1 14,3 14,3 35,8 7,1 7,1 0,0 0,0 0,0 20,8 0,0 79,2 58,6 0,0 0,0 0,0 24,1 5,2 0,0 8,6 3,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 100 Região Comunidade Onde estudam: Crianças (até 15 anos) Adolescentes (16 a 21 anos) ARA Adultos (> 21 anos) Onde se tratam: Posto de saúde Hospital/clínica Onde estudam: Crianças (até 15 anos) Adolescentes (16 a 21 anos) ITA Adultos (> 21 anos) Onde se tratam: Posto de saúde Hospital/clínica Onde estudam: Crianças (até 15 anos) Adolescentes (16 a 21 anos) MAM Adultos (> 21 anos) Onde se tratam: Posto de saúde Hospital/clínica Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Para a teoria dos sistemas sociais, os subsistemas educacionais e o de saúde configuram um par de instituições que se acreditam como fatores favoráveis a programa e projetos de mudanças sociais. Mesmo que algumas relações sociais extrapolem os limites UFRA / IDEFLOR 77 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará locais e se conectem com sistemas de fora da comunidade, Margareth Stacey (1974), assim como outros autores, afirma que não se deve ver vantagem quando as relações sociais se tornam dominadas por instituições que não aquelas que constituem os sistemas sociais locais. É importante, por isso, a presença dessas instituições nas comunidades, porque elas favorecem as chances dos comunitários exercerem múltiplas funções, contribuindo com o processo decisório de interesse da comunidade. Outro aspecto relacionado à dinâmica do sistema social familiar diz respeito à participação e interação social das famílias. A participação social se refere às manifestações da interação social com grupos específicos, em situações particulares. A pesquisa procurou averiguar o envolvimento das famílias com a rede de parentes, vizinhos e amigos, ou seja, a participação social informal; e com as organizações complexas estabelecidas na comunidade, ou seja, a participação social formal. A participação social informal, aquela que ocorre com os grupos sociais não organizados, acontece em frequências diárias e semanais. Entre as famílias do ARA, essa “rede de parentesco” funciona com frequência diária para os vizinhos (58,7%) e para os parentes (47,8%); com os amigos da “rede”, a maior frequência de interação social ocorre semanalmente (47,8%). No eixo ITA, os parentes se envolvem com as famílias em encontros diários (42,9%), mas entre os amigos e vizinhos, a frequência do envolvimento é semanal para 63,6% e 50,0% das famílias, respectivamente. Já para as famílias vivendo nas comunidades do MAM, as frequências de participação-interação são altas e realizadas diariamente nas seguintes proporções: vizinhos - 94,5%; amigos - 90,9% e parentes - 63,6%. As demais frequências - mensal e anual - de envolvimento familiar das comunidades da AI com a “rede de parentesco” apresentam, todas elas, razões abaixo dos 20% de frequência (Tabela 31). A participação de membros da família em organizações formais, do tipo religiosas, recreativas, políticas e econômicas, apresentam-se como fator de fortalecimento do sistema social local por duas razões: a sua presença e funcionamento local qualificam e fortalecem o sistema social ao qual são vinculados; e demandam a participação formal dos membros familiares como membros associados à organização, favorecendo o exercício de múltiplas funções de interesse da comunidade. Nas comunidades do ARA, as três organizações com maiores frequências semanais de participação são as cooperativas (94,7%), as igrejas (91,3) e os clubes recreativos (85,4); com a associação (moradores), cerca de 70% tem envolvimento mensal. No eixo ITA, o envolvimento se dá numa frequência semanal, mensal e até anual. O envolvimento semanal de maior frequência entre as famílias do Eixo é com as organizações econômicas e com as organizações recreativas, com frequência semanal de 100%. Na UFRA / IDEFLOR 78 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará frequência semanal, estão as igrejas, mencionadas por 70% dos entrevistados, 55% declararam ter envolvimento mensal com as associações (moradores e profissionais), enquanto 67% declararam se envolver anualmente com as cooperativas. Já para os habitantes do MAM, as frequências de participação semanal são maiores para as seguintes organizações: os clubes recreativos, onde 92,7% declararam frequência de participação/envolvimento semanal; as associações (moradores), onde 90,9% mencionaram a participação; e as igrejas, cuja frequência de atendimento semanal foi mencionada por 67,3% das famílias estudadas. O envolvimento mensal se deu com as organizações que tratam de “negócios” na proporção de quase 70% dos entrevistados (Tabela 31). Tabela 31 - Organização Social das comunidades nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Região Nível Comunitário/Envolvimento: Igreja Clubes Associação Cooperativas ARA Negócios Familiar/Encontros: Parentes Amigos Vizinhos Outros Comunitário/Envolvimento: Igreja Clubes Associação Cooperativas ITA Negócios Familiar/Encontros: Parentes Amigos Vizinhos Outros Comunitário/Envolvimento: Igreja Clubes Associação Cooperativas MAM Negócios Familiar/Encontros: Parentes Amigos Vizinhos Outros Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR Diária Freqüência (%) Semanal Mensal Anual 0,0 2,4 0,0 0,0 0,0 91,3 85,4 30,4 94,7 75,0 8,7 12,2 69,6 5,3 25,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 47,8 41,3 58,7 0,0 30,4 47,8 37,0 2,7 17,4 10,9 4,3 75,7 4,3 0,0 0,0 21,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 70,0 100,0 22,2 33,3 100,0 20,0 0,0 55,6 0,0 0,0 10,0 0,0 22,2 66,7 0,0 42,9 9,1 16,7 0,0 28,6 63,6 50,0 0,0 14,3 18,2 16,7 0,0 14,3 9,1 16,7 0,0 0,0 1,8 0,0 0,0 0,0 67,3 92,7 90,9 0,0 7,3 25,5 5,5 7,3 0,0 69,1 7,3 0,0 1,8 0,0 23,6 63,6 90,9 94,5 0,0 7,3 9,1 5,5 100,0 9,1 0,0 0,0 0,0 20,0 0,0 0,0 0,0 79 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Povo e Terra ajudam ao estudioso, no espaço físico do estudo, a orientar a visão em direção ao sistema social de produção familiar ou subsistema da produção. A produção é um dos fatores fundamentais da riqueza da sociedade. Para Marx, são as relações sociais derivadas dos processos produtivos que escravizam ou libertam o homem. Por isso, a produção só será um fator de riqueza para todos, se o processo de produção for controlado pelos que realmente amanham a terra, ou seja, a classe trabalhadora e o agricultor familiar. As atividades produtivas agrárias, em qualquer tempo e lugar, voltam-se para as atividades extrativas (catança ou coleta, pesca, caça, mineração), ou para as atividades agropastoris, elementares, como a horticultura, a granicultura e a pecuária seletiva, como a criação de bovinos para o transporte e beneficiamento da terra, ou, ainda, as atividades ligadas à transformação, beneficiamento e conservação de produtos. O trabalho, como se pode deduzir, está institucionalizado como fator fundamental do sistema social de produção familiar. O sistema de produção familiar é parte do sistema econômico. Ferrari (1983) ensina que o sistema econômico é formado por cinco macrossubsistemas: capital, administração, produção, circulação e consumo. Tratando-se da produção familiar, em comunidades ribeirinhas tradicionais, alguns subsistemas não se colocam formalmente, sendo percebidos ou considerados, por meio de proxis, como a posse e uso da terra, que são em si mesmos o capital disponível para o agricultor familiar; o consumo tem como proxi o nível de subsistência da família; e assim sucessivamente, ou seja, o pesquisador usa um “sucedâneo” na ausência do “original”, mas sem desvirtuar os objetivos da investigação. Há que considerar também as múltiplas conexões que o sistema econômico engendra, lembrando sempre que os sistemas não são entidades fechadas, mas sim abertas e, portanto, interconectivos e complexos. A análise das fontes de manutenção da família revela, num primeiro plano, os componentes principais provedores do “capital” financeiro, que permite verificar a importância da renda da terra com uma frequência de resposta média da ordem de 48,5%. O segundo mais importante componente são as transferências sociais via programas de bolsas do governo federal, com uma frequência média de 17,3%. O terceiro item em frequência pode ser atribuído a dois componentes simultâneos: a prestação de serviços e o pensionamento rural, ambos com média de 12,0% de indicações pelas famílias. Esses três componentes respondem por cerca de 90% da segurança financeira dos agricultores familiares da Área de Influência. UFRA / IDEFLOR 80 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A renda da terra per se nota-se mais relevante para as famílias das comunidades tradicionais do rio Mamuru (53,4%), enquanto as transferências públicas de renda com o pensionamento rural e a concessão de bolsas são destaques entre as famílias do vale do rio Arapiuns (Tabela 32). Tabela 32 - Manutenção das famílias nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Descrição Salário ativo Pensão Renda da terra Ajuda externa Comércio Serviços Bolsas Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Ocorrência/Frequência (%) ARA ITA MAM 3,7 11,8 4,9 17,1 11,8 6,8 45,1 47,1 53,4 0,0 0,0 1,0 2,4 5,9 1,0 4,9 17,6 13,6 26,8 5,9 19,4 A terra é a geratriz de renda mais importante. Ver como se configura a sua distribuição é importante, a seguir se tem uma visualização sobre as classes fundiárias construídas para se interpretar essa importante realidade. A amostragem é da ordem de imóveis pertencentes às famílias ribeirinhas das comunidades tradicionais estudadas. Na classe de até 50 ha - nossos minifundiários - foi declarada a existência de 23 imóveis que perfazem uma área total de 708,5 ha, cuja razão área média por imóvel é da ordem de 30,8 ha, sendo 50 ha a maior área e a maior frequência de donos. Os imóveis com área entre 51 - 100 ha são em número de 27 propriedades, totalizando uma área de 2.553 ha, proporcionando uma área média por imóvel de 94,6 hectares, cuja moda é de 100 ha. Para a classe de 101 - 500 ha, existem 9 imóveis cuja soma das áreas é de 2.175 ha, com área media/imóvel de 241,7 ha. Os imóveis de classe superiores a 500 ha são apenas 3 e perfazem 6.900 ha., portanto com área média de 2.300 ha por imóvel. Apesar das áreas pertencentes às comunidades tradicionais, nota-se uma tendência igual à situação fundiária nacional, ou seja, pouca terra para muitos e muita terra para poucos, podendo-se dizer que há uma tendência à latifundização do minifúndio, a qual pode gerar, no sistema social local, estruturas de controle de poder que caminham na contramão das mudanças necessárias à perpetuação e valorização das comunidades tradicionais da Área de Influência (Tabela 33). UFRA / IDEFLOR 81 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 33 - Estrutura fundiária nas comunidades tradicionais da Área de Influência (AI) no conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns. Classe de Áreas (há) Até 50 Frequência: (Hectare / Número de propriedades) 50 (8) – 45 (1) – 40 (2) – 32 (1) – 30 (1) – 25 (1) – 20 (1) – 12,5 (2) – 12 (4) – 4(1) – 3,5 (1) 51 – 100 100 (21) – 75 (5) – 78 (1) 101 – 500 500 (1) – 400 (1) – 240 (1) – 230 (1) – 200 (2) – 160 (1) – 125 (1) – 120 (1) > 500 2.500 (1) – 2.400 (1) – 2.000 (1) 2.500 (1) – 2.400 (1) – 2.000 (1) – 500 (1) – 400 (1) – 240 (1) – 230 (1) – 200 (2) – 160 (1) – 125 (1) – 120 (1) – 100 (21) – 75 (5) – 78 (1) – 50 (8) – 45 (1) – 40 (2) – 32 (1) – 30 Total (1) – 25 (1) – 20 (1) – 12,5 (2) – 12 (4) – 4(1) – 3,5 (1) Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Medidas dos imóveis Σ = 23, com 708,5 ha Média = 30,8 ha Moda = 50 ha Σ = 27, com 2.553 ha Média = 94,6 ha Moda = 100 ha Σ = 9, com 2.175 ha Média = 241,7 ha Moda = 200 ha Σ = 3, com 6.900 ha Média = 2.300 ha Σ = 62, com 12.336,5 ha Média = 198,98 ha Moda = 100 ha O uso da terra é um reflexo da situação legal da posse e da distribuição fundiária. Assim, a mata primária é a cobertura dominante; em média ela domina 66,2% da paisagem nos imóveis das famílias que vivem nas comunidades tradicionais (Tabela 34). Tabela 34 - Posse e uso da terra nas comunidades das áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Descrição Total (N) 116 Documentação da propriedade: Titulo Escritura Recibo de compras Carta de posse Não tem Uso e ocupação do solo: 94 Mata (Floresta Primária) Capoeira (Floresta Secundária) Lavoura Pasto Área aberta Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Ocorrência/Frequência (%) ARA ITA MAM 4,4 0,0 0,0 6,5 89,1 0,0 0,0 6,7 6,7 86,6 5,5 9,0 0,0 0,0 85,5 60,7 7,5 31,1 0,7 0,0 74,6 11,7 5,6 2,1 6,0 63,2 16,2 8,2 12,4 0,0 Nas comunidades do Eixo ITA, essa forma de cobertura do solo tem sua maior expressão - 74,6%; quanto ao ARA, como área de ocupação mais antiga, é quase natural que apresente a menor porção de mata primária (60,7%), e é onde se concentra a maior fração da terra com uso agrícola - 31,1%. UFRA / IDEFLOR 82 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará O uso agrícola secunda ao uso florestal: em média 15% do uso da terra é com a agricultura; e como já foi visto, o ARA detém a superioridade nessa classe de uso, seguido do MAM e do eixo ITA, em ordem de expressão. A floresta secundária (capoeira) regenerada natural se apresenta como a terceira forma de uso da terra; em média cobre 11,8% da cobertura. O uso com pasto tem uma média de 5%, e no rio MAM tem a sua maior expressão, com 12,4% do uso local da terra. No eixo ITA, foi mencionada a classe de uso do tipo área aberta, onde a frequência é da ordem de 6% apenas, podendo ser destinada à pecuária no futuro próximo (Tabela 34). Em se tratando de comunidades tradicionais, a análise do uso da terra, como um recurso fundamental para sobrevivência e reprodução social, consagra dois importantes sistemas: o sistema social familiar e o sistema social econômico. Em comunidades tradicionais, existe uma orgânica integração entre ambos. O sistema familiar é simultaneamente fator de produção e fator de consumo; o primeiro, enquanto mão-de-obra e conhecimento; e o segundo, enquanto mercado para os genros que produzem. A terra, já se mencionou, é o maior capital para as comunidades tradicionais e adquire valor pelo tipo de uso. A decisão do tipo de uso pode ser circunscrita a grupos formais, como o governo e os agentes compradores; ou a grupos informais, como a família e a rede de parentes. Mas pode ocorrer principalmente nas áreas de fronteira agrária, pois os pequenos agricultores e os extrativistas estão mais livres dos grupos de controle para determinar esse ou aquele tipo de uso da terra. Dessa forma, o uso da terra passa a ser decorrência das condições de vida na fronteira agrária, e a produção dependerá do trabalho familiar frente às necessidades da própria família. As comunidades tradicionais da Área de Influência (AI) são comunidades de famílias de policultivadores. Atividades de coleta extrativista e de plantio se interpolam no dia-a-dia para garantir a sobrevivência familiar. Os mais policultivadores se encontram entre as unidades familiares eixo MAM, onde foram encontrados 35 produtos: abacate, abacaxi, açaí nativo, açaí cultivado, acerola, banana, batata doce, batata roxa, cacau, café, caju, cana, cará, coco, cupuaçu, dendê, farinha de mandioca, farinha de tapioca, feijão, jerimum, graviola, ingá, laranja, macaxeira, manicuera, maracujá, maxixe, melancia, milho, pimentado-reino, tangerina e urucum. Entre as famílias do eixo ARA, foram anotados 29 produtos: abacate, abacaxi, açaí, arroz, bacaba, banana, batata, buriti, caju, cana, cará, castanha-decaju, coco, cupuaçu, farinha, feijão, galinha, gengibre, jerimum, macaxeira, mamão, manicuera, maxixe, melancia, milho, patuá, seringa, tapioca e urucum. No eixo ITA, foram UFRA / IDEFLOR 83 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará referidos 18 produtos: arroz, banana, batata, caju, cupuaçu, farinha, feijão, galinha, goiaba, jerimum, inhame, lima, limão, mandioca, manga, melancia, milho. A agricultura familiar, como era esperada, revela-se uma agricultura de subsistência, embora uma parte da produção se destine ao mercado, ao que parece, organizado por meio de atravessadores. Para as três áreas do estudo foi identificado o destino da produção para cinco produtos mais produzidos por região (Tabela 35). A produção para consumo próprio predomina. Menor percentual de consumo próprio ocorre entre as famílias do eixo ITA, onde arroz, farinha, feijão, milho e banana sustentam uma taxa média de subsistência da ordem de 59%, sendo que o milho e a banana são os produtos com maior consumo pelas famílias. No ARA, em média, as famílias apropriam 62,4% do arroz, farinha, feijão milho e macaxeira produzidos na unidade; milho e macaxeira são os itens de maior consumo familiar. O MAM apresenta a maior taxa de subsistência, com 62% do que é produzido, que se destina ao consumo familiar. O cupuaçu, farinha, melancia, arroz e feijão compõem a pauta de consumo, sendo que o arroz e o feijão têm a produção toda destinada ao abastecimento familiar. Tabela 35 - Produção, venda e consumo registrados nas comunidades das áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Região Produtos Unidade Produção Total Venda (%) Consumo (%) 300 1.300 400 600 200 390 400 400 500 155 300 1.718 200 100 100 22,0 57,0 55,0 29,0 25,0 42,0 67,0 35,0 32,0 29,0 33,0 77,0 46,5 0 0 78,0 43,0 45,0 71,0 75,0 58,0 33,0 65,0 68,0 71,0 67,0 33,0 53,5 100 100 Arroz kg Farinha kg ARA Feijão kg Milho kg Macaxeira kg Arroz kg Farinha kg ITA Feijão kg Milho kg Banana cacho Cupuaçu unid. Farinha kg MAM Melancia kg Arroz kg Feijão kg Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. As unidades da produção familiar possuem benfeitorias com índices que deixam a desejar, de acordo com os percentuais médios que foram anotados nas três áreas de estudo: casa residencial - 26%; curral/galinheiro/chiqueiro - 23%; casa de farinha - 17%; cerca - 3,4% (Tabela 36). UFRA / IDEFLOR 84 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A infraestrutura geradora de saúde e bem-estar também apresenta “média de bemestar” precária: em média para 78,3% dos imóveis, o abastecimento d’água para uso doméstico provém dos rios e igarapés, com acentuados percentuais (>80) no MAM e no ARA. Açudes, cisternas e poços prevalecem em 15% dos imóveis e água para uso doméstico com aparência mais saudável, ou seja, proveniente de microssistemas, apenas para 6,6% em média, sendo que as comunidades do MAM são as mais contempladas, com cerca de 11% das unidades. Por ser uma fração de terra mais continental, é notório, no eixo ITA, o percentual da água para uso caseiro proveniente dos açudes, cisternas e poços - 32 % (Tabela 36). Tabela 36 - Descrição da Propriedade nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Ocorrência/Frequência (%) ARA ITA MAM Descrição Benfeitorias na propriedade: Casa residencial Casa de farinha Galpão/paiol/oficina Curral/galinheiro/chiqueiro Cerca Poço Fossa séptica ou negra Água (uso doméstico): Rios e igarapés Açude, cisterna e poço Microssistema Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Média 27,3 20,6 1,2 20,6 1,8 1,8 26,7 24,0 14,0 2,0 24,0 6,0 12,0 18,0 27,1 16,3 0,5 24,6 2,5 2,0 27,0 26,1 17,0 1,2 23,1 3,4 5,3 23,9 82,8 8,6 8,6 68,2 31,8 0,0 83,9 4,8 11,3 78,3 15,1 6,6 No uso do referencial teórico da teoria dos sistemas sociais, não se deve apenas entender os aspectos formais e burocráticos da religião. Tanto a religião como a magia são contextos de crenças que, embora tendo cada qual a sua peculiaridade, ambas formam um sistema de crenças que podem funcionar reforçando o “status quo” ou contribuindo para mudanças, reforçando, ou não, valores, atitudes e ação social. Em comunidades remotas e tradicionais, esse sistema de crença tende a reforçar o comportamento e certas percepções sobre a natureza. No caso do estudo aqui apresentado, um conjunto de perguntas foram feitas com o propósito de encontrar relações com o deísmo, práticas sagradas, “animatismos”, “animismo”, “totemismo” etc. O conjunto de perguntas 1-3 nos mostra famílias que, na totalidade (100%), abraçam o deísmo e com uma grande maioria (média= 90%) crente na existência de vida após a morte. Entretanto, quando indagadas se “fazer o bem é mais importante que ter religião”, 95,6% em média, responderam que sim, sinalizando que religião pode não ser sinônimo de bondade. UFRA / IDEFLOR 85 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará As perguntas 5-7 nos remetem à questão de alguns valores dominantes e da existência de crenças apoiadas no “animismo”, ou seja, objetos animados ou inanimados podem estar habitados por almas. Em média, para 79% das famílias, certas carnes são “remosas”; por isso. evitam comê-las em situações impróprias. Indagados “se a floresta é protegida por espíritos” e se “o rio tem seu rei”, as médias de concordância ficaram em torno 55% e 70%, respectivamente. Foi interessante anotar que esse conjunto de perguntas mereceu resposta percentual sempre mais baixa entre as comunidades do eixo ITA, comparada aos percentuais de respostas concordantes dos eixos ARA e MAM. Surpresa? Não, aí está o grupo de famílias com menor tempo na região e originários de outras regiões que não a Amazônia. As perguntas e respostas dadas às questões 9-12 ensejam ao estudioso avaliar a percepção das famílias moradoras sobre a floresta e o meio ambiente, de suma importância por se tratar de comunidades florestais. Os valores médios das respostas foram sempre elevados, entre 98 e 99%, com a região do ITA mostrando concordância total com o SIM da resposta; o mesmo acontecendo na região do MAM, para a importância da floresta em pé e para as relações entre o desmatamento e mudança climática. Ressalta-se aqui que a resposta à afirmação “a floresta em pé é mais importante do que derrubada” teve confirmação de 100% das respostas no ITA e no MAM; enquanto no ARA, a concordância foi de 98% aproximadamente. A pergunta cujo percentual médio de concordância foi o mais baixo - 33% - de todas as perguntas, distingue as famílias produtoras da Área de Influência como conservadoras, quanto ao padrão moral de conduta e de responsabilidade (Tabela 37). Tabela 37 - Crenças, costumes, valores e participação das comunidades nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Ocorrência/Frequência (%) ARA ITA MAM Sim Não Sim Não Sim Não Acredita em um só Deus? 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 Acredita na vida após a morte? 97,8 2,2 86,7 13,3 85,5 14,5 Fazer o bem é mais importante que ter religião? 90,0 10,0 100,0 0,0 96,8 3,2 Fazer o bem e ter religião é importante. 84,2 15,8 100,0 0,0 96,0 4,0 Acredita que certas carnes são remosas? 76,1 23,9 73,3 26,7 87,3 12,7 Acredita que a floresta é protegida por espíritos? 73,9 26,1 13,3 86,7 78,2 21,8 O rio tem seu “rei”? 71,7 28,3 46,7 53,3 92,7 7,3 “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão” 10,9 89,1 40,0 60,0 49,1 50,9 A floresta em pé é mais importante do que derrubada? 97,8 2,2 100,0 0,0 100,0 0,0 O desmatamento muda o clima e diminui as chuvas? 95,7 4,3 100,0 0,0 100,0 0,0 Acredita que há relação entre a floresta e o rio/igarapé 95,7 4,3 100,0 0,0 98,2 1,8 Acredita que o clima aqui na região está mudando? 97,8 2,2 100,0 0,0 98,2 1,8 Participa de cooperativa ou associação comunitária? 73,9 26,1 66,7 33,3 9,1 90,9 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Descrição UFRA / IDEFLOR 86 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 5.3 UTILIZAÇÃO DE RECURSOS FLORESTAIS NO CONJUNTO DE GLEBAS MAMURU-ARAPIUNS 5.3.1 Contextualização O desenvolvimento do parque industrial brasileiro, no final da década de 1950, e a crise política do início da década de 1960 impuseram ao Estado brasileiro uma mudança de plano em relação ao “desenvolvimento da Amazônia”, que até então se alicerçava no extrativismo vegetal e agricultura de subsistência. A partir daí, iniciou-se uma nova fase em sua economia regional, a estratégia de “valorização da Amazônia”, que inspirava os planos de desenvolvimento, cede lugar a uma estratégia de “integração da Amazônia” à economia nacional e internacional. Nessa política, implantaram-se diversos “projetos de desenvolvimento”, como os grandes complexos minero-metalúrgicos, bem como uma gigantesca infraestrutura para darlhe suporte. Essa postura de colonização teve o ápice na década de 1970, quando as políticas governamentais ditavam a ocupação da região através de assentamentos agrícolas, incentivos fiscais, baixo valor da terra ou a sua concessão etc. Tudo dentro da estratégia dos países industrializados de transferir aos países do “terceiro mundo” a produção de semielaborados, produtos altamente consumidores de energia, danosos ao meio ambiente e de baixo retorno econômico (SECTAM, 1996). A Amazônia apresenta uma cobertura vegetal representada por um maciço de floresta tropical onde se encontram as mais variadas formações vegetais primárias intercaladas por rios, igarapés, furos, canais, lagos, praias, restingas, savanas, campos rupestres e outras formações (Pires & Prance, 1985; Ayres, 1993). É uma região de multiplicidades étnicas, riquezas naturais - bióticas e abióticas - e que tem um dos maiores patrimônios naturais e reservatório da biodiversidade do planeta, onde o homem tem e terá o eterno desafio de promover o seu desenvolvimento, sem agredir a natureza, visando alcançar a sustentabilidade, criando alternativas que possam contribuir para minimizar os agravos sociais, econômicos e ambientais na região (Santos, 2002). A degradação de um recurso natural pode ser definida como um dos efeitos negativos da intervenção antrópica na estrutura e funcionamento de um ecossistema, ocasionando a redução da sua capacidade produtiva primária: solos, biodiversidade e funções ambientais que transcendem às áreas afetadas. Assim, as áreas degradadas sofrem perdas quantitativas (produção primária) e qualitativas (solo, água, biodiversidade), sendo que sua recuperação pode variar da implantação e manejo de agroecossistemas à reestruturação do ecossistema UFRA / IDEFLOR 87 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará natural, o que é difícil em termos de biodiversidade. Assim, pesquisas para identificar as causas de degradações dos recursos naturais são recomendáveis para criar indicadores dessa degradação, visando identificar alternativas que busque minimizar os impactos ambientais advindos do uso não planejado desses recursos. Estudos já confirmam que práticas insustentáveis, como os desmatamentos sem a reposição arbórea, a ausência de manejo florestal, a queimada na agricultura migratória em larga escala estão entre as práticas mais condenáveis, porque favorecem a emissão de gases e reduz a capacidade do ambiente de sequestrar Carbono, sujam a atmosfera e não favorecem a vida. No campo das atividades agropecuárias, uma medida de largo alcance é a implantação de sistemas renováveis dotados de elevada capacidade de realizar fotossíntese, favorecendo o oxigênio limpo através do sequestro do Carbono existente na atmosfera, verdadeiros sistemas biovegetais que funcionem como uma espécie de “fossa sumidoura” de gás carbônico (CO2); dentre os mais promissores, estão o Sistema Agroflorestal - SAF, bem como o Manejo Florestal Comunitário, pois cumprem requisitos ambientais e socioeconômicos já comprovados cientificamente (Tourinho & Santos, 2006). 5.3.2 Metodologia 5.3.2.1 Área de estudo O conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns abrange uma área com cerca de 1,3 milhões de hectares, é a maior área de floresta pública estadual. São terras contíguas existentes nos municípios de Santarém, Juruti, Aveiro e Óbidos no estado do Pará. O conjunto é formado pelas Glebas: Nova Olinda I, Nova Olinda II, Nova Olinda III, Mamuru e Curumucuri (Figura 1). Essa área constitui a última fronteira madeireira da região do baixo Amazonas, cobiçada por sua imensurável diversidade biológica e riqueza de subsolo. Segundo a classificação de Köppen, o clima predominante na região é o quente e úmido, característico das Florestas Tropicais. Não sujeito às mudanças significativas de temperatura, devido à sua proximidade da linha do equador. A temperatura média anual varia de 25ºC a 28ºC, com umidade relativa média do ar de 86%. A precipitação média anual é de 1.920 mm, com maior intensidade no chamado período de "inverno", que ocorre de dezembro a maio, quando a precipitação média mensal varia de 170 mm a 300 mm. Nos meses de junho a novembro, ocorre o período mais seco, correspondendo ao "verão" regional. Nesse período, ocorrem as menores precipitações registradas na região, com valores médios inferiores a 60 mm, entre os meses de agosto a outubro (IBGE, 1991). UFRA / IDEFLOR 88 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 5.3.2.2 Métodos Foram elaborados questionários temáticos: comunidades; unidade de produção familiar; floresta e animais, com objetivo de nortear e registrar as informações relevantes fornecidas pelas “pessoas-chave” (líder comunitário, professores, agente de saúde, motosserristas, caçadores, entre outros) na comunidade (Anexos). Após elaboração dos questionários, houve treinamento da equipe de pesquisa com a finalidade de nivelamento e apuração dos instrumentos de pesquisa, antes das incursões nas comunidades que foram previamente selecionadas por sua influência ou diferenciação na área geográfica de pesquisa dos rios Mamuru e Arapinus. Dessa forma, as incursões no campo de pesquisa ocorreram em três grandes eixos de estudo: Eixo 1- Itaituba-Alto Mamuru (ITA); Eixo 2- Baixo e Médio Mamuru (MAM) e Eixo 3- Rio Arapiuns - Translago (ARA). O levantamento de campo foi realizado no período de 24/11/2008 a 05/12/2008, incluindo deslocamento, localização de vias de acesso, identificação de comunidades, sensibilização dos comunitários e aplicação de questionário em campo. De acordo com o tipo e situação das vias de acesso, o deslocamento dos entrevistadores ocorreu por meio de carro, moto, barco, voadeira ou rabeta. Foi utilizado GPS para a localização geográfica das comunidades, e câmera fotográfica para o registro de imagens relacionadas ao trabalho. Cada equipe foi formada com quatro pesquisadores e um guia. O coordenador da equipe ao chegar à comunidade buscava sempre identificar lideranças locais, para explicar o trabalho e seus objetivos e discutir a estratégia de abordagem dos entrevistados e saber quem poderia contribuir na pesquisa. Em alguns casos, o trabalho começou com uma reunião comunitária com a participação de um maior número possível de pessoas, onde o coordenador apresentava sua equipe e explicava os objetivos do estudo, ressaltando a importância da participação da comunidade no trabalho. 5.3.2.2.1 Amostragem A amostragem foi não probabilística, dentre as quais, optou-se pela amostragem intencional (ou por julgamento). A suposição básica da amostra intencional é que, com bom julgamento e estratégia adequada, podem ser escolhidos os casos a serem incluídos, chegando assim a amostras que sejam satisfatórias para as necessidades da pesquisa (Mattar, 1993). A amostragem abrangeu 20% das famílias de cada comunidade selecionada para a pesquisa socioambiental, em que se buscou: resgatar a história, origem, formação, costumes e fatos relevantes das comunidades selecionadas para estudo; identificar as espécies vegetais e seus usos; e descrever a demanda e visão de comércio dos comunitários em relação aos UFRA / IDEFLOR 89 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará produtos florestais (madeireiro e não-madeireiro). Visando à homogeneidade nos resultados e clareza nas discussões, os dados dos eixos de pesquisa ITA e MAM, referentes ao uso, preço e demanda de comercialização, foram juntados na análise de produção e receita médis anual. 5.3.2.2.2 Análise de dados Os dados qualitativos foram processados de modo dissertativo, procurando analisar a situação de cada eixo de estudo. Os resultados foram organizados em Quadros e Figuras, para análise das informações; enquanto os dados quantitativos foram tabulados e processados utilizando estatística descritiva. Para calcular o preço do metro cúbico (m³) de fuste em pé (PFP), partiu-se da seguinte equação: PFPi = (PMPi - CBeneficiamento). k - CTransporte Em que: PFPi = preço de fuste em pé, em R$ m-3. PMPi = preço da madeira em prancha, em R$ m-3 CBeneficiamento = custo de desdobro (abater, traçar e desfiar), em R$ m-3; k = fator de conversão de madeira em tora para madeira serrada (0,30); CTransporte = custo de transporte, R$ m-3; e i = 1, 2, 3 =>.n corresponde ao número de espécies. A tabulação e o processamento dos dados de pesquisa foram realizados por meio do programa Microsoft Excel 2003, utilizando-se Tabela Dinâmica. As espécies vegetais (madeireiras e não-madeireiras) foram relacionadas no campo pelo nome comercial; a lista de espécies foi elaborada por meio de revisão de listas de espécies que ocorrem na região do baixo Amazonas e com auxílio dos técnicos do Laboratório de Tecnologia da Madeira da Universidade Federal Rural da Amazônia - Campus Tapajós (UFRA Tapajós). A sinonímia e a grafia das taxas foram atualizadas mediante consulta ao banco de dados do Missouri Botanical Garden, disponível na página http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html. 5.3.3 Resultados e discussão 5.3.3.1 Comunidades e situação fundiária Foram realizadas 98 entrevistas nas três áreas de estudo: ITA, MAM e ARA. Identificou-se que a situação fundiária nas regiões do ARA e ITA é equivalente, predominando as terras públicas (70%); enquanto, na região do MAM, a situação foi inversa, onde 100% das terras foram declaradas como particulares. Os comunitários sabem que estão UFRA / IDEFLOR 90 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará em terras públicas estaduais, mas como moram nas áreas desde que nasceram ou há mais de três décadas, consideram que as terras lhes pertencem por direito. A área média de ocupação é de 1.984,6 ha (Tabela 38). Tabela 38 - Famílias entrevistadas, situação fundiária e área das comunidades ARA, ITA e MAM. Situação fundiária (%) Número de entrevistadas Particular Pública ARA 30 29,2 70,8 ITA 10 30,0 70,0 MAM 55 100,0 0,0 Média 31,7 53,1 46,9 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Área média da Comunidade (ha) 3.283,3 504,4 1.447,7 1.984,6 Região 5.3.3.2 Concessão florestal A maioria dos comunitários entrevistados nas regiões do ARA (81,8%) e do MAM (98,2%) declararam que não tinham a menor ideia do que seria uma Concessão Florestal, enquanto 44,4% dos entrevistados na região do ITA declararam que tinham uma noção do que ela significava, mas não mostravam segurança. Contudo, mesmo após a explicação feita por nossos entrevistadores sobre o assunto, a opinião dos comunitários, nas três regiões estudadas, a respeito da Concessão Florestal mostrou que 36,4% dos entrevistados acham que a Concessão Florestal traria problemas fundiários e seria prejudicial para as comunidades, 27,3% temem que haja perda da biodiversidade e, apenas, 9,1% acreditam que não haveria prejuízo às comunidades; enquanto outros 27,3% acham que iria gerar emprego e traria desenvolvimento à região (Tabela 39). Tabela 39 - Opinião dos comunitários sobre concessão florestal no conjunto de glebas MamuruArapiuns. Região Conhece (%) Não Sim ARA 81,8 18,2 ITA 55,6 44,4 MAM 98,2 1,8 Opinião - Prejudicial para a comunidade - Teme problemas fundiários - Teme perda da biodiversidade - Geração de emprego e renda - Prejudicial para a comunidade - Teme problemas fundiários - Teme perda da biodiversidade - Desenvolvimento para a região - Teme perda de biodiversidade - Geração de emprego e renda - Não há prejuízo à comunidade Média 89,5 10,5 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR 91 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Quando a análise é destacada por região, 100% dos entrevistados na região do ARA e 75% no ITA temem a efetivação da Concessão Florestal; já na região do MAM, 50% dos entrevistados acharam que ela seria positiva. No geral, cerca de 63,7% dos entrevistados não veem a Concessão Florestal como a melhor alternativa de desenvolvimento sustentável para a região (Tabela 39). 5.3.3.3 Diversidade de espécies Nas áreas estudadas, foram registradas 96 espécies utilizadas nas comunidades, o número de espécies encontradas em cada área ou eixo de estudo foi 85 (MAM), 17 (ITA) e 44 (ARA). As espécies mais citadas nas três áreas de estudo foram: açaí, amapá, andiroba, angelim, Angelim-pedra, cedro, cedrorana, cipó-titica, copaíba, cumaru, itaúba, maçaranduba, matupá, muiracatiara e pau d’arco. Quinze espécies (15,6%) foram comuns às três áreas de pesquisa. As espécies mais citadas na região do ARA foram: cupiúba e itaúba; na região do MAM destacaram-se: itaúba e muiracatiara; e na região do ITA, o pau d’arco (Tabela 40). A diversidade florística observada na região do ARA e MAM foi superior à encontrada (60 espécies) nos levantamentos florestais realizados pela Missão FAO na Amazônia nessa mesma região (Brasil, 1974) e mais que o dobro da encontrada (40 espécies) numa pesquisa realizada no Campo Experimental de Belterra-PA e na Floresta Nacional do Tapajós (EMBRAPA, 1991), considerando-se as diferenças amostrais e metodológicas utilizadas nos três estudos. Tabela 40 - Espécies registradas nas áreas de estudo ARA, ITA e MAM. Nome comercial Abuta Açaí Amapá Anani Andiroba Angelim Angelim-pedra Angelim-vermelho Araraúba / Aracanga Aroeira Arumã Arurá Bacaba Bacuri-da-mata Barbatimão Espécie Abuta grandifolia (Mart) Sandwith Euterpe oleracea Mart. Família Brosimum parinarioides Ducke Symphonia globulifera L. Carapa guianensis Aubl. Hymenolobium sp. Hymenolobium petraeum Ducke Hymenolobium flavum Ducke Menispermaceae Arecaceae Moraceae Clusiaceae Meliaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Aspidosperma album (Vahl) R.Ben Astronium gracile Engl. Apocynaceae Anacardiaceae Thalia geniculata L. Otoba parvifolia (Mgf. ) M. Gently Oenocarpus bacaba Mart. Marantaceae Myristicaceae Arecaceae Clusiaceae Rheedia macrophylla Planch. & Triana Stryphnodrendron brabatimam Mart. Fabaceae UFRA / IDEFLOR Número de citações ARA ITA MAM 1 2 1 39 1 4 24 2 3 2 1 9 6 1 13 1 1 25 2 22 1 3 4 17 8 45 1 2 92 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Breu Breu-sucuruba Buriti Caju-açu Carapanaúba Casca-doce Castanha-do-Pará Cedro Cedrorana Cedro-rosa Cipó-açu Cipó-ambé Cipó-pagé Cipó-saratudo Cipó-titica Cipó-tuíra Cipó-unha-de-gato Comanda Copaíba Cravinho Cumarú Cupiúba Dente-de-leão Envira-taia Escada-de-jabuti Fava Fava-orelha-de-macaco Freijó-branco/L. freijó Guaruba / Guariuba Itaúba Itaubão Jacarandá Jaranã Jatobá Jucá Laranjinha Louro Louro-açu Louro-aguano Louro-cheiroso Louro-itaúba Louro-mamurim Louro-rosa Louro-tamaquaré Maçaranduba Mamorana Mandioqueira Maparajuba Marapuama Marupá Mucajá Mucunã Muiracatiara Mururé Protium heptaphyllum (Aubl.) March. Trattinickia rhoifolia Wild. Mauritia flexuosa L. Burseraceae Burseraceae Arecaceae Anacardiaceae Apocynaceae Sapotaceae Lecythidaceae Meliaceae Mimosaceae Meliaceae Anacardium spruceanum Benth. ex Engl. Aspidosperma carapanauba Pichon. Pouteria trilocularis Cronq. Bertholletia excelsa H. B. K. Cedrela odorata Ruiz & Pav. Cedrelinga catanaeformis Ducke Cedrela fissilis Vell. Evodianthus sp. Philodendron solimoensis A.C. Smith Dalbergia subeymosa Ducke Abuta sp. Heteropis flexuosa (H.B.K.) G.S. Bunting Bonamia ferruginea (Choisy) H.Hallier Uncaria tomentosa (Wild. ex R & S.); DC sp-1 Copaifera reticulata Ducke Araceae Araceae Fabaceae Menispermaceae Araceae Convolvulaceae Rubiaceae Fam-1 Caesalpiniaceae Sygygium aromaticum L. Dipteryx odorata (Aubl) Willd. Goupia glabra (Gmel.) Aublet Mirtaceae Fabaceae Celastraceae Taraxacum sp. Anona ambotay Aubl. Bauhinia glabra Jacq. Vatairea guianensis Aubl. Enterolobium maximum Ducke Cordia bicolor D.C. Clarisia racemosa R.C.P. Mezilaurus itauba Taubert ex Mez. Nectandra rubra (Mez) C.K. Allen Dalbergia spruceana Benth. Araceae Anonaceae Bignoniaceae Fabaceae Holopyxidium jarana Ducke Hymenaea courbaril L. Peltogyne paniculata Benth. Metrodorea flavida Krause Ocotea spixiana (Nees) Mez. Ocotea sp. Licaria guianensis Aublet Aniba paraense Mez. Mezilaurus sp. Ocotea cymbarum H.B.K. Aniba parviflora Mez. Nectandra cuspidata Nees Manilkara huberi (Ducke) Chevalier Bombax spruceanum (Desne) Ducke Qualea albiflora Warm. Manilkara amazonica (Huber) Standl. Ptychopetalum olacoides Bent. Simaruba amara Aubl. Acrocomia sclerocarpa Mart. Pereskiopsis sp. Astronium le-cointei Ducke Brosimum obovata Ducke Fabaceae Borraginaceae Moraceae Lauraceae Lauraceae Fabaceae Lecythidaceae Caesalpiniaceae Caesalpiniaceae Rutaceae Lauraceae 2 3 1 1 1 8 1 2 4 6 3 2 3 2 4 15 9 14 1 4 23 9 1 22 1 2 1 1 1 2 14 76 5 1 2 3 2 4 7 2 1 1 1 7 2 2 1 34 1 28 1 1 44 1 1 71 12 1 2 Lauraceae Lauraceae Lauraceae Lauraceae Lauraceae Lauraceae Lauraceae Sapotaceae Bombacaceae Vochysiaceae Sapotaceae 1 Olacaceae Simaroubaceae 8 2 Arecaceae Fabaceae Anacardiaceae Moraceae 1 1 2 UFRA / IDEFLOR 4 5 8 12 1 12 23 2 1 2 4 1 3 13 1 1 2 93 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Muúba Óleo-grosso Patauá Pau-d'arco Pau-rosa Piquiá Pracaxi Preciosa Pririma Quaruba-cedro Quina Quinarana Sapateiro Saracura-mirá Sucuba Sucupira Sucupira-de-morcego Sucupira-do-brejo Tachi Tatajuba Tento Tucumã Ucuúba Uxi-liso Uxirana Verônica Xixuá Bellucia imperialis Sad. et. C. ex. Cogn Copaifera sp. Jessenia bataua (Mart.) Burret Tabebuia serratifolia (Vahl) G. Nicholson Aniba roseodora Ducke Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Pentaclethra macroloba Kuntze Aniba canellila Mez. sp-2 Vochysia inundata Ducke Lacunaria crenata (Tul.) A.C. Smith Geissospermum sericeum (Benth.) Hook. Erisma uncinatum Ducke Ampelozizyphus amazonicus Ducke Himatanthus sucuuba (Sppruce) Woodson Diplotropis purpurea (Rich.) Amshoff Diplotropis sp. Diplotropis martiussi Benth. Tachigalia sp. Bagassa guianensis (Aubl.) Huber Ormosia coccínea (Aubl.) Jack. Astrocaryum vulgare Mart. Virola michelii Heckel Endopleura uchi (Hub) Cuart. Sacoglottis amazonica Mart. Dalbergia monetária L.F. Maytenus pruinosa Reissex Melastomataceae Caesalpiniaceae Arecaceae Bignoniaceae Lauraceae Caryocaraceae Mimosaceae Lauraceae 1 3 2 4 1 Fam-2 Vochysiaceae Quiinaceae Apocynaceae Vochysiaceae Rhamnaceae Apocynaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Moraceae Fabaceae Arecaceae Myristicaceae Humiriaceae Humiriaceae Fabaceae Celastraceae 4 6 10 14 39 2 8 2 28 1 2 1 10 14 11 26 4 1 1 1 4 1 2 5 4 2 5 11 1 2 1 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. 5.3.3.4 Produto Florestal Não-Madeireiro (PFNM) 5.3.3.4.1 Tipo de uso e finalidade Na região do ARA, existem espécies de uso múltiplo. Foram registradas 27 espécies, o uso o mais frequente foi o de cipós (50%), com destaque ao cipó-ambé e cipó-titica, seguidos do uso de casca de barbatimão (25%), com produção média de 92 kg ano-1, 24 kg ano-1 e 2,2 kg ano-1, respectivamente, todos usados na terapia e medicina caseira, destaca-se, ainda, a produção de palhas de tucumãzeiro (18 cento ano-1), usadas na cobertura de casas. Quanto à finalidade, os maiores percentuais registrados foram de espécies exclusivas para venda: tucumãzeiro (100%) e barbatimão (99%), enquanto 83% da produção de cipó-titica foi destinada ao consumo familiar. Na média, 52,8% das espécies têm finalidade para venda, e 47,2% para consumo. No geral, 75% das espécies servem para consumo e venda (Tabela 41). Existem outras 23 espécies usadas apenas para consumo familiar, cujos comunitários não quantificaram sua produção, a saber: abuta, açaí (fruto e palmito - alimentação), anani, andiroba (fruto e óleo- medicinal), arumã, bacaba (fruto - alimentação), breu (exudado - UFRA / IDEFLOR 94 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará medicinal), buriti (fruto - alimentação), carapanaúba, castanha-do-Pará (castanha alimentação), comandá, copaíba (óleo - medicinal), jucá (fruto - medicinal), mururé, muúba, patauá (fruto - alimentação), piquiá, preciosa, sucuba, tachi, ucuuba, uxi-liso e verônica (casca - medicinal) (Tabela 41). Tabela 41 - Forma de utilização, produção anual média e finalidade de uso dos produtos florestais não-madeireiros nas comunidades da região do eixo ARA. Finalidade (%) Forma de utilização / Produção anual média Nome comercial casca Cipó (kg) (kg) Barbatimão 2,2 Cipó-ambé 92,0 Cipó-titica 24,0 Tucumã Outras espécies (23) Média Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. palha (cem) 18,0 - Venda Consumo 99 48 17 100 0 52,8 1 52 83 0 100 47,2 Na região do MAM, as espécies apresentaram um uso mais diversificado como também uma maior quantidade utilizada. Foram registradas 47 espécies, o maior uso foi de cascas (48,9%), com destaque para preciosa, carapanaúba e quinarana, com produção média de 888,5 kg ano-1, 423,3 kg ano-1 e 412,1 kg ano-1, respectivamente; seguidas de cipós (23,4%), destacando-se o cipó-titica (8.765,6 kg ano-1), casca-ambé (834,5 kg ano-1) e cipó-açu (654,5 kg ano-1); de frutos (17%), bacaba (15.842,3 kg ano-1), açaí (15.332,0 kg ano-1) e patauá (3.759,2 kg ano-1); de óleos (10,6%), copaíba (2.447,4 litro ano-1) e óleo grosso (1.141,0 litro ano-1); exudados (8,5%), sementes (6,4%), com destaque para produção de castanha-do-Pará (5.060,9 kg ano-1), enquanto o uso de palmito apresentou o menor percentual (4,3%), provavelmente pela opção da utilização dos frutos das palmeiras na alimentação familiar. Quanto à finalidade da produção, nas comunidades da região do MAM, observou-se que 100% das espécies são usadas para o consumo, mesmo aquelas espécies cuja produção é quase toda destinada para a venda. Dentre essas, 14,9% das espécies servem para consumo e venda, e 23,4% são espécies destinadas quase exclusivamente para venda. De modo geral, 74,5% das espécies são comercializadas, mesmo em pequena escala, e doze espécies (25,5%) são exclusivas para o consumo familiar (Tabela 42). UFRA / IDEFLOR 95 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 42 - Forma de utilização, produção anual média e finalidade de uso dos produtos florestais não-madeireiros nas comunidades da região do ITA-MAM. Nome comercial casca (kg) Forma de utilização / Produção anual média cipó exudado fruto óleo (kg) (l) (kg) (l) 15.332,0 319,6 1,8 17,0 Açaí Amapá 9,7 Andiroba 6,5 Arurá 36,5 Bacaba 15.842,3 Buriti 3.408,2 Caju-açu 75,1 Carapanaúba 423,3 Casca-doce 327,3 Castanha-do-Pará Cedro 91,6 Cipó-açu 654,5 Cipó-ambé 834,5 Cipó-pagé 43,6 Cipó-saratudo 68,2 Cipó-titica 8.765,6 Cipó-tuíra 43,6 Cipó-unha-de-gato 16,4 Copaíba 44,8 43,6 Cravinho 41,8 2,2 Cumarú Dente-de-leão 27,3 Envira-taia 8,5 Escada-de-jabuti 43,6 Itaúba 91,6 Jatobá 4,4 Laranjinha 197,9 Marapuama 327,3 Mucajá 2,2 Mucunã 43,6 Mururé 134,0 26,0 Óleo-grosso Patauá 3.759,2 Pau-d'arco 332,2 Piquiá 21,8 Preciosa 888,5 Pririma Quina 0,5 Quinarana 412,1 Saracura-mirá 58,7 53,5 4,4 Sucuba 210,8 186,0 Sucupira Tucumã 26,7 Ucuuba 11,5 Uxi-liso 197,8 21,8 Uxirana Xixuá 327,3 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR Finalidade (%) semente (kg) 5.060,9 2.447,4 218,2 1.141,0 8,7 43,6 8,7 Venda Consumo 3 10 23 0 3 0 0 17 95 4 48 48 50 95 32 43 95 0 27 0 95 90 0 95 48 0 14 95 0 95 19 48 6 32 48 7 0 0 10 18 8 95 0 0 9 95 95 97 90 77 100 97 100 100 83 5 96 52 52 50 5 68 57 5 100 73 100 5 10 100 5 52 100 86 5 100 5 81 52 94 68 52 93 100 100 90 82 92 5 100 100 91 5 5 96 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 5.3.3.4.2 Preço e demanda de comercialização Na região do ARA, a demanda comercial das espécies foi de 64,3% de espécies nãocomercializadas, corroborando o percentual de espécies utilizadas para consumo familiar, enquanto 28,6% das espécies florestais não-madeireiras apresentaram baixas demanda comercial e 7,1% das espécies apresentaram médias demanda comercial. Dentre os PFNM vendidos, merecem destaque o barbatimão, a palha de tucumãzeiro e o cipó-ambé (Tabela 43). Na região do ARA, apesar da boa produção e preço relativamente alto, os óleos de copaíba (R$ 16,67/litro) e piquiá (R$ 15,00/litro) são produtos que não são comercializados pelas comunidades, tendo seu uso na medicina caseira. A casca de barbatimão (R$ 6,50/kg) é o produto que apresentou a melhor demanda comercial para as comunidades locais, enquanto a andiroba (R$ 10,00/litro), o cipó-ambé (R$5,75/kg), o cipó-titica (R$ 3,00/kg) e a palha de tucumãzeiro (R$ 13,50/cento), são todos comercializados de forma incipiente pelas comunidades. Tabela 43 - Preço médio e demanda de comercialização de produto florestal não-madeireiro nas comunidades da região do ARA. Forma de utilização / Preço médio de comercialização (R$ unid.-1) Nome comercial Casca Cipó Exudado Óleo Palha Semente (R$ kg-1) (R$ kg-1) (R$ litro-1) (R$ litro-1) (R$ centro-1) (R$ kg-1) Andiroba 10,00 Arumã 8,33 Bacaba 7,67 Barbatimão 6,50 Breu 1,50 Buriti 9,00 Castanha-do-Pará 6,00 Cipó-ambé 5,75 Cipó-titica 3,60 Copaíba 16,67 Mururé 10,00 Patauá 6,50 Piquiá 15,00 Tucumã 13,50 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Demanda comercial Baixa NC NC Média NC NC NC Baixa Baixa NC NC NC NC Baixa As espécies encontradas na região do MAM apresentaram maiores percentuais (67,7%) de espécies de baixa demanda comercial, seguida das espécies com média (29,4%) e alta com apenas 2,9%. Destacando a alta demanda e grande produção de sementes de cumaru, com preço em torno de R$ 5,00/kg. Dentre as espécies que apresentaram demanda comercial média, merecem destaque o piquiá, cujo preço do litro alcançou R$ 10,00; e a UFRA / IDEFLOR 97 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará sucupira, que apresentou o melhor preço por quilograma de sementes (R$ 6,00), mesmo esta não sendo a espécies de maior demanda comercial. Contudo, mesmo espécies como sucuba, mururé e uxirana, que apresentaram baixas demanda comercial, obtiveram preços relativamente altos, todos, acima de R$ 10,00/unidade (Tabela 44). De modo geral, todos os PFNM retirados pelas comunidades estudadas das florestas têm finalidade comercial, assegurando geração de renda às famílias, o que demonstra uma maior visão comercial dos comunitários dessa região em relação aos da região do ARA. Tabela 44 - Preço médio e demanda de comercialização de produto florestal não-madeireiro nas comunidades da região dos eixos ITA-MAM. Nome comercial Açaí Amapá Andiroba Bacaba Carapanaúba Casca-doce Castanha-do-Pará Cedro Cipó-açu Cipó-ambé Cipó-pagé Cipó-saratudo Cipó-titica Cipó-tuíra Copaíba Cumarú Escada-de-jabuti Itaúba Laranjinha Marapuama Mucunã Mururé Óleo-grosso Patauá Pau-d'arco Piquiá Preciosa Quinarana Saracura-mirá Sucuba Sucupira Uxi-liso Uxirana Xixuá Forma de utilização / Preço médio de comercialização (R$ unid.-1) Demanda Cipó Exudado Fruto Óleo Semente comercial Casca (R$ kg-1) (R$ kg-1) (R$ litro-1) (R$ kg-1) (R$ litro-1) (R$ kg-1) 1,00 Baixa 9,00 Baixa Baixa 7,50 Baixa 1,00 Baixa 2,67 Baixa 2,00 Baixa 2,00 1,00 Média Baixa 3,00 Baixa 2,00 2,00 Média 5,00 Baixa 1,50 Média 2,00 Média 9,38 Baixa 5,00 Alta 2,00 Baixa 0,50 Baixa 2,00 Média 5,00 Média 1,00 Baixa 3,00 10,00 Baixa 2,50 Média 1,50 Baixa 1,00 Média 10,00 Média Baixa 1,00 Baixa 5,00 Baixa 1,75 2,00 5,00 12,50 Baixa 6,00 Média Baixa 5,00 Baixa 10,00 Baixa 5,00 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR 98 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Com referência ao período de colheita dos PFNM, verificou-se que a maior parte das espécies é utilizada durante o ano todo. Vale destacar a época de produção dos frutos: açaí dezembro a março; andiroba - fevereiro a maio; castanha-do-Pará - dezembro a abril; buriti fevereiro a junho e patauá - janeiro a abril. O extrativismo destas espécies é uma das alternativas de trabalho dos ribeirinhos e colonos na entressafra da exploração madeireira. As palmeiras, de um modo geral, merecem destaque junto às populações tradicionais, devido à sua importância ecológica e potencial econômico, relacionados principalmente à alimentação, medicamentos e construção (Gomes-Silva, 2004). As principais palmeiras utilizadas como fonte de produtos florestais não-madeireiros, nas regiões do MAM e ARA, foram: açaí, bacaba, patauá, buriti e tucumã, respectivamente. Por ano cada comunidade, na região do MAM, coleta cerca de 15.332 kg de fruto de açaí. Desse total, apenas 3% é comercializado (Tabela 42), e o restante destinado ao consumo, este resultado aponta a importância do fruto para a alimentação na região. Na região do ARA, 100% dos frutos coletados são consumidos pelas comunidades (Tabela 41). Na região do MAM, o valor médio do quilo do fruto é R$ 1,00 (Tabela 44). Segundo Menezes et al. (2005), o açaí possui relevante importância socioambiental, dado seu grande consumo local (o vinho de açaí é um alimento básico da população) e para pequenas indústrias na Amazônia, com grande potencial para ser produzido em larga escala e se estabelecer no mercado nacional e internacional de alimentos. O potencial produtivo do seu fruto, rico em antioxidantes e aminoácidos, contribui para o aumento do consumo e consolida perspectivas no mercado nacional e internacional. Estes fatores podem justificar a inserção do açaí como alternativa de renda na região do MAM, visto que, com boas práticas de manejo, 200 a 500 plantas de açaí ha-1 podem chegar a produzir 6 a 10 t de frutos h-1 ano-1, e praticamente toda a produção do açaí é extrativista - cerca de 98% do açaí produzido vêm da coleta de açaizais nativos na floresta. Na região do MAM, 97% da produção de bacaba são destinadas ao consumo, enquanto na região do ARA este percentual é de 100% (Tabelas 41 e 42). A pequena parcela de frutos coletados na região do MAM é comercializada ao preço de R$ 1,00/kg. A bacaba é uma espécie de palmeira muito importante para a subsistência das famílias nas áreas de estudo, servindo como fonte de gorduras, calorias e proteína. A produção média anual de palmito na região do MAM é baixa (3 kg), estando a produção voltada para o fruto utilizado para a produção de vinho. De acordo com Shanley e Medina (2005), a bacaba não forma populações homogêneas como o açaí e o tucumã, apresentando uma densidade de 1 a 20 UFRA / IDEFLOR 99 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará palmeiras por hectares. No entanto, a bacaba apesar de florescer apenas uma vez por ano e produzir um cacho, este floresce 5 a 6 vezes mais que o açaí. A bacaba atrai os animais, daí a importância dessa espécie próxima às casas, uma vez que os animais, principalmente a paca (Cuniculus paca) e a cutia (Dasyprocta aguti), como também tucano (Ramphastos sp.), papagaio (Amazona sp.), jacu (Penelope sp.), anta (Tapirus terrestris), queixada (Bradypus sp.), catitu (Pecari tajacu) e veado (Mazama sp.), são atraídos para se alimentarem dos seus frutos, facilitando desta forma as atividades de caça. Com exceção do tucano e do papagaio, os outros animais são os mais importantes para a alimentação das famílias na região do MAM. O vinho da bacaba também é utilizado para a alimentação dos animais domésticos. Na região do ARA, a finalidade de uso do fruto do patauá é exclusivamente o consumo, já na região do MAM, o consumo é de 94% (Tabela 42), sendo o restante comercializado ao preço de R$1,50/kg (Tabela 44). Do fruto podem-se fazer vinho e extrair o óleo, que, segundo Gomes-Silva (2004), é comestível e apresenta qualidades cosméticas e propriedades medicinais. O patauá é uma palmeira da qual se aproveitam as folhas, os frutos, estipe e raiz. O buriti, na região do MAM e ARA, não é comercializado; vale destacar que é uma das espécies preferidas para o consumo familiar. No conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns o uso do buriti é comum, seu fruto é amplamente utilizado para alimentação e seu estipe é aproveitado para construções rurais e artesanato. Conforme Magalhães (2005), na comunidade Errê, na região de Monte Alegre-PA, retira-se a massa do fruto por meio de raspagem com colher, o que dá origem às puquêcas - porções de formato oblongo, embrulhadas em folhas de muru-muru (Astrocaryum murumuru Mart.), pesando em média 1,5 kg. A massa é utilizada para o preparo do vinho de buriti e outros subprodutos, a saber: doce, creme, sorvete, pudins e um refresco açucarado congelado em saco plástico denominado de chope. O produto comercializado pelas comunidades estudadas na região do ARA oriundo do tucumãzeiro é a palha (R$ 13,50/cento), que é 100% comercializada (Tabela 43). Shanley e Medina (2005) afirmam que Urucureá, comunidade localizada, também, no rio Arapiuns, em Santarém-PA, vem gerando receitas consideráveis através da cestaria com palhas retiradas das guias (folhas novas) do tucumãzeiro. O fato de as duas comunidades serem próximas entre si sugere que a palha produzida na região de estudo no rio Arapiuns seja vendida para a comunidade Urucureá, o que justifica a demanda por matéria prima. Na região do MAM, ocorre a coleta de fruto de tucumãzeiro, demandado unicamente para o consumo das famílias UFRA / IDEFLOR 100 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará nas comunidades pesquisadas, utilizado na dieta em forma de vinho e polpa, uma fonte excepcional das vitaminas A (três vezes mais que na cenoura), B1 e C (Lima Junior e Miller, 2004; Shanley e Medina; 2005), capaz de contribuir consideravelmente para alimentação e nutrição dos comunitários; enquanto o óleo é muito utilizado em cozimentos, para fazer sabão, cosméticos e, ainda, medicamentos; já a sua palha é utilizada para chapéus, sacolas, tecidos, cordas e cestas. Foto 23. Artesanato de cipós nas comunidades da região do rio Arapiuns. 5.3.3.5 Produção madeireira A produção madeireira na região do ARA apresentou uma média de 4,41 m³ ano-1. Itauba foi a espécie mais importante, com volume de madeira em prancha (VMP) de 47,09 m³ ano-1, seguida de cupiúba (8,88 m³ ano-1) e marupá (6,12 m³ ano-1), enquanto que anani, com 0,27 m³ ano-1; e maparajuba, com 0,17 m³ ano-1, apresentaram as menores médias de produção anual. A produção florestal madeireira, na região do ARA, apresentou alto percentual (81,4%) de espécies destinadas à venda, sendo que 57,9% dessas espécies são exclusivamente para mercado local, e 15,8% são destinadas ao comércio no mercado regional, enquanto que 26,3% das espécies são comercializadas tanto no mercado local como regional, predominando o comércio local (75%). Vale ressaltar que 18,6% das espécies são destinadas ao consumo nas comunidades (Tabela 45). Foram registradas 19 e 35 espécies comerciais, na região do ARA e do MAM, respectivamente. Itaúba, muiracatiara, angelim, marupá e maçaranduba são as espécies mais exploradas na região, estas espécies representaram 78% do volume de madeira explorado pelas comunidades estudadas no Conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns (Tabela 45). UFRA / IDEFLOR 101 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Nas comunidades do ARA as espécies com os maiores preços de madeira em prancha (PMP) foram: maparajuba (R$ 426,14/m3), pau-d'arco (R$ 410,67/m3) e jarana (R$ 296,40/m3). E as espécies que se destacaram com os maiores preços de fuste em pé (PFP) foram: pau-d'arco (R$ 79,87/m3) e quaruba (R$ 56,36/m3) (Tabela 45). O PFP médio encontrado para as espécies da região foi de R$ 12,31/m3 (Tabela 47). Tabela 45 - Produção média anual de madeira nas comunidades ocorrentes na região do eixo ARA. Em que: VMP = volume de madeira em prancha, PMP = preço de madeira em prancha, PFP = preço de fuste em pé. VMP PMP PFP (m³ ano-1) (R$ m³) (R$ m³) Itaúba 47,09 206,42 35,90 Cupiúba 8,88 179,29 27,23 Marupá 6,12 142,61 15,91 Quaruba 4,34 254,55 56,36 Angelim 2,88 117,19 15,63 Pau-d'arco 2,57 410,67 79,87 Cedrorana 2,36 214,39 44,32 Piquiá 2,11 156,25 26,88 Cedro 1,80 208,33 42,50 Muiracatiara 1,26 142,86 22,86 Louro 1,08 180,56 34,17 Angelim-pedra 0,58 104,17 11,25 Cumarú 0,55 129,87 18,96 Amapá 0,54 222,22 46,67 Jaranã 0,53 296,40 45,59 Araraúba 0,36 138,89 21,67 Sucuba 0,36 138,89 21,67 Anani 0,27 194,44 38,33 Maparajuba 0,17 426,14 44,51 Média 4,41 203,38 34,23 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Nome comercial Destino (%) Venda Consumo 90,1 9,9 71,5 28,5 85,6 14,4 76,0 24,0 93,8 6,3 94,5 5,5 73,8 26,3 90,0 10,0 90,0 10,0 95,0 5,0 47,5 52,5 99,0 1,0 99,0 1,0 95,0 5,0 97,0 3,0 30,0 70,0 30,0 70,0 90,0 10,0 99,0 1,0 81,4 18,6 Comercialização (%) Local Regional 46 54 73 27 88 13 56 44 100 0 100 0 63 38 100 0 0 100 0 100 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 0 100 100 0 75,0 25,0 Na região do MAM, a produção madeireira apresentou uma média de 72,00 m³ ano-1. Itaúba foi à espécie mais importante, com volume de 949,33 m³ ano-1, seguida de muiracatiara (622,89 m³ ano-1) e marupá (108,37 m³ ano-1), enquanto que a sucupira de morcego (0,04 m³ ano-1) e a ucuuba (0,09 m³ ano-1) apresentaram as menores médias de produção anual. A produção madeireira no MAM apresentou um alto percentual (95%) de espécies destinadas à venda e, ainda, um alto percentual (98,7%) de espécies exclusivas à comercialização no mercado regional e, apenas, 1,3% de espécies comercializadas tanto no mercado local como regional (Tabela 46). UFRA / IDEFLOR 102 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Foto 24. Utilização de madeira na construção de canoas nas comunidades do rio Arapiuns. Nas comunidades da região do MAM, as espécies com os maiores preços de madeira em prancha (PMP) foram: louro-mamuri (R$ 625,00/m3), louro-rosa (R$ 617,93/m3) e paud'arco (R$ 555,05/m3); estas espécies também se destacaram com os maiores preços de fuste em pé (PFP), respectivamente, R$ 120,83/m3, R$ 118,71/m3 e R$ 96,52/m3 (Tabela 46). O PFP médio encontrado para as espécies da região foi de R$ 9,66/m3 (Tabela 47). Com referência às práticas locais de exploração da madeira, o colono que vende prancha trabalha cinco dias por semana e produz, em média, 4,50m3 semana-1 de madeira serrada. Dentre as diversas bitolas utilizadas, pode-se considerar a bitola de 0,25m x 0,10m x 3,5m como média da região de estudo, a partir da qual os colonos produzem, aproximadamente, 10 peças dia-1. Na região do ARA, as áreas de exploração estão mais distantes e a maior parte da madeira é retirada da mata já explorada e de áreas de uso alternativo do solo (desmatamento). Na região do MAM, a madeira é retirada nas margens dos rios e em floresta não explorada. Enquanto na região do ARA a madeira é retirada em áreas já exploradas, capoeiras ou florestas secundárias, sendo a floresta não explorada a terceira opção, haja vista serem menos ocorrentes, pois a região é reconhecida como sendo de antiga colonização e apresenta grande densidade demográfica quando comparada com outras áreas comunitárias da região do Conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns. Apareceram indicações para diferentes usos de medidas utilizadas pelos comunitários, as unidades de venda da madeira mais citadas foram: dúzia, peça, palmo, metro cúbico de madeira serrada e árvore em pé. UFRA / IDEFLOR 103 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 46 - Produção média anual de madeira nas comunidades ocorrentes na região do eixo MAM. Em que: VMP = volume de madeira em prancha, PMP = preço de madeira em prancha, PFP = preço de fuste em pé. VMP (m³ ano-1) Destino (%) Venda Consumo Itaúba 949,33 459,46 78,87 97,1 2,9 Muiracatiara 622,89 326,81 50,44 96,9 3,1 Angelim-pedra 108,37 215,94 37,84 100,0 0,0 Marupá 102,27 190,36 28,62 100,0 0,0 Maçaranduba 91,37 493,90 89,17 80,0 20,0 Angelim 89,80 319,28 52,21 92,1 7,9 Sapateiro 62,65 194,25 38,27 80,0 20,0 Mandioqueira 61,94 201,22 31,03 90,0 10,0 Breu-sucuruba 47,83 169,19 30,76 100,0 0,0 Louro-itaúba 40,50 239,58 28,54 100,0 0,0 Piquiá 39,20 416,67 50,00 100,0 0,0 Tatajuba 38,40 83,33 10,00 100,0 0,0 Louro-rosa 37,13 617,93 118,71 100,0 0,0 Cedro 36,00 200,00 40,00 100,0 0,0 Arurá 29,08 239,67 42,57 100,0 0,0 Cupiúba 28,48 163,22 20,42 87,5 12,5 Aroeira 23,51 374,05 68,88 100,0 0,0 Amapá 22,00 113,64 14,09 100,0 0,0 Sucupira-do-brejo 21,12 90,91 12,27 100,0 0,0 Pau-d'arco 14,12 555,05 96,52 100,0 0,0 Óleo-grosso 12,05 137,51 21,25 100,0 0,0 Louro-mamuri 10,67 625,00 120,83 100,0 0,0 Quaruba 10,17 171,51 31,45 100,0 0,0 Quaruba-cedro 6,67 133,33 20,00 100,0 0,0 F.orelha-de-macaco 5,28 90,91 12,27 100,0 0,0 Louro-freijó 3,20 200,00 40,00 100,0 0,0 Anani 2,93 181,82 34,55 100,0 0,0 Maparajuba 0,75 426,14 44,51 100,0 0,0 Mamorana 0,75 355,11 23,20 100,0 0,0 Tento 0,44 90,91 12,27 100,0 0,0 Louro-aguano 0,40 520,83 72,92 100,0 0,0 Itaubão 0,29 227,27 48,18 100,0 0,0 Louro 0,15 378,79 93,64 100,0 0,0 Ucuuba 0,09 118,37 15,51 100,0 0,0 Sucupira-de-morcego 0,04 259,74 57,92 0,0 100,0 Média 72,00 273,76 45,36 94,96 5,04 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Nome comercial PMP (R$ m³) PFP (R$ m³) Comercialização (%) Local Regional 2,9 97,1 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 10,0 90,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 20,0 80,0 12,5 87,5 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 0,0 100,0 1,3 98,7 Tabela 47 - Preço médio da árvore em pé (PFP) nas regiões estudadas nas glebas Mamurú-Arapiuns. Região PFP (R$) Volume de fuste (m³) ARA 100,00 ITA-MAM 45,00 Média 72,50 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR 8,11 4,66 6,38 R$/m3 12,33 9,66 11,00 104 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Os custos de beneficiamento da madeira encontrado na região do ARA foram bem menores que o registrado na região do MAM, mesmo considerando que a distância de exploração da região do ARA seja quatro vezes maior, pois, segundo os comunitários, à medida que ocorre crescimento da população, cresce, também, a demanda e a pressão sobre os recursos naturais da região. A produtividade de VMP é ligeiramente maior na região do MAM, enquanto as bitolas utilizadas variam de acordo com as necessidades locais (Tabela 48). Tabela 48 - Volume médio de madeira serrada por dia, custo de beneficiamento e bitola nas áreas estudadas no conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns. VMP = volume de madeira em prancha. Produtividade Bitola (m) de VMP Largura Espessura Comprimento (m³ dia-1) ARA 0,85 0,20 0,12 4,00 ITA-MAM 0,95 0,30 0,08 3,00 Média 0,90 0,25 0,10 3,50 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Região Distância da área de Exploração (km) 16 4 10 Custo do benefic. da tora (R$ m³) 84,40 144,30 114,35 Na região do eixo ARA, o transporte de madeira ocorre por meio de caminhão, carroça e barco. As maiores distâncias são percorridas por caminhão. As carroças percorrem as menores distâncias e apresentam o menor custo de transporte. Na região do eixo MAM, somente ocorre o transporte de madeira por via fluvial (balsa, barco e rabeta). As maiores distâncias são percorridas por balsa, mas os comunitários só utilizam rabeta e barco. Vale ressaltar a importância da rabeta para o ribeirinho: esta é o meio de transporte da família e da produção familiar (Tabela 49). Tabela 49 - Meios de transporte utilizados para retirada de madeira das áreas de exploração nas regiões estudadas no conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns. Região ARA MAM Tipo Capacidade (m³) Distância da área de exploração (km) Custo (R$ m-3) Barco 5,0 25,0 30,76 Caminhão 7,0 45,0 57,67 Carroça 1,0 16,0 22,43 Barco 4,0 15,0 25,10 4,0 42,75 Rabeta 1,0 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR 105 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A madeira na região do MAM é comercializada usando as unidades dúzia, palmo (± 20cm), metro cúbico e peça, e podem ser prancha, tábua, esteio, ripão, travessa, entre outras. De modo geral, nas comunidades, a madeira é comercializada por um preço muito baixo, se considerarmos o preço de mercado na sede dos municípios que fazem parte do conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns. O rio Mamuru é uma das vias de transporte informal de madeira. Os comunitários informaram que o fluxo de madeira em balsas e barcos é constante, no inverno e no verão, mas esse é um assunto pouco comentado, mas todos são unânimes em afirmar que a grande maioria das pessoas dessa região vive da extração madeireira de forma informal e vendem a madeira em Parintins, sendo que, muitas das vezes, o transporte é realizado por barco de linha, em alguns casos, há é encomenda de donos de estaleiros. Madeireiros de Parintins possuem áreas de exploração informal ao longo do rio Mamuru, existem também toureiros que invadem a área das comunidades para extração de madeira. Devido à dificuldade de extração, a maior parte da madeira é desdobrada na floresta. 5.3.4 Conclusão e recomendações Entre as espécies consideradas prioritárias, como produtos florestais não-madeireiros, para as comunidades do Conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns, tem-se: - Frutos amidosos ou oleosos: açaí, bacaba, buriti e patauá. - Produção de óleos e resinas: copaíba, andiroba, piquiá, amapá, sucuba e cumaru. - Produção de artesanato: tucumã, cipó-titica, cipó-ambé e arumã. Nas comunidades estudadas, a madeira é, normalmente, negociada de duas formas: árvore em pé (custos de corte e extração por conta do comprador) ou desdobrada com motosserra (prancha) que são comercializadas na floresta, na comunidade ou nas cidades mais próximas. As espécies madeireiras mais valorizadas na região do conjunto de Glebas MamuruArapiuns são: pau-d’arco, maçaranduba, itaúba e jatobá. Na região de estudo, o mercado de produtos florestais se caracteriza pela informalidade do setor, poucas pessoas já ouviram falar de manejo florestal. É mais vantajoso ficar na informalidade, porque se tem madeira a qualquer hora e os preços são menores. Deveria existir um mínimo de incentivo do governo para a formação de produtores florestais. UFRA / IDEFLOR 106 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A atividade florestal é de grande importância socioeconômica no Conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns, e é impulsionada pela construção civil, movelarias (instaladas em fundo de quintal) e estaleiros (tilheiros). O setor florestal é basicamente informal, ou seja, poucas pessoas que trabalham com madeira possuem licença ambiental e empresa formalmente constituída. Na região, predomina a retirada de madeira da floresta em forma de prancha. O colono vendedor de prancha derruba, desgalha, traça e desdobra com motosserra; empilha, na floresta, a madeira serrada; extrai de forma manual (utilizam uma corda que é amarrada na ponta da peça e a outra ponta é passada pelo ombro da pessoa; para diminuir o atrito da peça com o solo, colocam roletes em baixo das peças) e transporta a madeira por meio de caminhão, carroça, barco ou rabeta. Na região do eixo ARA, existem comunidades cuja fundação remonta ao final do século XIX e início do século XX, portanto é comum encontrar ali comunitários que trabalham de forma tradicional tanto na agricultura como na exploração florestal, como faziam seus pais e avós, por exemplo, a madeira é retirada da mata no arrasto e carro de boi. Essa visão das comunidades é refletida na finalidade de sua produção que em grande maioria é destinada ao consumo familiar e apenas uma pequena parcela é destinada à venda, com exceção da palha de tucumãzeiro. Foto 25. Palha de tucumãzeiro na cobertura de casas, comunidades do rio Arapiuns. Na região do eixo MAM, é necessário destacar que a área está cercada por fazendeiros e madeireiros, o que torna singular a percepção sobre a dinâmica empresarial na região. O fato de os empresários assumirem o papel do Estado na região, em diversos aspectos, desde infraestrutura até ações de saúde, educação e oferta de emprego, torna-os "protegidos" pelos comunitários, os quais se mostraram receosos em alguns momentos em responder a alguns itens do questionário, havendo um sentimento de desconfiança. Para se contornar essa situação, faz-se necessário maior presença do Estado nessa região. UFRA / IDEFLOR 107 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Programas integrados que proporcionem às comunidades alternativas de produção de renda podem contribuir, em primeiro momento, para a fixação das famílias nas comunidades, o que é bastante necessário, já que houve registros de emigração decorrente da carência de serviços básicos nas comunidades, como aconteceu em Mirizal, onde encontramos uma comunidade desconfigurada, e, a partir de então, dar-se-á início ao fortalecimento e desenvolvimento das comunidades. Devem-se buscar a difusão de informações sobre as referidas populações, suas necessidades, objetivos e interesses, junto à comunidade acadêmica, aos agentes e aos órgãos envolvidos. As informações acerca da situação destas comunidades, bem como situação fundiária e assuntos, como a própria Lei de Gestão de Florestas Públicas e outros assuntos pertinentes ao interesse destas, devem ser levados ao conhecimento dos comunitários por meio de oficinas informativas. Estes são os atores de todo o processo e é justo que estejam a par do que acontece em sua região. Todas as necessidades regionais estão intimamente ligadas à necessidade de o Estado se fazer presente, já que este vem sendo substituído, quando não pelo próprio Governo Amazonense (Parintins) e pelo "governo madeireiro fazendeiro" na região, estes que, por mais que trabalhem informalmente, oferecem mais do que o poder público, sendo por muitas vezes preferidos e defendidos na região por este motivo. O governo precisa inverter este quadro, assumindo suas responsabilidades sobre as políticas públicas e provimento dos direitos básicos das comunidades. 5.4 ESTUDO DOS RECURSOS FAUNÍSTICOS DA REGIÃO DOS RIOS ARAPIUNS E MAMURU 5.4.1 Introdução A imensa biodiversidade das regiões tropicais, tanto em espécies como em ecossistemas, no Brasil, permitiu que as populações locais ampliassem as possibilidades de desenvolvimento de um sistema integrado e complexo de produção agrícola, composto pelo manejo e enriquecimento dos ecossistemas naturais e pelos cultivos agrícolas de ciclo curto e/ou longo, pelas atividades de criação de grandes e pequenos animais: bovinos, equinos, aves, suínos etc. (Castro,1995). Em várias regiões, especialmente na Amazônia, as atividades extrativistas de coleta, pesca e caça integram esses sistemas. UFRA / IDEFLOR 108 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará A complexidade das florestas tropicais deve-se à rica diversidade de plantas e animais e às redes que constituem a cadeia alimentar (Arhens, 2005 apud Jacobs, 1987). Whitmore (1990) descreve que os animais são essenciais para a polinização em florestas tropicais (em contraste às florestas temperadas, onde o vento é mais importante). Ainda segundo o autor, nas florestas tropicais, numerosas espécies animais coexistem, alimentando-se dos mesmos recursos. De outro lado, a coexistência de diversas espécies vegetais que têm os mesmos agentes polinizadores e dispersores, acontece devido ao fato de que sua floração e sua frutificação ocorrem em diferentes épocas do ano. Segundo Bodmer e Penn Jr. (1997), os habitantes da Amazônia valorizam as florestas intactas devido aos benefícios de mercado e de consumo obtidos da caça, pesca e da extração de produtos vegetais não-madeireiros. No entanto, algumas dessas espécies são excessivamente exploradas por essas populações rurais e, muitas vezes, ocorre o desmatamento quando não se obtém mais os benefícios econômicos desses sistemas. Além disso, a extração vegetal é um dos fatores de influência indireta mais importante para a extinção da fauna. Desmatamentos removem árvores frutíferas, destroem locais de nidificação e outras áreas críticas para a fauna. Analisando os trabalhos desenvolvidos na região tropical, referentes à caça, e correlacionando populações tradicionais e ambientes naturais, verifica-se uma variedade enorme de espécies da fauna que são caçadas pelo homem não somente para alimento (Borge e De Faria, 2006). Somente na Amazônia Brasileira, estima-se que sejam consumidos anualmente, pelas populações rurais, entre 9 e 23 milhões de aves, mamíferos e répteis (Peres, 2001), o que ressalta a importância dos animais silvestres como fonte de proteína para as populações tradicionais amazônicas, e o potencial econômico deste recurso através da comercialização da carne e subprodutos. Este estudo tem como objetivo oferecer informações sobre o uso da fauna doméstica e silvestre por parte de comunidades das regiões dos rios Arapiuns e Mamuru, descrevendo dados sobre as espécies citadas, finalidades, caça e pesca, além das atividades antrópicas que podem estar causando pressão sobre esses animais. 5.4.2 Metodologia Os resultados apresentados neste trabalho foram obtidos através de entrevistas, usando questionários estruturados, aplicadas a pessoas-chave, como caçadores, mateiros, líderes e/ou qualquer pessoa indicada pelas comunidades do Eixo 1- Itaituba-Alto Mamuru (ITA); Eixo 2UFRA / IDEFLOR 109 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Baixo e Médio Mamuru (MAM) e Eixo 3- Rio Arapiuns-Translago (ARA), que tivesse alguma criação e/ou praticasse a caça, além de levantamentos fotográficos e conversas informais com crianças e adultos, que, através de relatos da rotina diária da comunidade e família, confirmavam informações obtidas através dos questionários sobre o uso da fauna. Através das entrevistas, buscou-se informação sobre a forma de uso da fauna doméstica e de vertebrados silvestres, com foco em mamíferos, aves, répteis e peixes, pelas populações humanas inseridas na área de estudo e os possíveis impactos das intervenções antrópicas sobre esses recursos. Para a categoria de animais silvestres levantou-se ainda informações sobre caça, relacionados a local, distância, frequência e direção, que visam subsidiar orientações futuras sobre a área de uso das comunidades inseridas na floresta. 5.4.3 Resultados e discussão Foram aplicados 120 questionários sobre o tema “Animais”, em 19 comunidades nas três áreas de pesquisa (Eixo 1- ITA, Eixo 2- MAM e Eixo 3- ARA). Na região do ITA, percebeu-se uma resistência quanto ao fornecimento de informações sobre o recurso animal, provavelmente por ser uma área com maior influência urbana e conflitos em áreas de mineração, pecuária e exploração madeireira. Não foi possível o contato com caçadores e/ou mateiros E mesmo nas comunidades que se teve acesso, as informações foram restritas, justificadas, muitas vezes, pela presença de pesquisadores que em outro momento já haviam realizado pesquisas na área. Observaram-se diferenças quanto ao uso da fauna doméstica e silvestre nas áreas estudadas, o que permitiu identificar pontos positivos e negativos sobre a interação das comunidades com o recurso animal. 5.4.3.1 Fauna doméstica A presença de animais domésticos é comum a todas as localidades entrevistadas, tendo como objetivos o consumo alimentar, a comercialização e a tração animal. As criações são consideradas de pequeno porte e ocorrem de forma extensiva, sendo observada a presença dos animais soltos por toda a comunidade, havendo somente infraestrutura básica para a criação de galinhas, como a área para postura, e a presença de alguns currais em criações do eixo ITA e MAM. A criação de aves e suínos está presente em todas as comunidades pesquisadas, sendo que na região do MAM essas criações servem para complementar a alimentação no período de cheia, em que a atividade de pesca diminui devido à escassez de peixe. A comercialização UFRA / IDEFLOR 110 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará destes pequenos animais aumenta neste período, enquanto a de bovinos, segundo 13,3% dos entrevistados, é feita eventualmente e somente no caso de dificuldade financeira, quando seus proprietários os vendem para fazendeiros ou para frigoríficos em Parintins. Nas comunidades da região do ARA, os bovinos são utilizados para tração, com finalidade de carregamento de madeira (Foto 26), havendo para esse serviço uma variação de preço entre R$15,00 e R$45,00 por dia de trabalho, sendo essa variação influenciada pela distância do deslocamento. A comercialização da carne bovina é esporádica, pois para essa região o animal vivo tem maior valor. Nessa área, a comercialização de frangos é a mais comum e ocorre principalmente no período de inverno, justificada pela escassez de caça. Foto 26 - Bovino utilizado para tração na comunidade Cachoeira do Aruã (eixo ARA) Na comunidade de Jaratuba (MAM), a criação de gado bovino é bem expressiva, estando presente em cinco das sete áreas levantadas. A criação é extensiva, havendo fornecimento de sal mineral, diferente das outras comunidades, onde o gado não recebe nenhuma suplementação mineral. O principal objetivo é a comercialização, feita principalmente para comunidades próximas, que, segundo relato dos entrevistados, é de onde vem a maior demanda. Não há assistência técnica veterinária em nenhuma região estudada, com registro apenas de que na região do ARA os bovinos, suínos e caprinos são vacinados pelos técnicos da Adepará, que vão às localidades em parceria com o Programa Saúde Alegria. Nas outras regiões, os bovinos também são atingidos pela campanha de combate à Febre Aftosa. Na região do MAM, a vacinação antirrábica está presente em 86% dos cães (n=37), dados esses bastante expressivos, considerando o relato de óbito pelo vírus da raiva. As vacinações são feitas pela Adepará e prefeitura de Santarém. As campanhas de vacinação UFRA / IDEFLOR 111 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará antirrábica não atingem as comunidades de São José II e Novo Paraíso (ARA) há pelo menos 3 anos, o que acende uma preocupação quanto ao controle dessa zoonose, visto a inserção da comunidade em uma área silvestre, aumentando as possibilidades dos ataques por morcegos hematófagos aos cães presentes na área, consequentes, provavelmente, da depleção local da fauna de vertebrados. Outra possível zoonose que pode estar acometendo os cães é a Leishimaniose, doença transmitida pela picada de um mosquito flebótomo, sendo o cão um hospedeiro ou reservatório, havendo a necessidade de intervenção dos órgãos públicos para investigação, diagnóstico e controle da doença. Os registros de mortalidade estão direcionados às aves, com ocorrência de óbitos decorrentes de ataques por animais silvestres (gaviões, gatos maracajá e mucuras) e outras enfermidades não diagnosticadas, mas citadas pelos entrevistados, como coriza, golgo e diarreia dos pintinhos. Os cães vivem em média 3 anos de idade e morrem de “velhice”, segundo os entrevistados; são utilizados na prática da caça; e, em algumas áreas, só comem quando conseguem caçar ou se alimentam somente de farinha e peixe, o que justifica o estado corporal baixo (Foto 27). Não há registro de mortalidade de bovinos provocada por doenças e/ou acidentes, o que é justificado pela prática da venda e/ou troca ou abate dos animais. Em comunidades da região Amazônica, a criação de animais domésticos representa segurança alimentar e/ou poupança, principalmente a de bovinos, aves e suínos. Neste estudo, a atividade pecuária é mais organizada nas regiões de ITA e MAM, havendo mais infraestrutura em termos de instalações, por exemplo. Foto 27 - Cão com estado corporal baixo, em comunidade do eixo ARA UFRA / IDEFLOR 112 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará No Eixo 1, a maior organização e comercialização deste tipo de criação está relacionada à proximidade com áreas urbanas, justificada pelo forte desmatamento e grandes áreas de mineração, que tornam a criação de animais domésticas quase obrigatória, visto a escassez da caça e pesca e a necessidade de acesso à proteína animal. 5.4.3.2 Fauna silvestre O uso dos recursos faunísticos se dá pelas atividades de caça e pesca, muito praticada pelos que habitam as comunidade ao longo dos rios Arapiuns e Mamuru, tendo como principal finalidade a subsistência. Paca, cutia, veado, catitu, anta e jabuti (Foto 28) foram os animais mais citados pelos entrevistados nas três áreas de estudo, demonstrando a preferência por mamíferos, seja pelo seu sabor, seja pela abundância e/ou costume. Foto 28 - Jabuti sendo preparado para o almoço em comunidade do eixo ARA. Destacamos espécies como o peixe-boi, que se encontram criticamente ameaçadas e a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o tatu, que se encontram vulneráveis, segundo a lista de espécies ameaçadas da flora e da fauna no estado do Pará (Resolução 054/2007). Sobre a onça-pintada e o tamanduá-bandeira, frisamos que estes são abatidos sem finalidade de consumo, e sim para evitar ataques aos humanos e animais, principalmente cães de caça. Nas áreas de estudo, foram registradas 49 espécies da fauna silvestre, que ocorrem nas regiões do ITA (n=21), MAM (n=48) e ARA (n=34), segundo os entrevistados (Tabela 50). UFRA / IDEFLOR 113 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 50 - Lista de espécies da fauna silvestre ocorrentes nas regiões do ARA, ITA e MAM, segundo os entrevistados. Nome Comum Ordem Família Espécie Número de citações ARA ITA MAM Total Anta Perissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris 15 Aperema Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys punctularia 1 Arara Psitaciformes Psittacidae Ara sp. 4 Bem-Te-Vi Passeriformes Tyrannidae Pitangus sulphuratus 1 7 26 1 Boto Cetacea Delphinidae Sotalia fluviatilis 1 Camaleão Squamata Iguanidae Iguana iguana 1 Capivara Rodentia Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochoeris 1 5 3 Catitu Artiodactyla Tayassuidae Pecari tajacu 32 4 56 1 6 Coatá Primatas Psittacidae Ateles belzebuth 1 Cobras Ophidia Viperidae sp1 2 Cujubim Craciformes Cracídeos Pipile cujubi Curica Psittaciformes Psitacídeos Gypopsitta caica 9 1 Curió Passeriformes Fringílidas Oryzoborus angolensis 1 2 Cutia Rodentia Dasyproctidae Dasyprocta aguti 41 11 Cuxiu Primates Pitheciidae Chiropotes sp 2 Gato do Mato Carnívora Felidae Leopardus wiedii 1 45 Jaguatirica Carnívora Felidae Leopardus pardalis 4 Gavião Falconiformes Accipitridae sp2 1 2 Guariba Primates Cebidae Alouatta sp. 5 1 Inhambu Tinamiformes Tinamidae Tinamus sp. 16 18 Inhambu-açu Tinamiformes Tinamidae Tinamus major 1 Jabuti Chelonia Testudinidae Geochelone sp. 23 2 36 Jacamim Gruiformes Psophiidae Psophia sp 2 1 5 Jacaré Crocodylia Crocodilidae Caiman sp. 2 Jacu Craciformes Cracidae Penelope sp. 15 Jararaca Squamata Viperidae Bothrops sp. 1 Jibóia Ophidia Boidae Boa constrictor 3 Macaco-prego Primates Cebidae Cebus apella 8 Macacos Primates Cebidae sp3 8 Marreca Anatidae Dendrocygnidae sp4 1 Mico de Cheiro Primates Cebidae Saimiri vanzolinii 2 Mucura Marsupialia Didelphidae Didelphis sp. 2 1 4 2 17 1 7 2 Mutum Galliformes Cracidae Crax fasciolata 8 1 17 Onça Carnívora Felidae Panthera onca 17 8 4 Paca Rodentia Cuniculidae Cuniculus paca 42 11 51 Papagaio Psittaciformes Psittacidae Amazona sp. 10 1 5 Peixe-Boi Sirenia Trichechidae Trichechus sp. 1 Periquito Psittaciformes Psittacidae Brotogeris tirica Pico-de-jaca Squamata Viperidae Lachesis sp. 3 Preguiça Ophidia Viperidae Lachesis sp. 3 Quati Carnívora Procyonidae Nasua nasua 5 Queixada Pilosa Bradypodidae Bradypus sp. 11 UFRA / IDEFLOR 1 10 48 1 5 1 1 1 9 92 1 9 9 1 3 97 2 1 5 3 6 34 1 61 8 6 34 1 3 8 16 1 4 2 26 29 104 16 1 1 3 3 5 21 114 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Sucuri Squamata Boidae Tamanduá Xenarthra Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tartaruga Testudines Chelidae Podocnemia expansa Tatu Edentata Dasipodídeos Euphractus sexcintus 27 Tracajá Testudines Pelomedusidae Podocnemis unifilis 2 Tucano Piciformes Ramphastidae Ramphastos sp 2 Veado Artiodactyla Cervidae Mazama sp. 30 Eunectes murinus 9 4 2 2 1 10 32 10 11 52 13 4 1 69 12 2 93 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Na região estudada, foi possível observar que os mamíferos representam 70% dos animais caçados (Figura 8). A caça de outros grupos de vertebrados, como aves e répteis, é menor provavelmente devido à abundância de mamíferos na área de estudo e à preferência alimentar da população local. Os “grandes” carnívoros e ofídios também foram os alvos principais da caça predatória, que aconteceu devido a esse grupo animal representar para a comunidade um grande risco para os animais domésticos e para a população local. Figura 8 - Percentual das principais classes de vertebrados silvestres caçados nas áreas de estudo. A caça de animais silvestres é um hábito comum, principalmente entre as comunidades que apresentam poucas práticas agriculturais e não pescam, tornando-se a caça de subsistência a principal fonte de proteína para populações tradicionais na Amazônia. De acordo com Parry (2006), grande parte da população rural da Amazônia brasileira vive em mosaicos de floresta primária e secundária (capoeiras), onde o abate de fauna cinegética é uma das principais fontes de proteína animal. No entanto, a contribuição de diferentes tipos de florestas na economia de subsistência de comunidades locais ainda é pouco estudada. UFRA / IDEFLOR 115 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Os entrevistados também foram questionados sobre as finalidades da caça (Tabela 51), com o objetivo de identificar o extrativismo animal na região estudada e a relação de dependência das comunidades por esse recurso. Para Ojasti (2000), diferenças locais, sociais, econômicas e culturais influenciam as diferentes modalidades de uso das espécies da fauna silvestre. Tabela 51 - Finalidade da caça de vertebrados silvestres nos eixos ARA, ITA e MAM. Venda (Ven), consumo (Con), troca (Tro), Criação (Cri) e Encomenda (Enc). Animal Anta Aperema Arara Bem-Te-Vi Boto Caiana Camaleão Capivara Catitu Cobras Cuatá Cujubim Curica Curió Cutia Cuxiu Gato-do-mato Gavião Guariba Inhambu Inhambuaçu Jabuti Jacamim Jacaré Jacu Jaguatirica Jararaca Jibóia Lambozinho Macaco-prego Macacos Marreca Mico-de-cheiro Mucura Mutum Onça Paca Papagaio Pássaros Pato Peixe-Boi Pico-de-jaca Piriquito Preguiça Quati Queixada Sucuri Tamanduá Tartaruga Região ITA ARA Ven Com Tro 3 6 2 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 22 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 34 10 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 2 1 1 8 2 0 0 0 1 10 2 0 0 0 0 0 0 0 7 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 3 1 0 0 7 34 15 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 2 0 Cri 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Enc Ven 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Con 0 0 1 0 0 0 0 2 2 0 0 0 1 1 3 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 3 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 Tro 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 3 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 UFRA / IDEFLOR Cri 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 MAM Enc 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Ven Con 1 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 7 42 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 2 39 0 0 0 0 0 1 0 0 0 11 0 0 3 24 0 4 0 4 0 11 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 10 0 0 6 39 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 Tro 8 0 0 0 0 0 0 1 34 0 0 2 0 0 14 0 0 0 0 2 0 8 0 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 24 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Cri 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Enc 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 116 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tatu Tracajá Tucano Veado 1 1 0 11 22 2 0 21 6 0 0 6 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 4 0 0 4 3 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 1 3 0 7 25 10 0 31 9 3 0 24 1 0 0 0 0 0 0 0 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Os animais presentes na área eram utilizados principalmente com fins alimentares, troca e comercialização, sendo mais evidente essas finalidades na região do ARA e MAM, onde, respectivamente, 28,4% e 19,7% dos entrevistados afirmaram comercializar as espécies caçadas dentro ou fora da comunidade, sendo essa comercialização direcionada exclusivamente aos mamíferos terrestres, de médio e grande porte, e quelônios. Veado, anta, catitu e paca são as espécies mais valorizadas por sua carne, principalmente pelo sabor e por seu porte, o que implica em mais proteína animal que pode ser consumida pela família e o restante comercializado para os vizinhos. O preço médio da carne dos mamíferos varia entre R$3,00 e R$5,00 o quilo, com destaque para o veado e o catitu, muito apreciados pelo sabor de suas carnes. Os quelônios também são bastante comercializados, principalmente na região do MAM, onde se verifica a prática de captura de quelônios (tracajá e pitiú) e de seus ovos para a comercialização. No entanto, de acordo com a opinião de um comunitário, a fiscalização tem prejudicado o transporte dos animais até o município de Parintins, mas não tem impedido a sua ocorrência. A demanda de comercialização é alta, com o tracajá atingindo o valor de R$ 25,00 por animal e os ovos a R$ 12,00. Na região do ARA, o preço médio do quelônio (jabuti) é de R$10,00 a unidade animal. Em uma comunidade da região do MAM, está instalado o Projeto Pé de Pincha (Foto 29), que nasceu de uma medida corretiva aplicada pelo IBAMA a um morador que comercializava e vendia tracajás, bem como os seus ovos. No entanto, esse projeto só teve continuidade devido ao envolvimento de outras famílias da comunidade (n=7). Essa atividade se inicia em agosto, época de coleta dos ovos, e vai até o final de março (dia 28), quando é feita a soltura dos animais, período da festa da padroeira da comunidade, Nossa Senhora de Lourdes. É importante destacar o valor que os comunitários desta ou de outras comunidades dão a esse projeto, uma vez que contribui para a preservação da espécie e, com isso, para manutenção na dieta das famílias, pois cada família tem direito a consumir uma ninhada a cada 3 coletadas e ainda os quelônios que não possuem nenhuma marcação (identificação), feita na ocasião da soltura dos mesmos. UFRA / IDEFLOR 117 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Foto 29 - Manejo de filhotes de tracajá Projeto Pé de Pincha, em comunidade do MAM. Para o uso medicinal, os entrevistados citam a banha de sucuriju e de jabuti como o subproduto mais utilizado. Os psitacídeos (papagaios e periquitos), passeriformes e primatas são as espécies mais utilizadas como xerimbabo. Não foi observada a criação em cativeiro de animais silvestres com fins comerciais, com exceção da existência de um entrevistado da área do Mamuru, que cria jabutis para consumo próprio e comercialização (Foto 30). A facilidade de acesso à caça e o próprio desconhecimento de como criar esse tipo de animal foram as justificativas para não criá-los. Foto 30 - Criação em cativeiro de Geochelone na comunidade do eixo ARA. Entre os entrevistados, a técnica de caça preferida foi a de trilha, seguida pela espera e uso de cachorro. A técnica do uso de armadilhas foi mencionada, mas em todas as comunidades é proibida devido ao grande risco de acidentes. Na caça de trilha e espera, é UFRA / IDEFLOR 118 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará comum a captura de paca, caititu, queixada, anta e veado. Os cachorros auxiliam na caça, sendo, em alguns casos, o principal meio de captura dos animais. Nesse tipo de caça, ocorrem encontros ocasionais com onça pintada, tamanduá-bandeira e quati, que são mortos durante a caçada por oferecerem risco de machucar ou matar os cachorros. Algumas espécies de animais, como o porco e o veado, são atraídos pela roça e frutíferas, o que facilita sua captura pelos moradores sem que tenham que percorrer maiores distâncias. A atividade de caça é muito influenciada pela densidade populacional da comunidade e pelo uso da terra no entorno da mesma. Observa-se uma diferença no padrão do uso dos animais silvestres, com as regiões do Eixo MAM e ARA apresentando uma maior dependência desse tipo de proteína animal, e a região do ITA apresentando um maior consumo de carne de animais domésticos. Na região do Mamuru, a pesca e a carne de caça são as principais fontes de proteína animal, pois tal região ainda apresenta comunidades bem isoladas, chegando a haver a caça comunitária em uma das áreas entrevistadas, com o resultado da caça sendo compartilhado com todos. Na Tabela 52, listamos, em ordem de importância, as espécies mais caçadas nas áreas do MAM e ARA. Tabela 52 - Espécies de animais silvestres mais caçadas nas regiões estudadas (ARA e MAM). Animal ARA N MAM % Paca 42 89,4 Cutia 41 87,2 Catitu 32 68,1 Veado 30 63,8 Tatu 27 57,4 Jabuti 23 48,9 Anta 15 31,9 Jacu 17 36,2 Inhambu 16 34,0 Onça 17 36,2 Mutum 8 17,0 Queixada 11 23,4 Macacos 8 17,0 Papagaio 10 21,3 Sucuri 9 19,1 Tracajá 2 4,3 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. Total N % N % 51 45 56 52 32 36 26 17 18 4 17 7 5 4 10 85,0 75,0 93,3 86,7 53,3 60,0 43,3 28,3 30,0 6,7 28,3 0,0 11,7 8,3 6,7 16,7 103 97 92 92 68 60 47 36 34 28 26 20 16 16 13 12 85,8 80,8 76,7 76,7 56,7 50,0 39,2 30,0 28,3 23,3 21,7 16,7 13,3 13,3 10,8 10,0 Os entrevistados têm a percepção sobre os riscos dos impactos das atividades humanas sobre os recursos florestais, com muito deles temendo o futuro da comunidade. Enquanto UFRA / IDEFLOR 119 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará outros entendem que as atividades madeireiras e minerais trazem benefícios, como emprego e desenvolvimento. Quanto ao impacto sobre a fauna de animais silvestres, em todas as comunidades a queixa é a mesma: “a caça tá sumindo [...]”, “temos que andar mais para achar uma caça boa [...]”, o que reflete a necessidade de estudos mais profundos sobre esse recurso e as diversas interações entre a fauna e flora local, que podem determinar o padrão de exploração florestal. A ação antrópica exercida através da queimada e do desmatamento exerce efeitos variados sobre as densidades das espécies animais. Segundo 81,7% dos entrevistados, a derrubada de espécies florestais acarreta a diminuição das densidades das espécies animais de maior porte, devido à derrubada de espécies que são preferidas para alimentacão dos animais e também ao grande barulho das máquinas durante o processo. O desmatamento leva à fragmentação de habitat e influi na dinâmica reprodutiva das espécies, na estrutura e diversidade das comunidades e nas interações animal-planta, como dispersão de sementes e polinização. Redford (1997) criou o conceito de “floresta vazia” para a má conservação das florestas tropicais, destacando a importância de se considerar não somente a área de cobertura “verde”, mas a diversidade e abundância faunística como elementos indicadores da viabilidade das florestas. Os moradores de comunidades localizadas no ARA relataram que estão tendo que se deslocar cada vez mais para conseguir caçar, como consequência da abertura da estrada dentro da comunidade. A distância média que comunitários da região do ARA e MAM percorrem para caçar é de 6,4 e 4,3 km, respectivamente, ficando evidente que comunitários da região do Arapiuns percorrem maiores distâncias, sendo possível prever que a escassez de caça e áreas de exploração madeireira são alguns fatores que podem estar provocando esse fato. Em uma comunidade do ARA, há moradores que se deslocam até10 km para conseguir a caça. Os entrevistados relataram que, há mais ou menos 10 anos, houve duas grandes queimadas que destruiu toda a área do entorno da comunidade, e que, após o ocorrido, esta transformou-se num grande tabocal; enquanto na região do MAM, há comunidade que se desloca apenas 1,9 km para caçar. Contudo, nesta área, a pesca é a principal atividade extrativista, não havendo uma dependência direta da carne de caça. Outros fatores que influenciam a distância do deslocamento é a abundância de espécies e a seletividade por espécies com maior biomassa, as quais vivem mais distantes de áreas antropizadas. UFRA / IDEFLOR 120 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Quanto à frequência de caça, também é influenciada pela relação de dependência da comunidade com o recurso, com a estação do ano, com a abundância e com a seletividade da caça. Na região de ITA, a caça ocorre quinzenal ou mensalmente; no ARA, varia entre quinzenal e semanal; e no MAM, com exceção de uma comunidade, todas apresentam uma frequência semanal de caça, demonstrando a forte dependência da floresta nessa região. Em comunidades do ARA, nas áreas com menor frequência de caça, há uma maior variação na fonte de proteína animal, havendo consumo de carne de aves e porco, além de uma maior prática da agricultura. Espécies de maior tamanho ocorrem em menores densidades do que as de menor porte, e espécies com dietas específicas e que ocupam níveis tróficos elevados possuem densidades mais baixas do que as espécies com dietas mais diversificadas. Se a pressão sobre essas espécies for muito intensa, os animais com baixas densidades e baixas taxas reprodutivas poderão desaparecer, como foi observado com primatas por Peres (1990), no Oeste da Amazônia. Além disso, a exploração madeireira, por alterar substancialmente a estrutura da floresta, provoca o aumento das espécies que se adaptam a ambientes perturbados, e que podem influenciar no padrão de distribuição de outras espécies. As análises sobre a presença de animais em áreas de interferência antrópica destacam estas espécies: catitu, veado, mutum, paca, tatu, cutia, anta, onça e jabuti, como sendo os animais que desaparecem após a derrubada de árvores e queimadas. Algumas espécies de aves e primatas só retornam após a derrubada e não são mais observados em uma área onde houve queimada. Quanto à capacidade de resistência, a cutia, a paca, o veado e o catitu foram citados por todas as comunidades, provavelmente por serem animais com maior habilidade para o deslocamento. A queimada também foi apontada por 86,6% das pessoas entrevistadas como sendo o motivo para diminuição da densidade de algumas espécies. Os resultados das ações antrópicas sobre as populações animais não são fáceis de serem quantificados, e os efeitos de redução e desaparecimento de espécies demoram a aparecer em florestas contínuas, devido aos fluxos frequentes das espécies advindas de outras localidades. Mas com o aumento da atividade madeireira e a fragmentação dos habitats, esses efeitos já estão sendo notados pela população local. Isso é um dado preocupante, pois os mamíferos têm uma importante função na dinâmica de florestas tropicais, pois, de acordo com os estudos sobre a dispersão e uso de habitat de mamíferos, destaca-se a importância dessas espécies para a recuperação das áreas degradadas. UFRA / IDEFLOR 121 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Henriques et al. (2008), discutindo os efeitos da exploração madeireira sobre uma comunidade de aves de sub-bosque na Floresta Nacional de Tapajós, afirmam que os efeitos econômicos e silviculturais da exploração madeireira têm sido relativamente bem estudados em florestas tropicais. Contudo, somente recentemente estes estudos têm examinado os efeitos sobre animais. Palha et al. (1999) já relatavam sobre a escassez de pesquisas e de informações sobre ecologia, e a exploração das espécies da fauna amazônica, que, apesar de ter havido um incremento envolvendo este recurso, a inclusão do tema ainda ocorre de forma tímida. 5.4.3.3 A atividade da pesca É perceptível a prática da pesca nas regiões do ARA e MAM, com algumas comunidades sobressaindo sobre outras. Na região do ARA, a pesca é uma atividade de média a grande importância, igualmente como a caça para determinadas comunidades. A pesca é de subsistência, havendo apenas a comercialização do excedente entre os comunitários. Em algumas áreas, em função dos homens gastarem mais tempo com a caça, a pesca tornou-se uma atividade esporádica, restringindo-se principalmente ao rio Arapiuns, sendo praticada durante o ano todo, sobretudo durante o verão, quando a turbidez e o nível das águas diminuem, facilitando a prática da pesca. No MAM, a pesca também é praticada pelas crianças e é realizada no rio Mamuru (Foto 31), bem como em seus lagos e cabeceiras. Nos meses de agosto, setembro e outubro, é tempo da desova dos tracajás e pitiús, consumidos e comercializados em algumas comunidades. A profunda interação dos ribeirinhos com a natureza é refletida no processo de exploração dos recursos pesqueiros, sendo possível identificar o período da seca como o de maior atividade pesqueira, havendo influência com relação à escolha dos apetrechos de pesca, sendo o uso da malhadeira mais utilizado no período de cheia. A comercialização do pescado ocorre em algumas comunidades e é feita principalmente dentro da própria comunidade ou em comunidades distantes, e, em alguns casos, é feita em Parintins, especialmente de espécies nobres, como o tucunaré, o surubim e o pirarucu. Na Tabela 53, encontra-se listadas as principais espécies de peixes consumidas por comunidades das regiões dos eixos ITA, MAM e ARA. UFRA / IDEFLOR 122 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Tabela 53 - Espécies de peixe consumidas por comunidades das regiões dos eixos ARA, ITA e MAM. Nome Comum Ordem Família Espécie ARA ITA MAM Total Acará Characiformes Anostomidae Astronotus crassipinis,Heckel Acará Branco Perciformes Cichlidae Satanoperca lilith 1 1 Acará Papagaio Perciformes Cichlidae Satanoperca jurupari 3 3 Apapá Clupeiformes Clupeidae Pellona castelnaeana 8 8 Aracu Characiformes Anostomidae Schizodon spp 9 32 42 Aracuaçu Characiformes Anostomidae Leporinus sp. 2 Acari Siluriformes Loricariidae Liposarcus pardal is Arraia Rajiformes Potamotrygonidae Potamotrygon sp. Bararuá/baru Perciformes Cichlidae Uaru amphiacanthoides, Heckel Branquinha Characiformes Curimatidae Psectrogaster amazonica 1 Cará Perciformes Cichlidae Chaetobranchus flavescens. 5 Carapucu Perciformes Cichlidae Mesonauta sp. Caratinga Perciformes Cichlidae Charuto Characiformes Curimatá Characiformes 7 7 1 2 5 1 5 1 6 6 5 6 19 26 1 2 3 Geophagus surinamensis 11 7 18 Hemiodontidae Hemiodus unimaculatus 17 8 25 Curimatidae Curimata sp. 2 1 Filhote Siluriformes Pimelodidae Brachyplatystoma filamentosum Jacuarana Characiformes Characidae Brycon sp. 1 Jacundá Perciformes Cichlidae Crenicichla sp. 3 Jaraqui Characiformes Prochilodontidae Semaprochilodus spp., 11 Jaratinga Characiformes Hemiodontidae Argonectes scapularis 1 Jatuarana Characiformes Characidae Brycon spp 3 Mafurá Characiformes Serrasalmidae Serrasalmus denticulatus 2 Mandi Siluriformes Auchenipteridae Auchenipterus sp. Mapará Siluriformes Pimelodídeos Hipophthalmus spp 1 Matrinchã Characiformes Characidae Brycon sp. 1 1 Pacu Characiformes Serrasalmidae Metynnis sp. 22 5 Pacuaçu Characiformes Serrasalmidae Metynnis sp. 1 Peixe Cachorro Characiformes Cynodontidae Raphiodon vulpinus 1 Pescada Perciformes Scianidae Plasgioscion squamosissimus 2 Piaba Characiformes Characidae Astyanax sp. 2 Piau Characiformes Anostomidae Leporinus fasciatus 1 11 9 4 1 7 7 1 1 2 6 2 13 1 1 4 2 2 2 4 5 2 34 61 1 1 11 13 1 3 12 Piranha Characiformes Serrasalmidae Serrasalmus sp. Pirarucu Osteoglossiformes Osteoglossidae Arapaima gigas 30 41 6 6 Pirnah Siluriformes Pimelodidae Pinirampus pirinampu Cuiu-Cuiu Siluriformes Doradidae Oxydoras spp Sardinha Characiformes Characidae Triportheus sp. Surubim Siluriformes Pimelodidae Pseudoplatystoma fasciatum 6 22 28 Tambaqui Characiformes Characidae Colossoma macropomum 2 1 3 Traíra Characiformes Erythrinidae Hoplias malabaricus 13 3 7 23 Tucunaré Perciformes Cichlidae Cichla sp. 25 2 53 80 1 1 1 1 1 1 Fonte: Pesquisa de campo Equipe UFRA-Projeto Várzea, 2008. UFRA / IDEFLOR 123 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Foto 31 - Pesca praticada pelas crianças no Rio Mamuru Foram citadas 40 espécies de peixes, com destaque para o aracu, cará, pacu, piranha, traíra e tucunaré, que são espécies comuns às três áreas de estudo. Na região do MAM, é notável que há uma grande interação das famílias com a pesca, sendo praticada durante o ano todo, uma vez que a sua principal finalidade é para subsistência. Para os entrevistados da área, as espécies mais consumidas são: tucunaré, aracu, pacu, piranha, surubim, cará e pescada. Os principais instrumentos utilizados para esta atividade são as redes “malhadeiras”, tarrafas, arpão, zagaia, vara, linha e anzol, havendo ainda o uso de flechas e armas de mergulho. Na região do ARA, os entrevistados relatam ainda que: “dentre os instrumentos de pesca, a zagaia usada na pesca de máscara (Foto 32) é responsável também pela diminuição da quantidade de peixe pescado, “devido os peixes se assustarem [...]”. Foto 32 - Uso da pesca de máscara na região do Mamuru. UFRA / IDEFLOR 124 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará Em ARA, devido aos efeitos das ações antrópicas sobre as populações de peixes em determinada época do ano, a pesca fica muito escassa e a caça fica difícil, tornando obrigatória a compra de peixes de atravessadores, que chegam a vender o quilo do peixe a R$4,00. Nessas regiões, observa-se que a prática do período de defeso (Lei no 7679/88) é pouco respeitada, com alguns entrevistados chegando a mostrar desconhecimento sobre o assunto, e outros alegando que nesse período o peixe está mais gordo. Segundo a Resolução 054/2007, espécies como o aracu, o pacu e o jacundá encontram-se na lista de animais ameaçados de extinção no estado do Pará, demonstrando a fragilidade a que esses recursos estão expostos, com o risco de serem extintos e de afetarem a cadeia ecológica, econômica e social de uma região. Não se observou nenhuma prática de manejo comunitário de pesca nas áreas estudadas, havendo queixa da diminuição desse recurso e necessidade de atenção do Estado para realização de estudo dos recursos pesqueiros da região e implementação de ações, como a Colônia de Pescadores, que possui acesso a alguns benefícios sociais oferecidos pelo governo, como o Seguro-desemprego durante os períodos de defeso, os benefícios de saúde e a aposentadoria. Segundo MacGrath (1998), o modelo comunitário é baseado na lógica da economia do pequeno produtor da várzea. Pescadores artesanais e de subsistência exercem esta função tipicamente em tempo parcial, sendo a pesca apenas uma das atividades que contribuem para a economia familiar. Consequentemente, pescadores têm tempo limitado para se dedicar à pesca e preferem uma pesca de produtividade relativamente alta, a qual eles possam capturar a quantidade necessária com um investimento de tempo mínimo. Pescadores artesanais estão, em efeito, trocando produção por produtividade. 5.4.4 Conclusão A relação entre os comunitários e a fauna silvestre nas comunidades estudadas é muito forte, sendo a atividade de caça um hábito comum, principalmente nas regiões do Eixo 2- Baixo e Médio Mamuru (MAM) e Eixo 3- Rio Arapiuns-Translago (ARA). A principal justificativa para essa prática é a obtenção de proteína animal para a alimentação da família, sendo praticada durante o ano todo pelas comunidades do ARA e MAM, especialmente na estação chuvosa, devido à escassez de peixe. A divisão da caça e da pesca é muito frequente entre os moradores destas comunidades, principalmente, no caso da caça, quando são abatidas espécies de médio e grande porte, como o catitu, o veado e a anta. Na região do eixo ITA, a caça não é muito frequente, sendo mais comum o consumo de carne UFRA / IDEFLOR 125 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará da fauna doméstica. Nas áreas estudadas, os animais domésticos são criados com o objetivo de consumo e comercialização da carne e de serviços, como a tração animal. Nesse estudo, podemos constatar que a atividade de caça é muito influenciada pela densidade populacional da comunidade e pelo uso da terra no entorno da mesma. A exploração florestal, o desmatamento, bem como áreas de fazenda para a pecuária influenciam na disponibilidade, frequência e distância de caça por parte dos comunitários. Essas atividades tem provocado a diminuição de animais nas áreas de florestas próximas às comunidades, que cada vez mais têm necessidade de seguir maiores distâncias na busca de caça e em direções onde a floresta se encontra mais conservada. A pesca é uma atividade de importância, principalmente na região do eixo MAM, com consumo de espécies de alto valor econômico tanto pela sua carne como pelo seu uso ornamental. 6 COMENTÁRIOS ADICIONAIS AOS ESTUDOS TEMÁTICOS E ANÁLISES CONDUZIDAS NA PESQUISA Em adição às conclusões parciais contidas nos capítulos temáticos, oferecem-se, no presente capitulo, aportes para iniciativas de governança pelo Estado, com a finalidade de enfrentar as ameaças e oportunidades reveladas na pesquisa. a) Os resultados da pesquisa apoiam a tese da dependência da Área de Influência (AI) em relação ao Entorno Dinâmico (ED). Vários indicadores sociais, econômicos e políticos apontam para o estado periférico da Área de Influência. Isso porque, tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo, os sistemas sociais do Entorno Dinâmico são amplamente melhores colocados que os seus correspondentes da AI, mesmo aqueles que deveriam ser intrinsecamente integrados, como os subsistemas de saúde e educação. Cidades-sedes de município do ED se destacam quando comparadas com índices estaduais de desenvolvimento, como IDH, PIB, taxa de urbanização e alfabetização. É percebível, nos populares das comunidades tradicionais, o estado de pauperização, decorrente da ausência do funcionamento sequer razoável de serviços básicos, como educação, saúde e comunicação. Além disso, é notória a ausência de serviços que disponibilizem, aos atuais padrões da agricultura familiar de uso da terra, tecnologias que possam melhorar a produtividade sustentável. Há ausência de “redes” de produção, transformação e comercialização, sobretudo para aqueles produtos que UFRA / IDEFLOR 126 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará apresentam vantagens comparativas, como pode ser o caso de produtos à base de matérias primas naturais e locais (eco-produtos). A criação de oportunidades de novas cadeias produtivas é, entre muitas, uma das recomendações colocadas em debate pelo Ministério do Meio Ambientem, no Fórum Social Mundial (Belém, janeiro 2009), sobre o extrativismo. As novas cadeias produtivas, desenvolvidas e operadas a nível local, teriam o propósito de agregar valor, consolidar mercados e garantir o desenvolvimento sustentável aos povos e comunidades tradicionais que vivem do extrativismo. As relações de dependência podem ser, assim, mitigadas e colocadas num nível tolerável e instrumental, através de políticas públicas construídas e incentivadas pelo Estado e voltadas à educação, saúde, comunicação e transformação local. Políticas públicas que favoreçam a ampla participação do Estado no controle dos meios de produção, da propriedade e da população da AI, com a finalidade de oferecer condições essenciais à vida dos comunas em suas comunidades, suprimindo o êxodo pela carência de meios de sobrevivência e acumulação e tornando os meios de produção um bem coletivo comunitário. b) As comunidades tradicionais da AI demonstram se ressentir de “fortes e adequados” programas e projetos governamentais (indução oficial) que venham a melhorar a performance dos subsistemas sociais comunitários. Nos cenários atuais de ameaças e de possibilidades, é estratégico o poder público fortalecê-los. Nessa direção, duas iniciativas estão abertas no estudo: primeira, a necessidade urgente de se implementar com fortaleza e decisão as iniciativas do ITERPA de regularização fundiária. Essa regularização deve ser conduzida com base na regularização coletiva, não individual ou mesmo familiar. A base coletiva é terra regularizada para uso pela produção comunitária, corrigindo tendência (ainda que leve) à concentração minifundiária, com de evidências numéricas, que aparece no estudo da distribuição fundiária das unidades familiares. Essa iniciativa ajuda no fortalecimento do sistema social de produção comunitário-familiar, ou seja, a consolidação do trabalho familiar em terras comunitárias regularizadas. A segunda iniciativa, com base em manifestações valorativas da “floresta em pé” e do reconhecimento das relações complexas homemnatureza, tomando em consideração os “mapas comunitários”, gerados no estudo para expressar a regularização fundiária proposta acima e permitir a geração de mapas de uso atual e potencial da terra, em escala de 1:50.000. O conjunto de medidas (mapa comunitário + regularização fundiária + mapa de uso da terra) tem como objetivo a UFRA / IDEFLOR 127 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará apropriação, pelas comunidades, de uma reserva legal comunitária (mínima), vital às atividades sistêmicas. Para sua viabilização, propõe-se a criação, no IDEFLOR, de uma “Força Tarefa” com a participação de entidades afins do governo federal, governo estadual e associações comunitárias, com a finalidade de fazer um levantamento dos custos iniciais, fontes de financiamento e detalhes operacionais. c) A necessidade de determinar um ponto de otimização, “uso-benefício”, dos recursos naturais da AI, tendo em vista os impactos da BR-163 na região e as perspectivas de uso agrícola da terra, com a expansão da frente granífera Mato Grosso-Pará, exploração madeireira, expansão da economia minerária de grande e pequeno porte e os planos de ocupação das glebas pelo INCRA. d) Estimular e organizar a formação de “redes sociais comunitárias” para valorização das experiências organizacionais de ação social intracomunitária e intercomunitária. e) Face à presença, ainda tímida, de organizações formais, como Igrejas, grêmios recreativos, associações comunitárias, corporações profissionais e cooperativas, devese mobilizar o governo para a criação de programas e projetos que visem ao fortalecimento de todas e, através delas, busquem a equalização de oportunidades, especialmente as de caráter político; assim, eliminando a figura do tutor ou intermediário. Em síntese, as evidências que foram trazidas à reflexão pela pesquisa: • A necessidade de ampla organização social e política das comunidades na via do fortalecimento e redirecionamento filosófico (moral, ético e político) dos subsistemas familiar, religioso, educacional, de saúde e de bem-estar, de produção e de governança comunitária. • Melhoramento da capacidade de governança - fazedores de decisão e tomadores de decisão - dos povos das comunidades tradicionais que lá vivem e residem, quanto ao manejo e uso sustentável dos recursos naturais que lhe tocam por direito natural. • Criação de medidas que garantam a presença efetiva do poder público paraense para estabelecer, com as comunidades tradicionais da AI, os mecanismos necessários e indispensáveis ao uso coletivo dos recursos naturais nas vias dos binômios: produçãoconservação; transformação-preservação e comercialização-distribuição, assegurando a todos a participação na riqueza. UFRA / IDEFLOR 128 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHRENS, S. 2005. Revista de Direitos Difusos. São Paulo: ADCOAS, a.VI, v.29, jan./fev. AYRES, J.M. As matas de várzea do Mamirauá: médio rio Solimões. CNPq/Sociedade Civil Mamirauá, Brasília, 1993. 123p. BODMER, R. E. & PENN Jr., J. Manejo da Vida Silvestre em Comunidades na Amazônia. In: VALLADARES-PÁDUA, C. & BODMER, R. E. Manejo e Conservação da Vida Silvestre no Brasil. Belém: CNPq, 1997. p.285; p. 52-69. BORGES, M. L. O. & De FARIA, D. M. Impacto da atividade da caça na biodiversidade. VII Congresso Internacional sobre Manejo de Fauna Silvestre na Amazônia e América Latina. Anais do VII Congresso Internacional sobre Manejo de Fauna Silvestre na Amazônia e América Latina. Ilhéus, 2006. v. único. BRASIL. SUDAM. Levantamentos florestais realizados pela Missão FAO na Amazônia. Trad. O.H. Knowles. Belém, Divisão de Documentação, 1974. 2v. CASTRO, C.F. A. Biodiversidade e Quintais. 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WHITMORE, T. C. An introduction to tropical rain forests. Blackwell, London. 1990 UFRA / IDEFLOR 131 8 ANEXOS 8.1 MAPAS GEORREFERENCIADOS DAS COMUNIDADES ESTUDADAS NO CONJUNTO DE GLEBAS MAMURU-ARAPIUNS 8.2 MODELOS DE QUESTIONÁRIOS APLICADOS Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 134 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 135 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 136 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 137 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 138 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 139 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 140 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 141 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 142 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 143 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 144 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 145 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 146 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 147 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará UFRA / IDEFLOR 148 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DE RECURSOS HÍDRICOS - PROJETO VÁRZEA PROJETO MAMURU - ARAPIUNS / IDEFLOR QUESTIONÁRIO - COMUNIDADES1 Nome do entrevistado: _________________________________________________ GPS # |___|___| Comunidade: ______________________________ Município: _______________ UTM X |___|___|___|___|___|___|___| Nº do questionário: ______ Data: _____ / _____ / 2008 1. Acesso à área: [ ] Terrestre [ ] Rio [ ] Outros // 2. Limites: Norte: _________ Sul: _________ UTM Y |___|___|___|___|___|___|___| Distância da sede: ________ Tempo de viagem: ___________ Leste: _________ Oeste: _________ Outros: _________ 3. Caracterização geral 3.1. Ano de fundação: 3.2. Motivo / origem: 3.3. Fundador (es): 3.4. Nº de domicílios: 3.5. Viagem + freqüente: 3.6. População total: 3.7. Nº homens: 3.8. Nº mulheres: 3.9. Nºcrianças< 15 anos: 3.10.Nº idosos > 60 anos: de de 4. Material de construção das residências: Cobertura: ____ Lage (concreto) ____ Telha de barro ____ Brasilit ____ Zinco ____ Palha Outros: ___ Parede: ____ Alvenaria ____ Madeira ____ Barro ____ Ripas/palmeira ____ Palha____ Mist Piso: ____ Madeira ____ Cimento ____ Cerâmica ____ Terra batida Outros: ____ 5. Desmatamentos e queimadas Desmatam. ocorrendo? [ ] Sim ] Não Área queimando? [ ] Sim ] Não [ [ Área desmatada? [ ] Sim ] Não Área queimada? [ ] Sim ] Não já Desmatam. em mata ciliar? [ ] Sim [ ] Não Clareiras na mata? [ ] Sim [ ] Não [ já [ Presença de madeireira na área? [ ] Sim [ ] Não Presença de equipam. de exploração madeireira? [ ] Sim [ ] Não 6. Poluição, uso e ocupação do solo Extração:areia, barro ou seixo? [ ] Sim [ ] Não Presenç de poluentes? [ ] Sim [ ] Não Presenç de mineradora na área? [ ] Sim [ ] Não Onde?[ ] Solo [ ] Rio Tipo? __________ ___ Ocorre enchen na área? [ ] Sim [ ] Não Mortand. de animais? [ ] Sim [ ] Não Ocupação terra indíg.? [ ] Sim Não em [ ] Presença de assentamento? [ ] Sim [ ] Não Grilag.de terra? [ ] Sim [ ] Não Campo de pouso? [ ] Sim [ ] Não 7. Organização social Denominação Responsável M e m b r o s S e d e Atividades ligadas ao meio ambiente Outras relações do responsável Atividades na comunidade/ ligadas ao meio ambiente Outras relações do responsável 8. Vida religiosa Igreja/Religião N º A Fre qu ên cia litú rgi ca Residência do presbítero Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará p t 9. Meios de comunicação Tipo Canal/emissora/operado ra Des de Localização Avaliação Telefone:[ ]Fixo[ ] Celular Rádio Televisão Correios Outros 10. Serviço de energia elétrica Tipo Fornecedor Qu ant ida de De sd e Cobertura Avaliação Qu ant ida de De sd e Cobertura Avaliação Motor a diesel Placa solar Hidrául ica Eólica Outros _______________ 1 Propriedade: IDEFLOR / UFRA-Projeto VÁRZEA 11. Serviço de abastecimento de água Tipo Proprietário Micross istema Poço particul ar Açude Igarapé Rio Outros 12. Educação: a) Educação formal: [ ] Fundamental [ ] Médio [ ] Superior b) Financiamento: [ ] Público [ ] Privado [ ] Confessional [ ] Comunitário c) Educação informal: [ ] Saúde [ ] Trabalho [ ] Educação [ ] Outros: __________________ c) Nível do professorado: ____ Fundamental ____ Médio ____ Superior e) Infraestrutura educacional: ____ Residência no local ____ Biblioteca ____ Laboratório Outros: _______________ 13. Transporte Tipo Nome Proprietário Dia / freqüên cia Destino / localidade 14. Saúde Tipo de atendimento Serviços oferecidos Promov ido por UFRA / IDEFLOR Hospital mais próximo Doenças mais freqüentes 150 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 15. Festas, promoções e comemorações Tipo Dat a 16. Poder do Estado: [ ] Executivo 17. Partidos políticos: [ Promovida por [ ] Legislativo ]PT [ ]PMDB Cobertura [ ] Jurídico/cartorial [ ]PSDB Observação [ ] Policial [ ] DEM [ ] Outros: __________________________________________ 18. Problemas sociais comunitários: [ ]Roubos [ ] Alcoolismo [ ] Desemprego [ ] Brigas de visinhos [ ] Fuxico 19. Percepção de impactos ambientais: a) Você acredita que o meio ambiente está mudando? [ ] Sim [ ] Não b) Essa mudança está afetando a vida e o trabalho na comunidade? [ ] Sim [ ] Não c) Quais desses “problemas” você acha que têm origem na questão ambiental? Doenças: [ ]Contagiosas [ ]Infecciosas [ ]Respiratórias [ ]Pele _______________________ Água: [ ] Poluída [ ] Suja (rio e igarapé) [ ] Nascentes secando [ ] Falta de chuvas Escassez: [ ] Pesca [ ] Caça 20. Referências sobre pessoas importantes e influentes: Nome Atuação [ ]Outras: Observação 21. Qual(is) atividade(s) realizada(s) na comunidade ou no entorno, pode(m) ser considerada(s) prejudicial(is) ao meio ambiente? ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ Entrevistador (a) _________________________ _______________ 1 Propriedade: IDEFLOR / UFRA-Projeto VÁRZEA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DE RECURSOS HÍDRICOS - PROJETO VÁRZEA PROJETO MAMURU - ARAPIUNS / IDEFLOR QUESTIONÁRIO - FLORESTAS1 Nome do entrevistado: _________________________________________________ GPS # |___|___| Comunidade: ______________________________ Município: _______________ UTM X |___|___|___|___|___|___|___| Nº do questionário: ______ UTM Y |___|___|___|___|___|___|___| Data: _____ / _____ / 2008 1. Em que área você está? [ ]Particular [ ]Pública //Área média da propriedade: ____________ Nº de famílias: ______ 2. Acesso à área: [ ] Estrada [ ] Ramal 3. Tipo de vegetação: [ ] Terra firme [ ] Trilha [ ] Várzea [ ] Rio [ ] Lago [ ] Igapó UFRA / IDEFLOR [ ] Outros: _________________________ [ ] Cerrado 151 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 4. Uso e ocupação do solo: Mata _____% Capoeira _____% Lavoura _____% Pasto _____% Área aberta _____% 5. Presença de madeireiras na área? [ ] Sim [ ] Não. // Distância da área de exploração até a comunidade: ___________ 6. Direção²: [ ]Norte [ ]Sul [ ]Leste [ ]Oeste [ ]Nordeste [ ]Noroeste [ ]Sudeste [ ]Sudoeste 7. Uso comunitário de espécies madeireiras e não-madeireiras Nome comercial 3 P r o d u t o Q u a nt id a d e Destino (%) Comer cializaç ão D i r e ç ã o ² Demanda de Comercialização (DC): 0 - Não comercializa, 1- Baixa, 2 - Média e 3 - Alta. 8. Quanto venderia (R$) a árvore? Nobre: _____________________________________________________________ Rodo (Ø): _______ e Hc: _______ Vermelha: __________________________________________________________ Rodo (Ø): _______ e Hc: _______ Branca: ____________________________________________________________ Rodo (Ø): _______ e Hc: _______ 9. Descrição do sistema de exploração dos produtos e o tempo que desenvolve a atividade: ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ 10. Sabe o que é concessão florestal:[ ]Sim [ ]Não (se não explicar). A concessão florestal pode afetar a comunidade, em quê? ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ 11. Observações gerais: ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ 12. Qual (is) pessoa (s) você indicaria para aplicarmos o questionário: ___________________________________________________ Entrevistador (a) _________________________ _______________ 1 Propriedade: IDEFLOR / UFRA-Projeto VÁRZEA UFRA / IDEFLOR 152 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DE RECURSOS HÍDRICOS - PROJETO VÁRZEA PROJETO MAMURU - ARAPIUNS / IDEFLOR QUESTIONÁRIO - UNIDADE DE PRODUÇÃO FAMILIAR1 Nome do entrevistado: _________________________________________________ GPS # |___|___| Comunidade: ______________________________ Município: _______________ UTM X |___|___|___|___|___|___|___| Nº do questionário: ______ Data: _____ / _____ / 2008 UTM Y |___|___|___|___|___|___|___| 1. Nasceu na região: [ ] Sim [ ] Não. Se não, quando chegou aqui? _________ // Veio de onde? ____________________ 2. Na sua casa quantas pessoas moram com você? ___________________ 3. Filhos que vivem com você: Menores(até 15 anos): _____ Adolescentes(16-21 anos):____ Adultos(maior de 21 anos):____ 4. Filhos que trabalham: Menores (até 15 anos): ____ Adolescentes (16 - 21 anos): _____ Adultos (maior de 21 anos): _____ 5. Filhos que estudam: [ ] Sim [ ] Não. Se não, por quê? _____________________________________________________ [ ] Menores (onde?) _______________ [ ] Adolescentes (onde?) _____________ [ ] Adultos (onde?)_______________ 6. Tipo de família: [ ]Consanguínea [ ]Conjugal // [ ]Nuclear [ ]Extensa (+ parentes) [ ]Ampliada(+ não parentes) 7. Tipo de residência: [ ] Patrilocal [ ] Matrilocal [ ] Avunculocal [ ] Neolocal [ ] Matripatrilocal 8. Manutenção da família:[ ]Salário ativo [ ]Pensão [ ]Renda da terra [ ]Ajuda externa [ ]Comércio [ ]Serviços [ ]Bolsas 9. Quando alguém fica doente, onde se trata? _________________________________________________________________ 10. Tamanho da propriedade (ha): __________ // Frente (m): ____ Fundo (m): ____ Direita (m): ____ Esquerda (m): ____ 11. A propriedade possui: [ ]Título [ ]Recibo de compra [ ]Escritura [ ]Carta de posse [ ]Não tem [ ]Outros:_____ 12. Quais as benfeitorias existentes na propriedade? ____Casa ____Casa de farinha ____Chiqueiro ____Paiol/tulha ____ Galpão ____Oficina ____Cerca ____Fossa séptica ____Poço ____Curral ____Fossa negra ____Galinheiro Outras: _____________ 13. Água (uso doméstico): [ ]Rio [ ]Igarapé [ ]Açude [ ]Cisterna [ ]Microssistema [ ]Carro pipa [ ]Outros: _______ 14. Quais as atividades principais, atualmente (tempo/renda)? [ ]Lavoura [ ]Pecuária [ ]Não-madeireiros [ ]Madeireiros [ ]Mineral (garimpo) [ ]Pesca [ ]Outros: ___________ 15. Quem desenvolve atividade na propriedade? [ ]Mão-de-obra familiar [ ]Meeiros [ ]Contrato temporário [ ]Contrato permanente [ ]Mutirão [ ]Outros:________ 16. Detalhe a quantidade da produção na propriedade para consumo e/ou venda: Destino (%) Produto Quantid ade Produto /Mês Comercialização C o n s u m o P e r í o d o P a r a q u e m ? 2 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 1 Demanda de Comercialização (DC): 0 - Não comercializa, 1- Baixa, 2 - Média e 3 - Alta. Para quem?: 1 - Mercadinho/Quitanda, 2 - Atravessador, 3 - Atacadista, 4 - Consumidor, 5 - Cooperativa. 3 Direção: [ ]Norte [ ]Sul [ ]Leste [ ]Oeste [ ]Nordeste [ ]Noroeste 2 [ ]Sudeste [ ]Sudoeste 17. Participa alguma cooperativa ou associação comunitária? [ ] Sim [ ] Não. Qual? _______________________________ _______________ 1 Propriedade: IDEFLOR / UFRA-Projeto VÁRZEA 18. Organização social: envolvimento comunitário Organização social D i á r i a Frequência do envolvimento S M e e m n a s n a a l l A n u a l Igreja Clubes Associação Cooperativa Negócios 19. Organização social: envolvimento familiar/pessoas Participação social D i á r i a Frequência do encontro S M e e m n a s n a a l l A n u a l Parentes Amigos Vizinhos Outros 20. Crenças, costumes e valores: 20.1. Acredita em um só Deus? [ ] Sim [ ] Não. 20.2. Acredita na vida após a morte? [ ] Sim [ ] Não. 20.3. Acredita que praticar o bem é mais importante que ter uma religião? [ ] Sim [ ] Não [ ] Ambas são importante 20.4. Acredita que certas carnes são remosas? [ ] Sim [ ] Não. 20.5. Acredita que a floresta é protegida por espíritos? [ ] Sim 20.6. O rio tem seu “rei”? [ ] Sim [ ] Não. [ ] Não. 20.7. Concorda com a frase: “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. [ ] Sim 20.8. A floresta em pé é mais importante que a floresta derrubada? [ ] Sim [ ] Não. 20.9. Acredita que derrubando a floresta, modifica o clima e diminui as chuvas. [ ] Sim 20.10. Acredita que existe uma relação forte entre a floresta e o rio/igarapé. [ ] Sim UFRA / IDEFLOR [ ] Não. [ ] Não. [ ] Não. 154 Pesquisa Socioambiental na Região Mamuru Arapiuns - Pará 20.11. Acredita que o clima aqui na região está mudando? [ ]Sim [ ]Não. Se sim, por quê? _______________________ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ 21. Observações gerais: _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ _______________________________________________________________________________________ _______ Entrevistador (a) _________________________ _______________ 1 Propriedade: IDEFLOR / UFRA-Projeto VÁRZEA. UFRA / IDEFLOR 155 Mortalidad e causas Assistência técnica Preço (R$) Vacinação DC4 Instalação Comercialização Período Onde4 Alimenta ção ANIMAIS Acesso: [ ] Estrada [ ] Ramal [ ] Rio Obs.__________________________________________ Freqüência2 Troca Consumo Venda Espécies/ Raça [ ] Pública Finalidade (%) Área de criacao3 Animais1 Freqüência2 1. Em que área você está: [ ] Particular 2. Animais da propriedade: 1 2 Aves, Suínos, Bovinos, Peixes, Ovinos, Caprinos, Cães, outros animais. Baixa, Média e Alta 3 Mata de Terra firme, Cerrado, Pasto, Quintal, CONfinado, Semi-confinado, mata de Várzea, mata ciliar 4 Comunidade próxima, comunidade distante, vizinhos, atravessador, outros. 9 Demanda de Comercialização (DC): 0 - Não comercializa, 1- Baixa, 2 - Média e 3 - Alta (margem de cursos da Água). ANIMAIS SILVESTRES 4. Quais os animais mais freqüentes na região? _______________________________________________________________________________________________ 5. Uso comunitário de espécies Finalidade (%) Comercialização Distancia Frequên DC Preço Local de 3 da Direção Animais Como caça Ven Cons Troc Enco Xerim Medic Freqüên Perí Onde4 4 cia2 (R$) caca1 caçada da umo a menda babo inal cia odo 1 Floresta, cerrado, capoeira, quintal, várzea, outros 2 Semanal, quinzenal, mensal, outras 3 Instrumento e método 4 Comunidade próxima, comunidade distante, vizinhos, atravessador, outros. 6. Cria animais silvestres? Quais? __________________________________________________________________________________________________________ 7. Após a derrubada, quais os primeiros animais desaparecem? _________________________________________________________________________________ 8. Queimada, quais os primeiros animais desaparecem? _______________________________________________________________________________________ 9. E os mais resistentes ____________________________________________________________________________________________________________________ PESCA 10. Período de pesca? _____________________________________________________________________________________________________________________ 11. Onde vende?__________________________________________________________________________________________________________________________ Tipo de pesca: arrastão, espinhel, tarrafa, rede, bomba, timbó: ___________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 1 Espécies pescadas_____________________ ____________________________________ ____________________________________ Finalidade (espécies): consumo, comercialização__________________ _______________________________ Entrevistador (a) _________________________ Propriedade: IDEFLOR / UFRA-Projeto VÁRZEA