Cuidados na aquisição de matrizes e reprodutores

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Cuidados na aquisição de matrizes e reprodutores
Cuidados na aquisição de matrizes e reprodutores caprinos
Autora: Doutora Anneliese de Souza Traldi
Na hora de comprar um caprino a escolha da raça (produção de leite, carne ou dupla
aptidão) deve ser de caráter pessoal, pois o que importa é a alimentação, os cuidados no
manejo e a constante seleção zootécnica do rebanho. No entanto, a compra deve ser feita
em um criatório idôneo e cabe ao comprador examinar os animais ou estar acompanhado
de técnico competente (veterinário, agrônomo ou zootecnista) que realmente conheça a
espécie.
Eis algumas dicas dos cuidados que se deve ter na hora de adquirir um bode ou uma cabra:
- Em primeiro lugar, deve-se avaliar o estado nutricional dos animais, a higiene das
instalações, o desenvolvimento e estado corporal do rebanho, pois uma caixinha de
surpresas pode se esconder atrás de uma compra na qual se pense unicamente em preço
ou valor genético dos animais.
- Examinar a pele e pelos, para verificar a presença de piolhos. Examinar a coloração das
mucosas, principalmente a ocular. Magreza significa fome, baixa produção de leite, endo ou
ecto parasitas ou ambos (como vermes de diferentes tipos ou piolhos). Nos dois primeiros
meses pós-parto, cabras de alta lactação ou especialmente na raça Alpina, a fêmea parida
se mostra bastante magra e a recuperação é vista nítida e gradativamente após o pico da
lactação, que ocorre após o segundo mês pós-parto. Não confundir, portanto, espoliação por
parasitas, má nutrição e demais problemas sanitários, com fêmeas bem nutridas e hígidas,
que perderam peso após o parto devido à lactação.
- No caso de compra de animais PO (puros de origem), examinar as características raciais
como pelagem, chanfro, tamanho e/ou comprimento das orelhas, específicos de cada raça
e, para todos os animais, dentição e defeitos como agnatia ou prognatismo.
- Avaliar aprumos (como o animal pisa, estado dos cascos, harmonia dos membros, artrite,
sensibilidade ao toque nas articulações...).
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- Avaliar o úbere das adultas e o desenvolvimento corporal das jovens; no úbere deverá ser
observada a conformação (globosa, assimétrica, tetas excessivamente grossas ou
pequenas ou bipartidas, presença de tetas supranumerárias funcionais, má inserção em
relação ao períneo, ligamentos firmes ou excessivamente relaxados), textura (maciez, que
deve ser sentida por palpação antes e após a ordenha) e presença de nódulos, cicatrizes ou
enfartamento ganglionar.
- No caso específico das raças Boer, Savanah e Kalahari, machos e fêmeas, poderão
apresentar taras de tetas inadmissíveis nas raças leiteiras e de dupla aptidão, como tetas
supranumerárias ou bipartidas e duplo orifício; porém, a seleção dessas três raças deve ser
feita para animais que não apresentem esses defeitos, principalmente nos reprodutores;
observar ainda a pigmentação do rabo, diretamente correlacionada à pigmentação da pele
do restante do corpo, e que deve ser escura ou com, no mínimo 70% de pigmentação negra
desde o nascimento.
- Nos machos, evitar a compra de cabritos antes dos quatro meses de idade, pois deverá
ser observada a exposição do pênis, a conformação dos testículos e sua presença na bolsa
escrotal, integridade dos epidídimos, libido e desenvolvimento corporal, além do estado
sanitário; examinar detalhadamente boca e tetas; animais que sofreram problemas
sanitários graves como verminose, eimeriose ou diarreias de diferentes origens,
provavelmente terão um retardo no crescimento.
- Nos bodes, muita atenção aos testículos, que deverão ser bem desenvolvidos, simétricos,
sem ferimentos e cortes na bolsa escrotal; atenção redobrada aos epidídimos, que não
poderão apresentar granulomas; examinar a boca, o padrão racial, caixa torácica e
abdominal, aprumos, articulações e, principalmente, as tetas, pois todos os machos deverão
apresentar uma única teta de cada lado da região inguinal, semelhante às fêmeas; exceção
às raças de corte, como citado anteriormente.
- Nas cabritas de raças leiteiras e de dupla-aptidão, examinar as tetas, visando avaliar a
presença de tetas supranumerárias, que podem ser funcionais ou possuírem duplo orifício,
ou seja, funcionais quando da lactação, o que, além de ser um defeito zootécnico grave,
incorrerá na desclassificação do animal no momento do registro genealógico. Para fêmeas
de menor valor zootécnico, cuja função seja exclusivamente produção e formação de
rebanho, essa característica deve ser igualmente observada.
- Jamais adquirir uma fêmea de dois ou mais anos de idade não parida ou que não esteja ao
menos amojando, pois a cabrita torna-se púbere aos quatro meses e deverá ser acasalada
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a partir dos 7 meses (desde que tenha 65 a 70% do peso adulto da raça), ou seja, deverá
estar obrigatoriamente parida antes dos 2 anos de idade.
- Sempre que possível, requisitar ao vendedor todos os dados zootécnicos dos animais,
bem como o RGN ou RGD, no caso de rebanho submetido ao Registro Genealógico
Caprino (SRGC).
- Quando da compra de animais mestiços, para formação de plantel, os mesmos cuidados
devem ser observados, com menores exigências quanto à capacidade leiteira, mas nunca
deixando de observar as características sanitárias dos mesmos.
- Muito cuidado com a linfadenite caseosa: jamais adquirir animais com enfartamento
ganglionar (principalmente adiante da paleta, na cara, embaixo da mandíbula, etc.) ou
cicatrizes de abcessos drenados e já secos na região esses defeitos, principalmente nos
reprodutores; observar ainda a pigmentação do rabo, diretamente correlacionada à
pigmentação da pele do restante do corpo, e que deve ser escura ou com, no mínimo 70%
de pigmentação negra desde o nascimento.
- Verificar qual o manejo nutricional do rebanho, para que após a eventual mudança na
qualidade ou marca do concentrado, bem como no volumoso (capim verde picado, feno,
silagem, leguminosas verdes, etc.) seja feito gradativamente, do contrário poderá ocorrer
mortes por enterotoxemia. Nunca utilizar o farelo de trigo como fonte de proteína (e de
barateamento da ração), pois ele ocasionará a formação de cálculos renais, que obstruirão a
uretra peniana, levando à morte do reprodutor. No caso de utilização de concentrado não
comercial (formulações caseiras) e/ou de firma não idônea, não colocar mais de 30% desse
farelo e sempre adicionado de 2% de farinha de ostra ou carbonato de cálcio.
- Nunca transportar os animais por muitas horas ou dias sem oferecer água limpa e, se
possível, volumoso limpo. Nunca cortar capim em beira de estradas movimentadas,
totalmente contaminados de poluição, fumaça e gazes de escapamentos; no caso de
importação direta do exterior, exigir a presença de um técnico competente e idôneo, além
dos exames sanitários exigidos pelo Mapa.
- Não esquecer que o leite é produzido a partir daquilo que o animal come, não apenas de
um bom pedigree. As condições ideais de produção de leite são climas amenos, com
temperatura de conforto de 12 a 18 ° C, o que dificilmente conseguimos em nosso país;
portanto, animais adquirido no sul do Brasil ou exterior poderão apresentar produção leiteira
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aquém do esperado ou desejável, exatamente pelo fato do calor e/ou umidade elevada
diminuírem a ingestão de alimento e, consequentemente, a produção.
* Professora no Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da USP
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