Bósnia Herzegovina
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Bósnia Herzegovina
CONFISSÕES RELIGIOSAS ● Muçulmanos 55.4% ● Cristãos 41% Católicos 12.3% / Ortodoxos 28.7% ● Agnósticos/Ateus 3.6% SUPERFÍCIE 51.197 Km² POPULAÇÃO 3.843.126 DESALOJADOS 6.933 REFUGIADOS 113.000 Legislação A implementação dos Acordos de Dayton de 1995, que puseram fim ao conflito étnico-religioso, fez surgir a actual Constituição. Com o tempo, esta tem causado extrema fragmentação do poder legislativo e administrativo. Por exemplo, alguns especialistas contaram pelo menos onze formas de Governos locais.1 A liberdade religiosa2 é reconhecida no Artigo 2, parágrafo 3, da Constituição de 1995 da Bósnia Herzegovina. O próprio país está dividido em duas entidades políticas distintas, a Federação da Bósnia e Herzegovina (croata-muçulmana) e a República Srpska (sérvia) ou República de Srpska, incluindo o distrito de Brčko, cada uma das quais com o seu próprio Governo e Parlamento. A liberdade religiosa também é regida pela Lei da Religião e pelas normas administrativas que lhe dizem respeito. Além disso, o Ministério da Justiça criou uma conservatória conjunta para todas as religiões, enquanto o Ministério dos Direitos Humanos e dos Refugiados tem poder para documentar todas as violações à liberdade religiosa. Segundo a legislação existente, qualquer grupo com pelo menos 300 adultos pode candidatar-se por escrito ao Ministério da Justiça para criar uma Igreja ou uma comunidade religiosa. O ministério tem de responder no prazo de não mais de trinta dias. Se a sua resposta for negativa, os candidatos podem apresentar recurso ao Conselho de Ministros. Os pais têm o direito de enviar os seus filhos para escolas privadas. Existem escolas confessionais muçulmanas, católicas e ortodoxas sérvias em várias cidades. Nas escolas ‘europeias’ geridas pela Igreja Católica, o programa curricular é concebido para ensinar os alunos a viverem em contextos étnica e religiosamente diversificados. As autoridades locais reconhecem como feriados nacionais os dias santos do maior grupo local. As leis existentes não foram alteradas durante o período em análise.3 BÓSNIA HERZEGOVINA BÓSNIA HERZEGOVINA Discriminação étnico-religiosa Em termos práticos, uma vez que a etnicidade e a religião são coincidentes, os membros dos grupos minoritários nas zonas mistas sofrem discriminação social e administrativa. Gian Matteo Apuzzo, “Bosnia Erzegovina: la frammentazione dell’inclusione sociale,” in Osservatorio Balcani e Caucaso, 1 de Março de 2012. http://www.balcanicaucaso.org/aree/Bosnia-Erzegovina/ Bosnia-Erzegovina-la-frammentazione-dell-inclusione-sociale-112861 1 Constituição da Bósnia Herzegovina - http://www.servat.unibe.ch/icl/bk00000_.html 2 3 International Religious Freedom Report for 2011, Departamento de Estado Norte-Americano, Gabinete para a Democracia, Direitos Humanos e Trabalho. 69 BÓSNIA HERZEGOVINA Muçulmanos, católicos e ortodoxos sérvios relataram muitos casos de violência e intolerância étnico-religiosa. Enquanto minoria, os católicos têm de lutar para sobreviver nas zonas predominantemente muçulmanas da Federação Bósnia e Herzegovina, bem como nas áreas predominantemente sérvias da República Srpska. Numa declaração recente feita por telefone à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o Cardeal Vinko Puljic, Arcebispo de Sarajevo, queixou-se da discriminação sistemática contra os católicos na Bósnia Herzegovina. Apesar de promessas da comunidade internacional, muitos católicos croatas não podem regressar às zonas predominantemente sérvias. Actualmente, mais de 200.000 estão ainda a aguardar o regresso a casa. Os católicos que vivem na federação croata-muçulmana também são vítimas de intolerância. De acordo com o prelado, os muçulmanos controlam tudo e estão a tentar fazer com que os católicos saiam do país. As funções políticas são da responsabilidade exclusiva dos muçulmanos e os católicos ficam em desvantagem quando procuram emprego. Após a guerra, o processo gradual de islamização deve-se em parte a investimentos de países muçulmanos, em especial o Irão e a Arábia Saudita. A comunidade internacional também tem desempenhado um papel no favorecimento dos muçulmanos, enquanto a Croácia esqueceu os católicos bósnios, concentrando a sua atenção agora na entrada na União Europeia. Mesmo assim, o Arcebispo disse que estava satisfeito com os progressos feitos no diálogo com o jurisconsulto supremo da Bósnia Herzegovina, Mustafa Cerić.4 Para os muçulmanos na República Srpska, a religião é uma marca da identidade étnica, mesmo que a prática religiosa se limite muitas vezes a idas à mesquita e à participação nos acontecimentos importantes da vida (nascimentos, casamentos e funerais). Por seu lado, os ortodoxos sérvios enfrentam dificuldades na Federação da Bósnia e Herzegovina. O sistema legal continua a ser um obstáculo na defesa dos direitos religiosos das minorias. Um exemplo é a polícia, que raramente detém pessoas que se envolvam em vandalismo contra edifícios religiosos ou que ataquem sacerdotes de Igrejas ou comunidades minoritárias. Por vezes, as autoridades locais até põem limites às cerimónias religiosas das minorias. Quando as pessoas são detidas, raramente são levadas a tribunal. Muitas vezes, a importância dos actos de vandalismo é minimizada ou eles são explicados como incidentes isolados causados por jovens, toxicodependentes ou pessoas mentalmente instáveis, em vez de serem considerados como preconceito religioso. As autoridades locais discriminam muitas vezes os grupos mais pequenos em termos de serviços ao público, segurança e educação. Por exemplo, os sacerdotes das minorias em Sarajevo, Banja Luka e Mostar queixaram-se de discriminação contra eles em relação à forma como podem tratar de propriedades ou aceder a serviços municipais. E também lamentaram a falta de protecção e a incapacidade da polícia de investigar casos de assédio e vandalismo contra eles. 4 70 “Bosnia ed Erzegovina: cattolici discriminati,” in Aiuto alla Chiesa che soffre, 23 de Janeiro de 2012. http://acs-italia. org/comunicati-stampa/comunicato-bosnia-2/ il Manifesto, 12 de Novembro de 2011. 5 BÓSNIA HERZEGOVINA Alguns grupos religiosos enfrentam obstáculos quando tentam candidatar-se ao reconhecimento legal. Este ainda é o caso da Aliança de Igrejas Protestantes e Evangélicas na Bósnia Herzegovina, porque o Ministério da Justiça não aprova o uso do termo “aliança”. A construção de locais de culto ilegais em terrenos privados e públicos continuou a ser um problema e uma fonte de tensões e conflito na região. Em muitas ocasiões, estes casos foram usados para fins políticos. Com frequência, esses edifícios foram construídos com o total entendimento de que eram ilegais, mas com a intenção de enviar uma mensagem política às minorias religiosas sobre quem detém o poder em certas áreas. Por exemplo, a igreja ortodoxa sérvia construída em 1996 em terrenos de uma mulher bósnia, Fata Orlovic, em Konjevic Polje, ainda permanece de pé hoje em dia, apesar de um tribunal ter ordenado a sua demolição em 2004. A mulher bósnia foi expulsa da aldeia durante a guerra e perdeu vinte e nove parentes em Srebrenica. Quando regressou, pediu que o edifício fosse demolido, mas, apesar das suas exigências legais, a estrutura ainda permanece de pé. A situação ficou fora de controlo por dez vezes. A mais recente data de 11 de Setembro de 2011, quando cerca de cinquenta sérvios liderados por alguns sacerdotes ortodoxos tentaram entrar na igreja que as autoridades tinham selado, de modo a celebrar a Eucaristia. Seguiu-se uma grande luta com paus entre igual número de sérvios e de bósnios.5 As autoridades não aplicaram de maneira equitativa as leis existentes sobre a propriedade privada e a construção de locais de culto. Por exemplo, a 17 de Agosto de 2011, responsáveis públicos deitaram abaixo uma mesquita perto de Livno alegando que a comunidade muçulmana local, na sua perspectiva, não seguiu os procedimentos para obter a autorização para transformar um edifício doado num local de culto. Ainda há algumas questões legais a envolver a restituição de propriedades e bens apreendidos pelos comunistas após terem tomado o poder no seguimento da Segunda Guerra Mundial. Diversos responsáveis usam este problema como uma arma política contra os líderes religiosos, a quem por vezes é pedido dinheiro para acelerar o processo de restituição. Em Sarajevo, a Igreja Ortodoxa sérvia continua a exigir a devolução de um edifício actualmente ocupado pela Faculdade de Economia e Comércio da Universidade de Sarajevo, bem como uma indemnização pelos terrenos nos quais a Assembleia Parlamentar da Bósnia Herzegovina foi construída. O Conselho Inter-religioso decidiu que o edifício deve ser devolvido à Igreja Ortodoxa sérvia. A 9 de Junho de 2010, o Governo da Bósnia Herzegovina, a cidade de Sarajevo, e a Faculdade de Economia e Comércio assinaram um acordo para esse fim que incluía um plano para construir novas instalações para a faculdade até 2011. Apesar disso, as autoridades não têm tido pressa em cumprir os termos do acordo. 71