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Título
Utilização de larvas de Jundiá (Rhandia quelen) como forrageiras na segunda fase do
alevinagem do pintado Pseudoplatistoma corruscans (Pisces, Siluriforme).
Diogo Wappler ; Juan R. Esquivel Garcia Dr.(orientador). Universidade do Sul de Santa
Catarina, UNISUL. [email protected]
Introdução:
O surubim pintado Pseudoplatystoma corruscans (AGASSIZ, 1829), uma espécie de
hábito alimentar carnívoro, predominantemente piscívoro, que habita as zonas
bêntonicas dos corpos aquáticos (MARQUES,1993), podendo alcançar mais de 100 kg
(FOWLER, 1951), sendo que as fêmeas crescem mais do que os machos. Essa espécie
migratória parece percorrer grandes distâncias no período reprodutivo (SATO e
GODINHO, 2003). Por ser um peixe reofílico, a degradação de seu ambiente nativo,
levado pelas construções de hidrelétricas, assoreamento dos rios, poluição e a
intensificação da pesca predatória, são os principais fatores que contribuem para o
declínio das populações naturais da espécie (CAMPOS, 2007). É necessário para tal,
desenvolver técnicas eficazes e econômicas, quanto a sua reprodução e principalmente
na larvicultura, seja para aquicultura, ou repovoamento (PÉREZ, 2001).
Segundo Sato (1999), em uma fêmea de surubim Pseudoplatystoma corruscans, a
relação entre a quantidade de ovócitos/g de ovo, é em média de 2.500 ovócitos/grama de
ovo. Isso significa dizer que, o ovo é muito pequeno (diâmetro
médio de 0,96), consequentemente, a larva nasce muito pequena, 2,51 a 2,69 mm, com
dificuldades de obtenção do primeiro alimento exógeno, sendo esta, a fase crítica na
larvicultura da espécie (LANDINES, et al. 2003).
Song et al. (2005) perceberam que na primeira alimentação o tamanho da boca da larva,
tem uma relação positiva com o tamanho do alimento, é importante dimensionar o
tamanho do alimento proporcionalmente a dimensão da boca. Rotta (2003). Relatou que
um dos primeiros aspectos a serem levados em consideração na alimentação de larvas, é
o tamanho da boca podendo as mesmas morrer de subnutrição.
Conhecer a preferência alimentar das larvas em diferentes estágios, e desenvolver um
regime alimentar estável representa para a larvicultura uma das últimas barreiras, para o
êxito da propagação artificial de várias espécies de peixes (ALVAREZ, 1998).
A utilização de náuplios de Artemia representa uma ótima opção para a alimentação de
larvas de algumas espécies neotropicais cultivadas inicialmente em laboratório, como o
pintado Pseudoplatystoma coruscans (LOPES et al., 1996; BEHR e HAYASHI, 1997;
GUERRERO-ALVARADO, 2003; LEONARDO et al., 2004,), o cachara P. fasciatum
(PORTELLA et al., 2002; FURUSAWA, 2002).Alguns autores observaram a
importância do fornecimento de náuplios de Artemia nos primeiros dias de alimentação
inicial exógena antes da substituição para a dieta formulada, tais como Jomori et al.
(2003) em estudos com pacu Piaractus mesopotamicus e Hung et al. (2002) com o
bagre Pangasius bocourti. Adicionalmente, uma das vantagens da utilização dos juvenis
de Artemia seria o aporte de alguns aminoácidos, pois já foi observado que certas
variedades na fase naupliar não possuem histidina, metionina, fenilalanina e treonina
(HOFF e SNELL, 1987).
Ao contrário de muitas espécies nativas como o pacu, o tambaqui e o matrinxã, cujas
larvas, após quatro a cinco dias de idade, são colocadas em viveiros até se tornarem
alevinos prontos para a engorda, as larvas de surubim e cachara (P. fasciatum)
necessitam ser cultivadas em laboratório pois os melhores resultados em viveiros de
engorda estão sendo obtidos quando são estocados peixes entre 12 e 20 cm de
comprimento. Apesar das técnicas empregadas, a sobrevivência média de juvenis
prontos para a comercialização é aproximadamente de 30 a 40% (INOUE et al., 2002).
As maiores dificuldades de produção do Pintado são encontradas em duas fases do
processo: na larvicultura, altas mortalidades são frequentes em decorrência do
canibalismo e da ação de patógenos, facilitados pelos hábitos bentônico e gregário das
larvas, que propiciam frequentes contatos entre elas. Na fase seguinte, o
condicionamento alimentar exige intensa mão-de-obra e cuidados redobrados com a
qualidade da água, por longo período de tempo.
A alevinagem do pintado Pseudoplatystoma corruscans, é realizada, na maioria das
vezes, com larvas forrageiras de espécies de menor valor comercial até atingir um
determinado tamanho quando então, o alevino é submetido a um treino alimentar para
adaptação a rações secas. No sul do Brasil há dificuldade o período reprodutivo é
geralmente no mês de fevereiro com o agravente da dificuldade na obtenção de larvas
forrageiras. Esquivel (2008) obteve resultados animadores para a segunda alevinagem
do pintado alimentados com pos-larvas de tilapia do Nilo de 12mm de comprimento. O
estudo foi realizado em viveiros de terra com 1.000 m2 numa densidade de 1 pintado.m2
e 100 tilápias.m-2 com alevinos de pintado com peso inicial de 0,4 ± 0,1 g. As tilápias
foram alimentadas com ração em pó com 40% de proteína bruta (PB) três vezes ao dia.
O melhor resultado de alevinagem do pintado foi a obtenção de uma sobrevivência foi
de 83% e o peso e comprimento final de 14,6 ± 11,9 g e 12,9± 3,3 cm, respectivamente.
O jundiá (Rhamdia quelen) é a espécie nativa mais cultivada do sul do Brasil, que,
dentre outros fatores, apresenta muita facilidade de produção de larvas e tem um amplo
período reprodutivo.
A presente pesquisa visa contribuir para o desenvolvimento de um protocolo eficiente
para a produção de alevinos do Pintado Pseudoplatystoma coruscans mais apto para o
treino alimentar.
Palavras-chave: Alimentação, Pintado, alevinagem
Métodos:
O trabalho foi realizado na Estação de Piscicultura Panamá, município de Paulo Lopes,
Santa Catarina Brasil, em março de 2012. Fêmeas e machos de Pseudoplatystoma
corruscans oriundos do banco genético in vivo desta estação foram induzidos e
desovados artificialmente, conforme metodologia padrão de injeção de extrato pituitário
e extrusão considerando a hora grau (230-250) a temperatura de 26°C. As larvas, após
dois dias de eclodidas, foram transferidas para caixas de água de 1000 L com aeração e
renovação de e com náuplios de artemia salina, na quantidade de 500náuplios/larva/dia
durante 12 dias quando uma amostra de 200 alevinos foram pesados e medidos
individualmente.
Foram selecionados alevinos de pintado com peso médio de 0.0329g e comprimento
médio de 14,52 mm, e colocados em aquários (com fundo de tela de 60 micras) de 15
litros com renovação individual dentro de um tanque plástico de 1000 litros numa
densidade de 20 alevinos por aquário. O modelo experimental constou de três
tratamentos com três repetições totalmente casualizado para testar se houve diferença
significativas entre os três tratamentos foi realizada ANOVA calculada com o pacote
vegan do software R (R, 2007).
O tratamento T1 constou de 5 larvas de jundiá
/pintado/dia, o T2 de 15 larvas de jundia/pintado/ dia e o T3 de 25 larvasde
jundia/pintado por dia. As larvas foram fornecidas em cinco vezes/dia durante sete dias.
Parâmetros de qualidade da água foram monitorados diariamente.
Resultados e Discussão:
Os parâmetros de qualidade de água não comprometeram o experimento podendo ser
considerados ótimos conforme citados por Boyd (1990).
Ao final do experimento foi constatado que houve diferença significativa entre os três
tratamentos tanto em relação ao comprimento total dos indivíduos (F1,170= 37.91,
P<0.05) quanto em relação ao peso total dos indivíduos (F1,170= 63.94, P<0.05). As
médias foram para T1 de 20,01mm e 0,577g para T2 de 21,89mm e0,0727 g e para T3
de 23,77mm e 0,1102 g mostrando que o número de larvas de jundiá influenciou no
15
20
CT
25
30
crescimento dos pintados (Figuras 1 e 2).
1
2
3
Figura 1 - Médias e desvios padrão dos valores de comprimento total dos três
tratamentos (T1= 5 larvas jundiá/pintado/dia; T2= 15 larvas jundiá/pintado/dia e T3=
25 larvas jundiá/pintado/dia).
0.20
0.15
PT
0.10
0.05
1
2
3
Figura 2 - Médias e desvios padrão dos valores de peso total dos três tratamentos (T1= 5
larvas jundiá/pintado/dia; T2= 15 larvas jundiá/pintado/dia e T3=
25 larvas
jundiá/pintado/dia).
Este experimento não evidenciou a quantidade ideal de larvas de jundiá como forrageira
do pintado já que o tratamento 3 foi superior ao resto dos tratamentos podendo não ser o
limite de consumo de larvas de jundiá/alevino de pintado. BIZ e colaborados (2009)
realizaram estudo estudo similar e constataram o desempenho de larvas pintado com o
fornecimento de larvas forrageiras de Curimbatá (Prochilodus lineatus) e Rhamdia
quelen além de nauplios de Artemia. A média de tamanho final variou de 21,09 mm, a
22,31 mm e não houve diferença significativa entre os tratamentos. A sobrevivência
variou de 68 a 70%, também sem diferença entre os mesmos. Os resultados mostraram
que a utilização de larvas forrageiras nesta fase de crescimento no melhorou o
desempenho em relação a alimentação somente com nauplios de artemia. O que indicou
que o fornecimento das espécies forrageiras não pode ser de uma vez só.
Neste trabalho a sobrevivência foi elevada em todos os tratamentos sendo de 93,3; 98,3
e 95% para os tratamentos T1, T2, e T3, respectivamente. Em estudo com tilápia como
forrageira também durante a alevinagem do pintado,
(GARCIA et al., 2008).
a sobrevivência foi de 33%
O presente trabalho demostrou que o fornecimento diário de larvas de jundiá se torna
eficiente antes do treino alimentar. Ainda não conhecemos quantidade ideal de larvas
de jundiá como forrageira do pintado, já que o tratamento 3 foi superior ao resto dos
tratamentos podendo não ser o limite de consumo de larvas de jundiá/ alevino de
pintado. Dessa forma outros trabalhos devem ser realizados com taxas de fornecimento
de larvas acima de 25.
Conclusões:
O presente trabalho demostrou que o fornecimento diário de larvas de jundiá se torna
eficiente antes do treino alimentar. Ainda não conhecemos quantidade ideal de larvas
de jundiá como forrageira do pintado, Dessa forma outros trabalhos devem ser
realizados com taxas de fornecimento de larvas superiores as utilizadas neste
experimento.
Referências:
REFERÊNCIAS BIBLI0GRÁFICAS
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FOMENTO
O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Agradecimentos à Campos Novos Energia, S.A. (ENERCAN) pelo apoio na execução
deste trabalho dentro do Programa de Manejo e Monitoramento da Ictiofauna da UHE
Campos Novos.