Artigo Fotossensibilidade e Luz Azul
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Artigo Fotossensibilidade e Luz Azul
FOTOSSENSIBILIDADE E LUZ AZUL BRIGITTE GIRARD Professora Associada no Paris Hospitals College of Medicine Hospital Tenon, França _ FOTOFOBIA É A SENSAÇÃO DOLOROSA sentida por um paciente mediante exposição à luz. Ela é responsável pelo reflexo de fechar as pálpebras, o que protege a retina de exposição excessiva aos raios de luz e particularmente aos raios solares, devido à fototixicidade da luz nas camadas corioretinianas. Fotossensibilidade ocorre somente dentro do espectro de luz visível. Estas informações sensoriais podem ser exacerbadas e neste caso é chamada de fotofobia. Algumas doenças causam fotofobia e ela é vista como um dos sintomas. As doenças mais comuns deste tipo afetam a integridade do olho ou das vias visuais, como lesões na córnea, úlceras traumáticas na córnea, abscessos na córnea ou queratite ponteada superficial, que são comuns em todas as síndromes do olho seco. Uveíte também pode ser mencionada aqui, juntamente com neuropatia retrobulbar ou condições extra-oculares como enxaqueca ou meningite. _ CÉLULAS GANGLIONARES ESPECIALIZADAS A fotofobia se origina em células ganglionares especializadas conhecidas como “ipRGCs” (células ganglionares retinianas intrinsecamente fotossensíveis). No estágio atual da pesquisa ainda não sabemos se estas células se subdividem de acordo com o comprimento de onda apresentado. Estas ipRGCs ficam localizadas na camada de células ganglionares da retina. A princípio seus axônios percorrem o mesmo caminho que as fibras do nervo da retina e vão na direção do nervo óptico. Seu caminho específico só foi descoberto recentemente, e é chamado de caminho não visual do nervo óptico, que chega na seção posterior do tálamo ou pulvinar [6]. Estes caminhos não visuais, individualizados usando as técnicas de tractografia por Difusão MR fornecem uma base anatomo-fisiológica para a dor causada pela luz. Também há conexões de nervo entre o pulvinar e o núcleo do nervo trigêmeo o que pode explicar a fotofobia em todas as lesões oculares que estimulam o ramo oftálmico do nervo trigêmeo. Após conexão direta do nervo óptico ao pulvinar, a rota de caminho não visual se conecta ao córtex, tanto visual (áreas occipitais de Brodmann 18, 19, 20), parietal (área de associação, área Brodmann 7), frontal e pré-frontal. As conexões deste caminho não visual interagem com vias motores e sensoriais (olfativas). Este caminho não visual ativado por estimulação fótica, atua no limite de excitação de neurônios trigêmeos no núcleo posterior lateral e posterior do tálamo (de ratos) aumentando a sensação de dor mediante exposição à luz em enxaquecas. Um estudo de IRM funcional [8] também apresentou um aumento de atividade pulvinar durante sensibilidade cerebral central (enxaqueca), explicando desta forma a fotofobia. O pulvinar é dividido em quatro áreas, três das quais (medial, superior e inferior) concentram informação visual [3]. Portanto, o pulvinar é um centro principal para integração e modulação de influxos sensoriais, particularmente aqueles transmitidos pelas ipRGCs e o caminho não visual que por si só tem conexões com o núcleo supraquiasmático (NSQ), a habênula, a glândula pineal, o folheto intergeniculado (FIG) e o núcleo pretectal olivar (NPO). Este último é conectado ao gânglio ciliar e ao núcleo de Edinger-Westfal que está envolvido em reflexos pupilares foto-dependentes. __ A TOXICIDADE DA LUZ AZUL Para se proteger dos efeitos prejudiciais de radiação luminosa de alta energia, a natureza estabeleceu vários filtros. Raios ultravioletas A, B e alguns C, que tem energia ainda mais alta que a luz azul, não atingem a retina porque são detidos pela camada de ozônio, e depois pela córnea e lentes do cristalino. Por outro lado, as várias radiações do espectro de luz visível não atingem os fotorreceptores. O comprimento de onda de luz azul tem a energia mais alta. Fica localizada entre 400 e 510nm. Ela inclui violetas, azul índigo e ciano (fig.1). A luz azul é absorvida pelos pigmentos amarelos do cristalino (fig. 2), que aparecem gradualmente conforme a idade avança (fig. 3) e na retina pelos pigmentos rodopsina, lipofuscina e os pigmentos maculares (luteína, zeaxantina, meso-zeaxantina). A reação fotoquímica é responsável não apenas pela fototransdução, mas também pela formação de radicais livres durante o fenômeno oxidativo. Estes radicais livres, que são ionicamente instáveis, são tóxicos diretamente nas membranas celulares e metabólitos intracelulares, causando desaceleração do metabolismo retinal, não-renovação de artigos externos de fotorreceptores e sua apoptose. Energia luminosa: E (eV) = h (Hertz) = 1/ (nm) FIG. 1 Energia de fóton dependendo do comprimento de onda dentro do espectro de luz visível. Points de Vue - n°68 - Primavera – 2013 INTRODUÇÃO Fotofobia é a proteção final da retina contra o fenômeno oxidativo, bloqueando a entrada de luz através de um reflexo de blefaroespasmo (piscar). Resultados na literatura ainda são contraditórios ao afirmar o papel desencadeador exercido pela luz azul na gênese de DMRI (fig. 4) e catarata, mas um certo número de artigos se apresentam em favor desta hipótese. As gerações de implantes de lente de cristalino amarelas, que bloqueiam a luz azul, são os resultados destas hipóteses científicas. O debate ainda está aberto, mas filtros óticos que bloqueiam tanto UV quanto luz azul ainda são mais eficientes. [5], a luz azul é de grande importância para o corpo, adicionalmente para melhorar a percepção escotópica através de estimulação dos bastonetes, também há regulação do ciclo circadiano e regulação do humor [5]. Melanopsina, o pigmento da retina que absorve o azul, com pico de absorção de 480nm, controla o ciclo diurno através do caminho não visual que estimula a glândula pineal diretamente além da secreção de melatonina [7]. Mudança em níveis de melatonina sérica são responsáveis por ciclos de sono e humor (depressão fotodependente ou sazonal). Absorção da luz em um paciente fáquico ou pseudofáquico. TRANSMISSÃO (%) FIG. 3 IOL de absorção UV tradicional, +20. D COMPRIMENTO DE ONDA (mm) Lentes do cristalino de um humano de 25 anos Lentes do cristalino de um humano de 54 anos Fotosensibilidade é um fenômeno natural que dá aos humanos seu comportamento diurno, com regulação do relógio biológico interno. As ipRGCs, através do caminho não visual, controlam ciclos circadianos, de sono e humor. A fotofobia desencadeia a proteção da retina contra a energia luminosa e mais particularmente a luz azul, que tem a energia mais alta e é responsável por lesões celulares irreversíveis com apoptose dos fotorreceptores durante mecanismos fotoquímicos que liberam resíduos oxidantes tóxicos. • FIG. 4 DMRI. Mudança no epitélio pigmentar; aparência cicatricial fibroglial. Atrofia de fotorreceptores. Acumulação de lipofusão e produtos de deterioração celular causadas pelos mecanismos oxidantes de fototransdução. Envelhecimento natural das lentes do cristalino; catarata córtico-nuclear. REFERÊNCIAS Transparente ao nascer, as lentes do cristalino são gradualmente carregadas com pigmentos amarelos através do produto da oxidação de triptofano e glicosilação de proteínas; o papel de comprimentos curtos de onda no caso de catarata nuclear: atenuação, seguida pela não percepção de azuis e violetas. Função de proteção da retina? 1. Dillon J, Zheng L, Merriam J, Gaillard E.: Transmission of light to the aging human retina: possible implications for ARMD. Exp Eye Res 2004 Dec; 79(6): 753-9. 2. Glazer-Hockstein C, Dunaief J.: Could blue lightblocking lenses decrease the risk of ARMD. Retina 2006; 26(1): 1-4. 3. Grieve KL, Acuna C, Cudeiro J.: The primate pulvinar nuclei/Vision and action. Trends Neurosci. 2000;23: 35-39. 4. Lane N.: To block or not to block-is blue light the enemy? ESCRS-Eurotimes, July 2007;12: 7. 5. Mainster MA , Turner PL: Blue light : to block or not to block. J Cataract Refract Surg today Europe 1, May 2007;1-5. DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ESSILOR BRASIL Points de Vue - n°68 - Primavera – 2013 6. Maleki N, Beccera L, Upadhyay J, Burstein R, Borsook D.: Direct optic nerve pulvinar connections defined by diffusion MR tractography in humans: imlications for photophobia. Human brain mapping. 2012; 33: 75-88. 7. Munch M., Kobialka S., Steiner R., Oelhafen P., Wirz-Justice A., Cajochen C.: Wavelength-dependent effects of evening light exposure on sleep architecture and sleep EEG power density in men. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol, 2006; 290: 1421-1428. 8. Noseda R, Kainz V, Jakubowski M, Gooley JJ, Saper CB, Digre K, Burstein R.: A neural mechanism for exacerbation of headhache by light. Nat Neurosci, 2010;13: 239-245. cód.: 110007 DMK FIG. 2