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PRODUÇÃO DE PROTEASE UTILIZANDO DIFERENTES MEIOS
ATRAVÉS DE AMOSTRAS DE BACILLUS LICHENIFORMIS
ISOLADAS DO PORTO DA CIDADE DE RECIFE PERNAMBUCO
ISSN: 1984-3151
PROTEASE PRODUCTION USING DIFFERENT MEDIA FROM BACILLUS
LICHENIFORMIS SAMPLES ISOLATED OF PORT OF RECIFE CITYPERNAMBUCO
Vanessa de Assis Melo1; Galba Maria de Campos –Takaki 2; Carlos Alberto Alves da
Silva3
1
Mestranda em Desenvolvimento de Processos Ambientais,
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE.
[email protected].
2
Doutora em Microbiologia. Núcleo de Pesquisas em
Ciências Ambientais e Biotecnologia (NPCIAMB),
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE.
[email protected].
3
Doutor em Biotecnologia. Núcleo de Pesquisas em Ciências
Ambientais e Biotecnologia (NPCIAMB), Universidade
Católica de Pernambuco, Recife, PE. [email protected].
Recebido em: 10/03/2015 - Aprovado em: 26/05/2015 - Disponibilizado em: 30/05/2015
RESUMO: A utilização de novas amostras de micro-organismos para produção de enzimas microbianas por
processos fermentativos tem aumentado nas últimas décadas. As proteases são enzimas que apresentam uma
alta especificidade catalítica, pois atuam principalmente na hidrólise de proteínas e de peptídeos. O gênero
Bacillus se destaca por produzir uma grande quantidade de produtos biotecnológicos de alto valor agregado.
Foram realizados ensaios para avaliar o potencial de 3 amostras de B. licheniformis (UCP 1010, 1020 e 1022)
isoladas do Porto da cidade do Recife, Pernambuco, Brasil, através de uma seleção da produção de protease em
o
meio sólido utilizando diferentes temperaturas (28, 37, 45 e 50 C). Após a seleção da amostra com maior potencial
de produção de protease, foram realizados ensaios de produção da enzima através de fermentação submersa
o
utilizando 3 diferentes meios, 150 rpm, 37 C, durante 72 h. Os resultados revelaram que a amostra UCP 1020
o
obteve o maior halo característico de produção enzimática (3,5 cm) na temperatura de 37 C, durante 96 h. A
produção através da fermentação submersa revelou que o meio denominado de 3 apresentou a maior atividade
-1
enzimática obtida (30,45 U L ).
PALAVRAS-CHAVE: Bacillus, enzimas microbianas, seleção condições.
ABSTRACT: The use of new samples of microorganisms for the production of microbial enzymes by fermentation
processes has increased in recent decades. Proteases are enzymes which exhibit a high catalytic specificity
because they act primarily on the hydrolysis of proteins and peptids. The genus Bacillus stands for producing a lot
of biotechnological products with high added value. Assays were performed to evaluate the potential of 3 samples
of B. licheniformis (UCP 1009, 1020 and 1022) isolated from the Port of Recife, Pernambuco, Brazil, through a
protease production of selection on solid medium using different temperatures (28 37, 45 and 50 °C). After the
selection of the sample with higher protease production potential, production of the enzyme assays were performed
by submerged fermentation using 3 different medium. The performace assays in 150 rpm, 37 ° C, 72 h. The results
revealed that the CPU 1020 sample had the highest enzyme production characteristic halo (3.5 cm) at 37°C
e-xacta, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 57-65. (2015). Editora UNIBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/
/exacta/
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temperature for 96 h. The production by submerged fermentation revealed that the medium called presented an
-1
enzymatic activity of 30.45 U L .
KEYWORDS: Bacillus, microbial enzymes, condition selection
2011), sendo produzidas principalmente por diversos
1 INTRODUÇÃO
gêneros
Os processos biotecnológicos nas últimas décadas
têm
conquistado
um
lugar
de
destaque
no
desenvolvimento tecnológico mundial, exibindo assim
diversas características econômicas e operacionais
de
micro-organismos
(GUPTA,
BEG,
LORENZ, 2002; SANDHYA, et al., 2005; RADHA, et
al., 2011; RODARTE, et al., 2011; ZAFERANLOO, et
al., 2014; LILAO; MATEO; MAICAS, 2014; RAVI, et
al., 2015).
que conferem vantagens em relação aos processos
químicos
convencionais
(KIRK;
BORCHERT;
FUGLSANG, 2002; SAUER, et al., 2008; GORDEEVA;
IVASHKIN; GORDEEV, 2012; ERICKSON, et al.,
2012; AZMI, et al., 2015).
A atual demanda mundial do mercado enzimático
gerou um interesse em proteases microbianas devido
ao seu rápido crescimento, a eficiência de custos,
facilidade com que eles podem ser geneticamente
A utilização desses processos tem possibilitado a
modificados, e de suas aplicações em diferentes
produção de um grande número de metabólitos de
atividades industriais: processamento de alimentos e
interesse
processos
bebidas, formulação de detergentes e produção de
fermentativos, principalmente as enzimas microbianas
medicamentos (RAO, et al., 1998; MAURER, 2004;
(PAREKH; VINCI; STROBEL, 2000; HOONDAL, et al.,
SUMANTHA;
2002; HASAN; SHAH; HAMEED, 2006; ADRIO;
SABOTIČ; KOS, 2012; NIYONZIMA; MORE, 2015).
industrial
através
de
LARROCHE;
PANDEY,
2006;
DEMAIN, 2014; GOPINATH, et al., 2015).
As enzimas microbianas têm sido utilizadas em
O gênero Bacillus tem sido descrito na literatura como
diversos processos industriais, podendo atuar em
um excelente produtor de bioprodutos de origem
inúmeras reações descritas no International Union
microbiana, principalmente através de processos
Handbook of Enzyme Nomenclature. Estimam-se que
fermentativos (SCHALLMEY; SINGH; WARD, 2004;
80% das enzimas sejam produzidas através de
VAN DIJL; HECKER, 2013; LOISEAU, et al., 2015).
processos fermentativos e muitas destas adicionadas
em detergentes ou utilizadas no processamento de
Este trabalho teve como objetivos a seleção de
amido
(SOETAERT;
amostras de Bacillus licheniformis com potencial de
VANDAMME, 2006; HASAN; SHAH; HAMEED, 2009;
produção de protease em meio sólido e a seleção de
TYO; KOCHARIN; NIELSEN, 2010; ADRIO; DEMAIN,
meios
2014).
fermentação submersa.
e
de
produtos
lácteos
As proteases (E.C.3.4) constituem o maior grupo de
enzimas utilizadas industrialmente no mundo todo,
movimentando a economia deste setor ativamente,
de
produção
de
protease
através
de
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 MICRO-ORGANISMOS
apresentam uma alta especificidade catalítica, pois
atuam principalmente na hidrólise de proteínas e de
aminoácidos (HADDAR et al., 2010; PILLAI et al.,
e-xacta, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 57-65. (2015). Editora UNIBH.
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Foram utilizadas 3 amostras do gênero Bacillus
licheniformis (UCP 1010, 1020, 1022), isoladas do
61
59
-1
porto da cidade de Recife, Pernambuco. As amostras
Foram testados os meios: meio 1 (g L ): óleo de soja
estão
da
0,001 L, peptona 10 g e extrato de levedura 5 g, água
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
destilada 1 L; meio 2 (g L ): Peptona 0,1; KCl 0,03;
localizado no Núcleo de Pesquisas em Ciências
K2HPO4 0,09; MgSO4 0,05; CaCl2 0,03; ZnO 0,025;
Ambientais e Biotecnologia (NPCIAMB). Para a
FeCl3.6H2O 0,027; MnCl2.4H2O 0,001; CuCl2.2H2O
manutenção das culturas, foi utilizado o meio Ágar
0,0085; CoCl2.6H2O 0,024; NiCl3.6H2O 0,025; H3BO3
catalogadas
no
Banco
de
Culturas
-1
-1
-1
Nutriente (AN) g L : Extrato de carne (5,0), Peptona
0,003; meio 3 (g L ): Extrato de Carne 5 g; Peptona
(10,0), NaCl (5,0), Agar (20,0), pH 7,0.
15 g; NaCl 5 g; K2HPO4 5 g; CaCl2 0,2 g.
A produção de protease foi avaliada durante 72 h, 150
o
2.2 SELEÇÃO
DE AMOSTRAS PRODUTORAS DE
rpm, a 37 C. Todos os experimentos foram realizados
em triplicata.
PROTEASE EM MEIO SÓLIDO
Foram utilizadas amostras de Bacillus licheniformis
previamente descritas em diferentes temperaturas de
o
crescimento (28, 37, 45 e 50 C) e em diferentes
valores de pH (5, 6, 7, 8, 9, 10) para a obtenção das
melhores amostras produtoras de protease em meio
sólido,
através
da
metodologia
de
Hankin
e
2.4 DETERMINAÇÃO DO CRESCIMENTO CELULAR
O crescimento celular foi determinado, através da
coleta de amostras a cada 4 horas durante 72 h,
utilizando-se um espectrofotômetro Hitachi modelo
UVmini-1240 (Kyoto, Japão) a um comprimento de
onda de 600 nm..
Anagnostakis (1979), utilizando o meio Ágar Nutriente
contendo 10% de gelatina.
2.5 DETERMINAÇÃO DO PH
Após a distribuição do meio nas placas, foi feito um
O pH das amostras coletadas foi determinado através
furo de 0,8 cm para obtenção dos poços nos centros
de potenciometria.
das placas, onde foram inoculadas suspensões
bacterianas de 10
6
-1
UFC mL . As placas foram
2.5 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE PROTEOLÍCA
colocadas em estufas com diferentes temperaturas
A atividade enzimática foi determinada através da
durante 72 h.
metodologia descrita por Leighton et al., (1973).
A formação de halo transparente indicando a
Para detecção da protease foi preparada uma reação
degradação da gelatina ao redor da colônia, evidência
contendo 250 μL da solução azocaseina e 150 μL da
a presença da protease.
amostra coletada no processo de produção em
diferentes intervalos de tempo.
2.3 SELEÇÃO
DOS MEIOS DE PRODUÇÃO DE
PROTEASE EM MEIO SÓLIDO
Após o processo de seleção das amostras produtoras
As amostras coletadas foram centrifugadas para
separação da massa celular e obtenção de um líquido
metabólito isento de células.
da protease em meio sólido, foram realizados ensaios
A temperatura foi mantida em 40 ºC em banho-maria
de produção da enzima através de fermentação
por 10 minutos. A reação foi interrompida pela adição
submersa.
de 500 μL de ácido tricloroacético. Em seguida, todas
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as amostras foram centrifugadas durante 10 minutos a
Em seguida, foi preparada uma curva de calibração
8.000 rpm, 40 ºC.
para determinação das proteínas totais das amostras
Após o término da centrifugação, foram adicionados
500 μL de uma solução de NaOH (1:1). A presença
das enzimas proteolíticas foi observada através de
leitura em espectrofotômetro automático modelo a um
coletadas no período da fermentação. Após a
centrifugação das amostras, foram lidas a um
comprimento de onda de 595 nm.
3.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO
comprimento de 440 nm.
3.1 SELEÇÃO
Uma unidade de atividade proteásica foi definida como
a quantidade de enzima que produz uma diferença de
DAS AMOSTRAS PRODUTORAS DE
PROTEASE EM MEIO SÓLIDO
0,01 na absorbância entre o branco e a amostra, por
Os ensaios realizados com as amostras UCP 1009,
minuto, nas condições do ensaio.
1020 e 1022 em diferentes valores de temperatura e
A atividade enzimática da protease foi calculada
pH estão descritos na TAB. 1. Os halos obtidos foram
através da Eq. 1 (LEIGHTON et al., 1973):
medidos em centímetros.
-1
AE (U L ) = ABS am · Vam · fd
Verifica-se que não houve nenhuma formação de halo
(1)
característico da protease testada nas temperaturas
t
de 45 e 50
o
C em todas as amostras utilizadas,
-1
AE = atividade proteásica (U L ); ABS am =
confirmando os dados descritos na literatura.
absorbância da amostra; Vam = volume da amostra
(mL); fd = Fator de diluição; t = o tempo de reação em
minutos.
2.6 DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS
As
proteínas
metodologia
totais
de
foram
descrita
determinadas
por
Bradford
Tabela 1
Ensaio de detecção da protease em meio sólido
utilizando diferentes amostras de Bacillus licheniformis
em diferentes valores de temperatura.
AMOSTRAS
(1976),
UCP 1009
Este método é baseado na interação entre o corante
BG-250 e macromoléculas de proteínas que contém
de
cadeias
laterais
básicas
24h
48h
72h
96h
28°C
-
-
2,5
3,0
37°C
-
1,5
2,5
3,0
45°C
50°C
-
-
-
-
28°C
-
-
1,5
2,0
37°C
1,5
2,0
3,3
3,5
45°C
50°C
-
-
-
-
28°C
-
-
-
-
37°C
-
1,5
2,5
3,0
45°C
50°C
-
-
-
-
pela
utilizando solução de albumina bovina.
aminoácidos
Temperatura (oC)
UCP 1020
ou
aromáticas. No pH de reação, a interação entre a
proteína de alto peso molecular e o corante BG-250
UCP 1022
provoca o deslocamento do equilíbrio do corante para
a forma aniônica, que absorve fortemente em 595 nm.
Para a preparação do reagente, foram dissolvidos
A melhor produção da enzima ocorreu na temperatura
100 mg de Coomassie Brilliant Blue G-250 em 50mL
de 37
de etanol 95 % e, em seguida, adicionou-se 100 mL
apresentaram a formação de halos característicos da
de ácido fosfórico 85 %. A solução foi completada
enzima após 48 h de ensaio, porém os melhores
para 1 L com água destilada.
resultados foram obtidos com a amostra UCP 1020
e-xacta, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 57-65. (2015). Editora UNIBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/
o
C, onde as amostras UCP 1009 e 1022
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que apresentou uma atividade crescente da atividade
Nascimento, Martins (2006) relataram que micro-
proteolítica em meio sólido, apresentando com 96 h a
organismos do gênero Bacillus, produzem maior
formação de um halo de 3,5 cm.
quantidade
de
enzimas
microbianas,
como
as
proteases, principalmente ao final da fase exponencial
Riffel et al., (2003) descreveram que a atividade
de crescimento. Chauhan e Gupta (2004) também
proteolítica
ser
obtiveram maior produção de protease na fase
confirmada através de ensaios em meios sólidos,
estacionária de crescimento do micro-organismo
onde a formação do halo característico indica a
quando trabalharam com Bacillus sp. RGR-14.
dos
micro-organismos
pode
produção da enzima estudada, e quanto maior o
tamanho
do
halo
formado,
possivelmente
será
Ladeira et al., (2010) descreveram que ocorre o
crescimento Bacillus sp. logo após a sua inoculação,
proporcional a atividade enzimática estudada.
porém a secreção da enzima, só acontece após 6h
Soares et al., (2001) relataram um estudo da produção
crescimento microbiano. Subsequentemente, a fase
de protease em diferentes temperaturas, e verificaram
exponencial de crescimento foi visível durante as
que os maiores níveis de enzima foram encontrados
primeiras 15 h do processo fermentativo.
o
o
numa faixa de temperatura entre 37 C e 40 C.
o
Quando a temperatura foi aumentada para 45 C, uma
considerável redução na produção de enzima foi
observada, possivelmente devido à desnaturação da
protease pela temperatura.
3.1 AVALIAÇÃO
DO CRESCIMENTO MICROBIANO
EM DIFERENTES MEIOS DE PRODUÇÃO
Figura 1 – Crescimento microbiano nos 3 diferentes
meios de produção durante 72 horas, 150 rpm, 37 ºC.
Após o processo de seleção da melhor amostra
produtora de protease em meio sólido, onde a amostra
3.2 PRODUÇÃO DE PROTEASE
UCP 1020 foi selecionada, foram realizados ensaios
para a produção de protease através de fermentação
A atividade da protease foi avaliada em todas as
submersa utilizando 3 diferentes meios. A FIG. 1
amostras coletadas durante o processo fermentativo.
descreve o crescimento microbiano do
A FIG. 2 mostra o comportamento da produção da
Bacillus
licheniformis UCP 1020.
enzima nos 3 diferentes meios testados.
Verifica-se que houve crescimento celular nos 3 meios
testados durante as 72 h de ensaio de produção,
Verifica-se que houve produção de protease nos 3
porém o meio 3 apresentou um crescimento mais
meios
uniforme que os outros 2 meios de produção testados.
Destacando-se o meio denominado de 3, no qual se
Observa-se
verifica uma maior produção de protease em 32 h,
que
a
fase
estacionária
foi
acentuada no meio 3, e muito curta no meio 1.
mais
testados
durante
o
período
de
72
h.
-1
apresentando um valor de 30,45 U L .
e-xacta, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 57-65. (2015). Editora UNIBH.
Disponível em: www.unibh.br/revistas/exacta/
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62
-1
A atividade máxima da enzima (30,45 U L ) foi obtida
3.3 DETERMINAÇÃO DO PH
após 32 h de fermentação, onde se observa que o
crescimento do micro-organismo já havia cessado, e a
Nos ensaios realizados observa-se que houve um
cultura se encontrava na fase estacionária de
comportamento uniforme na variação do pH nos 3
crescimento.
diferentes meios testados. Na FIG. 3 encontram-se
A
atividade
obtida
da
protease
nos
ensaios
representados os valores de pH.
reailizados, foi considerada superior à obtida por
Soares et al., (2001) que trabalharam com a cultura de
Bacillus subtilis no mesmo meio testado, produzindo
uma atividade máxima em fermentação submersa de
-1
12 U mL , e próximo aos valores obtidos por Alves
-1
(2012) que alcançou uma atividade de 41 U mL
trabalhando com culturas de Bacillus licheniformis.
O comportamento do pH de ambos os meios testados
oscilou
de
forma
gradativa,
permanecendo
as
primeiras 8 h de processo fermentativo na faixa
neutra. Observa-se que o meio 2 apresentou o maior
valor de pH final obtido, que foi de 9,5, enquanto que
os meios 1 e 3, apresentaram valores de 8,65 e 8,72,
respectivamente.
Figura 2 – Produção de protease pela amostra de
Bacillus licheniformis UCP 1020 através de
fermentação submersa em 3 diferentes meios
testados, durante 72 h, 150 rpm.
Figura 3 – Variação de pH na produção de protease
através da amostra de Bacillus licheniformis UCP
1020 através de fermentação submersa utilizando
diferentes meios.
Sookkheo, et al., (2000) obtiveram valores de pH
produção
ótimos na faixa de 7,0 - 8,5. Kim, et al., (2002)
enzimático ocorreu na metade da fase exponencial,
obtiveram para protease produzida por Bacillus
observando-se
stearothermophilus, valor de pH ótimo igual a 7,5.
Verifica-se
também
que
o
pico
subsequentemente,
de
um
rápido
processo de desativação, devido provavelmente ao
aparecimento de alguma outra protease produzida no
Lima (2009) e Ferro (2002) descreveram que o efeito
meio e/ou à alcalinização do meio de cultivo, conforme
do pH na velocidade das reações enzimáticas pode
relatado por Chu et al., (1992).
ser devido às constantes alterações de estabilidade da
enzima, da afinidade da enzima pelo substrato e da
Sankaralingam et al., (2001) produziram protease por
transformação catalítica existente. Esses três fatores
Shigella sp. em meio basal e obtiveram uma atividade
podem atuar de maneira isolada ou combinada,
-1
enzimática de 18,8 U mL .
e-xacta, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 57-65. (2015). Editora UNIBH.
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dependendo da situação em estudo. Entretanto, deve-
65
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se levar em consideração que pH muito elevado pode
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
diminuir a estabilidade da enzima produzida.
A utilização de novas amostras de micro-organismos
para
3.4 DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS TOTAIS
produção
de
enzimas
microbianas
tem
aumentado muito nas últimas décadas, pois a
Os valores obtidos na determinação das proteínas
biodiversidade microbiana tem sido muito estudada,
totais estão descritos na FIG. 4.
pois são inúmeros os micro-organismos isolados de
Verifica-se que nas amostras coletadas no meio 3, foi
observada uma maior concentração de proteínas
totais existentes, apresentando um valor de 1,107 mg
-1
mL , no período de 32 horas de fermentação.
ambientes
diversos
proteases produzidas por Bacillus sp após 12 horas de
possuem
habilidades
biotecnológicas muitas vezes desconhecidas.
As proteases são enzimas que apresentam muitas
aplicações
Gupta et al. (2002) descrevem que a atividade das
que
nas
diferentes
áreas
industriais
e
ambientais existentes, sendo uma das enzimas
microbianas mais produzidas nas últimas décadas.
fermentação, obtiveram uma atividade de 42 U mg
-1
A habilidade da amostra Bacillus licheniformis UCP
de proteína, porém o seu pico máximo foi atingido
1020 isolada do Porto da cidade do Recife, revela o
-1
após 18 horas (47 U mg
proteína) e, a partir daí,
começou o processo de redução
da atividade
potencial
biotecnológico
existente
em
micro-
organismos que habitam ambientes pouco estudados.
proteolítica. Verifica-se que a produção de enzimas
proteolíticas está ligada diretamente a uma cultura
metabolicamente ativa.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Núcleo de Pesquisas em
Ciências Ambientais e Biotecnologia (NPCIAMB) da
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) pela
infraestrutura
para
execução
de
toda
parte
experimental.
Figura 4 – Determinação das proteínas totais em
diferentes meios de produção de protease por Bacillus
licheniformes, durante 72 horas, 150 rpm, 37 ºC.
____________________________________________________________________________
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