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revista dos Transportes Públicos ano 37, 3º quadrimestre 2014 AN P Ç ÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS 00 138 00 Capas (pag a pag).indd 1 08/12/2014 16:12:31 Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP A ANTP, fundada em 1977, é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, voltada ao setor de transporte público e do trânsito urbano do Brasil e que tem por objetivo desenvolver e difundir conhecimentos visando seu contínuo aprimoramento. Com sede na cidade de São Paulo, possui um escritório em Brasília e seis coordenações regionais - Espírito Santo, Minas Gerais, Norte, Nordeste, Paraná e Rio de Janeiro. Conta com associados de todos os segmentos – do setor público, da indústria, do setor privado, de operação de trans porte, das consultorias, dos sindicatos patronais e de trabalhadores, das universidades e de ONGs. A organização mantém em funcionamento 12 comissões técnicas e diversos grupos de trabalho que reúnem cerca de 300 técnicos que trabalham de forma voluntária sobre questões específicas produzindo, sistematicamente, projetos de grande significado para a mobilidade urbana. A ANTP promove, bienalmente, o Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito e, periodicamen te, seminários, cursos e outros eventos destinados ao debate e busca de soluções para os pro blemas de mobilidade nas cidades brasileiras. A ANTP edita a Revista dos Transportes Públicos, já no seu número 138, o Informativo Eletrônico da ANTP, assim como os Manuais Técnicos e os Cadernos Técnicos, sempre com a mesma finalidade de difundir estudos e experiências mais importantes realizadas no transporte urbano no Brasil e na América Latina. A ANTP publicou três livros de referência para o setor – o primei ro em 1997, o segundo em 2003 e o terceiro em 2007, reunindo as melhores experiências de transporte e trânsito no país. A ANTP secretaria as atividades do Fórum Nacional de Secretários e Autoridades de Transporte Urbano e Trânsito e dos Fóruns Regionais: Mineiro, Paulista e Paranaense. A ANTP promove, desde junho de 1995, o Prêmio ANTP de Qualidade, destinado a estimular a adoção de programas de gestão da qualidade nas operadoras metro-ferroviárias, operadoras rodo viárias urbanas, metropolitanas e de longa distância e órgãos gestores de transporte e trânsito. Além das atividades permanentes, a Associação conta com uma série de projetos em parceria com outras organizações. Com o apoio do BNDES e do Ministério das Cidades implantou o Sistema de Informações sobre Transporte e Trânsito – SITT que apresenta indicadores temáticos – economia, mobilidade, custos para os usuários, uso de recursos humanos, usos de energia e emissão de poluentes – que permitem apoiar as decisões das políticas voltadas à mobilidade. Desde 1997 a Associação mantém convênio com o Ipea para desenvolvimento de projetos. Naquele ano, foi realizado o estudo sobre os custos dos congestionamentos nas maiores cida des brasileiras, em 2002/2003, foi realizado o estudo sobre os custos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas cidades brasileiras e, em 2006, o estudo sobre os custos sociais e econômicos dos acidentes nas rodovias brasileiras. A ANTP secretaria o Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte – MDT, que reúne cerca de 350 entidades e instituições que vêm resistindo à política de sucateamento e de desprestígio do transporte público, e lutando pela criação de recursos permanentes para o setor e pelo baratea mento da tarifa. No plano internacional, a ANTP atua como representante da União Internacional dos Transportes Públicos - UITP na América Latina, responsabilizando-se pela secretaria executiva de sua Divisão América Latina, e é signatária da Rede Mundial de Transporte Sustentável, coordenada pela UITP. Mantém intercâmbios com associações de transporte público – Associação Norte-Americana de Transportes Públicos – APTA (USA), Associação Canadense de Transporte Públicos – Cuta (Canadá) e Associação Latino-Americana de Metrôs e Subterrâneos – Alamys. ANTP Rua Marconi, 34, 2º andar, conjs. 21 e 22, República, CEP 01047-000, São Paulo, SP, Brasil Tel.: (11) 3371-2299, fax: (11) 3253-8095 Email: [email protected], home page: www.antp.org.br 00 138 00 Capas (pag a pag).indd 2 08/12/2014 16:12:31 AN P Editorial Transporte público de qualidade para todos, quanto custa? Tecnologia de Transporte e Trânsito Tecnologia embarcada em sistemas de transporte por ônibus - Introdução e contexto TECNOLOGIA DE TRANSPORTE E TRÂNSITO Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana TECNOLOGIA DE TRANSPORTE E TRÂNSITO Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de um novo modo de transportes para São Paulo PLANEJAMENTO E TRANSPORTE A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes PLANEJAMENTO E TRANSPORTE Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação de trem Santo Amaro PLANEJAMENTO E TRANSPORTE Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de vista da mobilidade planejamento e transporte Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região Metropolitana de Belém institucional SPUrbanuss, uma nova mentalidade Ano 37 • 3º quadrimestre 2014 • nº 138 00 138 00 Iniciais.indd 1 03/12/2014 15:18:47 Revista dos Transportes Públicos - ANTP Publicação da Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP Destinada a difundir informações e estudos sobre transporte público de passageiros, trânsito e mobilidade urbana ISSN 0102 - 7212 Conselho editorialAna Odila de Paiva Souza Antonio Carlos de Moraes Ayrton Camargo e Silva Carlos Paiva Cardoso César Cavalcanti de Oliveira Cláudio de Senna Frederico Eduardo Alcântara Vasconcellos Eli Bensoussan Canetti Helcio Raymundo João Alberto Manaus Laura Ceneviva Marcos Pimentel Bicalho Peter L. Alouche Regis Rafael Tavares da Silva Renato Nunes Balbim Rogerio Belda Diretor técnicoPeter L. Alouche EditorAlexandre Pelegi Secretária de ediçãoAndréia Lopes Catharina Preparação de textoRegina Maria Nogueira Produção gráficaPW Gráficos e Editores Associados ImpressãoPigma Fast Gráfica e Editora RedaçãoRua Marconi, 34 - 2º andar, conjs. 21 e 22, República 01047-000, São Paulo, SP Tel.: (11) 3371-2299 - Fax: (11) 3253-8095 Assinatura anual: R$ 95,00 (três edições quadrimestrais). Encaminhado um exemplar à Biblioteca Nacional em cumprimento à Lei do Depósito Legal. Decreto Federal 1.825 de 20.12.1907. 00 138 00 Iniciais.indd 2 03/12/2014 15:18:47 Sumário AN P 5 Editorial T ransporte público de qualidade para todos, quanto custa? Alexandre Pelegi 7Tecnologia de Transporte e Trânsito Tecnologia embarcada em sistemas de transporte por ônibus - Introdução e contexto Stenio Franco e Claudio de Senna Frederico 11TECNOLOGIA DE TRANSPORTE E TRÂNSITO Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana Lucas Devides Moreno, Bruno Borges Mamede e Armando Carlos de Pina Filho 27TECNOLOGIA DE TRANSPORTE E TRÂNSITO Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de um novo modo de transportes para São Paulo Moreno Zaidan Garcia 53 PLANEJAMENTO E TRANSPORTE 69 PLANEJAMENTO E TRANSPORTE A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes Eduardo Facchini, Cassiano Ricardo Martines Bovo e Antonio Carlos de Moraes Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação de trem Santo Amaro Yara C. L. Baiardi 3 00 138 00 Iniciais.indd 3 03/12/2014 15:18:47 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre 95 PLANEJAMENTO E TRANSPORTE 111 planejamento e transporte 123 institucional 125 Entidades associadas 128 Calendário de eventos nacionais e internacionais Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de vista da mobilidade Hudson Carrer Pereira, Ivo Claudio de Souza, Pastor Willy Gonzales Taco e Paulo César Marques da Silva Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região Metropolitana de Belém Igor Masami Okano Morotomi e Helena Lúcia Zagury Tourinho SPUrbanuss, uma nova mentalidade 4 00 138 00 Iniciais.indd 4 03/12/2014 15:18:47 Editorial Transporte público de qualidade para todos, quanto custa? AN P Alexandre Pelegi Editor Matéria do Estadão, no dia 1º de julho de 1977, dava a notícia de que, na véspera, havia sido fundada a Associação Nacional de Transportes Públicos, em sessão “presidida pelo secretário-geral do Ministério dos Transportes (...) e com a presença de várias outras autoridades e personalidades (...)”, em especial Plinio Assmman e Rogério Belda, respectivamente o primeiro presidente e o primeiro diretor executivo da associação. Desde então, decorridos 37 anos, muita coisa aconteceu no mundo dos transportes e da mobilidade urbana com a participação ativa e, em muitas vezes, decisiva da ANTP. Dentre vários fatos convém relembrar alguns, dentre os mais importantes: a instituição do Código de Trânsito Brasileiro (que colocou a segurança, a vida humana e os cidadãos como focos centrais da gestão do trânsito); a criação do vale-transporte (Lei nº 7.418, de dezembro de 1985); a aprovação da Lei do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de julho de 2001), da Lei de Acessibilidade (Lei nº 10.098, de dezembro de 2000) e, mais recentemente, da Lei da Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587, de janeiro de 2012). Em todos esses anos, a participação operante da Associação Nacional de Transportes Públicos, além e graças à sua ativa atuação, resultou num repositório de dados que se constitui, sem dúvida, num dos maiores acervos técnicos do segmento da mobilidade. Construído com a participação de mais de um milhar de técnicos e dirigentes de órgãos públicos e privados, organizações não governamentais e universidades, este conhecimento encontra-se disseminado não só em artigos desta Revista, como também fóruns e seminários técnicos, além de 19 congressos nacionais. Inúmeros estudos foram 5 00 138 00 Editorial.indd 5 03/12/2014 15:18:24 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre elaborados e produzidos em parceria com instituições como o Banco Mundial, Pnud, Ipea, BNDES, Geipot, Opas, Fundação Hewllet e os ministérios da Saúde, das Cidades e da Ciência e Tecnologia. Vários produtos daí se originaram, como • o Sistema de Informações da Mobilidade Urbana, criado em 2003; • a Pesquisa de imagem dos transportes públicos na Região Metropolitana de São Paulo, desde 1986; • o documento técnico O transporte clandestino no Brasil, publicado em julho de 2000; • o estudo Redução das deseconomias urbanas com a melhoria do transporte público, em 1998, em parceria com o Ipea, referência na comunidade técnica; • a pesquisa Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas aglomerações urbanas, realizada em parceria com o Ipea, iniciada em 2000, concluída em 2003; • a organização e publicação do livro Transporte humano, cidades com qualidade de vida, com apoio do BNDES em 1997; • apoio e acompanhamento ao projeto de municipalização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para direta alocação no transporte público; • o Programa de Transporte Sustentável e Qualidade do Ar (Sustainable Transport and Air Quality – STAQ), iniciativa do Banco Mundial com recursos do Global Environment Fund – GEF, e outros. Após as manifestações de junho de 2013, quando o debate principal passou a ser como obter e garantir transporte público de qualidade para todos, veio à tona uma polêmica que sempre pairou na história do transporte coletivo urbano: como obter qualidade a um preço acessível? Antes disso, como deve ser calculado o valor da tarifa do transporte público coletivo por ônibus? Em suma, como garantir que a qualidade seja compatível com o preço que a maior parte da população pode pagar? A ANTP, como ao longo de sua história, faz-se presente neste debate de forma propositiva. Em 10 de novembro deste ano, indicada pelo Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Transporte e Trânsito, firmou um acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), com anuência da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), para construir um documento nacional que seja referência para o setor. Esperamos que o produto deste trabalho contribua para mudar a realidade do transporte público coletivo urbano. 6 00 138 00 Editorial.indd 6 03/12/2014 15:18:24 Tecnologia de Transporte e Trânsito Tecnologia embarcada em sistemas de transporte por ônibus - Introdução e contexto AN P Stenio Franco Consultor em transportes e integrante da Comissão Técnica de ITS da ANTP. E-mail: [email protected] Claudio de Senna Frederico Consultor em transportes, membro do Conselho Diretor da ANTP e integrante da Comissão Técnica de Ônibus. E-mail: [email protected] Recentemente, tivemos a oportunidade de conhecer, em uma visita técnica a Lisboa, o Museu de Transporte da Carris, companhia centenária de transporte público. Experiência encantadora, em que bondes de tração animal e mais de duas dezenas de exemplares de ônibus contam grande parte da história do transporte público lisboeta. No Brasil, contamos com alguns museus semelhantes, com nosso destaque pessoal para o Museu da SPTrans, onde veículos que deixaram sua marca na história do transporte público nos levam a uma viagem prazerosa a um passado não tão distante. Olhando essas memórias materiais do transporte, ficamos imaginando como os colegas daquela época reagiriam vendo os novos “materiais rodantes” e toda a tecnologia que hoje levam. A sua conectividade com os CCO (centros de controle operacional), os sistemas de informação ao passageiro, o pagamento com “moeda virtual de plástico”, a interação com os sistemas de tráfego como semáforos, os ônibus conectados a redes de dados em que o passageiro pode “navegar” durante sua viagem e também pode ser avisado de quando está chegando ou quando chegou ao seu destino! Com a mesma rede ele pode se distrair vendo o resumo das notícias do dia ou de sua novela, no sistema de mídia e entretenimento embarcado. Cremos que o encanto, ou surpresa, de nossos antepassados “transportistas“ seria tão intenso quanto o nosso. Tudo isso nos faz pensar: como estes pioneiros conseguiam prover transporte público com qualidade sem estas maravilhas tecnológicas? Naquele tempo era mais simples gerir e operar o transporte público? Além das intensas evoluções tecnológicas no campo veicular, seja na área de materiais, combustíveis, engenharia, ergonomia e design, nos 7 01 138 07 Stenio Franco e Claudio de Senna.indd 7 03/12/2014 15:18:37 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre últimos 20 anos (40 anos, quando olhamos o cenário internacional), um conjunto de equipamentos e recursos tecnológicos passaram a ser utilizados como parte inseparável do veículo e da operação de transporte público por ônibus e se destacam por serem uma parte visível da evolução tecnológica do transporte de passageiros, uma interface constante com o cliente do transporte, ou passageiro. Da mesma maneira, não é mais plausível para os operadores e gestores imaginar o sistema sem, por exemplo, a bilhetagem eletrônica e seus validadores, ou, mais recentemente no Brasil, os sistemas de localização e monitoramento dos veículos (onde está o ônibus?). O advento de novos padrões operacionais e investimentos significativos em infraestrutura voltada para o transporte público urbano por ônibus, como os corredores, faixas exclusivas, BRT (bus rapid transit), BRS (bus rapid service), têm também trazido a debate a necessidade de mais investimento em tecnologia embarcada nos veículos, de forma a trazer mais eficiência, capacidade e melhor custo-benefício à operação como um todo. Operação que se encontra pressionada hoje, na verdade e como sempre, por equilibrar custos e receita ao mesmo tempo em que atenda a um crescente clamor por qualidade e melhor serviço. Estas tecnologias embarcadas e a infraestrutura que as conecta e permite a integração de todos os interesses do transporte público, têm sido agrupadas sob a denominação de ITS (intelligent transportation systems ou sistemas inteligentes de transportes). Apesar de sua amplitude e permanente expansão, podemos categorizá-la em cinco grandes blocos: sistemas de tarifação eletrônica ou bilhetagem eletrônica (SBE), sistemas de informação ao usuário (SIU), sistemas de apoio a operação (SAO) - englobando planejamento, despacho, gestão, controle e fiscalização - e, recentemente, sistemas de comunicação e interatividade (SCI) e sistemas de telemetria. Interagindo com a infraestrutura fixa destes sistemas (redes de comunicação por fibra e móveis, semáforos, radares, coletores de dados, PMV, estações, CCO), grande parte das funcionalidades de ITS são definidas pela tecnologia embarcada que vai hoje no veículo. Considerada fundamental para a operação por alguns gestores, o investimento e manutenção desta tecnologia embarcada é exigida por muitos nos contratos de concessão do transporte público. Para citar um exemplo no Brasil, em Belo Horizonte, itens como validador, computador embarcado, GPS, antenas Wi-Fi e de comunicação de dados, PMV (painéis de mensagens variáveis) embarcados, sensores de telemetria, câmeras, alto-falantes, alarme de pânico, interface com o motorista, sistema de comunicação direcional por voz, barramento de 8 01 138 07 Stenio Franco e Claudio de Senna.indd 8 03/12/2014 15:18:37 Tecnologia embarcada em sistemas de transporte por ônibus - Introdução e contexto dados, tags, displays multimídia e contador de passageiros estão definidos como exigência contratual a serem disponibilizados pelos concessionários, com conectividade a dois centros de controle. A estes adicionamos itens como tacógrafo e dezenas de equipamentos de telemetria, partes hoje incorporadas na arquitetura embarcada do veículo pelos fabricantes. Uma verdadeira “árvore de natal” para alguns, uma sofisticada e vital infraestrutura tecnológica embarcada para outros. A adoção desses equipamentos como requisitos para a operação do transporte público tem sido alvo de debates intensos sobre sua real eficiência, seu custo e sua efetividade para a operação e a qualidade da experiência oferecida ao cliente do transporte público. Do ponto de vista da prática internacional, é ponto pacífico que o investimento e utilização destes mecanismos e tecnologias são considerados tão importantes para o retorno do investimento quanto para o veículo são as suas rodas, levando a declarações como “se não posso gerir, controlar, atuar e fiscalizar, não posso operar”. Em sistemas de transporte de alta complexidade, grande escala e com vários interessados em seus resultados, a gestão dos indicadores sem a tecnologia embarcada e seus sistemas associados perde confiabilidade, eficiência e capacidade de deflagrar decisões e ações. Tudo isto se torna mais importante ainda quando do aumento da indispensável prática de subsídios que precisam ser justificados, controlados e vinculados a resultados demonstráveis. É também fato que os levantamentos internacionais atestam um real ganho de eficiência, redução de custos e geração de receitas acessórias, quando do uso correto de tecnologia embarcada e seus sistemas associados, na disponibilidade, oferta e custos de uma operação de transporte público por ônibus, seja em sistemas de tráfego misto ou em infraestrutura segregada. De acordo com a experiência brasileira, a adoção da bilhetagem eletrônica generalizada, estimada em estar em 100% das cidades brasileiras com mais de 100.000 habitantes, levou a uma redução de fraudes, ganhos com a implantação de novas políticas tarifárias e até a redução do efetivo operacional, com a retirada do segundo agente embarcado (“cobrador”) em cidades como Goiânia, Ribeirão Preto e Campinas. Mas isso não se limita à bilhetagem e há potencial para ganhos significativos também com o uso dos outras blocos do ITS. Ao avaliar o estado atual dos investimentos na tecnologia embarcada das operações de ônibus no Brasil, pudemos extrair algumas conclusões: - há ainda um desconhecimento das funcionalidades disponíveis pela aplicação de tecnologia embarcada na operação de transporte por ônibus; 9 01 138 07 Stenio Franco e Claudio de Senna.indd 9 03/12/2014 15:18:37 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre - os investimentos em tecnologia embarcada ainda acabam tendo que ser encarados como custo por parte dos operadores, uma vez que em geral não são incluídos corretamente no modelo de custos da concessão ou permissão; - seus benefícios e ganhos financeiros, econômicos e operacionais não estão corretamente avaliados ou não são objetivamente conhecidos ou mensurados; - a falta de padronização e de uma arquitetura de referência torna custoso e arriscado o investimento e a sua manutenção; - as informações que podem ser extraídas da massa de dados gerada por estas tecnologias são mal exploradas por falta de conhecimento ou capacitação dos envolvidos. Finalmente, o fato de que o investimento em tecnologia embarcada pode representar um adicional de 10-15% no custo do veículo, torna obrigatória uma abordagem baseada em métricas e parâmetros objetivos para suporte da decisão de investir. Realidades e mesmo necessidades de São Paulo, onde o usuário deseja conectividade a bordo para sua jornada média de mais de uma hora, são muito distintas das de uma cidade como Búzios, onde o turista quer apenas saber onde é a próxima parada na praia de sua escolha sem ter de perguntar ao motorista. A ANTP tem colaborado com iniciativas como os Cadernos Técnicos e a Comissão Especial de ITS da ABNT para identificar e fomentar a discussão dos requisitos funcionais e padrões desejáveis destas tecnologias, com foco em interoperabilidade, aderência funcional e valor gerado para os interesses do transporte público. É um trabalho contínuo, por natureza, para que as decisões de investimento e utilização de tecnologia embarcada sejam baseadas num mínimo denominador comum de necessidades funcionais, demanda de serviços de todos os interessados e retorno efetivo, seja financeiro ou em qualidade operacional e experiência do usuário. Não é uma equação simples, mas sabe-se que os resultados são positivos. Contamos com a aprovação dos antepassados, pois chegamos aqui também em função da inovação e pioneirismo deles. Agora é nossa vez de inovar e evoluir, mesmo que um bit e byte de cada vez. Gerir e operar o transporte continuam tão complexos como antes, só que temos mais ferramentas e tecnologia para nos auxiliar. Mas tão ou mais importante que tê-las é saber usá-las na entrega de uma melhor experiência de transporte público, já que elas já são parte de nossa realidade. Como foi com o computador ou o telefone celular, em que cada um busca o melhor modelo para atender sua necessidade, descobriremos que não podemos viver sem a tecnologia embarcada depois de vivenciá-la e assimilá-la à nossa realidade quotidiana, como algo que a torna melhor e mais eficiente e, porque não, mais humana. 10 01 138 07 Stenio Franco e Claudio de Senna.indd 10 03/12/2014 15:18:37 TECNOLOGIA DE TRANSPORTE E TRÂNSITO Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana AN P Lucas Devides Moreno Engenheiro civil e mestrando em Engenharia Urbana na Escola Politécnica da UFRJ. E-mail: [email protected] Bruno Borges Mamede Geógrafo e mestrando em Engenharia Urbana na Escola Politécnica da UFRJ. E-mail: [email protected] Armando Carlos de Pina Filho D.Sc. em Engenharia Mecânica (Coppe/UFRJ) e professor do Programa de Engenharia Urbana da Escola Politécnica da UFRJ. E-mail: [email protected] Boa parte do tempo em que os veículos ficam parados no trânsito devese a semáforos mal regulados, uma vez que a dinâmica das cidades está em modificação e isto obriga o motorista a aguardar a abertura do sinal enquanto a via transversal apresenta pouco ou nenhum fluxo de veículos. Hoje, no Brasil, a operação de semáforos em tempos fixos é predominante. Planos específicos são pré-calculados para as várias situações do dia e em seguida são implementados automaticamente, obedecendo a uma tabela horária. Para que este modelo tenha resultados satisfatórios, esta operação semafórica depende de uma grande quantidade de dados de demanda (fluxo - F) e oferta (fluxo de saturação - FS). Em meio a uma dinâmica urbana caótica, fica muito difícil embutir, em uma programação através de uma tabela horária com valores médios de fluxo em uma via, tempos de folgas para compensar aleatoriedades, causadas pelas constantes alterações urbanas ao longo dos dias. Tendo em vista que esta aleatoriedade não é constante e os tempos de folgas na programação semafórica o são, há uma perda significativa do tempo semafórico, ocasionando congestionamentos e, consequentemente, maior emissão de poluentes, maior risco de assaltos, perda na qualidade de vida da população etc. A solução proposta, para melhorar este cenário urbano está em disseminar a implantação de semáforos automatizados ou semáforos inteligentes. Segundo Pereira e Ribeiro (2007), esses tipos de semáforos objetivam: - gerenciamento de tráfego mais eficiente; - melhoria das condições de segurança; 11 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 11 03/12/2014 17:11:47 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre - otimização da manutenção dos semáforos; - melhoria das condições ambientais; - redução do consumo de energia. Para a concretização de semáforos inteligentes, foi estudada a implantação de semáforos operados em tempo real através de um sistema chamado scoot. Segundo Ming (1997), sua sigla significa split cycle offset optimization technique, onde split significa porcentagem ou fração de verde (note que não é a duração de tempo de verde em segundos), cycle é o tempo do ciclo semafórico, e offset significa defasagem. Assim, uma tradução literal seria técnica de otimização da porcentagem de verde, ciclo e defasagem. Qualquer medida a ser implantada deve se preocupar não somente com o problema específico. Logo, o presente trabalho tem abordagem sistêmica, pois quando se pensa em uma cidade há diversos agentes envolvidos. Segundo Loureiro et al. (2005), os sistemas mais antigos, classificados em tempo fixo, necessitam de planos pré-programados com base em dados históricos médios para determinados períodos do dia e dias da semana. Já os sistemas adaptativos, denominados também de controle em tempo real, ajustam os parâmetros da programação semafórica em função de dados de volume ou ocupação nas aproximações dos cruzamentos que compõem a subárea, coletados continuamente por detectores veiculares. Entre estes dois tipos de controle semafórico centralizado, situam-se os sistemas classificados como de seleção dinâmica, que selecionam, dentre um conjunto de planos pré-definidos, aquele que melhor se ajusta às condições detectadas em períodos de observação de 15 ou 20 minutos, anteriores ao acionamento escolhido. A metodologia utilizada neste artigo baseia-se numa revisão bibliográfica, a fim de mostrar a contribuição que os semáforos operados em tempo real apresentam na busca de melhores resultados de escoamento do tráfego, em uma cidade onde se acredita que tais sistemas sejam capazes de reduzir atrasos e número de paradas em cruzamentos semaforizados, gerenciando de forma mais otimizada a infraestrutura de malhas viárias urbanas próximas da saturação. Porém, para baixas demandas de tráfego, estudos comprovam que o sistema em tempo fixo reduz atrasos e o número de paradas nos corredores, beneficiando também as vias transversais e justificando a importância da visão sistêmica do problema, a fim de ter uma tratativa mais eficiente da questão aqui estudada. Além das referências citadas ao longo do artigo, recomenda-se também a leitura de interessantes trabalhos sobre o assunto aqui tratado, incluindo: Ming (2001), Vilanova e Neto (2006), Pietrantonio e Bonetti (2007), Yuki (2008) e Ming (2010). 12 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 12 03/12/2014 17:11:47 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA PROGRAMAÇÃO SEMAFÓRICA Toda vez que, num semáforo, ocorre o movimento de perda do direito de passagem para dar a vez a um movimento conflitante, ocorre uma situação transitória: alguns veículos do movimento que se encerra chegam a passar mesmo após fim do seu verde, enquanto os veículos do movimento seguinte ainda demoram alguns segundos para se colocar em marcha. Para entender o funcionamento semafórico, devem-se estudar os seguintes parâmetros: entreverdes, tempo de amarelo (Ta), tempo de vermelho de segurança (Tvs), tempo perdido (Tp), fluxo (F), fluxo de saturação (FS), e taxa de ocupação (Y). Entreverdes (Ta + Tvs = Tp) Tempo de amarelo (Ta) é uma parcela do conjunto semafórico, de valor em segundos e acionado em função da velocidade regulamentada para a via pela sinalização vertical (tabela 1). Tabela 1 Tempo de amarelo (Ta) Velocidade máxima regulamentada (km/h) ≤ 40 50 60 70 80 Tempo de amarelo calculado (s) 2,98 3,48 3,98 4,47 4,97 Tempo de amarelo arredondado (s) 3 4 4 5 5 Tempo de vermelho de segurança (Tvs) é o tempo necessário para o veículo que cruzou a linha de retenção sair da zona de conflito (figura 1), tendo iniciado a travessia do cruzamento no final do amarelo. Figura 1 Representação de um cruzamento com a zona de conflito entre as transversais Fonte: Neto, 2010. 13 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 13 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre O cálculo do tempo de vermelho de segurança é dado, basicamente, em função do comprimento do cruzamento (zona de conflito), do tempo de partida do veículo (estima-se um valor de 1,2 segundo) e da velocidade do veículo. Considerando uma velocidade média de 60 km/h e o comprimento do veiculo de seis metros, tem-se os tempos de vermelho de segurança (tabela 2). Tabela 2 Tempo de vermelho de segurança (Tvs) Largura do cruzamento (zona de conflito) Tempo de vermelho de segurança Calculado (s) Utilizado (s) 10 metros 0 0 30 metros 0,97 1 50 metros 2,17 3 A somatória destes dois elementos (tempo de amarelo + tempo de vermelho de segurança) é igual ao tempo perdido (Tp) de um semáforo, que deverá ser considerado no ato da programação semafórica. Porém, o mesmo não contribui para o escoamento de veículos. Neste tempo não é recomendada passagem de veículos por ambos os lados do cruzamento, pois quanto maior for o tempo perdido, menor é a eficiência do conjunto semafórico. Fluxo (F), fluxo de saturação (FS) e taxa de ocupação (Y) Fluxo (F) é uma parcela de veículos que deseja passar em uma determinada via. Fluxo de saturação (FS) é o máximo fluxo que um grupo semafórico pode apresentar. Ou seja, é a grandeza que representa a máxima capacidade da via em escoar o fluxo de veículos que deseja passar (está diretamente relacionada à velocidade regulamentada pela via, larguras das faixas e número de faixas). Uma seção de via de aproximação semafórica tem entre suas características: o fluxo (F) que deseja passar (demanda) e o máximo fluxo que pode passar, representado pelo fluxo de saturação (FS) (oferta). Isto é, o fluxo que deseja passar em uma via é uma parcela do fluxo de saturação. A essa parcela dá-se o nome de taxa de ocupação (Y): Y = F / FS (1) 14 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 14 03/12/2014 17:11:48 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana Comportamento dos veículos em um semáforo Na figura 2, observa-se uma situação ideal de funcionamento de um semáforo, em que não há perda de tempo na saída e nenhum veículo passa no amarelo. O verde é integralmente usado, sem perda nenhuma por reação do motorista, aceleração do veículo etc. Figura 2 Representação do funcionamento de um semáforo em situação ideal Fonte: Neto, 2010. Porém esta situação não se verifica na prática, o que pode ser visto na figura 3, que apresenta um diagrama de operação real em regime não saturado. Figura 3 Representação do funcionamento de um semáforo em situação real Fonte: Neto, 2010. Na figura 3 há uma perda de tempo no início do verde e aproveitamento do amarelo. Após um período de saída, no fluxo de saturação, há uma queda no fluxo. Tempo de ciclo Uma vez entendido o conceito do tempo perdido (Tp), Vilanova (2005) apresenta uma exemplificação numérica, para demonstrar o raciocínio que fundamenta o cálculo do tempo de ciclo. A figura 4 demonstra o caso de um conjunto semafórico de apenas dois movimentos críticos. Em seguida, são observados os dados correspondentes. 15 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 15 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Figura 4 Representação de um esquema de cruzamento por duas vias A e B Fonte: Vilanova, 2005. Dados dos fluxos: Fa = 2.500 veículos/h Fb = 1.050 veículos/h Dados dos fluxos de saturação: FSa = 5.000 veículos/h FSb = 3.500 veículos/h Dados do tempo perdido: Tp = 8 segundos Tomando por base o intervalo de uma hora, neste tempo, existem 2.500 veículos do mesmo movimento A que querem passar pelo semáforo. Como este movimento tem fluxo de saturação de 5.000 veículos, basta que seu verde fique aceso durante 50% do tempo de uma hora, ou seja, 1.800 segundos, para que todos os veículos possam ser atendidos. Percebe-se então que o tempo de verde de A não pode ser menor do que a relação (Fa / FSa) x 1 hora, o que também pode ser escrito como Ya x 1 hora. Analogamente, pode-se dizer que ao movimento B precisa ser reservado um pedaço da hora igual a Yb x 1 hora, que corresponde a 1.050/3.500, ou seja, 30% da hora considerada, ou 1.080 segundos. Existe também outra parcela que precisa ser atendida. A cada ciclo existe um período, denominado tempo perdido (Tp), em que o aproveitamento, para efeito de escoamento de veículos, é nulo. Assim, hipoteticamente, a cada ciclo é necessário pagar um tributo de valor fixo. Quanto menor for o tempo de ciclo, mais vezes ele ocorrerá durante o intervalo-base da hora considerada e, consequentemente, mais vezes o pagamento deste tributo será necessário. Pode-se cal16 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 16 03/12/2014 17:11:48 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana cular o tempo que não é aproveitado durante a hora-referência através do produto do número de ciclos que existem na hora pelo tempo perdido despendido a cada ciclo (1 hora/Tciclo) x Tp. Então, a situação limite de um tempo de ciclo é a soma das três parcelas exatamente iguais à hora inteira. Nota-se que a parcela reservada para o escoamento dos veículos é fixa e depende apenas das características do local (fluxo e fluxo de saturação). Independente, portanto, da programação. Entretanto, a parcela dedicada ao tempo perdido varia em função do tempo de ciclo adotado. Quanto menor o tempo de ciclo, mais vezes ele ocorrerá ao longo da hora considerada e, consequentemente, maior será a parcela destinada à perda de tempo nas transições entre movimentos. O menor tempo de ciclo (denominado Tciclo min) será aquele que provocar a parcela relativa à sobra igual a zero. Nesta situação, tem-se: Ya*1 hora + Yb*1 horas + (1 hora / Tciclo min)*Tp = 1 hora (2) Que também pode ser escrito como: Tciclo min = Tp / [1 – (Ya + Yb)] (3) Aplicando a expressão ao nosso exemplo, tem-se: Tciclo min = 8 / [1 – ({2500/5000} + {1050/3500})] = 40 s. De acordo com Vilanova (2005), dimensionar um movimento para 3.600 veículos/h não significa assumir que existe um veículo a cada segundo. Num intervalo de um segundo, por exemplo, pode não vir ninguém e, no segundo seguinte, em compensação, podem vir dois veículos. A consequência de tal aleatoriedade de chegada é que, no primeiro segundo, o verde ficará ocioso, enquanto que, no seguinte, pode acontecer de que o verde não seja suficiente para atender ambos os veículos. Tem-se, ainda, outra fonte de irregularidade: o volume de trânsito depende de uma série de fatores, cujo efeito é praticamente impossível de predizer, tais como: condições climáticas, eventos, incidentes no sistema viário etc. Em consequência de tais aleatoriedades de trânsito, deve-se reservar uma parte do ciclo para absorver seus efeitos negativos e, assim, um ciclo mínimo é incapaz de enfrentar qualquer desuniformidade do fluxo. Mesmo tendo que aumentar o tempo de espera dos veículos no semáforo, torna-se obrigatório trabalhar com tempos de ciclos bem superiores ao mínimo. O método clássico para enfrentar este problema foi desenvolvido pelo engenheiro de trânsito inglês F. V. Webster, em 1958, e conduz à equação mais conhecida no Brasil para o cálculo do tempo de ciclo: Tciclo ótimo = [(1,5 * Tp) + 5] / [1 - somatório Y] (4) Segundo Vilanova (2005), a equação de Webster apresenta uma forte restrição: pressupõe que a chegada dos veículos obedece a uma distribuição randômica ou aleatória. No meio urbano, é muito 17 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 17 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre difícil encontrar um local que tenha tal característica. O próprio Webster avisa, em seu trabalho original, que considera-se que o trânsito chega randomicamente desde que o ponto de observação esteja a alguma distância de um fator de perturbação como, por exemplo, um semáforo a montante. Pode-se ainda apontar outra causa para a não-aleatoriedade. Só é possível adotar-se o modelo randômico, ou aleatório, se os eventos forem independentes entre si. Isso só é verdade se a quantidade de faixas de tráfego for tão numerosa a ponto dos veículos não sofrerem influência mútua. Sempre que um veículo tiver sua velocidade influenciada por outro veículo, não se pode mais falar em processo randômico. Esta seção foi de importante contribuição, a fim de mostrar a complexidade da dinâmica de uma cidade e como o Brasil vem sofrendo com isto, quando existe uma grande resistência para a implantação de medidas inovadoras em relação à programação semafórica. MODOS DE OPERAÇÃO DE SEMÁFOROS Após o entendimento do funcionamento básico de um conjunto semafórico, nesta seção serão discutidos dois tipos de modos de operação de semáforos: em tempo fixo (mais usual nas cidades brasileiras) e em tempo real. Segundo Pereira e Ribeiro (2007), o controle em tempo real tem uma tecnologia complexa e apresenta conceitos desconhecidos para aqueles acostumados com o controle de tempos fixos. Alguns técnicos afirmam que, após a implantação de tal sistema, o trabalho deles não existiria mais, pois a operação do novo sistema seria automática. Sabe-se que isto não ocorre necessariamente desta maneira, pois a operação de um sistema em tempo real exige dedicação de uma equipe capacitada e atenta. Antes de discutir a eficiência dos operadores semafóricos, existe a necessidade de uma quebra de paradigma, referente aos modos de operação semafórica. Esta quebra nada mais é que a evolução normal das cidades. Porém, se a cidade cresce e as tecnologias não, por quaisquer que sejam os motivos, isso contribuirá apenas para uma piora na qualidade de vida de seus habitantes. Olhando por outro lado, a evolução tecnológica deve ser acompanhada de experiências de fatos consumados no passado. Portanto, a discussão aqui presente não consiste apenas na substituição, nas grandes cidades brasileiras, de todos os semáforos em tempo fixo por semáforos em tempo real e, sim, uma melhor ponderação na hora da escolha de uma futura implantação semafórica. 18 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 18 03/12/2014 17:11:48 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana Semáforos operados em tempo fixo Programar semáforos em tempo fixo, em uma área caótica, não é uma tarefa fácil. A figura 5 mostra a variação média do fluxo em uma via qualquer e demonstra que um conjunto semafórico operado em tempo fixo pode ser programado em cinco estágios, devido à variação de veículos por hora. Figura 5 Representação gráfica de veículos por hora x horas do dia Fonte: Neto, 2010. Nota-se que para a variação média do fluxo no tempo semafórico deve ser incluso um tempo extra devido às aleatoriedades cotidianas. Quanto maior for a demanda de tráfego na região, maior o tempo destinado às aleatoriedades e, assim, também será maior o tempo perdido no escoamento dos veículos. Como citado anteriormente, o conjunto semafórico pode ser programado em cinco estágios ao longo do dia, melhorando o desempenho semafórico: - Estágio 1: Programação semafórica para um fluxo de 500 veículos por hora; - Estágio 2: Programação semafórica para um fluxo de 1.000 veículos por hora; - Estágio 3: Programação semafórica para um fluxo de 750 veículos por hora; - Estágio 4: Programação semafórica para um fluxo de 600 veículos por hora; - Estágio 5: Programação semafórica para um fluxo de 2.000 veículos por hora. Porém, um dos maiores problemas encontrados na programação semafórica em tempos fixos é a sua necessidade de constantes atualizações, devido às modificações que ocorrem no trânsito todos os anos, tais como aumento de frota, criação/extinção de polos geradores de tráfego etc. 19 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 19 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Segundo Pereira e Ribeiro (2007), outro problema que controladores em tempos fixos enfrentam é a inexistência de reação frente às situações atípicas de trânsito, pois as programações têm como dados de entrada pesquisas de contagem veicular baseada em séries históricas. Outro dado de entrada é o fluxo de saturação, calculado para uma situação da via. Se estas condições são modificadas, as programações não se alteram automaticamente, necessitando da intervenção do operador, que sempre pode tomar decisões parciais. Todavia, não se deve esquecer o quanto os semáforos em tempo fixo são importantes. De acordo com Neto et al. (2006), quando o objetivo é priorizar o tráfego em corredores arteriais, os planos de tempo fixo podem ser programados obedecendo a três esquemas de coordenação distintos: simultâneo, alternado e progressivo. O primeiro se caracteriza pela abertura simultânea de um grupo de semáforos, com a desvantagem de estimular altas velocidades. No segundo, os semáforos abrem de forma alternada, podendo ser eficientes apenas quando houver uma equidistância entre as interseções semaforizadas. Já o esquema progressivo, denominado como maximização da banda de passagem (ou popularmente denominada onda verde), se caracteriza pelo ajuste dos instantes de abertura de cada semáforo, de forma a proporcionar a passagem de um pelotão por toda a via, mantendo-se uma certa velocidade de progressão. Essa tecnologia é muito bem desenvolvida, e conta com o auxilio de softwares bem eficientes como o Transyt, um programa complexo capaz de modelar situações diversas de tráfego com o uso de um algoritmo de minimização. Semáforos operados em tempo real Semáforos operados em tempo real consistem em detectores instalados na via. Através da passagem do tráfego, a informação é transmitida aos computadores, que adaptam os tempos semafóricos para atender a demanda veicular. Estes sistemas otimizam continuamente três parâmetros: ciclo, fração de verde e defasagem. Nesta seção, será abordado o sistema de automatização Scoot, o qual possui seu controle semafórico muito parecido com o do Transyt. Segundo Robertson (1986), o Scoot é um Transyt em tempo real, tendo os dois programas os mesmos princípios de otimização. A diferença entre os dois modelos é que o Scoot reage às variações aleatórias que ocorrem de ciclo para ciclo, acompanhando a variação da demanda ao longo do tempo. Ming (1997) corrobora e complementa estas informações ao mencionar que o Scoot é um sistema de controle de tráfego em tempo real, na medida em que variam os tempos semafóricos (percentual do 20 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 20 03/12/2014 17:11:48 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana tempo de verde, ciclo de defasagem) em função do fluxo do tráfego a cada momento. Ao contrário do controle de tráfego em tempos fixos, em que os tempos semafóricos são invariáveis, o sistema de controle real reage às variações de tráfego de forma a adequar os tempos semafóricos ao tráfego em cada instante. Ainda segundo Ming (1997), o sistema Scoot é constituído por cinco etapas: - sistema de detecção de veículos; - sistema de transmissão de dados; - computador central; - controladores; - grupos focais. A figura 6 representa o diagrama de blocos do sistema Scoot. Figura 6 Diagrama de blocos do sistema Scoot Sistema de detecção Controlador Grupos focais Sistema de transmissão de dados Computador central Fonte: Ming, 1997. Na figura 7, o sistema de detecção indica o fluxo de veículos e os dados são recolhidos pelo controlador que os envia através do sistema de transmissão de dados ao computador central. Este processa as informações, calcula os tempos semafóricos e envia ao controlador que os implementa nos grupos focais. No sistema Scoot os tempos semafóricos são calculados para escoar os veículos que estão sendo detectados no momento e não para os veículos que chegam no ciclo seguinte. Segundo Ming (1997), a detecção dos veículos deve ser feita obrigatoriamente antes de o veículo chegar a linha de retenção, para que haja tempo suficiente para o sistema Scoot realizar todo o processamento necessário. Normalmente, a detecção deve ser feita 8 a 12 segundos antes de o veículo chegar na linha de retenção. 21 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 21 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Figura 7 Cruzamento de via com a instalação dos laços detectores de veículos Fonte: Neto, 2010. Para entender o funcionamento deste sistema de detecção dos veículos feita através de laços detectores colocados no pavimento, será usado um exemplo numérico apresentado na obra de Ming (1997): a cada ¼ de segundo o sistema de detecção verifica se o laço está ocupado ou não, como mostra a figura 8. Figura 8 Representação da detecção 0 = não ocupado; * = ocupado Fonte: Ming, 1997. Assim, a detecção é feita em intervalos de ¼ de segundo (250 milisegundos). O que se detecta não é o fluxo ou o volume de veículos (em veículos por segundo ou por hora), e nem a porcentagem de ocupação do laço, mas sim uma mescla de ambos, cuja unidade é expressa em LPU (link profile unit), sendo que o número de LPU é obtido da seguinte forma: - o 1° intervalo de ¼ de segundo “*” (ocupado) após um intervalo com “0” (não ocupado), equivale a 7 LPUs; - o 2° equivale a 6 LPUs; - o 3° equivale a 5 LPUs; - o 4° equivale a 4 LPUs; - o 5° equivale a 3 LPUs; 22 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 22 03/12/2014 17:11:48 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana - o 6° equivale a 2 LPUs; - o 7° equivale a 1 LPUs. Para melhor compreensão deste cálculo considera-se um exemplo numérico de detecção de três veículos em um período de 6 segundos (24 intervalos de ¼ de segundo), conforme mostra a figura 9. Figura 9 Representação de detecção (exemplo numérico) Fonte: Ming, 1997. Neste exemplo, os três veículos representam 60 LPU, o que equivale a 20 LPU médios por veículo. A partir destas informações, pode-se determinar alguns parâmetros, como: • Em termos de fluxo de tráfego: fluxo = 3 veículos / 6 segundos = 0,5 veículos/segundo = 1.800 veículos/hora; • Em termos de porcentagem de ocupação: ocupação = 13 intervalos / 24 intervalos = 54%; • Em termos de LPU: 60 LPU / 6 segundos = 10 LPU/segundo. Desta forma, a medida em LPU ocorre em função do fluxo de veículos, da velocidade, do comprimento dos veículos e da disposição física do laço da via. Assim, não existe uma equivalência fixa e matemática entre o número de veículos e o número de LPU, uma vez que, a rigor, a equivalência entre as duas medidas varia de local e de momento, além de depender do comportamento do tráfego em cada local e em cada momento. Após esta breve explicação das análises de Ming (1997) a respeito do funcionamento do sistema Scoot de controle de tráfego em tempo real, observa-se de maneira explícita um aumento do benefício urbano trazido por este sistema totalmente automatizado, a fim de melhor se ajustar à variação da dinâmica urbana ao longo do dia. Para melhor ilustrar esta situação, a figura 10 apresenta um gráfico onde a CET/SP compara a operação semafórica em tempo fixo e em tempo real, no cruzamento da avenida Rudge com a rua Baronesa de Porto Carr, no bairro de Santa Cecília, cidade de São Paulo (SP). Nota-se claramente que o semáforo em tempo real é muito mais adaptado ao longo da hora do dia do que o semáforo em tempo fixo, devido à constante aleatoriedade do dia, diminuindo o tempo de espera do motorista que deseja efetuar este cruzamento. 23 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 23 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Figura 10 Comparativo entre a operação em tempo fixo e o tempo real Fonte: Neto, 2010. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve como objetivo explicar como funciona a programação semafórica, para melhor compreensão de como ela se correlaciona com a dinâmica urbana. Para a inserção de semáforos em uma cidade foram discutidos basicamente dois tipos de programação: em tempo fixo e em tempo real. O ponto notório de aprendizagem é a interpretação dos fatos ocorridos na complexidade urbana, em que agentes e tomadores de decisões responsáveis por recursos públicos optam por medidas inovadoras que apresentam tecnologias de última geração. Ou ainda optam por sistemas ultrapassados pela dificuldade de quebrar certos paradigmas, por interesses não pertinentes à discussão neste trabalho. Depois de feita uma revisão bibliográfica referente aos programas semafóricos, percebe-se que os semáforos em tempo real se adaptam melhor a alguns cenários urbanos, onde este apresenta maior eficiência para combater a aleatoriedade cotidiana, apresentando-se assim como instrumento importantíssimo devido a sua autorregulação semafórica, diminuindo consideravelmente tempos perdidos nos ciclos semafóricos. Porém, vale ressaltar a importância da visão sistêmica para futuras decisões, uma vez que alguns estudos apresentam semáforos em tempo fixo como mais eficientes em corredores arteriais em baixas condições de tráfego, segundo Neto et al. (2006). Complementarmente, para Pereira e Ribeiro (2007), os semáforos em tempo fixo são mais vantajosos, pois eles têm um maior controle sobre os tempos de verde, defasagem e tempos de ciclo, com menos dependência em relação à manutenção. No entanto, em outro estudo de caso feito em seis interseções semaforizadas integrantes do sistema centralizado de controle do tráfego de 24 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 24 03/12/2014 17:11:48 Automação de semáforos para uma melhor dinâmica urbana Fortaleza (CTAFOR), foi concluído o seguinte, segundo Loureiro et al. (2005): existe uma crescente superioridade do controle em tempo real sobre planos fixos à medida em que as demandas de pico atingem o seu ápice. Estudos adicionais já compararam o desempenho das duas estratégias de controle centralizado em períodos fora do pico, assim como em corredores arteriais, permitindo uma avaliação abrangente e sistêmica dos benefícios operacionais do sistema em tempo real. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LOUREIRO, C. F. G.; GOMES, M. J. T. L. e LEANDRO, C. H. P. L. Avaliação do desempenho nos períodos de pico do tráfego de interseções semaforizadas com controle centralizado em tempo fixo e real. 2005. Disponível em: http://www.sinaldetransito.com.br/artigos.php. Acesso em: 15 de julho de 2013. MING, S. H. Uma breve descrição do sistema Scoot. Notas Técnicas (NT 201), 1997. Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, Disponível em: http://www. cetsp.com.br/consultas/notas-tecnicas.aspx. Acesso em: 15 de julho de 2013. __________. Cálculo do ciclo de verdes ótimos quando o fluxo de saturação não é constante. Notas Técnicas (NT 208), 2001. Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo. Disponível em: http://www.cetsp.com.br/consultas/notas-tecnicas. aspx. Acesso em: 15 de julho de 2013. _________. Dimensionamento do entreverdes. Notas Técnicas (NT 212), 2010. Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo. Disponível em: http://www.cetsp. com.br/consultas/notas-tecnicas.aspx. Acesso em: 15 de julho de 2013. NETO, J. C. Notas de aula de Tráfego Urbano. 2010. Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. Disponível em: http://meusite.mackenzie.com.br/professor_ cucci/aulas.htm. Acesso em: 15 de julho de 2013. NETO, P. M. P.; NETO, M. M. C. e LOUREIRO, C. F. G. Progressão em tempo real versus tempo fixo por banda de passagem em períodos de baixa demanda. Estudo de caso. 2006. Disponível em: http://www.sinaldetransito.com.br/artigos.php. Acesso em: 15 de julho de 2013. PEREIRA, G. e RIBEIRO, M. V. M. Controle de tráfego em tempo real: novos paradigmas, dificuldades e primeiros resultados. O caso do controle inteligente de tráfego (CIT). In: 16° CONGRESSO BRASILEIRO DE TRANSPORTE E TRÂNSITO, 2007. Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP. Maceió-AL, 2007. PIETRANTONIO, H. e BONETTI W. Semáforos atuados pelo tráfego. Laboratório de Estudos Metodológicos em Tráfego e Transportes (LEMT), Departamento de Engenharia de Transportes, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. ROBERTSON, D. I. Research on Transyt and Scoot methods of signal coordination. ITE Journal, jan. 1986, p. 36-40. VILANOVA, L. e NETO, J. C. Redução de acidentes devido à reprogramação semafórica. 2006. Disponível em: http://www.sinaldetransito.com.br/artigos.php. Acesso em: 15 de julho de 2013. __________. Fundamentos da programação semafórica. 2005. Disponível em: http:// www.sinaldetransito.com.br/artigos.php. Acesso em: 15 de julho de 2013. YUKI, H. S. Projeto de controlador inteligente para semáforo. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2008l. 25 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 25 03/12/2014 17:11:48 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Sistema de Informações da Mobilidade Urbana O Sistema de Informações da Mobilidade Urbana desenvolvido pela ANTP, em parceria com o BNDES, consiste em banco de dados e informações especialmente desenhado para permitir, aos setores públicos federal, estaduais e municipais, o adequado acompanhamento das várias facetas de caráter econômico e social envolvidas na dinâmica do transporte e trânsito urbanos dos municípios brasileiros com população superior a 60 mil habitantes. O Sistema de Informações da Mobilidade Urbana foi desenvolvido para agregar mais de 150 dados básicos dos 437 municípios, com 60.000 ou mais habitantes em 2003, obtidos por meio de questionário enviado pela ANTP e preenchidos pelos responsáveis do transporte e transito municipais e metropolitanos. A abrangência das áreas consideradas são as seguintes: ônibus municipais; ônibus metropolitanos; metro ferroviário; trânsito e mobilidade urbana. Consulte o Sistema de Informações da Mobilidade Urbana no site da ANTP - www.antp.org.br 26 02 138 02 Lucas Moreno Bruno Mamede Armando Filho.indd 26 03/12/2014 17:11:49 TECNOLOGIA DE TRANSPORTE E TRÂNSITO AN P Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de um novo modo de transportes para São Paulo Moreno Zaidan Garcia Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela FAU-USP. E-mail: [email protected] A partir da proposta da primeira linha de monotrilho para São Paulo, no final da última década, desencadeou-se um debate intenso em torno da perspectiva de utilização em larga escala dessa nova opção de transporte urbano nas principais aglomerações urbanas do Brasil. Apesar da experiência da linha de Poços de Caldas (MG), o monotrilho ainda é um desconhecido no Brasil, inclusive para boa parte dos técnicos. Em esfera mundial, embora não seja uma tecnologia conceitualmente nova, a sua aplicação à função de transporte de massa é bem recente. A pequena experiência acumulada no desenvolvimento desse tipo de sistema deixa algumas questões ainda em aberto. O que é Monotrilho? Chama a atenção a multiplicidade de significados que o termo “monotrilho” carrega. A mesma palavra é usada como sinônimo de modo de transporte, tecnologia e tipo de veículo. A confusão é ainda maior quando se discute se monotrilho é, ou não, considerado “metrô”. De fato, não é nenhuma dessas coisas. Distinguir precisamente esses conceitos é o ponto de partida para avaliar suas possibilidades de uso em transporte urbano. Modos de transporte urbano são maneiras específicas de se transportar pessoas em aglomerações urbanas em determinadas condições. Um modo de transporte é definido pelo conjunto particular de seus atributos, agrupados em três classes: direito de via (também nível de compartilhamento ou segregação de via); tecnologia; e tipo de serviço. (Vuchic, 2007). Apesar de todos os sistemas de monotrilho operarem em via exclusiva (mesmo direito de via), há uma significativa variação entre eles, quanto ao tipo de serviço, e também quanto à 27 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 27 03/12/2014 15:33:51 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre tecnologia – assim, a denominação “monotrilho” abarca uma diversidade de modos de transporte. É, portanto, na combinação entre essas duas últimas variáveis (serviço e tecnologia) que se encontram os elementos de maior interesse para o presente estudo. Ainda de acordo com Vuchic, entende-se por tecnologia a combinação de quatro atributos mecânicos do conjunto veículo-via: tipo de suporte, tipo de guia, propulsão e controle. As duas tipologias mais comuns de monotrilho são definidas (e diferenciadas) pelo tipo de suporte: os monotrilhos suspensos, cuja roda e trilhos se encontram acima do veículo que, portanto, transita suspenso; e os chamados straddle beam, ou encavalados.1 A própria diferenciação em termos de suporte2 já é suficiente para se afirmar que monotrilho não é sequer uma tecnologia. O mesmo autor afirma que “o termo monotrilho engloba uma diversidade de sistemas que possuem como característica comum o fato de que os veículos correm por (ou sob) uma via constituída de um único eixo” (grifo nosso).3 A Monorail Society define monotrilho como “trilho singelo que serve de via para veículo de passageiro ou carga”.4 Voice5 reformula essa definição, incorporando as variações de suporte e guia para além do modelo primitivo de roda sobre trilho singelo: “Monotrilho representa um modo no qual veículos são suportados inteira ou principalmente por um trilho ou viga singelos” (grifo nosso).6 Apesar de apresentar maior precisão do que a Monorail Society – pois os monotrilhos que correm sobre trilhos férreos são minoria – Voice acaba mantendo o vício de classificar o monotrilho como modo de transporte. Talvez pelo fato de não compartilhar do mesmo conceito de “modo de transporte” de Vuchic. À procura de uma definição mais precisa, adaptando as categorias de Vuchic à definição de Voice, o termo monotrilho será entendido aqui como: um grupo de tecnologias de transporte tendo por característica comum dispor de um eixo viário singelo que constitui, ao mesmo tempo, o guia e o suporte do veículo que nele transita. É por essa razão que, a seguir, ao se referir ao grupo de sistemas que possuem 1. Não há uma tradução literal para o português, o mais próximo seria algo como encavalado, escarranchado, ou ainda, montado, sobre viga. 2. Além das variações em relação ao tipo de suporte, há também variações tecnológicas menos significativas em termos de propulsão, guia e controle. 3. “Monorails encompass many different transit systems with common feature that their vehicles ride on or are suspended from a single rail or beam” (Vuchic, 2007, p. 649). 4. “A single rail serving as a track for passenger or freight vehicle”, cf. http://www.monorails.org/, apud Voice, 2010, p. 5. 5. Voice, 2010, p. 5-6. 6. “Monorail means a mode in which the vehicles are supported wholly or mainly by means of a single rail or beam” (Voice, 2010, p. 5). 28 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 28 03/12/2014 15:33:51 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... essas características acima descritas, será utilizado o termo no plural – “os monotrilhos”, ou “sistemas de monotrilhos” – ficando reservado o termo no singular para designar casos particulares. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS MONOTRILHOS O desenvolvimento tecnológico dos sistemas de monotrilhos correu, de certa maneira, à margem da história dos transportes. Os protótipos pioneiros surgiram na primeira metade do século XIX, quase simultaneamente ao nascimento da ferrovia convencional, um pouco antes da primeira linha de metrô do mundo (Londres), e muito antes do ônibus.7 No entanto, a grande maioria das linhas de monotrilho que gozaram de certa longevidade foi construída apenas na segunda metade do século XX, enquanto o metrô e o ônibus se consagraram plenamente já nas primeiras décadas do século XX e a ferrovia, bem antes. Houve, portanto, um extenso período de incubação ao longo do qual o uso dos monotrilhos não deslanchou, embora também não chegasse a ser estancado. Voice, em seu minucioso estudo, arrola um detalhado histórico de todos os projetos, linhas em operação e protótipos de que se teve registro ao longo de aproximadamente cem anos – com marco final localizado por ele em 1950. Trata-se de um percurso não linear e intermitente, cujo aspecto mais marcante foi a indefinição. Seja em relação à sua compatibilidade com as demandas empíricas de transporte urbano, ou em termos de concepção tecnológica. USO NO TRANSPORTE PÚBLICO O desenvolvimento tecnológico não é um caminho necessariamente progressivo. Geralmente vem a reboque das necessidades de produção e reprodução da sociedade e seu sucesso ou fracasso depende desse contexto. É razoável supor que, ao longo do século de “gestação”, as vantagens propiciadas pelos sistemas de monotrilhos concebidos (ainda que de maneira experimental) não representaram plenamente (ou não respondiam a) demandas concretas da sociedade, no que toca aos transportes urbanos. Isso parece mais plausível do que a ideia, equivocada, de que não houve desenvolvimento tecnológico suficiente para superar as dificuldades – que as invenções naturalmente enfrentam – a ponto de viabilizar o aproveitamento das suas virtudes. Os monotrilhos são “uma solução à procura de um problema”.8 Desde o princípio os monotrilhos apresentaram utilidade à indústria – diferentemente do que ocorreu em relação ao transporte urbano. 7. Para aprofundar na história dos primórdios do monotrilho, ver: Voice, 2010, cap. 1. 8. Demery, 2005, p. 5. 29 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 29 03/12/2014 15:33:51 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Por isso, até meados do século XX, a maioria dos monotrilhos efetivamente colocados em operação regular atendia a esse setor (Vuchic, op. cit.). As linhas não industriais construídas ao longo dessa fase – com raras exceções – não passaram de experimentações descontinuadas que, quando muito, chegavam à etapa de prototipagem. Dentre essas exceções, o caso mais exitoso, sem dúvida, foi o da linha de Wupperthal, na Alemanha – um protótipo de vida longa. O contexto de sua implantação evidencia o caráter de exceção desse sistema de monotrilho. O final do século XIX, como se sabe, foi marcado por intensa experimentação no campo do transporte urbano que emergia como questão de crescente relevância para diversos Estados nacionais. Um vertiginoso processo de urbanização se encontrava em marcha. As antigas formas de deslocamentos (a pé ou por veículos de tração animal) ficavam mais e mais aquém das demandas que surgiam nos diversos centros de produção. Os modos que viriam a predominar mais tarde (no decorrer do século XX) ainda se encontravam em processo de consolidação e, de certa maneira, permanecia o espírito de busca de respostas para as renovadas questões postas pelas necessidades urbanas. Se, de um lado, a ferrovia – que já era uma realidade para o transporte de longa distância – assegurava desde sua origem o acesso às cidades a partir de lugares mais remotos, de outro, encontrava grande dificuldade para alcançar as áreas centrais, densas e consolidadas, das principais metrópoles. As tentativas de adaptação a esse quadro é que conduziram, como se sabe, ao conceito do que hoje chamamos de metrô. Tanto as vias férreas elevadas de Nova Iorque, Chicago e Berlim, quanto as ferrovias subterrâneas de Londres, todas de tração a vapor, são respostas a essa mesma questão.9 A passagem do século XIX para o XX, portanto, foi o momento em que o conceito “monotrilho” chegou mais próximo de se firmar como opção para o transporte urbano.10 Em 1895, o engenheiro alemão Carl Eugen Langen patenteou uma tecnologia de monotrilho suspenso (Schwebebahn). Construiu um protótipo do veículo e uma pista de testes em Colônia – para onde costumava levar representantes dos governos de cidades alemãs a fim de convencê-los a adotar sua invenção. Seu maior objetivo era implantar o sistema em Berlim que, na época, já estava constituindo sua rede ferroviária metropolitana.11 Isso explica, em parte, o pouco apelo da ideia de Langen. 9. São uma espécie de proto-metrô, pois o conceito de metrô se consolida, efetivamente, como modo de transporte e modelo operacional apenas depois de dados dois passos: a eletrificação e a noção de integração das linhas em rede (assentada com o projeto da rede de Paris). 10. De fato, sem ser submetido a uma série de situações concretas (vale dizer, sem ser testado como transporte urbano) não poderia desencadear um processo de desenvolvimento tecnológico intensivo. 11. Langen chegou a construir um pequeno trecho de via para ensaiar suas condições de implantação. A unificação das ferrovias em torno de uma rede de transporte ferroviário metropolitano elevado (S-bahn) já estava em curso e poucos anos depois a rede do metrô (U-Bahn) começaria a ser construída (Ver: Sort, 2006). 30 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 30 03/12/2014 15:33:51 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... O único município que aceitou implantar o Schwebebahn foi Wupperthal, uma cidade industrial de pequeno para médio porte, do Vale do Ruhr. O maior trecho da linha foi construído sobre o rio Wupper, que já tinha se consolidado como eixo estrutural da cidade. A escolha de implantar o traçado no vale, a elegância no desenho das estruturas de sustentação da via e a escala do equipamento (tanto da composição quanto das estações) são aspectos que conferem à linha um caráter pitoresco incomum para um monotrilho, como pode ser percebido no filme Pina, de Wim Wenders.12 A linha se firmou como paradigma do conceito de monotrilho, justamente por expressar de maneira eloquente sua principal virtude: a leveza da implantação integrada de modo muito feliz à paisagem urbana. Depois de Wupperthal, Langen não conseguiu implementar seu projeto em nenhum outro lugar. O começo do século assistiu ao triunfo do metrô e do ônibus – modos que, em pouco tempo, dominariam o cenário do transporte urbano. À medida que cada um deles se consagrava como a melhor opção para determinada faixa de demanda, o espaço para o desenvolvimento de monotrilhos se restringiu. Até a década de 1930 ainda se observava uma considerável experimentação em diversos países, mas em número decrescente. Em meio à II Guerra Mundial, o processo já se encontrava estancado, mesmo que temporariamente. Alguns protótipos foram implantados como equipamentos de uso restrito, servindo a eventos de porte, como no circuito de exposições internacionais e feiras industriais, ou, com um pouco mais de permanência, em parques de diversão e centros comerciais. Nunca, entretanto, como transporte urbano regular. A indefinição continuou vigorando e gerou uma ampla diversidade de projetos experimentais com consideráveis variações tecnológicas (tanto de suporte quanto de propulsão). De linhas do tipo “ponto-a-ponto” (shuttle service) a ligações entre cidades, ou mesmo internacionais, os propósitos desses projetos também foram diversos – evidência inquestionável de que a busca por uma aplicação “própria” dos monotrilhos ainda permanecia.13 Uma retomada dos projetos de monotrilho se iniciou na década de 1950 e culminou, 10 anos mais tarde, em um processo de desenvolvimento tecnológico mais intenso. A criação do modelo Alweg – um dos padrões tecnológicos mais utilizados nos projetos de monotrilho atuais – foi um ponto chave desse renascimento. 12. O filme explora bastante a qualidade da implantação da linha. A estrutura é leve e, mesmo nos trechos em que o trem passa ao longo das ruas, a estrutura parece estar bem integrada com a paisagem. Há, inclusive, uma cena em que a câmera acompanha uma viagem pela linha, com tomadas tanto por dentro quanto por fora do carro. 13. Houve projetos para usos muito específicos e até inusitados. O exemplo mais emblemático talvez tenha sido o de uma linha subterrânea a ser construída no complexo do Capitólio, em Washington, para transportar os senadores norte-americanos (Voice, p. 26). Outro, bem mais ousado, pretendia realizar a travessia do Canal da Mancha. Um histórico detalhado pode ser obtido em Voice (Voice, ibid.). 31 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 31 03/12/2014 15:33:51 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre No começo da década de 1950, o engenheiro sueco Axel Lennart Wernner-Gren – impulsionado pela perspectiva de implantação de um sistema de monotrilho em Los Angeles – patrocinou o desenvolvimento do protótipo de monotrilho sobre viga de concreto. Criou a companhia Alweg (com as iniciais do seu nome) e patenteou a sua tecnologia, cujo principal avanço foi o de permitir transportar um volume de passageiros consideravelmente maior do que os sistemas anteriores. Embora tenha fracassado na tentativa de emplacar uma linha em Colônia, a Alweg desenvolveu, com a colaboração de engenheiros norte-americanos, o primeiro exemplar de sucesso de sua tecnologia – o monotrilho da Disneylândia, no parque recém-aberto na Califórnia. Inaugurada em 1959, a linha de cerca de 4 km foi um divisor de águas para os monotrilhos sobre viga (straddle beam), por conta da maior capacidade de transporte. A ascensão dos monotrilhos ao universo do transporte urbano regular, contudo, não ocorreu de forma repentina. Mesmo em Los Angeles, um projeto de rede de monotrilho foi cogitado, mas acabou engavetado.14 Até meados dos anos 1960, os projetos da Alweg implementados na esteira do sucesso da linha da Disneylândia se mantiveram restritos ao âmbito dos serviços especiais – voltados para o acesso e (ou) circulação interna de locais de eventos e espaços fechados. Esse foi o caso das linhas das exposições internacionais de Turim (1961) e Seattle (1962), exemplos bastante citados.15 Assim como ocorreu com o monotrilho sobre viga, um padrão tecnológico para a versão suspensa foi definido a partir do aperfeiçoamento de projetos do pré-guerra. Em 1956, uma companhia chamada The Monorail Incorporated desenvolveu uma tecnologia de monotrilho suspenso e construiu pistas de teste no Texas. Chegou a difundir sua tecnologia com a implantação de algumas linhas em parques de diversões, mas apenas isso. O marco tecnológico dessa modalidade só se fixou a partir de um consórcio de empresas francesas – Safege – que patenteou em 1959 uma tecnologia de monotrilho suspenso aperfeiçoada a partir do Schwebebahn. Em 1966, inauguraram uma pista de teste em Orleans, que ganhou certa notoriedade por ter sido utilizada, no mesmo ano, como locação do filme Fahrenheit 451, de François Truffaut. A primeira geração do renascimento dos monotrilhos, portanto, se manteve restrita aos tipos de novelty monorails16 – categoria definida 14. Em 1962, foi construída uma linha para servir a Los Angeles County Fair, que não foi considerada por conta do recorte desse artigo (uso urbano regular). 15. Embora implantado em “ambiente urbano”, ligando o centro da cidade de Seattle ao local da exposição, a finalidade da linha era exclusivamente a de servir o evento. Tanto é que até hoje o Seattle Monorail possui apenas as duas estações terminais. Foi mantido a título de preservação da memória da cidade e de exploração turística. 16. Em português, algo como “monotrilhos-novidade”. 32 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 32 03/12/2014 15:33:51 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... por um tipo de serviço específico, marcado por: baixo volume de tráfego, poucas paradas (muitas vezes apenas nas extremidades) e atendimento exclusivo a áreas fechadas (parques de diversão, shoppings, zoológicos, exposições etc.). Nos anos 1960 surgem as linhas de aeroportos, que marcam um primeiro passo em direção à incorporação do monotrilho ao uso urbano regular. Embora também voltados para um atendimento muito específico, o volume dos deslocamentos realizados nessas linhas aponta no sentido da transformação assinalada. O monotrilho de Tóquio, construído no final dos anos 1960, é emblemático nesse processo de transição. Foi o projeto pioneiro de uma série de monotrilhos de grande porte que viriam a ser implantados no Japão ao longo dos anos seguintes. Vale lembrar que Wupperthal17 ainda continuava sendo, à época, um caso isolado. O Japão foi, assim, o primeiro país no qual ocorreu um desenvolvimento organizado e sistemático de tecnologias de monotrilho com finalidade de transporte urbano. O contexto do Japão dos anos 1970 e 1980 explica, em parte, as razões desse processo. Segundo Demery, já em meio à década de 1960, o padrão de urbanização das aglomerações urbanas japonesas – marcado pela alta densidade construtiva, alto patamar de preços dos terrenos e por um sistema viário de muitas vias estreitas – impunha grandes dificuldades à implantação de sistemas em superfície.18 Isso não afetava diretamente a demanda por transporte de massa que, já há algum tempo, era bem atendida pelas linhas de alta capacidade (implantadas em vias subterrâneas e elevadas). A maior dificuldade estava na chamada faixa de demanda intermediária, normalmente atendida por sistemas de superfície. Para atender a essa espécie de “limbo” da demanda (chamada pelo autor de transport gap),19 uma solução de implantação não superficial se fazia necessária nas cidades japonesas mais adensadas – ainda que o volume de passageiros não justificasse o direito de via exclusivo. Os monotrilhos – que possuem estrutura de sustentação da via permanen17. Havia também o monotrilho de Dresden, que era na verdade um plano inclinado. As demais experiências foram bastante limitadas em porte, uso ou tempo de existência. Apesar do termo “transporte urbano”, a rigor, abarcar todos os modos de transporte que correm sobre o espaço urbano, quando for utilizado nesse artigo, o termo se refere a: sistema de transporte implantado em aglomerações urbanas, não restrito a áreas fechadas. 18. Demery, 2005, p. 11-12. 19. Apoiado em Bouladon (1967), Demery aponta para a inexistência, em termos gerais, de modos de transporte apropriados para a faixa de demanda intermediária – entre 5 mil e 15 mil passageiros por hora, por sentido. Pouco para justificar metrô, muito para ser atendido pelos sistemas de superfícies convencionais. 33 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 33 03/12/2014 15:33:52 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre te mais esbelta, menos intrusiva e construção mais simples do que os demais modos em via elevada – se apresentavam como um promissor nicho a ser explorado. Pela primeira vez, parecia que a “solução havia encontrado um problema”, como fica evidente na afirmação de Demery: Practical considerations have limited monorails to special-purpose applications, where surface right-of-way is not available and traffic is not sufficient to justify full-scale rail lines, either in tunnel or on viaduct.20 Por mais que se questione o êxito, houve de fato no Japão uma aposta nos monotrilhos. O empenho foi considerável, o que pode ser percebido tanto na esfera do Estado – que viabilizou a implantação de uma série de linhas – quanto na do mercado. Diversas empresas se interessaram pelo fornecimento de material rodante e de sistemas de monotrilhos urbanos, um nicho de mercado que se mostrava promissor. Nesse contexto, destaca-se a atividade de três grandes empresas: da Hitachi, que adquiriu a licença de fabricação da Alweg; da Mistubishi e da Toshiba, ambas produzindo sistemas baseados na tecnologia Safege.21 No final dos anos 1960, o principal acervo técnico das tecnologias de monotrilho já estava nas mãos dos japoneses. Uma intensa atividade de prototipagem e a fundação da Associação Japonesa de Monotrilhos, em 1967, marcam o período de consolidação da tecnologia japonesa de monotrilhos, no qual três projetos se destacam como paradigma. Em 1964, a Hitachi inaugura o monotrilho de Tóquio, a primeira linha de grande porte. Logo depois, em 1970, a mesma empresa lança o monotrilho da Expo Osaka.22 Por fim, nesse mesmo ano, a Mitsubishi inaugura a linha de Shônan, o primeiro monotrilho suspenso projetado com a finalidade específica de transporte urbano. Inicialmente concebido como protótipo, o monotrilho de Tóquio foi inaugurado para os Jogos Olímpicos de 1964 e tinha como objetivo exclusivo o acesso ao aeroporto Haneda, a partir do centro da cidade. Na medida em que o aeroporto adquiria maior volume de tráfego, a linha, em paralelo, era estendida. Teve sua capacidade de tráfego aumentada e estações intermediárias acrescentadas (são 11 atualmente). Assim, em pouco tempo, passou de um shuttle service para uma linha de transporte urbano regular. A Mitsubishi desenvolveu em paralelo o padrão para os monotrilhos suspensos. Depois dos protótipos de pequeno porte, a empresa 20. Demery, 2005, p. 4. 21. A Alweg e a Safege foram compradas por outras empresas (Krupp e Suez Environnement, respectivamente). Nos dois casos, os projetos de produção de monotrilhos foram abandonados logo após a aquisição. 22. Não confundir com o monotrilho de Osaka, inaugurado na década de 1990, também pela Hitachi. Essa linha da Expo Osaka, apesar de curta (4,4 km) e temporária, teve importância na uniformização dos padrões tecnológicos e na consolidação de atributos utilizados nos monotrilhos seguintes (composição de quatro carros, sistema de controle central e operação automática dos trens). 34 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 34 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... implantou dois projetos para uso em transporte urbano, com operação comercial nas cidades de Shônan (1970)23 e Chiba (1995).24 Além das linhas no Japão,25 a Hitachi implantou mais três sistemas: em Chongqing, na China; na ilha de Sentosa, em Singapura; e em Dubai, nos Emirados Árabes. O de Chongqing foi desenvolvido em parceria com a Changchun Rail Vehicles – fabricante chinesa de material rodante – e é o maior sistema de monotrilho em operação no mundo. Além das japonesas, destacam-se como principais fabricantes de monotrilhos do tipo Alweg a canadense Bombardier e, mais recentemente, a malaia Scomi. Apesar do vasto portfolio, a Bombardier, responsável pela linha 15 do Metrô de São Paulo, tem apenas a linha de Las Vegas como projeto de “monotrilho urbano” implantado.26 APLICAÇÃO PARA O TRANSPORTE DE MASSA A partir do histórico esboçado acima, é possível retomar as questões levantadas no início do presente artigo. Até o final do século XX, não houve um caso de linha de monotrilho que possa ser enquadrado na categoria transporte de massa. A partir da primeira década do século XXI, uma nova leva de projetos – a maioria em fase de concepção ou de obra – aponta para direção contrária. Ainda assim, pela novidade do fato, cabe a discussão sobre a aplicação dos monotrilhos ao transporte de massa.27 Capacidade O primeiro ponto a ser analisado é a capacidade do sistema, que é o aspecto de associação mais imediato à categoria “transporte rápido de massa”.28 A partir do levantamento de Voice, nota-se que os monotrilhos de maior capacidade são exceção.29 Até 2010, dos cerca de 300 mono23. A linha estabelece uma ligação entre duas estações de trem em uma área de média densidade de Shônan, que é um município da região metropolitana de Tóquio. A operação é limitada a uma faixa de baixa frequência, pois a sua via permanente é singela, o que explica o seu modesto carregamento médio (28 mil passageiros/ dia, em 2005). 24. Apesar de apresentar carregamento maior (de 44 mil usuários/ dia), o sistema de Chiba teve a sua expansão suspensa em 2001 por conta de um crescente déficit operacional acumulado (Demery, 2005, p. 48). 25. Mais quatro linhas completam o rol dos sete monotrilhos urbanos japoneses, todos da Hitachi: Kitakyûshû, Osaka, em 1990; Tama, na região metropolitana de Tóquio; e Naha, na ilha de Okinawa. 26. Além das linhas de Las Vegas e São Paulo, a linha de Riad, na Arábia Saudita (também em construção), completa a trinca de monotrilhos urbanos da Bombardier. Cf.http://www.bombardier.com/en/ transportation/products-services/rail-vehicles/automated-monorails.html. 27. O próprio Vuchic deixa a questão aberta. Se, em determinado momento, afirma que o monotrilho faz parte da família dos transportes de massa (rapid transit), em outro, o autor classifica o monotrilho como um “sistema não convencional”, distinto das demais categorias (inclusive a de transporte de massa) (Vuchic, 2007, p. 72 e 444). 28. É por conta dessa associação que às vezes o termo “transporte de alta capacidade” é usado como sinônimo de transporte rápido de massa. 29. Voice, 2010, p. 81-83. 35 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 35 03/12/2014 15:33:52 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre trilhos implantados de que se tem registro em todo mundo, permaneciam em operação pouco menos de 150. Apenas um terço dessas linhas, contudo, possui traçado implantado em “ambiente urbano”. Nesse grupo, pelo menos 30 linhas servem exclusivamente de acesso a locais específicos (como aeroportos, centro de eventos etc.). Portanto, de um universo de 300 monotrilhos, não mais do que 20 casos (menos de 10%) podem ser classificados propriamente como equipamentos de transporte urbano regular. Ainda assim, boa parte apresenta porte pequeno e carregamento desprezível. Acrescentando à lista de Voice as linhas inauguradas depois de 2010,30 e excluindo as linhas de pequeno porte – com menos de 5 km e capacidade abaixo de 10 mil passageiros/ dia – chega-se a uma restrita lista de apenas 12 linhas em operação até meados de 2013, conforme a tabela 1:31 Headway (min. na HP) Carregamento (usuários/dia) 82.000 138.000 28.000 13 15 18 19 15 0,7 1,1 1,6 0,9 0,9 6,0 10,0 6,5 10,0 6,0 31.000 44.000 88.000 106.000 29.000 2003 2004 2005 8,6 6,4 18,0 11 7 18 0,9 1,1 1,1 5,0 4,0 3,5 65.000 12.000 500.000 2011 39,1 39 1,0 2,0 500.000 Kitakyushu (Japão) Hitachi Chiba (Japão) Mitsubishi Osaka (Japão) Hitachi Tama (Japão) Hitachi Naha (Okinawa) Hitachi (Japão) Kuala Lumpur (Malásia)Scomi Las Vegas (EUA) Bombardier Chongqing – Hitachi + Linha 2 (China) Changchun Chongqing – Hitachi + Linha 3 (China) Changchun Distância entre estações (km) 2,9 3,3 7,5 1901 1964 1970 Estações (unid.) 0,7 1,7 0,9 Wuppertal (Alemanha) – Tóquio (Japão) Hitachi Shônan (Japão) Mitsubishi Extensão (km) 20 11 8 1985 1995 1990 1998 2003 13,3 16,9 6,6 (via singela) 8,8 15,2 28,0 16,0 13,0 Inauguração (ano) Linha Fabricante Tabela 1 Linhas de monotrilho com mais de 10 mil passageiros/ hora Fonte: Wupperthal, (http://www.schwebebahn.de/); Tóquio, (http://www.tokyo-monorail.co.jp/); Japão (demais cidades) – Demery (2005), Hitachi Review e Japan Railway & Transport Review (2001); Kuala Lumpur, (http://www.myrapid.com.my); Las Vegas (http://www.lvmonorail.com/); Congqing, sítio do metrô (http://www.cqmetro.cn/) e sítio da Monorail Society (http://www.monorails.org/). 30. Segundo a lista da Monorail Society: http://www.monorails.org/tMspages/Where.html. 31. Alguns casos que são frequentemente utilizados como paradigma do sistema foram excluídos por conta dos critérios expostos. Alguns apresentam caráter turístico (Seattle e Sidney, por exemplo), outros têm traçado em via singela, como é o caso da recém-inaugurada linha de Xi’am, na China. Há ainda o caso do monotrilho de Dubai (Palm Jumeirah), cuja expectativa de carregamento previsto foi totalmente frustrada – hoje opera com quatro trens por hora no pico – e por isso não serve para a discussão aqui colocada. 36 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 36 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... A quantidade de casos dentro da faixa de alta capacidade é ainda mais diminuta e recente. Tomando como base as linhas de São Paulo, apenas três casos são dignos de comparação: as linhas de Tóquio e Tama, na casa de 100 mil usuários por dia – que se aproximam da previsão para a linha 17-Ouro (Aeroporto), de 250 mil passageiros/ dia para 2030, e a linha 3 de Chongqing, com previsão de expansão para 500 mil usuários diários, que faz frente à linha 15-Prata de São Paulo (Cidade Tiradentes). Ainda que os embarques previstos para a linha 15 sejam da mesma ordem de grandeza dos da linha chinesa, é importante lembrar que na hora pico o carregamento das linhas paulistas é maior do que o da linha 3 de Chongqing – que é hoje o caso de monotrilho mais carregado do mundo. Mesmo incluindo os projetos em construção, as linhas de São Paulo não encontram correspondentes à altura. A tabela 2 mostra as linhas brasileiras ao lado dos oito monotrilhos de maior capacidade que provavelmente estarão em atividade em breve (daqui a três anos). Cinco deles já estão em operação e três em construção.32 É preciso destrinchar esses dados brutos, pois os parâmetros que determinam a capacidade variam bastante entre os casos e os números só podem ser confrontados sobre uma mesma base. É sabido que a capacidade de uma linha é obtida a partir do produto da capacidade média das composições pela frequência. A capacidade de cada unidade operacional (cada composição) também é variável e depende basicamente de três fatores: da capacidade nominal do modelo de carro utilizado, da quantidade de carros do comboio e, por fim, da taxa de ocupação dos trens (passageiros por m2).33 32. Até a presente data (outubro de 2013) estão em construção nove linhas de monotrilhos “urbanos” (incluindo as linhas 15 e 17 do Metrô de São Paulo). Além das duas relacionadas na tabela (Daegu e Mumbai), estão sendo construídos monotrilhos em Riad (Arábia Saudita), Qon e Kermanshah (Irã) e Port Harcout (Nigéria). Todos incomparáveis com os de São Paulo em termos de extensão e (ou) capacidade de sistema. A linha de Port Harcout (Nigéria) foi descartada porque pretende atender uma faixa de demanda média (a lotação de cada composição é de 200 passageiros). O projeto é polêmico e, por enquanto, está restrito a um trecho com menos de 3 km. O caso do monotrilho de Jacarta (Indonésia), onde as obras começaram em 2004 e foram interrompidas em 2008, é o mais complicado. O projeto atravessou vários problemas, com duas trocas de fornecedor (inicialmente era a MTrans, que faliu, depois, a Hitachi e a coreana Maglev). Foi oficialmente abandonado e a administração local chegou a publicar, em 2011, a intenção de aproveitar os pilares já executados para construir um elevado para BRT. Após os percalços, as obras foram retomadas em 2013. O projeto atual prevê duas linhas de aproximadamente 14 km, uma radial e outra circular. Apesar da considerável extensão, não foram incluídas nesta análise por conta da falta de dados disponíveis. As linhas de Teerã (Irã) e Manaus também não foram consideradas. A primeira foi cancelada e a segunda atravessa incertezas quanto a sua realização, uma vez que o projeto foi excluído, por atraso, da matriz de responsabilidades da Copa do Mundo. A licitação dessa linha acabou sendo suspensa pela Justiça Federal do Amazonas em outubro de 2013. 33. Também conhecido como índice de conforto. 37 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 37 03/12/2014 15:33:52 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 38 2013 (prev.) Scomi Scomi Hitachi/ Woojin Kuala Lumpur (Malásia) Mumbai (Índia) Daegu – Linha 3 (Coréia do Sul) Scomi/MPE SP – Linha 17 (Aeroporto) – 2015 (prev.) 2014 (prev. T1) 2017 2014 (prev.) 2011 16,9 Extensão (km) 20,5 17 24 24,0 11,3 8,6 55,5 18,0 16,0 28,0 11 Estações (unid.) 18 18 17 30 11 11 39 18 19 18 1,5 Distância entre estações (km) 1,1 0,9 1,4 0,8 1,0 0,8 1,4 1,0 0,8 1,6 3,3 Headway (min. na HP) 2,0 5,0 1,5 3,5 3,0 5,0 2,0 3,5 10,0 6,5 340.000 252.000 500.000 – 125.000 65.000 500.000 – 106.000 88.000 138.000 Embarques (usuários/dia) * Considerando 6 passageiros/m², de acordo com especificações de cada fabricante. ** Capacidade de sistema (cálculo nosso): capacidade de composição multiplicada pelo headway máximo. SP – Linha 18 (ABC) Indefinido Bombardier SP – Linha 15 (Tiradentes) Brasil 2003 Hitachi + Changchun 2005 Chongqing – Linha 3 (China) 1998/2000 Hitachi Hitachi + Changchun Tama (Japão) Chongqing – Linha 2 (China) Hitachi 1964 1990/1997 Hitachi Fabricante Osaka (Japão) Inauguração (ano) Tóquio (Japão) Linha 0 25.000 8.300 (2031) – – – – 10.512 Carregamento (usuários/hora) Tabela 2 Linhas de monotrilho de maior capacidade em 2013 (existentes, em obras, ou em projeto) Cap. composição* (usuários/trem) 840 400 1.002 398 568 430 962 632 1.292 415 – 1.100 – Cap. sistema** (usuários/hora) 21.640 4.800 40.080 6.823 11.360 3.400 28.860 12.600 (4 carros) 32.000 (8 carros) – – Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre 38 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... A tabela 2 mostra que as composições utilizadas nos monotrilhos mais pesados comportam de 400 a 1.000 passageiros.34 Um bom parâmetro para situar os limites do material rodante está nas faixas de capacidade dos veículos de alguns modos de média e alta capacidade, que têm sido mais implantados recentemente (capacidade em passageiros por unidade operacional):35 - BRT (Bus Rapid Transit): 40-150 - Metrô Leve (LRT, Light Rail Transit): 110-250 - Metrô (RRT, Rapid Rail Transit): 140-2.400 A capacidade nominal das composições da linha 15 e das linhas de Chongqing (da ordem de 1.000 passageiros) é bastante alta se comparada aos demais monotrilhos. Entretanto, ainda que possa ser enquadrada nos abrangentes limites do metrô apresentados é significativamente inferior à capacidade nominal dos trens das linhas 1 e 3 do Metrô de São Paulo – que se encontram na casa dos 2.200 passageiros36 – e ao limite da categoria (2.400 passageiros). Vale ressaltar que tanto os valores da linha 15, quanto os das linhas 1 e 3 foram calculados com base na taxa de ocupação de seis passageiros (de pé) por m². Portanto, sob as mesmas condições operacionais (intervalo entre as composições e taxa de ocupação dos trens), a linha 15 tem um pouco menos do que a metade da capacidade dos trens de metrô mais carregados de São Paulo – proporção que se reflete na capacidade geral dos dois sistemas, pois o intervalo (headway) pretendido para a operação da linha 15 é praticamente o mesmo do praticado nas linhas de metrô paulistanas.37 34. S obre o tamanho das composições, algumas considerações. A maioria dos monotrilhos “novelty”‘ possui, no máximo, dois carros por composição. Todos os monotrilhos da tabela 2 têm mais de quatro carros, com exceção das linhas de Daegu e Kuala Lumpur. Atualmente, as composições dessa última operam com dois carros, contudo há uma previsão de aumento para quatro, que foi a situação considerada na tabela 2. Os monotrilhos de Chongqing também estão preparados para operar trens maiores (com oito carros), nesse caso constam tanto os dados da situação futura (oito carros), quanto da atual. A linha 15 de São Paulo prevê material rodante com sete carros e, mesmo assim, apresenta expectativa de carregamento maior do que o de Chongqing com oito carros. 35. A dificuldade de se comparar modos de transporte tem aumentado nos últimos anos, muito por conta de certa dilatação dos parâmetros de classificação tradicional. Os limites das faixas de demanda, velocidade e frequência de cada modo têm sido esticados seja pela implementação de inovações tecnológicas (nos sistemas de sinalização e controle), seja por meio de medidas controversas que pioram o conforto dos usuários (como, por exemplo, a retirada de assentos dos veículos). Ainda que se considere tal diluição de parâmetros, é possível identificar as “faixas de domínio” de cada modo e as fornecidas por Vuchic estão bem atualizadas em relação a essas mudanças em curso (Vuchic, 2007, p. 76). 36. De acordo com os sites do Metrô e da CAF, que fornece parte do material rodante ao Metrô de São Paulo. 37. Por essa razão, a capacidade do sistema da linha 15 (40 mil usuários/hora, para um intervalo de 90 segundos) é a metade do limite operacional do metrô (88 mil passageiros/hora), se considerado o mesmo intervalo de 90 segundos (frequência de 40 trens/hora). 39 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 39 03/12/2014 15:33:52 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Intervalo entre as composições (headway) A lotação dos trens, contudo, não é suficiente para explicar a diferença de capacidade de sistema existente entre a linha 15 de São Paulo e a linha 3 de Chongquing (atualmente a mais carregada do mundo).38 A chave da questão está justamente na frequência (ou no intervalo, que é o seu inverso). Com exceção da linha 17 (Aeroporto) – de caráter operacional mais próximo do convencional – os monotrilhos de São Paulo estão sendo construídos para operarem com intervalos muito baixos. O da linha 18 (ABC) – 120 segundos – é equivalente ao da linha 3 de Chongqing, enquanto o da linha 15 é ainda menor (90 segundos), gerando uma capacidade geral de sistema de 40 mil passageiros/ hora.39 O principal elemento tecnológico que permite a obtenção de menores intervalos, conforme apreendido em documentos oficiais da Companhia do Metrô, é o sistema de controle tipo CBTC (communication based train control).40 A China é um dos lugares onde mais se implanta sistemas CBTC e, ainda assim, o intervalo do monotrilho da linha 3 de Chongqing não é menor do que 120 segundos. Em artigo publicado em 2012 na Hitachi Review, afirma-se que a linha chinesa – a primeira experiência de implementação do CBTC da Hitachi fora do Japão – foi desenvolvida desde o princípio para incorporar a tecnologia mais avançada de operação automática (driverless operation), “permitindo serviços de alta densidade com intervalo entre os trens de apenas 120 segundos”.41 Embora não haja nada no artigo que permita concluir que 120 segundos seja o limite da tecnologia, o texto fornece alguns indícios de que a meta de 90 segundos de intervalo almejada para a linha 15 é bastante ambiciosa (o que dirá a de 75 segundos). Os autores afirmam, categoricamente, que é mais difícil obter intervalos menores com monotrilhos do que com metrô convencional. Além dos gargalos provocados pelos dispositivos de mudança de via e de sentido – mais lentos que os dispositivos dos sistemas sobre trilhos convencionais 38. De forma diversa à linha 2 de Chongqing, cujo dado da capacidade nominal do sistema foi encontrado (Hitachi Review, vol. 54, nº 4, 2005), a capacidade da linha 3 foi calculada a partir dos dados de capacidade da composição e do intervalo, ambos extraídos de outro artigo do mesmo periódico (Hitachi Review, vol. 61, nº 7, 2012). 39. Os dados oficiais (apresentados no EIA-Rima, no edital da licitação e nos sites do Metrô-SP e da Bombardier) apontam para um intervalo operacional de 90 segundos e um intervalo de projeto de 75 segundos. Por essa razão, está sendo considerado apenas o intervalo de 90 segundos e o seu correspondente de capacidade – 40 mil passageiros/ hora. 40. Basicamente, o CTBC é um sistema de controle que permite maior proximidade entre os trens em circulação. A grande novidade é a transformação dos segmentos de controle, até então fixos, em unidades móveis. Com o CBTC é possível determinar a posição dos trens em operação com maior precisão do que a obtida por meio dos métodos convencionais. Com menos erro, é possível diminuir a distância de segurança entre as composições e aumentar a frequência do sistema. 41. Hitachi Review, 2012 (p. 347). 40 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 40 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... – os autores apontam para o fato de que as taxas de aceleração e frenagem dos monotrilhos são naturalmente mais baixas.42 Tabela 3 Aceleração e frenagem (modos genéricos e linhas de monotrilho) Modo / linhas Metrô (RRT) VLT Trem regional Metrô São Paulo – L1 e L3 Monotrilho Chongqing – L2 Monotrilho Dubai Monotrilho São Paulo – L15 Aceleração (m/s2) 1,4 1,3 1,3 1,1 Desaceleração (m/s2) – – – 1,5 Frenagem emergência (m/s2) 2,1 3,0 1,4 1,2 0,8 1,1 1,3 1,0 1,1 1,3 1,0 1,0 – Fonte: Categorias genéricas – Vuchic, 2007; Metrô de SP – CAF (sítio); monotrilhos de SP e Dubai – Bombardier (sítio); monotrilho de Congqing – Hitachi Review (2005). A experiência acumulada mostra que os monotrilhos apresentam maior dificuldade de aceleração e frenagem. De fato, apesar do tipo de suporte (pneu sobre viga de concreto),43 os monotrilhos apresentam taxas de aceleração e frenagem mais próximas das dos trens de baixa densidade de serviço do que das do metrô, como pode ser visto na tabela 3 acima. A distância entre as estações é um fator que também está relacionado com o desempenho de aceleração e frenagem. A baixa densidade de paradas que as linhas de monotrilho apresentam em geral é uma evidência de que os monotrilhos necessitam de maiores deslocamentos para vencer a inércia, o que dificulta a implantação de estações muito próximas. Um dos aspectos que caracteriza o modo metrô (e o diferencia dos demais modos de alta capacidade, como o trem metropolitano) é justamente a maior densidade de paradas.44 A distância entre estações de uma linha de metrô pode chegar a até 500 m, algo difícil de se obter com um desempenho de marcha como o do monotrilho.45 42. “The nature of monorails vehicles means that their accelerations, decelerations and top speeds are slower than those of conventional underground rolling stock”. Hitachi Review, 2012, p. 350. 43. Sabe-se que os veículos sobre pneus tendem a apresentar melhores condições de aceleração e frenagem, por conta da maior aderência da roda sobre a superfície de contato. 44. Não tão alta quanto a do ônibus convencional, mas a maior dentre os modos de alta capacidade. De acordo com Vuchic, a distância entre estações dos sistemas de metrô se encontra na faixa de 500 m a 2 km. As redes de metrô de Paris e Barcelona, por exemplo, apresentam distância média entre estações de 700 m, chegando a menos de 500 m, em alguns casos (Sort, 2006, p. 183). 45. As linhas que conseguem operar os intervalos mais baixos apresentam distância média entre estações maiores do que 1 km; linha 15 e linha 3 de Chongqing com cerca de 1,4 km; e linha 18 com cerca de 1,2 km. 41 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 41 03/12/2014 15:33:52 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Tecnologia Do ponto de vista tecnológico, portanto, duas conclusões podem ser tiradas. A primeira é que as características tecnológicas dos monotrilhos mais determinantes em termos de desempenho não são as mais apropriadas ao transporte de massa de alta densidade de serviço. Em outras palavras, os sistemas de monotrilhos não são a melhor escolha para exercer tal função. Em segundo lugar, para atender a faixa de alta capacidade, os monotrilhos têm de operar em condições extremas, desde o princípio. Fator importante a ser considerado, uma vez que além de eliminar qualquer possibilidade de ampliação futura do atendimento, aumenta-se o custo operacional relativo, como se verá à frente. Concretamente: a linha 15 de São Paulo já vai iniciar sua operação com a capacidade saturada. Ainda que seja possível alcançar o índice pretendido de 40 mil passageiros/ hora – e que esse valor esteja na faixa de domínio do metrô (segundo Vuchic, de 10 mil a 70 mil usuários/ hora)46 – esse feito só pode ser obtido em condições limítrofes. Segundo os parâmetros do mesmo autor, a faixa de capacidade mais apropriada para os monotrilhos está mais para a intermediária (de 4 mil a 20 mil usuários/ hora) do que para alta capacidade.47 Aspectos espaciais A discussão sobre as “vantagens” e “desvantagens” dos monotrilhos pode ser feita com um pouco mais de sentido após a análise, ainda que simplificada, sobre sua capacidade, (como a apresentada acima). E a partir dela uma observação metodológica se impõe: comparar, de maneira abstrata, características construtivas de linhas de monotrilho com linhas de metrô subterrâneo é um erro, pois, como demonstrado, trata-se de modos distintos, que servem a objetivos igualmente distintos. Não podem ser comparados, pois não pertencem à mesma categoria. A ideia de tratar tais aspectos como “vantagens” ou “desvantagens” será aqui rechaçada por esses termos carregarem o sentido de concorrência (a vantagem de algo só pode existir em relação aos seus concorrentes). Em vez disso, é preferível avaliar os limites dessas características no cenário de utilização dos monotrilhos na função de transporte de massa. A maior leveza e a menor intrusão na paisagem, que tanto a via quanto as estações possuem, são elencadas como um dos principais aspectos positivos dos monotrilhos. Como “maior” e “menor” são adjetivos comparativos, é evidente que a leveza e intrusão só podem ser julgadas em 46. Vuchic, 2007, p. 76. 47. Idem, ibidem, p. 77. 42 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 42 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... referência aos elevados ferroviários convencionais, indiscutivelmente mais pesados. Embora a afirmação seja verdadeira – objeções à comparação à parte – não se pode negar que os monotrilhos também provocam significativa obstrução visual, ainda que menor do que a dos outros elevados.48 E, mais importante ainda, os efeitos positivos desse aspecto são tanto mais atenuados quanto maior for a capacidade do sistema. Uma linha como a de Shônan, em via singela, é muito mais leve do que as vias que estão sendo construídas em São Paulo. Isso ocorre não apenas porque as composições maiores demandam estruturas mais robustas – por conta do maior carregamento e complexidade – mas também porque exigem estações maiores. Nessa situação, as plataformas tendem a ser mais compridas e, com mais passageiros circulando, o aparato de circulação vertical necessário torna a edificação das estações ainda mais intrusiva na paisagem urbana.49 A possibilidade de elaboração de traçados com parâmetros geométricos menos restritivos é mais um aspecto positivo que é atenuado à medida da ampliação da necessidade de se operar intervalos pequenos. Ainda que rampas de 6% e raios de 50 m possam ser tolerados nos sistemas de monotrilho, a sua utilização compromete o diagrama de marcha da linha. As características operacionais requisitadas pela função de transporte de massa acabam limitando os parâmetros geométricos em maior medida do que a tecnologia, propriamente. Um exemplo disso pode ser encontrado no EIA-Rima da linha 18 que apresenta especificações de traçado – máximo de 4% de rampa, mínimo de 100 m de raio de curva horizontal – mais severos do que a tecnologia permite.50 A única vantagem dos parâmetros geométricos menos restritivos do monotrilho é a maior possiblidade de se compatibilizar seu traçado com eixos viários existentes. Por essa razão, os monotrilhos em geral se limitam à reprodução do desenho geométrico das vias que precederam sua implantação. Demery afirma que a maior parte dos 110 km de linhas de “monotrilhos urbanos” existentes no Japão possuem o traçado implantado ao longo de eixos viários, sendo muitos de vias expressas.51 Mas, se, por um lado, a implantação de um monotrilho sobre uma avenida existente produz como ganho o incremento de 48. Sem mencionar o fato óbvio de que a intrusão das vias subterrâneas é nula. Logo, se o intuito é comparar com outros modos, a comparação deveria ser feita em relação às demais formas de implantação – vala, túnel, trincheira, segregado em superfície e elevado convencional. 49. Tanto as plataformas da linha 3 de Chongqing, quanto as da linha 15 de São Paulo tem 90 m de comprimento, ao passo que, nos demais monotrilhos, as plataformas têm no máximo 60 m. 50. Ver item 7.3.3 – Características operacionais básicas, no volume I do EIA-Rima (p. 186). Mais à frente, no mesmo documento, é possível perceber que não há, de fato, nos mais de 20 km de traçado do projeto funcional, nenhuma rampa com inclinação superior a 3,2%. 51. Quando não construídos sobre vias existentes, as linhas foram projetadas para aproveitar a interdição de obras de novas avenidas que já estavam programadas (Demery, 2005, p. 4). 43 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 43 03/12/2014 15:33:52 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre capacidade e de tempo de viagem dos deslocamentos, por outro, representa, simultaneamente, a perda de uma característica fundamental dos transportes de massa – qual seja, a de seu potencial de transformação da divisão modal, da matriz de deslocamentos e, em última instância, do próprio espaço urbano. No caso de São Paulo, onde há uma carência indiscutível de novos eixos de deslocamento, essa perda é muito significativa. A estrutura morfológica (hídrica e topográfica) do sítio urbano paulistano é de natureza centrípeta. Esse fator, aliado ao histórico baixo nível de investimento em infraestrutura praticado no Brasil, privilegiou a construção de eixos radiais de circulação, pois esses demandam menor esforço. O aspecto radial da estrutura viária principal, sem amarrações suficientes entre seus tramos, impõe um sistema de poucas possibilidades de deslocamento e de baixíssimo nível de eficiência. Provoca um elevado diferencial de carregamento nos sentidos opostos, acarretando simultaneamente sobrecarregamento e ociosidade da rede. A elevação do padrão de performance dos serviços passa, portanto, por uma melhor distribuição dos deslocamentos. Isso significa que, além de aumentar o nível de investimento em infraestrutura – muito acanhada para o volume e padrão de viagens da RMSP – é preciso colocar em pauta a abertura de novos eixos de circulação, transversais às vias de espigão e de fundo de vale consolidadas. Um traçado de fundamental importância, como o da linha 2-Verde do Metrô – que atravessa sucessivos vales e espigões, na zona Leste da cidade –, seria praticamente inviável com monotrilhos (ou com qualquer modo baseado em via elevada). A razão é a usual subordinação deles à estrutura viária. Ou, dito de outra forma, para vencer acidentes topográficos com base na nossa pobre malha viária, um monotrilho precisaria seguir traçado extremamente sinuoso, condenado à rede de vias locais que acompanham a topografia. O caso da linha 17- Ouro ajuda a ilustrar a questão. É evidente que o caminho estabelecido no projeto funcional não é o mais curto e direto para atender a sua diretriz de transporte, qual seja, conectar o aeroporto de Congonhas à malha da CPTM (ao cruzar com a linha 9-Esmeralda) e à rede de metrô (integrando-se à linha 4 na estação Morumbi). O aproveitamento da av. Jornalista Roberto Marinho (avenida de fundo de vale) é compreensível, pois sua seção transversal é bastante generosa, mas o enorme desvio necessário para contornar a área de relevo mais movimentado implica em um traçado muito mais extenso. Se fosse subterrânea a linha, em vez de correr em paralelo ao trem da marginal Pinheiros, depois seguir pelos vales dos córregos Panamby e Antonico, poderia optar por um caminho mais curto, passando por baixo do Real Parque e do Jardim Leonor, por exemplo. 44 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 44 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... Figura 1 Linha 17-Ouro Montagem nossa com base em imagens do EIA-Rima, cf. Companhia do Metropolitano..., 2010. Em cinza (traço simples), as linhas do metrô 1 e 5 (com o trecho Adolfo Pinheiro – Klabin ainda em construção); em traço duplo, os três segmentos da linha 17-Ouro. Uma eventual implantação mista, ainda em monotrilho, com um trecho elevado (sobre a av. Roberto Marinho), seguido de um trecho subterrâneo, também seria uma alternativa. Entretanto, embora túneis sejam admissíveis na condução de monotrilhos,52 se comparados aos dos metrôs convencionais, exigem escavações com seções transversais maiores e, portanto, mais caras. Isso ocorre porque os sistemas de monotrilho (sobretudos a tipologia Alweg) requerem trens com mecanismos de engrenagens e rodas bastante complexos, que ocupam mais espaço e fazem com que a altura da composição seja maior do que a dos veículos sobre trilhos convencionais. Dentre o conjunto de aspectos problemáticos atribuídos aos monotrilhos, um dos mais citados é a dificuldade de evacuação em situações de emergência. As providências recomendadas para sua mitigação, contudo, acarretam outros problemas: as passarelas de emergência, geralmente em estrutura metálica, contribuem para o aumento da obstrução visual das linhas. Em adição, a necessidade de se poder contar com vias de apoio 52. Existem alguns casos de túneis para monotrilhos (como em determinados trechos das linhas de Chongqing) que são perfurações curtas, feitas apenas para vencer obstáculos de relevo. Não há nenhum caso de monotrilho totalmente subterrâneo. 45 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 45 03/12/2014 15:33:52 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre para trânsito de veículos de resgate induz o projeto do traçado ao alinhamento dos eixos viários existentes ou demanda a construção de novas vias, aproximando o custo de implantação ao do metrô. Merece comentário, ainda, a dificuldade de se operar a mudança de via. Os AMV (aparelhos de mudança de via) dos monotrilhos consistem em vigas móveis, cujos deslocamentos consomem mais tempo e requerem mais espaço que as chaves dos sistemas ferroviários tradicionais.53 Os cruzamentos de via são ainda mais complexos e os pátios de manobra requerem maior espaço – ambos afetando o custo global. Evidentemente, quanto maior o carregamento, maior é o impacto desses aspectos na operação. Custos comparativos Por todas as considerações acima apontadas, o cotejamento dos custos de implantação entre os sistemas de metrô e de monotrilho deve ser feito com o devido cuidado. Comparações de custos relativos por quilômetro, em abstrato, não servem para muita coisa. Não podem ser desprezadas, tampouco, as diferenças em termos do benefício relativo que os diferentes modos proporcionam – sejam em termos de capacidade de sistema, sejam no tocante à organização espacial. Demery mostra que todas as linhas de monotrilho do Japão, com exceção do monotrilho de Tóquio, foram construídas por meio de parcerias público-privadas nas quais coube ao ente privado o material rodante e a construção da via permanente (apenas da via e das estações, sem os custos de urbanização). O Estado, sempre com a maior fatia dos encargos, assumia em geral, os custos de urbanização, as obras viárias associadas e as desapropriações.54 Em São Paulo, muitas vezes os dados relativos aos custos das obras das linhas de monotrilho correspondem apenas à contraparte dos consórcios vencedores das licitações. O custo global correto, para ser passível de comparação, teria de incluir as despesas com as obras viárias, urbanização e com as desapropriações (que em geral ficam a cargo do Estado). A análise de custos, evidentemente, não pode se restringir apenas ao capital fixo (de implantação da linha). É necessário incluir o capital variável, consumido ao longo da operação. Muitos são os indícios de que o custo operacional dos monotrilhos é demasiadamente alto. Em boa parte das cidades que possuem monotrilhos urbanos há uma significativa diferença no valor de suas tarifas em relação aos demais modos. Embora tal afirmação não seja suficiente para sustentar a tese 53. Vuchic, 2007, p. 472. 54. Quando não construídas sobre vias existentes, as linhas japonesas foram projetadas em operação casada com obras viárias de grande porte, já programadas. O monotrilho de Kitakyushu, por exemplo, foi planejado para ser construído sobre uma via expressa elevada, para automóveis, ainda em projeto (Demery, ibid). 46 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 46 03/12/2014 15:33:52 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... de que sua operação é mais cara (depende de outros fatores, entre os quais o nível de subsídios ou o perfil de viagens que atendem) – ela é um indício disso, ainda mais se associado ao fato de que muitos monotrilhos atravessaram crises financeiras por não conseguirem cobrir os custos com as receitas de bilhetagem.55 Quanto aos custos relativos ao aspecto operacional do sistema, sabese que o exercício da função de transporte de massa – alta capacidade e alta densidade de serviço – diminui a produtividade dos monotrilhos. Isso ocorre porque o simples fato de operar no limite da capacidade eleva, significativamente, o custo relativo do passageiro transportado.56 Figura 2 Impacto da capacidade de via e veículo sobre unidade de custo Apesar do gráfico representar um modo específico (automóvel), o comportamento da variação de custo relativo por volume de passageiros vale para qualquer modo. De acordo com Vuchic, o custo total de cada modo decresce com o acréscimo do volume de passageiros e alcança um ponto ótimo, a partir do qual, quando a capacidade do sistema é alcançada, os custos crescem vertiginosamente. 55. Ainda que seja da natureza do transporte urbano apresentar operação deficitária, essa pode ser tolerada até certo nível. Wright aponta para o reflexo das dificuldades financeiras nas altas tarifas em vários casos de monotrilhos, como Kuala Lumpur, Las Vegas e Osaka, entre outros. O caso de Kuala Lumpur é um dos mais problemáticos. Em 1998, a MTrans, uma empresa malaia, assumiu o projeto no lugar da Hitachi e reiniciou as obras que haviam sido abandonadas no ano anterior. A linha foi inaugurada em 2003 e sua operação foi concedida a um consórcio privado, a KL Infrastructure. Depois de sofrer com a baixa rentabilidade (mesmo operando com tarifas mais altas que as dos demais modos da metrópole) a KL Infrastructure faliu e sua operação foi assumida pela estatal Prasarana. A Socomi comprou a MTrans e hoje é a fornecedora do monotrilho de Kuala Lumpur. A linha tem operado um carregamento 35% superior à sua capacidade máxima. Um projeto previsto para 2013 para duplicar as composições (de dois para quatro carros) está nos planos (Cf. Wright, 2005 e KL Monorail expansion plan on track and proceeding smoothly. Disponível em: http://www.myrapid.com.my/news-events/media-releases/2012/kl-monorail-fleet-expansion-plan-track-and-proceeding-smoothly.). 56. Vuchic, 2007, p. 57. 47 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 47 03/12/2014 15:33:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Tempo de obra As mesmas ressalvas que se fazem quanto às eventuais vantagens relativas aos custos da obra podem ser feitas em relação aos tempos envolvidos em sua implantação. Quanto maior a capacidade do sistema e maior o potencial de transformação que lhe é inerente, maior tende a ser o tempo necessário à realização da obra. Os monotrilhos de maior porte – com exceção do monotrilho de Tóquio, que é um caso à parte – levaram bastante tempo para serem construídos. A tabela 4 mostra que, baseado na experiência acumulada de monotrilhos de alta capacidade, ainda não é possível confirmar a suposição de que a construção de monotrilhos é significativamente mais rápida que a de linhas de metrô subterrâneas. A própria construção da linha 15 não corrobora essa hipótese. Apenas o trecho inicial de cerca de três km e duas estações, com inauguração em 2014, consumiu quatro anos em sua construção. Tabela 4 Tempo de construção de alguns monotrilhos Linha Construção (tempo aprox.) Extensão (km) Ritmo km/ano Kitakyushu 7 anos (1978 a 1985) 8,8 1,3 Chiba 18 anos (1981 a 1999) 15,2 0,8 Osaka (tronco) 15 anos (1982 a 1997) 21,8 1,5 Tama 10 anos (1990 a 1998) 16,0 1,6 Naha (Okinawa) 7 anos 1996 a 2003) 13,0 1,9 Chongqing – Linha 2 6 anos (1999 a 2005) 18,0 3,0 Kuala Lumpur 5 anos (1998-2003) 8,6 1,7 Metrô-SP – Linha 4 7 anos (2004 a 2011) 12,8 1,8 Metrô de Tóquio Linha E – Oedo 12 anos (1988-2000) 40,7 3,4 8,9 1,3 Metrô de Tóquio 7 anos (2001-2008) Linha F – Fukutoshin (Trecho 2) Constituição de redes O último aspecto que merece comentário é o que diz respeito à possibilidade, ou facilidade, de se organizar linhas de monotrilho em redes. Considerando sua faixa mais confortável de operação, compatível com as demandas típicas de aglomerações de porte médio, monotrilhos poderiam comparecer como alternativas para a constituição de redes estruturais desses centros, como ocorre com o VLT. Não há, porém, casos concretos para endossar a suposição. Quase todos os projetos de redes de monotrilhos falharam em seu intento. Além do caso de Los Angeles (abandonado ainda em fase de projeto), a linha 48 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 48 03/12/2014 15:33:53 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... Kokura (Kitakyushu, Japão) inaugurada em 1985 fazia parte de um plano de rede de três linhas que, depois das dificuldades de operação da primeira linha, foi engavetado.57 Dentre os fatores técnicos que concorrem para essa situação, a comentada dificuldade de operar mudanças de via e cruzamentos compromete alguns tipos de arranjos próprios de redes ferroviárias (como ramal, corredor duplicado e serviço expresso), o que implica em menor flexibilidade de traçado. O caso do sistema “Y” de Chiba é discutível, pois o intervalo entre trens na hora pico é de 10 minutos (no vale é de 26 minutos), o que provavelmente se deve ao gargalo da mudança de via. Os casos de Chongqin, Jacarta, São Paulo e, sobretudo, Mumbai (cuja monotrilho em construção faz parte de um plano de sete linhas), são laboratórios de uma nova proposta: conferir-lhes um papel importante na formação de uma rede híbrida de alta capacidade. São casos muito recentes e merecem estudos aprofundados. Por ora, e mais importante, é possível dizer que a mencionada alta dependência dos monotrilhos em relação a avenidas largas restringe, consideravelmente, o universo de possibilidades de seu traçado em rede. Aspecto que é mais problemático ainda em uma metrópole como São Paulo, carente dessas vias. Observações finais O planejamento de transportes não deve se restringir apenas à tarefa de dimensionar um serviço para atender a determinada faixa de demanda. Uma nova linha de transporte não pode ser pensada de maneira isolada, pois sua implantação transforma não apenas a sua área de atendimento lindeiro, mas também o sistema de transporte da metrópole como um todo (principalmente por alterar a maneira pela qual as demais linhas se relacionam em rede). É claro que isso ocorre em diferentes graus de intensidade entre as diversas porções do espaço, e varia de acordo com o porte de cada nova infraestrutura acrescentada. As linhas de mais alta capacidade tendem, obviamente, a provocar transformações mais significativas. Por essa razão, além de corresponderem à demanda de transporte já configurada, também é papel dos modos de alta capacidade ser ferramentas de transformação do espaço. Sob esse ponto de vista, os modos de transporte – cujo desenho seja contingenciado pela relativa riqueza, pobreza, grau de homogeneidade ou diferenciação espacial da rede viária existente – apresentam menor potencial de transformação do espaço urbano do que os que não possuem esse vínculo tão estreito. 57. Cf. Demery, 2006. 49 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 49 03/12/2014 15:33:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Demery afirma claramente que o monotrilho não é adequado para exercer um papel na rede de transporte estrutural. This generated some interest in monorail technology, but planners concluded that monorails were not suitable for the busiest trunk lines in Japan’s largest cities. (...) Japanese planners chose metros in corridors where traffic justified investment for new urban transport facilities. Short test lines and even the Tôkyô Monorail demonstrated that monorails could not carry the anticipated peak-period traffic volumes (Tôkyô metro lines carry up to eight times more traffic during the busiest hour than the Tôkyô Monorail). In addition, monorails are not compatible with conventional rail lines, and capability for through operation.58 De maneira simplificada, é possível afirmar que a tecnologia é o fator que determina: em primeira instância, a capacidade de transporte dos veículos e composições; e apenas em segunda (e até a um certo limite), a capacidade (fluxo) de veículos por rota operada. Essa última, por sua vez, está mais diretamente relacionada com o nível de segregação da via do que com a tecnologia propriamente. Assim, o nível de segregação (ou direito de via) parece constituir o fator mais determinante em termos de capacidade de sistema. Entretanto, mesmo o atributo “segregação total de via” é insuficiente para estabelecer um campo homogêneo. Existem formas diferentes de separar uma via das demais, sendo que a segregação em nível é, sabidamente, a mais desastrosa do ponto de vista urbanístico. Não apenas por que atua como barreira, seccionando o tecido urbano, mas também porque depende da infraestrutura instalada na superfície. Os elevados são melhores por que não provocam essa “compartimentação”, mas ainda são, em grande medida, dependentes da estrutura viária. A rede viária subterrânea também não é totalmente independente. Primeiramente, devido às restrições técnicas impostas pelas fundações das edificações maiores e do restante das infraestruturas enterradas. De modo mais significativo, porque seus pontos de contato com o chão da cidade não são mera tecnicalidade: assinalam ou inauguram pontos fundamentais no que diz respeito aos fluxos de deslocamentos. Mas, por conta dessa relativa autonomia, da forma seletiva de estabelecer contatos e do potencial de abrir novas possibilidades de deslocamento, o subterrâneo constitui a opção de implantação de maior potencial de transformação do espaço. Portanto, se a associação entre direito de via, tecnologia e serviço é o bastante para determinar a faixa de capacidade de um modo, o mesmo não se diz em relação ao papel urbanístico que ele possa desempenhar. Em outros termos, é preciso um segundo nível de análise, com a consideração de uma nova categoria, que diz respeito ao tipo de implantação da via permanente. Muitos se referem a esse 58. Demery, 2005, p. 35. 50 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 50 03/12/2014 15:33:53 Sistemas de monotrilho como transporte de massa: considerações a respeito de ... aspecto como “inserção urbana”, que é um termo vago e até equivocado, por tratar a infraestrutura como algo acessório (a ser acrescentado) ao espaço, quando, de fato, a infraestrutura é o próprio estofo do espaço.59 Na falta de um termo apropriado, adotamos, provisoriamente, a expressão tipologia de implantação, pois carrega, em seu significado, um pouco do caráter espacial que as infraestruturas de transporte possuem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOMBARDIER, Innovia monorail 300 technology - automated monorail system. Berlim: Bombardier Transportations (brochure). BOULADON, G. The transport gaps. In: Science Journal, abril 1967, Londres, Associated Iliffe Press, 1967. DEMERY Jr., Leroy W. Monorails in Japan, an overview. Vallejo: Public Transit. US, 2005. NEHASHI, Akira. New types of guided transport. In: Japan Railway & Transport Review, nº 26, 2001, p. 56-67. SÃO PAULO. Companhia do Metropolitano de. EIA-Rima - Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental: Linha 17-Ouro – Ligação do Aeroporto de Congonhas à rede metroferroviária. São Paulo: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2010. __________. EIA-Rima: Linha 18-Bronze – Trecho Tamanduateí – Alvarenga. São Paulo: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2012. __________. Linha 17-Ouro – Jabaquara – São Paulo-Morumbi da Linha 4 – Ramal Congonhas: diretrizes básicas de projeto. São Paulo: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2010. __________. Linha 2-Verde, Trecho Oratório – Cidade Tiradentes. Estudo de impacto ambiental. São Paulo: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2010. SEKITANI, T.; HIRASHI, M.; YAMAZAKI, S.; TAMOTSU, T. China’s first urban monorail system in Chongqing. In: Hitachi Review, vol. 54, nº 4, 2005. SORT, Jordi J. Redes metropolitanas. Barcelona: Gustavo Gili, 2006. TAZAKI, T.; LI, Z.; SANJO, K.; SAKAI, K.; SHIMADA, I.; TAOKA, H. Development of CBTC for global markets. In: Hitachi Review, vol. 61, nº 7, 2012. VOICE, David. Monorails of the world – a history of passenger monorails. Brora: Adam Gordon, 2010. VUCHIC, Vukan R. Urban transit – systems and technology. New Jersey: John Wiley & Sons, 2007. WRIGHT, Lloyd. Monorails: back to the future. In: ITDP (Institute for Transportation & Development Policy) Special Reports. Disponível em: http://www.itdp.org/news/ special-report-monorails-back-to-the-future. 59. Portanto, não faz sentido inserir “no espaço urbano” algo que, por natureza, é espaço urbano. 51 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 51 03/12/2014 15:33:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre 20º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito O Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito é um evento promovido bienalmente pela Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP desde 1977. O evento reúne, a cada edição, a maior comunidade técnica do setor da mobilidade urbana do país. A cada encontro uma cidade se coloca como anfitriã do evento. Nesta 20ª edição, o Congresso ocorrerá em Santos, importante cidade litorânea no Estado de São Paulo. Fundada em 1546, Santos dista 72 quilômetros da Capital. Aos 468 anos de existência, com 433.153 habitantes, é a 10ª maior cidade do Estado de São Paulo, e ostenta o 5º lugar no ranking de qualidade de vida dos municípios brasileiros, conforme Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aferido pela ONU com base nos níveis de expectativa de vida, educação e PIB per capita. Cidade histórica, é conhecida internacionalmente por abrigar o maior porto da América do Sul – o Porto de Santos–, por onde passam 25% de toda a carga brasileira do comércio internacional e onde aportam navios de cruzeiros marítimos. Com forte economia e vocação para o lazer, Santos tem muitos atrativos, como os sete quilômetros de praia, acompanhados pelo maior jardim de orla do mundo. A discussão da qualidade do transporte público, tarifa e financiamento tomaram conta da agenda nacional, não só de governos, como também da sociedade. Nos seus 37 anos de história, a ser comemorado em junho de 2014, a ANTP participa deste processo, reafirmando a importância do papel do transporte público para a construção das cidades brasileiras e cujas soluções, sendo adotadas em todos os cantos do país, poderão contribuir ou não com a qualidade de vida dos seus habitantes. Daí a inclusão na programação do 20º Congresso da avaliação dos resultados e impactos dos projetos que fazem parte dos investimentos reunidos nos Programas de Aceleração do Crescimento PAC da Mobilidade e da Copa. O 20º Congresso também vai tratar dos avanços da luta em defesa da vida e dos compromissos com a promoção da segurança viária, como colocados na Campanha da ONU -"Década pela Segurança Viária”. Outro tema presente no 20º Congresso será o impacto do crescimento da motorização das cidades brasileiras e mundiais, uma vez que o congestionamento e a sustentabilidade do meio ambiente e da segurança viária tornaram-se importantes pilares na construção de cidades melhores para se viver. Em paralelo ao Congresso ocorrerá a IX INTRANS – Exposição Internacional de Transporte e Trânsito, cujo objetivo é apresentar as mais recentes soluções e tecnologias em matéria de equipamentos, produtos, técnicas e serviços dirigidos ao transporte público e ao trânsito. Estão sendo aguardados visitantes estrangeiros, além do público nacional constituído por Prefeitos, Secretários de Estado, autoridades federais e parlamentares, operadores públicos e privados, industriais, consultores, dirigentes sindicais patronais e de trabalhadores, acadêmicos, lideranças comunitárias, técnicos do setor e profissionais da mídia. O 20º Congresso, pela qualidade e representatividade de seus participantes, espera por você. Coloque-o em sua agenda. 52 03 138 03 Moreno Zaidan.indd 52 03/12/2014 15:33:53 PLANEJAMENTO E TRANSPORTE A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes AN P Eduardo Facchini Professor de ensino superior, mestre em Administração, Comunicação e Educação pela Universidades São Marcos, doutorando pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Engenharia Elétrica. E-mail: [email protected] Cassiano Ricardo Martines Bovo Professor de ensino superior, doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e mestre em Economia pela PUC-SP. E-mail: [email protected] Antonio Carlos de Moraes Pós-doutorado em Economia, USP, professor do Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP. E-mail: [email protected] Os administradores públicos e privados, acadêmicos e principalmente o cidadão comum, independente de sexo, cor ou etnia, em muitos casos sem nenhuma qualificação técnica ou graduação escolar, criticam, no seu dia a dia, os processos de licenciamentos ambientais e as medidas que buscam resguardar o planeta, assim como as ações governamentais que restringem a circulação de veículos. Entre elas, a implantação de rodízio por placas de veículos, pedágio urbano (cobrança por congestionamento ou pela utilização de área restrita), dentre outros. É verdade que tais artifícios e medidas podem atrapalhar ou mesmo inviabilizar empreendimentos de infraestrutura viária para a mobilidade, o estímulo de toda a cadeia industrial, de serviços (inclusive a comercialização) e interesses relacionados ao veículo automotor. A polêmica de fundo é que o automóvel busca cada vez mais espaço em um terreno finito, especialmente nos centros urbanos, demandando mais serviços públicos em diversas instâncias, requerendo muita energia por parte dos gestores das cidades e, inclusive (o que merece mais estudos a respeito, a nosso ver), desembocando em conflitos de classe que vêm se evidenciando mais recentemente (por ex., os donos de carros – em geral mais ricos – criticando a “reserva” de espaço para corredores de ônibus, mais voltados para a população mais pobre). 53 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 53 03/12/2014 15:20:25 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Alguns dos serviços demandados são mais ruas, avenidas, viadutos, operações especiais, fiscalização, sinalização viária e educação para o trânsito. Além disso, mais e melhor transporte público assim como leitos hospitalares para atender aos feridos e acidentados no embate diário do trânsito. Um bom exemplo desse desperdício de energia e recursos foi a artéria central da cidade de Boston que é um importante feixe de autoestradas que atravessam o centro da cidade. Com a evolução natural do tráfego urbano, passou por drásticas mudanças e, em um estupendo projeto que durou mais de 10 anos de construção, implicou em gastos da ordem de mais de 20 bilhões de dólares. Para não tornar ainda mais complicado o trânsito da cidade, foi preciso a construção de estradas, túneis e pontes (conjunto de obras de arte), sem interferir na rodovia existente. Um malabarismo dispendioso para não incomodar o automóvel (Jacobs, 2007). O modelo mais próximo de nós é o da cidade de São Paulo que põe em circulação por dia útil cerca de 900 novos veículos automotores, segundo registros do Detran de São Paulo, órgão responsável pelo emplacamento de veículos. As obras na Marginal Tietê, de setembro de 2009 a maio de 2011, conhecidas como a adequação viária da marginal Tietê – CET/Dersa1 realizadas pelo Governo do Estado em parceria com a Prefeitura de São Paulo, claramente com o objetivo de ampliar o espaço de movimentação dos automóveis, ao que se acrescentou o argumento de também atender ao trânsito de carga, mostram outro equilibrismo feito para assegurar a vida sem fronteiras do automóvel. Acreditamos que os modelos das cidades de Boston e de São Paulo servem para elucidar o que não deve ser feito e como uma gestão consciente, democrática e eficiente de políticas públicas faz falta no momento apropriado e em determinados casos. Boston não precisaria gastar tanto esforço e dinheiro se, ao planejar a cidade, esse cuidado tivesse sido tomado e São Paulo provavelmente nem faria as obras de adequação viária da marginal Tietê em 2009. Em ambos os casos, o tempo, os custos e os esforços perdidos não foram avaliados como elementos de tomada de decisões e as consequências desses atos sem as considerações devidas à questão da sustentabilidade tendem sempre a ser irreparáveis. Estamos nos referindo à sustentabilidade no sentido do conceito de desenvolvimento sustentável, a partir do documento Nosso futuro comum, conhecido também como Relatório Brundtland (06/maio/2014), 1. h ttp://ecourbana.wordpress.com/2009/02/16/adequacao-viaria-da-marginal-tiete/- acessado em 22/05/14. 54 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 54 03/12/2014 15:20:25 A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes na perspectiva de tentar reverter a despreocupação que houve no passado em relação ao tema e apontar para o futuro a concepção de uma nova política pública que não traga prejuízo à vida e à mobilidade de sua população. Em outros termos, que seja aceitável aos encargos momentâneos sem prejudicar a perspectiva de nossos descendentes atenderem às suas necessidades e, por esta razão irreparável, na perspectiva de se viver melhor, com mais qualidade de vida nas grandes cidades. Atentemos, também, para a Lei Federal nº 12.587/2012, conhecida como Lei da Mobilidade Urbana, de 3 de janeiro de 2012. Uma análise de seu texto permite identificar que a mesma estabelece diretrizes importantes para assegurar a sustentabilidade e a melhoria nos deslocamentos nas cidades, como o planejamento integrando transporte e uso do solo e o reconhecimento de espaço para a criação de mecanismos de controle social. Essa lei demonstra e reforça a preocupação com o uso indiscriminado do automóvel nas cidades e consiste em uma tentativa de minimizar seus danos. Dentro desse quadro, este artigo tem como propósito (sem esgotar o assunto e buscando enriquecer o debate) realizar uma reflexão de fundo que tem como pergunta: Quais os impactos atuais do uso do automóvel como transporte cotidiano nos grandes centros urbanos? Nossa reflexão não tem a pretensão de julgar o automóvel como máquina, mas, sim, de questioná-lo como meio de transporte habitual nas grandes cidades, tendo como eixo sua relação com o meio ambiente e o espaço físico, neste caso, apontando para o debate em torno da mobilidade urbana. Tanto num caso como noutro, desembocamos na relação entre o automóvel e a melhoria da qualidade vida (verdadeiro desenvolvimento humano) da maioria da população desses centros. Para atingir tal intento, dividimos o artigo da seguinte maneira: além desta introdução, numa seção abordamos os impactos do automóvel sobre o meio ambiente, em outra, fazemos o mesmo em relação à mobilidade urbana e, finalmente, tecemos nossas considerações finais. O AUTOMÓVEL E O MEIO AMBIENTE Ao conjecturarmos sobre o papel do automóvel no mundo contemporâneo, de pronto nos deparamos com um majestoso ser, aparentemente inofensivo e cheio de benesses a oferecer à primeira vista; após alguns minutos de atenção e uma reflexão mais detalhada, pode aparecer como um monstro de muitas cabeças, responsável por muitos problemas, que na teoria econômica podem ser chamados de externalidades negativas (embora haja também as positivas). O fato é que hoje em dia, ao menos no Brasil, a vida gira em torno da sua excelência o automóvel. 55 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 55 03/12/2014 15:20:25 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Claro que a invenção do automóvel foi um acontecimento louvável, é útil e é resultado de avanços tecnológicos notáveis para a humanidade. Desde sua invenção até praticamente os dias de hoje, o automóvel é meio de transporte, mas também é símbolo de status e de sucesso na sociabilidade humana.2 Conforme Schor (1999, p. 108): (...) o consumo do automóvel como mercadoria só pode ocorrer nas ruas, na esfera pública da vida e é por isto que seu uso social, como objeto técnico determinante da vida cotidiana, não é neutro, mas carrega consigo e revela muitas das contradições até então invisíveis. A rua tem sido o palco dos grandes eventos da humanidade, é na rua que reivindicamos os nossos direitos, é onde festejamos a vitória do time, e é espaço sagrado para muitos de nós, mas também está sendo ameaçada pelo automóvel. Já tivemos outros modos e tipos de transportes para carregar pessoas e que tomavam um bom espaço da rua, como, por exemplo, no Brasil imperial, as cadeirinhas, transporte com tração humana utilizado na época pela classe em ascensão, em que dispunham de um escravo carregando a parte dianteira e outro a parte traseira do aparelho, como se fosse o andor das procissões religiosas ou mesmo as charretes e carruagens de luxo com tração animal (Facchini, 2011). Mas nenhum tão difundido, disseminado e famoso quanto o automóvel. Na década de 1980, foram se solidificando pesquisas científicas e estudos que apontam as consequências da atuação humana sobre as condições climáticas do planeta e da própria sobrevivência humana; claro está que o automóvel se relaciona ao rol de causas dessa situação,3 por exemplo, nas emissões de gases poluentes de efeito local. Estudos da Faculdade de Medicina da USP (O Espaço Aberto, 6 de abril de 2014) indicam que as enfermidades provocadas pela poluição reduzem a expectativa de vida em cerca de um ano e meio: câncer de pulmão e vias aéreas superiores, infarto agudo do miocárdio e arritmias, bronquite crônica e asma. Muito importante nesse processo foi a criação, em 1988, do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM), cujos objetivos eram os de fazer uma avaliação da informação cientifica, técnica e socioeconômica disponibilizada sobre o tema, que é considerado um dos marcos iniciais dessa discussão entre os países (Instituto Ekos Brasil, 2013). 2. Claro que estamos nos referindo às ditas sociedades “modernas”; há algumas, assim como grupos sociais, que possuem, ou conseguem manter, cultura totalmente diversa, em que o consumo e as facilidades da vida moderna não são cultivadas ou estão completamente fora de suas perspectivas de vida. 3. Digno de nota é o filme de Al Gore chamado Uma verdade inconveniente. 56 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 56 03/12/2014 15:20:25 A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes Outro evento representativo que não podemos deixar de mencionar é a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO – 92. Quando foram estabelecidas as declarações de intenções para as assinaturas dos países à Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – que pode ser entendido como o primeiro convênio internacional sobre as modificações climáticas, introduziuse a ideia de desenvolvimento sustentável e defendia-se que todos os países eram responsáveis e deveriam assumir compromissos em relação à transformação do clima. Porém, uma maior responsabilidade deveria ser atribuída aos países desenvolvidos, em função de serem os maiores causadores dessa conjuntura. O ápice das discussões ocorreu em 1997 quando da assinatura do Protocolo de Quioto, em que foram definidos os gases de efeito estufa a serem controlados e as quantidades de redução das emissões, no patamar de, pelo menos, 5% em relação aos níveis de 1990. O Brasil, como partícipe da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima –, apesar de não ter as obrigações de um país integrante do anexo I da Convenção, em vez ficar apenas na divulgação periódica de suas emissões, como ficou definido para os países em desenvolvimento, resolveu se adiantar aos compromissos vindouros e decidiu, deliberando durante a COP 15,4 uma meta de redução de emissões de gases de efeito estufa. Onde entra o automóvel nesse processo? A cidade de São Paulo, adotando a diretriz de “(...) que as cidades têm grande potencial de instigar soluções inovadoras, tanto no que se refere à mitigação como à adaptação” (Instituto Ekos Brasil, 2013, p. 15), promulgou a Lei nº 14.933 em 2009, que instituiu a Política Municipal de Mudança do Clima, contendo várias estratégias para reduzir as emissões, com regras para informar conceitos e medidas realizadas para mitigar e buscar a adequação à transformação do clima. É importante ter claro que a emissão de gases e processos de poluição nas grandes cidades não é só culpa (e talvez nem a maior) dos automóveis, já que se adiciona a outros processos e atividades poluidoras, tais como resíduos industriais, dentre outros. Não temos aqui a pretensão de nos aprofundarmos na discussão do clima, mas apenas registrar que esse é um problema que, em relação ao automóvel, amplifica a sua problemática nas grandes cidades, quando associamos essa questão à outra: a mobilidade urbana e as dificuldades para sua solução em prol de sua sustentabilidade e a 4. COP 15 é a Conferência das Partes sobre o Clima, realizada em Copenhague no ano de 2009. 57 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 57 03/12/2014 15:20:25 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre melhoria da qualidade de vida nesses espaços, conforme abordaremos na próxima seção. De qualquer forma, ainda em relação à questão da poluição, a tecnologia moderna dos veículos brasileiros, acompanhando o processo mundial, mostra o interesse (original e via pressão) e a preocupação da indústria automotiva do país em adotar medidas que amenizem o problema ambiental, como, por exemplo, os veículos flex, com combustível variável. Também lembramos que a produção da gasolina e do diesel foi obrigada a se enquadrar nas normas e padrões aceitos por tratados internacionais, com o objetivo de livrá-los de poluentes. Como se sabe, o álcool etanol e o biodiesel, como combustíveis, são mais limpos e menos poluentes, e dão mostras de que um bom avanço houve neste campo, o que não quer dizer que chegamos a resolver totalmente o problema e ainda temos muito que melhorar. Mas uma luz no fim do túnel já começa a aparecer. O AUTOMÓVEL E O ESPAÇO FÍSICO Vimos que colocar o automóvel como o grande vilão da poluição não é bem o caso, inclusive se considerarmos os saltos tecnológicos a ele associados nos últimos tempos. Outro lado que merece destaque em relação ao assunto em pauta na sociedade moderna, a nosso ver, são os custos e, mais especificamente no nosso caso, aqueles associados ao automóvel, como, por exemplo, os do congestionamento, assim como a sua valoração. Moraes (2013) vem realizando estudos comparados com o objetivo de medir o custo social do congestionamento. O autor se debruça sobre três estudos de grande repercussão que ocorreram em São Paulo: o da Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP – em parceria com o Ipea de 1997;5 o do engenheiro Adriano Branco (Branco, 1999) e o de Marcos Cintra, de 2008.6 Todos, apesar das diferentes formatações, buscam o estudo do custo dos congestionamentos em épocas distintas, apesar de todas as dificuldades para a mensuração do problema. Mas, como as metodologias e os resultados são muito diferentes, o autor em questão (Moraes, 2013) optou por um quarto caminho: o estudo dos balanços sociais da Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô e da Companhia Paulista de Transporte Metropolitano - CPTM. O autor chega à seguinte conclusão: com base no material relatado, elaborado para o exercício de 2010, a alteração da divisão modal entre transporte coletivo e privado, em 1%, resulta em um volume de benefícios da ordem de R$ 700 milhões por ano (Moraes, 2013). 5. O relatório síntese está disponível no acervo da ANTP. 6. CINTRA, M. Os custos do congestionamento na capital paulista. Disponível em: www.marcoscintra. org/. Acesso em: 15/set/2012. 58 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 58 03/12/2014 15:20:25 A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes Esses benefícios decorrem da redução de emissão de poluentes, do consumo de combustível, do custo operacional, do número de acidentes, do tempo das viagens e do custo de manutenção das vias. Esse valor possibilitaria uma expansão da oferta do transporte público, conforme ilustra a tabela 1. Tabela 1 Resumo dos benefícios sociais – CPTM e Metrô Indicadores R$ de set / 2012 CPTM (R$ / ano) Metrô (R$ / ano) Redução da emissão de poluentes 729.579.093 Redução do consumo de combustível 736.603.335 965.010.300 1.530.830.032 2.068.760.100 Redução do custo operacional (ônibus e automóvel) Redução do número de acidentes Redução do tempo de viagens 287.327.111 155.182.700 2.949.097.797 3.202.313.200 Redução no custo de manutenção das vias Total 180.875.200 50.357.300 6.233.437.368 6.622.498.800 Fonte: Moraes, 2013, p. 45. Pela ótica da pesquisa científica, a questão ambiental e o uso do espaço físico são fundamentais para se compreender as repercussões do uso indiscriminado e abusivo do automóvel, principalmente em associação com o congestionamento. Em alguns países, a data de validade do automóvel é tão importante e levada tão a sério como a data dos produtos e gêneros alimentícios. Quando vence o prazo de validade, o veículo vira material para reciclagem ou simplesmente é descartado. Infelizmente, no Brasil, não há política similar. Desse modo, estimamos que, a continuar com o atual nível de entrada de novos veículos em circulação e sem políticas de retirada dos velhos, inservíveis ou sucateados, a exemplo do que ocorre nos países de Primeiro Mundo, nos próximos anos teremos um sério agravante no problema da mobilidade urbana em São Paulo. Podemos associar os congestionamentos às externalidades negativas,7 (até porque esses são talvez a parte mais execrável dos efeitos do uso do automóvel nas grandes cidades), uma vez que uma de suas contrapartidas (repercussões) é a perda de um tempo (e, portanto, um custo) que poderia ser utilizado para a melhoria da 7. Estamos utilizando o conceito de externalidades negativas da forma como é abordado usualmente na microeconomia, isto é, como um custo que alguém tem que arcar sem ter realizado a ação nesse sentido, isto é, alguém tem que pagar pelo que outro fez. Nos manuais de microeconomia são citados vários exemplos clássicos, mas na questão da poluição nas grandes cidades, um exemplo muito utilizado é o gasto em que incorre para muitas pessoas (ou para o sistema público de saúde) por problemas respiratórios devido à fumaça expelida pelos automóveis, sendo que muitas dessas pessoas sequer possuem veículos motorizados. 59 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 59 03/12/2014 15:20:25 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre qualidade de vida da população nas cidades, deixando o cidadão com mais tempo para ser consumido no convívio com seus familiares ou em lazer pessoal, dentre outras possibilidades. O congestionamento, além de roubar o tempo das pessoas, pode causar problemas de saúde e é, de fato, um dos responsáveis pelo aparecimento das novas doenças e traumas do mundo moderno, como a síndrome do pânico e toda gama de novos traumas decorrentes do conflito diário no trânsito, fora os problemas relacionados à falta de sono, ansiedade, fadiga etc. Partindo da premissa de que o espaço físico da rua é finito e lembrando da famosa lei da física de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, realizamos alguns exercícios de imaginação, utilizando cálculos e tendo como cenário a cidade de São Paulo. Em São Paulo (SP) existe um sistema viário com cerca de 17.120 quilômetros de vias (SPTrans, fev. 2014) e um automóvel médio carrega no máximo cinco pessoas, ocupando um espaço de 90 m² de sistema viário, e supondo um movimento a uma velocidade de 50 km/h. Assim, um passageiro utiliza 18 m² de espaço no sistema viário em seu deslocamento. Porém, a ocupação média de um automóvel, segundo dados da própria CET de São Paulo, é de dois passageiros por veículo, o que resulta em uma utilização de 45 m² de espaço viário por passageiros do carro em deslocamento nas mesmas condições (cálculos utilizados com base em HCM, 2000, abril 2014). Portanto, se estimarmos o espaço físico utilizado por um automóvel, mesmo com sua ocupação máxima de cinco passageiros, veremos que, proporcionalmente, quando comparado com a área ocupada por um coletivo sobre pneus tipo Padron (carroceria de ônibus com 38 lugares para passageiros sentados) de cerca de 150 m² em deslocamento, mesmo com seu carregamento somente com ocupação de bancos, o ônibus ainda consegue transportar um número maior de passageiros. Se fizermos a mesma comparação, agora considerando a média de passageiros por dia útil utilizada pela SPTrans em seus cálculos, de carregamento por ônibus na cidade – de 49 passageiros por viagem – também em uma velocidade de 50 km por hora, o viário utilizado por passageiros será de 3,06 m², demonstrando que um passageiro de automóvel utiliza 15 vezes mais espaço do viário urbano do que o passageiro do ônibus (Ibidem). Quando discutimos o espaço viário e a distribuição democrática que deveria ocorrer sobre o mesmo, constatamos que não tem despontado nenhuma nova saída para o problema, a não ser as políticas 60 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 60 03/12/2014 15:20:25 A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes restritivas, do tipo: rodízio de placas por dia na semana, restrição de circulação da carga em determinada faixa horária na cidade, proposta de pedágio urbano etc. Diversamente da questão da relação do automóvel com o meio ambiente, sobre o espaço físico tem se pensado pouco. Apesar disso, acertadamente a nosso ver, tem ocorrido, por conta de alguns gestores, a priorização do transporte público coletivo sobre pneus na via pública, que poderia ser feita com mais faixas preferenciais em detrimento do automóvel ou os corredores de ônibus segregados, os Bus Rapid Transit (BRT). Esses parâmetros deixam evidente a necessidade urgente da expansão da rede de transportes coletivos urbanos, em todos os modais nas cidades grandes, para proporcionar ao usuário diário e habitual do automóvel uma alternativa de locomoção viável. O ônibus, talvez por ser o único que tenha uma flexibilidade capaz de atender as mudanças momentâneas necessárias em curto prazo, é o único que tem condições de disputar (de forma acirrada) com o automóvel. Frente a frente no dia a dia, disputando espaço físico no viário, o ônibus acaba despertando a antipatia de cidadãos que querem se movimentar com seu carro e se sentem preteridos quando algum governo resolve tomar uma medida de coragem e enfrentar o problema dando prioridade aos ônibus, o que parece ser a melhor solução para o problema. Outra das medidas de restrição do uso do automóvel é o rodízio de veículos, como o de São Paulo, que utiliza a proibição de rodar em determinados períodos, de acordo com o final das placas de automóveis (um dia por semana, por algumas horas no dia, o carro fica proibido de circular), no perímetro chamado de centro expandido. Há também o polêmico pedágio urbano ou tarifa por congestionamento como é conhecido tecnicamente. Para finalizar esta seção entendemos ser relevante (em função dos impactos sobre os problemas que estamos abordando neste artigo) ressaltar que a frota do município de São Paulo, em 1998, representava 42,19% da frota de todo o Estado, e constatamos que houve uma gradativa redução nessa participação, que atualmente representa apenas 29,55%. Isto caracteriza uma maior motorização nas regiões interioranas do Estado,8 conforme pode ser verificado na tabela 2, evidenciando que a utilização dos automóveis está rapidamente se irradiando para outros espaços, além dos já ocupados nos grandes centros. 8. Dados extraídos do Detran do Estado de São Paulo. Berardi Netto, 2014. 61 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 61 03/12/2014 15:20:25 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 62 Jan/2007 Jan/2008 Jan/2009 Jan/2010 Jan/2011 Jan/2012 Jan/2013 Jan/2014 569.806 2.627.283 Estado Estado Capital 658.973 3.061.892 Capital 762.260 3.481.387 Estado Estado Capital 823.657 3.777.764 Capital 880.407 4.106.211 Estado Estado Capital 933.510 4.448.980 Capital 965.239 4.705.201 Estado Estado Capital 998.340 4.925.966 Capital 5.458.439 5.324.926 5.223.640 5.103.295 4.969.456 4.749.184 4.512.118 4.285.620 1.454.238 11.094.236 507.560 1.574.530 11.785.589 548.965 1.728.314 12.509.035 603.823 1.899.768 13.298.992 658.022 2.108.183 14.097.671 709.823 2.349.832 14.872.527 768.811 2.568.225 15.639.943 811.650 2.793.141 16.400.365 863.439 Ciclomotor Microônibus Motoneta Camioneta Motociclo Automóvel Caminhonete Triciclo Utilitários Quadriciclo Tabela 2 Frota do Estado de São Paulo dados do Detran 109.026 38.151 116.141 40.253 123.210 41.876 127.350 41.810 133.999 42.136 141.759 43.701 147.007 43.509 151.377 43.786 Ônibus 597.769 152.808 626.887 158.865 660.433 165.694 689.169 164.071 729.663 158.921 769.334 154.643 795.356 148.956 823.057 147.110 Caminhão 281.636 61.604 302.255 64.420 325.765 67.297 347.449 69.917 377.109 72.869 408.644 76.094 438.676 78.406 474.197 80.863 Reboque Semireboque 59,98 % > 1998 55,36 116,87 7.379.534 51,73 105,29 48,82 92,5 41,75 79,94 34,66 68,28 26,09 56,18 18,34 44,6 7.207.165 6.973.958 119.943 21.672.779 6.733.100 117.947 20.258.439 6.396.088 117.060 18.945.204 5.989.234 116.125 17.583.419 5.621.049 115.710 16.279.898 5.500 5.640 5.954 6.167 6.507 6.766 121.185 23.112.261 6.848 121.892 24.416.300 128,19 7.598.955 Total 122.476 25.690.579 6.978 Outros Continua 34,53 34,06 33,76 33,24 32,18 31,18 30,22 29,58 % Capital / Estado Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre 62 03/12/2014 18:59:21 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 63 Estado 478.452 4.108.461 4.494.626 4.392.056 4.285.355 382.546 1.018.270 1.185.111 1.085.737 399.660 1.119.380 411.457 1.207.934 445.284 1.266.392 463.466 8.109.924 3.795.534 8.572.210 3.855.663 8.907.260 3.908.816 9.326.662 4.021.586 9.782.037 4.158.831 1.310.200 10.196.189 475.811 1.352.595 10.563.878 486.934 1.407.463 10.964.740 502.071 1.367.943 10.553.263 299.755 1.297.291 Estado Capital 323.208 1.383.499 Estado Capital 348.098 1.500.503 Estado Capital 376.805 1.648.536 Estado Capital 405.969 Capital 437.515 1.813.929 Estado Estado Capital 470.195 1.993.572 Capital 503.937 2.192.412 Estado Estado Capital 499.686 2.277.370 Capital Fonte: Berardi Netto, 2014. Jan/1998 Jan/1999 Jan/2000 Jan/2001 Jan/2002 Jan/2003 Jan/2004 Jan/2005 Jan/2006 Ciclomotor Microônibus Motoneta Camioneta Motociclo Automóvel Caminhonete Triciclo Utilitários Quadriciclo Tabela 2 (continuaçãoi) 93.242 37.836 96.425 37.198 96.828 36.241 98.606 36.030 101.612 36.577 105.588 37.762 111.481 41.984 116.310 44.672 103.612 36.493 Ônibus 528.131 162.218 547.258 162.442 558.848 163.421 573.928 165.383 589.108 167.464 601.548 168.695 612.997 169.453 630.226 172.513 575.592 148.125 Caminhão 200.116 64.604 214.692 66.356 224.920 67.468 236.346 69.336 248.854 71.893 262.054 73.910 274.274 75.016 288.763 76.919 264.384 59.293 Reboque Semireboque 35,52 22,13 39,63 18,78 33,49 15,49 27,99 11,81 22,19 5.801.194 120.101 15.720.015 5.642.071 120.027 15.028.824 5.485.468 119.963 14.409.471 5.310.607 119.838 13.756.377 7,81 16,04 4,17 119.843 13.063.822 4.948.139 10,37 2,15 6,02 0 0 4.851.914 122.632 11.936.245 4.749.845 123.560 11.258.354 7.352 7.387 135.046 12.425.781 12.638 6.374 5.120.700 6.407 6.420 6.433 6.456 5.392 12,34 % > 1998 5.335.902 Total 115.388 15.257.552 Outros 42,19 40,65 39,82 39,2 38,6 38,07 37,54 36,9 34,97 % Capital / Estado A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes 63 03/12/2014 18:59:21 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Hoje, ao viajarmos pelo interior paulista, quase não encontramos mais a figura folclórica do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, com chapéu de palha, botina, pito na boca e um burrico para o serviço do sítio ou o rangido do carro de boi. O que vemos cada vez mais nas zonas rurais é o cidadão com sua caminhonete pick-up, muitas vezes customizada. Ele costuma utilizar chapéu de vaqueiro, para garantir o estilo, e um som, de preferência de músicas regionais (chamadas de sertanejas ou “música country”), muitas vezes em volume alto para demonstrar a preferência do condutor. A troca do jegue pelo veículo 4x4 se deu aos poucos e sitiantes ou fazendeiros bem-sucedidos não demoraram a assumir a modernidade. Assim que a indústria automobilística se instalou no Brasil, os primeiros veículos 4X4, tipo pick-ups e rurais (Rural Willys)9 surgiram. Os Jeep’s são também vedetes desta categoria de utilitários, que foram e ainda são campeões de venda. O que podemos observar na vida do interior é o mesmo processo de necessidades (na verdade, de vários tipos, o que poderia ser melhor percebido através de pesquisas a respeito do significado do automóvel sobre as subjetividades) das pessoas da capital (de forma geral, obviamente). O glamour, o símbolo de status, a necessidade de aparência de sucesso, o novo estilo de vida etc., ao que tudo indica, também foi transferido para o interior e pequenos congestionamentos já podem ser vistos em cidades bem menores e até pacatas, em determinadas horas do dia. Estacionamentos rotativos, como o da Zona Azul em São Paulo, utilizando até equipamentos modernos como os parquímetros,10 são vistos em várias cidades do interior paulista. Nos planos de governo, pelo Brasil afora, podemos contemplar, como plataformas eleitorais da maioria dos candidatos, promessas de obras para resolver os problemas associados aos automóveis, embora se possa questionar: até que ponto as pessoas vão abrir mão dos mesmos, ou de seus interesses imediatos, para melhorar, de fato, a situação e a qualidade de vida da maioria? O automóvel já invadiu o campo dos debates ideológicos e dos conflitos políticos e de interesses, inclusive o de classes. O discurso da preservação do meio ambiente é o mais digerível, principalmente pelas classes médias, e, portanto, mais fácil de ser contemplado pelos políticos e governantes. E, assim, acaba por aparecer na agenda das cidades a inspeção veicular, que é importante, mas que, uma vez mais, reforça tudo que tem se feito para a melhoria ambiental, mas ignora quase que por completo a questão do espaço 9. Rural Willys: veículo fabricado no Brasil para o consumidor residente em zona rural. 10. Um parquímetro é um dispositivo eletromecânico usado para controle de estacionamento rotativo em vias públicas. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Parqu%C3%ADmetro. Acesso em: 19 de maio de 2014. 64 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 64 03/12/2014 15:20:26 A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes físico exíguo nas grandes cidades por conta do grande volume de veículos, fruto de políticas de incentivo do governo visando manter o emprego. Esse é outro aspecto que deve ser ressaltado para se entender a complexidade do assunto. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo o automóvel carregando consigo uma gama infinita de problemas para a sociedade nos grandes centros urbanos, não podemos simplesmente utilizar a política do não para resolver o problema. Estaríamos efetivamente resolvendo o problema dos congestionamentos com a política do não? No sentido econômico, o fenômeno do congestionamento pode ser compreendido através do conceito de externalidades, conforme apontamos anteriormente. Guimarães (06/05/2014) explica que as externalidades aparecem quando não estão claros e resolvidos os direitos de propriedade quanto ao uso de um expediente por vários atores, o que se aplica aos congestionamentos, no caso se tratando de externalidades negativas. Por outro lado o autor também acredita que: (...) O pedágio urbano consiste em uma das mais eficientes maneiras de converter em receitas a perda representada pelo tempo em filas nas ruas e vem sendo aludido com frequência cada vez maior como forma de reduzir a externalidade gerada por um excessivo número de veículos nas ruas das grandes cidades, especialmente em horários de pico. Os usuários de um sistema viário já pagam pelos custos privados inerentes à viagem (custos de tempo em viagem e os custos de agenda), mas não estão acostumados a pagar pelo atraso que suas viagens infringem aos demais usuários. A tarifa do pedágio é mais um elemento de custo, que tornaria os motoristas mais conscientes sobre os custos sociais que provocam (Guimarães, 06/05/2014). Uma política restritiva envolvendo uma tarifa para quem pode circular, como o pedágio urbano ou mesmo o rodízio no centro expandido de São Paulo, que fez a classe média adquirir um segundo e até mesmo um terceiro carro, acabaria por segregar mais ainda a sociedade já tão facetada e dividida em “castas”. Isso aumentaria o abismo social que temos nas nossas cidades e o cidadão com mais recursos simplesmente iria transitar, enquanto o cidadão comum que constitui a grande maioria, dada a discrepância social em que vivemos, infelizmente, não poderia fazê-lo, nem teria a mesma oportunidade de seu semelhante no aspecto de sua mobilidade. Enganamos-nos também se acreditarmos que somente uma simples ação isolada irá resolver o problema que, como procuramos evidenciar, é complexo. Mas é comum o cidadão no seu dia a dia e em seus devaneios arvorar-se a ser mais um engenheiro de trânsito e sonhar com soluções simplistas e achar que isto ou aquilo resolveria o problema. 65 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 65 03/12/2014 15:20:26 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre O problema da mobilidade urbana ainda é de certo modo novo, pois o conceito de mobilidade é recente; até um tempo atrás, ainda pensávamos em transporte dissociado de trânsito e vive-versa. Hoje, quando pensamos a mobilidade, enxergamos a carga como parte dela. A bicicleta, a motocicleta, o pedestre e todos os eventos que ocorrem nas ruas fazem parte da mobilidade urbana, basta ver que o assunto está sempre na pauta das discussões cotidianas (no que diz respeito às políticas públicas) e nas agendas dos governos municipais das grandes cidades. Resolver o problema da circulação do amplo número de veículos é o quebra-cabeça da moda. Observamos, no entanto, certa contradição quando assistimos aos governos tangenciarem o problema e buscarem o discurso mais fácil: a gestão do meio ambiente em relação ao automóvel. Mas deixam de lado a essência do problema: a limitação do espaço físico para a utilização dos automóveis nos grandes centros e tudo que vimos como consequência disto. Não podemos deixar de comentar que o problema apresentado aqui é de extrema complexidade, como pudemos verificar ao longo deste trabalho, o que requer uma solução criativa e coletiva, pois envolve diversos agentes: governos, cidadãos, indústria automobilística e o comércio de combustíveis. Isso passa pela construção de um conjunto de ações discutidas pelo governo com a sociedade civil, resultando em estabelecimento de critérios justos para utilização do espaço viário. Cabe como consideração final apontar alguns caminhos para a solução do problema da mobilidade urbana. Dada a complexidade, sua solução requer um conjunto de ações integradas. Podemos começar mencionando o adensamento dos corredores de tráfego, como prevê o Plano Diretor Estratégico para a cidade de São Paulo, recentemente aprovado. Este adensamento se consolida com a implantação e/ou requalificação dos corredores exclusivos de ônibus e implantação de faixas exclusivas. O próprio rodízio de veículos deve ser visto como parte da solução do problema de espaço e não somente como uma possível solução para a questão do meio ambiente. Para tanto, ainda se deve estabelecer um zoneamento validando as diretrizes prioritárias para a circulação nas diferentes regiões ou áreas do município e até do Estado. Esta regulamentação pode integrar as diretrizes do Plano de Mobilidade da cidade. Deve ser planejada uma rede única e integrada, interligando todos os modos de transporte, sobre trilhos e sobre pneus, e o transporte aquaviário, onde couber. 66 04 138 01 Eduardo Facchinni e outros.indd 66 03/12/2014 15:20:26 A mobilidade urbana na encruzilhada: debate inadiável, soluções urgentes Esta rede integrada deve envolver a instância municipal, metropolitana e regional, com o objetivo de ofertar um sistema de transporte público que de fato venha ao encontro das necessidades dos atuais e futuros usuários. Os deslocamentos que se valem das modalidades não motorizadas como as bicicletas e principalmente as viagens a pé devem estar contemplados com a infraestrutura necessária no conjunto da rede de transporte. A manutenção e a expansão da rede integrada, em todos os seus elementos, são fundamentais para consolidar uma situação desejável para a mobilidade urbana. É também muito importante a gestão coordenada e sistêmica da rede de transporte, respeitando-se as especificidades de cada modalidade. E não se pode deixar de registrar a indispensável articulação entre a gestão do transporte e a gestão do trânsito, que é condição sine qua non para o sucesso na busca de um quadro favorável para a mobilidade urbana. Essa série de ações propostas apresentadas não tem por objetivo desenhar uma concepção pronta e finalizada para a abordagem da questão. Constituem-se apenas em explanações do processo de investigação empírica, encontradas pelos autores para demonstrar que falta muito ainda para a solução do problema e que a complexidade do tema requer ações mais elaboradas e criativas. Crucial é a promulgação da lei da mobilidade urbana, que se constitui em um importante instrumento que contribui para o amadurecimento político da população, para que, junto aos seus governantes, possa buscar a construção de formas de sociabilidade e regras, numa perspectiva democrática e sob o jugo da justiça, para uma mobilidade urbana sustentável, assegurando o direito de ir-e-vir, de poder se locomover nas cidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BERARDI NETTO, Francisco. Dados do Detran do Estado de São Paulo, 2014. 1 f. Digitado. BRANCO, A. M. Os custos sociais do transporte urbano brasileiro. Revista dos Transportes Públicos. ANTP, nº 84, 1999. CINTRA, M. Os custos do congestionamento na capital paulista. Disponível em: www. marcoscintra.org/. Acesso em: 15 de setembro de 2012. CLUBE DO AUTOMÓVEL ANTIGO. Disponível em: A história do automóvel no Brasil. http://www.osintrocaveis.com.br/index.php?pagina=curiosidade-historia-automovel-brasil Acesso em: 6 de maio de 2014. 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Ampliar a mobilidade dos cidadãos estimulando o uso do transporte coletivo com melhorias na microacessibilidade e ênfase na intermodalidade pode ser um instrumento que contribua na construção de cidades sustentáveis. Entender o direito de ir e vir nas cidades do século XXI requer uma análise que vá além da visão da engenharia de tráfego e da circulação de veículos nas vias. Ela envolve relações complexas entre o cidadão e os sistemas de transportes disponíveis, o uso e a ocupação do solo urbano e principalmente a configuração espacial do meio urbano. Este estudo tem como objetivo contribuir para a discussão da mobilidade urbana na metrópole paulista por meio da análise da microacessibilidade a um sistema de transporte público e articulações intermodais. Parte-se da premissa de que há pouca articulação nas estações de trem (que representam um importante nó no sistema de transporte metropolitano) com os demais modos de transporte (seja a pé, bicicleta, motorizado individual ou coletivo). Dessa forma, há interferências na qualidade da microacessibilidade dos usuários à rede de transporte público, redução da eficiência de atração das estações de trem com, consequente reflexo na mobilidade urbana na escala macro. A estação Santo Amaro passou por interferências significativas: suas ruas são a prova das intervenções, das sucessivas adaptações com * Este artigo é parte da pesquisa de dissertação de mestrado “O papel da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação de trem Santo Amaro na cidade de São Paulo”, desenvolvida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2013. Agradecimentos Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e a CAPES pela bolsa de estudos modalidade CAPES PROSUP tipo II. 69 05 138 04 Yara Baiardi.indd 69 03/12/2014 17:16:31 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre que a cidade respondeu às necessidades de mobilidade acompanhadas pelo processo de modernização da linha e urbanização durante as últimas décadas. Contudo, ela ainda não está conectada com qualidade urbana a outros modos de transporte, carecendo de um desenho urbano que integre todos os modais. Justifica-se a relevância de estudos que pesquisem a melhoria de integração dos sistemas de transporte, em especial do transporte público, em virtude da importância econômica e ambiental do investimento em soluções integradas para a melhoria da mobilidade urbana nas metrópoles, reduzindo os tempos de viagens e aproximando a oferta de empregos às moradias melhorando, desse modo, a qualidade de vida dos cidadãos. MÉTODO Para análise da microacessibilidade aos equipamentos de transportes, foi delineada uma metodologia de caráter exploratório, com abordagens qualitativas. Buscou-se uma abordagem que combina dados descritivos do lugar e dos processos interativos de uma maneira holística, adotando o estudo de caso para a análise exaustiva sobre o objetivo da pesquisa. A análise da microacessibilidade da estação Santo Amaro ocorreu pela observação da articulação entre os diferentes modos de transporte com a estação de trem, explorada exaustivamente em campo com os diagnósticos levantados por meio de registro fotográfico, mapas e diagramas. Na figura 1, descreve-se a área de influência e as principais vias. Figura 1 Área de influência e principais acessos à estação de trem Santo Amaro Fonte: Google Earth, 2004. Tratamento da autora, 2012. 70 05 138 04 Yara Baiardi.indd 70 03/12/2014 17:16:32 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... De modo geral, durante a análise questionava-se: - Quais são os elementos urbanos a considerar para melhorar a microacessibilidade de estações de trem em termos do projeto urbano? - Como é possível acessar diretamente uma estação de trem de maneira legível, rápida, segura e com qualidade por meio dos modos: a pé, de bicicleta, ônibus, metrô, motorizado individual e táxi? - E como é possível fazer a intermodalidade entre eles de modo legível, rápido, e com qualidade? Para auxílio nas perguntas de caráter geral destacadas acima, que não são características únicas do estudo de caso e, sim, são comuns a todas as estações, elaborou-se uma matriz analítica que pode ser adaptada para qualquer estação. Quadro 1 Matriz analítica como modelo para análise da microacessibilidade a um equipamento de transporte Modelo para análise da microacessibilidade a um equipamento de transporte Modos de transporte A pé Aspectos a serem analisados Sistema de comunicação Levanta- Observamento çoes - placas orientativas - sinalização de piso - sinalização sonora Circulação - calçadas - rampas - escadas fixas - escadas rolantes - elevadores Calçadas - dimensão - material do piso - estado de conservação - obstáculos Segurança - iluminação - câmeras Legibilidade do espaço urbano e intermodalidade -p roximidades a espaços degradados - articulada aos principais fluxos - t ransposições de barreiras urbanas - barreiras visuais - elementos referenciais - espaços residuais Continua 71 05 138 04 Yara Baiardi.indd 71 03/12/2014 17:16:32 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Quadro 1 (continuação) Modos de Aspectos a serem transporte Bicicleta Sistema de comunicação Ciclovia Ciclofaixa Bicicletário (estacionamento integrado) Aluguel Legibilidade do espaço urbano e intermodalidade Ônibus Sistema de comunicação Metrô Motorizado individual Táxi Baia para parada rápida Terminal de ônibus (distâncias) Legibilidade do espaço urbano e intermodalidade Sistema de comunicação Legibilidade do espaço urbano e intermodalidade Sistema de comunicação Baia para parada rápida Estacionamento integrado Pontes, viadutos Legibilidade do espaço urbano e intermodalidade Sistema de comunicação analisados Levanta- Observamento çoes - placas orientativas - placas orientativas - mobiliário urbano para pontos de ônibus - pontos isolados - terminais - placas orientativas - placas orientativas - placas orientativas - mobiliário urbano para ponto de táxi Legibilidade do espaço urbano e intermodalidade Fonte: elaborado pela autora, 2012. A intenção da matriz analítica, além de auxiliar na visualização dos elementos gerais que foram aplicados na análise da microacessibilidade da estação Santo Amaro quando pertinente, serve também como um checklist a ser aplicado de forma genérica em outra estação de trem cujo 72 05 138 04 Yara Baiardi.indd 72 03/12/2014 17:16:32 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... diagnóstico será descrito a seguir. Reforça-se que, no campo do urbanismo, não há modelos rígidos a serem aplicados no território, e sim conceitos que devem ser analisados unicamente em cada sítio ao projetar intervenções urbanas, já que cada lócus tem especificidades únicas que devem ser respeitadas para garantir um espaço urbano de qualidade. Microacessibilidade, Intermodalidade e Espaço Público Microacessibilidade, intermodalidade e espaço público são conceitos distintos, mas interdependentes que devem estar inter-relacionados na análise da mobilidade, pois durante o movimento do cidadão no território urbano todos eles se relacionam e, fundamentalmente, influenciam na tomada de decisões durante o circular. Em linhas gerais, “mobilidade urbana pode ser compreendida como a facilidade de deslocamento de pessoas e bens dentro de um espaço urbano, e acessibilidade, como o acesso da população para realizar suas atividades e deslocamentos”.1 Na abordagem convencional, a mobilidade é tratada por meio de abordagem quantitativa, correspondendo às viagens que acontecem nas cidades. Contudo, Meyer, Grostein e Biderman definem mobilidade como “o conjunto de deslocamentos da população no território”2 e estabelecem a relação sutil entre população e a função urbana contida em uma centralidade, lugar. Para a Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável, elaborada pelo Ministério das Cidades, mobilidade urbana é a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço público”.3 A mobilidade urbana sustentável é entendida aqui como a busca de um equilíbrio entre os diferentes modos de transporte; do incentivo ao uso de modos não motorizados; do uso eficiente dos recursos energéticos; da promoção e implementação contínua de novas tecnologias; e da melhoria da equação do uso e ocupação do solo e da demanda dos deslocamentos.4 Já para Vasconcelos, a acessibilidade é entendida como “a facilidade maior ou menor de acesso real direto aos destinos desejados”.5 A microacessibilidade pode ser entendida como um desdobramento da 1. ALVES, P., RAIA, A. A. J. Mobilidade e acessibilidade urbanas sustentáveis: a gestão da mobilidade no Brasil. São Carlos: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana PPGEU, 2010, p. 4. 2. MEYER, R. M. P., GROSTEIN, M. D., BIDERMAN, C. São Paulo metrópole. São Paulo: Edusp/ Imprensa Oficial do Estado, 2004, p. 28. 3. BRASIL, Ministério das Cidades. Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável: princípios e diretrizes. Brasília, 2004, p. a. 4. COSTA, M. S., Mobilidade urbana sustentável: um estudo comparativo e as bases de um sistema de gestão para Brasil e Portugal. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de São Carlos; Escola de Engenharia de São Carlos, 2003. 5. VASCONCELLOS, E. A. Circular é preciso, viver não é preciso: a história do trânsito na cidade de São Paulo. 1ª ed. São Paulo: Annablume, 1999, p. 48. 73 05 138 04 Yara Baiardi.indd 73 03/12/2014 17:16:32 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre acessibilidade quando o acesso a um determinado local se faz na microescala urbana ou nas proximidades a determinados locais. Já a intermodalidade é a articulação eficaz entre diferentes meios de transporte. O conceito está relacionado à possibilidade de mudança, de conexão entre distintos modos de transporte, proporcionando ao usuário flexibilidade em um determinado percurso. É possível, por diferentes modos de transporte, acessar um determinado local: a pé (peatonal), de bicicleta, por ônibus, metrô, trem, auto, e até mesmo por táxi. Destaca-se ainda que, quanto mais possibilidades de intermodalidade, mais se ampliam as possibilidades de mobilidade urbana, permitindo assim que o cidadão escolha o melhor meio de transporte para o determinado percurso que pretende fazer em sua viagem. O ambiente urbano em que ocorrem os deslocamentos é o que chamamos de espaço público, que exerce um papel fundamental na qualidade da microacessibilidade e da intermodalidade. O espaço público deve permitir que os cidadãos se desloquem com qualidade de maneira segura e legível. Entende-se como um espaço com legibilidade o espaço organizado, de fácil e rápida leitura, que permite ao cidadão um deslocamento seguro e com qualidade desde o primeiro contato com a área. O autor Kevin Lynch ressalta que a legibilidade no meio urbano é “(...) a facilidade com que cada uma das partes pode ser reconhecida e organizada num modelo coerente (...) Uma cidade legível seria aquela cujos bairros, marcos ou vias fossem facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo geral”.6 Gehl reforça a importância da qualidade das ruas e do espaço público e do perigo dos espaços sem vitalidade urbana: “Nas ruas e espaços urbanos de pouca qualidade só há lugar para o mínimo de atividade. As pessoas andam depressa para sua casa”.7 Neste estudo, a legibilidade do espaço urbano é um atributo que amplia a microacessibilidade ao sistema de transporte, pois a ausência de uma relação harmoniosa entre usuário e o ambiente urbano pode causar uma desorientação no deslocar. Uma microacessibilidade sem obstáculos e com clareza no percurso no ambiente urbano pode contribuir para a valorização do espaço público, da circulação e na integração entre os diversos modos de transporte, ampliando, assim, as possibilidades de mobilidade para os cidadãos. O estudo do papel da microacessibilidade à estação Santo Amaro da CPTM, uma das mais movimentadas estações da metrópole paulista, permitirá visualizar os conflitos existentes entre a microacessibilidade e a 6. LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 3. 7. GEHL, J. La humanización del espacio urbano: la vida social entre los edificios. Barcelona: Reverté, 2009, p. 19. 74 05 138 04 Yara Baiardi.indd 74 03/12/2014 17:16:32 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... intermodalidade dos diversos modos de transportes e o espaço público, e demonstrar a importância da questão para melhoria da mobilidade urbana. Uma análise exploratória: Microacessibilidade da estação de trem Santo Amaro A estação de trem Santo Amaro localiza-se no quadrante sudoeste do território da cidade de São Paulo, correndo em grande parte ao lado do rio Pinheiros. É controlada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM. Na rede metropolitana sobre trilhos da RMSP, ela pertence à Linha 9-Esmeralda (figura 2). Figura 2 Mapa da rede metropolitana da Região Metropolitana de São Paulo, com destaque para estação Santo Amaro Fonte: CPTM, 2014.8 8. CPTM. Mapa metropolitano. Disponível em: http://www.cptm.sp.gov.br/. Acesso em: 25 de março de 2014. 75 05 138 04 Yara Baiardi.indd 75 03/12/2014 17:16:33 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Até 2011, era a estação mais carregada da Linha 9-Esmeralda9 bem como a primeira a ter conexão com uma linha do Metrô (linha 5-Lilás), e a única a realizar a transposição do rio Pinheiros, conectando-se a dois terminais de ônibus, um em cada margem. A estação foi projetada pelo arquiteto João Walter Toscano em 1985, projeto que foi premiado à época.10 Figura 3 Fachada principal da estação de trem Santo Amaro Fonte: Acervo da autora, 2012. A seguir, serão descritos as formas de microacessibilidade à estação de trem e o diagnóstico da análise pelo método proposto. 9. Até o terceiro trimestre de 2011, a estação Santo Amaro transportava 20,54% da demanda de passageiros na linha na média de dia útil. A estação Pinheiros de trem tinha uma demanda de 2,98%. Após conexão do metrô (Linha 4-Amarela) com a estação Pinheiros, em maio de 2011, a estação Pinheiros passou da 14ª para a 1ª posição durante o último trimestre do ano de 2011, representando 24,88% do total e a Santo Amaro passou a representar 2° posição, representando 18,51% da demanda de passageiros embarcados. 10. Premiado na World Architectural Biennal Inteerarch de 1987 e na segunda Bienal Internacional de São Paulo em 1993. 76 05 138 04 Yara Baiardi.indd 76 03/12/2014 17:16:34 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... Microacessibilidade peatonal: a pé A mobilidade peatonal, ou a pé, é a principal entre todas as possibilidades de acesso direto à estação, pois ou o cidadão fará todo seu percurso a pé, ou, em algum momento, fará a intermodalidade, saindo de um modal e se conectará, a pé, à estação. No caso da estação de trem Santo Amaro, o pedestre pode ter duas opções de acesso direto ao equipamento: 1. Pela margem leste, por uma rampa localizada na av. Padre José Maria, avenida perpendicular à av. das Nações Unidas (ou marginal do rio Pinheiros). A rampa transpõe a marginal do rio Pinheiros e dá acesso ao mezanino da estação de trem, onde ocorre a integração a rede metroferroviária. 2. Acesso pela avenida Guido Caloi, pela estação da linha 5-Lilás do Metrô, pela margem oeste do rio (figura 4). Figura 4 Mapa da microacessibilidade peatonal. Em verde, destaque para estação de trem Santo Amaro Fonte: Google Earth, 2004. Tratamento Yara Baiardi; Diagrama, Leonardo Maia e Yara Baiardi, 2012. 77 05 138 04 Yara Baiardi.indd 77 03/12/2014 17:16:35 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre A microacessibilidade peatonal pela margem leste ocorre por uma significativa rampa (figura 5) que está voltada para av. Padre José Maria. O acesso à estação está positivamente localizado numa esquina, o que amplia a sua visibilidade. Entretanto, é imposta brutalmente na calçada, de costas para um eixo importante (av. das Nações Unidas), exatamente aquele que deu à estação o status de arquitetura espetacular na época da inauguração. Está implantada numa calçada de 13 metros de largura, não deixando espaços generosos nas suas laterais. Isto cria espaços residuais não atrativos ao circular com a possibilidade do sentimento de insegurança, favorecendo atitudes de não permanência e apenas de caminhar rápido. A inserção da rampa só é favorável para o fluxo de usuários da av. Padre José Maria, de usos altamente ociosos pela ausência de vitalidade urbana do entorno. Figura 5 Imagem da única entrada da estação de trem Santo Amaro Fonte: Acervo da autora, 2012; CPTM com tratamento autora, 2011, respectivamente. Obs.: Entrada da estação em rampa situada na av. Padre José Maria na margem leste. Na segunda imagem, observa-se a implantação da estação com destaque para a rampa sobre a via expressa e mezanino localizado ao longo do rio Pinheiros. É possível verificar um pequeno trecho do prédio da plataforma de embarque do metrô à direita. A situação foi agravada com a implantação de uma estrutura em concreto para suporte de acesso a um elevador no lado esquerdo de 78 05 138 04 Yara Baiardi.indd 78 03/12/2014 17:16:36 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... quem sobe (figura 6), diminuindo ainda mais o recuo lateral com o lote particular, criando uma barreira visual significativa para os usuários oriundos da calçada localizada na via expressa. Há também o espaço residual sob a rampa, que foi gradeada, prejudicando a qualidade de inserção da rampa no espaço urbano, e deixando a sensação de um espaço sem identidade. Assim, a rampa de acesso não tem a elegância da estação, cujo projeto foi premiado, nem a proporcionalidade com o contexto urbano nem tampouco a articulação com os principais eixos. Além do exposto, o conjunto da estação foi implantado imediatamente entre o rio Pinheiros e a via expressa, na área onde deveria existir mata ciliar ou equipamentos de lazer. Figura 6 Vista sob a rampa desde a av. das Nações Unidas em direção à av. Padre José Maria Fonte: Acervo da autora, 2012. Obs.: Destaque para as áreas residuais imediatamente no entorno do acesso direto à rampa. 79 05 138 04 Yara Baiardi.indd 79 03/12/2014 17:16:36 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Ao contrário do que ocorre no outro lado do rio, na margem oeste, a lógica da inserção do equipamento urbano para acesso direto ao sistema metroferroviário foi a construção de um prédio chamado “corpo da estação”, edifício que engloba toda a infraestrutura para acesso ao sistema metroferroviário, como catracas, administração, banheiros etc. Entretanto, o corpo da estação foi implantado imediatamente ao lado do rio e distante da calçada e do principal acesso o que estimula a não visibilidade da edificação pelo potencial usuário localizado na calçada da av. Guido Caloi. Logo, em virtude da pouca ocupação urbana existente nessa margem, do pequeno fluxo de pessoas e pela implantação recuada do corpo da estação, a legibilidade do acesso é altamente prejudicada. Figura 7 Corpo da estação, terminal de ônibus Guido Caloi e infraestrutura aérea da linha de metrô Fonte: Acervo da autora, 2012. Obs.: Ambiente urbano existente perante o observador situado na av. Guido Caloi para estação de metrô respectivamente. Microacessibilidade por bicicleta A estação Santo Amaro integra-se ao programa da ciclovia rio Pinheiros, via exclusiva para a circulação de bicicletas situada entre o rio Pinheiros e av. 80 05 138 04 Yara Baiardi.indd 80 03/12/2014 17:16:37 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... das Nações Unidas. A estação é um dos poucos locais que têm a possibilidade de entrada/saída à ciclovia (figura 8). Para acessar exclusivamente a ciclovia pela margem leste, não é necessário o pagamento de tarifa, apesar de ser necessário acessá-la internamente. Já para quem é oriundo da margem oeste, é necessário o pagamento da tarifa do metrô, já que não foram implantados acessos diferenciados para usuários que acessarão apenas a ciclovia do outro lado do rio ou o equipamento de transportes. A única placa de sinalização indicando o acesso à ciclovia encontra-se dentro da estação de trem, fato que contribui para o seu isolamento na margem leste. Até 2012, a ciclovia mais próxima da margem oeste encontra-se na represa de Guarapiranga, que possui três quilômetros de extensão. Contraditoriamente, mesmo havendo espaços para intervenção nessa margem, não há bicicletário nem possibilidade de aluguel para estímulo ao uso diário, prejudicando sobremaneira a intermodalidade em ambas as margens com estação e a bicicleta como um modal de uso diário. Figura 8 Mapa da microacessibilidade por bicicleta e digrama Fonte: Google Earth, 2004. Tratamento Yara Baiardi; Diagrama, Leonardo Maia e Yara Baiardi, 2012. Obs.: Existência positiva da ciclovia do rio Pinheiros situada entre o rio e a av. das Nações Unidas, tendo a estação como um possível acesso à ciclovia. 81 05 138 04 Yara Baiardi.indd 81 03/12/2014 17:16:38 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Figura 9 Placa de sinalização existente dentro da estação de trem e rampa de acesso à ciclovia Fonte: Acervo da autora, 2012. Obs.: Na segunda imagem, rampa de acesso à ciclovia entre a estação e rio Pinheiros. Ao fundo, estaçãoponte estaiada onde se localiza a plataforma de embarque da estação de Metrô da linha 5-Lilás do Metrô. O fato de a ciclovia estar isolada entre o rio e a linha de trem impõe dificuldade de acesso direto. A estação Santo Amaro neste caso contribui para o seu uso, mas este não é o cenário presente na maioria das estações da linha 9-Esmeralda,11 já que apenas algumas estações desta têm acesso a ela. Em dezembro de 2013, foi inaugurada uma ponte móvel chamada de Friedrich Bayer, erguida sobre o trecho do canal da represa Guarapiranga e o canal do rio Pinheiros, pela empresa Bayer Brasil, facilitando a mobilidade no lado oeste daquela região. 11. A ciclovia do rio Pinheiros tem 21,5 quilômetros. Há cinco acessos para a ciclovia (entre as estações Jurubatuba e Autódromo; estação Jurubatuba, Vila Olímpia por uma passarela existente; Santo Amaro e estação Cidade Universitária). CPTM, 2012 (9). 82 05 138 04 Yara Baiardi.indd 82 03/12/2014 17:16:39 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... Figura 10 Ponte móvel para pedestres e bicicletas sobre canal Guarapiranga na margem oeste Fonte: Divulgação Bayer, 2012.12 Microacessibilidade por ônibus A acessibilidade por ônibus na margem leste no entorno da estação Santo Amaro pode ocorrer de três maneiras conforme visualizado na figura abaixo: 1. terminal de ônibus Santo Amaro; 2. avenida das Nações Unidas; 3. avenida Padre José Maria. Figura 11 Mapa para localização da microacessibilidade por ônibus Fonte: Google Earth, 2004. Tratamento Yara Baiardi, 2012. 12. Fonte: Divulgação/Bayer. Disponível em: http://ciclovivo.com.br/noticia/sao-paulo-ganha-ponte-paraciclistas-sobre-o-rio-pinheiros. Acesso em: 20 de dezembro de 2013. 83 05 138 04 Yara Baiardi.indd 83 03/12/2014 17:16:40 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre O terminal de ônibus Santo Amaro, inaugurado em 1987, localiza-se na mesma avenida de acesso à estação de trem, a av. Padre José Maria, a aproximadamente 500 metros, e em frente à estação Largo Treze do Metrô, na linha 5-Lilás posteriormente construída. A integração entre o terminal Santo Amaro e a estação de trem não é direta e de difícil percepção visual e física. O percurso é inóspito e sem nenhuma sinalização, fato que prejudica a conectividade (intermodalidade) entre dois importantes polos de transporte coletivo. Após a saída da rampa da estação, à direita, o uso predominante é por uso residencial; em seguida, observa-se o início do enterramento da linha aérea da linha 5-Lilás sobre uma praça e um muro em alvenaria que limita o campus da Unifesp Santo Amaro. À esquerda, predominam grades e muros que cercam o estacionamento de ônibus do próprio terminal (figura 12). Figura 12 Percurso final entre a saída da estação de trem até o terminal de ônibus Santo Amaro Fonte: Acervo da autora, 2012 84 05 138 04 Yara Baiardi.indd 84 03/12/2014 17:16:41 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... No perímetro da projeção do edifício do terminal, à esquerda do percurso, também foram instalados muros que dificultam a interação visual com terminal-cidadão. Com calçadas mínimas e pouca iluminação pública, a vitalidade urbana é pequena, o que estimula sobremaneira a sensação de insegurança do cidadão. Já o ponto de ônibus (abrigo) existente na av. das Nações Unidas, nas proximidades da estação, não conta com baias para paradas de ônibus para embarque e/ou desembarque de passageiros com segurança (figura 13) e nenhuma sinalização indicando a estação logo a frente. É destaque nesse trecho da marginal a inexistência da separação de fluxos entre via local e expressa, sendo a velocidade de até 70 km/hora, não sendo coerente e seguro a instalação de pontos de parada numa via expressa. Figura 13 Ponto de ônibus situado na av. das Nações Unidas Fonte: Acervo da autora. Na margem oeste, o usuário que sair da estação de metrô se deparará imediatamente com a frente do terminal de ônibus Guido Caloi. Contudo, a presença imediata do terminal só ocorrerá para aqueles que saem do metrô. A ilegibilidade da implantação do terminal passa a ocorrer para os transeuntes da av. Guido Caloi (figura 14 - abaixo), que não percebem visualmente a presença do terminal, pois a implantação está recuada em relação a única avenida de acesso existente nessa margem, prejudicando a percepção direta do terminal para aqueles que circulam por essa via e buscam entrar no sistema metroferroviário ou buscar o próprio terminal (figura 14). 85 05 138 04 Yara Baiardi.indd 85 03/12/2014 17:16:41 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Figura 14 Terminal de ônibus Guido Caloi na saída/entrada do corpo de estação do metrô Fonte: Acervo da autora, 2012. As paradas de ônibus específicas das vias na margem oeste estão presentes somente em dois pontos em frente à estação, sendo um destinado ao sentido sul e outro ao sentido norte. Nessas vias também não há baias, mesmo havendo espaço para a execução. A seguir, o diagrama da microacessibilidade por ônibus em que se visualizam todas as possibilidades, com a indicação do sentido das linhas, dos pontos de parada existentes e dos terminais em ambas as margens. 86 05 138 04 Yara Baiardi.indd 86 03/12/2014 17:16:42 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... Figura 15 Diagrama da microacessibilidade por ônibus Estação de trem Santo Amaro Estação de metrô Santo Amaro Rio Pinheiros Percurso das linhas de ônibus - avenidas e ruas Ponto de parada de ônibus - calçadas Terminal de ônibus Fonte: Elaborado por Leonardo Maia e Yara Baiardi, 2012. Microacessibilidade por metrô A estação de trem Santo Amaro foi a primeira da linha 9-Esmeralda a se integrar a uma estação de metrô. A conexão ocorre geograficamente e urbanisticamente de um modo especial, pois a plataforma de embarque e desembarque do metrô situa-se sobre o rio Pinheiros. O conjunto da estação de trem e metrô Santo Amaro, na linha 9-Esmeralda, é o único ponto em que ocorre a transposição da via expressa e da barreira natural do rio exclusivamente para pedestres. Entretanto, essa transposição é realizada de maneira tarifada, pois é necessário o pagamento de bilhete para entrar na estação-ponte, mesmo se o desejo for somente o da transposição entre as margens. A única possibilidade de transposição não tarifada para o pedestre ocorre na ponte do Socorro, distante aproximadamente 1,5 quilômetros ao sul, ou na ponte João Dias, após a ponte Transamérica ao norte. Se, mesmo assim, o cidadão optar por transpor as margens por meio da estação-ponte, poderá ocorrer um conflito nos fluxos, uma vez que a circulação para transposição cruza com o fluxo de passageiros da plataforma de embarque e desembarque do metrô. Ao adentrar na estação de trem Santo Amaro, logo na entrada há uma comunicação visual sinalizando o caminho para a intermodalidade com o metrô, favorecendo positivamente a integração modal entre trem e metrô. Essa integração em relação a outros modais é única, 87 05 138 04 Yara Baiardi.indd 87 03/12/2014 17:16:42 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre pois ocorre sem obstáculos ou ruídos no percurso. Há placas de sinalização que facilitam sobremaneira a legibilidade entre dois nós importantes da rede metroferroviária. Como destacado na figura 16, não há indicação do terminal de ônibus Guido Caloi existente em frente à entrada do metrô, mas apenas a indicação do nome da rua. Em momento algum na estação de metrô e trem haverá a informação ao cidadão sobre a intermodalidade com terminal de ônibus Santo Amaro, importante polo na rede de transporte sobre pneus na região. Figura 16 Placa de sinalização para intermodalidade entre trem e metrô na estação de trem Santo Amaro Fonte: Acervo da autora, 2012. Microacessibilidade por modo motorizado individual - automóvel e motocicleta Pela margem leste, a microacessibilidade à estação por meio do veículo particular motorizado pode ocorrer diretamente pela av. das Nações Unidas somente no sentido norte ou pela av. Padre José Maria. Já pela margem oeste, o acesso é viável pela única via existente, no caso a av. Guido Caloi (figura 17). A estruturação viária existente do eixo da av. das Nações Unidas em frente à estação é a presença do fluxo de veículos nos dois sentidos da marginal, situação esta que se inicia a partir da ponte Transamérica, ou seja, há um binário em cada margem do rio, e não um único sentido separado por margens. Sendo assim, os veículos em sentido sul não têm nenhum contato com a entrada da estação, pois esta via está completamente isolada entre os muros da estação e guard rail do canteiro central. No sentido norte da via, ocorre o contato com os lotes lindeiros, mas a adoção de baias não é adotada para o estímulo à parada com segurança numa via caracterizada expressa e o estímulo à carona, por exemplo. 88 05 138 04 Yara Baiardi.indd 88 03/12/2014 17:16:43 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... Figura 17 Localização das possibilidades da microacessibilidade na estação de trem Santo Amaro pelo modo motorizado individual Fonte: Google Earth, 2004. Tratamento Yara Baiardi. Figura 18 Marginal Pinheiros sentido norte nas imediações da estação de trem Santo Amaro Fonte: acervo da autora, 2012. Obs.: Primeira imagem, foto tirada da Marginal Pinheiros sentido norte. Observa-se ao fundo, saída da Ponte Transamérica, onde o sentido da marginal passa a ser duplo nesse trecho da avenida. Na segunda imagem, observa-se a Marginal Pinheiros também no sentido norte, mas onde ocorre contato com os lotes lindeiros da via. Visualiza-se a saída da Av. Padre José Maria na via expressa. 89 05 138 04 Yara Baiardi.indd 89 03/12/2014 17:16:44 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre A ponte Transamérica, de construção relativamente recente, é a mais próxima da estação de trem. Contudo, ela tem como função ser um acesso direto ao polo gerador Transamérica Expo Center, na av. Doutor Mário Vilas Boas Rodrigues, por meio de veículos oriundos da via expressa da margem oeste ao norte da estação. Destaca-se que não foi concebida calçada para a circulação de pedestres. Isso é uma demonstração de um erro urbano grave em que é explícita a prioridade dada à circulação de veículos motorizados em detrimento a circulação de pedestres. Na av. Guido Caloi, mesmo havendo amplos espaços vazios em seu entorno, não foram executadas baias para parada com segurança para veículos particulares e estímulo à carona. Por fim, não há estacionamentos interligados com o metrô. Todavia, há um estacionamento privado imediatamente ao lado da estação de metrô com preço único de R$ 25,00 por dia em novembro de 2012 (figura 19). Figura 19 Intermodalidade entre veiculo particular e metrô na estação de trem Santo Amaro Fonte: acervo da autora, 2012. Obs.: Na primeira imagem, ocorre o desembarque de passageiro de um veículo particular na av. Guido Caloi em cima da faixa de pedestres, exemplo da carona e da intermodalidade entre veiculo particular e metrô/trem. Na segunda imagem, demonstra-se que há espaço para a construção de um estacionamento integrado com a rede metroferroviária; contudo, no momento, o interesse ocorre apenas no setor privado que, na época da pesquisa, cobrava preço único de R$ 25,00. 90 05 138 04 Yara Baiardi.indd 90 03/12/2014 17:16:45 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... Infelizmente, o cenário é comum em toda a extensão das estações da linha 9-Esmeralda: a intermodalidade do trem com os veículos particulares motorizados, como os automóveis e motocicletas, é inexistente. Não há espaços para parada com segurança (baias) nem incentivo à carona, bem como um estacionamento integrado (onde fosse possível estacionar o veículo ao lado da estação e acessar a rede metroferroviária). No diagrama a seguir, é possível visualizar os sentidos dos fluxos possíveis e as formas de microacessibilidade pelo modo motorizado individual. Figura 20 Diagrama da microacessibilidade por veículo particular à estação de trem Santo Amaro Fonte: Elaborado por Leonardo Maia e Yara Baiardi, 2012. Microacessibilidade por táxi Com relação à intermodalidade entre táxi e trem, ela é possível nos abrigos existentes na av. Padre José Maria, imediatamente em frente ao acesso à estação de trem. Na margem oeste, não há nenhum ponto de táxi no entorno imediato da estação de metrô Santo Amaro. Sínteses da microacessibilidade dos modos de transporte O diagrama abaixo sintetiza todas as conexões possíveis na microacessibilidade da estação de trem Santo Amaro. Ele destaca de maneira clara todas as possibilidades existentes de acesso físico e direto à estação de trem, demonstrando o amplo universo que um cidadão pode ter ao seu alcance ao optar por acessar a estação. 91 05 138 04 Yara Baiardi.indd 91 03/12/2014 17:16:45 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Figura 21 Diagrama de todas microacessibilidades no entorno da estação Santo Amaro Estação de trem Santo Amaro Estação de metrô Santo Amaro Rio Pinheiros Percurso peatonal - calçadas Percurso por bicicleta ciclovia Percurso das linhas de ônibus - avenidas e ruas Pontos de parada de ônibus - calçadas Terminal de ônibus Percurso por automóvel e motocicleta - avenidas e ruas Percurso inicial da corrida Táxi - ruas Abrigo para táxi - calçadas Conexão metrô e trem Fonte: Elaborado por Leonardo Maia e Yara Baiardi, 2012. A estação de trem foi representada nos diagramas como o alvo de todos os modos de transporte e destacada na cor verde. O segundo alvo é a estação de metrô da linha 5-Lilás, por ter uma conexão direta com a estação, representado à esquerda do rio Pinheiros, ilustrada na imagem do diagrama na cor azul de uma linha grossa. Os caminhos de acesso direto dos pedestres aos alvos são representados em linhas finas e azuis em ambas as margens; já as linhas vermelhas representam a única via de acesso por bicicleta até o mês novembro de 2013; a linha de cor roxa representa o sentido dos caminhos das linhas de ônibus nas quais também são destacados os pontos de parada no formato de pequenos círculos e ainda os terminais de ônibus, estes ilustrados de forma retangular na cor branca; na linha de cor amarela, os fluxos dos veículos particulares; e por último, na linha e círculo de cor branca, a localização dos pontos de táxi e o primeiro sentido do início de uma corrida de aluguel. Assim, diante do exposto, observa-se que, quanto mais possibilidades de intermodalidade, mais possibilidades de mobilidade urbana são construídas no território, permitindo assim ao cidadão escolher o melhor meio pertinente a ele naquele momento. CONCLUSÃO Na metrópole paulista, os obstáculos atrelados à mobilidade urbana configuram um dos principais desafios da contemporaneidade e apontam para um papel desafiador na agenda das cidades. A cidade sustentável, na qual se opera um novo modelo de desenvolvimento urbano, que equi92 05 138 04 Yara Baiardi.indd 92 03/12/2014 17:16:46 Análise da microacessibilidade na mobilidade urbana: o caso da estação ... libre de forma eficiente os recursos necessários ao seu pleno funcionamento, exige uma nova concepção do pensar e agir entre os envolvidos na execução dos planos de mobilidade e planejamento urbano, bem como da mudança de hábitos por parte da maioria da sociedade. O estudo apresentado tinha como premissa a pouca articulação das estações de trem com os demais modos de transporte e, ao mesmo tempo, com o espaço público, interferindo assim na qualidade da microacessibilidade dos usuários à rede de transporte metroferroviário. Foi proposta uma metodologia para análise da microacessibilidade articulada aos diferentes modos de transporte a um equipamento urbano, através de estudo de caso explorado exaustivamente em campo, cujas questões conceituais levantadas na análise podem ser replicadas nas demais estações de trem, em especial nas situadas ao longo do rio Pinheiros. Como resultado do estudo, é possível observar que, no entorno da estação Santo Amaro, há um espaço caracterizado pela fragmentação, competição entre os modais, resultando na ilegibilidade do território urbano durante a intermodalidade. Do ponto de vista urbano, não há sinergia entre as entradas das estações de metrô e trem com o usuário, cujos prédios, no papel de equipamentos públicos de destaque deveriam ter como principal função atrair, agregar e servir como facilitadores da microacessibilidade. O ambiente urbano ao redor da estação Santo Amaro, por ser um espaço público de difícil leitura e sem identidade, contribui significativamente para o desestímulo do uso do transporte público pelos cidadãos. A estação Santo Amaro é contemplada por uma ciclovia e é beneficiada por ser uma entrada/saída dessa via. Entretanto, não há bicicletários nem uma malha de ciclofaixa conectada à ciclovia do rio Pinheiros, desestimulando a intermodalidade com o trem e seu uso como meio de transporte diário. Em relação à intermodalidade do trem com o ônibus, foi observado que os modais são absolutamente segregados. A intermodalidade com veículos particulares e com a estação de trem, como foi demonstrado, também é inexistente. Portanto, observou-se, no estudo de caso, que há inúmeros obstáculos na microacessibilidade à estação de trem que desestimulam sobremaneira a integração modal. O potencial de atração das estações de trem, da intermodalidade e da construção de espaços públicos de qualidade não é pensado no desenho urbano. A exceção à regra existente foi apenas com o sistema metroviário com a integração com a linha 5-Lilás. Acredita-se que é por meio da multiplicidade do uso dos modais e da ampliação e da facilidade de conexões que será possível atender com qualidade e eficiência as exigências crescentes de mobilidade urbana no futuro. Melhorar as condições de microacessibilidade de modo eficiente e com qualidade para inseri-lo em condições de igualdade aos demais modos de circular é, quiçá, o maior desafio, se não o mais relevante, a ser enfrentado na mobilidade da cidade contemporânea. 93 05 138 04 Yara Baiardi.indd 93 03/12/2014 17:16:46 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre AN P A SSOCI AÇ ÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS Conheça melhor a ANTP Suas Comissões Técnicas e Grupos de Trabalho Bicicletas • Sistemas Inteligentes de Transporte - ITS • Marketing • Meio Ambiente • Metroferroviária • Pesquisa de Opinião • Qualidade e Produtividade • Trânsito Seus Programas e Projetos Sistema de Informações da Mobilidade Urbana Programa ANTP de Qualidade Bienal ANTP de Marketing Prêmio ANTP - ABRATI de Boas Práticas Visite o site da entidade - http://www.antp.org.br 94 05 138 04 Yara Baiardi.indd 94 03/12/2014 17:16:46 PLANEJAMENTO E TRANSPORTE AN P Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de vista da mobilidade Hudson Carrer Pereira Programa de Pós-Graduação em Transportes, Universidade de Brasília. E-mail: [email protected] Ivo Claudio de Souza Departamento de Trânsito do Distrito Federal. E-mail: [email protected] Pastor Willy Gonzales Taco Programa de Pós-Graduação em Transportes, Universidade de Brasília. E-mail: [email protected] Paulo César Marques da Silva Programa de Pós-Graduação em Transportes, Universidade de Brasília. E-mail: [email protected] De acordo com Denatran (2001), polos geradores de tráfego são empreendimentos de grande porte que atraem ou produzem grande número de viagens, causando reflexos negativos na circulação viária em seu entorno imediato e, em certos casos, prejudicando a acessibilidade de toda a região, além de agravar as condições de segurança de veículos e pedestres. No Distrito Federal, o Decreto Distrital nº 33.740, de 23 de agosto de 2012, que alterou o artigo 2º, inciso XLV do Decreto Distrital nº 19.915, de 17 de dezembro de 1998, que dispõe sobre o Código de Edificações do Distrito Federal, estabelece a seguinte definição para polo gerador de tráfego: XLV - polo gerador de tráfego – constituído por edificação ou edificações cujo porte e oferta de bens ou serviços geram interferências no tráfego do entorno e grande demanda por vagas em estacionamentos ou garagens; o mesmo que “polo gerador de trânsito”; “polo atrativo de trânsito” ou “polo atrativo de viagens”. O termo “polo gerador de tráfego” (PGT) é tratado por Portugal (2012), o qual esclarece que, inicialmente, os impactos mais diretos e visíveis desses empreendimentos estavam associados à circulação e ao estacionamento dos veículos, em particular dos automóveis. 95 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 95 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Diferentemente da expressão polo gerador de tráfego, o termo “polo gerador de viagens” (PGVs), utilizado pela comunidade científica, engloba e considera o impacto de todas as demais viagens, em especial as de maior produtividade social (não motorizadas, por transporte público ou de carga), não se limitando ao setor viário e ao deslocamento por automóveis (Portugal, 2012). Desta conceituação inicial percebe-se que o Decreto Distrital nº 33.740/2012 não capta esta diferença de análise, considerando igualitariamente diversas nomenclaturas. Porém, entende-se que o supracitado decreto preocupou-se em uniformizar as expressões contidas em legislações e textos técnicos de outros períodos, como por exemplo, o termo “polo atrativo de trânsito” contido no artigo 93 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB. Art. 93. Nenhum projeto de edificação que possa transformar-se em polo atrativo de trânsito poderá ser aprovado sem prévia anuência do órgão ou entidade com circunscrição sobre a via e sem que do projeto conste área para estacionamento e indicação das vias de acesso adequadas. Ainda que esses empreendimentos gerem grandes impactos e afetem o desenvolvimento das cidades no que se refere à mobilidade, ao espaço urbano e ao uso e ocupação do solo, que estão completamente interligados, o CTB vincula a aprovação do empreendimento ao órgão de trânsito que, por sua vez, tem atuação limitada à operação do trânsito. Alterações nos dispositivos de controle de interseções são medidas cabíveis aos órgãos executivos de trânsito, porém, de capacidade limitada, principalmente quando não há equidade na divisão do espaço urbano em relação ao transporte de pessoas. Outras medidas mitigadoras para atenuar os impactos causados pelos empreendimentos como faixas ou corredores exclusivos de ônibus (secretaria de transportes), alargamento de vias, viadutos etc. (secretaria de urbanismo) envolvem outros órgãos e deveriam ser planejadas em conjunto e em um nível estratégico, guiado por um plano diretor relacionado ao uso e ocupação do solo. Em algumas cidades brasileiras, como Belo Horizonte, o trânsito e o transporte são de competência de um único órgão (BHTrans), o que facilita a análise, porém esse modelo administrativo não é o usual. Existem em diversas cidades órgãos distintos para cuidar do trânsito e do transporte, como é o caso do Distrito Federal, que tem o Departamento de Trânsito (Detran/DF) e o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). Além desta introdução, o trabalho traz em sequência a legislação nacional sobre o tema com foco na mobilidade urbana; a legislação no Distrito Federal, contextualizando a análise de PGVs; propostas de melhorias na forma de análise de PGVs; e considerações finais. 96 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 96 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... LEGISLAÇÃO SOBRE O TEMA Transcrevem-se aqui alguns dos principais artigos de legislações norteadoras para as análises de empreendimentos classificados como polos geradores de viagens. - Lei Federal nº 12.587/2013 Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana Art. 6º A Política Nacional de Mobilidade Urbana é orientada pelas seguintes diretrizes: I - integração com a política de desenvolvimento urbano e respectivas políticas setoriais de habitação, saneamento básico, planejamento e gestão do uso do solo no âmbito dos entes federativos; II - prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado; III - integração entre os modos e serviços de transporte urbano. (...) - Lei Federal nº 9.503/1997 Institui o Código de Trânsito Brasileiro Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: (...) XIV - implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; (...) XVI - planejar e implantar medidas para redução da circulação de veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo de diminuir a emissão global de poluentes; (...) - Resolução Contran nº 166/2004 Aprova as diretrizes da Política Nacional de Trânsito 2.4.3. Garantir a mobilidade e acessibilidade com segurança e qualidade ambiental a toda população. 2.4.3.1. Priorizar a mobilidade de pessoas sobre a de veículos, incentivando o desenvolvimento de sistemas de transporte coletivo e dos não motorizados. 2.4.3.2. Priorizar a mobilidade e acessibilidade das pessoas considerando os usuários mais frágeis do trânsito, como: crianças, idosos, pessoas com deficiências e portadores de necessidades especiais. 2.4.3.3. Promover nos projetos de empreendimentos, em especial naqueles considerados polos geradores de tráfego, a inclusão de medidas de segurança e sinalização de trânsito, incentivando para que os planos diretores municipais façam referência a sua implan97 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 97 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre tação e prevejam mecanismos que minimizem os efeitos negativos decorrentes, inclusive com ônus ao empreendedor, quando couber. (grifo nosso) 2.4.3.4. Promover a atuação integrada dos órgãos executivos de trânsito com órgãos de planejamento, desenvolvimento urbano e de transporte público. (grifo nosso) 2.4.3.5. Promover a atuação integrada de municípios no tratamento do trânsito em regiões metropolitanas e nas cidades conurbadas. 2.4.3.6. Estimular a previsão na legislação municipal, estadual e federal de mecanismos que exijam a construção, manutenção e melhoria de calçadas e passeios. 2.4.3.7. Fomentar a construção de vias exclusivas para pedestres e ciclistas. (...) 2.4.3.12. Minimizar os efeitos negativos causados pelo trânsito no meio ambiente e melhorar a qualidade dos espaços urbanos. (...) Diferente do que apenas “sugere” o artigo 93 do CTB (preservar a acessibilidade do automóvel), os incisos XIV e XVI do artigo 24 do CTB, a Resolução nº 166/2004 do Contran (PNT) e a Lei Federal nº 12.587/2012 (PNMU) defendem explicitamente a ação política dos órgãos responsáveis, inclusive de trânsito, para a gestão sustentável da mobilidade urbana e de sua integração com o uso do solo, a prioridade do transporte coletivo sobre o individual e do não motorizado sobre o motorizado. A Lei de Mobilidade Urbana oferece uma forma adequada de organizar a circulação urbana nas cidades brasileiras, com diretrizes e definições de cada aspecto de atuação dos órgãos públicos e do setor privado. Esta lei não estabelece o que tem que ser feito, mas qual a melhor maneira para fazer em relação às cidades e todos os aspectos que devem ser considerados, levando em consideração as suas particularidades. ANÁLISE DE POLOS GERADORES NO DISTRITO FEDERAL Além das vias urbanas sob circunscrição do Detran/DF, o Distrito Federal possui rodovias distritais e federais localizadas em áreas urbanas sob a circunscrição do Departamento de Estradas de Rodagem - DER/DF e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT, respectivamente. Ainda que o artigo 93 do CTB vincule a aprovação de polos atrativos de trânsito à anuência do órgão com circunscrição sobre a via desde sua publicação (1998), esta legislação não era cumprida no Distrito Federal, tendo a atenção dos órgãos de controle a partir de 2009. A falta de quantitativo e de capacitação de servidores para essa “nova” 98 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 98 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... demanda, impactando o andamento das obras, também fomentou debates e mudanças na legislação sobre o assunto. Dentre as principais legislações a serem observadas, cita-se a Lei nº 2.105, de 8 de outubro de 1998, que dispõe sobre o Código de Edificações do Distrito Federal; o Decreto Distrital nº 19.915, de 17 de dezembro de 1998, que regulamenta a Lei nº 2.105/1998. Nos últimos anos, o Decreto Distrital nº 33.740, de 16 de agosto de 2012, alterou parte do Decreto Distrital nº 19.915/1998 e o Decreto Distrital nº 33.741, de 20 de agosto de 2012, que regulamenta o artigo 20 da Lei Complementar nº 803, de 25 de abril de 2009, no que diz respeito às normas viárias, conceitos gerais e parâmetros para dimensionamento de sistema viário urbano para o planejamento, elaboração e modificação de projetos urbanísticos, revogou o Decreto nº 26.048, de 20 de julho de 2005. Aos 16 de setembro de 2013, o DER/DF e o Detran/DF publicaram a Instrução Normativa Conjunta nº 01/2013, considerando a necessidade de disciplinar a análise de projetos para a emissão de parecer técnico para anuência aos projetos classificados como polo atrativo de trânsito. De acordo com seu artigo 2º, inciso VI: Medidas mitigadoras: são aquelas capazes de reparar, controlar ou eliminar os efeitos indesejáveis provenientes da implantação e operação do empreendimento no trânsito, considerando a segurança viária e o retorno a um nível de serviço satisfatório ou à condição atual de relação volume/capacidade sem o empreendimento. Nota-se que as medidas mitigadoras que deveriam atenuar os impactos vincularam-se a ações para reparar, controlar e eliminar os efeitos indesejáveis, tendo como balizamento o retorno da relação volume/ capacidade, impactada principalmente pelos automóveis. Deste modo, os estudos são apresentados com base no nível de serviço das intersecções, que se baseia na capacidade instalada (incluindo os dispositivos de controle), no tráfego atual (tipo e quantidade de veículos) e nos impactos que serão gerados pelo empreendimento em estudo. Esgotada a capacidade dos pontos de controle das interseções, a opção restante para atender a definição estabelecida pela instrução implica em novas infraestruturas viárias ou na inviabilidade do empreendimento, sem atentar-se para o melhor uso da capacidade instalada oferecida pelos serviços de transporte coletivo e não motorizados. Como cenário da realidade brasileira, o elevado número de automóveis acaba sendo o grande responsável pela modificação do nível de serviço nas intersecções, ainda que não seja eficiente no transporte de pessoas por espaço ocupado. Como exemplo, podemos citar que uma faixa de tráfego com 3,5 metros de largura possui capacidade aproximada de 1.800 unidades de carro de passeio (UCP) por hora. Considerando 99 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 99 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre que um ônibus representa 2,5 UCP, teríamos o equivalente a 720 ônibus (1.800/2,5). Sendo a taxa de ocupação de automóvel no Distrito Federal de 1,5 pessoas por veículo e a ocupação de ônibus em torno de 70 pessoas, uma faixa de tráfego com automóveis transporta em torno de 2.700 pessoas por hora, enquanto que para o ônibus tem-se a capacidade de 50.400 pessoas por hora, quase 19 vezes mais. Se, por um lado, a avaliação com base no nível de serviço das vias fornece um parâmetro objetivo para identificar o impacto causado pelo empreendimento nas interseções, bem como quais medidas mitigadoras deverão ser adotadas para atenuar esse impacto, por outro lado, converge em um modelo de cidade insustentável onde, saturados os pontos de controle, serão necessárias novas obras de infraestrutura, esbarrando em determinado momento na indisponibilidade de espaço. Não havendo disponibilidade de espaço, a avaliação com base nos níveis de serviço das vias tendo como indicador a mobilidade por modo automóvel passa a ser considerada o parâmetro limitador do uso do solo; em detrimento de indicadores ambientais, socioeconômicos e/ou de conforto; não permitindo adensamentos maiores do que aquele que a rede viária suporta como infraestrutura da mobilidade por automóvel. Como citado anteriormente, o uso de uma faixa de trânsito para o transporte coletivo pode representar uma melhora substancial na equidade do uso do espaço urbano em deslocar pessoas ao invés de veículos. Porém, a eficiência do sistema viário não se limita a medidas válidas de sinalização de faixa exclusiva e sincronização semafórica aos veículos coletivos, que estão ao alcance do órgão de trânsito, mas deve ser realizada em conjunto com o órgão de transporte e de planejamento urbano. No Distrito Federal, observa-se que as análises de projetos de polos geradores ao longo do tempo não estão inseridas em um planejamento estratégico da cidade, podendo resultar em um conjunto de medidas mitigadoras dispersas envolvendo infraestruturas, porém restritas à análise do trânsito, isoladas umas das outras e definidas pelo indivíduo que analisa o projeto. O resultado final de diversas medidas mitigadoras individuais pode diferir e fornecer resultados menos satisfatórios do que quando se analisa o todo. O planejamento de uso do solo para cada região deve servir para balizar as ações de trânsito e de transporte, seja no dimensionamento da infraestrutura instalada como no uso eficiente desta capacidade. Outra consequência do modelo de análise com foco no automóvel é que os primeiros empreendimentos classificados como polos geradores de tráfego de uma região, principalmente para novos loteamentos, pouco contribuem em termos de medidas mitigadoras. Além disso, na maioria das vezes, não se exigem medidas do empreendedor, uma vez que o nível de serviço das vias encontra-se em níveis admissíveis. Com o aden100 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 100 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... samento da região, o impacto caminha para níveis insatisfatórios onde os pontos de controle das interseções não suportam a quantidade de veículos, e as medidas mitigadoras voltam-se à ampliação da capacidade das vias, podendo resultar até mesmo em grandes obras de arte. A cidade de São Paulo apresenta legislação interessante sobre medidas mitigadoras (Lei Municipal nº 15.150/2010), em que todos os empreendedores devem contribuir com limites entre 1% a 5% do custo total do empreendimento no custeamento das medidas mitigadoras definidas pela Companhia de Engenharia de Tráfego - CET/SP. Esta forma de divisão de custos reflete o porte do empreendimento, que apresenta, na maioria das vezes, alta correlação positiva com o nível das atividades e geração de viagens, de forma que todos possam contribuir para a melhoria da mobilidade, e não somente os empreendimentos que afetam o nível de serviço das interseções pelo uso do automóvel. Muitas vezes, os impactos causados por empreendimentos em regiões já adensadas não são tão intensos quanto os verificados em outros empreendimentos que o precederam e talvez em nada contribuíram para mitigar os impactos. Na prática, todos os empreendimentos afetam o nível de serviço da via, mas, somente depois de certo nível de degradação (nível “E”), a cobrança por mitigação passa a ser exigência. Com relação às vagas a serem oferecidas pelos empreendimentos, é contraditório que as normas de edificação exijam a destinação e obriguem a edificação de até 100% da área útil edificável para ocupação com garagens de automóveis, aumentando-se o custo das edificações e promovendo a exclusão econômica e social da população de baixa renda, expulsa para áreas mais afastadas/distantes, e menos acessíveis, retroalimentando as demandas pelo transporte motorizado e aumentando os custos sociais com deslocamentos (financeiro, ambientais, qualidade de vida etc.). As áreas mais acessíveis para o transporte coletivo, como por exemplo aquelas localizadas próximas às estações de metrô, são as que experimentam maior valorização no mercado imobiliário, dificultando e até impedindo sua aquisição pelos usuários de baixa renda e mais dependentes da acessibilidade que os serviços de transporte coletivo destas áreas podem oferecer. - Plano Diretor de Transporte Urbano - PDTU A Lei nº 4.566, de 4 maio de 2011, que dispõe sobre o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal foi o instrumento jurídico utilizado como Plano de Mobilidade Urbana para o recebimento de recursos orçamentários federais destinados à mobilidade urbana, conforme estabelece a Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. 101 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 101 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Observa-se que o PDTU foi promulgado antes mesmo da Lei de Mobilidade, o que representou o Distrito Federal ser a primeira região a ter acesso aos recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento. Conforme o artigo 3º, dentre os objetivos gerais do PDTU para a melhoria da mobilidade, transcreve-se: I - reduzir a participação relativa dos modos motorizados individuais; II - redefinir o modelo de circulação de veículos, em especial nas áreas de maior fluxo; III - desenvolver e estimular os meios não motorizados de transporte; IV - reconhecer a importância dos deslocamentos de pedestres e ciclistas, com proposições adequadas às características da área de estudo; V - proporcionar mobilidade às pessoas com deficiência ou restrição de mobilidade; VI - priorizar, sob o aspecto viário, a utilização do modo coletivo de transportes e a integração de seus diferentes modais; (...) As diretrizes pertinentes ao tema estabelecidas no artigo 4º do PDTU são: I - articulação com as políticas públicas do Governo do Distrito Federal, sobretudo com as políticas de desenvolvimento urbano; II - adoção de medidas articuladas para a promoção dos transportes públicos, regulação da circulação do automóvel, planejamento do território, gestão ambiental e outras políticas públicas afins, garantindo-se a priorização da circulação dos veículos do STPC/DF e o modo de transporte não motorizado sobre o transporte individual motorizado (sistema de transporte público coletivo do Distrito Federal); III - gestão integrada dos sistemas viários, de transportes e de trânsito; (...) VIII - intervenções viárias que proporcionem maior fluidez e segurança à circulação de veículos, pedestres e ciclistas; IX - implantação de medidas para ampliar o uso da bicicleta e os deslocamentos de pedestres nas viagens diárias, assegurando-se conforto e segurança para os ciclistas e para os pedestres; X - tratamento especial na inserção de polos geradores de viagens, por meio de instituição de instrumentos legais que promovam a adequada acessibilidade aos empreendimentos, garantindo-se a mobilidade de todos os usuários, bem como o desempenho operacional seguro e eficaz dos sistemas viário e de transportes; (grifo nosso) XI - regulação da oferta de vagas de estacionamento onde for necessária, como forma de reduzir a circulação de veículos de transporte individual ou privado, para a viabilidade de padrões sustentáveis de mobilidade. 102 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 102 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... Com destaque ao inciso X que trata de polos geradores de viagens, observa-se que o Distrito Federal possui legislação em consonância com a Lei de Mobilidade e com a Política Nacional de Trânsito, bem como contempla a necessidade de atuação conjunta dos órgãos e articulação das políticas de desenvolvimento urbano, transporte e trânsito. Conforme o artigo 6º da Lei nº 4.566/2011, a Secretaria de Estado de Transportes é o órgão responsável pela gestão do PDTU, tendo, dentre outras competências, planejar, coordenar, supervisionar, executar e avaliar a política de transporte e mobilidade, bem como manter programas de educação para a mobilidade, em consonância com o órgão de trânsito, devendo-se abordar temas como trânsito e circulação de pessoas, bens, serviços e veículos. - Outras considerações Outros órgãos e legislações têm reflexos na análise de polos geradores de tráfego no Distrito Federal. i. Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal - Terracap A Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal rege-se pela Lei nº 6.404/1976, lei das sociedades por ações, sendo que do seu capital social, 51% pertencem ao DF e 49% a União, estando vinculada à Governadoria do Distrito Federal. De acordo com seu estatuto social, tem como finalidade gerir o patrimônio imobiliário do Distrito Federal, mediante utilização, aquisição, administração, disposição, incorporação, oneração ou alienação de bens, assim como realizar, direta ou indiretamente, obras e serviços de infraestrutura e obras viárias no Distrito Federal. Dentre as competências da Diretoria de Técnica e de Fiscalização da Terracap estão a elaboração de estudos relacionados à implantação de infraestrutura em empreendimentos imobiliários da empresa e elaboração de estudos referentes à implantação de infraestrutura básica em imóveis (estatuto social). Conforme a Lei Federal nº 6.766, de 1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, e alterações posteriores, artigo 2º: § 4º Considera-se lote o terreno servido de infraestrutura básica cujas dimensões atendam aos índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe. (Incluído pela Lei nº 9.785, de 1999) § 5º A infraestrutura básica dos parcelamentos é constituída pelos equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação. (Redação dada pela Lei nº 11.445, de 2007). (grifo nosso) 103 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 103 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Assim, quando a Terracap comercializa novos loteamentos com uso do solo e potencial construtivo definidos, estes devem contar com toda a infraestrutura necessária, incluindo vias de circulação devidamente dimensionadas. Sendo este um dos argumentos de empresários em reivindicar o não pagamento de medidas mitigadoras, pois pagam quantias elevadas na aquisição dos lotes com a devida infraestrutura, entende-se viável a abertura desse debate à sociedade, incluindo a reversão desses recursos na implantação das políticas de mobilidade da região em projetos futuros. Ressalta-se que o próprio Estatuto das Cidades (Lei Federal nº 10.257/2001) dispõe sobre diretrizes gerais da política urbana, que tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana: I - garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; (grifo nosso) (...) VI - ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: (...) d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; (grifo nosso) (...) ii. Onalt e Odir A Outorga Onerosa de Alteração de Uso (Onalt) e a Outorga Onerosa do Direito de Construir (Odir), previstas no Estatuto das Cidades (Lei Federal nº 10.257/2001), artigo 4º, inciso V, alínea “n”, como instrumento de política urbana de institutos jurídicos e políticos, são recepcionadas no Distrito Federal na Lei Orgânica do DF, no Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), na Lei Distrital nº 1.170, de 1996; na Lei Complementar Distrital nº 294, de 2000, na Lei Complementar Distrital nº 800, de 2009 e nos Planos Diretores Locais (PDL). Outorga Onerosa de Alteração de Uso (Onalt) é instrumento de política urbana, exigível de beneficiários de valorização de unidade imobiliária ocorrida em decorrência de alteração de uso de atividade, constituindo-se em contraprestação devida ao poder público em razão de legítimo ônus devido pela aquisição de um direito. Na mesma linha, a Outorga Onerosa do Direito de Construir (Odir) é exigível para que o proprietário de um imóvel edifique acima do limite estabelecido pelo coeficiente de aproveitamento básico, mediante contrapartida financeira a ser prestada pelo beneficiário. 104 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 104 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... O incremento de atividades propiciado pela Onalt e pela Odir, que necessitam de estudos para serem concedidos conforme os Planos Diretores Locais (PDL) das regiões administrativas, deve fazer parte do planejamento de infraestrutura do sistema viário e da política de mobilidade. Os recursos provenientes da cobrança de Onalt e Odir, conforme proferido na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2011.00.2.009912-6/ DF, devem ser lançados diretamente na conta do Tesouro do Distrito Federal, não podendo ser destinados a nenhum fundo. O Distrito Federal vinha integrando esses recursos em 95% ao Fundo de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal - Fundurb e em 5% o Fundo do Meio Ambiente do Distrito Federal (art. 18 do Decreto nº 23.776, de 12 de maio de 2003). Do ponto de vista técnico, espera-se que esses recursos exigidos pelos incrementos de construção e que se refletem no maior número de atividades possam contemplar também a mobilidade das pessoas. PROPOSTA DE ANÁLISE Ante o exposto, apresentam-se propostas de alteração da análise de polos geradores de tráfego para polos geradores de viagens, considerando que esta nomenclatura engloba a preocupação em se planejar de forma integrada e em conjunto com a sociedade o uso e a ocupação do solo, o transporte e o trânsito: - Aplicação das leis existentes e regulamentação das lacunas que impedem a definição de competências e responsabilidades dos órgãos governamentais para aprovação de relatórios de impacto de trânsito, cujos níveis de serviço da via tenham extrapolado os limites da capacidade instalada ou projetada. - Revisão do projeto viário urbanístico de competência do órgão de planejamento, ou dos serviços de transporte público coletivo de competência do DFTrans e da Secretaria de Transportes. - Com relação à geração/atração de viagens e distribuição dos impactos sobre o sistema viário: a. Definir as linhas de desejo das viagens atraídas/geradas, conforme pesquisa O/D. b. Identificar os caminhos possíveis e alternativos entre pares O/D. c. Identificar restrições (distâncias / interseções / etc.) e gargalos existentes para cada caminho e respectivas capacidades, volume/capacidade, nível de serviço, reserva de capacidade e atrasos verificados. d. Alocar as viagens para os caminhos que não possuam restrições, ou com menor restrição, até que atinjam limites de tolerância, que indiquem ser mais favorável a procura por caminhos alternativos. 105 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 105 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre e. Agrupar os caminhos alternativos para cada par O/D, atribuindo índices (%), cuja soma totalize 100%. f. Distribuir as viagens geradas pelo PGT, proporcionalmente aos índices definidos em “e”. g. Verificar os impactos decorrentes. - Redirecionar os estudos/avaliações para as condições de mobilidade da população, devendo o carregamento das viagens considerar viagens de pessoas e não viagens de veículos, bem como a capacidade instalada da rede viária para receber modos de deslocamentos (ônibus / autos / bicicletas / pedestres / etc.); - Definir indicadores de desempenho direcionados para a distribuição ótima/ideal (relativamente aos impactos ambientais, de tráfego, consumo de energia, ocupação de espaço viário para circular e estacionar, riscos de segurança/acidentes e outros custos sociais) definindo o transporte coletivo como modo padrão. - Definir no PDTU a classificação dos modos de deslocamentos em: a. Essenciais ou básicos: deverão ser especificados e dimensionados para atender todas, ou a maioria, das demandas por deslocamentos da população prevista. b. Complementares: deverão ter a infraestrutura especificada e dimensionada para permitir a operação complementar do modo motorizado individual (automóveis e motos). c. Acessórios: havendo disponibilidade operacional, folga de capacidade decorrente de superdimensionamento da infraestrutura ou de sazonalidades da operação regular, permitir o uso eventual e acessório do modo motorizado individual. - Garagens para automóveis deixam de ser obrigatórias, passando a ser “facultativas” (facultada mediante a oferta de opções de mobilidade aceitáveis e dentro de parâmetros a serem regulamentados, definidos no projeto urbanístico, no estudo de impacto de vizinhança ou como medida mitigadora). Vinculado a isso, políticas públicas de fiscalização de estacionamento irregular deverão ser efetivas e permanentes. - A eficácia dos serviços de transportes coletivos é dependente do uso e ocupação do solo mais intensivos, onde quanto maior o número de usuários que possam ter acesso, utilizar os serviços e compartilhar seus custos de implantação e operação, melhor. Ou seja, não existe contradição entre densidade do uso do solo e mobilidade/qualidade dos serviços de transporte coletivo. - Ainda que a instalação de edificações de grande porte para uso residencial possa impactar a infraestrutura viária (capacidade da via) e o trânsito em sua área de influência, as ações de controle sobre sua implantação devem ocorrer na concepção do parcelamento, no projeto urbanístico, e ser baseada na quantidade de habitantes, na 106 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 106 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... densidade da ocupação pretendida, na renda (padrão de vida) e na escolha do(s) modo(s) de deslocamento(s) desta população, da mesma maneira como deve ser para o controle dos impactos sobre o consumo de todos os serviços e infraestruturas urbanas oferecidas (água, energia, esgoto, telefonia, equipamentos públicos de saúde, de educação, de segurança pública etc.). - Os novos projetos urbanísticos deverão ter estudos de tráfego e mobilidade como condição para sua aprovação. A aprovação dos projetos deverá ter a anuência dos órgãos gestores de trânsito e de transporte. - A infraestrutura da mobilidade urbana (sistema viário, de transporte e de trânsito) e seu dimensionamento devem ser atributos urbanísticos dos parcelamentos e definidos em seu projeto. - Habitação coletiva deixa de ser polo atrativo de trânsito e os estudos de viabilidade devem compor os estudos de impacto de vizinhança, bem como ter a mobilidade de pessoas, e não de automóveis, por modo coletivo e por modo não motorizado, como diretrizes de projeto e de avaliação. - Ações de mobilidade, seja para correção de projetos urbanísticos, seja para mitigação de impactos, deverão ter a mobilidade das pessoas e bens com modos de deslocamentos coletivos ou não motorizados, como referência preferencialmente. - Legislação com base na Lei Municipal da cidade de São Paulo nº 15.150/2010, onde o empreendedor arca com o custo das medidas mitigadoras de 1% a 5% do custo total do empreendimento, apresenta como vantagens um modelo em que todos contribuem, e não só quando o empreendimento afeta interseções saturadas. - Ainda que haja entendimento de parte do corpo técnico dos órgãos governamentais do Distrito Federal de que medidas que não envolvam a fluidez do automóvel sejam consideradas somente medidas compensatórias, entende-se que melhorias no transporte não motorizado, no transporte coletivo, na segurança de pedestres, idosos e pessoas com deficiência incentivam outros modos de transporte e, indiretamente, podem reduzir o uso do automóvel. Assim, mesmo sob a ótica do automóvel, essas medidas são indiretamente mitigadoras, e não compensatórias. - As medidas mitigadoras e de compensação deverão ser direcionadas ao provimento das necessidades de mobilidade dos usuários, observando-se as diretrizes definidas pela Política Nacional de Mobilidade Urbana, quais sejam: a. Abrigos e/ou baias de ônibus. b. Semáforos para pedestres. c. Iluminação de faixas de travessia de pedestres. d. Sinalização vertical com uso de pórticos, semipórticos e bandeiras. 107 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 107 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre e. Oferta de espaços internos das edificações (não utilizáveis, como áreas sob rampas, escadas e cantos etc.) para bicicletários/paraciclos em empreendimentos comerciais, de serviços e residenciais. f. Transporte coletivo fornecido pelo empreendimento (próprio ou fretado). g. Fornecimento de sinalização, equipamentos e mobiliários urbanos como apoio ao trânsito de bicicletas (paraciclos, placas, demarcações etc.). h. Estudos com foco no transporte coletivo (vias exclusivas para ônibus em determinados horários e faixas exclusivas para ônibus). i. Faixas de pedestres elevadas e diminuição da largura da pista de rolamento. j. Equipamentos de fiscalização eletrônica com fornecimento de informações em layout definido pelo órgão de trânsito. k. Programas para uso compartilhado de automóvel. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todo planejamento territorial, de transporte e de trânsito com foco na Lei de Mobilidade e na Política Nacional de Trânsito deve ser analisado de forma sistêmica e as estruturas de governo devem ser integradas na definição dos planos diretores estratégicos. Embora haja necessidade de anuência do órgão de trânsito para a aprovação de polos geradores de viagens estabelecida pelo CTB, as medidas mitigadoras a serem adotadas com base na mobilidade das pessoas não se restringem à operação do trânsito. O nível de serviço das interseções é um parâmetro objetivo no dimensionamento das medidas mitigadoras, porém não é o único, tendendo a um modelo insustentável de ocupação do automóvel, ao que este estudo entende estar vinculado à denominação de “polo gerador de tráfego”. Observa-se um consenso nas diversas legislações citadas em prioridade ao transporte coletivo e não motorizado, bem como a segurança viária, acessibilidade e priorização do pedestre, em especial para pessoas com deficiência e idosos nos projetos de “polos geradores de viagens”. Uma faixa percentual do custo total do empreendimento pode ser previsto em legislação para que todos os empreendimentos contribuam com medidas de mobilidade, de acordo com o impacto gerado e, de acordo com o Plano de Mobilidade do Distrito Federal, a Secretaria de Transportes ou instituição com competência semelhante pode coordenar as ações na inserção de polos geradores de viagens de forma a garantir a mobilidade de todos os usuários, bem como o desempenho operacional seguro e eficaz dos sistemas viário e de transportes. 108 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 108 03/12/2014 15:25:53 Análise de polos geradores de viagens no Distrito Federal sob o ponto de... Ao encontro das propostas deste trabalho, pesquisas na área de transit-oriented development, traduzido como “desenvolvimento orientado para os transportes públicos” (Fernandes, 2011), aparecem como uma alternativa viável em busca de um planejamento conducente ao uso mais eficiente do solo, estímulo à utilização dos transportes públicos, diminuição das situações de congestionamentos na cidade e incentivos ao transporte a pé e não motorizado. REFERÊNCIAS bibliográficas BRASIL. Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979 - Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências. BRASIL. Lei Federal nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. BRASIL. Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. BRASIL. Lei Federal nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana; e dá outras providências. COMPANHIA IMOBILIÁRIA DE BRASÍLIA (TERRACAP). Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal. Estatuto social. Companhia Imobiliária de Brasília - Brasília, 2013. CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO - CONTRAN. Resolução Contran nº 166, de 15 de setembro de 2004. Aprova as diretrizes da Política Nacional de Trânsito. DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO - DENATRAN. (2001). Manual de procedimentos para o tratamento de polos geradores de tráfego. Brasília: DENATRAN/ FGV, 2001. 84f. DISTRITO FEDERAL. Decreto Distrital nº 23.776, de 12 de maio de 2003. Regulamenta a Lei Complementar n.º 294, de 27 de junho de 2000, que institui a outorga onerosa da alteração de uso no Distrito Federal. DISTRITO FEDERAL. Instrução Normativa Conjunta nº 01 - DER/DF - Detran/DF, de 16 de setembro de 2013. Dispõe sobre a necessidade de disciplinar a análise de projetos para a emissão de parecer técnico para anuência aos projetos classificados como Polo Atrativo de Trânsito. DISTRITO FEDERAL. Lei Distrital nº 4.566, de 4 de maio de 2011. Dispõe sobre o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal - PDTU/DF e dá outras providências. FERNANDES, A. R. G. (2011). Transit-Oriented Development – um ensaio metodológico para o porto. Dissertação de mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Ordenamento do Território. Departamento de Geografia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. PORTUGAL, L. DA S. (2012). Polos geradores de viagens orientados à qualidade de vida e ambiental: modelos e taxas de geração de viagens. Editora Interciência. ISBN-10: 8571933057. 1ª edição. SÃO PAULO. Lei Municipal da Cidade de São Paulo nº 15.150, de 6 de maio de 2010. Dispõe sobre os procedimentos para a aprovação de projetos arquitetônicos e para a execução de obras e serviços necessários para a minimização de impacto no sistema viário decorrente da implantação ou reforma de edificações e da instalação de atividades - polo gerador de tráfego. 109 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 109 03/12/2014 15:25:53 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Revista dos Transportes Públicos - ANTP Orientação para os autores de artigos A Revista dos Transportes Públicos está aberta à publicação de artigos sobre transportes públicos e trânsito, em diversas áreas, a saber: 1. Urbanismo • Legislação urbanística e mobilidade • Uso e ocupação do solo e mobilidade • Impacto de projetos de mobilidade no uso e na ocupação do solo 2. Planejamento de transporte • Transporte público sobre trilhos • Transporte público sobre pneus 3. Economia do transporte • Financiamento do sistema de mobilidade • Custos de implantação e operação de sistemas viários e de transporte • Legislação fiscal em transporte • Tarifas e sistemas tarifários • Custo de externalidades (acidentes, poluição, congestionamento) 4. T ecnologia de transporte e trânsito • Veículos públicos e privados • Sistemas de controle e gerenciamento/Equipamentos 5. Planejamento e gestão do Trânsito • Políticas de mobilidade geral • Políticas de mobilidade em meios específicos: caminhada, bicicleta, moto, automóvel • Gestão do Trânsito / Segurança e educação de trânsito • Operação do Trânsito • Fiscalização e policiamento do trânsito • Transporte de carga 6. Meio ambiente • Energia na mobilidade • Emissão de poluentes O autor deve indicar qual o tema e subtema a que seu artigo deve ser relacionado. O artigo deve ter, no máximo, 25 laudas digitadas (20 linhas com 70 toques cada uma), acompanhado de um resumo de seu conteúdo, em no máximo 5 linhas de 70 toques. As ilustrações e gráficos já estão contabilizados neste tamanho. O artigo e o resumo devem ser enviados para o e-mail [email protected] ou em cd por correio para a ANTP – Rua Marconi, 34, 2º andar, conjs. 21 e 22, República, CEP 01047-000, São Paulo, SP. No CD devem ser discriminados o programa, sua versão e os nomes dos arquivos. O artigo expressa a opinião de seu(s) autor(es), que assumem inteira responsabilidade sobre o texto escrito. Os autores não recebem nenhuma remuneração da ANTP e todos os direitos autorais do(s) artigo(s) são cedidos à ANTP, sem ônus para nenhuma das partes. A publicação de um artigo fica a critério do Conselho Editorial, podendo ser reproduzidos, bastando, para tanto, mencionar como fonte a Revista dos Transportes Públicos, da ANTP. 110 06 138 05 Hudson Pereira e outros.indd 110 03/12/2014 15:25:53 PLANEJAMENTO E TRANSPORTE AN P Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região Metropolitana de Belém Igor Masami Okano Morotomi Arquiteto e urbanista, mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano pela Universidade da Amazônia. E-mail: [email protected] Helena Lúcia Zagury Tourinho Arquiteta e urbanista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento, doutora em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco e professora e pesquisadora da Universidade da Amazônia. E-mail: [email protected] A cidade é composta por usos do solo e por fluxos que os interligam. Assim sendo, não é de se estranhar que o tema dos transportes seja tratado com grande destaque nas políticas urbanas. Na história do urbanismo, não faltam casos de propostas ancoradas, direta ou indiretamente, na resolução dos problemas de deslocamento intraurbano. O plano de expansão de Barcelona de Cerdá, as reformas de Haussmann para Paris, e os diversos planos viários, com largas avenidas que vem cortando as grandes cidades brasileiras e congestionando a paisagem urbana com enormes elevados são alguns exemplos do papel que os transportes assumiram na organização do espaço urbano. Quer no âmbito internacional, quer no contexto nacional, o que se nota é que, desde o final do século XIX, os transportes vêm assumindo cada vez maior relevância, já que se torna necessário viabilizar o fluxo de número cada vez maior de pessoas. No Brasil, a partir da segunda metade do século XX, o agravamento das condições de mobilidade urbana reforçou o discurso da necessidade de formulação e implementação de práticas de planejamento de transporte. Como resultado, uma série de políticas nacionais estimulou a criação de órgãos e a elaboração de planos de transporte urbano no país. Na Região Metropolitana de Belém - RMB, problemas de mobilidade vêm sendo apontados desde os anos 1960. Para enfrentá-los, foram elaborados, da década de 1970 até 2010, sete planos de transportes. A grande maioria das ações planejadas nesses documentos, todavia, não foram implementadas. A crise atual de mobilidade urbana na RMB 111 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 111 03/12/2014 15:17:26 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre não pode, portanto, ser atribuída à insuficiência de planos elaborados para combatê-la ou evitá-la. Há que se entender, então, as razões que explicam o porquê da não concretização das ações planejadas. Normalmente a resposta dada a esta questão aponta para a ausência de vontade política dos governantes locais. Mas seria esta a única explicação? Que interesse teria um gestor local de evitar a solução de problemas de mobilidade quando esta representa, pelo menos em tese, uma possibilidade de legitimar e ampliar seu poder político? Não teriam outras explicações possíveis? As políticas nacionais de transporte urbano que induziram a formulação dos planos locais não teriam também influenciado a adoção de tipologias de propostas pouco compatíveis com a capacidade de investimento presentes nas realidades socioeconômicas e políticas locais? Os problemas de continuidade verificados nas políticas nacionais não teriam provocado, da mesma forma, descontinuidades e rupturas no planejamento de âmbito local? O presente artigo parte do pressuposto de que, para entender a pouca efetividade dos planos de transporte elaborados para a RMB, é importante identificar, também, o papel das políticas nacionais de transporte nesse processo. Políticas de transportes no Brasil Vasconcellos (2013) aponta dois processos fundamentais ao entendimento das políticas de transporte no Brasil: o processo de urbanização acelerada das cidades brasileiras e a constituição da indústria automotiva no país. O primeiro resultou na expansão da malha urbana, na reestruturação espacial das cidades e no aumento das distâncias e dos tempos de deslocamento e, consequentemente, ampliou a necessidade de transporte público. O segundo representou o início da oferta regular e mais acessível de automóveis particulares a uma maior parcela da população composta, inicialmente, pelas classes de renda média e alta e, mais recentemente, por segmentos da classe média baixa. Com isso, o transporte individual se tornou um tema politicamente importante devido ao forte poder de pressão dessas camadas da sociedade sobre a administração e política públicas, além do próprio poder da indústria automobilística. Ao mesmo tempo em que se alargava a oferta de transporte individual motorizado, assistia-se a uma falta de políticas urbanas consistentes e permanentes no Brasil (Vasconcellos, 2013), notadamente aquelas mais relacionadas ao ordenamento espacial. O processo de esvaziamento sofrido pelo planejamento urbano, sobretudo a partir de meados dos anos 1980, levou à consolidação de um espaço urbano organizado de acordo com os interesses de alguns grupos, especialmente de setores do capital imobiliário. 112 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 112 03/12/2014 15:17:26 Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região... Vasconcellos (2013) aponta outros fatores de transformações urbanas, econômicas e sociais no Brasil após a II Guerra, que alteraram o comportamento da demanda do transporte urbano. O primeiro foi o sucateamento e declínio gradativo dos serviços de bondes, ocorrido, na maioria das cidades brasileiras que possuíam esse sistema, desde a década de 1930 até a suspensão total, nas décadas de 1960 e 1970, passando aos ônibus, definitivamente, o protagonismo no transporte público das cidades. O segundo foi a prioridade conferida ao modelo rodoviário de desenvolvimento nacional, iniciada ainda nos anos 1930, e intensificada, nos anos 1950, com as políticas de estímulo à indústria automobilística, em detrimento aos demais modos de transporte. Um dos resultados mais visíveis de tais transformações ocorreu em 2005, quando os deslocamentos realizados em transporte individual praticamente se igualaram aos feitos por transporte coletivo (Vasconcellos, 2013). Na década de 1960, além da criação do Ministério dos Transportes, foi constituído também o Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes - Geipot, o qual possuía a finalidade de definir as diretrizes para o planejamento da demanda de transportes no país. A partir da atuação do Geipot, foram introduzidas e difundidas, no Brasil, as técnicas de planejamento de transportes urbanos que vinham sendo desenvolvidas e aplicadas nos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos (Vasconcellos, 2013). A intervenção direta da União na questão do transporte urbano era justificada pelas grandes cidades ressentirem (...) da ausência de um planejamento preventivo e, da insuficiência de recursos próprios, não apresentando infraestrutura capaz de assimilar rapidamente os novos contingentes populacionais, além de não atenderem às exigências dos novos costumes do mundo moderno (Geipot, 1978, p. 6). Não obstante a criação do Geipot, a entrada efetiva do governo federal na questão dos transportes urbanos, tanto no planejamento quanto no projeto de sistemas de transporte coletivo, ocorreu somente com a criação da Empresa Brasileira de Transportes Urbanos - EBTU em 1975, quando fatores de ordem externa e interna induziram a ação direta da União nos problemas de mobilidade das cidades, tais como a crise internacional do petróleo e o processo de urbanização desordenada, respectivamente. À EBTU foi delegada a função de promoção da política nacional de transportes urbanos, com poderes de decisão sobre propostas e investimentos. Dentre suas diretrizes, era ressaltada a de “(...) garantir a prioridade ao transporte coletivo, visando à economia de combustível e de dispêndio de divisas e à redução de poluição ambiental” (Vasconcellos, 2013, p. 53). 113 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 113 03/12/2014 15:17:26 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre A criação da EBTU marcou o deslocamento da ação governamental do desenvolvimento urbano em geral para os transportes urbanos (Schmidt & Farret, 1986 apud Corrêa, 1989). No nível metropolitano, seriam constituídas as Empresas Metropolitanas de Transportes Urbanos EMTU, responsáveis pela elaboração e coordenação da implantação dos planos de transportes conjuntamente com a EBTU (Mercês, 1998). Por meio da atuação conjunta, as ações da EBTU e do Geipot se estruturariam a partir de uma metodologia dividida em três etapas. Na primeira, denominada “Recomendações para implantação imediata” (RII), seriam elaboradas propostas com o objetivo de solucionar, em curto prazo, os principais problemas de trânsito urbano, basicamente através de obras e sinalização viárias. Na segunda, de formulação do “Estudo de transportes coletivos” (Transcol), o objetivo principal era propor a reestruturação do transporte coletivo através de medidas de implantação em médio prazo. A terceira e última etapa consistia na elaboração do “Plano Diretor de Transportes Urbanos” (PDTU) contendo recomendações de longo prazo para a adequação do sistema de transportes às diretrizes municipais de uso e ocupação do solo. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, em decorrência do acirramento da crise econômica e da centralização das decisões relativas a financiamentos em nível federal, essa forma de atuação de médio e longo prazo acabou sendo desconsiderada e abandonada, e os PDTU foram esquecidos pelos poderes executivos (Bernardes, 1986, apud Corrêa, 1989). Ao final da década de 1980 e até sua extinção, em 1991, a EBTU adquiriu mais o papel de agência de fomento que o de agente executor, se restringindo a ações de baixo custo e pouco impacto, voltadas à racionalização dos sistemas existentes, principalmente dos sistemas de transporte por ônibus (Vasconcellos, 2013). A partir desse momento, apesar do fortalecimento das indústrias e do empresariado relacionados aos ônibus, as cidades brasileiras pouco conseguiram elevar a qualidade do transporte público e aumentar, de maneira consistente, a parcela dos deslocamentos diários realizados no mesmo. Vasconcellos (2013) aponta três motivos que contribuíram para esse quadro: a suspensão da atuação do governo federal nos transportes públicos urbanos, causada pela Constituição de 1988 e pela posterior extinção da EBTU e do setor responsável pelo planejamento do transporte urbano no Geipot; o modelo de regulamentação do transporte público brasileiro, o qual conferiu grandes poderes de resistência aos operadores do sistema; e, finalmente, as políticas de incentivo ao transporte individual por automóvel e motocicletas. Para fazer face ao agravamento dos problemas urbanos em suas variadas naturezas, o Governo Federal, a partir dos anos 2000, vem 114 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 114 03/12/2014 15:17:26 Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região... intensificando a sua intervenção nas cidades. Uma dessas medidas foi a criação do Ministério das Cidades em 2003, que ficaria encarregado do desenvolvimento e implantação das políticas públicas urbanas, dentre elas, as de transporte urbano. Ainda na segunda metade da década de 2000, o tema dos transportes urbanos ganhou um novo impulso. As escolhas do Brasil, em 2007, como país-sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014, e, em 2009, da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 colocaram em evidência o debate sobre a mobilidade urbana das cidades brasileiras. O subsequente processo de seleção das cidades-sede para os jogos da Copa, portanto, deu início a uma corrida para o desenvolvimento de projetos que contemplassem a mobilidade urbana, visando ao fortalecimento da candidatura das cidades. Com isso o Governo Federal intensificou, ainda mais, a sua política de investimentos nos temas de transportes urbanos. A Política Nacional de Mobilidade Urbana, instituída em 2012, bem como os sucessivos Programas de Aceleração do Crescimento - PAC lançados a partir de 2007, e ampliados a partir de pressões da sociedade civil por melhores condições de mobilidade que culminaram em passeatas realizadas em cidades de todo o país a partir de 2013, não apenas destacam, mas também reforçam a importância que os transportes assumem na pauta de atuação do poder público. Ressalta-se que, contraditoriamente, o Governo Federal permaneceu com a política de redução fiscal sobre as indústrias automobilísticas, em curso desde 2008, ação esta que figura como uma das principais causas do crescimento exponencial da frota de automóveis no Brasil1 e, consequentemente, do agravamento das condições de deslocamento nas cidades. Todas essas políticas e formas de intervenção repercutiram decisivamente no planejamento de transportes na RMB. Planejamento de transportes na RMB No início do século XX, o sistema de transporte coletivo de Belém era operado por bondes. Porém, devido aos mesmos problemas operacionais e financeiros enfrentados em outras cidades brasileiras, o sistema de bondes de Belém teve seu serviço interrompido definitivamente em 1947. Dentre estes problemas, vale destacar a acelerada expansão urbana e a incapacidade de expansão do sistema no mesmo ritmo, altos custos de manutenção e investimentos, o baixo valor tabelado das tarifas, agravados pela crescente concorrência com os ônibus, os quais, além de percorrer os mesmos itinerários, 1. S omente no período de 2001 a 2012, o crescimento da frota de automóveis nas 15 principais metrópoles brasileiras foi de 11,4 milhões de unidades, aproximadamente 90,2% (Observatório das Metrópoles, 2013). 115 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 115 03/12/2014 15:17:26 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre progressivamente ampliavam sua área de circulação, atendendo à demanda das áreas de expansão da cidade e de locais aonde os bondes não chegavam, como as áreas de cotas mais baixas (Ribeiro, 2004; Vasconcellos, 2013). Assim como o ocorrido nas demais cidades brasileiras, a partir do encerramento dos serviços de bondes, a demanda por transporte público em Belém passou a ser suprida quase integralmente pelos ônibus, controlados por uma grande quantidade de pequenos operadores, cada qual com uma frota bastante reduzida (geralmente de um a dois veículos), e que definiam os itinerários de acordo com a demanda, à revelia de qualquer controle pelo poder público. Os primeiros grandes esforços visando ao ordenamento do sistema de transporte da RMB ocorreram a partir da década de 1970, motivados pela política nacional de transportes e impulsionados pela atuação do Geipot em âmbito nacional, através da elaboração de planos de transportes. De acordo com Mercês (1998, p. 154), nesse período, “do ponto de vista local, a formulação de planos de transporte representava um meio para captação de recursos junto ao governo central”, expectativa que acabou se mantendo ao longo das décadas, embora a existência do plano nunca tenha sido suficiente para garantir os recursos destinados a sua implementação. Em 1977, foi instalado, em Belém, um escritório regional do Geipot, já sob a denominação Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes. O objetivo era implantar, na RMB, a mesma sistemática de planejamento de transportes definidas pelo Geipot em nível nacional (Corrêa, 1989), ou seja, elaborar o “Estudo de transportes urbanos da Região Metropolitana de Belém” (Eturb/BEL), conforme as três etapas com os diferentes níveis de abrangência citados anteriormente. A primeira etapa, denominada “Recomendações para implantação imediata” (RII), buscava soluções de rápida implantação destinadas à melhoria imediata das condições de trafegabilidade do sistema viário da RMB, assim como organizar o sistema para estudos posteriores mais detalhados buscando medidas mais efetivas de ordenação do sistema (Azevedo Filho, 2012). Corrêa (1989, p. 171), ao analisar o planejamento e as ações do Geipot nesse período, mostra que “ao facilitar os fluxos de deslocamentos de veículos em geral, incentivou principalmente o predomínio do transporte privado”. A segunda etapa do Eturb/BEL, o “Estudo de Transporte Coletivo” (Transcol), foi concluída em 1980 e se voltou exclusivamente aos problemas do transporte público metropolitano. Com ele, o problema do transporte urbano passou a ser visto como um problema de adequação entre oferta-demanda por transporte coletivo. Segundo o Geipot 116 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 116 03/12/2014 15:17:26 Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região... (1980), a cidade de Belém apresentava um longo período de ausência de ação eficaz de planejamento sistematizado que abrangesse a problemática do transporte urbano. Diferentemente do RII, que teve algumas de suas propostas implantadas – provavelmente em função de uma maior facilidade do poder público em executar obras viárias de pequeno alcance –, o Transcol não conseguiu sair do papel. Ao propor a reorganização das linhas, o estudo enfrentou grande resistência por parte dos operadores do sistema e acabou caindo no esquecimento (Corrêa, 1989). Ademais, nesse momento, com relação às propostas referentes à infraestrutura viária, os recursos financeiros, centralizados no governo federal, já estavam sendo redirecionados para outros setores, como o da habitação e do saneamento (Mercês, 1998). Pela ordem das etapas estabelecidas, após o Transcol deveria ser elaborado o “Plano Diretor de Transportes Urbanos”. No entanto, o Geipot decidiu não realizar o PDTU naquele momento, alegando que o plano de uso do solo, o qual serviria de insumo fundamental para este, não havia sido realizado a contento pela Prefeitura Municipal de Belém - PMB (Corrêa, 1989). A empresa optou, então, pela realização do “Estudo de racionalização do transporte coletivo da Região Metropolitana de Belém” (RTC/BEL), concluído em 1986. Este estudo enfatizou, mais uma vez o transporte coletivo em detrimento dos demais modos de deslocamento. O RTC/ BEL diagnosticou que, novamente pela “falta de planejamento”, o quadro da RMB pouco diferia daquele de dez anos antes. A situação dos transportes urbanos foi atribuída à ausência de diretrizes que permitissem, ao poder público, a antecipação aos problemas (Geipot, 1986). Num contexto em que a EBTU se restringia a ações de baixo custo e pouco impacto, o RTC/BEL acabou limitado a uma atualização do Transcol (Azevedo Filho, 2012), contendo propostas de: reorganização de linhas e itinerários; alteração de localização de terminais e pontos de parada; e modificações de parâmetros operacionais das linhas. Diante do cenário de crise econômica nacional, a EBTU acabou adquirindo o papel de mera agência de fomento intermediando a aprovação de projetos para financiamento junto ao Banco Mundial. Todavia, mesmo não atuando diretamente nos transportes urbanos, a EBTU fomentou a criação das EMTU, às quais caberia a execução das políticas nacionais de transporte nas cidades brasileiras e a gestão do transporte urbano, como ocorrido na RMB, em 1982. Neste contexto, à EMTU coube a gestão do sistema de transporte público da metrópole belenense e, principalmente, os esforços para captação de recursos federais para aplicação na RMB (Tobias, 2004). 117 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 117 03/12/2014 15:17:26 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Para que os municípios pudessem se candidatar aos recursos do Banco Mundial, a EBTU estabeleceu, como condição, a existência de planos diretores de transporte urbano. Paralelamente, e também por intermédio da EBTU, a Agência de Cooperação Internacional do Japão - Jica, órgão de atuação internacional do governo japonês, estava oferecendo cooperação técnica para elaboração de PDTU para cidades brasileiras. Após processo de solicitação, a RMB foi selecionada pela Jica e, em 1989, o governo federal firmou acordo de cooperação técnica com esta agência para a elaboração do primeiro Plano Diretor de Transportes Urbanos da RMB - PDTU, sendo este concluído em 1991. Esse documento iniciou um período marcado pela atuação da agência japonesa na RMB e que se estende até o presente momento. A expectativa era de um posterior acordo de empréstimo com o governo do Japão para implantação das diretrizes contidas no plano. Realizado com colaboração do governo do Estado do Pará, o PDTU/1991 fez um diagnóstico amplo do transporte urbano metropolitano que evidenciou, além da intensificação dos problemas de tráfego, o fracasso da implementação dos planos anteriormente realizados. Ao final, apontou o transporte público por ônibus como a solução de maior viabilidade econômica para a RMB e propôs, dentre outras: a implantação e o prolongamento de corredores de tráfego; a reestruturação operacional do sistema de transporte por ônibus, através da criação de linhas troncais e alimentadoras; e a implantação de canaletas exclusivas para a circulação dessas linhas troncais. Após a elaboração do PDTU/1991, previa-se a realização de estudos de viabilidade econômica dos projetos prioritários e, em seguida, a solicitação, pelo governo do Pará, de cooperação econômica junto ao governo japonês para a implantação das diretrizes contidas no plano. Tais ações foram interrompidas pela ampla reforma administrativa no governo federal, que levou à extinção da EBTU. A não designação de outra entidade para realizar as atividades da EBTU acabou dificultando o processo de obtenção de financiamento para execução do PDTU/1991. Somou-se a isso a transferência da gestão do sistema de transporte urbano da esfera metropolitana para o município de Belém e, pouco tempo depois, a extinção também da própria EMTU. Nesse contexto, o setor de transportes urbanos na RMB padeceu de um vazio institucional: o governo do Estado possuía um plano diretor, mas não tinha mais um órgão executor de atuação nos municípios para a efetivação do mesmo, e a Prefeitura de Belém, em contrapartida, não tinha capacidade de endividamento suficiente para o prosseguimento da implantação do PDTU/1991 nem se interessou em incorporar as diretrizes do mesmo a suas ações, dada sua ausência no processo de formulação das mesmas. 118 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 118 03/12/2014 15:17:26 Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região... Ao final da década de 1990, a Jica demonstrou interesse na atualização do plano e viabilizou um novo acordo de cooperação técnica para a avaliação e revisão do PDTU/1991. Iniciado em 2000 e concluído em 2001, o segundo PDTU manteve, de maneira geral, a mesma concepção básica do PDTU/1991. Suas principais proposições contemplaram: implantação de um sistema integrado de transporte coletivo com linhas troncais e alimentadoras, terminais de integração e canaleta exclusiva para circulação das linhas troncais; projetos viários de implantação e prolongamento de corredores de tráfego; e recomendações para implantação de uma rede cicloviária. Subsequentemente à realização do PDTU/2001, foi realizado o “Estudo de viabilidade econômica de projetos para o melhoramento do sistema de transporte na Região Metropolitana de Belém”, concluído em 2003. Esse estudo, que buscava subsidiar a solicitação de acordo de cooperação financeira com o governo japonês, abrangeu o sistema de transporte público por ônibus e alguns projetos viários. Seus resultados e proposições, todavia, ficaram hibernando até os esforços do governo do Estado para inserir Belém entre as cidades sede da Copa do Mundo de Futebol. Em 2008, no contexto da candidatura de Belém para ser sede da Copa, o governo do Estado do Pará resgatou os planos de transportes elaborados pela Jica e identificou a necessidade de atualizar o estudo de viabilidade de 2003 para adequá-lo às demandas de transportes e à situação socioeconômica na RMB correntes. Embora Belém não tenha sido selecionada como cidade sede, procedeu-se à revisão do plano, motivada pela possibilidade de acordo de empréstimo externo junto ao governo japonês. Novamente por meio de cooperação técnica, a Jica realizou, entre 2009 e 2010, a atualização do estudo de 2003, resultando no documento “Estudo preparatório para o projeto de sistema de transporte de ônibus da Região Metropolitana de Belém”. O objetivo agora era financiar a implantação do sistema integrado de ônibus na RMB. Seguiu, portanto, a ênfase no transporte coletivo realizado por ônibus, mas agora limitando-se exclusivamente aos componentes do sistema troncal de ônibus, incluindo infraestrutura viária de circulação, projetos operacionais, dentre outros. Neste documento, a concepção de transporte coletivo por ônibus se associou ao sistema conhecido como bus rapid transit - BRT. Ressalte-se que esta proposta se fez no bojo da disseminação desse tipo de sistema em várias cidades brasileiras, possibilitada, em grande parte, pelos programas de financiamento federais. Nesse ínterim, em 2011, a Prefeitura de Belém buscou financiamento junto ao Programa de Aceleração do Crescimento II - PAC II, do governo federal, também para um projeto de corredores de BRT em 119 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 119 03/12/2014 15:17:26 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Belém. Paralelamente, o governo do Estado seguiu o seu processo com a solicitação de acordo de empréstimo externo junto ao Governo do Japão, a qual culminou, em 2012, com a assinatura do contrato de financiamento para a elaboração de projetos e execução de obras de um corredor de BRT na RMB. A Prefeitura de Belém, tendo obtido sucesso na captação de recursos junto ao PAC II, iniciou, em 2012, as obras de infraestrutura de um dos corredores de BRT na área central de Belém. Porém, mesmo seguindo diretrizes gerais contidas nos planos da Jica, a PMB continuou com as obras à revelia de qualquer compatibilização de projetos com o governo do Estado. As tratativas entre a PMB e o governo do Estado só vieram a acontecer efetivamente a partir de 2013, diante de um contexto político favorável. Mais recentemente, em 2013, o lançamento de um novo PAC para ações na área de mobilidade urbana após as manifestações da sociedade civil em favor da redução nas tarifas do transporte coletivos e de melhorias das condições de mobilidade ensejou a inscrição e a captação de recursos, por parte da Prefeitura de Belém, para a elaboração de projetos executivos e execução das obras de uma rede de transporte fluvial, corredores de ônibus convencionais, além de outros corredores de BRT, criando a possibilidade de ampliação e diversificação do sistema de transporte integrado em implantação na RMB, ao permitir a inclusão espacial da população que vive nas ilhas e margens de rios que compõem a capital. Novamente, as políticas nacionais voltadas ao transporte urbano, hoje conduzidas principalmente pela Secretaria de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, pautam os planos e as propostas de transporte urbano na RMB, agora estimulando a criação de corredores de BRT e aceitando a possibilidade de financiar corredores e terminais passageiros para o transporte fluvial integrado ao sistema BRT. Há que se saber se, desta vez, serão acompanhadas, efetivamente da oferta dos recursos necessários à implantação dos planos e projetos propostos, e se as ações sugeridas referentes ao transporte fluvial serão capazes de começar a romper o paradigma da exclusividade do transporte por ônibus no atendimento do sistema de transporte público de passageiros da metrópole. Considerações finais A análise do processo de planejamento de transportes da RMB – aqui tratado através dos planos de transportes elaborados para essa região – à luz das políticas nacionais de transporte urbano mostrou haver, historicamente, uma grande correlação entre os planos e as ações locais e metropolitanos e as políticas de transportes praticadas em âmbito nacional. O declínio dos sistemas de bondes, a consolida120 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 120 03/12/2014 15:17:26 Políticas nacionais de transportes e o planejamento de transportes na Região... ção dos ônibus como principal forma de transporte público, e a ascensão e a primazia do transporte individual frente ao público são exemplos de processos que ocorreram não somente na RMB, mas também em muitas outras cidades brasileiras. A partir da década de 1970, o planejamento de transportes na RMB passou a ser executado, principalmente, pelo governo federal e, dessa maneira, seguiu a mesma metodologia de trabalho utilizada pelo Geipot em outras cidades brasileiras. Ademais, a preocupação das políticas nacionais com o transporte público nesse momento, em decorrência da crise da matriz energética nacional, teve reflexos diretos nos planos de transportes locais, os quais se dedicaram, em grande parte, à racionalização do sistema de transporte público por ônibus – ainda que somente no discurso. Quando o governo federal se retirou do tema dos transportes urbanos, no início da década de 1990, observa-se, com a elaboração do PDTU/1991, o aumento da participação do governo estadual e de um agente internacional, a Jica. Não obstante, os objetivos de ordenamento do sistema de transporte público continuaram os mesmos. Mesmo a atual implantação do sistema BRT na RMB mostra-se inserida em uma preocupação generalizada com o tema da mobilidade frente aos problemas de transporte nas cidades e busca de novas soluções para estes. Assim, ainda que sob diferentes condições sociais, econômicas, técnicas e políticas, e comandado por distintos agentes em períodos distintos, observa-se que o planejamento de transportes na RMB, sobretudo a partir da década de 1970, sempre esteve vinculado e em consonância com o contexto nacional das políticas de transportes, demonstrando que, mesmo hoje, os esforços locais nesse campo estão condicionados a um movimento político, econômico, social e técnico mais amplo, e ao debate nacional acerca da mobilidade urbana nas cidades brasileiras. Diante disso, parecem ser insuficientes as teses que explicam o não equacionamento do problema dos transportes da RMB exclusivamente pela falta de planos ou pela ausência de interesse político dos governos estaduais e locais. Em certa medida, a ineficácia dos planos de transporte realizados para a RMB reflete a própria ineficácia e contradições das políticas nacionais voltadas para o transporte urbano e metropolitano. Referências bibliográficas AZEVEDO FILHO, Mário Angelo Nunes de. Análise do processo de planejamento dos transportes como contribuição para a mobilidade urbana sustentável. Tese de doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, 2012. 121 07 138 06 Igor Morotomi e Helena Tourinho.indd 121 03/12/2014 15:17:27 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre CORRÊA, Antônio José Lamarão. O espaço das ilusões: planos compreensivos e planejamento urbano na Região Metropolitana de Belém. Dissertação de mestrado, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará. Belém, 1989. GEIPOT. Estudo de racionalização do transporte coletivo da Região Metropolitana de Belém. Brasília: Geipot, 1986. ______. 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O SPUrbanuss reúne 14 empresas concessionárias, na sua maioria agrupadas sob a forma de consórcios, que atuam em oito áreas de operação. Nessas áreas, circulam cerca de nove mil ônibus, responsáveis pela realização de perto de 10 mil viagens e pelo transporte de mais de seis milhões de passageiros por dia. Com a finalidade de cuidar dos interesses do setor, o SPUrbanuss defende a instituição de políticas públicas que priorizem o transporte coletivo, com o objetivo de melhorar a qualidade do atendimento oferecido aos clientes dos serviços dos ônibus. Esse objetivo está contemplado na visão, missão, crenças e valores, bem como nos objetivos estratégicos da entidade. Durante 2014, a administração do SPUrbanuss decidiu enfrentar o desafio de ampliar a representação das suas associadas, buscando na sociedade o reconhecimento do importante papel que elas desempenham na mobilidade e na acessibilidade dos paulistanos. Ao mesmo tempo, as empresas procuraram melhorar a qualidade do serviço prestado aos seus clientes. Para tanto, partiram para a busca permanente da máxima eficiência operacional e empresarial e investiram fortemente na renovação da frota, adquirindo veículos modernos e equipados com avançadas inovações tecnológicas. 123 08 138 08 SPUrbanuss (modelo 2).indd 123 03/12/2014 15:18:05 O Sindicato também procurou, neste ano, dar mais transparência às suas ações, por meio da participação de seus executivos e do corpo técnico em fóruns especializados do setor e através da abertura ao atendimento das demandas da população e da imprensa. Foi feita uma reformulação no site do Sindicato, tornando-o visualmente mais agradável, de fácil acesso e com informações úteis e claras a todos que se interessam pelas atividades do SPUrbanuss, empresas associadas e entidades do setor. Iniciouse, ainda, a interface com os públicos-alvo (representantes do setor de transporte urbano, estudantes, técnicos e clientes do serviço) por meio do Facebook. Essas iniciativas fazem parte do plano de comunicação da entidade, com o objetivo de mostrar que as empresas operadoras não se limitam a cumprir as suas obrigações contratuais, mas buscam, também, construir um novo relacionamento com o poder público, entidades do setor e clientes. Nesse sentido, deve ser destacado o esforço realizado para melhorar a qualidade da interlocução entre os técnicos do SPUrbanuss e os representantes da administração pública, para o tratamento das questões operacionais, de gestão e institucionais. Em várias oportunidades, foram debatidos assuntos relacionados aos interesses do órgão fiscalizador (SPTrans) e das empresas operadoras e sistematizada uma agenda permanente de discussões, para tratar de temas relacionados à melhoria da qualidade do serviço prestado à população. Essa nova postura do SPUrbanuss foi firmada com base na criação de grupos de trabalho, liderados pelos executivos e pelos técnicos da entidade, que se debruçaram, ao longo do ano, sobre as mais complexas questões que envolvem o transporte urbano de São Paulo. Nas reuniões, foram tratados desde problemas relacionados aos modelos de contratação e operação até temas ligados ao melhor aproveitamento e valorização da mão-de-obra do setor. Paralelamente a esses estudos – e, ao mesmo tempo, diretamente relacionado – o SPUrbanuss definiu, no primeiro semestre deste ano, o seu planejamento estratégico, selecionando projetos prioritários para detalhamento e efetivação em 2015. Por fim, consolidando essa nova fase do SPUrbanuss, foi feita a reformulação das antigas instalações da sede na Vila Olímpia. A reforma procurou traduzir uma imagem de modernidade e de inovação da entidade e, ao mesmo tempo, oferecer um ambiente de trabalho mais adequado às atividades do seu corpo técnico. 124 08 138 08 SPUrbanuss (modelo 2).indd 124 03/12/2014 15:18:05 Entidades associadas AN P Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande Agência Municipal de Trânsito e Transporte de Corumbá Agência Municipal de Transporte e Trânsito de Campo Grande Artesp - Agência Reguladora de Transportes São Paulo Associação Brasileira da Indústria Ferroviária - Abifer Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito - ABEETrans Associação das Empresas de Transporte de Passageiros de Porto Alegre - ATP Associação das Empresas de Transportes Coletivos Urbanos de Campinas Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô - Aeamesp Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos - NTU Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BB Transporte e Turismo Ltda. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Coleurb - Coletivo Urbano Ltda. Comap Consultoria, Marketing, Planejamento e Representações Ltda. Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU-RJ Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos de Fortaleza - Metrofor Companhia de Engenharia de Tráfego - São Paulo Companhia de Engenharia de Tráfego de Santos Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória - Ceturb-GV Companhia do Metropolitano de São Paulo - Metrô - Sede Companhia do Metropolitano do Distrito Federal Companhia Municipal de Trânsito de Cubatão Companhia Paulista de Trens Metropolitanos Concessão Metroviária do Rio de Janeiro S.A Consórcio da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos da Grande Goiânia Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais Departamento Estadual de Trânsito – Detran-CE EMBARQ Brasil, o Centro de Transporte Sustentável do Brasil 125 09 138 Entidades e Calendário.indd 125 03/12/2014 15:25:30 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Emdec - Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S/A Emplasa - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A Empresa de Desenvolvimento Urbano e Social de Sorocaba Ltda. Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte S/A - BHTrans Empresa de Transporte Urbano de Ribeirão Preto S/A Empresa de Transportes Coletivos de São Bernardo do Campo Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S/A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S.A Empresa Municipal de Planejamento, Gestão e Educação em Trânsito e Transportes de Montes Claros - MCTrans Empresa Municipal de Transportes e Trânsito - Transbetim Empresa Pública de Transporte e Circulação - RS Fabus - Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de SP Federação Nacional dos Arquitetos Fetranspor - Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio Janeiro Fundação Ezute Fundação para Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia Grande Recife Consórcio de Transporte Guarupass – Associação das Concessionárias de Transporte Urbano de Passageiros de Guarulhos e Região Headwayx Engenharia Ltda. Instituto de Energia e Meio Ambiente Instituto de Mobilidade Sustentável - Ruaviva Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito - Manaus Instituto para o Desenvolvimento dos Sistemas de Transportes - iDESTRA Logit Engenharia Consultiva Ltda. Marcopolo S/A Maubertec - Engenharia de Projetos Ltda. Mercedes-Benz do Brasil Ltda. Metra - Sistema Metropolitano de Transporte Ltda. NovaKoasin Equipamentos e Sistemas Ltda. Oficina Consultores Associados S/c Ltda. Opus - Oficina de Projetos Urbanos Consultores Associados Ltda. Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Praia Grande Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Ubatuba Prefeitura Municipal de Campo Limpo Paulista Prefeitura Municipal de Canoas Prefeitura Municipal de Caxias do Sul Prefeitura Municipal de Jacareí Prefeitura Municipal de Marabá Prefeitura Municipal de Mauá Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo Prefeitura Municipal de São Carlos Prefeitura Municipal de Suzano 126 09 138 Entidades e Calendário.indd 126 03/12/2014 15:25:30 Entidades associadas Prefeitura Municipal de Valinhos Prime Engenharia e Comércio Ltda. Prodata Mobility Brasil Ltda. Programa Pós-Graduação - Engenharia Urbana - Univ. Fed. S. Carlos Santo André Transportes / SA-TRANS São Paulo Transportes S.A. Secretaria de Estado de Transportes Metropolitanos de São Paulo Secretaria de Transportes e Trânsito de Guarulhos Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana - SEMOB - Natal Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de São Caetano do Sul Secretaria Municipal de Planejamento Urbano - Hortolândia Secretaria Municipal de Trânsito - Caraguatatuba Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes - Barretos Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes de Piracicaba Secretaria Municipal de Transportes - Maringá Secretaria Municipal de Transportes - Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Transportes - São Paulo Secretaria Municipal de Transportes de Jundiai Secretaria Municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais - Florianópolis Servico Municipal de Transporte Coletivo de Araras - SP Setepla Tecnometal Engenharia Ltda. Sindata Tecnologia e Sistemas de Trânsito Ltda Me Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro - Rio Ônibus Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo Sindicato das Empresas de Transporte Urbano e Metrop. de Passag.de Curitiba e Reg. Metrop. Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros e Fretamento e Turismo de São Paulo Sindicato dos Permissionários Autônomos do Transporte Suplementar de Passageiros de Belo Horizonte e Região Metropolitana Sindicato Empresas Transporte Coletivo Urb. Passag. São Paulo - Urbanuss Sindicato Interestadual Indústrias de Materiais e Equipamentos Ferrov. Rodov. Sinergia Estudos e Projetos Ltda. Socicam Administracao, Projetos e Representação - SP Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém - SeMOB Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa Superintendência Municipal de Transportes Urbanos – SMTU - Manaus TACOM - Engenharia Projetos Ltda. Termini Ltda. Tranzum Planejamento e Consultoria de Trânsito S/S Ltda TTC - Engenharia de Tráfego e de Transportes S/c Ltda. Urbanização de Curitiba S/A Volvo do Brasil Veículos Ltda. 127 09 138 Entidades e Calendário.indd 127 03/12/2014 15:25:30 Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 37 - 2014 - 3º quadrimestre Calendário de eventos nacionais e internacionais Título ou assunto Local e data Promotor Contato 60ª Reunião do Fórum Paulista de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana Piracicaba/SP 26 e 27/02/2015 ANTP [email protected] ANTP/MG ricmendanha@ uai.com.br ANTP [email protected] ANTP [email protected] a definir 62ª Reunião do Fórum Mineiro de Gerenciadores de Transporte 5 e 6/03/2015 e Trânsito 19º Encontro Nordeste de Gerenciadores de Transportes Urbano e Trânsito (retomada do encontro Nordeste) Aracaju/SE 18/03/2015 85ª Reunião do Fórum Nacional Aracaju/SE 19 e 20/03/2015 de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito Brasilia/DF – CCUG ANTP/FNP Reunião Extraordinária do Fórum Nacional de Secretários 07 a 09/04/2015 e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito. O evento será no dia 07.04 durante a realização do III EMDS promovido pela Frente Nacional de Prefeitos em Brasilia/DF 61ª Reunião do Fórum Paulista de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana ANTP Ribeirão Preto/SP 21 e 22/05/2015 - a confirmar 20º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito e IX INTRANS - Exposição Internacional de Transporte e Trânsito Santos/SP - Centro de Convenções Mendes 23 a 25/06/2015 ANTP [email protected] [email protected] www.antp.org.br a definir 63ª Reunião do Fórum Mineiro de Gerenciadores de Transporte 30 e 31/07/2015 e Trânsito ANTP/MG ricmendanha@ uai.com.br 86ª Reunião do Fórum Nacional a definir de Secretários e Dirigentes Públicos de Transporte Urbano e Trânsito ANTP [email protected] Dia "Sem Meu Carro" (Campanha) Nacional 22/09/2015 ANTP/ Brasilia [email protected] 62ª Reunião do Fórum Paulista de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana ANTP Praia Grande/SP 22 e 23/10/2015 - a confirmar [email protected] 128 09 138 Entidades e Calendário.indd 128 03/12/2014 15:25:31 Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP Conselho Diretor (biênio 2014/2015) Ailton Brasiliense Pires presidente José Antonio Fernandes Martins vice-presidente Luiz Antonio Carvalho Pacheco vice-presidente Nelson Barreto C. B. de Menezes vice-presidente Otavio Vieira da Cunha Filho vice-presidente Paulo Henrique do Nascimento Martins - vice-presidente Ramon Victor César vice-presidente Renato Gianolla vice-presidente Roberto Gregório da Silva Junior vice-presidente Vanderlei Luis Cappellari vice-presidente Vi c e n t e Abate vice-presidente Antonio Luiz Mourão Santana (Oficina); Claudio de Senna Frederico (Artificium); Humberto Kasper (Trensurb; Jilmar Augustinho Tatto (SMT/São Paulo); João Gustavo Haenel Filho (Socicam); Joaquim Lopes da Silva Junior (EMTU/SP); Emiliano Stanislau Affonso Neto (Aeamesp); José Antonio Fernandes Martins (Simefre); Joubert Fortes Flores Filho (Opportrans/Metrorio); Lélis Marcos Teixeira (Rio Ônibus); Leo Carlos Cruz (Ceturb-GV); Leonardo Ceragioli (Prodata); Luiz Antonio Carvalho Pacheco (Metrô - SP); Marcos Bicalho dos Santos (Setrabh); Mário Manuel Seabra R. Bandeira (CPTM); Nelson Barreto C. B.de Menezes (Grande Recife); Oscar José Gameiro Silveira Campos (Secretaria de Transporte e Vias Públicas da Pref. de SBC); Otavio Vieira da Cunha Filho (NTU); Plinio Oswaldo Assmann (Membro Benemérito); Ramon Victor César (BHTrans); Renato Gianolla (Urbes/ Sorocaba); Roberto Gregório da Silva Junior (URBS/ Curitiba); Vanderlei Luis Cappellari (EPTC/ Porto Alegre); Vicente Abate (Abifer); Carlos Henrique Reis Malburg (BNDES) Suplentes (biênio 2014/2015) Atilio Pereira (Secretaria de Transportes e Trânsito de Guarulhos); Francisco Carlos Cavallero Colombo (CBTU-RJ); Julio Grilo (Tacom); Nazareno S. N. Stanislau Affonso (Ruaviva); Paulo Henrique do Nascimento Martins (ManausTrans); Wagner Colombini Martins (Logit); Willian Alberto de Aquino Pereira (Sinergia); Rômulo Dante Orrico Filho (Fundação COPPE -); Luis Antonio Lindau (EMBARQ Brasil); Laura Lúcia Vieira Ceneviva (membro individual) Conselho Fiscal Titulares Carlos Alberto Batinga Chaves (TTC) João Carlos Camilo de Souza (Setpesp) Roberto Renato Scheliga (membro benemérito) Suplentes Carlos Rogério dos Santos (Secretaria Municipal de Transporte e Trâsnsito de São Luis - MA) Jean Saliba (Agência Municipal de Transporte e Trânsito de Campo Grande - MS) Membros natos (ex-presidentes) Jurandir Ribeiro Fernando Fernandes Rogério Belda ANTP/São Paulo Rua Marconi, 34, 2º andar, conjs. 21 e 22, República, 01047-000, São Paulo, SP Tel.: (11) 3371.2299 Fax: (11) 3253.8095 E-mail: [email protected] Site: www.antp.org.br Prêmio ANTP Qualidade Denise M. C. Gazzinelli Cruz (coordenadora nacional); Alexandre Resende; João Batista de Moraes Ribeiro Neto; Paulo Afonso Lopes da Silva; Valeska Peres Pinto; Andreia Lopes Catharina Equipe ANTP Luiz Carlos M. Néspoli superintendente Nazareno Stanislau Affonso escritório de Brasília Eduardo Alcântara Vasconcellos assessor técnico Cassia Maria Terence Guimarães administração/finanças Valéria Aguiar - eventos Sistema de Informações da Mobilidade Urbana Eduardo A. Vasconcellos; Adolfo Mendonça Antonio Carlos Cardoso 00 138 00 Capas (pag a pag).indd 3 Escritório Brasília (ANTP/BSB) Nazareno Stanislau Affonso SCS, Q. 4, Ed. Mineiro, Bl. A, S. 506 70304-000, Brasília, DF Tel. e fax: (61) 3202.0899 E-mail: [email protected] Coordenadores Regionais Regional Centro Oeste (ANTP/CO) Antenor José de Pinheiro Santos E-mail: [email protected] Espírito Santo (ANTP/ES) Denise de M. Cadete Gazzinelli Cruz Av. Hugo Viola, 1.001, Bl. A, Sala 215, Mata da Praia 29060-420, Vitória, ES, Tel. e fax: (27) 3223.9100 E-mail: [email protected] Minas Gerais (ANTP/MG) Ricardo Mendanha Ladeira Rua Januária, 181 - Floresta 31110-060, Belo Horizonte, MG Tel: (31) 3224.0906 E-mail: [email protected] Norte (ANTP/N) Patrícia Bittencourt Tavares das Neves Av. Duque de Caxias, 863, apto. 301, Marco 66093-400, Belém, PA Cel.: (91) 8804.7651 E-mail: [email protected] Nordeste (ANTP/NE) César Cavalcanti de Oliveira GR/CTM Cais de Santa Rita, 600 Santo Antonio 50020-360, Recife, PE Tel.: (81) 3182.5609 Fax: (81) 3182.5610 E-mail: [email protected] Paraná (ANTP/PR) Rosangela Maria Battistella Av Pres. Affonso Camargo, 330 80060-090, Curitiba, PR Tel.: (41) 3320.3211 E-mail: [email protected] Rio de Janeiro (ANTP/RJ) Willian Alberto de Aquino Pereira Praia do Flamengo, 278, cj. 52 22210-030, Rio de Janeiro, RJ Tel. e fax: (21) 2553.3994 E-mail: sinergia@transporteideias. com.br Divisão América Latina / DAL – UITP Eleonora Pazos Fernando de Caires Barbosa 08/12/2014 16:12:31 AN P A SSOCI AÇ ÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS 00 138 00 Capas (pag a pag).indd 4 08/12/2014 16:12:31