Pinta com cores fecundas a mata perdida Frutos e flores exalam
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Pinta com cores fecundas a mata perdida Frutos e flores exalam
Pinta com cores fecundas a mata perdida Frutos e flores exalam perfumes que a nós Leva além do Divino sabor É inspiração nos poemas de amor É o maracujá... É o fruto da paixão É o maracujá... É minha inspiração Brasileira espécie da flora que atrai atenção De cientistas, poetas e músicos e dos agricultores Do mais indefeso ao mais sábio e forte Planta lendária do Brasil Centro-Norte Novas variedades: validação e transferência de tecnologia Rogério de Sá Borges Ciro Scaranari Amantino Martins Nicoli Reginaldo Resende Coelho Introdução O maracujá tem sua origem na América Tropical. Pertence à família Passifloraceae e ao gênero Passiflora. Apesar de possuir grande número de espécies, os cultivos comerciais baseiam-se na espécie Passiflora edulis f. flavicarpa, conhecida como maracujá-amarelo ou azedo (Meletti, 1999). A área plantada com maracujáamarelo, no Brasil, vem se mantendo ao redor de 35 mil hectares com destaque para a Região Nordeste, principalmente, os Estados da Bahia e de Sergipe com cerca de 10 mil e 4 mil ha respectivamente. A Região Sudeste aparece como a segunda região produtora do País com 10 mil ha sendo 3,1 mil em São Paulo, 2,6 em Minas Gerais e 2,3 no Espírito Santo. A produção brasileira no ano de 2002 foi de 478.652 toneladas. Em relação à produtividade, a média nacional está em torno de 14 toneladas por hectare, porém, existem diferenças significativas entre as regiões distribuídas com 9,2 t/ ha (N), 11,6 t/ha (NE), 11,7 t/ha (CO), 14,8 t/ha (S) e 19,6 t/ha na Região Sudeste. O Brasil é o maior produtor e o maior consumidor de maracujá do mundo. O maracujá-amarelo ou azedo é o mais cultivado no País e sua utilização se dá na forma de fruta fresca e de suco. O maracujá-roxo também pode ser usado tanto para consumo in natura como para produção de suco. Bastante cultivado na Austrália e na África do Sul, é muito pouco produzido no Brasil provavelmente devido a sua baixa 619 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético aceitação no mercado atacadista. O maracujá-roxo tem sido aceito na indústria de suco por apresentar melhor rendimento industrial. O maracujádoce possui características de frutos e de comportamento das plantas bem distintas do amarelo e do roxo, pois suas flores permanecem abertas todo o dia e a aparência externa e características internas como aroma e sabor são bastante diferentes. Devido ao alto teor de sólidos solúveis, a produção de suco resulta em um produto um pouco enjoativo (Meletti, 1999). Em relação ao mercado internacional, apesar de ser amplamente produzido na América do Sul (Brasil, Colômbia, Peru e Equador) e na África, o volume mundialmente comercializado de maracujá como fruta fresca é pequeno quando comparado com o de outras frutas exportadas. Na América do Norte e na Europa, o consumo é restrito a grupos éticos já familiarizados com a fruta que, para a maioria da população desses países, ainda é considerada como fruta exótica (Matsuura, 2002). Além dos países europeus, principais importadores, recentemente o maracujá brasileiro tem sido exportado para Argentina e Uruguai, ainda que de forma incipiente. No comércio internacional de frutas frescas, as exportações brasileiras de maracujá representam 3% sendo que as frutas frescas correspondem a 1,5% do total (US$ 254 mil) das exportações brasileiras de maracujá (Pires & Mata, 2004). No Brasil, a produção de maracujá tem aumentado nos últimos anos, principalmente, no mercado de frutas frescas com a inserção de novas regiões. A maior parte das lavouras é explorada em pequenas e médias propriedades sendo que cerca de metade da área cultivada com maracujá no País encontra-se em propriedades de até 20 ha. Como conseqüência existe grande número de produtores na atividade proporcionando uma comercialização regida pelas forças que governam o mercado, não havendo grandes distorções de preços por parte dos agentes compradores e vendedores. O mercado nacional possui forte sazonalidade na oferta. No período de janeiro a julho, frutos de boa qualidade têm alcançado preços entre R$ 0,55 e R$ 1,05 por quilo, enquanto de agosto a dezembro, os preços têm variado de R$ 0,80 a R$ 2,00 (Pires & Mata, 2004). Essas variações de preços não determinam alternância de ciclo produtivo, mas têm sido 620 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia responsável por significativas transformações técnicas no cultivo do maracujazeiro determinando épocas de plantio e espaçamento para os pomares estabelecidos em regiões que apresentam condições climáticas de produção dentro do período de entressafra (Silva, 2004). Ao se considerar a posição de liderança na produção de maracujá que o País ocupa no cenário mundial, verifica-se uma escassez de literatura principalmente na área de melhoramento genético. A falta de variedades e híbridos hortículas definidos e de potencial superior e a conseqüente falta de sementes comerciais reforça a necessidade de se voltar a atenção aos bancos de germoplasma como ferramenta imprescindível ao desenvolvimento dos programas de melhoramento (Cunha et al., 2004). Muitos genótipos que poderiam fazer parte de bancos ativos de germoplasma e serem utilizados em programas de melhoramento acabam sendo perdidos por representarem espécies selvagens e estarem dispersos em matas naturais que vêm sendo destruídas para ampliação de fronteiras agrícolas. No Brasil, existem atualmente cinco bancos de germoplasma (Souza & Meletti, 1997). Várias espécies frutíferas ou ornamentais, chamadas comumente de maracujá, pertencem à família Passifloraceae, gênero Passiflora. Apesar de algumas discordâncias entre os autores quanto ao número de espécies pertencentes à família e ao gênero Passiflora, é aceita a existência de cerca de 400 espécies, sendo 150 nativas do Brasil e cerca de 60 possuem frutos comestíveis (Silva, 2004). Os cultivos comerciais no Brasil baseiam-se, principalmente, nas espécies Passiflora alata (maracujá-doce) e Passiflora edulis (maracujá-amarelo) responsáveis por 95% da área plantada no País (Meletti, 1999). Segundo Silva (2004), existe grande variabilidade de formas, tamanho, teor de açúcar, acidez, rendimento de suco, tolerância a pragas e a doenças, cor de polpa e outras características de interesse nas principais espécies cultivadas no Brasil, sendo que para o maracujá-doce e para o maracujá-roxo ainda não há variedades comerciais. Para o maracujá-amarelo, já existem algumas seleções e híbridos, com sementes disponíveis comercialmente, sendo os principais: 621 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético • Seleção Maguary ou Araguari - FB 100: apresenta como principais características o alto rendimento de suco e teor de açúcar, polpa amareloalarajanda, além da excelente produtividade e rusticidade. Como foi desenvolvido para atender ao mercado industrial, apresenta frutos desuniformes em tamanho e cor de casca; • Híbridos Flora Brasil - FB 200: Disponíveis a partir de 2001, têm como principais características o vigor e o tamanho dos frutos, ovalados, destinados para mercado in natura, apresentam também boa coloração da polpa, amarelo-alarajada, bom rendimento de suco e teor de açúcar; • Híbridos “IAC Série 270”: Essa série de material desenvolvidos pelo Instituto Agronômico – IAC é composta pelos híbridos “IAC 273”, “IAC 275” e “IAC 277” e possuem como principais características, bom rendimento de suco e teor de açúcar, polpa alaranjada, boa produtividade e vigor. A diferença entre eles é sutil. O “IAC 277” apresenta frutos maiores e mais alongados, o “IAC 275” tem maior proporção de frutos com polpa de coloração alaranjada intensa e o “IAC 273” é o de maior produtividade (Meletti, 1999); • Seleção Sul Brasil: Selecionado nas condições de São Paulo, material original a partir do qual foram feitas várias outras seleções; • Seleções Embrapa: A Embrapa, por meio de seus centros de pesquisa, vem desenvolvendo algumas variedades e híbridos que deverão ter sementes comercialmente disponíveis em breve e, entre eles, tem chamado a atenção o material derivado de Roxo Australiano e Vermelho. A Embrapa TTransferência ransferência de TTecnologia ecnologia Um dos maiores desafios das empresas geradoras de conhecimento e tecnologia é reduzir o tempo entre a produção do conhecimento e das tecnologias e sua devida disponibilidade junto aos usuários e a sociedade em geral. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa conta com uma Unidade denominada Embrapa Transferência de Tecnologia que tem a missão de buscar mecanismos para diminuir essa distância. 622 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia A Unidade possui 15 Escritórios de Negócios (ENs) e 1 Unidade de Produção (UP), instalados em todas as regiões geográficas brasileiras, formando ampla rede de validação, demonstração e de transferência dos conhecimentos e tecnologias produzidos pela empresa e por demais instituições pertencentes ao Sistema Nacional de Pesquisa. Para cumprir sua missão, promove a articulação intra e interinstitucional com o setor público e privado para o estabelecimento de redes de transferência de tecnologia e utiliza-se de mecanismos como Vitrines Tecnológicas, Unidades Demonstrativas (UDs), Dias de Campo, Cursos de Formação de Agentes Multiplicadores, participação em exposições, entre outras ações de transferência de tecnologia. A Unidade é responsável pela multiplicação de sementes e mudas geradas pelas diversas Unidades da Embrapa, de forma a garantir o atendimento das demandas por sementes básicas e mudas, observando o rigor no controle de qualidade do material multiplicado. A multiplicação ocorre diretamente em áreas próprias dos Escritórios de Negócios ou por meio de parcerias junto à iniciativa privada, obedecendo às leis pertinentes como a Lei de Sementes e Mudas, Lei de Proteção de Cultivares e a Lei de Biossegurança. Um dos instrumentos que formalizam a parceria com a iniciativa privada são os contratos de licenciamento. Os recursos arrecadados por meio desses contratos são destinados aos programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica da Embrapa. O IAC – Instituto Agronômico, instituição participante do Sistema de Pesquisa Agropecuária Brasileiro, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é uma das instituições que vem ao longo dos anos realizando trabalhos em parceria com essa Unidade da Embrapa com a finalidade de somar esforços relativos à transferência de tecnologias e produtos desenvolvidos pelo IAC para outras unidades federativas do País. 623 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético O programa IAC/Embrapa Tendo em vista a existência de convênios anteriores entre as instituições com vistas na ampliação de programas de produção de sementes e mudas de diversas espécies e diante de resultados promissores envolvendo os novos híbridos de maracujá “IAC Série 270”, foi inicialmente elaborado, em 2001, um estudo visando desde o conhecimento do mercado, das potencialidades e vulnerabilidades de cada material a ele oferecido, destacando-se cultivares como Seleção Maguary, Sul-Brasil e “Sem origem” (estimado na época em 92% do mercado), o que possibilitou desde a definição de posição competitiva de cada um, até a definição de objetivos, metas e estratégias de um plano com a finalidade de incrementar a participação de material do IAC no mercado nacional por meio de ações da Embrapa Transferência de Tecnologia, plano esse definido como Plano de Marketing. Nesse plano, foram elencados diversos fatores-chave de sucesso em ordem decrescente de importância: produtividade, tolerância ao vírus do endurecimento do fruto, marca, tolerância a fusariose, tamanho do fruto, teor de sólidos solúveis, peso do fruto, rendimento de polpa, resistência ao transporte, preço, coloração da polpa, coloração externa, homogeneidade de tamanho, espessura da casca e tempo de prateleira, onde dentre os citados materiais, os do “IAC Série 270” foram os que mais se destacaram. Entre os híbridos que compõem a série, foram eleitos, visando ao mercado de frutas frescas, o IAC-277 (Figura 1) com elevada produtividade (2 a 3 vezes superior à média nacional), frutos ovais, de casca mais fina, maiores, mais pesados e de menor variabilidade em campo. Para o segmento da agroindústria, foi eleito o IAC-275 (Figura 2), de produtividade semelhante ao anterior, com frutos ovais, de melhor rendimento industrial (cavidade interna totalmente preenchida), apresentando teor de sólidos solúveis totais superior a 15° Brix e forte pigmentação de polpa. Foram então definidos objetivos, metas e estratégias, visando atender a 5% de um mercado estimado, na época, em 10.000 ha potencialmente utilizador de sementes de qualidade com garantia de origem, ao longo de um período de três anos. 624 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia Foto: Laura Maria Molina Meletti Foto: Laura Maria Molina Meletti Figura 1. Frutos do IAC 277. Figura 2. Fruto do IAC 275. Para tanto, foram instalados dois campos-piloto para produção de sementes dos híbridos IAC-275 e IAC-277, no Campo Experimental da Embrapa, em Nova Porteirinha, MG. Cada campo foi composto de seis progenitores distintos que combinados entre si por meio de polinização controlada deram origem a cada material. Inicialmente, as inflorescências foram protegidas por sacos de papel e, após o cruzamento, foram novamente ensacadas por mais dois dias para evitar a entrada de pólen de plantas indesejadas. Confirmado o pegamento, pela coloração amarelada do ovário, a proteção foi substituída por sacos tipo “rede” de malha de náilon e assim permanecendo até o momento de sua colheita após desprenderem-se do pedúnculo (Figuras 3 e 4). Figura 3. Campo de produção de sementes do IAC 275 . 625 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético Figura 4. Frutos hibridados. Feita a coleta em dias alternados, os frutos foram selecionados com base no teor de sólidos solúveis, tamanho, espessura, textura e coloração de casca, número de sementes e coloração da polpa. A extração das sementes foi feita mecanicamente por ação de turbilhonamento com água em liquidificadores providos de agitadores especiais sem facas. Depois da lavagem em água corrente, a secagem foi feita sobre papel absorvente e à sombra até que o teor de água nas sementes atingisse 10%, grau este facilmente atingido nas condições locais ambiente. Em épocas desfavoráveis a essa prática, utilizou-se de câmara de ventilação forçada, sob temperatura constante de 30 ºC. As sementes secadas após a retirada do arilo feita manualmente, com auxílio de flanelas, foram loteadas e amostradas para fins de análise em laboratório, obedecendo a padrões internos de qualidade do Programa Embrapa/IAC. Inicialmente submetidas a armazenamento a granel, enquanto aguardavam-se os resultados das análises em câmara fria e seca (10 ºC e 45% de UR), as sementes, após a aprovação em laboratório, foram acondicionadas em embalagens herméticas com 25 g de capacidade (aproximadamente 1000 sementes) e revestidas internamente com filme de 626 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia alumínio, capacidade esta definida em função do potencial de plantio desse volume atingir 1 hectare. Assim, cada embalagem passou a ser definida pelo programa como sendo “1 módulo”, permanecendo armazenada nas citadas condições até o momento de sua efetiva comercialização. Os volumes efetivamente comercializados, por unidade federativa, encontram-se na Tabela 1 a seguir onde, considerando-se densidade de plantio de 25g/ha, infere-se que foi atingida aproximadamente 70% da meta originalmente proposta de 500 ha, recaindo a principal demanda, cerca de 90%, na cultivar IAC-277, destinada ao mercado de frutas frescas. Tabela 1. Comercialização de sementes do Programa IAC/Embrapa (em gramas) 2002 a 2005. UF Amazonas IAC 275 IAC 277 Total 25 25 50 Bahia 225 3978 4203 Ceará - 525 525 75 200 275 - 25 25 Goiás 25 275 300 Maranhão 25 200 225 Distrito Federal Espírito santo Minas Gerais 0 675 675 75 125 200 Mato Grosso - 50 50 Pernambuco - 75 75 - 65 65 75 50 125 Mato Grosso do Sul Paraná Rio de Janeiro Rio Grande do Norte - 25 25 São Paulo 250 1175 1425 Tocantins 50 50 100 825 7518 8343 Total 627 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético De acordo com análises de estoques efetuadas a cada seis meses, verifica-se que a germinação das sementes manteve-se alta no período de três anos, o que demonstra terem sido corretas as técnicas de sua conservação, conforme a Figura 5. 94 Germinação (%) 92 90 IAC 275 IAC 277 88 86 84 82 80 jul/03 jan/04 jul/04 jan/05 jul/05 Datas de análise Figura 5. Viabilidade (% de germinação) dos estoques de sementes de maracujá – Programa IAC / Embrapa. Outra meta do Programa recaiu na formação de novos viveiristas que, a partir de sementes das duas cultivares, poderiam vir a celebrar contratos de licenciamento de produção, comercialização, marketing e transferência de tecnologia para produção de sementes e mudas de maracujá, dentro do Programa Embrapa/IAC. Para tanto, foram elaboradas normas técnicas para a produção de mudas de maracujá cujo objetivo foi o de estabelecer exigências para a produção e comercialização de mudas que exigem requisitos obrigatórios, tais como: isolamento, aspectos construtivos do viveiro e exigências quanto ao estabelecimento e condução da produção envolvendo tipos de substrato, recipientes, semeadura, irrigação e controle fitossanitário e outras práticas de manejo. As normas fixam, ainda, outras obrigações do licenciado quanto ao atendimento dos padrões de produção, identificação e armazenamento das mudas. O produto final é uma muda de qualidade que conta com a marca do Programa (Figura 6). 628 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia Figura 6. Muda produzida por viveirista licenciado com etiqueta do Programa IAC/Embrapa. Assim, foram estabelecidos contratos com produtores de mudas no qual se destacam a própria Embrapa por meio de seu Escritório de Negócios de Dourados, o Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes/CATI, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, além do viveiro de mudas Citro Setin localizado em Limeira, SP. O Pr ojeto de TTransferência ransferência de TTecnologia ecnologia para Novas Projeto Cultivar es Cultivares Iniciada a comercialização de sementes e mudas, foi verificada a necessidade de ampliar o trabalho de difusão das novas cultivares para as diversas regiões produtoras do País. Foi elaborado então um projeto intitulado “Transferência de Tecnologia para novas cultivares de maracujazeiro (Passiflora edulis f. flavicarpa)” aprovado pelo Sistema de Gestão de Macroprogramas da Embrapa cujo objetivo foi demonstrar as cultivares desenvolvidas para os agentes do sistema agroindustrial do maracujá e, por meio delas, transferir tecnologias visando otimizar suas características favoráveis e enaltecer suas vantagens comparativas. Sendo assim foram 629 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético instaladas Unidades de Demonstração (UDs), compostas de um número representativo de plantas das cultivares IAC 275 e IAC 277, por meio de parceiros selecionados em locais de atuação dos Escritórios de Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia. A escolha dos locais foi feita levando-se em consideração aspectos como importância da cultura na região e disponibilidade de área e recursos humanos da Embrapa e de parceiros para condução e acompanhamento das UDs. Os locais escolhidos foram: • Rolândia, PR (Cooperativa Agroindustrial - COROL): esta cooperativa desenvolve projetos integrados de produção e industrialização de citros e uva para produção de sucos e pretende em um futuro breve processar também o maracujá-amarelo; • Araguari,MG (produtor parceiro): nesta região o parceiro foi a empresa Kraft Foods Brasil S/A proprietária da marca de sucos Maguary que auxiliou desde o início, identificando um de seus produtores/fornecedores para a instalação da UD e desde então tem auxiliado na condução e acompanhamento da área; • Campos dos Goytacazes, RJ (Bela Joana Sucos e Frutas Ltda): este local foi escolhido devido ao interesse em se avaliar o desempenho do híbrido IAC 275; • Itaperuna, RJ (Sucos Niágara): nesta região também existe uma produção significativa direcionada principalmente ao processamento na indústria de sucos; • Goiânia,GO (EN de Goiânia): foi instalada uma UD em área de uma Vitrine Tecnológica do Escritório de Negócios de Goiânia da Embrapa Transferência de Tecnologia onde já existem diversas UDs de outras culturas que são apresentadas anualmente em evento promovido por essa Unidade; • Vianópolis,GO (produtor parceiro): este município foi escolhido por ser uma região de cultivo expressivo de maracujá no Estado; 630 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia • Rondonópolis,MT (Sindicato Rural de Rondonópolis): foi instalada uma UD em área do Sindicato localizada no parque de exposições da cidade. A proposta foi de realizar o trabalho em parceria com a Empresa MatoGrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural - Empaer na tentativa de identificar oportunidades de cultivo com material geneticamente melhorado de maracujá para pequenos produtores por ela assistidos. A UD entrou na programação de visitas de agricultores promovida todos os anos pela Empaer e pela Embrapa durante a EXPOSUL, feira agropecuária realizada no mês de junho; • Dourados, MS (EN de Dourados): foi instalada uma UD em área própria do Escritório de Negócios de Dourados onde também existem várias UDs de outras culturas freqüentemente visitadas por agricultores da região; • Brasília, DF (Fazenda Sucupira): esta fazenda é uma Unidade de Produção (UP) da Embrapa Transferência de Tecnologia e abriga UDs de outras culturas com destaque para fruteiras. Esta UP possui estrutura de viveiros de mudas frutíferas; • Petrolina, PE (EN de Petrolina): a escolha deste local levou em consideração não só a importância regional da fruticultura no Vale do São Francisco e da relevância da cultura do maracujá na região nordeste como também a disponibilidade de uma área própria da Embrapa no local; • Amarante, MA (produtor parceiro): de acordo com levantamento feito pelo EN de Imperatriz, o cultivo de maracujá é significativo na região, porém, a utilização de cultivares melhoradas é muito baixa. Cabe destacar que na ocasião voltava a funcionar uma indústria de processamento de maracujá em Benevides, PA (Nova Amafruta) o que vinha despertando o interesse dos produtores da região, fato esse que reforçou a decisão de se instalar uma UD no local. Todas as sementes utilizadas na produção das mudas para as UDs foram fornecidas pelo EN de Sete Lagoas responsável pelo campo de sementes em Nova Porteirinha, MG. A maior parte das mudas foi produzida em cada local de instalação da UD. As mudas destinadas a Rolândia foram 631 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético produzidas pelo IAC e as de Vianópolis e das UDs do Rio de Janeiro pelos ENs de Goiânia e Sete Lagoas respectivamente. A produção das mudas seguiu recomendações técnicas elaboradas pela Embrapa e pelo IAC, baseadas nas “Normas Técnicas para Produção de Mudas de Maracujá”, e enviadas a cada responsável técnico das UD’s. Cada UD foi composta de quatro linhas de 35 m de espaldeira contendo apenas um fio de arame. O espaçamento adotado foi de 4 m entre linhas e 5 m entre plantas. Foram plantadas duas linhas com o IAC 275 e outras duas com o IAC 277 totalizando 14 plantas de cada híbrido (7 em cada linha). Além das recomendações de produção das mudas, foram elaboradas pela Embrapa e pelo IAC recomendações para condução das UDs, contendo tratos culturais, adubações e demais prescrições da cultura do maracujá (Figura 7). Figura 7. Unidade de Demonstração em Rondonópolis, MT. Em relação às avaliações das UDs, foi elaborada e enviada a cada técnico responsável uma ficha para anotações sobre informações tais como: local, número de plantas, data de plantio, tratos culturais, início e intensidade de florescimento, peso médio dos frutos e da casca, teor de sólidos solúveis e número de sementes. Em alguns locais, não foi possível a realização de parte das anotações em virtude de estarem instaladas em locais de acesso público sujeitos a furtos como no caso de Rondonópolis. Neste caso foi priorizada a demonstração a produtores e técnicos não sendo realizadas as avaliações de florescimento e frutificação. Nos demais locais os resultados vêm demonstrando bom desempenho dos híbridos do IAC. Foram realizados dias de campo, visitas monitoradas de grupos de produtores e vitrines tecnológicas promovendo assim o uso dos híbridos IAC 275 e IAC 277 estimulando com isto o uso de cultivares melhoradas (Tabela 1). 632 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia Novas cultivar es da Embrapa Cerrados cultivares Em junho de 2004, técnicos da Embrapa Transferência de Tecnologia e pesquisadores da Embrapa Cerrados estudaram as possibilidades de introdução de novos materiais de maracujá, oriundos de programa de melhoramento da Embrapa Cerrados, na rede anteriormente criada para validação dos híbridos do IAC da Série 270. A proposta seria utilizar a estrutura já disponível de algumas das UDs para inclusão desses materiais. Foram então definidos os locais que reunissem o interesse da pesquisa e a estrutura existente para estabelecimento e condução das Unidades. Na escolha dos locais, foi levado em conta, também, o aspecto de segurança por se tratar de seleções ainda em fase de registro e passíveis de proteção. Sendo assim, foram priorizados locais onde a Embrapa Transferência de Tecnologia possuísse área interna e, nos locais onde as UDs foram estabelecidas em áreas de terceiros, firmaram-se Acordos de Transferência de Material (ATMs). Nesses documentos, estabeleceram-se as condições básicas para avaliação do desempenho agronômico do material, destacando-se a garantia dos direitos de propriedade intelectual por meio da restrição da multiplicação, a cessão para terceiros e tudo que pudesse ser qualificado como uso indevido. Locais como Goiânia, Brasília e Vianópolis, contemplados anteriormente com os materiais do IAC, foram dessa vez descartados por se considerar que já havia dados suficientes do comportamento dessas novas seleções nas condições do planalto central. Ao contrário dos híbridos do IAC, não havia resultados dos novos materiais nas condições do Estado de São Paulo. Sendo assim foram instaladas duas Unidades nos Municípios de Limeira e Jacupiranga. Este último foi selecionado posteriormente em virtude de demandas locais. O Município de Jacupiranga localiza-se no Vale do Ribeira, SP, principal região produtora do Estado. Até 1999, a produção do Vale era de 1,5 milhão de caixas, mas, a partir de 2000, com a entrada do vírus do endurecimento na região, a área chegou a ser reduzida a menos da metade. Com a ajuda de órgãos estaduais e de prefeituras, os produtores da região decidiram retomar 633 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético o cultivo de maracujá adotando técnicas de manejo que permitissem a viabilidade do cultivo. A decisão pela inclusão de uma UD no local deveu-se a tolerância à doença apresentada por alguns dos materiais da Embrapa. A partir de outra demanda do EN de Manaus, foi instalada uma UD em área da Embrapa Amazônia Oriental, localizada naquele município. Além das Unidades mencionadas, foram instaladas UDs também em Rolândia, Araguari, Rondonópolis, Dourados e Petrolina, eleitas pelas mesmas razões consideradas na escolha quando da instalação das Unidades com os híbridos IAC. O material oriundo do programa de melhoramento da Embrapa Cerrados constitui cruzamentos entre seleções visando à obtenção de cultivares produtivas, com qualidade de fruto superior e tolerância a algumas das principais doenças da cultura. Até o presente momento, as cultivares ainda estão sendo identificadas pelos respectivos códigos até que seja concluída a etapa de validação e sejam definidos nomes para registro, proteção e lançamento das cultivares. O material possui as seguintes características nas condições de cultivo do planalto central (Brasília, DF) (Junqueira, 2005)1. • GA-2 - Cultivar híbrida obtida do cruzamento entre a Cv. Sul Brasil ou Marília x “Redondão”. Produz frutos amarelos, formato oblongo, pesando de 120 a 350 g, rendimento de polpa em torno de 40% e teor de sólidos solúveis de 13 a 15° Brix. Tem boa tolerância à antracnose e bacteriose, mas é susceptível à virose, verrugose e a doenças causadas por patógenos de solo. Sua produtividade nas condições do Distrito Federal, com irrigação e plantada no período de maio a julho, no espaçamento de 2,5 x 2,5 m, tem ficado em torno de 42 t/ha no ano seguinte, mesmo com ataque da virose. No segundo ano de produção, essa produtividade cai para 20 a 25 t/ha, dependendo do manejo (Figura 8). 1 634 JUNQUEIRA, N.T.V. Comunicação pessoal, 2005. Novas variedades: validação e transferência de tecnologia • AR-1 - Cultivar obtida do cruzamento entre a GA-2 x MA (matriz derivada da Redonda) que apresentava tolerância a doenças foliares como bacteriose, antracnose e virose. Produz frutos amarelos, grandes oblongos, afilados no ápice e mais arredondados na base. Pesam de 150 a 350 g, rendimento de polpa em torno de 38%, teor de sólidos solúveis de 13 a 14° Brix (Figura 9). • AR-2 - cultivar híbrida obtida do cruzamento do “Redondão” com uma seleção de maracujá-amarelo mais resistente a doenças de raízes e da parte aérea, porém, de frutos pequenos. Essa cultivar produz frutos de 120 a 230 g, formato ligeiramente arredondado, rendimento de polpa em torno de 38%, teor de sólidos solúveis de 13 a 14º Brix. No Distrito Federal, sua produtividade com irrigação e no espaçamento de 2,5 x 2,5 m tem ficado em torno de 32 t/ha/ano se plantada de maio a julho. No segundo ano, essa produtividade vem sendo mantida (Figura 10). • AP-1 - cultivar obtida do cruzamento entre dois tipos de maracujá-amarelo de alta produtividade, selecionados em um pomar comercial. Os frutos pesam de 100 a 220 g, com teor de sólidos solúveis em torno de 14° Brix, formato alongado. As plantas, assim como os frutos, são susceptíveis a doenças foliares, virose e podridão-de-raízes. No Distrito Federal, com irrigação, pode se obter em torno de 50 t/ha de 1600 plantas, em cultivos de maio a julho (Figura 11). • EC-2-O - cultivar híbrida obtida do cruzamento entre a (Cv. Sul Brasil Marília X Roxo australiano) e F1 x GA-2. Produz de 10% a 15% de frutos de casca vermelha ou arroxeada.Os frutos pesam de 120 a 350 g, são arredondados, com teor de sólidos solúveis de 13 a 15° Brix, rendimento de suco em torno de 40%. A maioria das plantas é tolerante a doenças foliares e à virose. Nas condições do DF, vem-se obtendo em torno de 40t/ha no primeiro ano de produção, se plantado de maio a julho, com irrigação, no espaçamento de 2, x 2,5 m (Figura 12). • EC-RAM - cultivar híbrida obtida do cruzamento de Roxo australiano x cultivar Sul Brasil Marília (seleção MSC) F1 de casca vermelha x GA-2. Produz de 25% a 30% de frutos de casca vermelha, com 120 a 300 g (Figura 13), formato alongado em sua maioria, às vezes ovalado, rendimento de polpa de 39% a 42%, Teor de sólidos solúveis de 14 a 16° Brix. A maioria das plantas é tolerante à virose, bacteriose e antracnose do fruto. Nas condições do DF, com irrigação, vem-se obtendo, no primeiro ano de produção, de 30 a 50 t/ha no espaçamento de 2,5 x 2,5m em plantios efetuados de junho a agosto. 635 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético Foto: Nilton Junqueira Figura 8. Fruto de GA-2 . Figura 9. Fruto de AR-1. Foto: Nilton Junqueira Figura 10. Fruto AR-2. Figura 11. Fruto de AP-1. 636 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia Foto: Nilton Junqueira Figura 12. Fruto de EC-2-O. Figura 13. Frutos vermelhos do EC-RAM. Todas as sementes utilizadas na produção das mudas destinadas à instalação das Unidades de Demonstração foram produzidas e fornecidas pela Embrapa Cerrados. As mudas destinadas às UDs de Araguari, Dourados, Rondonópolis, Petrolina e Manaus foram produzidas em cada local seguindo as mesmas recomendações de produção de mudas de maracujá elaboradas e fornecidas pelo EN de Campinas. Para as UDs de Limeira, Jacupiranga e Rolândia, a produção das mudas foi realizada no viveiro de mudas Citro Setin anteriormente licenciado pela Embrapa Transferência de Tecnologia para produção comercial das mudas dos híbridos IAC. Á exceção das UDs de Jacupiranga e Manaus, que foram incluídas em agosto de 2005, as demais Unidades foram implantadas entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005. O desenho adotado para cada UD seguiu o mesmo modelo do trabalho realizado com o material do IAC, permitindo assim o aproveitamento da estrutura já existente em alguns locais. Nos locais onde não havia a estrutura anterior, foram usadas linhas de 35 m espaçadas a 4 m uma da outra seguindo o modelo anterior. O espaçamento entre plantas nas linhas também foi o mesmo (5 m). 637 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético Todos os locais foram contemplados com as cultivares AR-2, GA-2, EC-2-O e AP-1. Em Limeira (SP) foram incluídos além desses o EC-RAM e o AR-1 e, em Jacupiranga, estão sendo avaliados apenas o material AR-1, AR-2 e EC-RAM. . Para estabelecimento, condução e avaliação estão sendo seguidas as mesmas recomendações adotadas anteriormente. Os primeiros resultados das avaliações desse material deverão estar disponíveis no próximo ano quando então já se espera que seja possível o direcionamento das cultivares para as diferentes regiões de avaliação e que possam ser tomadas decisões quanto a estratégias de lançamento e metas e produção de sementes comerciais obtidas da realização de plano de marketing e plano de negócios para as novas cultivares. Conclusões A utilização de mecanismos e estratégias como Planos de Marketing e de Negócios, Unidades Demonstrativas, Vitrines Tecnológicas, Dias de Campo e oferta de sementes e mudas de qualidade vem auxiliando na validação e transferência de tecnologias visando à adoção de novas cultivares de maracujazeiro lançadas pelo IAC e pela Embrapa. Referências Bibliográficas Agrianual 2005: anuário estatístico da agricultura brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, 2004. p. 393-399. CUNHA, M. A. P; BARBOSA, L. V; FARIA, G. A. Melhoramento Genético. In: LIMA, A. A.; CUNHA, M. A. P. (Ed.). Maracujá: produção e qualidade na passicultura. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2004. p. 67-93. MATSUURA, F. C. A. U.; FOLEGATTI, M. I. S. (Ed.). Maracujá: pós-colheita. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2002. 51 p. (Frutas do Brasil). MELETTI, L. M. M. Maracujá: produção e comercialização. Campinas: Instituto Agronômico, 1999. 64 p. (Boletim técnico, 181). 638 Novas variedades: validação e transferência de tecnologia PIRES, M. M.; MATA, H. T. C. Uma abordagem econômica e mercadológica para a cultura de maracujá no Brasil. In: LIMA, A. A.; CUNHA, M. A. P. (Ed.). Maracujá: produção e qualidade na passicultura. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2004. p. 323-343. SILVA, J. R. Maracujá: produção, pós-colheita e mercado. Fortaleza: Instituto Frutal, 2004. 77 p. SOUZA, J. S. I.; MELETTI, L. M. M. Maracujá: espécies, variedades, cultivo. Piracicaba: Fealq, 1997. 179 p. 639 Maracujá: germoplasma e melhoramento genético 640