Reverendissimo Pe John Forgath, Superior Geral da Congregação

Transcrição

Reverendissimo Pe John Forgath, Superior Geral da Congregação
Reverendissimo Pe John Forgath, Superior Geral da Congregação do Espírito
Santo
Excelentíssimos PP. Maurice Shortall e José Manuel Sabença, dignissimos
conselheiros e visitadores da provincia espiritana de Angola de 15 de Março a
13 de Abril de 2015.
Saudações cordiais e fraternas
Faço-vos esta exposição a partir de Angola. Sou o Padre
José Maria Monteiro acolhido no Seminario Menor da Congregação aos 21 de
Setembro de 1982; em 1985 segui para Lândana- Cabinda onde fiz os estudos
secundários e em 1989 conclui o curso de filosofia no Seminário Maior de
Cristo-Rei; depois duma profunda reflexão e de acordo com os formadores pedi
dois anos de experiência numa Missão. Fui enviado a Diocese de Malange
mais concretamente na Missão de Kalandula onde tive a sorte de partilhar a
vida com o Pe Arnaldo Rocha Ferreira que optou por ficar com o povo nos
momentos mais dificeis. Garanto-vos que foi uma experiência enriquecedora
que jamais esquecerei, pois moldou a minha vida a ponto de não vacilar nas
opções que tive que fazer. Ingressei no noviciado a 8 de Setembro de 1991 e
aos 8 de Setembro de 1992 emiti os primeiros votos na Missão Católica do
Munhino. Neste mesmo ano segui para a Arquidiocese do Huambo onde se
encontra o escolasticado espiritano. A crise pós-eleitoral que assolou o país
alongou o tempo de estudos (interrompido por um ano) e só em 1997 terminei
o curso de teologia. Emiti os votos perpétuos e fui ordenado diácono na Missão
do Chiulo no dia 16 de Novembro de 1997 e recebi a primeira afetação para a
Paróquia de São João Baptista do Lobito – Diocese de Benguela – onde
trabalhei até 5 de Setembro de 2008.
Durante este periódo vivi e convivi com muitos confrades
De 1997 a 2000 - Belmiro Chissengueti. A nossa equipa foi reforçada
pelo Jerónimo Panzo Lubongo em 2000. Com a afetação do Belmiro para
Luanda partilhei a vida com o Jerónimo até princípios de 2003. Em 2004 fiz
comunidade com os confrades Agostinho Seteca e Alexandre Tchikambi; de
2005 a 2007 vivi com os confrades Kapango e José Maria Segunda. Em finais
de 2007 propuseram-me a missão ad extra (Portugal).
Mudança de afetação: de Portugal para a França
Devido a certos constrangimentos não foi possível e fui enviado para
França com mais um confrade para a formação em ciências de educação.
Com a anuência do Superior provincial de então, escolhi a especialização em
gestão e administração escolar; infeliz ou felizmente, estando em Paris percebi
que a minha opção não seria possível no I ciclo do ensino superior isto é na
licenciatura, mas sim no II ciclo – mestrado. Terminado o tempo acordado de
permanência em
França relancei o diálogo com o provincial Pe Mauricio
Camuto. Foram 6 meses de troca de correspondência, as respostas nunca
foram claras; solicitei a província se podia conceder-me alguns meses de
formação em informática não em França, mas em Portugal. O tempo foi
passando e deixando Paris, convidado pelo confrade Felisberto passei por
Roma e por Barcelona onde se encontrava o meu primo. Foi em Barcelona que
soube da minha afetação para a Missão de Chanhora – Diocese do Kuito-Bié,
via “Boletim de Informação da Provincia espiritana de Angola”. Respondi
positivamente ao superior provincial com um reparo: toda a nomeação, antes
de publicá-la deve ser antecedida de um diálogo com o confrade. Foi-me dito
que tinha sido erro do secretário e com muita simplicidade aceitei a justificação.
De Barcelona segui para Lisboa e durante a minha estada na casa provincial
soube da passagem do Padre Provincial e fiz questão de ir ao seu encontro.
Mais uma vez abordamos o assunto do curso de informática, da sua
periodicidade, do seu financiamento. Informei donde viriam os financiamentos
bem como a sua periodicidade. Quanto aos custos declarei que assumi-los-ia,
pois tinha recebido algumas intenções de missa; no que toca a periodicidade a
escola propusera 6 meses; certo é que dois meses depois do inicio do curso
houve mudanças na periodicidade do curso. De seis meses passou para um
ano. Com esta mudança achei por bem inscrever-me no curso de pósgraduação em administração e gestão escolar. Mais uma vez na carta que fiz
para o conselho provincial fiz alusão a este curso que terminaria com o
mestrado. Não obtive resposta formal, entretanto na conversa que tive com o
superior, se a memória não estiver a trair-me, tive uma resposta satisfatória.
Quanto ao alojamento pedi que se contactasse a provincia espiritana
portuguesa para acolher-me; foi-me dito que arranjasse um lugar para viver;
recorri aos amigos e a uma família de Setúbal disponibilizou um apartamento
na zona de cascais. Conhecendo a regra de vida solicitei ao meu provincial que
facilitasse a minha ligação com a comunidade da Estrela; a proposta foi aceite
pelo Pe José Manuel Sabença, superior provincial Portugal naquela altura.
Durante a minha estada em terras lusas sempre comuniquei-me com os
confrades da casa provincial e ali passei as noites todas as sextas-feiras. Aos
confrades espiritanos portugueses, aos irmãos no sacerdócio e em Missão nas
Dioceses de Setúbal e Lisboa, à familia que me ofereceu um abrigo serei
eternamente grato.
Regresso a Angola
No fim do curso de informática e primeiro ano de pós-graduação (2012)
regressei a terra-mãe e fui informado da mudança de lugar de afetação. De
Chanhora para o Dundo. Devido ao agravamento da saúde do meu pai pedi
que me concedessem um tempo de férias para velar por ele. Com o seu
falecimento em Agosto do mesmo ano, rumei para o Dundo, provincia da
Lunda-Norte. Passando por Luanda recordei ao provincial que tinha um
semestre curricular por frequentar. Foi-me dito que devia combinar tudo com o
confrade da comunidade para onde tinha sido enviado.
Partida para a comunidade do Dundo
No dia 7 de Setembro de 2012 viajei para Saurimo e no dia seguinte
para o Dundo. Dialoguei com o confrade Colm Reidy e acordámos as datas. O
inicio das aulas estava previsto para finais de Setembro e como é obvio pedi ao
confrade que me deixasse partir para preparar a viagem para Lisboa. Com a
sua anuência deixei o Dundo e, passando pelo Huambo segui para Luanda e
para Lisboa onde permaneci até 22 de Dezembro. Terminado o período
curricular regressei ao Dundo; devido a ausência do Padre Américo de Sousa
Alves segui para o Lucapa para celebrar a solenidade do Natal. Com o
regresso do confrade Américo viajei para Luanda e fui surpreendido com uma
outra colocação. Não devia regressar ao Dundo mas ao Lucapa. Hesitei e
perguntei ao provincial as razões destas mudanças em tão pouco tempo. A
saúde e a idade do confrade estiveram na base da decisão e da mudança do
Dundo para o Lucapa, disse-me o superior. Mais uma vez tive de arrumar as
malas e ir para o Lucapa em Março de 2013. Fui bem acolhido pelo confrade
e, até a sua partida para férias, tivemos um convivio amistoso e fraterno. As
actividades pastorais programadas em comunidade decorriam a bom ritmo e
com normalidade. Tendo chegado o período da apresentação do trabalho final
do curso em Lisboa preparei-me para a última viagem. Estando o confrade
ausente por motivos de saúde contactei os confrades de Saurimo e dois padres
do clero secular do Dundo para assistirem a comunidade durante a minha
ausência. Foram generosos e aceitaram celebrar as missas para o povo de
Deus. Mais uma vez informei ao provincial que ia deslocar-me para Portugal
para apresentar o trabalho final ao orientador e assegurei-lhe que a assistência
pastoral da Paróquia. Aos 12 de Setembro de 2013 viagei para Lisboa. Para a
releitura, partilha de pontos de vista e correcção do texto dirigi-me em casa de
um colega e amigo do seminário na Paróquia de Vialonga. De 15 a 25 de
Setembro fui contactando o professor e orientador do meu trabalho do fim do
curso de gestão e administração escolar.
De 26 de Setembro a 18 de Outubro de 2013
No dia 29 de Setembro após a celebração das missas e o almoço em
casa duma família apareceu um grupo de jovens angolanos a frente do quartel
dos Bombeiros de Vialonga proferindo palavras acusatórias (cfr. Texto anexo a
esta exposição dirigido ao Padre Maurice Shartall e ao superior provincial). É
de realçar que nesta mesma semana apareceu um grupo no edificio onde se
encontra o apartamento paroquial; um membro do grupo tomando a palavra
disse: - “vim para ser arguente deste senhor”; e outras palavras como estas: -“
está dificil domá-lo”; -“vou te pôr maluco”. Durante uma semana fui seguido por
um grupo nos transportes públicos; obtidas todas as provas comuniquei aos
colegas com quem vivia. Fiz diligências para saber os individuos que passando
perto da janela do meu quarto falavam em voz alta. Era uma equipa mista de
angolanos e lusos (ex. na linha de comboio Azambuja-Roma; rodoviária – linha
Santa Iria – Vialonga; correios da Avenida 5 de Outubro/da Liberdade –
senhoras angolanas observando à distância e a equipa lusa que seguiu-me
com viaturas de marca peugeot e wolksvagem). A persistência da pressão e o
pessoal envolvido levaram-me a interromper o trabalho e decidi regressar a
terra no dia 18 de Outubro. Durante o voo descobri a equipa angolana e esta
não escondeu o objectivo que a levara a Lisboa; algumas caras não eram
desconhecidas. Em Angola notei que o meu telefone estava sob escuta ( na lei
angolana tal prática só é permitida quando estão em jogo os interesses do
Estado; neste caso o visado é notificado pelo procurador geral da República); o
cenário montado (simulação dos mentores) levou-me ao hospital Maria
Pia/Josina Machel, onde fui recebido pelo Senhor …… numa sala da
psiquiatria. As interrogações feitas pelo suposto psicológo coincidiram com as
afirmações do grupo de Lisboa com as da cozinheira e da lavadeira da casa
provincial.
Novembro De 2013 – Fevereiro - 2014
Em Novembro de 2013 regressou o confrade com quem vivia em Lucapa
e juntos seguimos para a Missão. Dois dias após a nossa chegada ao Lucapa
deslocamo-nos ao Dundo cidade episcopal e em casa do confrade Colm Reidy
repetiram-se as acusações sem provas (Vg relato da conversa com o P.
Maurice) de Lisboa e Luanda; o mais grave é que estas foram contadas a um
padre que é doutra Congregação. De manhã levaram-me ao aeroporto do
Dundo e regressei a Luanda e o cenário continuou. Pelas conversas de
corredor e com um confrade que não cito percebi que afinal o meu regresso
tinha sido bem programado apesar do diálogo franco e aberto com o meu
superior provincial. Na segunda quinzena de Fevereiro recebi a nomeação
para a Missão do Cuando, a quarta em menos de dois anos. Foi nesta Missão
que em Março do ano corrente recebi o confrade P. Maurice, conselheiro geral.
A conversa que tivemos foi amigável. Partilhámos o passado, o presente, o
futuro e os desafios da vida da província espiritana em Angola. Depois do
nosso encontro fiz um texto sobre os assuntos que tratámos e imprimi duas
vias: uma para o nosso visitador e outra para o provincial. Dois meses depois
da passagem dos conselheiros fui convocado pelo provincial para participar
numa reunião do conselho para explicar os assuntos que tinha abordado com o
visitador; aceitei o convite e diante de quatro antigos provinciais e a equipa do
conselho expus o que tinha escrito. Para o meu espanto recebi depois de
alguns dias uma carta assinada pelo provincial a pedir outras explicações e a
ameaçar-me com um processo juridico.
Reverendíssimo Padre John, Superior Geral da Congregação
estamos a celebrar 150 anos da presença espiritana em Angola. Somos fruto
do sacrificio de muitos confrades que dóceis ao Espírito Santo e animados pelo
carisma de Poullart de Places e Libermann marcaram com estielete de ferro a
página da história desta Igreja de Angola. Nesta caminhada de um século e
meio estão inclusos os 38 anos desde que Angola foi constituida como
província espiritana com a memória bem viva do primeiro provincial, Padre
Bernardo Bongo.
A celebração dos 150 anos de presença espiritana em
Angola deve levar-nos a render mil graças a Deus que pela sua infinita
bondade foi enviando obreiros para estas paragens da Africa Austral; creio ser
uma oportunidade ímpar para tomar consciência do que somos e do que
fazemos e de enfrentar os desafios do presente e do futuro com um espírito
verdadeiramente novo. Convocar um confrade para explicar-se diante do
conselho por ter partilhado com um visitador do conselho geral a sua
caminhada de 23 anos de vida espiritana, o seu regresso compulsivo de
Portugal (onde me encontrava para apresentar o trabalho do fim do curso) e
ser ameaçado com um processo juridico por ter identificado alguns parentes e
amigos envolvidos neste processo de regresso forçado e por ter confirmado
que tudo tinha sido montado a partir de Luanda. Tudo isto me leva a crer que
há muita falta de seriedade. Toda a minha trajectória de 2011 a 18 de Outubro
de 2013 foi fruto de um diálogo franco e aberto com a equipa provincial. Apesar
de tudo o que passei em Lisboa e o que descobri quando cheguei a Luanda
pedi ao provincial e ao P. Belmiro que me escutassem. Perguntei-lhes se havia
problemas na província; disse-lhes o porquê das minhas interrogações; tudo
tinha a ver com as acusações que me foram feitas; de ter levado o dinheiro da
paróquia onde trabalhei, de ter uma mulher e filhos. Em Luanda disseram que
tinha construído uma casa para a mulher e os supostos filhos. Informo-lhe que
o curso de informática foi pago com intenções de missa que recebi dum
confrade durante dois anos; parte das propinas do mestrado frequentado e
interropido foram pagas pela minha familia e pelas gratificações que recebi do
santuário e das ajudas da casa provincial de Lisboa. Sei que em Lisboa fui
vitima dos Quakers quando preparava o exame de informática; nada disto
escondi a quem quer que fosse. Informei ao provincial de Portugal e de Angola.
Quanto a mulher e filhos espero que mos mostrem até porque gostaria de
conhecer a minha casa, a minha esposa e os meus filhos.
Prezado Padre, analisados todos os estratagemas usados (com
consequencias fisicas, psicológicas e morais) e tudo ponderado não tenho
outra escolha senão aquela que me é proposta: a judicial. Todavia coloco estou
disposto a ouvi-lo e aberto ao diálogo.
Feito na Missão do Cuando – Angola - memória de Nossa Senhora do
Carmo, aos 16 de Julho de 2015.
Fraternalmente
Padre José Maria Monteiro CSsp.