bruxismo sono dor orofacial
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bruxismo sono dor orofacial
Sono, dor orofacial e bruxismo Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com O que é bruxismo? Hábito parafuncional diurno ou noturno que inclui ranger, apertar e/ou comprimir os dentes. - American Academy of Orofacial Pain (2008) Bruxismo do sono é uma disfunção de movimento relacionada ao sono caracterizado por ranger e/ou apertar os dentes durante o sono, usualmente associado a um microdespertar. - The International Classification of Sleep Disorders, 2005 Bruxismo é um tema recorrente em discussões clínicas dentro da Odontologia. Apesar de não apresentar risco de vida, esta condição clínica pode influenciar na qualidade de vida, especialmente por fraturas e desgastes de dentes e restaurações, dor na região orofacial e interferência na qualidade do sono do bruxista ou de terceiros, pela presença de ruídos de ranger os dentes (KOYANO et al., 2008). De acordo com a situação de sua ocorrência, o bruxismo pode ser classificado em bruxismo em vigília e bruxismo do sono. A prevalência do bruxismo do sono varia entre 8 a 16%, não há diferenças entre os gêneros e é inversamente proporcional a idade, ou seja, na infância é mais prevalente (20%), diminuindo na idade adulta (8%) e ainda mais na terceira idade (3%) (LABERGE et al., 2000; LAVIGNE; MONTPLAISIR , 1994; NG et al., 2005; OHAYON et al., 2001). O bruxismo pode ser classificado em primário ou secundário. O bruxismo pode ser secundário a vários fatores como distúrbios do movimento (por exemplo, doença de Parkinson), distúrbios neurológicos (por exemplo, como e hemorragia cerebelar), distúrbios psiquiátricos (por exemplo, estados demenciais e retardo mental) e associado ao etilismo, tabagismo, uso de drogas como a cocaína,ingestão de cafeína, anfetamina e inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) (LAVIGNE et al., 2008). Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 1 Bruxismo em vigília Infelizmente o bruxismo em vigília (BV) não é muito estudado. Existem sugestões empíricas de que o BV estaria associado a concentração e ao estresse. Deve-se sempre questionar o paciente para descriminar o BV de outras atividades oromandibulares em vigília como roer unhas, morder lábios, bochechas ou objetos. Disfunções de movimento do sono Simples: ex.: bruxismo ou movimento periódicos de membros. Complexas: ex.: disfunção de comportamento de movimento rápidos de olhos (REM) ou atividade motora epiléptica. Bruxismo do sono primário A prevalência do bruxismo do sono varia entre 8 a 16%, não há diferenças entre os gêneros e é inversamente proporcional a idade, ou seja, na infância é mais prevalente (20%), diminuindo na idade adulta (8%) e ainda mais na terceira idade (3%) (LABERGE et al., 2000; LAVIGNE; MONTPLAISIR , 1994; NG et al., 2005; OHAYON et al., 2001). Métodos para avaliar o bruxismo O método mais comum é através de questionários. Entretanto não é o método mais confiável, uma vez que depende do relato do paciente ou de terceiros. Algumas perguntas que podem ser utilizadas: - Você range ou aperta os dentes durante o sono? - Ao acordar você sente dor ou cansaço nos músculos da face? - Você sente dor ou sensibilidade nos dentes com ar frio ou bebidas frias ou geladas? - Ao acordar e movimentar a boca, você percebe rigidez ou travamento na sua articulação? - Nos últimos 3 meses você teve dentes ou restaurações fraturadas, exceto por cárie ou infiltrações? - Você percebe desconforto em seus dentes ao acordar? - Você sente dor de cabeça nas têmporas ao acordar? - Algum parente ou companheiro de quarto já relatou que você faz ruídos de ranger de dentes enquanto está dormindo? Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 2 Achados clínicos Desgaste dental Fratura/falha do dente ou restauração Hipertrofia de mm. masseter e/ou temporal (aumento 2 a 3 vezes do Mobilidade dentária, condição periodontal Disfunção temporomandibular Relato de sensação de aperto em face Sons de rangidos confirmados por parceiros ou terceiros Língua, bochechas ou mucosa marcada que em repouso) Desgate dental: combinação de diferentes fatores: idade, gênero, condição oclusal, dieta, quantidade e tipo de líquido ingerido, xerostomia, refluxo gastroesofágico, etc.O papel da saliva é muito importante. Critérios Avaliação da placa Polissonografia Segundo a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono para que o paciente seja diagnosticado com bruxismo do sono deve ocorrer: Também durante o tratamento com bruxismo, pode-se fazer uma avaliação das marcas deixadas no dispositivo intraoral. Exame utilizado para diagnóstico e estudo de diversos distúrbios do sono. Registra em uma noite inteira seus principais eventos fisiológicos por meio de eletrodos e sensores especiais. EMG portátil Eletroencefalograma (EEG): atividade cerebral Eletrooculograma (EOG): movimentos oculares Eletromiograma (EMG): atividade muscular Eletrocardiograma (ECG): padrão da atividade cardíaca Fluxo aéreo: atividade respiratória Esforço tóraco-abdominal: esforço respiratório Oximetria: saturação de oxiemoglobina Microfone traqueal: ronco Sensor de posição ★ Relato do paciente ou de terceiros de ruídos de ranger de dentes durante o sono Um ou mais dos sinais abaixo: ★ Desgaste anormal dos dentes ★ Desconforto, cansaço ou dor na musculatura mastigatória e travamento fechado ao acordar ★ Hipertrofia em masseter ★ A atividade muscular não é secundária a outro distúrbio neurológico, uso de medicamentos ou dependência química. Vários dispositivos portáteis vêm sendo desenvolvidos para o diagnóstico do bruxismo do sono. Os mais citados hoje são: Bitestrip (http:// www.bitestrip.com) e o Grindcare (http:// www.grindcare.com). Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 3 Sono: estado orquestrado e controlado que ocorre de forma cíclica Estágios O sono é dividido em duas categorias: sono REM ("Rapid Eye Movements") e sono não REM ("Non-Rapid Eye Movements") e este é classificado em 4 fases (Estágios 0, 1, 2 e 3). Durante o período de sono, normalmente ocorrem de 4 a 6 ciclos bifásicos com duração de 90 a 100 minutos cada, sendo cada um dos ciclos composto pelas fases de NREM, com duração de 45 a 85 minutos, e pela fase de sono REM, que dura de 5 a 45 minutos. São três os parâmetros fisiológicos básicos utilizados para definir os estágios do sono: o eletrencefalograma (EEG), o eletroculograma (EOG) e o eletromiograma (EMG). Vigília ou estágio 0 O registro eletrencefalográfico se caracteriza por ondas rápidas, de baixa amplitude que indicam alto grau de atividade dos neurônios corticais. Também fazem parte desse estágio, movimentos oculares aleatórios e um acentuado tônus muscular. Após 5 a 15 minutos no leito, o indivíduo alcança o primeiro estágio do sono. O período de tempo entre o ato de deitar-se e o de adormecer denomina-se latência de sono. Estágio 1 É a transição entre o estado de vigília e o sono, quando a melatonina é liberada, induzindo-o. Corresponde a 2-5% do tempo total deste. O traçado do eletromiograma apresenta redução do tônus muscular. Estágio 2 Corresponde a 45-55% do sono total de sono. Ocorre a sincronização da atividade elétrica cerebral, que refletre a redução do grau de atividade dos neurônios corticais. Com isto, diminuem os ritmos cardíaco e respiratório, (sono leve) relaxam-se os músculos e cai a temperatura corporal. Estágio 3 Hoje o estágio 3 se encontra combinado com o 4. Os movimentos oculares são raros e o tônus muscular diminui progressivamente. Juntos correspondem a 13-23% do sono total. Ocorre pico de liberação do GH (hormônio do crescimento) e da leptina; o cortisol começa (sono profundo) a ser liberado até atingir seu pico, no início da manhã. Sono REM O EEG apresenta ondas de baixa amplitude e freqüência mista que se assemelham às encontradas no estágio 1, além de ondas em dente de serra. O indivíduo apresenta máxima hipotonia da musculatura esquelética, exceto pelas oscilações da posição dos olhos, dos membros, dos lábios, da língua, da cabeça e dos músculos timpânicos. É neste período que ocorre a maioria dos sonhos e corresponde a 20-25% do sono total. Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 4 Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono respiratórios relacionados ao sono, ou outras causas de sono noturno interrompido Distúrbios do ritmo circadiano do sono Insônias Parassonias Distúrbios respiratórios Distúrbios de movimento relacionados ao sono relacionados ao sono Hipersonias de origem central não causadas pelos distúrbios do ritmo circadiano do sono, distúrbios Sintomas isolados, variantes aparentemente normais e de importância não resolvida Outros distúrbios do sono Insônia SAHOS SPI / PLMS Dificuldade de iniciar ou manter o sono, usualmente precipitada por estresse agudo, problemas médicos ou psiquiátricos,ou dor. Pode se tornar crônica. A síndrome da apneia e hipopneia do sono Distúrbio caracterizado por colapso completo ou parcial das vias aéreas durante o sono, causado cessação (apneia) ou redução significativa (hipopneia) da passagem de ar. Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) apresenta-se como sensação incômoda, não dolorosa, dentro das pernas. Os sintomas pioram ou só aparecem quando o indivíduo está descansando e desaparecem com movimento. Os sintomas de SPI podem causar dificuldade para adormecer e permanecer dormindo. Aproximadamente 80% das pessoas com SPI têm também movimentos periódicos dos membros durante o sono (PLMS), esses “puxões” acontecem a cada 20-30 segundos durante a noite toda, causam microdespertares que interrompem o sono. Cansaço s e sonolência durante o dia, irritabilidade, depressão, dificuldade para concentração e memória são sintomas comuns. Principais sinais e sintomas relatados: Duração menor do sono Aumento de despertares Problemas para adormecer ou se manter dormindo Sonolência diurna Alteração do humor Principais sinais e sintomas relatados: Roncos Sonolência diurna Sensação de sufocamento Engasgar durante o sono Cefaleia matinal Dificuldade cognitiva Impotência sexual Boca seca e/ou dor de garganta pela manhã Aumento do número de vezes que paciente levanta para urinar Irritabilidade Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 5 Características polissonográficas do Bruxismo do Sono Para o exame de bruxismo do sono através da polissonografia é indicado a adição de eletrodos para EEG de músculos masseteres, microfone para registro de ruídos dentais e câmera filmadora em infravermelho à montagem padrão. O uso da câmera e microfone permite maior acesso válido e quantitativo das atividades oromandibulares (GALLO et al., 1997; LAVIGNE et al., 2008; DOERING et al., 2008). Através da eletromiografia pode-se verificar que o evento de bruxismo poderia ser classificado como fásico, tônico ou misto. Um episódio fásico corresponde a pelo menos três bursts com duração entre 0,25 a 2 segundos separados por dois intervalos. Um episódio tônico corresponde a um burst com duração de mais de 2 segundos. Um episódio misto apresenta episódios tanto fásico como misto em um só evento. Um episódio isolado é considerado quando há um intervalo entre os episódios de duração de pelo menos três segundos (LAVIGNE; ROMPRÉ; MONTPLAISIR, 1996). 60 a 80% Fase 2 Pode-se verificar que os eventos de bruxismo do sono ocorrem com maior frequencia na fase 2 do sono (60 a 80%), com em média de 5,4 a 6 episódios por hora, sendo 88% fásicos, mantendo a arquitetura do sono normal. Os eventos de bruxismo foram correlacionados a microdespertares (HUYNH et al., 2006) que são caracterizados por uma mudança da atividade do EEG para uma atividade rápida, com duração entre 3 e 15 segundos. Não há um despertar consciente e não chega a alterar a arquitetura do sono mas o microdespertar constitui um dos marcadores da fragmentação do sono e pode estar correlacionado à fadiga e sonolência diurna (AASM, 2005). Através da polissonografia observou-se ainda que nos pacientes com BS a atividade da musculatura mastigatória rítmica (RMMA) teve sua frequencia aumentada entre 3 a 8 vezes com maior amplitude da descarga neuromuscular e 90% com contato dental e ranger de dentes (LAVIGNE; ROMPRÉ; MONTPLAISIR, 1996). Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 6 Fisiopatologia do Bruxismo do Sono Kato et al. (2001) descreveu a cascata de eventos que caracteriza o episódio de bruxismo do sono: (1) microdespertar, com ativação do sistema nervoso central e atividade alfa no EEG; (2) ativação do sistema nervoso autonômico, com aumento na frequencia cardíaca e só então (3) ativação da musculatura mastigatória e contato das superfícies dentárias. A sequencia de eventos fisiológicos que levam ao bruxismo foi descrito com mais detalhes por Lavigne et al. (2008): de 4 a 8 minutos antes do RMMA ocorre ativação do sistema autonômico cardíaco com aumento na atividade simpática, 4 segundos antes do RMMA a atividade alfa no EEG, 1 segundo antes do RMMA taquicardia, 0.8 segundos antes do RMMA ocorre ativação da musculatura supra hióidea e então ocorre o RMMA com primeiro ativação da musculatura mastigatória e só então ranger de dentes. Esta fisiopatologia concorda com uma fisiopatologia central e não periférica para o bruxismo do sono (DE LAAT; MACALUSO, 2002; KATO et al., 2003; LAVIGNE et al., 2003, 2007; LOBEZZOO et al., 1993; 1997; LOBEZZOO; NAEIJE, 2001; WINOCUR et al., 2003) Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 7 Etiologia A etiologia do bruxismo do sono permanece desconhecida. A oclusão era historicamente citada como um dos fatores etiológicos, entretanto, atualmente faltam evidências científicas que comprovem seu papel (MIYAWAKI et al., 2003; AHLBERG et al., 2004). Uma das explicações etiológicas recai sobre o papel do estresse e da ansiedade por atividade das catecolaminas (norepinefrina, dopamina e serotonina) (CLARK; RUGH; HANDELMAN, 1990;VANDERAS et al., 1999) ou pelo papel do eixo hipotalâmico e adrenérgico e amígdala central (LAVIGNE et al., 2008). O papel da dopamina como neurotransmissor participante do mecanismo do microdespertar parece também influenciar na etilogia do BS (LAVIGNE et al., 2008) bem como a genética (HUBLIN et al., 1998). Figura - Evolução histórica da patofisiologia do BS. Legenda: NE - Norepinefrina; DA - Dopamina, 5-HT Serotonina. Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 8 Dor e sono Odontalgia • Interfere de forma significativa no sono. • Pacientes com pulpite ou periodontite aguda – relato de despertares e ausência de sono pela dor (Wong et al., 2008). Neuralgia do trigêmeo • Raramente apresentam queixas de distúrbio do sono relacionado com a dor (Zakrzewska, 2002). • Maior intensidade da dor associado a grandes interferências no sono (Tölle et al., 2006). Síndrome da ardência bucal • Cerca de 70% dos pacientes relataram melhora da dor com o sono. • Comparados com controles, pacientes com SAB apresentaram distúrbios do sono mais frequentemente. Entretanto, estes distúrbios não parecem estar relacionados à ardência (Gruska, 1987). Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 9 Sono e DTM Alguns achados de estudos Pior qualidade do sono foi associada a maior intensidade da dor, maior estresse psicológico e piora na qualidade de vida em pacientes com DTM. Pacientes com dificuldades para dormir apresentam duas vezes mais sintomas de dor ou desconforto na região da face. As causas dos distúrbios do sono nos pacientes com DTM são usualmente complexas e podem envolver contribuições de problemas psicológicos ou médicos, que podem ser independentes da dor relacionada à DTM (Buenaver; Grace, 2009). Pacientes com dor miofascial apresentaram pior qualidade do sono. Uma proporção significativa de pacientes com DTM relatam bruxismo do sono e em vigília. Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 10 Bruxismo do Sono X DTM O distúrbio do sono mais estudado em relação à disfunção temporomandibular (DTM) é o bruxismo do sono (BS). A relação entre BS e DTM é complexa e conflitante. Por anos diversos artigos científicos relataram a relação entre as duas condições. O BS teria um papel contribuinte no desenvolvimento e manutenção das DTM, seja via tensãoou por causar um microtrauma muscular. Alguns achados Relato de BS foi associado a dor miofascial (OR 4.8) e à artralgia (OR 1.2) (Huang et al., 2002) Estudo prospectivo com acompanhamento de 20 anos, mostrou que BS estava associado à sinais e sintomas de DTM (Carlsson et al., 2002) Pacientes que relatam BS há mais tempo apresentaram chance maior de apresentar dor em região de crânio e face (Camparis; Siqueira, 2006) Em estudo com amostra de 12648 pessoas com idade entre 50 e 60 anos mostrou que o relato de bruxismo seria indicador de risco para dor craniofacial (Johansson et al., 2006). Limitações A maioria destes estudos são baseados em associações, transversais e assim, não é possível determinar uma provável relação de causa e efeito. Ainda, existe a problemática de serem estudos baseados no relato do paciente, que, pode não ser exato para determinar uma parafunção que ocorre quando ele está dormindo.Um artigo recente mostrou que a crença do paciente na relação entre bruxismo do sono e DTM também pode influenciar neste relato. Sugestões Realizar estudos com polissonografia Caracterizar a dor em pacientes bruxistas do ponto de vista neurobiológico e fisiológico dos músculos mastigatórios Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 11 Estudos realizados com polissonografia Relação entre DTM e Bruxismo do Sono Neste momento, o papel do BS na dor por DTM não foi esclarecido. O BS pode ser o primeiro passo para um sono não reparador, à medida que decorre de um microdespertar, cuja consequências são sonolência excessiva diurna, sono não reparador e aumento dos distúrbios do sono. Mesmo o BS ser ligado a um microdespertar e ao aumento da atividade simpática durante o sono, a maioria dos bruxistas não relatam sono não reparador ou pobre qualidade do sono. Este fato desperta a possibilidade do BS refletir uma vulnerabilidade a dor e a outros distúrbios do sono mais do que diretamente causar algum efeito. Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 12 O ponto crítico pode ser não o total de impulsos nervosos nociceptivos mas como estes são integrados e processados no sistema nervoso central. Por esta perspectiva pode não ser surpresa que duas pessoas com o mesmo grau de bruxismo apresentem respostas diferentes em termos de sintomas dolorosos. Svensson, Jadidi, Arima, Baad-Hansen, Sessle, 2008 Estudo publicado em 2009 por Smith e colaboradores Recente estudo avaliou a frequência de distúrbios do sono em 53 pacientes com DTM (dor miofascial) através de questionários de diagnóstico estruturados, exames de sensibilidade e polissonografia. Destes pacientes, 75% preencheram os critérios clínicos para BS (respostas ao questionário mais exame físico). Entretanto, apenas 17% preencheram os critérios polissonográficos. Ainda, 43% dos pacientes apresentaram mais de um distúrbio do sono, sendo que insônia (36%) e apneia do sono (28,4%) foram os distúrbios mais prevalentes. Consequências do Sono não Reparador Quando o indivíduo é privado do sono não-REM há aumento na sensibilidade musculoesqueletal, dores e tensão. O sono não-REM é responsável pelo descanso físico. Distúrbio da reparação tecidual muscular (menor liberação de hormônio de crescimento) e da recuperação (síntese de proteínas e ATP). Pertubações autonômicas, neuroendócrinas, imunes e de neurotransmissores. Sono não reparador- déficit na modulação da dor. Conclusões Os dados indicam que os clínicos que tratam pacientes com DTM e Dor Orofacial deveriam considerar referir estes pacientes para estudo de seu sono quando a queixa de dor for associada a pobre qualidade do sono, ronco ou outros distúrbios respiratórios como falta de ar, e, ainda mais importante, sonolência diurna. Juliana Stuginski Barbosa - www.julianadentista.com 13 Como avaliar o paciente com relação ao seu sono? Questionários validados Existem vários questionários dedicados a avaliação do sono, mas poucos foram validados e tiveram a sua eficácia comprovada. Alguns destes questionários são: Questionário de qualidade de sono de Pittsburg Escala de sonolência de Epworth Questionário de Berlim Outros questionários Perguntas referentes à sintomas relacionados ao sono podem indicar alguma pista sobre um possível distúrbio do sono presente. Assim acontece com as perguntas referentes ao bruxismo do sono. Deve-se além de questionar a presença, questionar tambem a frequência com que estes sintomas ocorrem. Por exemplo: nunca, menos de 1 vez por semana, de 1 a 2 vezes na semana, 3 a 4 vezes por semana, 5 a 7 vezes por semana. Questionar o horário em que o paciente deita, se tem dificuldades de iniciar o sono ou mantê-lo é importante para a detecção de uma provável insônia. Para SAHOS pode-se questionar a presença e frequência de: roncos, sensação de sufocamento, apneias testemunhadas, cefaleia matinal, boca seca ou congestão nasal pela manhã, respiração bucal, mais de 2 episódios de diurese por noite, dispneia ou tosse noturna, palpitação, dor torácica ou sudorese durante a noite e sonolência diurna. Questionário de qualidade de sono de Pittsburg (PSQI) O PSQI é utilizado para avaliar a qualidade subjetiva do sono, sendo um instrumento com confiabilidade e validade previamente estabelecidas. Este questionário é composto por 19 itens, que são agrupados em sete componentes, cada qual pontuado em uma escala de 0 a 3. Os componentes são, respectivamente: (1) a qualidade subjetiva do sono; (2) a latência do sono; (3) a duração do sono; (4) a eficiência habitual do sono; (5) as alterações do sono; (6) o uso de medicações para o sono; e (7) a disfunção diurna. Os escores dos sete componentes são somados para conferir uma pontuação global do PSQI, a qual varia de 0 a 21. Pontuações de 0-4 indicam boa qualidade do sono, de 5-10 indicam qualidade ruim e acima de 10 indicam distúrbio do sono. Escala de sonolência de Epworth A Escala de sonolência de Epworth foi desenvolvida para avaliar a ocorrência de sonolência diurna excessiva, referindo-se à possibilidade de cochilar em situações cotidianas. Por ser considerada simples, de fácil entendimento e preenchimento rápido, esta escala é amplamente utilizada. Para graduar a probabilidade de cochilar, o indivíduo utiliza uma escala de 0 (zero) a 3 (três), onde 0 corresponde a nenhuma e 3 a grande probabilidade de cochilar. Utilizando uma pontuação total > 10 como ponto de corte, é possível identificar indivíduos com grande possibilidade de distúrbios do sono. Já pontuações maiores de 16 (dezesseis) são indicativas de sonolência grave, mais comumente encontrada nos pacientes com SAHOS moderada ou grave, narcolepsia ou hipersonia idiopática. Questionário de Berlim O risco de SAOS pode ser avaliado através do Questionário de Berlim. Os pacientes podem ser divididos em alto e baixo risco de SAOS, com base nas respostas de perguntas de sintomas agrupadas em três categorias. Um paciente é considerado como sendo de alto risco para apneia do sono se 2 dos 3 seguintes critérios fossem observados: 1) ronco com duas das seguintes características; mais alto do que a fala, pelo menos 3 a 4 vezes por semana, reclamações de outros sobre o ronco, pausas respiratórias testemunhadas pelo menos 3 a 4 vezes por semana; 2) fadiga no início da manhã e durante o dia, mais de 3 a 4 vezes por semana ou adormecer ao volante; e 3) presença de hipertensão ou obesidade O controle do Bruxismo Não há suporte na literatura de que procedimentos oclusais como equilíbrio das forças mastigatórias, reabilitação e alinhamento ortodôntico sejam válidos no tratamento do bruxismo. Procedimentos irreversíveis não devem ser realizados. Dispositivos interoclusais O uso de um dispositivo interolcusal é a modalidade mais utilizada para o controle do bruxismo do sono. Entretanto, o mecanismo de ação ainda é obscuro. A principal função é a proteção das estruturas, como dentes, ATM e músculos. Entre os dispositivos interoclusais, a placa estabilizadora de acrílico e cobertura oclusal (PE) é sem dúvida a mais utilizada e estudada. Em um estudo controlado, o efeito da PE foi comparado com uma placa palatal em pacientes com BS. Com ambos dispositivos os pacientes apresentaram uma redução na atividade eletromiográfica (EMG) em músculos masseteres. Entretanto, este efeito foi transitório (HARADA et al., 2006). Outro estudo demonstrou que o uso da PE nos dentes superiores poderia ter um efeito deletério para pacientes com SAHOS, já que foi apresentado um aumento dos eventos respiratórios durante o sono (GAGNON et al., 2004). Este fato reforça a necessidade de avaliarmos os pacientes com queixas de distúrbios do sono. Recentemente alguns estudos mostraram o uso da placa de avanço mandibular no controle do bruxismo do sono. Esta apresentou uma redução maior dos eventos motores de BS. Entretanto, ao final do estudo, em que os pacientes experimentaram ambos os dispositivos, os pacientes relataram se sentirem mais confortáveis com a PE (LANDRY et al., 2006). Bruxismo infantil Ainda não há um tratamento para prevenção do bruxismo em crianças. Assim como nos adultos, abordagens como higiene do sono e relaxamento podem ser utilizadas. O uso de dispositivos interoclusais deve ser realizado com cautela e ainda não existem estudos comprovando sua eficácia. A abordagem ortodôntica e cirúrgica para melhora a respiração em crianças parece ser bem interessante uma vez que a fisiopatologia pode cursar com os problemas respiratórios, comuns nesta faixa etária. Abordagens comportamentais O uso de um estímulo para se evitar o hábito é comumente utilizado para o controle do bruxismo. No bruxismo em vigília, pode-se optar por estímulos visuais ou sonoros. No BS vários estímulos já foram testados, entretando na maioria foi relatado um aumento nos despertares, o que levou a um aumento na sonolência diurna. Recentemente foi desenvolvido o dispositivo Grindcare (www.grindcare.com). Posicionado sobre o músculo temporal, este dispositivo envia um sinal elétrico cada vez em que o paciente rnage ou aperta os dentes. A intensidade é calibrada antes do uso do dispositivo. Segundo Jadidi et al. (2008 e 2011), o uso do Grindcare proporciona uma redução nos eventos motores do BS sem interferir no sono do paciente. Higiene do Sono Algumas medidas simples podem ajudar no controle do BS e também na qualidade do sono do paciente como: evitar estimulantes (cafeína, nicotina) algumas horas antes de dormir, manter horários rotineiros para dormir, não dormir de estômago vazio, reduzir barulho e claridade no quarto, fazer exercícios de relaxamento antes de dormir e a prática de esportes. Toxina butolínica O uso da toxina botulínica (TB) é ainda controverso para o controle do BS. Alguns estudos apontam uma redução na EMG dos músculos mastigatórios em pacientes submetidos a esta terapia, mas seus resultados devem ser vistos com cautela, uma vez que há uma dificuldade em se realizar estudos controlados e cegos. O sucesso com esta terapia é maior em pacientes com comprometimento neurológico. O efeito da TB é passageiro mas repetições da técnica podem levar a enfraquecimento muscular e disfagia. Esta técnica pode ser útil em pacientes refratários aos tratamentos convencionais. Medicamentos Uma vez que a fisiopatologia do BS foca em fatores centrais, um tratamento curativo com medicamentos poderia ser possível. Entretanto, até o presente momento, não há uma medicação segura e definitiva para o tratamento do BS. Drogas que atuam no sistema dopaminérgico como L-Dopa e Pergolamida apresentaram alguns efeitos positivos em relatos de caso. Um estudo controlado foi realizado em 2005 com clonazepam mas seu uso a longo prazo traz efeitos colaterais importantes, como dependência, distúrbios na coordenação motora, sonolência, etc. Ainda, a clonidina mostrou-se eficaz no controle do bruxismo, reduzindo a frequência dos eventos em 60%. Entretanto, 20% dos pacientes apresentaram efeitos colaterais graves como hipotensão ao levantar, o que contra indica o seu uso. Referências Ahlberg J, Savolainen A, Rantala M, Lindholm H, Kononen M. Reported bruxism and biopsychosocial symptoms: a longitudinal study. Community Dent Oral Epidemiol. 2004;32:307–311. AASM. International classification of sleep disorders. 2a. ed. Westchester: American Academy of Sleep Medicine; 2005. Clark GT, Rugh JD, Handelman SL. Nocturnal masseter muscle activity and urinary catecholamine levels in bruxers. J Dent Res. 1980;59:1571–1576. De Laat A, Macaluso GM. Sleep bruxism as a motor disorder. Mov Disord. 2002;17(suppl.):S67–S69. De Leeuw R. 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Sleep Medicine for Dentists: a practical overview (editado por Gilles J. Lavigne, Peter A. Cistulli e Michael T. Smith). Sugestões de leitura online No site www.julianadentista.com haverá uma página ALUNOS. Clique nesta página e use a senha IEO para acessar seu conteúdo. Será possível fazer download deste material e também de artigos relacionados ao tema. “A Odontologia na Medicina do Sono” . A publicação é de autoria de Cibele Dal Fabbro, Cauby Maia Chave Jr. e Sergio Tufik, com a participação de 15 colaboradores.