sistema de tratamento de efluentes com plantas aquáticas
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sistema de tratamento de efluentes com plantas aquáticas
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MESTRADO PROFISSIONAL SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES COM PLANTAS AQUÁTICAS EMERGENTES (PAE) PARA O PROCESSO DE PARBOILIZAÇÃO DE ARROZ GUILHERME SCHULZ Orientadora: Profa. Dra. Nádia Teresinha Schröder Co-orientadora: Profa. Dra. Liliana Amaral Canoas, julho de 2009 II DEDICATÓRIA Dedico a realização deste trabalho: a minha esposa Cristiane; a minha Empresa BIOMA PAMPA; aos meus Pais; que tanto apoiaram e incentivaram meu crescimento profissional. III AGRADECIMENTOS a minha esposa Cristiane, pela paciência das aulas e por todo o amor e incentivo dado; ao incentivo dado pela minha empresa BIOMA PAMPA. ao incentivo também dado pela minha família; a grande ajuda dada pela minha orientadora Profa. Dra. Nádia Schröder; a ciência da Ecologia; ao meu trabalho profissional. IV SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................................................... 1 1.1. Justificativa ............................................................................................................. 3 1.2. Objetivos .................................................................................................................. 4 1.2.1. Objetivo Geral ....................................................................... 4 1.2.2. Objetivos Específicos ............................................................ 4 2. Revisão Bibliográfica.................................................................................... 5 2.1. Tipos de sistemas de tratamento com PAE .......................................................... 6 2.2. Sistema com Plantas Aquáticas Emergentes (PAE) .......................................... 10 2.2.1. Composição das camadas suporte ..................................... 12 2.2.2. Regime Hidrológico ............................................................. 13 2.2.3. Vegetação ........................................................................... 13 2.2.4. Mecanismos de Remoção de Poluentes ............................. 17 2.2.5. Eficiência da Remoção........................................................ 18 3. Materiais e Métodos .................................................................................... 20 3.1. Caracterização da Área de Estudo ...................................................................... 20 3.2. Diagnóstico Inicial - Sistema de Tratamento de Efluentes ............................... 21 3.3. Dimensionamento do Sistema PAE Proposto ..................................................... 23 3.4. Camada Suporte ................................................................................................... 24 3.5. Seleção de Plantas Aquáticas Emergentes .......................................................... 24 3.6. Coleta dos Propágulos .......................................................................................... 25 3.7. Plantio das mudas ................................................................................................. 26 3.8. Monitoramento ..................................................................................................... 26 4. Resultados e Discussão ............................................................................... 28 4.1. Plantas Aquáticas Emergentes ............................................................................ 28 4.1.1. Taboa (Typha dominguensis) .............................................. 28 4.1.2. Espadana (Zizaniposis bonariensis).................................... 29 4.1.3. Junco (Scirpus colifornicus) ................................................ 30 4.2. Local de coleta ....................................................................................................... 31 4.3. Camada Suporte ................................................................................................... 31 4.4. Dimensionamento do Sistema PAE ..................................................................... 34 4.5. Densidade de plantas aquáticas no Sistema PAE .............................................. 40 4.6. Monitoramento do efluente .................................................................................. 42 5. Conclusões .................................................................................................. 57 6. Trabalhos Futuros ...................................................................................... 59 7. Referências .................................................................................................. 60 V Listagem de Figuras Figura 01: Representação de um Sistema de Fluxo Horizontal típico – folha 08; Figura 02: Representação de um Sistema de Fluxo Vertical típico – folha 09; Figura 03: Formas Biológicas das plantas aquáticas – folha 15; Figura 04: Vista aérea da área de estudo – Folha 20; Figura 05: Caixa de filtração do efluente bruto presente no sistema antigo – folha 21 Figura 06: Efluente com arraste de cinza de casca – folha 22 Figura 07: Local de saída do efluente do sistema primário – folha 22; Figura 08: Lagoas facultativas existentes no antigo sistema – folha 22; Figura 09: Plantio das muda – folha 26 Figura 10: Taboa (Typha dominguensis) Pers. – folha 29; Figura 11: Espadana (Zizaniopsis bonariensis) (Balansa & Poitr.) Speg. – folha 30; Figura 12: Muda de Junco (Scirpus californicus) (C. A. Meyer) Steud – folha 31; Figura 13: Perfil dos substratos utilizados para composição da camada suporte – folha 32 Figura 14: Efluente sendo filtrado por peneiras – folha 34; Figura 15: Tanques de equalização e resfriamento – folha 34; Figura 16: Construção dos banhados – folha 35; Figura 17: Construção dos taludes laterais – folha 35; Figura 18: Impermeabilização com argila – folha 36; Figura 19: Colocação do substrato brita – folha 36; Figura 20: Colocação do substrato areia – folha 37; Figura 21: Colocação de brita e areia – folha 37; Figura 22: Colocação de pedra calcária – folha 37; Figura 23: Plantio de mudas de Taboa – folha 38; Figura 24: Plantio de mudas de Espadana – folha 38; Figura 25: Plantio e brotação de mudas de Junco – folha 38; Figura 26: Tubulação de entrada do efluente e pedras irregulares para sua distribuição no sistema de tratamento – folha 39; Figura 27: Colocação das tubulações do Efluente – folha 39; Figura 28: Saída do efluente do sistema de tratamento – folha 40; Figura 29: Distribuição e distanciamento do plantio das mudas nos banhados – folha 40; VI Figura 30: Distribuição e plantio das mudas de Taboa no banhado 1 – folha 41; Figura 31: Distribuição e plantio das mudas de Espadana no banhado 2 – folha 41; Figura 32: Distribuição e plantio das mudas de Junco no banhado 3 – folha 42; Figura 33: Mortandade de espécimes de Taboa – folha 43; Figura 34: Presença de plantas invasoras nos banhados PAE – folha 43; Figura 35: Presença de plantas sagitárias – folha 44; Figura 36: Presença de pássaros junto aos taludes dos banhados – folha 44; Figura 37: Presença de pássaros junto à vegetação – folha 45; Figura 38: Presença de pássaros junto a ETE – folha 45; Figura 39: Taboa após 15 meses de plantio – folha 46; Figura 40: Espadana após 15 meses de plantio – Folha 46; Figura 41: Junco após 15 meses de plantio – Folha 46; Figura 42: Vista do sistema de tratamento em julho de 2009 – folha 47; Figura 43: Sistema de filtração de sólidos nos banhados – folha 48; Figura 44: Borra e limo acumulados – folha 48; Figura 45: Da esquerda para a direita efluente bruto, efluente tratado PAE 1, PAE 2 e PAE3 – folha 49; Figura 46: Muçum (peixe), junto à saída do efluente – folha 49; Figura 47: Percentuais de remoção dos contaminantes (%) – folha 50; Figura 48: DBO no efluente bruto e no tratado - folha 52; Figura 49: DQO no efluente bruto e no tratado – folha 52; Figura 50: Sólidos suspensos no efluente bruto e no tratado – folha 53; Figura 51: Fósforo Total no efluente bruto e no tratado – folha 53; Figura 52: Nitrogênio Amoniacal no efluente bruto e no tratado – folha 55; Figura 53: Nitrogênio Total no efluente bruto e no tratado – folha 55. VII Listagem de Tabelas Tabela 01: taxa de transferência de O2 por plantas aquáticas emergentes – Folha 10; Tabela 02: plantas aquáticas emergentes da região Sul do Brasil – folha 16; Tabela 03: principais mecanismos de remoção de poluentes – filha 17; Tabela 04: Eficiência de remoção dos principais parâmetros de monitoramento – folha 18; Tabela 05: Composição da Pedra Calcária – folha 32 Tabela 06: Valores dos parâmetros utilizados no Monitoramento do Efluente – folha 50 Tabela 07: Concentrações de Cálcio no efluente tratado e bruto – folha 54. VIII Resumo O processo industrial de parboilização de arroz produz grandes volumes de efluentes que contem altas concentrações de fósforo, matéria-orgânica, nitrogênio e outros contaminantes. Estes efluentes possuem ainda altas temperaturas e forte odor, que acabam degradando a qualidade ambiental de águas superficiais e subterrâneas se não forem devidamente tratados. A fim de evitar a degradação ambiental, as plantas aquáticas emergentes (PAE) têm sido utilizadas como filtros, em banhados construídos, para o tratamento de efluentes contaminados. Apresentam como vantagem o baixo custo de operação, baixo consumo energético e simplicidade operacional. Neste contexto, o presente trabalho objetivou avaliar a eficiência da Taboa (Typha dominguensis), Espadana (Zizaniopsis bonariensis) e Junco (Scirpus californicus) em sistemas para tratamentos de efluentes da indústria de arroz parboilizado. O sistema de tratamento de efluente, com plantas aquáticas emergentes, proposto neste estudo, indicou ser eficiente na remoção de poluentes, mesmo com variações nas condições climáticas e possibilitou a coexistência de várias espécies de pássaros, apresentando as características de seus habitats naturais e, conseqüentemente, um local que oferece abrigo e alimentação para sua sobrevivência e das demais espécies aumentando a biodiversidade na região. Palavras-Chaves: plantas aquáticas emergentes – tratamento de efluentes – indústria de parboilização de arroz – banhados construídos. IX Abstract The process of parboiling rice industry produces large volumes of wastewater containing high concentrations of phosphorus, organic matter, nitrogen and other contaminants. These effluents still present high temperatures and strong odor, which can degradate the environmental quality of surface and groundwater if not properly treated. In order to prevent environmental deterioration, emergent aquatic plants (EAP) have been used as filters, built in wetlands, for the treatment of contaminated effluents. The advantages of its use are the low cost of operation, low energy consumption and operational simplicity. In this context, this study aimed to evaluate the efficiency of Taboa (Typha dominguensis), Espadana (Zizaniopsis bonariensis) and Junco (Scirpus californicus) in systems for wastewater treatment of the parboiling rice industry. The effluent treatment system applying emergent aquatic plants proposed in this study indicated efficient removal of pollutants, even with variations in climate and the possible coexistence of several species of birds. It shows the characteristics of their natural habitats, and consequently a place that offers shelter and food for their survival and other species increase biodiversity in the region. Keywords: emergent aquatic plants - wastewater treatment - parboiling rice industry - wetlands. 1 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 1. Introdução O estado do Rio Grande do Sul é um importante pólo de produção de alimentos, o que torna a agroindústria a principal atividade econômica da região. O principal grão processado no estado é o arroz, que chega ao beneficiamento de 3.442.537 t/ano dos 4.708.695 t/ano de grãos colhidos representando mais de um terço da produção nacional (IRGA, 2006). A produção nacional de arroz, em 2006, somou 11.524.434 toneladas e o rendimento médio (3.881 kg/ha) foi recorde. Este índice foi fortemente influenciado pelas lavouras do Rio Grande do Sul, principal produtor nacional e onde se concentram os 20 municípios maiores produtores de arroz (IBGE, 2006). A indústria de arroz parboilizado é uma das atividades agroindustriais que apresenta um forte crescimento no estado do Rio Grande do Sul. O processo de parboilização constitui-se por três etapas: encharcamento, gelatinização e secagem para aumentar o valor nutritivo, o rendimento do engenho e a conservação do produto (AMATO e SILVEIRA FILHO, 1991; GUTKOSKI, 1991). Este processo gera cerca de 4m3 de efluentes por tonelada de grão industrializado (LOPES et. al., 2001). O tratamento de efluentes gerados nesta atividade é necessário devido à presença de matéria orgânica e nutrientes acima dos limites permitidos pela legislação ambiental. De acordo com Metcalf e Eddy (1991), os efluentes que possuem grandes concentrações de fósforo, matéria-orgânica, nitrogênio, altas temperaturas e outros contaminantes, se não forem devidamente tratados, possuem alto potencial poluidor, degradando a qualidade ambiental de águas superficiais e subterrâneas. Geralmente os efluentes da indústria de parboilização de arroz são tratados por sistemas formados por reatores anaeróbios e por sistemas de lodos ativados. Estas tecnologias geralmente se mostram satisfatórias, mas exigem investimentos altos e corpo técnico qualificado na operação destes sistemas. Os sistemas anaeróbios têm sido muito empregados no tratamento de efluentes de indústrias alimentícias, principalmente através da utilização de Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE reatores anaeróbios de fluxo ascendente (UASB), que tem uma larga aceitação em razão da comprovada eficiência na remoção de carga orgânica de diversos efluentes. Entretanto, os sistemas anaeróbios não são eficientes na remoção de nutrientes, e os efluentes agroindustriais tratados nestes sistemas normalmente necessitam de tratamento complementar (WEF, 1994). A utilização de plantas aquáticas em estações de tratamento de efluentes vem sendo estudada e aplicada principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha. No estado do Rio Grande do Sul, a tecnologia de utilizar plantas aquáticas para tratar efluente vem sendo pesquisada para os efluentes da indústria de pescados, frigoríficos, celulose e papel e domésticos iniciados em 1997 no Laboratório de Celulose e Efluentes do Instituto Federal Sul RioGrandense (IFSul ), campus Pelotas/RS (SCHULZ, 1998). Plantas Aquáticas Emergentes (PAE) são àquelas plantas que projetam suas raízes no interior do solo e mantém suas principais superfícies fotossintéticas projetadas acima do nível d’água, permanentemente ou na maior parte do tempo (IRGANG e GASTAL, 1996). Os sistemas de tratamento de efluentes que utilizam as plantas aquáticas emergentes ou wetlands apresentam um grande potencial para serem utilizados em atividades industriais, domésticas e agrícolas, como póstratamento de efluentes de reatores anaeróbios ou mesmo para etapa única de tratamento secundário. Estes sistemas visam geralmente à remoção de cor, sólidos suspensos, matéria orgânica, nutrientes, metais, patogênicos, entre outros parâmetros (WEF, 1990). O sistema de plantas aquáticas emergentes apresenta características semelhantes à de um banhado natural. O uso intencional de banhados naturais para tratamento de efluentes não é permitido, pelos efeitos deletérios que podem causar à flora e á fauna, sem um monitoramento, impermeabilização e dimensionamento corretos (CALHEIROS et. al, 2007). As plantas aquáticas emergentes mais utilizadas em wetlands para tratamento de efluentes são a Typha sp., Phragmites spp. e Scirpus sp. (KASEVA, 2004). Segundo WEF (1994) existem dois grandes sistemas de tratamento com plantas aquáticas: 2 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 1) Lagoas com plantas aquáticas submersas e/ou flutuantes: estes sistemas se caracterizam por possuir lâmina d’água e por não utilizarem camadas suporte de substrato, sendo utilizadas plantas aquáticas submersas ou plantas flutuantes. Estas são mais comuns neste tipo de tratamento e as mais utilizadas são os aguapés (Eicchornia spp.). A utilização desses aguapés nunca alcançou os resultados desejados e a formação de biomassa em excesso sempre foi um ponto contrário neste tratamento, inviabilizando-o. 2) Wetlands, lagoas ou banhados com plantas aquáticas emergentes: nos sistema de lagoas com plantas aquáticas emergentes, os níveis aquáticos e as taxas de fluxo podem ser facilmente controlados e monitorados. O tipo de camada suporte e vegetação são selecionados a partir das suas capacidades de se adaptarem ao sistema e à remoção dos constituintes do efluente. O sistema de tratamento é dimensionado para condições específicas do local de implantação, o que permite sua construção em praticamente qualquer tipo de terreno e de clima, chegando a ter altos índices de remoções até em temperaturas congelantes, pela parte subterrânea dos vegetais. Estes sistemas se caracterizam por possuir camadas suporte de substrato para as plantas e pouco ou nenhum nível de lâmina d’água. 1.1. Justificativa O tratamento de efluentes é uma exigência dos órgãos de controle ambiental, portanto, nada mais indicado que tratá-lo de uma maneira biológica, limpa e flexível, com um consumo mínimo de energia, fazendo uso de sistemas naturais e recursos regionais. Por isso, busca-se obter dados relativos à construção e ao monitoramento de sistemas que mantenham as mesmas características dos banhados naturais, mas que possam receber uma carga maior do efluente, em uma menor área. A tecnologia proposta, neste estudo, para tratar os efluentes da parboilização de arroz, se baseia na utilização de plantas aquáticas emergentes (PAE) dispostas em banhados, por ser uma tecnologia de baixo custo e por apresentar custos menores que os usuais, (UASB e Lodos 3 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Ativados), principalmente pela baixa manutenção e pelo menor investimento inicial. Assim sendo, as empresas do estado do Rio Grande do Sul podem fazer uso de uma tecnologia limpa e se adequar a Portaria no 128/2006 do Conselho Estadual de Meio Ambiente - CONSEMA, que exige, de fontes poluidoras, o tratamento de efluentes domésticos e industriais em padrões bastante rígidos, principalmente para DQO (Demanda Química de Oxigênio), nitrogênio e fósforo. 1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivo Geral Avaliar o desempenho de plantas aquáticas emergentes no sistema de tratamento de efluente da indústria de parboilização de arroz. 1.2.2. Objetivos Específicos 1. Selecionar as espécies nativas de plantas aquáticas enraizadas que possam ser utilizadas em sistemas de tratamento de efluentes; 2. Determinar as características da camada suporte necessárias ao enraizamento das plantas; 3. Determinar a capacidade de remoção dos contaminantes pelas plantas aquáticas emergentes selecionadas; 4. Determinar a densidade vegetal necessária para a remoção dos contaminantes no sistema em estudo; 5. Dimensionar o sistema de tratamento em estudo; 6. Analisar os parâmetros pH, DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), DQO, Nitrogênio, Fósforo, Sólidos e monitorá-los pelo período de oito meses, visando atender as exigências dos Órgãos Ambientais. 4 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 2. Revisão Bibliográfica Os sistemas de tratamento com plantas aquáticas emergentes recebem denominações específicas de acordo com as suas localizações geográficas. No Reino Unido, são utilizados os termos Wetlands ou Root Zone. Na Alemanha, utiliza-se a sigla PKA (PflanzenKläranlage) e no Brasil, existem várias denominações como Terras Úmidas, Banhados Construídos, Zona de Raízes, entre outras (WEF, 1990). No Brasil grandes avanços em pesquisa e desenvolvimento de processos e técnicas de tratamento de águas residuárias têm sido direcionados tanto para sistemas de grande porte e de maior complexidade, quanto de pequeno porte, baixo custo e simplicidade operacional, tais como: tanques sépticos, lagoas de estabilização, reatores anaeróbios, disposição nos solos e leitos cultivados. Estes, no Brasil, são sistemas que ainda são pouco estudados, ao menos na exploração de todo o seu potencial (MAZZOLA, 2005). Os chineses, provavelmente, foram os primeiros a usarem as plantas aquáticas no tratamento de águas residuárias, mas, cientificamente, Seidel, em 1952, na Alemanha, foi o primeiro a utilizar planta aquática na remoção de fenol por Scirpus lacustris, utilizando brita como camada suporte. Seidel realizou, também, outros experimentos usando leitos com brita cultivados com plantas aquáticas emergentes: Phragmites australis, Iris sp., Schoeneplectus sp, Typha sp. Nos anos 70 Kickuth, também na Alemanha, utilizou leitos com silte de alta quantidade cultivados com P. australis para tratar efluentes municipais. Nos Estados Unidos, os leitos cultivados tornaram-se mais conhecidos a partir dos estudos de Wolverton, em 1988, para a Agência Espacial Norte Americana (NASA) onde foi testado o uso do tanque séptico associado aos leitos cultivados no tratamento de efluentes de casas não servidas pela rede de captação pública (MAZZOLA, 2003). Campos et al. (2002) avaliaram o uso de sistemas de leitos cultivados, em escala piloto, como tratamento do chorume gerado no Aterro Sanitário de Piraí, RJ. Cita, também, Souza e Bernardes que trataram o esgoto doméstico de uma comunidade próxima a Brasília, DF, por uma combinação de reator anaeróbio 5 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE de fluxo ascendente (UASB) e pós-tratamento em leitos cultivados de fluxo sub-superficial com Typha latifolia. Cita, ainda, Sezerino et al. que avaliaram o potencial dos leitos cultivados no tratamento de efluente de lagoa de estabilização que tratava dejetos de suínos. Segundo Mazzola (2005) têm-se utilizado leitos cultivados de fluxo horizontal no tratamento de efluente de reator anaeróbio compartimentado. Esses sistemas se mostraram muito promissores devido à alta remoção da matéria orgânica, fácil implantação e baixo custo. 2.1. Tipos de sistemas de tratamento com PAE Segundo Cooper (1998), basicamente, existem dois grandes sistemas de tratamento que utilizam com plantas aquáticas emergentes: 1) Sistemas de Superfície Aquática Livre (SAL): nestes sistemas, o efluente circula somente sobre a superfície do solo, como nos banhados naturais, por um canalete controlado. A água pode ser perdida, do sistema, por evapotranspiração e por infiltração. A percentagem de perda d’água por evapotranspiração será significativa dependendo dos níveis de carregamento hidráulico e de condições climáticas. Nos sistemas SAL, a profundidade de água varia de 0,4 m a 2,0 m, com uma profundidade média de 1,0 m. Os sistemas SAL podem ser naturais com utilização de substrato natural ou construído, onde, geralmente, é utilizado uma lona plástica ou materiais argilosos para impermeabilização do terreno. 2) Sistema de Fluxo Sub-Superficial (FSS): neste sistema, o efluente circula através de uma matriz porosa de areia grossa ou brita, na qual estão presentes as raízes das plantas aquáticas. As perdas de água por evapotranspiração também são significativas. Segundo Cooper (1993 e 1998), o sistema FSS pode ser dividido em dois tipos: a) Sistema de Fluxo Horizontal (SFH): este sistema é chamado desta forma porque o efluente percorre vagarosamente todas as camadas do solo artificial e desloca-se no sentido horizontal, desde a entrada até a saída do sistema. 6 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Durante este percurso, o efluente passa por zonas aeróbias, anaeróbias e anóxias (Figura 01). Na rizosfera, ao redor das raízes e dos rizomas das plantas, é formada uma zona aeróbia. Nesta zona, existe uma intensa vida microbiológica, favorecida pela capacidade de transporte do oxigênio atmosférico pelas plantas emergentes, por suas folhas, caules e hastes, até a zona de raízes. É nesta zona que ocorre a oxidação da matéria orgânica pelas bactérias heterotróficas, a oxidação do nitrogênio amoniacal a nitrito e a nitrato pelas bactérias autotróficas e a volatilização da amônia. Na zona anóxica, ocorre à transformação do nitrato em nitrito e este a nitrogênio gasoso, pelas bactérias heterotróficas e a oxidação da matéria orgânica, utilizando o nitrato como receptor de elétrons. Na zona anaeróbia, os índices de remoção de DBO são alcançados devido à alta capacidade de decomposição das bactérias anaeróbias (DAVIES et. al, 2006). Segundo o mesmo autor, os SFH são eficientes na remoção de matéria orgânica, fósforo e sólidos suspensos totais (SST) como sistema secundário de tratamento, mas tendem a ter uma limitação no fornecimento de oxigênio, onde as plantas aquáticas podem não suprir a taxa de oxigênio requerida pela carga do efluente. Portanto, não são eficientes para promover a nitrificação em efluentes, devido a sua limitada capacidade de transferir oxigênio atmosférico até a zona de raízes, tendo uma baixa capacidade de transferência de oxigênio (CTO). Uma grande variedade de plantas aquáticas pode ser usada no tratamento de águas residuárias em sistemas alagados construídos com fluxo sub-superficial horizontal. Todavia, é necessário que essas plantas apresentem tolerância às condições de alagamento contínuo conjugado com altas concentrações de poluentes presentes em águas residuárias ou águas de enxurradas (BRASIL e MATOS, 2007). 7 8 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE As características do SFH são: • Os rizomas crescem vertical e horizontalmente, abrindo espaços nas camadas do substrato, produzindo caminhos hidráulicos; • Na área em torno dos rizomas, há grande proliferação de populações bacterianas anaeróbias e aeróbias. O processo aeróbio acontece próximo das raízes e rizomas, enquanto os processos anaeróbios e anóxicos acontecem nas áreas distantes dos rizomas; • Na superfície da camada suporte destes sistemas, aparecem materiais como palhas, folhas e ramificações mortas, que são aerobiamente degradadas, que podem aumentar a concentração de sólidos suspensos no efluente final. Figura 01: representação de um Sistema de Fluxo Horizontal típico. b) Sistema de Fluxo Vertical (SFV): os princípios deste sistema são similares ao de um filtro biológico. O efluente a ser tratado é distribuído intermitentemente sobre a superfície da camada suporte, inundando-a uniformemente. Após, o efluente é drenado gradualmente, atravessando todas as camadas do leito construído, no sentido vertical. A vazão deve ser controlada de modo que garanta que o efluente percorra todas as camadas antes de uma nova distribuição, permitindo que os espaços vazios sejam novamente preenchidos pelo ar. Este procedimento de inundação intermitente conduz a uma boa transferência de oxigênio. As bactérias responsáveis pela Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE remoção de DBO e pela nitrificação estão presentes em todas as camadas do leito. As plantas aquáticas, neste sistema apresentam maior taxa de transferência de oxigênio para a rizosfera. Entretanto, este sistema não possui grande capacidade de oxidação da matéria orgânica (MOLLE et al, 2006) (Figura 02). As principais características do SFV são: • A camada suporte, para as plantas, é constituída por sucessivas camadas de areia, brita e pedras maiores. • As pedras maiores são distribuídas, normalmente, no fundo do leito, em torno do sistema de drenagem. • O plantio das plantas aquáticas se dá na camada de areia grossa, que compõe a superfície da camada suporte; • O controle da vazão é fundamental para atingir as taxas de transferência de oxigênio desejadas. A camada suporte nunca deve estar saturada com efluentes. Figura 02: representação de um Sistema de Fluxo Vertical típico. 9 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Cooper (1998) descreve um terceiro tipo de sistema, o Combinado ou Híbrido, que consiste na utilização conjunta do SFH e do SFV, porém construídos em células diferentes do mesmo sistema de tratamento. c) Sistema Combinado ou Híbrido: este sistema foi idealizado para corrigir as deficiências da capacidade de transferência de oxigênio ser limitada em SFH e pela pequena capacidade de oxidação da matéria orgânica em SFV. Desta forma um Sistema Híbrido é composto por várias células, onde, normalmente, as primeiras células são de Fluxo Horizontal (SFH) para receber a maior carga orgânica, as células intermediárias são de Fluxo Vertical (SFV) para promover a nitrificação e, as últimas, são novamente células de Fluxo Horizontal (SFH) para realizar a denitrificação. Em relação à capacidade de transferência de oxigênio pelas plantas, os valores existentes na literatura são bastante variados. A Tabela 1 apresenta os resultados de experimentos de alguns autores citados por Platzer, 1996. TABELA 1: taxa de transferência de O2 por plantas aquáticas emergentes Transferência de Oxigênio Referência (g O2/m2d) 4-5 Hofmann, 1992 5-25 Kikuth, 1980 0.02 Brix & Schierup, 1990 4.5-15 Kramer, 1990 4.32 Fonte: Platzer, 1996 2.2. Lawson, 1985 Sistema com Plantas Aquáticas Emergentes (PAE) Os três principais fatores que influenciam o desempenho de um sistema PAE são: a camada suporte, o regime hidrológico e a vegetação. A interação destes três fatores é que, realmente, determina a eficiência de remoção dos contaminantes dos efluentes (COOPER, 1993). 10 11 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE A remoção de nutrientes, matéria orgânica e organismos patogênicos do efluente são, diretamente, influenciados pelos seguintes fatores (WEF, 1993): • Nível de crescimento das plantas; • Densidade das plantas por unidade de área; • Capacidade de transferência de oxigênio para a zona de raízes; • Capacidade de remoção de nutrientes pelas plantas; • Composição do efluente; • Regime hídrico adotado; • Materiais utilizados na construção da camada suporte; • Clima. Os wetlands ou sistemas de tratamento com plantas aquáticas emergentes apresentam algumas vantagens, quando comparados aos sistemas convencionais de tratamento (MATAMOROS et. al, 2008): • Pequena área requisitada, comparada a sistemas naturais de tratamento, como lagoas facultativas; • Facilidade de construção; • Baixo valor do investimento global; • Baixo consumo energético; • Alta eficiência na remoção de poluentes específicos; • Desprezível geração de lodo a ser descartado; • Desprezível geração de odor; • Baixa geração de biomassa em excesso; • Boa tolerância das plantas à salinidade e a variações de pH; • Flexibilidade quanto ao tipo de efluente a ser tratado. Segundo Mannarino (2006) ressalta-se ainda o custo relativamente baixo de implantação de tais sistemas e a pouca demanda técnica para sua operação, bastante adequados às condições da maioria dos municípios brasileiros, de forma geral carentes de recursos e de corpo técnico especializado. Isso não significa que os wetlands podem ser construídos e deixados à sua própria sorte, sem nenhum tipo de cuidado. 12 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 2.2.1. Composição das camadas suporte Segundo Kadlec citado por WEF (1994), a constituição da camada suporte é fundamental para a construção do sistema com plantas emergentes. Sendo que o tipo e a textura das camadas afetam física, química e biologicamente os mecanismos de remoção dos constituintes do efluente. Em Sistema de FSS, comumente, são utilizados seixos, britas, areia e saibro como camada suporte e substrato agrícola como camada de enraizamento (GERBER, 2002). Kadlec citado por Giovannini (1997), as propriedades desejadas dos constituintes da camada suporte são: • Permeabilidade: que permita o livre escoamento do efluente entre os materiais que compõem a camada suporte; • Sustentação das plantas adultas: que permita a sustentação necessária para o desenvolvimento das plantas até a idade adulta; • Favorecimento ao desenvolvimento das raízes: que as raízes das plantas selecionadas possam atingir o grau de tratabilidade proposto pelo projeto; • Neutralidade: que o material selecionado não deve influenciar, negativamente, nas características do efluente utilizado; • Capacidade de filtração: que a distribuição das camadas dos substratos esteja diretamente ligada à capacidade de remoção, principalmente, dos nutrientes do sistema; • Facilidade de aquisição e manejo: que a fácil aquisição dos materiais utilizados seja decisiva para sua aplicabilidade no projeto. Os materiais utilizados devem ser de fácil manejo, não apresentando características nocivas aos operários, na construção e operação do sistema. Os materiais mais utilizados como camadas suportes nos sistemas de tratamento com plantas aquáticas emergentes no Brasil são a brita e a areia. Na Europa são utilizados seixos de rio, pedra vulcânica, brita, areia, húmus, entre outros materiais, que são selecionados, normalmente pela disponibilidade no local, pelo custo de aquisição e pela disponibilidade do uso (GERBER, 2001). Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 2.2.2. Regime Hidrológico Segundo Aracelly e Garcia (2006), um estudo hidrológico compreende a avaliação do fluxo interno de água superficial, precipitação, fluxo interno da água no solo, evapotranspiração, fluxo externo de água superficial e infiltrações. Em relação às respostas da vegetação ao regime hídrico, genericamente é dito que as plantas aquáticas possuem extrema plasticidade, a qual pode ser fisiológica, morfológica e fenológica. O hidroperíodo, desta forma, além de influenciar as possibilidades plásticas e fenotípicas de uma dada espécie, é considerado também como fator selecionador de espécies afetando diretamente a sua distribuição espacial e temporal. Uma exata estimativa de remoção da massa de nutrientes requer considerações importantes por perdas por evapotranspiração que pode causar perdas significativas de água, causando o aumento de concentração dos constituintes do efluente (Allen et al., citado por GIOVANNINI, 1997). O nível d’água é considerado o aspecto mais crítico para a sobrevivência das mudas durante o primeiro ano após o plantio. Espécies emergentes de banhado, nesta perspectiva, devem ser cultivadas em substrato úmido, mas não inundado para crescerem e gerarem brotos com folhas que possam estar acima do nível de inundação. O substrato deve estar somente saturado, não inundado, e conforme as plantas crescerem o nível de água poderia ser elevado proporcionalmente (Allen et al., citado por GIOVANNINI, 1997). A completa submergência dos propágulos plantados pode reduzir o sucesso de Typha sp., introduzida neste sistema. Isto acontece porque o O2 não está disponível para a respiração destas mudas. Já na brotação, os brotos podem se desenvolver e emergir, pois estão recebendo O2 das plantas originais (WEF, 1994). 2.2.3. Vegetação A vegetação de banhados é genericamente denominada de plantas aquáticas ou macrófitas aquáticas, podendo ser agrupada em formas biológicas dadas por categorias de posição relativa ao gradiente físico nível d’água. Baseando-se neste contexto diferenciam-se sete formas biológicas principais: anfíbias, flutuantes fixos, flutuantes livres, submersas fixos, 13 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE submersas livres, epífitas e emergentes ou enraizadas (Figura 03) (IRGANG e GASTAL Jr., 1996). Uma das primeiras menções ao termo plantas aquáticas foi proposta por Weaner e Clements em 1938, que as definiram de maneira muito ampla: como sendo plantas herbáceas que crescem na água, em solos cobertos por água ou em solos saturados com água (IRGANG e GASTAL Jr., 1996). Plantas aquáticas são consideradas os vegetais visíveis a olho nú com partes fotossinteticamente ativas, permanentemente, ou por diversos meses, total ou parcialmente submersas em água doce ou salobra, podendo ainda ser flutuantes (IRGANG e GASTAL Jr., 1996). Dada à heterogeneidade filogenética das plantas aquáticas, estes vegetais são perfeitamente classificados quanto ao seu biótopo. Esta classificação, segundo Irgang e Gastal Jr. (1996) reflete a adaptação dessas plantas ao meio aquático. Abaixo estão relacionados os principais grupos de plantas aquáticas quanto ao seu biótopo: a) Plantas aquáticas emersas ou emergentes: plantas enraizadas no sedimento e com folhas fora d’água. Ex.: Typha, Scirpus, Pontederia, Echinodorus etc. b) Plantas aquáticas com folhas flutuantes: plantas enraizadas no sedimento e com folhas flutuando na superfície d’água. Ex.: Nymphaea, Vitoria e Nymphoides. c) Plantas aquáticas submersas enraizadas: plantas enraizadas no sedimento que crescem totalmente submersas na água. Podem crescer até 11m de profundidade, dependendo da disponibilidade de luz. A maioria tem seus órgãos reprodutivos flutuando na superfície ou aéreos. Ex.: Potamogeton, Myriophyllum, Elodea, Egeria. d) Plantas aquáticas submersas livres: são plantas que tem rizóides pouco desenvolvidos e que permanecem flutuando submergidas na água em locais de pouca turbulência. Geralmente ficam presas aos pecíolos das e talos das plantas aquáticas de folhas flutuantes e nos caules das plantas aquáticas emersas. Durante o período reprodutivo emitem flores emersas (exceção de Ceratophyllum). Ex.: Utriculária e Ceratophyllum. 14 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE e) Plantas aquáticas flutuantes: são aquelas que flutuam na superfície da água. Geralmente seu desenvolvimento máximo se dá em locais protegidos pelo vento. Neste grupo destacam-se: Eichhornia crassipes, Salvinia, Pistia, Lemna e Azolla. Figura 03: Formas Biológicas das plantas aquáticas (Fonte: IRGANG e GASTAL Jr., 1996) A vegetação, denominada de plantas aquáticas emergentes, possui papel determinante na remoção dos constituintes do efluente. A sua principal característica é captar oxigênio da atmosfera, através de suas folhas e hastes, e o transportar para a zona de enraizamento (WEF, 1990). As plantas aquáticas emergentes possuem um tecido de sustentação muito mais resistente do que as flutuantes, resultando numa maior capacidade de remoção e retenção de nutrientes. Durante o inverno, a parte aérea das plantas morre, mas as raízes e os rizomas produzem energia para o novo desenvolvimento na primavera (IRGANG e GASTAL Jr., 1996). Segundo Brasil e Matos (2007), em estudos realizados em sistemas de wetlands para tratamento de esgotos, a Taboa (Typha sp.) apresentou bom desenvolvimento agronômico, possibilitando o início da operação do sistema alagado construído aos quatro meses após o estabelecimento da vegetação. O 15 16 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE sistema radicular destas plantas alcançou a profundidade média de 0,27 m, não superando 0,30 m, o que indicou que esse deve ser a profundidade máxima do meio suporte em sistemas de fluxo sub-superficial. Quanto ao tipo de vegetação, Mulamoottil et al. citado em Mannarino, (2006), destacam a taboa (Typha sp.) como própria para utilização em wetlands por sua estrutura interna ser formada por tecidos que contém espaços abertos, através dos quais acontece transporte de oxigênio da atmosfera para as folhas e daí para as raízes e rizomas. Parte do oxigênio pode ainda sair do sistema radicular para a área em torno da rizosfera criando condições para decomposição aeróbia da matéria orgânica, bem como para crescimento de bactérias nitrificantes. Na Tabela 2 encontram-se as famílias, os gêneros, as espécies, além dos nomes populares de plantas aquáticas emergentes da região sul do Brasil (IRGANG e GASTAL Jr., 1996). TABELA 2: plantas aquáticas emergentes da região Sul do Brasil. Família Nome Científico Sagitária lancifolia Echinodorus grandiflorus Nome Popular Chapéu de couro ASTERACEAE Mikania cordifolia Guaco CANNACEAE Canna glauca Caeté CHENOPODIACEAE Atriplex montevidensis CYPERACEAE Scirpus colifornicus Scirpus giganteus Eleocharis interstincta Cypereus giganteus Junco Tiriricão Tiririca Palha CONMBINACEAE Floscopa glabrata Trapoeiraba EUPHORBIACEAE Sebastiania schottiana Phyllonthus sellowianus Sarandi Vermelho Sarandi Branco POACEAE Zizaniopsis bonorienses Palha TYPHACEAE Typha subulata Typha Domingensis Typha latifolia Taboa ALISMATACEAE Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 2.2.4. 17 Mecanismos de Remoção de Poluentes A remoção dos principais constituintes do efluente é alcançada através de processos físicos, químicos e biológicos. O fósforo é um constituinte fundamental que armazena e transfere energia à planta, e sem a presença desse não ocorre nenhum processo metabólico. Os três principais fatores que contribuem para manter a disponibilidade do fósforo para a planta são: manutenção do pH perto da neutralidade, solo adequadamente arejado e a permanente incorporação da matéria orgânica que permite a humificação, aumentando o tamponamento e possibilitando a ligação do fósforo em compostos de húmus que mantêm formas de fósforo disponíveis para a maioria das plantas. Já a matéria orgânica estabilizada é fonte de energia para os microrganismos, de forma que a bioestrutura granular aumenta a capacidade de armazenar umidade, reter e fixar fósforo e nitrogênio, aumenta a capacidade de troca de cátions (CTC), ajuda a reter potássio, cálcio, magnésio, entre outros nutrientes disponíveis nestes sistemas de tratamento (SOUZA, 2005). Os principais mecanismos de remoção de poluentes encontram-se identificados na Tabela 3. TABELA 3: principais mecanismos de remoção de poluentes Parâmetros Mecanismo de remoção SST Sedimentação/filtração DBO5 Degradação microbiológica (anaeróbia e aeróbia) Sedimentação (acúmulo de material orgânico) Nitrogênio Nitrificação/denitrificação Volatilização da amônia Absorção pelas raízes Fósforo Imobilização (reações de adsorção-precipitação com alumínio, ferro, cálcio e outros minerais do solo) Absorção pelas raízes Patogênicos Sedimentação/filtração Radiação UV Excreção de antibióticos pelas plantas e outras bactérias Fonte: WEF (1994) Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 2.2.5. Eficiência da Remoção A eficiência da remoção está intimamente ligada às características do efluente a ser tratado. A Tabela 4 apresenta o intervalo médio observado em sistemas de tratamento existentes nos Estados Unidos e na Europa. TABELA 4: Eficiência de remoção dos principais parâmetros de monitoramento Parâmetros Remoção (%) DQO 80 – 98 % DBO5 80 – 98 % Sólidos Suspensos Totais 90 – 98 % Nitrogênio Total 60 – 90 % Fósforo Total 60 – 90 % Coliformes Totais 99,9 % Coliformes Fecais 99,9 % Fonte: WEF (1994) Conforme Mannarino (2006) o estudo de wetlands realizados com Taboa, para tratamento do lixiviado no Aterro Sanitário de Piraí, apresentou bons resultados de remoção de matéria orgânica (41% de DQO e 57% de DBO), nitrogênio amoniacal (51%) e sólidos (60%), apesar das significativas variações de vazão afluente e das taxas de aplicação de poluentes no mesmo. Conforme este autor, isso demonstra a resistência do sistema de tratamento (vegetação e microrganismos) às oscilações de quantidade e qualidade do lixiviado produzido, situação comum em aterros sanitários. A remoção da biomassa das plantas aquáticas emergentes uma vez por ano ou em períodos pré-determinados aumenta a eficiência da remoção de nutrientes. Nos meses de inverno, as partes aéreas das plantas morrem, mantendo-se ativas as porções abaixo do substrato, o que faz os vegetais 18 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE permanecerem vivos. A manutenção do sistema, através de podas anuais ou semestrais, bem como limpezas periódicas, aumenta significativamente a remoção de nitrogênio e fósforo, pois evitam que os nutrientes retidos sejam reintroduzidos no efluente. Para que a remoção de nutrientes seja satisfatória, a escolha de plantas diferentes e adaptadas às condições é fundamental (Reddy et al. citado em WEF, 1990). 19 20 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 3. Materiais e Métodos 3.1. Caracterização da Área de Estudo A área em estudo está localizada, pelo Sistema Geodésico SAD-69, entre as coordenadas geográficas Lat. 29o 50599’ e Long. 50o 30634’, na RS 030 do município de Santo Antônio da Patrulha, RS, fazendo parte da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e Região Hidrográfica do Guaíba. A localização da indústria de parboilização de arroz e respectivas áreas da ETE antiga e da área do projeto da nova ETE visualiza-se na Figura 04. A Empresa realiza atividades de engenho de arroz com parboilização e desta atividade resulta efluentes industriais que necessitam de tratamento para alcançarem os padrões de emissões de efluentes estabelecidos pela Resolução CONSEMA no 128/2006, antes do seu lançamento ao meio ambiente. Área do Projeto - ETE Rodovia ETE Antiga Engenho Figura 04: vista aérea da área de estudo (Fonte: http://earth.google.com) Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 3.2. Diagnóstico Inicial - Sistema de Tratamento de Efluentes O sistema de tratamento de efluentes do processo de parboilização de arroz existente, na área de estudo, era muito simples e não atendia aos padrões de emissão estabelecidos pela legislação ambiental brasileira. O antigo sistema constituía-se de grades simples, para reter sólidos grosseiros, de um sistema de lavagem de cinzas, onde ocorria o arraste desse material para o efluente bruto, e três lagoas facultativas de tratamento, assoreadas e apresentando forte odor para a comunidade vizinha (Figuras 05, 06, 07 e 08). Como diagnóstico inicial verificou-se a necessidade de modificação desse sistema, com a adoção das seguintes medidas: • Modificação do sistema de filtragem do efluente; • Implantação de tanques a fim de uniformizar a vazão do efluente bruto e baixar sua temperatura; • Modificação e redimensionamento do sistema de tratamento existente por apresentar-se ineficiente. Figura 05: caixa de filtração do efluente bruto presente no sistema antigo 21 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 06: efluente com arraste de cinza de casca Figura 07: local de saída do efluente do sistema primário Figura 08: Lagoas facultativas existentes no antigo sistema 22 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 3.3. Dimensionamento do Sistema PAE Proposto O sistema de tratamento com plantas aquáticas emergentes foi dimensionado para receber o efluente filtrado constituindo-se num sistema secundário para adequação dos parâmetros em estudo. Os efluentes oriundos do processo de parboilização de arroz passaram por dois tanques de alvenaria impermeabilizados, para que ocorresse uma maior eficiência na retirada de sólidos, que a vazão do efluente de entrada se tornasse mais uniforme e que ocorresse uma diminuição na temperatura do efluente a ser tratado. O efluente filtrado foi encaminhado para um sistema de plantas aquáticas emergentes, dimensionado para adequar e tratar o efluente de acordo com os padrões de emissão permitidos. Para que este sistema entrasse em operação foi dimensionado um projeto técnico e foram construídos sistemas de contenção de sólidos e “banhados” com a finalidade de tratar os contaminantes e adequar o tratamento de efluentes da atividade de parboilização de arroz e cumprir a legislação ambiental. O sistema foi projetado para ser constituído de uma linha de tratamento, dividido em três banhados construídos (PAE 01, PAE 02 e PAE 03). Estes banhados foram dispostos em cascata para aproveitar a declividade do terreno e a gravidade dispensando o uso de bombas para alimentá-los. Para esta estação de tratamento, foram utilizados banhados de fluxo sub-superficial, ou seja, sem lâmina de água, montadas seqüencialmente com um fluxo horizontal. A utilização de sistema de fluxo sub-superficial, ao invés de sistemas com lâmina d’água, deve-se ao fato de se evitar a proliferação de insetos e de geração de odor para moradores circunvizinhos. Os sistemas de alimentação e descarga dos banhados foram projetados para evitar qualquer nível de efluente nos mesmos, mas com a possibilidade de elevação através da regulagem da altura das tubulações de saída de cada banhado. Esta medida facilitou a operação, para que em períodos prédeterminados, para que se possa aumentar ou diminuir a lâmina do efluente nos banhados, a fim de possibilitar uma melhor manutenção do sistema. O 23 24 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE nível do banhado foi controlado pelas tubulações montadas com saídas que possibilitaram a regulagem de altura, junto às caixas de repartição, nos taludes. A alimentação do efluente foi junta à superfície, utilizando-se um distribuidor constituído de pedras calcárias irregulares, similares às pedras de pavimentação. 3.4. Camada Suporte A camada suporte é fundamental para que os sistemas de tratamentos com plantas aquáticas enraizadas sejam eficientes. Ela visa diminuir a mortandade inicial dos propágulos e aumentar os índices de brotação dos propágulos, no sistema de tratamento. Os substratos utilizados para formar as camadas suporte foram selecionados por apresentarem: permeabilidade, sustentação das plantas adultas, favorecimento ao desenvolvimento das raízes, neutralidade, capacidade de filtração e facilidade de aquisição e manejo. Antes da montagem das camadas suporte para a construção dos banhados, a base foi impermeabilizada e limpa, permanecendo isenta de lodo, efluente ou outro material; na seqüência os taludes laterais, também, foram impermeabilizados e compactados. Previamente à colocação dos substratos foi inserido um leito de pedras calcárias, no início e fim de cada banhado, com extensão de 50 cm de largura e 80 cm de altura, permanecendo um espaço livre de 50 cm para entrada e saída do efluente. Os substratos escolhidos, para a composição das camadas suporte, foram distribuídos em camadas, sendo que a final foi bem nivelada, devido à preocupação da inexistência de desnível e, conseqüentemente, formação de lâmina d’água. 3.5. Seleção de Plantas Aquáticas Emergentes Das plantas aquáticas enraizadas, que existem no Rio Grande do Sul, foi efetuada uma seleção de espécies que se adaptassem ao sistema de tratamento e que preenchessem os seguintes critérios de avaliação: Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 1. Ocorrência na região do Projeto: este critério foi estabelecido levandose em consideração a facilidade de coleta das plantas; a adaptação natural às condições climáticas local; a aplicabilidade prática do sistema e a facilidade de reposição dos espécimes. 2. Capacidade de absorção de nutrientes; 3. Resistência às variações climáticas: utilizaram-se espécies que se mostraram resistentes ao clima da região onde foi desenvolvido o estudo; 4. Profundidade das raízes: utilizaram-se espécies com raízes mais profundas e tuberosas; 5. Capacidade de transferência de oxigênio para as raízes: critério muito importante para a criação da zona aeróbia, fundamental para a degradação biológica aeróbia e nitrificação de contaminantes do efluente. 6. Adaptação e facilidade de propagação em camada suporte: analisaram-se sistemas de tratamento já desenvolvidos. 3.6. Coleta dos Propágulos A coleta dos propágulos das espécies selecionadas foi realizada em três saídas de campo (07, 08 e 09 de abril de 2008) no Canal de São Gonçalo distante 320 km do local, onde as mudas foram replantadas. Esta coleta ocorreu de forma simples, sendo os propágulos retirados com torrões para evitar danos às partes subterrâneas dos propágulos. No mesmo local, os rizomas e raízes foram lavados até ficarem limpos. O preparo das mudas se deu pela secção da parte aérea a uma altura de 30-40 cm e dos rizomas a 10-15 cm de comprimento. As raízes das espécies foram deixadas com 5 cm de comprimento, no máximo. Estes procedimentos visaram garantir o enraizamento e reduzir a mortalidade de plantas. Os propágulos permaneceram cortados por um período inferior a 24 horas e protegidos do sol a partir de sua coleta. Finalizando o procedimento de coleta, os propágulos foram transportados, em um caminhão com caçamba aberta, até a estação de tratamento, onde foram utilizados no estudo. 25 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 3.7. Plantio das mudas Sulcos de, aproximadamente, 15 cm de profundidade e de diâmetro (Figura 09) foram escavados para efetuar o plantio das mudas. Esta profundidade se faz necessária para cobrir todas as dimensões dos rizomas. As mudas permaneceram em solo encharcado com uma lâmina d’água de 10cm pelo período de um mês. Figura 09: plantio das muda 3.8. Monitoramento Durante os oito meses, após a posta em marcha do sistema, que foi em outubro de 2008, foi realizado o monitoramento do enraizamento, do desenvolvimento das plantas e da remoção dos poluentes do efluente. O monitoramento das plantas foi realizado com visitas, quinzenais, ao local e foram observados os seguintes critérios: coloração das folhas, crescimento da parte aérea e da zona de raízes, densidade das plantas a partir do plantio do propágulo, resistência das plantas às variações climáticas e ao estresse natural provocado pela mudança de habitat ou pelas características do sistema de tratamento, capacidade de adaptação das espécies aos tipos de 26 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE camadas suportes utilizadas, capacidade de absorção de nutrientes , vazão do efluente e altura da lâmina d’água, além dos parâmetros DBO, DQO, Fósforo Total, Nitrogênio Amoniacal, Nitrogênio Total, pH e sólidos suspensos) . Após o plantio, periodicamente eram retiradas todas as plantas invasoras que se desenvolviam no sistema de tratamento, pois o seu desenvolvimento prejudica o crescimento das plantas aquáticas e, conseqüentemente, suas funções no tratamento do efluente. 27 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 4. Resultados e Discussão 4.1. Plantas Aquáticas Emergentes As plantas utilizadas nesta pesquisa foram plantas aquáticas emergentes de áreas alagadas da região sul do Rio Grande do Sul. As espécies selecionadas foram a Taboa (Typha dominguensis) Pers., a Espadana (Zizaniopsis bonariensis) (Balansa & Poitr.) Speg. e o Junco (Scirpus californicus) (C. A. Meyer) Steud. As espécies utilizadas se mostraram resistentes às condições edafoclimáticas adversas, como baixas e altas temperaturas, remoção de nutrientes e matéria orgânica do efluente e estabelecimento nos substratos artificiais. Os resultados indicaram o estresse no estabelecimento inicial dos propágulos como causa principal de mortalidade, não havendo, posteriormente, durante o desenvolvimento vegetal, tendência de mortalidade. 4.1.1. Taboa (Typha dominguensis) A T. dominguensis, espécie de Taboa utilizada para povoar o primeiro banhado (PAE 1), apresentou um sistema radicular vigoroso (Figura 10). Adaptou-se ao sistema de tratamento proposto, sem rejeição aos constituintes do substrato artificial e apresentou índices de remoção de nutrientes. A taxa de mortalidade inicial foi em torno de 30%, mesmo recebendo o efluente bruto com grande carga orgânica e de nutrientes. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2009, observou-se a morte de espécimes na entrada do banhado 01, devido a altas temperaturas do efluente bruto (40 - 50oC). Nos dois meses seguintes, março e abril, foi necessário um replantio de 150 mudas na área afetada. Não foi necessária a poda da Taboa, pois não se obteve uma grande produção de biomassa. 28 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 10. Taboa (Typha dominguensis) Pers. 4.1.2. Espadana (Zizaniposis bonariensis) A Z. bonariensis, espécie de Espadana utilizada no segundo banhado (PAE 2) (Figura 11), foi das espécies de plantas aquáticas emergentes selecionadas, a que apresentou maior densidade e a que melhor se adaptou ao sistema de tratamento proposto. Verificou-se sistema radicular bastante vigoroso. Não apresentou nenhuma rejeição aos componentes do substrato artificial. Foi muito tolerante às mudanças de temperatura. A taxa de mortalidade inicial foi baixa, em torno de 10% no estabelecimento dos propágulos, não ocorrendo posteriormente. Quanto ao grau de produção de biomassa não foi possível chegar a resultados, pois não ocorreram necessidades de poda e de retirada de biomassa seca. 29 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 11. Espadana (Zizaniopsis bonariensis) (Balansa & Poitr.) Speg. 4.1.3. Junco (Scirpus colifornicus) O S. Californicus, espécie de Junco utilizado no terceiro banhado (PAE 3) (Figura 12) também, apresentou um sistema radicular vigoroso e funcional para o sistema de tratamento proposto. Quanto aos substratos utilizados, o Junco apresentou índices de desenvolvimento satisfatórios, sendo a ausência de lâmina d’água um fator determinante para seu lento crescimento, quando comparados com as outras duas espécies utilizadas, pois em condições naturais esta espécie encontra-se geralmente em locais com lâmina d’água acima de 10cm. A taxa de mortalidade dos propágulos não chegou a preocupar, pois 65% dos espécimes plantados se desenvolveram, um índice considerado bom para uma mudança das condições naturais de desenvolvimento, na qual estavam adaptados. Entre as espécies estudadas foi a que gerou menor quantidade de biomassa verde. O Junco não obteve a mesma taxa de densidade que a Taboa e a Espadana, mas apresentou bons índices de remoção de nutrientes e de outros constituintes do efluente. 30 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 12. Muda de Junco (Scirpus californicus) (C. A. Meyer) Steud 4.2. Local de coleta Quanto à coleta das espécies selecionadas, somente a Taboa foi encontrada na região de localização da área em estudo, em quantidade suficiente para ser utilizada no sistema de tratamento. As outras duas espécies, Espadana e Junco, não foram encontradas nos locais vistoriados na área do projeto, mas como são importantes para a remoção de contaminantes do efluente em estudo, estas plantas aquáticas foram adquiridas na região de Pelotas/RS, junto ao Canal São Gonçalo. A Taboa foi selecionada por ser uma planta resistente, a Espadana e Junco pela remoção de nitrogênio. 4.3. Camada Suporte Os substratos selecionados para a composição da camada suporte foram areia grossa e brita nas três banhados, além da pedra calcária utilizada na entrada e na saída de cada banhado construído. Na Tabela 05 discrimina-se a composição da pedra calcária utilizada. 31 32 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Tabela 05: Composição da Pedra Calcária Elemento Quantidade (%) CaO 35 MgO 14 Fe2O3 2 Al2O3 5 SiO2 19 FONTE: Empresa Dagoberto Barcellos SA Os critérios de escolha dos substratos utilizados estão diretamente ligados aos coeficientes de permeabilidade, tempo de detenção, tamanho dos banhados e pelo tipo de efluente da parboilização de arroz. No banhado 01 a camada suporte foi composta por uma camada inferior com espessura de 15 cm de brita 1 (brita da construção civil com um índice de vazios de 65-70%); uma camada intermediária com espessura de 55 cm e proporção de 50% para cada um dos tipos de brita (brita 0 - pedrisco com índices de vazios de 55-60%; e brita 1) e uma camada superior de 10 cm formada por brita 0 e areia grossa (com índice de vazios de 40% e granulometria compatível com a retenção na malha de 8 mm), também na proporção de 50% para cada tipo de substrato. Já as camadas suporte dos banhados 02 e 03 foram construídas com os estratos inferiores e superiores idênticos aos do banhado 01, mas a camada intermediária foi alterada para a composição de 50% de areia grossa e 50% de brita 1 (Figura 13). BANHADO 01 BANHADOS 02 e 03 BRITA 0 + AREIA GROSSA 10 cm BRITA 0 + BRITA 1 55 cm BRITA 1 15 cm BRITA 0 + AREIA GROSSA BRITA 1 + AREIA GROSSA BRITA 1 10 cm 55 cm 15 cm Figura 13: perfil dos substratos utilizados para composição da camada suporte 33 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE No banhado 01 não foi usada areia grossa na camada intermediária para evitar preenchimento dos espaços vazios e criação de caminhos preferenciais, principalmente pelos sólidos de entrada do efluente bruto. A utilização de areia grossa nos banhados 02 e 03 se deu devida à capacidade de filtração do solo, pois os sólidos mais grosseiros ficaram retidos no banhado 01 e a areia grossa possui maior capacidade de criação de zona de raízes (zona aeróbia para nitrificação) que a brita. Os substratos utilizados para criação das camadas suportes apresentaram boa fixação de contaminantes do efluente, capacidade de filtração e ótimo desenvolvimento das macrófitas aquáticas emergentes utilizadas, criando uma zona de raízes em torno de 20-30cm. Nenhum substrato utilizado acarretou acréscimo de contaminantes no efluente tratado, sendo que apresentou características de neutralidade e de potencial tampão, elevando o pH do efluente bruto para valores em torno de pH 7,0. Todos os substratos utilizados apresentaram boa permeabilidade, ótima capacidade de sustentação das plantas adultas e favorecimento ao desenvolvimento das raízes. Em nenhum momento ocorreu à criação de caminhos preferenciais no sistema e o aumento de lâmina d’água por motivos de entupimentos e ou saturação das camadas suportes. As brita 0 e 1 utilizadas tiveram um importante papel na sustentação das plantas, de drenagem do efluente e de sua distribuição por toda a célula. A areia grossa apresentou resultados favoráveis tanto para o desenvolvimento das plantas como para a alta taxa de retenção e eliminação de nutrientes do efluente. A pedra calcária demonstrou ótima capacidade de distribuição do efluente em todos banhados, principalmente, por sua granulometria. Também seu uso neste estudo está relacionado à precipitação do fósforo em fosfato de cálcio, devendo, neste aspecto, este substrato ser mais bem estudado quanto ao tempo de saturação da capacidade de precipitar este nutriente. Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 4.4. Dimensionamento do Sistema PAE Os efluentes oriundos do processo de parboilização de arroz passaram por um tanque de filtração (Figura 14) e por dois tanques de alvenaria impermeabilizados (equalização e resfriamento) (Figura 15), todos com peneiras, sendo retidos por um período mínimo de 04 horas e máximo de 06 horas visando à ocorrência de uma maior eficiência na retirada de sólidos, diminuição da temperatura do efluente e uniformidade da vazão do efluente de entrada no sistema com plantas aquáticas. Figura 14: efluente sendo filtrado por peneiras Figura 15: tanques de equalização e resfriamento 34 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE O sistema de tratamento com plantas aquáticas emergentes foi dimensionado para receber o efluente da parboilização filtrado após a passagem em sistema de grades, a fim de adequá-lo e tratá-lo de acordo com os padrões de emissão final constituindo-se, portanto, como um sistema secundário de tratamento. Este sistema foi constituído por três banhados (PAE 01, PAE 02 e PAE 03) (Figura 16), para isso foi construído um sistema com plantas aquáticas emergentes. Os banhados e seus taludes (Figura 17) foram devidamente impermeabilizados com argila compactada (Figura 18). Figura 16: construção dos banhados Figura 17: construção dos taludes laterais 35 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 18: impermeabilização com argila Os critérios utilizados para o dimensionamento deste sistema de tratamento foram restritivos e conservadores, onde foram analisados e adotados os valores máximos encontrados. Os banhados foram projetados com dimensões idênticas, para facilitar a montagem e simplificar a operação. As dimensões utilizadas foram: 30 m de largura, 22 m de comprimento e profundidade útil de 0,8 m. Após a construção dos Banhados, os substratos (brita (0 e 1) (Figura 19), areia e areia grossa) (Figura 20) foram depositados um sobre o outro compondo as camadas suporte (Figura 21) e pedra calcária (Figura 22) e, posteriormente, realizou-se o plantio das mudas de Taboa, Espadana e Junco (Figuras 23 a 25). Figura 19: colocação do substrato brita 36 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 20: colocação do substrato areia Figura 21: colocação de brita e areia Figura 22: colocação de pedra calcária 37 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 23: plantio de mudas de Taboa Figura 24: plantio de mudas de Espadana Figura 25: plantio e brotação de mudas de Junco 38 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Os sistemas de alimentação e descarga de cada PAE foram realizados por duas tubulações de 100 mm, eqüidistantes, distribuídas ao longo dos 30 m de largura de cada lagoa. A alimentação foi realizada junto à superfície, utilizando-se um distribuidor constituído de pedras calcárias irregulares (Figura 26). Figura 26: tubulação de entrada do efluente e pedras irregulares para sua distribuição no sistema de tratamento O nível da lagoa foi controlado por tubulações de 100 mm (Figura 27), montadas com saídas que possibilitaram a regulagem de altura, junto às caixas de repartição, montadas nos taludes. Na operação normal dos banhados, as tubulações de saída (Figura 28) apresentaram uma altura de 0,75 m. Figura 27: colocação das tubulações do Efluente 39 40 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 28: saída do efluente do sistema de tratamento 4.5. Densidade de plantas aquáticas no Sistema PAE A distribuição das mudas nos banhados obedeceu a um distanciamento de 0,50 m nas linhas laterais (largura do banhado) e de 1,0 m nas linhas longitudinais (comprimento do banhado, sentido do fluxo do efluente) (Figura 29). 1,0 m Sentido do Efluente 1,0 m 0,5 m 0,5 m Figura 29: distribuição e distanciamento do plantio das mudas nos banhados No Banhado PAE 1 foram utilizadas as mudas de Taboa (Figura 30), no Banhado PAE 2 as de Espadana (Figura 31) e no Banhado PAE 3 as de Junco (Figura 32). Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE O dimensionamento de cada banhado totalizou uma área útil de 660 m2, sendo necessárias 1.320 mudas, de cada espécie, para preenchimento da área de cada banhado. Com este cálculo foram necessárias duas mudas/m2 de banhado, para o povoamento inicial. O total de mudas utilizadas, independente da espécie selecionada foi 3.960 mudas. Figura 30: distribuição e plantio das mudas de Taboa no banhado 1 Figura 31: distribuição e plantio das mudas de Espadana no banhado 2 41 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 32: distribuição e plantio das mudas de Junco no banhado 3 4.6. Monitoramento do efluente O plantio das mudas na Estação de Tratamento de Efluentes foram efetuadas em março de 2008. Visitas técnicas quinzenais foram realizadas para, sistematicamente, avaliar o sistema implantado e realizar a sua manutenção. O monitoramento visual das plantas aquáticas emergentes verificou que, inicialmente, durante os quatro primeiros meses, a brotação e o crescimento das mudas de Taboa e Espadana (banhados 1 e 2) foram biologicamente satisfatórios, enquanto que as de Junco (Banhado 3) foram abaixo do esperado. Esta planta apresentou dificuldades de crescimento, principalmente, pelas baixas temperaturas do outono e pelo seu plantio não ter sido efetivado na primavera. Após a adaptação e estresse inicial dos propágulos, o crescimento vegetativo das mudas de Taboa, Espadana e Junco estava dentro do esperado. Porém houve necessidade de reposição de espécimes de Taboa, no banhado 1 (Figura 33) devido à ocorrência de mortandade. Esta situação ocorreu em decorrência da alta temperatura de entrada do efluente. Para solução deste problema e evitar futuras intercorrências foi construída nova caixa de retenção de efluente. 42 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 33: mortandade de espécimes de Taboa O aparecimento de plantas invasoras herbáceas (Figura 34) e de plantas conhecidas como sagitárias (Figura 35) junto aos taludes e na parte interna dos banhados, principalmente do PAE 3, foi registrado em todo o período de desenvolvimento do trabalho, sendo necessária a sua remoção e a colocação de brita. Porém, a presença dessas plantas demonstrou que não existe toxicidade no efluente, devido o seu estabelecimento e proliferação no sistema PAE. Figura 34: presença de plantas invasoras nos banhados PAE 43 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 35: presença de plantas sagitárias A presença de pássaros junto aos taludes dos banhados (Figura 36) e junto às plantas aquáticas emergentes (Figura 37) indicou que o sistema proposto tornou-se um ambiente que reproduz o habitat necessário para a manutenção de várias espécies de animais, mantendo uma cadeia alimentar adequada ao local (Figura 38). Figura 36: presença de pássaros junto aos taludes dos banhados 44 45 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 37: presença de pássaros junto à vegetação As espécies de pássaros, que usam o sistema de tratamento estudado como seu habitat natural foram: Pardal (Passer domesticus); Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus); Sabiá (Turdus rufiventris); João-de-barro (Furnarius rufus); Quero-quero (Vanellus chilensis); Galinhola (Gallinula chloropus); Pássaro-preto (Gnorimopsar chopi); Anu (Crotophaga sp.); Maçarico (Tringa sp.); Marreca-Pele-vermelha (Dendrocygna sp.); Pomba-rola (Zenaida auriculata); Cardeal (Paroaria coronata); Canário-da-terra (Sicalis flaveola brasiliensis); Coleirinho-do-brejo (Sporophila collaris). Figura 38: presença de pássaros junto a ETE Mesmo com as baixas temperaturas do inverno, as plantas aquáticas emergentes (Figuras 39 a 41) utilizadas no sistema de tratamento se Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE desenvolveram bem e não criaram biomassa em excesso, não necessitando de poda mesmo após 15 meses de plantio (Figura 42). Figura 39: Taboa após 15 meses de plantio Figura 40: Espadana após 15 meses de plantio Figura 41: Junco após 15 meses de plantio 46 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 42: vista do sistema de tratamento em julho de 2009 O sistema PAE teve sua operação colocada em funcionamento em 10 de outubro de 2008. Durante o monitoramento verificou-se, a necessidade de instalação de peneiras no tanque do efluente bruto e junto ao segundo tanque de recebimento do efluente da parboilização de arroz, para diminuir, ao máximo, a entrada de sólidos no sistema, principalmente casca e película de arroz, sendo necessária uma otimização do sistema de filtragem junto aos tanques. A canalização que liga os efluentes até os banhados do Sistema PAE, foi adequadamente instalada e o isolada. Foi verificada uma pequena lâmina de efluente, no banhado 1, e, para solucionar este problema, adequou-se as camadas de pedras irregulares. Para evitar futuros problemas, os canos de saída dos banhados foram corretamente nivelados e o sistema de filtração de sólidos funcionou plenamente (Figura 43). 47 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 43: sistema de filtração de sólidos nos banhados Verificou-se a existência de borra junto às entradas e saídas dos banhados (PAE 2 e PAE 3), principalmente limo acumulado e, na seqüência, efetuou-se sua retirada, devido a possibilidade de entupimento nas canalizações (Figura 44). Figura 44: borra e limo acumulados Quanto ao efluente tratado, foi possível verificar que, em direção ao fluxo de tratamento, o efluente se mostrou cada vez mais límpido e sem sólidos. Na Figura 45 visualiza-se, da esquerda para a direita, respectivamente, o efluente bruto, o efluente de saída do PAE 1, PAE 2 e PAE 3. 48 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 45: da esquerda para a direita efluente bruto, efluente tratado PAE 1, PAE 2 e PAE3 O efluente final, de saída do sistema, apresentou-se sem odor e bastante límpido e sem alteração de cor no corpo receptor. Durante o período de monitoramento observou-se um muçum no bueiro (Figura 46), junto à saída do efluente, o aparecimento de peixes e girinos, na água, demonstrou boa oxigenação e presença de nutrientes. Figura 46: muçum (peixe), junto à saída do efluente Na Tabela 06 encontram-se os valores médios do efluente bruto, os valores do efluente tratado de outubro de 2008 a junho de 2009 e os valores, padrão de emissão da ETE, estabelecidos na resolução CONSEMA no 49 50 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 128/2006 e na Licença de Operação (LO) da empresa responsável pela atividade agroindustrial de parboilização de arroz. TABELA 06: valores dos parâmetros utilizados no Monitoramento do Efluente Análises (mg/L) Efluente Tratado Efluente Bruto DBO DQO Cálcio P Total N2 Amoniacal N2 Total pH S Suspensos 997,5 1.234,2 47,6 48,8 37,5 124,1 4,4 288 10 130 330 ND 0,7 2,3 9,9 7,0 32 2008 11 12 115 30 280 226,4 ND ND 0,9 0,6 6,5 2,8 15,9 7,2 7,2 7,0 45 80 01 50 246,4 ND 0,8 4,9 12,4 7,5 75 02 55 272,6 ND 0,9 8,7 17,5 7,4 62 2009 03 04 24 44 110 151,2 22,2 25,4 8,7 1,8 12,7 13,7 17,9 25,9 7,3 7,5 10 8 Padrão LO 05 4,8 70 13,5 3,4 12,2 16,9 7,4 6 06 56 249,6 20,8 3,5 15,6 25,4 7,0 54 Na Figura 47 visualizam-se os percentuais de remoção (%) dos parâmetros monitorados do efluente tratado (DBO, DQO, Fósforo, Nitrogênio Amoniacal e Nitrogênio Total). Os resultados indicaram percentuais de remoção acima de 58%, apresentando uma média de 83 % no sistema PAE. 100 Procentagem de Remoção (%) dos Parâmetros 95 DBO (mgO2/L) 90 DQO (mgO2/L) 85 80 Fósforo (mg P/L) 75 Nitrogênio Amoniacal (mg N/L) 70 Nitrogênio Total (mg N/L) 65 Sólidos Suspensos (mg/L) 60 55 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 Figura 47: percentuais de remoção dos contaminantes (%) Os resultados expressos na Figuras 48, 49 e 50 evidenciaram que os parâmetros DBO, DQO e Sólidos Suspensos, respectivamente, apresentaram- 150 360 4 20 20 6a9 155 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE se dentro dos padrões estabelecidos pela Resolução CONSEMA no 128/2006 em todas as amostragens. A construção de um sistema para retenção de sólidos do efluente, antes do tratamento com PAE, foi fundamental para que não ocorresse contaminação de casca e cinzas de arroz no sistema projetado, evitando assim entupimentos e criação de caminhos preferências nas camadas suporte. A retirada destes sólidos também possibilitou uma diminuição da matéria orgânica a ser tratada no sistema em estudo. No sistema PAE a matéria orgânica foi decomposta por microorganismos anaeróbios facultativos e aeróbios, sendo o carbono orgânico usado como fonte de energia pelas bactérias, sendo este convertido em biomassa bacterial, dióxido de carbono e/ou metano. O oxigênio na zona de raízes das plantas aquáticas, zona aeróbia, oxidou os sulfetos tóxicos, reduziu o ferro e o manganês, e foi importante na oxidação aeróbia dos compostos orgânicos solúveis. Na zona anaeróbia da camada suporte, a comunidade microbiana facultativa tornou a respiração anaeróbia e usou o nitrato como receptor de elétrons durante a oxidação da matéria orgânica. Quando este não está presente, compostos inorgânicos e férricos desempenham esta função. O bom desenvolvimento e crescimento das plantas aquáticas emergentes utilizadas estão diretamente relacionados com os índices de remoção destes constituintes, pois a matéria orgânica disponível é utilizada no crescimento da biomassa vegetal. Quanto à filtragem de sólidos e, conseqüentemente, diminuição de matéria orgânica relacionada, as camadas suporte utilizadas demonstraram alta eficiência. Em nenhum momento ocorreu saturação dos substratos escolhidos para compor o sistema de tratamento. 51 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 48: DBO no efluente bruto e no tratado Figura 49: DQO no efluente bruto e no tratado 52 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Figura 50: sólidos suspensos no efluente bruto e no tratado Os resultados indicados na Figura 51 mostram que na análise realizada em março de 2009, o Fósforo Total (8 mg/L) ultrapassou o padrão estabelecido pela legislação ambiental (4 mg/L). Este fato pode estar relacionado ao período de safra de arroz, isto é, devido à mudança de matéria-prima e/ou aumento da vazão do efluente bruto resultando numa baixa da eficiência do sistema em relação à remoção de fósforo, mas no mês seguinte o padrão de emissão foi restabelecido. Figura 51: Fósforo Total no efluente bruto e no tratado 53 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE Os principais mecanismos de remoção de fósforo nestes sistemas de tratamento são a imobilização nas camadas suportes (reações de adsorção, complexação e precipitação com ferro, alumínio e cálcio) e absorção pelas raízes das plantas. As formas oxidadas de metais precipitam o fósforo na forma de óxidos e hidróxidos e assim permanecem imobilizados na zona oxidada pelo tempo em que esta permaneça oxidada. A remoção de fósforo ainda pode ser obtida pela remoção das macrófitas, imobilização microbiana, retenção pelas camadas suportes e precipitação na coluna d’água. Diferente do nitrogênio e do carbono, o fósforo não pode ser perdido nestes sistemas de tratamento por processos metabólicos, ou seja, não há perdas pela forma gasosa, tendo a se acumular no sistema. O fósforo armazenado nos detritos das plantas é rapidamente transferido para a coluna d’água durante a decomposição. De qualquer forma, o fósforo que não é retirado com a biomassa vegetal e que não se encontra na coluna de água, fica retido na camada suporte por um longo período de tempo. Essas formas de fósforo são relativamente resistentes ao ataque microbiano. O uso da pedra calcária mostrou uma boa eficiência na precipitação do fósforo do efluente em fosfato de cálcio - Ca3(PO4)2 - sendo esta uma transformação dominante em valores de pH maiores que 7,0, como é o caso do efluente em estudo (Tabela 07). Este fato pode possibilitar a redução e até eliminação da dosagem de cal em sistemas de tratamento de efluentes, que atualmente é utilizado para precipitação do fósforo. O uso deste substrato para tal fim deve ser mais estudado quanto ao tempo de saturação da capacidade de precipitação deste nutriente. TABELA 07: concentrações de Cálcio no efluente tratado e bruto Análise Cálcio (mg/L) Efluente Efluente Tratado Bruto 03/09 04/09 05/09 06/09 47,61 22,22 25,39 13,49 20,84 Os resultados do Nitrogênio Amoniacal, visualizado na Figura 52, estão dentro dos padrões estabelecidos pela Resolução CONSEMA nº 128/2006, enquanto que o Nitrogênio Total (Figura 53), nas análises realizadas em abril e 54 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE em junho de 2009, ultrapassou o padrão de 20 mg/L. Este fato, também, pode estar relacionado com o período de safra de arroz, alteração na matéria-prima e/ou aumento da vazão do efluente bruto baixando a eficiência do sistema quanto à remoção de Nitrogênio Total. Figura 52: Nitrogênio Amoniacal no efluente bruto e no tratado Figura 53: Nitrogênio Total no efluente bruto e no tratado Nestes sistemas, podem ser observadas três zonas distintas nas camadas suporte às plantas. Na rizosfera, ao redor das raízes e dos rizomas 55 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE das plantas, é formada uma zona aeróbia. Nesta zona, existe uma intensa vida microbiológica, favorecida pela capacidade de transporte do oxigênio atmosférico pelas plantas emergentes, por suas folhas, caules e hastes, até a zona de raízes. É nesta zona que ocorre a oxidação do nitrogênio amoniacal a nitrito e a nitrato pelas bactérias autotróficas e a volatilização da amônia. Na zona anóxica, ocorre a transformação do nitrato em nitrito e este a nitrogênio gasoso, pelas bactérias heterotróficas e a oxidação da matéria orgânica, utilizando o nitrato como receptor de elétrons. Na zona anaeróbia, os índices de remoção de carga orgânica são alcançados devido à alta capacidade de decomposição das bactérias anaeróbias. Os processos de remoção de Nitrogênio podem ser resumidos em nitrificação, denitrificação, volatilização da amônia e absorção pelas plantas. Na nitrificação, que envolve a oxidação biológica de amônia a nitrato, as bactérias envolvidas são quimiotróficas e usam o oxigênio como seu receptor eletrônico, enquanto que a amônia é utilizada como seu substrato. A nitrificação em um sistema de plantas aquáticas enraizadas ocorre na coluna d’água e na rizosfera. Na falta de O2, microorganismos facultativos anaeróbios usam nitrato como receptor de elétrons durante a respiração. Durante o processo de denitrificação, o nitrogênio é reduzido a produtos gasosos, como óxido nitroso e gás nitrogênio. A denitrificação pode ocorrer potencialmente na camada suporte, na coluna de água isenta de O2 e no lado anóxico da rizosfera. A rizosfera aeróbia favorece a nitrificação, enquanto que a zona anaeróbia favorece a denitrificação. Este mecanismo explica a perda de nitrogênio nestes sistemas, além da capacidade das plantas de utilizar o nitrogênio presente no efluente. A utilização do nitrogênio pelas plantas depende dos níveis de crescimento vegetal, densidade dos vegetais e parâmetros ambientais, como radiação solar e temperatura. 56 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 5. Conclusões O sistema de tratamento proposto neste estudo foi eficiente na remoção de poluentes mesmo com variações nas condições de alimentação podendo ser utilizado para o tratamento de efluente do arroz parboilizado. O plantio dos propágulos no início do outono, mesmo não sendo o período ideal, foi viável com um estabelecimento satisfatório das plantas. Das espécies selecionadas, as que melhor se adaptaram ao PAE foram a Taboa (T. dominguensis) e a Espadada (Z. Bonariensis), sendo que o Junco (S. Californicus) apresentou crescimento lento em decorrência da ausência de lâmina d’água no sistema. As três espécies de plantas utilizadas se mostraram resistentes às condições edafo-climáticas adversas, como baixas e altas temperaturas, remoção de nutrientes e matéria orgânica do efluente. Conseguiram, também, tolerar o estresse inicial pelo qual os propágulos passaram para se adaptarem aos substratos artificiais, sobrevivendo e evitando a mortalidade que pode acontecer no início da brotação. Todos os substratos tiveram o mesmo grau de importância para a composição da camada suporte visando o desenvolvimento das plantas e remoção dos contaminantes do efluente. Nas análises realizadas, os parâmetros DBO, DQO, Sólidos Suspensos e Nitrogênio Amoniacal, estavam dentro dos padrões de emissão estabelecidos pela Resolução CONSEMA no 128/2006, diminuindo suas concentrações de entrada ao longo da direção do fluxo do sistema de tratamento. Somente as análises de Fósforo Total, em março de 2009, e de Nitrogênio Total em abril e junho de 2009, não atingiram os padrões de emissão estabelecidos pela legislação ambiental. Os índices de remoção, apesar de terem sido inferiores e apresentado variabilidade aos já conhecidos e citados na literatura, foram acima de 58%. O percentual médio de remoção foi de 83%, sendo considerado satisfatório, em virtude das características do efluente utilizado no estudo. 57 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE A remoção de Fósforo está diretamente relacionada à utilização de pedra calcária. O sistema de tratamento de efluente com plantas aquáticas emergentes possibilitou a coexistência de espécies de pássaros, tornando-se um habitat natural para estas espécies animais. 58 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 6. Trabalhos Futuros Estudar a capacidade de transferência de oxigênio de plantas aquáticas emergentes e sua relação com a nitrificação do Nitrogênio do efluente. Aprofundar as pesquisas do potencial de pedras calcárias na remoção do fósforo total em sistemas com plantas aquáticas emergentes. Estudar a capacidade de oxi-redução e do potencial Redox nos solos de sistemas com plantas aquáticas emergentes. Verificar novos tipos de substratos e de plantas aquáticas capazes de remover constituintes de efluentes industriais em sistemas com plantas aquáticas emergentes. 59 Sistema de Tratamento de Efluentes com PAE 7. Referências AMATO, G.; SILVEIRA FILHO, S. Parboilização do Arroz no Brasil. CIENTEC. Porto Alegre, 1991. ARACELLY C., GARCÍA J. Performance of experimental horizontal subsurface flow constructed wetlands fed with dissolved or particulate organic matter, pag. 3603, IWA, USA, 2006. BRASIL, M. S.; MATOS, A. T. Plantio e desempenho fenológico da taboa (Thypha sp.) utilizada no tratamento de esgoto doméstico em sistema alagado construído. Eng. Sanit. Ambient., Set 2007, vol.12, no.3, p.266-272. 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