DO ADVENTO DA INTERNET À CATALAXIA DO CIBERESPAÇO

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DO ADVENTO DA INTERNET À CATALAXIA DO CIBERESPAÇO
DO ADVENTO DA INTERNET À CATALAXIA DO
CIBERESPAÇO:
como a técnicas digitais aproximam negócios, consumo e pessoas
Tatiana Cioni Couto
Universidade Federal Fluminense – Mestranda em Mídia e Cotidiano (PPGMC)
Resumo: O presente artigo tem como objetivo abordar o comércio virtual e suas
extensões nas práticas cotidianas do sujeito cartesiano em rede (BAUMAN, 2008). Para
tal estudo, irá ser feito um retrato da evolução da Internet (CASTELLS, 1999) até a
formação da catalaxia (SODRÉ, 2002), nesse espaço onde o ordenamento
mercadológico cria diversas maneiras de promover o consumo, aproveitando-se do
potencial de colaboração dos usuários na Web 2.0 (ANTOUN, 2008) para aproximar
negócios e pessoas. Para tanto será feita uma análise netnográfica de modelos de
comércio on-line diversos.
Palavras-chaves: comércio virtual; colaboração dos usuários; conversa em rede;
consumo.
INTRODUÇÃO
A Internet foi criada por norte-americanos como um método de comunicação de
computadores em rede para impedir espionagem durante a guerra fria. O modelo
chamado de Arpanet (Agência de Pesquisas em Projetos Avançados) foi inaugurado na
década de 60 e evoluiu para a transformação de uma rede das redes, após a criação dos
fóruns eletrônicos do estilo BBS (bulletin board systems), onde milhares de
computadores foram conectados (CASTELLS, 1999, p.87).
A ligação de computadores em rede na década de 90 permitiu a conexão de
pessoas e empresas (CASTELLS,1999, p.233). Em 1999, nascem as empresas com
transações econômicas on-line, tais como Amazon.Com, E-toys, Dell-Direct World ou
The Street.com, onde somente a empresa Amazon alcançou o valor de 25 bilhões de
dólares em ações (IDEM, IBIDEM, p. 192-199). A internet torna-se uma esfera de
negócios: a catalaxia. Neste modelo, as técnicas digitais introduzem a interação em
tempo real e auxiliam por meio de dispositivos a circulação mais rápida do capital
(SODRÉ, 2002, p.22-27).
Há a construção das empresas virtuais um leque de opções, como: links
patrocinados; leilões virtuais; sistemas de agendamento de serviços on-line; sites para
comparar preços e serviços ou para comprar ou se desfazer de mercadorias; compras
coletivas, shoppings eletrônicos e até um site para fazer uma “vaquinha on-line”. Este
cenário reforça a análise de Bauman (2008, p.19) na formação de um sujeito cartesiano
que pode comparar e examinar as mercadorias e aprender a lidar com elas, seja para
usá-las ou descartá-las. O autor vai lembrar-se da gama de produtos prontos para serem
examinados na Web durante 24 horas por dia, em lojas que não tem hora para fechar.
O Brasil também adota o modelo prático do comércio eletrônico com igual
sucesso dos americanos: 84% dos usuários brasileiros de internet já compraram on-line,
seja a partir do computador ou de celulares, de acordo com a pesquisa do IAB Brasil
(Interactive Adversing Bureau) de 2013: Os números mostram como os negócios
virtuais se diversificam para atingir o maior número possível de internautas.
Coletando dados e conquistando clientes
Nesta perspectiva, para o comércio eletrônico funcionar de modo eficiente, é
necessário criar um banco de dados que consiga armazenar dados essenciais do
consumidor. Com uma ficha cadastral, as lojas virtuais podem ter informações como
nome e endereço completos e manter o histórico das compras do usuário. Deste modo, o
sistema pode reconhecer o visitante e oferecer novas ofertas e produtos dentro daqueles
hábitos mais comuns, atraindo o comprador como um “imã eletrônico”, conforme
ressalta Moraes (2001, p.42-43):
Pra surfar pelos links especiais, o visitante tem que se cadastrar fornecendo,
opcionalmente, informações sobre nível de escolaridade, poder aquisitivo,
hábitos de consumo, preferências culturais etc. Trata-se de um procedimento
comum estas firmas de serviços que operam na Net. As empresas passam a
dispor de autênticos catálogos virtuais, de extrema valia para análises
estratégicas e malas diretas. Nenhum grão mercadológico pode ser
desprezado – muito menos uma “mais valia” tecnológica como essa.
Dentro da busca convencional, surgem os links patrocinados: empresas que
pagam para estar entre as primeiras respostas de procura e que também ganham
destaque na aba direita do Google, o “oráculo digital” do momento (GABRIEL, 2008,
p.19). Para funcionar plenamente, devem ser organizados por palavras-chaves
relacionadas com as palavras procuradas pelos internautas, oferecendo uma solução
mais rápida para encontrar o que se deseja. Mas se nenhum usuário clicar, então terá
sido uma ação sem efeito:
Por outro lado, links patrocinados não são apenas para criar tráfego para o
site e sim para criar tráfego para a mensagem estratégica correta. Assim,
páginas que não apresentam o conteúdo adequado ao usuário ou que não são
visualmente atrativas para atender os objetivos de marketing, não causam a
conversão desejada (GABRIEL, 2008, p.39-40).
Fora do sistema de busca, existem os inúmeros comércios virtuais, entre eles os
leilões virtuais, que estabelecem preços on-line em verdadeiras “disputas” pelas
mercadorias. No ambiente, uma pessoa cadastrada pode vender ou comprar mercadorias
estabelecendo o preço. No sistema, é necessário um cadastro do usuário para poder dar
os lances. Inicialmente é estabelecido um preço geralmente muito abaixo do praticado
pelo mercado e é fornecido um tempo de duração dos lances, assim quem der o último
lance, pode ser o “vencedor” da disputa. Geralmente cada usuário tem o direito de cinco
lances gratuitos, mas se quiser mais, deve pagar a empresa que realiza o leilão, de modo
que o consumo nestes tipos de site é constante e a cada clique. A possibilidade de pagar
menos por um produto atrai muitos consumidores, como lembra Fiore (2001, p.154):
“Um dos métodos mais bem-sucedidos e mais imitados de determinação dinâmica de
preço na rede atualmente são os leilões on-line. Estes estão se tornando cada vez mais
populares”.
Como “poupar” é o lema do internauta, a estratégia é feita de modo que o preço
final nunca atinja o preço normal do produto, com o estilo: “dou-lhe uma, dou-lhe
duas”, o mercado, agora mais dinâmico, desafia o preço fixado pelo vendedor, à medida
que os clientes podem escolher o quanto estão dispostos a pagar e pelo quê
(TAPSCOTT; TICOLL; LOWY, 2001, p.197). Um dos exemplos de leilão on-line é o
www.mukirana.com, do qual se percebe pelo nome a intenção da empresa com o
trocadilho feito no nome do site: a pessoa é muquirana, quando gosta de economizar.
No site, a oferta tem um cronômetro que informa a data e horário do inicio dos lances.
Quando começa a disputa pelo produto, o relógio começa a rodar, mostrando ao
participante o momento final que se aproxima a finalização do leilão. Para a pessoa
levar o produto, deve ser a última a oferecer o lance.
Outros comércios on-line utilizam largamente da interatividade e participação do
cliente. Assim empresas procuram trazer o modelo Web 2.0 para agregar seus negócios
meios para as pessoas expressarem suas opiniões: “Na nova Web, a publicidade
encontraria a nova voz dos grupos da cultura de mídia que transformariam a publicidade
em uma honesta recomendação crítica dos usuários” (ANTOUN, 2008, p.19). Neste
modelo encontram-se os sites de agendamento de serviços de lazer, como de viagem e
reservas de hotéis, onde o usuário não é mais um internauta e sim um consumidor que
pode participar pelos comentários e colaborar com a construção de um ranking das
melhores empresas.
Um dos exemplos deste tipo de serviços é o www.edestinos.com.br, que faz uma
busca por hotéis de todo o mundo e mostra as melhores ofertas. Cada hotel é avaliado
pelo próprio usuário, que diz quantas estrelas o serviço mereceu, além disto, podem ser
feitas avaliações de todo o ambiente, localização, serviços e atendimentos do local. A
pontuação final do hotel é indicada em um índice de popularidade. Após ler os
comentários, ver as fotos dos quartos e do ambiente do hotel, a pessoa decide se fecha o
pacote ou não. Sentindo-se mais confortável, o usuário do sistema fecha negócio. Logo
após a viagem, o usuário recebe um e-mail pedindo a participação e destacando como é
importante a visão do mesmo para outras pessoas do sistema. Deste modo, os
comentários não são obrigatórios, mas tem boa adesão pelos frequentadores do site. A
informação adquire consequentemente um fator decisório ao agendar um serviço:
transforma-se em moeda o adquirir valor de uso, conforme avalia Moraes (1997, p.14):
A informação tornou-se fonte alimentadora das engrenagens indispensáveis à
hegemonia do capital, isto é, o lubrificante dos ciclos de troca e de lucro,
nesse sentido a mercadoria mais importante. A mais-valia econômica (obtida
pela exploração da força do trabalho) e as hierarquias políticas hibridam-se
numa espécie de mais valia decisória, que se consolida como informação e se
transforma em recurso básico da gestão e produção.
Outro site que também usa da participação dos usuários é a Amazon. O cadastro
no sistema adota um meio “inteligente” para ajudar o leitor ávido por novidades: é
possível preencher um cadastro com os assuntos do interesse particular e deste modo o
sistema também avisa quando chega uma mercadoria nova dentro da especificação. Há
também uma filtragem colaborativa que recomenda livros, música e vídeos com base
nas compras efetuadas. Tais sites são vistos como comunidades já que agregam
colaborações de usuários, com comentários e discussões que criam um valor
determinado (TAPSCOTT; TICOLL; LOWY, 2001, p.93).
Tudo é estipulado no mercado on-line, desde preços até o processo final da
compra. Os sites de comparação de preços e serviços, como o www.e-bit.com.br e
www.buscapé.com.br que utilizam do mecanismo, viraram os “buscadores de
mercadoria”: Basta digitar o nome do produto ou serviço na busca e em um clique abre
uma página com preços, detalhes do produto, avaliações dos consumidores com
comentários e o ranking feito pelo total de avaliações, listando prós e contras e fotos e
vídeo, deste modo o sistema acaba virando um “infomediário”, um tipo de intermediário
de negociações, que deve criar valor digital de informação através de cruzamento de
dados, como explica FIORE (2001, p.34):
Seu trabalho é tirar informações de compradores, suas necessidades,
preferências, critérios e perfis, bem como informações sobre vendedores
como estoques, produtos, serviços, termos e condições, e fornecer novos
serviços agregados para os compradores e vendedores. Os infomediários
manipulam informações para extrair o valor delas ao revendê-las, reutilizálas, ‘reembalá-las’ ou doá-las.
No sistema do e-bit existem "medalhas": diamante, ouro, prata e bronze,
dividindo as lojas em reputação respectivamente com as avaliações: Excelente, ótima,
muito boa, boa e loja nova. Além disto, o sistema avisa quem comprou o que e aonde
com mapa integrado do Google Maps. Quanto maior a notabilidade dos serviços,
melhor será a medalha.
No buscapé, cada busca de mercadoria leva a uma série de lojas on-line que
vendem o produto. Neste site, há avaliação dos usuários em relação ao serviço de
entrega de cada empresa, chegando a uma avaliação final que é feita em conjunto com o
sistema do e-bit. Além disto, é possível consultar as opiniões dos compradores e
também determinar se gostou ou não da determinada avaliação feita.
Sites como www.mercadolivre.com.br usam o slogan “Onde comprar e vender
de tudo”. No local, a pessoa pode adquirir uma mercadoria ou se descartar dela, o que
permite diminuir a sensação do erro ao enterrar o “velho” e trazer o “novo” (HAUG,
1997, p.52). No ambiente, o vendedor também é avaliado por reputação e o próprio
sistema promete a compra protegida 100%. Para o produto se tornar objeto de
necessidade de outra pessoa, será no processo valorizado pela foto e descrição das
funcionalidades do mesmo.
Já nos sites de compras coletivas, um “leque” de opções se abre para a compra
do novo e até do não planejado, mas adquirido em um impulso pelas “propostas
tentadoras” de se ter determinado produto ou serviço por um preço abaixo do mercado:
São vários produtos expostos em promoção. Os sites também ajudam o mecanismo da
profusão de mercadorias: são muitos produtos e serviços expostos na página inicial,
onde se pode realizar mais de um fechamento de negócio. Nesta perspectiva, o desconto
traz consigo visões de uma “economia” e atrativo. Prova disto, é que sites do gênero já
têm 3,6 milhões de visitas por mês, segundo dados do IBOPE (2010). O sistema
também multiplica as ofertas por meio de integração com as redes sociais para
possibilitar que os usuários possam conversar e especialmente compartilhar a
“barganha”.
Outro atrativo dos sites de compra coletiva é poder “navegar” nas seções de
compras: beleza, entretenimento, viagens e outras categorias que organizam os tipos de
consumo mais comuns nas ofertas diárias. A mesma pessoa pode participar de tudo que
está exposto.
Deste modo, o sistema de compras coletivas permitem juntar um, dois, três
cupons de desconto para adquirir mercadorias, estimulando o ter pelo ter, em um
processo de acumulação de coisas, estimulado pela criação de mercados secundários da
internet, como atenta Lindstrom (2009, p.95).
Um exemplo do site de compras coletivas é o www.peixeurbano.com.br , que
atua em todo o Brasil com ofertas divididas por cidade. No sistema é possível ver a
“economia” gerada na compra, quantas pessoas já adquiriram a promoção, o tempo
restante para dar um lance e o regulamento do estabelecimento envolvido, de modo que
o consumo seja facilitado. Cada oferta tem um tempo de compra,onde um relógio
automaticamente vai diminuindo os minutos restantes para obter o desconto. Além
disto, o produto ou serviço exposto tem o preço (promoção) em destaque, o número de
cupons que podem ser adquiridos e o local da oferta. Na mesma página, é escolhido um
item em destaque, mas existem outros descontos diversos com fotos.
No sistema se inclui o Facebook (com a opção do botão curtir) e o envio da
oferta para e-mail dos amigos, assim as facilidades criadas pela rede das redes são feitas
para “pensar” como aumentar a lucratividade das empresas através de oferta dos bens,
mudando a concepção do mercado de simples troca de mercadoria. No ambiente online, publicações, comentários, curtidas e compartilhamentos são critérios de seleção do
consumidor, como pontua Canclini (2006, p.35):
quando selecionamos os bens e nos apropriamos deles, definimos o
que consideramos publicamente valioso, bem como os modos de nos
integramos e nos distinguirmos da sociedade, de combinarmos o
pragmático e aprazível.
As livrarias optam também por estas facilidades ao criar um verdadeiro catálogo
on-line dividido por autor, título, obra e assuntos. Nos sites são oferecidas obras
brasileiras, publicações estrangeiras; lançamentos, e-books e buscas refinadas que
permitem procurar seção, categorias e segmentos. Nelas, não é necessário o estoque
imediato do produto: é possível reservar o livro para uma posterior procura. Há um
vasto acervo de livros dentro de uma única livraria virtual, cujas opções muitas vezes
são muito maiores que aquelas disponíveis nos locais físicos.
Em alguns sites é possível também ver os comentários dos compradores sobre a
obra e avaliação em estrelas das publicações ou mesmo do serviço de entrega. Como na
hora da compra é feito um cadastro, a cada momento que for efetuado um negócio, o
sistema das livrarias virtuais guarda aqueles dados que são usados de diversos modos
para gerar novas compras: seja mandando e-mail com mercadorias do gênero ou
gerando uma página inicial da livraria “inteligente”: Ao clicar naquele endereço onde já
foi efetuada uma compra em determinado gênero de assunto, o sistema responde com
uma primeira página com chamadas para produtos dentro dos gêneros adquiridos
recentemente. Deste modo, as informações coletadas no momento da compra são usadas
para dar a sensação que está ajudando o consumidor, mas que de fato estão sendo
usadas para gerar um novo consumo, atenta Fiore (2001, p.46-47):
Qualquer compra de um produto começa com a percepção de que um
consumidor tem uma necessidade. Isso dá a primeira oportunidade de
construir um relacionamento com um cliente em potencial, antecipando ou
estimulando uma necessidade do consumidor. Ao ajudar um consumidor a
preencher uma necessidade de produto ou serviço, uma empresa pode coletar
– voluntariamente – informações sobre um cliente em potencial.
Algumas livrarias virtuais também disponibilizam outros produtos diferentes de
gêneros literários, como DVDs, CDs, brinquedos e jogos. Ao abrir mais opções de
produtos, tornam-se um E-Tayler, um varejista eletrônico (FIORE, 2001, p.10). Um dos
exemplos é a livraria Saraiva (livrariasaraiva.com.br, acessado em 26/08/2013) que
possui eletrônicos, jogos, filmes e outros produtos disponíveis. No site, o consumidor
ainda pode ver além das especificações e foto do produto, compartilhar em redes
sociais, como Twitter, Facebook, Pinterest e Google+.
Do shopping físico ao shopping eletrônico
Ir a um shopping, em um local físico, não é mais necessário, basta entrar no
comércio eletrônico e encontrar o produto a apenas um clique. Nestes tipos de site, há
uma organização da informação de modo a mostrar as “lojas” disponíveis divididas em
links, como, por exemplo: celular,telefones tablets, notebooks e computadores, tvs,
áudio e eletrônicos, casa, esporte e lazer, bebidas, brinquedos, bebês, perfume, beleza,
saúde. Como ressalta Breta (2007, p.207): “Nos domínios da internet, vende-se de tudo
num incomensurável shopping center eletrônico, no qual os recursos multimidiáticos
são cada vez mais sofisticados para produzir efeitos de demonstração dos produtos
ofertados”.
Esta estrutura é utilizada no www.submarino.com.br, onde é possível efetuar um
negócio completamente on-line ou até por telefone (existe um número para ligações) e
acompanhar o pedido passo a passo, tanto dentro do sistema, como ser avisado da
entrega e outras etapas por e-mail. Alguns produtos ainda entram na “oferta 24 horas”,
que são aqueles em maior destaque e ocupam um desconto passível de ser “capturado”
pelos consumidores se for efetuado no dia determinado e não outro. A redução de preço
é mostrada com risco no valor atual e mostrando o valor corrigido. Além disto, as
mercadorias tem uma descrição das propriedades do mesmo: com a imagem (foto);
descrição e até produtos similares. No caso dos livros e outros artigos, ainda há a opção
de ler as resenhas postadas por usuários do sistema. Quando o usuário decide qual
compra será efetuada, no mesmo momento, o sistema “multiplica” as escolhas,
aparecendo diversos produtos relacionados ao assunto ou objeto.
Outro site conhecido como “shopping eletrônico” é o www.americanas.com, na
primeira página já é possível ver vídeos sobre o produto e a avaliação dos usuários (de 1
a 5 estrelas) com comentários feitos pelo comprador. Outro detalhe que chama a atenção
da participação colaborativa é que todas as postagens tem a possibilidade de curtir ou
não determinada avaliação. Neste ponto, como avalia Castells (1999, p.440):
O preço a pagar por uma participação tão diversa e difundida é deixar que a
comunicação espontânea, informal prospere simultaneamente. A
comercialização do espaço cibernético estará mais próxima da experiência
histórica das ruas comerciais emergentes da palpitante cultura urbana que
dos shoppings centers espalhados na monotonia dos subúrbios anônimos.
Este tipo de negócio virtual é chamado de E-Tayler, ou seja, um varejista
eletrônico (FIORE, 2001, p.10): o cliente não precisa sair de casa e encontra todo tipo
de produto disponível de acordo com as necessidades pessoais. Nestes tipos de shopping
virtuais, outros sites podem fazer vendas de produtos e serviços sem necessidade de
espaço físico, o que representa uma economia por cortar custos, como ressalta Lessa e
Granero (2012, p.15):
É mantido na prateleira apenas aquele produto que ao menos cobre o custo de
estocagem e se por ventura este estiver vendendo menos que outro que
ocuparia o mesmo espaço ele logo é substituído, em vista de um maior lucro
e despesas mensais ou optar por ter produtos que cubram o custo da
estocagem.
Para o restante das mercadorias como geladeiras, fogões, armários, camas e
mesas, criam-se as chamadas reservas virtuais: o cliente realiza a compra, mas o
produto não existe em local físico, de modo que, da venda em diante, o E-Tayler deve
encontrar um parceiro virtual para efetuar o negócio.
A economia do negócio on-line se torna tão atrativa que determinadas lojas
físicas já fazem ofertas somente no ambiente virtual e não no físico, como a FNAC, por
exemplo.
Supermercados também acabam construindo prateleiras on-line com carrinho de
compras virtuais, tornando as compras mais fáceis e rápidas de serem realizadas e
entregues em casa. Apesar de serem mercadorias que podem estragar, mostram-se um
mercado atraente por serem bens necessários constantemente. São negócios alimentícios
que se tornam “mercearias digitais” (TAPSCOTT; TICOLL; LOWY, 2001, p.69-70).
Os números são contundentes. Os mantimentos sobrepujam o mercado de
livros – $450 bilhões contra $30 bilhões nos Estados Unidos. Os
consumidores gastam um décimo da sua renda semanal, entre $60 e $100
para uma família média, em mantimentos .
Mas não é só nos EUA que foi adotado o modelo, no Brasil já tem o “Zona Sul
Atende” e tantos outros supermercados que tentam atingir a fatia de possíveis
consumidores “práticos”. Tais sistemas ainda abrigam a “gôndola virtual”, a busca
dentro do site, a ajuda por chat e até integração com redes sociais. O objetivo é montar
um negócio focado no cliente e no relacionamento construído no sistema (IDEM,
IBIDEM, p.74).
O capital informação
A ligação de computadores com outros computadores maximizam as
oportunidades de comércio e de obtenção de mercadorias: é possível “ir às compras”
sem sair de casa, utilizando da “navegação” e dos cliques. O processo do consumo online ainda conta com as informações geradas pelos usuários, através das observações
dos comentários e avaliações existentes em cada site. Neste sentido, o consumidor pode
ganhar destaque, porque sua opinião em relação às próprias mercadorias adquire valor.
A informação como moeda, neste sentido, pode ajudar a movimentar o capital mais
rapidamente.
Neste sentido, o “capital informação” também é o da conversa que gira na
Internet: dados, estatísticas, comentários, avaliações, interações são usados a cada
clique. Se uma pessoa não conhece determinado país em qualquer canto do mundo,
basta consultar o oráculo das buscas de serviço e agendamento. Se ela desconhece a
procedência e qualidade de determinado produto ou serviço, compara opiniões ou se
quer ser um daqueles consumidores que participam, também podem enviar o comentário
a qualquer momento. Clicar, conversar e comprar são as trajetórias mais comuns do
shopping virtual. Neste aspecto, as trocas coletivas feitas on-line fazem parte do
processo do consumo, de um modo de “sociabilizar via ato de consumir”, conforme
corrobora Atem (2011, p.101-102) :
Como se vê, a forma-consumo significa simplesmente que ambos os
indivíduos citados têm seu modo de habitar e experienciar o mundo por meio
do consumo, do ato de consumir. A maneira atual de um indivíduo se
socializar e participar da vida coletiva é em grande parte através do ato de
consumir (seja lá o que for, simplesmente consumir). É precisamente isto que
faz de nós uma sociedade cuja cultura pode ser chamada de consumista.
Outras formas de comprar são através das redes sociais, como Facebook e You
Tube (SIBILIA, 2008, p.17). Nelas o sujeito pode “curtir” e seguir a marca, trocar
comentários ou mesmo compartilhar opiniões. Neste sistema, a mercadoria se confunde
com a conversa na rede de amizades: A interação social realizada entre duas ou mais
pessoas por meio dos comentários on-line, sejam em textos ou imagens, tomam sentidos
diversos, de modo a serem transformados em produtos de consumo. Como corrobora
Bakhtin (1998), os indivíduos ao se organizarem no ambiente on-line tornam os signos
sociais por natureza, ou seja, as mensagens viram mercadorias através das interações.
Além de flutuar nos shoppings eletrônicos ou redes sociais pode-se também criar
um comércio voltado para si mesmo, com a chamada lista de desejos (“wish list”), onde
a pessoa pode criar uma seleção virtual de objetos de desejo feita completamente online, como nas ocasiões de casamento ou aniversários, onde o consumidor aponta para
os amigos e familiares o que ele quer (FIORE, 2001, p.47). Os gastos feitos são
considerados rituais sociais, onde se torna quase uma obrigação o consumo dos
produtos elencados para a marcação de amizade, pois é necessário comparecer ao
evento que foi convidado e demarcar a ocasião com um presente (DOUGLAS;
ISHERWOOD, 2006, p.40). No site “I Casei” (icasei.com.br, acessado em 26/08/2013),
um exemplo do modelo, possui a história dos noivos, fotos e uma parte destinada a lista
de casamentos, muitas vezes direcionada a um outro tipo de comércio eletrônico
especializado, como serviço de fotografias, filmagens e lembranças.
E quando o sujeito quer fazer uma lista de desejos pessoal, chamando os amigos
para colaborarem virtualmente? Neste âmbito a mercadoria vira o sujeito. A necessidade
de obter um produto para si via socialização cria sites como o “Vaquinha on-line”.
“Ei! me dá um dinheiro ai!”
Como as conexões em rede são aproveitadas para os mais diversos tipos de
negócio, parece que quase “vale tudo”, inclusive pedir objetos ou produtos para os
amigos. A antiga vaquinha que era feita entre amigos da vida real para “rachar” uma
conta ou ajudar um amigo toma outro destino no ciberespaço: pode ser criada por uma
pessoa que pede determinado item de consumo a conhecidos e desconhecidos on-line.
O site www.vakinha.com.br explica como o sistema funciona em cinco passos:
Tem que especificar quanto quer; quanto precise; avisar aos amigos sobre a vaquinha;
acompanhar em detalhes as contribuições que recebe e por último sacar o dinheiro ou
usar o crédito para realizar seu desejo. Dentro do site já existem os "parceiros" de
negócios, ou seja, outras lojas de comércio virtual que estão integradas dentro do site.
Além disto, é possível ver quais foram os últimos rateios realizados e quem contribuiu.
Toda postagem tem integração com Facebook, Twitter, Pinterest, Google
Chrome e Google Plus, de modo que possa integrar os pedidos dentro das redes sociais.
Cada pedido tem já determinado: o objetivo (valor total que deseja receber), o que já foi
arrecadado, o valor pedido por contribuição, a data de encerramento e a explicação da
necessidade da "vaquinha".
O comércio on-line coloca deste modo um meio de interação social por
interesse. O autor de determinada postagem vira um pedinte virtual, que não precisa
mais de levantar a mão para ter sua contribuição e sim dar um clique para se cadastrar
em um sistema que utiliza dos links para obter o resultado final desejado. Neste âmbito
pode-se perceber que as mensagens alcançam um teor publicitário, tornando-se
“anúncios” pessoais. No dia 22 de setembro de 2013, por exemplo, uma pessoa pede
dinheiro para publicar o livro de poesias próprio, para tal antes cita uma poesia inteira
na mensagem, tentando vender sua ideia (vakinha.com.br, acessado em 22/09/2013).
O objetivo final do site é acumular dinheiro do total pedido seja para realmente
comprar o que estava estabelecido ou para comprar outra coisa que tinha sido esquecido
na lista de desejos. Quando determinada vaquinha atinge o final almejado, o anunciante
pode colocar outro objeto de necessidade; Basta começar uma nova postagem para uma
nova apropriação material. O pedinte não cessa de escolher novas coisas, afinal as
opções são muitas. Os amigos envolvidos no “jogo da mercadoria” decidem se terão
pena e oferecer a “esmola”, afinal eles mesmos também futuramente irão querer usar da
mesma estratégia.
Considerações Finais
A entrada da internet possibilitou um mercado sem fronteiras com a criação do
comércio eletrônico. As tentações do “comércio fluído” (BAUMAN, 2001) estão no
shopping eletrônico e nos infomediários, onde o consumidor pode buscar diferentes
produtos e encontrar muitas opções. As opções de compras on-line possibilitam
acumular e desfazer-se de mercadorias; comparar preços; pesquisar produtos; conversar
com outros compradores; decidir como realizar e efetuar a compra e entrar em diversos
links.
Com a entrada da Web 2.0, a internet toma a face de uma mídia democratizada e
acessível, por permitir as pessoas a publicarem suas opiniões (ANTOUN, 2008, p.19 ) e
ao mesmo tempo, o comércio on-line ganha interatividade com as ferramentas de
compartilhamento. Na nova fase, é possível a participação do usuário que circula
opiniões, partilha atividades e realiza interações por meio das recomendações. Neste
aspecto, os comentários podem ser responsáveis por tomadas de decisão e expandir a
esfera dos negócios. É por meio das participações que se expõem as mercadorias. Deste
modo, a busca orgânica tradicional (Google) pode migrar para uma busca social, onde o
que interessa são os comentários e avaliações feitas nas interações on-line. Neste
aspecto, o sujeito cartesiano apontado por Bauman (2008) talvez não esteja mais
passivo, diante de tantas possibilidades de compra, e sim se torne um sujeito digital
social que possa comparar e pesquisar as mercadorias por meio das interações.
As redes sociais - como o Facebook, Google+, You Tube , Instagram e Twitter –
também ajudam a propagar o consumo por meio das ferramentas específicas. Nestes
ambientes, a mercadoria se confunde com as publicações e postagens dos indivíduos em
rede. Uma postagem, um vídeo, uma foto podem adquirir o formato de signos e logo
virarem através do consenso de mensagens em produtos para serem consumidos.
As avaliações, os compartilhamentos, as curtidas permeiam os produtos,
serviços e shoppings eletrônicos, acabam formando um mapa para “pensar” e conversar
sobre o consumo. Podem-se comparar opiniões, analisar as notas conferidas por clientes
e checar o ranking geral comparativo de serviços e produtos. O índice de popularidade
de determinado negócio irá depender diretamente dos fatores colocados dentro destas
participações feitas em ambiente completamente on-line. Além disto, é possível
comparar os preços antes da compra final.
De um lado clientes (usuários dos sistemas) tomam proveito do conteúdo gerado
pelas avaliações, ao comparar serviços e produtos, mas também em ato posterior a
compra, eles são convidados a também comentar suas opiniões, tornando-se também
colaboradores do sistema. De outro, empresas aproveitam-se do ambiente para divulgar
as mensagens institucionais, procurando estreitar relacionamentos com o consumidor,
respondendo aos comentários, criando ações para estimular a compra e usando das
ferramentas existentes da Web 2.0. Neste âmbito, é possível perceber a formação de
redes sociais institucionais que dialoguem mais informalmente com o potencial cliente,
seja na criação de blogs ou na administração das redes de relacionamento como
Facebook e Twitter.
Nesta perspectiva, percebe-se que os usuários das redes são promotores das
mercadorias e o mercado se remodela diante das novas experiências de consumo, para
obter mais exposição e atrair novos clientes. A informação vira “moeda”, pois agrega
valor em cada consulta, podendo ajudar na trajetória de compra ao formar um caminho
trilhado pelos comentários. Ao poder comparar mais produtos e serviços, mais
mercadorias surgem. Deste modo, a movimentação do capital pode ser mais rápida e
eficiente. Finalmente percebe-se que por dentro destas observações as técnicas digitais
existentes no ambiente on-line podem aproximar negócios, consumo e pessoas.
Referências
ANTOUN, Henrique. De uma teia à outra: a explosão do comum e o surgimento da
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