Unicom 2007 2

Transcrição

Unicom 2007 2
editorial
MAIS QUE UMA META, UM JORNAL
Ao passo em que se encerra formalmente
mais um semestre em nosso processo de
formação acadêmica em jornalismo aqui na
Unisc, fazemos chegar às suas mãos mais uma
edição do Unicom. Com este, atingimos a
meta estabelecida ainda no início do ano de
viabilizarmos a publicação de quatro números
de nosso jornal-laboratório neste 2007.
A importância deste Unicom, que trabalha
a temática jornalismo ambiental, e do número
que lhe antecedeu neste segundo semestre,
extrapola, em muito, a simples realização de
um exercício acadêmico curricular. Isso
porque, não obstante não termos disponível
nenhuma cadeira formalmente instituída para
trabalharmos o Unicom, entendemos –
coordenação, alunos e professores -, que um
curso de jornalismo justifica-se principalmente
pela materização do conhecimento dos que
neles se inserem. Neste sentido, seria ruim
encerrarmos o ano com apenas dois jornais,
feitos no início do ano.
A tarefa se tornou possível por meio do
esforço dos professores e alunos das
disciplinas de Jornalismo Especializado e
Técnicas de Reportagem, que abriram espaço
em seus cronogramas curriculares para, junto
dos alunos, levarem a bom termo seu
propósito. Mas não apenas eles: uma vez mais
tivemos como parceiros alunos e monitores
das disciplinas de fotografia e publicidade, que
têm sido aguerridos no sentido de tornar
possível o Unicom e, com isso, desenvolverem
também eles suas potencialidades.
No que toca especificamente à temática –
jornalismo ambiental -, e considerando as
restrições operacionais que tal arranjo
curricular nos obriga, escolhemos este tema
porque ele representa, quem sabe, uma das
pautas mais importantes deste século que
recém se inicia. E que diz respeito, à
sobrevivência de cada um de nós, motivo pelo
qual ele foi tratado com muita propriedade,
como eixo condutor da Semana Acadêmica da
Comunicação, há pouco realizada.
Como dissemos, o resultado obtido a partir
desta perspectiva aí está. Cabe a você, agora,
na condição de leitor, ajudar-nos a tornar este
espaço acadêmico ainda melhor, o que será
possível por meio principalmente de sua
participação crítica.
Grande abraço a todos e uma boa leitura.
Flash! O coração fez X
HELOÍSA POLL
A apresentação começou. Meu coração bate
forte. É tanta expectativa! Não consigo expressar
em palavras. Daqui de cima, tudo parece mais
bonito, emocionante. Lá embaixo, os protagonistas
aparentam ser simpáticos. Será apenas ilusão? A
moça loira, que vejo pela terceira vez na semana,
começa a falar. Narra currículos, conta pequenos
trechos de grandes vidas. Minha ansiedade
aumenta. Após uns dois, três minutos, finalmente,
o palestrante leva o microfone à sua boca. Logo,
descubro que ele não está sozinho. Sua mulher
está sentada ao lado. A simpatia é comprovada.
Passadas algumas falas, a representante do sexo
feminino, possuidora de um olhar arteiro, anuncia
a reprodução de um vídeo. A partir daquele
momento, meus olhos, ouvidos e coração tornamse propriedade exclusiva de uma projeção, de um
momento. Os primeiros slides começam a passar.
Sinto arrepios pelo corpo. A trilha sonora é linda,
a história também. Com a dupla, surgem
fotografias. Imagens que fizeram rolar pequenas
lágrimas em minha face. Quanta paixão! O tempo
foi passando. Para mim, a noite estava ganha. Que
trabalho sensacional! Que vida interessante! Meus
pensamentos possuíam pontos de exclamação.
Em instantes, a pequena introdução chega ao
fim. Agora é o momento de ouvir as histórias do
casal. Impossível ser tão bom quanto o vídeo.
Engano. O incrível foi que, em meio às palavras
deles, lembrei das minhas. Os dois viajaram à
África do Sul e fizeram fotos esplêndidas. Eu viajei
ao interior de Vera Cruz e fotografei formigas em
uma velha árvore caída. Eles utilizaram uma
Kombi como meio de locomoção. Eu utilizei meus
próprios pés. Ele fotografou um jacaré. Eu
fotografei o cachorro da minha avó. A Patagônia,
daqui a alguns meses, será sua próxima parada.
Eu, há um ano, fiz fotos nos cemitérios de Ferraz –
outro ponto do meio rural vera-cruzense. Suas
imagens foram aprovadas. As minhas? Saberei
somente no fim do semestre.
Conforme a conversa com a platéia fluía,
minha admiração aumentava. Houve um
momento em que eu não conseguia mais controlar
meus sentidos. Aquilo tudo era tão interessante!
Eu queria ouvi-los e, ao mesmo tempo, admirar as
fotografias que passavam ligeiramente pelo telãoparede. Ah, aquela era a palestra dos meus
sonhos. A semana acadêmica toda estava salva
pelo depoimento de duas pessoas que me fizeram
acreditar na vida e, principalmente, nos meus
tantos desejos.
As perguntas começaram e senti que havia
outros seres maravilhados com aquilo tudo. Até as
conchinhas da minha pulseira estavam vibrando!
O tempo acabou e a bateria do meu celular
também. Com medo de perder o ônibus, não
fiquei para ver os portfolios que estavam sobre a
mesa. Voltei para casa com ar de Primavera.
Deitei minha cabeça no travesseiro e ele
testemunhou: sonhei com tudo e com todos, de
novo. Suspirei, “ITAva bem bom aquilo tudo”.
expediente
UNISC - Universidade de
Santa Cruz do Sul
Av. Independência, 2293
Bairro Universitário
Santa Cruz do Sul - RS
CEP: 96815-900
Curso de Comunicação
Social - Jornalismo.
Bloco 15 - sala 1506.
Fone: 3717-7383
Coordenadora do curso:
Mônica Pons.
Capa
Foto: Márcia Melz
Arte: Lázaro Paz Fanfa
Logotipo
Samuel Heidemann
Impressão
Graphoset
Tiragem
500 exemplares
Revisão
Carina Weber
Letícia Mendes
Lucas Nobre
Repórteres
Carina Weber
Daniele Horta
Lucas Nobre
Márcia Melz
Mariane Selli
Poliana Pasa
Rodrigo Nascimento
Ilustrações
Lázaro Paz Fanfa
Diagramação
Gelson Pereira
Poliana Pasa
Produção
Sancler Ebert
Editor-chefe
Demétrio de
Azeredo Soster
Este jornal foi produzido
de forma interdisciplinar.
O conteúdo editorial ficou
a cargo das turmas de Jornalismo Especializado
(professor Demétrio de
Azeredo Soster), Técnicas
de Reportagem e Jornalis-
mo Impresso II (professor
Hélio Etges). As fotografias foram feitas pela turma
de Fotojornalismo II (professor Alexandre Borges).
Os anúncios da edição
foram criados pelas turmas
de Redação em Publicidade e Propaganda II (professor Fábio Hansen) e Direção de Arte I (professor
Rudinei Kopp).
03
Mel de teias de aranha
Desaparecimento de abelhas
nas colméias de Santa Cruz do
Sul é reflexo de uma tendência
que deixa o mundo em alerta
LUCAS NOBRE
Sim, o título é um absurdo.
E dos grandes! Mas pode começar a ser explicado em uma simples ida à feira. Pois, se um santa-cruzense for em uma ao meiodia, também conhecida como
“hora da Xepa”, notará que tudo
fica mais barato. Menos o mel.
À procura de respostas, fomos
a uma movimentada exposição
de flores, localizada no Parque
da Oktoberfest. Lá encontrava-se
o apicultor Roberto Schmitt, presidente da Associação SantaCruzense de Apicultores e da Rede
Mel - que congrega associações
do ramo das cidades do Vale do
Rio Pardo - ele conta que este ano
foi atípico para a produção na
região. “Nas épocas de coleta do
mel, é normal a gente tirar entre
20 e 30 quilos por colméia. Esse
ano foi bem menos do que isso”,
afirma Schimitt, sem informar a
média que se extraiu até agora.
Ao lado dele, estava o também apicultor Lauri Hübner. Na
roda de chimarrão, onde aconteceu a conversa - interrompida
várias vezes por compradores de
mel, atraídos pelo preço mais
camarada do que usualmente
encontram -, Lauri relata que a
atividade funciona para ele como
um hobby e também como uma
alternativa de renda extra. Sua
atividade formal é conduzir um
táxi cujo ponto fica na rua Carlos
Trein Filho. “É muito difícil encontrar alguém, ainda mais aqui
no Rio Grande do Sul, que dependa apenas da apicultura”.
Essa realidade apontada pelos dois apicultores de Santa Cruz
do Sul é difícil de ser confirmada com números. As informações
mais atualizadas da Embrapa, a
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, são de 2003. E,
mesmo assim, não se tem muita
segurança para estimar quantas
famílias brasileiras fazem com
que o país seja o sexto maior produtor de mel do mundo, perde
só para China, Estados Unidos,
Argentina, México e Canadá.
Os números apresentados
afirmam que existem, no Brasil,
entre 1,3 e 2,5 milhões de col-
méias. As mesmas, segundo as
pesquisas do governo, seriam cuidadas por um número de apicultores que chega na casa dos 300
mil. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) são mais precisos, apesar
de serem do ano 2000. Segundo
o instituto, a produção de quase
22 mil toneladas de mel brasileiro gerou um faturamento de
R$ 84 milhões.
Independente do número de
famílias envolvidas no setor, que
produz também outros produtos,
como cera, própolis e geléia real,
todos percebem que algo está
errado. Seria mais um ano ruim
de produção de mel por causa do
frio e do excesso de chuvas em
Santa Cruz do Sul, conforme pensam Schmitt e Hübner? Ou há
algum outro fator que explique
a queda?
O biólogo Andreas Köhler,
responsável pelo laboratório de
entomologia da Universidade de
Santa Cruz do Sul, UNISC, aponta
que a produção de mel na região
pode ter sido afetada por um fenômeno que acontece na América do Sul, o desaparecimento da
abelha Apis melífera, espécie utilizada pelos apicultores. “Esta
abelha é de origem africana e por
isso é que aqui e na Europa elas
são consideradas exóticas. Apesar de terem se adaptado bem nos
dois continentes, há uma mortandade de abelhas por lá e um desaparecimento delas por aqui”.
Nos Estados Unidos, a produção de mel caiu na faixa de
30%, como publicou o jornal
Estado de São Paulo. O assunto
virou pauta até no senado americano, pois as abelhas são responsáveis pela produção de 65%
dos alimentos consumidos pelo
homem. E, na terra do Tio Sam,
esses insetos movimentam respeitáveis US$ 14 bilhões anuais
na economia americana. Ao
comprometer esse orçamento, os
efeitos colaterais geram uma dor
que, para qualquer americano,
pode ser muito mais forte do que
levar ferroadas de um enxame inteiro.
Os efeitos e conseqüências
do desaparecimento no Brasil
Aquecimento global - Köhler explica que com o
aquecimento global, tão discutido durante a Semana
Acadêmica da Comunicação Social (leia mais na página 06), o
calor mais prolongado está fazendo com que as fontes
alimentares da espécie mudem. “O período das abelhas sem
alimento está passando a ser maior. Isso por aqui é um
problema, pois a abelha da América do Sul não é acostumada a
estocar muito alimento nas colméias assim como fazem as
européias”, conta o biólogo nascido na Alemanha.
Polinização comprometida - Não é apenas no aspecto
econômico que as abelhas são muito importantes. “Elas são
eficientes polinizadoras das flores de árvores que produzem
frutos como bergamoteiras e laranjeiras, comuns no sul do
Brasil”. Se você for picado por uma enquanto estiver colhendo
bergamotas e laranjas, respire aliviado. È sinal de que, além de
estar tudo normal, as colméias não correm o risco de serem
tomadas por teias de aranha.
04
Consumo e desperdício:
os gastos são como água
A população de Santa Cruz do
Sul consome cerca de 30 milhões
de litros de água por dia. Mas
essa quantidade poderia ser de
quase 40% a mais, não fossem
as perdas no sistema de distribuição da Corsan
Todos os dias cerca de 30 mil
m³ de água abastecem mais de
38 mil imóveis em Santa Cruz do
Sul. Isso equivale a 30 milhões
de litros, distribuídos diariamente entre casas, estabelecimentos
comerciais e indústrias. Mas são
as residências, que somam 30 mil
na cidade, as responsáveis por
quase 80% do consumo. Portanto, se há alguém que pode começar a economizar, são os moradores. Iracema Geller, 48 anos,
vive no bairro Universitário e
acredita que faz sua parte: usa a
mesma água da máquina de lavar roupas para limpar o pátio.
Porém, ela admite o desperdício.
As seis pessoas que moram na
casa tomam dois banhos por dia.
O que a dona Iracema não
sabe é que esse tipo de gasto não
é o único responsável pelo desperdício de água em Santa Cruz
do Sul. A própria Corsan (Companhia Rio-Grandense de Saneamento) perde todos os dias de
30% a 40% da água que trata.
Ou seja, os 30 mil m³ que abastecem a cidade poderiam se tornar mais de 40 mil m³, caso o
sistema de abastecimento fosse
mais resistente. São quinhentos
quilômetros de uma rede subterrânea cuja parte mais antiga data
do final do século XIX. A pressão
da água aos poucos deteriora os
tubos. Além disso, a topografia
urbana, repleta de desníveis, colabora bastante para a aparição
de vazamentos.
Segundo o gerente da Corsan,
Paulo Stein, os grandes culpados
são os materiais que constituem
a rede. A primeira parte dela foi
composta de ferro e chumbo, bastante resistentes. No entanto, todas as ampliações do sistema –
necessárias à medida que crescia a cidade – foram feitas de
fibro-cimento, material de fragilidade maior, mais indicado para
cidades planas. Nesses pontos da
rede ocorre a maioria dos vazamentos. Muitos deles não chegam a aflorar para o solo e são,
portanto, difíceis de detectar. A
solução encontrada pela Corsan
para diminuir as perdas é a substituição das partes mais problemáticas do sistema por tubos de
PVC. Entretanto, até mesmo alguns desses pedaços novos da
rede já precisaram ser trocados.
Paulo Stein acredita que uma
renovação completa do sistema
de abastecimento seria o ideal,
mas ainda não há um plano con-
HELOÍSA POLL
POLIANA PASA
creto para isso. E, mesmo que o
prejuízo de quase 40% na distribuição da água seja assustador,
é um dos menores índices no Brasil. O coordenador e técnico da
Corsan em tratamento e qualidade, Luiz Augusto Schmidt, ressalta que a rede de Santa Cruz do
Sul é considerada de alto nível
no Brasil. Mas ele sabe que em
países europeus, por exemplo,
essa quantidade de desperdício
seria inaceitável. Aliada à perda
física de água dos vazamentos
está a perda de faturamento, causada pelo uso clandestino de canos e pelo gasto excessivo de casas sem medidor de consumo. A
instalação do aparelho é responsabilidade da Corsan, que ainda
não equipou 5.200 casas com o
medidor. A previsão é de que até
2009 todos os imóveis da cidade
tenham o consumo controlado
pela empresa.
Nas casas sem medidor, não
importa o quanto de água é usado. Ainda assim, o morador paga
para a Corsan apenas a taxa básica, que corresponde a 10 m³ por
mês. A cobrança não é apenas
uma questão de lucro, porque, de
acordo com Paulo Stein, a empresa não cobra pela água e, sim,
pelo seu tratamento e transporte. A preocupação do gerente é
que as pessoas não sabem o va-
lor real da água, aquele que vai
além do financeiro e está na base
da sobrevivência humana. Logo
que se mudou para sua propriedade, no bairro Verena, Nelson
Julich, 46 anos, viveu por algum
tempo sem medidor. Hoje, já instalado, o medidor mostra que a
família de Nelson gasta mais que
o dobro da taxa básica. Ele afirma que o consumo não era maior quando não havia o aparelho,
mas, por precaução, construiu no
terreno dois reservatórios que
captam água da chuva. Com o
líquido armazenado ele lava as
calçadas, o carro e irriga as folhagens. Se tiver que economizar
água, Nelson diz que pode parar
de lavar o automóvel – que ele e
a esposa banhavam quando foram entrevistados. Porém, ele não
vai deixar de regar as plantas a
cada dia.
Para a agente administrativa
da Corsan, Lúcia Müller Schmidt,
economizar não é uma possibilidade, é uma urgência. “Não há
mais o que esperar”, declara, “do
jeito que a gente usa e abusa da
água, a situação é preocupante”.
Ela garante que há um consumo
excessivo por parte da população
e aponta para o fato de que pode
haver racionamento neste verão.
É quando começa a estação quente, principalmente nos meses de
outubro, novembro e dezembro,
que os gastos aumentam. Imelda
Vagner, 59 anos, também moradora do bairro Verena, sabe bem
disso. Ela cuida para economizar, mas já sabe que no verão não
tem jeito: o uso da piscina encarece a conta de água. Em caso
de racionamento, Imelda pensa
que é possível poupar em tudo.
De acordo com Lúcia, a dona
Imelda pode se preparar para a
economia, pois a possibilidade
de racionamento aumenta ainda mais com a previsão de seca.
Nos últimos anos, a cidade escapou da economia forçada devido ao abastecimento do Lago
Dourado. Mesmo que não chova por três meses, o lago garante água para Santa Cruz do Sul.
Mas o período de seca deste ano
promete ser bastante rigoroso, o
que aumenta a probabilidade da
contenção de gastos. Contudo,
quanto à garantia de fornecimento de água, Lúcia, que também é a presidente do Comitê
Pardo (Comitê de Gerenciamento
da Bacia Hidrográfica do Rio
Pardo) lembra que a responsabilidade é de todos. Para a
agente administrativa, a existência da água depende do uso
dos seres humanos e não apenas
da capacidade dos rios e mananciais.
Vilãs do consumo usam poços
O gasto residencial é tão expressivo no total gasto pela cidade
porque os maiores usuários não são contabilizados pela
Companhia de Saneamento Rio-Grandense. As indústrias, na
maioria dos casos, utilizam poços artesianos para os processos
industriais. No entanto, é proibido o uso da água de poços
para consumo humano. Por isso, a Corsan abastece as
indústrias, mas apenas para a utilização dos funcionários.
Mesmo assim, as grandes empresas pagam uma taxa industrial,
mais cara que a residencial, pelo fornecimento. A perfuração
de poços é controlada por entidades governamentais, que
estudam a viabilidade de cada reservatório. Como a água de
poços artesianos é puxada diretamente do lençol freático, as
perfurações devem ser feitas com moderação, para que as
fontes subterrâneas de água não sequem.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
FERNANDA ZIEPPE
que essa não é uma preocupação
imediata, já que hoje a qualidade da água bruta do Dourado é
ótima. Apesar de se tratar de um
lago, a água nunca fica parada,
pois está sempre a chegar do rio
e a sair para o abastecimento da
cidade. Segundo a agente administrativa, a Corsan respeita os
limites de fornecimento. Através
de um procedimento chamado
recalque, a empresa retira 40 litros por segundo do lago – e garante que entra muito mais água
do que sai. Três grupos de motores bomba puxam os recursos
hídricos e os levam por 4,5 quilômetros de aparelhos adutores
até a estação de tratamento da
Corsan. De lá, a água já pronta
para o consumo humano, é distribuída para os imóveis.
Para Luiz Augusto, só o uso
racional é capaz de frear a escassez catastrófica prevista pelos
ambientalistas. “Cada um tem
que fazer a sua parte”, diz ele.
No entanto, Lúcia lembra que,
em toda a história do planeta, o
nível de recursos hídricos não
aumentou nem diminuiu – foi
apenas transformado. O que está
em risco hoje é a quantidade de
água potável disponível para a
humanidade. E o coordenador de
tratamento e qualidade expõe o
tripé de fatores necessários para
a conservação do líquido: preservação das matas ciliares, adequação da Corsan para diminuir
as perdas e a conscientização da
população para controlar o consumo demasiado.
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MÁRCIA MELZ
O principal manancial que
abastece Santa Cruz do Sul é o
Lago Dourado que, por sua vez,
é alimentado pelo Rio Pardinho.
Apenas quatro poços artesianos
são utilizados pela Corsan. Eles
estão numa parte da cidade em
que não há pressão suficiente nos
canos para que a água chegue
às casas. Em Linha Santa Cruz,
na parte mais alta da Avenida Leo
Kraether, existem três poços doados pela prefeitura e um que foi
furado pela empresa. A água de
poços representa menos de 10%
do total fornecido para a cidade. Isso reforça ainda mais a necessidade de preservação do
Lago Dourado.
De acordo com o coordenador e técnico em tratamento e
qualidade, Luís Augusto Schmidt,
um dos principais fatores para a
manutenção do manancial é o
cuidado com a mata ciliar do Rio
Pardinho. Ele afirma que se as
comunidades ribeirinhas fossem
mais responsáveis com a recuperação da mata, não haveria tantos resíduos sólidos no rio e no
lago. A chuva leva a terra solta
das plantações para os arroios,
que desembocam no rio. A correnteza leva os detritos ao Lago
Dourado. Se a mata ciliar da região estivesse preservada, ela
conseguiria segurar a sujeira e
não poluiria o rio. Por enquanto, quanto mais precipitação,
mais resíduos na água.
Algum dia será necessário um
processo de drenagem para limpar o lago. Mas Lúcia adianta
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Abastecimento depende
do Lago Dourado
HELOÍSA POLL
05
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A Corsan acredita em um tripé
de fatores para preservar a água:
a conservação das matas ciliares,
para que a água do rio seja de
boa qualidade; o cuidado no
tratamento e controle das
perdas físicas da própria
empresa; e conscientização dos
usuários para a economia do
líquido
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DIMAS RUSSO
06
A experiência v
Isso mesmo. O convidado mais experiente, responsável pela palestra de abertura da 12ª Semana Acadêmica da Comunicação Social, chegou com o famoso All Star nos pés. O editor-chefe do Globo
Ecologia, Cláudio Savaget, conversou com os estudantes acerca do
tema proposto pela Seacom: comunicação e meio ambiente. No entanto, ele falou mais – bem mais – sobre ecologia do que sobre
comunicação. O anfiteatro do bloco 18 nunca esteve tão lotado numa
palestra promovida pela Comunicação Social, mas também nunca
esvaziou tão rápido. A porta de saída da sala teve de ser chaveada
para diminuir o fluxo de alunos fugitivos. Parece que o caminho
percorrido pelos tênis não agradou aos alunos.
Na manhã seguinte, houve um papo mais dirigido aos acadêmicos de Jornalismo. Ecojornalismo foi a pauta da palestra. De um
lado, a ecojornalista Silvia Marcuzzo defendeu a idéia de o jornalismo ambiental perpassar todas as editorias dos jornais, sem a necessidade de criação de páginas específicas. De outro, o editor da página de meio ambiente do Jornal VS, de São Leopoldo, Eduardo Kopp,
mostrou-se contrário: ele acha importante um veículo dedicar espaço exclusivo às matérias de cunho ecológico. Durante a tarde, foi
exibido e discutido o polêmico documentário Uma verdade inconveniente, de Al Gore.
Vindos de Novo Hamburgo, o casal apaixonado por fotografia
Ita Kirsch e Simone Blauth, contou suas aventuras em expedições
fotográficas. Um exemplo delas é a viagem de 17 meses feita de
Kombi pelo Brasil. E o fotógrafo deixou o recado: apesar de qualquer jovem de 17 ou 18 anos ter uma câmera digital em mãos, o
bom fotógrafo é o que faz a foto no clique, e não na edição.
MÁRCIA MELZ
MÁRCIA MELZ
MÁRCIA MELZ
MÁRCIA MELZ E MARIANE SELLI
MÁRCIA MELZ
A palestra da manhã de quarta-feira não prometia muito. Talvez
por não ser específica para uma das habilitações, ou por não ter
nomes tão conhecidos e não se aproximar muito da comunicação.
Porém, foi a mais elogiada dessa edição da Seacom. O membro do
CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor -, Luiz Rogério
Boemeke, ao lado de Jair Putzke, professor do Departamento de
Biologia e Doutor em Botânica, deu uma aula sobre como nós prejudicamos o meio ambiente e o que podemos fazer para melhorá-lo. À
noite, foi a vez dos Relações Públicas ganharem espaço. O RP da
Prefeitura de Porto Alegre, Robson Lhul, mostrou a importância da
profissão em áreas de responsabilidade social. Em 10 minutos de
conversa, ocorreu o mesmo fenômeno visto na palestra do Savaget.
Para encerrar o ciclo de palestras, a publicitária do Greenpeace,
Daniela Carvalho Soares, explicou como são feitas as ações dos
ativistas e apresentou campanhas realizadas pela ONG no último
ano. Depois da palestra, houve o plantio simbólico de três árvores
no pátio do bloco 15 da Universidade. No turno da tarde, foi realizada uma visita à chácara do professor Jair Putzke, em Vera Cruz. Os
participantes puderam ver uma jibóia morta em formol e a réplica
de um Tiranossauro Rex. O passeio ecológico parece ter agradado
mais os meninos do que as meninas.
Após mais uma Semana Acadêmica da Comunicação Social,
merecem créditos os monitores e voluntários da Agência A4 que mais
uma vez trabalharam na organização, divulgação e cobertura do
evento. Em especial o núcleo de Produção em Mídia Audiovisual,
responsável pela realização de vídeos sobre o evento. Diversos futuros profissionais que, já durante a vida acadêmica, começam a trilhar um caminho com os próprios pés.
MÁRCIA MELZ
veio de All Star
DIMAS RUSSO
07
08
Um novo desafio
para os orquidófilos
Opção econômica e ecológica faz
da casca de noz-pecã e de outros
substratos bons substitutos ao
xaxim no cultivo de orquídeas
CARINA WEBER
CARINA WEBER
À ocasião do aniversário de
sua esposa, na procura por um
presente na capital, o militar Clovis Francisco dos Santos deparouse com uma linda orquídea. Isso
há sete anos. Na época, trabalhava em Porto Alegre e nos fins
de semana retornava a Cachoeira do Sul. “Na realidade, não escolhi as orquídeas. Eu acho que
as orquídeas me escolheram”,
diz, ao lembrar da primeira orquídea que adquiriu. O presente
foi dado à esposa. Com o tempo,
a floração passou, a planta murchou e ele pensou:
– Vou pagar R$ 170,00 por
uma planta para deixá-la morrer? Não é possível!
Foi aí que resolveu começar
a pesquisar. E não parou mais.
Hoje, ele possui uma coleção com
800 orquídeas de várias espécies
– é orquidófilo (o amigo das orquídeas), orquidólogo (aquele
que estuda as orquídeas) e também preside a Ascor (Associação
Cachoeirense de Orquidófilos),
que existe há 12 anos e conta com
60 sócios.
Assim como Clovis, Carlos
Daniel Schumacher da Rosa, presidente da FGO (Federação Gaúcha de Orquidófilos), também
teve um motivo especial para tornar-se um orquidófilo, há 35
anos. Durante um curso de Zoologia Marinha, em Porto Belo,
Santa Catarina, encontrou uma
orquídea à beira-mar. Ele queria
plantá-la para presentear a mãe.
No começo, tinha apenas algumas plantas. Com o tempo, o número aumentou. Hoje, é colecionador, produz e comercializa
algumas orquídeas e também
bromélias. Carlos Daniel possui
dois orquidários em Cachoeira
do Sul: um na área urbana com
420 m², e outro na área rural com
540 m².
Contudo, Clovis, antes de ser
orquidófilo como Carlos Daniel,
notou que sua orquídea necessitava de substratos para sobreviver. Ele percebeu que um deles
era o chamado xaxim (Dicksonia
sellowiana), espécie de samambaia, e uma planta que, em geral, leva muitos anos para se tornar adulta. Por um bom tempo,
o xaxim teve quase uso exclusivo. Porém, no Rio Grande do Sul,
foi criada a lei nº 9.519 de 21 de
janeiro de 1992, que institui o
Código Florestal do Estado e, em
seu art. 31, proíbe a coleta, a industrialização, o comércio e o
transporte do xaxim proveniente
de floresta nativa. Por sua vez,
desde 24 de maio de 2001, o
Conama (Conselho Nacional do
Meio Ambiente) criou a resolução nº 278, que dispõe contra o
corte e a exploração de espécies
ameaçadas de extinção da flora
da Mata Atlântica.
O começo
do uso da casca
de noz-pecã
Sem o xaxim, muitos dos
orquidófilos tiveram que buscar
alternativas. Foi aí que surgiu a
casca de noz. O primeiro a testála na plantação de orquídeas em
Cachoeira do Sul, no estado e até
no Brasil foi o professor e biólogo Carlos Daniel Schumacher da
Rosa. Tudo começou com uma
Orquídeas plantadas com o uso de casca de noz
conversa informal. Um aluno que
havia testado a casca de noz em
bromélias, e obtivera bons resultados, sugeriu que Carlos Daniel
a experimentasse nas orquídeas.
A experiência soma mais de dez
anos. Após os testes, o professor
começou a aplicá-la e isso antes
mesmo de o xaxim ser proibido.
Mas de onde vem a casca de
noz? Na América do Sul existem
apenas duas indústrias – Divinut
e Pecanita –, que beneficiam a
noz-pecã e estão localizadas em
Cachoeira do Sul. Edson Roberto
Ortiz, biólogo e proprietário da
Divinut, trabalha há mais de dez
anos com a noz-pecã. Da mesma forma que os orquidófilos
Clovis e Carlos Daniel, ele também tem histórias a contar sobre
porque escolheu as nozes. Edson
nasceu em Cachoeira do Sul,
porém residia em Porto Alegre.
Quando vinha visitar parentes na
cidade natal, sempre cruzava em
frente ao pomar de nogueiras da
Linck Agroindustrial Ltda., que
lhe chamava a atenção. Na época em que resolveu ser técnico
agrícola, foi para a Escola Agrícola de Viamão. À medida que
se interessava pela agricultura,
também vislumbrava a nogueira-pecã uma cultura interessante. “Desde os 14 anos botei na
minha cabeça que iria trabalhar
com a planta”. Foram dez anos
na Linck Agroindustrial Ltda. –
Hoje, a indústria leva o nome de
Pecanita e possui outra direção.
Edson começou na parte técnica,
chegou à coordenação geral e
saiu da empresa para ter a sua
própria, há sete anos – a Divinut.
Foi a partir de uma idéia dele
que Cachoeira do Sul recebeu o
título de capital sul-americana
da noz-pecã, já que o município
comporta as duas únicas indústrias de beneficiamento da América do Sul e possui um viveiro –
local onde é produzida a muda
de nogueira. Edson pesquisou
durante dez anos as variedades
de nogueira-pecã que se adaptavam melhor ao solo cachoeirense.
Das 26 subespécies analisadas na
Linck Agroindustrial Ltda., escolheu sete para multiplicar como
seleções genéticas de variedades
ou subespécies.
A Divinut produz mudas – o
maior viveiro do mundo de nogueira-pecã com raiz embalada.
“A muda convencional sofre muito ao sair do viveiro e ir para o
campo. Na embalagem, ela não
sofre nada. Trabalhamos com a
planta Carya (gênero) illinoensis
(espécie) – Junglandaceae (família)”. A muda sai pronta do vi-
09
midoras finais de Carlos Daniel
na aquisição de substratos e de
plantas. Quando necessita de alguma assessoria conta com a
ajuda dele. “As orquídeas precisam de apoio. A casca de
noz resolve perfeitamente. Eu
acredito que vou usá-la sempre”.
Mary admite que sempre gostou
de plantas e deixa uma dica
para quem deseja cultivar orquídeas: “Além dos substratos
é preciso ter paciência, gostar.
Todos os dias dar uma olhadinha para ver se está tudo em ordem”.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
empresa traz de lá duas toneladas. O preço varia de acordo com
o volume comprado – o padrão
é de R$ 1,00 o quilo até R$ 0,20
a 0,30 o quilo se for um caminhão. A maior parte ele utiliza e
o restante comercializa. O custo
da revenda, hoje, está em torno
de R$ 2,50 o quilo.
As cascas chegam aos compradores já limpas e prontas para
serem aplicadas como substrato.
A aposentada Mary Leipnitz, que
coleciona orquídeas e pertence à
Associação Cachoeirense de
Orquidófilos, é uma das consu-
A transformação em substrato
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A casca de noz possui alta quantidade de tanino – que tem
valor comercial usado para curtir couro. Para ser aplicada
como substrato nas orquídeas, precisa passar por uma limpeza
intensa. Carlos Daniel Schumacher da Rosa desenvolveu um
processo que une um aparelho elétrico – em forma de
cilindro, com rodas e três peneiras de graduações diferentes; e
o trabalho manual (ver fotos).
Apesar de o xaxim ser excepcional para a orquídea em termos
de nutrientes, não mantém o pH (potencial de hidrogênio).
No momento em que começa a se decompor, o pH torna-se
mais ácido, isto é, diminui. A acidez causa prejuízo à planta –
quando o xaxim inicia a decomposição com intensidade maior,
a partir de três a quatro anos. A análise da casca de noz foi
feita de acordo com o pH e teve um índice com variações de
5,18 a 5, 23; isto a partir da observação de produções do RS,
SC e PR – de regiões diferentes, e não houve modificações
maiores. Além desta avaliação foi realizado um teste em
termos da variação que o pH poderia ter pela utilização em
tempo, e ele se manteve constante no período de três anos:
“Isso é fundamental para a planta. O pH ideal para orquídeas –
5,2; que seria a média na casca de noz”, reforça Carlos Daniel.
Mas as opções não param por aqui. Existem outros
mecanismos que os orquidófilos podem utilizar para o cultivo
das orquídeas: fibra de côco, saibro, casca de pinus, adubo
orgânico, nó de pinho e, acredite, até isopor. “O isopor é
neutro e serve apenas para baixar a densidade do conjunto”,
explica Carlos Daniel. Assim como a casca de noz, todos os
demais substratos passam por algum tipo de preparação antes
de serem aplicados nas orquídeas. Estas alternativas
proporcionam benefícios, tanto ecológicos quanto econômicos,
e têm apresentado ótimos resultados.
Os orquidófilos Clovis e Carlos Daniel se apropriam da
chamada complementação ou coquetel. Carlos Daniel não
abre mão da casca de noz que possui o nitrogênio, do saibro –
rocha granítica em fase de desagregação que contém cálcio, e
do carvão vegetal que tem potássio. Já Clovis mescla o saibro
com a casca de pinus e o carvão vegetal. No saibro o pH
também se mantém constante. Ele está dentro da faixa de
tolerância da orquídea. Os substratos são muitos, contudo
Carlos Daniel garante: “Pode-se plantar uma orquídea até em
um tijolo. E ela enche de flor! É o vegetal mais completo”.
As orquídeas são classificadas em três grandes grupos quanto
ao habitat: as epífitas se desenvolvem nas árvores, as
terrestres na própria terra e as rupículas sobre solo pedregoso.
A Cattleya (gênero) intermedia (espécie) é a orquídea símbolo
da Associação Cachoeirense de Orquidófilos. Um dado
curioso: esta mesma planta, que floresce em setembro,
também é motivo de uma luta dos orquidófilos gaúchos para
que se torne símbolo do Estado. Segundo Carlos Daniel, a flor
símbolo do Rio Grande do Sul é o Brinco-de-Princesa (Fuchsia
regia), que floresce na primavera e no verão. “Todos os
estados brasileiros têm como símbolo alguma orquídea, exceto
o nosso”. Tentativas já foram e estão sendo feitas, mas ainda
sem resultados.
Outras aplicações: A dissertação de mestrado de Edson
Roberto Ortiz, realizada na Ulbra-Canoas (Universidade
Luterana do Brasil), teve como tema a queima da casca de noz
na geração de energia térmica para a secagem das nozes. Ele
já tem os equipamentos, mas não implementou o projeto
porque o volume de cascas gerado por sua indústria é todo
absorvido para outros fins. “Nós fizemos testes e tem um alto
potencial térmico”, afirma.
Pedaços em tamanhos diferentes
vindos da indústria
Aparelho elétrico que separa em
tamanhos diferentes, retira o pó e
seleciona os fragmentos
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
As cascas de noz passam por dez
lavagens – a cada quatro dias a água
é trocada. O processo dura de 30
a 40 dias
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
veiro com destino à lavoura – é
vendida para o produtor e a empresa compra a produção.
A noz-pecã é dividida em três
partes: epicarpo (casca madura
– externa), mesocarpo (casca
marrom/dura – utilizada pelos
orquidófilos) e endocarpo (amêndoa – comestível). De uma tonelada de nozes processadas por dia
saem cerca de 500 a 600 quilos
de casca bruta (subproduto). Seu
destino: a Divinut as vende para
empresas produtoras de chá e
orquidófilos. Cada vez que Carlos
Daniel busca cascas de noz na
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O último estágio é a
secagem em plataformas
expostas ao sol
10
Foi um arroio que passou
em minha vida
Mas não levou meu coração,
como no samba de Paulinho
da Viola. Pelo contrário,
deixou um rastro de poluição
e desrespeito a natureza
RODRIGO NASCIMENTO
fora de casa, sempre se fica preocupado”, lembra ao olhar para
o teto, como se o sinal de alerta
fosse visível no céu, quando as
nuvens se preparam para despejar a chuva, tão necessária à agricultura e aos próprios rios e arroios. No caso do Arroio das Pedras, um problema.
Douglas conta que, no meio
da noite, de vez em quando, tem
que levantar. “Os cachorros às
vezes latem muito”, completa e
classifica os dois animais de estimação como arautos da enchente. Enchente que, incontáveis
vezes, subiu até a casa, distante
30 metros da margem da sanga.
Sanga ou arroio? De acordo
com os técnicos do setor de
geoprocessamento da prefeitura,
arroio. Sanga é um termo que
vem da palavra sangra, a água
sangra, nasce. Por isso, a cultura popular chama de sanga os
arroios. A denominação é usada
para classificar arroios com menor volume de água, ou que são
temporários, dão vazão à água
em algumas épocas do ano. Santa Cruz do Sul tem duas sangas,
mas nenhuma passa pelo Arroio
Grande. Uma está localizada no
RODRIGO NASCIMENTO
Eli Douglas Correa Tavares,
Douglas para os amigos. Ele não
admite, mas prefere ser chamado de Douglas. O jovem consultor de vendas, formado em Técnico em Segurança do Trabalho,
há 23 anos, ou melhor, desde que
nasceu, convive com um inquilino ora incômodo, ora engraçado, ora preocupante: um arroio
que corta o terreno da família,
moradora do bairro Arroio Grande, em Santa Cruz do Sul.
Apesar do bairro se chamar
Arroio Grande, não existe na cidade nenhum arroio com esse
nome. O que banha a propriedade da família Tavares chama-se
Arroio das Pedras. Deve ser uma
analogia ao número de pedras
que tem em seu leito, que passa
por dois bairros da cidade e ainda pelo distrito industrial, e desemboca no Rio Pardinho.
Na rotina de Douglas a convivência com o arroio, nos últimos dois anos, não tem sido tão
próxima – 60 quilômetros o separam do arroio durante a semana. Porque ele trabalha em Lajeado de segunda à quinta-feira.
Porém, a inquietação é constante. “Se chove muito e a gente está
Pelo arroio passa de tudo, inclusive água imprópria para o consumo
bairro Schultz, que leva o mesmo nome, a outra passa pelo São
João, batizada também com o
nome do bairro.
O Arroio das Pedras, companheiro da família Tavares, carrega de tudo. Até mesmo fantasias de carnaval foram encontradas pela reportagem ao longo do
seu trajeto. Para Douglas, isto é,
sobretudo, um desrespeito com os
próprios seres humanos. Indignado com o comportamento dos
vizinhos, diz que “não custa nada
juntar o lixo e esperar pelo lixeiro, que passa na frente de casa.
Mas eles preferem colocar nos
fundos”, lamenta.
Mau cheiro
Mesmo longe, a mais de 30
metros de distância da água, a
presença de um “penetra” na casa
de Douglas é constante: o mau
cheiro, que, em dias de calor,
como os esperados para os próximos meses, tende a aumentar
e instalar-se dentro da casa.
Dormir de janelas abertas,
nem pensar. Em primeiro lugar,
por causa da possibilidade de furto, cada vez mais presente no cotidiano. Em segundo lugar, o mau
cheiro e os mosquitos, que não
dão trégua.
Durante a reportagem, fomos
picados mais que uma vez, ainda de dia, com temperatura média de 28 graus, normal na primavera. Muito menos do que os
35ºC – 38ºC, comuns no verão,
que logo estará aí. Douglas conta que “quando está para chover”,
o odor é sentido com maior intensidade, o que aumenta o alerta de possível enchente, já congênito em sua vida.
Além do mau cheiro e dos
mosquitos, visitas nada bem-vindas freqüentam o clã familiar dos
Tavares. Moscas, baratas e ratos
– de todos os tamanhos. Razão
pela qual a família e os vizinhos
passaram a criar gatos.
“Todo mundo tem gato aqui”,
brinca ele. Diz que a Misse e a
Minie, mãe e filha, são sustentadas pelo Arroio das Pedras. A
Misse, há poucos dias, contribuiu
para o aumento demográfico da
população felina: ganhou cinco
gatinhos que vêm com a missão
de reforçar o contra-ataque à proliferação de roedores promovida
pelo depósito de lixo no leito do
arroio, que, segundo ele, também passa por problemas de
assoreamento. “Há dez anos, a
margem era mais estreita. Conforme o tempo passa, perdemos
espaço no terreno”, reclama.
Douglas diz que não lembra
se alguma vez alguém ficou doente por causa da água. “É uma
preocupação muito grande quando existe a possibilidade da água
subir”, conta ao lembrar das vezes em que tiveram que levantar
os móveis e os eletrodomésticos
para não perder os preciosos bens
conquistados em conjunto pela
família, que é formada pelo pai,
mãe, irmã e avó materna.
Apesar do incômodo, dos insetos e do mau cheiro, a família
é feliz. Sonha com o dia em que
o arroio vai estar limpo ou, pelo
menos, que a população tenha
consciência de que muito mais
que jogar lixo no leito do córrego,
o fato de não preservar os bens
naturais, representa um problema de toda a sociedade.
A conscientização ecológica
faz parte da família de Douglas.
O pai, também chamado de Eli,
mestre-de-obras, profissão que
muito orgulha ao filho, diz que
desde sempre cultivaram a valorização do meio ambiente como
um ensinamento aos filhos. “É em
casa que começa a educação”, dá
de ombros e lembra como se fosse inútil sua sabedoria. Mal ele
sabe que, mesmo modesto, tanto
em bens como em teoria, Eli é
rico porque, sobretudo, coloca as
questões ambientais e a preservação do planeta como uma
constante na casa da família.
Um pouco se deve à rotina
mal cheirosa do Arroio das Pedras, sócio da família, por cortar uma parte do terreno, que se
torna improdutivo na outra margem. Douglas fala que se existisse uma estrutura, uma ponte,
poderiam investir em um modesto salão de festas para os fins de
semana. “Mas não adianta colocar uma ponte. A primeira vez
que a água subir, ela irá junto”.
A água, segundo os Tavares,
quando vem, leva tudo.
E a água
levou...
Em meio a tantos desencantos e problemas ocasionados pelo
Arroio das Pedras, que passa na
vida de Douglas e sua família
como um convidado inconveniente, o jovem adulto lembra com
os olhos brilhantes do tempo de
infância - quando a água do arroio era menos poluída e as preocupações de Douglas eram em
planejar brincadeiras.
Brincadeiras com seu primo
Tiago, porque a ocupação dos
dois meninos ainda era brincar
e ser feliz. Não que hoje não seja,
mas, à medida que se cresce, a
vida se transforma e, na lembrança, as travessuras de criança e
eventos engraçados vividos nesta fase vêm como momentos felizes que a água levou.
A personagem conta que no
tempo de criança, isso há mais
de 12 anos, a família criava animais para o consumo, não só
para auxiliar com o arroio e seus
hóspedes, como cães e gatos fazem hoje. Algumas galinhas e um
porquinho faziam parte da vida
dos Tavares. Um dia, choveu demais e não teve jeito: a água subiu tanto que levou o porco.
Na luta contra a correnteza,
o animal nadou, o que foi fundamental para que a família resgatasse o membro-atleta ainda
com vida. Depois do susto, o riso
ainda ecoa dentro da casa. Especialmente a risada de Douglas,
que bate com as mãos no colo
ao lembrar do episódio, em que
o porco foi resgatado alguns
metros abaixo da sua casa.
Hoje os Tavares não criam
mais animais para o consumo.
Mesmo porque a legislação municipal não permite que no meio
urbano sejam criados animais
para o abate.
A família dos Eli (pai e filho)
agora cria sonhos. Sonhos de um
mundo mais consciente da importância da água para os seres
RODRIGO NASCIMENTO
11
No nível normal os moradores sofrem com o mau cheiro, quando chove o problema é o alagamento
vivos. Sonho de poder ver o Arroio das Pedras limpo, com cheiro de natureza, com a água limpa, como é na nascente.
Um sonho compartilhado
pela Companhia Riograndense
de Saneamento (Corsan). Conforme o gerente da unidade de Santa Cruz do Sul, Paulo Stein, o tratamento dado ao esgoto, maior
problema dos arroios em Santa
Cruz do Sul está sendo planejado pela companhia.
Para isso a Corsan dispõe do
apoio do Comitê Pardo – um grupo de pessoas formado por cidadãos comuns, representantes da
sociedade civil e pessoas ligadas
ao governo. O grupo tem o papel de administrar os problemas
das bacias hidrográficas, formadas pelo conjunto de rios, açudes e arroios de nossa região. Eles
também tomam decisões com relação aos problemas e projetos
para a preservação e a manutenção das águas.
Enquanto o sonho não vira
realidade, a família de Douglas
segue na cadência da água turva
do Arroio das Pedras, na esperança de um dia vê-la azul, assim
como diz o samba da Portela, cujo
nome empresta o título a esta
reportagem, guardadas as devidas proporções: rio-arroio.
Agora é a vez do esgoto
“O esgoto sempre foi deixado em segundo plano”, desabafa o atual gerente da Corsan em Santa
Cruz, Paulo Stein. Relata que isso acontece desde a instalação da companhia, em 1966. Hoje a
Corsan trata 15% do esgoto cloacal – quem vêm da casa das pessoas. Estes detritos não tratados
são despejados, em sua maioria, direto nos arroios e sangas do município.
Por isso a cidade convive com o mau cheiro e a proliferação de insetos e roedores nas
proximidades dos leitos da bacia hidrográfica que banha as terras de Santa Cruz. Mesmo sem
nenhuma nascente, existem nove arroios na cidade. Nomeados pela tradição, ou seja, as pessoas
da localidade onde o arroio passa é que os batiza. Além do Arroio das Pedras, a cidade tem o
Arroio da Gruta, Jucuri, Preto, Lajeado, do Moinho, Leves Pedroso, Manuelito e Camaquã.
Nove arroios, mais duas sangas, a São João e a Schultz. Toda essa malha aqüífera vai ao encontro
do Rio Pardinho, principal manancial da região. As águas do rio são armazenadas no Lago Dourado,
uma espécie de piscina artificial construída pela Corsan no fim da década de 1990. Graças a este
reservatório, que a capacidade de abastecimento dá conta dos mais de 80 mil habitantes de Santa
Cruz, sem que haja cortes, em caso de seca. O lago consegue resistir a uma estiagem de seis
meses. Para o esgoto, a estação de tratamento já tem capacidade, sem que sejam ampliadas as
instalações, de tratar o volume produzido por uma população de 70 mil pessoas.
A meta do Comitê Pardo e da Corsan é que até o final de 2008, o número de tratamento de
esgoto dobre, e atenda toda a população do centro da cidade. Para isso serão investidos, a partir
ano que vem mais de R$ 8,5 milhões de reais para a continuidade das obras de canalização e
tratamento dos esgotos.
Enquanto as obras “correm na direção oposta”, a aposta da Corsan, assim como da família
Tavares, é na conscientização da população. Aquelas pequenas dicas: poupar água na limpeza da
casa, do carro, não desperdiçar água em banhos demorados, e, no caso dos arroios, não jogar mais
lixo no leito, ajudam a não aumentar o problema do esgoto, e, em conseqüência, dos arroios de
Santa Cruz do Sul.
O aquecimento global está prestes a
colocar as Ilhas do pacífico, famosas
por suas belas praias de águas
cristalinas, em extinção
O paraíso era aqui
DANIELE HORTA
Como evitar que isso aconteça
Atitudes simples podem ajudar a salvar os paraísos tropicais:
Economize energia. Troque lâmpadas incandescentes por
fluorescentes, apague luzes desnecessárias, desligue aparelhos
domésticos quando não estiverem em uso e compre
eletrodomésticos com nível A em eficiência energética.
Deixe o carro na garagem. Utilize o transporte coletivo e a
bicicleta, quando possível. Dê preferência a combustíveis
como o álcool e o biodiesel. Faça revisões periódicas no seu
veículo para reduzir as emissões de poluentes.
Evite o desperdício de água. Informe-se sobre as
habitações ambientalmente corretas, que aproveitam a água
da chuva, usam energia do sol para iluminação e aquecimento,
e têm climatização natural.
que foram transferidos para outras localidades. Assim como
eles, os habitantes de outras milhares de ilhas estão prestes a ter
que deixar a região.
O problema não é apenas a
imersão por completo da ilha.
Com o contínuo aumento dos níveis dos oceanos, quando a maré
aumenta, as águas invadem as
terras, e o sal trazido mata as
produções de alimentos e a vegetação nativa. Nestas condições, o empobrecimento da população é inevitável, e ao não ter
como produzir, permanecer nas
localidades se torna impossível.
Em sites de relacionamento,
como o Orkut, já começaram a
aparecer brincadeiras sádicas relacionadas à situação. Nas comunidades sobre o turismo na
Polinésia Francesa, não é difícil
encontrar o comentário “se quiser ir, vai logo, porque daqui a
pouco não vai mais existir”.
A brincadeira pode até ser inocente, mas as causas não são. Já
é comprovada a culpa do homem
pelo aquecimento global, o que
é um tiro no próprio pé, pois são
os mesmos que sofrem as conseqüências. Porém, além do homem, flora e fauna também sentem os efeitos das mudanças.
Novas espécies entram para a lista de extinção a cada ano e os
gastos com a preservação e o resgate delas em zonas ameaçadas
gera gastos milionários.
Enquanto isso, milhares de turistas continuam a visitar os chamados “paraísos” do pacífico. A
população local continua seus
afazeres diários e, muitas delas,
pouco sabem sobre as mudanças
climáticas. Nas pequenas ilhas,
de difícil acesso, pouca informação consegue alcançá-los, eles
apenas sentem as mudanças, sem
conhecer as causas.
Informe-se e procure entender as causas das mudanças
climáticas e suas conseqüências. Pressione empresas e
governos a substituírem as energias sujas, perigosas e
ultrapassadas (combustíveis fósseis, nuclear, grandes
hidrelétricas) pelas energias positivas ou alternativas (solar,
eólica, pequenas hidrelétricas).
Com o progressivo aumento
da temperatura do planeta,
paraisos, como as ilhas do
pacífico, podem ser
submersos em poucos anos
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Última chance
Ajude a recuperar o verde de sua cidade. Plante árvores
no seu quintal, na sua propriedade rural e até mesmo em
áreas públicas.
Apóie ações contra a destruição de nossas florestas.
Exija da sua prefeitura sistemas eficientes de drenagem
urbana, coleta e tratamento de esgotos.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
mente nenhum lugar nos proverá o que temos aqui e, em pouco
tempo, também estaremos extintos. Penso que tenho sorte por ser
uma mulher idosa, pois provavelmente não estarei mais neste
mundo quando tivermos que deixar nossa ilha.”
O planeta está mais quente.
Segundo relatório divulgado
pelo Painel Inter-governamental
de Mudanças Climáticas, o IPCC,
sua temperatura subiu 0,7°C no
último século, e a tendência é que
se eleve cada vez mais e mais
rápido. Geleiras estão descongelando em um ritmo jamais imaginado, jogando mais água nos
oceanos. Enchentes, secas e furacões começam a atingir lugares antes livres destas forças da
natureza. A causa de tudo isso é
o aquecimento global e o diagnóstico é que, sem medidas drásticas na contenção da emissão de
poluentes, as temperaturas no
próximo século aumentarão entre 1,4°C e 5,8°C.
Uma entre as milhares de conseqüências trazidas pelo fenômeno é o desaparecimento de ilhas
do Oceano Pacífico. Não, essa
não é mais apenas uma previsão
pessimista. A remoção de habitantes começou já no ano de
2002. Os primeiros a necessitarem de resgate foram habitantes
de ilhas em Papua Nova-Guiné,
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Terras, animais, plantas e seres humanos. Todos sofrem as
conseqüências das mudanças climáticas. Os habitantes das ilhas
e arquipélagos do pacífico começam a se deparar com a triste
realidade de em breve ter de deixar seus lares.
Mimau Tom, 63 anos, esteve
em Santa Cruz do Sul no último
mês de agosto. Ela coordena um
grupo de dançarinos das Ilhas
Cook, país onde nasceu e mora
até hoje. Ela nos fala sobre o sentimento em relação ao que em
breve ocorrerá caso não haja uma
rápida tomada de atitude.
“Não consigo imaginar a vida
longe de nossa pequena ilha.
Nasci e passei toda minha vida
em Aitutaki. Já conheci muitos
países divulgando nossa cultura,
porém jamais encontrei um lugar como onde moro. Aqui temos
nosso paraíso particular, vivemos
todos em harmonia, não temos
violência nem doenças graves.
Somos um povo amistoso e, como
polinésios, temos uma cultura
única que preservamos com muito orgulho. Prefiro não pensar
que em breve este lugar não mais
existirá, pois neste dia, além de
lugares paradisíacos, será perdida também uma cultura, uma
etnia, crenças e uma forma de
viver. Não sei o que vai acontecer com o meu povo, mas certa-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○