A Fotografia como Técnica de Pesquisa nas Ciências Ambientais e

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A Fotografia como Técnica de Pesquisa nas Ciências Ambientais e
Ribeirão Preto – SP 10 a 13 de julho de 2005
III Epea – Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
TRABALHO 30
A FOTOGRAFIA COMO TÉCNICA DE PESQUISA NAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS E
NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Janaina Florinda Ferri Cintrão
Dulce Consuelo Andreatta Whitaker
João Alberto da Silva Sé
(Programa de Pós-Gaduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente do Centro
Universitário de Araraquara – UNIARA; Programa de Pós-Graduação em Sociologia, UNESP Araraquara)
RESUMO
Trabalhando em interfaces entre sociologia rural e meio ambiente (WHITAKER, 2002), entre
memória e meio ambiente (CINTRÃO, 1999), ciências ambientais e educação ambiental (SÉ,
1992, 1999) pudemos perceber a importância de técnicas alternativas como desenhos, pintura,
poesia e outros recursos que podem ser utilizados como auxiliares na coleta de dados tanto nas
ciências sociais como nas ambientais. Aliás, estamos em fase de derrubar barreiras entre as
ciências e ousamos dizer que tais técnicas podem ser utilizadas em todas as ciências. Entre as
técnicas alternativas passíveis de utilização na pesquisa, nossa experiência sugere que a
fotografia poderia ser das mais férteis. Mas cumpre adiantar – fotografias utilizadas como fonte
de dados e não simplesmente como ilustração, o que apresentaremos nesse artigo: discussão da
fotografia no contexto das pesquisas ambientais na atualidade, para nelas localizar os processos
mais sugestivos da preocupação da conservação e preservação ambientais. As fotografias são
instrumentos de reconstrução do mundo e devem ser submetidas a um tratamento crítico, para
que de fato se revelem. Elas nos conduzem para o mundo de fora, para o outro mundo. Elas
sempre nos contam uma história. Mas tais histórias têm que ser extraídas, já que fotografias
como dados, não falam por si só. É a bagagem histórica do pesquisador que permite encontrar
essa outra “História”. As imagens iconográficas são representações que aguardam um leitor que
as decifre. Tudo o que se vê parece estar ao alcance, pelo menos, dos olhos de quem vê, o que no
entanto, é ilusão. Nossa preocupação, em termos metodológicos, é justamente a de encontrar,
para além da foto, as circunstâncias ambientais, além das implicações políticas, sociais,
históricas; enfim, aquilo que não é acessível a uma abordagem do senso comum. Daí a
indispensabilidade da legenda e da boa integração entre o texto e as imagens - quando redigido o
Realização: FFCLRP/USP, Unesp/Rio Claro e UFSCar
1
trabalho final. Nos trabalhos científicos em geral, as fotografias têm sido utilizadas como um
meio de reavivar a memória dos sujeitos de quem se solicita informações. São usadas também
como ilustração, confirmação ou prova, mais ainda como ampliação da percepção visual. Neste
contexto, são bastante utilizadas, desde a década de 70, em métodos indiretos de valoração da
qualidade visual de paisagens. Com métodos que utilizam as imagens fotográficas, juntamente
com informações adicionais obtidas de questionários, podemos identificar mudanças na
preferência estética de grupos sociais em determinadas paisagens, após sua participação de
programas de educação ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: fotografia; técnica de pesquisa; ciências ambientais.
ABSTRACT
Working in interfaces between rural sociology and world wide (WHITAKER, 2000), between
memory and world wide (CINTRÃO, 1999), environmental sciences and environmental
education (SÉ, 1992, 1999), we could note the importance of the alternative technics like
drawings, pictures, lictures and other ways that can be used like auxiliary in the research of
information in social and environmental sciences. By the way, we are at the time to break limits
between the sciences and we can also say that this technics can be used in all the sciences.
Between the alternatives techincs that can be used in the research, our knowledge showns that
the pictures could be most usuful. But pictures used like information power and not like just
ilustration, what we are supossed to discuss in this teoric article: the picture used in enviromental
researches at our time, to in this researches find the most sugestives process of the way of
enviromental conservation and preservation. The pictures are reconstruction instruments of the
world and they must be passed by a critic tratament to finally be revealed. They introduce
ourselfs to a other world. They always tell us a history. But this history must be taken off
because the pictures like information, do not shonw anything by therselfs. It is the historical
experience of the researcher that can find this other “History”. The iconography images are
representations that are waiting a person that is capable to translate them. All the things that we
have the vision, look like, in your eyes, that we can catch them, but this i s a illusion. Our
preucupation, in methodology terms, is to find, over the pictures, the enviromental circunstance,
over the politic, social and historical implication, so, all that is not accessible for commun
persons. There is the utility of a good integration between texts and images. In a big partog the
scientific works, the pictures have been used like a way to revive the memories a person that we
want some information. They are too used like ilustration, confirmation or evidence. In this
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contexts, they are used, since the 70s, in indiret methodos of valorization of the visual quality.
With methods that use photography images plus extra information obtained with questionaries,
we can find chages in the estetic preference of social groups in determinad places, after their
participation of programs about enviromental education.
KEY-WORDS: pictures, technics of research, environmental sciences.
A FOTOGRAFIA COMO TÉCNICA DE PESQUISA NAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS E
NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A Câmera Viajante
Que pode a câmera fotográfica?
Não pode nada.
Conta só o que viu
Não pode mudar o que viu
Não tem responsabilidade no que viu.
A câmera, entretanto,
Ajuda a ver e rever, a multi ver
O real nu, cru, triste, sujo.
Desvenda, espalha, universaliza
A imagem que ela captou e distribui.
Obriga a sentir,
A criticamente julgar.
A querer bem ou a protestar,
a desejar mudança...
A câmera hoje passeia comigo pela Mata Atlântica.
No que resta – ainda esplendor – da Mata Atlântica
Apesar do declínio histórico, do massacre
Deformas latejantes de viço e beleza.
Mostra o que ficou e amanhã – quem sabe? – acabará
Na infinita desolação da terra assassinada.
E pergunta: “Podemos deixar
Que uma faixa imensa do Brasil se esterilize,
Vire deserto, ossuário, tumba da natureza?”
Esse livro-câmera é anseio de salvar
O que ainda pode ser salvo,
O que precisa ser salvo
Sem esperar pelo ano 2 mil
(Carlos Drumond de Andrade. Mata Atlântica. RJ: Sete Letras,1997)
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1. Introdução
Este texto é uma proposta metodológica. Trabalhando em interfaces entre sociologia
rural e meio ambiente (WHITAKER, 2002), entre memória e meio ambiente (CINTRÃO,
1999), ciências ambientais e educação ambiental (SÉ, 1992, 1999) pudemos perceber a
importância de técnicas alternativas como desenhos, pintura, poesia e outros recursos que
podem ser utilizados como auxiliares na coleta de dados tanto nas ciências sociais como nas
ambientais. Aliás, estamos em fase de derrubar barreiras entre as ciências (multidisciplinares,
novos paradigmas, teoria da complexidade e interfaces) e ousamos dizer que tais técnicas podem
ser utilizadas em todas as ciências.
Entre as técnicas alternativas passíveis de utilização na pesquisa, nossa experiência
sugere que a fotografia poderia ser das mais férteis. Mas cumpre adiantar – fotografias utilizadas
como fonte de dados e não simplesmente como ilustração, o que passamos a explicitar.
2. A proposta
A fotografia é instrumento privilegiado para registro e denúncia de fenômenos
históricos. O "congelar" das cenas facilita a análise dos contextos. (SONTAG, 1981; DUBOIS,
1994)
Baseando-nos em Míriam Moreira Leite (1993), pretendemos discutir a fotografia no
contexto das pesquisas ambientais na atualidade, para nelas localizar os processos mais
sugestivos da preocupação da conservação e preservação ambientais.
Em seu trabalho, Leite (1993) faz uma análise histórica de como a sociedade representa
a si mesma, através de aparatos técnicos como a fotografia. Seu texto chama a atenção, ainda,
para a necessidade de contextualizar as fotografias no passado, transformando-as em
testemunhos cifrados de um tempo que é necessário redescobrir.
Os sinais de vida latente congelados numa fotografia são índices do mundo do
passado que se busca compreender e podem se transformar em testemunho de uma
realidade a ser construída.(LEITE, 1993, p.13)
As fotografias são instrumentos de reconstrução do mundo e devem ser submetidas a
um tratamento crítico, para que de fato se revelem. Elas nos conduzem para o mundo de fora,
para o outro mundo. Elas sempre nos contam uma história. Mas tais histórias têm que ser
extraídas, já que fotografias como dados, não falam por si só. É a bagagem histórica do
pesquisador que permite encontrar essa outra “História”.
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A bibliografia sobre fotografia já havia alertado que a foto não é, como pensa o
grande público e alardeia o senso comum, a prova da verdade, o registro indiscutível
da veracidade de um certo fenômeno. Ela representa apenas a visão do fotógrafo em
relação ao tema focalizado. É, portanto, uma visão parcial que pode ser
ideologicamente elaborada. (SIMSON, 1996, p. 93-94)
As fotografias históricas são todas aquelas que nos chegam às mãos prontas, tendo sido
produzidas há algum tempo, e suas relações com o momento têm que ser estabelecidas e
analisadas pelo observador.
Simson (1991), após fichar todo o acervo fotográfico da pesquisa referente ao folguedo
carnavalesco dividiu-o em dois grandes grupos, segundo as suas diferentes origens e às próprias
condições de coleta:
Fotos Frias: aquelas que praticamente só traziam as informações visuais constantes
do registro fotográfico.
Fotos Quentes: aquelas para as quais conseguimos obter uma descrição da situação
registrada e das condições e intenções do registro feita pelo doador. (SIMSON, 1996)
As “fotos quentes” possuem um caráter histórico muito importante, porque permitem
obter do doador informações da cena retratada como: registro visual, objetivos do fotógrafo e
dos fotografados ao realizarem a foto e, principalmente, dos usos sociais posteriores da foto em
questão.
Uma foto sozinha não permite fazer muitas inferências de caráter históricosociológico. Ela deve necessariamente ser associada a outros dados de pesquisa
(depoimentos orais, documentos, mapas, dados bibliográficos, além de outras fotos)
para que as informações que contêm possam ser visualizadas pelo pesquisador
dentro de um contexto mais amplo, que permitirá a ele explorar ao máximo os dados
registrados naquele suporte fotográfico. (SIMSON, 1996, pp. 96-97)
Observamos então, que os espaços quando fotografados são capazes de nos revelar
comportamentos, representações e ideologias passíveis de serem captados através das
características da imagem iconográfica: tamanho, formato, suporte, enquadramento, nitidez,
planos, horizontalidade e verticalidade. Estão ainda explícitos e diretamente acessíveis dados
ambientais, além de indumentária, objetos, desenvolvimento urbano e expressões de tecnologia.
Cabe ao pesquisador extrair da foto os dados que interessam aos seus estudos, no caso, questões
ambientais.
As imagens iconográficas são representações que aguardam um leitor que as decifre.
Tudo o que se vê parece estar ao alcance, pelo menos, dos olhos de quem vê, o que no entanto, é
ilusão. Nossa preocupação, em termos metodológicos, é justamente a de encontrar, para além da
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foto, as circunstâncias ambientais, além das implicações políticas, sociais, históricas; enfim,
aquilo que não é acessível a uma abordagem do senso comum. Daí a indispensabilidade da
legenda e da boa integração entre o texto e as imagens - quando redigido o trabalho final.
Como exemplo, vamos observar a Fotografia 1, a seguir:
Fotografia 1 – Processo de formação de voçorocas no bairro Cidade Aracy, em São Carlos-SP.
Fonte: fotografia de Ana O.A.M. Reis, DEPRN-SMA-SP, em 04/03/1999.
Ao se olhar a situação fotografada (Fotografia 1), onde se identifica um processo intenso de
erosão, pode-se, através de olhares provenientes de estudos geotécnicos e ecológicos sobre a
paisagem (AGUIAR, 1988; SÉ, 1992), relacionar este processo à ocupação humana (urbana)
inadequada de substratos bastante frágeis fisicamente, bastante suscetíveis à erosão (Arenitos da
Formação Botucatu em área de recarga do Aqüífero Guarani). Evidencia-se ainda, menor
intensidade de ravinamento na área esquerda da fotografia, onde há a proteção contra a erosão,
realizada por fragmentos de cerrado (ecossistema típico nestes substratos na região),
configurando-se assim uma das importantes funções ecológicas (sensu DE GROOT, 1992) deste
ecossistema., inclusive ‘didaticamente’ no olhar do educador. A busca investigativa das causas
desta “invasão” da área “protegida por legislação ambiental”,leva necessariamente à ampliação
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da interpretação da imagem, através de outros olhares sócio-econômico-políticos, podendo
melhor servir como subsídio nos processos de educação e ações sócio-ambientais das populações
implicadas direta e/ou indiretamente com os problemas identificados.
A fotografia impõe ao pesquisador a visão do mundo do fotógrafo: o enquadramento, a
focalização, a escala, os ângulos, a dispersão, a fixação, a granulação, o contraste e a
perspectiva. Cabe ao cientista social e ambiental superar a essas determinantes pela sua
capacidade de análise científica, que vai buscar as sutilezas não previstas pelo fotógrafo. É
possível reproduzir as fotografias que se encontram deterioradas ou amareladas pelo tempo, para
conseguir obter melhores condições de análise de conteúdo. A digitalização das imagens
aumenta as possibilidades de sua construção – e melhora sua definição em relação,
principalmente, ao meio ambiente que é o grande interesse a esta proposta.
Assim as fotografias podem ser usadas de maneira dirigida pelo fotógrafo, que impõe
sua visão de mundo ao “leitor”, mas podem também ser usadas de maneira dirigida pelo
pesquisador, que utiliza sua visão de mundo de cientista para interpretá-las. É possível dizer que
ambas as visões de mundo são ideológicas. Antonio Gramsci já o demonstrou. Diremos em
nossa defesa que a análise científica instrumentaliza o pesquisador, para apurar seu espírito
crítico e interpretativo. Cabe ao pesquisador enfrentar esse dilema. A fotografia só será uma
captação espontânea, quando a rapidez da exposição e o desenrolar da situação não permitirem
uma reconstrução ou organização do comportamento dos retratados.[J1]
Concluindo, diríamos que a leitura da fotografia tem que nos remeter freqüentemente às
circunstâncias e condições da produção, para uma compreensão adequada da mensagem
transmitida. Para isso, Leite estabelece diferentes núcleos temáticos buscando percorrer quatro
caminhos: “Do observador à imagem; da imagem ao observador; de uma imagem para outra e
do retratado para o observador." (LEITE , 1993, p. 50) Tem que ser este o empenho do
pesquisador ao enfrentar a questão ambiental.
A fotografia forma um acervo involuntário da memória e fornece rico material para o
conhecimento da vida cotidiana. Porque, além de captar uma amplitude maior que a do olho nu
(do cientista),
...fixa um campo que o olhar deixa de ver, retém o material colhido, que a memória
seleciona e esquece e passa a constituir uma técnica auxiliar de pesquisa e
arquivamento dispendiosa, mas de maior importância. (LEITE, 1993, p. 81)
A imagem fotográfica é um instrumento de pesquisa e reprodução de condições
materiais nas ciências de modo geral e nossa sugestão é de que será utilíssima na pesquisa
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ambiental porque permitirá recuperar o acontecido no espaço através da comparação no tempo
quando confrontarmos fotos de épocas diferentes. Por exemplo: uma foto do rio Tietê ou do
Pinheiros, nos anos 20/30 contrastada com fotos atuais. A documentação fotográfica, para tornar
visível o invisível, passa por diversas instâncias e precisa despojar-se das deformações com que
é vista.
É necessário ressaltar que para as fotografias revelarem traços, gestos e dimensões
espaciais, torna-se preciso entrevistar os retratados, ou os seus descendentes; para se chegar ao
imaginário das famílias sobre o meio ambiente, capaz de legar os momentos retratados e dar uma
dimensão simbólica e temporal aos fragmentos dessa história. (LEITE, 1993) – No caso uma
História Ambiental.
Continuando com Leite, a fotografia pode ser uma reprodução de um recorte de alguma
coisa existente. Muitas vezes, ela vai além daquilo que se pretendia: mais do que o retratado e o
fotógrafo quiseram que ela fosse. Os problemas da percepção e da memória visual precisam ser
compreendidos e aprofundados para dar conta da singularidade da imagem fotográfica, da
subjetividade do observador e de sua ligação com o que é representado na fotografia.
Nos trabalhos científicos em geral, as fotografias têm sido utilizadas como um meio de reavivar
a memória dos sujeitos de quem se solicita informações. São usadas também como ilustração,
confirmação ou prova, mais ainda como ampliação da percepção visual. Neste contexto, são
bastante utilizadas, desde a década de 70, em métodos indiretos de valoração da qualidade
[1]
visual de paisagens (BENAYAS et al., 1994 apud MAROTI, 2002). Segundo Paulo Sérgio
Maroti (2002), com esses métodos que utilizam as imagens fotográficas, juntamente com
informações adicionais obtidas de questionários, podemos identificar mudanças na preferência
estética de grupos sociais em determinadas paisagens, após sua participação de programas de
educação ambiental. Isto tem sido muito utilizado nos estudos que envolvem os vários grupos
sociais de interação com a Estação Ecológica de Jataí e seu entorno, no município de Luis
Antônio-SP (OBARA et al, 2000; MAROTI, 2002; FIORI, 2002).
Assim, como é preciso passar para trás dos cenários para compreender as imagens
visuais, é necessário um conhecimento prévio e direto da realidade que a imagem representa,
simboliza ou indica, para não se ficar desorientado com seus elementos constitutivos.
É preciso lembrar ainda que, segundo Leite (1993), as imagens fotográficas não são
uniformes. Existem as:
1 – Imagens - Documentos, feitas unicamente para registrar a realidade vivida ou observada, que
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dispensam elementos qualitativos e estéticos.
2 – Imagens - Símbolos, com elementos quase nunca casuais ou imponderados, que se referem a
traços específicos, ou elementos comuns da cultura.
3 – Imagens - Artísticas, desvinculadas da realidade e exclusivamente preocupadas com cânones
estéticos e de composição gráfica e
4 - Imagens criadas por meios eletrônicos, até certo ponto alheias ao mundo natural. (LEITE,
1993, p. 162)
As fotografias colhidas para os propósitos aqui expostos podem ser obtidas em cada
uma das três primeiras imagens. Podem ser tratadas como documentos, quando assim o
queremos. Em alguns momentos, são símbolos e o são em momentos importantes da pesquisa. E
podem ser, ainda, admiradas pelo caráter artístico, por que não?
Podemos congregar fotografias com técnicas de ciências humanas que já provaram
[2]
eficiência em pesquisas ambientais . Por exemplo: a entrevista do tipo “História de Vida” faz
emergir uma situação de interação social, de comunicação, na qual há o diálogo entre
pesquisador e pesquisado interagindo e defrontando-se. O pesquisador, com um projeto definido
no qual muitas vezes ocorrem mudanças, devido ao relato da existência do entrevistado no
decorrer da pesquisa, se beneficia dessa interlocução, porque um entrevistado que vivenciou
transformações ambientais ao longo de sua vida sentir-se-á motivado a falar sobre essas
modificações quando estimulado por fotografias.
Na entrevista ou coleta de depoimento oral, a análise de fotos em conjunto pelo
entrevistador e entrevistado que sentados lado a lado tentam mergulhar no fenômeno
retratado se mostrou muito útil porque:
. funcionou como elemento desencadeador do entrevistado;
. ajudou no estabelecimento de uma ponte mais consistente entre pesquisador e
informante, muito difícil de ser construída logo nas primeiras sessões de coleta de
depoimentos.
Quanto à compreensão dos fenômenos pesquisados auxiliou porque:
. forneceu bases mais sólidas para as perguntas feitas pelo entrevistador;
. ajudou na compreensão de fatos do passado ou mesmo mais recentes que pela
diferença geracional ou de classe social não eram do conhecimento dos
pesquisadores;
. sugeriu novas questões, não constantes do roteiro inicial para a coleta dos
depoimentos, mas que se mostraram úteis para a compreensão do fenômeno;
. criou uma empatia entre entrevistado e pesquisador, desde a primeira sessão de
coleta do depoimento, pois ao se debruçarem sobre as fotos, inverteu-se a posição de
poder que normalmente existe em uma situação de entrevista. O entrevistado passou
a ser o conhecedor do conteúdo da foto, assumindo o papel de introdutor do
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pesquisador nos meandros do fato ali registrado.” (SIMSON, 1988, p. 97)
Lívia Simão vai mais além ao explicar essa relação dialética:
Durante o diálogo um interlocutor interpreta continuamente o que o outro diz.
Portanto, quando uma pessoa interage num diálogo a respeito de um tema ela faz
continuamente interpretações a respeito do que a outra pessoa está dizendo sobre o
tema. Isto é, ela contribui com seu ‘próprio enfoque’ (pensamento e memória) ao
dialogar sobre o tema.
Depreender o significado do relatado sobre um tema é, em última instância,
apreender algo sobre como o sujeito pensa o tema. O pensamento não é meramente
expresso em palavras; ele passa a existir através delas. Todo pensamento tende a
conectar alguma coisa com outra, a estabelecer relações entre coisas. Todo
pensamento se movimenta, cresce e se desenvolve, preenche uma função, resolve
um problema. (SIMÃO apud SIMSON, 1996, p. 90)
Os textos acima, embora referentes à pesquisa em ciências humanas, ajustam-se como
“uma luva” em nossas propostas. Afinal, quem disse que as ciências ambientais não são
humanas? Afinal, o homem segundo Lapo (1987), é o mais importante agente da biosfera –
obviamente no sentido das transformações que provoca.
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Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo - São Carlos, 2001.
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Dissertação (Mestrado), Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São
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DE GROOT, R.S. Function of nature. Evaluation of nature in environmental planning,
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DUBOIS, P. O Ato Fotográfico. Campinas: Papirus, 1994.
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FIORI, A. Ambiente e Educação: abordagens metodológicas da percepção
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Federal de São Carlos - São Carlos, 2002.
LAPO, A.V. Traces of bygone biosphere. Moscow: MIR Publishers, 1987.
LEITE, M. M. Retratos de Família. São Paulo: EDUSP-FAPESP, 1993.
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OBARA, A.T.; SANTOS, J.E.; SCHUNK-SILVA, E. Avaliação da preferência por
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SÉ, J.A.S. O rio do Monjolinho e sua bacia hidrográfica como integradores de
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Presidente Wenceslau – SP: Letras à Margem, 2002.
e-mail: [email protected]
[email protected]
[1]
BENAYAS et al. Viviendo el paisaje – guia didáctica par interpretar y actuar sobre el paisaje.
Universidad Autónoma de Madrid, Espanha, 1994. 151p.
[2]
Bottura (1998) utilizou-se de História de Vida para complementar sua pesquisa ambiental sobre a
Represa Salto Grande em Americana – SP. Almeida (2001), por meio da memória dos velhos cidadãos
moradores em São Carlos – SP, resgatou informações do processo de degradação ambiental do Rio do
Monjolinho, associado ao desenvolvimento urbano da cidade.
[J1]Talvez
retirar isto, pois está se referindo a sua pesqsa de doutoramento, não é?
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