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REVISTA ELETRÔNICA
ACADEMIA DE TALENTOS
ISSN 1679-7280
2
EDITORIAL
DIRETOR GERAL
Dr. Edmir Kuazaqui
CONSELHO EDITORIAL
Dr. Edmir Kuazaqui
Dr. Eduardo Sansone
Dr. Gleder Maricato
Dr. Osmar Coronado
Dr. Roberto Kanaane
CONVIDADOS EXTERNOS
Dra. Marcia Gamboa
Dra. Olga Tulik
Dra. Sarah Chucid Da Viá
PRODUÇÃO GRÁFICA
Academia de Talentos
A Revista Eletrônica Academia de Talentos detém todos os direitos autorais dos
trabalhos aceitos e publicados e não se responsabiliza pelas idéias, opiniões e
conceitos emitidos, nem pelo estilo adotado pelos autores. É uma publicação da
Academia de Talentos Treinamento e Consultoria S/C Ltda.
3
REVISTA ELETRÔNICA
ACADEMIA DE TALENTOS
ISSN 1679-7280
SUMÁRIO
PREFÁCIO
•
A Nova Sociedade Contemporânea - Dr. Edmir Kuazaqui
04
EDITORIAL
•
Contribuições para a Sociedade
05
ESPECIAL
•
Pós-Graduação em Gastronomia – Dr. Edmir Kuazaqui & Ms. Celso dos Santos Silva
07
ARTIGOS
•
Marketing para o Terceiro Setor: Reflexões sobre a criação de arquétipos e de uma
imagem corporativa positiva, inserindo a organização como elemento interagente com
o ambiente de marketing contemporâneo e o turismo - Dr. Edmir Kuazaqui
•
Desenvolvimento Sustentável: O Paradigma da Região Amazônica - Ms. Liliane
Cristine Schlemer Alcântara
•
09
26
Contribuição ao Estudo da Qualidade como Instrumento de Gestão Estratégica
aplicado às empresas situadas na região de Tangará da Serra – Estado de Mato
•
Grosso – Brasil - Ms. Ivon de Mello Trella
35
Liderança: Mercadoria escassa? - Ana Maria de Luca Chamelete Menezes
40
RESENHA
•
Marketing Turístico e de Hospitalidade - Fonte de riquezas e desenvolvimento para o
Brasil - Érika Bautto
46
PROJETOS
•
A História da Cachaça - Alexandre Barbosa, Carina Svissero Kellermann Pereira,
Rafael Galea
52
4
•
A Promoção Comercial e a Marca Brasil - Hideko Sakugawa
60
DISSERTAÇÕES E TESES
•
Condições do Trabalho em Tecnologia da Informação: Impactos Bio-Psico-Morais no
Profissional, no Município de Santos - Kelly Cristina de Freitas Rodrigues
63
EVENTOS E PALESTRAS
•
Propaganda Digital – Indo Além do Banner - Cláudio Teramoto, Linda Aiko Onishi de
Carvalho, Luiz Henrique de Oliveira, Marcelo Luque, Márcia Adário Panico, Milton
•
Martins de Souza
69
Proteção do Patrimônio Mundial - Roberta Vaz De Marque
72
CONVIDADOS DESTE NÚMERO
•
Currículos
75
5
PREFÁCIO
A nova sociedade contemporânea
Provocações.
É exatamente isto que pode mover pessoas, quebrar paradigmas, construir algo novo. Em todas as
fases de nossa vida somos provocados pela sociedade, família, escola e congêneres. Somos
desafiados a ser cada vez melhores em todos os sentidos: a crescer profissionalmente, a obter
ótimas notas, a nos destacarmos em todos os campos da sociedade contemporânea. Porém,
deve-se tentar pensar diferente: construir, desenvolver, moldar, adaptar-se a uma nova realidade
que ainda não existe.
E é o propósito desta Revista Eletrônica Academia de Talentos: ser um meio e um condutor de
novas propostas, de idéias, de caracterizações, em que nos transformamos de atores provocados
em agentes de mudanças, de contestações positivas, com o objetivo do construtivismo
permanente.
Provocar!
Dr. Edmir Kuazaqui
6
EDITORIAL
Contribuições para a Sociedade
Com muita satisfação, apresenta-se, em Especial, um breve cenário sobre a Gastronomia e a
abertura da Pós-Graduação em Gastronomia, pela Universidade Paulista (Unip), redigido pelo Dr.
Edmir Kuazaqui e pelo Ms. Celso dos Santos Silva.
Em Artigos, quatro contribuições importantes: o Dr. Edmir Kuazaqui desenvolve uma reflexão
sobre a criação de arquétipos empresariais dentro do contexto da responsabilidade social e do
turismo; a mestranda Liliane Cristine Schlemer Alcântara analisa o “Desenvolvimento Sustentável:
O Paradigma da Região Amazônica”; o doutorando Ivon de Mello Trella escreve o artigo
“Contribuição ao Estudo da Qualidade como Instrumento de Gestão Estratégica aplicado às
empresas situadas na região de Tangará da Serra – Estado de Mato Grosso – Brasil”, e a
mestranda Ana Maria de Luca Chamelete Menezes, o artigo “Liderança: Mercadoria escassa?”.
Em Resenhas, a turismóloga Erika Helena Bautto desenvolve os conceitos apresentados em
"Marketing Turístico e de Hospitalidade - Fonte de riquezas e desenvolvimento para o Brasil", do
Dr. Edmir Kuazaqui.
Em Projetos, apresenta-se "A História da Cachaça", parte do Plano de Negócios desenvolvido
pelos discentes Alexandre Barbosa, Carina Svissero Kellermann Pereira e Rafael Galea, como
parte integrante de conclusão de Curso em Administração com habilitação em Gestão de Negócios
Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em seguida, "A Promoção
Comercial e a Marca Brasil", resumo da monografia final de Hideko Sakugawa, apresentado pela
pós-graduada em Marketing Internacional da Universidade Paulista (UNIP).
Em Dissertações e Teses, uma contribuição da mestranda em Administração pelo Centro
Universitário Monte Serrat (UNIMONTE) Kelly Cristina de Freitas Rodrigues, sobre “As Condições
do Trabalho em Tecnologia da Informação: Impactos Bio-Psico-Morais no Profissional, no
município de Santos”.
Em Eventos e Palestras, Cláudio Teramoto, Linda Aiko Onishi de Carvalho, Luiz Henrique de
Oliveira, Marcelo Luque, Márcia Adário Pânico e Milton Martins de Souza, pós-graduados em
Administração Geral pela Universidade Paulista (UNIP) apresentam suas impressões sobre a
palestra proferida por Rubens Yoshio Yoshida, intitulada “Propaganda Digital – Indo Além do
Banner”. Roberta Vaz De Marque, discente do Curso de Relações Exteriores das Faculdades
Tancredo Neves, apresenta suas impressões sobre o tema “Proteção do Patrimônio Mundial”,
objeto de palestra pelo prof. Fernando Fernandes da Silva e debatida pelo Dr. Edmir Kuazaqui. Por
7
fim, Convidados deste Número apresenta uma pequena biografia dos colaboradores deste
número.
Dr. Edmir Kuazaqui
8
ESPECIAL
Pós-Graduação em Gastronomia
Apresentação
Dentro dos chamados atrativos naturais e transformados, a gastronomia tem ocupado nos últimos
anos uma posição de destaque nacional e internacional. Vários fatores contribuíram para o
fenômeno:
•
O crescimento contínuo das atividades turísticas e de hospitalidade, em especial o segmento
hoteleiro;
•
A propensão da acentuação do regionalismo em detrimento da globalização econômica e
financeira;
•
O aumento da necessidade de competitividade internacional, obrigando os profissionais a
procurarem novas formas e técnicas;
•
A própria atratividade, singularidade e sedução do segmento gastronômico.
A curiosidade inicial das pessoas leigas é substituída imediatamente pela necessidade de
conhecimento técnico e profissional. O fascínio, porém, continua, seja pelo ponto de vista do
prazer sensorial como também pela própria questão da necessidade de alimentação. O Marketing
de Aromas, por exemplo - se assim pode-se dizer - complementa bastante a questão do Marketing
Gastronômico. Pode-se afirmar até que o Marketing de Aromas complementa também outros
setores, como, por exemplo, o varejo. Neste caso, só em termos ilustrativos, algumas lojas e até
supermercados utilizam aparelhos que exalam uma quantidade de aromas periodicamente,
sensibilizando os consumidores e aumentando a propensão ao consumo.
Sobre o setor
O setor gastronômico brasileiro cresce 7% ao ano. Congrega aproximadamente um milhão de
empresas, dez milhões de empregos e fatura em torno de dezoito bilhões de reais / ano. Diante
dessa realidade, inúmeras oportunidades de emprego, trabalho, investimentos e desenvolvimento
de novos negócios ocorrem diariamente num mercado em expansão contínua e carente de cursos
de especialização universitária em Alimentos e Bebidas. Nesse aspecto, de forma pioneira, a UNIP
lança o primeiro curso do País com o objetivo de atualizar, aperfeiçoar e especializar profissionais
da área de gastronomia que se encontram trabalhando em hotéis, motéis, clubes, restaurantes,
bares, buffets, casas noturnas, navios e outros empreendimentos da área de hospitalidade, onde
os serviços gastronômicos são extremamente relevantes para a maior competitividade empresarial.
9
O corpo docente do curso é formado por profissionais, empresários e professores titulados com
larga experiência didático-pedagógica, profissional e empresarial no Brasil e no exterior.
A metodologia de aulas desenvolvida segue os princípios mais modernos de formação e
capacitação gerencial voltada para a observação, a prática e o planejamento estratégico de novos
empreendimentos turístico-hoteleiros e gastronômicos.
Disciplinas
Carga horária
•
Atendimento e Serviço
45 horas-aula
•
Enologia Internacional
45 horas-aula
•
Produção de Alimentos
45 horas-aula
•
Coquetelaria Internacional
45 horas-aula
•
Plano Estratégico em Serviços
45 horas-aula
•
Recursos Humanos em Gastronomia
45 horas-aula
•
Marketing Gastronômico
45 horas-aula
•
Pesquisa Científica em Gastronomia
45 horas-aula
Total
360 horas-aula
Duração do curso em semestres: 2 semestres letivos.
Desta maneira, procurar-se-á o aprimoramento pessoal, técnico e profissional do indivíduo neste
segmento que está se tornando um dos mais promissores do século XXI.
Dr. Edmir Kuazaqui
Ms. Celso dos Santos Silva
Observação: o Dr. Edmir Kuazaqui também coordena os Cursos de Pós-Graduação em Marketing
Internacional, Administração Geral, Administração Contábil e Financeira e Secretariado Executivo
na Universidade Paulista (UNIP).
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ARTIGOS
Marketing para o Terceiro Setor: Reflexões sobre a criação de arquétipos e
de uma imagem corporativa positiva, inserindo a organização como
elemento interagente com o ambiente de marketing contemporâneo e o
turismo
Dr. Edmir Kuazaqui
Objetivos
•
Apresentar os principais conceitos de marketing relacionados à construção de imagens
empresariais e corporativas;
•
Discutir o Terceiro Setor como variável ambiental e não como segmento consumidor final
comercial;
•
Analisar a relação entre satisfação do cliente e as ações sociais da empresa;
•
Despertar a consciência social e a real aplicabilidade de ações no sentido de gerir uma
sociedade melhor;
•
Criar a discussão entre o futuro real e o futuro que podemos construir.
Resumo
Uma organização, tal qual um ser vivo, nasce, cresce, desenvolve-se, evolui e morre em função de
vários fatores e situações oriundas da sua capacidade administrativa, do gerenciamento de seus
recursos, das suas possibilidades de lucro e da forma como atende os seus clientes internos e
externos. Neste aspecto, os diferentes grupos de interesse envolvidos no Ambiente de Marketing
Contemporâneo – o Terceiro Setor, por exemplo – devem ser analisados do ponto de vista da
adaptabilidade da organização no sentido de preservar e manter suas atividades empresariais e
sociais.
As empresas e as pessoas estão passando por profundas e diferentes mudanças conceituais e
estruturais: de um modelo eminentemente agrícola e pecuário para o alicerçado em serviços e
tecnologia, em que as estruturas sociais vêm-se alterando e transferindo ao empresariado a
incumbência da transformação e desenvolvimento social, sem a necessidade fremente da empresa
em gerar resultados estritamente comerciais, mas com a importância de se inserir e interagir na
comunidade.
Palavras-chave: Marketing, Turismo, Terceiro Setor, Responsabilidade Social, Arquétipos
11
Introdução
O objeto deste texto consiste na apresentação e análise da relação do turismo com uma das
variáveis incontroláveis do Ambiente de Marketing – o Terceiro Setor. Torna-se necessário, então,
a definição do que é o Ambiente de Marketing e de suas respectivas características para, então,
discutir a ligação do marketing contemporâneo e turismo com o Terceiro Setor, sem alusão direta
ou filosóficas às inferências históricas e culturais.
O Ambiente de Marketing
Pode ser definido como um conjunto de variáveis controláveis e incontroláveis que interagem com
as empresas e seu respectivo público interno. As variáveis controláveis são aquelas sobre as
quais a empresa tem relativo controle e influência, como o mix de marketing, fornecedores,
distribuidores e mercado consumidor. Sobre este último, cita Kotler (1998),
Esses personagens-chave são classificados sob três
amplos Cs, ou seja, consumidores, colaboradores e
concorrentes (...) Colaboradores são todos aqueles,
no ambiente de trabalho, que ajudam a empresa a
desempenhar suas operações e a alcançar os
objetivos junto aos consumidores. Dentre eles estão
intermediários, fornecedores, agências de marketing e
agências de logística.
As variáveis incontroláveis são aquelas sobre as quais a empresa não tem pleno poder de
influência, necessitando adaptar seus programas de marketing às mudanças dessas mesmas
variáveis. Pode-se citar como incontroláveis aquelas variáveis ligadas à economia, governo,
política, clima, tecnologia e aos aspectos sociais dentro de um contexto de comunidade. Segundo
o autor (2000),
A empresa deve considerar o que não pode modificar
ou controlar, como as condições climáticas, políticas
ou culturais de cada país ou região. Com a
conscientização de condições particulares, a empresa
pode adaptar suas atividades de marketing.
A empresa, por vezes, não terá possibilidade de gerenciar nem influenciar fortemente as variáveis
incontroláveis, tendo que adaptar seus programas, táticas, técnicas e estratégias mercadológicas e
administrativas às mudanças e transformações de perfil do mercado. A necessidade de
adaptabilidade leva a crer que a empresa deve-se ajustar às mudanças ambientais para continuar
no mercado e não simplesmente para continuar vendendo ou vender mais. Trata-se de uma
questão mais complexa de relacionamentos de longo prazo.
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O autor considera o Terceiro Setor não como um segmento de mercado consumidor comercial,
mas como uma variável presente ambiental na qual a empresa pode (e deve) desenvolver ações e
programas sociais que visem à criação de imagem corporativa institucional positiva. De um lado, a
empresa, por fazer parte de um sistema maior, deve interagir com as variáveis com as quais tem
maior afinidade ou maiores possibilidades de melhoria contínua da comunidade em que está
inserida. De outro lado, tal fato é potencializado pela própria incapacidade das nações em gerar
programas sociais ou sustentáveis que visem a melhoria da comunidade em geral.
A segmentação de mercado consiste em entender que o mercado não é homogêneo em relação
às suas necessidades e características e que as diferenças podem ser agrupadas em segmentos
menores de mercado. Sua importância é evidenciada, conforme SEMENIK & BAMOSSY (1996):
O valor de uma análise de segmentação de mercado
cuidadosamente elaborada não apenas promove o
sucesso dos esforços de marketing, como também
melhora o desempenho de todas as fases da
operação
empresarial.
consumidores-alvo
identificados,
de
isso
freqüentemente
Quando
grande
cria
notáveis
segmentos
potencial
efeitos
sobre
a
de
são
diretos
e
eficiência
e
efetividade de todas as operações da empresa. Da
análise das necessidades de recursos humanos até a
velocidade
de
implementação
de
estratégias
competitivas, a empresa adquire a capacidade de
tomar decisões mais sagazes quando tem em mãos
uma segmentação de mercado feita de forma devida.
As transformações das estruturas etárias – migrando de uma população mais jovem para uma
mais madura, onerando as contas públicas e diminuindo a contribuição para os ativos sociais e
empresariais – são algumas das razões que levam à diminuição e à falta de investimentos sociais
e à necessidade de mobilidade privada. Segundo RIFKIN (1996):
...ao artesão medieval e operário da linha de
montagem do século atual, o trabalho tem sido parte
integral da existência diária. Agora, pela primeira vez,
o trabalho humano está sendo sistematicamente
eliminado do processo de produção. Em menos de um
século, o trabalho "em massa" no setor do mercado
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será provavelmente eliminado em praticamente todas
as nações industrializadas no mundo.
Neste sentido, a própria questão da longevidade das empresas está ligada aos diferentes fatores
organizacionais administrativos e à sua capacidade de reorganização frente às alterações e
transformações do ambiente no qual a empresa está inserida.
Diferentemente da empresa econômica, a organização longeva deverá estar, conforme GEUS
(1999),
Organizada em torno do propósito de se perpetuar
como comunidade estável. Este tipo de empresa tem
a longevidade de um rio. Diferentemente da poça, o
rio é um elemento permanente de sua paisagem. Se
chover, o rio pode subir. Se fizer sol, o rio pode baixar.
Mas somente uma enorme e prolongada seca o fará
desaparecer.
Portanto deve-se entender que a comunidade pode ser considerada como o somatório das forças
internas e externas em perfeito equilíbrio de todos os componentes humanos e empresariais,
dentro de um sistema maior com objetivos sociais.
A Ciência Turística e o Ambiente de Marketing Turístico
A Ciência Turística se diferencia daquelas ligadas à comercialização de produtos em decorrência
de vários fatores:
•
Comercializa, em sua essência, serviços - bens intangíveis -, caracterizando formas
diferenciadas de comunicação, avaliação e satisfação;
•
De maneira mais profunda, as atividades turísticas oferecem a troca e construção de
experiências singulares, desde a questão da visita a um atrativo natural (uma praia, por
exemplo) até à um atrativo transformado (como um museu);
•
Possibilita a experimentação de novos produtos e serviços, possibilitando a criação de hábitos
de consumo;
•
Solidifica e ajuda na preservação e soberania de costumes e tradições regionais e nacionais;
•
Possibilita o desenvolvimento econômico e social de acordo com as potencialidades e
particularidades de cada região.
14
E é nesse último ponto que reside a grande importância entre o Marketing, o Terceiro Setor e o
Turismo. À bem verdade, o autor considera que o Marketing - além da sua própria função básica
de vender produtos - reorganiza idéias e possibilita o crescimento econômico e social de um país.
Em todas as partes do mundo, existem profissionais, empresas, instituições privadas e públicas
que assessoram ou incentivam as atividades de serviços turísticos, no sentido de incrementar ou
auxiliar os profissionais de diferentes áreas no ramo de negócios. Ou, então, entidades não ligadas
aos setores citados, porém que, de uma forma ou de outra, interferem nas relações entre pessoas
e empresas. No passado, a decisão de quais atrativos visitar era meramente por conta do
consumidor, tendo algum respaldo das agências de turismo ou veículos de comunicação. Hoje, o
setor vem se profissionalizando de várias maneiras:
•
Produtos e principalmente serviços são oferecidos por intermédio dos Consultores de Lazer;
•
A análise técnica e profissional da atividade turística por meio do gerenciamento do Ciclo de
Vida dos Atrativos Naturais e Transformados, como Acapulco e Cancún, por exemplo; e
•
A própria pressão de competitividade das nações oriundas da abertura de mercado e
necessidade de receitas que possibilitem a manutenção e crescimento dos países.
Várias particularidades interferiram na questão do turismo. Questões relativas à evolução industrial,
à ruralização e à urbanização, à explosão demográfica e pseudo-estabilidade a partir da década de
60 (ler a teoria dos baby boomers - KUAZAQUI, 1999). A mudança de costumes e tradições se
constituíram em elementos importantes no processo histórico do turismo, que foi bastante
favorecido pelo desenvolvimento e avanço tecnológico nos setores de negócios, transportes, fluxo
de capitais, telecomunicações, como também pelo aumento das estratégias dos concorrentes,
nível de renda e disponibilidade de tempo livre de seus usuários, ou mesmo pelo ócio tecnológico
e criativo.
A Teoria do Comportamento do Consumidor e o processo decisório de compra e venda em
serviços ligados ao turismo são fortemente influenciados pela categoria do turista envolvido e em
qual mercado ele está inserido. As características e movimentos oscilantes de entrada e saída
turísticos, atividades predominantemente grupais, criando desafios às formas convencionais da
comunicação de marketing, evidenciando ser necessária a utilização de políticas integradas e
interativas mercadológicas, em que a correta e inteligente utilização das ferramentas e
instrumentos de promoção se tornam fatores essenciais, desde que o objetivo maior e final seja a
plena satisfação da criação, construção e troca de experiências saudáveis. .
Então, o ambiente de marketing representa o conjunto de forças interiores e exteriores à empresa
que influenciam seu desempenho num determinado mercado. Constitui o microambiente e o
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macroambiente. O organizador de viagens elabora seus produtos e serviços negociando com
meios de hospedagem, canais de transportes e prestadores de serviços turísticos nacionais e
internacionais que possam responsabilizar-se de parte do orçamento e investimentos em
promoção. É importante que o organizador de viagens avalie o desempenho de cada um desses
parceiros quanto à disponibilidade de satisfazer os consumidores que conduza a relacionamentos
duradouros.
Componentes do Ambiente de Marketing Turístico
É formado pela soma do microambiente e macroambiente, ambos constituídos por diferentes
variáveis controláveis e incontroláveis. É a partir da correta identificação das variáveis e análise, é
que são criadas e gerenciadas as ações estratégicas de marketing.
•
Microambiente – variáveis controláveis
É formado geralmente por: empresa como entidade jurídica e passível de gerenciamento e
administração, público interno (colaboradores ou consultores internos, fornecedores de matéria
prima (produtos e serviços), distribuidores, concorrentes diretos e indiretos, não-concorrentes,
consumidores – turistas e hóspedes, clientes, não-clientes e o marketing mix (ou seja, os famosos
4 P´s).
Características básicas dos componentes
Empresa: entidade jurídica formada com o intuito de fornecer produtos e serviços a grupos de
indivíduos já denominados consumidores. Podem ser os atrativos naturais, transformados –
hotéis, por exemplo -, ou todas as empresas que fazem parte do processo de comercialização.
Motel é uma denominação inglesa formada pelas palavras motor e hotel, que designa o
estabelecimento de hospedagem destinada à recepção inicialmente às margens das rodovias
que interligavam cidades distantes. Difere em gênero e grau do hotel, que necessita de uma
infra-estrutura mais sofisticada, com uma gama de produtos, serviços e profissionais
especializados, que possam proporcionar maior satisfação ao chamado hóspede, uma vez que
uma unidade habitacional de um hotel deve ser, em muitos casos, uma extensão natural da
residência ou mesmo do escritório. As operadoras e agências serão tratadas em capítulo
posterior. Compõem ainda os seguintes tipos de empresas que não serão objeto direto do
estudo: companhias aéreas, instituições financeiras, empresas de transporte, consultoria,
restaurantes e similares.
Público interno: formado pelos colaboradores; faz parte do ambiente interno das empresas.
Hoje em dia, a concepção de funcionários está se transformando para a formação de talentos
humanos, que são aqueles que não desempenham somente atividades ligadas ao dia-a-dia, ou
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seja, à sua rotina, mas sim aqueles profissionais que podem gerar novos negócios na
empresa.
Fornecedores de produtos e serviços: todos aqueles que fornecem matéria-prima e serviços
para outras empresas. Para o bom funcionamento dos hotéis, por exemplo, são necessários
fornecedores de alimentos e bebidas para o restaurante, e serviços de terceiros. Companhias
aéreas, durante um bom tempo, utilizaram caterings para diferenciar seus serviços dos
concorrentes, utilizando instalações e mão-de-obra própria, ou mesmo de terceiros. Nos
setores turístico e hoteleiro são inúmeros os fornecedores de matéria-prima e serviços, o que
pode otimizar o resultado final do estudo de viabilidades. A ausência de postos bancários em
alguns atrativos, por exemplo, pode representar uma oportunidade para um hotel oferecer
novos serviços a seus hóspedes, para gerar maior comodidade.
Distribuidores: a empresa pode optar por venda direta ou através de terceiros, como
operadoras e agências, por exemplo. A decisão sobre utilizar terceiros ou não depende de
vários fatores, como porte do empreendimento, recursos, presença de concorrentes, ambiente
e público.
Concorrentes: são todas as empresas que possuem missões e objetivos similares, fabricam
os mesmos produtos e serviços, comercializam nos mesmos segmentos de mercado ou
possuem estratégias similares. Neste caso são concorrentes diretos (agências que vendem
os mesmos pacotes turísticos para destinos idênticos), porém, podem produzir produtos e
serviços substitutos ou complementares, passando a ser considerados, então, como indiretos
(fornecedores de serviços e agências). Os não-concorrentes são todos aqueles que não
competem entre si, fabricando e comercializando produtos e serviços sem nenhuma ligação
(agências que vendem pacotes e serviços de correio, por exemplo).
Consumidores, clientes e não-clientes: é a própria razão de existência da empresa e o
marketing mix (equilíbrio de produto, preço, promoção e distribuição).
Existem várias táticas e estratégias, como o endomarketing, marketing de relacionamento ou o
marketing integrado, remarketing, demarketing, marketing de sincronização e global sourcing, por
exemplo, que são formas de incentivar também os públicos interno e externo, a fim de oferecer
produtos e serviços melhores ao consumidor final.
•
Macroambiente – variáveis incontroláveis
Ambiente
econômico,
político-legal,
demográfico,
geográfico,
tecnológico,
entre
outros,
representam as variáveis incontroláveis. Além do fator econômico e da globalização, já abordados
anteriormente, a empresa deve considerar o que não pode modificar ou controlar, como as
condições climáticas, políticas ou culturais de cada país ou região. Com a conscientização de
situações particulares, a empresa pode adaptar suas atividades de marketing. Por exemplo, nos
17
últimos anos, tem crescido o nível de desemprego, e o número de empregos formais tem
diminuído, decorrente inclusive do fator economia, fazendo com que a renda disponível diminua
consideravelmente e o poder de compra fique comprometido. Através de pesquisa, detectou-se
qual o valor da sobra mensal de salário, e o varejo, então, começou a oferecer produtos com
parcelamento mensal similar. A economia, portanto, é uma variável incontrolável, mas as empresas
adaptaram o mix de preço às características de mercado vigente.
Características básicas dos componentes
Governo: a atitude com relação ao turismo, dos países receptores difere daquela observada
nos países geradores. Como vários países receptores não têm objetivos de desenvolvimento
turístico precisos nem a definição do tipo de turismo que desejam atrair, ocorre uma mistura de
facilidades turísticas em uma base não planejada, freqüentemente em desacordo com o país e a
região. Além disso, muitos países não dispõem de profissionais experientes que possam assumir a
responsabilidade de estimular e coordenar o desenvolvimento turístico.
Eventualmente os governos entram em contato, com investidores estrangeiros e operadores de
tours para implementar rapidamente o desenvolvimento turístico desejado, sem o cuidado
adequado, o que acarreta resultados catastróficos.
Assim, torna-se importante a definição dos objetivos governamentais relativos ao nível e ao tipo de
turismo desejado. Esses objetivos devem delinear a importância do turismo dentro de um plano
nacional e o papel do governo no desenvolvimento do turismo que, geralmente, é planejado com
base na redução de importação e na minimização de perda de receitas, dois aspectos primordiais
a serem considerados pelo setor público.
População: os residentes locais, às vezes, perdem a boa vontade com relação aos turistas, ou
seja, uma situação de alta densidade acarreta possibilidades de atrito social. Mais pessoas
significam maior divisão de tudo e os residentes locais terão de competir com os visitantes por
vários serviços, como corridas de táxi, reservas em teatro, ou mesmo lugares para abrir as toalhas
de praia.
Esses são os efeitos sociais e culturais do turismo e relacionam-se com a maneira pela qual essa
atividade afeta as pessoas e suas comunidades. Esses efeitos, normalmente menos tangíveis do
que os econômicos, têm sido mais difíceis de ser quantificados.
Enfim, o turismo deve ser um esforço da comunidade como um todo. Os indivíduos podem
representar o mais forte ou o mais fraco fator associado a esse propósito, e as atitudes da
comunidade com relação aos visitantes poderão determinar se o turista retornará ao local e o
divulgará – fazendo propaganda boca-a-boca – coisas boas ou ruins sobre a comunidade. O
sucesso do turismo depende de uma relação intangível entre visitante e receptor que se estende
além do horizonte de hotéis, restaurantes, lojas ou estabelecimentos de recreação. Essa relação é
perceptível na aparência das ruas e casas particulares, na educação do povo, no conhecimento e
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na atitude dos motoristas de táxi, bem como em outros fatores, como preços cobrados em
drogarias, lojas e demais estabelecimentos.
A atitude da comunidade com relação aos turistas deve ser razoável. Não fosse pela sua presença,
os residentes não teriam acesso a diversos serviços nem a possibilidade de pagar por eles. Muitas
cidades não poderiam ter seus museus, bibliotecas, parques ou zoológicos senão pelas receitas
advindas de pessoas de fora dessas localidades.
Ambiente político-legal: poucos são os brasileiros, por exemplo, que não se espantam com a
aparente confusão do trânsito quando ingressam na Praça Charles De Gaulle, no centro de Paris,
onde se encontra o Arco do Triunfo. Não é para menos, pois 12 avenidas muito movimentadas
desembocam nesse local, onde deve ser respeitada a prioridade de quem está à direita. Aliás,
essa é a regra principal que deve ser seguida pelos motoristas que dirigem em toda a França, não
se levando em consideração a importância das ruas, avenidas e boulevards.
Quem vem pela direita tem sempre prioridade absoluta e razão em caso de colisão. O motorista
que não respeita essa regra é sempre o primeiro a ser responsabilizado.
Essa é talvez a advertência principal a ser feita ao turista brasileiro. Além disso, sempre que ocorre
um acidente de circulação sem danos corporais, os motoristas envolvidos devem preencher,
juntos, uma “constatação amigável”, que deve acompanhar os documentos do veículo. Neste
documento são descritas as condições do acidente, e inscritos os dados de cada motorista
envolvido. As cópias devem ser enviadas às respectivas empresas seguradoras, que
estabelecerão as responsabilidades.
Ambiente cultural: formado por características adquiridas através do aprendizado que são
básicas para o comportamento do indivíduo, e que podem ser agrupadas por populações, por
exemplo. Os norte-americanos possuem comportamentos ligados ao sucesso, família e
possuem um senso GTTP (Get To The Point). Porém, o mesmo mercado possui outras
características advindas das subculturas existentes dentro do território norte-americano, como
no caso das culturas hispânicas e latinas, que influenciam nos hábitos e costumes de
consumo. Em Nova York, por exemplo, são comercializados pelo MacDonald´s os Fajitos,
alimentação destinada aos latinos e hispânicos.
Outros componentes se agregam às variáveis incontroláveis, entre elas a evolução tecnológica e
o Terceiro Setor.
A relação entre o Terceiro Setor e o Marketing
É uma denominação relativamente recente. O Terceiro Setor é constituído, basicamente, por
entidades privadas (Organizações Não Governamentais, fundações, cooperativas e associações,
por exemplo) sem fins lucrativos, que geram satisfações e benefícios por meio de pesquisas,
orientações, produtos e serviços, públicos e privados, para uma comunidade, com o objetivo maior
de construir e solidificar uma sociedade melhor em todos os sentidos.
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Nos últimos anos, houve um considerável crescimento do segmento no mundo todo e também em
terras brasileiras. Conforme estudos realizados por John Hopkins, em 1999, mais de 250 mil
entidades empregaram direta e indiretamente mais de dois milhões de pessoas. Diante desses
números, ignorar a existência do Terceiro Setor e as respectivas ações que uma empresa ou grupo
de pessoas poderia desenvolver seria simplificar muito a questão em termos mercadológicos. O
que está em jogo é a própria perpetuidade empresarial.
Quando se envolve a questão social, percebe-se a grandiosidade até pela equiparação em termos
continentais e singularidades regionais de nosso país. Porém, poucas são as entidades
conhecidas cujos projetos e resultados têm uma divulgação mais apurada e uma continuidade ou
aprofundamento nas relações com a comunidade.
A relação de projetos sociais confunde-se em muitos casos com o próprio plano estratégico da
empresa e as relações de deficiências do governo em gerir a sustentabilidade de uma
comunidade. A bem da verdade, são as deficiências estruturais da comunidade que geram a
necessidade de ações por parte de entidades privadas ou similares, no sentido de contribuir
positivamente no environment. A divulgação das ações sociais provenientes de uma empresa não
deverá ser feita no intuito da promoção mas sim no sentido de incentivar novas práticas e informar
os diferentes grupos de interesse.
Neste sentido, dentro do Plano Estratégico de Marketing de uma empresa, são necessárias a
criação e o desenvolvimento dos chamados quatro Ps – Produto, Preço, Promoção e Ponto de
Distribuição. Cada um dos itens citados perfaz um mix, isto é, um conjunto equilibrado e
complementar que visa satisfazer necessidades e desejos de uma determinada população.
O mix de Promoção é a soma da propaganda, publicidade, relações públicas, venda pessoal e
promoção de vendas. Embora deva haver um verdadeiro equilíbrio entre todos os componentes do
referido mix, concentra-se este estudo na questão de como uma organização pode utilizar o mix de
Relações Públicas no sentido de construir arquétipos e desenvolver uma imagem corporativa
positiva perante os diferentes grupos de interesse.
Tabela I – Composto Promocional
Componentes
Propaganda
Características e objetivos
Visa propagar conceitos, produtos, serviços, empresas e
pessoas por meio dos diferentes veículos de comunicação
persuasiva. Tem como objetivo a venda do produto, e
20
geralmente envolve compromissos e relacionamentos de
longo prazo.
Publicidade
Visa tornar público conceitos, idéias, pessoas, produtos,
empresas e serviços no sentido de estimulá-los de maneira
gratuita.
Geralmente envolve relacionamentos de longo
prazo.
Relações Públicas
Visa
afastar
a
imagem
negativa
organizacional
e
principalmente identificar os diferentes públicos de interesse,
no sentido de construir uma imagem positiva, posicionando e
diferenciando a empresa. São ações ou estímulos que
geralmente envolvem relacionamentos de longo prazo.
Venda Pessoal
Visa vender produtos e serviços por meio de influência
pessoal
–
vendedores.
É
alicerçado
por
diferentes
ferramentas e ações como o telemarketing, por exemplo. São
geralmente estímulos que envolvem relacionamentos de
curto prazo.
Promoção de Vendas
Visa incentivar a venda de produtos e serviços no mínimo
espaço de tempo, por meio de ações, como redução de
preços,
brindes,
ofertas
e
assemelhados.
Propicia,
geralmente, relacionamentos de curto prazo.
Conceitualmente e de maneira prática, um dos melhores componentes, em razão de custo e
principalmente credibilidade aos diferentes grupos de interesse externos à empresa, é o composto
de Relações Públicas.
A correta utilização das ferramentas de Relações Públicas pode contribuir para a construção de
uma imagem preferencial pela empresa ou mesmo pela marca de um produto ou serviço. Por meio
dessas ferramentas, por exemplo, podem-se disseminar notícias e fatos positivos sobre a empresa,
suas ações sociais aos respectivos públicos interno e externo. A forma como a empresa divulga
suas ações sociais pode fazer grande diferença entre uma imagem positiva e outra negativa.
Essas ações não devem ser confundidas com ações comerciais, pois são uma simpática tentativa
da organização de gerir resultados sociais.
Entende-se por ferramentas de Relações Públicas todas as ações que visam construir uma
imagem posicionando a empresa, o profissional, produtos e serviços de acordo com o segmento-
21
alvo pretendido. A construção da imagem corporativa pode ser desenvolvida por meio de new e
press-release1, patrocínio, eventos, comunicação pessoal e empresarial, por exemplo.
O relacionamento das empresas com o Terceiro Setor encontra-se em fase embrionário e passível
ainda de um certo cuidado. Conforme pesquisa não-probabilística realizada pelo autor deste texto,
grande parte das empresas que desenvolvem programas sociais precavêm-se quanto à divulgação
de suas ações, no sentido de não as banalizarem, isto é, não querem a associação direta de suas
ações sociais com a venda simplesmente.
A ação social como Missão de uma empresa
Segundo estudos de Philip Kotler e Karen F. A Fox (1994), o Marketing de uma empresa é
desenvolvido para propiciar um sucesso maior ao atendimento da missão da empresa, melhorar a
satisfação de seus diferentes públicos, atrair diferentes tipos e categorias de investidores, e
melhorar a eficiência das atividades mercadológicas.
Sobre um dos benefícios – melhorar a satisfação de seus diferentes públicos –, pode-se
discriminá-los como internos e externos. O público interno pode ser visto como os colaboradores
internos que também fazem parte da comunidade na qual a empresa está instalada. O público
externo é formado por todas aquelas organizações ou pessoas – concorrentes, instituições
públicas e privadas e a comunidade como um todo, por exemplo.
Neste aspecto, a empresa deve entender que as ações comerciais geram, de certa forma, um
retorno também comercial, porém, ações sociais trazem um retorno subjetivo que pode conduzir a
relacionamentos de longo prazo, propiciando um ciclo de vida corporativo mais extenso e
sustentando uma imagem corporativa saudável.
A criação de arquétipos sociais e a construção de imagem corporativa
Os fatores de qualidade (como a competência, conhecimento e espírito empreendedor) fazem
parte do nosso cotidiano pessoal e profissional, e algumas atitudes de empresas podem constituir
arquétipos que, se bem incorporados e trabalhados pela organização, podem se tornar uma
alavanca para a continuidade de sua existência, fazendo com que haja a sobrevivência,
manutenção, crescimento e expansão empresarial.
As ações mercadológicas podem influenciar positivamente toda a comunidade, transformando
socialmente a sua população, cuja melhoria na qualidade de vida pode ser patrocinada por
entidades públicas e privadas.
1
Inserções gratuitas de notícias em veículos de comunicação. New release é a notícia em si e o press- release
a notícia já publicada. Uma notícia, reportagem ou citação em veículos de renome e credibilidade trazem ao
assunto uma imagem mais positiva do que se forem utilizados outros componentes do mix de promoção.
22
Em contraponto, RIFKIN (1996) afirma:
O serviço do terceiro setor e os grupos de defesa são
as hastes dos pára-raios para redirecionar a crescente
frustração de um grande número de desempregados.
Seus
esforços
para
reascender
o
espírito
de
participação democrática, bem como para forjar um
senso comunitário renovado, determinarão em grande
parte o sucesso do setor independente como agente
transformador para a era pós-mercado.
E é neste ponto que se pode realinhar a sociedade pós-globalização: transformação e participação
motivando de maneira intrínseca e extrínseca toda uma população.
A Ecovias, por exemplo, por meio de um plano estratégico, constrói estradas, preservando o meio
ambiente e aproveitando a população local como força de trabalho. Em vez de transferir recursos
humanos para a construção de rodovias, aproveita o contingente local, incrementado a renda e o
fortalecimento regional. Em casos anteriores, a mão-de-obra era de outras localidades e parte
permanecia no local após o término das obras, aumentando a pobreza e a precariedade das
condições mínimas de vida.
“Reciclando Cidadãos” foi um projeto desenvolvido pelo autor, pelo corpo discente de uma
Instituição de Ensino Superior e por uma ONG internacional. A idéia era a recuperação, ou melhor,
a transformação de moradores de rua em verdadeiros cidadãos. Os resultados, embora pequenos,
serviram como base para a reintegração de indivíduos na sociedade, o que constitui um verdadeiro
exercício de cidadania e construção de uma sociedade melhor.
Desta maneira, os arquétipos sociais são construídos no sentido de preservar a existência da
empresa na comunidade na qual está inserida. A integração pode resultar no posicionamento
competitivo organizacional, sendo, portanto, uma ação estratégica de grandes resultados.
Desta maneira, torna-se necessária a construção e avaliação de instrumentos que
possibilitem a comparação e análise de ações que visem à melhoria social, como o Balanço
Social, por exemplo.
O Balanço Social
O instrumento gerencial procura contemporizar o equilíbrio de três elementos básicos:
23
•
O capital econômico, que visa agregar o lado contábil e financeiro do processo e que
serve como um dos principais e comuns instrumentos de avaliação (mas não o mais
importante), dada a sua relação com o mundo empresarial e a visão um tanto mecanicista
financeiro, ou seja, capitalista de nossa sociedade;
•
O capital humano, no sentido da valorização do ser humano dentro das instituições e sua
relação com o environment. De maneira seqüencial, o capital intelectual, no sentido de que
os recursos humanos não são somente destinados para o fazer, mas também para o
pensar;
•
O capital social, que é basicamente o elemento principal, objeto de avaliação em que
podem ser analisados os resultados tangíveis e intangíveis obtidos a partir das práticas e
ações da empresa e de seu capital humano no ambiente onde residem.
O Balanço Social pode ser um instrumento de avaliação em relação às transformações
sociais de uma comunidade; deslocando recursos muitas vezes táticos para transformações
estratégicas, pois visam à questão da continuidade de relacionamento empresa-cliente.
Como se trata de algo novo, sabe-se dos benefícios mas não com certeza da
mensurabilidade de recursos em detrimento aos benefícios. Nota-se então da necessidade
de uma pesquisa científica experimental e de outra envolvendo estudos de caso, no sentido
de uma melhor avaliação e tomada de decisão.
Como existem três visões diferentes (econômica, humana e social) a empresa deverá
desenvolver seu diagnóstico (presente) e estabelecer as metas e objetivos sociais
necessários para que atinja o cenário ideal (futuro). Para tanto, a convergência de valores da
empresa é uma das principais características de sucesso no processo de mudança e
transformação de um modelo capitalista para um eminentemente social. O comprometimento
e o espírito participativo são importantes para a formação dessa nova mentalidade
administrativa.
Reconhecer a importância do social e as atividades que agregam valor
De certa forma, a mobilização de algumas empresas e movimentos de divulgação e ações como as de turismo, por exemplo - servem para recrudescer e tornar mais factíveis as ações
das empresas. A compreensão da correta utilização dos instrumentos e benefícios auferidos
partem do momento em que o indivíduo entende sua relação com o cotidiano. Desta forma,
as ações turísticas servem como ferramenta de alavancagem do conceito da necessidade
das ações sociais.
24
Desta maneira, o Balanço Social pressupõem toda uma série de demonstrativos que visam
evidenciar os recursos utilizados para a comunidade - origem e destino. De uma maneira
mais futurística, por que não entender que a própria empresa, principalmente a privada, se
torne uma espécie de patrimônio público. Não pela questão da posse de direito de seus
ativos mas pelo conceito da inserção da empresa na sociedade e de sua importância como
instrumento de mudanças e transformações.
Desta forma, inexistirá a entropia do sistema, permanecendo o ambiente em equilíbrio, ou
pelo menos, na direção e intenção desejadas.
Conclusões
Ao mesmo tempo em que a preservação do ambiente e ações sociais voltadas para o local onde a
empresa está inserida tornam-se necessidades contemporâneas, não devem ser compreendidas
como atitudes empresariais e de venda que visem somente ao retorno comercial do capital
investido.
A própria existência empresarial deve ser entendida como uma forma de integração e inserção
social na comunidade, que visa primordialmente à continuidade de suas atividades como empresa.
Tal qual o corpo humano, cada órgão é importante e depende de outros órgãos para atingir o
equilíbrio total. Talvez, mais que o equilíbrio, a própria questão da responsabilidade social e o
exercício da cidadania podem conduzir a uma qualidade de vida melhor para a empresa e para a
comunidade onde desenvolve suas atividades empresariais.
Resta-nos o grande desafio contemporâneo:
Crescer simplesmente, ou crescer de maneira sustentável, de modo a possibilitar a perfeita
integração, interação, continuidade e crescimento dos negócios corporativos sociais.
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27
Desenvolvimento
Sustentável:
O
Paradigma
da
Região
Amazônica
Liliane Cristine Schlemer Alcântara
Resumo
A presente análise visa levar a uma reflexão sobre a exploração da Amazônia pela agricultura e
pecuária e de como superar este desafio através de um desenvolvimento sustentável dentro de
uma visão holística capaz de integrar a sociedade atual aos modelos de civilização vigentes. Uma
alternativa para superar este desafio é promover uma metodologia capaz de resolver o paradigma
de um desenvolvimento sustentável dentro dos limites da conservação.
Deduz-se a necessidade de uma abordagem sistêmica, criando lideranças interdisciplinares,
através de projetos conscientes para a solução de um desenvolvimento regional integrado, usando,
de forma eficiente, os recursos humanos, materiais, financeiros e tecnológicos disponíveis, para a
mobilização da população local, atendendo as suas necessidades básicas sem agredir o meio
ambiente.
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Liderança interdisciplinar, Meio ambiente,
Paradigma, Recursos naturais.
Objetivos
Promover, em áreas rurais, um desenvolvimento sustentável, reduzindo a pobreza e a
desigualdade social através da preservação do meio ambiente, de atividades econômicas e de
serviços locais com uma rede de informações atualizada.
Sob este aspecto, atender às necessidades dessas comunidades, através da capacitação dessa
população para a tomada de iniciativas através da conscientização, otimizando resultados,
agregando valores aos produtos locais, bem como viabilizar para o produtor uma comercialização
efetiva para sua produção.
Introdução
A humanidade se defronta hoje com dois grandes problemas: de um lado, o problema social, e de
outro, o problema ambiental. Enquanto milhares de seres humanos vivem e morrem na miséria,
uma minoria luta por um maior poder econômico, causando a ruptura do ecossistema global
através da degradação do meio-ambiente. Surge então uma tentativa de solucionar o problema
através de um novo estilo econômico: o Desenvolvimento Sustentável.
28
Com o advento do capitalismo, da mais valia, o problema ecológico surgiu como uma sombra no
desenvolvimento econômico e cresce à medida que o desenvolvimento aumenta. Dentro deste
conceito, o homem procura cada vez mais espaço dentro do sistema em que está inserido.
O desenvolvimento de um País depende do seu crescimento econômico que, por sua vez,
depende da correta utilização dos seus recursos naturais. O termo Desenvolvimento Sustentável,
até então desconhecido, surge como uma forma de promover a conservação da bacia hidrográfica,
da biodiversidade, das jazidas minerais e da cultura local.
1 – A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A questão ambiental é um tema presente nos dias atuais e, apesar da preocupação justificada com
o processo econômico através da utilização racional dos recursos de um ecossistema, o termo soa
para muitos como mais um modismo.
As atuais e crescentes questões da degradação ambiental, cada vez mais abrangentes e
iminentes, constituem um verdadeiro desafio para o homem, inicialmente local e gradativamente,
regional, nacional e internacional, relacionados com a realidade econômica, ambiental e cultural de
todos os países do mundo.
No âmbito internacional, destaca-se entre os princípios internacionais do desafio ambiental: a
“Declaração de Estocolmo/72”, I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
realizado em Estocolmo, de 05 a 16 de Junho de 1972, segundo a qual a “proteção e a melhoria do
ambiente humano constituem desejo dos povos do globo e dever de todos os Governos”. Desse
encontro, emergiu o conceito de ecodesenvolvimento, o qual derivou para o conceito de
Desenvolvimento Sustentável, cujo objetivo é “a conservação e a preservação do ecossistema”. O
equilíbrio ambiental tornou-se um assunto que envolveu um grande número de nações e chegouse à conclusão de que deveria ser redimensionado o desenvolvimento das nações em bases
ambientalistas. Essa foi a primeira reunião internacional a definir os direitos da humanidade a um
meio ambiente equilibrado e produtivo2.
Em 1983, a Organização das Nações Unidas criou a Comissão Mundial sobre o Meio-Ambiente e
Desenvolvimento, com o objetivo de aprofundar estudos sobre a situação ambiental mundial e
propor alternativas e soluções para estes problemas. Essa Comissão publicou, em 1987, o relatório
denominado “Nosso Futuro Comum”, cuja diretriz é a de unir o desenvolvimento econômico e o
meio-ambiente, através de um Desenvolvimento Sustentável. Neste documento surge o conceito
de Desenvolvimento Sustentável que é: ‘[...] atender às necessidades do presente sem
2
Texto com base em leituras de várias bibliografias que fazem referência ao processo de Desenvolvimento
Sustentável e sua evolução até os dias de hoje.
29
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades’
(CMMAD, 1988:46)3.
No Rio de Janeiro, vinte anos depois, em 1992, deu-se a Conferência Mundial sobre o MeioAmbiente e Desenvolvimento (ECO-92) com o objetivo, segundo Souza (1993) de ‘[...] avaliar como
os critérios ambientais haviam sido incorporados nas práticas e no planejamento dos países desde
a conferência de Estocolmo’. Como resultado de suas discussões, surgiu a Declaração do Rio/92
(ou Carta da Terra) e a Agenda 214 A Declaração do Rio propõe princípios como: [...] estabelecer
acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema
global de ecologia e desenvolvimento’. A Agenda 21 tem ações no sentido de enfrentar problemas
atuais e preparar a entrada do próximo milênio, dentre os quais a agricultura sustentável,
desertificação, biodiversidade, florestas, biotecnologia, clima, água e assuntos diretamente ligados
ao empreendimento rural.
Outro conceito conhecido é: “Satisfazer as necessidades da geração presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras para satisfazer as próprias” (Comissão Brudtland, 1987).
O Desenvolvimento Sustentável é concebido como um processo planejado de intervenção do
governo e da sociedade, direcionando suas ações, programas e projetos para as comunidades, de
modo a viabilizar opções, utilizando as potencialidades existentes na dimensão econômica, social,
política, espacial, cultural, ambiental e institucional.
Diante desta progressiva complexidade das questões ambientais, a ONU realizou em 2002, o mais
importante evento ambiental, no qual se discutiram os problemas ambientais: Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, do dia 26/08 a 06/09, em
Johanesburgo, na África do Sul. O objetivo desse encontro foi examinar os obstáculos que
impediram a aplicação do acordo do Rio em 1992. Neste encontro também se discutiram medidas,
entre as quais figura os recursos financeiros e institucionais necessários para resolver questões
ambientais surgidas desde 1992, como a escassez da água doce, a perda de solos agrícolas
produtivos, de florestas e de diversidade ecológica, e o aumento da pobreza no mundo.
3
CMAAD – Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983, pela
Organização das Nações Unidas, cujo objetivo é estudas a situação ambiental mundial e propor alternativas e
soluções para estes problemas.
4
Agenda 21 – Plano de ação que acompanha os acordos assinados durante a realização da United Nations
Conference on the Environment and Development (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento – ECO 92).
30
2. O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Para que ocorra um Desenvolvimento Sustentável, é necessário que o mesmo contribua, criando
novas oportunidades de emprego e constituindo-se numa perspectiva de crescimento pessoal.
Começando pela cultura local que deve ser valorizada através de fatores, tais como5:
•
Incentivo ao ecoturismo;
•
Fortalecimento de marcas locais e dos serviços e produtos resultantes do trabalho;
•
Integração e verticalização da produção;
•
Planejamento de agroindústrias;
•
Sistemas de comercialização efetivos;
•
Criação de cooperativas e associações.
•
Promoção de mercados regionais;
•
Cursos nas áreas técnicas e lideranças;
•
Energia renovável.
As comunidades rurais precisam resgatar seus valores através de instalações comunitárias como:
escolas rurais, postos de saúde, comunicação, iluminação, hortas comunitárias, lazer e integração
cultural.
A reforma agrária, através dos assentamentos, deve ser regionalizada, orientada por técnicos e
especialistas para facilitar acesso a tecnologias e aos mercados para a colocação da produção nos
mercados. De acordo com a Medida Provisória 1511/97, em assentamentos já projetados, o corte
raso para agricultura só será permitido em 20% da área; os demais 80% só poderão ser
explorados por meio de plano de manejo florestal sustentado. Como as parcelas individuais dos
assentamentos não têm extensão suficiente para viabilizar economicamente o manejo sustentado,
há a necessidade de se elaborar projetos coletivos de desenvolvimento sustentável6.
3. PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
As políticas da Amazônia sempre são discutidas em função de valores e interesses de grupos
sociais, nunca em função da região e dos envolvidos, e das características regionais. Os
agricultores e pecuaristas, sem conscientização, causam a destruição da floresta nativa, a
degradação do solo e a extinção da fauna e da flora da região, através das derrubadas
sistemáticas das florestas.
5
6
Adaptação da autora com base em leituras sobre o tema e de pesquisas bibliográficas na área.
Texto extraído da Agenda Ambiental, Programa “Terra que te quero Verde” da ocupação da Amazônia e da
Mata Atlântica, (Gabinete do Ministro Extraordinário de Política Fundiária, Ministério do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1998).
31
O fracasso na tentativa de impor projetos e/ou tecnologias a comunidades rurais vem se tornando
um paradigma do desenvolvimento sustentável. Os agricultores nem sempre têm convicção sobre
o que está sendo dito e sobre o que será feito.
Apesar da limitação de conhecimento dos integrantes das comunidades rurais, são eles que
melhor compreendem suas necessidades e a potencialidade de suas terras. A sustentabilidade
econômica do meio rural deve partir do princípio de que o homem é o centro de todo projeto de
Desenvolvimento Sustentável e este objetivo só vai ser atingido através da inclusão social.
A agricultura perene oferece a capitalização para os pequenos agricultores, porém, seu baixo
preço de comercialização, a falta de mercado e as estradas intransitáveis para a escoação da
produção desestimulam este tipo de atividade, sendo substituída pela atividade agrícola e
pecuária, que causa o êxodo rural e o desemprego.
Um corpo técnico de lideranças interdisciplinares, através da integração das diferentes áreas de
conhecimento, de trabalho cooperativo, da troca, do diálogo e do planejamento, é importante no
processo de implantação do desenvolvimento sustentável, o qual deve ser introduzido através de
debates com as comunidades em questão, ocorrendo uma internalização do conhecimento e do
aprendizado.
As lideranças devem ser capazes de estimular as capacidades locais a agirem com sinergia junto
às comunidades, identificando potencialidades para representarem os grupos junto a instituições
que servirão de parceiros nesta jornada.
A grande maioria das comunidades rurais tem baixa sobrevida, em decorrência de alguns fatores,
como:
•
Ausência de estudos de viabilidade econômica, financeira e técnica;
•
Falta de economia de escala;
•
Baixa capacidade de comercialização;
•
Baixo nível de organização dos produtores rurais;
•
Desconhecimento da legislação tributária;
•
Falta de compromisso dos órgãos públicos;
•
Descrença nos projetos.
A abertura de um processo de assentamento sem acompanhamento de técnicos dos órgãos
competentes transforma a ocupação em tragédia ecológica. Sem capacitação e orientação
profissional, começam a vender todos os recursos de que dispõem até a degradação total da terra.
Derrubam as árvores não para a construção de casas, mas para vender a madeira a preços
32
módicos para as madeireiras locais. Sem recursos financeiros e materiais, se desfazem da
propriedade e se tornam moradores da periferia da cidade.
4. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DA REGIÃO AMAZÔNICA
A Amazônia detém 30% das florestas tropicais do mundo e possui cerca de 20% das espécies
animais da terra. A água é abundante. Talvez por isso há pouca preocupação com os recursos
hídricos e com o abuso no desmatamento, a qual aumenta a erosão e a desertificação com a
mudança no regime hídrico dos rios.
Os problemas ambientais, decorrentes da ocupação da bacia amazônica, concentra-se nas
florestas, deixando o ambiente da bacia aquática em segundo plano, o que poderá levar a
conseqüências, diretas e indiretas, nos recursos hídricos da região. A água é essencial, tanto para
os homens como para os animais, e para a biodiversidade natural da região.
Intervenções no sistema natural, como: mau manejo da terra, usinas hidrelétricas, irrigações,
indústrias, desmatamentos, queimadas e exploração incorreta dos solos trazem conseqüências
desastrosas para o sistema natural. Os grandes projetos agropecuários e agroindustriais usam a
terra de forma intensiva, resultando na mudança do regime hídrico, sendo que nesses
empreendimentos não há nenhuma preocupação com as matas ciliares ao longo dos rios e
igarapés, causando modificações nos leitos dos rios, eliminando ainda plantas e animais que vivem
neste local, bem como acabando com a cobertura florestal que exerce um papel fundamental no
amortecimento do impacto e na absorção do volume de água das chuvas, deixando o solo
desprotegido, levando ao assoreamento dos rios, causando erosões, inundações e deslizamentos.
As próprias cidades em torno da região Amazônica não possuem infraestrutura, os esgotos
domésticos misturam-se às nascentes de água e ao leito dos rios, contaminando os mesmos e
aumentando o número de doenças.
Para um manejo racional dos recursos hídricos, é necessário que não se permita à destruição das
matas ciliares, pois ao mesmo tempo em que se aumentam cabeças de boi, perdem-se peixes. A
integração da economia local, com a biodiversidade natural, a floresta e os recursos hídricos, fazse necessária à medida que a sua conservação e preservação são fundamentais para a
sobrevivência dos seres vivos. Necessita-se de um equilíbrio entre o homem e a natureza,
conscientizando, através de educação ambiental, sobre a importância da água. Faz-se necessário
um controle mais eficaz das atividades desenvolvidas na região, através de fiscalização, visando
informar e educar os envolvidos quanto a um modelo de Desenvolvimento Sustentável.
5. MITOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
33
O principal mito de que para promover um desenvolvimento é indispensável desmatar a floresta
ainda é defendido por pecuaristas e madeireiros da região e seguido por pequenos agricultores,
decorrentes de programas como o do Presidente Castelo Branco: Plano de Ação Econômico do
Governo (PAEG), do Presidente Costa e Silva, entre 1967 e 1969: Plano de Desenvolvimento
Econômico (PDE), do Presidente Emílio G. Médici: I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND),
de 1972 a 1974 e, finalmente, o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) em 1974 do
Presidente Geisel, que envolveram questões culturais, incentivando a especulação fundiária da
época, o qual sobrevive até hoje. Esses projetos apresentaram diretrizes e objetivos econômicos
comuns7:
•
Controlar a inflação;
•
Estimular as exportações;
•
Atrair capital e tecnologia estrangeira;
•
Modernizar a indústria e a agropecuária;
•
Reduzir os desequilíbrios regionais, e
•
Ocupar a Amazônia, integrando o País.
Esses projetos, apesar de apresentarem diretrizes e objetivos econômicos, incentivaram a
destruição das matas e, com isso, muitos animais e plantas foram eliminados. O desenvolvimento
a qualquer custo, visto como uma responsabilidade de todo cidadão brasileiro, não previa a
destruição do meio ambiente.
A invasão da Amazônia, impulsionada pelos governantes na ocupação de novas terras, com o
intuito de desenvolver a agricultura brasileira. Em 1960, iniciou-se a aplicação de incentivos fiscais
na região, intensificada com a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM), órgão do Ministério do Interior, extinto em 2001, por práticas indevidas dos
administradores. O Governo Federal tomou novas medidas para acelerar o desenvolvimento e a
colonização da Amazônia, como o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
(POLAMAZÔNIA), em que estavam previstos grandes investimentos: novas estradas, usinas
hidrelétricas, comunicações, projetos de exploração mineral e apoio a empreendimentos
particulares no setor da agropecuária.
A Amazônia, pelo seu território imenso e pelas suas riquezas, constituiu um desafio e uma
promessa. Entretanto, entre os problemas da Amazônia de hoje, destaca-se a devastação do meio
natural, a proteção dos povos nativos, a defesa dos legítimos interesses dos posseiros, a solução
imediata dos graves conflitos em torno da posse das terras, e a atuação das grandes empresas
nacionais e multinacionais na região. Entre todos estes problemas causados pela exploração da
7
Texto do livro de OSPB (Organização Social e Política Brasileira), III PND: uma estratégia flexível para o desenvolvimento.
34
Amazônia, um dos maiores é o extrativismo mineral: o garimpo tornou-se responsável pelo
mercúrio jogado nos rios e é causador de sérias intoxicações. Os agrotóxicos usados na agricultura
e os pesticidas da pecuária são jogados nos rios, poluindo a água que a população e os animais
consomem. A falta de infraestrutura nas cidades construídas em torno de suas atividades
econômicas inviabiliza a qualidade de vidas das pessoas.
A atividade econômica da pecuária entra em conflito com a floresta: na época de chuva, faltam
pastos e são derrubadas mais matas, na tentativa de ampliar a atividade. As queimadas se
intensificam na época da seca, como forma de limpar os pastos, principalmente nos meses de julho
e agosto. As ocupações de novas áreas não contribuem para o desenvolvimento da agricultura. O
simples crescimento extensivo provoca o desperdício de recursos materiais com as derrubadas e
as queimadas predatórias.
Uma das soluções para estas áreas queimadas seria o abandono das mesmas por um longo
período de anos, para a sua recuperação, o que se torna inviável para os pequenos produtores
rurais, pelo tamanho de suas propriedades e pelos seus recursos limitados, tornando-se,
entretanto, uma solução para as grandes propriedades latifundiárias e capitalistas, que podem
fazer rodízios de culturas agrícolas em suas grandes propriedades.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a economia do País, o reflexo de desenvolvimento sustentável é um aumento e um estímulo
para o mercado interno. Nesse sentido, a região Amazônica, como reserva biológica, interessa a
todos os seres vivos, por deter uma riqueza de recursos naturais, assumindo um aspecto relevante
na área social, política e econômica.
A educação ambiental deve estabelecer uma aliança entre o homem e a natureza. A proteção
ecológica é uma obrigação de cada indivíduo e de todas as nações, este é o novo paradigma.
O desenvolvimento leva a mudanças ambientais e, apesar da ocupação irracional da Amazônia, a
situação não é irreversível. O caminho para um desenvolvimento sustentável, junto à natureza,
ainda está aberto. O mundo hoje está mudando e não se admite mais um desenvolvimento à custa
da depredação do meio-ambiente. Sabe-se que é mais fácil e econômico promover um
desenvolvimento em bases conservacionistas do que despoluir o ambiente.
Neste novo paradigma, a agricultura tem um papel fundamental, já que é responsável não só pela
geração de empregos, mas também pela produção de alimentos para a população.
35
A exclusão social, os altos custos e a falta de incentivos nacionais em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) dificultam uma estratégia de desenvolvimento fundamentada na própria
região. Assegurar projetos nacionais é um caminho certo para a consolidação da nação. Projetos
internacionais derivam de uma apropriação da região Amazônica, através do controle do uso do
território, sob o cerne do desenvolvimento sustentável.
Associações e sindicatos devem estar ao lado dos agricultores, estimulando projetos sociais e a
permanência do produtor na terra e o uso racional da mesma, viabilizando pesquisas que visem à
melhoria das condições de cultivo, da produção e do retorno econômico, fomentando as culturas
permanentes. A criação de leis que consideram o desmatamento excessivo e a exploração da
madeira como crime ambiental, além de proporcionar uma educação ambiental aos filhos dos
produtores rurais, é essencial para o sucesso do Desenvolvimento Sustentável.
Os modelos sustentáveis, usados pelos índios, deveriam servir como pontos de referência para o
uso racional da floresta, através da cultura de subsistência, da preservação e da conservação dos
recursos naturais. Uma parceria entre Universidades e instituições de pesquisas, bem como
medidas informativas, orientadoras e educacionais, junto aos respectivos governos e comunidades
locais, é indispensável à formação de uma consciência ambiental, que se intensificará para um
fortalecimento em favor da Amazônia e contra a sua degradação, já que a globalização colocou o
desafio ecológico como questão de sobrevivência da humanidade, e a Amazônia é o símbolo deste
desafio!
Referências
ANDRADE, José Geraldo de. Introdução à administração rural. UFLA/FEPE. Lavras: 1996.
CAVALCANTI, Clóvis. Desenvolvimento e natureza: estudo para uma sociedade sustentável.
2ª ed. São Paulo: Cortez, 1998.
Cimeira Mundial sobre desenvolvimento sustentável: Joanesburgo, 2002 – Rio + 10. Centro de
informação das Nações Unidas em Portugal. Disponível em:
WWW.onuportugal.br/ ENV/DEV/55 PI/1318. Acesso em: 24 ago 2002.
PAVAN, Crodowaldo. Uma estratégia latino-americana para a Amazônia. Memorial. São Paulo:
1996.
ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Meio ambiente e dinâmica de inovações na agricultura.
Annablume/FAPESP. São Paulo: 1998.
TEIXEIRA, Francisco Maria Pires: DANTAS, José. OSPB: organização social e política
brasileira. 7ª ed. Ática. São Paulo: 1982.
36
Projeto para um Estudo da Contribuição ao Estudo da Qualidade
como Instrumento de Gestão Estratégica aplicado as empresas
situadas na região de Tangará da Serra – Estado de Mato Grosso
– Brasil.
Ivon de Mello Trelha
Objetivos
•
Formular um modelo conceitual de qualidade como suporte de um sistema de informações
que, simultaneamente, apóie o planejamento de resultados, para auxiliar os gestores a
atingirem seus objetivos .
•
Corroborar com os empresários que, de um modo geral, ao receberem as informações de um
sistema, devem tê-las prontamente, sem a necessidade de conciliar informações vindas de um
sistema com as de outro, ou mesmo realizar processamentos adicionais, a fim de obter o
resultado econômico desejado, em nível de valor de mercado, mensurado corretamente à luz
da teoria econômica.
•
Evidenciar as margens de contribuição dos eventos, com a estruturação de receitas e custos
envolvidos na decisão, no momento do reconhecimento da riqueza .
•
Demonstrar a possibilidade de acumulação de impactos econômicos de acordo com os
diferentes objetos de avaliação ( fornecedor, produto, família, área, filial, região, cliente, etc.).
No mundo inteiro, pessoas, empresas, e até mesmo outras entidades estão se conscientizando
cada vez mais da necessidade de “investimento“ em qualidade de produtos e serviços. A nova
consciência da qualidade não se restringe apenas à área de produtos e serviços .Agora ela inclui o
aspecto humano da qualidade, que é o desempenho das pessoas que criam produtos e serviços.
As pessoas tendem a prestar mais atenção àquilo que é avaliado e medido, pois é justamente o
“mensurável” que a organização traduz em recompensa .
Dada a complexidade do mundo atual, a busca tradicional de uma proposta estratégica ótima,
aplicável a todas as empresas, deve ser substituída pela elaboração de um sistema que combine
os diferentes enfoques segundo as necessidades particulares de cada uma . O termo” Gestão”,
focado no Planejamento Estratégico, tem as características normais de um planejamento e mais as
de que “é de responsabilidade da mais alta cúpula da empresa “ que afetam todo o grupo
empresarial, tem por base o diagnóstico interno, mas é voltado para toda a sociedade, vê os
objetivos de lucro e os sociais, interagindo sempre com o ambiente, sendo ao mesmo tempo a
longo e a curtíssimo ( real time ), utilizando sempre a sinergia e as estratégias competitivas.
37
Portanto, é o elo entre os objetivos que a empresa pretende atingir, e as diversas políticas
funcionais e planos operacionais necessários para guiar as suas atividades diárias na consecução
destes objetivos.
O novo ambiente empresarial provoca a necessidade das empresas de se tornarem organizações
de “aprendizagem “.
Para isso, uma série de mudanças deve acontecer, sobretudo no perfil do administrador, que atua
nas organizações. Essas mudanças passam por uma série de “resistências” provocadas pelo
modelo institucional de ensino, que limita a iniciativa, a criatividade e o livre arbítrio dentro das
empresas .
Considera-se que o perfil do “líder do terceiro milênio “ é o de um ator que busca o “aprendizado
contínuo“ e é capaz de desenvolver o seu grupo de trabalho, na busca de novas formas e novas
ferramentas para administrar uma empresa que se “renova“ através da “aprendizagem” e se
“transforma” continuamente .As organizações estão diante de um macrosistema, marcado pela
“incerteza “ que provoca a necessidade de mudanças inter e intraorganizacionais .
O poder como um “agente“ de transformação dessas relações, necessita de um novo perfil,
caracterizado pela necessidade emergente de mudar a sua maneira de vislumbrar o processo de
aprendizagem como uma forma de “qualificação “ profissional, passando a concebê-la como um
“instrumento “ de renovação dos seus conhecimentos, o que acontece no dia-a-dia das
organizações. Toda organização aprende como “implementar estratégias”, atingir objetivos, mas
essa aprendizagem pode ser dificultada pela falta de “visão“ dos líderes que, ao utilizarem as
ferramentas da educação, podem ajudar as organizações a alcançarem a “excelência empresarial“.
Nesse sentido, torna-se importante fazer uma análise de como esse administrador pode tornar-se
o principal elemento capaz de manter as organizações “competitivas e rentáveis“, através da
“Gestão do Conhecimento“.
Sendo assim, um dos conceitos de “liderança“ pode ser o seguinte: obter resultados, atendendo às
necessidades e aspirações das pessoas, acreditando nelas. Energizar as pessoas. Como líder,
sua tarefa é “simplificar“ as coisas .
As organizações que realmente terão “sucesso“ no futuro serão aquelas que descobrirem como
“cultivar“ nas pessoas o “comprometimento“ e a capacidade de “aprender“ em todos os níveis da
organização .
38
Uma última coisa a ressaltar é que o empresário terá de assumir “duas novas responsabilidades“:
•
Uma é a responsabilidade pela “informação “, tanto para si como para a empresa .
•
E a outra é a “responsabilidade pelo seu próprio aprendizado contínuo “.
Não espere que alguém lhe diga do que precisa . É sua obrigação. O foco é a “informação“, pois a
maior transformação é a transformação da informação. A mudança não está nos instrumentos: a
mudança é o fato de a “informação“ estar acessível a todos.
Post Script: As pessoas tendem a prestar mais atenção àquilo que é “avaliado” e “medido”’ pois é
justamente o “mensurável” que a organização traduz em “recompensa”.
Palavras-chave:
Gestão
Estratégica,
Qualidade,
Gestão
do
Conhecimento,
Aprender,
Desaprender, Reaprender .
Introdução
A gestão da qualidade, aplicada às empresas, juntamente com o uso devido da tecnologia da
informação, proporciona de fato o crescimento e gera melhor produtividade das organizações. A
finalidade deste artigo consiste em fornecer uma visão global do estudo, a partir da caracterização
do tema selecionado, estabelecer seus objetivos, delimitar o campo de estudos e sua contribuição,
além de indicar a metodologia de pesquisa adotada .
No Brasil, a partir de 1950, com a abertura da economia para os produtos manufaturados,
originários de outros países, com a reabertura da economia no início da década de 1990, com a
estabilização da moeda em 1994 e, ainda, com o advento da globalização – e não que as barreiras
diminuíram, o que aumentou foi a informação, fenômeno que impõe e se interpõe na interface de
maior velocidade nas transferências dos produtos e serviços entre as empresas, facilitadas pela
transmissão de informações através das redes de comunicação, fica evidente a necessidade de as
empresas adaptarem-se a esta nova realidade.
Vivemos a era da comunicação. Quem detém a informação detém o poder, e conhecimento não é
o que se sabe e sim o que se faz com aquilo que sabe .Não é o maior que vencerá o menor, mas o
mais rápido é que vencerá o mais lento, e o combustível para isso é informação .
Os conceitos de qualidade e produtividade estiveram sempre relacionados, auxiliando e
alavancando as empresas na conquista de mercados, o primeiro, modernamente, no que tange ao
atendimento, e o segundo, classicamente, no que diz respeito aos custos. Porém, apenas
recentemente, com o auxílio da tecnologia da informação, os conceitos foram de fato integrados,
39
possibilitando ganhos significativos na posição “competitiva“ das empresas que conseguiram dar
visibilidade à questão. Sob o enfoque de gestão sistêmica e/ou holística, a reunião da qualidade e
da produtividade resulta, como demonstraremos, numa maior “flexibilidade” organizacional,
permitindo, com o auxílio da tecnologia da informação, um melhor e mais célere atendimento aos
clientes .
Muitas empresas, porém, ainda sofrem de uma acentuada miopia, trabalhando esses conceitos
apenas em condições específicas, como, por exemplo, nos períodos de preparação para auditorias
de certificação ou de manutenção pela série de normas ISO – 9000. Atingindo esse objetivo e
comemorada a conquista, a cultura de muitas empresas faz cessar as práticas que levaram a
esses resultados, relegando-as a segundo plano ou mesmo levando-as ao esquecimento, até que
novas exigências dos clientes ou de alguém da própria organização, com poderes para tanto,
venham à tona .
Isso contraria o processo de retenção do conhecimento vigente nas organizações de ponta, em
que se busca a gestão do conhecimento, ou seja, o encasulamento de tudo o que foi desenvolvido
para, quando necessário, não se perder os ganhos .
Estrutura do Trabalho
Capítulo I – Introdução Metodológica
A gestão da qualidade, aplicada às empresas, juntamente com o uso devido da tecnologia da
informação, proporciona de fato o crescimento e gera melhor produtividade das organizações.
Capítulo II – Características da cidade de Tangará da Serra – MT
Cidade com 58.840 habitantes, com excelente perfil de qualidade de vida, boa de se viver, melhor
ainda para se investir .
Capítulo III – Caracterização das empresas no sistema organizacional
A partir do conhecimento do que é Teoria de Sistemas, sob a ótica de seu fundador, fornece uma
visão macro sistêmica da realidade, que transcende os problemas tecnológicos.
Capítulo IV – Fundamentação Teórica
a – Qualidade e Serviços : Não existem atalhos para a qualidade, ela começa com as pessoas.
Se você não está servindo o cliente, seu serviço é servir alguém que esteja. Todos têm um cliente.
A qualidade de serviço começa dentro da empresa.
b – Gestão Estratégica : Numa época em que as empresas enfrentam o desafio à globalização,
quando se espera que elas se tornem mais “competitivas “para fazer frente a um generalizado
acirramento da concorrência, considera-se natural a promoção de mudanças na busca de novas
formas de gerir o negócio, de novos modelos de gestão .
Capítulo V – ISSO 9000
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A aplicação de normas ISO série 9000, na construção de Sistemas de Qualidade, é uma realidade
no mundo . A implementação de sistemas documentados, conforme as normas 1950 – 9000, não é
mais considerada vantagem competitiva e sim, condição mínima para que clientes e fornecedores
possam manter relações contratuais baseados na confiança. Aqueles que não acreditam nesta
realidade estão sendo obrigados a se curvar diante dela.
Capítulo VI – Estudo de Caso
a – DAE – DEPARTAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO – PREFEITURA MUNICIPAL
DE
TANGARÁ DA SERRA – MT
Exemplo de Empresa Pública Municipal, que acreditou e tornou-se um “case “de sucesso a partir
da Implementação do Programa 5/S de Gestão da Qualidade e de Certificação ISO 9002 –
Fundação Vanzoline, como primeira empresa pública do ramo de saneamento básico, do centrooeste brasileiro, a buscar certificação .
B – COPRODIA - USINA DE PRODUTORES DE CANA DE AÇÚCAR
Ousaram, a partir da Implantação da Cultura da Qualidade e Certificação ISO 9002, produzir álcool
e açúcar em grande escala, batendo recordes de produção ano após ano, e incrementando suas
vendas no nível de Brasil e, Mercosul e países andinos, com altos índices de produtividade .
Capítulo VII – Pesquisa de Campo e Tratamento dos Dados
Relatório de Sistemas de Informações Gerenciais
Referências
ALBRECHT, Karl . Serviços Internos. São Paulo: Pioneira, 1994.
BANEGIL, Tomás M; MIRANDA, Francisco J. Administración Del Tiempo. Madri: Pirámide, 2001.
CATELLI, Armando. Controladoria. Uma abordagem da gestão econômica. São Paulo: Atlas, 1999.
CORONADO, Osmar. Controladoria no Atacado e Varejo. São Paulo: Atlas, 2001.
GASALLA, José Maria. Fábrica de Talentos. São Paulo: Campus, 1998.
JURAN, J.M. A Qualidade desde o Projeto. São Paulo: Pioneira, 1991.
KANAANE, Roberto. Manual de Treinamento e Desenvolvimento do Potencial Humano: São Paulo:
Atlas, 2001.
MANDELLI, Pedro. Muito além da Hierarquia. São Paulo: Gente, 2001.
MOLLER, Claus. O lado Humano da Qualidade. São Paulo: Pioneira, 1995.
NBR ISSO 9000 – 1/1994 – Normas de Gestão da Qualidade – Diretrizes.
PORTER, Michael E. Competição – Estratégias Competitivas Essenciais. São Paulo: Pioneira,
2001.
SENGE, Peter M. A Quinta Disciplina. São Paulo: Best Seller, 1990.
41
Liderança: Mercadoria escassa?!
Ana Maria de Luca Chamelete Menezes
Resumo
Desde os primórdios, a Liderança é uma das “qualidades” que as organizações buscam encontrar
no mercado de trabalho, como se fosse uma característica rara, inacessível para os simples
mortais. Este trabalho tem por objetivo desmistificar a idéia de que Liderança é um atributo nato no
indivíduo e sim uma habilidade a ser desenvolvida por qualquer pessoa que assim o desejar.
Palavras-chave: liderança; habilidade; líder; equipe; motivação; comunicação.
"Liderança" é um tema que vem sendo discutido, desde os mais remotos tempos, pelo homem. Ser
líder, formar líderes parece ser um desafio constante do homem e das organizações. Mas, afinal, o
que é liderança? “Liderança” é a capacidade de liderar, conduzir, é uma forma de dominação
baseada no prestígio e aceita pelos dirigidos” (dicionário Aurélio,1986). E também, segundo o
dicionário, “líder é o indivíduo que chefia, comanda e/ou orienta em qualquer tipo de ação,
empresa ou linha de idéias” e não um “guru” dotado de uma inteligência superior ou mística, como
muitos pensam.
A herança da escravidão predominou durante muito tempo e com ela a noção de que a mão-deobra era o fator de trabalho cujo desempenho dependia única e exclusivamente do rigor do
capataz.
Com o avanço da industrialização, porém, foi ficando cada vez mais claro que o foco na eficiência
das tarefas e do processo produtivo era importante, mas não suficiente, para garantir a
produtividade e o desempenho das organizações.
Segundo Chiavenato (1994), a estabilidade e a previsibilidade desapareceram do mapa tão logo
acabou a Segunda Guerra Mundial. A partir da metade da década de 1940, e ganhando uma
aceleração gradativamente maior, começaram a surgir a instabilidade e a imprevisibilidade, frutos
do dinamismo e da complexidade do novo mundo que emergia das cinzas.
O ciclo de vida das empresas em crescimento e desenvolvimento empresarial levou à
fragmentação das atividades das pessoas e à menor liberdade individual, além do distanciamento
em relação aos níveis de tomada de decisão.
Com o advento da globalização, o mundo passa por enormes mudanças, processos de
transformações e também de grandes expectativas.
42
A globalização tornou a concorrência mais acirrada. O ritmo das inovações tecnológicas desafia as
estratégias mais brilhantes, confirmando as previsões de Alvin Toffler : "Quando se fazem novas
descobertas, desvendam-se novas verdades e as maneiras e opiniões mudam com a mudança
das circunstâncias, as instituições devem avançar também e acompanhar o andamento dos
tempos".
As empresas precisam se estruturar para aumentar a sua competitividade em relação às demais.
Isto significa que elas devem utilizar os seus próprios recursos da maneira mais eficiente e eficaz.
Para enfrentar a competição e a concorrência, a empresa precisa saber utilizar ao máximo os seus
pontos fortes, sobretudo, utilizar plenamente a sua força de trabalho, ganhando notoriedade neste
cenário as novas formas de Relações Humanas.
Estamos entrando em tempos turbulentos recheados de altas apostas, alto risco, incerteza e
ambigüidade. Nesse caos, uma nova liderança vai emergir como o elemento mais importante do
mundo dos negócios. E liderança é o atributo que tem a maior demanda e a menor oferta no
mercado (Tom Peters, 2001).
Diante dessas mudanças rápidas e constantes, as empresas se vêem “obrigadas” a buscar o
diferencial que são os seus recursos humanos e por isso necessitam de líderes eficazes, que
formem e mantenham talentos.
O que se encontra em muitas empresas são pessoas que exercem sua liderança mais como
chefes que como líderes. No seu histórico de carreira, são excelentes técnicos, que sabem resolver
bem questões técnicas, que foram conduzidos a papéis de chefia, ocupando "caixinhas" nos
organogramas e progredindo em suas trajetórias profissionais sem buscarem um embasamento
para lidar com pessoas e com equipes.
Nem sempre o bom técnico é um bom líder. Aí usualmente vem a conseqüência do autoritarismo
ou da omissão. Existe o chefe que é "linha dura" em excesso e que massacra seu pessoal, ou o
chefe que "deixa rolar solto", que não contribui com o seu grupo.
A carência nas comunicações é quase endêmica nas empresas. O capital humano pode se
desgastar, e é muito importante fazer algo antes que os prejuízos se tornem irreparáveis.
Os lideres que sabem lidar bem com pessoas e equipes, que resgatam esta dimensão de
"pessoalidade" nas suas relações, conseguem atingir excelentes resultados de negócio, integrados
com um clima interno em que as pessoas “curtem” trabalhar, onde a motivação, o trabalho em
equipe, a flexibilidade, a inovação, o "ousar" estão presentes em alto grau.
43
O tripé liderança, equipe e comunicações se manifesta com toda a força! É aí que os líderes
devem focar a sua atenção. O estilo de liderança positiva é aquele que ousa nas tarefas e se vale
de oportunidades não tentadas anteriormente. Uma personalidade positiva inspira confiança e
também constrói e mantém uma equipe com entusiasmo.
Assim como afirma Donald P. Ladew (1998), os talentos humanos representam alto investimento
hoje para as organizações, qualquer que seja o seu tamanho e área de atuação.
O sucesso nos negócios depende invariavelmente da habilidade dos gestores em reconhecer e
desenvolver os talentos, e também de alocar os indivíduos de acordo com suas competências e
potenciais.
O líder de sucesso deve possuir a capacidade de colocar-se no lugar de seu pessoal, ser capaz
de ver o mundo pelo lado das outras pessoas, além de entender como as pessoas se sentem e
compreender seus pontos de vista.
Os líderes de hoje terão que ter capacidades de adaptação rápida e de promover mudanças,
implantando um novo estilo de gestão voltado para ajudar os colaboradores a realizarem o que são
capazes de fazer, criando um ambiente propício à discussão, assegurando a liberação da
capacidade criativa, formulando uma visão para o futuro, encorajando, emocionando,
contextualizando, treinando, ensinando, facilitando, cultuando o desprendimento e a diversidade,
admirando e respeitando as diferenças e aproveitando as peculiaridades para obter as melhores
ações, intenções e soluções.
O grande desafio dos líderes é conseguir que os seus colaboradores aceitem novas
responsabilidades, que compreendam que as suas atividades combinam com a dos outros, que
possam se adaptar às circunstâncias modificadas, e que estejam afinados com as pessoas em sua
volta, de maneira a realizarem seu trabalho mais eficazmente, sejam mais produtivos e se tornem
pessoas melhores, consolidando a previsão de Trotsky: "O homem se tornará incomparavelmente
mais forte, mais sábio e mais perceptivo".
Temos de pensar sobre liderança situacional - a pessoa certa, o estilo certo, para a situação certa.
O recurso humano terá que pensar mais rápido, trabalhar inteligentemente, pensar diferente,
sonhar ambiciosamente e, sobretudo, relacionar-se amigavelmente.
A habilidade de um líder eficaz desenvolve maior sinergia em grupos de trabalho com tarefas de
qualquer natureza, porque orienta a criação dos grupos desde o processo seletivo, visando suprir
deficiências percebidas e possibilita o aumento do comprometimento das equipes com a
superação de seus objetivos.
44
Um líder pode não ser capaz de criar o orgulho ou a vontade de seus funcionários para realizarem
uma tarefa, mas pode criar um ambiente que estimule o orgulho natural do funcionário, permitindo
que eles ajudem a aperfeiçoar os procedimentos e questionando as dificuldades encontradas na
realização de seu trabalho; pode transmitir para a equipe um sentimento de estabilidade,
especialmente em momentos de mudança. Líderes falam e escutam.
A liderança é uma arte e não uma ciência. Pessoas, valores, caráter e engajamento merecem a
atenção dos líderes. "Um líder é, antes de tudo, um bom ouvinte e um ótimo observador", (Rodrigo
Rocha Loures, diretor-superintendente da Nutrimental, de São José dos Pinhais, no Paraná, 2002).
Liderança não é uma das escolhas a se fazer. Não importa a área, o ativo mais necessário a uma
companhia é gente ágil, capaz de se comunicar e que se antecipe aos acontecimentos.
"Liderança é um conjunto de práticas observáveis que podem ser aprendidas”. (Kouzes e Posner,
1999). Desafiar o processo; inspirar uma visão compartilhada; capacitar os outros para agir;
modelar o caminho; encorajar o coração são algumas dessas habilidades.
O líder de sucesso está sempre procurando maneiras de espelhar suas habilidades em outras
pessoas. Dessa forma ele faz os outros evoluírem e é capaz de "estar em muitos lugares
diferentes ao mesmo tempo".
Uma grande qualidade de um líder eficaz: todos são tratados de forma justa e igual, criando uma
sensação de segurança. Os líderes motivados sempre têm objetivos claros e definidos e planejam
a realização de seus objetivos. Um dos maiores atributos de um líder: ser capaz de desenvolver
outros lideres.
Quando se fala em liderança, uma das primeiras e mais importantes atribuições do líder, logo
ressaltada, é sua capacidade de negociar. Líderes visionários são importantes, há épocas em que
necessitamos de um líder que ofereça uma visão grandiosa, alguém que simbolize um novo
enfoque para os negócios.
A escolha adequada de uma equipe de trabalho proporciona melhor aproveitamento da energia do
grupo, evitando dispersão. Ser capaz de lidar melhor com as diferenças minimiza os problemas de
comunicação, resolve conflitos e gera um comprometimento na realização dos novos desafios.
Chiavenato (1994) define liderança como influência interpessoal exercida numa dada situação e
dirigida através do processo de comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos
específicos.
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O processo de comunicação, seguindo ainda as idéias de Chiavenato, é a arte de induzir as
pessoas a cumprirem suas obrigações com zelo e correção. É a capacidade de influenciar as
pessoas a fazerem aquilo que devem fazer.
Quando se pesquisa sobre liderança, encontram-se as mais diversas opiniões de como deve ser
um líder, e a impressão que se tem é que essas pessoas nascem prontas, com todas as
características de um líder eficaz, seguro e confiante.
Estimule as pessoas a assumir responsabilidades cada vez mais, para que desenvolvam a
autoconfiança. "Propicie que cada um seja líder à sua maneira", (Loures, da Nutrimental). O líder
que encara o trabalho como aprendizado, desafio intelectual, terá gente comprometida. Uma
equipe não existe sem que todos compartilhem um objetivo.
Líder – mas, antes de tudo, membro do time - não pode ser imprescindível. Se a equipe não
funcionar sem você, não é uma equipe, é um grupo de pessoas que depende de um cacique para
dizer aonde ir.
"Para gerenciar uma equipe, você utiliza os músculos e a razão", (Abraham Shashamovitz, ex-vicepresidente da Nextel). "Para liderar de verdade, use também o coração”.Trocando em miúdos,
coloque as pessoas à frente dos negócios e dos interesses da empresa.
Estruturas hierarquizadas são substituídas pelas matriciais, as relações formais cedem lugar às
informais, os vínculos burocráticos perdem sentido diante dos vínculos empreendedores, já tem
pouco valor o "manda quem pode, obedece quem tem juízo".
As informações centralizadas, até então um símbolo do poder, perdem lugar para as informações
pulverizadas, quando todos são envolvidos nos processos de comunicação dentro das empresas.
E, quando falamos de líderes, não estamos nos referindo apenas àqueles que exercem funções
gerenciais, de chefia ou que detêm algum poder formal nas estruturas hierárquicas. Referimo-nos a
todos que precisam obter resultados com/e por intermédio de outras pessoas, independentemente
de sua posição, cargo ou contexto em que esteja atuando. A estes principalmente não pode faltar o
grande atributo da liderança: saber negociar!
Referências
AURÉLIO,B.H.F. “Novo dicionário da língua Portuguesa” 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1986
CHIAVENATO, I. “Gerenciando Pessoas o passo decisivo para administração participativa”. São
Paulo: Makron, 1994.
46
LADEW, D. P. “Como Supervisionar Equipes, São Paulo: Market Books, 2001.
VOCÊ SA. 50 Lições de Liderança. São Paulo: Editora Abril, maio 2001.
VOCÊ SA. Liderança. São Paulo: Editora Abril, outubro 2001.
www.boog.com.br : Boog, Gustavo G. é Consultor e Terapeuta Organizacional, Diretor da Boog &
Associados e autor de diversos livros sobre gerência e desenvolvimento pessoal. Acesso em: 29
ago. 2002.
www.institutomvc.com.br: Desafios da Liderança- Kouzes e Posner; Liderança e NegociaçãoEraldo Meireles. Acesso em: 02 set. 2002.
[email protected]: ROMEU MENDES DO CARMO-Administrador de Empresas, com PósGraduação em Gestão da Tecnologia da Informação. Acesso em: 29 ago. 2002.
47
RESENHAS
Marketing Turístico e de Hospitalidade: Fonte de Empregabilidade
e Desenvolvimento para o Brasil
Erika Helena Bautto
Completa, abrangente e extremamente didática, Marketing Turístico e de Hospitalidade: fonte de
empregabilidade e desenvolvimento para o Brasil, de Edmir Kuazaqui figura como literatura
obrigatória para a disciplina de Marketing dos cursos de turismo e hospitalidade.
Uma das atividades econômicas que mais tem se destacado nos últimos tempos, o turismo – a
atrelada a ele, a hotelaria – tem uma história que se confunde com a evolução e o crescimento do
setor de serviços.
Novos conceitos inseridos na contemporânea sociedade de consumo tornaram o homem mais
exigente e mais atento aos paradigmas de tal sociedade. A busca por lazer, entretenimento,
descanso e cultura é cada vez mais intensa nesse novo mundo capitalista, contribuindo para o
redirecionamento do mercado, principalmente quando se trata do setor de serviços.
Todo esse processo histórico é descrito na obra supracitada, de maneira didática e resumida, no
sentido de contextualizar o surgimento das necessidades do mundo moderno para, então, tratar do
marketing voltado aos desejos e expectativas desses novos consumidores. Consumidores estes
que estão atentos às mudanças e cada vez mais exigentes quanto à qualidade do produto ou, no
caso do turismo, do serviço que será adquirido.
Nesse sentido, apesar de um povo hospitaleiro e alegre, de uma cultura riquíssima e diversificada,
de paisagens naturais belíssimas e de uma beleza arquitetônica invejável, o Brasil apresenta uma
infra-estrutura básica e também turística ainda incipientes, com dificuldades para acompanhar o
crescimento dessa atividade como também para atender aos anseios dos turistas; sejam eles
domésticos ou estrangeiros.
Felizmente esse cenário está mudando progressivamente. A inserção de novos conceitos relativos
à qualidade no atendimento, ao treinamento de funcionários e à capacitação profissional no
mercado do turismo tem contribuído para significativas melhorias no setor. Além disso, vale
ressaltar o trabalho exercido pelo Instituto Brasileiro de Turismo – a EMBRATUR – no intuito de
48
melhorar a imagem do país no exterior, uma tentativa de desfazer a equivocada equação pela qual
o Brasil é conhecido internacionalmente: Brasil = sol + sexo + praia.
Na obra, como não poderia deixar de ser, são tratados os impactos econômicos do turismo, em
que o autor faz uma observação importante, a saber: “o turismo não deve ser visto como fonte de
riqueza alternativa”, tamanha é a renda gerada pela atividade. Exemplo notório que torna tal
afirmação ainda mais relevante é a cifra gerada pelo turismo de eventos em São Paulo: U$ 40
milhões por ano (valor referente ao ISS arrecadado pela Prefeitura Municipal de São Paulo).
Vale lembrar ainda que esforços vêm sendo somados na tentativa de tornar a capital paulistana
uma cidade turística não só de negócios ou de eventos, mas fundamentalmente de lazer, cultura e
entretenimento, capaz de atender a todo tipo de turista. Trata-se de uma campanha em
comemoração aos 450 anos da cidade, a serem completados em 25 de janeiro de 2004, mas que
não cabe ser discutida neste momento.
O segundo capítulo da obra trata mais detalhadamente do turismo como fonte de empregabilidade
para as comunidades. Dessa forma, sabe-se que, por seu efeito multiplicador, o turismo é uma das
atividades que mais aquece a economia não só nacional, mas também mundial, na medida em que
facilita o fluxo de capitais, de pessoas e da comunicação entre os povos.
Por sua dimensão continental e diversidade biológica e cultural, o Brasil pode ser entendido como
um pólo atrativo e, por isso, investir na melhoria da infra-estrutura básica e turística, colaborando
para atrair turistas, moradores e investimentos. Outro ponto de extrema importância é a
necessidade de interação entre os setores públicos e privados para alavancar o crescimento
efetivo da atividade, elevando a qualidade de vida da população residente na localidade.
Sendo o turismo um fenômeno bastante abrangente, há que se preocupar, quando do
planejamento das suas atividades, com o ambiente em que está inserido. Nesse caso, trata-se do
macro e do microambiente turístico e de hospitalidade, nos quais se encontram variáveis
incontroláveis e controláveis, respectivamente. Esse é o assunto que Edmir Kuazaqui delineia no
terceiro capítulo da obra.
Entende-se por macroambiente o cenário econômico, político, geográfico, demográfico, sóciocultural e legal de uma dada localidade. Esses aspectos serão o norte das ações de Marketing
Turístico e Hoteleiro que poderão ser executadas no ambiente que envolve a atividade. São
variáveis que fogem ao controle dos empreendedores e planejadores, não importando qual seja o
ramo da atividade.
49
Já o microambiente é composto pelas empresas, seu público interno, fornecedores, concorrentes,
consumidores, clientes e o seu mix de marketing, caracterizado por variáveis controláveis, ou seja,
conhecidas profundamente por empreendedores e planejadores de marketing. Além disso, os
aspectos motivacionais e de percepção do consumidor também fazem parte do desafio para os
profissionais de marketing.
Oportuna também a observação do autor quanto à questão da sustentabilidade do turismo,
discussão essa que vem ganhando força e destaque nas mais variadas esferas econômicas. Com
turismo, no entanto, trata-se de uma abordagem ainda mais delicada e que oferece uma das
melhores oportunidades de negócios. Nesse âmbito, o conceito de sustentabilidade aplicado ao
turismo deve contemplar o desenvolvimento econômico sem colocar em risco os aspectos sócioculturais e ambientais da comunidade receptiva, ou seja, promover crescimento econômico sem
ferir a justiça social. Assim, somados com o mix de marketing e a motivação do consumidor vão
influenciar pesadamente na decisão de compra do produto turístico.
Num capítulo à parte, são definidos os tipos de turismo existentes – e não é ao acaso. O
planejamento de atividades e de ações de marketing varia de acordo com as características do
produto e de seu público-alvo. Por esse motivo é importante definir o tipo de cliente que interessa à
empresa para então elaborar o mix de marketing adequado a esse mercado.
Bastante importante e merecedor de especial atenção, o mix de marketing turístico e de
hospitalidade é exaustivamente trabalhado no quinto capítulo da obra. Dessa forma, conhecendo a
essência do marketing traduzida pela tentativa de maximizar o consumo, superando a expectativa
dos consumidores, de maneira a maximizar a qualidade de vida desses consumidores,
compreende-se a importância de um planejamento de marketing adequado ao tipo de produto e ao
público a que se destina.
Por mix de marketing entende-se o conjunto de variáveis criadas e gerenciadas com o intuito de
melhor satisfazer as necessidades e desejos do mercado. Essas variáveis – compostas por
produto, preço, promoção e distribuição – são estudadas uma a uma em capítulos específicos da
obra.
Dessa forma, o quinto capítulo traz o produto, os níveis que o compõe e o seu ciclo de vida, com
ênfase nos produtos turístico e hoteleiro. Em seus vários níveis, o produto – seja ele qual for – tem,
no nível básico de sua composição, o conceito, a razão de sua existência. No caso do turismo,
pode-se dizer que o nível básico do produto é formado pelos atrativos naturais que, inerentes à
localidade, participam do conceito do destino. Já no nível real, observa-se a materialização do
conceito, ou seja, a marca do produto. Em se tratando de turismo, diz-se que é o local e seus
50
atrativos naturais e transformados. Finalmente, no nível ampliado do produto, temos os acessórios
e serviços que a ele agregam valor. Assim, entende-se por produto turístico ampliado aquele que
atende aos desejos específicos do cliente, como transfers, por exemplo.
Entretanto, o que difere o produto turístico de outros produtos são características inerentes a este
primeiro. Por ser intangível, o produto turístico é também chamado de serviço turístico, a que se
agrega, além dos atrativos, vias de acesso, meios de transporte e hospedagem, um conjunto de
outros serviços, os quais fazem parte da infra-estrutura básica de um destino, como bancos, casas
de câmbio, hospitais, etc.
No caso hoteleiro, enquanto o produto básico se restringe à acomodação, o produto ampliado
engloba os serviços de eventos, exposições, lavanderia, transfers e outros que possam agregar
valor ao produto básico, satisfazendo, dessa forma, outros desejos do cliente.
Conhecendo o produto turístico e hoteleiro e o público a que se destina, tem início então o Ciclo de
Vida do Produto que, como o próprio nome sugere, são as fases de criação de um produto,
pesquisa de mercado, introdução deste no mercado, maturação e declínio do produto – que podem
indicar a “morte” do produto ou o seu reaparecimento, porém com outra roupagem.
Contudo, somente produto e consumidor são elementos isolados. Assim, o canal de distribuição
aparece para unir empresa (produto ou serviço) e mercado (consumidores). Em turismo, os canais
de distribuição são muitos e contam com a intervenção de organismos oficiais (representando os
destinos) e empresas privadas (representando o trade turístico). Vale lembrar, porém, que, sendo
imaterial e, portanto, sem distribuição física, o produto turístico e hoteleiro é distribuído em forma
de promessa de satisfação, materializado em folhetos, revistas, cartão postal, etc. Sabe-se ainda
que, para garantir o sucesso de um produto, o canal de distribuição deve ser adequado ao tipo de
serviço oferecido, assim como ao público-alvo. No caso do turismo, o primeiro contato com o
produto é feito através do agente de viagem – distribuidor mais recorrente nesse mercado.
Outra variável que forma o mix de marketing é o preço do produto, que deve alcançar o ponto de
equilíbrio entre os custos fixos e variáveis de uma organização, já estabelecendo a margem de
lucratividade da empresa e a porcentagem de desconto que pode ser oferecida. No caso do
turismo, gerenciar esses custos é fundamental para difundir o turismo receptivo.
A promoção, formada por três elementos bastante importantes, é a última variável que compõe o
planejamento estratégico de marketing. É dentro da promoção que se encontram a publicidade,
com o objetivo de divulgar uma idéia, a propaganda, responsável pela divulgação de um produto
51
ou serviço com o objetivo de venda dos mesmos, e as relações públicas, que estabelecem
vínculos e laços de bom relacionamento com o público de interesse.
Com todos esses dados, é elaborado um briefing que definirá a estratégia de marketing mais
adequada à promoção do produto turístico e hoteleiro e em quais tipos de mídia e veículos de
comunicação deverá ser aplicada.
Os sistemas de informação são ferramentas que subsidiam todo e qualquer processo decisório – e
com turismo e hospitalidade não é diferente.
Tratados no capítulo nono da obra, os sistemas de informação exigem dados que variam conforme
o tipo de decisão a ser tomada. Em se tratando de marketing turístico e hoteleiro, os sistemas de
inteligência fornecem informações diárias a respeito de mudanças no ambiente, coletadas, no
entanto, de maneira não usual.
A mais recorrente ferramenta dos sistemas de informação é a pesquisa de mercado – um processo
de investigação que inclui fatos relacionados ao objeto de estudo desde que embasados numa
metodologia científica.
Após delimitar o objeto de estudo – o norte da pesquisa –, definir os objetivos, o tipo de pesquisa
mais adequado ao problema em questão, o método de coleta de dados e o plano de amostragem,
é realizada a pesquisa junto ao mercado propriamente dito. O resultado, oriundo da tabulação e
análise desses dados, será fundamental para o processo de tomada de decisão. No caso do
turismo, a análise do mercado consiste em levantar e cruzar informações advindas dos vários
setores a ele correlatos, e também na concorrência.
Sabendo que em serviços – e também em turismo e hospitalidade – o recurso humano é que faz a
diferença, no capítulo dez, Edmir Kuazaqui se propõe a falar do profissional de turismo e hotelaria.
Segundo ele, os funcionários devem ser vistos como talentos humanos, que aumentarão a
produtividade e a competitividade da organização, e por isso, torna-se necessário o investimento
na qualificação dos mesmos.
O mundo globalizado exige, cada vez mais, a especialização dos profissionais, o que não implica
anular a generalidade destes. Aliás, o funcionário deve ser generalista, ou seja, conhecer um
pouco de tudo e, simultaneamente, ser especialista, no sentido de conhecer em detalhes as
atribuições próprias de sua profissão. Não diferente acontece com os talentos de turismo e
hospitalidade, que devem planejar atividades turísticas dentro de um espaço maior, no caso as
52
cidades, conhecendo o ambiente em que elas estarão inseridas, as limitações dos turistas ou
hóspedes e as deficiências da localidade receptiva.
Finalizando a obra, o capítulo onze destina-se ao planejamento estratégico em turismo e
hospitalidade. O marketing é um instrumento capaz de influenciar toda uma comunidade de
maneira a elevar a qualidade de vida de sua população.
Diante disso, o planejamento estratégico do marketing deve estar em consonância com os
objetivos e metas da empresa para assim possibilitar a satisfação do cliente dessa organização e
elevar a participação da instituição no mercado. Se pensar em turismo, as atividades de marketing
envolvem planejamento, criação, desenvolvimento, manutenção e comercialização ou modificação
de atitudes ou comportamentos dos consumidores em relação a lugares específicos; atrair
consumidores para os atrativos. Uma das estratégias mais utilizadas pelo marketing turístico e
hoteleiro é a fidelização do cliente, assim como o marketing de relacionamento, o que não elimina,
contudo, a presença de outras estratégias, ou ainda, a mescla de várias estratégias num mesmo
plano de marketing.
Então, que o marketing turístico é uma ferramenta criada para fomentar não somente a atividade
turística isoladamente, mas sim para aquecer e desenvolver os mais variados setores da economia
que se encontram intimamente ligados a ela.
53
PROJETOS
Da Cachaça para a Caipirinha
Este artigo abordará os aspectos que tiveram influência no surgimento e na popularização da
caipirinha no Brasil e em outros países. As características de seu ingrediente essencial, a cachaça,
também serão analisadas, tais como sua história, fabricação e outros fatores que tiveram grande
participação na concepção e expansão da caipirinha no mundo.
A Evolução da Cachaça na Cultura Brasileira
A relação entre a cachaça e o brasileiro não pode ser resumida a uma simples relação de bebida e
consumidor, já que ela representa um importante papel na história do país e faz parte da cultura do
povo e da economia nacional.
Segundo relatos históricos, como no texto “Breve História da Caipirinha”, de Sidney Simões, a
cachaça surgiu no período da introdução da cana de açúcar no Brasil em meados do século XVI.
Os portugueses introduziram o cultivo da cana, importando-a de outras colônias portuguesas
localizadas na Ásia. Como o clima e a terra brasileira eram similares aos de Portugal, o plantio da
cana logo se popularizou no país, dando início ao primeiro ciclo de prosperidade econômica no
Brasil.
A produção de açúcar a partir da cana de açúcar era feita nos engenhos. Neste mesmo local, a
cachaça passou a ser obtida através do processo de destilação dos restos da produção de açúcar,
ou seja, da destilação da borra do melaço fermentado ou “vinho de cana”, como este resíduo era
mais conhecido. O processo de fermentação da cana resultava em vários tipos de álcool, entre
eles o etílico, o responsável pelo alto teor alcóolico da cachaça quando o resíduo fermentado era
destilado.
Sidney Simões descreve que o processo de destilação foi descoberto durante o século X, pelo
médico, astrônomo e filósofo, de origem árabe, que se chamava Avicena. É interessante ressaltar
que não há relatos precisos de quem trouxe a técnica da destilação para o Brasil e por que o
“vinho de cana” foi escolhido para ser destilado. É possível deduzir, porém, que esta técnica
chegou ao Brasil através dos portugueses comerciantes da cana-de-açúcar, que utilizaram a
técnica de Avicena, estavam bastante difundida na Europa por curiosidade ou somente como
experiência com os restos da cana fermentada.
54
Na época, os donos dos engenhos davam a cachaça para os escravos e animais beberem por
acreditar que eles ficavam mais resistentes com a bebida. Quando os escravos eram trazidos da
África, também eram obrigados a ingerir a cachaça durante a viagem para o Brasil, já que a bebida
os tornavam mais calmos e parecia fazê-los esquecer as angústias e dores pelas quais estavam
passando.
A divulgação da cachaça a partir dos engenhos e a popularização de suas “milagrosas”
características passaram a não agradar à Corte Portuguesa devido à queda que a bebida brasileira
resultou no comércio da bagaceira e dos vinhos portugueses. Alegando que a cachaça prejudicava
a retirada do ouro das minas, sua produção, comercialização e consumo, foi proibido diversas
vezes pela Corte. A bebida passou a ser bastante valorizada no período da Conjuração Mineira
quando a cachaça se tornou um dos símbolos brasileiros. Os inconfidentes valorizavam o produto
nacional e incentivavam seu consumo, com a presença da bebida nas reuniões clandestinas que
promoviam.
Com a independência do Brasil, a cachaça conquistou seu espaço no país e acumulou, em quatro
séculos, diversos nomes, como “abre” e “zuninga”8. A elite brasileira, por sua vez, manteve-se
distante do consumo da cachaça, inferiorizando a bebida por sua origem nas senzalas, pelo seu
baixo preço e pela difusão entre as camadas sociais mais baixas e humildes do país.
No início do século XX, porém, a visão elitizada da cachaça começou a mudar. Com o surgimento
do Modernismo Brasileiro, houve uma revolta contra as amarras impostas pela Europa. Literatura,
pintura e poesia nacional foram amplamente influenciadas a partir deste movimento que valorizava
a cultura do país, abrindo espaço para a cachaça nas elites brasileiras.
Com esta valorização intensa, a cachaça passou a ser mencionada não só em bares, botecos e
locais de venda de bebidas, mas em poesias, músicas e em outros âmbitos da alta sociedade.
Este movimento alcançou seu ápice com a Semana de Arte Moderna, em 1922, cujo símbolo era a
cachaça.
Artistas e intelectuais, como Jorge Amado e Aluízio de Azevedo, juristas, como Sobral Pinto,
poetas, como Carlos Drummond de Andrade e até os presidentes Juscelino Kubitscheck e
Fernando Henrique Cardoso destacaram, em suas vidas e obras, em diversos momentos, a
importância da cachaça para o povo brasileiro. É possível afirmar que, a partir do século XX, a
cachaça passou a ser vista como a cultura engarrafada do Brasil.
55
O Remédio Que Virou Bebida
A utilização de elixires alcoólicos destinados à medicação e à cura de doenças está presente antes
mesmo de a medicina ser considerada uma ciência. No Brasil, os benefícios medicinais da
cachaça eram enfatizados desde o início de sua produção, quando era utilizada somente para dar
mais vida e resistência aos animais e escravos que trabalhavam nos engenhos. Com sua difusão
pela sociedade brasileira, o “poder de cura” da cachaça foi cada vez mais incentivado, e até hoje é
oferecida em diversos lugares do Brasil como um remédio.
Com o intuito de potencializar os benefícios medicinais da cachaça, as pessoas adquiriram o
costume de misturá-la com limão e mel. Esta fórmula era considerada o melhor remédio para
gripes e resfriados e se popularizou principalmente no interior do país, onde ainda possui inúmeros
adeptos.
Visando aprimorar e adocicar o poderoso remédio, o mel foi substituído pelo açúcar e, com o
passar do tempo, esta mistura migrou do balcão das farmácias para o dos bares e restaurantes,
sob o nome de caipirinha.
Acredita-se que a o lugar mais provável para o surgimento da caipirinha foi no interior do Estado de
São Paulo, já que caipira era, e ainda é, o termo paulista que designava o habitante do campo9.
Não há informações suficientes que indiquem quando este nome foi utilizado pela primeira vez
para rotular este drinque, porém, pode-se dizer com certeza que a nomenclatura fez sucesso.
O protótipo da caipirinha era o que se conhece hoje como a batida de limão sem o gelo. Desta
batida, evoluiu para o limão com casca em rodelas ou pedaços e, com os avanços tecnológicos, o
gelo foi adicionado, tornando a bebida mais refrescante.
Hoje, a caipirinha é uma bebida-símbolo de status e reconhecida em âmbito internacional,
assumindo até algumas versões e modificações para se adaptar aos mais diversos e exigentes
paladares dos apreciadores de bebida.
Caipirinha, Caipiroska e Caipiríssima
Nos dias de hoje, pedir uma caipirinha em um bar não é tarefa fácil e pode até ser frustrante. Nos
cardápios de bebidas há diversos tipos de caipirinha, que variam conforme a fruta e a bebida
alcóolica utilizada.
8
FERREIRA, Aurélio B. Holanda. Novo Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa – Séc. XXI. 3a ed. São
Paulo. Nova Fronteira, 1999. 2128pp.
9
Dicionário de Vocábulos Brasileiros, 1889
56
Compondo a gama de frutas, pode-se encontrar o tradicional limão, as frutas cítricas e outras
consideradas as mais refrescantes como o morango, abacaxi, kiwi, maracujá e laranja, e até frutas
exóticas ou incomuns, como a chinesa lichia, e a brasileiríssima jabuticaba. É possível também
misturar diversas frutas, criando, por exemplo, a caipirinha de frutas vermelhas (composta por
amora, morango e framboesa) ou a caipirinha tropical (composta por abacaxi, maracujá, kiwi e
morango).
Após a escolha da fruta, é preciso definir qual bebida alcoólica será utilizada na elaboração da
caipirinha. Além da cachaça e aguardente, a vodka também ficou famosa como ingrediente da
caipirinha, e hoje em dia é comum encontrar o drinque brasileiro feito com saquê ou rum.
Para preparar a caipirinha tradicional, ou seja, aquela que surgiu do remédio para curar gripes e
resfriados, é utilizado o limão juntamente com a cachaça ou aguardente. Embora estas bebidas
sejam muito parecidas, é interessante destacar que há uma diferença essencial entre a cachaça e
a aguardente que está relacionada principalmente à origem da matéria-prima utilizada na
produção. Segundo o INMETRO10, a aguardente de cana é feita a partir do destilado da cana,
enquanto a cachaça é produzida do melaço resultante da produção de cana-de-açúcar. Ao
substituir a cachaça ou aguardente por vodka, mantendo o limão, o drink passa a ser conhecido
como caipiroska. A caipiroska já está presente em diversos cardápios de bares e geralmente é
consumida por aqueles que acham o sabor da cachaça muito forte11.
A adaptabilidade da caipirinha aos mais diversos paladares foi outra vez comprovada quando o
limão foi substituído pela lima-da-pérsia, dando origem à caipiríssima. Ao contrário da caipiroska, a
caipiríssima é elaborada a partir da cachaça ou aguardente e também pode ser encontrada nos
bares mais famosos do país.
Não há dúvidas de que a caipirinha é um drink altamente original e capaz de se adaptar aos mais
variados gostos e fregueses. Além de ter sido rapidamente popularizada no Brasil, estas
características permitiram que ela fosse internacionalizada, sendo reconhecida e imortalizada no
mundo como o verdadeiro drink brasileiro.
1.4. A Conquista do Mercado Interno e Internacional
Mesmo sendo utilizada nas revoluções como símbolo de brasilidade, a imagem que a cachaça
passava para a maior parte dos brasileiros era a de bebida típica de bêbados, mendigos e
10
fonte: http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/cachaca.asp#resumo, acessado no dia 08/03/03.
11
Relato do chefe dos barman do bar “Le caipirinha”, em São Paulo
57
pinguços. Ela representava um estilo de vida negativo daqueles que viviam no Brasil, sendo
fortemente rejeitada pela elite do país durante séculos.
É possível afirmar que a valorização da cachaça como bebida nacional se deu a partir da década
de 1980, quando o governo brasileiro passou a enxergar a indústria da cachaça como um setor
importante para a economia nacional.
Através da organização do setor produtivo de cachaça e do incentivo na melhoria de sua qualidade
e promoção, e mudança do conceito da bebida por parte de alguns fabricantes, a bebida adquiriu
um prestígio nunca antes atingido e passou a freqüentar não só as mesas de botecos e bares
populares, mas das melhores casas e lugares da elite brasileira. Com seu consumo amplamente
difundido pelo país, os produtores da cachaça perceberam uma oportunidade no mercado
internacional, e direcionaram seus investimentos para a exportação da bebida. Para alcançar o
status de produto tipo exportação, os fabricantes de cachaça se viram diante da necessidade de
otimizar seus negócios, focando na produção de um produto que atendesse aos paladares mais
exigentes do mundo.
Com a criação da AMPAQ (Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade), em
parceria com o INDI (Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais), a produção de
cachaça em Minas Gerais, o pólo principal de produção de cachaça no Brasil, conseguiu elevar o
padrão e a qualidade da bebida produzida em 198812.
Entre os objetivos da AMPAQ, o que mais se destaca é a valorização da cachaça no mercado
interno, ou seja, a quebra do paradigma de que a cachaça é uma bebida de bêbados, através de
incentivos à produção da bebida e de sua promoção e interiorização, permitindo o desenvolvimento
econômico do setor.
Através dos esforços da AMPAQ e de produtores como as Empresas Müller e a Ypióca, a cachaça
chegou às mesas e supermercados do mercado internacional, e acelerou o processo de elitização
da bebida tanto nacional como internacionalmente. Segundo entrevista com o professor de
Gastronomia Celso dos Santos Silva13, pode-se observar esta elitização da cachaça ao verificar o
preço de venda de uma garrafa da bebida no exterior. Na Austrália, por exemplo, vende-se a
bebida por US$50,00, um valor impensável de ser cobrado há alguns anos.
Com a finalidade de entender e visualizar as diversas fases do consumo da cachaça citadas
anteriormente, serão analisadas a seguir as vendas e o lucro da bebida ao longo do tempo, desde
12
Dados obtidos na Coocachaça (Cooperativa da Cachaça) no dia 30 de janeiro de 2003.
O professor Celso dos Santos Silva é mestre em Administração e Vice-Presidente da ABRESI – Associação
de Bares e Restaurantes Diferenciados.
13
58
sua concepção nos engenhos até os dias de hoje. Esta análise será feita com base no conceito de
Ciclo de Vida do Produto (CVP) elaborado por Philip Kotler (2000).
Segundo Kotler, o conceito de ciclo de vida do produto pode ser utilizado para analisar a categoria
de um produto (bebidas alcoólicas), a forma de um produto (bebidas destiladas), um produto
(cachaça) ou uma marca (51).
Através da análise do produto cachaça, o gráfico 1.1 foi traçado e tem a finalidade de ilustrar o
CVP da cachaça no Brasil.
Gráfico 1.1 – CVP da Cachaça no Brasil
a
Vendas e lucros ($)
0
I
II
1 Ciclo
III
IV
I
II
2a Ciclo
III
IV
Tempo
Fonte: Gráfico adaptado pelos autores segundo o conceito de CVP de Kotler (2000) e o histórico do
produto
O gráfico do CVP da cachaça apresenta duas curvas seguidas, cada uma dividida em quatro
fases: introdução (I), crescimento (II), maturidade (III), e declínio (IV). A fase de introdução é
caracterizada por ser um período de baixo crescimento em vendas, pois o produto está sendo
introduzido no mercado. O crescimento, como o próprio nome indica, denomina um período de
rápida aceitação do mercado, gerando maiores lucros. A fase de maturidade demonstra um
período de desaceleração no crescimento das vendas, pois o produto já conquistou a aceitação da
maioria dos compradores potenciais, havendo uma estabilização ou declínio nos lucros devido à
concorrência. O declínio refere-se ao período em que as vendas caem bruscamente,
desaparecendo os lucros.
Conforme verificado, o CVP da cachaça no Brasil apresenta duas partes distintas, o 1o e o 2o
Ciclo, cujas principais características estão descritas na tabela 1.1.
59
Tabela 1.1. – Fases do CVP da Cachaça no Brasil
1o Ciclo
Fase I
Introdução da cachaça no início de sua produção, quando a bebida era produzida nos
engenhos com a finalidade de aumentar a resistência de animais e escravos.
Fase II
Aumento da produção e vendas da bebida, em função do aumento da demanda pela
cachaça devido à difusão de suas qualidades.
Fase III
A produção da cachaça atingiu uma escala industrial, sendo comercializada
principalmente pelas classes sociais mais baixas, que adquiriam a bebida em bares e
botecos.
Fase IV
Declínio nas vendas da cachaça por ser uma bebida de bêbados e pinguços.
2o Ciclo
Fase I
Introdução de uma nova imagem para a cachaça e sua consolidação como Bebida
Nacional do Brasil ou Bebida Mundial do Brasil devido a diversos incentivos.
Fase II
Crescimento das vendas da cachaça, especialmente no mercado externo, em função da
organização das empresas do setor e da melhora na qualidade do produto.
Fase III
Fase IV
não se aplica
não se aplica
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de pesquisas realizadas
O 1o Ciclo representa todo o período de introdução da cachaça no mercado brasileiro até sua
comercialização nos bares e botecos do Brasil enquanto o 2o Ciclo refere-se ao período que
engloba a mudança da imagem da cachaça nacionalmente e sua comercialização no mercado
externo até os dias de hoje.
A modificação da imagem da cachaça no Brasil e sua consolidação em âmbito nacional e
internacional foi resultado de diversas ações tanto governamentais como privadas, das quais
destacam-se: a participação da cachaça em eventos elitizados, como por exemplo o 1º Cachaça
Open Golf, realizado em Brasília em agosto de 1999; a presença da bebida em coquetéis e
cerimônias oficiais do Governo do Brasil interna e externamente; a inclusão da bebida entre os
cinco produtos prioritários para a dinamização da pauta brasileira de exportações; a Lei da
Cachaça de Minas, que entrou em vigor em 11 de julho de 2001; o Decreto de dezembro de 2001;
a inclusão da cachaça como produto tangível nos estandes do Brasil nas Feiras Internacionais de
Turismo conduzidas pela EMBRATUR; a introdução da cachaça nos vôos internacionais da
VARIG; e a EXPOCACHAÇA - Feira e Festival Nacional da Cachaça, a maior vitrine do setor,
segundo Paulo Rocha, o organizador do evento em São Paulo.
60
O "boom" da cachaça no mercado brasileiro é um fenômeno forte e recente que vem ganhando
espaços importantes e freqüentes na mídia televisiva, escrita e falada. Além dos fatos citados
anteriormente, é importante ressaltar que esta conquista se deve também a outros fatores, como o
fenômeno da globalização, a nova imagem do Brasil no exterior, e seu peso na economia mundial.
A valorização da cachaça no mercado nacional trouxe de volta o antigo hábito de beber a cachaça
envelhecida pura, servida à temperatura ambiente, gelada ou com pedras de gelo. A nova imagem
da cachaça também permitiu o surgimento de novos produtos à base do destilado, como os drinks
especiais e o frozen cachaça e aumentou o consumo da caipirinha, que estava perdendo lugar
para a caipiroska e para a caipirinha de saquê. No mercado mundial, a cachaça está sendo
comercializada com grande intensidade e a bebida que antes era considerada popular pode ser
encontrada em “FreeShops” e mercados internacionais por até US$150,00! Quanto à caipirinha,
esta é considerada um dos dez coquetéis mais famosos do mundo, segundo a revista “Drinks
International”, uma espécie de Bíblia dos produtores de bebidas, garantindo seu espaço em cada
vez mais bares do exterior. Para a revista “In Style”, é a "mistura mais quente do século", e de
acordo com uma pesquisa da “International Bartenders Association”, divulgada pela revista
Newsweek, a caipirinha é uma das maravilhas da coquetelaria mundial. Destaca-se aqui a
caipirinha de cachaça, que representa a verdadeira caipirinha brasileira.
Referências
Dicionário de Vocábulos Brasileiros, 1889
DOLABELA, Fernando, Oficina do emprendedor, Cultura Editores Associados, São Paulo, 1999.
DRUCKER, Peter F., Inovação e Espírito Empreendedor, Prática e Princípios, 5ª edição, Pioneira,
São Paulo, 1987.
FERREIRA, Aurélio B. Holanda. Novo Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa – Séc. XXI. 3a
ed. São Paulo. Nova Fronteira, 1999. 2128pp.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 4ªed – 2000.
133pp
KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Atlas, 2000.
ODÍLIA, Facin, Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 3ªed - 2001
SILVA, Nelijane Ricarte Barreiro, artigo Planejamento do Negócio: Fator Determinante Na Criação
e Gestão de um Empreendimento, 2000
http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/cachaca.asp#resumo, acessado em 08/03/03.
61
A Promoção Comercial e a Marca Brasil
Hideko Sakugawa
O Brasil parece ter finalmente encontrado seu caminho para a construção de uma política para
exportação. Após anos tentando cuidar de questões isoladas, como política cambial, negociações
com blocos econômicos, concessão de subsídios, criação de barreiras de importação, reservas de
mercado, etc., o governo percebeu que o resultado era muito pequeno e de curto prazo.
Os empresários, por outro lado, não sentiam necessidade de buscar o mercado externo, já que seu
mercado doméstico era bastante amplo, e o mercado externo, muito competitivo. A partir da
década de 90, com a abertura comercial, o quadro mudou. As empresas nacionais perderam
mercado para produtos com mais qualidade e menor preço.
Historicamente, o Brasil sempre dependeu muito da exportação de produtos não manufaturados ou
semimanufaturados. Ultimamente, os preços destes produtos têm tido queda no mercado mundial,
o que obriga o país a exportar maior volume para obter saldo positivo. Outro agravante é o fato de
possuir uma base exportadora muito pequena. Somente 17%, das 17.000 exportadoras, são
responsáveis por 97% do total de vendas para o exterior. Dessa forma, o desempenho do Brasil no
comércio mundial fica em torno de 1%.
Desde 1998, com a criação da APEX, a idéia da promoção comercial vem ganhando mais força e
ações mais concretas. O desenho de uma “inteligência comercial” começa a ficar mais nítido.
Adaptando principalmente o modelo dos clusters italianos à realidade brasileira, o país está
procurando fortalecer sua base exportadora e mudar sua pauta de exportações. Ao contrário do
que ocorre em vários países desenvolvidos, onde as pequenas e microempresas são grandes
exportadoras, no Brasil elas não têm tido condições de competir no mercado internacional. Isto
ocorre, ou devido à sua baixa capacidade de produção ou à baixa competitividade de seus
produtos. A maioria trabalha com commodities e com produtos comuns ou de baixa qualidade.
Além disso, muitas delas têm dificuldades em obter financiamentos, custear as despesas com
prospecções de mercado, divulgação de produtos, impostos, burocracia, etc.
A promoção comercial, desenvolvida pela APEX, e o Sebrae buscam a capacitação das pequenas
e microempresas, através de duas ações: os consórcios de exportação e os clusters, batizados de
Arranjos Produtivos Locais (APL). A APEX financia 50% dos custos com a promoção comercial,
ficando os outros 50% a cargo das empresas participantes do consórcio, representadas pelas
associações de classe. O Sebrae realiza os estudos para identificação dos pólos industriais nos
diversos Estados do país.
62
Os APL são estudos de pólos industriais em vários municípios brasileiros no sentido de rastrear as
regiões especializadas em determinadas atividades, que receberão incentivos e financiamentos
para aumentar sua competitividade. É necessário que haja no mínimo 30 unidades fabris com a
mesma vocação. De acordo com estudos de Michael Porter, a aglomeração de indústrias numa
região estabelece entre si fortes relações de complementaridade. O que reduz custos, aumenta a
capacidade de adaptação às exigências do mercado e à pressão de competidores externos. O
cluster (APL) favorece o surgimento de mão-de-obra capacitada, institutos de pesquisas,
fornecedores, fontes de financiamentos, etc., o que torna a região mais desenvolvida.
Os consórcios de exportação são associações de empresas, com estatuto e regimento interno
registrados em cartório, que participam conjuntamente de feiras internacionais, desenvolvem
materiais promocionais, rateiam despesas de exportação, possuem uma logomarca, etc. De acordo
com o Dr. Edmir Kuazaqui, nos consórcios de exportação, os participantes obtêm melhores
resultados com a atividade exportadora por meio da diversificação de mercados e riscos,
envolvendo programas de curto, médio e longo prazo.
Paralelo à capacitação das empresas, o MDIC desenvolve a construção da Marca Brasil, com a
finalidade de construir uma imagem forte do país no exterior e facilitar a aceitação de produtos com
a identificação “by Brazil”. Com essa estratégia de comunicação, espera-se que o consumidor
estrangeiro associe a imagem dos produtos brasileiros com a Marca Brasil. É o mesmo processo
de associação que ocorre quando os consumidores pensam em um produto italiano e se lembram
de produtos com arte, refinamento e design bonito ou em um produto alemão associado à robustez
e à precisão de uma máquina.
Foram definidos três significados e suas qualidades para se trabalhar na fixação da essência do
Brasil:
1º significado – Futebol, associado à idéia de garra, determinação, consistência e vontade de
vencer. Sua qualidade é a Criatividade, porque fazemos as coisas de forma diferente.
2º significado – Imensa diversidade, de raças, religiões, recursos naturais e biodiversidade. Sua
qualidade é a Versatilidade, porque nos adequamos às necessidades internacionais.
3º significado – Padrão de Excelência, com responsabilidade, qualidade e comprometimento com
os negócios. Sua qualidade é a Orientação para Resultados, porque entendemos que qualquer
negócio tem de ser bom para todas as partes envolvidas.
A importância da ação do MDIC não está nos resultados que já estão aparecendo, mesmo que
timidamente. O que é preciso ressaltar é que começa a haver uma preocupação com um setor que
é responsável pela geração de empregos e renda no país e tem grande potencial, mas que não
63
tem obtido tratamento adequado por parte do governo. No que se refere à legislação tributária,
trabalhista e previdenciária, as pequenas e microempresas são tratadas nos mesmos termos das
grandes empresas, o que onera sua atividade e faz com que muitas delas operem na
informalidade. Quanto à atividade de exportação, esse setor não tem recebido o estímulo
necessário, como ocorreu nos países desenvolvidos. Espera-se que essas ações tenham
continuidade, com mudanças de rumo quando forem necessárias, para que os resultados sejam
mais concretos.
No que se refere à Marca Brasil, embora esteja havendo uma certa polêmica quanto à sua
aplicabilidade, é preciso acompanhar a evolução das estratégias de marketing. Ultimamente, o
foco tem sido na construção de marcas fortes para agregar valor ao produto. Apesar de o Brasil
estar um pouco atrasado nesse processo e o trabalho ser bastante complexo, não há dúvida de
que este é o caminho certo para obter resultados de longo prazo. Precisamos mudar a imagem de
um país alegre, cordial e descontraído, mas que não tem compromisso com os negócios, não
produz com qualidade e não cumpre contratos. Porém, os empresários também têm de estar
conscientes de que a marca do país não é a única que deve ser construída. As marcas dos
produtos também têm que se tornar fortes no exterior. A marca país é somente uma chave para
abrir as portas no mercado.
Referências
BECK, Leda. “Concorrência e cooperação. Ao mesmo tempo” Revista Update. Amcham. Fev.
2001. Online: disponível em http://www.amcham.com.br/revista. [Consultado em 14/05/03]
EQUIPE APEX. A primeira exportação a gente nunca esquece: como as empresas brasileiras
estão chegando ao mercado externo: um relato de experiência da APEX. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2003.
KUAZAQUI,
Edmir.
Marketing
Internacional:
como
conquistar
negócios
em
mercados
internacionais. São Paulo: Makron Books. 1999
PORTER, Michael E. a vantagem competitiva das Nações. Trad. de Waltemir Dutra. Rio de
Janeiro: Campus, 1993.
64
TESES E DISSERTAÇÕES
Tecnologia da Informação e as Condições de Trabalho
Palavras Chaves: Capitalismo e Tecnologia da Informação – Era da Informação – Sociedade
Informática– Exclusão Digital – Teletrabalho – Virtualidade
Aproximadamente na metade da última década do milênio passado algumas pessoas afirmavam
estar acontecendo uma revolução irreversível e sem precedentes na história da humanidade. Uns
acreditavam - os conectados. Outros não - os sem computador – que sequer sabiam do que se
tratava.
Ultimamente, o cotidiano do homem moderno tem incluído hábitos tão vinculados ao uso de
alguma forma de tecnologia, que permeia suas relações e meios de produção refletindo-se nas
várias esferas de sua vida, transformando o convívio social e, por conseguinte, a sociedade. De
maneira geral, a área de Tecnologia da Informação, acelerada pela introdução da Internet, agrega
características cada vez mais desafiadoras e competitivas.
Historicamente cada produto do progresso, desde a descoberta do fogo até à do computador, tem
mostrado duas faces: a positiva, de soluções de problemas, e a destrutiva, do incêndio, do plágio
(do “copiar” e “colar” ), do embotamento (processo de padronização de tarefas e movimentos), da
agressão ao corpo e à mente, do autismo tecnológico (exclusão social) e da alienação (isolamento
virtual).
A terceira revolução industrial ou Era da Informação é o resultado do surgimento de novas
tecnologias, como o processamento de dados, a robótica, as telecomunicações e as demais
tecnologias que, aos poucos, vão repondo máquinas nas atividades anteriormente efetuadas por
seres humanos. De fato, o que vemos hoje, prenunciadas por Rifkin (2000) em “O Fim dos
Empregos”, é a automatização de escritórios, comércio e indústria em níveis nunca antes
observados. Computadores fazem o trabalho de dezenas de seres humanos. Robôs, de milhares,
e a custos muito inferiores, sem férias, dores de cabeça, afastamentos ou benefícios.
Sob a ótica marxista, a exploração é o impulso central da mudança tecnológica sob o capitalismo.
Este traço não provém da ‘perversidade’ da classe dominante, nem da “maldade oculta” dos gênios
inovadores, mas da forma como está organizada a produção e usufruto do produto social. Sob a
compulsão da concorrência, os capitalistas introduzem melhoramentos na maquinaria para elevar a
65
taxa da mais-valia, ou seja, a parcela do trabalho realizado pelos operários da qual se apropriam
os senhores dos meios de produção.
A teoria diz que a informatização e a automatização geram maior produção. Maior produção gera
maior produtividade. A produtividade gera preços baixos. Preços baixos aumentam a demanda.
Hoje, entretanto, não aumenta o nível de empregos mas sim, trazem, pela lógica de funcionamento
do capital, mais informatização e automatização.
Do ponto de vista da reprodução geral do capital, a inovação e a exploração caminham de mãos
dadas com a procura de maiores benefícios. No entanto, somente por meio das grandes mudanças
tecnológicas, barateia-se o custo dos meios de subsistência, que determinam o valor da força de
trabalho e o nível dos salários que deve creditar o capitalista.
No sistema capitalista, a mudança tecnológica subordina-se ao princípio da concorrência. “Inovar
ou morrer” é a regra geral de sobrevivência. Os empresários devem renovar seus produtos para
preservar mercados e lucros, frente à ameaça da concorrência. “A burguesia não pode existir sem
renovar permanentemente as forças produtivas”, assinala Marx apud KATZ(1996:10).
A própria existência do lucro impede a continuidade da inovação. Se a ânsia pelo lucro é o
estímulo capitalista central da mudança tecnológica, a queda periódica da taxa de lucro paralisa o
ímpeto inovador.
Nestas circunstâncias, detêm-se o processo inovador; os avanços da tecnologia não se incorporam
ao desenvolvimento econômico e uma seqüela desvalorizadora de capitais e destrutiva de riquezas
degrada as conquistas precedentes da ciência e da própria tecnologia.
O capitalismo não se faz, então, capaz de aproveitar a potencialidade das inovações que renova
permanentemente e, por esta razão, subutiliza o caudal tecnológico, desocupando a força de
trabalho, impondo níveis de ociosidade da capacidade instalada e promulgando condições de
trabalho inadequadas aos profissionais de TI.
Daí, alicerça-se uma tensão social: as pessoas perdem emprego, renda, imagem e status.
Desconjuntura-se, assim, a estruturação de motivações firmando-se instabilidades de ordem
fisiológica, segurança, social, auto-estima e auto-realização. E isto se reverte como obstáculo à
introdução da própria tecnologia.
Apesar disso, a informação é o fator econômico mais importante nos dias de hoje. Há, entretanto, a
necessidade de separar o joio do trigo, ou seja, selecionar a informação útil daquela que é lixo ou
66
spam. A ordem é criar filtros para que não soframos de Ansiedade de Informação e desperdicemos
nosso tempo.
É tamanha a quantidade de informação e de transformações tecnológicas que as pessoas não
estão preparadas para acompanhá-las.
Por conta disso, o ambiente de trabalho da área de tecnologia aponta para situações de intensa
variabilidade, incerteza, instabilidade que precipitam em reações de ansiedade, medo, estresse,
irritabilidade e outros efeitos que afetam a homoestase do indivíduo.
Além do mais, as jornadas de trabalho estendidas, a execução de tarefas sob intensa pressão, o
afastamento familiar, o encurtamento das horas de lazer com amigos e família, a necessidade de
estar sempre alerta às novas tecnologias, linguagens de programação, banco de dados e
aplicativos culminam, inevitavelmente, em esgotamento físico e psíquico do profissional de
tecnologia da informação.
Os aspectos físicos podem ser observados em sintomas como dores nas costas, fadiga e
ofuscamento mental e fadiga mental. Psicologicamente, eles se tornam mais estressados, irritados
e ansiosos, principalmente em trabalho por projetos.
Nesse tipo de contratação, o sentimento que é conferido aos profissionais é de tensão e ansiedade
para o cumprimento dos objetivos e metas estabelecidos nos prazos, em geral, muito estreitos, e
também de insatisfação por não poderem acompanhar os resultados de seu trabalho.
O teletrabalho, modalidade laboral bastante polêmica, agregando adeptos e contrários, consiste
em desenvolver atividades intelectuais para a empresa, seja em casa ou em centros coletivos, com
auxílio de recursos de informática (computador, impressora, scanner, etc) e de telecomunicações
(rede, cabeamento, satélite). Porém, concomitantemente à flexibilidade de horário e redução dos
conflitos entre chefia e empregado, ocorrem os conflitos familiares, a fragilidade de relacionamento
e o isolamento. Enganam-se os profissional de tecnologia da informação que trabalham em
ambientes muito informais e descontraídos, pois eles são pretextos para “confortá-los” no trabalho
por mais longas horas.
A revolução digital alicerçada pela Internet oferece aos profissionais e usuários o que a sociedade
e suas instituições já não podem oferecer mais: segurança e conforto. Os canais de Bate-Papo na
rede Internet transformaram-se em um meio de lazer e contato social que oferecem às pessoas
tímidas um canal de expressão mais livre. Através deles e das telas animadas e coloridas, essas
mesmas pessoas passam, então, a pertencer à uma sociedade anônima, receosa dos riscos e dos
67
preconceitos da sociedade real. Essa ‘comodidade’ os reclusa a permanecer aí, afastando-os
gradativamente do contato humano. Ademais, a possibilidade de criar estórias e fantasias
e
assumir personalidades quaisquer no mundo virtual gera, simultaneamente, despersonalização e
des-socialização do indivíduo. Não raro também é constatar que as relações interpessoais estão
cada vez mais intermediadas por instrumentos informáticos e telemáticos, caracterizados por
formas comunicativas instantâneas e interdependentes que, com o seu operar, contribuem para
que a fisicidade e a substancialidade dos contatos profissionais cotidianos se percam no interior de
mundos artificiais nos quais os indivíduos se comunicam entre si, somente utilizando instrumentos
eletrônicos.
A linguagem na comunicação ciberespacial é quase sempre escrita, leve, compacta, econômica nada de envelope, nem serviço de correios - e cheia de símbolos que poupam palavras e
sentimentos; símbolos para expressar emoções (?) , como por exemplo: []s = abraços, rs** = risos
ou ainda :) = sorriso.
As mensagens não contêm acentos, til, cedilhas,etc. Todas elas são
demasiadamente informais e os erros de digitação bastante freqüentes. Isto tende a traduzir-se
na fragmentação da linguagem que tenderá a se tornar mais rudimentar.
É verdade que nunca tantos se comunicaram, porém, muitas pessoas estão evitando o contato
social com receio de suas próprias fraquezas, escondendo-se na virtualidade dos e-mails.
A imaterialidade da comunicação tem provocado um estreitamento da materialidade do real, uma
desmaterialização que vai passo a passo com uma desnaturalização de nossa relação com a
realidade. É a realidade virtual. Para alguns, um produto da tecnologia que abre novas fronteiras,
alargando o campo cognitivo das pessoas ou ainda possibilitando experimentar sensações jamais
vivenciadas antes, para outros, entretanto, uma realidade simulada que renuncia à autonomia e
controle daqueles que a usam: o homem como ser real e social.
Profissionais e usuários mais viciados na Internet perdem-se no sistema planetário do mass-mídia
que há muito os habituou à imersão no que foi definido como civilização das imagens, um mundo
no qual os eventos são substituídos por imagens, constituídas e oferecidas de maneira a resultar
mais reais do que o próprio real, ponto de fazer perder o sentido da diferença entre real e
imaginário, entre fato acontecido e representado.
Lamentavelmente, o preconceito e a discriminação apóiam-se na virtualidade não para
amenizarem-se ou resolvê-los, mas para consolidá-los, pois somente quando não percebemos a
aparência do outro é que o aceitamos. Assim, os discriminados tenderão a confortar-se no mundo
irreal e aí estarão socialmente isolados. Finalmente, é notório verificar que a Internet, embora
estereotipada como ‘a comunidade global a serviço de todos’, tem funcionado como um
68
mecanismo de seleção natural, praticando uma espécie de Darwinismo Digital entre aqueles que
têm o “direito” de pertencer ao mundo virtual daqueles que não desfrutam das condições mínimas
para tal e, então integram o número dos excluídos do presente e futuro promissor, caracterizando,
em princípio, a exclusão digital e, em seguida a econômica, social e cultural.
Diante dessa análise, o uso futuro das novas tecnologias configura-se sobretudo pelas
desigualdades culturais e econômicas dos que se encontram à margem da sociedade, os "sem
tecnologia". Certamente, em algum tempo e espaço, isto se reverterá como obstáculo à introdução
da própria tecnologia.
No entanto, maneira com a qual a sociedade humana vai resolver o problema da falta de emprego
ou solucionar a situação crescente de diminuição de demanda, sem, contudo, se submeter ao
retrocesso do desenvolvimento das forças produtivas e tecnológicas, pouco se tem certeza. Mas as
alternativas parecem nortearem a distribuição da riqueza de forma mais democrática, até porque
toda riqueza é produto da sociedade como um todo, ou desestruturação de toda a civilização,
mergulhando-a na miséria que ela provocará.
A Era da Informação ainda é muito jovem se comparada à existência da Revolução Agrícola e
Industrial, e talvez, por esse motivo, o homem contemporâneo esteja tão somente encantado pela
objetividade e estética da Tecnologia que não tenha se apercebido que a prática das condições
atuais de trabalho nesta área têm ferido a matéria chamada Ser Humano.
Finalmente, o dualismo presente na história humana: o bom-mau, o amigo-inimigo, o familiarestranho, o tecnófilo-excluído digital deve despertar nosso modo de refletir e avaliar, obrigar-nos a
estabelecer limites, a regulamentar e a responsabilizar por nós mesmos e pelos nossos
semelhantes.
Referências
BARRAL, Etienne. Otaku: os filhos do Virtual. São Paulo: Editora SENAC, 2000.
CODO, Wanderley; LANE, Silvia T M. Psicologia Social: O Homem em Movimento. Rio de
Janeiro: Brasiliense, 1999.
CÔRTES, Pedro Luiz. A Verdadeira Historia do IG. Erica: São Paulo, 2001.
COSTA, Ana Maria Nicolaci da. Na malha da Rede: Os impactos intimos da Internet. Rio de
Janeiro: Campus, 1998.
ERCÍLIA, Maria. A Internet. São Paulo: Publifolha, 2000.
KATZ, Cláudio; COGGIOLA, Osvaldo. Neoliberalismo ou Crise do Capital ? São Paulo: Xamã,
1996.
LESSARD, Bill. Escravos da Internet: Net Slaves. São Paulo: Makron, 2000.
69
PASTORE, José. Desemprego tem Cura?. São Paulo: Makron, 1998.
PELUSO, Ângelo. Informática e Afetividade: A evolução tecnológica condicionará nossos
sentimentos ? São Paulo: EDUSC: 1998.
POCHMAN, Márcio. @-Trabalho. São Paulo: Publisher Brasil, 2002.
RIFKIN, Jeremy. O Fim dos Empregos. São Paulo: Makron Books, 2000.
SCHAFF, Adam. Sociedade Informática. Rio de Janeiro: Record, 1993.
SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter: Conseqüências Pessoais do Trabalho no Novo
Capitalismo. Ed 5. RJ: Record, 2001.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu de. Exclusão Digital. Perseu Abramo, 2001.
SOUZA, Hormindo. Pereira de. História e Filosofia da Educação. 2001. Tese (Doutorado em
Educação) - Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
TROPE, Alberto. Organização
Qualitymark, 1999.
Virtual: Impactos do Teletrabalho nas Organizações. RJ:
70
PALESTRAS E DEBATES
Propaganda Digital – Indo além do banner
Síntese da Palestra proferida pelo Sr. Rubens Yoshio Yoshida, realizada em 23/06/2003, no
auditório da UNIP.
Cláudio Teramoto, Linda Aiko Onishi de Carvalho,
Luiz Henrique de Oliveira, Marcelo Luque,
Márcia Adário Panico, Milton Martins de Souza
A Internet é uma nova maneira de se comunicar em que o consumidor se posiciona de maneira
diferente. Surgiu em 1969, através do uso militar, na Guerra Fria, em que era necessário rede de
comunicação que não fosse interceptada pelos inimigos. O comércio através da Internet, o ecommerce, surgiu em 1994 com a compra de um buquê de flores.
No Brasil, a primeira transação segura efetuada na web foi pela empresa Kalunga, com cartão de
Crédito argentino. A interação de forma comercial pela Internet demorou 4 anos para ter 50
milhões de usuários (1993 a 1997). Hoje, existem mais de 350 milhões de internautas no mundo.
Com o advento da Internet, surgiu uma nova forma de comunicação, a qual passou a agregar
novas palavras que antes não existiam, tais como, navegabilidade, interatividade, atratividade,
entre outros. Existem alguns pontos-chaves que devem ser observados na Internet, como objetivo,
criatividade, segurança, manutenção, CRM (Customer Relationship Manegement), o qual significa
relacionamento com o cliente. A empresa tem que funcionar bem no “off-line”.
O palestrante indaga qual o objetivo de se ter página na Internet? O objetivo deve ser claro e
necessário, não pode ser porque todos estão entrando na Internet. Deve ser avaliada a relação
entre o investimento e o retorno. Citou como exemplo de site objetivo os das empresas TAM e
Gol.
Quanto à criatividade, o site deve ser bom design, ser de fácil navegação, ter interatividade e
ações promocionais a fim de divulgar o site. Exemplo de site criativo, www.nike.com,
www.2advanced.com e www.celta.com.br.
Relativamente à segurança, deve-se observar a integridade do site, do cadastro, das formas de
pagamento e a comunicação utilizada. Normalmente a falha na segurança ocorre de dentro para
fora.
71
No que diz respeito à manutenção, as páginas do site devem ser atualizadas permanentemente,
uma vez que a novidade é imprescindível. Exemplo de site com manutenção www.r9ronaldo.com.
O palestrante afirma que o site é uma grande avenida e deve ter uma vitrine atraente, pois muitos
entram mas poucos consomem. Deve-se cuidar do conteúdo e da atualização da página.
Na atualidade, para as empresas que vivem da comunicação pela Internet, a receita ainda é menor
que as despesas. A base da lucratividade é a publicidade e o e-commerce, mas elas não devem
estar apenas na Internet. Devem utilizar outros meios de publicidade, tais como mídia, televisão,
rádio, revista e outdoor. Exemplo de site que vive de publicidade: Yahoo.
Para se adotar o Marketing Dirigido ou Marketing Direto é preciso ter um bom banco de dados e
atrair clientes para o site; separar os clientes por grupos distintos, identificados e caracterizados,
enviando mensagens diferenciadas para grupos distintos e chamando-os pelo nome; e
gerenciamento utilizando software de auto-alimentação para que se possa gerenciar as
informações, como, por exemplo, o rastreamento do cliente. Das formas de Marketing Direto
existentes, a de menor custo e de maior retorno é o e-mail marketing.
O grande desafio não é fazer o consumidor comprar na primeira vez que ele acessa o site, isso é
fácil, o difícil é fazer com que ele compre pela segunda vez.
Por fim, foram abordadas as tendências da Propaganda Digital que serão utilizadas na Web e que
deverão ter cada vez mais velocidade; interatividade com CRM; efeitos em banners e Pop-Ups, os
quais não conseguiremos fechá-los antes que eles abram; migração da web para a televisão, casa,
carro, celular, agendas eletrônicas e palmtop.; e, ainda, maior conectividade, diminuindo-se a
exclusão social.
PERGUNTAS FEITAS PELOS EXPECTADORES
1) COMO FICAM AS EMPRESAS QUE COMERCIALIZAM BANCO DE DADOS DE E-MAIL?
A comercialização de bancos de dados de e-mail não é permitida por lei. Existem empresas que
comercializam, mas estão cometendo ato ilícito. Portanto, quem faz pode sofrer as sanções legais.
2) COMPRAR PELA INTERNET É SEGURO?
Comprar na Internet é seguro, inclusive por meio de cartão de crédito, mas temos que saber de
quem estamos comprando.
3) HOJE, A INTERNET AINDA DEPENDE DE OUTROS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO. SERÁ
QUE SE TORNARÁ AUTÔNOMA?
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Somente quando houver convergência entre TV e Internet, ou seja, com a interatividade. No
momento ainda não há convergência. Hoje, temos business to business.
4) QUAL O IP QUE SE GRAVA E QUANDO OCORRE?
Grava-se o IP da máquina que você está acessando. A identificação do IP é feita no momento em
que se acessa o Site.
5) O QUE É SPAM?
É mensagem enviada para sua caixa postal sem sua autorização. Normalmente, atrás da foto há
vírus que pode danificar o computador.
6) PODE-SE
DIZER
QUE
“VÍRUS”
É
UMA
ESTRATÉGIA
DAS
EMPRESAS
PARA
COMERCIALIZAR SEUS PRODUTOS (ANTIVÍRUS)?
Aparentemente sim, mas não é. Há classificação de vírus. Depende do tempo que se demora em
detectar e encontrar a solução. Vírus mutante é aquele que muda de status constantemente.
MENSAGEM FINAL
“O MUNDO VIRTUAL É REAL”.
Professor Rubens Yoshio Yoshida
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PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO MUNDIAL
Roberta Vaz De Marque
Em 20 de agosto de 2003, teve lugar nas Faculdades Tancredo Neves uma palestra sobre “A
Proteção Internacional dos Bens Culturais”, proferida pelo Professor Fernando Fernandes da Silva,
tendo o Professor Edmir Kuazaqui como debatedor, o qual solicitou que eu discorresse sobre o
tema.
Primeiramente é necessário definir o que é um patrimônio e por que devemos preservá-lo. De
acordo com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
entende-se como patrimônio cultural os monumentos, grupos de edifícios e sítios que tenham valor
histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico; e como patrimônio natural,
formações físicas, biológicas ou geológicas consideradas excepcionais, habitats animais e vegetais
ameaçados, e áreas que tenham valor científico, de conservação ou estético.
Todo patrimônio é uma imensa fonte de referência e identidade de uma sociedade. A qual se
encontra cada vez mais ameaçado devido a fatores naturais e movimentos de alteração e
destruição causados pelo desenvolvimento da sociedade. Em razão desses fenômenos, existe a
preocupação de proteger os bens culturais e naturais em todas as partes do mundo, para que se
possam reconstruir comunidades destruídas, restabelecer identidades e “amarrar” seu passado,
presente e futuro.
A proteção e conservação dos bens declarados Patrimônio da Humanidade são compromissos do
país onde se localizam. A participação da Unesco se restringe a apoiar ações de proteção,
pesquisa e divulgação, com recursos técnicos e financeiros do Fundo do Patrimônio Mundial.
Muitas vezes, a proteção do patrimônio mundial não é satisfatória, devido à grandeza dos meios e
a insuficiência de recursos financeiros, científicos e técnicos necessários.
Existem convenções que tratam da proteção do patrimônio mundial:
- Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em casos de Conflito Armado (Convenção de
Haia, 1954);
- Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO,1972);
- Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático (UNESCO, 2001).
A Constituição Brasileira de 1988 dedica espaço à cultura e bens culturais, denomina e define o
patrimônio cultural, e o distingue do patrimônio natural. Em seu art. 23, é definido como
competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a proteção dos
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documentos, obras, bens de valor histórico, artístico e cultural, monumentos, paisagens naturais e
sítios arqueológicos; o art. 216 reza que o patrimônio cultural brasileiro constitui-se de bens de
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
O Brasil possui 16 bens inscritos na lista do patrimônio mundial, estando entre eles a Cidade
Histórica de Ouro Preto, a Cidade Histórica de Olinda, o Centro Histórico de Salvador, o Parque
Nacional de Iguaçu, a Área de Conservação do Pantanal, as Reservas de Fernando de Noronha.
O patrimônio cultural divide-se em material – os bens físicos - e imaterial, constituídos por
tradições, folclore, saberes, línguas, festas e em diversos outros aspectos e manifestações,
transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo.
Atualmente, o Brasil está passando por um sério problema envolvendo seu patrimônio cultural
imaterial e a propriedade intelectual de populações da Amazônia. O Cupuaçu (Theobroma
grandiflorum) é uma fruta usada como fonte primária de alimento na floresta Amazônica, tanto para
populações indígenas quanto para animais; sua polpa de sabor exótico é usada no Brasil para se
fazer sucos, sorvetes e geléias.
A organização não-governamental Amazonlink descobriu que a companhia japonesa Asahi Foods
Co. Ltd patenteou a extração do óleo do caroço do cupuaçu, e o nome “cupuaçu”, proibindo o uso
do nome dessa fruta por qualquer outro produtor, prevendo uma multa ao “infrator”. Essa empresa
importa o cupuaçu dos estados brasileiros Amazonas e Pará, para produzir um tipo de chocolate
feito da fruta, nomeado cupulate. Em resumo: uma fruta exclusiva da biodiversidade brasileira foi
retirada do território nacional sem autorização do governo, e lhe foi dado uso comercial, tudo sem a
participação do Brasil e das comunidades detentoras do conhecimento tradicional.
De acordo com a Amazonlink, se o Brasil conseguir provar que o produto foi descoberto e que é
usado tradicionalmente por tribos da Amazônia, é possível reverter as patentes internacionais.
Os bens culturais e naturais pertencem aos povos que os detêm como referência e identidade, e
pertencem ao mundo, para que todas as sociedades possam conhecer e se beneficiar desses
bens.
Referências
Site da ONG Amazonlink. Disponível em http://www.amazonlink.org. Acesso em <30 de agosto de
2003>.
75
Site da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO.
http://www.unesco.org. Acesso em <30 de agosto de 2003>.
Site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Disponível em
http://www.iphan.gov.br. Acesso em <30 de agosto de 2003>.
76
CONVIDADOS DESTE NÚMERO
•
Alexandre Barbosa - Graduando em Administração de Empresas com habilitação em Gestão
de Negócios Internacionais pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
•
Ana Maria de Luca Chamelete Menezes – Mestranda em Administração pelo Centro
Universitário Monte Serrat (Unimonte).
•
Carina Svissero Kellermann Pereira - Graduanda em Administração de Empresas com
habilitação em Gestão de Negócios Internacionais pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM).
•
Celso dos Santos Silva – Mestre em Administração. Profissional da área de Gastronomia
Internacional. Professor da Pós-Graduação em Gastronomia da Universidade Paulista (UNIP).
•
Cláudio Teramoto – Pós-Graduado em Administração Geral pela Universidade Paulista
(UNIP).
•
Edmir Kuazaqui - Doutor e Mestre em Administração, consultor e especialista em Marketing.
Presidente da Academia de Talentos. Autor dos livros Marketing Internacional – Como
conquistar negócios em mercados internacionais e Marketing Turístico e de Hospitalidade –
Fonte de riquezas e desenvolvimento para o Brasil. Organizador da obra A Excelência em
Serviços – Academia de Talentos. Coordenador dos Programas de Pós-Graduação em
Marketing Internacional, Administração Geral, Gastronomia, Secretariado Executivo e
Administração Contábil Financeira da Universidade Paulista – Unip. Professor dos Programas
de MBA da FUNDAC e ARCO/ECA/USP. Professor titular da Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM) e das Faculdades Tancredo Neves.
•
Eduardo Sansone - Professor Doutor dos Programas de Pós-Graduação da Universidade
Paulista (UNIP).
•
Érika Helena Bautto - Turismóloga e consultora em Turismo e Hospitalidade.
•
Gleder Maricato - Doutor e Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Professor de pós-graduação e graduação em Comércio Exterior. Consultor. Professor
dos Programas de Pós-Graduação da Universidade Paulista (UNIP).
•
Hideko Sakugawa - Pós-graduada em Marketing Internacional pela Universidade Paulista
(UNIP).
•
Ivon de Mello Trella – Mestre em Administração e Coordenador da Universidade Federal de
Mato Grosso (Unimate).
•
Kelly Cristina de Freitas Rodrigues – Mestranda em Administração pelo Centro Universitário
Monte Serrat (Unimonte).
•
Liliane Cristine Schlemer Alcântara - Mestranda em Administração de empresas e
Coordenadora e Professora da UNIFLOR/MT
77
•
Linda Aiko Onishi de Carvalho - Pós-Graduada em Administração Geral pela Universidade
Paulista (UNIP).
•
Luiz Henrique de Oliveira - Pós-Graduado em Administração Geral pela Universidade
Paulista (UNIP).
•
Marcelo Luque - Pós-Graduado em Administração Geral pela Universidade Paulista (UNIP).
•
Márcia Adário Pânico - Pós-Graduada em Administração Geral pela Universidade Paulista
(UNIP).
•
Marcia Gamboa - Professora Doutora dos Programas de Pós-Graduação da Universidade
Paulista (UNIP).
•
Milton Martins de Souza - Pós-Graduado em Administração Geral pela Universidade Paulista
(UNIP).
•
Olga Tulik - Livre Docente pela USP.
•
Osmar Coronado - Doutor em Contabilidade pela FEA/USP.
•
Rafael Evaristo dos Santos Galea - Graduando em Administração de Empresas com
habilitação em Gestão de Negócios Internacionais pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM).
•
Roberta Vaz De Marque - Graduanda em Relações Internacionais pelas Faculdades Tancredo
Neves.
•
Roberto Kanaane - Consultor na área de Gestão de Recursos Humanos e da qualidade de
vida, qualidade total. Sócio Diretor da Roka Consultoria em Recursos Humanos prestando
Consultorias em Gestão de Pessoas, Talentos Humanos e Competitividade junto às Empresas
Nacionais e Multinacionais. Mestre em Psicologia Social, Doutor em Ciências junto à
Universidade de São Paulo. Coordenador do Mestrado em Administração da Unimonte –
Santos. Gestor Acadêmico dos Cursos Seqüenciais e de Tecnologia em Gestão de Empresas
Turísticas junto à Universidade Mogi das Cruzes - UMC. Coordenador em Gestão de Pessoas
do Instituto de Pesquisa Hospitalar – São Paulo. Professor convidado da Universidade de São
Paulo, Faculdade de Economia FEA – USP, atuando junto ao Master Business Administration
em Marketing. Professor da PUC – São Paulo, exercendo atividades no pós-graduação Lato
Sensu. Professor pleno da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC). Autor do livro
Comportamento Humano nas Organizações: O Homem Rumo ao Século XXI, Atlas, 1999. Coautor do livro Manual de Treinamento e Desenvolvimento do Potencial Humano, Atlas, 2001.
Membro da Academia Paulista de Psicologia, ocupando a cadeira de número 21.
•
Sarah Chucid Da Via - Livre Docente pela USP.

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