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DIVINO SOSPIRO F.Geminiani
CHIARA BANCHINI direcção TIAGO RODRIGUES narrador
CCB CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ANTÓNIO MEGA FERREIRA [PRESIDENTE] ANA ISABEL TRIGO MORAIS [VOGAL] MARGARIDA VEIGA [VOGAL]
CENTRO DE ESPECTÁCULOS DIRECÇÃO DO CENTRO DE ESPECTÁCULOS MIGUEL LEAL COELHO ADJUNTA PARA A PROGRAMAÇÃO LUÍSA TAVEIRA ADJUNTA PARA O PLANEAMENTO CLÁUDIA BELCHIOR ASSESSOR PARA PROGRAMAÇÃO
MUSICAL JOÃO GODINHO SECRETARIADO DE DIRECÇÃO LUISA INÊS DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO CARLA RUIZ PRODUÇÃO INÊS CORREIA | PATRÍCIA SILVA| HUGO CORTEZ | INÊS LOPES | VERA ROSA | JOÃO MARTINS ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
RITA BAGORRO DIRECTOR DE CENA COORDENADOR JONAS OMBERG DIRECTORES DE CENA PEDRO RODRIGUES | PATRÍCIA COSTA | PAULA FONSECA | JOSÉ VALÉRIO ESTAGIÁRIA FRANCISCA RODRIGUES | SECRETARIADO DE DIRECÇÃO DE
CENA YOLANDA SEARA DIRECTOR TÉCNICO PAULO GRAÇA | CHEFE TÉCNICO DE PALCO RUI MARCELINO | SECRETARIADO DE DIRECÇÃO TÉCNICA SOFIA MATOS | TÉCNICO PRINCIPAL PEDRO CAMPOS | LUÍS SANTOS | RAUL SEGURO | TÉCNICO
EXECUTIVO ARTUR BRANDÃO | F. CÂNDIDO SANTOS | VÍTOR PINTO | CÉSAR NUNES | JOSÉ CARLOS ALVES | HUGO CAMPOS | MÁRIO SILVA | RICARDO MELO | RUI CROCA | CHEFE TÉCNICO DE AUDIOVISUAIS NUNO GRÁCIO TÉCNICO DE AUDIOVISUAIS RUI LEITÃO | EDUARDO NASCIMENTO | LUIS GARCIA SANTOS | NUNO BIZARRO | PAULO CACHEIRO | NUNO RAMOS | CHEFE TÉCNICO DE GESTÃO E MANUTENÇÃO SIAMANTO ISMAILY TÉCNICO DE MANUTENÇÃO JOÃO SANTANA |
LUÍS TEIXEIRA | VÍTOR HORTA 9 Jan´10
Pequeno Auditório – Sala Eduardo Prado Coelho 21h M/12 anos
CHIARA BANCHINI direcção TIAGO RODRIGUES narrador
DIVINO SOSPIRO
Francesco Saverio Geminiani (1687-1762)
A Floresta Encantada (The Inchanted Forrest, 1747-1754)
Primeira parte
N.º 1 Andante
N.º 2 Allegro moderato
N.º 3 Andante
N.º 4 Allegro moderato
N.º 5 Andante – Adagio
N.º 6 Allegro moderato
N.º 7 Andante spiritoso
N.º 8 Adagio
N.º 9 Allegro
N.º 10 Grave
N.º 11 Allegro moderato
[Intervalo]
Segunda parte
N.º 12 Andante affettuoso
N.º 13 [Allegro]
N.º 14 Allegro moderato
N.º 15 Andante – Allegro – Andante – Adagio – Affettuoso – Allegro – Allegro moderato
N.º 16 Andante
N.º 17 Allegro
N.º 18 Affettuoso
N.º 17 Da Capo
Co-produção: CCB/Divino Sospiro, orquestra em residência no CCB
Jerusalém Libertada de Torquato Tasso
(excertos dos cantos XIII e XVIII)
Tradução de Margarida Periquito
Primeira parte | Canto XIII
1 Mal cai em cinzas feita a torre imensa
que às muralhas impôs derrota dura,
logo em nova maneira Ismeno pensa
de tornar a cidade mais segura;
à matéria que o franco não dispensa,
impedir-lhe o acesso é o que procura,
para que contra Sião, já destroçada,
outra torre não seja edificada.
2 Não longe das tendas cristãs se estende,
em meio a ermo vale, alta floresta
de horrendos velhos troncos, que desprende
de si, em derredor, sombra funesta.
Nela, à hora em que o sol mais claro esplende
é incerta a luz, descorada e mesta
qual céu toldado que de ver impede
se o dia à noite ou ela a ele sucede.
3 Assim que o sol se põe, aqui se acoita
a noite, nuvens, caligem, e horror
que infernal parece, e os olhos enoita
de cegueira, e o peito enche de temor;
rebanho ao pasto e à sombra não se afoita
de aqui conduzir boieiro ou pastor;
nem viajante a adentra, só transviado,
aponta-a de longe e passa afastado
1 > Andante
2 > Allegro moderato
5 (v. 5 a 8) O mago para lá foi, o oportuno
silêncio fundo da noite elegendo,
da noite que imediata sucedeu;
e um círculo fez e uns sinais escreveu.
6 Com um pé desnudo no cerco assente,
palavras poderosas pronuncia.
Três vezes gira o rosto a Oriente,
mais três para o lado onde o sol agonia;
três vezes brande a vara que consente
que o morto deixe a tumba onde jazia,
e três com o pé descalço o solo fere;
depois, num terrível brado, profere:
1 > Andante
2 > Allegro moderato
3 > Andante – Adagio
12 O mago, que ora tudo tem a jeito
para o seu intento, ao rei volta contente:
“Senhor, não duvides, serena o peito,
do reino perder não estejas temente,
que a franca hoste não terá preceito
de outras torres fazer, como está crente.”
Assim lhe diz; depois, parte por parte,
narra os sucessos da mágica arte.
1 > Allegro moderato
2 > Andante spiritoso
Canto XVIII
26 Detém-se o guerreiro na ampla praça,
17 (v. 5 a 8) Chegou onde os menos fortes detém
e maior prodígio então se produz.
Vê um carvalho que seu tronco esgaça,
abre o fecundo ventre e dá à luz;
dele sai, vestida com rara graça,
uma ninfa na idade que seduz;
e de mais cem plantas vê depois, pávido,
cem ninfas sair do seu tronco grávido.
o simples terror que tal vista inspira;
porém, nem enfadonho nem temível
o bosque achou, mas sim sombra aprazível.
1 > Grave
2 > Allegro moderato
Segunda parte
17 Nesse interim o pio Bulhão presume
18 Vai mais além e ouve um som entretanto,
que à cidade dará fútil batalha
sem a torre, destruída pelo lume
e mais maquinaria que lhe valha.
E manda os seus ao bosque, onde é costume
matéria achar, que para tal uso calha.
À floresta vão ao romper da aurora,
mas algo novo nela os apavora.
que docemente soa e dele se esconde.
Percebe de um regato o débil pranto,
o suspirar da brisa em cada fronde,
do cisne canoro o plangente canto
e o rouxinol que a chorar lhe responde,
cítaras, vozes humanas em rima.
Tantos e tais sons um só som anima!
18 Qual simples menino que olhar não ousa
19 Tendo o que aos outros sucedeu na ideia,
para o lado onde insuetas larvas se acoitam,
e se amedronta quando a noite pousa
e traz monstros e sombras que o tresnoitam,
assim receiam, sem saber que cousa
os assusta, e a avançar não se afoitam;
talvez seja o temor, pensam, que finge
mais assombros que a Quimera ou a Esfinge.
o cavaleiro algazarra temia,
mas o que ouve é, de ninfa e de sereia,
de auras, de águas, de aves, doce harmonia,
e, maravilhado, o passo refreia
depois, lento e enlevado, segue a via;
e coisa nenhuma lhe tolhe o avanço,
senão um rio pouco profundo e manso.
1 > Adagio
2 > Allegro
27 Cresce o fogo em labaredas da altura
de muralhas, que a fumaça debrua;
rodeia todo o bosque e assegura
que ninguém corte ou derrube árvore sua.
As chamas mais altas têm figura
de soberbo castelo que possua
engenhos bélicos, pois de defesa
muniu a nova Dite a fortaleza.
28 Oh, quantos monstros armados à guarda
das ameias, com medonha caraça!
Olhares sinistros, lançam-lhos em barda;
de outros, com armas, recebe ameaça.
Foge ele por fim, mas seu passo retarda,
qual leão que se retira da caça;
porém foge, e um temor lhe agita o peito,
de que ignorara até ali o efeito.
1 > Andante affettuoso
2 > [Allegro]
3 > Allegro moderato
21 (v. 1 a 4)
Enquanto o guerreiro um bom vau buscava,
soberba ponte de ouro eis que surgia;
sobre estáveis arcadas assentava
e firme e ampla estrada lhe oferecia.
Andante – Allegro – Andante – Adagio
25 Enquanto observa e a mente crer rejeita
no que os sentidos dão por verdadeiro,
dirige-se para um mirto que espreita
de uma ampla praça onde finda um carreiro.
O estranho mirto longos ramos deita,
mais que o cipreste ou a palma altaneiro,
dominando o arvoredo com seu porte;
parece ser ali do bosque a corte.
27 Tal como no teatro ou nas pinturas
as deusas dos bosques nos são mostradas,
de braços nus, sucintas vestiduras,
belos coturnos, tranças desmanchadas,
igual aspecto tinham as figuras
pelos troncos ficticiamente geradas;
só o arco e a aljava se excluíam,
pois lira, viola ou cítara traziam.
28 (v. 1 a 4) Logo a danças de roda se entregaram,
num círculo se uniram e, lá dentro,
o cavaleiro, sozinho, deixaram,
como se fosse do círculo o centro.
35 (v. 5 a 8) Os membros engrossam, escurece a face,
perdendo os tons de púrpura e marfim;
num gigante enorme se converteu,
com cem braços armados, um Briareu.
36 Cinquenta espadas brande e com cinquenta
escudos ressoa, e ameaçando freme.
Cada ninfa sua armadura ostenta,
qual ciclope horrendo, mas ele não teme;
contra o mirto grandes golpes intenta,
o qual, como animado, aos golpes geme.
O campo, ali, parece os campos estígios,
tantos monstros lá surgem e prodígios.
37 Por cima troa o céu e em baixo a terra;
fulmina ele, treme ela, em paridade;
os ventos e as procelas travam guerra,
soprando-lhe para o rosto a tempestade.
Mas nenhum golpe o cavaleiro erra,
nem lhe rouba a borrasca agilidade;
corta a nogueira, de mirto aparência.
O encanto cessa; de larvas, ausência.
Affettuoso – Allegro – Allegro moderato
1 > Andante
2 > Allegro
3 > Affettuoso
17 > Da Capo
A F l o r e s ta E n c a n tada
A 31 de Março de 1754 esteve em cena, no
Theatre du Palais des Tuileries de Paris, a pantomima em cinco actos La Forest Enchantée inspirada nos acontecimentos narrados
nos cantos XIII e XVIII da Gerusalemme Liberata de Torquato Tasso.
O seu autor era o arquitecto e criador de
espectáculos Giovanni Niccoló Servandoni
(1695-1766), desde há muito ao serviço da
corte francesa, que tinha encomendado a
música ao respeitável Francesco Geminiani,
famoso violinista e compositor residente em
Inglaterra, conhecido também em Paris. O
tema épico e mágico, simplificado e reelaborado para a ocasião, oferecia a Servandoni
a oportunidade de realizar um espectáculo
rico em grandiosos efeitos cénicos e truques
de ilusionismo, através dos quais se tinha tornado famoso: um espectáculo ornamentado
com máquinas, animado por actores pantomineiros e acompanhado por uma música
(composição do Sr. Geminiani) que lhe expressa as diferentes acções.
O exército cristão necessita de uma nova máquina de guerra para retomar o cerco de Jerusalém, mas a floresta de Saron, que deveria
fornecer a madeira necessária à sua construção, está encantada pela magia de Ismeno e
habitada por inúmeros espíritos que a tornam impenetrável; o acampamento cristão
é enfraquecido pela seca e depois de várias
tentativas falhadas, Godofredo de Bulhão
encarrega Rinaldo de quebrar o feitiço: o cavaleiro será bem-sucedido na sua missão.
Alguns anos depois do espectáculo parisiense, que, ao que parece, não teve sucesso,
Geminiani publicou em Londres (presumivelmente nos anos 1755-1756) uma versão para
concerto da partitura, dividida em duas partes e intitulada The Inchanted Forrest. An
Instrumental Composition Expressive of
the same Ideas as the Poem of Tasso of
that Title.
A Floresta Encantada não é concebida como
música de programa, que procura representar ou descrever, mas antes música adaptada
a um programa, constituindo a música de
fundo, a banda sonora da pantomima.
Tal facto é perceptível sobretudo através da
música dos primeiros quatro actos, constituída a partir de outros tantos concerti grossi
independentes, ao passo que no quinto acto
a ligação da partitura com o desenrolar da
acção torna mais fácil reconduzir a música ao
contexto dramático da pantomima. Podemse encontrar afinidades através da subtil alusão às piéces de caractére dos cravistas franceses como Couperin ou Rameau. Na base do
programa e da encenação da pantomima e
dos versos de Tasso é contudo possível admitir uma interpretação da partitura relacionada com a acção, já que são indicadas entre
parênteses as referências, directas ou indirectas, aos oito cantos do poema épico de Tasso;
como é óbvio, as legendas têm um valor meramente indicativo. Organizada, portanto,
em duas partes, a composição de Geminiani
consiste em 18 números: a primeira parte, em
Ré menor, corresponde aos actos I-III e abrange os números 1-11; a segunda parte, em Ré
maior, corresponde aos actos IV-V e abrange
os números 12-18.
A tendência para a simplificação da linguagem em A Floresta Encantada, em comparação com as produções anteriores de Geminiani, explica-se tanto pela necessidade em
escrever uma música que favoreça a acção
cénica dos mimos, como pela necessidade do
compositor em adequar o seu estilo, sustentado por um pensamento contrapontístico,
ao gosto galante dominante.
No tratamento orquestral, Geminiani permanece fiel ao contraste dos diferentes planos fonéticos e dinâmicos, característicos do
concerto grosso, mas enriquecendo a paleta
tímbrica com a presença de instrumentos de
sopro: duas flautas transversais (que quase
sempre dobram os violinos), trompete e duas
trompas (que realçam os momentos de maior
solenidade no final do acto).
Uma outra característica de Geminiani é a
escrita instrumental finamente cinzelada por
uma rica ornamentação. No que diz respeito
ao aspecto formal, o compositor utiliza ainda
diversas soluções construtivas, privilegiando
a forma binária da dança, constituída por
duas partes, cada uma repetida de modo a
obter um efeito de refrão, onde a segunda
parte pode ainda apresentar uma repetição
ligeiramente modificada relativamente ao
conteúdo musical da primeira.
A primeira parte abre com um Andante articulado em duas secções que evoca a atmosfera sombria e sinistra da floresta durante a
noite. De notável sugestão representativa, o
trecho, entre as poucas concessões contrapontísticas de A Floresta Encantada, tem
um percurso harmónico divagante e constitui
uma espécie de cortina sonora que se levanta
no palco da acção.
A acção começa, depois do final suspenso do
Andante, com o subsequente Allegro moderato (n.º 2), que acompanha o conclave dos
magos reunidos para celebrar um rito infernal; o andamento em compasso ternário é
preenchido por figuras em staccato que conferem à música um tom bizarro e caprichoso,
confirmado pelo solo final do concertino. A
entrada do mago Ismeno que encanta a floresta coincide com o breve e contemplativo
Andante (n.º 3) e o primeiro acto termina
com o Allegro moderato (n.º 4), no qual aparecem as trompas: os magos cumprimentam
Ismeno pelo sucesso da sua magia em tempo
de giga de carácter cavaleiresco, e está ligado
sem continuidade ao trecho seguinte.
Enquanto que no primeiro acto o tema da
pantomima segue de certa forma a narrativa
de Tasso, já no segundo afasta-se elaborando
livremente sobre o regresso de Ismeno ao reino muçulmano de Aladino: numa mesquita
em Jerusalém, Aladino aconselha-se com os
seus ministros de forma a decidir a estratégia de guerra contra os cristãos. O breve Andante – Adagio (n.º 5) introduz a acção na
mesquita.
No Allegro moderato (n.º 6), três ministros do
rei propõem diferentes tácticas para derrotar
o exército inimigo; o elegante andamento
em compasso ternário apresenta uma linha
melódica requintada e ritmicamente diversificada, e o recomeço é preparado a partir de
um solo do concertino. O acto termina com a
intervenção de Argante, que espera pôr fim
à guerra desafiando Godofredo de Bulhão
para um duelo, e em seguida com a chegada
de Ismeno que anuncia ao rei ter encantado
a floresta. No Andante spiritoso (n.º 7) em
forma binária com repetição reaparecem as
trompas: o formato é relativamente amplo,
graças aos processos de expansão contínua
e aos efeitos de eco que distinguem o estilo
instrumental do início de setecentos.
No terceiro acto a acção regressa à floresta
encantada que agora, à luz do sol, já não
incute medo: os soldados do exército cristão
descansam à sombra das árvores. Como anteriormente, o Adagio (n.º 8) tem sobretudo
função introdutória.
Vapores negros assomam subitamente da
Terra: no Allegro (n.º 9) seguinte os soldados
são atacados e postos em fuga por monstros
que cospem chamas. O andamento, em forma binária, denota uma caprichosa ligeireza
que se liga ao conclave das feiticeiras (n.º 2) e
apresenta vários solos do concertino.
Os poucos compassos do Grave (n.º 10) assinalam provavelmente a entrada de Alcasto,
o chefe dos Helvécios, que corajosamente
avança na tentativa de abater a Floresta Encantada: solenes figuras staccato, notas repetidas e arpejos preparam o Allegro (n.º 11)
no qual Alcasto é forçado a retroceder e, em
seguida, a retirar-se da floresta transformada
numa muralha de fogo que expele demónios.
O andamento tem a estrutura de um rondó que
explora de forma intensiva o claro-escuro e o
contraste da dinâmica entre solos e conjuntos
(tutti); o tom do rondó é reconduzível à, por
assim dizer, fantasia dos andamentos anteriores relacionados com as aparições das feiticeiras
(n.º 2) e dos monstros (n.º 9).
A segunda parte começa com o quarto acto
da pantomima. A cena representa o campo do
exército cristão, prostrado pela estiagem, pela
sede e pelo calor.
O magnífico Andante affettuoso (n.º 12) é uma
das secções mais intensas da partitura: trata-se
de uma terna, desafogada e melancólica pastoral, transcrita da Sonata para violoncelo op. V,
n.º 6 (1747) que acompanha a tristeza de Godofredo de Bulhão, impotente face ao calor que
mata os seus homens. O carácter solene e triunfal, dir-se-ia handeliano, do Allegro moderato
(n.º 14) em forma binária com repetição, sublinhado pela presença do trompete e da trompa,
leva a imaginar uma relação com a entrada de
Rinaldo, o herói destinado a desencantar a floresta.
O quinto acto contém a música mais original do
ponto de vista da forma. A acção está situada
novamente na floresta: é madrugada e Rinaldo
prepara-se para a missão, o n.º 15 é organizado
em quinze breves secções encadeadas umas nas
outras que seguem passo a passo o desenrolar
da acção. No Andante inicial, baseado numa
melodia em terceiras, Rinaldo entra na floresta,
depois o cenário arcádico desenvolve-se rapidamente no Allegro seguinte de modo a representar o curso tumultuoso do rio atravessado
pelo herói.
No misterioso Andante surgem as ninfas que
florescem das árvores. As ninfas tentam seduzir
Rinaldo no Affettuoso, onde alternam sinuosos
motivos melódicos e secas pontuações harmónicas. Depois, no Allegro seguinte, o herói trava a batalha contra as ninfas transformada em
ciclopes, até à vitória do Allegro moderato em
forma binária com trompete e trompas. A história dramática da pantomima conclui-se num
epílogo onde se assiste ao regresso triunfal do
herói ao campo cristão: Rinaldo entra escoltado
pela companhia de cavaleiros sumptuosamente
vestidos. A severidade contrapontística do soberbo andamento Andante apenas para cordas
(n.º 16) é caracterizada por um claro elemento semântico: trata-se do tetracorde cromático
descendente (Si – Lá # - Lá natural - Sol # - Sol
natural – Fá #), figura retórica conhecida à época pelo nome de passus duriusculus, associada
ao género do lamento e ao campo semântico
da dor, sofrimento e morte. Não é claro quem
possa lamentar-se ou queixar-se a tal ponto, a
não ser talvez Armida, a feiticeira muçulmana
enamorada por Rinaldo que apareceu por encantamento ao herói na floresta, juntamente
com as outras ninfas, na tentativa de o seduzir
e de o demover da sua missão (XVIII, 28-35): Armida, que Rinaldo tinha olhado “in un lieta e
dolente”, perguntando-lhe se voltava para ela
como amante ou como inimigo, renovando assim a sua dor.
O n.º 17, Allegro, é manifestamente o final da
composição: o carácter festivo, a tonalidade de
Ré maior, a instrumentação totalmente orgânica que põe em destaque trompete e trompas.
No plano da construção, o andamento configura uma forma unitária cuja amplitude se deve
a processos de expansão contínua, à série de
progressões, ao recurso a efeitos de eco e a pedais harmónicos, à inserção das intervenções a
solo do concertino das cordas e dos sopros. Entre o Allegro e a sua repetição integral ressoa o
Affettuoso (n.º 18), um interlúdio contrastante
devido ao seu tempo (lento), compasso (ternário), tonalidade (menor) e instrumentação (sem
os metais) e claramente marcado pelo andamento do minuete. Massimo Mazzeo
Tradução de Mafalda Melo Sousa
Rel ação entre a mú s ic a e a a c ç ão da pa ntomima origina l
Primeira parte
Acto I - Na floresta de Saron
1. Andante – A floresta à noite
2. Allegro moderato – Conclave das feiticeiras
3. Andante – Ismeno encanta a floresta
4. Allegro moderato – As feiticeiras congratulam-se
com o feito de Ismeno
Acto II – Numa mesquita em Jerusalém
5. Andante – Adagio
6. Allegro moderato – Reunião do conselho de Aladino
7. Andante spiritoso – Intervenção de Argante
e chegada de Ismeno
Acto III – Na floresta de Saron
8. Adagio – A floresta durante o dia
9. Allegro – Os ferreiros expulsos pelos monstros
10. Grave – Entrada de Alcasto
11. Allegro moderato – Alcasto foge frente do muro de fogo
Segunda parte
Acto IV – No campo cristão
12. Andante affettuoso – Tristeza de Godofredo de Bulhão
13. [Allegro]
14. Allegro moderato – Entrada de Rinaldo
Acto V – Na floresta de Saron
15. Andante – Rinaldo desencanta a floresta;
Rinaldo dentro da floresta
Allegro – Rinaldo atravessa o rio
Andante – Entrada das ninfas
Adagio
Affettuoso – As ninfas tentam seduzir Rinaldo
Allegro – A batalha de Rinaldo contra os monstros
Allegro moderato – A vitória de Rinaldo
16. Andante
17. Allegro – Regresso triunfal de Rinaldo ao campo cristão
18. Affettuoso
17. Da Capo
BIOGRAFIAS
Chiara Banchini
É considerada uma das mais prestigiadas violinistas barrocas. Presentemente é uma referência na sua especialidade
e é convidada regularmente para os mais prestigiados festivais de música antiga.
Depois de ter concluído os seus estudos com sucesso (obteve um prémio especial em virtuosismo) no Conservatório
de Genebra na classe de Corrado Romano e no Conservatório de La Haye, prosseguiu a sua formação com Sandor
Wegh e Sigiswald Kuijken. Depois integrou os ensembles La Petite Bande, Hesperion XX e la Chapelle Royale e
desenvolveu uma carreira internacional como solista.
Chiara Banchini ensinou violino barroco no Centro de Música Antiga em Genebra antes de ser nomeada
professora catedrática de violino barroco na Schola Cantorum em Basileia. Formou uma geração de jovens e
talentosos violinistas, como Amandine Beyer, Hélène Schmitt, David Plantier, Odile Edouard e Leila Schayegh.
Cursos de interpretação em diversos países da Europa, África do Sul, Austrália e EUA completam a sua actividade
pedagógica. Uma vasta discografia confirma a sua actividade musical, com gravações nas editoras Erato, Accent,
Astrée, Harmonia Mundi France e, desde 2002, Zig-Zag Territoires.
Em 1981, Chiara Banchini fundou a sua própria orquestra de câmara: o Ensemble 415. O êxito foi imediato, e
actualmente empreende digressões regulares e tem feito diversas gravações exclusivas muito aclamadas pela
crítica internacional.
Cada nova gravação representa um acontecimento musical. Chiara Banchini também se dedica ao repertório
de música de câmara e gravou sonatas para piano e violino de Mozart, sonatas para violino op. v de Corelli e
os Quintetos, Sextuor e Stabat Mater de Boccherini. Dirige regularmente orquestras que se querem familiarizar
com o repertório barroco e clássico, como as orquestras em Durban, na África do Sul, Adelaide, Estocolmo,
Portugal, Lituânia e a orquestra dos Pays de Savoie em França.
Em 2007, dirigiu a Scottish Chamber Orchestra com Andreas Scholl como solista.
Chiara Banchini é muitas vezes convidada a fazer parte de júris de concursos internacionais, tendo sido presidente
do “Concorso Bonporti”, dedicado ao violino
barroco. Chiara Banchini toca um violino de Nicola Amati (Cremona, 1684).
Tiago Rodrigues
Actor, dramaturgo e encenador. Desde 1998, trabalha regularmente com a companhia belga tg STAN. É
director artístico do Mundo Perfeito, estrutura criada em 2003, na qual produziu mais de quinze espectáculos
que foram apresentados em cerca de dez países. Dirige os ESTÚDIOS, encontro anual de criação entre
artistas portugueses e estrangeiros em Lisboa, no Teatro Maria Matos. Desde 2004, é professor convidado
na escola de dança contemporânea PARTS, em Bruxelas, tendo também ensinado em várias escolas de artes
portuguesas. Trabalhou como argumentista e actor em cinema e televisão e foi cronista de diversos jornais
portugueses.
Divino Sospiro Orquestra em residência no CCB
Direcção Artística Massimo Mazzeo :: Concertino e Direcção musical Chiara Banchini :: Flautas Laura Pontecorvo / Joana
Amorim :: Trompete Antonio Quitalo :: Trompas Paulo Guerreiro / Bruno Hiron :: Primeiros violinos Monika Toth / Reyes
Gallardo / Maria Luisa Barbon :: Segundos violinos Andrea Rognoni, concertino / Chiara Zanisi / Patrizio Germone / Nuno
Mendes :: Violas Tera Shimizu / Ricardo Cuende / Miriam Macaia :: Violoncelos / Diana Vinagre / Ana Raquel Pinheiro ::
Contrabaixo Marta Vicente :: Fagote José Gomes :: Cravo Fernando Miguel Jalôto
Fundada pelo músico italiano Massimo Mazzeo, a Orquestra Barroca Divino Sospiro nasce da vontade e
reunião de alguns músicos portugueses e residentes em Portugal que, no decorrer dos anos, desenvolveram
um trabalho de grande qualidade artística na área da interpretação da música antiga seguindo os princípios
de fidelidade estilística e estética ao período barroco e clássico, propondo um repertório constituído por
compositores do universo musical destes períodos artísticos. Numerosas foram as aparições públicas deste
grupo musical, entre as quais as realizadas na Festa da Música nas edições de 2003, 2005 e 2006, festivais
nacionais e internacionais como o Festival de Musica de Leiria, o Festival d’Ile de France, concerto que
foi gravado pela Radio France, Teatro Nacional de São Carlos, Folles Journées de Nantes, Folles Journées
no Japão onde se estreou com grande sucesso de crítica e público que lhe dedicaram uma recepção de
grande entusiasmo, Festival de Varna, Fevereiro Lírico em San Lorenzo de L’Escorial e o conceituado Festival
d’Ambronay, onde o agrupamento, primeira orquestra portuguesa, teve a honra de actuar no concerto
de encerramento. As actividades do agrupamento incluem a gravação ao vivo do concerto dedicado a
W. A. Mozart (Sinfonia K550 e Serenada Notturna, K239) para a editora japonesa Nichion. Esta gravação
recebeu no Japão o galardão de bestseller e esteve várias semanas no topo de vendas nas maiores lojas
especializadas daquele país. Divino Sospiro apresentou-se em concertos com algumas das mais importantes
personalidades do panorama artístico a nível mundial, tais como Rinaldo Alessandrini, Chiara Banchini,
Alfredo Bernardini, Enrico Onofri, Christophe Coin, Katia e Marielle Labèque, Christina Pluhar, Alexandrina
Pendatchanska, Gemma Bertagnolli, Maria Cristina Kiehr, Vittorio Ghielmi, entre outros. As actuações do
grupo foram gravadas por alguns dos canais radiofónicos e televisivos mais relevantes da Europa: Radio
France, France Musique, Mezzo, RTP, Antena2. Entre múltiplas acções, o Divino Sospiro desenvolve uma
intensa actividade de aperfeiçoamento pedagógico e musical que teve como primeiros passos as masterclass de violino barroco orientadas pelos eminentes violinistas Chiara Banchini e Enrico Onofri, organizadas
respectivamente em colaboração com a Escola de Música do Conservatório Nacional e com o Centro Cultural
de Belém, e que continuaram até hoje, no CCB, com a presença importante de Rinaldo Alessandrini, Enrico
Onofri, Chiara Banchini e Alfredo Bernardini, Alberto Grazzi, Vittorio Ghielmi e Marc Hantaï. Sempre na
vertente educativa destaca-se o convite feito a Divino Sospiro pela Reitoria da Universidade de Évora para a
abertura de mestrado em interpretação com instrumentos antigos em colaboração com o departamento de
música da Universidade de Évora. Divino Sospiro é actualmente orquestra em residência do Centro Cultural
de Belém em Lisboa, sendo este facto de fundamental e recíproca importância para o desenvolvimento em
Portugal de uma realidade artística de alta qualidade a nível internacional, e conta regularmente com a
direcção de Enrico Onofri, que aceitou o convite para maestro oficial deste agrupamento. Recentemente, o
Divino Sospiro participou no Mozartiana Festival, na cidade de Gdansk (Polónia) onde, com grande sucesso
de público e crítica, interpretou O Messias de G. F. Handel na versão de W. A. Mozart. Os próximos compromissos do Divino Sospiro incluem a estreia no Auditório Nacional de Espanha em
Madrid, primeira orquestra barroca Portuguesa a estrear-se nesse auditório, no Bargemusic Festival em
Nova Iorque, primeira orquestra barroca Portuguesa a estrear-se naquela cidade, nos Festivais de Namur e
Saint-Michel-en-Thiérache e, no Outono de 2010, o regresso ao conceituado Festival d’Ambronay.
FRANZ SCHUBERT (1797-1828)
VIAGEM
DE INVERNO
WINTERREISE
MARIA JOÃO PIRES piano
RUFUS MÜLLER tenor
Composto em 1827, um ano antes
da morte de Schubert, Winterreise
ou Viagem de Inverno é um dos mais
extraordinários ciclos de canções
da história da música.
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