1 A RESPONSABILIDADE MORAL PELA AÇÃO E

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1 A RESPONSABILIDADE MORAL PELA AÇÃO E
1
A RESPONSABILIDADE MORAL PELA AÇÃO E PELO CARÁTER EM
ARISTÓTELES1.
Autor: Fernando Martins Mendonça2.
Orientador: Alcino Eduardo Bonella3.
RESUMO
Aristóteles não trata explicitamente da responsabilidade moral de um agente por sua
ação e seu caráter. Contudo, a responsabilidade moral é matéria obrigatória em uma teoria
ética, sendo necessário, no caso da filosofia moral de Aristóteles, entendê-la em meio a
discussão sobre a ação voluntária. Nesse artigo, buscamos analisar o tema da responsabilidade
moral entendendo, primeiramente, como a ação é possível no mundo e os processos
psicológicos que a envolvem. Posteriormente, analisamos a abordagem aristotélica sobre o ato
voluntário na Ética a Nicômaco e na Ética a Eudemo para entendermos as condições
necessárias para que alguém seja moralmente responsável pelo seu ato e seu caráter.
PALAVRAS-CHAVE
Responsabilidade moral – Ética – Aristóteles – Ação voluntária – Ética antiga
ABSTRACT
Aristotle does not treat explicitly agent’s moral responsibility by action and
character. However, being moral responsibility a compulsory subject of a moral theory, we
1
Esse trabalho foi desenvolvido no Programa Institucional de Iniciação Científica da UFU 2007/08, contando
com bolsa PIBIC/CNPq para o aluno e sob orientação do Professor Doutor Alcino Eduardo Bonella
(Departamento de Filosofia da UFU). Esse artigo é o relatório final apresentado em Julho de 2008 com ligeiras
correções ortográficas e gramaticais.
2
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFU e bolsista CAPES. Rua Pedro Quirino da Silva
520. Nossa Senhora das Graças, Uberlândia MG. CEP 38403-075. E-mail: [email protected].
3
Departamento de Filosofia, Faculdade de Artes, Filosofia e Ciências Sociais, Campus Santa Mônica, Bloco
1U, Av. João Naves de Ávila, 2121 Bairro Santa Mônica, CEP 38.408-100 Uberlândia MG Brasil. E-mail:
[email protected]
2
can understand it in Aristotle’s account on the voluntary action. In this paper, we will try to
analyze moral responsibility, firstly, considering how action is possible in the world and what
are the psychological processes that involve it. Secondly, we will analyze Aristotle's concept
of voluntary action in both Nicomachean Ethics and Eudemian Ethics books, for
understanding the necessary conditions for being a morally responsible agent by action and
character.
KEYWORDS
Moral responsibility – Ethics – Aristotle – Voluntary action – Greek ethics
Introdução
Quais cláusulas um agente e a ação que ele faz devem cumprir para que a ação seja
atribuída ao agente como tendo ele responsabilidade moral pela ação que efetiva?
A responsabilidade moral ocorre quando um determinado agente efetiva no mundo
uma determinada ação que é explicada decisivamente como sendo o agente seu causador. O
agente será, pois, digno de elogio ou censura pelo que fez. Portanto, eis a pergunta que rege
esse trabalho: quais cláusulas deverão ser cumpridas para que o agente seja moralmente
responsável pela ação que causa, segundo Aristóteles?
É importante salientar que, para Aristóteles, importa não só o que torna o agente
responsável por uma determinada ação particular, mas também, e fundamentalmente, o que
torna um agente responsável pelo seu caráter, afinal, Aristóteles se põe a investigar a
formação do caráter.
Sendo assim, cabe investigar primeiramente como é possível agir no mundo,
compreendendo quais as condições de possibilidade que a estrutura cosmológica oferece para
a ação moral na filosofia aristotélica.
Posteriormente, analisar-se-á como Aristóteles pensa a psicologia da ação, isto é os
processos psicológicos envolvidos na ação, para finalmente entrar na discussão acerca da
voluntariedade e da responsabilidade moral.
Material e métodos
3
O trabalho de análise filosófica de um problema que foi tematizado por um filósofo
não pode de maneira alguma prescindir da leitura cuidadosa dos textos desse filósofo. Na
verdade, muito da atividade filosófica acadêmica realizada hoje se encerra na análise de textos
filosóficos. O trabalho será tanto mais profícuo quanto mais o estudante dos textos puder ter
acesso à leitura na língua original do autor que estuda, bem como às melhores traduções
disponíveis em diversas línguas. Tal acesso, no caso desse trabalho é mais difícil, pois se deve
considerar que Aristóteles, autor que foi estudado, escreveu em grego antigo, cujo
aprendizado é demorado. Portanto, a mediação de traduções foi fundamental para a leitura
aqui feita de Aristóteles, contudo, sempre se teve em mãos os textos gregos relativos a obra
mais importante dessa pesquisa, a saber, a Ética a Nicômaco. Ter em mãos o texto grego e o
utilizar para fazer comparações entre as traduções e poder avaliar qual é a melhor solução
semântica para diversas passagens foi muito importante para o desenvolvimento da pesquisa e
a tentativa de uma leitura rigorosa e fiel de Aristóteles. Afinal, a língua grega oferece
estruturas gramaticais ausentes em todas as línguas modernas que pudéssemos ler durante o
tempo em vigor dessa pesquisa. Exemplos claros de possibilidade sintáticas e semânticas
presentes no grego antigo e ausentes nas línguas que temos acesso é o uso constante dos
particípios passado, presente e futuros, que, a rigor, são de tradução muito difícil em línguas
modernas, e a ignorância de que uma determinada palavra em certo contexto é um particípio
pode deixar obscuro todo um trecho da obra lida.
Em relação às traduções4, usamos textos que são reconhecidos mundialmente pelo
rigor e fidelidade, destacando-se as traduções da Ética a Nicômaco de Irwin, em inglês, e de
Tricot, em francês, bem como a de Rackhan, em edição bilíngüe grego-inglês. Para a Ética a
Eudemo, cuja importância foi menor para esse trabalho, usou-se a tradução inglesa de Michael
Woods e a francesa de Décarie. Para citação nesse artigo, não usaremos uma tradução padrão,
pois em alguns pontos uma nos parece melhor que as outras, e até mesmo porque achamos
fundamental ensaiarmos as nossas próprias traduções do texto grego na medida em que nos é
isso possível
Como princípio hermenêutico, partiu-se do pressuposto de que as obras aristotélicas
que nos restaram são notas de aulas que o próprio Aristóteles oferecia. Tais notas deviam ser
frequentemente retomadas e corrigidas quando algo necessitasse de retificação (BARNES,
4
Todas as traduções usadas de todas as obras lidas estão elencadas nas 'Referências Bibliográficas' deste
artigo.
4
1993). Assim, não tivemos a preocupação de separar textos que supostamente seriam de um
mesmo período do desenvolvimento intelectual de Aristóteles, pois as aparentes
incongruências entre as obras podem ser resolvidas, em muitos casos, por uma leitura mais
cuidadosa dos textos que seriam contraditórios5.
Também não acreditamos que as diversas áreas da filosofia às quais Aristóteles se
dedicou sejam absolutamente separadas entre si, impedindo que argumentos feitos, por
exemplo, nas obras lógicas, sirvam para fundamentar argumentos em ética. Pelo contrário,
tomamos como base que os princípios lógico ontológicos estabelecidos em diversas obras
mostram o modo como Aristóteles contempla a estrutura mesma do mundo, e tudo o que nele
ocorre e dele pode ser dito. Desse modo, princípios, tais como o de não contradição,
estabelecido em Metafísica IV, são estruturantes de tudo o que pode acontecer no mundo.
Assim, boa parte de nosso trabalho foi dedicado a entender as condições lógico ontológicas
que possibilitam a ação humana no mundo, especialmente a que confere responsabilidade
moral ao agente.
Discussão e Resultados
1- O mundo da ação humana
A ação humana não aconteceria em qualquer mundo possível. Em um mundo regido
pela completa necessidade, onde todos os eventos são plenamente conhecíveis e podem
facilmente ser deduzidos a partir de uma proposição axiomática verdadeira, ou não haveria
lugar para a ação humana, ou ela seria tão determinada quanto o resultado inequívoco de uma
dedução matemática. É preciso que o mundo seja constituído de certa contingência e
indeterminação, de modo que o homem possa atuar no mundo sem que sua ação seja
determinada a partir do exterior.
Para Aristóteles, o homem atua no mundo de duas formas: ou ele faz atividade
produtiva ou poiética, ou faz atividade prática. Em Ética a Nicômaco, 1, 1094a 5-6,
Aristóteles traça a distinção entre prática e poiética. A prática (práxis) difere-se da poiética
(poiésis) enquanto tem seus fins em si mesma, ao passo que a segunda tem seus fins
exteriores a si. Em outras palavras, a finalidade da prática está na própria ação, enquanto a
5
Para uma posição recente em favor de uma evolução no pensamento aristotélico como princípio de resolução
de textos contraditórios, ver Irwin (1988 p. 11-13).
5
finalidade da produção está no produto que é produzido, o qual está submetido não à
determinação do produtor, mas à utilidade que dele fará quem terá seu usufruto.
Mas tanto a ação quanto a produção são possíveis em virtude do mundo comportar
certa contingência no âmbito da prática e da poiética. Diz Aristóteles: “As coisas que podem
ser diferentemente do que são compreendem ao mesmo tempo as coisas que se fabrica e as
ações que se pratica. (Ética a Nicômaco VI, 4, 1140a 1-2).”
Se tomamos algumas distinções traçadas na Metafísica, entendemos melhor a função
do contingente no mundo.
Entre os seres, uns permanecem sempre no mesmo estado e são seres necessários,
não dessa necessidade caracterizada pela compulsão, mas dessa que nós definimos
pela impossibilidade de ser de outro modo; outros seres, ao contrário, não são nem
necessariamente, nem sempre, mas somente o mais frequente. Nós temos aí o
princípio e a causa do ser por acidente, pois o que não é, nem sempre, nem o mais
frequente, nós dizemos que é um acidente. (Metafísica VI, 2, 1026b 27-33)
Elucidando melhor o conceito de acidente, Aristóteles explica em Metafísica V, livro
dedicado a algo como um léxico filosófico, onde alguns conceitos da filosofia aristotélica são
definidos, que o "Acidente se diz do que pertence a um ser e pode dele ser afirmado
verdadeiramente, mas não é nem necessário, nem constante." (1025a 30 13-15), e mais
adiante: "É por isso também que não há causa determinada do acidente; dele não há senão
uma causa fortuita, em outras palavras, indeterminada." (1025a 24-25). Em termos de uma
predicação clássica do modelo aristotélico, 'S é P', ou 'P pertence a S', o acidente significa que
o atributo 'P' pode ocorrer ou não em um sujeito 'S', de modo tal que a não ocorrência de 'P'
não implica a não existência de 'S'. Importante ressaltar esse ponto, pois se uma ação moral,
como veremos, ocorre por acidente, não é necessário que ela venha a ser, e esse ela não
ocorrer, isso não significa, necessariamente, que o sujeito que a praticaria deixou de existir ao
não a praticar. Nesse sentido, uma predicação acidental difere absolutamente de uma
predicação essencial, para a qual a não ocorrência de 'P' na predicação leva à inexistência de
'S', pois 'P' é a causa de 'S' ser S. Assim, tomemos "O triângulo é a figura que tem 180° na
soma de seus ângulos internos" por "S é P". O predicado "figura que tem 180° na soma de
seus ângulos internos" define "triângulo", sendo a sua causa. A não existência de "P" aqui,
implicaria na não existência de "S". Mas se tomarmos, "O arquiteto é causador da saúde"
como "S é P", vemos que "causador da saúde" não pertence necessariamente à "arquiteto".
Ora, um arquiteto pode projetar uma casa que venha a ser salutar, mas sendo arquiteto, ele
projeta casas e é acidental (pode ocorrer ou não) que a casa projetada seja salutar. Caso 'P' não
6
ocorra nesse exemplo, 'S' ainda assim subsistirá, pois 'P' não é causa de 'S'6.
O acidente abre a possibilidade para o inesperado, o indeterminado se irromper no
mundo. Conforme se viu nas citações de Metafísica V, acima, o acidente não tem geração
espontânea, mas é causado, contudo sua causa é indeterminada ou fortuita. Sendo assim as
ações humanas também têm suas causas e podem ser, de algum modo, explicadas por meio
uma cadeia causal. Esse é um passo importante e delicado para a teoria da ação aristotélica,
pois se deve fazer consistente uma ação que seja, em suma, indeterminada, embora causada.
Qual o artifício aristotélico?
Em Metafísica IX 5, 1047b, 35 - 1048a 15, Aristóteles expõe o conceito de potências
racionais. O capítulo 5 inicia-se dizendo que de todas as potências, há umas que são inatas,
como os sentidos, e outras que são adquiridas, (i) ou por hábito, ou (ii) por estudo. Para (i),
Aristóteles dá o exemplo de tocar flauta, que é uma poiésis, e para (ii), ele dá o exemplo do
estudo das faculdades artísticas, que ocorre pelo raciocínio (lógos)7. As potências inatas
pertencem indistintamente a seres animados e inanimados, mas as potências adquiridas
pertencem exclusivamente a seres animados. Para aquelas há uma relação causal irresistível,
pela qual um ser age e o outro padece. Tomando um exemplo da sensação, quando um objeto
quente se aproxima de minha pele, ele age sobre ela transmitindo seu calor, enquanto minha
pele necessariamente estará passiva frente a ação desse objeto. Mas não é isso que ocorre em
relação às potências adquiridas.
A argumentação de Aristóteles parece ter alguma vacuidade, pois ele diz que tais
potências adquiridas pertencem a seres animados, mas logo restringe o alcance da tese aos
seres animados racionais, pois, obviamente, somente eles podem ter faculdades racionais, que
é o nome que passa a ser dado às potências adquiridas. As potências racionais têm a
capacidade de não ter que seguir um nexo causal necessário determinado pela ação de um
objeto e pela passividade de outro. “É que todas as potências irracionais não produzem cada
uma senão um único efeito, ao passo que cada uma das potências racionais produz os
contrários”. (Metafísica, IX, 5, 1048a 7-8).
6
7
Parece um bom caminho de pesquisa buscar a compreensão de uma teoria da predicação aplicada às
proposições morais, que, afinal, parecem-nos ser um modo específico de predicação. Entretanto a
circunscrição da atual pesquisa não permite que esse tema seja tratado com maior acribia nesse trabalho, até
mesmo pelo fato de que a dificuldade da teoria da predicação em Aristóteles levaria a um gasto de tempo que
não estava disponível para uma pesquisa aos moldes de iniciação científica.
'Faculdades artísticas' é a tradução que Tricot (1997) deu a 'tekhné', que são as artes ou técnicas produtivas.
Aristóteles diz que o estudo dessas faculdades é feita pelo raciocínio (lógos). Certamente as técnicas são
dotadas de racionalidade, que é diferente da racionalidade da práxis (que é feita por hábito) e das ciências
teoréticas (cf: Berti, 1998).
7
Contrariamente às potências irracionais, as racionais cessam o vínculo necessário de
uma cadeia causal e abrem possibilidades diferentes para a continuação dessa cadeia, ou
mesmo para não a continuar. Sobre essa passagem, comenta Ross (1975):
Potências racionais não precisam resultar em algo; já que elas são potências para
resultados contrários; se elas fossem atualizadas necessariamente elas deveriam
produzir resultados contrários ao mesmo tempo, o que é impossível. Deve haver
algo que determine qual resultado ocorrerá, e isso será o desejo ou vontade8. (p.248)
As potências racionais colocam o homem como causa eficiente de uma ação que
pode seguir diversos caminhos possíveis. Um médico não é responsável pelo o que seu
paciente fez para ficar doente, mas quando é procurado para restabelecer a saúde do paciente,
o médico se vê diante de uma situação indeterminada. A ele é possível os contrários: matar ou
salvar o paciente. Ele pode também não fazer nada. Mas quer ele aja, ou não, a continuação da
cadeia causal depende dele nesse momento. Segundo Aristóteles, é o desejo (órexis) ou a
escolha (proaíresis) que permite determinar a potência racional e definir a ação possível a ser
seguida, conforme haja possibilidade de que a ação desejada ou escolhida possa ocorrer.
Assim, o desejo ou a escolha são os móbiles físicos, ou fisiológicos, que põem o
agente em movimento para atualizar sua potência racional em determinada situação. A ação
resultante insere-se no mundo como causa acidental, pois poderia não acontecer, ou ter sido
feita diferentemente. Desse modo, a ação realizada foi causada. Houve toda uma cadeia causal
que chegou até o agente, que deve dar continuidade a essa cadeia.
Em termos da constituição física do mundo, o agente pode seguir qualquer caminho
desde que seja possível segui-lo. Isso significa que, para Aristóteles, a existência de uma ação
moral causada não implica a determinação lógica da ação. Veremos mais adiante que o caráter
acaba por dar um certo padrão às ações de uma pessoa, mas, a rigor, sendo possível mais de
um curso de ação, a pessoa tem a capacidade de seguir qualquer um deles.
2 – A psicologia da ação.
Pelo que se viu até aqui, pode-se perceber que Aristóteles colocou o desejo e a
escolha como pontos de contato entre os componentes lógico ontológico e psicológico de sua
teoria moral, pois é claro que 'desejo' e 'escolha' são conceitos psicológicos, embora, como
8
Ross (1975) usa "vontade" para traduzir "proaíresis", mas nós utilizaremos "escolha", pois, como ficará claro,
trata-se de um processe eletivo.
8
vimos, desenvolvem a função de causas das ações.
A análise dos conceitos de desejo e escolha conduzirá esse trabalho ao seu núcleo
temático, isto é, a noção de responsabilidade moral.
Não cabe aqui uma abordagem ampla da concepção aristotélica de desejo. Mas é
fundamental saber que o desejo é um movimento psíquico que responde a alguma afecção
sofrida por um ser animado. Na Ética a Eudemo II, 7, 1223a 27-28, o desejo é um gênero que
comporta, no homem, três espécies: querer (boúlesis), apetite (epithymía) e impulsividade
(thymós). O querer é o desejo que busca o bem mediante a razão. O apetite é desejo pelo que é
prazeroso e a impulsividade é reação anímica imediata frente a determinada afecção.
O desejo é fundamental na teoria aristotélica na medida em que ele é o elemento
psíquico responsável por mover um corpo. Diz Aristóteles:
Não há senão um único princípio motor: a faculdade desiderativa ..., na realidade, o
intelecto não move sem o desejo. (O desejo racional, com efeito, é uma forma de
desejo; quando se move segundo o raciocínio, move-se também segundo o desejo
racional). O desejo, ao contrário, pode mover fora de todo raciocínio, pois a apetite é
um modo de desejo (De Anima III, 10, 433a 21-25)
Notemos que Aristóteles coloca em jogo, nesse trecho, a noção de inteligência
prática, que é a compatibilização de razão verdadeira com o desejo correto.
Em Ética a Nicômaco VI, 2, Aristóteles analisa as partes da alma para saber qual
parte é responsável pela ação refletida. Esse capítulo inicia-se com a retomada da distinção
das partes da alma que foi feita no início dessa obra. Com efeito, Aristóteles diz haver na alma
uma parte racional e outra irracional (Ética a Nicômaco I, 13, 1102a 29). A parte irracional
tem as virtudes morais como sua excelência. No livro VI da Ética a Nicômaco, Aristóteles
quer alisar a excelência da parte racional da alma. Primeiramente, ele diz haver uma divisão
no interior da parte racional segundo o tipo de objeto que cada parte é responsável por
conhecer. Ora há dois tipos de objetos: aqueles que são necessários e aqueles que são
contingentes. À parte da alma responsável pelo conhecimento das coisas necessárias
Aristóteles dá o nome de "científica" (epistemonikón), e a responsável pelas coisas
contingentes recebe o nome de "calculativa" (logistikón) ou "opinitiva" (doxastikón).
Estabelecidas as partes da alma, Aristóteles faz outra distinção fundamental. Diz ele: "Ora, há
na alma três fatores predominantes que determinam a ação e a verdade: sensação [aísthesis],
intelecto [noús] e desejo [órexis].” (Ética a Nicômaco, VI, 2, 1139a 19-20).
Desses três fatores, a sensação não pode ser candidata a princípio de ação, pois os
9
animais a têm e, a rigor, não agem9, embora seja com o material advindo da sensação que
operam o desejo e o intelecto. Ao pensamento cabe fazer afirmações ou negações sobre
coisas, enquanto o desejo busca ou foge das coisas. O intelecto participa, juntamente com a
sensação, do conhecimento teórico, e junto com o desejo, é a origem do conhecimento
prático, portanto formando a inteligência prática, como dito acima. Segundo Tricot (1997),
O nóus executa um duplo papel; ele intervem ao mesmo tempo no conhecimento
puro e na ação moral: nada há de estranho nisso, pois o trabalho do intelecto, seu
érgon próprio, é de alcançar a verdade no domínio especulativo e nesse da
moralidade (p. 276)
O intelecto e o desejo juntos contribuem para uma modalidade da ação humana, a
qual, veremos, é a ação moral por excelência: a ação por escolha (proaíresis). No livro VI,
Aristóteles define a virtude como uma disposição capaz de escolha e "a escolha é um intelecto
desejante [orektikós noús], ou um desejo noético [órexis dianoetiké]" (Ética a Nicômaco VI,
2, 1039b 4-5), cujo causador é o desejo, pois o intelecto sozinho não move um corpo para
agir.
Uma ação escolhida é sempre uma ação voluntária, mas nem toda ação voluntária é
escolhida. Isso significa que no gênero das ações voluntárias, a escolha é somente uma
espécie. A discussão que Aristóteles faz da escolha, seja na Ética a Nicômaco ou na Ética a
Eudemo se dá em meio da discussão sobre a voluntariedade ou involuntariedade de um ato.
Afinal, a explicação de algo é sempre melhor se se parte das premissas mais gerais para
depois chegar às mais específicas. Portanto faremos o mesmo e seguiremos a análise
aristotélica feita em Ética a Nicômaco III 1-5 e Ética a Eudemo II 6-9. Nesses trechos
Aristóteles se dedica a entender quais as cláusulas que devem ser cumpridas para que uma
ação seja considerada voluntária. É também dessa discussão que surge a noção que mais nos
interessa, a de responsabilidade moral. É prudente saber com antecedência, que em nenhuma
das duas Éticas Aristóteles trata nomeadamente da responsabilidade moral. Pelo contrário,
essa noção deve ser pinçada em meio à discussão sobre a voluntariedade, pois a leitura desses
trechos aponta para uma tensão conceitual no que se refere à determinação de quando um
agente é ou não responsável por uma ação que fez voluntariamente. Ademais, Aristóteles não
distingue claramente no seu texto as diferenças entre responsabilidade moral e
responsabilidade legal, sendo tarefa do intérprete esclarecer o uso desses termos. Cumpre
9
Sobre a impossibilidade da ação para animais e a justificativa nos deteremos abaixo, quando discutirmos a
noção de voluntariedade.
10
notar que nossa interpretação segue em diversos pontos as teses defendidas por Muños
(2002).
3- A responsabilidade moral.
3.1 – Ética a Nicômaco.
O livro III 1-5 é dedicado à análise da ação voluntária e nessa análise Aristóteles trata
da responsabilidade moral. Portanto passemos pelos argumentos desenvolvidos nesses
capítulos.
A abertura do livro III diz que a virtude tem a ver ao mesmo tempo com afecções e
com ações10, e é somente para ações voluntárias que se dá elogio e censura. Para as
involuntárias, dá-se indulgência e talvez piedade. Portanto, deve-se distinguir o voluntário do
involuntário, o que será útil para o legislador. Conforme dito acima, Aristóteles não se
preocupa em separar a discussão sobre a voluntariedade da responsabilidade moral e da
responsabilidade legal. Essa indistinção é vista já no primeiro parágrafo, pois ele visa dar
mais precisão ao trabalho do legislador, que se importa com a responsabilidade legal dos atos.
Mas a discussão é muito mais ampla que o a aplicação legal de seus resultados.
Contrariamente ao procedimento dialético que Aristóteles mantém em grande parte
de suas obras quando quer elucidar o sentido de conceitos que já faziam parte do vocabulário
filosófico de sua época, aqui ele parte logo para a definição do que é involuntário e com a
contrapositiva dessa definição chega-se à definição preliminar do voluntário. Ei-la:
Admite-se comumente que ações são involuntárias quando feitas sobre compulsão
[biai] ou por ignorância e que um ato é compulsório [Biaiov] quando sua origem é
de fora, sendo de tal natureza que o agente, que é realmente passivo, nada contribui
para com a ação.
A definição de involuntário permite que tenhamos a primeira definição de voluntário.
10
Foi dito acima que a virtude é uma disposição capaz de escolha, conforme ensina Ética a Nicômaco VI, 2.
Tendo por base essa definição, não parece simples fazê-la compatível com a frase inicial do livro III, que diz
que a virtude refere-se à afetos e ações. Ora, como pode haver escolha das afecções que sofremos se elas
partem do exterior e sobre ele não temos controle? Pode-se pensar que o livro VI deu uma definição pouco
cuidadosa da virtude, já que a virtude também comporta ações feitas voluntariamente e sem escolha, como
determinadas ações feitas por impulso, pois há um modo correto de reagir impulsivamente. Pode-se também
pensar que o Livro VI deveria pertencer originariamente à Ética a Eudemo, mas pelas vicissitudes pelas quais
passaram as obras de Aristóteles até chegarem à época moderna acabou por pertencer à Ética a Nicômaco.
Pensamos que a primeira alterativa é mais plausível e filosoficamente mais profícua.
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Um ato é voluntário quando
i- o agente tem o princípio da ação interno e
ii- se ele atua com conhecimento de sua ação.
Aristóteles dá como exemplo de compulsão o fato de alguém ser levado a algum
lugar pela força do vento ou por pessoas que o tem em seu poder. Mas uma objeção pode ser
feita a essa definição preliminar. Ora, tomemos um caso de um agente que tem sua família sob
o poder de um tirano que o ordena fazer atos vergonhosos e fazendo a ação ordenada a vida
dos familiares será poupada, ou ainda o caso de um capitão que, numa tempestade, joga ao
mar a carga para salvar a si e a sua tripulação. Essas ações são feitas por compulsão, não
sendo voluntárias?
Pela definição preliminar de voluntário, os dois exemplos passam pelas cláusulas i e
ii, pois o princípio da ação está no agente e ele tem conhecimento do que faz. Contudo,
Aristóteles disse na abertura do capítulo que o que é voluntário é digno de elogio ou censura.
As ações dos exemplos merecem elogio, ou censura?
Aqui aparece a primeira grande tensão conceitual entre o conceito explícito de
voluntário e o implícito de responsabilidade moral. Aristóteles diz, que em condições
normais, nem o homem cuja família está em poder do tirano, nem o capitão, agiriam como
agiram na determinada circunstância em questão. Ele sugere que se chame esse tipo de ação
para evitar um mal maior de "ação mista", pois a rigor essa ação é voluntária segundo a
definição já dada, pois o agente não age por ignorância nem por compulsão, além disso, era
possível que agisse de outro modo. Mas se deve julgar a ação no tempo e na ocasião em que
ela foi efetivada. Se o agente não escolheria fazer o determinado tipo de ação que fez em dada
circunstância caso o contexto não o levasse a escolher o mal menor, pode-se dizer que a ação
é involuntária.
O que está em jogo nesse parágrafo é a incapacidade da primeira definição de
voluntariedade dar conta de ações que, a rigor, são voluntárias, mas dignas de indulgência ou
até de piedade, que são características da ação involuntária. Isso ocorre por que Aristóteles
não distinguiu a noção de responsabilidade moral da noção de ação voluntária, tratando-as
quase como equivalentes. Aristóteles considera o agente como causa da ação e seria
responsável pela ação justamente na medida em que a causa. Em Metafísica V, 2, 1013a 31, o
terceiro sentido de "causa" diz: "A causa é ainda o princípio primeiro da mudança e do
repouso: o autor de uma decisão é causa da ação...". Ocorre que essa noção de causa não
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contempla a responsabilidade moral por ações mistas e aí está a dificuldade de Aristóteles em
distinguir a responsabilidade moral de tal ato de sua voluntariedade.
Muñoz (2002, p. 93) foi muito feliz em seu comentário sobre essa passagem ao
sugerir, embora em termos não aristotélicos, que se trata da distinção entre a possibilidade
física e a possibilidade deôntica de uma ação. Assim, em todos os mundos possíveis
deonticamente perfeitos deve-se escolher A diante de circunstâncias C. Contudo, os mundos
deonticamente perfeitos não tornam fisicamente necessária a ação A; fisicamente, é possível
ao agente agir de outro modo, afinal a situação C permite com que suas potências racionais
tornassem efetivas ações contrárias mediante a escolha ou desejo. O homem poderia
fisicamente decidir deixar sua família padecer de sofrimentos dramáticos nas mãos de um
terrível tirano e o capitão poderia arriscar-se diante da morte iminente na tempestade e
navegar com a carga. Para Aristóteles, o que torna a ação deonticamente necessária, e não
fisicamente, é que não agir de modo a evitar o mal maior provocaria males que ultrapassam a
força humana e ninguém seria capaz de suportar:
No caso de algumas ações, não é o elogio que se provoca, mas a indulgência: é
quando se faz uma ação que não deveria fazer para evitar males que ultrapassam as
forças humanas e que ninguém poderia suportar. Entretanto há ações às quais não se
pode ser compelido a fazer e antes se deve submeter à mais terrível morte.
Mas uma outra possibilidade ainda pode ser colocada. Alguém pode ter a necessidade
deôntica de fazer uma ação C, que ele não faria em circunstâncias normais e C é uma ação
vergonhosa que resultará em D, mas D é agradável à pessoa que faz a ação. Nesse caso a ação
é ou não voluntária?
Para responder a essa objeção, Aristóteles distingue entre i) ações involuntárias em si
e ii) ações involuntárias em si, mas voluntárias em virtude do fim obtido. Essa distinção
mostra novamente a dificuldade de Aristóteles em trabalhar com as noções de
responsabilidade moral e de voluntariedade. O item ii é claramente involuntário pela sua
origem, mas, por ter querido os resultados da ação feita involuntariamente, o agente age como
se o princípio estivesse nele. O agente torna-se, portanto, responsável moralmente pelo que
fez. Aristóteles acrescenta, por fim, que uma ação feita involuntariamente é acompanhada de
um sentimento de tristeza.
A primeira cláusula da definição de ação voluntária (o princípio da ação deve estar
em poder do agente) pode, agora ser reescrita desse modo: "Para toda ação X, se o princípio
de X está no agente, então está em poder do agente praticar X ou não a praticar." (Munõz,
13
2002 p. 107).
Esclarecida a primeira cláusula, Aristóteles dedica-se a esclarecer a segunda,
referente à ignorância.
A primeira distinção importante é sobre um tipo de ação que não é nem voluntária
nem involuntária. "O ato feito por ignorância é sempre não-voluntário; ele só é involuntário se
o agente experimenta aflição e arrependimento" ( Ética a Nicômaco III, 2, 1110b 17-18).
Aristóteles concebe um novo tipo de ato, a ação não-voluntária. Essa ação é feita por
ignorância das circunstâncias e consequências da ação e que o agente não sente
arrependimento de ter feito o que fez e, se tivesse acesso epistêmico a todos os aspectos
relevantes da ação, ele a faria novamente. Não há exemplos desse tipo de ação na Ética a
Nicômaco, mas há um na Física que nos parece se encaixar perfeitamente no conceito de não
voluntário. Um homem vai à praça e sem o ter escolhido, encontra seu devedor e lhe cobra o
dinheiro que esse a ele deve. O credor, caso soubesse da presença de seu devedor na praça,
certamente iria até lá cobrá-lo11 (cf: Física, II, 196b 33ss). A respeito desse tipo de ação não
voluntária, na qual o agente não só não se arrepende de tê-la feito, mas se beneficiou dela,
Aristóteles não nos dá critério para julgar a responsabilidade moral do agente. Mas nos parece
seguro tomarmos o critério usado para ações feitas por compulsão e cujo resultado foi querido
pelo agente. Afinal, há uma semelhança estrutural entre elas. Ora, ambas ferem uma das
cláusulas da definição inicial de voluntariedade, pois numa a ação inicia-se por compulsão e
noutra por ignorância. Em ambas, o agente faria novamente a ação, pois foi beneficiado.
Enfim, em ambas a distinção voluntário/involuntário parece não dar conta de englobar esses
tipos de ação. Diante dessa semelhança estrutural, parece-nos bem seguro afirmar que, para
Aristóteles, a ação feita não voluntariamente atribui responsabilidade moral ao agente, caso
dela ele se beneficie.
A segunda importante distinção refere-se às ações feitas por ignorância e as feitas em
ignorância. Trata-se de uma distinção importante para a noção de responsabilidade moral.
Ora, tanto uma pessoa que dá um veneno que está em um frasco de remédio para alguém (sem
que houvesse meios para descobrir que era veneno e não remédio), quanto um homem
embriagado que fere alguém por falha de seus reflexos, agem ignorando as situações
particulares relevantes e as consequências de suas ações, pois o primeiro não sabia que o que
ofereceu ao doente era veneno e não remédio, e o segundo não sabia que a pessoa a quem
11
Em Física, esse exemplo visa ilustrar a inserção de causas acidentais no mundo. Mas, a despeito disso,
parece ser muito bem aplicado ao conceito que analisamos.
14
danou estava no lugar do acidente, por exemplo. Certamente, a primeira ação merece
indulgência e a segunda não, mesmo que o critério do arrependimento seja cumprido pelos
dois agentes, isto é, quem conferiu o remédio e quem estava embriagado se arrependam do
que fizeram. Para atribuir responsabilidade moral e legal a um e não a outro, Aristóteles tem
por critério o fato de o agente ter ou não escolhido, ou ter ou não evitado, perder o acesso
epistêmico às circunstâncias e consequências da ação.
Assim: se o agente A num tempo T2 fez C, mas em num tempo T1, anterior a T2, lhe
foi possível escolher perder o acesso epistêmico às circunstâncias e conseqüências da ação, e
escolheu perdê-lo, então A é responsável por C e o vez voluntariamente em ignorância, pois a
ação em T1 o fez responsável pela ação em T2. Portanto, a ação em ignorância foi feita sem
que o agente soubesse de todas as informações relevantes do que fazia, mas foi o próprio
agente que levou a condição de ignorância em que agiu, sendo, pois, responsável pelo que fez.
Isso é a formulação aristotélica em termos morais do que hoje se chama, em termos legais, de
dolo eventual.
O passo seguinte de Aristóteles é elencar quais são os elementos particulares que
formam as circunstâncias e consequências que devem ser conhecidas para haver ação
voluntária. São eles:
i – quem pratica a ação
ii – o que está fazendo
iii – sobre o que ou quem está fazendo
iv – o instrumento usado
v – com que finalidade
vi – de que maneira
Esses itens aparecem frequentemente no texto da Ética a Nicômaco e mostram que
não há, para Aristóteles, um código moral deontológico que regula um tipo certo para as
ações. A ação correta dependerá das circunstâncias em que o agente se vê envolvido e será
considerado responsável pelo que fez na medida em que poderia ter agido diferentemente
segundo suas capacidades físicas e psicológicas. Podemos formalizar a segunda cláusula
assim: Para toda ação X, i) se X não foi feita com ignorância das condições particulares da
ação, ii) ou se a ignorância foi escolhida pelo agente, iii) ou se feita com ignorância e os
resultados de X beneficiam o agente, X é voluntária e o agente é responsável por ela.
Aristóteles não se interessou por fazer uma análise mais acurada das ações feitas por
15
apetite ou impulsividade. Ele apenas diz que o que vale para ações feitas mediante escolha,
vale para ações feitas sem escolha: "Sem dúvida, com efeito, é um erro chamar de
involuntárias os atos feitos por impulsividade ou apetite" (Ética a Nicômaco III, 1, 1111a 24).
Esclarecido isso, Aristóteles passa para análise da escolha, que como vimos, é,
juntamente com o desejo, responsável por determinar a ação possível cuja viabilidade é dada
pelas potências racionais.
O capítulo 2 do livro III inicia a análise da escolha dizendo que ela é sempre
voluntária e que o domínio da ação voluntária é maior que o da escolha. A escolha não está
presente em seres irracionais, portanto nem animais, nem crianças podem escolher, mas agem
voluntariamente segundo possuem em si o princípio da ação. Não sendo irracional, a escolha
não pode ser apetite, nem impulsividade. O querer é única forma do desejo que é
acompanhada de razão, porém não pode ser ele a escolha pelo fato de se querer muitas vezes
coisas impossíveis, enquanto a escolha visa somente coisas possíveis e visa meios e não fins.
Escolha não é, pois, nenhuma forma de desejo, embora o desejo seja a origem da escolha,
como vimos. A escolha também não é opinião (dóxa), pois ela refere-se ao bem e ao mal, e a
opinião, ao verdadeiro ou ao falso, além de que somos julgados pelas escolhas que fazemos e
não pelas opiniões que temos, as quais ainda podem versar sobre coisas impossíveis. Depois
dessa assepsia do conceito de escolha, Aristóteles toma sua etimologia para começar a
esclarecê-lo. Com efeito: "De fato, deliberação prévia parece ser implicada pelo termo
proaireton, que denota algo escolhido antes de outras coisas" (Ética a Nicômaco, III, 2, 1112a
16-18). O termo grego para "escolha" é "proaíresis", que é formado pelo prefixo "pro", que
designa antecedência, mais o substantivo "aíresis", que designa decisão. Portanto, há algo que
é anterior à decisão e a escolha supõe esse anterior para que possa ocorrer. Zingano (2004) diz
que:
Convém salientar a etimologia de prohairesis: pro designa não a antecedência no
tempo (escolher algo antes de outra coisa: tal meio vem antes de tal outro e assim
por diante), mas indica a preferência que o agente dá a algo em detrimento de outra
coisa (escolher isto de preferência àquilo).
Se "pro" designa a antecedência conforme a preferência de algo em relação a outra
coisa possível, que procedimento antecede a escolha e lhe oferece meios diversos e possíveis
para a ação? Esse procedimento é a deliberação (boúleusis). Não se delibera sobre coisas
eternas, ou que se movem sempre do mesmo modo, ou que ocorrerão de qualquer modo, ou
coisas fortuitas, ou atividades sobre as quais não se tem poder algum para as influenciar.
16
Delibera-se sobre coisas que dependem do agente para se realizar e cujo resultado pode ser
diferente caso a ação seja diferente. Segundo Aristóteles, "A deliberação tem lugar nas coisas
que, se produzindo com frequência, permanecem incertas em seu acabamento" (Ética a
Nicômaco II, 3, 1112b 8-9). Esse trecho ratifica o que dissemos anteriormente sobre a ação
humana se inserir no mundo como causa acidental que continua uma cadeia causal, mais ou
menos determinada, que lhe antecede. A deliberação insere-se justamente onde há espaço para
o acidente.
A deliberação não visa fins. Afinal, um médico não deliberada se deverá curar seu
paciente, mas sim sobre os meios melhores para esse fim. Posto o fim, que é desejado,
delibera-se sobre os meios. Se um meio apenas não é suficiente, calcula-se outros meios
intermediários para alcançar melhor e mais facilmente o fim. No processo deliberativo, tomase o fim em uma cadeia de causalidade hipotética e progride-se retrospectivamente até que se
chegue à causa imediata da ação. A ação, por sua vez, começa do último meio deliberado, de
modo que o último termo na ordem da pesquisa deliberativa será o primeiro na ordem da
ação. O objeto da escolha é o mesmo da deliberação, mas a deliberação antecede a escolha,
mostrando os modos possíveis de se alcançar o fim desejado. Caso não haja meios para que o
fim seja alcançado, a deliberação se interrompe, pois o fim é impossível. A deliberação, como
processo da inteligência prática, pode reconhecer que um desejo conflita com outros mais
importantes ou que um desejo é indigno de ser buscado e cessar o processo de pesquisa por
meios para alcançá-lo.
Caso ocorra uma ação por escolha e seu resultado diferir do fim desejado, três
situações podem ser a causa: a) ou o agente deliberou e previu os meios insuficientemente,
mas não teve como deliberar melhor, ou b) o agente deliberou e previu os meios
insuficientemente, mas tinha como deliberar melhor, ou c) causas intrusas afetaram a cadeia
causal deliberada e frustraram a deliberação feita. Em a e c o agente não é responsável, mas
em b o é, pois o caso se encaixa na ação feita em ignorância.
De modo geral, é o querer, por ser racional, que deseja os fins cujos meios serão
deliberados e possivelmente escolhidos e esses fins são bens, pois ninguém, racionalmente,
deseja o mal para si mesmo. Mas algumas pessoas querem coisas más. Ora, isso ocorre por
que tais pessoas têm o juízo afetado pela busca contínua do prazer, tomando sempre o
agradável como bem, de modo que não vêem o bem verdadeiro, mas apenas o bem aparente12.
12
Em Ética a Nicômaco VI, 5, 1140b 11-15, Aristóteles mostra que a busca pelo prazer falseia o juízo sobre
coisas práticas, e que a moderação (sophrosýne) preserva a retidão do juízo.
17
O valor da pessoa séria (spoudaíos) está em julgar corretamente as coisas, pois para ele o bem
que lhe aparece é o bem verdadeiro (Ética a Nicômaco III, 4, 1113a 25-1113b3).
No capítulo 5 do livro III, Aristóteles analisa a voluntariedade do caráter. Ora,
virtude e vício têm a ver com os meios tomados para se fazer uma ação. E, como foi definido
em Ética a Nicômaco II, 1, 1103a 15-19, a virtude do caráter resulta do hábito. Agora,
Aristóteles mostra como se adquire um hábito:
Nós respondemos que levando uma existência relaxada, os homens são
pessoalmente responsáveis de terem se tornado eles mesmos relaxados, ou de terem
se tornado injustos ou intemperantes, no primeiro caso agindo com perfídia e no
segundo, passando sua vida a beber ou a cometer excessos análogos: com efeito, é
pelo exercício de ações particulares que eles adquirem um caráter do mesmo gênero
que elas (Ética a Nicômaco III, 5, 1114a 3-7).
Vemos, então, que a repetição de um determinado tipo de ação voluntária leva o
agente a solidificar em sua alma um certo padrão para suas ações que se tornaram o tipo de
resposta que ele dará sempre em contextos semelhantes. Tomando o exemplo do
intemperante, ele se tornou assim por que em várias situações ele repetiu o ato de beber
demais, até que se formasse um hábito referente a esse tipo de ação. Agora, tendo já esse
hábito, ele tenderá a responder automaticamente a toda situação em lhe for possível beber
conforme seu hábito13.
Mas se um homem age conforme um hábito que tem e muitas vezes não lhe é
possível vencer esse hábito mesmo que queira, sua ação é voluntária e ele é responsável por
ela? Aristóteles responde, sem dúvidas, que sim. Se num momento T2 um agente A não
consegue ir contra seu hábito, no momento T1, quando A ainda não tinha repetido o
determinado tipo de ação que resultou em seu hábito, era possível que A agisse
diferentemente.
... assim também se alguém lança uma pedra, não lhe é mais possível voltar atrás e
não a lançar, mas lhe era possível não a lançar, pois o princípio da ação estava nele.
Assim é para o homem injusto e intemperante: no início lhe era possível não se
tornar tal, e ele se tornou assim voluntariamente, e assim tornado não lhe é possível
não o ser. (Ética a Nicômaco, III, 5, 1114a 17-22)
13
Uma observação aqui é importante. No livro VII da Ética a Nicômaco, Aristóteles faz uma distinção entre o
acrático (akratés) e o homem desregrado (akolastós). O acrático delibera e escolhe fazer a ação correta,
conforme lhe dita a razão, mas sua alma é cindida por desejo fortes que geram conflito interno e o fazem
seguir seus desejos e não o que deliberou. Ele age voluntariamente, mas, no entanto mostra arrependimento
depois do que fez. A voluntariedade de sua ação repousa sobre a voluntariedade da formação de seu caráter.
O desregrado não segue outro princípio que o prazer, não tendo os conflitos psíquicos que o acrático tem,
nem se mostra arrependido do que faz. Ele é a forma perfeita da ação má.
18
A análise aristotélica do voluntário e, consequentemente, da responsabilidade moral
termina dizendo que mesmo que haja uma atuação da natureza que indique algum caminho
como tendência de ação para alguém, sendo esse alguém um humano em posse de suas
potências racionais, ele poderá agir diferentemente e, portanto, voluntária e responsavelmente
(Ética a Nicômaco, III, 5, 1114b 15-30).
3.2 – Ética a Eudemo
Na Ética a Eudemo, a análise da ação voluntária dá-se nos capítulos 6-9 do livro II.
O capítulo 6 corrobora o princípio contingente de toda ação. Ora, de tudo o que existe,
algumas coisas seguem princípios necessários, como as deduções matemáticas, e outras
seguem princípios contingentes, que podem vir a ser, ou não. O homem é o único animal que
age, pois somente o homem pode agir diferentemente em um dado caso. E se uma ação
depende de alguém para vir a ser, esse alguém é sua causa. A virtude e o vício referem-se ao
que o homem é causa. E as ações feitas voluntariamente e as por escolha, são causadas pelo
homem.
No capítulo 7, Aristóteles analisa se o voluntário, o involuntário e a escolha se dão
conforme ou ao desejo (órexis), ou à escolha (proaíresis), ou ao pensamento (diánoia).
Aristóteles toma uma opinião comum que o voluntário se relaciona com o apetite, sendo o que
é conforme o apetite é prazeroso e sendo involuntário o que é desprazeroso. A refutação dessa
tese parte do princípio de que há diversas coisas que fazemos que não é por impulso ou
apetite, mas por querer. Ademais, diz-se que agir justamente é agir voluntariamente, portanto,
se assim fosse, o continente (enkratés), aquele que vence a grande força de seus apetites para
agir conforme a razão, faria uma ação inconsistente, pois ao seguir a razão, ele age
voluntariamente, mas ao não seguir seu apetite, ele agiria, ao mesmo tempo,
involuntariamente, o que é absurdo. Aristóteles conclui que o desejo não é causa necessária da
ação voluntária. Também não o é a escolha, pois há ações que são feitas voluntariamente e
sem que se as eleja premeditadamente. Resta que o voluntário seja conforme o pensamento, e,
consequentemente, que o princípio da ação esteja em poder do agente sob a forma de acesso
epistêmico às circunstâncias e consequências da ação.
19
Sabe-se, porém, que a compulsão (biai) e a necessidade (ananké) são contrárias às
ações voluntárias. Diz-se que algo é feito por necessidade e por compulsão quando contraria
um movimento natural, por exemplo, jogar uma pedra para cima. Mas o não compulsório não
é voluntário, pois a queda da pedra não é voluntária. Em relação aos animados, é compulsório
que eles executem um movimento cujo princípio os move a partir de fora. O princípio em
animais não humanos e crianças é apenas o desejo e por isso se diz que eles não agem. Para
homens, o princípio de ação é múltiplo, pois conta com o desejo mais o elemento racional
(logimós).
O incontinente e o continente têm um conflito psíquico em suas almas. Ora, na alma
há uma parte irracional, que é satisfeita pelo incontinente e insatisfeita pelo continente, e uma
parte racional, que é insatisfeita pelo incontinente e satisfeita pelo continente. Os dois sofrem
por qualquer ação que fazem em que há conflitos entre o princípio desiderativo e o princípio
racional. Quando um impulso de uma das partes sobrepuja um outro da outra parte, esse está
coagido deveras, por uma coação interna, mas se acomete em erro quem pensa que a ação é
coagida por ser feita por parte da alma, pois é a alma toda que age (cf: Ética a Eudemo II, 8,
1225a 23-26). Portanto, não há coação verdadeira senão a externa e se o princípio da ação não
é externo, a ação é voluntária.
Mas em casos em que se faz um mal para evitar um mal maior (como nos exemplos
da Ética a Nicômaco sobre a pessoa que faz ações ignominiosas para salvar sua família da
morte ou o capitão que joga a carga ao mar para salvar a si mesmo e à tripulação de uma
tempestade)? Em Ética a Eudemo II, 8, 1222a 8-19, Aristóteles diz que essas ações não são
escolhidas por elas mesmas em vista do que se faz, mas em vista do fim, já que em situações
normais o agente não as faria. Uma ação desse modo é compulsória não simplesmente
(haplós). Aqui, Aristóteles insere uma distinção conceitual que é necessária pela incapacidade
dos conceitos simples de voluntário/involuntário conseguirem definir a situação. A rigor, o
princípio da 'ação compulsória não simplesmente' está no agente, mas ele não teve outras
alternativas morais possíveis para ação, embora tivesse alternativas físicas. Nesse tipo de
ação, a finalidade é dada do exterior e não pelo agente. Desse modo, a ação é feita com
necessidade, por isso, sendo considerada involuntária: “Uma necessidade hipotética forte
estabelece-se entre a finalidade e a conduta a ser seguida, de modo que não há cursos
alternativos de conduta a serem escolhidos que causem um mal menor.” (Muñoz, 2002 p. 73).
Aristóteles concede o título de involuntário à ações que são feitas para evitar
consequências insuportáveis para a natureza humana, como dor intensa, ou sob efeito de uma
20
emoção forte demais para ser evitada. Também são involuntárias ações feitas mediante
entusiasmo (inspiração divina) e ações que o agente é o princípio e teve acesso epistêmico,
mas não depende dele realizá-las ou não, como envelhecer e suar.
Portanto uma ação é involuntária se a) o princípio é externo ao agente ou, b) se
interno, se cumpre as seguintes cláusulas:
i – não houve escolha da finalidade e foi feita para evitar um mal maior;
ii – feita por emoção sobre-humana ou para evitar sofrimento sobre-humano;
iii – realizada mediante impulso irresistível (entusiasmo, por exemplo);
iv – consiste em um evento fisiológico, que o agente não pode controlar.
Depois de analisar os sentidos possíveis de coação, Aristóteles volta, no capítulo 9,
ao pensamento, que, como se disse no início do capítulo 8 do livro II, caracteriza o que é
voluntário. O pensamento é o acesso epistêmico às circunstâncias e consequências da ação e
são três os itens que Aristóteles elenca (e não os seis da Ética a Nicômaco):
i – sobre que/quem age
ii – com o que age
iii – o fim com o qual age.
Descumprir um desses itens torna a ação involuntária. Contudo, é preciso distinguir
os modos de ter ou não conhecimento. Com efeito, ter o conhecimento pode ser dito em
potência ou em ato. Se se tem o conhecimento em ato, a ação é, obviamente, voluntária, desde
que não coagida conforme se definiu acima. Se o conhecimento está em potência, ele pode
ser dito de três modos: i – o agente o possui, mas não o atualizou, ou ii – o agente não o
possui e pode possuí-lo, ou iii – o agente não possui o conhecimento e pode possuí-lo, mas
não no momento da ação. A ação será negligente se o agente cumprir i ou ii, sendo, pois, uma
ação voluntária e o agente responsável por ela. Se cumpre iii, a ação é involuntária e o agente
merece indulgência ou piedade.
Conclusão
Como se viu, a análise sobre a responsabilidade moral se dá em meio à discussão do
que é voluntário. Percebemos que os conceitos de voluntário/involuntário não conseguem dar
conta de todas as ações possíveis, sendo necessário que Aristóteles estabelecesse distinções
21
conceituais suplementares, como "ação mista" ou "ação involuntária em si, mas voluntária em
virtude do fim obtido".
Mas além de problemas conceituais internos em cada uma das obras éticas, temos um
problema no que se refere à compatibilidade dos conceitos de voluntário tratados nelas. As
principais diferenças são: a Ética a Nicômaco diz que crianças e animais são capazes de ação,
traz a noção de ação mista, e parece defender que toda ação por emoção é voluntária,
enquanto a Ética a Eudemo diz, respectivamente, que animais e crianças não são capazes de
ação, não tem o conceito de ação mista, as quais são tratadas como involuntárias e defende
que ações por emoções fortes são involuntárias.
Muñoz (2002), seguindo Broadie (1991), faz uma distinção semântica entre os
termos 'causador' (aítion) e 'voluntário' (hekoúsion) usados nas duas éticas. Há dois sentidos
para cada um:
i.i – aítion = sentido de originador, causa eficiente da ação;
i.ii – aítion = sentido de responsável, imputável por uma ação.
ii.i – hekoúsion = sentido de ação praticada com plena consciência pelo agente.
ii.ii – hekoúsion = sentido de uma ação pela qual o agente é o imputável.
A Ética a Nicômaco usaria, então, os sentido i.i e ii.i, e sua investigação busca
compreender a origem da ação. É por isso que Aristóteles cria o conceito de ação mista, diz
que animais e crianças atuam e que a ação por emoção é voluntária. Ao passo que a Ética a
Eudemo usa os sentidos i.ii e ii.ii, sendo sua investigação voltada para responsabilidade que o
agente carrega pelo ato que pratica. É por isso que a Ética a Nicômaco ofereceu bem mais
tensão conceitual que a Ética a Eudemo para tomarmos os princípios da responsabilidade
moral em meio à discussão sobre a voluntariedade.
Assim, a guisa de conclusão, vejamos as principais notas constituintes da noção de
responsabilidade moral segundo as explicações que fizemos ao longo de todo esse trabalho.
Tem responsabilidade moral o agente que cumpre as seguintes cláusulas:
•
age voluntariamente;
•
age para evitar um mal maior, ou sob compulsão moral, mas é beneficiado com os
resultados de sua ação;
•
faz uma ação e desejaria fazê-la novamente se pudesse, independentemente de ser ele
o princípio da ação;
•
faz uma ação e desejaria fazê-la novamente se pudesse, independentemente de ter
22
acesso epistêmico às circunstâncias e consequências de sua ação;
•
age em ignorância ou por negligência;
•
age por apetite ou impulsividade, ou sentimento, desde que sejam desejos e
sentimentos que não ultrapassem a capacidade da natureza humana de agir
diferentemente;
•
age por escolha;
•
age por escolha mas não alcança o fim desejado por erro deliberativo que dependia
dele para não ocorrer;
•
age por compulsão interna, como no caso da acrasia,
•
age com conhecimento potencial das circunstâncias e consequências da ação, quando é
possível conhecê-las atualmente;
•
age segundo determinação habitual do caráter, que é voluntário e confere
responsabilidade ao agente, pois foi ele mesmo quem formou seu caráter.
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