Revista CRESCER_Gisele Truzzi_Truzzi Advogados_abril 2015

Transcrição

Revista CRESCER_Gisele Truzzi_Truzzi Advogados_abril 2015
CAPA
UMA
QUESTÃO
DE PEITO
Na rua ou em casa, com ajuda
profissional ou sozinha, por
seis meses ou dois anos... Toda
experiência de amamentação
tem valor único. É um direito
das mães amamentar do jeito e
no lugar que se sentirem mais
confortáveis – com menos
julgamentos e mais apoio
Reportagem Paula Desgualdo
e Juliana Malacarne
Fotos Raoni Maddalena/Editora Globo
Mãe de Maitê, de 6 meses, Fabíola acredita
que amamentar é algo natural e deve ser visto
dessa forma. No início, ela se constrangia de
dar o peito em público, hoje não liga mais
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Diante da afetuosa imagem de uma mãe
dando o peito ao seu filho, é difícil que
alguém se pergunte o que terão passado
os dois até chegar àquele momento sublime de troca e carinho. Mas a gente sabe
que, na prática, amamentar pode não ser
tão simples e natural como parece. Não
bastassem as demandas física e emocional exigidas por um recém-nascido, os
mamilos podem machucar, a vizinha e a
amiga dão palpite, a avó diz que fazia diferente, a família critica, um desconhecido se incomoda ao ver a criança no peito... E não é raro que o próprio médico
desencoraje o aleitamento.
Aí, a mãe, que deveria contar com todo o suporte das pessoas próximas, vê
sua confiança minar. Começa a desconfiar que as crenças mais descabidas talvez sejam verdade: que o leite é fraco,
não é suficiente, ela não vai dar conta.
Pior: se essa mãe, por algum motivo,
não amamenta seu filho, a sociedade faz
com que ela acredite que a culpa é dela,
toda dela. “Como assim não consegue?”,
“Você não deve estar fazendo esforço suficiente!” Julgamentos não faltam.
“Em um primeiro momento, pensei
que era menos mãe”, desabafa a analista de comunicação Andressa Bristotti,
32 anos, mãe de Manuela, de 1 ano e
9 meses. Ela, que sempre teve seios pe-
quenos, ficou empolgada ao vê-los crescer na gravidez, acreditando que era um
sinal de que não teria problemas para
amamentar. Mas, depois que Manuela
nasceu, o que parecia um bom presságio
transformou-se em pesadelo. O leite não
descia, apenas o colostro, e, depois de
seis dias, o pediatra concluiu que a bebê estava desidratada e prescreveu leite artificial. Sem escolha, ela deu a fórmula. “Fiquei muito frustrada. Eu não
tinha dores no seio, nem cortes no bico,
só que não tinha leite, o que me deixava ainda mais culpada”, conta. “Gostaria que as pessoas continuassem falando
sobre a importância e os benefícios da
amamentação, mas respeitando quem
teve dificuldades. Essa pressão toda só
gera mães inseguras e frustradas, com
sentimento de inferioridade diante de
quem conseguiu.”
Amamentar é uma escolha corajosa.
Exige tempo, paciência e compaixão em
relação aos próprios limites. É uma vivência única e envolve significados diversos para cada mulher. “Toda experiência tem valor e merece crédito, não
nos cabendo julgamentos de qualquer
natureza”, resume a enfermeira obstétrica Christine Ranier Gusman em sua
dissertação de mestrado, apresentada na
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
da Universidade de São Paulo.
Do ponto de vista científico, não restam dúvidas de que o leite materno é o
alimento mais completo e a melhor maneira de atender às necessidades nutricionais, imunológicas e psicológicas de
um bebê. Ali estão todos os anticorpos,
proteínas e minerais que ele precisa para
crescer saudável. “Também previne doenças como obesidade, diabetes e hipertensão na vida adulta”, acrescenta Marisa Aprile, presidente do Departamento
de Aleitamento Materno da Sociedade
de Pediatria de São Paulo.
Depois de acompanhar 3.500 bebês
ao longo de 30 anos, uma pesquisa da
Universidade de Pelotas (RS), que acaba de ser publicada na revista científica
The Lancet Global Health, associa o aleitamento a um melhor desempenho em testes
de inteligência na vida adulta. Aqueles
amamentados por 12 meses ou mais, em
comparação aos que mamaram por menos de 30 dias, tinham QI maior, apresentaram também melhores níveis de
educação e salários 20% mais altos. A
“EM UM PRIMEIRO MOMENTO,
PENSEI QUE EU ERA MENOS MÃE
PORQUE O LEITE NÃO DESCEU.”
Andressa Bristotti, mãe de Manuela, 1 ano e 9 meses
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Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza o aleitamento exclusivo até os 6 meses e a manutenção da amamentação junto à
alimentação complementar até os 2 anos ou
mais. Segundo a última pesquisa do Ministério da Saúde, de 2008, a média brasileira de
aleitamento exclusivo é de apenas 54 dias. Já
o tempo médio da amamentação como um
todo é de 342 dias, menos de um ano. “As mulheres estão cada vez mais informadas, mas
seria muito bom se pudessem procurar orientação qualificada sobre a amamentação antes do parto, ainda no pré-natal”, recomenda
Aprile. Assim, diante de qualquer apuro, fica
mais fácil saber a quem recorrer.
Para Fabiana Swain Müller, coordenadora
da Rede Internacional em Defesa do Direito
de Amamentar, se há alguém que não tem
culpa quando um bebê não é amamentado é
a mãe. “Ela é vítima de uma cultura que valoriza a alimentação artificial, e a conta sobra para ela. É muito cruel. É responsabilidade de todos que essa mulher amamente.” Se
você está com alguma dificuldade, procure
suporte (veja na reportagem seguinte dicas que
podem ajudá-la). E se não amamentou tanto
quanto gostaria, lembre-se de que a amamentação é, sim, importante para o vínculo e para
a saúde, mas há outras formas de dar amor.
OS DESAFIOS DE AMAMENTAR
Em alguns casos, o desmame precoce se deve
ao fato de a criança ter nascido antes do tempo, porque os prematuros podem ter o reflexo
de sucção reduzido. A fotógrafa Fabiana Paula, 38 anos, mãe de Lucas, 8, Luan, 3, e Lara, 1, sabe bem o que é isso. Luan nasceu aos
seis meses de gestação e foi para a UTI, onde ficou internado por 90 dias. Nesse período, a mãe tirava o leite a cada três horas com
uma bombinha, para estimular a produção.
A quantidade era suficiente para alimentar o
filho internado e doar o restante para o banco de leite do hospital. “Fiquei morrendo de
dó de não amamentar, mas o mamilo tinha o
dobro do tamanho da boca dele”, diz Fabiana.
Como Luan mamou na mamadeira, ela tinha
medo que ele recusasse o peito depois. Mas,
para sua surpresa e dos funcionários do hospital, o menino saiu da UTI mamando no peito.
A doula Marla Stern, 33 anos, gostaria de
ter visto seu filho Pietro, 6, desmamar mais
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Valentina tem 3 anos
e ainda pede o peito à
noite, antes de dormir.
Jéssica nunca achou
que fosse amamentar
por tanto tempo
“MUITO ALÉM DA ALIMENTAÇAO, É
UM ATO DE CARINHO. CONTINUO
OFERECENDO ESSE ACONCHEGO À
MINHA FILHA”
Jéssica Bonizzi, mãe de Valentina, de 3 anos
tarde. Mas o menino largou o peito aos 4 meses, algo que ela atribui à falta de informação.
“Ele mamava pouco. Uma pediatra orientou
a deixá-lo chorar e só dar o peito a cada três
horas. Foi traumático, perdi a fé em mim
mesma.” Quando chegou a vez de Mariana,
3 anos, Marla decidiu fazer diferente. Pesquisou sobre o assunto, contou com o apoio de
amigas mães, buscou orientação em bancos
de leite e com consultoras em amamentação.
“Tive que enfrentar a falta de confiança em
mim. Além disso, ela tinha muita necessidade de sucção, ficava muito tempo no peito.
Era difícil administrar isso e a demanda do
Pietro por atenção”, lembra. Mas valeu o esforço: Mariana mama no peito até hoje.
Não é incomum que informações técnicas e
científicas tropecem em um emocional abalado ou uma dificuldade prática. A dentista Maria Carolina Marques, 36 anos, mãe de André,
7 meses, teve candidíase em uma das mamas
por quatro meses. “Sentia muita dor. Era como se a criança tivesse uma lixa no lugar da
língua.” Na primeira semana após o parto,
seu seio rachou e a fissura não parou de crescer, até que um infectologista diagnosticou o
problema e prescreveu um medicamento que
não prejudicaria o aleitamento. Além disso,
ela precisava lidar com as opiniões de pessoas próximas, que diziam que o leite não era
suficiente e sugeriam dar água e chá para as
cólicas – uma crença popular muito frequente. “Sei que o bebê não mama só por fome,
mas também por ter necessidade de sucção,
que ajuda a fortalecer os músculos da face, o
que a mamadeira não oferece. Com o apoio
de outras mães e de consultores especializa-
dos, pude insistir no aleitamento”, diz. Apesar das dificuldades, André mamou exclusivamente no peito até os 6 meses. Pedir ajuda não
é vergonhoso nem sinal de fraqueza. Lembre-se: amamentar não é igual para todo mundo.
Muitas vezes, a dor que surge não é apenas física. A relações-públicas Elaine Palmer
Bromfman, 31 anos, mãe de Sarah, 3 meses,
se viu impedida de dar o peito por causa de
uma mastite. Ela, que mora nos Estados Unidos, não entende por que o pediatra receitou
umremédioque aobrigou aparar oaleitamento. Mesmo assim, continuou extraindo o leite
com a bombinha, para não interromper a produção. “Quando parei de amamentar, parece
que cortaram o cordão umbilical pela segunda vez entre minha filha e eu. A dor de querer
amamentar e não poder não tem explicação”,
diz ela, que voltou a dar o peito para Sarah.
Para a arquiteta Fernanda Meneghelo, 40,
o desafio veio em dose dupla com as gêmeas
Laura e Lívia, de 6 meses. Mãe de primeira
viagem, ela sabia que amamentar gêmeos poderia ser difícil, mas queria tentar. Ela sempre
precisava de ajuda e tinha dificuldade de segurar as bebês, que acabavam soltando a pega
correta. “E eu não tinha mãos livres para arrumá-las.” A solução que encontrou foi o marido dar mamadeira com leite materno para
uma enquanto a outra estava no peito. Na mamada seguinte, trocavam as bebês. Hoje, Lívia recusa o seio. Chora e fica irritada, só mama na mamadeira, que tem uma dinâmica de
sucção bem diferente e exige menos esforço
que o peito. Com a volta ao trabalho, Fernanda prepara Laura para o desmame. “A rotina
ficará muito corrida e não vou ter mais co-
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mo dar o peito. Queria ter amamentado as
duas exclusivamente até os 6 meses, insisti o
quanto pude, mas com a consciência de que
deveria ser prazeroso para mim e para elas.”
A NECESSIDADE DE APOIO
Nos primeiros meses, enquanto a mulher ainda está se adaptando à nova rotina, cuidar de
um bebê e amamentá-lo demanda tempo. A
ajuda familiar nessa fase é fundamental. “Antigamente, mães, avós, primas, cunhadas e
comadres estavam mais próximas. O aprendizado da maternidade se fazia pela convivência, pela observação, pelo apoio da comunidade”, descreve a psicóloga Daniela
Andretto, da Casa Moara (SP), conselheira
em aleitamento materno pela OMS/Unicef.
Isso foi se perdendo à medida que a vida se
tornou mais corrida, mais urbana. “Mulheres que não receberam apoio, muitas vezes,
são as que cobram das outras o êxito que gostariam de ter tido, o sucesso que julgam ser
obrigatório. Esse comportamento é reflexo de
uma sociedade punitiva, em vez de acolhedora. Precisamos mudar isso”, defende Daniela.
Nem é preciso dizer que a presença do pai
faz toda a diferença. Se a mãe não se sentir
sobrecarregada, as chances de ter problemas
com a produção de leite por causa de estresse são menores. “O parceiro precisa entender
o processo, senão, depois de três choros, ele
será o primeiro a querer dar mamadeira”, explica Caroline de Oliveira Ferreira, gerente de
enfermagem da Casa Angela (SP).
O consultor de comunicação Alexandre
Bezerra, 35 anos, pai de Catarina, 6 meses, se envolveu ativamente na vida da filha desde a pesquisa da melhor opção de
parto, ao lado da esposa, Roberta. Depois
que Catarina nasceu e a mulher começou a
amamentar, ele assumiu a responsabilidade
com a bebê nas outras atividades, como trocar fraldas, ninar de madrugada e carregar
na hora dos passeios. “Procuro ajudar dando à minha esposa oportunidade de descansar.” O casal se preparou para que Roberta
ficasse por dois anos em casa cuidando da
menina, como forma também de garantir
que ela amamentasse até onde fosse confortável para as duas.
Aos 6 meses, Lívia recusa
o peito e só mama na
mamadeira. Sua irmã gêmea
Laura também está em
processo de desmame.
“Insisti o quanto pude, mas
com a consciência de que
deveria ser algo prazeroso”,
diz a mãe, Fernanda
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MOSTRAR OU NÃO?
Amamentar fora de casa é, na maioria das
vezes, uma necessidade. No ônibus, no shopping, na fila do supermercado ou no meio
do parque, não importa o lugar, se o choro
de fome começa, a mãe só tem uma maneira de resolvê-lo: dando o peito. E não adianta
oferecer o banheiro – esse é um lugar onde
ninguém gostaria de comer, certo? Quando
começou a amamentar, a produtora Fabíola Correa, 30 anos, mãe de Maitê, 6 meses,
se sentia muito constrangida de alimentar a
filha em um lugar público. Antes de o bebê
nascer, comprou fraldas de pano e até capa de
amamentação para facilitar o processo.
“Eu tinha uma ideia completamente leiga
sobre o assunto. Até olhava com um pouco de
preconceito quando as mães amamentavam
na rua sem se cobrir, achava que bebês mais
velhos não precisavam mamar, enfim, quase
o oposto do que descobri depois que a Maitê
nasceu”, relata. Durante a gravidez, ela entrou em contato com grupos virtuais de mães
para tirar dúvidas, então, percebeu que não
amamentar quando o bebê tinha fome poderia levar ao desmame precoce. Foi aí que sua
visão mudou completamente. “Se eu não me
escondo para almoçar, por que precisaria esconder minha filha? Amamentar é algo natural e deve ser visto assim. Para mim, foi uma
NÃO É PORNOGRAFIA!
No início do ano, fotos de mulheres amamentando foram deturpadas por um
perfil falso criado no Instagram com o nome @carlossantista13. As imagens
eram retiradas do contexto e repostadas com legendas pornográficas. Segundo
a especialista em Direto Digital Gisele Truzzi, o caminho mais rápido para resolver um problema desse tipo é alertar os administradores do site em que a foto
foi postada. “Uma notificação avisando que a imagem está sendo usada indevidamente costuma surtir efeito e a publicação é retirada do ar”, afirma Gisele. Nas
redes que têm mecanismos de denúncia como Facebook, Twitter e Instagram,
pedir para pessoas próximas também denunciarem a página acelera o processo. Foi isso que um grupo de mães fez e, em poucos dias, a conta foi deletada. É
possível também levar a situação para a esfera judicial, onde o criminoso pode
ser sentenciado a pagar uma indenização ou cumprir pena de detenção.
questão de respeitar meus limites e, aos poucos, superá-los pelo bem dela”, afirma Fabíola, que hoje se livrou completamente da vergonha e orgulhosamente amamenta sua filha
a qualquer hora e em qualquer lugar.
Já a empresária Camila Motta, 31, mãe de
Bruna Akemi, 1 ano, nunca dispensou o paninho para amamentar em público e sempre
deu preferência a lugares reservados. Em parte, isso se deve a uma experiência ruim: ela
viu um homem fazer comentários maldosos
e tirar fotos de mulheres durante o aleitamento. “Acho superbonito mulher amamentando, mas prefiro cobrir, pois existem pessoas
maliciosas que se aproveitam dessa situação.”
Nos últimos anos, diversos grupos de ativistas procuram responder a assédios e situações que violam o direito de amamentar.
Um recurso cada vez mais usado é o mamaço, uma reunião de mães amamentando seus
filhos sem se cobrir, em algum lugar público ou privado, dependendo do incidente que
o motivou. Reila Miranda, fundadora da Casa da Borboleta (SP), espaço de apoio ao parto humanizado, já ajudou a organizar quatro
mamaços por motivos diferentes.
O mais recente deles aconteceu em março,
no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O
hospital publicou um post no Facebook sugerindo três atitudes que supostamente poderiam virar manias difíceis de
reverter, entre elas amamentar sempre que a criança chora. Apesar de
ter se retratado e retirado a publicação do ar, Reila considerou que a
manifestação era necessária por se
tratar de um desserviço à população. “O mamaço já é uma forma política conhecida do público em favor
do aleitamento. É um ato pacífico,
pelo direito do bebê de ser amamentado em qualquer lugar e determinar seu próprio ritmo em relação à
quantidade de mamadas”, pontua
Reila. Um dos mamaços motivou a
criação do projeto de lei munici-
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pal 0843/2013, que propõe multar em R$ 500
o estabelecimento que proibir ou constranger
o ato da amamentação em São Paulo. Até o fechamento desta edição, ele havia sido aprovado em segunda votação na Câmara Municipal
e aguardava sanção do prefeito.
ATÉ QUANDO AMAMENTAR?
Em 2012, a revista americana Time criou polêmica depois de produzir uma capa com a foto
de Jamie Grumet, 26 anos, amamentando seu
filho de 3. O título fazia uma pergunta: “Você
é mãe suficiente?”. Na verdade, a reportagem
discutia as teorias do médico Bill Sears sobre
criação com apego. Mas a maioria das questões girou em torno de ser extremo ou não
amamentar uma criança daquele tamanho.
A consultora de telefonia Jéssica Bonizzi, 23,
viu o aniversário de 2 anos da filha Valentina
passar sem que ela ou a menina estivessem
dispostas a cortar esse vínculo. “Não me sinto
constrangida, mas as pessoas encaram por ela
já ser grandinha.” Hoje Valentina tem 3 anos e
4 meses, não pede mais o peito durante o dia,
mas tem por costume mamar antes de ir dormir. “Nunca achei que fosse amamentar por
tanto tempo, mas, por ser um ato de carinho
muito além da alimentação, continuo oferecendo esse aconchego para minha filha, e não
acho que isso nos prejudique de nenhuma maneira, muito pelo contrário”, afirma.
Assumir uma posição diante de um processo que envolve tantas variáveis, seja ela qual
for, será sempre um ato de coragem. Antes de
julgar, que tal aceitar as diferenças, escutar as
histórias e oferecer mais apoio à mãe que está ao seu lado? Até porque, pode ser que essa
mãe, em algum momento, seja você.
“MULHERES QUE NÃO
RECEBERAM APOIO SÃO AS
QUE COBRAM DAS OUTRAS
O ÊXITO QUE GOSTARIAM
DE TER TIDO.”
Daniela Andretto, conselheira em aleitamento
EM DEFESA DAS BRELFIES
Em março, mães de todo o mundo compartilharam selfies de amamentação, as brelfies (de breastfeeding selfies), em resposta à comentarista de televisão britânica Angela Epstein, que classificou a
prática como “exibicionismo da nudez”. A moda já havia pegado em
2013, quando a modelo Gisele Bündchen e outras celebridades postaram fotos amamentando seus filhos. Quem defende esse tipo de
publicação acredita que essa é uma maneira de incentivar as mães a
insistirem no aleitamento materno e contribuir para que o ato passe
a ser encarado como algo natural. É assim que pensa a ativista americana Paala Secor, do blog paa.la, uma das principais envolvidas na
luta para que o Facebook parasse de excluir fotos de amamentação
em que apareciam mamilos, classificando-as como nudez ou pornografia. O resultado desse embate foi uma mudança na política do site,
em junho de 2014. Confira a entrevista que ela deu à CRESCER.
Por que você acha que é importante para uma mãe compartilhar fotos de amamentação nas redes sociais?
Essa moda das brelfies nas mídias sociais é apenas uma progressão natural do que vem acontecendo há séculos. As mães
tinham retratos de amamentação pintados antes de a fotografia ser inventada. Depois, fotos de mães amamentando começaram a ser tiradas e tratadas com carinho pelas famílias. Mães
modernas gastam boa parte do seu tempo conversando com
outras mães pelas redes sociais, compartilhando seus triunfos
e tempos difíceis. Temos orgulho de compartilhar nossas fotos
amamentando. Elas ajudam as mães a perceberem que existem
outras mulheres amamentando em público, mesmo que não haja nenhuma perto delas quando vão ao parque.
Você acha que a luta dos que defendem o direito de postar fotos de
amamentação está próxima de um fim?
Não. A censura e a discriminação acontecem todos os dias.
Quando as pessoas que intimidam mães online perceberem
que estão machucando pessoas, quando eu não tiver nenhum
incidente de constrangimento para informar, quando não houver nada além de apoio para as mulheres na internet e fora dela, a luta estará acabada.
O que você diria para mães que foram constrangidas por amamentar em público?
Mantenha-se forte. Amamente com orgulho. Você está fazendo
o que é melhor para você e sua família. Toda vez que você compartilha uma foto de amamentação ou amamenta em público
sem sentir vergonha, está ajudando outras mães. Elas podem
não dizer, mas veem você. As crianças veem você. Adolescentes veem você. Eles estão aprendendo com você o que é socialmente aceitável. Você é a mudança. Não deixe ninguém por
você para baixo. Nossos filhos vêm em primeiro lugar.
No site Outras mulheres contam suas dificuldades. Veja também as leis e conquistas do aleitamento. E uma matéria sobre o julgamento às mães que dão
mamadeira para o filho em público.
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