controle de qualidade em farinha de trigo beneficiamento e cara
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controle de qualidade em farinha de trigo beneficiamento e cara
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Campus – Campo Mourão Curso superior de Tecnologia em alimentos ANA PAULA CARPESANI CEZAR CONTROLE DE QUALIDADE EM FARINHA DE TRIGO BENEFICIAMENTO E CARA CTERIZAÇÃO DE DA INDÚSTRIA DE NA RAGIÃO DE CORUMBATAÍ DO SUL: APROVEITAMENTO DA CASCA ESTÁGIO SUPERVISIONADO Campo Mourão Nov/2012 RESUMO O trigo é de grande importância para a economia brasileira, muito utilizado na fabricação de farinhas, e seus subprodutos. A farinha de trigo possui variadas aplicações na indústria de alimentos, apresentando um importante papel no aspecto econômico e nutricional da alimentação humana. O objetivo deste relatório é apresentar as atividades desenvolvidas durante o estágio obrigatório curricular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, realizado no laboratório de controle de qualidade da farinha de trigo da empresa COAMO – Cooperativa Agroindustrial Mourãoense, nos períodos de Agosto a Dezembro de 2011, totalizando uma carga horária de 400 horas. No período de estágio, realizavam-se análises referentes, ao controle de qualidade da farinha de trigo, sendo elas: falling number integral, umidade, condicionamento, moagem, glúten, cor, falling number da farinha, alveografia, farinografia e cinzas. Essas análises são de grande importância para o controle de qualidade de grãos e farinhas de trigo, pois determinam o seu fim e garantem a obtenção do produto dentro das especificações, atendendo clientes e consumidores. Através do estágio foi possível por em prática a teoria e vivenciar o cotidiano de uma indústria. 1 1. INTRODUÇÃO Os produtos obtidos a partir dos cereais ocupam um lugar destacado como alimento básico do homem, sendo que o trigo é um dos mais importantes grãos, representando cerca de 30% da produção mundial de cereais (GERMANI, 2008). O trigo é uma gramínea, um cereal fasciculado, de fruto oval pertencente à família Gramínea e do gênero Triticum, possuindo diversas espécies. O tipo de maior interesse comercial é o Triticum aestivum L. (trigo comum) utilizado na panificação para produção de bolos, biscoitos, massas e produtos de c onfeitaria. O tipo Triticum durum é destinado principalmente ao preparo de massas alimentícias (GERMANI, 2008). A qualidade do grão de trigo é o resultado da interação das condições de cultivo (interferência do solo, clima, pragas, manejo da cultura e da cultivar) e da interferência das operações de colheita, secagem e armazenamento, fatores estes que influem diretamente sobre o uso industrial a ser dado ao produto final, que é a farinha de trigo (GUTKOSKI, 2009). Entende-se por farinha de trigo o produto obtido a partir da espécie Triticum aestivum ou de outras espécies do gênero Triticum reconhecidas através do processo de moagem do grão de trigo beneficiado. A farinha obtida poderá ser acrescida de outros componentes, de acordo com o especificado na presente norma (BRASIL, 1996). A farinha de trigo pode ser classificada de acordo com seu uso, sendo que a farinha de trigo integral é obtida a partir do cereal com teor máximo de cinzas de 2,0%. A farinha de trigo especial ou de primeira é obtida a partir do cereal com teor máximo de cinzas de 0,8% e a farinha tipo 2 com teor máximo de 1,4% de cinzas (VIECILI et al, 2010). Dependendo da designação de uso ou do tipo de produto, a qualidade de grãos e farinhas de cereais pode ser determinada por uma série de características, que podem ser divididas em físicas, químicas, enzimáticas e reológicas (MÓDENES; SILVA; TRIGUEROS, 2009). Dada a grande diversidade de farinhas de trigo é necessária a utilização de vários métodos para determinar essas características. Os métodos mais utilizados são os relacionados com as características reológicas da massa, a partir de sistemas simples de mistura de água e farinha. Existe uma série de aparelhos para 2 medir estas propriedades, tais como o farinógrafo, o extensógrafo e alveógrafo. A definição de uso final de uma farinha deve ser feita após a avaliação conjunta destes resultados (VIECILI et al., 2010). Cada tipo de produto requer farinha com características tecnológicas especificas para a sua elaboração. Dentre essas características está, essencialmente, a força da farinha, a qual esta associada, principalmente, ao conteúdo e a qualidade das proteínas formadoras de glúten, e a atividade de α amilase, particularmente nas farinhas usadas na produção de pão (PIZZINATO, 1999). Durante o processo de panificação, a energia mecânica aplicada na homogeneização da massa, aliada à adição de água e à combinação das proteínas do trigo principalmente a gliadina e a glutenina, propicia a formação da rede protéica denominada de glúten, que confere força e estabilidade para a retenção dos gases liberados durante a fermentação e o forneamento, evitando a ruptura da rede protéica, propiciando o desenvolvimento da massa (PINTO, 2010). Além do glúten, o trigo contém outros constituintes de extrema importância para a produção e qualidade dos alimentos derivados deste cereal, como: o amido, as hemiceluloses (polissacarídeos não amiláceos), as enzimas, os lipídeos e as vitaminas (PIEKARSKI, 2009). Este relatório tem como objetivo descrever as atividades desenvolvidas durante o período de estágio curricular supervisionado realizado no laboratório de controle de qualidade de trigo no período de 08/08/11 à 31/12/11 na Cooperativa Agropecuária Mourãoense – COAMO, localizada na cidade de Campo Mourão, totalizando uma carga horária de 400 horas. 3 2. DESCRIÇÃO DO LOCAL A Coamo – Cooperativa Agropecuária Mourãoense, foi fundada em 28 de Novembro de 1970, e atualmente seu parque industrial constitui-se de um complexo de industrias de óleo de soja, fábrica de margarina e gordura, torrefação de café e fiação de algodão, além de contar com laboratórios físico-químico, microbiológico e de controle de qualidade de farinha de trigo. Atualmente se destaca no processamento de farinha de trigo, onde dispõe de um moinho de trigo terceirizado localizado na cidade de Mamborê - PR, enviando diariamente amostras para análises reológicas e físico-químicas. Realizam-se também análises da safra anual de vários municípios nos quais a empresa possui entrepostos para recebimento de grãos. Os produtos Coamo são comercializados nos mercados interno e externo, com qualidade reconhecida, graças à observância de rigorosos padrões de controle de produção, como os programas ISO 9000, BPF/APPCC e sistemas certificados internacionalmente para segurança alimentar. 4 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 3.1 FALLING NUMBER INTEGRAL A farinha integral é produzida a partir do grão inteiro do trigo, contendo casca, endosperma e gérmen. A análise de falling number integral foi realizada em todas as amostras de trigo provenientes da safra de toda a região. Retirava-se certa quantidade de trigo e em seguida esta era moída no moinho de martelo para obtenção de amostras com tamanho de partículas homogêneas e finas. Em seguida media-se a umidade da amostra e prosseguia com a análise de acordo com a tabela de referência de umidade e peso. O falling number integral permite obter uma análise de como se encontra os grãos de trigo, em relação à atividade de amilases. 3.2 CONDICIONAMENTO DOS GRÃOS É um tratamento físico no qual adiciona-se certa quantidade de água nos grãos do trigo com o objetivo de elevar a umidade para 14% – 15%. Os grãos provenientes dos entrepostos chegam no laboratório com a umidade em que são armazenados nos silos (aproximadamente 11% – 12%), porém essa umidade é muito baixa, sendo necessário a correção da umidade dos grãos. Isso facilita o processo e eficiência da moagem, obtendo uma separação eficiente do farelo e endosperma, pois o farelo torna-se mais elástico e o endosperma é enfraquecido, facilitando a separação, além de reduzir o consumo de energia e preparar o grão para as condições ótimas de moagem (GUTKOSKI, 2009). No condicionamento, o trigo passa por um processo de correção da umidade, onde eram pesados 2.000 gramas de trigo e então umedecido e levado ao homogeinizador, que realizava movimentos circulares, durante quinze minutos. Logo em seguida da umidificação, as amostras permaneciam em repouso num intervalo de 12-16 horas, para que a água pudesse penetrar de forma uniforme e equilibrada no grão. A umidade do grão é o fator mais importante e a quantidade de água adicionada pode ser calculada, como mostra a equação abaixo. 5 É fundamental que se realize o condicionamento de forma regular e uniforme para conseguir resultados ótimos na moagem e para assegurar um melhor rendimento da farinha com mais qualidade, pois realizado inadequadamente o farelo torna-se quebradiço, tendo como efeito uma farinha com alto teor de cinzas e coloração escura. 3.3 MOAGEM O objetivo da moagem é separar o endosperma das demais partes do grão, constituindo a farinha branca (GERMANI, 2008). Para isso utilizava-se o moinho experimental CHOPIN que fornece valores de rendimento de extração inferiores aos moinhos comerciais, mas é muito usado para prever as características de moagem de diferentes amostras de trigo. Para que ocorra a separação do endosperma da casca são utilizados rolos de moagem em bancos de cilindro, seguidos de uma peneiração em peneiradores ou plansifters (GUTKOSKI, 2009). A primeira etapa da moagem é a trituração ou ruptura, que consiste na quebra dos grãos por moinhos com rolos raiados. Da quebra do grão originam-se, no mínimo, três produtos, um grosseiro com endosperma agregado ao farelo, grandes grânulos de endosperma e uma pequena quantidade de farinha. Depois segue a etapa de redução que tem como objetivo purificar e minimizar os grânulos de endosperma (sêmola) com fragmentos de farelo. Para essa separação são utilizados rolos lisos (GUTKOSKI, 2009). A extração da farinha de trigo depende do moinho experimental, onde grandes variações na extração implicam no resultado das análises. Após a moagem é feito o cálculo de extração da farinha obtida a partir da equação abaixo: Após a moagem é necessário aguardar um período de maturação da farinha de trigo para posterior início das análises. Este tempo é de no mínimo 12 horas. A farinha maturada possui melhores propriedades para o trabalho mecânico, maior tolerância da massa para diferentes condições de fermentação e sem esse tempo a 6 farinha de trigo poderá apresentar alteração dos resultados reológicos (GRANOTEC, 2003). 3.4 ANÁLISES FISÍCO – QUÍMICAS 3.4.1 UMIDADE É o percentual de água livre encontrado na amostra do produto em seu estado original. A umidade era medida através de balança de aquecimento (Figura 1), onde pesava-se cerca de 2 a 3 gramas da amostra. A umidade era uma das primeiras análises a serem realizadas antes de qualquer outra, com exceção do teor de glúten e cor, que não necessitam do valor de umidade. O conteúdo de umidade da farinha de trigo não deve exceder 15% segundo a legislação da ANVISA (Portaria Nº 354 de 18/07/96) e tem importância econômica direta, pois permite um maior período de armazenagem e conservação da farinha durante a estocagem (PIZZINATO, 1999). A determinação de umidade por balança de aquecimento é o método mais utilizado em laboratórios por ser mais rápido e efetivo, assim os comprimentos de onda atingem certa profundidade do produto e refletem no sensor o teor de umidade expresso em porcentagem (GRANOTEC, 2011). Figura 1 - Imagem do Infravermelho. Fonte: Gehaka, 2012 7 3.4.2 COR A cor da farinha é um aspecto ao qual o consumidor dá bastante importância, preferindo as farinhas mais brancas, embora nem sempre a mais branca seja a de melhor qualidade. A cor depende de vários fatores, alguns são intrínsecos ao tipo de trigo e se transmitem à farinha, como o teor de pigmentos (GUTKOSKI, 2009). A cor da farinha está diretamente relacionada ao grau de extração do produto, ou seja, quanto maior o grau de extração da farinha, maior é a quantidade de farelo incorporado, maior será o teor de cinzas e mais próxima ao marrom será sua tonalidade. Então se pode dizer que, para uma mesma mescla de trigo, quanto mais escura a farinha, maior é o seu teor de cinzas, tendo uma qualidade inferior. A legislação brasileira estabelece que a farinha de trigo deve apresentar cor branca, com tons leves de amarelo, marrom ou cinza, conforme o trigo de origem. Por outro lado, a cor dependerá também do tempo de armazenamento, que tem influência sobre a qualidade tecnológica da farinha, e que poderá resultar em modificações dos seus parâmetros nutricionais e sensoriais (BRASIL, 2005) A cor pode ser controlada por padrões de peckar ou por colorímetros. O uso de colorímetro para a determinação da cor é um método fácil de leitura direta, sem a necessidade de preparação da amostra. O princípio do colorímetro é avaliar a cor dos produtos, traduzindo essa cor em números. O colorímetro era posicionado sobre a amostra e acionado o botão de disparo e o resultado apresentava-se em diversas faixas de cores, no sistema L, a e b, (GRANOTEC, 2003) onde: L: mede a intensidade e varia de 0 a 100 (quanto mais perto de 100, mais clara é a farinha). a+: tonalidade predominante para o vermelho; a - : tonalidade predominante para o verde; b+: tonalidade predominante para o amarelo; b -: tonalidade predominante para o azul. 8 3.4.3 NÚMERO DE QUEDA – FALLING NUMBER Este método é baseado na habilidade da alfa-amilase em hidrolisar o gel de amido. A atividade da enzima é medida pelo aparelho Falling Number (Figura 2) e definida como o tempo total em segundos contados a partir da imersão de um tubo viscosimétrico contendo água e farinha em banho-maria, necessário para acionar um agitador viscosimétrico e lhe permitir atravessar a uma distância fixa, caindo em gel aquoso de farinha que está sofrendo liquefação (GRANOTEC, 2003). O tempo será maior quanto mais alta a viscosidade da suspensão, ou seja, quanto menor a quantidade de enzima. As principais enzimas encontradas na farinha de trigo são a alfa-amilase e a beta-amilase. A alfa-amilase hidrolisa o amido presente na farinha de trigo, formando as dextrinas que serão posteriormente hidrolisadas pela beta-amilase, resultando em moléculas de maltose. A maltose é o açúcar utilizado pelos microrganismos responsáveis pela fermentação do pão, por isso as amilases, melhoram as características reológicas do pão (AZEVEDO, 2004). A enzima de maior relevância tecnológica na farinha é a alfa-amilase, pois tem grande influência no processo de panificação. A presença dessa enzima em alta quantidade indica que os grãos, mesmo não estando visivelmente alterados, iniciaram o estágio de germinação, devido à umidade excessiva do ambiente durante a colheita e/ou estocagem (GERMANI, 2008). Assim o grão que se encontra com a umidade alta e germinado, terá uma maior atividade enzimática no seu interior e assim um menor número de queda. Figura 2 - Imagem do Falling Number. Fonte: Granotec, 2012 9 Os valores do “Falling Number” possuem uma relação inversa com a quantidade de alfa-amilase presente na amostra, (Figura 3) onde valores inferiores à 150 segundos indicam alta atividade enzimática, entre 200 e 350 segundos, ótima, e superiores a 350 segundos, baixa atividade. Estes resultados estão relacionados ao volume e textura final dos pães, onde farinhas com alta atividade de amilase geram pães pesados, com baixo volume e miolo pegajoso, devido ao excesso de produção de dextrinas que reterá muita umidade (Figura 3 a); e farinhas com baixa atividade enzimática originarão pães com volume reduzido e miolo seco (Figura 3 c) (PIEKARSKI, 2009). Por isso a presença de uma quantidade equilibrada de amilases, principalmente a alfa-amilase, durante a fermentação da massa, é importante para a produção adequada de açúcares, que garantam a quantidade de substrato necessária para uma fermentação correta, a fim de possibilitar uma expansão adequada da massa e também para a obtenção de uma boa cor e aroma no assamento (Figura 3 b). (a) (b) (c) Figura 3 - Influência da atividade de alfa-amilase. Fonte: Meneurie Milanaise, 2012 Há faixas dentro das quais as farinhas são consideradas próprias ou impróprias para panificação e para elaboração de outros produtos. Quando a farinha apresenta quantidade excessiva de enzima, ela precisa ser misturada a outra farinha com baixa atividade de alfa-amilase para que se atinja o equilíbrio e não prejudique os resultados da panificação (GUTKOSKI, 2009). 10 O contrário também é prejudicial, mas pode ser corrigido pela adição de alfaamilase de malte diastásico ou de microrganismo (GERMANI, 2008). O valor ótimo de falling number depende dos diferentes tipos de produtos, receitas e processos. 3.4.4 TEOR DE GLÚTEN A determinação do glúten permite estimar a quantidade e qualidade das proteínas de uma determinada farinha. A análise foi feita em um aparelho chamado Glutomatic, onde adicionava-se 10 gramas de farinha e solução salina (NaCl) 2%. O aparelho bate e ao mesmo tempo lava a massa com a solução salina. O resíduo formado (glúten) foi centrifugado para a retirada de excesso de solução salina, obtendo o glúten úmido, e então através da prensagem da massa em um aparelho chamado Glutork, onde sob aquecimento das chapas, foi possível obter o glúten seco. O resultado é expresso em porcentagem. À medida que a água começa a interagir, com a mistura, as proteínas solúveis (albuminas e globulinas), se solubilizam no meio, permanecendo as proteínas insolúveis da farinha de trigo (glutenina e gliadina), então a rede de glúten começa a ser formada. As gliadinas são proteínas de cadeia simples, extremamente pegajosas, responsáveis pela consistência e viscosidade da massa e apresentam pouca resistência à extensão. As gluteninas, por sua vez, apresentam cadeias ramificadas, sendo responsáveis pela elasticidade da massa. As quantidades destas duas proteínas no trigo são fatores determinantes para a qualidade da rede formada no processo de panificação (GERMANI, 2008). Portanto o glúten é responsável pela formação das massas quando adicionase água na farinha de trigo mediante um trabalho mecânico, dando extensibilidade e consistência na massa. Apresenta grande capacidade de absorção de água e é insolúvel em solução salina (cloreto de sódio), além de reter o gás da fermentação promovendo o aumento de volume desejado (PIEKARSKI, 2009). Farinhas que apresentam baixos teores de glúten podem propiciar a obtenção de uma massa com menor absorção de água. A quantidade e qualidade do glúten determinam uma forte absorção de água, que é muito favorável para a retenção do dióxido de carbono durante o processo de fermentação das massas e produtos de panificação. 11 Os grãos de trigo com elevados teores de glúten úmido tendem a produzir as farinhas denominadas fortes (strong), enquanto que os grãos de trigo com baixos teores de glúten úmido proporcionam a obtenção de farinhas denominadas fracas utilizadas principalmente na elaboração de bolachas e doces (COSTA et al., 2008). Muitas vezes farinhas pobres em proteínas (quantidades menores de 12%), precisam ser enriquecidas de glúten para assegurar a qualidade do pão. 3.4.5 MATÉRIA MINERAL- CINZAS A cinza é constituída pelos sais minerais presentes no grão ou na farinha. A análise de cinzas foi realizada somente em farinhas provenientes da produção, ou seja, prontas para a comercialização. Em todos os turnos realizava-se a análise, com a incineração total das matérias orgânicas presentes em uma determinada porção de produto (aproximadamente 2 g) a 600°C na mufla, por um período de duas horas. Os minerais concentram-se nas camadas mais externas do grão e, por isso, o teor de cinzas do grão é maior que o da farinha branca, já que essas camadas são retiradas na moagem. O grau de extração influencia fortemente o teor de cinza de uma farinha: aquela que tem maior grau de extração e, portanto, maior quantidade de farelo incorporado, apresentará teor de cinza mais alto (GERMANI, 2008), o que é indesejável devido ao fato de propiciar uma cor mais escura, cocção inferior e interferir na continuidade da rede do glúten (SOUZA et al., 2010). Além disso, fatores como a umidade dos grãos também influenciam, pois quanto mais secos os grãos, o farelo quebra-se em pedaços menores, dificultando sua separação do endosperma e produzindo uma farinha com teor de cinzas mais elevado que aquela obtida de outro grão, mais úmido, e com mesmo grau de extração (GERMANI, 2008). A limpeza dos grãos também influencia, pois resíduos aderidos contribuirão para aumentar o teor de cinzas. No Brasil, o teor de cinza é utilizado como critério para diferenciar os três tipos de farinha existentes no mercado. Segundo a INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 8 DE 02 DE JUNHO DE 2005, a farinha tipo 1 deve ter, no máximo, 0,8 % de cinza (base seca), a farinha tipo 2, até 1,4 % (base seca) e a farinha integral no máximo 2,5 % (BRASIL, 2005). 12 Para cálculos de cinzas utilizava-se a seguinte equação: Base Umida = Peso final- Peso inicial x 100 Peso da amostra Base Seca = x Base seca 100 – Umidade = X 3.5 REOLOGIA DA FARINHA 3.5.1 ALVEOGRAFIA É um teste reológico que avalia as características viscoelásticas de uma massa (farinha e solução salina – NaCl 2,5%) ou seja, a força ou o trabalho mecânico necessário para sua expansão. Além disso, analisa as características de tenacidade e extensibilidade de uma farinha submetida às condições específicas do teste. O equipamento (Figura 4) possui uma masseira com o braço modelado, aparatos para a modelagem da massa e câmara para descanso. Neste método, um pedaço de massa de formato redondo é expandido por pressão de ar até a sua ruptura. A pressão interna na bolha é graficamente registrada por um registrador automático (GRANOTEC, 2003). Figura 4 – Alveógrafo. Fonte: Coamo, 2012 Os resultados são medidos a partir das 5 curvas obtidas ( Figura 5), porém se uma ou duas das curvas estiverem diferentes das outras principalmente pela prematura ruptura da bolha, estas são desconsideradas do resultado final. 13 Figura 5 – Curvas alveográficas. Fonte: ICTA, 2012 Os parâmetros avaliados são: P - Elasticidade ou tenacidade É resultado relacionado à resistência da massa a deformação. É comparada a mesma força que observamos ao esticar uma borracha flexível, devido a sua tendência de retornar a forma original. A elasticidade proporciona à massa a capacidade de reter o gás produzido na fermentação sem se romper; se a elasticidade for excessiva, no entanto, ela impedirá que a massa cresça suficientemente (GERMANI, 2008). L- Extensibilidade É um indicativo da capacidade que a massa tem de ser estendida sem que haja rompimento de sua estrutura. A extensibilidade permite que o volume da massa aumente durante a fermentação, mas não deve ser muito alta nas farinhas para produção de pão. As farinhas para biscoito, porém, devem produzir massas extensíveis, para que retraiam, deformando-se (GERMANI, 2008). Relação Tenacidade/ Extensibilidade - P/L É uma relação matemática obtida através da divisão da tenacidade (P) pela extensibilidade (L) que representa o equilíbrio entre as duas propriedades. Valores maiores do que 1,0 caracterizam uma massa tenaz, e da mesma forma valores menores (de 0 a 0,9) indicarão a formação de uma massa extensível. 14 É importante que haja o equilíbrio entre essas duas características, pois é o que garantirá um bom desempenho da massa na fermentação e a obtenção de um bom produto final. Alguns gráficos podem fornecer valores de P/L iguais, mesmo possuindo tamanhos diferentes, onde o menor valor dará uma massa mais fraca, enquanto gráfico maior dará uma massa mais forte. Para a fabricação de pães, o ideal são farinhas balanceadas com uma relação P/L entre 0,50 e 1,20, e para massas alimentícias secas, farinha tenaz P/L > 1,21(MÓDENES; SILVA; TRIGUEROS, 2009). Força do glúten – W É a energia de deformação da massa que corresponde ao trabalho mecânico necessário para expandir a bolha que se forma até sua ruptura, expressa em 10 -4 J (GRANOTEC, 2003). A expressão "força de uma farinha" normalmente é utilizada para designar a maior ou a menor capacidade de uma farinha de sofrer um tratamento mecânico ao ser misturada com água. Também é associada à maior ou à menor capacidade de absorção de água pelas proteínas formadoras de glúten, combinadas à capacidade de retenção do gás carbônico, resultando num bom produto final de panificação, ou seja, pão de bom volume, de textura interna sedosa e de granulometria aberta (MÓDENES; SILVA; TRIGUEROS, 2009). Para cada tipo de farinha existem padrões para o valor do W, assim geralmente costuma-se dizer que farinhas que apresentam o W abaixo do valor padrão, são consideradas “fracas” e aquelas com W acima, são consideradas “fortes”. O ideal é que haja um equilíbrio, para que não implique no resultado final do produto. Os elementos de qualidade da farinha incluem a quantidade e a qualidade da proteína, o teor de alfa-amilase e o conteúdo de amido danificado. A qualidade da proteína é medida em termos das propriedades de mistura e de extensão da massa. O fato de uma farinha ser considerada "forte" ou "fraca" não significa que uma seja melhor que a outra, mas que ambas devem ser utilizadas em processos que necessitem daquelas características específicas que cada uma apresenta. 15 Certamente a farinha considerada ideal para a produção de pão não terá as mesmas características daquela necessária à produção de biscoitos (GERMANI, 2008). Para produção de produtos fermentados, o teor de proteína de uma farinha deve ser, pelo menos, (12% de proteína). Na produção de biscoitos e bolos, a quantidade de proteína da farinha pode ser inferior (8,5-11%). Índice de elasticidade- IE É medido depois de insuflar certa quantidade de ar na massa, correspondente a 4 cm após o início da curva ( GRANOTEC, 2003). Através da análise alveográfica é possível determinar a finalidade da farinha que esta sendo analisada (Figura 6), ou seja: Figura 6 – Alveogramas típicos. Fonte: UPF, 2012. Ideal para massas: Quando tiver um “P” maior que o “L”. Ideal para panificação: A farinha para pão deve ter as propriedades elásticas (P) e extensível (L) bem equilibradas, tendo extensibilidade suficiente para que os pães cresçam com elasticidade necessária, sem achatar ; Ideal para biscoitos: Deve ser bastante extensível (“L”) comprido, maior que o “P”, assim não se perde os moldes das peças, evitando deformações, obtendo um produto final mais “soltinho’, sem a incidência de trincas (GUIMARÃES, 2011). 16 A farinha que apresentar valores de P/L abaixo de 0,60 pode ser considerada de glúten extensível, de 0,61 a 1,20 de glúten balanceado, e valores de P/L acima de 1,21 de glúten tenaz (GRANOTEC, 2003). Quando se fala em padrão de qualidade, não pode haver variação na qualidade da matéria-prima. No caso da farinha, a variação costuma ser freqüente e as indústrias devem minimizá-la através das misturas entre farinhas ou com a utilização de aditivos que permitam manter a matéria-prima dentro dos limites estabelecidos como desejáveis para a elaboração dos produtos des ejados (GERMANI, 2008). 3.5.2 FARINOGRAFIA É um procedimento no qual é avaliada a resistência oferecida pela massa quando submetida a uma ação mecânica (mistura) constante de água e farinha, sob condições experimentais, utilizando-se o aparelho farinógrafo (Figura 7). O teste do farinógrafo é usado para ajudar no controle das propriedades de misturas das massas de farinha de trigo, no que se refere a sua capacidade de absorver água e resistir ao amassamento durante os processos de panificação e produtos correlatos (PINTO, 2010). Figura 7 - Imagem do Farinógrafo. Fonte: Coamo, 2012 17 O equipamento tem uma caixa de mistura com duas pás, cujo eixo é ligado a um medidor de torque o qual mede a força necessária para misturar aquela massa. A força ou a resistência que a massa oferece quando em movimento esta relacionada com a consistência da mesma, que se altera no decorrer da mistura, e é registrada em um gráfico chamado farinograma (GERMANI, 2008). Durante a farinografia alguns parâmetros são utilizados para avaliar as propriedades da farinha, como: absorção de água (%), tempo de desenvolvimento da massa (min), estabilidade (min) e índice de tolerância (u.b). Durante a análise farinográfica, o objetivo é atingir a curva ideal que se encontra no centro do gráfico, ou seja, quando atingir as 500 unidades farinográficas (UF), permitindo assim, controlar as propriedades de misturas das massas, ou seja, a quantidade de água que a farinha absorverá, assim como sua resistência ao amassamento, durante os processos de panificação e produtos relacionados. Caso o gráfico apresente uma curva acima de 500 UF, o teste deve ser refeito, pois é um indicativo da adição de pouca água na farinha, e se for abaixo de 500 UF, é indicativo da adição de muita água na farinha. Ambas as adições interferirão nos resultados de estabilidade da massa e principalmente na absorção de água. Alguns farinogramas são típicos de algumas farinhas, como mostrado abaixo (Figura 8). Figura 8 – Farinogramas típicos Absorção de água É a quantidade de água adicionada necessária para que a farinha obtenha uma massa com consistência ótima na linha de 500 UF (unidade farinográfica). A unidade farinográfica é utilizada como medida do farinógrafo e significa a evolução 18 da consistência da massa, registrada no aparelho e expressa em UF (PEREIRA et al., 2004). A absorção de água aumenta com o aumento da quantidade de proteína, melhorando a qualidade do glúten (PIEKARSKI, 2009). O resultado do teste é expresso em porcentagem. Tempo de desenvolvimento da massa (B.U) Corresponde ao intervalo de 30 segundos, contados a partir da primeira adição de água necessária para que se alcance o completo desenvolvimento do glúten atingindo a máxima consistência, imediatamente antes da queda (GRANOTEC, 2003), ou seja, é o tempo necessário para que se forme a massa. Farinhas fortes normalmente requerem um tempo de desenvolvimento maior que as farinhas fracas. Estabilidade É a diferença de tempo expressa entre o topo da curva que intercepta a linha de 500 UF (tempo de chegada) e o ponto da curva que deixa a linha de 500 UF,ou seja, é o tempo que a massa permanece consistente durante o batimento (PIEKARSKI, 2009). Uma estabilidade longa significa que a massa pode ser amassada mais tempo antes de perder as suas propriedades e que um longo período de fermentação não irá alterar a massa. Este valor dá uma indicação de tolerância da farinha à mistura, e o resultado é expresso em minutos. Índice de tolerância à mistura (I.T.M.) É a diferença, em unidade farinográficas, entre o topo da curva no pico e o topo da curva medida depois de 5 minutos do pico ser alcançado. Ou seja, é o tempo decorrido após um intervalo de 5 minutos do ponto de consistência máxima da massa, para sua perda total (PIEKARSKI, 2009). Quanto maior o I.T.M, menor é a tolerância da farinha a mistura. A tabela abaixo apresenta alguns parâmetros farinográficos, característicos de farinhas classificadas como fraca, média, forte e muito forte. 19 Tabela 1- Parâmetros farinográficos característicos de farinhas com diferentes forças. Farinha Absorção Desenvolvimento Estabilidade I.T.M ( U.F) (min.) Fraca <55 < 2,5 <3 >100 Média 54-60 2,5-4,0 3-8 60-100 Forte >58 4,0-8,0 8-15 15-50 Muito forte >58 >10,0 >15 >10 Fonte: PIZZINATO, 1999. Geralmente, as farinhas com alto conteúdo de proteínas apresentam alta absorção, mas o inverso não é sempre verdadeiro, pois um alto valor de absorção pode significar também que a farinha tem uma grande quantidade de amido danificado, sendo um dos principais fatores que influenciam a absorção de água. Do ponto de vista prático, alta absorção significa maior rendimento em massa. Quanto à resistência à mistura, se a massa rapidamente rompe-se diz-se que a farinha é "fraca", ou seja, o teor de glúten é baixo ou ele não tem boas características tecnológicas. Isto pode indicar a necessidade de se usar algum aditivo ou um processo onde não haja grande esforço mecânico sobre a massa (GERMANI, 2008). 20 CONCLUSÃO Pode-se concluir que o estágio supervisionado é de extrema importância para a formação acadêmica, pois permite que a teoria vivenciada em sala, seja realizada no ambiente industrial, vivenciando o cotidiano de uma empresa, bem como a importância e responsabilidade que o estagiário desempenha e que podem influenciar na decisão de outros setores. O estágio possibilitou um aprendizado maior, sobre os diferentes tipos de trigos e farinhas e suas características diante das análises, bem como alguns métodos de correção de grãos e farinhas, quando estes não atendem o padrão exigido, possibilitando assim um maior aproveitamento da matéria prima. Assim é possível perceber a importância do controle de qualidade em uma empresa para a obtenção de produtos finais com qualidade, atendendo às exigências dos clientes. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Fabiana. Processamento de alimentos de origem vegetal . Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Rio Grande do Sul, 2004. BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, Portaria n°. 354 de 18 de julho de 1996. Regulamento de normas técnicas referente à farinha de trigo. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília – DF, 1996. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/354_96.htm> Acesso em 13 Mar. 2012. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n°. 8, de 02 de junho de 2005. Regulamento técnico de identidade e qualidade da farinha de trigo. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília – DF, 2005. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis- consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=12214> Acesso em: 13 Mar. 2012. COSTA, Maria das Graças da. et al. Qualidade tecnológica de grãos e farinhas de trigo nacionais e importados. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cta/v28n1/30.pdf> Acesso em 11 jan. 2012. GERMANI, Rogério. Características dos grãos e farinhas de trigo e avaliação de suas qualidades. Embrapa – Laboratório de análise de trigo. Rio de Janeiro. Agosto, 2008. GUIMARÃES, Marta. Técnicas Laboratoriais em Trigo. Campo Mourão, 2012. GUTKOSKI, Luis Carlos. Controle de Qualidade de grãos e farinhas de cereais. Universidade de Passo Fundo – Centro de pesquisa e alimentação. Passo Fundo – RS, 2009. Disponível em: <http://200.135.19.1/4simposio/docs/avaliacao_qualidade_de_graos_concordia_200 9.pdf> Acesso em 09 jan. 2012. 22 GRANOTEC DO BRASIL. Metodologias Analíticas. Agosto, 2003. MÓDENES, Aparecido Nivaldo; SILVA, Acir Martins da; TRIGUEROS, Daniela Estelita Goes. Avaliação das propriedades reológicas do trigo armazenado. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, 2009. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101 Disponível em: 20612009000300008&script=sci_arttext Acesso em 05 Mar. 2012. PEREIRA, Joelma et al . Função dos ingredientes na consistência da massa e as características do pão de queijo. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010120612004000400003&script=sci_arttext > Acesso em 16 Abr. 2012. PIEKARSKI, Flávia Vilas Boas Wiecheteck. Folha de abóbora: Caracterização Físico-Química, mineral e efeito da adição na reologia da massa e na qualidade sensorial de pães contendo fibra alimentar. Curitiba- Pr, 2009. Disponível em: <http://www.posalim.ufpr.br/Pesquisa/pdf/DissertaFlaviaP.pdf> Acesso em 11 Jan. 2012. PINTO, Raquel Redivo. Balanço de massa do processo de produção de farinha de trigo. 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