- Mestrado em Horticultura Irrigada

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- Mestrado em Horticultura Irrigada
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)
Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós - Graduação (PPG)
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS)
Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI)
SIMONE DE SOUZA SANTOS
DIVERSIDADE GENÉTICA ENTRE E DENTRO DE ACESSOS DE MELÃO DA
AGRICULTURA TRADICIONAL DO ESTADO DO MARANHÃO
JUAZEIRO – BA
2015
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)
Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós - Graduação (PPG)
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS)
Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI)
SIMONE DE SOUZA SANTOS
DIVERSIDADE GENÉTICA ENTRE E DENTRO DE ACESSOS DE MELÃO DA
AGRICULTURA TRADICIONAL DO ESTADO DO MARANHÃO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Horticultura Irrigada da
Universidade
do
Estado
da
Bahia
(PPHI/UNEB/DTCS), como parte do requisito
para a obtenção do grau de Mestre em
Agronomia.
Área
de
Concentração:
Horticultura Irrigada.
Orientador: Profº. PhD. Manoel Abilio de Queiróz
JUAZEIRO – BA
2015
_______________________________________________________________________________
Santos, Simone de Souza
S237d Diversidade genética entre e dentro de acessos de melão da agricultura tradicional do
Estado do Maranhão. / Simone de Souza Santos. -- Juazeiro, 2015.
55 f. il.
Orientador: Prof. PhD. Manoel Abílio de Queiroz
Dissertação (Mestrado em Horticultura Irrigada) - Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. Campus III, 2015.
1. Melão - cultivo 2. Agricultura familiar I. Queiroz, Manoel Abílio de II. Universidade
do
Estado da Bahia, Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais III. Título
CDD 635.61
______________________________________________________________________________
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
SIMONE DE SOUZA SANTOS
DIVERSIDADE GENÉTICA ENTRE E DENTRO DE ACESSOS DE MELÃO
DA AGRICULTURA TRADICIONAL DO ESTADO DO MARANHÃO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação
em
Horticultura
Irrigada
da
Universidade
do
Estado
da
Bahia
(PPHI/UNEB/DTCS), como parte do requisito
para a obtenção do grau de Mestre em
Agronomia.
Área
de
Concentração:
Horticultura Irrigada.
Aprovada em: 13/03/2015
Comissão Examinadora:
__________________________________________
Prof. PhD. Manoel Abilio de Queiróz
Universidade do Estado da Bahia (DTCS / UNEB)
DEDICATÓRIA
A Deus, autor e consumador da minha fé. Aos meus
pais Ernesto e Luzimar pela dedicação e orientação
ao longo de minha vida. Ao meu esposo Sandro,
amigo e companheiro em todos os momentos. Ao
meu orientador pela paciência e excelência na
construção do conhecimento compartilhado, enfim, a
todos que contribuíram direta ou indiretamente para
esta conquista!
III
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela misericórdia infinita em me abençoar e pelas concessões de novas
oportunidades de aprendizado.
Aos meus pais pela orientação e apoio nas minhas escolhas.
Ao meu esposo pela enorme dedicação em acreditar e me ajudar a realizar minhas
metas.
Ao meu orientador Profº PhD. Manoel Abilio de Queiróz pela paciência e excelência
na orientação prestada, na transmissão dos conhecimentos científicos e de vida.
À Universidade do Estado da Bahia (UNEB) pela estrutura cedida para realização
dos trabalhos de pesquisa científica e ensino.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
concessão da bolsa de estudo.
À Drª. Rita de Cássia Souza Dias, curadora do banco BAG de cucurbitáceas para o
Nordeste brasileiro.
À Drª. Maria da Cruz Chaves Lima Moura pela coleta do germoplasma de melão no
estado do Maranhão.
Ao setor da Pós - Graduação em Horticultura Irrigada, em especial aos professores,
pelos ensinamentos durante todo o curso e às funcionárias Selma, Ivana e Carmen.
À minha equipe composta por Iana Priscila que valeu por mil ajudantes.
Aos professores Dr. Izaias da Silva Lima Neto e Dr. Ronaldo Simão de Oliveira pela
orientação e ajuda nas análises estatísticas.
Aos Funcionários e colaboradores dos trabalhos de campo representados por: Dió,
Hermínio e demais.
A todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão deste trabalho, muito
obrigada!
IV
SUMÁRIO
RESUMO GERAL ........................................................................................
VIII
GENERAL ABSTRACT ...............................................................................
IX
1. INTRODUÇÃO .........................................................................................
11
2. OBJETIVOS .............................................................................................
12
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................
12
2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................. 12
3. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................
13
3.1 – ORIGEM E DOMESTICAÇÃO ........................................................
13
3.2 – TAXONOMIA E CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA ..............................
14
3.3 – BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA ............................................
17
3.4 – ESTUDO DA DIVERSIDADE GENÉTICA EM MELOEIRO ............ 18
4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................
21
CAPÍTULO I: DIVERSIDADE GENÉTICA ENTRE ACESSOS DE MELÃO
DA AGRICULTURA TRADICIONAL DO MARANHÃO ...............................
24
1. RESUMO ..................................................................................................
24
2. ABSTRACT ..............................................................................................
25
3. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 26
4.MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 27
5.RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................
29
6.CONCLUSÕES .......................................................................................... 38
7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................
39
CAPÍTULO II: FENOTIPAGEM INTRA-ESPECÍFICA DENTRO DE
ACESSOS DE MELÃO COLETADOS NO ESTADO DO MARANHÃO ...... 41
1. RESUMO ..................................................................................................
41
2. ABSTRACT ..............................................................................................
42
3. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 43
4.MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................
44
5.RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................
46
6.CONCLUSÕES .......................................................................................... 53
7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................
54
V
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
Figura 1. Análise de agrupamento de 13 acessos de meloeiro do estado do 36
Maranhão utilizando descritores quantitativos, obtido pelo método de
agrupamento UPGMA, baseado na distância euclidiana média. Juazeiro – BA,
2015.
Figura 2. Análise de diversidade genética de 13 acessos de meloeiro do 36
estado do Maranhão utilizando descritores quantitativos, obtido pelo método
de Tocher, baseado na distância euclidiana média. Juazeiro – BA, 2015.
Figura 3. Análise de agrupamento de 13 acessos de meloeiro do estado do 37
Maranhão
utilizando descritores
qualitativos,
obtido pelo
método
de
agrupamento UPGMA. Juazeiro – BA, 2015.
Figura 4. Análise de diversidade genética de 13 acessos de meloeiro do 37
estado do Maranhão utilizando descritores qualitativos, obtido pelo método de
Tocher. Juazeiro – BA, 2015.
CAPÍTULO II
Figura 1. Diversidade genética das gerações S1 e S2 dos acessos de melão 47
avaliados quanto às características morfológicas de fruto e pertencentes a
diferentes subespécies e grupos botânicos. Juazeiro – BA, 2015.
Figura 2. Flores femininas de melão mostrando ovário com pelos curtos e 51
adensados típico da ssp. agrestis (A) e pelos longos referente à ssp. melo
(B). Juazeiro – BA, 2015.
VI
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Tabela 1. Dados de passaporte de acessos do BAG de Cucurbitáceas para o 27
Nordeste brasileiro, município com as coordenadas da sede e data de coleta
dos acessos de melão no estado do Maranhão. Juazeiro – BA, 2015.
Tabela 2. Resumo da análise de variância dos descritores quantitativos 30
avaliados nos acessos de meloeiro da agricultura tradicional do estado do
Maranhão. Juazeiro – BA, 2015
Tabela 3. Médias e intervalos (entre parêntese) dos valores obtidos pela 31
aplicação dos descritores quantitativos mensurados nos acessos de meloeiro
da agricultura tradicional do estado do estado Maranhão. Juazeiro – BA, 2015.
CAPÍTULO II
Tabela 1. Dados de passaporte de acessos do BAG de Cucurbitáceas para o 45
Nordeste brasileiro, município com as coordenadas da sede e data de coleta
dos acessos de melão no estado do Maranhão. Juazeiro – BA, 2015.
Tabela 2.
Caracterização e classificação dos acessos nas respectivas 48
subespécies (ssp.), grupo botânico (GB) e descritores pilosidade do ovário
(PO), expressão sexual (ES), grau dos gomos (GG), cor das listas (CL), cor da
polpa (CP), nas gerações endogâmicas S1 e S2. Juazeiro-BA, 2015.
Tabela 3.
Caracterização e classificação dos acessos nas respectivas 50
subespécies (ssp.), grupo botânico (GB) e descritores pilosidade do ovário
(PO), expressão sexual (ES), grau dos gomos (GG), cor das listas (CL), cor da
polpa (CP), nas gerações endogâmicas S1 e S2. Juazeiro-BA, 2015.
VII
RESUMO GERAL - A agricultura tradicional é fonte de recursos genéticos vegetais
para as plantas cultivadas, como ocorre com o meloeiro no Brasil, porém, se tem
pouca informação sobre a variabilidade existente nesse tipo de cultivo. Assim,
amostras de acessos foram resgatadas e armazenadas no BAG de Cucurbitáceas
para Nordeste brasileiro. Vale salientar que apenas os tipos inodorus e
cantalupensis são trabalhados comercialmente no Brasil. O presente trabalho
propõe estimar a diversidade genética entre e dentro de acessos de melão da
agricultura tradicional do Maranhão e, quando possível, classificá-los em nível de
subespécies e grupos botânicos. Foram conduzidos dois experimentos durante os
anos de 2013 e 2014. Para o experimento I foram selecionadas 13 progênies
provenientes de um ciclo de autofecundação (S1) e para o experimento II foram
selecionadas 15 progênies provenientes de um segundo ciclo de autofecundação
(S2) deram origem a 25 acessos. O delineamento experimental foi em blocos
casualizados para os dois experimentos. Para o experimento I, os dados
quantitativos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo
teste de Scott Knott. Quanto à dissimilaridade os descritores quantitativos e
qualitativos foram agrupados usando os métodos de Tocher e UPGMA, sendo que
para os quantitativos adotou-se a distância euclidiana média. Em relação ao
experimento II, foi realizada a fenotipagem de acordo com a classificação botânica
dos tipos existentes na amostra estudada, comparando os dados obtidos entre as
gerações endogâmicas S1 e S2. A análise de variância, para o primeiro experimento
I, mostrou que houve diferença altamente significativa entre os acessos para a
maioria dos descritores quantitativos, enquanto que para os descritores qualitativos
os caracteres com maior diversidade foram formato do fruto e coloração da casca.
Com relação ao experimento II, o estudo da fenotipagem dentro dos acessos
permitiu identificar as subespécies e os respectivos grupos botânicos - agrestis
(conomom, momordica e chandalak) e melo (cantalupensis), porém, alguns acessos
permaneceram indefinidos. Os acessos apresentaram ampla variabilidade genética
e tem fortes indícios de introgressão de características das duas subespécies e de
seus diferentes grupos botânicos que provavelmente ocorreu durante o manejo das
sementes feito pelos agricultores tradicionais do Maranhão.
Palavras-chave: Variedade botânica, Cucumis melo, agricultura familiar.
VIII
GENERAL ABSTRACT: Traditional agriculture has been the source of plant genetic
resources for cultivated plants, as it is the case of the melon crop in Brazil, but, there
is very little information about the genetic variability that exists in this kind of
cultivation. Thus, samples of accessions have been rescued and stored in the
Cucurbit Germplasm Bank for Northeast Brazil. It is worth noting that only inodorus
and cantalupensis are used commercially in Brazil. Therefore, the present work
aimed to estimate the genetic diversity among and within accessions from the
traditional agriculture of Maranhão, and, when possible classify them at subspecies
and botanical groups level. Two trials were carried out during the years of 2013 and
2014. In the experiment I thirteen selfed progenies (S1) were selected. While for trial
II fifteen selfed progenies originated from a second cycle of selfing (S2) were
selected and 25 subaccessions were, then, produced. The experimental design was
a randomized block in both experiments. In trial I, the quantitative data were used in
the analysis of variance and the means compared by Scott Knott test. Regarding the
dissimilarity, the quantitative and qualitative descriptors were clustered by Tocher
and UPGMA methods and for the quantitative data the Euclidean mean as a
measure of distance was adopted. In the trial II the phenotyping was performed
according to botanical classification, comparing the data obtained between the two
endogamic generations S1 and S2. The analyses of variance, for the first
experiment, showed highly significant differences among the accessions for the
majority of the quantitative descriptors. On the other hand, for the qualitative
descriptors the major diversity was found for fruit shape and rind color. In the study of
the genetic diversity the cluster formed by the qualitative descriptors using UPGMA
method presented a better cophenetic correlation coefficient. In connection to trial II,
the phenotyping study within accessions allowed to identify the melon subspecies
and their respective botanical groups – agrestis (conomom, momordica and
chandalak) and melo (cantalupensis), however, some accessions remained
unidentified. The accessions showed a great genetic variability and there is a strong
indication of introgression of characteristic of the two subspecies and their different
botanical groups, which probably took place during the seed management done by
the traditional farmers in the State of Maranhão.
Key-words: botanical variety, Cucumis melo, traditional agriculture.
IX
11
INTRODUÇÃO
O melão (Cucumis melo L.) pertencente à família Cucurbitaceae destaca-se
entre as espécies de hortaliças cultivadas sendo apreciada e de popularidade
crescente no Brasil e no mundo. Alguns autores relatam como centro de origem a
África tropical (BURGUER et al., 2010), porém a origem exata não está clara, pois,
novos estudos evidenciam que o gênero Cucumis seja provavelmente originário da
Ásia (RENNER et al. 2007; SCHAEFER et al. 2009; SEBASTIAN et al., 2010).
Entretanto, é aceito que a espécie tem duas subespécies, C. melo ssp. agrestis
(com pelos curtos e adensados no ovário) e C. melo ssp. melo (com pelos longos no
ovário) (JEFFREY, 1980).
Na região Nordeste do Brasil, a cadeia produtiva do melão representa grande
importância para a economia com aproximadamente 94% da produção nacional
(AGRIANUAL, 2014). É na agricultura tradicional em diversas partes do país, mas
notadamente no Nordeste brasileiro e no Sul do Brasil, que há uma grande
quantidade de tipos cultivados pelos agricultores familiares, dentre os quais, estão
as populações tradicionais (QUEIRÓZ, 2004; PRIORI et al., 2010). No entanto, com
o avanço da fronteira agrícola nas últimas décadas, em particular no estado do
Maranhão, tem promovido uma situação de erosão genética de muitas culturas, em
especial da cultura do meloeiro, antes mantidas pelos agricultores familiares.
Na perspectiva de conservação e manutenção da variabilidade genética, os
Bancos Ativos de Germoplasma (BAG) assumem um papel fundamental no resgate
da diversidade genética, evitando a perda desses germoplasma pela introdução de
cultivares melhoradas (TORRES FILHO et al., 2009). Assim, é que foi estabelecido
um Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro
localizado na Embrapa Semiárido, Petrolina – PE, que permite obter informações
geradas pelo processo de caracterização e avaliação dos acessos das populações
tradicionais. Desta forma, os resultados obtidos podem auxiliar os programas de
melhoramento na identificação de genitores com potencial para futuros trabalhos.
No entanto, Neitzke et al. (2009) relatam que as pesquisas de caracterização
de germoplasma de melão coletados na agricultura familiar e mantidos no BAG são
escassas, e assim, realizaram a caracterização de acessos de melão da agricultura
tradicional do Sul do Brasil, encontrando variabilidade genética entre os tipos
12
estudados. No Nordeste brasileiro, Torres Filho et al. (2009) e Aragão et al. (2013)
fizeram a caracterização de acessos da agricultura tradicional do Maranhão e
obtiveram resultados da existência de grande variação morfológica e molecular.
Porém, os trabalhos de caracterização realizados no Brasil utilizaram a
classificação botânica de Munger & Robinson (1991) e Robinson & Decker-Walters
(1997), que apresentam um número reduzido das variedades botânicas. Todavia, de
acordo com a classificação botânica mais recente proposta por Pitrat et al. (2000),
existem 16 variedades botânicas sendo cinco delas pertencentes à subespécie
agrestis e onze à subespécie melo.
No Brasil cultivam-se híbridos e cultivares comerciais pertencentes a apenas
duas dessas variedades botânicas: Cucumis melo ssp. melo var. inodorus e
Cucumis melo ssp. melo var. cantalupensis (BRACKMANN et al., 2006), mas, é
provável que existam outras variedades botânicas nos tipos cultivados pelos
agricultores familiares. O número de cultivares comerciais existentes não é grande e
os tipos, quase sempre foram desenvolvidos para outras condições ambientais
diferentes do Semiárido e, portanto, podem ser suscetíveis aos principais estresses
bióticos que acometem a cultura.
Dessa forma, a caracterização da diversidade genética existente entre e dentro
de acessos coletados na agricultura tradicional será muito importante porque poderá
revelar a existência de tipos que podem ser utilizados no melhoramento do melão.
13
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Estimar a diversidade genética entre e dentro dos acessos com base na
classificação de Pitrat et al. (2000), considerando-se as subespécies que porventura
existam na agricultura tradicional do Maranhão, e quando possível, classificá-los em
nível de subespécies e grupos botânicos.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Caracterizar morfologicamente uma amostra de acessos coletados no estado
do Maranhão.
 Estudar a divergência genética entre os acessos.
 Avaliar a aplicabilidade dos descritores para identificação das subespécies e
grupos botânicos com base na classificação de Pitrat et al. (2000).
14
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 ORIGEM E DOMESTICAÇÃO
O processo de domesticação representa uma codependência entre plantas e
pessoas, tornando seu ciclo vegetativo e reprodutivo dependente do manejo humano
(GROSS & OLSEN, 2010). As plantas domesticadas são utilizadas pelo homem
como fontes alimentícias além de outros usos, em contrapartida elas não podem
sobreviver na competição com ervas daninhas necessitando assim de práticas
agrícolas. Segundo Pitrat (2013) as populações silvestres observadas hoje não
podem ser consideradas ancestrais das nossas cultivares modernas, isto por que,
estas populações correspondem à evolução sob seleção natural, enquanto as
cultivares correspondem à evolução sob a ação do homem praticando seleção, a
partir de uma ancestralidade em comum.
Segundo Hammer (1984) plantas domesticadas são classificadas geralmente
por possuírem pelo menos um subconjunto de um conjunto de características que
constituem a "síndrome de domesticação‖ que inclui um aumento no tamanho do
fruto comparado ao progenitor selvagem, crescimento acentuado ou determinado,
estatura robusta e em particular uma perda dos seus mecanismos de dispersão,
encontrando traços originais em quase todas as variedades de uma espécie
domesticada (DOEBLEY et al., 2006). Após a domesticação, processos de
melhoramento da cultura podem ser empregados a fim de melhorar a qualidade do
fruto, sua forma, cor, textura, entre outros pontos relevantes, contribuindo para o
desenvolvimento de cultivares mais atrativas comercialmente e adaptadas a
diferentes ambientes.
O melão (Cucumis melo L.) é uma planta polimorfa pertencente à família das
Cucurbitáceas e, nos tempos atuais ainda existe uma discussão sobre seu centro de
origem. De acordo com Burguer et al. (2010) o meloeiro é originário da África tropical
e de lá ocorreu sua dispersão para a Ásia, Europa e outros continentes. Porém, um
estudo filogenético realizado por Sebastian et al. (2010) revela uma provável origem
asiática.
Com relação à domesticação da cultura do melão o primeiro processo foi descrito
no Egito e Irã durante o segundo e terceiro milênios A.C., respectivamente
15
(PANGALO, 1929). Contudo, Jeffrey (1980) e Kirkbride (1993) relatam eventos de
domesticação ocorridos em múltiplas localizações geográficas, a exemplo de uma
linhagem de cultivares associadas com as populações silvestres no oeste da Ásia
ssp. melo e uma segunda linhagem associada a populações do leste da Ásia Central
ssp. agrestis (Naudin) Pangalo (1929). Esse processo de domesticação tem
contribuído ao longo dos anos para seleção dos diferentes tipos existentes e
permanência das características de interesse humano. Desta forma, a classificação
e sistematização botânica dos grupos de melão facilitam a organização e estudo da
diversidade existente atualmente.
3.2 TAXONOMIA E CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA
De acordo com Jeffrey (1990) a classificação da cultura do melão obedece à
seguinte ordem:
Classe: Dycotyledoneae
Subclasse: Dilleniidae
Subordem: Violanae
Ordem: Cucurbitales
Família: Cucurbitaceae
Tribo: Melothirieae
Subtribo: Cucumerinae
Gênero: Cucumis
Subgênero: Melo
Espécie: Cucumis melo
Tentativas para agrupar cultivares de melão datam da primeira metade do
século XIX (PITRAT et al., 2000). Isto se deve ao alto polimorfismo da planta do
meloeiro, principalmente para as características de frutos. Porém, é aceito que a
espécie tem duas subespécies, C. melo ssp. agrestis (com pelos curtos e adensados
no ovário) e C. melo ssp. melo (com pelos longos no ovário) (JEFFREY, 1980).
Dentre as diversas classificações intra-específicas estabelecidas, a proposta
por Pitrat et al. (2000) constitui a mais recente, sistematizando a ssp. agrestis em
16
cinco variedades botânicas, enquanto a ssp. melo é dividida em onze, descritas
abaixo:
-agrestis:
1.1 var. conomon Thumberg: folhagem verde escura, planta andromonóica,
fruto com formato alongado, casca lisa e fina, branca ou verde claro, polpa
firme, branca, não doce, não aromático, não climatérico, sementes
pequenas amarelas. Usado como pepino. Leste da Ásia.
1.2 var. makuwa Makino: folhagem verde escura, planta andromonóica, fruto
com formato achatado, redondo, oval ou piriforme. Casca lisa, fina,
branca, amarelo brilhante ou verde claro, polpa branca, doce, pouco
aromático, maturação precoce, climatérico, sementes pequenas amarelas.
Leste da Ásia.
1.3 var. chinensis Palango: folhagem verde escura, planta andromonóica,
formato do fruto piriforme, coloração da casca verde claro ou escuro com
manchas (pontos), polpa verde ou alaranjada, não aromático, teor médio
de açúcar, maturação tardia, não climatérico, sementes pequenas
amarelas. Leste da Ásia.
1.4 var. momordica Roxburgh: planta monóica, formato do fruto achatado a
alongado, sem rugosidade ou gomos superficiais, casca fina rachando
quando maduro, baixo teor de açúcar, polpa branca farinhenta quando
maduro, não aromático, maturação precoce, climatérico, sementes
médias, brancas. Colhido geralmente antes de maduro e cozido. Índia.
1.5 var. acidulus Naudin: plantas monóicas, formato do fruto oval ou elíptico,
sem rugosidade, coloração da casca uniforme alaranjada ou com
manchas (pontos), branca muito firme, polpa quebradiça, sem doce, não
aromático, usado principalmente cozido. Índia.
-melo:
1.6 var. cantalupensis Naudin: planta geralmente andromonóica mas também
monóica, formato do fruto achatado ou ligeiramente oval, gomos médios a
forte, casca lisa, doce, polpa alaranjada (às vezes, verde), aromático,
climatérico, sementes médias, amarelas. Europa, oeste da Ásia, norte e
sul da América.
17
1.7 var. reticulatus Séringe: planta andromonóica, formato do fruto redondo a
ligeiramente oval, casca rendilhada com ou sem gomos, doce, polpa
alaranjada (algumas vezes verde), aromático, climatérico, sementes
medias, amarelas. Europa, oeste Ásia, norte e sul da América, Japão,
principalmente desenvolvido neste século nos EUA.
1.8 var. adana Palango: planta monóica, fruto com formato redondo a
alongado, com ou sem gomos, ligeiramente rendilhado, casca fina
alaranjada, marrom ou creme, polpa alaranjada (às vezes branca), fina,
baixo teor de açúcar, farinhenta, maturação precoce, climatérico, oeste da
Ásia, sudeste da Europa.
1.9 var.
chandalak
Palango:
grupo
bastante
polimórfico,
plantas
andromonóicas, formato do fruto achatado a redondo, com ou sem gomos,
cor da casca verde a amarela com ou sem manchas (pontos), às vezes
enrugado ou com rendilhamento, polpa branca ou verde, baixo aroma,
bom teor de açúcar, maturação precoce a média, climatérico. Ásia Central.
1.10 var. ameri Palango: plantas andromonóicas, formato do fruto alongado
oval, coloração da casca amarela a verde claro, cor uniforme ou com
manchas (pontos), geralmente sem gomos, ligeiramente rendilhado, polpa
branca (às vezes alaranjada), baixo aroma, bom teor de açúcar,
climatérico. Ásia Central.
1.11 var. inodorus Jacquin: plantas andromonóicas, formato do fruto
redondo a elíptico frequentemente pontiagudo no pedúnculo, cor da casca
branca, amarela, verde escuro, cor uniforme ou com manchas (pontos),
frequentemente rugosa, com ou sem gomos, polpa branca suculenta,
maturação tardia, não aromático, não climatérico com longa vida de
prateleira (até vários meses), sementes grandes. Ásia central, países do
mediterrâneo (Espanha), América.
1.12 var. flexuosus Linné: plantas monóicas, fruto muito longo (até dois
metros, mais que seis vezes mais longo do que largo), casca verde claro
ou listado verde claro/verde escuro, com gomos ou rugoso, fruto maduro
não doce, polpa branca, frutos novos comido cru ou como picles (como
pepino), climatérico, sementes médias, brancas. Norte da África, leste e
Ásia Central, Índia.
18
1.13 var. chate Hasselquist: plantas monóicas (às vezes andromonóicas),
fruto muito parecido com flexuosus mais curto (redondo a alongado) fruto
maduro não doce, colhido antes do amadurecimento e comido cru ou às
vezes como picles (como pepino), com gomos, verde claro a verde escuro,
polpa branca a alaranjada clara, climatérico. Norte da África, leste e Ásia
Central.
1.14 var. tibish Mohamed: planta andromonóica, fruto pequeno, oval, verde
escuro com listas verde claro, polpa firme, branca, não doce, colhido antes
do amadurecimento e comido cru ou como pepino, sementes pequenas
amarela. Tipo muito similar é cultivado para comer as sementes no Sudão.
1.15 var.
dudaim Linné: planta andromonóica, fruto pequeno com formato
redondo ligeiramente oval, amarelo com listas , casca aveludada, forte
aroma típico, polpa branca fina, não doce, sem gosto, climatérico,
sementes
pequenas,
amarelas.
Cultivadas
como
ornamentais
ou
aromáticas. Oeste e Ásia Central, norte da África, sudeste da Europa.
1.16 var. chito Morren: plantas andromonóicas ou monóicas, frutos muito
pequenos com formato redondo, casca lisa, amarelo, polpa branca, fina,
não aromático, não doce, sem gosto, climatérico ou não climatérico.
(cultivado na América, mas, existem questionamentos).
3. 3 BANCO DE GERMOPLASMA
As comunidades rurais ao longo dos milênios tem sido de extrema
importância para a preservação da variabilidade dos recursos genéticos vegetais;
dessa forma, a coleta e armazenamento deste germoplasma em Bancos Ativos de
Germoplasma (BAG) possibilitam, por meio da caracterização morfológica, a
identificação de caracteres promissores que poderão ser usados em futuros
programas de melhoramento e também para os estudos botânicos visando
identificar as subespécies e seus respectivos tipos. Outro aspecto importante da
coleta dessas populações é a diminuição do risco de erosão genética decorrentes
das estiagens prolongadas no Semiárido e, principalmente, do êxodo rural em todas
as regiões rurais do Nordeste brasileiro.
19
Segundo Queiróz (2011), os bancos de germoplasma de cucurbitáceas
existentes no Brasil já encerram ao redor de 6.500 acessos, sem considerar as
multiplicações, e uma grande parte ainda não foi caracterizada nem avaliada.
Portanto, há grande possibilidade de se encontrar novos genes úteis para o
melhoramento das diversas espécies de cucurbitáceas que já foram resgatadas.
Dentro desse conjunto, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa)
e algumas universidades públicas têm promovido o resgate e conservação dos
recursos genéticos de melão. No Nordeste brasileiro a Embrapa Semiárido iniciou
em 1985 a construção do BAG de Cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro
(QUEIRÓZ et al.,1999).
De acordo com Santos (2011) o BAG de Cucurbitáceas para o Nordeste
brasileiro conta com 150 acessos de melão, coletados em seis estados do Nordeste
brasileiro entre os anos de 1991 a 2000. O estado do Maranhão é o de maior
representatividade, possuindo no BAG, 96 acessos, seguido da Bahia com 39. Os
estados de Pernambuco, Piauí e o Rio Grande do Norte contam apenas com três
acessos de cada e o estado de Sergipe com apenas um representante. O banco
conta ainda com cinco acessos estrangeiros sendo quatro da Espanha e um do
México.
3.4 ESTUDO DE DIVERSIDADE GENÉTICA EM MELOEIRO
Germoplasma constitui o elemento dos recursos genéticos que representa a
variabilidade genética existente entre e dentro da espécie, com a finalidade de
utilização para a pesquisa em geral, principalmente para o melhoramento genético.
Para Torres Filho (2008), do ponto de vista técnico, germoplasma pode ser definido
como a soma total dos materiais hereditários de uma espécie. Assim sendo, o
germoplasma constitui a base física da herança, sendo transmitido de uma geração
para outra.
No entanto, para uma utilização promissora dos genes pertencente às
espécies torna-se necessário conhecer sua expressão fenotípica. Desta forma, a
caracterização morfológica dos organismos corresponde à base de todo e qualquer
estudo, uma vez que a primeira determinação de um ser começa pelo seu fenótipo,
20
ou seja, pela sua aparência geral do ponto de vista morfológico (CHIES & LONGHIWAGNER, 2003).
Para a realização dos estudos de fenotipagem é necessária a sistematização
dos descritores compreendendo os caracteres botânicos de uma determinada
espécie a ser estudada. Com relação à cultura do meloeiro o Instituto Internacional
de Recursos Genéticos Vegetais (IPGRI, 2003) publicou uma lista de descritores de
acordo com a finalidade da pesquisa e dentre esses estão os descritores de
caracterização que permitem uma discriminação entre os fenótipos, pois são
caracteres notadamente qualitativos que se expressam em diferentes ambientes,
podendo ser facilmente identificados pela avaliação visual. Além desses descritores
existe a possibilidade de se incluir um número limitado de características adicionais
que possam ajudar na discriminação dos acessos. É desejável que esses
descritores sejam estabelecidos por consenso de usuários de uma cultura particular.
Apesar das pesquisas com germoplasma de melão coletados na agricultura
tradicional sejam escassos, Neitzke et al. (2009) realizaram a caracterização de
acessos de melão da agricultura tradicional do Sul do Brasil, encontrando
variabilidade genética entre as 14 variedades crioulas estudadas. No Nordeste
brasileiro, Torres Filho et al. (2009) fizeram a caracterização de 42 acessos da
agricultura tradicional do Nordeste brasileiro e obtiveram resultados da existência da
grande variação morfológica entre os acessos avaliados. Aragão et al. (2013)
usando os dados básicos de 38 acessos utilizados por Torres et al. (2009)
avançaram os estudos com uma caracterização morfológica e também usaram a
caracterização molecular e confirmaram a grande variação existente nos tipos
cultivados pelos agricultores familiares.
A seleção artificial dos frutos de qualidade superior promovida pelos
agricultores tradicionais, a produção de sua própria semente para o cultivo da
próxima safra, a permuta de sementes entre agricultores combinada com a seleção
natural, tem contribuído ao longo das várias gerações para introgressão de
características com potencial agronômico (NEITZKE et al., 2009).
Quanto aos trabalhos de caracterização realizados no Brasil, só existem
registros de pesquisas que utilizaram a classificação botânica de Munger &
Robinson (1991) e Robinson & Decker-Walters (1997), nas quais o número de
variedades botânicas são reduzidas. Assim, a classificação botânica mais recente
21
proposta por Pitrat et al. (2000), constitui uma organização mais ampla com 16
variedades botânicas, sendo cinco delas pertencentes à subespécie agrestis e onze
à subespécie melo.
Porém, no Brasil cultivam-se híbridos e cultivares comerciais pertencentes
apenas a duas variedades botânicas: Cucumis melo ssp. melo var. inodorus e
Cucumis melo ssp. melo var. cantalupensis (BRACKMANN et al., 2006). Então, a
classificação de Pitrat et al. (2000) indica que se deve examinar a diversidade de
tipos de melão existentes na agricultura familiar, notadamente no Nordeste
brasileiro, pois o manejo dado pelos agricultores aliado à seleção natural pode ter
desenvolvido genótipos que sejam importantes para o melhoramento da cultura do
meloeiro. Adicionalmente, como os agricultores manejam as suas lavouras na quase
completa ausência de agroquímicos, principalmente os pesticidas e, desta forma, é
provável que existam fontes de resistência a estresses bióticos.
Para se estimar a diversidade de um grupo de acessos, torna-se necessário,
primeiro examinar se existe variabilidade entre os acessos para os descritores que
forem usados e, caso exista, é necessário se fazer as análises multivariadas para
identificar como os acessos podem ser agrupados de acordo com a sua similaridade
(CRUZ et al., 2011). Assim, o estudo da diversidade genética permite obter
informações relevantes para o melhoramento genético (identificação de genitores
com características contrastantes) e, para tanto, os caracteres morfológicos,
moleculares, bioquímicos, entre outros, são importantes. O estudo de diversidade
também pode ser relevante para conservação de recursos genéticos, pois permite
se examinar se os acessos de uma determinada coleção de germoplasma são
redundantes e, ainda permite que se obtenham informações sobre estrutura de:
populações, estudos evolutivos, filogenéticos, heterose, para escolha de genitores,
entre outros.
22
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25
DIVERSIDADE GENÉTICA ENTRE ACESSOS DE MELÃO DA AGRICULTURA
TRADICIONAL DO ESTADO DO MARANHÃO
RESUMO – Objetivou-se estudar a diversidade genética entre 13 acessos de melão
da agricultura tradicional do estado do Maranhão. Para o experimento foram
selecionadas progênies provenientes de um ciclo de autofecundação (S 1). O
delineamento experimental foi em blocos casualizados com três repetições e cinco
plantas por parcela. Foram avaliados 21 descritores, sendo 11 quantitativos e 10
qualitativos. Os dados quantitativos foram submetidos à análise de variância e as
médias comparadas pelo teste de Scott Knott. Para quantificar a dissimilaridade dos
acessos os descritores quantitativos e qualitativos foram agrupados usando os
métodos de Tocher e UPGMA, sendo que para os quantitativos adotou-se a
distância euclidiana média. Ao aplicar o teste F houve diferença significativa a 1% de
probabilidade entre os acessos para nove dos descritores quantitativos e
significativo a 5% de probabilidade para o comprimento da cicatriz estilar; a variável
sólidos solúveis homogeneizado não apresentou significância. Quanto aos dados
qualitativos, os descritores de maior diversidade foram formato do fruto e coloração
da epiderme, com oito categorias para primeira variável e 11 para segunda. No
estudo da diversidade genética o coeficiente de correlação cofenético do UPGMA foi
0,82 para os dados qualitativos, superior ao valor obtido pelos descritores
quantitativos (0,69) e dessa forma as variáveis qualitativas mostraram-se mais
eficientes na separação dos agrupamentos dos acessos. Assim, existe grande
variabilidade genética entre os acessos da agricultura tradicional do Maranhão.
Palavras-chave: Variabilidade genética, Cucumis melo, recursos genéticos
vegetais.
26
GENETIC DIVERSITY AMONG ACCESS MELON OF TRADITIONAL
AGRICULTURE OF THE STATE OF MARANHÃO
ABSTRACT: The study aimed to analyze the genetic diversity of 13 melon
accessions from the traditional agriculture of the State of Maranhão. For the
experiment selfed progenies from a cycle of selfing (S1). The trial was performed in
randomized blocks with three replications and five plants per plot. Twenty one
descriptors were evaluated, being 11 quantitative and 10 qualitative ones. The
quantitative data were subjected to variance analysis and the means were compared
by Scott Knott test. In order to quantify the dissimilarity, the quantitative and
qualitative descriptors were clustered using the Tocher and UPGMA methods and for
the quantitative data, the Euclidean mean was used as the measure of distances.
The F test revealed significant differences among the accessions for the nine
quantitative descriptors, and, only significant at 5% level for length of blossom scar
and not significant for the homogenized soluble solid descriptor. For the qualitative
descriptors the major diversity was found for fruit shape and rind color with eight
categories for the first variable and eleven for the second one. In the study of the
genetic diversity the cophenetic correlation coefficient of UPGMA was 0.82 for the
qualitative data, superior the the value obtained for the quantitative descriptors (0.69)
and so, the qualitative descriptors proved to be more efficient in the separation of the
accessions clusters. It is concluded that the accessions from the traditional
agriculture of the State of Maranhão showed genetic variability among them.
Key-words: genetic variability, Cucumis melo, plant genetic resources.
27
INTRODUÇÃO
O melão tem se destacado dentre as espécies cultivadas de hortaliças
pertencentes à família Cucurbitaceae. Atualmente, representa grande importância
para a economia da região Nordeste que produz em torno de 94% do melão nacional
(AGRIANUAL, 2014).
O Nordeste brasileiro é fonte de diferentes tipos de melões cultivados e
mantidos na agricultura familiar, os quais se destacam com as populações
tradicionais (QUEIRÓZ, 2004; PRIORI et al., 2010). Todavia, esta vertente tem sido
modificada com o avanço da fronteira agrícola nas últimas décadas, principalmente
no estado do Maranhão, devido à intensa situação de erosão genética de muitas
culturas para implantação de monoculturas, em especial da cultura do meloeiro,
antes conservadas e mantidas pelos agricultores familiares.
Diante da problemática de erosão genética dos recursos genéticos vegetais,
foi estabelecido um Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste
brasileiro localizado na Embrapa Semiárido, Petrolina – PE. De acordo com Torres
Filho et al. (2009) o BAG tem permitido a conservação e manutenção da
variabilidade genética, por meio do resgate desse germoplasma que se mantido com
os agricultores poderiam ser trocados pela introdução de cultivares melhoradas.
Entretanto, estudos de caracterização dos acessos da agricultura tradicional
mantido no BAG são incipientes (NEITZKE et al., 2009). No Brasil, é possível
destacar os estudos realizados recentemente por Torres Filho et al. (2009) que
caracterizaram
acessos
da
agricultura
tradicional
do
Nordeste
brasileiro,
encontrando resultados que evidenciam grande variação morfológica. Aragão et al.
(2013) também contribuíram com o estudo de 38 acessos trabalhos anteriormente
por Torres Filho et al. (2009), realizando a caracterização complementar de
descritores morfológicos e acrescentando a caracterização molecular, obtendo
dados que confirmaram a grande variabilidade existente nos tipos cultivados pelos
agricultores familiares. Outro trabalho importante foi o de Neitzke et al. (2009) que
realizaram a caracterização de acessos de melão da agricultura tradicional da região
Sul do Brasil, reafirmando a variabilidade genética das variedades tradicionais.
Contudo, no Brasil são amplamente cultivados híbridos e cultivares comerciais
pertencentes a apenas duas variedades botânicas: Cucumis melo ssp. melo var.
inodorus e Cucumis melo ssp. melo var. cantalupensis (BRACKMANN et al., 2006).
28
No entanto, não existem trabalhos brasileiros de caracterização que relacione a
diversidade genética de acessos de meloeiro da agricultura familiar com a
classificação botânica mais recente proposta por Pitrat et al. (2000). O mesmo
ocorre com as pesquisas realizadas por Torres Filho et al. (2009) e Aragão et
al.(2013) que utilizaram a classificação botânica de Munger & Robinson (1991) e
Robinson & Decker-Walters (1997), respectivamente, que consideram um número
reduzido dos tipos botânicos de melões existentes.
Assim, o presente trabalho objetiva o estudar a diversidade genética entre
acessos de melão da agricultura tradicional do estado do Maranhão considerando a
classificação botânica de Pitrat et al. (2000).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados 13 acessos de melão coletados na agricultura tradicional do
estado do Maranhão entre os anos de 1991 a 1997 (Tabela 1), e conservados no
Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro,
localizado na Embrapa Semiárido, Petrolina – PE.
O experimento foi conduzido no Departamento de Tecnologia e Ciências
Sociais da Universidade do Estado da Bahia (DTCS/UNEB), localizado no município
de Juazeiro-BA, situado a 09°24'50’’ Sul de latitude e 40°30’10’’ Oeste de longitude
com uma altitude de 368 metros.
Tabela 1.
Dados de passaporte de acessos do BAG de Cucurbitáceas para o
Nordeste brasileiro, município com as coordenadas da sede e data de coleta dos
acessos de melão no estado do Maranhão. Juazeiro – BA, 2015.
Acesso
BGMEL 10
BGMEL 64
BGMEL 72
BGMEL 77
BGMEL 80
BGMEL 82
BGMEL 83
BGMEL 85
BGMEL 89
BGMEL 98
BGMEL 99
BGMEL 109
BGMEL 139
Município
São João dos Patos
Colinas
Arari
Coroatá
Itapecuru Mirim
Itapecuru Mirim
Itapecuru Mirim
Codó
São Luiz Gonzaga
Caxias
Caxias
Caxias
Itapecuru Mirim
Coordenadas da sede do município
6° 29′ 43″ Sul, 43° 42′ 10″ Oeste
7° 6′ 59″ Sul, 46° 15′ 26″ Oeste
3º 27′ 13″ Sul, 44° 46′ 48″ Oeste
4° 7′ 31″ Sul, 44° 7′ 49″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
4° 27′ 19″ Sul, 43° 53′ 08″ Oeste
4° 22′ 51″ Sul, 44° 40′ 14″ Oeste
4° 51′ 32″ Sul, 43° 21′ 22″ Oeste
4° 51′ 32″ Sul, 43° 21′ 22″ Oeste
4° 51′ 32″ Sul, 43° 21′ 22″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
Data da coleta
23/05/1991
21/03/1996
14/09/1996
02/03/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
12/05/1995
29
A pesquisa foi conduzida no período de abril a agosto de 2013, utilizando para
montagem do experimento, sementes provenientes de um ciclo de autofecundação
(S1). Todos os genótipos foram semeados em bandejas de isopor preenchidas com
substrato comercial Plantmax® em casa de vegetação coberta com sombrite de 50%
de luminosidade, sendo irrigadas duas vezes ao dia. Após 15 dias do semeio, as
plântulas foram transplantadas para solo previamente preparado com aração,
gradagem e sulcamento. O delineamento foi em blocos casualizados com três
repetições, cinco plantas por parcela e espaçamento de 2,5 m entre fileiras e 0,8 m
entre plantas, realizando irrigação via sulcos de infiltração.
Na fase de florescimento, todas as plantas foram avaliadas quanto aos
descritores pilosidade do ovário e expressão sexual. Ao final de 30 dias após a
fixação dos frutos houve a colheita e avaliação, usando como base os descritores de
frutos do IPGRI (2003).
As variáveis quantitativas analisadas foram: MF - massa média dos frutos (kg);
DL - diâmetro longitudinal do fruto (cm), medido com régua; EPL - espessura de
polpa da lateral do fruto (cm), medido com régua; EPS - espessura de polpa da parte
superior do fruto (cm), medido com régua; CC - comprimento da cavidade do fruto
(cm), medido com régua; DC - diâmetro da cavidade do fruto (cm), medido com
régua; CCE - comprimento da cicatriz estilar do fruto (mm), medido com paquímetro;
CP - comprimento do pedúnculo do fruto (mm), medido com paquímetro; DP diâmetro do pedúnculo do fruto (mm), medido com paquímetro; MS - massa média
de 100 sementes (g); SSH - sólidos solúveis homogeneizados (ºBrix), obtido pela
extração do suco homogeneizado das diversas partes da polpa do fruto com o
auxílio de uma centrífuga, registrando a leitura por meio do refratômetro digital.
Quanto às variáveis qualitativas avaliou-se: formato do fruto (globular,
achatado, elíptico, piriforme, oval, alongado, bolota e má formação), cor da epiderme
do fruto (amarelo claro, amarelo, amarelo esverdeado, amarelo intenso, amarelo
claro manchado com verde médio, amarelo manchado com verde escuro, verde
claro, verde escuro, verde claro riscado com verde escuro, verde claro riscado com
verde médio e verde claro manchado com verde escuro), cor das listas no fruto
(ausente, verde claro, verde médio e verde escuro), grau dos gomos no fruto
(ausente, superficial, médio e profundo), rachadura da epiderme do fruto (presente e
ausente), rugosidade do fruto (ausente, fraca, média e forte), cor da polpa do fruto
30
(branca, esverdeada, alaranjada), cor da placenta do fruto (branca, esverdeada e
alaranjada).
Os dados quantitativos foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste de Scott Knott. Para quantificar a dissimilaridade genética
dos acessos, primeiramente, foi quantificado o índice de multicolinearidade para 16
descritores avaliados inicialmente, obtendo valores de forte a moderado. Assim,
cinco variáveis que apresentaram correlação forte foram excluídas (diâmetro da
cicatriz estilar, diâmetro transversal do fruto, espessura de polpa da parte inferior do
fruto, diâmetro da semente e comprimento da semente), totalizando 11 descritores
quantitativos efetivamente utilizados, atendo a pressuposição da multicolinearidade.
Em seguida, foi realizada a análise multivariada dos dados quantitativos e
qualitativos, estimou as matrizes médias, das quais foram obtidas as distâncias
genéticas dos acessos, sendo que para variáveis quantitativas usou-se a distância
euclidiana média generalizada. Posteriormente, foi gerada a formação dos grupos
pelo método de Tocher e UPGMA. As análises foram realizadas no aplicativo
computacional em genética e estatística Genes (Versão 2013.5.1) (CRUZ, 2013). Já
os dendogramas foram obtidos pelo programa R (2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferença significativa a 1% de probabilidade entre os acessos para
nove dos descritores quantitativos e significativo a 5% de probabilidade para variável
comprimento da cicatriz estilar, todavia o descritor sólidos solúveis homogeneizado
não apresentou significância (Tabela 2).
Pela comparação de médias, o descritor massa média do fruto apresentou a
formação de dois grupos (Tabela 3). O primeiro, composto pelos acessos BGMEL
10, BGMEL 77, BGMEL 83, BGMEL 89, BGMEL 99 e BGMEL 139 com os maiores
valores variando de 1,5 kg a 2,3 kg. Já o segundo grupo formado pelos acessos
BGMEL 64, BGMEL 72, BGMEL 80, BGMEL 82, BGMEL 85, BGMEL 98 e BGMEL
109 obtiveram os menores valores de massa média do fruto compreendido entre 0,4
kg a 1,0 kg. Torres Filho et al. (2009) ao avaliarem e caracterizarem uma amostra de
acessos de meloeiro do Nordeste brasileiro encontraram valores para massa média
do fruto com variação de 0,4 kg a 2,4 kg, resultados similares ao dessa pesquisa.
31
Porém, Neitzke et. al. (2009) avaliando variedades crioulas do Paraná e do Rio
Grande do Sul constataram valores superiores com frutos até 3,5 kg.
Pitrat (2013) relata que os melões silvestres são pequenos com massa de
fruto em torno de 0,02 kg a 0,05 kg, enquanto todos os melões cultivados
apresentam frutos maiores. Além disso, na África e na Ásia melões silvestres que
crescem perto de campos de melões cultivados têm apresentado alguns fenótipos
intermediários ou recombinantes entre melões selvagens e cultivados com massa de
fruto entre as faixas de 0,1 kg a 0,2 kg. Assim, os melões do presente trabalho se
enquadram nos tipos cultivados, pois apresentaram frutos de 0,4 kg até 2,3 kg.
Tabela 2. Resumo da análise de variância dos descritores quantitativos avaliados
nos acessos de meloeiro da agricultura tradicional do estado do Maranhão. Juazeiro
– BA, 2015.
QM
FV
Acessos
Média
C.V(%)
F.V
Acessos
Média
C.V(%)
MF
1,0374**
1,33
26,31
CCE
54,5998*
7,27
28,35
DL
76,5328**
19,78
10,85
CP
107,9056**
16,94
4,52
EPL
1,0121**
2,91
13,67
EPS
1,7722**
2,75
17,86
QM
DP
64,0502**
15,11
6,82
CC
59,3794**
15,07
11,26
MS
0,9829**
2,34
15,47
DC
3,2513**
5,8
13,50
SSH
0,7098ns
4,92
8,96
** e * significativo a 1% de probabilidade e 5% de probabilidade, respectivamente, pelo teste
ns
F;
– não significativo. MF - massa média dos frutos (kg); DL - diâmetro longitudinal do
fruto (cm); EPL - espessura de polpa da lateral do fruto (cm); EPS - espessura de polpa
superior do fruto (cm); CC - comprimento da cavidade do fruto (cm); DC - diâmetro da
cavidade do fruto (cm); CCE - comprimento da cicatriz estilar do fruto (mm); CP comprimento do pedúnculo do fruto (mm); DP - diâmetro do pedúnculo do fruto (mm); MS massa média de 100 sementes (g); SSH - sólidos solúveis homogeneizados (SSH) (ºBrix).
Em relação ao diâmetro longitudinal observou ampla variabilidade, com
formação de cinco grupos (Tabela 3). Destacaram-se com os maiores resultados o
BGMEL 10, BGMEL 77 e BGMEL 89 variando 26,9 cm a 27,7 cm; já o menor
diâmetro longitudinal foi verificado no BGMEL 82 cm com 11,5 cm. Conforme Paiva
et al. (2008) o tamanho do fruto é uma característica influenciada pelo genótipo e
pelas condições de cultivo. Assim, ao estudarem a qualidade de melões amarelo
obtiveram resultados inferiores ao dessa pesquisa para comprimento longitudinal
dos frutos colhidos com 72 dias após a semeadura, com variação máxima e mínina
de 18,0 cm a 14,8 cm e 10,9 cm a 12,6 cm, respectivamente.
32
Tabela 3. Médias e intervalos (entre parêntese) dos valores obtidos pela aplicação dos descritores quantitativos mensurados nos
acessos de meloeiro da agricultura tradicional do estado do estado Maranhão. Juazeiro – BA, 2015.
Acessos
BGMEL 10
BGMEL 64
BGMEL 72
BGMEL 77
BGMEL 80
BGMEL 82
BGMEL 83
BGMEL 85
BGMEL 89
BGMEL 98
BGMEL 99
BGMEL 109
BGMEL 139
Acessos
BGMEL 10
BGMEL 64
BGMEL 72
BGMEL 77
BGMEL 80
BGMEL 82
BGMEL 83
BGMEL 85
BGMEL 89
BGMEL 98
BGMEL 99
BGMEL 109
BGMEL 139
Descritores*
MF
1,6a (0,9 - 2,4)
0,7b (0,4 - 1,2)
1,0b (0,4 - 1,8)
1,9a (1,1 - 2,5)
1,0b (0,6 - 1,2)
0,4b (0,3 - 0,9)
1,9a (0,9 - 2,5)
1,7a (1,2 - 2,1)
2,3a (1,7 - 3,0)
0,8b (0,5 - 1,2)
1,5a (1,0 - 2,8)
0,7b (0,4 - 1,1)
1,7a (0,4 - 2,6)
CCE
2,4b (1,7 - 3,9)
7,2b (1,7 - 20,7)
5,2b (3,1 - 11,4)
3,0b (2,1 - 4,3)
8,7b (2,8 - 25,7)
13,1a (4,1 - 17,1)
16,7a (2,9 - 45,2)
3,5b (2,9 - 4,0)
6,1b (3,3 - 7,3)
5,2b (3,1 - 8,9)
11,9a (2,9 - 31,0)
4,7b (1,6 - 5,4)
6,7b (3,2 - 9,1)
DL
27,7a (23,3 - 32,5)
15,8d (10,8 - 20,5)
16,4d (12,4 - 20,0)
27,2a (23,4 - 30,7)
17,7c (14,1 - 20,8)
11,5e (8,2 - 16,0)
22,4b (15,0 - 27,3)
20,6c (17,4 - 24,0)
26,9a (28,0 - 30,0)
16,6d (14,5 - 19,5)
17,9c (16,5 - 21,5)
16,0d (12,0 - 20,5)
20,6c (13,7 - 24,7)
EPL
3,1b (2,5 - 3,9)
2,5c (2,1 - 3,0)
2,5c (1,8 - 3,2)
3,0b (2,3 - 3,9)
2,7c (2,2 - 3,4)
2,1c (1,7 - 2,9)
3,5a (2,9 - 4,2)
3,7a (3,1 - 4,6)
3,9a (3,0 - 4,6)
2,1c (1,5 - 2,5)
2,9b (2,2 - 3,6)
2,5c (1,9 - 2,8)
3,2b (2,2 - 3,8)
CP
13,0c (7,5 - 18,8)
10,1c (6,4 - 12,6)
21,3b (18,6 - 29,1)
15,4c (11,3 - 23,1)
14,3c (8,0 - 18,0)
11,2c (8,6 - 14,2)
15,2c (10,0 - 21,2)
24,4b (20,2 - 30,5)
19,8b (14,5 - 25,7)
15,7c (8,7 - 31,2)
20,3b (12,1 - 26,8)
9,5c (5,6 - 15,6)
30,0a (15,1 - 62,4)
EPS
2,6b (1,5 - 4,9)
2,1c (1,6 - 3,0)
2,8b (1,8 - 3,5)
3,9a (2,4 - 9,4)
2,3c (1,5 - 2,8)
1,9c (1,4 -2,3)
3,0b (2,0 - 4,9)
3,4a (3,0 - 4,0)
4,3a (3,1 - 5,2)
1,9c (1,3 - 2,3)
2,9b (2,2 - 4,0)
2,0c (1,5 - 3,0)
2,8b (1,9 - 3,5)
Descritores*
DP
14,0c (8,5 - 19,2)
10,1d (7,2 - 15,0)
19,8b (14,7 - 28,6)
14,9c (11,0 - 17,9)
12,6c (3,1 - 18,3)
9,2d (6,7 - 10,7)
13,6c (10,7 - 17,4)
23,6a (15,1 - 28,4)
17,7b (15,1 - 19,8)
14,7c (7,7 - 29,6)
15,4c (9,7 - 23,1)
8,8d (6,1 - 12,6)
21,9a (13,3 - 45,4)
CC
23,1a (19,0 - 26,5)
11,6d (6,0 - 16,4)
11,7d (8,8 - 14,5)
21,6a (18,0 - 24,8)
13,7c (10,0 - 16,9)
8,1e (5,7 - 12,2)
17,4b (10,4 - 21,5)
15,3c (11,8 - 18,5)
20,6a (18,9 - 22,7)
12,8c (10,2 - 16,0)
13,0c (11,3 - 16,6)
11,7d (9,3 -15,5)
15,2c (9,6 - 19,0)
MS
2,5b (1,7 - 2,9)
1,9c (1,4 - 2,4)
2,4b (1,7 - 3,8)
2,6b (2,3 - 2,9)
2,1c (1,0 - 3,1)
1,4d (0,9 - 2,1)
2,0c (1,6 - 2,4)
3,0a (2,5 -3,5)
2,6b (2,3 - 2,8)
2,3b (1,0 - 3,0)
2,9a (2,2 - 3,2)
1,5d (0,9 - 2,1)
3,3a (2,6 - 4,2)
DC
6,1a (4,5 - 8,6)
4,4b (3,5 - 5,8)
5,6a (3,6 - 6,6)
7,0a (4,8 - 11,5)
5,4a (4,0 - 8,1)
3,9b (3,2 - 5,0)
6,6a (5,5 - 7,7)
6,1a (5,0 - 6,9)
6,2a (4,9 - 8,6)
6,0a (5,0 - 7,8)
6,9a (5,4 - 8,8)
4,4b (3,6 - 5,2)
7,0a (4,4 - 9,7)
SSH
4,9a (3,6 - 6,0)
4,6a (3,4 - 5,4)
4,7a (3,9 - 5,6)
5,7a (4,8 - 6,8)
5,4a (4,2 - 7,8)
5,3a (3,4 - 6,2)
5,6a (4,8 - 7,1)
5,1a (4,6 - 5,5)
4,7a (3,8 - 6,2)
4,8a (3,2 - 8,0)
4,3a (3,6 - 5,0)
4,9a (4,2 - 6,0)
4,0a (3,4 - 5,0)
*Médias seguidas das mesmas letras não diferem pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. *MF - massa média dos frutos (kg); DL - diâmetro
longitudinal do fruto (cm); EPL - espessura de polpa da lateral do fruto (cm); EPS - espessura de polpa superior do fruto (cm); CC - comprimento da cavidade
do fruto (cm); DC - diâmetro da cavidade do fruto (cm); CCE - comprimento da cicatriz estilar do fruto (mm); CP - comprimento do pedúnculo do fruto (mm);
DP - diâmetro do pedúnculo do fruto (mm); MS - massa média de 100 sementes (g); SSH - sólidos solúveis homogeneizados (SSH) (ºBrix).
33
Quanto às espessuras de polpa em diferentes regiões do fruto, houve
diferença estatística tanto para região lateral da polpa do fruto, bem como para
região superior da polpa do fruto (Tabela 3). De acordo com Paduan et al. (2007) a
maior espessura da polpa é desejável, pois indica maior parte comestível e aumenta
a massa, melhorando a qualidade do fruto. Desta forma, os acessos BGMEL 83,
BGMEL 85 e BGMEL 89 destacaram com as maiores espessuras de polpa da parte
lateral do fruto, com valores de 3,5 cm a 3,9 cm, enquanto que para a variável
espessura de polpa da parte superior do fruto os melhores valores foram observados
nos acessos BGMEL 77, BGMEL 85 e BGMEL 89, variando de 3,4 cm a 4,3 cm.
O comprimento da cavidade do fruto apresentou ampla variabilidade com a
formação de cinco grupos (Tabela 3). Contudo, três genótipos (BGMEL 10, BGMEL
77 e BGMEL 89) apresentaram os maiores resultados variando de 20,6 cm a 23,1
cm. Já o menor comprimento da cavidade do fruto foi observado para o BGMEL 82
com 8,1 cm. Com relação ao diâmetro da cavidade do fruto houve a formação de
dois grupos. O primeiro constituído pelos acessos BGMEL 10, BGMEL 72, BGMEL
77, BGMEL 80, BGMEL 83, BGMEL 85, BGMEL 89, BGMEL 98, BGMEL 99 e
BGMEL 139 com os maiores valores para variável entre 5,4 cm a 7,0 cm. O segundo
grupo composto pelos acessos BGMEL 64, BGMEL 82 e BGMEL 109 que variaram
de 3,9 cm a 4,4 cm. Conforme Costa & Pinto (1977), o fruto ideal deve ter o
mesocarpo espesso e cavidade interna pequena, atributos que conferem ao fruto
melhor resistência ao transporte e maior durabilidade pós-colheita. Assim, os
genótipos avaliados demonstram potencial para seleção em programas de
melhorando.
Para o descritor comprimento da cicatriz estilar os acessos apresentaram
diferença estatística (Tabela 3). O primeiro grupo composto pelos acessos BGMEL
82, BGMEL 83 e BGMEL 99 obtiveram os maiores valores variando de 11,9 mm a
16,7 mm. O segundo grupo formado acessos BGMEL 10, BGMEL 64, BGMEL 72,
BGMEL 77, BGMEL 80, BGMEL 85, BGMEL 89, BGMEL 98, BGMEL 109 e BGMEL
139 com os menores valores compreendidos entre 2,4 mm a 8,7 mm.
Com relação o comprimento do pedúnculo do fruto o maior valor médio foi
observado para o BGMEL 139 com 30 mm (Tabela 3). Já oito dos acessos
apresentaram os menores comprimentos do pedúnculo compreendidos entre 9,5
mm a 15,4 mm. Para o diâmetro do pedúnculo do fruto os acessos BGMEL 85 e
34
BGMEL 139 foram registrados os maiores resultados com 23,6 mm a 21,9 mm,
respectivamente. Enquanto, que o BGMEL 64, BGMEL 82 e BGMEL 109
apresentaram os menores valores, variando entre 8,8 mm a 10,1 mm. Szamosi et al.
(2010) avaliando acessos de origem húngara e turca observaram tamanhos para o
comprimento do pedúnculo variando de pequenos a grande, com maior freqüência
para o tamanho médio. Esses resultados divergentes ao desse estudo com relação
à predominância do tamanho médio.
Quanto à massa média de 100 sementes três grupos foram formados (Tabela
3). O grupo de maior massa média da semente foi formado por BGMEL 85 (3,0 g),
BGMEL 99 (2,9 g) e BGMEL 139 (3,3 g). Os menores valores foram obtidos pelo
BGMEL 82 (1,4 g), BGMEL 109 (1,5 g). Torres Filho et al. (2009) encontram os
menores valores de massa média da semente para o grupo botânico conomon,
variando de 1,0 g a 1,2 g, enquanto que as cultivares Vereda e Goldex
apresentaram as maiores massas para o descritor, com 4,3 g e 4,5 g,
respectivamente.
De acordo com a classificação dos grupos botânicos de Pitrat et al. (2000) os
tamanhos das sementes podem variar de acordo com a subespécie e variedade
botânica a que pertença. Assim, é possível inferir que existam diferentes
subespécies e variedades botânicas nos acessos de meloeiro da agricultura
tradicional do estado do Maranhão, conferindo diversidade para as massas médias
de sementes dos acessos estudados nessa pesquisa.
Quanto às médias de sólidos solúveis homogeneizados não houve diferença
estatística entre os acessos (Tabela 3), porém, os resultados foram baixos. Esta
análise confere uma melhor dimensão da distribuição dos açucares no fruto. Aragão
et al. (2013) apesar de não terem avaliado os sólidos solúveis homogeneizados,
mas os sólidos solúveis de alguma região da polpa do fruto, também obtiveram
valores baixos em acessos de melões coletados na agricultura tradicional do
Nordeste brasileiro, variando de 3,3 ºBrix a 8,0 ºBrix.
Os descritores qualitativos com maior variabilidade foram formato do fruto
com oito categorias e coloração da epiderme com 11 categorias. Dentre os acessos
estudados apenas o BGMEL 10 apresentou homogeneidade para o formato
alongado, enquanto, os demais foram segregantes entre as categorias de formato
alongado, globular, elíptico, achatado, oval, piriforme, bolota e má formação em
35
proporções diferentes. Já para a coloração da epiderme quatro acessos
apresentaram-se homogêneos, sendo que o BGMEL 72, BGMEL 98 e BGMEL 139
para o fenótipo verde claro riscado com verde escuro e o BGMEL 89 para verde
claro manchado com verde escuro. Quanto aos demais acessos houve segregação
para as categorias de cores estabelecidas: amarelo, amarelo claro, amarelo intenso,
amarelo esverdeado, verde claro, verde escuro, verde claro riscado com verde
escuro, verde claro riscado com verde médio, amarelo claro manchado com verde
médio, amarelo manchado com verde escuro e verde claro manchado com verde
escuro em proporções distintas.
Quanto à pilosidade do ovário os acessos BGMEL 10, BGMEL 64, BGMEL
77, BGMEL 83 e BGMEL 109 expressaram fenótipo característico para ssp. agrestis.
Já os acessos BGMEL 85, BGMEL 89, BGMEL 99 e BGMEL 139 foram condizentes
para ssp. melo. Entretanto, os acessos BGMEL 72, BGMEL 80, BGMEL 82 e
BGMEL 98 apresentaram segregação para pelos intermediários e curtos, além de
intermediários e longos. Assim, como não existem relatos na literatura sobre o
caráter intermediário da pilosidade relacionado a subespécie, esses acessos não
puderam ser incluídos em nenhuma das subespécies.
Quanto à expressão sexual os acessos BGMEL 10, BGMEL 72, BGMEL 77,
BGMEL 85, BGMEL 89, BGMEL 98 e BGMEL 139 foram uniformes para o caráter
monóico, os demais se mostraram segregantes para expressão sexual monóica e
andromonóica dentro do mesmo acesso. De acordo a classificação de Pitrat et al.
(2000) os acessos BGMEL 64, BGMEL 80, BGMEL 82, BGMEL 83, BGMEL 99 e
BGMEL 109, segregantes para expressão sexual podem pertencer as variedades
botânicas cantalupensis, chate ou chito que expressam plantas com fenótipos
condizentes para duas expressões sexuais.
Com relação à presença de listas apenas o acesso BGMEL 109 apresentou
33,3% dos frutos avaliados com expressão fenotípica para esta característica
variando sua tonalidade entre verde claro, verde médio e verde escuro. Manohar &
Murthy (2012) avaliando uma amostra de 44 melões ―landraces‖ da var. momordica
e var. acidulus obtiveram 14% dos acessos com frutos listrados.
Paiva et al. (2002) relatam que um dos fatores varietais para expectativa de
pós-colheita de melões inodorus está intimamente ligado à rugosidade da casca.
Porém, dentro dos grupos botânicos existem variações para ausência, ou presença
36
de rugosidade em diferentes níveis. Para os acessos avaliados o BGMEL 10,
BGMEL 77, BGMEL 83, BGMEL 98 e BGMEL 109 apresentaram 100% dos frutos
com ausência de rugosidade. Já o BGMEL 64 segregou com 90% dos frutos sem
rugosidade e 10% com rugosidade média. Para sete genótipos houve variação
dentro do acesso para ausência e nível fraco de rugosidade. Assim, a
predominância para os genótipos avaliados nessa pesquisa foram para ausência de
rugosidade o que de acordo com Paiva et al. (2002) comprometeria a expectativa
de pós-colheita dos frutos.
Quanto à variável presença de gomos apenas o BGMEL 10, BGMEL 64 e
BGMEL 72 apresentaram 100% dos frutos homogêneos, sendo que os dois
primeiros para presença de gomos e o último para ausência deste fenótipo. Já os
demais acessos obtiveram variações para ausência e presença de gomos em
diferentes proporções. A presença de gomos é um fenótipo que pode ser expresso
em cinco grupos botânicos var. momordica, var. cantalupensis, var. reticulatus, var.
chandalak e var. inodorus (PITRAT et al., 2000), assim, os acessos que
apresentaram gomos podem pertencer a algum desses grupos botânicos.
Neitzke et al. (2009) relatam que a expressão rachadura da epiderme do fruto
não é um caráter desejável, pois, afeta a aparência do fruto e diminui drasticamente
a durabilidade de pós-colheita. Por outro lado, esta característica é um dos critérios
fundamentais para identificação da var. momordica. Assim, dentre os acessos
avaliados o BGMEL 10 apresentou rachadura da epiderme em 100% dos frutos
avaliados.
Com relação à cor da polpa houve a expressão das colorações branca,
esverdeada e alaranjada. Os acessos BGMEL 10 e BGMEL 64 expressaram 100%
dos seus frutos com coloração da polpa branca. Já o BGMEL 72, BGMEL 82,
BGMEL 98 e BGMEL 139 expressaram 100% dos frutos com coloração esverdeada.
Torres Filho et al. (2009) avaliando melões do Nordeste brasileiro encontraram um
número maior de coloração da polpa entre os acessos estudados variando entre
salmão, branca, branca esverdeada e verde. Já para coloração da placenta o
BGMEL 10, BGMEL 64, BGMEL 72, BGMEL 99, BGMEL 109 e BGMEL 139
mostraram-se uniformes, porém o primeiro para coloração alaranjada, enquanto que
os cinco últimos acessos para coloração branca.
37
A análise de agrupamento a partir dos descritores quantitativos e qualitativos
formou grupos diferentes, quando se comparou os resultados obtidos entre os
métodos UPGMA e Tocher (Figuras 1, 2, 3 e 4).
0.0
I
II
III
III
IV
IV
Figura 1. Análise de agrupamento de 13 acessos de meloeiro do estado do
Maranhão utilizando descritores quantitativos, obtido pelo método de agrupamento
UPGMA, baseado na distância euclidiana média. Juazeiro – BA, 2015.
Figura 2. Análise de diversidade genética de 13 acessos de meloeiro do estado do
Maranhão utilizando descritores quantitativos, obtido pelo método de Tocher,
baseado na distância euclidiana média. Juazeiro – BA, 2015.
38
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
I
II
III
IV
Figura 3. Análise de agrupamento de 13 acessos de meloeiro do estado do
Maranhão utilizando descritores qualitativos, obtido pelo método de agrupamento
UPGMA. Juazeiro – BA, 2015.
Figura 4. Análise de diversidade genética de 13 acessos de meloeiro do estado do
Maranhão utilizando descritores qualitativos, obtido pelo método de Tocher. Juazeiro
– BA, 2015.
Comparando os agrupamentos dos genótipos com base nos descritores
quantitativos houve a formação de quatro grupos (UPGMA) e seis grupos (Tocher)
39
(Figura 1 e 2). Assim, os acessos BGMEL 10, BGMEL 77, BGMEL 85 e BGMEL 89
formaram um único agrupamento genótipo pelo método de UPGMA, enquanto que
pelo método de Tocher os acessos foram organizados em dois agrupamentos
distintos. O primeiro com os acessos BGMEL 10 e BGMEL 77 e o segundo com
BGMEL 85 e BGMEL 89.
Para os caracteres qualitativos o método de Tocher mostrou-se praticamente
similar ao método de UPGMA; a exceção foi um agrupamento a mais, isolando o
acesso BGMEL 89 (Figuras 3 e 4). Por exemplo, o acesso BGMEL 10, uniforme
para característica da variedade botânica momordica com pilosidade da subespécie
agrestis, polpa branca, frutos com formato alongado e rachadura da epiderme, uma
das principais características desse grupo botânico, formaram um grupo separado
nos dois métodos (UPGMA e Tocher) quando analisado os dados qualitativos.
Assim, os agrupamentos usando os descritores qualitativos conseguiram diferenciar
o acesso entre as características da subespécie e grupo botânico, diferentemente
dos dados quantitativos (Figuras 1 e 2). Em relação ao coeficiente de correlação
cofenético, este é utilizado para avaliar a consistência do padrão de agrupamento,
sendo que valores próximos à unidade indicam melhor representação (CRUZ &
CARNEIRO, 2003). Assim, como é difícil selecionar a melhor técnica de
agrupamento,
torna-se
importante
quantificar
o
grau
de
ajustamento
do
agrupamento. Desta forma, o coeficiente de correlação cofenético do UPGMA foi
0,82 para os dados qualitativos, superior ao valor obtido pelos descritores
quantitativos (0,69). Então, os caracteres qualitativos foram mais eficientes para
separação dos agrupamentos, por apresentar valor maior que 0,7.
CONCLUSÕES
Há diversidade genética entre os acessos de meloeiro da agricultura
tradicional do Maranhão e os descritores qualitativos foram mais eficientes na
discriminação de grupos de acessos divergentes.
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cantalupensis Naud.), híbrido Torreon, produzidos em hidroponia e armazenados em
embalagens de polietileno. Ciência Rural, Santa Maria, v. 36, n. 4, p. 1143 - 1149,
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1977. 163p. (Apostila).
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42
FENOTIPAGEM INTRA-ESPECÍFICA DENTRO DE ACESSOS DE MELÃO
COLETADOS NO ESTADO DO MARANHÃO
RESUMO - O presente trabalho teve por objetivo realizar a caracterização
morfológica dentro de acessos por meio da fenotipagem de uma amostra de 15
acessos coletadas na agricultura tradicional do estado do Maranhão, a fim de
identificar as subespécies e variedades botânicas existentes. Foram realizados dois
experimentos durante os anos de 2013 (I) e 2014 (II). Para o experimento I, foram
selecionados 15 acessos provenientes de um ciclo de autofecundação (S1), e para
experimento II, foram avaliadas progênies (S2) resultante do segundo ciclo de
autofecundação dos mesmos acessos. O delineamento experimental usado foi em
blocos casualizados com quatro repetições no experimento I e três repetições para o
experimento II com cinco plantas por parcela em ambos. Foram avaliados oito
descritores sendo dois para inflorescência e seis para as características de frutos.
Comparando as duas gerações endogâmicas formaram-se quatro grupos. No
primeiro grupo, os acessos puderam ser classificados quanto às subespecies e os
respectivos grupos botânicos (conomon e mormodica) e os acessos não
segregaram. O segundo grupo apresentou variação dentro do acesso, constituindo
subacessos, porém, os mesmos foram classificados quanto às subespécies e
respectivos grupos botânicos (agrestis com os grupos conomom, momordica e
chandalak e melo com o grupo cantalupensis). No terceiro grupo, também houve
variação dentro dos acessos, mas, só foi possível a identificação das subespécies
agrestis e melo, porém, os grupos botânicos não foram identificados. No quarto
grupo, também proveniente de variação dentro dos acessos, não foi possível
identificar nem as subespécies nem os respectivos grupos botânicos, pois sempre
ocorria variação em alguns poucos caracteres que não permitiam a identificação do
grupo botânico. Esses resultados indicam introgressão de características das duas
subespécies e de seus diferentes grupos botânicos que provavelmente ocorreu
durante o manejo das sementes feito pelos agricultores tradicionais do estado
Maranhão.
Palavras-chave: Cucumis melo, agricultura tradicional, germoplasma.
43
INTRASPECIFIC PHENOTYPING OF MELON ACCESSIONS COLLECTED IN THE
STATE OF MARANHÃO
ABSTRACT- The present work aimed to perform a morphological characterization to
phenotying a sample of 15 melon accessions collected in the traditional agriculture of
the State of Maranhão, to identify the subspecies and existing botanical varieties.
Two experiments were carried out, one in 2013 (I) and the other in 2014 (II). For the
experiment I were selected 15 accessions from the first cycle of selfing (S1) and for
the experiment II S2 progenies originated from the second selfing cycle of the same
accessions were evaluated. The experimental design was in randomized block
design with four replications in trial I and three for trial II with five plants per plot in
both experiments. Eight descriptors, two for flower and six for fruit characteristics,
were evaluated. When comparing the two-selfing generations four groups were
formed. In the first one, it was possible to classify the accessions regarding the
subspecies and the respective botanic groups (conomom and momordica groups)
and the accessions did not segregate. The second group presented variation within
the accession, therefore forming subaccessions, however, it was also possible to
classify them regarding the subspecies and their respective botanic groups (agrestis
with the conomom, momordica and chadalak groups; and melo with the
cantalupensis group). In the third group there was also variation within the
accessions, but, it was only possible to classify the subspecies agrestis and melo,
but the botanic groups were not identified. In the fourth group also from the variation
within accessions, it was not possible to identify the subspecies nor respective
botanic groups since it was found variation in some characters that do not allow to
define the botanical group. These results indicating introgression of characteristics of
the two subspecies and their different botanical groups which probably took place
during the seed
management done by the traditional farmers in the State of
Maranhão.
Key-words: Cucumis melo, traditional agriculture, germplasm.
44
INTRODUÇÃO
O melão (Cucumis melo L.) é uma cultura que apresenta divergência com
relação aos estudos sobre a exatidão do seu centro de origem. Segundo Burger et
al. (2010) o meloeiro é considerado originário da África tropical, mas outras
pesquisas evidenciam uma provável origem do gênero Cucumis na Ásia (RENNER
et al. 2007; SCHAEFER et al. 2009; SEBASTIAN et al., 2010). Contudo, sabe-se que
há duas subespécies, C. melo ssp. agrestis (com pelos curtos e adensados no
ovário) e C. melo ssp. melo (com pelos longos no ovário) (JEFFREY, 1980).
Dentre as classificações intra-específicas estabelecidas ao longo dos 150 anos,
Munger & Robinson (1991) propõem o agrupamento das variedades botânicas em
uma variedade silvestre C. melo agrestis Naud e seis variedades cultivadas: C. melo
cantalupensis Naud (incluindo a var. reticulatus), C. melo inodorus Naud, C. melo
flexuosus Naud, C. melo conomon Mak, C. melo chito (incluindo o C. melo dudaim
Naud) e C. melo momordica. Posteriormente, Robinson & Decker-Walters (1997)
dividiu a espécie C. melo em seis variedades ou grupos botânicos: cantalupensis,
inodorus, conomon, dudaim, flexuosos e momordica. Porém, estas classificações
não adotam a divisão da espécie em duas subespécies de C. melo definida por
Kirkbride (1993). A classificação de Pitrat et al. (2000) constitui a mais recente e
detalhada das sistematizações, reorganizando as variedades botânicas em 16
grupos dentre eles cinco da ssp. agrestis (var. conomon, makuwa, chinensis,
momordica e acidulus) e 11 para ssp. melo (var. cantalupensis, reticulatus, adana,
chandalak, ameri, inodorus, flexuosus, chate, tibish, dudaim e chito).
Segundo Pitrat (2013) as populações silvestres observadas hoje não podem
ser consideradas ancestrais das cultivares modernas, pois, aquelas populações
correspondem à evolução sob seleção natural, enquanto que as cultivares
correspondem à evolução sob a ação do homem praticando seleção artificial, a partir
de ancestrais em comum, uma situação que ocorre com os tipos cultivados na
agricultura tradicional.
Ao longo dos tempos a agricultura tradicional tem sido de extrema importância
para a preservação da diversidade fenotípica dos tipos que são cultivados pelos
agricultores, um fato que tem sido observado na agricultura praticada por
agricultores familiares no Nordeste brasileiro. Desta forma, a coleta e caracterização
desses germoplasma que se encontram armazenado em Bancos Ativos de
45
Germoplasma (BAGs) possibilitam a identificação de caracteres promissores que
poderão ser usados em futuros programas de melhoramento. Para o melão, também
serão úteis os estudos botânicos visando identificar as subespécies e seus
respectivos tipos.
De acordo com Queiróz (2004) e Priori et al. (2010) é na agricultura tradicional
em diferentes partes do país, mas notadamente no Nordeste brasileiro e no Sul do
Brasil, que ainda existe uma grande quantidade de tipos cultivados pelos
agricultores familiares, dentre os quais, estão as populações tradicionais conhecidas
como crioulas ou landraces.
Por outro lado, existem poucas pesquisas direcionadas ao estudo dessas
populações tradicionais de melão no Brasil e praticamente são inexistentes os
estudos que busquem identificar esses tipos cultivados seguindo a classificação de
Pitrat et al. (2000). Vale destacar que uma amostra desse germoplasma mantido
pelos agricultores familiares foi resgatada na agricultura tradicional do Nordeste
brasileiro, particularmente no estado do Maranhão e os acessos coletados estão
armazenados no Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste
brasileiro, localizado na Embrapa Semiárido, em Petrolina-PE (QUEIRÓZ, 2004).
Neitzke et al. (2009) relatam que no Brasil os trabalhos com recursos genéticos
de variedades crioulas de melão são incipientes, embora Torres Filho et al. (2009) e
Aragão et al. (2013) tenham estudado alguns acessos de melão provenientes do
BAG de melão e constatado grande diversidade de tipos botânicos. Os últimos
autores seguiram a classificação de Munger & Robinson (1991) e Robinson &
Decker-Walters (1997), respectivamente.
Assim, o presente trabalho teve por objetivo realizar a caracterização
morfológica, por meio da fenotipagem de plantas de uma amostra de acessos
coletadas na agricultura tradicional do estado do Maranhão.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 15 acessos de melão coletados na agricultura tradicional do
estado Maranhão entre os anos de 1991 e 1997 (Tabela 1), e armazenados em
câmara fria de 10ºC e 40% de umidade relativa no Banco Ativo de Germoplasma de
Cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro, que fica localizado na Embrapa Semiárido,
Petrolina – PE.
46
O presente trabalho foi conduzido na Casa de Vegetação, no Campo
Experimental e no Laboratório de Biologia do Departamento de Tecnologia e
Ciências Sociais da Universidade do Estado da Bahia (DTCS/UNEB), localizado no
município de Juazeiro-BA, situado a 09°24'50’’ Sul de latitude e 40°30’10’’ Oeste de
longitude com uma altitude de 368 metros.
Os experimentos de campo foram implantados nos anos de 2013 (I) e 2014 (II).
Para o experimento I foram selecionados 15 acessos provenientes de um ciclo de
autofecundação (S1) e no experimento II foram avaliadas progênies (S2) resultante
do segundo ciclo de autofecundação dos mesmos acessos. Os dois experimentos
foram semeados em bandejas de isopor preenchidas com substrato comercial
Plantmax®, em de casa de vegetação coberta com sombrite de 50% de
luminosidade, sendo irrigadas duas vezes ao dia. As mudas foram transplantadas 15
dias após o semeio para solo previamente preparado com aração, gradagem e
sulcamento. O delineamento foi em blocos casualizados com quatro repetições
(experimento I) e três repetições (experimento II), com cinco plantas por parcela. O
espaçamento foi de 2,5 m entre fileiras e 0,8 m entre plantas e a irrigação foi em
sulcos de infiltração.
Tabela 1.
Dados de passaporte de acessos do BAG de Cucurbitáceas para o
Nordeste brasileiro, município com as coordenadas da sede e data de coleta dos
acessos de melão no estado do Maranhão. Juazeiro – BA, 2015.
Acesso
BGMEL 10
BGMEL 64
BGMEL 72
BGMEL 77
BGMEL 80
BGMEL 82
BGMEL 83
BGMEL 85
BGMEL 89
BGMEL 98
BGMEL 99
BGMEL 109
BGMEL 137
BGMEL 139
BGMEL 140
Durante
Município
São João dos Patos
Colinas
Arari
Coroatá
Itapecuru Mirim
Itapecuru Mirim
Itapecuru Mirim
Codó
São Luiz Gonzaga
Caxias
Caxias
Caxias
São Mateus
Itapecuru Mirim
Itapecuru Mirim
a
condução
dos
Coordenadas da sede do município
6° 29′ 43″ Sul, 43° 42′ 10″ Oeste
7° 6′ 59″ Sul, 46° 15′ 26″ Oeste
3º 27′ 13″ Sul, 44° 46′ 48″ Oeste
4° 7′ 31″ Sul, 44° 7′ 49″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
4° 27′ 19″ Sul, 43° 53′ 08″ Oeste
4° 22′ 51″ Sul, 44° 40′ 14″ Oeste
4° 51′ 32″ Sul, 43° 21′ 22″ Oeste
4° 51′ 32″ Sul, 43° 21′ 22″ Oeste
4° 51′ 32″ Sul, 43° 21′ 22″ Oeste
4° 2′ 26″ Sul, 44° 28′ 6″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
3° 23′ 42″ Sul, 44° 21′ 36″ Oeste
experimentos,
foram
Data da coleta
23/05/1991
21/03/1996
14/09/1996
02/03/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
07/1997
24/03/1995
12/05/1995
12/05/1995
realizadas
capinas,
monitoramento do estado fitossanitário e condução das ramas. Ao iniciar a fase de
47
florescimento, em ambos os experimentos, todas as plantas foram avaliadas quanto
à pilosidade do ovário e expressão sexual; em seguida, no experimento I, alguns
botões florais masculinos e femininos foram isolados antes da antese para a
realização da polinização manual. Ao final de 30 dias após a polinização, os frutos
foram colhidos e avaliados, utilizando os descritores de frutos (IPGRI, 2003) e
descritores mencionado por Pitrat et al. (2000) característicos dos grupos botânicos,
os quais foram: formato do fruto (globular; achatado; elíptico; piriforme; oval;
alongado; bolota e má formação), cor da casca (amarelo claro, amarelo, amarelo
esverdeado, amarelo intenso, amarelo claro manchado com verde médio, amarelo
manchado com verde escuro, verde claro, verde escuro, verde claro riscado com
verde escuro, verde claro riscado com verde médio e verde claro manchado com
verde escuro), presença de gomos ( ausente, superficial, médio e profundo), cor das
listas (ausente, verde claro, verde médio e verde escuro), cor da polpa (branca,
esverdeada, alaranjada e creme), teor de sólidos solúveis (ºBrix) medido em um
ponto lateral da polpa.
A fenotipagem dos frutos foi feita a partir de uma fotografia da parte interna e
externa do fruto, devidamente identificada de cada planta dentro da progênie,
visando, principalmente, capturar a variação entre plantas dentro de cada acesso e,
assim, estabelecer os subacessos que fossem mais homogêneos comparando as
gerações S1 e S2.
Os resultados obtidos da fenotipagem nos experimentos I e II foram analisados
quanto aos critérios de classificação das duas subespécies de melão, agrestis e
melo. Quando possível, foi realizada a identificação dos grupos botânicos dentro de
cada subespécie, seguindo a classificação de Pitrat et al. (2000). Adicionalmente,
para o descritor quantitativo os dados foram submetidos à análise de variância e as
médias comparadas pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade (CRUZ, 2013).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na fenotipagem, primeiro tomou-se como base a documentação fotográfica das
progênies S1 e S2 (Figura 1), complementando com os descritores de flor e fruto
propostos por Pitrat et al. (2000). No experimento I houve uma subdivisão dos 15
acessos (progênies S1) em 25 fenótipos, os quais foram avaliados no experimento II
(progênies S2).
48
BGMEL 10a
BGMEL 72a
BGMEL 137a
BGMEL 139a
BGMEL 140a
ssp. agrestis
var. momordica
ssp. melo
var. cantalupnesis
ssp. melo
var. cantalupnesis
ssp. melo
var. cantalupnesis
ssp. melo
var. cantalupnesis
BGMEL 64b
BGMEL 77b
BGMEL 80b
BGMEL 80b
BGMEL 85b
ssp. agrestis
var. conomon
ssp. agrestis
var. momordica
ssp. melo
var. chandalak
ssp. melo
var. cantalupnesis
ssp. melo
var. cantalupnesis
BGMEL 109
b
BGMEL 64c
BGMEL 77
c
BGMEL 82
ssp. agrestis
var. ND
c
BGMEL 83
c
ssp. agrestis
var. ND
ssp. agrestis
var. conomon
ssp. agrestis
var. ND
ssp. agrestis
var. ND
BGMEL 85c
BGMEL 89c
BGMEL 99c
BGMEL 109c
BGMEL 77c
ssp. melo
var. ND
ssp. agrestis
var. ND
ssp. ND
var. ND
BGMEL 83d
BGMEL 98d
BGMEL 109d
ssp. melo
var. ND
BGMEL 80d
ssp. ND
var. ND
ssp. melo
var. ND
BGMEL 82d
ssp. ND
var. ND
ssp. ND
var. ND
ssp. ND
var. ND
ssp. ND
var. ND
Figura 1. Diversidade genética das gerações S1 e S2 dos acessos de melão
avaliados quanto às características morfológicas de fruto e pertencentes a diferentes
subespécies e grupos botânicos. Juazeiro – BA, 2015.
a
Acessos identificados quanto a subespécies e grupo botânico.
Subacessos identificados quanto a subespécies e grupo botânico.
c
Subacessos identificados quanto a subespécies e indefinido para o grupo botânico.
d
Subacessos indefinidos quanto a subespécies e grupo botânico.
b
49
Comparando as duas gerações endogâmicas observou a formação de quatro
grupos. O primeiro foi formado pela subespécie agrestis var. momordica (BGMEL
10) e subespécie melo var. cantalupensis (BGMEL 72a, BGMEL 137a, BGMEL 139a
e BGMEL 140a). Essa classificação coincidiu nas duas gerações, indicando que
todas as plantas desses acessos se mostraram homozigotas para os descritores
indicadores da subespécie e dos grupos botânicos, dentro de cada subespécie
(Tabela 2 e Figura 1).
Tabela 2. Caracterização e classificação dos acessos nas respectivas subespécies
(ssp.), grupo botânico (GB) e descritores pilosidade do ovário (PO), expressão
sexual (ES), grau dos gomos (GG), cor das listas (CL), cor da polpa (CP), nas
gerações endogâmicas S1 e S2. Juazeiro-BA, 2015.
Acesso
BGMEL10
ssp.
a
GB
agrestis
momordica
BGMEL72a
melo
cantalupensis
BGMEL137a
melo
cantalupensis
BGMEL139a
melo
cantalupensis
BGMEL140a
melo
cantalupensis
BGMEL64b
agrestis
conomon
BGMEL77b
agrestis
momordica
BGMEL80b
melo
chandalak
BGMEL80b
melo
cantalupensis
BGMEL85b
melo
cantalupensis
BGMEL109b
agrestis
conomon
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
2013 (S1)
2014 (S2)
PO
C
C
L
L
L
L
L
L
L
L
C
C
C
C
L
L
L
L
L
L
C
C
ES
M
M
M
M
M
M
M
M
M
M
AN
AN
M
M
AN
AN
M AN
M AN
M
M
AN
AN
GG
0
0
123
12
23
12
12
12
3
2
0
0
0
0
0
0
123
12
23
123
0
0
CL
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
CP
1
1
2
2
2
2
23
23
3
3
1
1
1
1
2
2
23
23
23
23
1
1
a
Acessos identificados quanto a subespécies e grupo botânico.
Subacessos identificados quanto a subespécies e grupo botânico.
Pilosidade do ovário: C - curto, L - longo. Expressão sexual: M - monóica, AN andromonóica, G - ginomonóica. Grau dos gomos: 0 - ausente, 1 - superficial, 2- médio, 3 profundo. Cor das listas: 0 - ausente, 1 - verde claro, 2 - verde médio, 3 – verde escuro. Cor
da polpa: 1 - branca, 2 - esverdeada, 3 - alaranjada, 4 - creme.
b
Os acessos pertencentes a var. momordica são caracterizados pela ruptura
da casca do fruto quanto maduro, polpa farinhenta e a ausência de açúcar e aroma
50
(FERGANY et al., 2011). Por outro lado, Manohar & Murthy (2012) encontram
populações de melões da var. momordica com leve aroma quando maduros e pouco
doce. Em relação aos acessos da var. cantalupensis são característicos por
apresentarem gomos profundos (SZAMOSI et al., 2010). Para os acessos
pertencentes a este grupo botânico verificou-se uma variação de gomos variando de
superficial a profundo.
O segundo agrupo foi composto por seis subacessos que apresentaram
variações dentro do acesso subespécie agrestis grupos botânicos conomon (BGMEL
64b, BGMEL 109b) e momordica (BGMEL 77b); subespécie melo grupos botânicos
chandalak (BGMEL 80b) e cantalupensis (BGMEL 80b e BGMEL 85b) (Tabela 2 e
Figura 1). Contudo, nesse grupo houve uma segregação entre as progênies das
gerações S1 e S2. Para tanto, é importante considerar que todos os acessos que
formaram os quatro grupos distintos foram coletados em locais e épocas diferentes
no estado do Maranhão (Tabela 1). Considerando a grande segregação observada
nos acessos entre as duas gerações endogâmicas se depreende a introgressão de
diferentes caracteres devido ao manejo e intercâmbio de sementes pelos
agricultores.
A introgressão foi mais acentuada no terceiro grupo, pois, só foi possível
identificar a subespécie agrestis (BGMEL 64c, BGMEL 77c, BGMEL 82c, BGMEL 83c
e BGMEL 109c) e subespécie melo (BGMEL 85c, BGMEL 89c e BGMEL 99c) (Tabela
3 e Figura 1). Pitrat (2013) relata que na África e na Ásia, melões silvestres podem
ser observados crescendo próximo a campos de melões cultivados, e que
polinizações cruzadas podem ocorrer. Este fato tem sido observado decorrente da
aparição de alguns fenótipos intermediários recombinantes entre melões silvestres e
cultivados. Então, já que não há barreira de cruzamento, um dos fatores para não
determinação das variedades botânicas dos subacessos estudados nesta pesquisa
pode estar ligado intimamente à polinização cruzada, promovendo a fixação de
alelos devido à trocada de material genético entre grupos botânicos.
Já o último agrupo foi composto por seis subacessos indefinidos para as
subespécies e grupos botânicos BGMEL 77d, BGMEL 80d, BGMEL 82d, BGMEL 83d,
BGMEL 98d e BGMEL 109d. Para esta categoria, o descritor pilosidade do ovário
apresentou-se segregante na geração S2 (Tabela 3 e Figura 2), sendo esta
característica o indicador para distinguir as duas subespécies agrestis e melo
51
(JEFFREY, 1980). Além disso, analisando individualmente cada subacesso desse
grupo, pelos descritores de Pitrat et al. (2000), nas gerações S1 e S2 foi possível
identificar caracteres fenotípicos de diferentes grupos botânicos em heterozigose
(Tabelas 3 e Figura 1).
Tabela 3. Caracterização e classificação dos acessos nas respectivas subespécies
(ssp.), grupo botânico (GB) e descritores pilosidade do ovário (PO), expressão
sexual (ES), grau dos gomos (GG), cor das listas (CL), cor da polpa (CP), nas
gerações endogâmicas S1 e S2. Juazeiro-BA, 2015.
Acesso
ssp.
GB
PO
ES
GG
CL
C
M AN
0
0
2013 (S1)
BGMEL64c
agrestis
ND
C
M AN
0
0
2014 (S2)
C
M
0
1
0
2013 (S1)
BGMEL77c
agrestis
ND
C
M
01
0
2014 (S2)
C
M
AN
0
0
2013 (S1)
BGMEL82c
agrestis
ND
C
M AN
02
0
2014 (S2)
C
M
0
1
0
2013 (S1)
c
BGMEL83
agrestis
ND
C
M
01
0
2014 (S2)
L
M
0
0
2013
(S1)
BGMEL85c
melo
ND
L
M
0
0
2014 (S2)
L
M
0
1
2
0
2013
(S1)
BGMEL89c
melo
ND
L
M
01
0
2014 (S2)
L
M
AN
0
1
2
0
2013
(S1)
BGMEL99c
melo
ND
L
M AN
012
0
2014 (S2)
C
M
0
0
23
2013
(S1)
BGMEL109c agrestis
ND
C
M
AN
0
1
0
1
23
2014 (S2)
C
M
01
0
2013 (S1)
BGMEL77d
ND
ND
C
L
M
AN
0
1
0
2014 (S2)
AN
0
0
2013 (S1) C L
BGMEL80d
ND
ND
CL
M
AN
0
2
0
2014 (S2)
C
M AN
01
0
2013 (S1)
BGMEL82d
ND
ND
01
0
2014 (S2) C L M AN G
C
AN
0
0
2013 (S1)
BGMEL83d
ND
ND
AN
0
0
2014 (S2) C L
M
0
0
2013 (S1) C L
BGMEL98d
ND
ND
M
01
0
2014 (S2) C L
C
M
01
01
2013 (S1)
BGMEL109d
ND
ND
L
M
01
01
2014 (S2)
c
Subacessos identificados quanto a subespécies e indefinido para o grupo botânico.
d
Subacessos indefinidos quanto a subespécies e grupo botânico.
CP
1
1
1
13
2
24
123
123
23
23
123
13
12
12
12
12
2
123
12
123
2
123
2
24
2
2
12
134
Grupo botânico: ND - não definido. Pilosidade do ovário: C - curto, L - longo. Expressão
sexual: M - monóica, AN - andromonóica, G - ginomonóica. Grau dos gomos: 0 - ausente, 1
- superficial, 2- médio, 3 - profundo. Cor das listas: 0 - ausente, 1 - verde claro, 2 - verde
médio, 3 – verde escuro. Cor da polpa: 1 - branca, 2 - esverdeada, 3 - alaranjada, 4 creme.
52
Figura 2. Flores femininas de melão mostrando ovário com pelos curtos e
adensados típico da ssp. agrestis (A) e pelos longos referente à ssp. melo (B).
Juazeiro – BA, 2015.
Por exemplo, com relação ao último grupo observou-se que os subacessos
BGMEL
77d
e
BGMEL
80d
(Tabela
3)
apresentaram
expressão
sexual
compreendendo plantas monóicas e andromonóicas, grau de gomos, cor de polpa
esverdeada aproximando-se das características da var. melo cantalupensis, porém,
alguns frutos permaneciam com fenótipo característico da var. agrestis momordica,
expressando-se com polpa branca, mas sem a ruptura da epiderme para o
BGMEL77d, enquanto o subacesso BGMEL 80d apresentou ruptura (Figura 1).
Essa situação também foi verificada ao estudar outros subacessos. O
subacesso BGMEL 82d, apresentou na geração S1 a ocorrência de alguns frutos com
os descritores da var. agrestis makuwa (coloração da casca verde claro, sementes
pequenas amarelas, fruto com formato oval), bem como a presença de frutos com
outras características como polpa verde, baixo sólidos solúveis e algumas plantas
monóicas. Além disso, na geração S2 houve a expressão de plantas ginomonóicas,
com frutos de coloração de polpa alaranjada, o que também contribuiu para não
definição do grupo botânico desse subacesso (Tabela 3 e Figura 1).
Em relação ao subacesso BGMEL 83d alguns frutos expressaram
semelhanças fenotípicas aos grupos botânicos da var. agrestis conomon, var.
agrestis makuwa, var. agrestis chinensis (Tabela 3 e figura 1). Neste subacesso,
observou-se expressão sexual andromonóica e coloração da casca verde claro, que
são características comuns a todos estes grupos, porém, a coloração da polpa
esverdeada na geração S1 não corresponde às descrições dos dois primeiros grupos
citados (var. conomon
e var. makuwa), sendo condizente com o terceiro (var.
chinensis). Todavia ao se avaliar o formato do fruto, elíptico e oval, além da geração
53
S2 que apresentou coloração da casca amarelo claro e amarelo esverdeado, este
subacesso também se mostrou divergente para o grupo botânico chinensis.
Já para o subacesso BGMEL 98d suas características mostraram-se bastantes
condizentes com a var. melo cantalupensis, mas a ausência de gomos em alguns
frutos nas gerações S1 e S2, retirou deste agrupamento (Tabela 3 e Figura 1). O
último subacesso dessa categoria indefinida foi o BGMEL 109d. Este subacesso
apresentou características externas semelhantes a var. melo tibish, com frutos de
coloração da casca verde escuro, listas verde claro e coloração da polpa branca,
porém quando se analisou a expressão sexual e segregação de frutos, com
coloração de polpa esverdeada e ausência de listas, não foi possível defini–lo
quanto ao grupo botânico.
Com relação aos subacessos que não puderam ser identificados, uma
alternativa para separação quanto à subespécie e grupo botânico, será a realização
de novos ciclos de autofecundação com o objetivo de torná-los mais homozigotos
para os caracteres que definem os grupos botânicos. Desta forma, as variáveis
segregantes poderão estabilizar promovendo uma possível definição.
De acordo com Szamosi et al. (2010) a diversidade de espécies de culturas e
cultivares, constitui a base do princípio da agricultura, mas é ameaçada pelos
modernos métodos agrícolas intensivo. Este fato está relacionado com a utilização
de um reduzido número de variedades em grandes áreas, propiciando a redução do
cultivo de muitos fenótipos antigos e locais. Esta situação também tem ocorrido no
estado do Maranhão que faz parte da fronteira agrícola em expansão no Brasil, local
onde foram coletados os acessos avaliados desta pesquisa.
Neitzke et al. (2009) realizaram um estudo de caracterização morfológica e
dissimilaridade genética entre variedades crioulas de melão provenientes dos
estados do Sul do Brasil. Apesar de terem sido usados 26 descritores de fruto,
adaptados da listagem disponível em Esquinas-Alcazar (1983), não foram feitos
registros dos caracteres que são utilizados para a determinação das subespécies e
seus possíveis tipos botânicos.
Já Torres Filho et al. (2009) ao estudarem a caracterização morfológica de
acessos de meloeiro coletados no Nordeste brasileiro, utilizaram a classificação de
Munger e Robinson (1991), trabalhando uma amostra de 42 acessos de melão do
Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro. Neste
54
estudo, foi possível identificar 20 acessos cantalupensis, cinco conomon, nove
momordica, e oito não puderam ser identificados. Entretanto, a classificação de
Munger e Robinson (1991) é muito contrastante quando comparada à de Pitrat et al.
(2000), pois, em primeiro lugar não existe a distinção das duas subespécies (o
descritor de pilosidade não foi registrado), dividido em apenas uma variedade
silvestre e seis cultivadas. Em segundo lugar, não se leva em consideração as
variações dentro de cada subespécie. Dessa forma, os grupos identificados não
podem ser comparados com os dados do presente trabalho que se baseou na
classificação de Pitrat et al. (2000).
Aragão et al. (2013) realizaram o estudo da divergência genética de acessos
anteriormente estudados por Torres Filho et al. (2009), porém adotou a classificação
de Robinson & Decker-Walters (1997), além de ter utilizado marcadores
microssatélites e descritores morfológicos que contribuíram para a genotipagem de
dissimilaridade. Os dados mostram que não existiu associação entre os
agrupamentos
morfológicos
e
moleculares.
Em
conclusão,
houve
grande
variabilidade entre os acessos e dentro dos grupos botânicos. Quanto à
classificação botânica dos tipos existentes, apesar de classificações botânicas
diferentes os resultados foram os mesmos encontrados no estudo de Torres Filho et
al. (2009).
Vale ressaltar que em outros países diversos trabalhos já estão bem
estabelecidos quanto à identificação da subespécie e grupo botânico de Cucumis
melo (SZAMOSI et al., 2010; FERGANY et al., 2011; MANOHAR & MURTHY. 2012).
Porém, no presente estudo foi possível observar variabilidade para as variáveis
analisadas dentro dos grupos botânicos.
CONCLUSÕES
O estudo de fenotipagem permitiu estabelecer a distinção entre a subespécie e
grupos botânicos de uma parte dos melões provenientes do estado do Maranhão,
com fortes indicativos de introgressão de características das duas subespécies e de
seus diferentes grupos botânicos durante o manejo das sementes pelos agricultores.
55
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