Volume 8 - Centro de Genomas
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Volume 8 - Centro de Genomas
ISSN 1984-0780 Volume 8 - Número 1 - 2013 Tendências em HIV•AIDS Volume 8 - Número 1. 2013 Editor chefe Ricardo Sobhie Diaz – Universidade Federal de São Paulo Corpo editorial Adauto Castelo Filho – Universidade Federal de São Paulo André Lomar – Hospital Israelita Albert Einstein Artur Kalichman – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Artur Timerman – Hospital Heliópolis Breno Riegel – Hospital Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande do Sul Celso Spada – Universidade Federal de Santa Catarina Celso Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro Celso Francisco Hernandes Granato – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo David Salomão Lewi – Universidade Federal de São Paulo – Hospital Israelita Albert Einstein Eduardo Sprinz – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Érico A. Gomes de Arruda – Hospital São José de Doenças Infecciosas do Ceará Esper Georges Kallas – Universidade de São Paulo - USP Estevão Portella – Universidade Federal do Rio de Janeiro Giovana Lótici Baggio-Zappia – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Guido Levi – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo João da Silva Mendonça – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo José Luiz de Andrade Neto – Universidade Federal do Paraná Jeová Keny Baima Colares - Universidade de Fortaleza, Ceará. Jorge Simão do Rosário Casseb – Universidade de São Paulo, USP. Márcia Rachid – Assessoria de DST/AIDS da Secretaria do Estado do Rio de Janeiro Marcos Montani Caseiro – Fundação Lusíadas, Santos, SP Marcos Vitória – Organização Mundial de Saúde Marinella Della Negra – Instituto de Infectologia Emílio Ribas Paulo Feijó Barroso – Universidade Federal do Rio de Janeiro Paulo Roberto Abrão – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Reinaldo Salomão – Universidade Federal de São Paulo – Casa de Saúde Santa Marcelina Ricardo Pio Marins – Organização Panamericana de Saúde Rosana Del Bianco – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Shirley Cavalcante Vasconcelos Komninakis – Fundação Lusíadas, Santos – SP Simone Barros Tenore – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Unaí Tupinambás – Universidade Federal de Minas Gerais Valdez Madruga – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP SUMÁRIO EDITORIAL........................................................................................................................................................................................................... 7 AVALIAÇÃO DA PROGRESSÃO DA IMUNODEPRESSÃO EM PACIENTES COM HIV/AIDS EM RELAÇÃO À PRESENÇA DE MICOPLASMAS DO TRATO UROGENITAL.................................................................................................................................................. 8 Janaína Sampaio, Camila Fernandes Ceola, Lais Del Prá Neto Machado, Caio Mauricio Mendes de Cordova DIDANOSINA: UMA ATUALIZAÇÃO................................................................................................................................................................ 13 Giovana L. Baggio-Zappia, Celso Spada COEXISTÊNCIA DE LINFOMA PLASMABLÁSTICO E SARCOMA DE KAPOSI EM PACIENTE INFECTADO PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA.......................................................................................................................................................................................17 Ana Luiza de Castro Conde Toscano, Nadielle Queiroz da Silva CARCINOMA CERVICAL ASSOCIADO À HPV DE BAIXO RISCO: RELATO DE CASO............................................................................... 20 José Eduardo Levi Resumos de Dissertações e Teses.......................................................................................................................................................... 22 DESTAQUES: CROI 2013.................................................................................................................................................................................. 23 AGENDA............................................................................................................................................................................................................ 26 Atha Comunicação & Editora Planejamento Editorial, Diagramação e Produção Gráfica Rua Machado Bittencourt, 190 - Cep: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308 E-mail: [email protected] A responsabilidade sobre os artigos é exclusivamente de seus autores, e as opiniões apresentadas não refletem necessariamente a opinião desta publicação. EDITORIAL A cura da infecção pelo HIV ainda em pauta: cura funcional em um recém-nascido infectado pelo HIV Um dos grandes destaques da última Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (Persaud D, et al. CROI 2013. Abstract 48LB) foi à descrição da possível cura de uma criança infectada pelo HIV. Trata-se de uma criança nascida de mãe infectada por este vírus, mas que previamente não conhecia sua própria condição sorológica. A criança nasceu de parto vaginal espontâneo em uma idade gestacional estimada como sendo de 35 semanas. A infecção materna foi detectada durante o trabalho de parto e posteriormente confirmada. A infecção na criança foi confirmada usando PCR para DNA e carga viral para RNA do HIV-1 (19 812 cópias/mL de plasma) em duas amostras distintas coletadas 30 e 31 horas após o nascimento. Neste momento, com 30 horas de vida, a criança iniciou o tratamento antirretroviral com AZT/3TC e nevirapina. Após o sétimo dia de tratamento, a nevirapina foi substituída por lopinavir/ritonavir. A carga viral durante o tratamento apresentou uma queda bifásica típica, ou seja, um decaimento inicial rápido seguido de um decaimento mais lento. Este tipo de comportamento da carga viral no início de tratamento é muito sugestivo de que a infecção era legítima e não uma contaminação laboratorial da amostra da criança. Com menos de 30 dias de tratamento, a carga viral na criança estava indetectável, mantendo-se indetectável no exame com pouco menos de 80 dias de vida. Em torno do 16o mês de tratamento, houve suspeita de queda de adesão ao tratamento pelo comportamento hematimétrico dos exames de segurança e perdeu-se o seguimento da criança após consulta aos 18 meses de vida. A mãe retorna ao acompanhamento com a criança sem tratamento desde os 18 meses de vida no momento em que esta completava 24 meses de vida. Novas amostras de sangue foram então coletadas aos 24 e 26 meses de vida. Nestas coletas, o western blot da criança estava negativo e pesquisa de resposta especifica aos antígenos do HIV nas células CD4 e CD8 da criança estavam ausentes, sugerindo que o componente antigênico viral não estivesse mais presente. A carga viral foi indetectável nestas amostras usando-se testes ultrassensíveis com limite de detecção de 1 cópia/mL de plasma. A pesquisa de DNA viral foi negativa no mês 24 de vida e positiva no mês 26 revelando quatro copias de DNA do HIV/milhão de PBMC. Em tempo, a negativação do western blot entre recém-nascidos tratados muito precocemente pode realmente ocorrer, sendo que isto não signifique erradicação da infecção. A carga viral presente já no momento do nascimento poderia representar uma infecção ocorrida intraútero ou mesmo periparto em um momento muito próximo do nascimento, já que esta carga viral não era muito elevada como comumente se observa em crianças com transmissão vertical do HIV-1. Para melhor elucidar este caso é necessário saber se o PCR positivo para DNA do vírus reflete um estado de infecção legítima ou alternativamente seja decorrente da assim chamada “contaminação laboratorial” por produtos de PCR. Não é infrequente testes muito sensíveis de PCR sofrerem contaminações por produtos de PCR presentes no meio ambiente laboratorial, propiciando resultado falso positivo. Para a elucidação, basta à caracterização do vírus encontrado nesta amostra por sequenciamento genômico e análises filogenéticas subsequentes comparando a relação do vírus da criança com o vírus da mãe. Se o vírus nesta amostra de sangue encontrado no mês 26 de vida não for relacionado ao vírus materno, trata-se de contaminação laboratorial. Com exemplo, foram descritos no passado casos de aparecimento transitório de vírus em amostraw s de crianças nascidas de mães infectadas pelo HIV, sugerindo que algumas crianças poderiam de fato eliminar espontaneamente a infecção pelo HIV.1,2 Isto tudo sem tratamento antirretroviral. Posteriormente quando foram feitas as análises filogenéticas ficou comprovado que os vírus presentes nestas amostras eram diferentes dos vírus maternos e, portanto estas crianças nunca estiveram de fato infectadas.3 Mais recentemente, amostras do paciente que se curou após transplante de medula4 também apresentaram resultados de PCR positivos, desafiando a hipótese de cura esterilizante da infecção pelo HIV neste caso.5 Ficou aqui novamente comprovado que se tratava de contaminação laboratorial (Michael P. Busch, informação pessoal). Em outras palavras, se no caso desta criança o PCR positivo se tratar de contaminação laboratorial, poderemos estar frente a um caso de cura esterilizante e não somente de cura funcional, como ocorre entre os pacientes denominados controladores de elite. Entretanto, se o perfil viral da amostra desta criança for relacionado filogeneticamente ao vírus presente atualmente na mãe, em minha opinião pode-se concluir que esta criança está ainda infectada, e em algum momento este vírus sairá da “latência” e se manifestará plenamente aumentando seus índices de replicação. De qualquer forma, na presença da possibilidade real de cura, o que pessoalmente acho que ocorreu neste caso, a mensagem sólida a ser divulgada é somente uma: vale a pena o tratamento precoce das crianças infectadas e mesmo dos pacientes com infecção aguda. Ricardo Sobhie Diaz Referências 1. Bryson YJ, Pang S, Wei LS, Dickover R, Diagne A, Chen IS. Clearance of HIV infection in a perinatally infected infant. N Engl J Med. 1995 Mar 30;332(13):833-8. 2. Roques PA, Gras G, Parnet-Mathieu F, Mabondzo AM, Dollfus C, Narwa R, Marcé D, Tranchot-Diallo J, Hervé F, Lasfargues G, et al. Clearance of HIV infection in 12 perinatally infected children: clinical, virological and immunological data. AIDS. 1995 Dec;9(12):F19-26. 3. Frenkel LM, Mullins JI, Learn GH, Manns-Arcuino L, Herring BL, Kalish ML, Steketee RW, Thea DM, Nichols JE, Liu SL, Harmache A, He X, Muthui D, Madan A, Hood L, Haase AT, Zupancic M, Staskus K, Wolinsky S, Krogstad P, Zhao J, Chen I, Koup R, Ho D, Korber B, Apple RJ, Coombs RW, Pahwa S, Roberts NJ Jr. Genetic evaluation of suspected cases of transient HIV-1 infection of infants. Science. 1998 May 15;280(5366):1073-7. 4. Allers K, Hütter G, Hofmann J, Loddenkemper C, Rieger K, Thiel E, Schneider T. Evidence for the cure of HIV infection by CCR5Δ32/Δ32 stem cell transplantation. Blood. 2011 Mar 10;117(10):2791-9. doi: 10.1182/blood-2010-09-309591. 5. Yukl SA, Chun T, Strain MC, Siliciano J, Eisele E, Buckheit R, Ho YC, Wong JK, Busch MP, Hütter G, Richman DD, Siliciano RF, Deeks SG. Challenges inherent in detecting HIV persistence during potentially curative interventions. International Workshop on HIV & Hepatitis Virus Drug Resistance and Curative Strategies, Sitges, Spain, June 5-9, 2012. 7 Artigo de Original Avaliação da progressão da imunodepressão em pacientes com HIV/AIDS em relação à presença de micoplasmas do trato urogenital Assessment of immunosuppression progress in patients with HIV/AIDS in the presence of urogenital tract mycoplasmas Janaína Sampaio1, Camila Fernandes Ceola1, Lais Del Prá Neto Machado1, Caio Mauricio Mendes de Cordova1 1. Universidade de Blumenau, Departamento de Ciências Farmacêuticas. Correspondência: Caio M. M. de Cordova, Universidade de Blumenau, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Rua São Paulo 2171, Campus III, CEP 89030-000, Blumenau, SC. Brasil. [email protected] RESUMO Há duas décadas os micoplasmas (molicutes) foram aventados como possíveis cofatores do HIV no desenvolvimento da AIDS, o que nunca foi devidamente comprovado, ao contrário do que ocorreu com Mycobacterium tuberculosis. O objetivo deste trabalho foi avaliar a progressão da imunodepressão em pacientes com HIV/AIDS com resultado positivo ou negativo para molicutes do trato urogenital. Foram realizadas culturas de molicutes e análise de prontuários de 80 pacientes infectados pelo HIV atendidos pelo sistema público de saúde. Foram levantados dados de níveis de células CD4, CD8, relação CD4/CD8, carga viral e possíveis infecções oportunistas/co-infecções no período de janeiro de 2008 a junho de 2011. Trinta pacientes (37,5%) apresentaram cultura positiva para molicutes. Não foi observada diferença significativa nos resultados de células CD4, CD8 e relação células CD4/CD8 entre os pacientes com e sem molicutes. Não houve diferença entre presença/ausência de infecção oportunista em nenhum dos grupos estudados. Porém, foi observada uma maior carga viral (P=0,007) nos pacientes com mollicutes, o que provavelmente se deve às suas propriedades de induzir a replicação do HIV. Aparentemente o período estudado (3,5 anos) ainda não foi suficiente para avaliar adequadamente a relação da infecção por mollicutes e uma eventual piora na progressão da imunodepressão. Descritores: HIV, AIDS, micoplasmas, Mycoplasma sp., Ureaplasma sp., molicutes. Abstract Two decades ago the mycoplasmas (mollicutes) were suggested as potential co-factors of HIV in the development of AIDS, but this relationship has never been clearly demonstrated, on the contrary to what happened with Mycobacterium tuberculosis. The aim of this study was to evaluate the progression of immunosuppression in patients with HIV/AIDS who tested positive/ negative for urogenital mycoplasmas. We performed mollicute cultivation and analysis of medical records of 80 HIV-infected patients attending the public health system. We collected data about CD4 and CD8 cells count, CD4/CD8 relation, viral load and possible opportunistic infections from January 2008 to June 2011. Thirty patients (37.5%) had positive culture for mollicutes. There was no significant difference for results of CD4, CD8 and CD4/CD8 cells between patients with and without mollicutes. There was no difference between the presence/absence of opportunistic infections in either studied group. However, we observed a higher viral load (P=0.007) in patients with mollicutes, what is probably due to its properties of inducing HIV replication. Apparently the length of the study (3.5 years) was not enough yet to properly evaluate the relationship between mollicute infection and an eventual worst outcome of the immunosuppression. Keywords: HIV, AIDS, mycoplasmas, Mycoplasma sp., Ureaplasma sp., mollicutes. INTRODUÇÃO A incidência de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) apresentou um declínio na década de 1980 e no início da década de 1990, refletindo as mudanças no comportamento sexual em resposta a epidemia da infecção pelo HIV. Mas estas modificações não foram mantidas, e a partir de meados da década de 1990 observou-se a reincidência das patologias de transmissão sexual. Gravidez, nascimento a termo e fertilidade são também afetados pela presença de DSTs, tornando-se fundamental a investigação de microrganismos como Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, Cândida sp, 8 Trichomonas vaginalis, e os micoplasmas, ou molicutes1. Os micoplasmas e ureaplasmas fazem parte da classe Mollicutes. Suas características mais peculiares são a ausência de parede celular e o genoma reduzido. Constituem um grande grupo de microrganismos responsáveis por uma série de doenças nos animais, nas plantas e no homem, notadamente doenças sexualmente transmissíveis2. Por muitos anos, as espécies de molicutes reconhecidas como patógenos humanos do trato geniturinário (TGU) estavam restritas a Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum, e M. pneumoniae no trato respiratório. A partir da década de 1980 foi isolada Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 8 - 12) uma nova espécie de micoplasma do trato urogenital de homens com uretrite não gonocócica, Mycoplasma genitalium. M. genitalium está fortemente associado à uretrite não gonocócica aguda, o que hoje já é bastante reconhecido3. No final da década de 1980, M. fermentans, uma espécie isolada do trato urogenital no início dos anos 50, mas considerado infrequente neste sítio, foi isolado de lesões de Sarcoma de Kaposi de um paciente com AIDS, classificado como cepa incognitus de M. fermentans. Outros casos de coinfecção foram relatados a partir de células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) e de amostras de urina, o que demonstrou M. fermentans como o primeiro micoplasma invasivo no homem4. Análises in vitro sugerem que M. fermentans e outros micoplasmas podem induzir a replicação do HIV. A evidência clínica da coinfecção aliado às observações dos pesquisadores criou-se a hipótese de que esses microrganismos podem ter um papel no desenvolvimento da AIDS5. M. fermentans foi detectado também em pacientes com doenças respiratórias severas, algumas vezes fatais, especialmente em indivíduos imunodeprimidos, nos quais pode ainda ser responsável por doenças mais invasivas, como nefropatias e doenças respiratórias6. M. penetrans é a espécie de micoplasma mais recentemente identificada infectando o homem, tendo sido também isolada da urina de pacientes com AIDS. Sua alta soroprevalência nestes pacientes em comparação a indivíduos HIV-negativos7, juntamente com suas propriedades in vitro de potente ativadores do sistema imune e de estimuladores da expressão de genes do HIV LTR-dependentes, sugerem M. penetrans como eventual cofator do HIV no desenvolvimento da AIDS8. Há alguns anos, Grau et al puderam sugerir uma associação entre infecção ativa por M. penetrans e a progressão da AIDS, avaliando a progressão da imunossupressão com base na prevalência de anticorpos anti-M. penetrans9. Entretanto, a relação da infecção por molicutes e uma eventual piora na progressão da AIDS nunca pode ser devidamente comprovada. Colaboram com estas dificuldades o reduzido número de pesquisadores devotados à micoplasmologia clínica humana ao redor do mundo e o baixo apelo dos molicutes do trato urogenital junto às agências de fomento, devido a baixa letalidade de suas infecções. Além disso, estudos tem demonstrado que a pesquisa das espécies emergentes de molicutes (M. genitalium, M. fermentans e M.penetrans) somente apresenta resultados positivos com a utilização de métodos moleculares, como a Reação em Cadeia da Polimerase.10 A investigação da infecção por espécies emergentes de micoplasmas e sua eventual relação com a progressão da AIDS em indivíduos infectados pelo HIV de nossa população pode ter grandes impactos na qualidade de vida destes indivíduos. A compreensão desta relação parasita/ hospedeiro pode contribuir para o melhor entendimento destas infecções, e na redução de sua morbidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar a progressão da imunodeficiência em pacientes com HIV/AIDS que tiveram resultado positivo para micoplasmas do trato urogenital, em relação aos pacientes infectados pelo vírus que apresentaram resultado negativo na pesquisa de molicutes. MATERIAL E MÉTODOS Pacientes Foram avaliados os resultados de 80 pacientes infectados pelo HIV atendidos pelo sistema público de saúde do município - Ambulatório Municipal DST/AIDS de Blumenau/SC. Os dados foram categorizados em dois grupos: indivíduos com resultado negativo na pesquisa de molicutes do trato urogenital (Myco-), e indivíduos Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 8 - 12) com resultado positivo na pesquisa de molicutes (Myco+). O presente trabalho foi financiado pela FAPESC (Edital 08/2006), e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade de Blumenau sob o protocolo n.155/06. Amostras Foram obtidas amostras de primeiro jato urinário de homens (n=38) e mulheres (n=42) atendidos no Ambulatório Municipal DST/AIDS mediante Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE. As amostras foram mantidas sob refrigeração (4ºC) e encaminhadas ao laboratório para cultura em no máximo 48 horas7. CULTURA DE MICOPLAMAS As amostras obtidas foram cultivadas de acordo com metodologia padronizada em meio líquido de uréia (U10), meio líquido de arginina (MLA) e meio SP4, com incubação em condições de 2-3% de CO2 por no mínimo 48 horas a 37º C. As culturas que não apresentaram crescimento após sete dias de cultivo (30 dias para o meio SP4), foram consideradas negativas. A identificação destes microrganismos foi baseada na utilização de substratos específicos utilizados no seu metabolismo. O crescimento de Ureaplasma sp. observou-se pela alcalinização do meio U10 pela quebra da uréia em amônia no metabolismo energético do microrganismo, mudando a cor do indicador vermelho de fenol do alaranjado original para avermelhado; o crescimento de M.hominis observou-se da mesma forma pela deaminação da arginina gerando amônia no metabolismo energético do microrganismo, e o crescimento de M. fermentans, M. penetrans ou M. genitalium no meio SP4 observou-se pela acidificação do meio pela utilização da glicose no seu metabolismo energético7. IDENTIFICAÇÃO DE MOLICUTES POR PCR As culturas que apresentaram crescimento do meio SP-4 foram submetidas a extração de DNA e amplificação por PCR com oligonucleotídeos específicos para M. penetrans, M. fermentans e M. genitalium para identificação, como previamente descrito11. ANÁLISE DE PRONTUÁRIOS Foram avaliados nos prontuários dos pacientes no período de janeiro de 2008 a junho de 2011 o número de células CD4 e CD8, relação células CD4/CD8, carga viral do HIV e presença ou ausência de infecções oportunistas/co-infecções, possibilitando uma análise em longo prazo da eventual oscilação do sistema imune destes pacientes. Os referidos exames foram realizados no Laboratório Central de Saúde Pública – LACEN em Florianópolis, SC, pelas metodologias padronizadas no Programa DST/ AIDS em âmbito nacional. ANÁLISE ESTATÍSTICA Para as análises de significância estatística, foi utilizado o Teste t de Student unicaudal homocedástico com o auxílio do programa Microsoft Excel™ (Microsoft Corporation, Redmond, WA, USA). Foram avaliados os resultados de CD4, CD8, relação CD4/CD8 e carga viral entre os grupos de pacientes infectados por molicutes (Myco+) e não infectados (Myco-) em cada semestre e também de maneira global ao longo de todo o estudo, de modo a identificar eventuais diferenças nos níveis destes parâmetros entre os dois grupos. 9 RESULTADOS Na população estudada, 30 pacientes apresentaram resultado positivo na pesquisa de molicutes (37,5%) e 50 pacientes (62,5%) apresentaram resultado negativo. Não houve diferença de positividade entre homens e mulheres. Dentre as amostras de urina que apresentaram crescimento, 21 apresentaram positividade para Ureaplasma sp. no meio líquido de ureia (U10), 23 apresentaram positividade em meio líquido de Arginina indicando o crescimento de Mycoplasma hominis, e sete apresentaram crescimento em meio SP4. Nestas sete amostras foi identificada por PCR a presença de M. penetrans. Os pacientes que apresentaram positividade nas culturas para molicutes foram subdivididos em grupos de acordo com o meio de cultura no qual apresentaram crescimento (Tabela 1). Tabela 1. Média e desvio padrão (entre parêntesis) dos resultados de células CD4 e CD8, relação células CD4/CD8 e carga viral obtidos semestralmente (2008-1 a 2011-1) nos grupos estudados em relação ao molicute identificado. CD4 (cels/mm3) Grupo 2008-1 2008-2 2009-1 2009-2 2010-2 2011-1 n=50 Myco(-) 560 (302) 606 (393) 647 (465) 653 (419) 713 (425) 888 (480) 828 (446) n=30 Myco(+) 561 (279) 554 (303) 621 (347) 662 (348) 719 (396) 844 (433) 762 (399) n=23 Mh/Uu(+) 574 (203) 556 (261) 584 (225) 707 (336) 706 (410) 893 (354) 817 (404) n=7 SP4(+) 513 (518) 547 (481) 739 (625) 502 (375) 826 (354) 718 (627) 565 (347) n=50 Myco(-) 1175 (685)1237 (569) 1096 (366) 1388 (658) 1414 (701) 1435 (450) 1389 (671) n=30 Myco(+) 1231 (641)1156 (362) 1097 (552) 1264 (577) 1102 (486) 1412 (566) 1467 (907) n=23 Mh/Uu(+) 1284 (642)1115 (364) 1003 (440) 1296 (587) 1102 (486) 1509 (608) 1609 (947) n=7 SP4(+) 991 (822) 1489(*) 1566 (1042) 1084 (594) n=50 Myco(-) 0,66 (0,57)0,60 (0,37) 0,59 (0,37) 0,63 (0,41) 0,66 (0,33) 0,66 (0,30) 0,75 (0,46) n=30 Myco(+) 0,52 (0,28)0,56 (0,28) 0,67 (0,29) 0,58 (0,28) 0,65 (0,31) 0,77 (0,49) 0,63 (0,37) n=23 Mh/Uu(+) 0,54 (0,24)0,53 (0,29) 0,68 (0,30) 0,61 (0,29) 0,74 (0,36) 0,78 (0,37) 0,67 (0,38) n=7 SP4(+) 0,41 (0,54) 0,81 (*) 0,60 (0,29) 0,44 (0,17) 0,09 (*) 0,73 (0,64) 0,44 (0,29) n=50 Myco(-) 14124 (36811) 2959 (8269) 21410 (85550) 9101 (34813) 14395 (43698) 1988 11216 (59929) (7485) n=30 Myco(+) 3007 (5240) 39382 (87077) 23787 36671 (52662) (104692) 12894 (37163) 32649 10965 (33023) (66581) n=23 Mh/Uu(+) 3784 (5677) 42002 (94690) 11473 (31984) 16584 (45970) 5000 (10628) 28897 12096 (36845) (73738) 94 (151) 29555 (59072) 63192 121036 (86502) (216613) 52361 (90247) 42403 6893 (14202) (48620) CD8 (cels/mm3) 2010-1 (**) Não houve diferença (P>0,05) nos resultados de células CD4 entre os diferentes grupos, como mostra a (Figura 1). Porém observou-se um aumento das células CD4 ao decorrer do tempo para todos os pacientes. No segundo semestre de 2010 a contagem de células CD4 atingiu a maior média, 800 células/mm³ tanto em pacientes positivos quanto em pacientes negativos para molicutes. A média de células CD8 entre os dois grupos estudados também não apresentou diferença (P>0,05) entre os dois grupos, mas analisando a contagem de células CD8 do primeiro semestre de 2008 com o primeiro semestre de 2011 houve um aumento dessas células nos dois grupos estudados (Figura 2). Não houve diferença entre a relação de células CD4/CD8 entre os dois grupos, mas houve um pequeno aumento desta relação durante o período do estudo. No primeiro semestre de 2008 a média da relação células CD4/CD8 no grupo de pacientes positivos para molicutes era de 0,52 enquanto no primeiro semestre de 2011 foi de 0,63 para o mesmo grupo (figura 3). Considerando o tempo do estudo (3,5 anos), os pacientes com molicutes tiveram resultados de carga viral mais alta (P=0,007) do que os pacientes sem molicutes, notadamente nos semestres 2008-2 (P=0,017) e 2012-2 (P=0,004). Foram observados picos de carga viral durante o estudo, e segundo semestre de 2008 apresentou a maior contagem de carga viral com uma média de quase 40.000 cópias/mL; o segundo semestre de 2009 uma média de 35.000 cópias/ mL e segundo semestre de 2010 uma média de 30.000 cópias/ mL (figura 4). Não houve diferença entre presença/ausência de doenças oportunistas/co-infecções em nenhum dos grupos estudados, conforme demonstra a (figura 5). 1153 (414) 854 (297) CD4/CD8 Figura 1. Relação dos resultados de células CD4 (células/mm³) entre pacientes com presença (Myco+) ou ausência (Myco-) de molicutes, do primeiro semestre de 2008 ao primeiro semestre de 2011. Carga Viral (copias/mL) n=7 SP4(+) (*) semestre onde menos de 2 pacientes tiveram resultados disponíveis. (**) semestre onde nenhum paciente teve resultado disponível. Mh/Uu (+) - Positividade para M. hominis ou Ureaplasma urealyticum SP4 (+) - Meio de cultura SP4 acidificado indicando positividade para M. penetrans confirmado por PCR. 10 Figura 2. Relação dos resultados de células CD8 (células/mm³) entre pacientes com presença (Myco+) ou ausência (Myco-) de molicutes, do primeiro semestre de 2008 ao primeiro semestre de 2011. Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 8 - 12) Entre os pacientes positivos para molicutes, 17 pacientes (56,7%) obtiveram algum tipo de infecção oportunista e 13 pacientes (43,3%) não apresentaram nenhum tipo de doença oportunista/co-infecção no período estudado. No grupo de pacientes com resultado negativo para molicutes, 23 (46%) apresentaram infecção oportunista e 27 (54%) ausência de infecção oportunista. As doenças oportunistas/co-infecções relatadas foram herpes (71%), Lactobacillus sp. (8%), Gardnerella vaginalis e neurotoxoplasmose (5%), pneumocistose, citomegalovírus, toxoplasmose e hepatite C (3%). DISCUSSÃO Figura 3. Resultados da relação de células CD4/CD8 entre pacientes com presença (Myco+) ou ausência (Myco-) de molicutes, do primeiro semestre de 2008 ao primeiro semestre de 2011. Figura 4. Relação dos resultados de carga viral (cópias/mL) entre pacientes com presença (Myco+) ou ausência (Myco-) de molicutes, do primeiro semestre de 2008 ao primeiro semestre de 2011. Figura 5. Relação da presença ou ausência de doenças oportunistas entre pacientes com micoplasma, sem micoplasma, pacientes positivos para Mycoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum e meio de cultura SP4 positivo. O meio de cultura SP4 positivo é devido a presença de Mycoplasma penetrans. Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 8 - 12) Durante o período do estudo foi nítido o aumento dos níveis de células CD4, bem como da relação de células CD4/CD8 em todos os pacientes, o que possivelmente está relacionado com a melhora clínica dos indivíduos infectados pelo HIV, refletindo o sucesso do tratamento e acompanhamento dos mesmos no serviço público de saúde. Pacientes com HIV infectados por molicutes apresentaram níveis mais altos de carga viral. Como já foi demonstrado, molicutes aumentam a replicação do vírus, in vitro 5. Entretanto, aparentemente não ocorre uma maior degradação do sistema imune nos pacientes infectados com essas espécies de molicutes. A maior carga viral do HIV nos pacientes infectados com molicutes provavelmente se deve às propriedades, já demonstradas ao menos para M. penetrans e M. fermentas, de induzir a replicação viral8. Independente da espécie de mollicute presente, sua infecção pode estar contribuindo com a replicação do HIV. Com relação aos picos de carga viral observados, é possível que essa observação se deva a erros analíticos, ou mais provavelmente, variabilidade pré-analítica no processo. Apesar de ser conhecida a incidência de flutuações na carga viral dos pacientes infectados pelo HIV, sem causa muito bem estabelecida, os chamados blips12, com a melhora da padronização dos testes laboratoriais, houve uma diminuição da proporção dos erros analíticos das dosagens, porém, os erros pré-analíticos se pronunciaram13. Nesse sentido, variabilidade pré-analítica significativa pode ser observada na determinação da carga viral do HIV caso certas condições críticas não sejam estritamente observadas, como demora de mais de 2 horas para centrifugação dos tubos e separação do plasma14, variabilidade no tempo de análise das amostras15, e até a presença de células e ácidos nucleicos associados ao HIV no plasma pela centrifugação dos tubos antes do transporte até o laboratório16. A possibilidade destas variáveis pré-analíticas estarem interferindo com os resultados do presente estudo, tanto negativa quanto positivamente, infelizmente não pode ser descartada. Pacientes com molicutes não apresentaram incidência maior de doenças oportunistas do que em pacientes sem micoplasmas. Portanto, estes dados não corroboram com uma eventual hipótese de que os micoplasmas sejam apenas meros oportunistas na infecção pelo HIV. A cronicidade da infecção pelo HIV e a atual longevidade dos pacientes devido ao grande avanço da terapêutica evidenciam a necessidade de um acompanhamento mais prolongado destes indivíduos, investigando de maneira 11 mais aprofundada a relação da infecção por micoplasmas na progressão da AIDS. CONCLUSÕES Ao longo dos três anos e meio deste estudo, foi possível demonstrar que pacientes com HIV co-infectados com molicutes no trato urogenital apresentam carga viral mais alta do que pacientes sem molicutes. Estudos adicionais, avaliando um período de tempo maior, podem fornecer informações mais precisas sobre a possibilidade de uma degradação mais rápida do sistema imune destes indivíduos eventualmente relacionada à infecção por molicutes. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Universidade Regional de Blumenau, ao órgão financiador FAPESC e ao Ambulatório Municipal DST/AIDS de Blumenau/SC por permitirem a realização deste estudo. REFERÊNCIAS 1. Jaiyeoba O, Lazenby G, Soper DE. Recommendations and rationale for the treatment of pelvic inflammatory disease. Expert Rev Anti Infect Ther. 2011;9(1):61-70. 2. Razin S, Yogev D, Naot Y. Molecular biology and pathogenicity of mycoplasmas. Microbiol. Mol. Biol. Rev. 1998;62(4):1094-156. 3. Bradshaw CS, Tabrizi SN, Read TR, Garland SM, Hopkins CA, Moss LM, Fairley CK. Etiologies of nongonococcal urethritis: bacteria, viruses, and the association with orogenital exposure. J. Infect. Dis. 2006;193(3):336-45. 4. 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Didanosine was already tested in monotherapy, in double or triple therapy, showing satisfactory results. When used in its conventional formulation, didanosine is administered with antacids, which causes undesirable gastrointestinal effects. This article revisits this antiretroviral and presents data from studies that evaluated enteric coated didanosine that presents some advantages in relation to the conventional formulation. Keywords: Didanosine, Enteric-Coated Capsules, HIV. A Didanosina “de 1985” A didanosina (ddI) é um nucleosídeo análogo da desoxiadenosina que se comporta como um inibidor da replicação dos vírus HIV-1 e HIV-2, incluindo as cepas resistentes à zidovudina (AZT). Historicamente, a didanosina era conhecida por inibir a atividade da DNA polimerase de E. coli. Em 1985, Michya e colaboradores, descobriram que a didanosina era capaz de inibir a replicação do HIV, sendo que a toxicidade desse fármaco, quando comparada à toxicidade da zidovudina, era relativamente baixa1. Intracelularmente, a didanosina é convertida pela enzima 5-nucleotidase em dd-IMP (dideoxytinosina 5 monofosfato) que por fim é metabolizada em sua forma ativa dd-ATP (2´, 3´ dideoxyadenosina 5´ trifosfato), funcionando como um competidor do substrato dATP da enzima transcriptase reversa viral e por esse motivo caracterizada como um inibidor competitivo1-3. A ddI é indicada no tratamento de pacientes adultos com infecção avançada pelo HIV, que receberam terapia prévia com zidovudina. Esta indicação baseia-se em resultados de estudos comparativos em pacientes adultos que receberam pelo menos dois meses de tratamento prévio com zidovudina. A didanosina também pode ser utilizada em tratamentos iniciais para os pacientes intolerantes à zidovudina, abacavir ou tenofovir. No ACTG A51994 os autores compararam os efeitos neurológicos e neuropsicológicos de três regimes antirretrovirais a) lamivudina+zidovudina+efavirenz, N = 289; b) atazanavir+emtricitabina+didanosina-EC, N = 293 e c) emtricitabina+-tenofovir+disoproxil fumarato+efavirenz, N = 278, em coortes de pacientes do Brasil, África do Sul, Índia, Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 13 - 6) Malawi, Peru, Tailândia e Zimbabue. O estudo não observou diferenças entre os esquemas testados, porém, demonstrou que houve melhora significativa nas funções cognitivas ao longo do tratamento. Estes dados demonstram que os 3 regimes foram adequados para o tratamento dessas disfunções e que a terapia com didanosina pode ser empregada como tratamento inicial, considerando que o uso inferior ou igual a 7 dias de tratamento prévio no momento da admissão no protocolo foi um dos critérios de elegibilidade para inclusão dos pacientes no estudo. O papel da didanosina no tratamento da infecção pelo HIV é indiscutível. Embora os Guidelines atuais não recomendem a monoterapia para o tratamento da infecção pelo HIV, estudos demonstraram que a ddI é capaz de inibir a replicação viral de forma eficiente, quando em monoterapia5. Atualmente, ddI é utilizada em conjunto com outros fármacos para compor o esqueleto análogo nucleosídeo da HAART. A atividade da ddI é adicional ou sinérgica à de outras drogas antirretrovirais, propriedade que aumenta o potencial de supressão e resposta terapêutica em regimes combinados6. A segurança e eficácia da ddI utilizada em combinação com outros agentes tem sido demonstrada em adultos e crianças com infecção inicial ou avançada pelo HIV, sendo esta eficácia geralmente sustentada no longo prazo, com efeitos consistentes sobre a carga viral. A ddI apresenta perfil farmacocinético favorável, toxicidade aceitável e baixa propensão para interações medicamentosas7,8. A eficácia dos fármacos antirretrovirais é limitada e variável, devido à toxicidade dessa classe de medicamentos, bem como pela propensão ao desenvolvimento de resistência 13 viral. O tratamento de pacientes HIV tem como necessidade não somente a eficácia clínica e a pouca susceptibilidade à mutações, mas também a tolerabilidade no longo prazo8. Em um estudo de seguimento de cinco anos, Nguyen e colaboradores9 avaliou uma coorte de 72 pacientes em estágio avançado de infecção pelo HIV e concluíram que a ddI foi eficaz e bem tolerada por mais de quatro anos. Isolados do HIV-1 com sensibilidade reduzida à didanosina foram selecionados a partir de culturas celulares e obtidos de pacientes tratados com didanosina, sendo que as análises dos isolados de pacientes tratados com ddI apresentaram mutações no gene da transcriptase reversa resultando nas substituições dos aminoácidos K65R, L74V e M184V; a mutação L74V foi mais frequente em isolados clínicos10. De acordo com Moreno e cols11, a didanosina pode selecionar para mutações de resistência, tornando-se ineficaz; L74V e K65R permanecem como as principais mutações relacionadas à didanosina. Isolados de HIV-1 de pacientes recebendo terapia combinada por mais de dois anos com zidovudina e didanosina apresentaram resistência cruzada para didanosina, lamivudina, estavudina, zalcitabina e zidovudina em culturas celulares. Estes isolados apresentaram as mutações A62V, V71I, F77L, F116Y e Q141M no gene da transcriptase reversa, sendo que dados de estudos clínicos revelaram que a presença de mutações de análogos de timidina M41L, D67N, L210W, T215Y, K219Q podem diminuir a resposta à didanosina10. Quando comparada com os demais análogos de nucleosídeos, a didanosina apresenta melhor barreira genética, como pode ser demonstrado por dados dos estudos START I e II12. Neste estudo, os indivíduos foram divididos em dois grupos que receberam, aleatoriamente, um regime contendo lamivudina e outro contendo didanosina. A mutação M184V foi encontrada em 50% dos pacientes que receberam o regime contendo lamivudina, enquanto os pacientes que receberam a didanosina no regime não apresentaram essa assinatura. Apesar de ser análogo de uma das bases purínicas, a ddI não suprime a proliferação de células da medula óssea, que é o maior efeito adverso dos demais inibidores da transcriptase reversa. O principal efeito colateral do tratamento com ddI é a pancreatite, enquanto a insuficiência hepática é uma contingência que ocorre em menor grau, assim como a despigmentação de retina em pacientes pediátricos13,14 e mais raramente, em indivíduos adultos15,16. A neuropatia periférica também foi verificada em pacientes tratados com ddI. Manifestações graves de toxicidade mitocondrial, incluindo acidose lática e distribuição anormal de gordura são complicações raras e ocorrem mais frequentemente quando a didanosina é usada em combinação com a estavudina. A didanosina é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica; estudos relatam que a ddI pode ser um fator contribuinte na demência relacionada à AIDS17,18, porém, estudos mais recentes demonstraram que as ddI não atinge concentrações terapêuticas nesse compartimento, o que indica que não contribui para esse efeito. É importante o alerta para a ocorrência de acidose lática fatal quando a didanosina é administrada com estavudina em mulheres grávidas10. Pancreatite fatal pode ocorrer durante o tratamento com ddI, sendo a frequência dose-dependente 14 e a incidência de 1 a 7% entre os pacientes tratados com a dose recomendada8,10. Na sua forma convencional a ddI é administrada em comprimidos tamponados com o objetivo de evitar a sua desacetilação, e consequente desativação, quando exposta ao pH ácido do estômago. Para contornar esse problema, a administração da ddI com antiácidos, como o hidróxido de magnésio e o carbonato de cálcio, para aumentar o pH gástrico, está associada a efeitos colaterais como constipação, diarreia e dores abdominais, enquanto o uso contínuo está ligado à ocorrência de problemas renais, sendo contra indicado para pacientes com histórico de doença renal18. Além desses efeitos colaterais, o uso de altas doses de antiácidos está associado à diminuição da biodisponibilidade de determinados fármacos como cetoconazol e à formação de precipitados insolúveis quando da administração com tetraciclinas e quinolonas. Os efeitos inibitórios da ddI sobre fármacos cuja absorção depende do nível de acidez do estômago podem ser minimizados ou mesmo neutralizados pela administração desses medicamentos com um intervalo de pelo menos 2 horas antes da ddI19,20. Gastroproteção para formulações de ddI: a nova didanosina Durante a década de 90, procurando diminuir os efeitos colaterais provocados pela forma farmacêutica convencional da ddI21, a indústria farmacêutica iniciou os estudos de gastroproteção em grânulos de ddI e o encapsulamento do fármaco em lipossomas. A farmacêutica Bristol-Myers Squibb, já em 2001, foi a pioneira na produção de ddI em cápsulas gastrorresitentes, lançando no mercado o medicamento Videx EC, aprovado em outubro de 2000, pelo FDA nos Estados Unidos. Não é novidade que a adesão do paciente ao tratamento é um dos fatores diretamente relacionados à efetividade do tratamento antirretroviral. Quanto mais complexo e quanto maiores as mudanças que a tomada dos medicamentos provocar na rotina do paciente, menores serão as chances de adesão ao tratamento no médio a longo prazo. Nesse sentido, a ddI EC oferece a possibilidade de uso da didanosina em dose única diária, associada a outros antirretrovirais com essa mesma característica, facilitando a adesão ao tratamento. Diversos estudos mostram os benefícios farmacocinéticos que levaram a comodidade de administração uma vez ao dia, e a ausência de efeitos colaterais indesejáveis, decorrentes dos antiácidos1,10,11,22,23. Estudos avaliando a administração da ddI uma vez ao dia demonstraram que a dosagem diária, ao invés do esquema de dosagem, pode ser uma determinante mais importante da resposta terapêutica24. Gathe e colaboradores25, em estudo multicêntrico, avaliaram a segurança da formulação de didanosina com revestimento entérico (400 mg/dia) no esquema com estavudina (40 mg/duas vezes ao dia) e nelfinavir (750 mg/3 vezes ao dia) comparativamente ao regime com zidovudina (300 mg)/lamivudina (150 mg)/nelfinavir (750 mg) em uma coorte de 352 pacientes HIV soropositivos. Neste estudo, os autores concluíram que os dois tratamentos apresentaram resultados similares. A formulação gastrorresistente permitiu que fossem eliminaTendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 13 - 6) dos os efeitos colaterais decorrentes da administração concomitante dos antiácidos, utilizados para impedir a degradação do fármaco no ambiente ácido do estômago, e trouxe benefícios quanto à comodidade e adesão ao tratamento, uma vez que a ddI nessa formulação pode ser administrada uma vez ao dia. O estudo de Kunches e colaboradores26 trouxe dados acerca da avaliação da tolerabilidade da ddI cápsulas gastro-resistentes em uma coorte de 42 pacientes infectados pelo HIV que previamente faziam uso da formulação convencional da ddI e que apresentavam sintomas como náuseas, distensão abdominal, diarreia, gases, cólicas, de severidade moderada à grave. O estudo de seis semanas demonstrou que a mudança do tratamento, substituindo a formulação convencional pela formulação de cápsulas gastro-resistentes foi capaz de reduzir significativamente (P<0,001) os sintomas gastrointestinais causados pela formulação convencional após quatro semanas. Interações medicamentosas entre ddI e vários outros antirretrovirais com fármacos antibacterianos, antifúngicos tem sido reportadas20 e são bem menos significativas com a formulação gastrorresistente, uma vez que esta não necessita do emprego concomitante de antiácidos tamponantes utilizados na formulação do comprimido10. Em um estudo avaliando a farmacocinética da didanosina na dose de 400 mg com tenofovir 300 mg, não houve mudanças na modulação dos níveis de tonofovir, no entando a Cmax (concentração máxima no plasma) e a AUC (área sobre a curva/Area Under the Curve) da didanosina apresentaram aumento27, sugerindo que deve haver ajuste de dose quando estes dois medicamentos são administrados conjuntamente. O perfil farmacológico da ddl é caracterizado pela boa biodisponibilidade e prolongada meia vida intracelular, o que suporta a administração uma vez ao dia24, sendo observado em estudos in vitro que a meia vida intracelular do fármaco ativo (dd-ATP) administrado uma vez ao dia é maior que 25 horas28. Damle e cols. demonstraram a bioequivalência da formulação convencional e da formulação com revestimento entérico da ddI. As duas apresentações foram avaliadas em dois estudos comparativos, em indivíduos saudáveis e em uma coorte de indivíduos infectados pelo HIV, estes com contagens de células T CD4 > 200 cels/mm3. A dose de ddI de 400 mg foi utilizada no estudo, sendo que amostras de sangue foram coletadas ao longo de 12 horas. Badaro e cols. avaliaram o regime com nelfinavir/estavudina/ didanosina formulação gastrorresistente e o regime com nelfinavir/zidovudina/lamivudina em uma coorte de 511 indivíduos infectados pelo HIV e virgens de tratamento em um estudo aberto. Após 48 semanas, os autores observaram que os dois regimes apresentaram semelhante atividade antirretroviral. Os resultados da análise de eficácia primária demonstraram que a mesma proporção de pacientes que faziam uso do regime contendo ddl com formulação gastrorresistente e do regime de referência tiveram supressão da carga viral abaixo de 400 cópias/mL, sendo essa proporção de 56% e 53%, respectivamente. Os resultados dos dois grupos de tratamento também foram semelhantes com relação à supressão viral abaixo de 50 cópias/mL, com uma supressão média do RNA viral de -2,59 e 2,61 log10 cópias/mL quando observados os valores de baseline23. Maggiolo e cols.30 avaliaram o uso da ddI formulação gasTendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 13 - 6) trorresistente associada à lamivudina e efavirenz em uma coorte de 75 pacientes HIV soropositivos virgens de tratamento e verificaram diminuição da replicação viral de > 3.4 log cópias/mL, sendo que 70% dos pacientes atingiram níveis indetectáveis (abaixo de 50 cópias/mL) e aumento da contagem de células T CD4, após 48 semanas. O estudo ACTG demonstrou diminuição significativa da progressão da infecção no grupo recebendo zidovudina em combinação com didanosina, quando comparada à monoterapia com zidovudina, tanto em pacientes virgens de tratamento quanto em pacientes experimentados31. A biodisponibilidade de alguns medicamentos é afetada pela administração concomitante com alimentos; este é o caso da ddI de formulação gastrorresistente. Damle e cols.32 avaliaram a biodisponibilidade da ddI administrada na dosagem de 400 mg concomitante à administração de uma refeição rica em gordura, uma refeição leve, iogurte e um preparado de maçãs. Além dessa avaliação, a ddI foi administrada didanosina foi administrada antes ou após 1, 1 hora e 30 minutos, 2 e 3 horas antes da refeição leve. A refeição rica em gordura, a refeição leve, o iogurte e o preparado de maçãs diminuíram a Cmax em 46%, 22%, 30% e 24%, respectivamente, enquanto diminuíram a AUC em 19%, 27%, 20% e 18%, respectivamente. Os resultados, no entanto, não apresentaram significância estatística, à exceção da refeição rica em gordura. A meia vida da didanosina foi de 1 hora e 30 minutos a 2 horas; os autores concluíram que a biodisponibilidade da ddI gastrorresistente foi de aproximadamente 20% a 25%, o que pode ser contornado pela administração da ddI com o estômago vazio. Considerações Finais O principal objetivo da terapia antirretroviral é a diminuição da replicação viral a níveis indetectáveis pelo maior período de tempo possível, o que está diretamente relacionado a fatores como a eficácia do esquema utilizado e à adesão do paciente ao tratamento antirretroviral. Os dados de estudos que demonstram a eficácia e aumento da sobrevivida de pacientes infectados com HIV tratados com regimes contendo ddI continuam a dar suporte ao papel importante ddI no tratamento antirretroviral. Do ponto de vista do paciente, um esquema antirretroviral que modifique ao mínimo ou se adapte às suas rotinas diárias é desejável e facilita a adesão ao tratamento. Considerando que a adesão ao tratamento é diretamente relacionada à comodidade proporcionada por medicamentos de administração única e à um roll diminuído de efeitos colaterais, os fármacos antirretrovirais eficazes e que apresentem o mínimo de efeitos indesejáveis são necessários. Nesse sentido, a formulação farmacêutica gastrorresistente da ddI, que pode ser administrada sem o uso concomitante de antiácidos significa o aperfeiçoamento dessa classe de medicamentos, que pode melhorar a adesão ao tratamento e diminuição das preocupações acerca das interações medicamentosas. A pesquisa por novas formulações farmacêuticas se faz necessária, especialmente para os medicamentos antirretrovirais, devido à toxicidade inerente dessa classe de medicamentos. 15 Referências 1. Okiyama, M., H. Kawashima, and S. Fukunishi, [Pharmacological and clinical properties of didanosine (VIDEX), a nucleoside reverse transcriptase inhibitor. Nihon Yakurigaku Zasshi, 2002. 120(2): p.115-22. 2. 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Baixos níveis de contagem de células CD4, bem como uso irregular de terapia antirretroviral são fatores que podem interferir na incidência de neoplasias em portadores de HIV. Relata-se um caso de paciente com sarcoma de Kaposi em tratamento quimioterápico com desenvolvimento subsequente de linfoma plasmablástico (um subtipo de Linfoma Não Hodgkin) após queda dos níveis de contagem de células CD4 por uso irregular de terapia antirretroviral. Descritores: HIV, Câncer, Imunossupressão, Vírus Oncogênicos. ABSTRACT People infected with human immunodeficiency virus (HIV) have high risk of cancer. Low levels of CD4 count cells and irregular use of antiretroviral therapy are factors that can affect the incidence of malignancies in people living with HIV. We report a case of a patient with Kaposi’s sarcoma on chemotherapy with subsequent development of plasmablastic lymphoma (a subtype of Non Hodgkin Lymphoma) after decrease of CD4 cells count levels by irregular use of antiretroviral therapy. Keywords: HIV, Cancer, Immunosuppression, Oncogenic Viruses. INTRODUÇÃO Pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) têm elevado risco de câncer. Este risco deve-se principalmente às doenças malignas consideradas como definidoras de AIDS (NDA)1,2: Sarcoma de Kaposi (SK), Linfoma não-Hodgkin em suas formas sistêmica (LNH) e em Sistema Nervoso Central (LSNC) e, desde 1993, Câncer Cervical Invasivo (CCI)3 . Imunossupressão e coinfecção com vírus oncogênicos são fatores que podem interferir na incidência de neoplasias em portadores de HIV4-6. Os agentes aqui considerados, denominado o vírus Epstein-Barr (EBV) e sarcoma de Kaposi herpesvirus (KSHV-herpesvirus ou HHV8), são membros da subfamília gama herpesvirus e estão envolvidos na fisiopatogenia do sarcoma de Kaposi e do LNH7-9. Apresentamos a seguir o relato de caso de um paciente com Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 17 - 9) sarcoma de Kaposi em tratamento quimioterápico com desenvolvimento subsequente de linfoma plasmablástico (um subtipo de LNH) após queda na contagem dos níveis de CD4 por uso irregular de terapia antirretroviral (TARV). CASO CLÍNICO Paciente do sexo masculino, 54 anos, natural de Nova Guataporanga - SP e procedente de São Paulo-SP, HIV(+) sabidamente desde 1999, HSH (homem que faz sexo com homem), encaminhado ao Hospital-Dia pelo serviço ambulatorial do município onde fazia acompanhamento para investigação de lesões cutâneas vegetantes há três meses. Foi levantada a hipótese diagnóstica de sarcoma de Kaposi e realizada biópsia de pele confirmatória em 12/07/2012. Doenças prévias: pneumonia de repetição e Herpes Zoster. Referia também ter diabetes mellitus tipo II. Ao exame físico de admissão, apresentava 17 mais de 25 lesões cutâneas elevadas, vegetantes, não infiltradas e não ulceradas em tronco, membros superiores, membros inferiores e em pálpebra inferior direita (Figura 1). serviço (última dose de QT em 05/02/13). Em 26/03/2013 o paciente foi a óbito, cujas causas foram: arritmia cardíaca, leucopenia febril, síndrome da imunodeficiência adquirida e sarcoma de Kaposi. O resultado da biópsia de região retromolar evidenciou Linfoma Plasmablástico. CD4 (05/03/2013) 57 células e Carga Viral 2942 cp/ml. DISCUSSÃO Os mecanismos pelos quais as pessoas com HIV têm risco aumentado de desenvolverem neoplasias ainda não são completamente esclarecidos. Destacamos a seguir os principais fatores que podem interferir com incidência e mortalidade por NDAs: Imunossupressão Figura 1. Sarcoma de Kaposi. Não apresentava sintomas gastrointestinais, nem pulmonares. Índice de Karnofsky = 90, CD4 (05/01/12) = 237 células, Carga Viral (CV) = < 50 cp/ml, em uso regular de TARV com lamivudina, estavudina e efavirenz. Como rotina de serviço, apesar do paciente não apresentar sintomas que sugerissem doença visceral, foram solicitados exames complementares de estadiamento sendo: Broncoscopia sem lesões sugestivas de SK, Endoscopia Digestiva Alta (EDA) com lesão isolada séssil em corpo distal gástrico sugestiva de SK e Colonoscopia sem evidências de sarcoma. Iniciada quimioterapia sistêmica (QT) com doxorrubicina lipossomal e mantida TARV. Após a 6ª dose, o paciente apresentou remissão quase completa de lesão em mucosa ocular e regressão parcial das lesões cutâneas. Após a 8ª dose, foi solicitada EDA de controle que ainda evidenciou lesões sugestivas de SK. Mantida QT sistêmica. Em 01/03/13, o paciente compareceu para coleta de hemograma pré QT (pré-10ª dose) referindo “dor de dente”. Ao exame físico, apresentava edema facial à direita e massa tumoral em mucosa jugal à direita de aproximadamente 5cm de diâmetro (Figura 2), Comparado a indivíduos portadores de HIV com contagem de células CD4 maior que 500 céls/mm3, a rate ratio (RR) varia de 1,9 (pacientes com CD4 entre 350 e 500 céls/mm3) a 25,2 (pacientes com CD4 abaixo de 50 céls/mm3) para desenvolvimento de SK. No caso de LNH, a RR varia de 1,3 (pacientes com CD4 entre 350 e 500 céls/mm3) a 14,8 (pacientes com CD4 abaixo de 50 céls/mm3) em indivíduos sem uso de terapia antirretroviral (TARV)4. No Estado de São Paulo, níveis de CD4 inferiores a 200 células no momento do diagnóstico de AIDS por NDA são encontrados em 64,1% dos indivíduos com SK10. A incidência de LNH sistêmico aumenta com a piora da imunossupressão em pacientes com AIDS11. Uso de terapia antirretroviral de alta potência (HAART) Um grande ensaio clínico randomizado demonstrou maior incidência de neoplasias definidoras de AIDS em pacientes que interromperam TARV e risco similar de neoplasias não definidoras entre os braços do estudo que interromperam TARV e os que mantiveram terapia de forma ininterrupta5. Um estudo suíço demonstrou que o uso de TARV pode reduzir o risco de desenvolvimento de SK e LNH, mas não o desenvolvimento de outros tipos de câncer (não-definidores de AIDS)12. O uso da HAART aumentou a sobrevida de pacientes com SK, mas não daqueles com LNH13-15 e a severidade da imunossupressão é preditiva de óbito em NDAs16,17. Infecção por vírus oncogênicos Figura 2. Linfoma Plasmablástico. que não apresentava anteriormente. Referia uso irregular de antirretroviral no momento. Foi encaminhado à saúde bucal para biópsia em 04/03/13. Em 16/03/13, a irmã do paciente ligou informando que o paciente estava internado em outro 18 Alguns estudos demonstram que elevada viremia do HHV-8 está associada com o risco de desenvolvimento e progressão do SK, assim como elevados níveis de anticorpos contra os antígenos de latência e líticos do vírus18-21. O vírus EBV foi implicado no desenvolvimento de uma ampla variedade de distúrbios proliferativos de células B em portadores de HIV. É o fator etiológico relacionado com o linfoma plasmablástico (LP) em aproximadamente 76% dos casos. O HHV8 também é encontrado em indivíduos com LP em uma frequência de 17 a 38%, sendo o papel etiológico deste vírus questionável6,22. Aspectos Clínicos: O acometimento cutâneo das lesões de SK é o mais comum. Varia desde lesões mínimas, como um achado incidental ao exame físico, até apresentações graves com grande morbimortalidade23. O envolvimento Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 17 - 9) de estruturas anexiais oculares acontece em 20% e a lesão de conjuntiva é relativamente freqüente e benigna. As manifestações orgânicas podem se dividir em mucocutâneas e viscerais, sendo esta última a mais comumente ameaçadora da vida24,25. O LP é um subtipo raro de Linfoma de Grandes Células B que tem uma predileção local para a cavidade oral, em particular a gengiva e mucosa do palato, semelhante ao sarcoma de Kaposi26-29. A incidência de LP é baixa, correspondendo a 2,6% de todos os LHN associados ao HIV30. Embora ambas as patologias sejam causadas por gama herpesvirus, poucos casos são descritos de associação LP e SK22,31,32. CONCLUSÕES O sarcoma de Kaposi e o LNH são neoplasias definidoras de AIDS, com sua fisiopatogenia associada à presença de vírus oncogênicos e imunossupressão. Consequentemente, a baixa adesão à terapia antirretroviral pode propiciar o desenvolvimento dessas neoplasias e, apesar da assistência terapêutica e diagnóstica adequadas, óbito por complicações relacionadas à imunodeficiência. Agradecimentos Sidnei Rana Pimentel – médico infectologista do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS – São Paulo-SP. REFERÊNCIAS 1. Burgi A, Brodine S, Wegner S, Milazzo M, Wallace MR et al. Incidence and risk factors for the occurrence of non-AIDS-defining cancers among human immunodeficiency virus-infected individuals. Cancer 2005 Oct 1;104(7):1505-11. 2. Long JL, Engels EA, Moore RD, Gebo KA. Incidence and outcomes of malignancy in the HAART era in an urban cohort of HIV-infected individuals. AIDS 2008; 22(4):489-96. 3. Centers for Disease Control and Prevention. 1993 revised classification system for HIV infection and expanded surveillance case definition for AIDS among adolescents and adults. MMWR recomm Rep 1992; 41(RR-17):1-19. 4. 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Abstract The infection caused by HPVs associated to the human mucosae is generally asymptomatic. This is an extremely common infection among the HIV infected patients; in these individuals showing high prevalence of premalignant lesions, one of the AIDS-defining illnesses. These Case Study reports a rare event of metastatic cervical cancer associated exclusively to the HPV-11, that belongs to the low oncogenic risk group in an HIV positive female of 38 years old. Keywords: Cervical cancer, HIV, human papilomavirus. INTRODUÇÃO A infecção por HPVs (Papilomavírus Humano) associados as mucosa humana é geralmente totalmente assintomática. Quando existente, o quadro clínico mais comum são as verrugas genitais ou condilomas, mas também lesões pré-neoplásicas de todo trato anogenital, as chamadas neoplasias intraepiteliais, denominadas NIC quando afetando a cérvix, NIA quando encontradas na mucosa anal, NIP na peniana, NIV na vagina e NIVu na vulva. Evidências moleculares sugerem que o HPV está implicado etiologicamente em 100% dos casos de câncer cervical1 e em uma parcela considerável dos casos de câncer afetando a vagina, vulva, ânus, pênis, além de carcinomas da mucosa oral, orofaríngea e laríngea2,3. Cerca de 40 tipos de HPV infectam a região anogenital e podem ser classificados em HPVs de baixo risco oncogênico (HPVs-6, 11, 40, 42, 43, 44, 55) e de alto risco oncogênico (HPVs-16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59)4. No entanto, alguns grupos de pesquisa observaram a presença de tipos de HPVs de baixo risco oncogênico em lesões de alto grau5,6 mas sempre em conjunto a HPVs de alto risco oncogênico. Nestes casos é extremamente difícil atribuir causalidade a um determinado genótipo de HPV porque os métodos moleculares utilizados para genotipagem de HPV não preservam a arquitetura tecidual, impedindo-se de 20 determinar quais os tipos de HPV encontrados nas células tumorais e quais podem estar presentes apenas no tecido normal ou inflamatório ao redor da lesão. Raríssimos casos de câncer cervical em que o único tipo de HPV isolado era o de baixo risco oncogênico já foram descritos7. A infecção por HPV é extremamente comum em pacientes infectadas pelo HIV, apresentando uma alta prevalência de lesões pré-malignas8, as neoplasias intraepitelias cervicais e uma maior incidência do carcinoma cervical9, uma das doenças definidoras de Aids10. Previsões antagônicas tem sido feitas em relação ao perfil epidemiológico futuro destas lesões perante o aumento de sobrevida da mulher infectada pelo HIV, decorrente da terapia antiretroviral de alta potência (HAART). Uma vez que as neoplasias em geral, e especificamente o câncer cervical, são doenças de desenvolvimento lento, seria lógico admitir-se que a sobrevida derivada do tratamento antiretroviral potente (HAART) levaria a um aumento na incidência desta neoplasia nessa população, o que não ocorreu de forma significativa11. Por outro lado, a reconstituição imune permitida pela supressão da carga viral por longo tempo, pode levar ao controle da infecção pelo HPV e consequente redução do risco para o câncer cervical. Descrevemos nesta comunicação um raro caso12 de câncer cervical metastático associado unicamente ao HPV-11, que pertence ao grupo dos HPVs de baixo risco oncogênico. Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 20 - 1) RELATO DE CASO Uma paciente de 38 anos, soropositiva para HIV foi atendida no ambulatório de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do estado de São Paulo (ICESP) com queixa de dor abdominal e sangramento vaginal. O exame especular revelou uma lesão exofítica que foi biopsiada. Material da biópsia foi encaminhado para a análise histopatológica e para investigação do HPV no laboratório de Virologia do instituto de medicina Tropical da Universidade de São paulo. O exame anatomopatológico indicou um carcinoma espinocelular. A genotipagem de HPV foi realizada por um método de PCR da região viral E1 seguido de hibridização em microarranjo, capaz de detectar e genotipar 27 tipos de HPV (Papillocheck, Greiner Bio-One, Alemanha). Este teste indicou a presença de DNA de HPV-11. A ressonância magnética da região pélvica demonstrou uma grande massa tumoral invadindo o paramétrio direito e o fórnix vaginal posterior. A paciente foi submetida à radioterapia. Após 2 meses de seguimento a paciente reclamou de linfonodos aumentados na região do pescoço, que foram biopsiados. Foi verificada a presença de metástases nestes linfonodos. Quimioterapia paliativa com cisplatina foi iniciada. Após quatro meses a paciente desenvolveu um quadro de obstrução aguda da bexiga causada pela progressão local da neoplasia, e faleceu. Obteve-se DNA dos linfonodos em parafina e o mesmo foi submetido a um teste de genotipagem de HPV mais adequado a material parafinado (INNO-LiPA HPV Genotyping v2, Innogenetics, Bélgica), que também indicou a presença de HPV-11. Por se tratar de achado extremamente raro, procedemos ao sequenciamento do gene E6, um dos dois oncogenes virais, deste isolado de HPV-11, na expectativa de eventualmente identificar mutações que poderiam ter levado a um aumento da capacidade transformante, equivalendo aos HPVs de alto risco oncogênico. No entanto, o sequenciamento do gene E6 do isolado mostrou alta similaridade com seqüências de referência de HPV-11 e nenhuma mutação que pudesse ser associada a este ganho de função foi encontrada. DISCUSSÃO A detecção do DNA do HPV-11 tanto no tumor primário quanto na metástase em linfonodo cervical é indicativo de papel etiológico deste HPV no desenvolvimento da neoplasia primária e na doença disseminada. Sabe-se que a manifestação clínica de uma doença infecciosa é o resultado da interação entre o agente e o sistema imune do hospedeiro. Certamente esta manifestação atípica pode resultar não apenas de isolado do HPV-11 com atividade biológica anômala, mas também de características do hospedeiro, dentre estas a mais óbvia é o estado imunológico, pois estas manifestações atípicas são de fato mais frequentes em pacientes imunossuprimidos. Possivelmente a conexão entre imunodeficiência e comportamento das lesões induzidas por HPVs se dê através de mecanismos de regulação intra e intercelular da atividade dos oncogenes virais. A deficiência em tipos celulares como os macrófagos e outras células apresentadoras de antígeno na mucosa infectada, e a baixa produção de citocinas anti-proliferação como TNF-α e TGF-β13 poderia permitir a transformação celular por oncoproteínas virais de fraca atividade transformante como E6 e E7 dos HPVs 6 e 1114. No entanto, nas lesões cervicais de alto grau de pacientes HIV+, detectam-se com maior frequência os mesmos genótipos de HPVs de alto risco oncogênico associados a estas lesões na população HIV negativa15. O estudo aprofundado de séries de casos atípicos como este aqui descrito, mas também da situação inversa, HPVs de alto risco causando lesões condilomatosas, através do sequenciamento de genomas virais completos, poderá trazer novas informações dos mecanismos moleculares da patogenia por HPV. REFERÊNCIAS 1. Walboomers JMM, Jacobs MV, Manos MM, Bosch FX, Kummer JA, Shah KV, et al. Human Papillomavirus is a necessary cause of invasive cervical cancer worldwide. J. Pathol 1999;189(1):12-9. 2. IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans 2007. WORLD HEALTH ORGANIZATION/INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER,VOLUME 90, Human Papillomaviruses. 3. D’Souza G, Kreimer AR, Viscidl R, Pawlita M, Fakhry C, Kach WM, et al. CaseControl Study of Human Papillomavirus and Oropharyngeal Cancer. N Engl J Med 2007;356(19):1944-56. 4. Muñoz N, Bosch FX, De Sanjosé S, Herrero R, Castellsagué X, Shah KV, et al. Epidemiologic Classification of Human Papillomavirus types associated with cervical cancer. N Engl J Med 2003;348(6):518-27. 5. De Sanjosé S, Quint WGV, Alemany L, Geraets DT, Klaustermeier JE, Lloveras B, et al. Human papillomavirus genotype attribution in invasive cervical cancer: a retrospective cross-sectional worldwide study. Lancet Oncol 2010;11(11):1048-56. 6. Li N, Franceschi S, Howell-Jones R, Snijders PJF, Clifford GM. Human Papillomavirus type distribution in 30,848 invasive cervical cancers worldwide: variation by geographical region, histological type and year of publication. Int J Cancer 2011; 128:927-35. 7. De Vuyst, H., Gichangi, P., Estambale, B., Njuguna, E., Franceschi, S., Temmerman, M. Human papillomavirus types in women with invasive cervical carcinoma by HIV status in Kenya. Int. J. Cancer 2008;122(1):244–6. 8. de Andrade AC, Luz PM, Velasque L, Veloso VG, Moreira RI, Russomano F, Chicar- Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 20 - 1) ino-Coelho J, Pires E, Levi JE, Grinsztejn B, Friedman RK. Factors Associated with Colposcopy-Histopathology Confirmed Cervical Intraepithelial Neoplasia among HIVInfected Women from Rio de Janeiro, Brazil. PLoS One. 2011 Mar 30;6(3):e18297. 9. Engels EA, Biggar RJ, Hall HI, Cross H, Crutchfield A, Finch JL, Grigg R, Hylton T,Pawlish KS, McNeel TS, Goedert JJ: Cancer risk in people infected with human immunodeficiency virus in the United States. Int J Cancer 2008, 123:187-94. 10. Bower M, Mazhar D, Stebbing J. Should cervical cancer be an acquired immunodeficiency syndrome-defining cancer? J. Clin. Oncol. 2006, 24, 2417–19. 11. Brachter LF, Sahasrabuddhe VV. The impact of antiretroviral therapy on HPV and cervical intraepithelial neoplasia: current evidence and directions for future research. Infectious Agents and Cancer 2010, 5:8 doi:10.1186/1750-9378-5-8. 12. Oliveira CM, Aguiar LS, Genta MLN, Alves VAF, Levi JE. HPV-11 associated metastatic cervical cancer. Gynecologic Oncology Reports 2012;2:18-9 13. Nicol, AF, Nuovo GJ, Salomão-Estevez A, Grinsztejn B, Tristão A, Russomano F, et al. Immune factors involved in the cervical immune response in the HIV/HPV coinfection.J. Clin. Pathol 2008. 61 (1), 84–88 Epub 2007 May 4. Erratum in: J Clin Pathol 2008;61(7):880. Grinsztein, B [corrected Grinsztejn, B]. 14. Ghittoni R, Accardi R, Hasan U, Gheit T, Sylla B, Tommasino M. The biological properties of E6 and E7 oncoproteins from human papillomaviruses. Virus Genes 2010;40 (1):1-13. 15. Clifford,G.M., Gonçalves,M.A., Franceschi, S., 2006. HPV andHIV Study Group. Human papillomavirus types among women infected with HIV: a meta-analysis. AIDS 2006 (18),2337–44. 21 Resumos de Dissertações e Teses Segurança, tolerabilidade e carga viral periparto de grávidas infectadas pelo HIV, tratadas com Lopinavir/Ritonavir comprimidos em dose aumentada comparada à dose habitual na gestação. Aluna: Simone Martins Bonafé Orientador: Prof. Dr. Adauto Castelo Filho Co-orientador: Prof. Dr. Jorge Figueiredo Senise Instituição: Universidade Federal de São Paulo Introdução: Estudos de farmacocinética indicam redução da concentração de lopinavir durante o segundo e terceiro trimestres da gestação. Consequentemente, dose aumentada lopinavir/ritonavir (LPV/R) pode ser necessária nesse período da gestação, para reduzir o risco de CV detectável no periparto e possível transmissão materno-fetal. Objetivos: Avaliar a tolerância e segurança do uso da dose aumentada de LPV/R (600/150 mg 12/12h) em relação a dose habitual (400/100 mg 12/12h). Métodos: Gestantes com infecção confirmada pelo HIV, com idade gestacional entre 14 e 33 semanas, sem alterações laboratoriais maiores que grau I de creatinina, ALT, glicemia e triglicérides foram randomizadas para receber dose habitual ou dose aumentada. Mensalmente, foram avaliados sintomas gastrointestinais e alterações laboratoriais nas gestantes incluídas, além de prematuridade, baixo peso ao nascer e CV 22 indetectável no periparto. Resultados: 61 pacientes foram randomizadas, sendo 32 para o grupo de dose habitual e 29 para dose aumentada. Entre as pacientes que iniciaram LPV/R na gestação, 36,9% apresentaram diarreia com dose aumentada e 25% com dose habitual. Nas gestantes que já usavam LPV/R no momento da randomização e receberam dose aumentada 30% apresentaram diarreia. Náusea no primeiro mês, apesar de leve, foi duas vezes mais frequente nas pacientes que utilizaram dose aumentada (40,2%) em relação a dose habitual (20,8%). Não foi observado maior ocorrência de hepatotoxicidade, alterações glicídicas e lipídicas no grupo de dose aumentada em relação ao grupo de dose habitual. O uso de dose aumentada não apresentou maior taxa de prematuridade, bem como de baixo peso ao nascer em relação ao grupo de dose habitual. Gestantes com CV>50 cópias/ml no momento da randomização tiveram percentual de CV<50 cópias/ ml no periparto significantemente maior quando alocadas para dose aumentada (p=0,01). Conclusões: Gestantes que iniciaram LPV/R na gestação apresentaram tolerância e alterações laboratoriais semelhantes entre os dois grupos. Gestantes com CV detectáveis que recebem LPV/R parecem se beneficiar com dose aumentada durante o segundo e terceiro trimestre da gestação. Este benefício não foi observado em gestantes com CV<50 cópias/ml. Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 22) Destaques CROI 2013 - 20th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections 3 a 6 de março 2013, Atlanta, Georgia, EUA Ricardo Sobhie Diaz Cura funcional em um recém-nascido infectado pelo HIV (Persaud D, et al. CROI 2013. Abstract 48LB). Veja editorial Tratamento precoce de pacientes com infecção aguda pelo HIV (Ananworanich J, et al. CROI 2013. Abstract 47). O estudo RV254/SEARCH 010 recrutou 75 pessoas com infecção aguda pelo HIV-1 para início imediato de tratamento antirretroviral. O tamanho do reservatório viral foi determinado nestes pacientes antes do inicio de tratamento através da quantificação de DNA do HIV integrado nas células circulantes e em biopsias de colon sigmoide. Interessantemente, a quantidade de vírus nestes reservatórios era ainda muito baixa nestes pacientes com infecção muito inicial. Após um ano de tratamento, foi confirmado que o reservatório viral nestes pacientes mantinha-se baixo, apresentando pequena quantidade de células infectadas. Este dado confirma que uma forma eficaz de se mitigar o número de células infectadas e latentes é o tratamento precoce. Em uma época em que se planeja a cura esterilizante da infecção pelo HIV, este grupo de pacientes poderá ser o que se beneficiará mais imediatamente destas estratégias. Resgate usando inibidores da integrase dolutegravir versus raltegravir (Pozniak A, et al. CROI 2013. Abstract 179LB). Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 23 - 4) O estudo SAILING recrutou pacientes virgens de tratamento com inibidores da protease, porem falhando ao tratamento antirretroviral. Neste estudo de fase três duplo cego e controlado por placebo, 354 pacientes foram alocados para receber dolutegravir enquanto 361 receberam raltegravir. Os resultados da semana 24 demonstraram 79% de pacientes com carga viral indetectável no braço do dolutegravir em comparação com 70% no braço do raltegravir (p=0,003). Além disso, menores índices de resistência aos inibidores de integrase foram detectados no braço do dolutegravir, onde dois pacientes apresentaram a emergência da mutação R263K em comparação a nove pacientes com resistência ao raltegravir, apresentando mutações nos códons 143, 148 e/ou 155 no gene da integrase. Resgate antirretroviral após a primeira falha sem uso de análogos aos nucleosídeos (Humphries A, et al. CROI 2013. Abstract 180LB). Pacientes apresentando falha a esquema contendo dois análogos e um não análogo aos nucleosídeos (n=541) foram randomizados para receberem lopinavir/ritonavir com raltegravir (n=270) ou lopinavir/ritonavir e dois ou três análogos uma ou duas vezes ao dia. Após 48 semanas, 82,6% dos pacientes no braço do raltegravir mantinham carga viral inferior a 23 200 cópias/mL em comparação a 80,8% das pessoas usando análogos aos nucleosídeos (p=0,59). Momento do início de tratamento antirretroviral em pacientes com neurocriptococose. (Boulware D, et al. CROI 2013. Abstract 144) O estudo COAT foi desenhado para definir o melhor momento para inicio de tratamento antirretroviral em pacientes com neurocriptococose. Os pacientes com indicação de uso de antifúngicos (n=177) foram randomizados para receberem tratamento antirretroviral precoce nas primeiras 48 horas e ainda internados (n=88) ou iniciarem o tratamento antirretroviral 4 semanas depois do inicio dos antifúngicos, já em regime ambulatorial (n=89). Após 12 meses, a sobrevida era de 70% entre os pacientes que iniciaram tardiamente comparados a 55% entre os pacientes que iniciaram precocemente, fazendo com que o estudo fosse interrompido. A mortalidade esteve associada de uma forma geral a pacientes com estado mental alterado (Glasgow<15, p=0,05) e pacientes com celularidade baixa no liquor (<5 cels/mm3, p=0,01). Especificamente esteve associada à presença de síndrome da reconstituição imune, confirmada pela redução da secreção de interferon gama nestes pacientes. O risco de síndrome da reconstituição imune foi duas vezes maior entre os pacientes que iniciaram precocemente o tratamento antirretroviral (p=0,014). Tipo de tratamento antirretroviral e desordens neurocognitivas associadas ao HIV. (Ellis R, et al. CROI 2013. Abstract 20). O uso de antirretrovirais com melhor penetração no sistema nervoso central melhora o desempenho cognitivo entre pacientes com desordens neurocognitivas associadas ao HIV que estão iniciando ou alterando o tratamento antirretroviral? Para responder esta pergunta, 326 pacientes foram triados, 24 sendo que 59 pacientes com desordens neurocognitivas associadas ao HIV foram randomizados para receberem tratamento com antirretrovirais com boa penetração no SNC (n=29) em comparação a pacientes recebendo esquema sem boa penetração (n=30). Após 16 semanas de tratamento não houve diferenças significativas na melhora no teste denominado índice de déficit global entre os dois grupos (p=0,76). Além disso, 54% versus 82% dos pacientes usando medicamentos com boa penetração versus má penetração apresentaram carga viral plasmática indetectável respectivamente na semana 16 (p=0,065), sendo que 68% versus 87% apresentavam carga viral indetectável no liquor nestes dois grupos respectivamente (p=0,17) Os autores concluem que não existem benefícios na escolha de antirretrovirais com boa penetração no SNC entre pacientes com desordens neurocognitivas associadas ao HIV. Tendências na resistência transmitida aos antirretrovirais (Buchacz K, et al. CROI 2013. Abstract 615. 2. Kim D, et al. CROI 2013). A coorte HOPS mostra que existe um aumento na testagem de pessoas virgens de tratamento com genotipagem ao longo de tempo. Estes números eram de 20,8% entre 1999-2002 aumentando para 62% entre 2009-2011, refletindo uma tendência importante que deveria ser acompanhada por nós no Brasil. Não existe, entretanto uma aumento na prevalência de resistência transmitida nos EUA ao longo do tempo, se considerarmos o período de 1999 a 2011. Existe sim aumento nas prevalências entre os pacientes negros e hispânicos. A prevalência atual de resistência transmitida nos EUA pode ser considerada elevada, onde 17,5% dos pacientes vão apresentar alguma mutação de resistência relevante. Especificamente, estas prevalências são de 10,8% aos ITRN, 6,6% aos ITRNN e 1,8% aos IP. Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 23 - 4) TENDÊNCIAS EM HIV/AIDS INSTRUÇÕES AOS AUTORES A revista Tendências em HIV/AIDS é uma publicação trimestral da Disciplina de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. O intuito dessa publicação é apresentar artigos de revisão preparados por especialistas da área que expressem o conhecimento e a experiência desses pesquisadores. Os artigos são todos escritos por líderes de opinião nesse campo do conhecimento com o intuito de conhecer como caminha a ciência na área, principalmente no que possa refletir a prática do dia-a-dia do clínico. Muitas das estratégias e opiniões aqui apresentadas são inovadoras e modernas. Portanto, os conceitos apresentados podem estar à frente de consensos e da prática corriqueira atual. Dessa forma, pretende-se manter a missão deste periódico, que é a de disseminar a informação de alta qualidade e com potencial inovador. O seleto corpo editorial da revista é também responsável pela escolha dos temas de interesse e pela indicação de especialistas que se dedicam ao desenvolvimento desses temas. A aprovação dos artigos está sujeita à avaliação por uma comissão de revisores que recebem o texto de forma anônima e decidem por sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe que por fim as encaminha aos autores. Categorias: O próprio autor deve indicar se o seu texto pertence à categoria: a) artigo de revisão b) artigo de atualização c) relato de caso A Tendências em HIV/AIDS também publica resumos de teses sobre HIV/ AIDS defendidas no trimestre anterior. Os resumos devem ser enviados para o mesmo endereço eletrônico e estão sujeitos à avaliação pelo Corpo Editorial. Os resumos podem ser submetidos no formato em que foram publicados na referida Dissertação ou Tese. Em uma seção denominada “Destaques”, a Tendências em HIV/AIDS, por meio de especialistas convidados, apresenta os temas de maior relevância abordados em congressos da área ou mesmo temas escolhidos pelo Corpo Editorial da Revista. Dessa forma, artigos que não pertençam às categorias a, b e c, acima citadas, não devem ser encaminhados à Tendências em HIV/AIDS sem que tenham sido solicitados formalmente pelo Corpo Editorial, por meio de convite oficial enviado via e-mail Artigos de revisão e atualização: Devem ser apresentados de forma didática e conter: resumo, palavras chave, abstract, Keywords, texto e referências bibliográficas. Tabelas e figuras também podem ser apresentadas, se necessário. Caso as figuras não sejam originais, o autor deverá providenciar a permissão para reprodução. Figuras não originais desacompanhadas de permissão de reprodução serão automaticamente excluídas do artigo, sem consulta prévia ao autor. O mesmo critério de originalidade se aplica às tabelas e quadros. Relatos de Caso: Deverão conter: resumo, palavras-chave, abstract, Keywords, introdução, descrição do caso, discussão. Destaques: Nessa seção são aceitos apenas os trabalhos escritos por autores convidados pelo Corpo Editorial da Tendências em HIV/AIDS. Normas para preparação dos artigos Os artigos devem ser redigidos em língua portuguesa. É obrigatória a apresentação de um resumo em português e um em inglês. Os artigos devem ser digitados no MS Word, formato txt e encaminhados por e-mail, no endereço eletrônico: [email protected] Em caso de aceite, o autor será comunicado e o artigo será publicado mediante apresentação de carta de autorização de publicação assinada pelos autores. Os autores devem certificar-se de que o manuscrito está de acordo com as “instruções aos autores”. O protocolo estabelece que: a) Os conceitos emitidos nos artigos são de total responsabilidade dos autores; b) Os artigos devem ser inéditos, ou seja, não devem ter sido publicados anteriormente, nem devem ter sido disponibilizados na Internet, com exceção das teses, dissertações e dos trabalhos apresentados em congressos; c) Caso sugestões ou mudanças sejam sugeridas aos autores como condição para publicação na Tendências em HIV/AIDS, os autores devem responder se aceitam ou não essas sugestões dentro de um prazo de 48 horas. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Tendências em HIV/AIDS. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Tendências em HIV/AIDS. d) Uma vez aceito para publicação, o artigo torna-se propriedade Tendências em HIV/AIDS e somente a revista poderá autorizar a reprodução dos artigos nela contidos. e) A publicação do artigo, quando aceita, obedecerá à programação editorial. Página de rosto A página de rosto deve conter: a) o título do artigo, na língua portuguesa e em inglês; b) Categoria a que pertence o trabalho; c) nome completo dos autores e afiliação institucional; d) nome endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Segunda página a) Resumo, sem exceder 200 palavras; b) Abstract: versão fidedigna do resumo; c) 3 a 6 palavras-chave extraídas do vocabulário DeCS - Descritores de Ciências da Saúde (http://decs.bvs.br); d) 3 a 6 keywords, baseadas no MeSH - Medical Subject Headings sss(http:// www.nlm.nih.gov/cgi/mesh/2006/MB_cgi). Caso não sejam encontrados descritores apropriados para cobrirem o assunto do trabalho, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Referências Bibliográficas As referências devem ser numeradas de forma consecutiva, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se númerais arábicos sobrescritos e sem parênteses ou colchetes. As referências devem seguir o estilo Vancouver, como exemplificado: Revistas Científicas Linnen J, Wages J, Jr., Zhang-Keck ZY, Fry KE, Krawczynski KZ, Alter H, et al. Molecular cloning and disease association of hepatitis G virus: a transfusiontransmissible agent. Science 1996;271(5248):505-8. Livros Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills. 2nd ed. Albany(NY): Delmar Publisher; 1996. Capítulos de Livro Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. P. 465-78. Anais de Congressos Kimura J, Shibasaki H. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. Dissertações e Teses Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly’s access and utilization [dissertation]. St. Louis(MO): Washington Univ.; 1995. Tabelas e Ilustrações a) todas as partes do artigo devem ser incluídas em um único arquivo, sendo que as tabelas e as ilustrações devem ser apresentadas ao final do corpo do texto, após as referências bibliográficas; b) as tabelas deverão ser numeradas seqüencialmente através de algarismos arábicos e identificadas na parte superior pelo termo “Tabela” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; c) as ilustrações deverão ser numeradas seqüencialmente por meio de algarismos arábicos e identificadas na parte inferior pelo termo “Figura” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; d) os títulos das tabelas devem ser suficientemente explicativos. Conflito de Interesses Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Reprodução Somente a Tendências em HIV/AIDS poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Estamos acessíveis a críticas e sugestões e poderemos ser contatados pelos endereços eletrônicos: [email protected] e [email protected] Dúvidas e sugestões também podem ser resolvidas através da editora: Atha Comunicação e Editora A/C: Fernanda Colmatti/ Arthur T. Assis Rua: Machado Bittencourt,190, cj.410 - Vila Mariana - São Paulo - Capital CEP 04044-000 - [email protected] 25 Agenda HIV Drug Therapy in the Americas Data: 13 a 15 de Junho de 2013 Local: São Paulo, SP, Brasil. Saiba mais sobre o evento: http://www.hivamericas.org/ XVII Conferência IAS sobre Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV Data: 30 de Junho a 3 de Julho de 2013 Local: Centro de Convenções Lumpur, em Kuala Lumpur (capital da Malásia) A XVII Conferência IAS (Sociedade Internacional de Aids) sobre Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV, realizada a cada dois anos, reúne cerca de 5 mil delegações de todo o mundo. Cientistas, profissionais da saúde, especialistas em saúde pública e representantes da sociedade civil debatem os últimos avanços em pesquisas sobre HIV e discutem novas percepções sobre a vulnerabilidade ao HIV, tratamento e progressão da doença, além da prevenção e ações de intervenção em todo o mundo. Saiba mais sobre o evento: http://www.ias2013.org VI Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids – ENJAHVA Data: 10 a 13 de Julho de 2013 Local: Brasília, DF, Brasil. Saiba mais sobre o evento: http://www.aids.gov.br/evento/2013/53119 Congresso Mundial de DST e Aids em Viena 2013 Data: 14 a 17 de Julho de 2013 Local: Centro de Convenções Hofburg (Viena - Áustria) O evento ocorre durante o XX Encontro Da Sociedade Internacional de Pesquisas em DST e o XIV Congresso da União Internacional contra as DST, em Viena (Áustria), pesquisadores e especialistas em HIV e DST vão debater os principais estudos e práticas de combate e tratamento desses agravos. Saiba mais sobre o evento: http://www.stivienna2013.com/ 3º Congresso Brasileiro sobre HIV-AIDS e Vírus Relacionados Data: 25 a 27 de Julho de 2013 Local: Salvador, BA, Brasil. Saiba mais sobre o evento: http://www.aidsinbahia.com.br/ IX Congresso da Sociedade Brasileira de DST e V Congresso Brasileiro de AIDS Data: 18 a 21 de Agosto de 2013 Local: Salvador, BA, Brasil. Saiba mais sobre o evento: http://www.aids.gov.br/evento/2013/52965 26 Tendências em HIV • AIDS (Volume 8 - Número 1. 26) 1320821-05/2013 - 05/2013