Malásia: Plano de desenvolvimento para 2057
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Malásia: Plano de desenvolvimento para 2057
Malásia: Plano de desenvolvimento para 2057 Ambrosio de Nelson, Sonia Jornalista & Ph.D., Universidade de Cingapura Uma década desde a devastadora crise financeira de 1997 e os países asiáticos continuam tentando se recuperar e atingir o nível médio de crescimento entre 4 a 8% ao ano que registravam antes da crise. A Malásia, um dos cinco países mais afetados, juntamente com Indonésia, Filipinas, Coréia do Sul e Tailândia está empenhada em acelerar sua recuperação; mas o problema, aparentemente, está na queda do volume de investimentos e na competitividade global decorrente do crescimento das economias da Índia e da China. O Primeiro Ministro da Malásia, Abdullah Ahmad Badawi, embarca numa remodelação da economia com vistas a uma nova era. Ao mesmo tempo, identifica vários setores que podem proporcionar não só o rejuvenescimento, mas também o crescimento econômico nos próximos 15 anos de 6,3 por cento ao ano, em média. . Planos para 2057 Entretanto, os planos do Premier vão muito mais longe; ele visualiza um país bastante desenvolvido em 2057, quando a Malásia celebrará cem anos de independência. Em discurso recentemente (junho 2007) no Clube de Negócios (Business Club), Abdullah Badawi frisou que a Malásia vai ter “cidadãos premiados com o Nobel, empresas verdadeiramente globais e liderança de marcas no mercado (brand), poetas e artistas reconhecidos internacionalmente, o maior número de patentes cientificas do mundo, alguns dos melhores esportistas do planeta, e possivelmente, o melhor time de futebol da Ásia”.1 Os planos prevêem que as universidades da Malásia serão celeiros de excelência para acadêmicos internacionais, e as cidades serão as mais vibrantes do globo. A Malásia comemora cem anos de independência do Reino Unido em 31 de Agosto de 2057. 1 Planos para 2020 Mas antes de alcançar os Cem Anos de Progresso, iniciativas menos ambiciosas e de curto prazo estão sendo planejadas pela administração. O Terceiro Plano Diretor Industrial (Third Industrial Master Plan), “Visão 2020”, é o mais recente projeto anunciado pelo Premier Badawi e tem por objetivo remodelar a Malásia, uma estratégia para tornar a nação desenvolvida até o ano de 2020. Dentro dos planos de rejuvenescimento econômico, o governo lançou o Terceiro Plano Diretor Industrial (IMP3), para o período de 2006-2020, que leva em consideração as emergências das economias da Índia e da China. Neste plano, a administração do Premier Abdullah Badawi identifica novas fontes de crescimento, entre elas os serviços profissionais, logísticas integradas, tecnologia de informação e comunicação, educação e treinamento, saúde e turismo. O plano IMP3 contará com investimentos de US$ 22,9 bilhões anualmente nas áreas de serviço, agricultura e manufaturados, que são os três pilares do crescimento econômico da Malásia. Pretende-se ainda expandir o comércio e dobrar o volume das exportações, 2 aumentar o nível médio de emprego de 10,9 milhões em 2005 para 12 milhões, incentivar o turismo que objetiva atrair 24 milhões de visitantes – o índice de 2006 foi de 17 milhões de visitantes. O Plano IMP3 baseia-se de forma acentuada na indústria de produtos manufaturados e de serviços, e encoraja os Malaios (cidadãos de origem étnica da península Malaia) a desenvolverem indústrias com potenciais para crescimento, como as indústrias de biotecnologia, de autopeças e de processamento de alimentos. O Plano visa maior desenvolvimento nos serviços de turismo e médico-hospitalar. A estratégia prevê crescimento econômico de 6,3 por cento a cada ano até 2020, um índice maior que a média de 4 por cento, obtida na última década. A indústria de produtos manufaturados está projetada para expandir cerca de 5,6 por cento ao ano, taxa menor do que a registrada 2 no período de 1996 a 2005, que foi de 6,2 por cento. O governo espera que o total de comércio com produtos elétricos e equipamentos eletrônicos, os quais ainda representam metade do total da exportação, seja triplicado até 2020. Em 2003, a Malásia exportou principalmente para os mercados dos Estados Unidos (19,6%), Cingapura (15,7%), Japão (10,7%), China (6,5%), Hong Kong (6,5%) e Tailândia (4,4%). O governo da Malásia tem ainda esperanças de reverter o declínio de investimento estrangeiro direto (FDI, sigla em inglês para Foreign Direct Investment), pois este é crucial para o desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia, área em que a Malásia perdeu para a Índia e onde a hiato já existente com a China está cada vez maior3. Desde a crise econômica, a Malásia viu reduzido seu influxo de investimento estrangeiro direto e a situação piorou com uma enfraquecida economia japonesa, uma vez que o Japão é o principal investidor na Malásia. Dessa forma, a queda do influxo de FDI levou a Malásia a liberar o regime de investimentos através de medidas que facilitassem a recuperação rápida da economia. IMP3 Plano Industrial Dentro do plano de desenvolvimento, as principais áreas de crescimento são: (i) Agricultura – Este setor deve ser transformado em um sistema mais comercializável, com base em tecnologia intensiva. O governo planeja investir mais de US$ 51 bilhões de dólares neste setor nos próximos 15 anos; (ii) Biotecnologia – O setor de combustível vem crescendo de forma significativa. Outras áreas que prometem inovações são biotecnologia em saúde, biotecnologia do setor agrícola e biotecnologia industrial. Todo o setor de industria que utiliza ou propicia conhecimento de ciências da vida ou produtos e serviços que usam tecnologia em suas produções, será beneficiado; (iii) produtos Halal; e (iv) multimídia. 3 A Malásia atualmente cultiva 4.2 milhões de hectares de óleo de palma e tem uma produção anual de 15,6 milhões de toneladas de óleo, dos quais 14 milhões são exportados. Em 2006 a Malásia e a Indonésia, fizeram acordo para armazenar 6 milhões de toneladas de óleo cru de palma para a produção de biocombustível. Cerca de uma dezena de instalações para biocombustível estão sendo construídas nos dois países e outras 20 unidades são planejadas4. O relatório de 30 de Agosto de 2006 do Credit Suisse estima que a produção global de biocombustível aumentará em 30% anualmente, entre o período de 2005-2010. Na Europa, o consumo de biocombustível poderá triplicar, passando de 3.8 milhões em 2006 e para 11.5 milhões de toneladas em 2011. A Europa provavelmente estará importando biocombustível da Ásia, particularmente da Malásia e da Indonésia, país que fornece 80% do óleo de palma mundialmente5. A Malásia é um dos países que lideram o mercado global de produtos Halal6 (o processo de abatimento de aves e animais que observa os rituais religiosos do Islamismo). O valor do comércio mundial de produtos Halal está estimado em US$ 2,2 trilhões anualmente. Devido ao crescimento do mercado mundial, a Malásia planeja investir anualmente nessa indústria entre US$ 800 bilhões e US$ 1 trilhão. Outra área que faz parte da remodelação econômica é o super corredor de multimídia7 (MSC Malásia), o ‘Vale Sillicon’ que conta com pelo menos 70 empresas multinacionais. Plano Malaio 2006-2010 Como parte de sua grande estratégia, o governo da Malásia lançou o Nono Plano Malaio The Ninth Malaysian Plan (9MP) - que objetiva situar o país em seu caminho para se tornar uma nação totalmente desenvolvida. Dentro do esquema do 9MP (período de 2006-2010), o governo planeja investir US$ 3.5 bilhões nos próximos cinco anos em tecnologia da informação, área que tem atraído investimentos das principais indústrias do setor. O conceito de ‘cybercidade’ ou ‘cybercity’, que existe em Kuala Lumpur, estendeu-se para os estados de Penang e Kedah 4 ao norte do país e novos centros de ‘cybercity’ estão planejados para os estados de Perak, Melaka, Johor e Sarawak. Quatro áreas de desenvolvimento foram definidas pelo governo: outsourcing, bioinformatics, e-commerce e digital content development. Dentre os investidores, a IBM está investindo US$ 3 milhões para instalar o Centro de Inovação IBM (ICC); a Oracle está expandindo sua infra-estrutura em Penang, considerada a segunda cidade destinada a se tornar ‘cybercity’ e centro das indústrias de manufaturados eletrônicos. A F-Secure escolheu a Malasia como seu centro de operações na Ásia8 . Críticos alegam que a Malásia tem tido vários planos de desenvolvimento, mas que tais planos como o 9MP, aparentemente, não estão convencendo os investidores sobre como a Malásia está se ajustando e se adaptando a um mundo muito mais competitivo. Países como China, Índia, Indonésia, Brasil, Vietnam, Turquia e várias outras economias estão competindo com a Malásia, além da existência de milhões de jovens ambiciosos e motivados que querem participar do crescimento global9. População A Malásia tem 26 milhões de habitantes10. Os malaios representam pouco mais de 60% e controlam cerca de 19% da riqueza do setor empresarial. Descendentes de chineses representam ¼ da população e controlam 40% do referido setor, enquanto a população de descendência indiana controla 1,2% e estrangeiros de outras origens controlam o restante. 5 1 The Straits Times, June 16, 2006, pg.34. 2 http://www.statistics.gov.my/english/frameset_keystats.php?fid=h 3 Associated Press, Straits Times, August 19, 2006, pg.22 4 Shameen, A. The Edge Singapore, September 11, 2006:20, ‘ Malaysia’s Makeover’. 5 Rong, Feiwen, The Edge Singapore, September 11,2006:24 ‘Credit Suisse; pal oil demand may rise’. 6 http://www.mida.gov.my/beta/news/view_news.php?id=2701 7 http://www.msc.com.my/msc/rollout_status.asp 8 Julian Matthews http://techon.nikkeibp.co.jp/article/HONSHI/20061206/125076/ 9 The Edge Singapore September 11, 2006:24 ‘short-term upside, long-term questions’. 10 http://www.abcmalaysia.com/tour_malaysia/m_states.htm 6