Os efeitos da aplicação das reservas chinesas em

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Os efeitos da aplicação das reservas chinesas em
Os efeitos da aplicação das reservas chinesas em títulos americanos
Bruna Pereira de Sá1
Giselle Caroline Marques Ferraz2
Resumo:
É de conhecimento público que a China tem se destacado na economia mundial e muito
se estuda a fim de saber quais seriam as razões para tal crescimento e desenvolvimento
bem como suas relações com os demais países do mundo. Como e com quem este país
se relaciona tem sido foco para algumas academias, e uma destas relações que este
artigo procurará retratar.
Sabendo que a China é possuidora de uma ampla reserva monetária e é o país que mais
investe na compra de títulos públicos dos Estados Unidos, tivemos como principal
objetivo deste artigo fazer uma analise sobre quais seriam os possíveis efeitos (nas
economias tanto americana como na chinesa) de uma suspensão ou redução da compra
desses títulos.
Inicialmente conceituamos alguns termos fundamentais ao entendimento do conteúdo
tratado introduzindo os títulos públicos. Depois fizemos um breve histórico das
economias chinesa (esta que tem seus primeiros relatos de civilização e técnicas
agrícolas desde 7000 anos a.C.) e americana (por enquanto, ainda é a maior potência
mundial), e por fim retratamos quais serão os possíveis efeitos dessa relação, que é mais
política do que financeira, da compra e venda de títulos públicos americanos.
Palavras-chave: China, títulos públicos, Estados Unidos
Abstract:
1
Graduanda em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES. Email:
[email protected]
2
Graduanda em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Email:
[email protected]
It is common knowledge that China has emerged in the world economy, and is studied in
order to know what are the reasons for such growth and development and its relations with
other countries. How and with whom this country has been the focus relates to some gyms,
and these relationships that this article will seek to portray.
Knowing that China is possessed of a large monetary reserves and is the largest investor in
the purchase of government bonds in the U.S., had the main objective of this article to do an
analysis on what possible effects (in both the Chinese and American economies) a
suspension or reduction of the purchase of these securities.
Initially conceptualized to some fundamental understanding of the content we treated
introducing government bonds. Then we did a brief history of Chinese economies (that have
its first reports of civilization and farming techniques since 7000 years BC) and American
(for now, is still the world's greatest power), and finally depict what are the possible effects
of that relationship which is more political than financial, purchase and sale of U.S.
government securities.
Keywords: China, government securities, United States
Resumen:
Es bien sabido que China se ha convertido en la economía mundial, y es estudiado con el fin
de saber cuáles son las razones de este crecimiento y el desarrollo y sus relaciones con otros
países. Cómo y con quién este país ha sido el foco se refiere a algunos gimnasios, y estas
relaciones que este artículo va a tratar de retratar.
Sabiendo que China está en posesión de una gran reserva monetaria y es el mayor inversor
en la compra de bonos del gobierno en los EE.UU., tuvo el objetivo principal de este artículo
hacer un análisis de lo posible los efectos (tanto en las economías china y estadounidense )
una suspensión o reducción de la compra de estos títulos.
Inicialmente conceptualizado en cierta comprensión fundamental de los contenidos hemos
tratado la introducción de bonos del gobierno. Luego hicimos una breve historia de las
economías china (esto tiene sus primeros informes de la civilización y de las técnicas de
cultivo desde 7000 años antes de Cristo) y americano (por ahora, sigue siendo la mayor
potencia del mundo), y finalmente describimos cuáles son los posibles efectos de esa
relación que es más político que económico, la compra y venta de títulos públicos EE.UU..
2
Palabras clave: China, bonos del gobierno, Estados Unidos
Introdução
Para maior compreensão do tema e detalhamento das circunstâncias, este artigo foi
dividido em quatro partes; onde inicialmente trataremos dos conceitos-chave
necessários para compreender o mercado de títulos.
Em seguida, relataremos a situação específica dos Estados Unidos, descrevendo o
funcionamento da dívida pública americana e o papel do American Treasury (Tesouro
americano) para a economia.
Caracterizaremos também a China e a especificidade e origens de suas reservas,
mostrando como estas são aplicadas no tesouro americano.
Por fim, concluiremos explicando quais os efeitos dessa relação, se caso a China
suspendesse ou reduzisse seu investimento nos títulos da dívida pública americana.
1. Conceitos
Inicialmente apresentaremos os conceitos de alguns termos fundamentais ao
entendimento do conteúdo que será estudado, baseado principalmente em informações
do Tesouro Nacional brasileiro.
Primeiramente, afirma-se que o conceito de dívida está simetricamente associado ao
conceito de crédito, isto é, para cada unidade de dívida existirá uma unidade de crédito
no sistema financeiro de determinada economia.
Quando os gastos do governo não conseguem ser supridos pelas as arrecadações de
impostos ou quando ele precisa de recursos para a gestão financeira (para controle do
nível de atividade, crédito ou consumo), o governo recorre às entidades e sociedade,
tomando dinheiro emprestado, esse valor que é tomado emprestado é chamado de dívida
pública.
A dívida pública pode ser de dois tipos, a interna que é quando o credor está dentro do
país, e a externa que é quando o credor está fora do país. Credores esses que podem ser
3
bancos públicos ou privados, investidores privados, instituições internacionais e
governos de outros países.
Captam-se recursos para financiar a dívida pública seja para investimento (financiar
gastos com planejamento e execução de melhorias em infraestrutura, bem como
aumento do capital do Estado) ou para custeio (financiar despesas já existentes, e
também a manutenção e conservação do patrimônio do Estado) no mercado financeiro
por meio da emissão de títulos públicos pelo Tesouro Nacional.
Esses títulos são produtos de renda fixa3, podendo ser adquiridos por pessoas físicas e
jurídicas. São considerados como investimentos de menor risco do mercado de capitais,
devido o seu pagamento estar sob a responsabilidade do Estado.
Para dar continuidade no objetivo de estudo deste trabalho, é importante também
compreender o conceito de taxa de risco zero para títulos públicos. Para
DAMODARAN(2007) basicamente, significa não existir risco de inadimplência nem
incerteza a respeito das taxas de reinvestimento que devem estar relacionadas a um
determinado período de tempo (para que os fluxos de caixa no início e fim da aplicação
seja zero, assim tudo será reinvestido), ou seja, o investidor tem pleno conhecimento
sobre os retornos esperados do ativo.
Para cobrir a incerteza de seus ativos, os governos aplicam em seus ativos um prêmio de
risco de inadimplência, ou seja: quanto maior for à incerteza com relação a um ativo
maior retorno ele dará por meio do risco de inadimplência, quanto menor for à incerteza
menor será o retorno.
O Tesouro Nacional é considerado como o conjunto dos meios financeiros que estão à
disposição de um Estado. Tem como uma de suas funções, os serviços de administração
(gestão dos recursos), que em muitos países estão ligados ao Ministério das Finanças.
Sendo os fundos públicos originados das receitas do estado, principalmente por meio da
tributação.
2. Estados Unidos
3
Segundo informações da Receita Federal, entende-se por ativos de renda fixa, aqueles em que o
retorno do capital ou a remuneração podem ser dimensionados no momento da aplicação. Isto é, a
pessoa que adquiri tais ativos de renda fixa já sabe desde o primeiro momento da compra o valor que
irá receber ao final do prazo da operação. Para tal, são utilizadas taxas de juros fixas (previamente
determinadas) ou indexadas (baseadas em um índice, por exemplo: Selic).
4
Os Estados Unidos da América (EUA) são um país desenvolvido e formam (ainda) a
maior economia do mundo. Com base nos dados de 2013 do Ministério das Relações
Exteriores (MRE) possui um PIB por paridade poder de compra de US$ 16,72 trilhões e
PIB per capita de US$ 52,839 (sendo considerada a sexta posição no ranking mundial).
Onde em 2012 destacou-se no terceiro lugar do ranking mundial de IDH. Os Estados
Unidos respondem a uma porcentagem significativa dos gastos militares do planeta e
são um forte líder econômico, político e cultural.
Considerando exclusivamente o Tesouro Norte-Americano (com base no site do U.S.
Department of the Treasury), vemos que ele busca: manter a economia do país forte e
criar oportunidades econômicas e de emprego através da promoção de condições que
permitam o crescimento econômico e a estabilidade no país e no exterior, fortalecer a
segurança nacional combatendo as ameaças e protegendo a integridade do sistema
financeiro, e gerenciando as finanças e os recursos do governo dos EUA de forma
eficaz.
A gestão dos recursos monetários dos Estados Unidos sempre foi à função primária do
Departamento do Tesouro (Treasury Department). Quer se trate de regulamentação dos
bancos nacionais, da determinação da política econômica internacional, da coleta de
imposto de renda e impostos especiais de consumo, emissão de títulos, relatos das
operações financeiras diárias do governo ou emissão de moeda. A única preocupação
que ainda une as atividades do Departamento de Tesouro é o dinheiro, pois é dividido
em vários escritórios sendo cada um individualmente responsável por um procedimento.
Embora formalmente estabelecido como um departamento executivo pela primeira
sessão do Congresso em 1789, muitas funções do Departamento do Tesouro estavam
sendo realizadas antes mesmo da assinatura da Declaração da Independência 13 anos
mais cedo. Ao longo das décadas, as funções do Departamento tem se expandido e se
tornado mais sofisticadas para atender às necessidades de uma nação em
desenvolvimento.
Hoje, o Departamento do Tesouro continua a ser a principal instituição financeira dos
Estados Unidos, com uma agenda de tempo integral da contabilidade, cobrança de
receitas, a produção de dinheiro, e formulação de política econômica.
5
Nos EUA o termo “dívida nacional” se refere às responsabilidades diretas do Governo
dos Estados Unidos. Há vários conceitos diferentes de dívida que em vários momentos
são usados para se referir à dívida nacional:
- A dívida pública é definida como títulos da dívida pública emitidos pelo Tesouro dos
EUA. Títulos estes que são principalmente títulos e valores mobiliários do Tesouro,
títulos de capitalização e títulos especiais emitidos para os governos estaduais e locais.
Uma parte fica em poder do público e uma parte vai para o fundo fiduciário4 do governo
americano (Government Trust Funds).
- Dívida detida pelo público (exclui a parcela da dívida que é detida pelo fundo
fiduciário do governo).Esta parte é a mais importante pois mede a quantidade
(acumulada) que o governo tomou emprestado para financiar déficits.
- Dívida federal bruta é composta de títulos da dívida pública e uma pequena quantidade
de valores mobiliários emitidos por agências governamentais.
Durante muito tempo os títulos da dívida pública dos Estados Unidos foram
considerados o investimento mais seguro do mundo (risco zero), exceto em outubro de
2013 quando a dívida atingiu seu teto de US$ 16,699 trilhões (o teto é o valor limite que
o governo pode tomar emprestado no mercado para honrar seus compromissos)
colocando em risco sua credibilidade, pois se este teto não fosse aumentado o Tesouro
americano não poderia mais tomar dinheiro emprestado no mercado e poderia ficar sem
caixa para honrar seus compromissos.
Segundo dados divulgados no jornal online G1, publicado em fevereiro de 2014, antes do
aumento do teto, inúmeros serviços e atividades do país que dependiam de servidores
públicos deixaram de funcionar. Como o limite dos gastos foi ultrapassado, isso afetou a
estrutura do governo, e o país passou a ser visto com desconfiança e tem de pagar mais juros
pelos empréstimos feitos (como visto no tópico 1, a perda da credibilidade faz com que o
prêmio de risco de inadimplência tenha de ser maior). A elevação dos juros nos EUA
repercute também em outros países, visto que as taxas pagas lá são referência para o resto do
mundo.
4
Um fundo fiduciário é um fundo composto por uma variedade de ativos destinados a proporcionar
benefícios a um indivíduo ou organização. É utilizado para garantir a segurança financeira do
beneficiário. Que neste caso é o governo americano.
6
O limite do teto é alto, pois reflete os efeitos da crise financeira de 2008 (o país precisava de
mais dinheiro para estimular a economia) além dos altos gastos ao longo dos anos para
financiamento de guerras e ações militares.
O risco de comprometimento da credibilidade teve fim quando em fevereiro de 2014 o
Congresso aprovou o aumento do limite legal da dívida para US$ 17,2 trilhões (previsto para
ser aplicado até março de 2015).
Os efeitos de uma crise neste aspecto provocaria uma falta de liquidez mundial, visto que a
maior parte das reservas de moeda internacionais de todos os bancos centrais é em dólar. Os
países que possuem maior parte dos títulos da dívida pública dos EUA seriam os mais
prejudicados, pois o dólar perderia muito valor (dentre outros efeitos).
Além do prejuízo para esses países, haveria turbulência nas bolsas de valores no mundo.
Entretanto não aprofundaremos neste assunto, deixamos a sugestão de estudo para os demais
pesquisadores.
As tabelas a seguir foram extraídas da Carteira de Aplicação Estrangeira em Valores
Mobiliários dos EUA de 2014 disponíveis no site do U.S. Department of the Treasury, e os
comentários são traduções livres e adaptadas pelas autoras deste artigo. O objetivo de
apresentá-las é mostrar como os países estão investindo nos títulos americanos,
especialmente a China.
7
A distribuição de títulos norte-americanos de longo prazo, representada na tabela 8, mostra
que, a China é a maior detentora de títulos americanos de longo prazo, com participações
similares relatados na pesquisa ($ 1,730 bilhões) e no SLT5 (1,729 $ bilhões). O Japão foi o
segundo maior detentor, com $ 1,703 bilhões de participações totais em valores mobiliários
americanos de longo-prazo na pesquisa e $ 1,706 bilhões no SLT. Semelhanças entre a
pesquisa do Departamento do Tesouro Americano e SLT é verídica em outros países
também.
5
SLT é uma abreviação de Securities Long Term (Títulos de longo prazo). O título completo do formulário
que disponibiliza esses dados é Aggregate holdings of Long-Term Securities by U.S. and Foreign
Residents (participação agregada de títulos de longo prazo por norte-americanos e estrangeiros
residentes). Trata-se de um registro dos detentores de títulos de longo prazo.
8
Essa outra tabela mostra o total de títulos do Tesouro dos EUA, e fornece detalhes sobre
participações estrangeiras de Títulos de Longo Prazo da dívida (Treasury long-term debt)
discriminados em Nominais (Nominal) e Títulos do Tesouro Protegidos da Inflação
(Treasury Inflation-Protected Securities – TIPS). Vemos então que a China continua a ser o
maior detentor de títulos do Tesouro Americano em junho de 2013, com um montante total
de $ 1277 bilhões, um aumento de US $ 130 bilhões em relação a junho de 2012.
3. China
3.1 Breve histórico da China
A China tem seus primeiros relatos históricos desde o séc. XX a.C., e até o séc. XV
representava cerca de 30% do Comércio e do PIB mundial, segundo estudos de PIRES
(2009). Na China foi inventado o papel, a pólvora, papel-moeda, a bússola, dentre outros.
Até por volta de 1820, o governo Chinês (então, dinastia6 MING) não tinha interesse de
expandir seu comércio/economia, e portanto vetou todas as tentativas de expansão marítima.
6
Dinastia é uma sucessão de soberanos, pertencentes à mesma família, por diversas gerações. Por um
período de mais de 2 mil anos a China foi governada por dinastias, sendo a última delas a dinastia CHING
(1644).
9
Após isso iniciou-se um período de conflitos para dominação do mercado chinês, pelas
economias ocidentais (Primeira e Segunda Guerra do Ópio)7
Seguiram vários conflitos, culminando na unificação só em 1949 quando os comunistas
tomam o poder, dando início ao governo de Mao Tsé-Tung onde o país adota a coletivização
de terras, dos bancos e das companhias estrangeiras. Falha a tentativa de aceleração do
processo de industrialização com o Grande Salto para Frente8.
Em 1966, novamente sob o comando de Mao, instaurou-se a Revolução Cultural na tentativa
de modificar a cultura e valores do país, instigando a população a se rebelar contra as
normas/pensamentos vigentes. Entretanto isso serviu para que as tropas do governo
identificassem os opositores e os perseguissem.
Em 1976, após a morte de Mao, assume Deng Xiao Ping, que a partir de então passou a
implantar reformas políticas e econômicas e futuramente propiciou a abertura das Zonas
Econômicas Especiais para empresas estrangeiras, modernizando as áreas da indústria,
agricultura, ciência e tecnologia. Tal modelo de abertura enfrentou rejeição da população,
pois as reformas geraram inflação e desemprego.
O país torna a enfrentar problemas internos, bem como todas as economias vinculadas ao
modelo soviético. Após a dissolução dos protestos internos, o governo Chinês opta por
continuar a abertura comercial e desde então a China apresenta crescentes avanços de
desenvolvimento e crescimento econômico.
3.2 China atualmente
Hoje a economia da República Popular da China é a segunda maior do mundo, superada
somente (e ainda) pelos Estados Unidos. Segundo dados de 2013 do Ministério das Relações
Exteriores (MRE) a china já tinha uma população de 1.360,8 milhões de habitantes, onde
7
A primeira em 1839/1942 e a Segunda em 1856/1860. Os ingleses afim de forçar a abertura comercial
chinesa, começaram a vender ilegalmente ópio (Substância produzida na Índia, extremamente viciante e
prejudicial à saúde) para a população da China. O vício provocou uma epidemia no país, fazendo com
que o governo intervisse o que resultou em conflitos armados. Por fim, os britânicos venceram ambas as
guerras, forçando dois tratados: na primeira, o Tratado de Nanquim; na segunda o tratado de Tianjin.
Tais tratados infligiram à China a abertura de vários portos, bem como pagamentos de indenizações de
guerra. Deixamos como sugestão de leitura o livro “The Opium War” de Julia Lovell.
8
Após o sucesso do primeiro Plano Quinquenal (1953-58), foi instituído o Segundo Plano Quinquenal
(1958-62) que ficou conhecido como “Grande Salto para Frente” que tinha por objetivo estruturar as
bases para o estabelecimento de uma ampla fase de industrialização. Entretanto, devido a graves secas
e inundações, inexperiência técnica e insuficiência estrutural o plano entrou em colapso, gerando crise e
fome na China. Mao Tsé-Tung é afastado da política.
10
94,3% é alfabetizada e possui expectativa de vida de 73,7 anos. Com um PIB de US$ 8,94
trilhões com paridade poder de compra de US$ 13,37 trilhões.
Quanto ao comércio exterior em 2013 apresentou um crescimento de 88,5% em relação a
2009, de US$ 2,21 trilhões para US$ 4,16 trilhões. E em 2012 foi classificada no ranking
como o 2º mercado mundial, após os Estados Unidos, sendo o 1ºexportador e o 2º
importador. O saldo da balança comercial apresentou-se superavitário em todo o período sob
análise, totalizando saldo positivo de US$ 261 bilhões em 2013.
Desde o ínicio das reformas implantadas por Deng Xiao Ping, o PIB apresentou crescimento
médio real de 10% ao ano. Segundo o PNUD (apud. NONNENBERG, 2010, p. 1) o IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano) passou de 0,53 (1975) para 0,78 (2006). Além de ser
o 3° maior país em extensão territorial com 9.561.000 Km².
De acordo com a mídia estatal chinesa (apud. Epoch Times), 70% (ou 2,3 trilhões de
dólares) estão investidos em ativos em dólar. Além do Tesouro Americano, isso incluiria a
dívida de agências e corporações norte-americanas e ações nos EUA. O resto é investido
predominantemente em euros (20-30%), libra esterlina e iene japonês (0-10%).
O enorme crescimento das exportações resultou num contínuo crescimento dos saldos
externos da China. Frente a isso, um importante dado fornecido em NONNENBERG (2010)
é de que as reservas internacionais que até 1998 eram menores que US$ 150 bilhões em
2008 já chegava à US$ 2 trilhões.
NONNENBERG (2007) explica em seu trabalho os motivos que levaram tal aumento nas
reservas internacionais:
Como foi possível à China acumular reservas internacionais em valores tão
elevados, mantendo a taxa de câmbio fixa sem, ao mesmo tempo, gerar pressões
inflacionárias? A contrapartida da elevação das reservas é o aumento da dívida
pública. Quanto maior a dívida, maiores os encargos financeiros e maior o déficit
fiscal. Entretanto, à diferença da maior parte dos demais países, tanto o déficit
fiscal da China quanto o valor inicial da dívida pública eram relativamente
pequenos. A dívida bruta do governo central passou de aproximadamente 6,5% do
PIB em 1990 para 15,7% em 2008. (NONNENBERG, 2010, p. 12)
Vemos ainda que enquanto a China apresenta um grande superávit no balanço de
pagamentos, os EUA aumentaram bastante seu déficit (aumento da dívida pública
explicado no tópico 2).
11
O mesmo autor citado faz uma importante observação pertinente a este trabalho sobre
os superávits chineses e déficits americanos:
É importante perceber que foram os superávits chineses que permitiram o
crescimento dos déficits norte-americanos. Isso porque o excesso de poupança na
Ásia resultou numa redução das taxas de juros globais, que contribuíram para a
expansão do consumo (e do investimento) nos Estados Unidos que, por sua vez,
acarretou o aumento do déficit em conta corrente. Dito de outra forma, o excesso
de poupança (sobre os investimentos) da China financiou o excesso de consumo
nos Estados Unidos. (NONNENBERG, 2010, p. 13)
Outro importante aspecto a ser considerado é a elevada taxa de poupança chinesa. Explica o
autor:
Tanto o setor público quanto as famílias e as empresas apresentam poupanças
líquidas positivas. A poupança das famílias vem se mantendo, de acordo com
estimativas, em torno de 17% do PIB, ao mesmo tempo em que a poupança das
empresas deve ter passado de cerca de 15% do PIB no início da presente década
para próximo a 27% em 2007. As famílias poupam muito porque necessitam
cobrir a maior parte dos gastos com saúde, educação e previdência, uma vez que o
governo cobra por esses serviços, ainda que parcela expressiva da população
receba alguns subsídios para saúde e educação. As empresas, boa parte delas de
propriedade do Estado, auferem lucros muito elevados, em razão do forte
crescimento da atividade e de custos relativamente baixos. Não apenas os salários
são baixos, mas diversos serviços públicos como energia, transporte e saneamento
são subsidiados pelo Estado, principalmente nas ZEEs. Além disso, os
empréstimos são concedidos a taxas de juros bastante reduzidas, mesmo a
empresas com riscos elevados. A forte participação da indústria também é um
elemento importante nessa equação. As empresas industriais apresentam uma
participação de investimentos maior do que a dos demais setores da economia e
necessitam de maiores lucros retidos. Finalmente, o Estado obtém taxas de
poupança mais elevadas do que a média dos demais países pois seus gastos em
saúde, educação e previdência são bem menores do que os da maior parte dos
demais. (NONNENBERG, 2010, p. 14)
As políticas econômicas chinesas, inclusive essas que induzem altos níveis de poupança
interna e promovem atividades relacionadas à exportação como o principal motor do
crescimento econômico da China, contribuíram para um aumento das reservas cambiais da
China na última década como já relatado acima.
As Políticas cambiais da China tentam retardar (e se possível parar) a valorização do Yuan
(ou RMB) em relação ao dólar. Isso faz com que as exportações chinesas fiquem mais
baratas e as importações estrangeiras para a China mais caras do que ocorreria se a China
mantivesse uma moeda flutuante.
O principal objetivo desta política é promover as indústrias de exportação da China e
encorajar o investimento estrangeiro. Para tal efeito, o banco central chinês deve intervir
fortemente nos mercados de câmbio, comprando dólares suficientes para manter a taxa de
câmbio chinesa favorável a esta política (moeda desvalorizada).
12
Tais políticas que induzem altas taxas de poupança visam amortecer o consumo interno e a
demanda por importações, enquanto a transferência de recursos financeiros vão em grande
parte, para as indústrias de exportação.
4. Relação entre China e Estados Unidos
Devido à sua baixa taxa de poupança, os Estados Unidos tomam emprestado para financiar o
seu déficit. Portanto, dependem de países com altas taxas de poupança, como a China, para
investir algum do seu capital nos Estados Unidos. Tais investimentos ajudam a manter as
taxas de juros dos Estados Unidos relativamente baixas e permitem que os Estados Unidos
consumam mais do que produzem.
Segundo MORRISON e LABONTE (2013), o mercado de títulos de dívida dos EUA é o
único mercado global que é grande o suficiente para absorver uma grande parte das
crescentes reservas chinesas. Tal ação é responsável também por garantir confiabilidade aos
títulos americanos, que continuem sendo considerados os mais seguros e líquidos
investimentos do mundo.
A crescente dependência dos EUA sobre a China para comprar títulos do Tesouro dos EUA
para ajudar a financiar seu déficit orçamentário tornou-se uma grande preocupação para
muitos políticos norte-americanos.
Muitas hipóteses foram levantadas no trabalho de MORRISON e LABONTE (2013)
“China’s Holdings of U.S. Securities: Implications for the U.S. Economy” onde supõe o que
aconteceria com essa relação:
1) Alguns levantaram preocupações de que as grandes explorações da China poderiam
dar-lhe vantagem econômica sobre os Estados Unidos.
2) Outros expressaram preocupação de que a China pode perder a fé na capacidade dos
Estados Unidos de cumprir suas obrigações de dívida, e, portanto, poderia tentar
liquidar tais ativos ou significativamente reduzir a compra de novos títulos, um
movimento que alguns acreditam que poderia danificar a economia dos EUA.
3) Outros ainda afirmam que a compra de títulos dos EUA pela China era um fator
importante que contribuiu para a crise das hipotecas subprime nos EUA e posterior
desaceleração econômica global, pois isso ajudou a manter as taxas de juros reais dos
EUA muito baixas e aumentou os desequilíbrios globais.
13
4) Autoridades chinesas, por outro lado, expressaram preocupações sobre a segurança
de suas grandes explorações de dívida dos EUA, e alguns argumentaram que a China
deve diversificar investimentos ou implementar políticas que retardem a acumulação
de reservas cambiais, o que diminuiria a necessidade de comprar ativos americanos.
Se a China reduzisse o investimento nos valores mobiliários dos Estados Unidos, isto
poderia aumentar as taxas de juros dos EUA. Com taxas de juros mais elevadas os gastos
com investimentos se tornariam menos vantajosos, e por sua vez reduziriam. Ceteris
Paribus, a redução na aplicação das reservas chinesas no Tesouro faria com que a demanda
externa global por ativos dos EUA caíssem, e isso faria com que o dólar se depreciasse. Com
o valor do dólar depreciado, o déficit comercial iria diminuir, pois o preço das exportações
americanas cairia no exterior e os preços das importações subiram nos Estados Unidos.
As proporções dos efeitos de tal ação dependeriam se esta causasse ou não um efeito manada
nos demais investidores estrangeiros, fazendo com que estes também reduzissem suas
aplicações no tesouro americano.
Considerações finais
Vimos, portanto, que uma das possíveis consequências dessa relação seria uma espécie de
desequilíbrio no mercado mundial, tanto econômica quanto politicamente. Isso se percebe,
pois, se a China deixasse de financiar a dívida americana, isto provavelmente faria com que
esta se desestabilizasse. Caso isso acontecesse, a própria China seria afetada, considerando
que depende fortemente das exportações para o crescimento econômico e o emprego, e visto
que os EUA são os maiores importadores de bens chineses (importações americanas da
China em 2012 foram de 426.000 milhões dólares).
Além da China, um caos se estabeleceria no mercado financeiro internacional, visto que
poderia provocar um efeito manada, pois a confiabilidade dos títulos americanos seria
abalada. Desestabilidade das moedas, dos mercados de bens e serviços, enfim das economias
como um todo além de acirrar a tensão entre os principais países (que além de potências
econômicas, detém grande poderio bélico).
É importante lembrar que tal equilíbrio anteriormente explicado é devido ao interesse mútuo
dessas economias: tanto os Estados Unidos de financiar sua dívida pública quanto a China
em aplicar suas reservas, mantendo assim o Yuan desvalorizado. E levantar ainda a hipótese
14
de que a China esteja se preparando para mudar sua estratégia voltando-se então para o
mercado interno e diversificando investimentos.
Entretanto, como não temos dados e fatos empíricos disponíveis para avaliar os reais efeitos
de uma suspensão ou redução da compra de títulos americanos pela China, deixamos nossas
hipóteses para serem comprovadas e/ou reavaliadas futuramente.
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15
Senado dos EUA aprova aumento do teto da dívida até março de 2015. G1 Economia.
02/2014. Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/02/senado-dos-euaaprova-aumento-do-teto-da-divida-ate-marco-de-2015.html>. Acesso em 24 de maio.
U.S.
Department
of
treasury.
Disponível
em:
<
http://www.treasury.gov/Pages/default.aspx>. Acesso em 16 de maio.
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