Importância do Segmento da Maçã e temor relativo à

Transcrição

Importância do Segmento da Maçã e temor relativo à
Fraiburgo (SC), 02 de junho de 2015.
Ao Excelentíssimo Senhor
Dr. João Raimundo Colombo
M. D. Governador do Estado de Santa Catarina
Florianópolis-SC
Ref.: Importância do Segmento da Maçã e temor
relativo à reintrodução da Cydia pomonella
Excelentíssimo Governador,
Uma vez mais agradecemos Vossa Excelência pelo apoio recorrente que presta a este
Segmento.
Permita-nos primeiramente, como parte deste ofício, compartilhar com Vossa Excelência
alguns números que destacam a importância do Segmento da Maçã no Brasil, bem como
regionalmente, sobretudo para os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul:
1. Em 2014, de acordo com o IBGE o Brasil produziu 1,38 milhão de toneladas de
maçã. Ademais, conforme informação da FAO, de 2012, o Brasil está entre os 10
maiores produtores da fruta no mundo. Os Estados de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul respondem por 96% da safra brasileira de maçãs, dividindo a
liderança da produção nacional com volumes muito próximos.
2. Cerca de 3.300 produtores brasileiros investiram o equivalente a R$ 4 bilhões na
maleicultura.
3. De acordo com o estudo “Cadeia produtiva da maçã no Brasil: limitações e
potencialidades”, publicado pelo BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do
Extremo Sul em junho de 2011, o Segmento da Maçã gera cerca de 58.500
empregos diretos e outros 136.500 indiretos.
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4. De acordo com a última POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo
IBGE em 2008-2009, cada brasileiro ingere em média 4,2 Kg por ano de maçã, o
que faz da fruta a terceira mais consumida no País.
5. O Faturamento do Segmento da Maçã no Brasil em 2014 foi na ordem de R$ 2,1
bilhões.
Ademais, queremos partilhar informações e nossas preocupações em relação à praga
Cydia pomonella.
A Cydia pomonella está a caminho de ser reintroduzida no Brasil. Lamentavelmente
podemos afirmar categoricamente isto, especialmente com a informações que nos
chegam de que a partir de 01 de junho de 2015 o comércio com a Argentina poderá ser
retomado. Explicamos tudo nos pontos abaixo.
• A larva da Cydia pomonella fica até 2 (dois) anos em diapausa, isto é, viva, em
estado paralisado de desenvolvimento e sem necessidade de alimentação,
podendo retomar o ciclo de desenvolvimento até virar mariposa a qualquer
momento. Mais importante: a exposição da larva de Cydia pomonella ao frio
não a mata, não importa quanto dure tal exposição.
• A larva de Cydia pomonella não se aloja apenas no fruto, mas na embalagem da
maçã ou pêra, tanto em bandejas como na própria caixa. Mesmo que fosse apenas
no fruto, seria muito difícil evitar a entrada dela no Brasil apenas com as inspeções
realizadas na fronteira pelos fiscais federais agropecuários. Com a possibilidade de
alojamento da larva na embalagem isto fica ainda mais difícil. A larva de Cydia
gosta tanto do ambiente da embalagem, que produtores orgânicos costumam
colocar papel corrugado aos pés das fruteiras para atraí-la e com isto reduzir a
aplicação de agroquímicos.
• As informações que temos é a de que nos 4 primeiros meses do ano foram
detectadas 28 larvas de Cydia pomonella pelos fiscais federais agropecuários do
Brasil, em partidas de maçãs e peras oriundas da Argentina. Isto é um absurdo,
um escândalo fitossanitário que demonstra o risco fitossanitário alarmante
que representa esta origem para o Brasil. Isto porque por mais eficiente que seja
o fiscal federal agropecuário, a amostragem jamais dará plena garantia de que a
praga não esteja entrando. Se 28 Cydias foram pegas na fronteira quantas
entraram: 28 mil???? 100 mil???? 200 mil???
• Esta maçã e pêra importada (não só da Argentina) estão sendo armazenadas nas
regiões produtoras o que por si só já representa um risco. Além disso, elas são
reprocessadas, reembaladas, uma parte delas é desclassificada e vai para o
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“lixão” da cidade junto com as embalagens. Enfim, como a larva fica até 2 anos em
diapausa há forte risco de que esta praga já esteja novamente no Brasil, e iremos
constatar a presença dela nos próximos anos.
•
No dia 24 de março de 2015, diante dos escândalos relacionados ao número de
interceptações de Cydia pomonella a partir das importações de maçã e pera da
Argentina, o Brasil suspendeu temporariamente o comércio com o País vizinho.
Porém, permitiu que as licenças de importação já registradas tivessem validade.
Resultado: o fluxo de comércio praticamente seguiu o mesmo ritmo, e nossos
pomares mantiveram-se sob risco:
*Importação Argentina Abril – Volume (t)
Fruta/Ano
Maçã
Pêra
Total
2015
2.320
15.804
18.124
2014
3.996
17.922
21.918
*Seguramente no período entre a publicação do decreto de suspensão (24/03) até o dia de hoje,
foram importadas mais de 1000 (uma mil) carretas de maçã e pêra da Argentina.
• Agora nos chega a informação de que a partir do dia 01/06/2015 o Brasil poderá
autorizar novamente o comércio com a Argentina. Isto é um absurdo, porque os
índices alarmantes de detecção de Cydia pomonella apontam que a Argentina
foi omissa no tratamento desta praga, e que sua produção armazenada é de alto
risco. Se fizer isto o Brasil estará importando um sem número de larvas
diapausantes, reintroduzindo a praga e colocando os investimentos dos produtores
brasileiros de maçã em risco. Não há argumento técnico que sustente a
reabertura do mercado neste ano, porque a fruta argentina que está
armazenada foi produzida de maneira falha. Uma eventual reabertura só poderia
se dar a partir do próximo ano, dentro de um novo sistema de mitigação imposto
pelo Brasil e assumido com responsabilidade pela Argentina, e que seria praticado
nos pomares argentinos no novo ciclo que começa em julho, e com frutas que
serão colhidas a partir de janeiro do próximo ano. Ademais, a interceptação de uma
única praga deve determinar o fechamento de nosso mercado SEM ADMITIR
LICENÇAS DE IMPORTAÇÃO JÁ EMITIDAS. Uma praga interceptada sugere que
centenas, ou talvez milhares foram introduzidas.
• É importante registrar:
o Devido à importância maiúscula desta praga, a erradicação dela sempre foi
prioridade para os produtores de maçã. Tanto isto é verdade que a ABPM
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alocou R$ 1,2 milhão de reais para o programa num sacrifício dos
produtores para se verem livres dela. O MAPA alocou mais de R$ 5 milhões.
O Estado de Santa Catarina também alocou volume expressivo de recursos,
assim como o Rio Grande do Sul.
o A Cydia pomonella é considerada uma das piores pragas da pomicultura em
nível mundial. Se estabelecida nos pomares brasileiros de maçã demandaria
especificamente para o seu controle no mínimo duas aplicações anuais de
inseticidas de elevada toxicidade, os quais sequer estão registrados para a
cultura no País. O custo anual de tratamento (caso tivéssemos inseticidas
registrados) seria na ordem de R$ 10 milhões, ainda assim, ocorreriam
perdas de produção de pelo menos 2% ou R$ 30 milhões, fora prejuízos
com a perda de mercados, e o mais importante, um forte impacto ambiental
nas regiões produtoras.
Os produtores de maçã sentem-se frustrados. O descontrole da praga na Argentina é
imenso pelo fato de os argentinos terem perdido o controle da praga, em franco contraste
com o trabalho sério e comprometido que foi feito pelos pomicultores brasileiros em
parceria com o Governo Federal e Governos Estaduais de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul. Isto e os altos volumes de importação de maçã e de pêra da Argentina
tornam esta origem de grande risco de reintroduzir a praga no País. Entregar nosso
mercado a eles da maneira como a fruta foi produzida é sentenciar o pomicultor brasileiro
à reintrodução da praga. Fizemos um trabalho espetacular nos últimos 20 anos para alijar
o Brasil da Cydia pomonella. E apesar disso, não conseguimos sequer livrá-los do perigo
imenso que representa o produto argentino, quem dirá as outras origens de maçã e de
pêra que também nos expõem ao risco.
Os produtores de maçã solicitam a atuação de Vossa Excelência junto à Excelentíssima
Ministra da Agricultura, Kátia Abreu, para alertá-la diretamente dos riscos envolvidos com
a retomada das importações da Argentina.
Atenciosamente,
Pierre Nicolas Pérès
Presidente
Moisés Lopes de Albuquerque
Diretor Executivo
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