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Co lec çã o Bo as Pr át ica sd aO NU SID A Mudança de comportamento sexual em relação ao HIV: Até aonde nos levaram as teorias? M E AT R L IA E E SS N A CI L UNAIDS/99.43E - (Original em inglês: Junho 1999) © Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA (ONUSIDA) 2001. Reservados todos os direitos de reprodução. Este documento, que não é uma publicação oficial da ONUSIDA, pode ser livremente comentado, citado, reproduzido ou traduzido, parcial ou integralmente, desde que se mencione a sua origem. Não poderá ser vendido nem utilizado com fins comerciais sem autorização prévia por escrito da ONUSIDA (contacto: Centro de Informação da ONUSIDA). As opiniões expressas cujo autor é citado pelo nome são da exclusiva responsabilidade deste. 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ONUSIDA GENEBRA, SUÍÇA 1999 ÍNDICE Abreviaturas ............................................................................................................................ 4 Introdução .............................................................................................................................. 5 I.Teorias e modelos de mudança comportamental ................................................................ 6 (A) Foco nos indivíduos ................................................................................................. 6 (B) Teorias e modelos sociais ......................................................................................... 8 (C) Factores estruturais e de ambiente ........................................................................ 10 (D) Constructos isolados e modelos transteóricos ........................................................ 11 II.Abordagens-Chave à mudança comportamental relativa ao HIV .................................... 13 (A) Abordagens orientadas para a mudança comportamental ao nível individual ......... 13 Informação, educação e comunicação ................................................................... 13 Testes e aconselhamento ....................................................................................... 16 Conclusão ............................................................................................................. 17 (B) Intervenções ao nível da comunidade .................................................................... 17 Influência social e intervenções em redes sociais .................................................... 17 Intervenções de extensão ...................................................................................... 19 Intervenções baseadas na escola ........................................................................... 19 Promoção e marketing social do preservativo ........................................................ 20 Pesquisa da organização, potenciação e acção participatória da comunidade Intervenções ao nível de políticas ........................................................................... 22 Conclusão ............................................................................................................. 22 III.Exemplos de impacto das intervenções orientadas por teorias .................................... 24 (A) Mulheres ............................................................................................................... 24 Trabalhadoras do sexo ........................................................................................... 26 Conclusão ............................................................................................................. 26 (B) Homens ................................................................................................................ 27 Homens que fazem sexo com outros homens (HSH) .............................................. 27 Heterossexuais ...................................................................................................... 28 Conclusão ............................................................................................................. 28 (C) Juventude ............................................................................................................. 28 Conclusão ............................................................................................................. 28 (D) Utilizadores de drogas injectáveis .......................................................................... 30 Conclusão ............................................................................................................. 31 IV.Desafios (A) (B) (C) (D) ............................................................................................................................. 32 Questões de concepção/contexto .......................................................................... 32 Género .................................................................................................................. 32 Epidemia dinâmica ................................................................................................ 33 Resultados nulos ................................................................................................... 33 V.Conclusões ........................................................................................................................... 35 3 Referências ................................................................................................................................ 37 Tabelas ....................................................................................................................................... 45 Tabela 1: Tabela 2: Tabela 3: Tabela 4: Panorama das teorias do comportamento humano mais frequentemente usadas .... 47 Modelos e teorias testados através da investigação ou resenhas .............................. 48 Modelos e teorias usados para orientar as intervenções ........................................... 50 Sumário das teorias e modelos por grupo populacional ........................................... 55 ABREVIATURAS AT DTS HSH ISP MCS MLEI MRRS PAP RAD TAC TASO TCS TS UDI Aconselhamento e teste de HIV (Counselling and Testing for HIV – CT) Doença(s) de Transmissão Sexual Homens que fazem sexo com outros homens Instrumentos para a Saúde e Potenciação Modelo da Crença na Saúde (Health Belief Model – HBM) Modelo do Líder de Extensão Interno (indígena) (Indigenous Leader Outreach Model– ILOM) Modelo de redução do risco de SIDA (AIDS Risk Reduction Model – ARRM) Pesquisa de Acção Participatória (Participatory Action Research – PAR) Relação Anal Desprotegida Testagem Aleatória Controlada (Randomized Controlled Trial – RCT) The AIDS Support Organization, Uganda (Organização de Apoio para o SIDA, Uganda) Teoria Cognitiva Social Trabalhadora do sexo Utilizador de drogas injectáveis 4 mente o quadro teórico do projecto. E, em muitos casos, não há intenção explícita de basear as intervenções em modelos de mudança comportamental, uma vez que um grande número delas foi impulsionado pela urgência de fazer alguma coisa para retardar a epidemia, particularmente em locais de poucos recursos. A primeira intenção desta resenha foi a de olhar tão amplamente quanto possível para todas as intervenções com vista a identificar os resultados da enorme variedade de situações abordadas. Contudo, isto implicaria analisar retroactivamente todos os programas de intervenção para definir os seus fundamentos teóricos, o que não era praticável dentro do escopo, tempo e recursos deste projecto. INTRODUÇÃO Hoje, em 1999, as intervenções para reduzir a disseminação do HIV no mundo são tão variadas quanto o são os contextos em que as encontramos. A epidemia do HIV não é apenas dinâmica em termos de opções de tratamento, estratégias de prevenção e progressão da doença, como também no comportamento sexual, que continua a ser o primeiro alvo dos esforços da prevenção do SIDA em todo o mundo, que é também amplamente diverso e está profundamente enraizado nos desejos individuais, relações sociais e culturais, ambiente e processos económicos. Isto torna a prevenção do HIV, que podia ser uma tarefa essencialmente simples, enormemente complexa, envolvendo uma multiplicidade de dimensões. Esta resenha focaliza em primeiro lugar os seguintes tipos de relatórios: • intervenções para a mudança do comportamento sexual em relação ao HIV, que mencionam explicitamente a sua base teórica Quer implicitamente, quer explicitamente, quase todas as intervenções de prevenção são baseadas em teorias. Muitas assentam na assunção de que dar informação correcta acerca da transmissão e prevenção conduzirá à mudança de comportamento. No entanto, por várias vezes, as pesquisas já provaram que só a educação não é suficiente para induzir à mudança comportamental em muitos indivíduos. Assim, foram desenvolvidas intervenções de segunda geração com base em abordagens cognitivas e psicossociais individuais que educam os indivíduos em habilidades práticas para reduzir o seu risco de infecção pelo HIV (Kalichman, 1997). Muito recentemente, investigadores sociais chegaram à conclusão de que, uma vez que os comportamentos de saúde complexos, como o sexo, ocorrem num contexto, os factores socioculturais que circundam o indivíduo têm que ser considerados quando se concebem intervenções de prevenção. Finalmente, por detrás do indivíduo e das suas relações sociais imediatas estão as maiores questões de determinantes estruturais e ambientais que também jogam um papel significativo no comportamento sexual (Sweat, 1995). • estudos testando modelos teóricos de mudança comportamental • e resenhas sobre o impacto das intervenções na mudança comportamental. Exemplos adicionais de projectos de países em desenvolvimento foram usados para contrabalançar as observações e conclusões retiradas das fontes acima para compensar a falta de modelos testados nestes países. Muitos dos estudos citados neste relatório incluem controle ou comparação de situações e resultados comportamentais. Os relatórios que incluem apenas resultados ao nível de conhecimento e atitudes foram excluídos. Também foram excluídas algumas intervenções que usaram constructos de uma variedade de teorias, tentando incorporar elementos sociais, ambientais e cognitivos, ou que usaram constructos apenas, sem teorias de teste como um todo. Infelizmente, foi difícil identificar intervenções baseadas tanto em abordagens transteóricas como em fortes componentes de avaliação. O objectivo deste projecto era o de associar os resultados das intervenções comportamentais à escala do mundo aos diferentes modelos e teorias em que elas são baseadas. Há, no entanto, uma escassez de informação quanto à avaliação da relevância dos modelos de mudança comportamental em diferentes contextos, especialmente em países não industrializados e em regiões em estado avançado da epidemia. Muitos relatórios de intervenções, quer em resenhas de revistas da especialidade, quer em resumos de conferências, quase nunca informam explicita- Finalmente, esta resenha foi organizada em quatro secções, incluindo: • uma curta visão geral dos modelos teóricos de mudança de comportamento • uma revisão das abordagens-chave usadas para reduzir a transmissão sexual do HIV. • um sumário de intervenções bem sucedidas que tiveram como alvo populações específicas em risco • e uma discussão dos desafios que permanecem. 5 CHAPITER CAPÍTULO II TEORIAS E MODELOS DE MUDANÇA COMPORTAMENTAL Este capítulo está dividido em 4 secções, que cobrem as teorias e modelos de mudança de comportamento mais frequentemente usados, numa variedade de perspectivas (ver Tabela 1). Ele começa com teorias que focalizam o processo psicológico da pessoa, tais como atitudes e crenças, depois entra em teorias que enfatizam as relações sociais e termina com factores estruturais que explicam o comportamento humano. Esta separação é artificial, uma vez que há sobreposições inevitáveis nas categorias. Assim, pode ser útil ver as teorias como um continuum de modelos, que vai desde aqueles que se centram estritamente no indivíduo até aos que focam o nível macroestrutural e ambiental. (A) FOCO NOS INDIVÍDUOS Como a transmissão do HIV é propulsionada por factores comportamentais, as teorias acerca de como os indivíduos mudam o seu comportamento forneceram as bases para muitos dos esforços da sua prevenção em todo o mundo. Essas teorias foram criadas usando constructos cognitivo-atitudinais e afectivo-motivacionais (Kalichman,1998). Quase todas as teorias psicossociais tiveram origem no Ocidente, mas foram usadas internacionalmente para o SIDA, com resultados variados. Apenas um dos modelos psicossociais discutido abaixo, o modelo de redução do risco do SIDA, foi desenvolvido especificamente para o SIDA. Os modelos psicossociais do risco comportamental podem ser categorizados em 3 grupos principais: aqueles que dão indicações sobre o comportamento de risco, aqueles que dão indicações sobre mudanças de comportamento e aqueles que dão indicações sobre a manutenção do comportamento seguro. Os modelos de mudança de comportamento individual geralmente focalizam as etapas que os indivíduos atravessam quando tentam mudar de comportamento. Estas teorias e modelos geralmente não consideram a interacção social, questões culturais e ambientais como sendo independentes dos factores individuais (Auerbach,1994). Apesar de cada teoria ser 6 construída a partir de assunções diferentes, todas elas afirmam que as mudanças de comportamento ocorrem pela alteração de potenciais situações e relações sociais que produzem risco, percepções de risco, atitudes, crenças de autoeficácia, intenções e expectativas de resultados (Kalichman, 1997). Importante para intervenções de prevenção do HIV baseadas na teoria psicológico-comportamental é visar habilidades de prática de redução do risco. Essas habilidades são geralmente passadas para os indivíduos num processo que consiste em instrução, exemplificação, prática e feedback (Kalichman, 1997). As teorias e modelos psicológicos que foram muito importantes no desenho e desenvolvimento de intervenções de prevenção do HIV são sumariamente descritas abaixo. Modelo da crença na saúde O modelo da crença na saúde, desenvolvido nos anos 50, considera que o comportamento saudável é uma função das características sóciodemográficas, conhecimento e atitudes do indivíduo. De acordo com este modelo, uma pessoa deve ter as seguintes crenças para ser capaz de mudar de comportamento: (1) susceptibilidade percebida a um problema particular de saúde (“estou em risco em relação ao HIV?”) (2) gravidade percebida dessa condição (“quão grave é o SIDA; quão dura há-de ser a minha vida for infectado?”) (3) crença na eficácia do novo comportamento (“os preservativos são eficientes contra a transmissão do HIV”) (4) disposições para a acção (“testemunhar a morte ou doença de um grande amigo ou familiar devido ao SIDA”) (5) sentir as vantagens da acção preventiva (“se começo a usar o preservativo , evito a infecção do HIV”) (6) barreiras para iniciar a acção(“não gosto de usar preservativos”) Neste modelo, promover acções para a mudança de comportamento inclui mudar as crenças pessoais do indivíduo. Os indivíduos pesam os benefícios contra os possíveis custos e barreiras para a mudança. Para a mudança ocorrer, os benefícios devem pesar mais que os custos. Com CAPÍTULO I ralmente racionais e fazem uso sistemático da informação que têm à disposição. As pessoas consideram as implicações das suas acções num dado contexto e numa dada altura antes de se decidirem a adoptar ou não adoptar um dado comportamento, e que muitas das acções de relevância social estão sob controle volitivo (Agzem,1980). A teoria de acção racionalizada é , conceptualmente igual ao modelo de crença na saúde, mas acrescenta o constructo da intenção comportamental como uma determinante do comportamento saudável. Ambas as teorias centram-se na susceptibilidade percebida e nos benefícios e impedimentos percebidos da mudança de comportamentos. A teoria de acção racionalizada centra-se especificamente no papel da intenção pessoal de determinar se um comportamento há-de ocorrer. A intenção de uma pessoa é uma função de duas determinantes básicas: respeito ao HIV, as intervenções normalmente visam a percepção do risco, crenças na gravidade percebida (“não há cura”), crenças na eficiência e nos benefícios do uso do preservativo ou no retardamento do início de relações sexuais. Teoria cognitiva (ou da aprendizagem) social A premissa da teoria cognitiva social ou teoria da aprendizagem social (TCS) é a de que os novos comportamentos são aprendidos, ou imitando o comportamento dos outros, ou por experiência directa. A teoria da aprendizagem social centrase nos importantes papéis jogados pelo processo de colocar-se no lugar de outro, pelos processos simbólicos e pelo de auto-regulação no funcionamento psicológico e olha para o comportamento humano como uma contínua interacção entre determinantes cognitivos, comportamentais e ambientais (Bandura, 1977). Os principais princípios da teoria social cognitiva são: (1) atitude (em relação ao comportamento) e (2) ‘normas subjectivas’, i.e., influência social • Auto-eficácia – a crença na habilidade de implementar o comportamento necessário (“eu sei que posso insistir no uso do preservativo com o meu parceiro”) As crenças “normativas” jogam um papel central na teoria e, geralmente, incidem sobre aquilo que um indivíduo acredita que outras pessoas , especialmente pessoas influentes, esperarão que ele/ela faça. • Resultados esperados – crenças acerca dos resultados, tais como a crença de que usar correctamente o preservativo irá prevenir a infecção com o HIV Por exemplo, para uma pessoa começar a usar preservativos, a sua atitude pode ser a de que “fazer sexo com preservativo é tão bom como fazer sexo sem preservativo” e as normas subjectivas (ou a crença normativa) podem ser as de que “muitos dos meus amigos estão a usar preservativos e eles esperariam que eu também o fizesse”. As intervenções que usam esta teoria para orientar as suas actividades centram-se em atitudes acerca da redução de riscos, respostas às normas sociais e intenções de alterar comportamentos de riscos. Os programas construídos com base na TCS integram informação e mudança de atitude para alcançar motivação e reforço de habilidades de redução do risco e auto-eficácia. Especificamente, as actividades centram-se na experiência que as pessoas têm de falar com os seus parceiros acerca de sexo e do uso do preservativo, as crenças positivas e negativas acerca da adopção do uso de preservativo e o tipo de barreiras ambientais que enfrentam para a redução de risco. Uma meta-análise de intervenções de redução de riscos de HIV que usaram a TCS em testagens controladas experimentais verificou que as 12 intervenções publicadas com maioria de indivíduos não infectados obtiveram mudanças positivas nos comportamentos de risco, com uma dimensão média de efeitos que atingiu ou ultrapassou os efeitos de outras intervenções baseadas em teorias de mudança de comportamento (Greenberg, 1996). Modelo das etapas da mudança Este modelo, formulado no inicio dos anos 90 por Prochaske, DiClemente e colegas, especificamente para se deixar de fumar, postula 6 etapas que o indivíduo ou grupos atravessam quando estão no processo de mudança de comportamento: pré-contemplação, contemplação, preparação, acção, manutenção e recaída. Com respeito ao uso do preservativo, as etapas podiam ser descritas como: Teoria da acção racionalizada (1) Não considerou o uso do preservativo (précontemplação) A teoria de acção racionalizada, produzida em meados dos anos 60 por Fishbeim e Agzem, é baseada na suposição de que os seres humanos são ge- (2) Reconhece a necessidade de usar o preservativo (contemplação) 7 CAPÍTULO I (3) Começa a pensar em usar preservativo nos próximos meses (preparação) Os programas que usam o modelo de redução do risco do SIDA centram-se em: (4) Usa preservativos consistentemente em menos de 6 meses (acção) • avaliar o risco do cliente (5) Usa preservativo consistentemente durante 6 meses ou mais (manutenção) (6) “Tropeça” no tocante ao uso do preservativo (recaída). Para que uma intervenção seja bem sucedida, deve incidir sobre a etapa apropriada do indivíduo ou grupo. Por exemplo, o aumento da consciência entre as etapas um e dois. Grupos e indivíduos passam por todas as etapas, mas não se movimentam necessariamente de uma forma linear (Prochaska 1992). Como as anteriores teorias, o modelo das etapas de mudança enfatiza a importância dos processos cognitivos e usa o conceito de auto-eficácia de Bandura. O movimento entre as etapas depende de processos cognitivocomportamentais. Entre outros (ver Tabela 3), o CDC usa o modelo das etapas de mudança nos seus projectos de demonstração comunitária sobre SIDA para populações marginalizadas nos EUA visando alterar os comportamentos sexuais das mulheres com os principais parceiros (Galavotti 1998). Modelo da redução do risco do SIDA O modelo de redução do risco do SIDA, formulado em 1990 (Catania et al) usa constructos do modelo de crença na saúde, da teoria cognitiva social e da teoria da difusão de inovação (um modelo social descrito abaixo) para descrever o processo por que passam os indivíduos (ou grupos) enquanto alteram o seu comportamento relativamente ao risco do HIV. O modelo identifica três etapas envolvidas na redução do risco de transmissão do HIV incluindo: (1) classificação do comportamento, (2) compromisso de mudar (3) iniciar a acção Na primeira etapa, o conhecimento acerca da transmissão do HIV, susceptibilidade percebida ao HIV, bem como as emoções contrárias influenciam o modo como as pessoas entendem o SIDA. A etapa do compromisso é caracterizada por quatro factores: percepções do prazer, auto-eficácia, normas sociais e emoções contrárias. Uma vez mais, na última etapa, as emoções contrárias, a comunicação sexual, o comportamento de procura de ajuda e factores sociais afectam o processo de tomada de decisões das pessoas (Catania, 1990). 8 • influenciar a decisão de reduzir o risco através de percepções de prazer ou auto-eficácia, • apoiar o cliente para encetar a mudança (acesso a preservativos, apoio social) Conclusão Estas teorias e constructos psicossociais foram muito úteis no inicio da epidemia para identificar os comportamentos individuais associados a taxas elevadas de transmissão do HIV. Elas continuam a garantir importante orientação para as intervenções na formulação de planos e avaliação em relação a grupos populacionais diversos numa grande variedade de locais. Estas teorias também ajudam a compreender os resultados de estudos. É importante, contudo, prestar particular atenção a estas teorias no tocante a diferentes culturas e géneros, uma vez que quase todas as teorias baseadas no indivíduo foram formuladas no Ocidente, com pouco enfoque no papel do género. Apesar de numerosos estudos terem provado a utilidade destas teorias, torna-se cada vez mais evidente que sozinhas elas não explicam inteiramente por que é que alguns grupos populacionais têm uma prevalência mais elevada de HIV do que outros, nem as complexas interacções entre factores contextuais e comportamento individual. (B) TEORIAS E MODELOS SOCIAIS A ênfase exagerada na mudança do comportamento individual com o foco no nível cognitivo tem minado toda a capacidade de pesquisa para compreender a complexidade da transmissão do HIV. Focalizar apenas o processo psicológico individual ignora a relação interactiva do comportamento na sua dimensão social, cultural e económica, perdendo completamente, deste modo, a possibilidade de compreender determinantes cruciais do comportamento. Aggleton (1996) mostra que em muitos casos as motivações para o sexo são complexas, não são claras e podem não ser premeditadas. Normas sociais, critérios religiosos e relações do género e poder dão sentido ao comportamento sexual, permitindo mudanças positivas ou negativas. Uma diferença importante entre modelos sociais e individuais é a de que a última tem como CAPÍTULO I Teoria da influência social ou modelo da inoculação social objectivo mudanças a nível da comunidade. As teorias sociológicas afirmam que a sociedade está dividida em pequenas subculturas, e que são os membros dos grupos mais próximos, o grupo dos pares com quem uma pessoa mais se identifica, que exercem a maior influência no comportamento de um indivíduo. De acordo com esta perspectiva, os esforços de prevenção efectiva, especialmente em comunidades vulneráveis que não têm um apoio social mais alargado irão depender do desenvolvimento de estratégias que podem atrair a mobilização da comunidade para modificar as normas desta rede de parceiros com a finalidade de apoiar mudanças positivas no comportamento (Kelly 1995). Um maior interesse no contexto que envolve o comportamento individual conduziu a um aumento do número de intervenções orientadas pelas teorias e pelos modelos que se seguem. Este modelo educacional é baseado na concepção de que os jovens adoptam comportamentos, incluindo o início precoce da actividade sexual, em parte por causa de influências da sociedade, em geral, mas mais especificamente por causa dos seus pares (Howard, 1990). O modelo propõe a exposição dos jovens a pressões sociais, enquanto se lhes ensina a examinar e a desenvolver habilidades para lidar com essas pressões. O modelo quase sempre apoia-se em pessoas que desempenham papéis modelo, tais como adolescentes um pouco mais velhos do que os participantes do programa, para apresentar informação factual, identificar pressões, fazer representações de respostas a pressões, ensino de capacidades de afirmação e discussão de situações problemáticas (Howard, 1990). O modelo da influência social também foi usado para reduzir o consumo de tabaco entre jovens. Teoria da difusão da inovação A teoria da difusão da inovação (Rogers, 1983) descreve o processo de como uma ideia é disseminada numa comunidade. De acordo com esta teoria, há quatro elementos essenciais: a inovação, a sua comunicação, o sistema social e o tempo. A exposição das pessoas a uma nova ideia, que ocorre dentro de uma rede social ou por via dos media, irá determinar o índice da adopção de um novo comportamento por parte de várias pessoas. A teoria postula que as pessoas têm maior probabilidade de adoptar novos comportamentos na base dos juízos favoráveis à ideia que lhes é comunicada por outros membros por quem elas nutrem respeito (Kegeles, 1996). Kelly explica que, quando a teoria da difusão é aplicada à redução do risco do HIV, as mudanças normativas e de comportamento de risco podem ser iniciadas quando um número suficiente de líderes-chave de opinião adoptam e apoiam essas mudanças, influenciam outros a fazer o mesmo e, eventualmente, difundem amplamente a nova norma dentro das redes de parceiros. Quando crenças benéficas de prevenção são instiladas e amplamente defendidas dentro da rede social imediata de uma pessoa, o comportamento individual torna-se mais susceptível de ser consistente com as normas sociais percebidas (Kelly, 1995). Teoria das redes sociais A teoria das redes sociais analisa o comportamento social, não como um fenómeno individual, mas através de relações, e avalia o comportamento de risco em relação ao HIV na base de que, ao contrário de muitos outros comportamentos de saúde, envolve directamente duas pessoas (Morris, 1997). Com respeito ao relacionamento sexual, as redes sociais centram-se tanto no impacto da mistura selectiva (i.e., como diferentes pessoas escolhem com quem se misturam), como nas variações nos modelos de parcerias (duração e sobreposição da parceria). Embora as complexidades das relações e a comunicação dentro do casal, a unidade mínima da rede social, sejam importantes para compreender a transmissão do HIV, neste modelo, o escopo e o carácter da rede social mais alargada de uma pessoa, aqueles que servem como pessoas de referência e que sancionam o comportamento, são elementos-chave para compreender o comportamento de risco individual (Auerbach,1994). Por outras palavras, as normas sociais são melhor compreendidas a nível das redes sociais. Uma aplicação da teoria da rede social para a prevenção do HIV está no conceito de “grupos populacionais-ponte”, que fazem a ligação entre os grupos de alta e os de baixa prevalência (Morris, 1977). Na Tailândia, homens que têm tanto parceiras sexuais comerciais quanto não-comerciais formam um importante grupo populacional-ponte, As intervenções que usam esta teoria geralmente investigam o melhor método para espalhar mensagens dentro de uma comunidade e procuram saber quem são os líderes capazes de agir como modelos para mudar as normas da comunidade. 9 CAPÍTULO I que teve um papel importante na disseminação do HIV no país. Os programas orientados por esta teoria têm que investigar: • a composição de redes sociais importantes na comunidade • as atitudes das redes sociais em relação ao sexo seguro • se a rede social garante o apoio necessário para a mudança de comportamento • se pessoas particulares dentro da rede social estão particularmente em alto risco e podem pôr muitas outras em risco Apesar de poucas intervenções baseadas em redes terem sido experimentadas, o conceito provou ser complementar de outras teorias baseadas nos indivíduos, para a concepção de programas de prevenção com foco nas parcerias, bem como no grupo social mais alargado. Uma análise dos mecanismos de mistura nas redes fornece os meios para verificar a eficiência da transmissão e os pontos efectivos de intervenção. Teoria do género e poder Diferentemente das teorias psicossociais, que são essencialmente “cegas ao género”, a teoria do género e poder é uma teoria social estrutural, que se dirige a várias questões sociais e do ambiente que envolve a mulher, tais como a distribuição do poder e da autoridade, influências afectivas e normas específicas do género dentro dos relacionamentos heterossexuais (Connell, 1987). O uso desta teoria para orientar o desenvolvimento de intervenções com mulheres num relacionamento heterossexual pode ajudar a investigar o modo como o compromisso de uma mulher numa relação pode influenciar as suas escolhas na redução do risco (DiClemente,1995). Os programas que usam a teoria do género e poder podem avaliar o impacto das diferenças de género determinadas estruturalmente nas relações sexuais interpessoais (percepções das relações de género socialmente prescritas). Conclusão As teorias e modelos sociais vêem os comportamentos individuais como estando incorporados no seu contexto social e cultural. Em vez de focalizar processos psicológicos como base para o comportamento sexual, tendem a ver as normas sociais, relações e desequilíbrios de género como 10 criadores do sentido e determinantes do comportamento e das mudanças comportamentais. Estas teorias prescrevem que os esforços para efectivar mudanças a nível da comunidade terão impacto mais significativo nos indivíduos que contemplam mudanças e naqueles que já fizeram mudanças mas que necessitam de apoio para as manter. As teorias sociais foram cada vez mais usadas com grupos populacionais especialmente vulneráveis aos efeitos dos parceiros e pares. Estas teorias e modelos foram desenvolvidos no Ocidente, e poucos exemplos testaram a sua relevância em países em desenvolvimento. (C) FACTORES ESTRUTURAIS E DE AMBIENTE As determinantes do comportamento sexual podem ser vistas como uma função não apenas do indivíduo e da sociedade, mas também de factores estruturais e de ambiente (Caraël 1977, Sweat, 1995, Tawil, 1995). Esses factores incluem elementos civis e organizacionais, bem como questões políticas e económicas. Teoria para a mudança individual e social ou modelo de potenciação1 Esta teoria afirma que a mudança social acontece através do diálogo para construir uma percepção crítica das forças sociais, culturais, políticas e económicas que estruturam a realidade e do desencadeamento de acções contra as forças que são opressivas (Parker 1996). Por outras palavras, a potenciação deverá aumentar a capacidade de resolução de problemas de um modo participativo, e deve permitir aos participantes compreender as forças pessoais, sociais, económicas e políticas nas suas vidas, de modo a desencadear acções para melhorar a sua situação (Israel, 1994). Werner (1997) declara que, “a potenciação é o processo pelo qual pessoas em desvantagem trabalham em conjunto para terem o controlo dos factores que determinam a sua saúde e as suas vidas”. O autor explica que, para que isto aconteça, os sentimentos da falta de poder, que podem advir da falta de competências e de confiança, têm que ser abandonados. Apesar de a potenciação poder vir apenas do grupo em si, é possível consegui-la através da facilitação das suas determinantes. A luta comum contra a opressão do género ou étnica, exploração CAPÍTULO I económica, repressão política ou intervenção estrangeira é o que cria a confiança necessária (Werner, 1977). até às mudanças nos mass media e às mudanças reguladoras a outros níveis (Laver, 1998). A teoria reconhece a importância do intercâmbio entre o indivíduo e o ambiente, e toma em conta as influências de vários níveis no comportamento não saudável (Choi, 1998). Desta maneira, retira-se a ênfase da importância no indivíduo relativamente ao processo de mudança comportamental. Faz-se uma distinção entre potenciação pessoal, organizacional e comunitária. A potenciação pessoal tem a ver com processos psicológicos e é idêntica à auto-eficácia e auto-estima. A potenciação organizacional envolve tanto os processos que permitem aos indivíduos aumentar o seu controle dentro da organização como os que permitem à organização influenciar políticas e decisões na comunidade. Uma comunidade potenciada usa as competências e os recursos dos indivíduos e das organizações para suprir as respectivas necessidades (Israel,1994). Factores sócio-económicos Vários estudos mostraram que os factores económicos exercem uma forte influência no comportamento sexual do indivíduo, sobretudo através da pobreza e do subemprego. A nível internacional, os países com os mais baixos níveis de vida são também aqueles que têm a mais elevada incidência do HIV (Sweat, 1995; Tawil, 1995). Quer nos países pobres, quer nos ricos, a pobreza está associada ao HIV, e o HIV, por sua vez, intensifica a pobreza (Sweat, 1995). As intervenções que usam uma perspectiva de potenciação devem considerar conceitos-chave, tais como crenças e práticas ligadas à mudança interpessoal, organizacional e comunitária. As actividades das intervenções podem focar questões do nível da comunidade e da organização, tais como as principais necessidades que a comunidade identifica entre os seus membros. A teoria deverá prescrever a inclusão dos participantes na planificação e implementação das actividades. Sugere-se a existência de mecanismos que estão na base desta relação, os quais são: a nãocoabitação entre casais jovens, que pode derivar de situações económicas críticas, forçando à migração urbana, trabalho sasonal e condução de camiões, trabalho de sexo, distúrbios e guerras civis. Os distúrbios e guerras civis resultam em populações deslocadas e refugiadas que, não só perdem os seus sistemas de apoio familiar e social, como também se tornam altamente vulneráveis ao HIV, devido ao intenso esforço social e económico a que estão sujeitas numa cultura que lhes é estranha (Caraël, 1997). Nestas situações, as preocupações com o HIV tornamse uma prioridade secundária numa hierarquia de risco, e quaisquer esforços anteriores ou planeados para o controle da transmissão do HIV são quebrados, se não mesmo destruídos. Modelo ecológico eocial para a promoção da saúde De acordo com este modelo, o comportamento padrão é o resultado de interesses e é visto como sendo determinado pelo seguinte: (1) factores intrapessoais – características do indivíduo, tais como conhecimento, atitudes, comportamento, auto-concepção, habilidades (2) processos interpessoais e redes sociais formais e informais de grupos primários e sistemas de apoio social, incluindo a família, grupos de trabalho e amizades Conclusão As teorias, modelos ou factores de nível comunitário vêem o comportamento humano como uma função não apenas do indivíduo ou dos seus relacionamentos sociais imediatos, mas como algo que depende também da comunidade, da organização e do ambiente político e económico. Eles são multi-dimensionais e dão ênfase à ligação do indivíduo com os sistemas ambientais mais alargados que o circundam. As intervenções que usam esta perspectiva, devem, assim, ter como alvo, as organizações, as comunidades e as políticas. (3) factores institucionais – instituições sociais com características organizacionais e regras e regulamentos formais e informais para o seu funcionamento (4) factores comunitários – relacionamento entre organizações, instituições e redes informais dentro de fronteiras definidas (5) política pública – leis e políticas locais, estatais e nacionais (McLeroy, 1988). As estratégias de intervenção variam desde o desenvolvimento de habilidades a nível intrapessoal 11 CAPÍTULO I (D) CONSTRUCTOS ISOLADOS E MODELOS RANSTEÓRICOS Constructo da percepção do risco Como as intervenções comportamentais são concebidas para reduzir comportamentos de alto risco, a percepção do risco é um constructo de muitos modelos comportamentais psicossociais baseados no indivíduo, e algumas intervenções usam-no sem aplicar nenhum dos modelos na sua totalidade. O aumento da percepção do risco tem mostrado muitas vezes um aumento dos comportamentos de protecção contra o HIV (Stevens, 1998). Para além disso, muitos dos modelos comportamentais medem o risco como sendo individualmente determinado, o que pode não ser relevante em muitos contextos. Sem qualquer surpresa, muitas mulheres normalmente sentem-se em risco não por causa do seu próprio comportamento, mas por causa do comportamento, passado ou presente, sentido ou real, dos seus parceiros sexuais. Para além do mais, a percepção do risco como um indicador de mudança comportamental futura tem complexidades adi- 1 cionais em circunstâncias onde os indivíduos apresentam uma elevada percepção de alto risco e um alto índice de mudança comportamental auto-declarada. Esta situação pode apresentar no futuro opções de mudanças realísticas de comportamento limitadas ou sentimentos de fatalismo. Comunicação sexual A comunicação sexual foi apontada em várias situações como indicador do uso do preservativo. Entre adolescentes latinos encarcerados com elevado número de parceiros sexuais, nos EUA, foi reportado que os jovens que comunicam com os seus parceiros sexuais acerca da história sexual de cada um, eram significativamente mais passíveis de usar preservativos (Rickman, 1994). Na África Central, mostrou-se que a probabilidade do uso do preservativo era maior quando as mulheres discutiam com os seus parceiros sexuais acerca das DTS ou preservativos (van der Straten, 1995). A comunicação sexual também foi reportada como um meio para a auto-eficácia entre heterossexuais na Holanda (Buunk,1998). Empowerment, no original. Usa-se “potenciação” no sentido de conferir poder ou criar condições para a sua aquisição (Nota do Tradutor). 12 CAPÍTULO II (A) ABORDAGENS ORIENTADAS PARA A MUDANÇA COMPORTAMENTAL AO NÍVEL INDIVIDUAL ABORDAGENS-CHAVE À MUDANÇA COMPORTAMENTAL RELATIVA AO HIV Informação, educação e comunicação Educação de massas e de pequenos grupos Como a informação foi, inicialmente, para muitos, considerada a chave para a mudança comportamental, os programas de prevenção do HIV começaram com um foco no aumento da consciência acerca dos modos de transmissão e prevenção (Cohen, 1992). A educação massiva para a prevenção do HIV pode tomar muitas formas, mas normalmente é vista como uma componente-chave de um programa abrangente de prevenção do SIDA (Hoctgrave, 1997). Os órgãos de informação, por exemplo, são dirigidos para o público em geral e visam ensinar às pessoas factos essenciais, promovendo comportamentos saudáveis, acalmando ansiedades acerca da transmissão casual e prevenindo a discriminação. No início da epidemia do SIDA, os resultados das pesquisas de levantamento no seio de grupos populacionais alertou as autoridades da saúde pública para a diversidade de comportamentos sexuais e para a necessidade de agir rapidamente. As primeiras intervenções, bem como as primeiras aplicações de teorias foram incentivadas pela urgência de fazer alguma coisa para retardar a alarmante crise que se tinha em mão. Através de canais populares de saúde pública, foi disseminada informação entre as populações em risco. Hoje, muitas das intervenções para a prevenção da transmissão do HIV, em vez de usarem uma das teorias comportamentais na sua totalidade, desenvolvem programas baseados num ou vários constructos, quase sempre dependendo da situação sociocultural, política ou económica e do estágio da epidemia. Conceber vários modelos e modificá-los para se adaptarem à população e ao contexto foi crucial para a implementação de projectos de prevenção, especialmente em alguns locais a nível internacional, uma vez que quase todas as teorias foram desenvolvidas no Ocidente. Estas abordagens transteóricas são conduzidas por constructos fundamentais, tais como a percepção do risco, as normas sexuais e a comunicação sexual, para formar a base das intervenções em todo o mundo. Uma análise das mensagens adoptadas pelos programas de educação e informação nacionais sobre o controle do SIDA em 38 países diferentes verificou que mais de 90% se centravam na correcção de percepções incorrectas acerca do SIDA; e cerca de 80% fornecia informação acerca da avaliação pessoal do risco (Cohen, 1992). Em muitos países, a educação massiva deu o primeiro passo para os programas nacionais de controle do SIDA. Muitos dos esforços dos programas de educação massiva, aumentaram com sucesso a consciência sobre o SIDA, informando os indivíduos sobre o risco de infecção com o HIV, e, em alguns casos, os programas baseados na educação foram suficientes para alterar comportamentos de alto risco, aumentar a venda de preservativos e reduzir novas infecções com o HIV (Kalichman, 1997). Os canais que os programas nacionais de controle do SIDA usaram para a educação massiva incluíram meios de comunicação alvo, imprensa escrita e informação electrónica (Cohen, 1992). Esta secção analisa principalmente as abordagens mais comuns usadas para influenciar a redução do risco do HIV. Embora essas abordagens não sejam consistente ou directamente derivadas de teorias e modelos da mudança comportamental, elas assentam sobre os múltiplos constructos acima mencionados. A secção está dividida entre intervenções de nível individual e comunitário, onde a abordagem é descrita para depois ser feita uma resenha de exemplos específicos do seu uso. Veja-se a Tabela 2, para um sumário dos modelos e das teorias testadas por meio de pesquisa ou revisões. Uma resenha de 49 estudos cobrindo 18 países para identificar resultados empíricos ou avaliar o impacto das campanhas relacionadas com o HIV nos órgãos de informação, em 1996, concluiu que 13 CAPÍTULO II muitas das campanhas visando “objectivos de conhecimento a nível individual, mudanças de atitude ou comportamentais, foram geralmente bem sucedidas nos seus objectivos” (Holtgrave, 1997). Contudo, as metas dos projectos revistos não foram mencionadas. Para além do mais, como o próprio autor chamou atenção, um número substancial dos relatórios dos projectos revistos carecia de detalhes metodológicos, uma vez que foram apresentados sob a forma de resumos de conferências. É, por isso, difícil tirar uma conclusão sobre o significado relativo do termo “bem sucedido”, particularmente em relação aos resultados comportamentais. A educação sobre o SIDA em pequenos grupos está a ser levada a cabo em todo o mundo, promovendo o conhecimento geral sobre o HIV em numerosas comunidades. Os programas de prevenção do SIDA para pequenos grupos podem ser vistos como tendo 3 componentes principais: • conteúdo • contexto • estratégias (Kalichman, 1998). O conteúdo inclui metas, objectivos e actividades. As principais áreas do conteúdo nas actividades de muitas intervenções para pequenos grupos incluem: educação básica acerca do SIDA, sensibilização para os riscos pessoais do HIV, instruções sobre acções individuais que podem reduzir o risco da pessoa e exploração de novas formas de comunicação com parceiros sexuais. As intervenções completas ou as questões da pesquisa são produzidas em qualquer uma das áreas desses conteúdos. A segunda componente da prevenção do HIV para pequenos grupos é o contexto. Os diferentes aspectos da intervenção devem ser desenhados de modo a adequarem-se à cultura, género e questões de desenvolvimento dos participantes. Por exemplo, um investigador sentiu que a preocupação em relação ao estigma e à identidade sexual entre os afro-americanos homossexuais é grande e dedicou uma sessão inteira desta intervenção de pequeno grupo para se concentrar nestas questões (Kalichman, 1998). A terceira componente estratégia, é o processo em si, onde a ênfase é colocada em como as intervenções são implementadas entre os participantes e o líder do grupo. Os elementos chave a ter em conta incluem: como criar confiança, construir coesão no grupo, encorajar a motivação e apoio mútuo entre os participantes e o facilitador (Kalichman, 1998). 14 Embora as avaliações das intervenções em pequenos grupos se tenha centrado no conteúdo e nas habilidades de facilitação, descobriu-se que as três componentes são importantes para o sucesso desta abordagem. A literatura mostra fortes evidências dos efeitos benéficos da prevenção do HIV em pequenos grupos, a partir de programas de testagens aleatórias controladas baseados em teorias para a formação de habilidades (ver capítulo III, sobre o impacto de intervenções baseadas em teorias). Várias resenhas individuais da literatura verificaram, no seu todo, que as intervenções para a redução do risco em pequenos grupos resultam em significativas mudanças no comportamento de risco do HIV (Kalichman, 1998). Uma abordagem inovadora nos E.U.A., visando populações difíceis de atingir com informação e aconselhamento, foi uma intervenção de múltiplas sessões desenhada para ser dirigida através do telefone. Uma razão para este método foi a necessidade de atingir populações que não querem encontrar-se facea-face com um fornecedor de cuidados médicos. Numa avaliação do estudo, o investigador verificou significativos efeitos desse aconselhamento por telefone, incluindo um decréscimo no sexo desprotegido, de 47% para 26% dos homens que completaram o programa (Roggman, 1997). Um outro estudo, no Uganda, dirigido às diferenças de género e percepção de risco, verificou que a participação em pequenos grupos de educação sobre o SIDA estava associada a alguns comportamentos cautelosos preventivos para mulheres, com evidência para um efeito de resposta doseada. O autor sugere que estes eventos de educação sobre o SIDA podem também fornecer uma oportunidade socialmente sancionada para a interacção entre grupos de mulheres pares (Bunnell, 1996). Especialmente nos E.U.A., os esforços de prevenção do SIDA em pequenos grupos, desenvolveram-se desde o começo da epidemia, indo desde o fornecimento de informação básica em grupos comunitários e sensibilização para o risco pessoal. Subsequentemente, as intervenções começaram a instruir as pessoas em aptidões de uso do preservativo, de sexo erotizante seguro e construção de competências de comunicação sobre sexo seguro. Através das intervenções envolvendo estes elementos, muitas pessoas reduziram os compor- CAPÍTULO II prisioneiros árabes; na Itália (Vacondio, 1998); os jovens da rua, na Tailândia (Boontan, 1998); os jovens da escola, na Arménia (Ter-Hoyakimyan, 1998); os estudantes secundários, na Argentina (Binado, 1998); os taxistas, nos Camarões (Monghnton, 1998); as populações da baixa classe média, em geral, na Zâmbia (Kathuria, 1998); as trabalhadores do sexo, na Índia (Semma, 1998, Roy, 1998), os trabalhadores das fábricas, no Zimbabwe (Katzenstein, 1998); os consumidores de drogas, nos E.U.A. (Broadhead, 1998) e os médicos tradicionais na África do Sul (Green, 1994), entre muitos, muitos outros. tamentos sexuais de alto risco, mas nem todos são sensíveis às intervenções comportamentais de pequenos grupos. Por exemplo, os projectos de pequenos grupos visando homens heterossexuais para a prevenção do HIV não revelaram efeitos significativos. Mudanças comportamentais de longo termo requerem apoio contínuo e modificações no ambiente social mais vasto dentro do qual esses comportamentos têm lugar. Educação de pares A educação de pares é uma abordagem para prevenção do HIV em pequenos grupos que normalmente visa o comportamento individual. A abordagem do educador de saúde par recruta líderes nas comunidades em risco para serem os implementadores do programa de educação para os seus pares (Sepulveda, 1992). A selecção de educadores pares é uma chave para o sucesso de um programa, e quase sempre envolve: Nestas várias situações, os educadores pares realizaram diferentes tarefas, variando desde o desenvolvimento e a distribuição de materiais do IEC, incluindo vídeo clips e panfletos, bem como discussões sobre a distribuição do preservativo até conversas com pares sobre diversos tópicos, tais como potenciação, direitos humanos e de saúde e informação básica sobre o SIDA. • a aceitação por parte dos outros membros do grupo Surpreendentemente, todos os estudos acima referidos, apesar mesmo de muitos não terem sido controlados aleatoriamente, indicaram resultados positivos. Mas aqui também, muitos destes relatórios basearam-se em resumos de conferências sem detalhes metodológicos. Apesar disso, mostram a espantosa diversidade dos grupos populacionais e contextos com os quais a educação de pares tem sido praticada no mundo. • ser um líder de opinião, por conseguinte, bem respeitado no grupo • vontade de receber formação • estar comprometido com os objectivos do programa Muitas intervenções combinam a educação de pares com outras abordagens, tais como o uso de redes sociais, marketing social do preservativo (Roy, 1998) e extensão (Seema, 1998 e Boontan, 1998), uma vez que estas abordagens podem ser complementares. O trabalho de extensão usando pares resultou num aumento da participação dos membros da comunidade visada, bem como no aumento da diversidade dos participantes (Broadhead, 1998). Num estudo que seleccionou aleatoriamente 40 fábricas no Zimbabwe para aconselhamento e teste com ou sem educação de pares, os resultados mostraram 34% de menor incidência do HIV entre os participantes na educação de pares do que nos grupos de controle (Kazenstein, 1998). Na Zâmbia, os autores notaram um decréscimo surpreendente em seropositividade à sífilis em 3 zonas de teste contra 3 locais de controle (cerca de 77%, 47% e 58%) depois de um programa de educação de pares de 3 anos, que atingiu 417.000 homens e 385.000 mulheres (Kathuria, 1998). Os benefícios de trabalhar com amigos em vez de “especialistas” de fora da rede social são muitos, dependendo do grupo em risco. Wingood verificou que os educadores de amigos podem ser uma fonte mais credível de informação para as mulheres, podem comunicar numa linguagem mais compreensível, e podem servir como modelos positivos (Wingood, 1996). Outros estudos sugerem que quando o grupo é culturalmente muito diferente da maioria, os amigos conhecem os riscos culturais e as mais apropriadas e realísticas estratégias da redução de risco, por experiência. Dois estudos analisaram a relação entre custos e eficácia de intervenções de educação de pares entre UDI, nos EUA, e trabalhadores fabris, no Zimbabwe. No Zimbabwe, os custos foram favoráveis em comparação com outros programas de prevenção do HIV (Katzenstein, 1998), e os pesquisadores dos EUA descobriram que as intervenções conduzidas por pares custam um terço do custo de uma intervenção tradicional (externa) (Broadhed, 1998). A abordagem do educador par foi usada em tão diversos grupos populacionais como os trabalhadores do porto, na Nigéria (Ogundare, 1998); os 15 CAPÍTULO II Contudo, como em qualquer outra abordagem, a educação de pares tem os seus limites. Por exemplo, no Brasil, os participantes de um grupo alvo tornaram-se agentes de saúde e perderam a sua solidariedade e apoio dentro do grupo, o que é um elemento-chave para o sucesso da educação de pares (Leite, 1998). Um outro exemplo vem duma análise de amostras de vários programas de educação de pares nos EUA que verificou uma tendência estrutural para os programas de educação de pares empregarem pessoas de baixo rendimento e tratar os educadores pares como o sector mais marginal do pessoal da organização (Maskosky, 1998). Aconselhamento e testes voluntários Em números crescentes, as pessoas nos países industrializados estão a receber os resultados dos seus testes de HIV na medida em que as opções terapêuticas se vão tornando disponíveis para mais pessoas. As pesquisas mostraram muitas razões para que os países em desenvolvimento tornem o aconselhamento e testes voluntários (ATV) acessíveis às suas populações (UNAIDS, 1998). A detecção precoce do vírus permite o envio para cuidados clínicos e apoio psicológico. Eticamente, as pessoas têm o direito de saber o seu seroestado de modo a protegerem-se a si próprias e aos outros. Conhecer o seu seroestado e as opções disponíveis pode motivar as pessoas a mudar o seu comportamento de alto risco (De Zoysa 1995). Para além do mais, De Zoysa observa que o aconselhamento e teste de HIV pode ter um impacto social importante, uma vez que, conhecendo o seu sero-estado as pessoas podem partilhar tal informação com os outros, abrindo espaço para mudanças nas normas sociais acerca do HIV e SIDA. Um resultado positivo de HIV tem também encorajado algumas pessoas a dar testemunhos pessoais em fóruns comunitários, o que pode ter um efeito poderoso nas atitudes dos indivíduos, comportamentos e normas sociais. Em contextos culturais onde a fertilidade é altamente valorizada, o aconselhamento e testes fornecem uma alternativa importante para a mudança comportamental em direcção ao uso consistente do preservativo. O fundamento teórico em que as intervenções que proporcionam testes e aconselhamento se baseiam envolve, principalmente, o modelo das etapas da mudança (De Zoysa,1995). Os testes e o aconselhamento do HIV pode promover a progressão ao longo do continuum das etapas de 16 mudança. Por exemplo, na zona rural do sudoeste do Uganda, num local com elevada prevalência do HIV, a maioria dos inquiridos num estudo de investigação declarou que tinha já feito mudanças comportamentais por causa do SIDA, mas fazer mais mudanças para se protegerem estava dependente do conhecimento do seu seroestado de HIV (Bunnell, 1996). Foi então sugerido que o aconselhamento promovesse a redução de risco através do aumento da percepção do risco, auto-eficácia e habilidades pessoais, bem como através do reforço das normas ou responsabilidades sociais (De Zoysa, 1995). Em 1991, numa extensiva resenha de estudos de aconselhamento e testes em África, Austrália, Europa e América do Norte, Higgins et all verificaram uma redução substancial do risco apenas em casais heterossexuais com um parceiro infectado. Noutros grupos (homossexuais masculinos, utentes de drogas injectáveis, mulheres) a redução do risco não estava significativamente associada ao aconselhamento e testes (Higgins, 1991). Uma resenha actualizada de 35 estudos, conduzida por Wolitsiki et al, em 1997, verificou resultados similares aos de Higgins et all, no tocante a alguns grupos populacionais. A mais clara evidência dos efeitos positivos do ATV de HIV no comportamento foi o de casais heterossexuais serodiscordantes, onde o aconselhamento e teste de HIV foi um factor motivante significativo para a redução do risco. Estudos com HSH também indicaram uma redução significativa do risco mas que não estava claramente relacionada com os seus testes de HIV. Também um relatório da ONUSIDA mostra que entre uma amostra de homossexuais masculinos infectados com o HIV na Noruega, o número de parceiros sexuais diminuiu de uma média de 4.3, um ano antes, para 1.6 depois do teste e aconselhamento (UNAIDS, 1998). Em casais serodiscordantes houve uma redução consistente das práticas sexuais de risco a seguir ao aconselhamento e teste do HIV. Do mesmo modo, em muitos estudos sobre consumidores de drogas injectáveis, o aconselhamento e os testes provaram ser benéficos para a redução de práticas sexuais perigosas (Wolitski, 1997). Entre diferentes grupos populacionais, verificouse que indivíduos que souberam que eram seropositivos eram mais susceptíveis de mudar o seu comportamento do que aqueles que souberam que eram HIV negativos. Mais recentemente, uma testagem aleatória controlada em 3 países em desenvolvimento (Quénia, CAPÍTULO II Tanzânia e Trinidade e Tobago) mostrou que os casais que receberam aconselhamento e fizeram testes reduziram o sexo não protegido com os seus cônjuges, especialmente em casais serodiscordantes ou seropositivos concordantes (Coates, 1998). Contudo, os resultados verificaram especificamente que o ATV produziu mudanças significativas na redução de práticas sexuais de alto risco com parceiros não primários (Coates,1998). não tem o mesmo efeito em todos os grupos populacionais e em contextos diferentes (Wolitski, 1997). Tal como com a maioria de outras abordagens, o estágio da epidemia e os factores contextuais circundantes irão contribuir para os resultados da intervenção. Para além disso, a qualidade do aconselhamento fornecido é uma variável importante na previsão do impacto da intervenção. Nos EUA, foi realizada uma testagem aleatória controlada para avaliar o aconselhamento e prevenção pós-teste HIV em 5 clínicas de DTS, comparando 3 vertentes: (1) educação sobre HIV, incluindo 2 sessões com mensagens breves sobre HIV/DTS, (2) aconselhamento sobre prevenção com 2 sessões visando um aumento da percepção do risco, (3) aconselhamento reforçado, com 4 sessões baseadas em constructos teóricos de mudança de comportamento; auto-eficácia e normas percebidas durante um período de 12 meses. Verificaram-se mudanças assinaláveis no uso do preservativo, quer com os parceiros principais, quer com outros parceiros em todas as vertentes em estudo (Kamb, 1996). Doze meses depois, havia menos 19% de novos casos de DTS, nos grupos de breve aconselhamento, e 22% menos no grupo de aconselhamento reforçado, em comparação com o grupo que tinha recebido apenas mensagens educativas (Kamb, 1998). Estas descobertas confirmam outros estudos que mostram os benefícios do aconselhamento centrado no cliente combinado com os resultados do teste de HIV. Conclusão Depois de anos de experiência de prevenção do HIV e da variedade de intervenções visando a mudança do comportamento individual testadas em diversas situações, certas características dos programas bem sucedidos apontam para elementos-chave das suas abordagens. Esses elementos incluem: aumento da capacidade de os participantes comunicarem eficazmente acerca do sexo; ajuda aos participantes para aumentarem as suas habilidades de usarem o preservativo; personalização do risco, alcance nos participantes do sentido da prevenção do risco como uma norma social aceite, fornecimento e reforço do apoio para manter a redução de risco. Para que as intervenções de nível individual sejam bem sucedidas, a informação e competências específicas sobre o contexto são essenciais. (B) INTERVENÇÕES AO NÍVEL DA COMUNIDADE As abordagens a nível da comunidade cresceram a partir da consciência de que, apesar da considerável redução de risco resultante do nível do comportamento individual, eram também necessárias abordagens diferentes. A epidemiologia social, ao mostrar diferenças de prevalência entre diferentes categorias sociais, dentro de uma dada categoria de risco numa comunidade, sugeriu intervenções dentro destas linhas (Friedman, 1997). Os programas nesta secção envolvem as mais publicitadas abordagens para a prevenção do HIV a nível da comunidade, incluindo: intervenções baseadas na influência social e redes sociais, programas de extensão, programas baseados nas escolas, promoção e marketing social do preservativo, organização e potenciação comunitária e intervenções a nível de políticas. Cada um destes tipos de intervenção tenta, tanto reduzir a vulnerabilidade individual, como a transmissibilidade do HIV, a mudança das normas da comunidade, a limitação da dispersão das redes de alta sero-prevalência ou a mudança das estruturas organizacionais da comunidade, tor- Outros estudos não aleatórios, feitos no Ruanda, Uganda, Quénia e Zaire mostraram que o ATV era um factor motivador especialmente para os casais mudarem de comportamento (Allen, 1992; Campbell, 1997; Choi, 1994; Alwano-Edyegn, 1996). A Organização de apoio para o SIDA (TASO) oferece serviços de aconselhamento e apoio a uma variedade de clientes com SIDA em áreas urbanas e rurais do Uganda. Numa avaliação geral da TASO, verificou-se que 90% dos clientes tinham revelado o seu estado de HIV a alguém depois dos serviços da TASO. Em contraste, um estudo na Gâmbia não mostrou qualquer efeito individual após o teste e aconselhamento no uso do preservativo entre prostitutas que já tinham elevadas taxas do seu uso antes da intervenção (Pickering, 1993). Wolitsiki sintetiza observando que “não há dúvida quanto ao facto de que o ATV de HIV pode e motiva a mudança comportamental em alguns indivíduos”, mas também quanto ao facto de que o ATV sozinho não conduz sempre a mudanças e 17 CAPÍTULO II nando-as menos perigosas (Friedman, 1997). Mudar as culturas da comunidade ou as normas da comunidade fornece motivação e reforço para a redução individual do risco do HIV. Muitos dos programas que se seguem usam ideias da teoria da acção racionalizada, do modelo da difusão de inovações e da teoria da influência social para mobilizar a pressão de pares ou para ostracizar indivíduos que continuam com práticas de alto risco. Mudanças a nível de políticas, tais como o encerramento de balneários públicos e a obrigação do uso de preservativos em bordéis também contribuem para um impacto significativo nas práticas de risco da comunidade. Intervenções de influência social e de redes sociais Baseadas nas teorias de influência social, difusão de inovações, acção racionalizada e teoria cognitiva social, estas intervenções usam pares e redes sociais para disseminar informação. As intervenções de influência social identificam pessoas-chave nas comunidades, que são capazes de influenciar outras. A teoria cognitiva social postula que os modelos de funções confiadas são um factor importante no ambiente e que o ambiente tem uma relação recíproca tanto com o comportamento como com o indivíduo. Na teoria da acção racionalizada, as percepções das normas sociais têm uma influência importante no comportamento. As normas sociais criadas pelos líderes de opinião irão, idealmente, ter um forte efeito no comportamento. A teoria da difusão de inovação diz que a mudança de comportamento irá mais provavelmente acontecer se o novo comportamento for compatível com as normas sociais aceites numa rede social específica, for simples de fazer e tiver resultados visíveis (Kalichman, 1998). A rede social de uma pessoa pode ser uma fonte de apoio emocional e instrumental e uma referência que estabelece normas sociais. Pesquisas implementadas com o uso de educadores pares para influenciar redes sociais em comunidades homossexuais mostraram significativas mudanças auto-declaradas em práticas de sexo seguro depois da intervenção (Auerbach, 1994). Resultados encorajadores na mudança de normas sociais e comportamento sexual seguro foram também verificadas num número de intervenções de influência social a nível da comunidade, nos EUA. Um programa implementado entre homens que frequentavam bares de homossexuais em três cidades do Sul, começou por identifi- 18 car e recrutar líderes de opinião. Depois, trabalhadores do projecto treinaram os líderes em redução de risco, e o estágio final envolveu os líderes na disseminação de mensagens de prevenção para amigos e outros membros das suas redes sociais (Kalichman, 1998, Kelly, 1992). Num estudo posterior usando os mesmos métodos, os investigadores usaram um esquema aleatório experimental com quatro cidades de teste e outras quatro de controle e verificaram um decréscimo das taxas de comportamento de risco ao nível da população, depois de um ano (Kelly, 1997). O projecto de potenciação foi similar aos estudos acima mencionados, mas centrava-se em jovens homossexuais numa comunidade urbana de tamanho médio, nos EUA, e incluía no pacote de intervenção uma campanha publicitária e sessões com pequenos grupos concentrando-se em mudanças de comportamento individual (Kegeles,1996). Na cidade de teste houve uma redução de 26% em relações anais não protegidas, comparado com 3% na cidade de controle. Um estudo de avaliação posterior examinou a eficiência das diferentes componentes do programa (pequenos grupos, eventos sociais e extensão) nas práticas sexuais de risco após a intervenção. A componente dos pequenos grupos teve efeitos de maior escala, mas atingiu substancialmente menos homens do que as componentes dos eventos sociais e de extensão. Apesar de não serem tão fortes, as componentes dos eventos sociais e de extensão foram importantes para a eficiência do programa como fontes de recrutamento para os pequenos grupos e como um meio de atingir homens não interessados em frequentar pequenos grupos. Os autores concluíram que a eficiência de cada componente do programa não era independente das outras; a sinergia criada por todo o programa tornava o efeito líquido das actividades da intervenção maior do que a soma das suas partes (Kegeles, 1998). Sikkema et al. testaram uma abordagem comparativa com mulheres a viverem num projecto de desenvolvimento de casas urbanas para pessoas de baixos rendimentos. A intervenção incluía extensão, pequenos grupos e actividades comunitárias para encorajar normas sociais que defendem sexo seguro, bem como a redução de comportamento individual de alto risco (Kalichman, 1998). As mulheres que foram identificadas como líderes de opinião participaram numa intervenção de 4 sessões de treino de CAPÍTULO II habilidades centradas no conhecimento e comportamento de prevenção do HIV. Estas mulheres recrutaram outras mulheres que participaram na mesma intervenção e o ciclo continuou até cerca de metade das mulheres do bairro terem sido atingidas. Ao mesmo tempo, foram sendo implementados eventos para mudança de normas sociais. Os resultados desta testagem aleatória controlada mostraram que o uso do preservativo declarado pelas mulheres no local da intervenção aumentou de 29%, na linha de partida, para 41% nos três meses de seguimento (Kalichman, 1998). tro das redes sociais. No entanto, a pessoa influente pode ser ou não alguém de dentro da comunidade alvo. O trabalhador de extensão entra no sistema social para instigar a mudança de comportamento como um agente individual de mudança. As comunidades alvo são quase sempre grupos difíceis de alcançar, como é o caso dos consumidores de drogas, parceiros sexuais de consumidores de drogas, trabalhadoras do sexo, bem como populações rurais isoladas. Os objectivos da extensão têm sempre sido estratégias de redução de danos, tais como o fornecimento de preservativos a trabalhadoras do sexo, sem falar necessariamente do trabalho de sexo em si. Os National AIDS Demonstration Research Projects, implementados em mais de 60 locais nos EUA para avaliar estratégias entre UDI, combinou metodologias de investigação, mas centralizou-se nas redes sociais de UDI como o seu principal grupo alvo. O projecto foi orientado pelo Modelo do Líder de Extensão Interno, que combina epidemiologia médica e etnografia comunitária. Antigos UDI foram empregados como trabalhadores de extensão, cuja tarefa era identificar e avaliar a rede social, documentar as normas, valores e factores situacionais relacionados com práticas de risco. Os antigos UDI eram também responsáveis por fornecer os serviços de prevenção do HIV. Depois de uma intervenção de 4 anos, a incidência do HIV reduziu de 8.4 para 2.4 por 100 pessoas/ano. As práticas sexuais de risco reduziram menos significativamente do que as do risco relacionado com a droga, mas foram de 71% para 45% (Wiebel, 1996). O mesmo modelo foi testado entre trabalhadoras do sexo na Indonésia, com resultados encorajadores (Gordon, 1998). Três pesquisas de avaliação de grande escala nos EUA examinaram efeitos da extensão dirigida principalmente a consumidores de drogas injectáveis. Os National AIDS Demonstration Research Projects tiveram como alvo mais de 36.000 consumidores de drogas injectáveis que estavam fora dos esquemas de tratamento. Os resultados indicaram que as práticas sexuais eram muito mais difíceis de mudar do que a partilha dos materiais de consumo de drogas. Os projectos mostraram reduções nas práticas de sexo de risco, mas menos acentuadas do que as práticas de risco relacionadas com as drogas (Wiebel, 1996). Uma segunda iniciativa intitulada The AIDS Evaluation of Street Outreach Projects, apoiada pela CDC, levada a cabo em seis cidades dos EUA mostrou resultados promissores, para além de uma relação custo/benefício favorável. Uma vez mais, este projecto verificou que o comportamento relacionado com o uso de drogas era mais fácil de mudar do que o comportamento sexual. Um terceiro projecto de extensão (AIDS Community Demonstration Projects) foi implementado em cinco cidades dos EUA, com múltiplos grupos alvo, que incluíam: UDI e seus parceiros, HSH, trabalhadoras do sexo, jovens de rua e homens que têm sexo com outros homens mas que não se identificam como homossexuais. O modelo de crença na saúde, a teoria cognitiva social, a teoria de acção racionalizada e o modelo transteórico das etapas da mudança guiaram esta intervenção de extensão. A seguir à pesquisa formativa, os trabalhadores voluntários de extensão implementaram a intervenção, disseminando materiais e mensagens inovadoras e cuidadosamente concebidas. A avaliação indicou que as comunidades atravessaram o continuum das etapas de mudança a seguir à intervenção. Foi verificado um efeito de resposta doseada, em A interpretação destes resultados em intervenções de influência social indica que actividades de componentes múltiplas, individuais e comunitárias, que combinam perspectivas cognitivo-comportamentais e mudanças de normas podem resultar em mudanças positivas para HSH e mulheres heterossexuais. Apesar do facto de todos os relatórios publicados aqui descritos terem sido baseados em intervenções nos EUA, como assentaram sobre conversas com pares, pode assumir-se que podem ser também ideais para outras populações (mesmo analfabetas). Intervenções de extensão As intervenções de extensão são conceptualizadas de uma maneira idêntica à das intervenções de influência social, no sentido de que elas usam indivíduos para passar informação den- 19 CAPÍTULO II função do grau de exposição aos materiais da intervenção (Guenther-Grey, 1996, Kalichman, 1998). As intervenções que utilizaram a extensão como estratégia foram cuidadosamente testadas nos EUA em diversos grupos populacionais e mostraram resultados encorajadores. Esta abordagem mostrou também ser adequada para os grupos populacionais difíceis de atingir, e foi usada em muitas partes do mundo, apesar de não terem sido referidas testagens aleatórias controladas fora dos EUA. Intervenções baseadas na escola No início dos anos 90, de acordo com um levantamento feito em 38 países, existiam programas de educação sobre HIV baseadas na escola em cerca de três quartos dos países industrializados e em 60% dos países em desenvolvimento (Cohen, 1992). Para além das intervenções que simplesmente forneciam informação básica sobre o SIDA nas sala de aulas, os programas multi-dimensionais baseados na escola geralmente incluíam sessões de formação de aptidões, actividades conduzidas por pares ao nível de toda a escola e programas de mudança de normas sociais. A promoção do uso do preservativo foi o tema mais frequentemente adoptado em programas para a juventude dentro e fora da escola (Cohen, 1992). Uma extensa resenha de intervenções baseadas na escola revelou que nenhuma das intervenções de prevenção do HIV baseadas nas escolas que foram avaliadas mostrou sinais de promover a prática sexual ou de acelerar o início da actividade sexual (UNAIDS, 1997). Verificou-se que as intervenções de sucesso tinham um número de características em comum: • foi fornecida informação exacta sobre os riscos envolvidos no sexo não protegido, permitindo uma tomada de decisão consciente sobre o comportamento • os programas incluíram sessões de aprendizagem de habilidades, realçando a auto-eficácia para práticas de negociação para sexo seguro • as componentes foram quase sempre baseadas na teoria cognitiva social, incluindo a exemplificação de comportamentos seguros (Kirby, 1994) • as actividades eram levadas a cabo em pequenos grupos ou tinham um mínimo de 14 horas de contacto 20 • foi dada oportunidade para os jovens personalizarem a informação • as pressões sociais para iniciar práticas sexuais foram tratadas com estratégias para resistir à pressão de pares • foram enfatizadas normas de grupo reforçadas e valores individuais apropriados para apoiar o início de um comportamento mais seguro • foi dada formação extensiva a professores e/ou pares que iriam implementar a formação. O elemento que distinguiu os programas baseados na escola de outras intervenções para jovens foi o aspecto estrutural do apoio jogado pela escola e pelos professores, bem como a interacção entre escola, pais, estudantes, e comunidade (Peersman, 1998, Kalichman, 1998). Promoção e marketing social do preservativo Já foi provado por diversas vezes que o uso consistente do preservativo é um método eficaz de prevenir a transmissão do HIV. No entanto, inúmeras pesquisas identificaram obstáculos ao seu uso em vários locais no mundo, incluindo a falta de acesso e de comunicação entre os parceiros, entre outros factores. Muitos programas iniciais de prevenção do HIV, incluíram a promoção do preservativo e a sua distribuição gratuita como parte de um pacote abrangente de prevenção do HIV. A distribuição gratuita tinha como objectivo essencial introduzir preservativos onde eles antes não estavam disponíveis ou distribuí-los para populações de poucos recursos em alto risco, tais como as trabalhadoras do sexo e refugiados. Embora esta abordagem tenha atingido os resultados pretendidos, ou seja, tornar os preservativos acessíveis sem demora, a largas populações, a falta de sustentabilidade e o facto de não se poder depender de programas de distribuição gratuita do preservativo exigiram a introdução de estratégias de promoção social do preservativo especialmente dirigida a certas populações. A promoção social do preservativo, que pode muito bem ser a abordagem mais desenvolvida da comunicação em saúde pública, tem como objectivo remover as barreiras ao uso do preservativo, socorrendo-se de técnicas comerciais de promoção, como a publicidade e a embalagem para tornar o produto disponível, com preço compor- CAPÍTULO II a promoção de testes e aconselhamento para adolescentes, nos EUA (Futterman, 1998), e o recrutamento de participantes em pesquisas, em Porto Rico (Torres-Burges, 1998). tável e atractivo para todo o tipo de pessoas. As teorias subjacentes aos programas de promoção social vêm de muitas disciplinas diferentes, incluindo teorias reguladoras de operação e cognitivas sociais, bem como princípios económicos e de marketing. A promoção social foi designada como uma abordagem de “planeamento estratégico” baseada no “princípio teórico da troca” que explica que as pessoas só irão mudar o seu comportamento para algo menos agradável (como o uso do preservativo) se perceberem a existência de um beneficio relevante (Kennedy, comunicação pessoal). As técnicas de promoção social enfatizam a importância de adaptar a campanha de modo a adequá-la às características do grupo populacional que se pretende atingir. Ela dedica tempo suficiente para a pesquisa formativa, que necessita de indagar sempre o consumidor acerca do seu ponto de vista. Modificar os produtos requer uma boa compreensão da cultura do grupo alvo. Disponibilizar preservativos em locais não tradicionais, como locais de paragem de camiões, bares e hotéis, é parte integrante do sucesso da promoção social. Inundar esses locais não tradicionais com preservativos tem como objectivo não apenas aumentar a disponibilidade, mas também a sua aceitabilidade social (World Bank, 1997). Pesquisa da organização, potenciação e acção participatória da comunidade As abordagens de potenciação são construídas na premissa de que o impacto positivo na saúde pública é encorajado através do reconhecimento da relação entre estrutura social e saúde e do reconhecimento de que as mudanças duradoiras são um processo que se inicia a partir de dentro da comunidade. A potenciação relacionada com o HIV nos EUA tem as suas raízes históricas na saúde pública e na psicologia da comunidade (Becker, 1998). No campo da educação Wallerstein definiu a potenciação como: “A educação para a capacitação, tal como foi desenvolvida a partir dos escritos de Paulo Freire, envolve as pessoas num esforço de grupo para identificar os seus problemas, avaliar criticamente as raízes sociais e históricas dos mesmos, para visualizar uma sociedade mais saudável e desenvolver estratégias para ultrapassar os obstáculos que se colocam à satisfacção dos seus objectivos. Através da participação na comunidade, as pessoas desenvolvem novas crenças na sua capacidade de influenciar as suas esferas pessoais e sociais. Um esforço de potenciação através da educação sanitária envolve muito mais do que aumentar a auto-estima, auto-eficácia ou outros comportamentos de saúde que são independentes da mudança ambiental ou da comunidade; os alvos são a mudança individual, de grupo ou estrutural. A potenciação abarca um vasto processo que envolve a prevenção, bem como outros objectivos da coesão comunitária, auto-desenvolvimento, melhoria de qualidade de vida e justiça social” (Wallerstein, 1988). Os resultados destes programas mostraram aumentos significativos na venda de preservativos em países tais como a Costa do Marfim, Uganda e Malásia, onde os preservativos eram praticamente inexistentes antes das campanhas de promoção social (World Bank, 1997). Depois de um programa de 3 anos de promoção de preservativos, conduzido por pares entre trabalhadoras do sexo em West Bengal, Índia, ter verificado que as taxas do seu uso subiram de 3% para 81%, foi lançada uma campanha de promoção social. Em seis meses de projecto de educação de pares e de participação comunitária, a distribuição gratuita de preservativos decresceu em 50%, ao mesmo tempo que a mesma quantidade de preservativos tinha sido vendida (Banerjee, 1998). Programas de promoção social para prevenção do HIV também foram desenvolvidos no México, República Dominicana, Canadá, Brasil, Vietname, Paquistão, Zâmbia, Botswana, Camarões, África do Sul e Haiti (Holtgrave, 1997, PSI, 1998). As avaliações mostraram sucesso no aumento do uso do preservativo especialmente entre adolescentes na Zâmbia e entre mulheres casadas em pequenas áreas urbanas no Paquistão (PSI, 1998). Beeker sugere uma definição de uma intervenção de potenciação nos termos que se seguem: “Uma intervenção de potenciação de uma comunidade procura efectuar uma mudança em toda a comunidade no tocante a comportamentos relacionados com a saúde, organizando as comunidades de modo a definirem os seus problemas de saúde, a identificarem as determinantes desses problemas e a engajarem-se na acção individual e colectiva efectiva para mudarem essas determinantes” (Beeker, 1998). Para além da promoção do preservativo, as técnicas de promoção social foram também eficientes para outras estratégias de prevenção do HIV, como 21 CAPÍTULO II O impacto dos papéis do género definidos pela sociedade sobre o comportamento de saúde preventivo da mulher destaca a importância de abordagens de potenciação, especialmente para mulheres vulneráveis ao HIV. Beeker descreve idealmente o que deviam ser as componentes de uma intervenção para a mulher baseada na potenciação. A intervenção deveria dirigir-se ao ambiente cultural através do reconhecimento dos papéis do género que definem a mulher como subordinada ao homem; do ambiente físico, através da inclusão do acesso a serviços e materiais apropriados, tais como abrigos para mulheres que sofrem agressões físicas e preservativos, tanto femininos, como masculinos; do ambiente estrutural, incluindo oportunidades para as mulheres alterarem o seu estatuto económico; e do ambiente político/legal, que inclui negócios que garantam licença paga para serviços à comunidade e cuidados para as crianças (Beeker, 1988). A participação comunitária em todos os níveis de implementação é um aspecto integrante das abordagens de potenciação da comunidade. As intervenções incluem a organização da comunidade e a pesquisa de acção participatória (PAP) nos seus programas (Israel, 1994, Hiebert, 1998). Um dos pontos fortes da PAP reside na capacidade de os participantes, em conjunto com profissionais empenhados e criativos, adaptarem os métodos e os conteúdos aos diversos contextos. Os resultados positivos da PAP advêm da sua capacidade colaborativa, construção de confiança, a partir de inputs directos da comunidade que respondem às mudanças emergentes nas situações sociais, políticas e económicas (Stevens, 1998). Estas intervenções procuram apoiar as comunidades a serem auto-determinadas na sua capacidade de integrar programas do HIV nas estruturas comunitárias já existentes através da avaliação das suas próprias necessidades e prioridades, definindo, implementando e avaliando o seu próprio trabalho1 . As abordagens de potenciação foram usadas para a redução do risco do HIV através de numerosas e diferentes estratégias e em incontáveis e diferentes locais e contextos. A literatura descreve intervenções de potenciação dirigidas a mulheres, jovens homossexuais masculinos, jovens, pessoas com HIV e SIDA, bem como muitas outras comunidades em risco. Uma intervenção financiada pela CDC, desenvolvida para jovens grávidas de comunidades de baixo rendimento nos EUA, afectou aleatoriamente mulheres em uma de três vertentes (quatro sessões de prevenção do SIDA, 4 sessões de promoção da saúde e controle). A vertente da prevenção do HIV centrou-se no aumento das aptidões da mulher em negociar o uso do preservativo com os seus parceiros, usando representações e ensaios, entre outros métodos. Em conformidade com os ideais da potenciação, o conteúdo incluía outros problemas de saúde, para além da prevenção do HIV, e foram desenvolvidas actividades para encorajar um sentimento de “preocupação comunal” no grupo. A ideia era promover apoio mútuo no processo de mudança comportamental. Os resultados indicaram que as mulheres do grupo de prevenção do HIV apresentaram maiores mudanças nas intenções e na prática de comportamentos de sexo seguro do que as mulheres dos outros grupos (Beeker, 1998). Os comentários dos autores do relatório concluíram que as mulheres do grupo de prevenção do HIV ganharam um sentido de controle sobre as suas vidas. Uma intervenção usando a PAP entre mulheres lésbicas enfatizou na comunidade o poder de ser dona do projecto e da sua continuidade ao longo do tempo, e abriu espaço para engajamento e empenho, onde as mulheres se centraram em convenções comunitárias, valores e expectativas sociais acerca de relacionamento sexual, uso de drogas e HIV. O sentimento de solidariedade com os educadores pares permitiu às mulheres reduzir os comportamentos de risco (Stevens, 1998). A potenciação pode ter benefícios de saúde e de bem estar de grande alcance. Schuler et al. descrevem o impacto do envolvimento da mulher em programas de crédito sobre o uso do contraceptivo. A autora verificou que, no Bangladesh, os programas de crédito rural para mulheres podem jogar um papel importante na 1 Vide Israel et al., 1994, ou IUCN, 1997 para definições mais completas e exemplos da pesquisa da acção participatória 22 CAPÍTULO II Uma outra intervenção de âmbito político amplamente reconhecida é o Programa Preservativo 100%, na Tailândia, que tornou obrigatório o uso do preservativo nos bordéis e noutros encontros de comércio de sexo. As componentes do programa incluíam uma obrigação de as trabalhadoras do sexo usarem preservativos com todos os clientes, a monitoração do uso do preservativo, o apoio dos donos e dos gerentes dos bordéis na promoção do uso do preservativo com clientes não cooperativos e sanções contra donos de bordéis que não cumprissem estas normas (Aggleton, 1996). O programa resultou num grande aumento do uso auto-declarado do preservativo nos actos sexuais comerciais (de 14% para 90%), num decréscimo do número de frequentadores de clínicas públicas para DTS e num decréscimo do número de recrutas do exército com HIV positivo (Friedman, 1997). O sucesso do programa foi atribuído ao facto de que ele estava baseado na redução de males no seio de uma população em muito alto risco. O programa não tentou eliminar os bordéis mas tentou reduzir a transmissão do HIV dentro deles, e usou políticas de nível nacional, que garantiram um esforço vasto e duradoiro (Friedman, 1997). mudança das normas de fertilidade e no estímulo do uso de contraceptivos, através do reforço da posição económica da mulher, acentuando a potenciação das mulheres (Schuler, 1994). Outras intervenções de potenciação para trabalhadoras do sexo incluía um projecto, na Zâmbia, onde mulheres vendedoras de peixe que frequentemente se sujeitam à exploração sexual foram apoiadas na formação de cooperativas económicas como uma forma de se protegerem contra o HIV. Um segundo exemplo é o de um programa na Índia, onde as mulheres foram ensinadas como, colectivamente, poupar dinheiro suficiente para pagar empréstimos que as obrigaram a ser trabalhadoras do sexo (Aggleton, 1998, Tawil, 1995). Beeker recorda-nos que as abordagens de potenciação não lutam para substituir as intervenções psicossociais individuais, mas para “alargar o escopo e incluir abordagens de pessoa-noambiente”. A autora observa que há um crescente empenho na participação da comunidade, mas que continua a haver um fosso difícil de transpor entre retórica e a prática da potenciação. Para que esse fosso seja ultrapassado, o progresso é um elemento-chave na operacionalização de novos conceitos e constructos e para testar relações hipotéticas entre, por exemplo, participação e capacidade da comunidade a fim de, efectivamente, abordar questões de saúde (Beeker, 1998). Apesar de as ferramentas para a medição da potenciação ao nível singular e a um nível múltiplo (a partir do nível pessoal para o comunitário) terem sido desenvolvidas e testadas, elas não foram ainda usadas em larga escala (Israel, 1994). Conclusão A prevenção do HIV a nível da comunidade é uma componente integrante para verificar a disseminação posterior do HIV. Ao trabalhar com comunidades, em contraste com indivíduos, centra-se o foco na mudança de políticas, estruturas sociais, normas sociais e práticas culturais que circundam os comportamentos de risco do indivíduo. Mudanças a nível da comunidade, operando ao nível de mudanças de sub-culturas, têm potencial para efectuar a manutenção a longo termo dos comportamentos alterados, através da mudança no ambiente que cerca os indivíduos para apoiar comportamentos mais seguros. Ao mesmo tempo, muitas destas abordagens sublinham a importância dos métodos participatórios para incluir e potenciar os indivíduos. É importante notar que muitas das intervenções acima referidas podem ter inicialmente sido centradas num nível (tal como o das políticas, ou da potenciação dos indivíduos), mas, à medida que os programas se foram desenvolvendo, foram, de um modo geral, incluindo mais níveis alvo, tais como mudanças nas culturas e subculturas locais (Friedman, 1997). Os programas aqui discutidos foram as abordagens mais amplamente publicitadas de prevenção do HIV a nível da comunidade, embora existam muitos mais projectos inovadores em todo o mundo. Intervenções ao nível de políticas As intervenções do nível político são abordagens de “viabilização”, que tentam remover as barreiras estruturais a um nível amplo. Muitos acreditam que as intervenções sobre SIDA estão a afastar-se das abordagens solitárias de investigação individual para modelos multi-dimensionais de mobilização e potenciação da comunidade e intervenções do âmbito da política estrutural (Beeker, 1998, Parker, 1996). Os primeiros e alguns dos mais eficientes esforços para a mudança relativa ao HIV a nível da comunidade, resultaram da acção social. A ACTUP, formada em 1987, em Nova Iorque, é responsável por muitas iniciativas políticas de sucesso para pessoas vivendo com o HIV e SIDA, bem como pela defesa da responsabilidade de todas as pessoas praticarem sexo seguro. 23 CAPÍTULO II Finalmente, o desenvolvimento de métodos para a implementação e avaliação de programas de nível comunitário ainda não foi operacionalizado num largo aspecto. A avaliação da efectividade destes programas introduz uma série de desafios, tais como a medição, a nível comunitário, das mudanças, usando a própria comunidade como nível de análise em vez do indivíduo. Para além do mais, identificar elementos da intervenção para medir, definindo assim novos indicadores a nível de comunidade e obtendo amostras de dimensão suficiente para detectar a sua relevância, acrescenta novos desafios à avaliação ao nível da comunidade. Isto faz com que a concepção de tais programas e a capacidade de os levar a cabo seja eventualmente mais complexa do que os programas baseados no indivíduo. 24 CAPÍTULO II parceiros de UDI, 2 em 3 sobre pacientes de DTS, 4 em 7 sobre estudantes universitários dos Estados Unidos e 6 em 14 estudos sobre grupos comunitários mistos (Ickovics, 1998). Ickovics et al. identificaram sete tipos de intervenções tentadas entre mulheres ao nível mundial: pequenos grupos, comunidade inteira, meios de comunicação, aconselhamento e teste de HIV, aconselhamento individual, educação em aula e experiência laboratorial. As intervenções à escala da comunidade inteira (12 em 14) e à escala de pequenos grupos (13 em 19) mostraram maior probabilidade de apresentar resultados significativos. Curiosamente, a resenha de Ickovics observou que nos programas de pequenos grupos de mulheres com maior intensidade (5 ou mais sessões) havia menos eficácia do que nos de menor intensidade. Os autores sugeriram que isto pode ser o reflexo de uma população alvo mais resistente. Vários programas internacionais incorporaram abordagens de difusão de inovações conduzidas por pares, e todos eles reportaram um crescimento estatístico significativo no uso do preservativo (6 em 6 estudos). De acordo com esta resenha, as intervenções para mulheres menos eficazes de todo o conjunto foram o aconselhamento individual (0 em 4) e o aconselhamento e teste de HIV (3 em 6), quando tomadas como prevenção primária. O teste e aconselhamento e o aconselhamento individual mostraram-se, porém, eficazes como prevenção secundária em casos de casais serodiscordantes (Ickovics, 1998). Os modelos teóricos que se mostraram úteis na explicação e na previsão das mudanças de comportamento sexual em relação ao HIV fornecem bases para a concepção e implementação de programas de prevenção (Wingood, 1996). Os exames às intervenções orientadas por teorias verificaram que elas dão ênfase, tanto aos factores intra-pessoais, como aos factores inter-pessoais; permitem a aquisição de aptidões; procuram modificar as normas sociais e, portanto, são mais eficientes para a redução dos comportamentos de risco entre os participantes (DiClemente, 1995). (Vide Tabela 3). Esta secção resume os resultados positivos das intervenções baseadas em teorias em função dos grupos populacionais específicos, incluindo mulheres, homens e juventude. Apesar de que os utilizadores de drogas injectáveis cabem em qualquer uma das três categorias, colocamo-los no seu grupo particular, uma vez que são alvo de intervenções específicas. (A) MULHERES Uma resenha de testagens aleatórias controladas nos Estados Unidos conduzida por Wingood e DiClemente observou que todas as intervenções eficazes para mulheres tinham umas tantas características identificáveis. Em contraste com a resenha de Ickovics, os quatro estudos mencionados foram guiados pela teoria cognitiva social (uma teoria que, tomando em conta factores de ambiente e comportamentais, se baseia no indivíduo, e que dá grande ênfase à autoeficácia), e forneceram formação no uso do preservativo e na comunicação sexual e puseram ênfase no apoio à manutenção de um comportamento sexual mais seguro. Além do mais, todas as intervenções eficazes foram conduzidas por pares e abordaram influências baseadas no género, tais como os desequilíbrios de poder no relacionamento fundadas no género (Wingood, 1996). Uma resenha de 51 relatórios, em 1997, sobre estudos levados a cabo em todo o mundo verificou a falta de intervenções que identificassem as relações entre os efeitos preventivos e os enquadramentos teóricos sobre os quais eram concebidas tais intervenções (Ickovics, 1998). Esta resenha encontrou diferenças de eficácia entre grupos populacionais alvo e entre diferentes tipos de intervenção. As intervenções visando trabalhadoras do sexo apresentaram uma maior probabilidade de encontrar um aumento do uso do preservativo, uma diminuição da incidência das DTS e uma redução das relações sexuais não protegidas (9 em 10 estudos). A eficácia nos outros grupos de risco apresentou maior variação: 13 em 18 estudos sobre mulheres de descendência afroamericana ou latina mostraram eficácia, bem como 3 em 10 estudos sobre UDI, 1 em 3 sobre 25 CAPÍTULO III Em geral, as intervenções de formação de habilidades para mulheres consideram factores culturais e tentam personalizar as mensagens (Kalichman, 1997). Programas de reforço de aptidões comportamentais dirigidos para mulheres nos EUA e para adolescentes nos EUA e Holanda produziram efeitos positivos (Kalichman, 1997). Os estudos entre mulheres nos EUA incluíram, de um modo geral, quatro a cinco sessões e mostraram resultados positivos com efeitos de dimensão média. O uso do preservativo aumentou até ao dobro do índice de partida. As componentes específicas do reforço das aptidões comportamentais que foram testadas compreenderam: educação e sensibilização sobre os riscos, uso do preservativo e formação sobre sexo mais seguro, bem como formação de aptidões de comunicação sexual (Kalichman, 1998). Kalichman observa que a formação para o reforço das aptidões comportamentais não foi testada experimentalmente fora dos EUA, e, por isso, não está claro até que ponto pode beneficiar mulheres de outras partes do mundo. Foi levada a cabo uma intervenção baseada na teoria da difusão de inovação em combinação com uma mobilização da comunidade, entre as mulheres num asilo em Nova Iorque. Foram recrutadas mulheres, organizadas e treinadas para ajudar a desenvolver histórias didácticas para o boletim do projecto. Estas mulheres foram incumbidas de iniciar debates sobre prevenção de HIV com as suas pares. A informação foi rapidamente difundida e pareceu promover a discussão e o uso do preservativo entre as mulheres do projecto. O uso declarado do preservativo entre as parceiras sexuais de UDI cresceu de 15% para 45% (Friedman, 1997). A teoria do género e poder forneceu um modelo para a concepção de uma intervenção bem sucedida sobre aptidões sociais apropriadas ao género para mulheres afro-americanas em São Francisco. A intervenção abordou a questão de como negociar com sucesso o sexo seguro e conseguir do parceiro uma postura mais favorável ao uso do preservativo e foi feita numa base comparativa em relação a um grupo de controle que havia recebido a mesma formação mas de forma mais retardada. Os resultados mostraram, no grupo da intervenção, um uso mais consistente do preservativo, um maior auto-controle sexual, uma maior afirmação sexual, bem como o aumento da adopção, por parte dos parceiros, de posturas que favorecem o uso consistente do preservativo (DiClemente, 1995). 26 O modelo das etapas de mudança foi usado para guiar um estudo longitudinal de 6 meses entre mulheres em tratamento contra a droga em asilos e hospitais dos EUA, tendo mostrado que a probabilidade de reportar o uso consistente do preservativo no “último contacto sexual” com o parceiro principal em mulheres expostas a um aconselhamento individual especificamente talhado para a etapa era duas vezes maior do que nas mulheres que recebiam aconselhamento e serviços de saúde reprodutiva numa base padronizada (Galavotti, 1998). O aconselhamento em função das etapas mostrou também ser útil na prevenção do abandono do uso consistente do preservativo no futuro, ao longo do processo de mudança. Houve um estudo que avaliou o modelo da redução do risco do SIDA (MRRS) em mulheres desfavorecidas com HIV positivo nos EUA, e verificou que havia 6 variáveis, representando os quatro constructos importantes do modelo, que estavam associadas ao uso consistente do preservativo (Kline, 1994). O indício mais forte na previsão do uso do preservativo era a percepção da auto-eficácia na capacidade de influenciar o comportamento sexual do parceiro, mas não foi detectada nenhuma relação significativa entre o uso do preservativo e a auto-eficácia geral. As outras duas variáveis relacionadas com o parceiro que se associavam ao uso do preservativo foram a sua seronegatividade e o facto de ele não querer mais filhos. As intenções reprodutivas das inquiridas não estavam significativamente associadas ao uso do preservativo. As três variáveis negativamente relacionadas com o uso do preservativo foram: ter uma relação conflituosa com o parceiro principal, acreditar que o uso do preservativo reduz o prazer sexual e o consumo de drogas e álcool nas quatro semanas anteriores. Em relação ao modelo da crença na saúde, entre adultas heterossexuais na Holanda, as barreiras ao uso do preservativo, tais como a redução do prazer sexual, eram um indicador, mas as predisposições para a acção não se relacionavam com as intenções do uso do preservativo (Buunk, 1998). A percepção de que muitas outras no grupo de referência iriam aderir ao uso do preservativo com novos parceiros sexuais serviu como um importante indicador quanto às intenções de uso do preservativo e sublinha a importância do ambiente social no tocante ao comportamento de protecção contra o SIDA. CAPÍTULO III Também a nível internacional, foi avaliada, através de inquéritos, discussões em grupos e reuniões a nível de aldeia, uma intervenção orientada pela teoria cognitiva social e pela promoção da saúde comunitária que havia sido implementada no Nordeste da Tailândia e que tinha como alvo mulheres aldeãs. Uma pesquisa de elicitação verificou a importância de incluir na intervenção a totalidade da aldeia em vez de se restringir às mulheres. A avaliação observou que oito dos nove objectivos foram atingidos, havendo um aumento na tomada de iniciativas por parte das mulheres casadas para reduzir o risco a que estão expostas devido às actividades sexuais dos seus maridos (Elkins, 1997). As medidas específicas tomadas pelas mulheres incluíam a negociação do uso do preservativo com os seus maridos e a advertência para estes não procurarem prostitutas. Os homens inquiridos, no entanto, não mudaram a sua postura relativamente ao uso do preservativo (Elkins, 1997). e clientes, na Tailândia, em múltiplas sessões de pequenos grupos com educadoras pares, que eram muito experientes e eram chamadas as “superstars”. O aspecto “modelo do bordel” do programa funcionou com os donos dos bordéis para imporem o uso obrigatório do preservativo às trabalhadoras do sexo. Os clientes foram também educados no sentido de usarem o preservativo. Foram treinados voluntários para agirem como clientes, com a finalidade de testar as capacidades das trabalhadoras do sexo na negociação do uso do preservativo. Os resultados mostraram que a recusa do sexo sem preservativo por parte das trabalhadoras do sexo aumentou de 42% antes da intervenção para 92% depois. Os autores concluíram que esta abordagem multifacetada especificamente dirigida às trabalhadoras do sexo, e que reconhece a importância de trabalhar com os clientes e proprietários foi crucial para o seu sucesso (Visrutaratna, 1995). Um dos raros estudos concebidos para identificar os efeitos individuais das componentes das intervenções nos comportamentos foi conduzido entre mulheres afro-americanas numa comunidade do centro de uma cidade dos EUA. As mulheres foram aleatoriamente afectas a um dos seguintes aspectos: (1) formação de aptidões de comunicação sexual, (2) formação de aptidões de autogestão, (3) combinação da formação de aptidões de comunicação sexual e de autogestão, (4) educação sobre HIV e sensibilização para o risco. O estudo verificou que as condições das quatro intervenções permitiram o aumento do conhecimento sobre o SIDA e das intenções para reduzir os comportamentos de risco. A formação em aptidões de comunicação produziu altos índices de discussões sobre redução do risco, mas a formação de aptidões combinadas e a comunicação sexual é que resultou nos índices mais baixos de relações sexuais não protegidas nos tempos subsequentes. Os autores concluíram que a combinação da formação em aptidões comportamentais e de comunicação é a mais eficaz para a redução do risco entre as mulheres vulneráveis nos EUA (Kalichman, 1998). Trabalhadoras do sexo Entre os numerosos estudos que envolvem trabalhadoras do sexo, apenas dois serão aqui destacados. Foi levada a cabo uma intervenção de um ano dirigida a trabalhadoras do sexo, donos de bordéis 27 Um segundo estudo que mencionou o seu enquadramento teórico e a sua utilidade para as trabalhadoras do sexo verificou a importância do modelo da crença na saúde e da teoria cognitiva social. Um estudo guiado por estes dois modelos trabalhou com quatro grupos de trabalhadoras do sexo na Indonésia e descobriu que, quer o aumento do conhecimento, quer o do uso do preservativo estavam significativamente relacionados com o número de sessões de intervenção a que as mulheres assistiram (Ford, 1998). Os resultados reflectiram os diferentes contextos sociais do comportamento sexual dos quatro grupos de trabalhadoras do sexo e indicaram que os quatro grupos de mulheres tinham diferentes níveis de conhecimento sobre o SIDA, diferentes níveis sócio-económicos, diferentes números de clientes e diferenças na auto-eficácia. As crenças acerca dos benefícios do uso do preservativo deram altos indicadores do seu uso em 3 dos 4 grupos. No grupo com menor conhecimento sobre o SIDA, o uso do preservativo estava associado à susceptibilidade percebida em relação a outras DTS, e não ao SIDA. A auto-eficácia foi um alto indicador do uso do preservativo em 3 dos 4 grupos de trabalhadoras do sexo. No quarto grupo, a auto-eficácia já era alta, uma vez que estas trabalhadoras do sexo não dependiam de proxenetas e contactavam os clientes de forma independente. Os autores destacam que o trabalho do sexo é um negócio complexo, que inclui múltiplas sub-populações e distritos (Ford, 1998). Estas realidades diversas devem ser consideradas na concepção e na implementação de uma intervenção. CAPÍTULO III (A) HOMENS Conclusão As intervenções dirigidas a mulheres sempre estiveram atrasadas em relação às dirigidas a homens. As mulheres foram deixadas de fora nos esforços iniciais de prevenção da epidemia do SIDA, especialmente na Europa e nos EUA. Hoje, considerar o género, as relações e os aspectos contextuais como sendo centrais na tomada de decisões relativas ao comportamento sexual é importante, a nível global, para o sucesso das intervenções acima apresentadas. Assim, o uso de teorias orientadas para o género em diferentes culturas pode mostrar-se útil, uma vez que os encontros sexuais, em algumas situações, podem ser impostos e os papéis do género, bem como alguns valores e normas sociais definem, ou pelo menos influenciam, o comportamento sexual (Amaro, 1995). Uma resenha internacional notou que as intervenções em comunidade dirigidas por pares na base da teoria da difusão de inovações eram de um modo geral mais bem sucedidas do que as intervenções ao nível individual. A formação de aptidões, especialmente a respeito do uso do preservativo e da comunicação sexual, assim como a percepção do risco foram as variáveis importantes entre as mulheres nos estudos efectuados nos EUA. Tal como em outros grupos populacionais, as intervenções facilitadas por pares foram geralmente mais bem sucedidas do que as que usam um facilitador de fora do grupo alvo, uma vez que as pares atingem melhor os alvos apropriados com métodos de redução do risco específicos para o contexto. Apenas um estudo, guiado pelo modelo de redução do risco do SIDA, apresentado aqui, prestou atenção especificamente a mulheres infectadas com HIV e detectou que os factores relacionados com o seu parceiro sexual tinham mais influência do que muitas variáveis pessoais. As intervenções com trabalhadoras do sexo usaram frequentemente o modelo de crença na saúde e a teoria cognitiva social com resultados significativos em diversas partes do mundo. As intervenções de sucesso frequentemente se deram conta da importância de incluir nas suas actividades os proprietários dos bordéis e os clientes, considerando, assim, os factores ambientais associados aos comportamentos e práticas envolvidos. O estudo sobre trabalhadoras do sexo levado a cabo na Indonésia destacou a importância de considerar a diversidade no seio daquilo que muitas vezes é designado por população de “trabalhadoras do sexo”. Ao fazer intervenções baseadas em teorias, os investigadores puderam identificar as diferenças cruciais nos constructos preditivos entre os diferentes grupos de trabalhadoras do sexo. 28 Homens que fazem sexo com outros homens (HSH) Uma resenha recente sobre intervenções com homossexuais masculinos observou que os estudos de um modo geral entram em três tipos: estudos a nível individual, ao nível de pequenos grupos e ao nível de comunidade (Kegeles, 1998). Ao nível individual, a resenha verificou um estudo singular em que os homens foram afectos, de forma aleatória, a três grupos: (1) um grupo standard que analisou cartazes sobre prevenção de HIV, (2) um grupo de auto-justificação a que se pediu que os participantes recordassem, da forma mais vívida possível, uma ocasião em que tinham feito sexo inseguro, para depois justificarem, em conformidade com uma escala pré-determinada, e (3) um grupo de controle que não recebeu qualquer intervenção. Dois meses depois, o grupo de auto-justificação apresentou uma probabilidade significativamente menor de reportar relações sexuais inseguras do que os outros 2 grupos (Gold, 1995). Um estudo aleatório controlado sobre a prevenção do HIV nos EUA, numa estratégia de pequenos grupos, usou uma intervenção de 12 semanas com 3 sessões de reforço entre 104 homens casualmente distribuídos para, ou (1) receberem uma intervenção sobre redução de risco, ou (2) ficarem num grupo de controle em lista de espera. As quatro áreas principais cobertas na intervenção foram a educação sobre o risco do HIV, formação de aptidões comportamentais, formação em afirmação sexual e mudanças de estilo de vida para a prevenção de recaídas. O grupo da intervenção mostrou uma significativa redução nos índices de relações anais não protegidas e um aumento no uso do preservativo imediatamente após a intervenção, mas 40% teve recaídas 16 meses mais tarde (Kelly, 1991). Componentes de intervenção similares foram testadas entre homens de grupos étnicos minoritários e notou-se que eram eficazes para a redução do número de parceiros e dos índices de relações não protegidas, com efeitos particularmente acentuados entre os americanos de origem chinesa e filipina (Choi, ZW1996). Num terceiro estudo de intervenção ao nível de grupo entre afro-americanos, as componentes incluíam: (1) discussões sobre ser negro e ser homossexual ou bissexual, sobre o estabelecimento de apoios sociais e discussões em grandes gru- CAPÍTULO III tacarem o comportamento sexual de risco entre as preocupações dos jovens homossexuais e para encontrarem um ambiente livre do álcool e das drogas para eles (Coates, 1996). Enquanto as comunidades usadas como termos de comparação não registaram mudanças significativas, as comunidades que haviam sido alvo de intervenções mostraram mudanças significativas no tocante ao sexo anal não protegido com parceiros primários ou não primários (Kegeles, 1996). pos acerca das interpretações erradas sobre o SIDA no seio dos negros, (2) o reforço de atitudes positivas sobre a prática de sexo seguro, aptidões relacionadas com o uso do preservativo, desenvolvimento de planos para o uso do preservativo, e (3) como lidar com questões como a resistência do parceiro, a análise das suas próprias reservas quanto a um sexo seguro, alternativas de solução para os problemas de um sexo mais seguro, exercícios de representação de papéis, manutenção do sexo seguro e o estabelecimento de normas sociais para um sexo mais seguro. Os participantes foram aleatoriamente afectos, quer a grupos de uma só sessão, quer a grupos de três sessões ou ainda a um grupo de controle em lista de espera. Os resultados indicaram que os que haviam sido afectos ao grupo de três sessões reduziram significativamente as relações anais não protegidas após 12 meses de acompanhamento (Peterson, 1996). Heterossexuais Em grupos populacionais específicos, tais como os pacientes atendidos em clínicas de DTS, a autoeficácia foi, em dois estudos diferentes nos EUA, usada como indicador da redução do risco. Infelizmente, a informação sobre intervenções comportamentais testadas em heterossexuais é escassa. Kalichman observa que as intervenções comportamentais que foram testadas em experiências controladas aleatoriamente não mostraram eficácia na redução do comportamento sexual de alto risco (Kalichman, 1997). Numa testagem aleatória controlada realizada entre afro-americanos do centro da cidade foi comparada uma intervenção de treino de aptidões cognitivo-comportamentais com uma intervenção de educação sobre SIDA. Não foram notadas diferenças significativas quanto ao conhecimento de aspectos relacionados com o SIDA, bem como no tocante à intenção ou ao uso efectivo do preservativo. Apesar disso, desse estudo foram tiradas algumas lições importantes. Deve ser dada maior importância às questões que são de relevância para o grupo populacional específico. Num grupo populacional com múltiplas práticas em competição, seria mais eficaz um programa de serviços sociais capaz de dar uma educação sobre SIDA paralelamente ao tratamento contra a droga e à gestão das questões relacionadas com o emprego. As outras duas questões levantadas pelo estudo foram: o formato da discussão em pequenos grupos não foi bem recebido por todos os homens participantes no estudo, e que não se deve assumir que os programas de formação de aptidões cognitivo-comportamentais para a redução do risco de HIV se adaptam a todos os grupos populacionais vulneráveis (Kalichman, 1997). As possíveis razões sugeridas por Kalichman são as de que os homens heterossexuais podem não ter a consciência da sua vulnerabilidade ao HIV, uma vez que não são identificados como estando envolvidos em comportamentos de alto risco em relação ao HIV, tal como se concebia nos primórdios da epidemia nos EUA (Kalichman, 1998). Estudos controlados em homens que fazem sexo com outros homens (HSH) indicaram vários aspectos que ajudaram os homens a mudarem e a manterem um sexo mais seguro: • materiais erotizantes mais seguros • breve formação sobre como estabelecer e manter relações mais seguras • como negociar o sexo mais seguro • formação sobre como reduzir o stress • aconselhamento de grupo intensivo (Auerbach, 1994) Intervenções de reforço das aptidões comportamentais dirigidas a HSH em diversos contextos culturais demonstraram consistentemente ser capazes de aumentar o uso do preservativo nas relações anais, com os maiores índices a ocorrerem em relações com parceiros não primários (Kalichman, 1997). A teoria da difusão tem mostrado, em diferentes estudos nos EUA, ser eficaz para a mudança do comportamento sexual dos homens que fazem sexo com outros homens (Kelly, 1991, 1992, Kegeles, 1996). O modelo foi testado em três pequenas cidades do sul e os resultados indicaram reduções sistemáticas, nos grupos populacionais com comportamento de alto risco, na ordem dos 15% a 29% em relação aos índices de partida (Kelly, 1992). Kegeles et al. usaram a teoria da difusão para conceber uma intervenção com vista a abordar as determinantes do sexo de alto risco em jovens homossexuais nos EUA. Os autores identificaram os canais naturais de comunicação para des- 29 CAPÍTULO III Conclusão Choi aponta que a utilidade das teorias baseadas estritamente no indivíduo é limitada a grupos específicos de risco, tais como os homossexuais masculinos das ilhas do Pacífico Asiático, que têm exigências culturais e um estigma anti-homossexualidade muito fortes na comunidade. Sem considerar estas influências contextuais importantes sobre o comportamento, as intervenções não podem esperar grandes resultados. Peterson descreve o modo como foram directamente abordadas as questões relacionadas com o facto de ser HSH afro-americano em paralelo com aspectos ligados ao apoio social e ao uso do preservativo nas suas intervenções. Tal como em relação a outros grupos populacionais, a intervenção deve ser dimensionada para se adaptar ao seu grupo, isto é, o grupo deve ser capaz de expressar as suas necessidades e prioridades para que o programa tenha sucesso. Apesar dos resultados impressionantes com homossexuais masculinos em diversos contextos, há poucos resultados positivos com os heterossexuais no mundo industrializado. Como este grupo não era visto como vulnerável no início da epidemia, as intervenções concentraram-se nos grupos populacionais de HSH e de UDI. Os pacientes de DTS, no entanto, foram abrangidos, com resultados diversos. Dois estudos nos EUA, guiados pela teoria cognitiva social, registaram um aumento no uso do preservativo, e um estudo na GrãBretanha não registou qualquer efeito no comportamento. Nos países em desenvolvimento, abordagens como a do teste e aconselhamento provaram ser bem sucedidas no que respeita à motivação da mudança de comportamento entre homens heterossexuais. Grupos populacionais específicos, tais como os trabalhadores das farmas no Zimbabwe, foram alvo de uma intervenção guiada pelo modelo ecológico social e pelo modelo para a promoção da saúde. (B) JUVENTUDE Genericamente, muitos jovens iniciam as suas relações sexuais aos 18 ou 19 anos de idade e, pelo menos metade, aos 16 anos (UNAIDS, 1998). Nos EUA, estima-se que cerca de metade dos adolescentes são sexualmente activos, e esta percentagem sobe para cima de 80% em alguns grupos minoritários (Reitman, 1996). Os jovens entre os 15 e 24 anos constituem a maioria das novas infecções com HIV. A maior parte deles vive no mundo em desenvolvimento, mas os países in- 30 dustrializados também enfrentam sérios problemas. A USAID estimou que por volta do ano 2010 haverá em todo o mundo um total de 41 milhões de órfãos que terão perdido ambos os pais devido ao HIV/SIDA (UNAIDS, 1998a). Uma investigação sobre as intervenções junto dos jovens mostra que o sucesso da abordagem depende do seu grau de experiência sexual. Uma educação sexual intensiva para jovens que nunca tinham tido relações sexuais mostrou-se eficaz para retardar o início da vida sexual entre estudantes do liceu. Uma resenha abrangente de 110 avaliações de resultados (Peersman, 1998) verificou que os programas eficazes são os que: • incidiram sobre a compreensão da influência social e/ou dos media sobre o comportamento sexual para reforçar as normas de grupo contra o sexo não protegido • procuraram ouvir o que os jovens pensam e acreditam para garantir a aceitabilidade e a adequação dos programas • incluiram a concepção e aplicação de aptidões de comunicação e negociação • combinaram a prevenção da gravidez e das DTS com a do HIV • incidiram especialmente sobre a juventude desfavorecida, permitindo-lhe o acesso aos recursos e/ou serviços que vão de encontro às suas necessidades (cuidados de saúde, assistência jurídica). Howard e McCabe mostraram o sucesso da teoria da influência social, usando os adolescentes mais velhos nos EUA para identificar as pressões sociais e de grupo para encorajar comportamentos negativos para a saúde, para apresentar informação factual, ensinar a afirmação e para discutir situações problemáticas. A avaliação dos resultados do programa, que abrangeu 536 estudantes de famílias de baixo rendimento em Atlanta, mostrou que havia uma tendência significativamente maior para continuarem a adiar a sua primeira experiência até à 9ª Classe, nos estudantes que não tinham ainda tido relações sexuais e que tinham participado no programa do que nos que não tinham participado (Howard, 1990). Uma segunda intervenção cuidadosamente implementada na base da teoria da influência social entre estudantes das classes escolares intermédias nos EUA não registou resultados. Os autores apontam como causas uma intervenção inadequada ao nível familiar e da comunidade, uma possível CAPÍTULO III Conclusão diluição das mensagens e, talvez, uma super saturação dos estudantes, de um nível de 8ª Classe, com as mensagens sobre saúde do programa (Moberg, 1998). Em conjunto, os resultados destes estudos sugerem que os constructos subsumidos nas teorias comportamentais reforçaram grandemente a nossa compreensão sobre o comportamento de risco entre os jovens em diferentes lugares e situações. A teoria das influências sociais foi também importante num estudo, mas um segundo estudo usando a mesma teoria não registou resultados. A formação de competências, atitudes, normas e autoeficácia provaram ser eficazes para dar indicações sobre a mudança de comportamento entre os jovens. Na pesquisa de intervenção, estes constructos também se mostraram úteis na mediação dos comportamentos concretos de risco. Os resultados mostraram que os jovens que já iniciaram a sua vida sexual devem ter um tratamento diferente daquele que é dado aos que ainda não iniciaram e que as intervenções deverão também direccionarse para comportamentos específicos, em vez de tratar o problema da redução do risco em geral. Embora se tenha verificado um estudo na Nigéria, a maior parte das investigações e intervenções baseadas em teorias foram levadas a cabo nos EUA. Se não houver uma investigação adicional, estes resultados serão dificilmente aplicáveis noutros lugares que não sejam no interior dos EUA. Reitman conclui correctamente que o uso do preservativo é um comportamento que pode ser especialmente susceptível às variações situacionais e contextuais, particularmente em grupos populacionais diversos como no caso dos jovens. Para além disso, um estudo de avaliação da aplicação do modelo de crença na saúde para colher indicações sobre o uso do preservativo entre estudantes universitários na Nigéria verificou que as principais variáveis do modelo de crença na saúde, nomeadamente os benefícios percebidos e as barreiras consideradas para o uso do preservativo, as disposições para agir, em conjunto com o conhecimento sobre SIDA e o género masculino foram indicativos do uso do preservativo (Edem, 1998). Reitman et al. sugere que os constructos comportamentais devem ter como alvo comportamentos específicos. O seu estudo, guiado pelo modelo de crença na saúde e pela teoria da acção racionalizada, foi realizado entre adolescentes afro-americanos e verificou que abordar o uso do preservativo, a redução do número de parceiros ou a frequência das relações sexuais se relacionava com diferentes estratégias para a redução do risco. A atitude positiva dos adolescentes em relação ao preservativo foi o único correlato forte da prática do seu uso. Apesar de que intervenções de sessões múltiplas se mostraram eficazes, um projecto que tinha como alvo adolescentes afro-americanos demonstrou que um seminário de uma sessão, incidindo sobre a formação de competências cognitivocomportamentais, produziu um aumento significativo do conhecimento relativo ao HIV, uma redução das crenças que favorecem o risco e uma redução da frequência de comportamentos sexuais de alto risco (Jemmott, 1992). (D) UTILIZADORES DE DROGAS INJECTÁVEIS A tóxicodependência é um grande factor de risco de infecção com HIV em cerca de 80 países do mundo inteiro (Gibson, 1998). Os comportamentos associados ao uso de drogas que se encontram entre os factores de risco de transmissão do HIV são a partilha dos instrumentos de injecção da droga e as relações sexuais não protegidas com um parceiro infectado. Como este relatório incide o seu foco sobre a transmissão sexual, a partilha de instrumentos de injecção não será discutida. Um dos poucos estudos que testaram os constructos teóricos de uma maneira que pudesse definir os mediadores da mudança foi uma intervenção de uma sessão para promover a prevenção das DTS entre estudantes universitários. Os investigadores usaram análises de regressão para mostrar que as mudanças nos benefícios considerados do uso do preservativo, a aceitação da sexualidade, o controle sexual, as atitudes e a auto-eficácia em relação ao preservativo estavam ligados às intenções comportamentais para usar preservativos. Os autores concluíram que os mecanismos para a mudança na sua intervenção eram as atitudes efectivas em relação ao uso e às pessoas que usam preservativos, bem como a auto-eficácia para o uso do preservativo (Kalichman, 1998). Numa resenha recente de 19 intervenções nos EUA dirigidas aos utilizadores de drogas injectáveis (UDI), os autores observaram que as mesmas consistiram em: • aconselhamento individual • aconselhamento e teste do HIV • intervenções de grupo 31 CAPÍTULO III • pesquisa de rua • intervenções sociais (Gibson, 1998) Nos estudos controlados, o maior impacto sobre o comportamento manifestou-se através do confronto de intervenções intensivas e sustentadas com outras situações tomadas para comparação. Para além disto, os participantes de intervenções de sucesso pareceram mais estáveis e mais motivados que as suas contrapartes, que se apresentaram como um grupo mais heterogéneo em etapas diferentes do processo de mudança comportamental. A última observação sugere que as próximas intervenções deverão dirigir-se a subgrupos em conformidade com o risco (Gibson, 1998). Como as mudanças substanciais de comportamento, em muitos estudos, resultaram tanto dos grupos de testagem como dos de comparação, os autores concluíram que participar numa pesquisa de avaliação pode ter sido, por si, uma intervenção útil, e que o impacto das avaliações do comportamento foi considerado parcialmente responsável por este resultado. Uma recomendação desta resenha foi a de considerar uma abordagem da mudança social para a prevenção do HIV entre os UDI a fim de influenciar as normas sociais com vista a um comportamento mais seguro. Tem sido apontada, a nível global, a necessidade que os UDI têm de uma informação específica dirigida às suas necessidades individuais e ao contexto social/cultural do uso de drogas injectáveis (Case, 1992). O apoio de serviços sociais e de saúde específicos é crucial, uma vez que se um UDI foi motivado por uma mensagem de prevenção para procurar tratamento ou passar a usar o preservativo, tais serviços devem estar mais ao seu alcance do que as drogas. Em 16 países onde houve pesquisa em 1992, o sucesso em relação aos UDI apresentou uma grande variação, com a França a alcançar menos de 5% e a Suécia e a Austrália a reportarem um alcance de 90% da população de UDI. As diferenças nos programas de prevenção para UDI centram-se na não abordagem da construção social da dependência da droga, o que inclui a pobreza e a injustiça social, que são grandes indicadores da prevalência da infecção com HIV. Se os programas focarem apenas a redução do mal sem abordarem as questões mais vastas, o sucesso continuará a ser limitado (Case, 1992). Um estudo recente em Porto Rico afectou aleatoriamente 1004 UDI a uma de duas intervenções: ou uma intervenção padrão NIDA, ou uma intervenção padrão reforçada. A intervenção reforçada consistiu numa abordagem centrada no cliente, que incidia sobre a percepção indivi- 32 dual do risco, avaliação continuada do risco e motivação para a mudança, bem como os recursos do ambiente (tais como a disponibilidade de preservativos e o acesso a serviços). O modelo das etapas de mudança guiou a intervenção e foi usado para seguir a passagem individual pelo processo de mudança comportamental. Os participantes da intervenção reforçada mostraram uma probabilidade duas vezes maior para usar o preservativo em relações vaginais e 11 vezes maior em relações anais do que os elementos que foram afectos ao grupo de controle, independentemente do seu seroestado. O aumento do uso do preservativo foi mais pronunciado entre os HIV positivos e os portadores de DTS, bem como em relações ocasionais do que com parceiros fixos (Roberts, 1998). Conclusão Contrariamente ao que comummente se pensava sobre os grupos de UDI, as resenhas observaram que há uma substancial redução do risco, especialmente como resultado de intervenções sustentadas. Os relatórios sobre utilizadores de drogas geralmente enfatizam o risco relacionado com o uso da droga do que o risco sexual, mas aqueles relatórios que consideram ambos observaram que a redução deste último é mais difícil de alcançar do que no caso do primeiro. Contudo, uma resenha de 1998 afirmou que quase todos os estudos que avaliaram as práticas sexuais notou que os participantes declararam reduções significativas no número de parceiros sexuais e/ou aumento no uso de preservativos (Gibson, 1998). Numerosos estudos identificaram a intoxicação com drogas e com álcool como estando associadas ao comportamento sexual de alto risco, sublinhando daí a importância de compreender e abordar a construção social do uso de drogas. O modelo das etapas da mudança foi útil ao guiar as intervenções entre os utilizadores de drogas. Tal como em relação aos grupos populacionais acima referidos, também os UDI são uma comunidade extremamente heterogénea, que deve ser vista e tratada na sua complexidade. Assim, as intervenções devem direccionar-se para subgrupos e considerar a construção social da toxicodependência para poderem ser eficazes. A Tabela 4 resume as teorias e os modelos que foram aplicados em diferentes grupos populacionais. CAPÍTULO IV te deste relatório, dos países com a prevalência mais alta, a menor quantidade de recursos e de algumas das respostas mais inovadoras foram a tónica. DESAFIOS (A) QUESTÕES DE CONCEPÇÃO/ CONTEXTO A amplitude das avaliações de resultados encontrada na elaboração de uma resenha como esta torna difícil a definição de “sucesso”. Muitas intervenções orientadas por teorias confiam nas mudanças de comportamento declaradas para medir os seus resultados. Algumas, contudo, satisfaziam-se com “intenções” de mudança, uma vez que as intenções fazem frequentemente prever o comportamento. Outras usam indicadores como as mudanças nos índices de infecção com DTS ou com HIV. Todos estes resultados foram tidos como válidos neste relatório, mas foram apontados para que o leitor considere as diferenças. Concepção As intervenções baseadas em teorias têm uma maior possibilidade de sucesso e podem tornar mais fácil a compreensão das razões que levaram a que uma intervenção fosse bem sucedida ou não. Apesar da sua contribuição para a compreensão dos processos psicológicos pelos quais os indivíduos passam enquanto tentam mudar de comportamento, as limitações das teorias psicológicas da mudança comportamental foram bem descritas na literatura (Auerbach, 1994). Muitos destes modelos estão baseados em comportamentos que se encontram sob um controle intencional e volitivo, ignorando o facto de que o comportamento sexual envolve duas pessoas, é frequentemente impulsivo e é influenciado por factores socioculturais, contextuais, bem como factores pessoais e de subconsciente que podem impor dificuldades a essas influências. Numerosos estudos identificaram a intoxicação com álcool e com a droga como tendo influência no comportamento sexual, destacando a importância de compreender o contexto social que envolve o comportamento sexual. Uma das maiores limitações das intervenções e dos estudos que avaliam estas intervenções foi o curto tempo de supervisão posterior. A falta de tempo de supervisão pode minar uma intervenção por não permitir um feedback positivo, não esperar por possíveis mudanças nas normas sociais e culturais, não levar em consideração a manutenção da mudança comportamental. Alvo Tem havido muita discussão em torno da questão do alvo das intervenções sobre SIDA. Numa perspectiva epidemiológica tem-se defendido que para ter impacto sobre a transmissão sexual do HIV, as intervenções devem alcançar os que estão em maior risco de adquirir ou transmitir a infecção, especialmente nos primórdios da epidemia (Sepulveda, 1992). Nas campanhas de informação e educação, muitos sugerem que as mensagens são mais eficazes quando podem ser dirigidas a uma população alvo específica, já que a linguagem e a abordagem devem ser adaptadas a necessidades e soluções apropriadas a diferentes comunidades (Cohen, 1992). Estudos de simulação recentes defenderam também que direccionar as intervenções para grupos prioritários podia ser uma abordagem eficiente e eficaz para a prevenção do HIV nos países em desenvolvimento (Morris, 1977). Por exemplo, ao virar-se para grupos específicos, como os jovens, mostrou-se que as intervenções devem olhar para os que já se iniciaram sexualmente como um grupo diferente daqueles que ainda não se iniciaram. O perigo surge quando a epi- Numa resenha abrangente sobre as intervenções de prevenção de HIV/SIDA, Oakley et al. observaram que o tipo mais popular de intervenção é o fornecimento de informação. A resenha analisou 68 avaliações de resultados diferentes entre adultos e jovens e sugere que as intervenções mais profundas e efectivas são mais provavelmente as que se baseiam em competências fornecidas por pares ou psicólogos clínicos em comunidades, através de entrevistas ou de peças teatrais, direccionadas para o comportamento ou para uma combinação de resultados ao nível dos comportamentos e do conhecimento (Oakley, 1995). É importante reter o espectro dos esquemas de estudo. Não foram consideradas exclusivamente para este relatório as testagens aleatórias controladas, uma vez que estas condições são sempre inevitavelmente apenas encontradas no mundo industrializado. Para a consideração, por par- 33 CAPÍTULO IV demia se estende à população inteira. Direccionar as intervenções para os grupos populacionais de maior risco deixa de ser suficiente para reduzir a transmissão. Uma outra preocupação relativa ao direccionamento das intervenções de redução da transmissão é de como definir o grupo alvo, em termos de grupo ocupacional, grupo etário, critério geográfico, etc. (Morris, 1977). Identificar os grupos populacionais em risco e torná-los rapidamente alvo pode passar ao lado de importantes grupos vulneráveis, tais como os trabalhadores do sexo masculinos na Ásia (Ford, 1995). Direccionarse para populações vulneráveis não devia ser visto como isolá-las e, por conseguinte, aumentar o estigma. Trabalhar com grupos prioritários é ainda importante em qualquer estágio da epidemia, mas deve ser combinado com outras actividades para alcançar uma população mais larga que está igualmente em risco. só muitas mulheres estão em situações monogâmicas, como também é perigoso para elas assumirem que estão seguras devido a essa situação monogâmica (Heise, 1995). Especialmente em comunidades com alta prevalência, os índices de discordância entre casais podem ser entre 15% e 20% (Allen, 1992, Serwadda, 1995). Amaro observa que existe um crescente entendimento de que o HIV entre as mulheres tem de ser visto num contexto mais largo (Amaro, 1995). A autora sugere estratégias tais como educação participatória que dá ênfase a objectivos de longo prazo, através da avaliação das causas fundamentais das diferenças de género, incluindo a falta de poder e a pobreza (Amaro, 1995). Wingood sugere uma transição que irá utilizar teorias específicas do género na investigação e no desenvolvimento de programas sobre a mulher e o HIV (Wingood, 1995). Direccionar as intervenções em função do risco de transmissão é um aspecto, mas uma segunda questão é quanto dos recursos limitados deve ser alocado à prevenção primária e quanto deve ser alocado à prevenção secundária. Alguns estudos abordam especificamente o direccionamento dos esforços de prevenção para indivíduos já infectados. Os mesmos argumentos aplicam-se às trabalhadoras do sexo, em particular. De Zalduando sublinha que as mulheres que se inserem na vasta categoria das trabalhadoras do sexo representam um grupo bastante heterogéneo, com histórias e condições de vida variadas. Sem considerar as situações concretas em que estas mulheres vivem e trabalham, é impossível imaginar os serviços ou os apoios necessários para esta vasta franja de pessoas. A autora advoga o uso de métodos etnográficos para entender as normas-chave, as situações e interacções sexuais a partir do ponto de vista da mulher (de Zalduando, 1990). (B) GÉNERO Um número significativo de estudos mostrou que o género influencia o comportamento de risco em relação ao HIV (Auerbach, 1994, Amaro, 1995). Como nota Ulin (1992), ao referir-se especificamente a mulheres pobres e dependentes do seu parceiro masculino, reduzir o risco de transmissão de HIV frequentemente significa alterar o equilíbrio do poder na relação e pode significar um falhanço no seu papel como mulheres, o que está inextricavelmente ligado à sua fertilidade. Muitas mulheres estão divididas entre o valor da maternidade e o risco de HIV para si e para os filhos. O medo da violência dos seus parceiros tem-se mostrado também um indicador do uso ou não do preservativo por parte das mulheres (Gomez, 1993). No Uganda, mostraram-se diferenças de género rígidas nas percepções do risco, havendo uma maior tendência de perceber o risco entre as mulheres do que entre os homens (Bunnell, 1996). O duplo padrão sexual que sanciona várias parceiras para o homem enquanto restringe a sexualidade feminina originou mensagens de prevenção de HIV confusas, tais como a redução do número de parceiros onde tal pode não ser factor de protecção. Os dados afirmam que, globalmente, não 34 (C) EPIDEMIA DINÂMICA À medida que a epidemia do HIV e as respostas a ela evoluem, a experiência das pessoas acumula-se, o que exige a actualização dos modelos teóricos e respostas. Desde o desenvolvimento de terapias anti-retrovirais, alguns estudos avaliaram o comportamento preventivo em relação a atitudes perante as terapias de combinação (Remien, 1998). No Uganda, onde a epidemia se desenvolveu mais em relação a muitas outras partes do mundo, é clara a necessidade de incorporar dimensões temporais nas medições do comportamento sexual e da percepção do risco (Bunnell, 1996). O impacto de uma epidemia numa comunidade onde mais de 50% da população conhece mais de 30 pessoas que morreram da doença é profundo. Medir a percepção do risco devia delimitar o risco com base no comportamento passado e presente, uma vez que as intervenções devem direccionar-se para CAPÍTULO IV estes mesmos riscos de uma forma diferente. Num caso de uma epidemia mais espalhada, Bunnell sugere “um quadro teórico que reconheça que as percepções do risco e o comportamento sexual nem sempre são determinados individualmente, que o género e o contexto são determinantes cruciais do controle individual do comportamento, que o medo joga papéis diferentes em etapas diferentes de uma epidemia e que comunidades de leigos podem entender e fazer uso da informação sobre o risco” (Bunnell, 1996). de DTS nos EUA (Branson, 1996). Entre outros casos de resultados nulos inclui-se uma testagem aleatória controlada entre pacientes de DTS no Reino Unido. A intervenção foi guiada pela teoria cognitiva social e os resultados mostraram poucas diferenças na mudança comportamental autodeclarada. Sugere-se que as intervenções, quer ao nível da comunidade, quer ao nível do indivíduo, devem tomar em conta o ambiente em que os comportamentos de risco têm lugar (James, 1996, 1998). Duas intervenções que apresentaram poucos efeitos foram entre jovens. Uma foi um breve programa baseado em constructos da teoria cognitiva social e da teoria da acção racionalizada. Os autores sugeriram uma intervenção mais longa que abordasse os múltiplos problemas deste grupo, formado a partir de um centro de detenção e de uma clínica de DTS (Gillmore, 1997). A segunda foi baseada na teoria da influência social entre estudantes das classes intermédias. Os autores apontam como causas responsáveis pela falta de resultados positivos uma intervenção inadequada ao nível familiar e da comunidade, uma possível diluição das mensagens e, talvez, uma super saturação dos estudantes, de um nível de 8ª Classe, com as mensagens sobre saúde do programa (Moberg, 1998). (D) RESULTADOS NULOS Poucos estudos reportam resultados nulos, mas os que o fazem são cruciais para complementar o nosso entendimento das relações entre o contexto, o grupo populacional, a abordagem, a intervenção e o quadro teórico. Em alguns grupos populacionais, o treino de aptidões comportamentais não foi capaz de produzir diferenças significativas em comparação com as condições de controle. Por exemplo, não se revelou nenhum impacto com os homens afro-americanos do centro da cidade, nem com os pacientes de clínicas 35 CHAPITER CAPÍTULO VI CONCLUSÕES O comportamento sexual seguro continua a ser o único método eficiente de prevenção da infecção com HIV. Apesar de que tremendos desafios ainda se colocam à saúde pública e às ciências sociais em geral no tocante à prevenção do SIDA, muito é também o que já se aprendeu. Tornou-se claro que intervenções eficientes de redução do risco de HIV vão para além de um simples fornecimento de informação e assistência: sensibilizar as pessoas para o risco individual, melhorar a comunicação sexual entre os casais, aumentar as aptidões individuais para o uso do preservativo, perceber as práticas de menor risco como uma norma social aceite e ajudar as pessoas a receberem apoio e reforço nos seus esforços de mudança (Kelly, 1995). Estes princípios formam as bases das estratégias bem sucedidas de prevenção do HIV, mas as diferenças nas condições individuais, sociais, culturais e económicas ditam uma concepção e implementação diferente dos programas. Mesmo se os princípios subjacentes aos programas são os mesmos, adequá-los a grupos específicos em contextos específicos fará com que eles pareçam muito diferentes (Kelly, 1998). Os programas não só devem ser modificados para se adaptarem a certos contextos culturais, como também os indivíduos no seio dos grupos podem estar em diferentes fases de disponibilidade para mudarem, pelo que as intervenções de sucesso devem tomar as diferenças individuais também em consideração. As mudanças no comportamento, tais como um grande aumento do uso do preservativo, tiveram lugar em grupos populacionais muito diversos, e daí se podem tirar algumas conclusões. Como sugere Ulin, quando as intervenções tiverem feito com que os participantes tomem parte por si próprios na mobilização e no estabelecimento de objectivos, então os esforços terão sido altamente bem sucedidos (Ulin, 1992). Os destaques incluiram as mudanças normativas que os homossexuais masculinos em muitas cidades dos EUA e as trabalhadoras do sexo na Tailândia fizeram no seio das suas comunidades. Um outro ponto enfatizado por esta grande panorâmica de abordagens à mudança comportamental é a necessidade de considerar as iniciativas de prevenção de HIV de diferentes níveis como 36 complementares. As abordagens individuais mostraram ter impacto, mas para estancar a transmissão numa escala mais larga e para a manutenção do comportamento mudado por um período mais longo, os programas a nível comunitário e estrutural são um complemento crucial. Estas abordagens, apesar de apresentarem um grande potencial, ainda não foram operacionalizadas em grande escala. Nesta etapa, os programas deviam enfatizar as abordagens transteóricas que combinam os constructos do nível individual com projectos de nível comunitário que focalizam a mudança da norma subcultural. A organização comunitária pode ter o poderoso efeito de dar um sentido unificado do propósito e novas crenças na possibilidade da mudança (Stevens, 1998). Um importante elemento que foi destacado pela resenha de Oakley e Darrow foi o de que a qualidade das avaliações era altamente variável e frequentemente inadequada, o que torna difícil tirar lições generalizáveis, a partir da literatura heterogénea, sobre o que é que funciona onde. Do lado positivo, é agora possível afirmar que estudos experimentais prospectivos e supervisões de longo termo em muitos lugares diferentes são exequíveis (Oakley, 1998). Apesar dos muitos avanços no campo e das muitas mudanças verificadas no comportamento, os grupos populacionais expostos ao mais alto risco não partilharam por igual a atenção e os recursos alocados, a nível global, para a prevenção do SIDA. Os países com a prevalência de HIV mais alta são os que têm menos recursos e sistemas de assistência médica e social com mais constrangimentos. Estes países com epidemias de evolução rápida não têm meios para por si desenvolverem testagens aleatórias controladas para avaliar as intervenções comportamentais, e, no entanto, são as comunidades que mais urgentemente precisam das intervenções. A maior parte da pesquisa das intervenções orientadas por teorias foi realizada nos países industrializados com epidemias muito diferentes das dos países em vias de desenvolvimento. É, portanto, crucial testar os modelos em situações culturais, económicas e sociais diferentes. Perante a verificação da importância das normas sociais e da comunicação sexual para vários grupos, incluindo jovens, HSH e heterossexuais, os autores recomendam intervenções ao CAPÍTULO V nível de comunidade com o objectivo de reforçar a percepção de que os outros também praticam sexo seguro (Buunk, 1998). Os desequilíbrios de género e poder foram também registados em muitos estudos que apontam para a necessidade de estabelecer constructos de género nas teorias, modelos e intervenções (Buunk, 1998). almente significativo na possibilidade de operar mudanças no comportamento sexual (Edem, 1998, van der Straten, 1995). Como afirma Bunnell, as diferenças agudas na percepção do risco entre homens e mulheres no Uganda reflectem as diferenças subjacentes no poder social – que é o caso em muitos contextos pelo mundo fora. Para abordar as necessidades das mulheres na prevenção do HIV, especialmente nos países em desenvolvimento, é preciso dar uma ênfase maior ao desenvolvimento de métodos controlados pela mulher, bem como uma abordagem mais abrangente da prevenção do HIV, que considere a posição social da mulher. As recomendações para as intervenções dirigidas a mulheres incluem uma ênfase maior sobre as influências relacionadas com o género sobre o comportamento. Estudos nos EUA e em África sublinham que a auto-protecção, especialmente para as mulheres vulneráveis, pode ser afectada por parceiros violentos, factores económicos e normas relacionadas com o relacionamento sexual (Wingood, 1996, Bunnell, 1996, van der Straten, 1998). Estas recomendações aplicam-se a muitas situações diferentes. Quer na África Central, quer na África Ocidental verificou-se que a capacidade de discutir sexo e contracepção com os parceiros sexuais, bem como o desequilíbrio nas relações de género têm um impacto potenci- Numa epidemia em que as mudanças ocorrem rapidamente ao nível do vírus, são necessários um contexto de tratamento e intervenções baseadas em modelos e teorias que abordem variáveis individuais, bem como variáveis contextuais e socioculturais, tais como o género, a classe e a etnicidade e a sua influência no comportamento sexual. 37 REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS Aggleton P. Global priorities for HIV/AIDS intervention research. 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TABELAS TABELAS Páginas Tabela 1 Panorama das teorias do comportamento humano mais frequentemente usadas ........ 47 Tabela 2 Modelos e teorias test ados através da investigação e acompanhamento ..................... 48 Tabela 3 Intervenções baseadas em modelos e teorias usados com vários grupos alvo em todo o mundo .................................................................................... 50 Tabela 4 Sumário das teorias e modelos por grupo populacional ............................................... 55 45 47 Quem são as pessoas que influenciam na comunidade Meios mais eficazes de difusão da informação, incluindo líderes comunitários Avalia o tipo de redes sociais na comunidade Dota os jovens de aptidões sociais, incluindo capacidades de resistência a pressões de pares Avalia e influencia normas sociais Agente da mudança Canais de comunicação Contexto Contexto das interacções sociais Normas sociais Recompensas e punições sociais Aumenta o conhecimento, desenvolve aptidões, influencia a percepção do risco Organização da comunidade, meios de comunicação de massas Defesa (Advocacia) Intra-pessoal (conhecimento, atitudes, percepção do risco) Social, organizacional, cultural (redes sociais) Factores políticos (regulamentação) Política Recursos; condições de vida Acesso à prevenção Modelo Ecológico Social para a Promoção da Saúde Factores Sócio-económicos e de Ambiente Defesa (Advocacia), organização da comunidade Serviços sociais Aumento do acesso à prevenção (preservativos) Avalia as prioridades da comunidade Avalia as actividades-chave da comunidade e facilita a construção de alianças Organização da comunidade Construção da comunidade Potenciação Teoria do Género e Poder Aborda a estrutura social das relações de género Avalia a composição da rede social Avalia, constroi o apoio social Avalia e influência a percepção do risco, as emoções de aversão e o conhecimento Avalia e influência as percepções de prazer, auto-eficácia e redução do risco Avalia e influência a comunicação, o relacionamento informal e a busca formal de apoio Rotulagem Comprometimento Desempenho e manutenção Redes sociais Apoio social Avalia e influencia as expectativas de resultados e normas, o risco percebido Avalia e influencia a auto-eficácia, a intenção Avalia e influencia a auto-eficácia, as intenções, as expectativas de resultados Avalia e influencia as expectativas de resultados e normas Avalia e influencia as normas, a auto-eficácia Pré-contemplativa Contemplativa Preparação Acção Manutenção Normas sexuais sociais e dinâmica de poder Teoria da Rede Social Influências Sociais Difusão da Inovação Comunicação sexual, necessidade de apoio social para reforçar a mudança de comportamento Modelização de comportamentos mais seguros Expectativas de resultados Auto-eficácia Avalia e influencia as atitudes Avalia e influencia as normas no grupo social Avalia e influencia as intenções comportamentais Aumenta o nível de percepção do risco Influencia crenças sobre a severidade Avalia e influencia as crenças sobre os benefícios e as barreiras da mudança do comportamento Exemplos de Aplicação do Programa * Uma teoria mais recente, a teoria do comportamento planeado, é uma actualização da teoria da acção racionalizada. Foi formulada por um dos autores da teoria da acção racionalizada para dar conta dos comportamentos que estão sujeitos a forças que estão além do controle do indivíduo. Nível Social e Comunitário Modelo da Redução do Risco do SIDA Etapas da Mudança Teoria Cognitiva Social Teoria da Aprendizagem Social Atitudes Normas subjectivas Intenções comportamentais Susceptibilidade percebida Severidade percebida Benefícios e barreiras percebidas Impulsos para agir Modelo da Crença na Saúde Nível Individual Teoria da Acção Racionalizada* Determinantes Comportamentais Teoria ou Modelo Nível TABELA 1: PANORAMA DAS TEORIAS DO COMPORTAMENTO HUMANO MAIS FREQUENTEMENTE USADAS 48 Mulheres e homens heterossexuais em risco (711), Holanda Modelo da crença na saúde, Teoria da Motivação da Protecção, Arrependimento antecipado, Normas sociais Buunk, 1998 Resenha das intervenções cognitivocomportamentais para jovens seropositivos Foram entrevistadas mulheres em idade de procriação Jovens, EUA Mulheres (1294), Zimbabwe Cognitivo-comportamental Conhecimento; Percepção do risco RotheramBorus, 1998 Gregson, 1998 A mudança comportamental efectiva foi associada a um maior conhecimento, experiência e percepção pessoal do risco, mas obstruída pelo baixo nível de autonomia da mulher, o estatuto marital e económico, o consumo do álcool e a migração laboral . Reduções significativas no risco comportamental com as intervenções cognitivocomportamentais As variáveis psicológicas associadas ao sexo circunstancial de alto risco foram um controle comportamental percebido mais baixo e a percepção do alto risco ligada a outras práticas sexuais. Entrevistas e questionários autoadministrados de 6 em 6 meses HSH seronegativos (2000), Canadá Teoria da acção racionalizada, Teoria do comportamento planeado, Teoria da aprendizagem social Alary, 1998 A auto-eficácia para a prática de sexo mais seguro foi associada ao uso do preser vativo nos últimos 6 meses. Ideias culturais, tais como vergonha e fatalismo influ enciaram o uso do preservativo e a auto-eficácia. Entrevistas com adultos chineses, filipinos e vietnamitas identificados a partilhar seringas, nas cadeias, clubes nocturnos e bares Comunidade asiática (254), EUA Teoria Cognitiva Social Auto-eficácia Nemoto, 1998 A atitude positiva dos adolescentes em relação ao uso do preservativo foi um forte correlato do uso do preservativo, e uma auto-eficácia mais baixa foi o correlato mais forte das práticas sexuais de alto risco. Percepções mais fortes de auto-eficácia para adoptar comportamentos mais se guros, expectativas de menos resultados negativos com o uso do preservativo e uma menor frequência de prática sexual em conjunção com o consumo do álcool e de outras drogas deram indicações significativas de um comportamento sexual mais seguro. Estudantes universitários (923), EUA Teoria Cognitiva Social O’Leary, 1992 Entrevistas Um número bem definido de variáveis pode explicar a variação na intenção de usar preservativos: auto-eficácia, arrependimento antecipado e normas sociais descritivas (crença de que muitas outras no grupo de referência usariam preser vativos com parceiros novos). Inquérito em 4 campus universitários Jovens afro-americanos (312), EUA Modelo da crença na saúde, Teoria da acção racionalizada, Teoria Cognitiva Social Reitman, 1996 Mulheres e homens heterossexuais adultos foram entrevistados para prognosticar as intenções de uso do preservativo com novos parceiros ‘Os resultados reflectem o contexto social do comportamento sexual’. Onde o conhe cimento sobre o HIV é baixo, o uso do preservativo é relacionado com a susceptibilidade às DTS e gravidez. A auto- eficácia a crença de que os preservativos podem aumentar o prazer foram relacionadas com o uso do preser vativo. Num grupo mais independente a auto-eficácia não foi relacionada com o uso do preservativo, mas sim a susceptibilidade ao HIV. No grupo dos preços mais altos, o uso do preservativo foi relacionado com as crenças sobre a preven ção do SIDA e com o prazer, bem como com a auto-eficácia. Testagem de dois modelos de mudança de comportamento em 4 grupos diferentes de TS, em diferentes contextos sócioeconómicos. Trabalhadoras do sexo, Indonésia Modelo da crença na saúde + Teoria Cognitiva Social Ford, 1998 Para os turistas, os factores relacionados com o uso do preservativo foram as crenças a respeito do preservativo, auto-eficácia, susceptibilidade à infecção com DTS e o conhecimento sobre DTS. Para as trabalhadoras do sexo as crenças a respeito do preservativo e a auto-eficácia foram os factores relacionados com o seu uso. Inquéritos orais individuais, incluindo questões de conhecimento sobre SIDA/ DTS, comportamento e medidas psicológicas relacionadas com o risco. Trabalhadores masculinos do sexo (80) e clientes (100), Indonésia Modelo da crença na saúde Três variáveis (crença nos benefícios do preservativo, disposições para agir, crença nas barreiras do preservativo) estiveram significativamente correlacionadas com as intenções de uso do preservativo e com o uso do preservativo no passado, Resultados Questionário auto-administrado distribuído no contexto da sala de aula. Metodologia da Investigação Estudantes Universitários (395), Nigéria Ford, 1995 Grupo alvo (nº), país Modelo da crença na saúde Modelo/Teoria/Constructo Edem, 1998 Autor, Ano TABELA 2: PANORAMA DAS TEORIAS DO COMPORTAMENTO HUMANO MAIS FREQUENTEMENTE USADAS 49 Adolescentes latinos encarcerados (2132), EUA Comunicação sexual Rickman, 1994 Altos números de parceiros sexuais na sua vida, baixos índices de uso do preservativo. Os inquiridos que comunicavam com os seus parceiros sobre as suas histórias sexuais eram mais susceptíveis de usar preservativos. Factores que influenciam o uso do preservativo: ➣ Alto grau de auto-eficácia percebida para influenciar o parceiro ➣ Parceiro HIV-negativo ➣ O parceiro não quer ter mais filhos Factores de influência negativa para o uso do preservativo: ➣ Conflitos com o parceiro ➣ Consumo de drogas e álcool ➣ Acreditar que os preservativos reduzem o prazer sexual * As teorias subjacentes ao marketing social vêm de muitas origens diferentes, incluindo o marketing comercial, 4 PP (tornar o Produto atractivo, o Preço aceitável, o Posicionamento conveniente e a Promoção adequada a uma audiência particular), condicionamento operante e teorias cognitivas sociais. Adolescentes sexualmente activos detidos no corredor juvenil do distrito de Los Angeles foram entrevistados a respeito da sua história de comunicação sexual e uso do preservativo Foram entrevistadas mulheres infectadas com HIV das agências de serviços médicos e sociais de New Jersey. Mulheres infectadas com HIV (215), EUA Modelo de redução do risco de SIDA Comparadas com as que têm um estatuto sócio-económico (ESE) mais alto, as trabalhadoras do sexo com ESE mais baixo trabalhavam mais horas e tinham mais clientes. Trabalhadoras do sexo com ESE mais baixo eram mais susceptíveis de ser infectadas com HIV, sífilis e hepa– tite B do que as que têm um ESE mais alto. Kline, 1994 Lurie, 1995 Estudo trans-sectorial da prevalência de anticorpos de HIV, sífilis, hepatite B, factores comportamentais e sócioeconómicos. Teoria do comportamento planeado Jemmott, 1992 Trabalhadoras do sexo (600), Brasil O melhor indicador da intenção do uso do preservativo (e do seu uso reportado) e do sexo sem relação anal foi o controle comportamental percebido. Factores sócio-económicos Estudo de grupo, 6 meses de visitas de seguimento. Entrevistas cara-a-cara. ‘Aumento do número de pessoas que convivem com outras que usam o preservativo (normas comunitárias) Aumento do número de pessoas que usaram o preservativo na última vez que tiveram relações sexuais (comportamento) Aumento do número de pessoas que têm confiança na sua capacidade de dizer ao seu parceiro sexual que querem usar o preservativo (autoeficácia) Inquérito de avaliação Questionário confidencial auto-administrado. As atitudes e as normas subjectivas deram indicações sobre intenções de usar o preservativo e o controle comportamental percebido juntouse à correlação. Homossexuais masculinos seropositivos (96), Canadá Teoria do comportamento planeado Godin, 1996 Os resultados sugerem que as actividades de marketing, promoção e distribuição do preservativo foram responsáveis por um aumento do uso do preservativo em Lusaka. A variável da associação da memória deu indicações sobre o sexo não protegido, mas o uso de drogas foi o mais forte e mais consistente indicador dos comportamentos sexuais. Resultados Comparação do inquérito de 1990 com o de 1996. Os participantes responderam a um questionário confidencial sobre uma variedade de comportamentos e indicadores relacionados com a saúde. Metodologia da Investigação Adolescentes (179), EUA Agências de prevenção para populações pouco servidas (jovens, UDI), EUA Auto-eficácia percebida, Normas comunitárias percebidas, Intenção comportamental dirigida a um sexo mais seguro Levy, 1998 Homens e mulheres (579), EUA Grupo alvo (nº), país Homens e mulheres (806), Zâmbia Cognição implícita Modelo/Teoria/Constructo Marketing social do preservativo* PSI, 1998 Newcomb, 1998 Autor,Ano 50 Mulheres (600) e homens (479) rurais, Tailândia 1289 mulheres em risco e 322 HIV-positivas, EUA Elkins, 1977 Galavoti, 1998 Trabalhadoras do sexo (134), Honduras Trabalhadoras do sexo (107), Gana Trabalhadoras do sexo (30), Gana Fox, 1993 Asamoah-Adu, 1994 Opare, 1994 Trabalhadoras do sexo Mulheres lésbicas e bissexuais (3665) Mulheres (586), Ruanda King, 1995 Stevens, 1998 Mulheres afro-americanas (128), EUA Grupo alvo (nº), país DiClemente, 1995 Mulheres Autor, Ano ND – Apoio audio-visual para influenciar atitudes e comportamentos Educação de pares e promoção de preservativos ND - Informação e acessibilidade de preservativos Educação conduzida através de líderes de opinião das TS; demonstração de uso do preservativo conduzida através de vídeo e discussão. Estudo de seguimento de TS durante 4 anos. A intervenção incluiu educação de pares e promoção do preservativo. Conversas e fornecimento grátis de preservativos a TS em clínicas de DTS todas as semanas Entrevistas qualitativas de campo para despertar a consciência colectiva e uma intervenção intensiva individualizada de educação para a prevenção do HIV durante 2 anos. PAP e educação de pares A intervenção baseou-se na aldeia, incluindo formação, audio-drama de motivação, cartazes e reuniões da aldeia. A avaliação consistiu em: inquéritos, discussões em grupo de foco e reuniões de aldeia. TCS e promoção da saúde comunitária Intervenções de aconselhamento para a mudança de comportamento baseadas em sessões de aconselhamento adaptadas à etapa individual conduzidas por conselheiros pares para-profissionais devidamente treinados. Foram fornecidos métodos e serviços de planeamento familiar às participantes. Estrutural Etapas da mudança Intervenções baseadas na comunidade, incluindo 5 sessões de 2 horas conduzidas por educadoras pares incidindo sobre género e orgulho étnico, conhecimento, aptidões e normas Metodologia da Investigação TCS e Teoria do Género e Poder Modelo/Teoria/Constructo O uso do preservativo aumentou de 10% para 100% assim que as trabalhadoras do sexo identificaram uma alta percepção do risco. O uso declarado do preservativo aumentou dramaticamente nos primeiros 6 meses. Ocorreram recaídas após 3 anos. Recomendação para dirigir atenção aos clientes. Aumento estatisticamente significativo da média de uso do preservativo, de 64% para 70% nos contactos com clientes. Recomendação para dirigir atenção aos clientes. Os resultados sugerem que o projecto ajudou as mudanças para a redução do risco, apoiou os participantes no tocante a negociação com o parceiro e começou a alterar as convenções da comunicação sobre as expectativas e práticas sexuais. As mulheres submetidas apresentaram o dobro da tendência para declarar o uso do preservativo na última relação e sempre com o parceiro principal. Oito dos nove resultados desejados foram alcançados, com as mulheres casadas a tomarem a iniciativa para a redução do risco a que são expostas pelas actividades sexuais dos seus maridos. O acesso e a informação sobre os contraceptivos hormonais aumentou e reduziu o constrangimento tanto em mulheres HIV-positivas, como em HIV-negativas em estudo. Aumento do uso consistente do preservativo, maior comunicação sexual e aumento da adopção por parte do parceiro de normas que favorecem o uso do preservativo. Resultados TABELA 3: INTERVENÇÕES BASEADAS EM MODELOS E TEORIAS COM VÁRIOS GRUPOS ALVO NO MUNDO 51 Envolvimento de trabalhadoras do sexo na pesquisa Comportamental (comunicação sexual) Modelo da crença na saúde e Teoria cognitiva social PAP – embora não explicitamente declarado PAP – embora não explicitamente declarado Trabalhadoras do sexo (128), Singapura Trabalhadoras do sexo (300) e clientes (300), Indonésia Trabalhadoras do sexo, Índia Trabalhadoras do sexo, Vietname Trabalhadoras do sexo, Indonésia Chan, 1996 Ford, 1996 Basu, 1998 Kelly, 1998 Gordon, 1998 Jovens de baixo rendimento (536), EUA Adolescentes afro-americanos (109), EUA Howard, 1990 Jemmott, 1992 Juventude 5 períodos na sala de aula conduzidos por adolescentes um pouco mais velhos do que os participantes, apresentando informação factual, identificando pressões, representando respostas às pressões, ensinando a autoafirmação e discutindo situações problemáticas. A intervenção incluiu uma informação factual + informação pré e pós-teste, expectativas de resultados sobre o uso do preservativo e treino da auto-eficácia Teoria cognitiva social Trabalhos sobre a mudança das normas; partilha de valores comportamentais Séries de 3 sessões para: aumentar o conhecimento, a susceptibilidade percebida e habilidades relacionadas com o uso do preservativo e negociação com o parceiro entre as TS; aumentar o conhecimento entre clientes e proxenetas usando trabalhadoras extensionistas Negociação do preservativo, apoio de colegas e donos de bordéis e pessoal de saúde Educação sanitária usando filmes, distribuição de material educacional por educadoras pares, promoção do preservativo com distribuição gratuita para posterior recuperação dos custos e serviços abrangentes de DTS orientados para os clientes. Influência social MLEI Envolvimento de trabalhadoras do sexo na pesquisa ND- educação sanitária, promoção do preservativo e serviços de DTS. Trabalhadoras do sexo, Nigéria Williams, 1995 Intervenção com a duração de um ano. Sessões de pequenos grupos com TS e educadoras pares. Os bordéis exigiam o uso de preservativos, através dos seus proprietários e da educação dos clientes. Voluntários disfarçados de clientes para testar as habilidades de negociação das TS. Percepção do risco, negociação do preservativo, política Trabalhadoras do sexo (500), donos de bordéis e clientes, Tailândia Visrutaratna, 1995 Metodologia da Investigação Modelo/Teoria/Constructo Autor,Ano Grupo alvo (nº), país TABELA 3: Continuação… A participação nos programas foi associada ao aumento do conhecimento sobre SIDA e a intenções e auto-eficácia para usar preservativos No fim da 8ª Classe os estudantes que participaram no programa eram cinco vezes menos susceptíveis de terem iniciado relações sexuais do que aqueles em situações idênticas que não estiveram no programa.O programa não foi eficaz para os estudantes que já tinham começado a ter relações sexuais. Mobiliza a comunidade e muda a cultura. Independentemente do método usado, é necessário envolver as participantes na pesquisa. Foram colhidos dados exactos e sensíveis Actividade de estabelecimento de relações O conhecimento e o uso do preservativo aumentaram significativamente entre a linha de partida e o seguimento, quer para as TS (de 18 a 75%), quer para os clientes (de 29 para 62%), em ambos os lugares da intervenção. Melhoria significativa nas capacidades de negociação, recusa quase sempre do sexo sem preservativo e um significativo decréscimo nas taxas de gonorreia na intervenção, em contraste com o grupo de controle. Aumento do conhecimento por parte das trabalhadoras do sexo e clientes acerca do SIDA e DTS. O uso de preservativos por parte das trabalhadoras do sexo e clientes aumentou relativamente à linha de partida do programa. As trabalhadoras do sexo aumentaram a sua recusa do sexo sem preservativo de 42% para 92% a seguir ao programa Resultados 52 Jovens (389), Argentina Jovens detidos e em clínicas e DTS (396), EUA Ré, 1996, 1998 Gillmore, 1997 Jovens HSH (300), EUA HSH (1/3 minorias étnicas) (429), EUA Kelly, 1996 HSH, EUA Kegeles, 1996 Kelly, 1992 Jovens (2483), EUA Jovens (72% negros ou hispânicos) (1316), EUA Walter, 1993 Moberg, 1998 Grupo alvo (nº), país Autor,Ano Reduções significativas (27%) nas proporções de jovens homossexuais que praticavam sexo anal não protegido com todos os homens, mas maior entre parceiros secundários do que entre namorados. Uma maior redução e maior manutenção da mudança de comportamento de risco entre homens nos grupos cognitivocomportamentais, com resolução de problemas tocantes a questões de relações pessoais. Implementada em duas pequenas comunidades com um grupo de controle; foram usados canais naturais de comunicação para criar alternativas livres de álcool e drogas e colocar o risco de HIV entre as preocupações dos jovens homossexuais. Os participantes foram afectos aleatoriamente a uma das 4 intervenções de 1 dia: redução cognitivocomportamental do risco e prevenção de recaída, redução cognitivo-comportamental do risco e relações pessoais ou as mesmas 2 com 3 meses de seguimento por telefone e grupos de animadores. Teoria da Difusão Cognitivo-comportamental + Manutenção A intervenção produziu reduções sistemáticas de 15 para 29%, em relação ao ponto de partida, dos comportamentos de alto risco na população alvo, repetindo-se o mesmo padrão de efeitos sequencialmente nas três cidades. Resultados nulos, apesar da implementação cuidadosa da componente baseada na escola. Os autores verificaram uma intervenção inadequada ao nível familiar e da comunidade, uma possível diluição das mensagens e, talvez, uma super saturação dos estudantes, de um nível de 8ª Classe, com as mensagens sobre saúde. Poucas diferenças entre condições; intervenção baseada em habilidades não suficiente para induzir ao uso consistente do preservativo em adolescentes heterossexuais activos de alto risco. Os autores sugerem intervenções mais prolongadas, tratando múltiplos problemas. Educadores pares jogaram o papel de modelos positivos e foram capazes de traduzir as mensagens como “especialistas pares de género”; os adolescentes manifestaram de um modo geral uma baixa consciência do risco. Efeitos significativos na intervenção em contraste com o grupo de controle em: conhecimento, crenças, auto-eficácia e taxas de comportamento de risco (número de parceiros, consistência no uso do preservativo, parceiros de alto risco, diagnóstico de outras DTS). Resultados Esquema sequenciado lento em 3 cidades em que foram contratados líderes de opinião para conversas com parceiros com a finalidade de defenderem activa e visivelmente a importância e a aceitabilidade da mudança de comportamento, bem como para comunicarem estratégias de implementação das mudanças. Estudantes das classes escolares intermédias foram afectos a uma das três situações, utilizando uma escolha aleatória: adequada à idade, intensiva e controle. Avaliação de três intervenções • Banda desenhada • Vídeo-cassete • Formação em grupo de habilidades enfatizando as aptidões de negociação do uso do preservativo Workshops de educação de pares e projecto comunitário Intervenção baseada na escola, com o professor a leccionar 6 sessões Metodologia da Investigação Teoria da Difusão Influência social Teoria cognitiva social e Teoria da acção racionalizada ND – Métodos participatórios Modelo de crença na saúde, Teoria cognitiva social e modelo de influência social Modelo/Teoria/Constructo TABELA 3: continuação… 53 Grupo alvo (nº), país UDI, parceiras sexuais de UDI, TS, HSH que não se identificam como homossexuais, EUA Fishbein, 1996 Kamb, 1996, 1998 James, 1996 Pacientes heterossexuais (4328), EUA Pacientes heterossexuais (4328), EUA Pacientes de DTS (492), Reino Unido Clientes de clínicas de DTS Utentes de drogas (80% masculinos) (1004), Porto Rico UDI (641), EUA Wiebel, 1996 Robles, 1998 Jovens dependentes de drogas (19), EUA Lawrence, 1994 Utilizadores de Drogas Injectáveis Autor,Ano TCS + Teoria da acção racionalizada, auto-eficácia e normas percebidas Teoria cognitiva social Etapas da mudança TAC de 3 estratégias: (1) mensagens educacionais, (2) breve aconselhamento, (3) aconselhamento reforçado (maior número de sessões de aconselhamento) com passos para crenças na redução do risco, atitudes e intenções comportamentais, treino de habilidades para aumentar a auto-eficácia. TAC – 3 grupos (grupo A, grupo B, grupo C) • A – intervenção de aconselhamento + desdobráveis + preservativos • B – desdobráveis + preservativos • C – sem intervenção Teve lugar uma intervenção de campo, incluindo 8 sessões de 45 minutos de “entrevistas motivacionais” versando sobre a percepção individual do risco, motivação para a mudança, avaliação contínua do risco, habilidades de negociação e de comunicação; foram também considerados os recursos comunitários e de ambiente. Foram elaborados pequenos materiais de intervenção nos media para cada grupo específico, focando as variáveis teóricas chave da mudança de comportamento, bem como o uso do preservativo. Ex-viciados prestam serviços de prevenção de HIV direccionados para redes sociais de UDI em comunidades. MLEI Etapas da mudança Adolescentes dependentes de drogas em tratamento residencial receberam uma intervenção de 5 sessões sobre redução do risco de HIV que lhes forneceu educação sobre HIV, competências sociais e treino para solução de problemas. Metodologia da Investigação Cognitivo-comportamental Modelo/Teoria/Constructo TABELA 3: Continuação… Decréscimo nos índices de DTS em: breve aconselhamento (19%), aconselhamento reforçado (22%) em contraste com a simples informação. Os participantes do grupo A mostraram-se mais susceptíveis do que os do grupo C para levarem preservativos. Nenhuma diferença entre A e B, ou entre B e C. A intervenção não teve nenhum efeito sobre o comportamento auto-declarado. O uso do preservativo nas relações vaginais subiu de 24.4% para 36.9%. Foram observados os seguintes indicadores do uso do preservativo: diagnóstico positivo de HIV e de DTS e a participação num programa reforçado. Efeito mais forte com parceiros não primários. Foram verificadas interacções significativas indicando um maior uso do preservativo com parceiros não primários no grupo da intervanção em comparação com outros grupos, bem como um efeito similar mas não significativo no tocante aos parceiros primários. A incidência observada da infecção com HIV desceu de 8.4 para 2.4 em cada 100 pessoas por ano. O comportamento sexual de risco reduziu mas muito menos do que o comportamento de risco relacionado com a droga. Os participantes apresentaram um aumento do conhecimento sobre SIDA, atitudes melhores acerca da prevenção, maior número de situações de controle interno e menor de controle externo, maior auto-eficácia, maior percepção da vulnerabilidade. Resultados 54 Pacientes de DTS e de Agências de saúde (3706), EUA O’Leary, 1998 * = indica o ano da publicação Líderes comunitários e funcionários governamentais, Quénia Henry, 1998 ND = teoria não declarada no relatório TAC = Testagem aleatória controlada Governo + religiões + homens de negócios a fazer mudanças ao nível de políticas. Os participantes definem as suas necessidades e imaginam como as podem satisfazer. Pesquisa de acção participatória Canadá Hiebert, 1998 Mudanças estruturais Afectação aleatória a uma de 2 intervenções de 7 sessões de formação de aptidões (afirmação, negociação para resistir a coerção para entrar num comportamento de alto risco e início de comunicação sobre o uso do preservativo ou outras práticas de sexo seguro com parceiros), auto-gestão dos comportamentos de risco, reforço de um comportamento mais seguro. Cognitivo-comportamental (auto-eficácia, avaliação pessoal do risco) Pacientes de doenças mentais graves (89 homens e 103 mulheres), EUA OTTo-Salaj, 1998 Abordagem da prevenção de HIV-DTS baseada na organização e acção comunitária, capacitação do grupo alvo e uso de líderes de opinião como educadores pares. Estudantes universitários (37000), Suécia Svenson, 1996 Teoria da difusão, organização comunitária TAC de uma intervenção de 4 sessões de formação de aptidões cognitivo-comportamentais com um grupo de controle de educação sobre HIV. Teoria da acção racionalizada Afro-americanos heterossexuais do centro da cidade (81), EUA Kalichman, 1977 Outros Visitas a hospitais e centros de detenção, estratégias de educação de pares e de formação, aprendizagem social, resistência a pressões de pares, habilidades de gestão da vida e de tomada de decisões sobre escolhas alternativas, análise dos media que influenciam o consumo. Potenciação 7 intervenções TCS (1) grupos aleatórios do mesmo sexo com vídeo de informação e um período para perguntas e respostas, ou (2) condição de comparação de informação. Metodologia da Investigação Hispânicos, Americanos Nativos e Anglo-Americanos Teoria cognitiva social Modelo/Teoria/Constructo Wallerstein, 1998 Minorias Grupo alvo (nº), país Autor,Ano TABELA 3: continuação… TCS = Teoria cognitiva social Primeira política governamental de abrangência nacional sobre HIV/SIDA em 1997 após anos de pesquisa, diálogo e construção de consensos. Os participantes tomaram controle do projecto. Em relação ao grupo de comparação, os participantes da intervenção de educação sobre a redução do risco de HIV declararam um aumento tanto na frequência como na percentagem do uso do preservativo em relações vaginais, auto-estima, atitude positiva em relação ao preservativo e intenções de redução dos comportamentos de risco. Redução do risco mais alta nas mulheres do que nos homens. O uso consistente do preservativo com novos parceiros sexuais foi significativamente mais alto entre os estudantes contactados pelo projecto do que nos de controle; normas sociais percebidas de sexo seguro. Ambas as intervenções aumentaram signicativamente o conhecimento sobre o SIDA, as intenções de mudar o comportamento de risco de infecção com HIV e reduziram as relações vaginais não protegidas. Não houve diferenças significativas entre os grupos em relação a qualquer das medidas de avaliação pós-intervenção ou de acompanhamento. Percepção auto-declarada do risco de beber, conduzir e usar drogas estatisticamente significativa. Os elementos da TCS (auto-eficácia, habilidades de uso do preservativo, expectativas de reacção do parceiro) foram significativamente diferentes entre o grupo da intervenção e o grupo de controle. Resultados 55 UDI Juventude Heterossexuais Masculinos Homossexuais Masculinos Trabalhadoras do Sexo As intervenções guiadas pela TCS aumentaram a auto-eficácia e o uso do preservativo em diversos grupos populacionais nos EUA. Teoria Cognitiva Social Modelo MLEI Este modelo de extensão mostrou reduções nas práticas sexuais de risco, mas reduções maiores nas práticas de risco relacionadas com a droga. Uma intervenção guiada por este modelo em Porto Rico conseguiu aumentos no uso do preservativo entre consumidores de drogas. Atitudes em relação ao preservativo – um forte indicador do seu uso entre adolescentes afro-americanos. MCS e TAR combinados Etapas da Mudança Este modelo foi particularmente útil entre jovens que ainda não tinham iniciado a sua vida sexual nos EUA. Influência Social As vantagens assumidas dos preservativos, barreiras assumidas e disposição para agir foram indicadores do uso do preservativo entre estudantes universiários na Nigéria. A auto-eficácia e as normas assumidas foram úteis para indicar decréscimos de DTS entre homens atendidos em clínicas de DTS. TCS e TAR combinadas Modelo da Crença na Saúde Elementos tais como a auto-eficácia e o uso do preservativo aumentaram depois da intervenção. Um modelo comportamental combinado foi usado com homens asiáticos e das ilhas do Pacífico nos EUA e atingiu uma redução de mais de 50% de relações anais não protegidas entre chineses e filipinos. MCS, TCS e Teoria da Acção Racionalizada (TAR) combinados Teoria Cognitiva Social A teoria da difusão foi útil para guiar intervenções de sucesso com homossexuais masculinos nos EUA em alguns estudos diferentes. Este modelo foi útil para orientar uma intervenção entre homens afro-americanos para abordar a auto-identificação, o apoio social, a comunicação sexual e o empenho comportamental. Este modelo foi usado com sucesso em intervenções comunitárias com mulheres a nível internacional. Teoria da Difusão Modelo da Redução do Risco de SIDA Difusão de Inovações Este modelo, que dá ênfase à mudança de normas culturais e à mobilização da comunidade, foi usado na Indonésia. Constructos diferentes foram úteis para diferentes sub-grupos populacionais, mas a auto-eficácia e as vantagens do preservativo foram indicadores da redução do risco em muitos grupos na Indonésia. MCS e TCS usados em conjunto MLEI Este constructo foi usado em estudos com mulheres em África e deu indicações sobre o uso do preservativo especialmente em zonas de baixa prevalência do HIV. Os autores verificaram que nos estudos baseados nos EUA, os indicadores mais fortes do aumento do uso do preservativo eram as variáveis relacionadas com os parceiros. O modelo das etapas da mudança foi usado para orientar intervenções nos EUA. No estudo realizado nos EUA entre mulheres em tratamento contra a droga, os investigadores observaram que o aconselhamento adaptado à etapa é mais eficiente do que o generalizado. Este modelo foi usado com eficácia entre mulheres de baixo rendimento nos EUA. Percepção do Risco Modelo da Redução do Risco de SIDA Etapas da Mudança Difusão de Inovações com Mobilização da Comunidade Entre mulheres afro-americanas nos EUA, este modelo ajudou a orientar uma intervenção baseada em habilidades para melhorar as normas e aumentar a comunicação sexual com os parceiros. Teorias psicológicas como a TCS serviram de guia para intervenções (especialmente nos EUA), sugerindo a formação de aptidões e estratégias para modificar as crenças normativas de pares ou parceiros sobre o risco. A formação de aptidões incluiu a conversa com parceiros sobre sexo e uso do preservativo e sobre a prática do uso de preservativo. Teoria Cognitiva Social (TCS) Mulheres heterossexuais Teoria Cognitiva Social (TCS) Teoria do Género e Poder Comentários Teoria ou Modelo Grupo Populacional TABELA 4: SUMÁRIO DAS TEORIAS E MODELOS POR GRUPO POPULACIONAL Notas: O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA (ONUSIDA) é o principal embaixador da acção mundial contra o HIV/SIDA. Ele reúne numa só as actividades de sete organizações das Nações Unidas em luta contra a epidemia: o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), o Programa das Nações Unidas de Combate Internacional às Drogas (PNUCID), a organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Banco Mundial. A ONUSIDA mobiliza as acções contra a epidemia dos seus sete organismos co-patrocinadores, ao mesmo tempo que alia iniciativas especiais a estes esforços. O seu objectivo é dirigir e apoiar o alargamento da acção internacional contra o HIV em todas as frentes - médica, social, económica, cultural, política, da saúde pública e dos direitos humanos. A ONUSIDA trabalha com um largo leque de parceiros – governos e ONG, empresas, especialistas e nãoespecialistas – com vista ao intercâmbio de conhecimentos, competências e boas práticas à escala mundial. Produção gráfica: Elográfico Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA ONUSIDA - 20 Avenue Appia - 1211 Genebra 27 - Suíça Telef. (+41 22) 791 46 51 - Fax (+41 22) 791 41 87 E-mail: [email protected] - Internet://www.unaids.org