Clique aqui para baixar este artigo.
Transcrição
Clique aqui para baixar este artigo.
Doença periodontal em mães com parto prematuro/recémnascidos com baixo peso: estudo piloto Periodontal disease in mothers with preterm birth and low weight babies: piloto study Roberta Catapano NAVES1, Vanessa Marinho NOVAES2, Lis Mésseder SADIGURSKY3, Andréa Maria Varjão VIANA3 RESUMO A doença periodontal é o resultado da interação entre o biofilme dental e os tecidos periodontais. Alguns autores levantaram a hipótese de que a doença periodontal poderia desencadear repercussões orgânicas graves e, aliadas às respostas inflamatórias irregulares do hospedeiro, poderiam ter consequências sistêmicas. O objetivo desse estudo piloto foi verificar a associação entre doença periodontal e a ocorrência de parto prematuro/recém-nascidos com baixo peso através do estudo do tipo caso-controle, em que a amostra composta por 30 mulheres foi dividida em: grupo A (10 mães) que apresentaram parto prematuro e os bebês nascidos possuíam baixo peso; grupo B (20 mães) que não apresentaram parto prematuro e os bebês nascidos possuíam peso considerado adequado. Não foi possível mostrar associação entre periodontite e parto prematuro/ recém-nascido com baixo peso, embora a prevalência de periodontite tenha sido maior no grupo caso. A amostra foi insuficiente por se tratar de um estudo piloto, logo o resultado não foi estatisticamente significante. Palavras-chave: Prematuro. Periodontite. Doenças periodontais. ABSTRACT The birth of preterm and low weight babies is the main cause of mortality and morbidity in newborns. Periodontal disease results in a process between dental biofilm and periodontal tissues. Some authors say that periodontal disease could develop serious organic repercussions and irregular inflammatory answer from innkeeper could bring a systemic consequence. The aim of this research is analyze the relationship between periodontal disease, preterm birth and low weight babies through a case-control study. The sample had 30 patients divided into 2 groups: group A (10 mothers) that showed preterm birth and babies with low weight; group B (20 mothers) that had normal term birth and babies with appropriate weight. None variable was significant statistically for relationship with prematurity and low weight, however was higher the periodontitis prevalence in case group and higher Oral health care in the control group. The sample was small, so this is a pilot study and the research must go on to amplification of the sample. Key words: Periodontitis. Periodontal diseases. Infant, premature. Endereço para correspondência: Roberta Catapano Naves Rua Afonso Rui de Sousa, 487 Itaigara 41815-300 - Salvador - Bahia - Brasil E-mail: [email protected] Recebido: 28/09/2009 Aceito: 24/11/2009 1. Professora Assistente da Unidade de Triagem e Urgência, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil. 2. Especialista em Periodontia. 3. Graduanda em Odontologia, Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil. 40 Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 40-45, set./dez. 2009 ARTIGOS CIENTÍFICOS Naves RC, Novaes VM, Sadigursky LM, Viana AMV INTRODUÇÃO O nascimento de bebês prematuros e de baixo peso (PMBP) é a principal causa de mortalidade e morbidade de recémnascidos16 e vários fatores de risco estão envolvidos no seu desenvolvimento, contudo os fatores de risco clássicos não explicam todas as ocorrências de PMBP, sendo 25% dos casos sem causa justificada10. O nascimento de PMBP é um problema grave, inclusive em países desenvolvidos9, pois representam 6-9% de todos os nascimentos, 70% das mortes perinatais e 50% de morbidez neurológica a longo prazo18. Apesar de ter ocorrido decréscimo de 47% na mortalidade perinatal entre as décadas de 60 e 80, esse percentual não melhorou significativamente na última década, tendo os autores relatados que 60% da mortalidade que ocorre entre os recém-nascidos sem alterações congênitas ou cromossomiais se relaciona à prematuridade do parto e ao baixo peso natal18. A doença periodontal (DP) é a segunda patologia bucal mais prevalente no mundo7 acomete entre 30 a 100% das mulheres durante a gravidez5 e está entre as infecções bacterianas crônicas mais comuns do ser humano13, mediadas por microrganismos gram-negativos17. É o resultado de um processo interativo entre o biofilme dental e os tecidos periodontais através de respostas celulares e vasculares. A instalação e a progressão da DP envolvem um conjunto de eventos imunopatológicos e inflamatórios, com participação dos fatores modificadores locais, sistêmicos, ambientais e genéticos21. A relação entre a DP e doenças sistêmicas tem sido proposta há vários séculos, mas somente nos últimos anos, após diversas análises, alguns autores levantaram a hipótese de que a DP poderia desencadear repercussões sistêmicas graves15. Múltiplas linhas de pesquisa sustentaram o papel da infecção materna como fator predisponente para o nascimento prematuro19. A primeira evidencia que sugeriu essa relação ocorreu com a associação entre microorganismos vaginais e o parto prematuro10. A partir de então, a próxima questão a ser observada era a interação entre infecções vaginais isoladas, infecções à distância e a sua relação com o parto prematuro10. Uma das formas para associar prematuridade com infecção é a cultura do fluido amniótico em pacientes com membranas íntegras no momento do parto, com a tentativa de encontrar a presença de microorganismos e seus produtos, podendo então, associar a doença periodontal com o parto prematuro10; outras culturas também podem ser feitas usando a placenta3. As prováveis relações entre doenças periodontais e parto pré-termo são: 1. bactérias causadoras de doenças peridontais podem se disseminar pelo organismo através da corrente sanguínea e causar infecção na placenta favorecendo o parto prematuro; 2. lipopolissacarídeos oriudos da infecção periodontal podem ser disseminados por via hematogênica, induzindo células que irão sintetizar prostaglandinas e TNF-α, além da IL-1, aumentando seu fluxo no fluido gengival, onde têm sido identificados14; 3. os mediadores inflamatórios produzidos localmente nos tecidos inflamatórios podem entrar na circulação e atuar como fonte sistêmica de citocinas fetotóxicas5,8,1314,16-17 . As infecções periodontais podem servir como reservatório para translocação de bactérias periodontopatogênicas e seus produtos por via hematogênica até a unidade fetoplacentária. Neste local, as toxinas bacterianas poderiam levar à necrose placentária, aborto espontâneo, malformações, baixo peso ao nascimento ou à morte dos recém-nascidos3,5,20. O objetivo desse trabalho foi verificar a associação entre a doença periodontal e a ocorrência de parto prematuro e recémnascidos com baixo peso, observando-se que a doença periodontal constitui mais um indicador de risco para a prematuridade. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa consiste de um estudo do tipo caso-controle, no qual foram examinadas 30 mães, no período pós-parto mediato, que realizaram o parto na maternidade do Instituto de Perinatologia da Bahia - IPERBA no município de Salvador, no período de agosto de 2008 a junho de 2009. A amostra selecionada foi dividida em dois grupos: grupo A (caso) constituído de 10 mulheres que apresentaram parto prematuro, e bebês com baixo peso e o grupo B (controle) englobou outras 20 mulheres, que não apresentaram partos prematuros e que os bebês nascidos estiveram com peso considerado adequado. A amostra foi composta por mulheres com idade entre 25 a 35 anos, as quais aceitaram participar do estudo assinando o termo de Consentimento Livre Esclarecido. Caso essas pacientes possuíssem menos de 15 dentes na boca ou fosse observado outros fatores de risco para prematuridade (infecções, fumo e/ ou alcoolismo durante a gravidez)4 não poderiam participar da pesquisa. É considerada gestação a termo aquela compreendida entre 37 semanas completas e menos de 42 semanas completas (259 a 293 dias completos), sendo os recém-nascidos de baixo peso aqueles que pesam menos de 2,500 g ao nascimento20. Foram utilizados como instrumentos para a coleta de dados: exame periodontal, análise dos prontuários individuais de cada paciente e entrevista interpessoal com as mesmas. O exame da condição periodontal para a constatação da doença incluiu a avaliação clínica da inflamação dos tecidos periodontais, o registro das profundidades de sondagem e dos níveis de inserção clínica12. Para o diagnóstico, um examinador avaliou 6 sítios de cada dente, exceto os terceiros molares ou dentes que inviabilizasse seu exame, em todos os dentes presentes, utilizando a sonda milimetrada do tipo Willians (Hu Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 40-45, set./dez. 2009 41 Doença periodontal em mães com parto prematuro/recém-nascidos com baixo peso: estudo piloto Friedy). Os pesquisadores estavam devidamente paramentados (usando avental, óculos de proteção, luva, gorro e máscara) visando a biossegurança necessária. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Protocolo de pesquisa n˚ 23/2008), conforme a Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde. DESCRIÇÃO DO EXAME PERIODONTAL • Índice de placa2; • Índice gengival2; • Profundidade de sondagem: distância da margem gengival ao fundo da bolsa/sulco realizada com sondagem manual. Foi realizada em 6 sítios por dente (mesio-vestibular, mediano, mesio-lingual, distovestibuar, mediano, disto-lingual); • Recessão gengival/aumento gengival: definida como a distância entre a junção cemento-esmalte e a margem gengival livre; • Nível de inserção clínica (NIC): distância entre a junção cemento-esmalte e a porção mais profunda do sulco ou da bolsa. Calculado após medição do aumento gengival ou recessão gengival e da profundidade de sondagem. Os indivíduos foram classificados em: Periodontite- aqueles com 4 dentes, onde houve presença de 1 ou mais sítios com profundidade de sondagem ≥ 4 mm e nível de inserção clínica ≥3 mm16 e Sem periodontite- os indivíduos sem bolsa periodontal e sem perda de inserção. Quando constatada a presença da doença periodontal, as mães foram encaminhadas para a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - Curso de Odontologia, para tratamento; quando em ausência da doença, foram orientadas de como manter a higiene bucal. DESCRIÇÃO DA ANÁLISE DOS PRONTUÁRIOS O prontuário, de cada paciente, foi analisado com a intenção de se observar a presença de dados relacionados à gravidez. Verificando os relatórios, os exames, as medicações usadas, o período de gestação, o peso do bebê ao nascimento e outras informações pertinentes ao estudo. DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA INTERPESSOAL A entrevista com as mães foi realizada no momento do exame periodontal e foi necessária para a realização de questionamentos importantes sobre a gravidez, a gestante, o neonato, história médica, história odontológica e as características socioeconômicas, confirmação das anotações nos prontuários e estabelecimento de relação de confiança entre o profissional e o paciente. DESCRIÇÃO DA ANÁLISE REALIZADA Inicialmente, realizou-se a análise descritiva das variáveis estudadas obtendo-se as frequências simples e relativas para todas as variáveis previamente dicotomizadas. A amostra estudada foi dividida em dois grupos: caso e 42 Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 40-45, set./dez. 2009 controle. Para determinar a prevalência de prematuridade/baixo peso nos estratos das co-variáveis, realizou-se análise descritiva, testando as diferenças estatisticamente significativas entre os grupos através do Teste do χ2 de Pearson, considerando como nível de significância o valor de “p” correspondente à alfa (α) menor ou igual a 5%. Foi realizada a análise bivariada, a fim de determinar a associação entre prematuridade/baixo peso e variáveis estudadas. Utilizou-se como medida de associação a Odds Ratio (OR), testando a significância através dos respectivos Intervalos de Confiança a 95%, obtidos pelo método de Mantel-Haenszel. Os programas utilizados para a análise dos dados foram o Excel e o Stata versão 7.0, 1997 (Stata Corporation, College Station, TX, Estados Unidos). RESULTADOS Ao analisar os dados descritivos sócio-demográficos (Tabela 1), os grupos se comportaram de forma semelhante quanto ao estado civil. Pode-se perceber que todas as mães possuíam escolaridade de nível médio no grupo caso e 80% das mães do grupo controle. Quando avaliada a renda das mulheres da amostra, 20 possuíam renda mensal maior que um salário mínimo correspondendo a 80% do grupo caso e 60% do grupo controle. Tabela 1 - Distribuição das mulheres com parto prematuro/ bebê de baixo peso e controles segundo características sóciodemográficas da maternidade pública do IPERBA no município de Salvador, Bahia, 2009. Casos (N=10) Variáveis Controles (N=20) N % N % • • Estado civil Casada Solteira/outros 4 6 40 60 8 12 40 60 Escolaridade • Superior/Médio • Analfabeta/Fundamental 10 0 100 - 16 4 80 20 Renda > 1 SM* < 1SM 8 2 80 20 12 8 60 40 • • *SM = salário mínimo. As variáveis que podem influenciar no parto prematuro, já predeterminadas na literatura, se encontram na Tabela 2. O pré-natal foi realizado por todas as 20 mães do grupo controle. 50% das mães do grupo caso fizeram uso de medicação durante a gestação. A maior porcentagem de complicações durante a gestação se encontrou no grupo caso (30%). 10% das mães do grupo caso realizaram intervenção cirúrgica ARTIGOS CIENTÍFICOS Naves RC, Novaes VM, Sadigursky LM, Viana AMV e tiveram prematuridade anterior. Todas as mães no grupo controle referiram alimentação equilibrada. Das pacientes, 12 auto referiram stress, sendo 9 mães no grupo controle e 3 no grupo caso. Tabela 3 - Distribuição das mulheres com parto prematuro/bebê de baixo peso e controles segundo características relativas à saúde bucal na maternidade pública do IPERBA no município de Salvador, Bahia, 2009. Casos (N=10) Variáveis Tabela 2 - Distribuição das mulheres com parto prematuro/bebê de baixo peso e controles segundo características relativas à gestação na maternidade pública do IPERBA no município de Salvador, Bahia, 2009. Casos (N=10) Variáveis Controles (N=20) Controles (N=20) N % N % Doença periodontal • NÃO • SIM 5 5 50 50 15 5 75 25 Visita ao dentista • SIM • NÃO 5 5 50 50 5 15 25 75 N % N % • • Realização de pré-natal SIM NÃO 9 1 90 10 20 0 100 - Frequência de escovação • 3 ou mais vezes • 1-2 vezes 9 1 90 10 12 8 60 20 Uso de medicamento • NÃO • SIM 5 5 50 50 17 3 80 20 Uso de fio dental • SIM • NÃO 6 4 60 40 10 10 50 50 Complicações durante a gravidez • NÃO • SIM 7 3 70 30 19 1 95 5 Uso de enxaguatório bucal • SIM • NÃO 4 6 40 60 4 16 20 80 Primeira gestação • NÃO • SIM 4 6 40 60 14 6 70 30 Realização de RAR* • SIM • NÃO 9 1 90 10 10 10 50 50 Prematuridade anterior • NÃO • SIM 9 1 90 10 19 1 95 5 Realização de exodontia • SIM • NÃO 9 1 90 10 10 10 50 50 Realização de cirurgia • NÃO • SIM 9 1 90 10 19 1 95 5 Índice de placa • < 40% • ≥ 40% 8 2 80 20 19 1 95 5 Presença de doença • NÃO • SIM 8 2 80 20 19 1 95 5 10 - 100 - 20 0 100 - Alimentação equilibrada • SIM • NÃO Índice de sangramento gengival • < 40% • ≥ 40% 9 1 90 10 20 0 100 - Stress • NÃO • SIM 7 3 70 30 11 9 61,1 75 Nascimento de baixo peso • NÃO • SIM 2 8 20 80 20 0 100 - Nos dados coletados em relação à saúde bucal (Tabela 3), 5 pacientes em cada grupo apresentaram periodontite. Os cuidados que as mães possuíam com a saúde bucal foram vistos com maior frequência no grupo caso, porém o índice de placa < 40% apresentou-se com mais frequência nas mães do grupo B. O IG demonstrou-se igual nos dois grupos. *RAR = raspagem e alisamento radicular. A Tabela 4 descreve o grau de associação entre as variáveis estudadas e o PMBP através do OR e do IC. Apenas a variável stress mostrou associação estatisticamente significante com PMBP. Os cuidados com a saúde bucal tiveram maior ocorrência no grupo caso. Tabela 4 - OR e Intervalo de Confiança (95%) para parto prematuro/bebê de baixo peso e controles segundo variáveis estudadas na maternidade pública do IPERBA no município de Salvador, Bahia, 2009. Casos (N=10) Variáveis Controles (N=20) N % N % Estado civil • Casada • Solteira/Outros 4 6 8 12 1,0 0,224,42 Renda • 1 SM* • < 1SM 8 2 12 8 0,37 0,072,05 Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 40-45, set./dez. 2009 43 Doença periodontal em mães com parto prematuro/recém-nascidos com baixo peso: estudo piloto Uso de medicamento • NÃO • SIM 5 5 17 3 5,66 1,0730,15 Primeira gravidez • NÃO • SIM 4 6 14 6 3,5 0,7516,28 Stress • NÃO • SIM 7 3 11 9 0,52 0,112,49 Visita ao dentista • SIM • NÃO 5 5 5 15 0,33 0,071,56 Uso de fio dental • SIM • NÃO 6 4 10 10 0,67 0,152,96 Uso de enxaguatório bucal • SIM • NÃO 4 6 4 16 0,37 0,071,85 *SM = salário mínimo. DISCUSSÃO A implicação da doença periodontal como fator de risco para o parto prematuro e bebê de baixo peso tem-se demonstrado controverso na literatura1,6,9,13,17. Devido à importância de se investigar os fatores que contribuem para a prematuridade, diversos estudos foram realizados através de pesquisas de caso-controle6,18, corte transversal14, ensaio clínico randomizado11; entre outros estudos, na tentativa de esclarecer esta possível implicação. Os resultados desta pesquisa sugerem que existe homogeneidade da amostra em relação às características sóciodemográficas. Apesar das mulheres apresentarem maior renda e maior nível de escolaridade no grupo caso, isso não significou melhor qualidade de vida e cuidados maiores no período gestacional, muito pelo contrário. Durante a entrevista interpessoal, por exemplo, pode-se perceber que as mães se descuidam com pequenos detalhes, como o uso de medicação indevida. Os fatores de risco apontados e já conhecidos para o nascimento de PBPM4 se comportaram de forma esperada, ou seja, mães com parto a termo apresentaram melhor acompanhamento gestacional, como realização de pré-natal, menor uso de medicamentos, menor porcentagem de mulheres com doenças, menor necessidade de intervenções cirúrgicas, alimentação equilibrada e também menor ocorrência de prematuridade anterior. Apenas o fator stress se manifestou de forma diferente. O stress pode resultar na liberação, pela glândula adrenal e do hipotálamo, de um hormônio específico e apenas com a medição desse hormônio consegue-se o diagnóstico preciso22. Por ter sido auto referido, não há um parâmetro exato para a correta quantificação do stress. Sendo assim, acaba por ficar dependente do entendimento pessoal 44 Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 40-45, set./dez. 2009 de cada mãe sobre o que é o stress. Foi possível observar que a prevalência de mães com DP no grupo caso foi maior do que no grupo controle, porém isto não foi estatisticamente significante, o que pode sugerir que, ao aumentar a amostra, atingindo maior quantidade de puérperas, a presença de doença periodontal aumentaria, elevando a diferença entre os dois grupos e encontrando, assim, resultados mais consistentes. Ao analisar o estudo de Offenbacher18 os autores verificaram que a doença periodontal poderia ser considerada fator de risco para o parto prematuro e o nascimento de bebês com baixo peso. A análise periodontal e o acompanhamento da gravidez de 124 mulheres permitiram aos autores concluírem que, existem novas evidências de que a doença periodontal pode ser um fator de risco significante para o parto prematuro e/ou bebês de baixo peso ao nascimento. Utilizando análise de regressão logística multivariada para verificação da associação dos diferentes fatores de risco com a ocorrência de parto prematuro, os autores estimaram que a presença de doença periodontal destrutiva e, mais especificamente, da infecção bacteriana associada a ela, resultaria num risco 7,5 vezes maior de partos prematuros, abrangendo cerca de 18% de todos os casos de partos prematuros e sendo um fator de risco mais forte que o consumo de fumo e álcool. Um estudo sobre o tema7 avaliou uma amostra de 800 mães, divididas em 2 grupos: teste (200 mães) e controle (600 mães). Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que a doença periodontal representava um risco 3 vezes maior de ocorrência de parto prematuro e que as mães pertencentes ao grupo teste possuíam maior prevalência e severidade de doença periodontal. O grupo caso apresentou maior cuidado com a higiene oral (mais visitas ao dentista, maior frequência de escovação, uso de fio dental e enxaguatório bucal) o que induz a pensar que esse grupo teria menor prevalência de DP. Essa idéia não é correta, pois já é sabido que a DP é uma doença multifatorial21 e que, mesmo havendo uma preocupação com a higiene oral, isso não significa que o controle de placa está sendo feito de forma adequada, uma vez que são importantes tanto a técnica de higiene oral, como o acompanhamento com um especialista. Fato esse comprovado pelo índice de placa, que foi inferior no grupo caso, demonstrando a relação entre índice de placa e má higiene oral3. CONCLUSÃO Pode-se verificar maior prevalência de periodontite em mães com PMPB, porém não foi estatisticamente significante para relacionar DP com prematuridade/baixo peso. Como a amostra foi insuficiente, por se tratar de um estudo piloto, a pesquisa deverá ter continuidade. ARTIGOS CIENTÍFICOS Naves RC, Novaes VM, Sadigursky LM, Viana AMV REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Águeda A, Echeverría A, Manau C. Association between periodontitis in pregnancy and preterm or low birth weight: review of literature. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2008;13(9):609-15. Ainamo J, Bay I. Problems and proposals for recording gegivitis and plaque. Int Dent J. 1975; 25(4):229-35. Arce RM, Barros SP, Wacker B, Peters B, Moss K, Offenbacher O. Increased TLR4 expression in murine placentas after oral infection with periodontal pathogens. Placenta. 2009;30(2):156-62. Bittar RE, Zugaib M. Protocolos assistenciais – clínica obstétrica. 2nd ed. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 311-5. Collins JG, Smith MA. Arnold RR, Offenbacher S. Effects of Escherichia coli and Porphyromonas gingivalis lipopolysaccharide on pregnancy outcome in the golden hamster. Infect Immun. 1994;62(10):4652-5. Cruz SS, Costa MCN, Gomes Filho IS, Vianna MIP, Santos CT. Doença periodontal maternal como fator associado ao baixo peso ao nascer. Rev Saúde Pública. 2005; 39(5):782-7. Davenport ES, Williams CE, Sterne JA, Sivapathasundran V, Fearne JM, Curtis MA. The east London study of maternal chronic periodontal disease and preterm low birth weight infants: study design and prevalence data. Ann Periodontol. 1998;3(1):213-21. Genco RJ, Ho AW, Kopman J, Grossi SG, Dunford RG, Tedesco LA. Models to evaluate the role of stress in periodontal disease. Ann Periodontol. 1998;3(1):288-302. Gibbs RS.The relationship between infections and adverse pregnancy outcomes: an overview. Ann Periodontal. 2001;6(1):153-63. Gibbs RS, Romero R, Hillier SL, Eschenbach DA, Sweet RL. A review of premature birth and subclinical infection. Ann J Obstet Gynecol. 1992;166(5):1515-28. Khader Y, Al-shishany L, Obeidat B, Khassawneh M, Burgan S, Amarin ZO, et al. Maternal periodontal status and preterm low birth weight delivery: a case-control study. Arch Gynecol Obstet, 2009;279(2):165-9. Lindhe J.Tratado de periodontia clínica e implantologia oral. 4th ed. São Paulo: Guanabara-Koogan; 2005. p. 392-400. Machiavelli JL, Pio S. Medicina periodontal: uma revisão de literatura. Odontologia Clín-Científ. 2008;7(1):19-23. Machuca G, Khoshfeiz O, Lacalle JR, Machuca C, Bullón P. The influence on general health and socio-cultural variables on the periodontal condition of pregnant women. J Periodontol. 1999;70(7):779- 85. Novaes VM. Doença periodontal em gestantes como fator de risco ao baixo peso e nascimentos de bebês prematuros [thesis]. Salvador; 2008. Offenbacher S, Heasman PA, Collins JG. Modulation of host PGE2 secretion as a determinant of periodontal disease expression. J Periodontol. 1993;64(5 Suppl):432-44. Offenbacher S, Jared HL, O’Reilly PG, Wells SR, Salvi GE, Lawrence HP, et al. Potential pathogenic mechanisms of periodontitis associated with pregnancy complications. Ann Periodontol. 1998;3(1):233-50. Offenbacher S, Katz V, Fertik G, Collins J, Boyd D, Maynor G, et al. 19. 20. 21. 22. Periodontal infection as a possible risk factor for preterm low birth weight. J Periodontol. 1996;67(10 Suppl):1103-13. Passanezi E, Brunetti MC, Sant’ana ACP. Interação entre a doença periodontal e a gravidez. Periodontia. 2007;17(2):32-8. Rezende J, Montenegro CAB. Obstetrícia Fundamental, 9th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. Sallum AW, Martins AG, Sallum EA. A doença periodontal e o surgimento de um novo paradigma. In: Brunetti MC. Periodontia médica: uma abordagem integrada. São Paulo: Senac; 2004. p. 21-39. Williams CE, Davenport ES, Sterne JA, Sivapathasundaram V, Fearne JM, Curtis MA. Mechanisms of risk in preterm low-birthweight infants. Periodontol 2000. 2000;23:142-50. Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 40-45, set./dez. 2009 45
Documentos relacionados
A doença periodontal como mecanismo de indução ao parto
bastante similares às encontradas em septicemia, onde um aumento dos níveis de TNFa e interleuquina-6 pode ser observado (Sacks et al. 1998). O conhecimento atual dos eventos que envolvem o trabalh...
Leia maisdoença periodontal versus parto prematuro de bebê de baixo peso
REVISÃO DA LITERATURA Em estudo com 124 mães, gestantes ou após o parto, exame periodontal foi efetuado em todos os dentes para determinar a profundidade de sondagem, nível de inserção clínica e sa...
Leia maisuniversidade federal do maranhão
é mediada por microorganismos gram-negativos. Para que a doença ocorra, é necessário haver interação entre biofilme dental e os tecidos periodontais por meio de respostas celulares e vasculares. Pa...
Leia mais