Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, pX-Y, Out

Transcrição

Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, pX-Y, Out
88
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.X-Y, Out-Nov-Dez. 2011.
REVISTA INTERDISCIPLINAR
A Revista Interdisciplinar, criada em outubro de 2008, órgão oficial de divulgação da Faculdade NOVAFAPI, com periodicidade trimestral, tem a finalidade de
divulgar a produção científica das diferentes áreas do saber que seja de interesse das áreas da saúde, ciências humanas e tecnológicas.
The Interdisciplinary Journal, founded in October of 2008, is the official publishing organ for NOVAFAPI School with publication every three months and
has the objective of making public the scientific production in different areas of knowledge that are of interest to health areas, human sciences and technology.
La revista interdisciplinar, creada en Octubre de 2008, órgano oficial de divulgación de la Facultad NOVAFAPI, con periodicidad trimestral, tiene la finalidad
de propagar la producción científica de las diferentes áreas del saber que sea de interés de las áreas de la salud, ciencias humanas y tecnológicas.
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO
PUBLISHING COMMITTEE/COMISIÓN DE PUBLICACIÓN
Diretora/Head/Directora
Cristina Maria Miranda de Sousa
Editora Científica/Scientific Editor/Redactor Científico
Maria Eliete Batista Moura
[email protected]
Editor Associado/Associate Editor/Redactor Asociado
Claudete Ferreira de Souza Monteiro
Membros/Members/Miembros
Ana Maria Ribeiro dos Santos
Fabrício Ibiapina Tapety
CONSELHO EDITORIAL
EDITORIAL BOARD/CONSEJO EDITORIAL
Ana Maria Escoval Silva
Universidade Nova de Lisboa - Portugal
Antônia Oliveira Silva
UFPB
Adriana Castelo Branco de Siqueira
UFPI
Carlos Alberto Monteiro Falcão
Faculdade NOVAFAPI
Eucário Leite Monteiro Alves
Faculdade NOVAFAPI
Gerardo Vasconcelos Mesquita
Faculdade NOVAFAPI/UFPI
Gillian Santana de Carvalho Mendes
Faculdade NOVAFAPI
Luis Fernando Rangel Tura
UFRJ
Maria do Carmo de Carvalho Martins
Faculdade NOVAFAPI/UFPI
Maria do Socorro Costa Feitosa Alves
UFRN
José Nazareno Pearce de Oliveira Brito
Faculdade NOVAFAPI
Norma Sueli Marques da Costa Alberto
Faculdade NOVAFAPI
Paulo Henrique da Costa Pinheiro
Faculdade NOVAFAPI
Roberto A. Medronho
UFRJ
Telma Maria Evangelista de Araújo
Faculdade NOVAFAPI/UFPI
Yúla Pires da Silveira Fontenele de Meneses
Faculdade NOVAFAPI
Bibliotecário/Librarian/Bibliotecario:
Secretária/Secretary/Secretaria:
Capa/Cover/Capa:
Editoração/Lay-out/Diagramación:
Tiragem/Number of Issues/Tiraja:
Projeto/Project/Projecto:
Francisco Renato Sampaio da Silva
Elizângela de Jesus Oliveira de Sousa Vieira
Primeira Imagem - www.pimagem.com.br
Primeira Imagem - www.pimagem.com.br
200 exemplares
Faculdade NOVAFAPI
R454 Revista Interdisciplinar /Faculdade NOVAFAPI. Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação. -- v.4, n. 4, 2011.
Teresina: Faculdade NOVAFAPI, 2011
Trimestral
ISSN 1983-9413
1.Saúde 2.Ciências 3. Humanas I.Título
CDD 613.06
Endereço/Mail adress/Dirección: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123 • Bairro Uruguai • 64057-100 • Teresina • Piauí • Brasil
Web site: www.novafapi.com.br • E-mail: [email protected]
SUMÁRIO / CONTENTS / SUMARIO
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI • Teresina-PI
ISSN 1983-9413
v. 4, n. 4, 2011.
EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
Produção do conhecimento em Enfermagem............................................................................................... 5
Knowledge production in nursing
Producción de conocimiento en enfermería
Profa. Ms. Francisca Cecília Viana Rocha, Profa Ms. Jaqueline Carvalho e Silva
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Avaliação dermatoneurológica e grau de incapacidades em pacientes com diagnóstico de hanseníase............................................................................................................................................................... 9
Evaluación dermatológica y grado de discapacidad en pacientes con la lepra
Dermatoneurological and incapacity degree evaluation on patients with hanseniase diagnosis
Adriana Sávia Araújo Sousa, Hugo Rodollffo Maia de Castro, José Achilles da Silva Neto
O significado do diagnóstico de câncer do colo uterino para a mulher................................................... 13
The meaning of cervical cancer diagnosis for women
El significado del diagnóstico del cáncer de cuello uterino para la Mujer3
Juscélia Maria de Moura Feitosa Veras, Inez Sampaio Nery
Vivendo com depressão: histórias de vida de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial ........... 19
Living with depression: life histories of users of a Psychosocial Care Center
Viviendo con depresión: historias de vida de usuarios de un Centro de Atención Psicosocial
Mariza Márcia Rodrigues Gomes, Aline Raquel de Sousa, Fernanda Matos Fernandes Castelo Branco, Claudete Ferreira de Souza Monteiro
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital
público............................................................................................................................................................. 24
Analysis of disease occurrence of removal of professional nursing in a public hospital
Análisis de la ocurrencia de la enfermedad de la eliminación de la enfermería profesional en un hospital público
Marianne Lopes Chaves, Mônica Rodrigues de Araújo, Susane de Fátima Ferreira de Castro, Luciane dos Anjos Formiga Cabral
O significado da sexualidade para o idoso assistido pela estratégia saúde da família ......................... 30
The meaning of sexuality for the elderly aided by the family health strategy
El significado de la sexualidad para el anciano asistido por la estrategia salud de la familia
Elizângela de Moura da Silva, Gessica Linhares Melo, Mayara Madeira de Carvalho, Jaqueline Carvalho e Silva, Vera Lúcia Evangelista de Sousa Luz
Perfil de idosos assistidos por equipe da Estratégia Saúde da Família em Teresina, Piauí.................... 36
Profile of elderly assisted by team from Family Health Strategy in Teresina, Piauí
Perfil de ancianos asesorados por el Equipo de Estrategia Salud de la Familia en Teresina, Piauí
Francisca Cecília Viana Rocha, Mayara Feliciano da Silva, Pietro Rodrigo Almeida e Sousa,
Maria de Fátima Almeida e Sousa, Lucas Pazolinni Viana Rocha, Renata Cassiana Oliveira Lima
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SUMÁRIO / CONTENTS / SUMARIO
Infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um hospital público ............................. 42
Hospital infections in Intensive Care Units in a public hospital
Infecciones hospitalarias en Unidades de Cuidados Intensivos un hospital público
Marcelo de Moura Carvalho, Maria Eliete Batista Moura, Maria do Rosário Conceição Moura Nunes,
Telma Maria Evangelista de Araújo, Claudete Ferreira de Sousa Monteiro, Lorena Rocha Batista de Carvalho
Atividade ocupacional como fator de qualidade de vida na terceira idade....................................................... 49
Occupational activity as a factor of quality of life in elderly
Actividad profesional como factor de calidad de vida en personas mayores
Letícia Mauricio Fortes, Lara Emanueli Neiva de Sousa, Márcia Astrês Fernandes
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Cirurgia parendodôntica: revisão da literatura........................................................................................... 55
Periradicular surgery: literature review
Endodoncia cirugía: revisión de la literatura
Moara e Silva Conceição Pinto, Maria Ângela Arêa Leão Ferraz, Carlos Alberto Monteiro Falcão,
Francisca Tereza Coelho Matos, Antonione Santos Bezerra Pinto
Dificuldades na implementação das ações em saúde do trabalhador pelo Sistema Único de Saúde.. 61
Difficulties in the implementation of shares of health worker by the Unified Health System
Dificultades en la aplicación de las acciones de los trabajadores de la salud por el Sistema Unico de Salud
Francisca Camilla Almeida Vaz, Thays Cardoso da Cunha, Delvianne Costa de Oliveira
Aparelhos intrabucais no tratamento da síndrome da apnéia e hipopnéia obstrutiva do sono: uma
revisão da literatura....................................................................................................................................... 66
Intrabuccal appliances in the treatment of obstructive sleep apnea syndrome: a literature review
Aparatos intrabucales en el tratamiento del síndrome de la apnea e hipopnea obstructiva del sueño: una revisión literaria
Thiago Alberto de Souza Monteiro, Olívia de Freitas Mendes Martins, Daniela Morais Cutrim Costa
Uso indiscriminado de antibióticos e resistência microbiana: uma reflexão no tratamento das infecções hospitalares ...................................................................................................................................... 72
Indiscriminate use of antibiotics and antimicrobial resistance: a reflection on the treatment of hospital infections
El uso indiscriminado de antibióticos y la resistencia a los antimicrobianos: una reflexión sobre el tratamiento de las infecciones hospitalarias
Francisco Braz Milanez Oliveira, Lidiane Monte Lima, Maria Eliete Batista Moura, Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes, Bruna Milanez Oliveira
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO...............................................................................................................................................................78
PUBLISHING NORMS.............................................................................................................................................................................81
NORMAS PARA PUBLICACIÓN.............................................................................................................................................................84
FICHA DE ASSINATURA.........................................................................................................................................................................87
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EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
Produção do conhecimento em Enfermagem
Profa. Ms. Francisca Cecília Viana Rocha
Professora da Faculdade NOVAFAPI.
Profa. Ms. Jaqueline Carvalho e Silva
Professora da Faculdade NOVAFAPI.
No intuito de obter respostas e resultados a questionamentos e inquietações, a Enfermagem, vem desenvolvendo continuamente estudos e pesquisas nas mais diversas áreas, o que têm
contribuído para a ampliação e produção do conhecimento numa perspectiva humana e científica,
bem como para obtenção de maior visibilidade, reconhecimento e consolidação da profissão como
ciência, tecnologia e inovação. Esta disseminação do conhecimento nos fortalece, pois enquanto
sujeitos envolvidos no processo têm um compromisso moral e ético com a finalidade de proporcionar um cuidado seguro e de qualidade ao cliente.
Esta é uma grande conquista da profissão e fruto de esforços coletivos, que através do seu
potencial crítico e reflexivo, passa por domínio dos diferentes métodos de investigação e das bases
teórico-filosóficas que sustentam o saber da enfermagem e com isso vem construindo e contribuindo para a produção do conhecimento pautado em aspectos éticos e humanísticos.
Entretanto, à medida que a prática de pesquisa em Enfermagem tem crescendo quantitativa
e qualitativamente algumas lacunas do conhecimento são perceptíveis, como por exemplo, o surgimento de inovações tecnológicas, que possibilitaria uma melhor assistência e consequentemente
qualidade de vida aos nossos clientes, além de contribuir como fonte de desenvolvimento pessoal,
social e econômico. Vale ressaltar que a produção do conhecimento tem um caráter relevante de
interesse social e acadêmico para a comunidade científica
Esperamos que as leituras dos artigos realizadas neste exemplar possam oportunizar reflexões e avaliação histórico-social da profissão, para que mais conhecimentos sejam adquiridos e que
estes sejam capazes de fazer a diferença na vida de quem cuidamos, bem como ser socializados por
todos os leitores.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.5, Out-Nov-Dez. 2011.
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EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
Knowledge production in nursing
Profa. Ms. Francisca Cecília Viana Rocha
Teacher of College NOVAFAPI.
Profa. Ms. Jaqueline Carvalho e Silva
Teacher of College NOVAFAPI.
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In order to get results and answers to questions and concerns, Nursing has continuously been
developing studies and research on various topics, which have contributed to the expansion and
production of knowledge in a scientific and human perspective, as well as for a greater visibility,
recognition and consolidation of the profession as a science, technology and innovation. This dissemination of knowledge empowers us, while individuals involved in the process, with a moral and
ethical commitment in order to provide a safe and efficient care to the client.
This is a great achievement of the profession and the result of collective efforts, which through its critical and reflective potential ranges from different research methods and theoretical and
philosophical basis that support nursing knowledge. Thus, Nursing has been building and contributing for the production of knowledge ruled by ethical and humanistic aspects.
However, as the practice of nursing research has grown quantitatively and qualitatively, some
knowledge gaps are noticeable, such as the emergence of technological innovations that could
enable better care and, therefore, a better quality of life for our customers, besides contributing as
a source of personal, social and economic development. It is noteworthy that the production of
knowledge has an important social and academic role to the scientific community.
We hope that the reading of the articles in this publication can foster reflexions about nursing, as well as, about the evaluation of social-historical aspects of the profession, so that more knowledge can be acquired and also socialized by all readers in order to make difference in the lives of
those who we take care.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.6 Out-Nov-Dez. 2011.
EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
Producción de conocimiento en enfermería
Profa. Ms. Francisca Cecília Viana Rocha
Professor de Colegio NOVAFAPI.
Profa. Ms. Jaqueline Carvalho e Silva
Professor de Colegio NOVAFAPI.
Con el objetivo de obtener respuestas y resultados a planteamientos e inquietudes, la enfermería viene desarrollando continuamente estudios e investigaciones con diversos temas, lo que
ha contribuido a la ampliación y producción de conocimiento desde una perspectiva humana y
científica, así como para la obtención de mayor visibilidad, reconocimiento y consolidación de la
profesión como ciencia, tecnología e innovación. Esta diseminación del conocimiento nos fortalece,
pues los sujetos implicados en el proceso tienen un compromiso moral y ético con la finalidad de
proporcionar un cuidado seguro y de calidad al cliente.
Esta es una gran conquista de la profesión, fruto de esfuerzos colectivos, que por medio de
su potencial crítico y reflexivo, pasa por el dominio de diferentes métodos de investigación y de las
bases teórico-filosóficas que sostienen el saber de la enfermería y con eso, construyendo y contribuyendo a la producción del conocimiento pautado en aspectos éticos y humanísticos.
Sin embargo, a medida que la práctica de la investigación en enfermería crece cuantitativa y
cualitativamente, algunas lagunas de conocimiento son perceptibles, como por ejemplo, el surgimiento de innovaciones tecnológicas, que puede posibilitar una mejor asistencia y por consiguiente una mejor calidad de vida a nuestros clientes, además de contribuir como fuente de desarrollo
personal, social y económico. Cabe destacar que la producción de conocimiento tiene un marcado
carácter social y académico para la comunidad científica.
Esperamos que la lectura de los artículos realizada en este ejemplar ofrezca reflexiones y una
evaluación histórico-social de la profesión, para que sean adquiridos más conocimientos y para que
estos sean capaces de marcar la diferencia en la vida de quienes cuidamos, así como ser socializados
por todos los lectores.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.7, Out-Nov-Dez. 2011.
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PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Avaliação dermatoneurológica e grau de incapacidades em pacientes
com diagnóstico de hanseníase
Evaluación dermatológica y grado de discapacidad en pacientes con la lepra
Dermatoneurological and incapacity degree evaluation on patients with hanseniase diagnosis
Adriana Sávia Araújo Sousa
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública pela UFPI
e-mail: [email protected]
Hugo Rodollffo Maia de Castro
Graduando do 8º período do Curso de Enfermagem
da Faculdade NOVAFAPI e-mail: hugorodollffo@
hotmail.com,
José Achilles da Silva Neto
Graduando do 8º período do Curso de em
Enfermagem da Faculdade NOVAFAPI I
e-mail: [email protected].
RESUMO
O objetivo do estudo é avaliar a ficha dermatoneurológica e grau de incapacidades em pacientes
com diagnóstico de hanseníase, identificando assim a presença da avaliação dermatoneurológica
nos prontuários dos mesmos e levantando informações sobre os dados coletados na ficha de avaliação em relação aos critérios do grau de incapacidade contido na mesma. Estudo de natureza
quantitativa, que foram coletados dados junto aos prontuários de 51 pacientes com diagnóstico de
hanseníase multibacilar, em todas as unidades de saúde da região sul da cidade de Teresina no Estado do Piauí. O resultado mostrou que o instrumento norteador da pesquisa só foi preenchido em
20,72% dos pacientes, a partir daí levantamos dados das incapacidades que acometiam os portadores da moléstia. Concluiu-se que os profissionais de saúde responsáveis estão omissos na realização
deste serviço ao portador de hanseníase, sendo o preenchimento da ficha um elemento de grande
valor para detecção e prevenção de seqüelas mais graves.
Descritores: Enfermagem. Hanseníase. Avaliação.
ABSTRACT
The Objective of the study is evaluate the dermatoneurological fiche and the incapacities degrees on
patients with hanseniase diagnosis, identifying the presence of dermatological evaluation on their
handbooks and collecting information about collected data on evaluation fiche in relation to criteria
of the incapacity degree contain in the same. Quantitative research collected on 51 handbooks patients with multibacillary hanseniase diagnosis, in all Health Units on south region at Teresina – Piaui.
The result showed that main instrument of research only filled in 20.72 percent of patients, this way
from this data was raised about the incapacities that injuries carries of disease. It is concluded that the
health’s professionals responsible are omissive in relation this service to hanseniase carrier’s, being the
fulfilling of the fiche an element of great value for detention and preventions of ore serious sequels.
Descriptors: Nursing. Hanseniase. Evaluation.
RESUMEN
Submissão: 05/06/2011
Aprovação:12/09/2011
El objetivo de este estudio es evaluar el prontuario dermatológico-neurológico y grado de discapacidad en los pacientes con lepra, identificando, así, la presencia de la evaluación dermatológica-neurológica en los prontuarios y colectando informaciones sobre los datos recogidos en la tarjeta
de evaluación en relación a los criterios del grado de discapacidad contenida en ella. Estudio de
naturaleza cuantitativo donde fueron obtenidos datos junto a los registros de 51 pacientes con diagnóstico de lepra en todas las unidades de salud en la región sureña de la ciudad de Teresina, en Piauí.
Los resultados mostraron que el instrumento orientador de la investigación se completó en sólo
20,72% de los pacientes y, basado en ellos recogimos los datos de las discapacidades que molestaban los portadores de la enfermedad. Se concluyó que los profesionales de salud son omisos en la
realización de este servicio para los enfermos de lepra, ya que rellenar un prontuario es un procedimiento de gran valor para la detección y la prevención de las secuelas más graves.
Descriptores: Enfermería. Lepra. Evaluación.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.9-12, Out-Nov-Dez. 2011.
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Sousa, A. S. A.; Castro, H. R. M. ; Neto J. A. S.
1
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) há vários anos vem tentando diminuir os acontecimentos causados pela moléstia de Hansen. Até o
ano de 1991 era mais comum encontrar casos de hanseníase no hemisfério norte, mas a partir daí o hemisfério sul acabou por se destacar com o
aparecimento e crescimento desta moléstia, vindo a causar uma enorme
preocupação para a saúde pública (VERONESI, 2005).
No ano de 2007 o Brasil teve um índice de crescimento de casos de
hanseníase de aproximadamente 21,08/100.000 hab. Já a prevalência foi
de 21,94/100.000. As regiões de maior crescimento da moléstia de Hansen
foram Norte e Centro Oeste, mas também o Nordeste teve um aumento
significativo. Os seis estados de maior número de casos são todos pertencentes à Amazônia legal (Maranhão, Mato Grosso, Pará, Tocantins, Rondônia e Roraima) em que os dados estatísticos vão de 100/100.000, sendo
este o mais elevado, e a 55/100.000 o mais baixo entre os seis (BRASIL,
2008).
A hanseníase é uma doença de alta infecciosidade, mas de baixa
patogenicidade. No entanto, nem todos desenvolverão a doença. Por ser
uma doença que tem cura é importante investir na promoção e prevenção, no sentido de evitar complicações no período de tratamento do paciente (SILVA, et al. 2009).
Umas das grandes preocupações no caso da hanseníase é a incapacidade física que pode ser gerada, devido ao tratamento não chegar
ao seu término, por este ser muito longo e por essa doença possuir um
enorme preconceito perante a sociedade. Uma das melhores maneiras
para combater os agravos ocasionados pela hanseníase é a consulta de
enfermagem, está irá avaliar o paciente como um todo e discutir com o
mesmo sobre sua moléstia, diminuindo sua ansiedade (DUARTE, 2008).
A avaliação dermatoneurológica deve ser feita a partir da primeira
consulta e repetida a cada três meses. Nessa avaliação será pesquisada
a sensibilidade, e caso o paciente já tenha desenvolvido alguma incapacidade, avaliar a evolução da mesma. Os sinais e sintomas mais comuns
são as lesões dermatoneurológicas, como as lesões de pele e lesões de
nervos periféricos, sendo os mais acometidos os olhos, as mãos e os pés
(BRASIL, 2010).
Portanto, os objetivos desta pesquisa foram identificar a presença da avaliação dermatoneurológica nos prontuários dos portadores de
hanseníase atendidos pelas Equipes Saúde da Família (ESF), vinculados à
Coordenadoria Regional Sul (CRS/SUL) e levantar informações sobre os
dados contidos na ficha de avaliação dermatoneurológica, em relação aos
critérios do grau de incapacidade contemplados no instrumento.
2
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a Fundação Municipal de Saúde na Coordenadoria
Regional de Saúde Sul existe 91 pacientes portadores de hanseníase multibacilares. No entanto, quando coletados os dados só foram encontrados
53 prontuários, devido à maioria ter obtido alta do tratamento e em outros
casos os responsáveis das unidades básicas não conseguiram localizar os
prontuários.
Assim, dos 53 pacientes dos quais os prontuários foram encontrados, a ficha de avaliação dermatoneurológica, instrumento norteador da
pesquisa, só foi preenchida em 11 dos pacientes da regional sul, o que
delimita um percentual de 20,75%. Sendo a ficha dermatoneurológica
uma grande ferramenta para a detecção precoce de lesões causadas pela
forma multibacilar da hanseníase, podendo assim evitar um maior grau de
incapacidade ao portador (DESSUNTI et al. 2008).
O Gráfico 1 demonstra as alterações ocasionadas no nariz dos pacientes.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, que se caracteriza pela adoção da quantificação tanto na coleta de informações
quanto no tratamento delas, por meio de técnicas estatísticas. De acordo
com o total de casos a amostra foi composta pelos pacientes classificados
como multibacilares adultos, em tratamento. O critério para classificação
da amostra deu-se pelo fato de os multibacilares estarem mais vulneráveis
a desenvolver alterações de incapacidades físicas durante a evolução da
patologia.
O estudo foi realizado junto as Equipes Saúde da Família, vinculadas à Coordenadoria Regional Sul. Esta coordenadoria possui três Unidades Básicas de Saúde (UBS) com o programa de hanseníase implantado,
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atendendo nos turnos manhã e tarde. Além das unidades básicas estão
inseridas 80 Equipes de Saúde da Família que realizam atendimentos para
o controle da hanseníase.
Para a coleta dos dados foi utilizado um formulário elaborado a
partir das estratégias definidas pelo Ministério da Saúde para o controle e
prevenção de incapacidades físicas na hanseníase. A população do estudo
foi de 53 prontuários e a amostra de 11 prontuários.
Nesse estudo, a coleta dos dados foi realizada por meio da consulta
direta nos prontuários dos pacientes portadores de hanseníase, na classificação operacional multibacilar adulto, durante o mês de abril de 2011,
todos os dias da semana, respeitando o funcionamento das Equipes de
Saúde da Família.
Os dados coletados foram processados através do programa Statistical Product and Service Solutions (SPSS), uma ferramenta para o processamento de dados e análise estatística. Para análise, os dados foram
distribuídos por meio de estatísticas descritivas e apresentados na forma
de tabelas e gráficos e analisados comparando com os referenciais utilizados no estudo.
O projeto atende à resolução 196/06 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres humanos, e foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas
e Tecnológicas do Piauí - NOVAFAPI, conforme Parecer do Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 0061.0.043.000 -11.
Gráfico 1 – Distribuição das alterações dermatoneurológicas ocorridas no nariz. Teresina, 2011. n=11
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.9-12, Out-Nov-Dez. 2011.
Avaliação dermatoneurológica e grau de incapacidades em pacientes com diagnóstico de hanseníase
As alterações apresentadas no Gráfico 1 se resumem em ressecamento, feridas e perfuração do septo nasal. Com isso, nos 11 prontuários
em que tinha sido realizada a avaliação dermatoneurológica obteve-se os
seguintes resultados: 27,27% dos pacientes tinham ressecamento no nariz; 18,18% apresentavam ferida na região e em nenhum dos pacientes foi
detectado perfuração de septo.
As alterações relacionadas ao nariz são esperadas na maioria dos
casos, em decorrência da invasão do tecido conjuntivo nutritivo das regiões mais superficiais pelas bactérias causadoras da hanseníase, podendo
assim observar sensações parestésicas que acabam evidenciando alterações na sensibilidade dolorosa, tátil ou térmica. As feridas são um dos
agravos do ressecamento, por isso se faz importante o diagnóstico precoce da enfermidade para que seja iniciado o tratamento o mais rápido
possível (SILVA; PAZ, 2010).
No Gráfico 2 são apresentadas as alterações que os pacientes
hansênicos multibacilares estão sujeitos, ainda na região da face, especificamente nos olhos.
Gráfico 2. Distribuição das alterações dermatoneurológicas observadas dos olhos. Teresina, 2011.
O Gráfico 2 apresenta 27,27% dos pacientes que foram
analisados tinham acuidade visual prejudicada, nenhum paciente apresentou catarata; 9,09% apresentaram opacidade córnea e 18,18% tiveram
a diminuição da sensibilidade córnea; nenhum dos pacientes apresentou
triquiase. 18,18% dos pacientes perderam a força palpebral e não conseguiam realizar o movimento de fechar os olhos com força e, por fim,
72,73% dos pacientes não conseguiam fechar os olhos sem força.
Segundo Gonçalves, Sampaio e Antunes (2009) quando
são diagnosticadas até o 12º mês e tratadas com poliquimioterapico (PQT)
as lesões neurais tendem a regredir por completo, sem deixar nenhuma
incapacidade neural. Às vezes, se faz necessário tratamento fisioterapêutico com todas as técnicas de prevenção contra incapacidades.
Na Tabela 1 estão distribuídas as alterações dermatoneurológicas
observadas nos membros superiores.
Tabela 1. Alterações dermatoneurológicas na Hanseníase em membros superiores. Teresina, 2011
Normal
Espesso
Dor
Choque
MMSS
n
%
n
%
n
%
n %
Avaliação da força
Ulnar
Esquerda
Direita
Mediano
Esquerda
Direita
Radial
Esquerda
Direita
Radial cutâneo
Esquerda
Direita
9
10
81,82
90,91
1
0
9,09
0,00
1
1
9,09
9,09
0
0
0,00
0,00
10
10
90,91
90,91
0
0
0,00
0,00
1
1
9,09
9,09
0
0
0,00
0,00
8
9
72,72
81,82
2
1
18,18
9,09
1
1
9,09
9,09
0
0
0,00
0,00
11 100,00
11 100,00
0
0
0,00
0,00
0
0
0,00
0,00
0
0
0,00
0,00
Conforme a Tabela 1, a maioria dos nervos dos membros superiores
apresentou normalidade. Na avaliação de palpação dos nervos ulnar, mediano, radial e radial cutâneo foram observados os resultados a seguir. O
nervo ulnar esquerdo apresentou-se espessado e dolorido em 9,09% dos
pacientes, já no lado direito, 9,09% dos pacientes apresentaram somente
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.9-12, Out-Nov-Dez. 2011.
dor. Em relação ao nervo mediano foram observados os mesmo resultados em ambos os lados, uma taxa de 9,09% de dor sem qualquer outra
alteração. 18,18% dos pacientes apresentaram espessamento e 9,09% dor
no nervo radial do lado esquerdo, e no lado direito as anormalidades foram espessamento e dor em 9,09% dos avaliados. A avaliação do nervo radial cutâneo mostrou normalidade em 100% dos casos. Vale ressaltar que
nenhum dos hansênicos avaliados apresentaram o sintoma de choque na
palpação dos nervos de membros superiores.
Os nervos ulnar, radial e mediano quando comprometidos, na
maioria das vezes ocorre de forma bilateral. O nervo radial quando lesado perde a função sobre a musculatura extrínseca e na musculatura de
dorso-flexão da mão, apresentando a chamada “mão caída”; já o ulnar
comprometido causa um prejuízo na musculatura cubital anterior e na
musculatura intrínseca da mão, levando a alterações na extensão das
falanges proximais do 4º e 5 º quirodácticos, dificultando a formação da
garra cubital e, por fim, o nervo mediano acometido perde o restante da
musculatura intrínseca, gerando atrofia e depressão da eminência tênar,
lateralização do polegar e comprometimento da flexão das falanges do 2º
e 3º quirodácticos (BRASIL, 2008).
A Tabela 2 trata das incapacidades que o portador da hanseníase
pode sofrer quando lesa nervos periféricos de membros inferiores.
Tabela 2. Alterações dermatoneurológicas na Hanseníase em membros inferiores.Teresina, 2011
Normal
Espesso
Dor
Choque
MMII
N %
N
%
N
%
N
%
Palpação dos nervos
Fibular
Esquerda
Direita
Tibial posterior
Esquerda
Direita
10
10
90,91
90,91
0
0
0,00
0,00
1
1
9,09
9,09
0
0
0,00
0,00
8
8
72,73
72,73
2
2
18,18
18,18
1
1
9,09
9,09
0
0
0,00
0,00
Segundo dados da Tabela 2, os nervos são avaliados através da técnica propedêutica de palpação em ambos os lados, sendo eles o fibular e
tibial posterior. No fibular foi observado dor bilateral à palpação em 9,09%
dos pacientes; no tibial posterior foi verificado espessamento (8,18%) e
dor (9,09%) em ambos os lados. Nenhum dos pacientes apresentou o sintoma de choque.
Os acometimentos dos nervos periféricos dos membros inferiores
podem gerar a garra dos pododácticos, que é chamada de dedos em martelo, gerando assim as incapacidades e deformidades pela diminuição da
força dos músculos devido aos nervos estarem lesados (AZULAY; AZULAY;
AZULAY-ABULAFIA, 2008).
A hanseníase é uma doença que causa muitos preconceitos, principalmente em virtude das incapacidades físicas e deformidades causadas por lesões nos nervos periféricos. Sendo assim, é de fundamental
importância a detecção precoce dos casos para que seja dado início ao
tratamento, pois este, quando realizado em tempo hábil evita, em grande
parte, a evolução das incapacidades causadas por esta moléstia.
4
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos evidenciaram que somente 20,75% dos portadores de hanseníase multibacilares que são acompanhados pelas equipes de saúde da família da regional sul têm o preenchimento da ficha
11
Sousa, A. S. A.; Castro, H. R. M. ; Neto J. A. S.
de avaliação dermatoneurológica, mostrando que médicos e enfermeiros
não estão realizando essa etapa que é de fundamental importância na
prevenção e no diagnóstico de incapacidades dermatoneurológicas.
Considerando o levantamento dos dados contidos nas fichas foi
possível observar que a maioria dos pacientes apresentavam incapacidades de grau 0 (zero) e nenhum com incapacidade grau 2.
Vale ressaltar que, mesmo não tendo sido evidenciada nenhuma
incapacidade grau 2, é de fundamental importância a realização da avaliação dermatoneurológica e do grau de incapacidade, uma vez que esta
permite fazer um controle e acompanhamento das sequelas que a enfermidade pode ocasionar.
Com a realização do presente trabalho foi possível concluir que os
profissionais das equipes de saúde da família não estão realizando o exame para avaliação do grau de incapacidades do portador de hanseníase,
de acordo com o padronizado pelo Ministério da Saúde. Acredita-se que
a situação encontrada possa ser revertida com uma atualização desses
profissionais, visando estimular o preenchimento da ficha para todos os
pacientes multibacilares, pois isso irá possibilitar a detecção precoce das
incapacidades fazendo com que o número de sequelas reduza-se ao máximo.
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12
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.9-12, Out-Nov-Dez. 2011.
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
O significado do diagnóstico de câncer do colo uterino para a mulher
The meaning of cervical cancer diagnosis for women
El significado del diagnóstico del cáncer de cuello uterino para la Mujer
Juscélia Maria de Moura Feitosa Veras
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI). Especialista em
Saúde Pública e Saúde da Família. Docente do curso
de enfermagem da Faculdade NOVAFAPI. Enfermeira
da ESF de Teresina-PI. Enfermeira assistencial da
Maternidade Dona Evangelina Rosa, Teresina–PI
email: [email protected]
Inez Sampaio Nery
Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Escola
de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ). Professora
Associada II da UFPI do curso de Enfermagem e
Programas de Mestrado em Enfermagem e Políticas
Públicas. Teresina- PI. email: [email protected]
RESUMO
Este estudo tem como objetivo descrever e analisar as vivências de mulheres com câncer de colo
uterino, frente às alterações biopsicossociais e culturais ocorridas em suas vidas após o diagnóstico.
Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva com abordagem qualitativa cujo método utilizado foi
História de Vida, realizado com 15 mulheres. Os dados foram coletados pela autora, no período de
janeiro a março de 2010, que utilizou, para abordar os sujeitos, a técnica de entrevista do tipo aberta
ou prolongada. Os resultados mostram que o momento do recebimento do diagnóstico da doença
foi dramático e carregado de intensas emoções. Os dados incitam que as reações diante do momento da informação do diagnóstico de câncer é um dos mais críticos da vida de uma mulher. Assim,
acredita-se que na abordagem à mulher com câncer de colo uterino é essencial que a enfermeira
conheça a história de vida dessas mulheres como forma de aprender a lidar com as alterações vivenciadas por elas, destacando-se a importância do diálogo nesse processo de interação e de cuidado.
Descritores: Saúde da mulher. Câncer de colo do útero. Enfermagem.
ABSTRACT
This study aims to describe and analyze the experiences of women with cervical cancer, compared
to biopsychosocial and cultural changes occurring in their lives after diagnosis. It is a descriptive type
of research with a qualitative approach whose method was Life History, performed with fifteen women. The data were collected by the author in the period from January to March of 2010, who used
to approach the subject, the interview technique of the open type or prolonged. The results show
that the moment of receiving the diagnosis of the disease was dramatic and full of intense emotions.
The data incite that reactions of the time of information of cancer diagnosis is one of the most critical in a woman’s life. So, it is believed that during the approach to women with cervical cancer it is
essential that the nurse knows the story of their lives as a way to learn to deal with the changes experienced by them, highlighting the importance of dialogue in this process of interaction and care.
Descriptors: Women’s health. Cervical cancer. Nursing.
RESUMEN
Submissão: 05/03/2011
Aprovação: 12/06/2011
Este estudio tiene como objetivo describir y analizar las experiencias de las mujeres con cáncer
de cuello uterino, en comparación con los cambios biopsicosociales y culturales que ocurren en su vida después del diagnóstico. Es un tipo de investigación descriptiva con enfoque
cualitativo cuyo método de la Historia de Vida fue utilizado, desarrollado con 15 mujeres. Los
datos fueron recogidos por la autora en el período de enero a marzo de 2010, que se utilizó
para tratar los sujetos, la técnica de entrevista de tipo abierto o prolongado. Los resultados
muestran que el momento de recibir el diagnóstico de la enfermedad era dramático y lleno de
emociones intensas. Los datos incitan que las reacciones en el momento de la información del
diagnóstico es uno de los más importantes en la vida de una mujer. Por lo tanto, se cree que en
el acercamiento a las mujeres con cáncer de cuello uterino es esencial que la enfermera conozca la historia de su vida como una forma de aprender a lidiar con los cambios experimentados
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.13-18, Out-Nov-Dez. 2011.
13
Veras, J. M. M. F.; Nery, I. S.
por ellas, destacando la importancia del diálogo en este proceso de
interacción y atención.
Descriptores: Salud de la mujer. Cáncer de cuello uterino. Enfermería.
1INTRODUÇÃO
O câncer de colo uterino (CCU) constitui-se um grave problema de
saúde pública que atinge as mulheres em todo o mundo. Sendo que a incidência é cerca de duas vezes maior em países menos desenvolvidos quando comparada aos países mais desenvolvidos, e o Brasil representa uma
taxa expressiva desta estatística. A distribuição de novos casos, de acordo
com a localização primária, é bastante heterogênea, entre os estados e
capitais brasileiras. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, a
neoplasia cervical é a de maior incidência na região Norte (23/100.000).
Nas regiões Centro-Oeste (20/100.000) e Nordeste (18/100.000), ocupa a
segunda posição mais frequente e nas regiões Sul (21/100.000) e Sudeste
(16/100.000), a terceira posição (BRASIL, 2010).
Estudos realizados sobre mortalidade entre as mulheres demonstram que o CCU, apesar de apresentar queda nas taxas de mortalidade,
ocupa ainda lugar de destaque como causa de óbito. A taxa de mortalidade é elevada nas diversas faixas etárias, ocorrendo o pico de incidência do
carcinoma in situ entre 25 e 40 anos, e o carcinoma invasor situa-se entre
48 e 55 anos (SOARES et al. 2010).
Quando se analisa os diversos fatores de riscos para o câncer de
colo uterino, como: baixa condição sócio-econômica, início precoce da
atividade sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, tabagismo, higiene
íntima inadequada, uso prolongado de contraceptivos orais e a exposição
às doenças sexualmente transmissíveis, especialmente o papiloma vírus
humano (HPV), pode-se observar a íntima relação com as condições econômicas, sociais e culturais das mulheres, ou seja, com as suas condições
de vida (SOARES, 2007).
Por ser uma doença de evolução lenta, o câncer de colo uterino
tem um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, chegando perto
de 100% quando diagnosticado precocemente, sendo isso possível porque a patologia tem uma fase pré-clínica longa, e o exame para detecção
precoce, o Papanicolau, é eficiente, de baixo custo, de fácil realização e de
grande aceitabilidade tanto pela população quanto pelos profissionais de
saúde. O exame é realizado a nível ambulatorial e não provoca dor (GREENWOOD; MACHADO; SAMPAIO, 2006).
Neste sentido, este estudo traz como questão central a reflexão
sobre as vivências de mulheres com o diagnóstico de câncer do colo uterino, num contexto onde a incidência e a prevalência desse tipo de câncer
mantêm-se elevada, apesar das ações estratégicas para o seu controle,
através das Políticas de Atenção à Saúde da Mulher, existentes no Brasil.
Além disso, sabe-se que o câncer não é um simples problema físico, mas
um problema que envolve a pessoa como um todo.
O câncer do colo de útero é uma doença temida pelas mulheres,
visto que o útero possui um significado expressivo na vida da mulher, representando a sexualidade, a feminilidade e a capacidade de reprodução
inerente a este ser. Nesse contexto, a maneira como a pessoa percebe o
diagnóstico da doença pode ter influências culturais, pessoais e do próprio
ambiente, influenciando na esperança de tratamento e cura (ALMEIDA;
PEREIRA; OLIVEIRA, 2008).
Discutir, portanto, como vivem as mulheres com câncer de colo
uterino, buscar conhecer como elas encaram sua sexualidade, as altera14
ções, os medos e ansiedades que interferem nessa vivência seria uma forma de contribuir para com o resgate da cidadania dessas mulheres.
O câncer ainda é visto como sinônimo de morte e como uma doença
que não se deve mostrar, devido o estigma que se encontra arraigado às
pessoas. O diagnóstico da doença confere ao indivíduo discriminação e rejeição da sociedade, interferindo em seu convívio familiar e até mesmo nas
suas tarefas produtivas, o individuo precisa enfrentar não somente a doença,
mas o descrédito da sociedade. Dessa forma, o desamparo social leva as pessoas ao medo do sofrimento, manifestado no longo tratamento da doença.
Portanto, o diagnóstico do câncer de colo uterino leva a mudanças
biológicas, psicológicas, sociais e espirituais na vida da mulher e de seus
familiares. A mulher tenta, na medida do possível, adaptar-se a essa nova
situação, enfrentando as respostas negativas relacionadas, principalmente, ao medo da morte. Ao tempo em que compromete a sua saúde física,
o bem-estar e a qualidade de vida (OLIVEIRA; FERNANDES; GALVÃO, 2005).
Dessa forma, ao receber o diagnóstico de câncer, é importante que
o profissional, responsável direto pela paciente, informe adequadamente
a essa pessoa e sua família sobre o tratamento, as reações adversas ocasionadas pela terapia, os cuidados específicos a ser instituídos, a importância
de manter o tratamento e a necessidade do apoio da família. Visto que o
conhecimento sobre a doença e a sua evolução leva a um melhor suporte
ao doente e aos seus familiares, auxiliando a enfrentar os problemas que
poderão vir a acontecer (BARROS; LOPES, 2007).
De modo geral, pode-se observar que o diagnóstico de câncer tem
efeito devastador na vida dessas mulheres, pois traz a idéia de morte, o
medo de mutilações e o desfiguramento provocados pelos dolorosos tratamentos, além das perdas decorrentes da doença. Ocasionando o surgimento de vários problemas emocionais (OLIVEIRA; FERNANDES; GALVÃO, 2005).
Baseado nessas alterações psicológicas decorrentes dessas mudanças, despertou-se o interesse em aprofundar os conhecimentos na área de
oncologia, em virtude de o doente oncológico necessitar de uma assistência mais integral, respeitando as situações subjetivas, onde se valorize
os aspectos biopsicossociais, culturais e espirituais auxiliando, assim, no
processo de construção de estratégias para enfrentamento da doença.
Dessa maneira, mostra-se evidente a necessidade de buscar compreender o sofrimento dessas mulheres nesse seu existir no mundo com
câncer, uma vez que entendemos sua importância na ligação enfermagem/mulher e mãe/cuidado (SALES; MOLINA, 2004).
Este estudo é um recorte da dissertação de mestrado cujo
objeto de estudo é a vivência de mulheres com câncer de colo uterino. A
inquietação que deu origem a este estudo emergiu da prática profissional como docente da disciplina saúde da mulher e como enfermeira da
Estratégia Saúde da Família (ESF) há dez anos. Ao longo deste período,
constatou a alta incidência de câncer de colo uterino.
Analisando-se o panorama apresentado, a importância do câncer
como um problema de saúde pública em nosso país, e visto ser o câncer
de colo uterino uma doença com elevado potencial de prevenção e cura
(100%), quando diagnosticado precocemente é, pois, merecedor de uma
atenção especial por parte dos profissionais de saúde, e em especial da
Enfermagem, podendo contribuir para o controle, a prevenção, a detecção
precoce e a reabilitação do seu estado de saúde. Em virtude da diversidade de alterações vividas por essas mulheres ante o diagnóstico de câncer,
julga-se oportuno este estudo com as mulheres que vivenciam o processo
de adoecer e o enfrentamento da doença.
A partir dessa problemática, elaborou-se como objetivos do presente estudo: descrever e analisar as vivências de mulheres com câncer
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.13-18, Out-Nov-Dez. 2011.
O significado do diagnóstico de câncer do colo uterino para a mulher
de colo uterino, frente às alterações biopsicossociais, culturais e espirituais
ocorridas em suas vidas após o diagnóstico.
2
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva com abordagem qualitativa cujo método utilizado foi História de Vida, que prioriza a idéia e os
significados da vida da entrevistada, sem interferência da pesquisadora.
A pesquisa qualitativa parte da reflexão do próprio sujeito sobre sua vivência, e a partir daí passa a buscar compreender acerca do universo dos
significados, valores, sentimentos, crença e atitudes.
O estudo foi realizado no setor de radioterapia e quimioterapia de
uma instituição filantrópica de grande porte, referência para tratamento
do câncer, localizado em Teresina-PI. Esta instituição possui 366 leitos foi
fundada em 1979, apóia o ensino e a pesquisa e faz parte do Sistema de
Procedimentos de Alta Complexidade na Área do Câncer (SIPAC), do Ministério da Saúde. O referido ambulatório funciona como referência na
Região Norte e Nordeste no atendimento de pacientes portadores de neoplasias, prestando um atendimento especializado a uma grande parcela
da população local e também de estados vizinhos. Sendo conveniado ao
Sistema Único de Saúde, atendendo casos de alta e média complexidade.
Para atender as exigências estabelecidas pela Resolução n.º 196/96
do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que dispõe sobre as Diretrizes e Normas Regulamentares de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, como passo
inicial foi solicitado autorização por escrito ao Centro de Ensino e Pesquisa
da instituição em questão, a seguir o projeto foi encaminhado para análise junto ao Comitê de Ética em Pesquisa da universidade Federal do Piauí
(UFPI). O projeto foi aprovado sob parecer nº CAAE-0199.0.045.000-09.
Participaram deste estudo 15 mulheres com diagnóstico comprovado de CCU. As mulheres eram identificadas na recepção e convidadas
a participar do estudo. Aquelas que concordaram em participar do estudo, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, garantindo o
anonimato e confidencialidade dos depoimentos. Os dados foram coletados pela autora, no período de janeiro a março de 2010, que utilizou, para
abordar os sujeitos, a técnica de entrevista do tipo aberta ou prolongada.
O referencial teórico utilizado para dinamizar as análises e discussão foi construído a partir dos relatos de vida que surgiram, mediante o
método história de vida e para responder e os objetivos propostos. A análise se deu a partir do referencial teórico e metodológico de Bertaux (2005).
De acordo com Bertaux (2005), o modelo de análise proposto não
parte da elaboração de hipóteses previamente estabelecidas, mas se desenvolve a partir e na relação, produzindo um saber em participação. Para
tanto, o sujeito e o pesquisador situam-se num mesmo nível e vão construindo juntos o processo. Assim, encontra-se a possibilidade desse sujeito
de refazer sua trajetória, de reconstruí-la, re-significando seu caminho.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos relatos da história de vida das mulheres, foi possível
compreender os diferentes aspectos vivenciados pelas mulheres no momento do diagnóstico da doença, sobretudo, um universo de sentimentos
permeados pelo medo, desespero, nervosismo e fé.
As mulheres relataram que o momento do recebimento do diagnóstico da doença foi dramático e carregado de intensas emoções. As reações diante do momento da informação do diagnóstico de câncer é um
dos mais críticos da vida de uma pessoa.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.13-18, Out-Nov-Dez. 2011.
Na história de vida das mulheres pesquisadas, observa-se que
foram grandes as reações ocasionadas pelo recebimento do diagnóstico
de câncer do colo uterino. Saber da doença as deixou em estado de choque, seguida por um grande medo de morrer, pois para a maioria o câncer
gera sofrimento e morte.
Neste sentido, tais reações e sentimentos, ao conhecer o diagnóstico de câncer do colo uterino, são decorrentes de comportamentos determinados pelos rótulos diagnósticos e foram percebidas com um grande
impacto.
O medo foi um dos sentimentos mais relatados na história de vida
das depoentes 01, 08 e 14, como evidenciado a seguir:
Quando eu soube, foi como se eu tivesse morrido [...] fiquei com medo de não dar
certo, quando eu vim à primeira vez foi muito difícil [...] pra mim eu vinha e não
voltava viva [...] pelo sangramento que eu tava sentindo [....] (Dep.1).
Quando eu descobri, a primeira vez eu fiquei com medo. Por que a gente sempre
fica né, com medo de morrer [...] (Dep. 8).
[...] Quando eu vou pra lá tomar aquelas injeções [...] eu fico assim nervosa [...] e eu
tenho medo mesmo. Ave Maria eu tenho tanto medo. Meu Deus do céu! ( Dep. 14).
Ao se reportar para as falas das depoentes, percebe-se facilmente
que as alterações psíquicas manifestadas por estas mulheres parecem perder sua força explicativa diante da magnitude e do impacto dessa situação.
O medo pode ocasionar um desequilíbrio na vida da mulher, levando-a a
incerteza e insegurança. Nesse aspecto, o que se pode observar é que as
mulheres referem terem ficado assustadas e nervosas, como uma primeira
reação diante do diagnóstico de câncer.
Kübler-Ross e Kessler (2004), ao trabalharem com pessoas com
câncer, observaram algumas reações desses indivíduos em relação à doença, como: afogar-se na autopiedade, na raiva ou no sofrimento, até ser
tarde demais; ou buscar ajuda, manter a doença em segredo; ou compartilhar sua luta com os entes queridos, dando-lhes a oportunidade de
crescer e evoluir.
Acredita-se que esse sentimento de medo que “rotula” o câncer
como doença fatal e estigmatizante, mais especificamente o câncer do
colo uterino para a mulher, visto que este órgão está relacionado com a
feminilidade e a maternidade, pode ser influenciado pela sua história de
vida pessoal, além de sua experiência individual, bem como pelo contexto
sociocultural em que essa mulher está inserida.
Para Helman (2003), algumas doenças permanecem arraigadas no
folclore do povo, tornando-se populares, como o câncer. Esse fato acontece devido à associação que os indivíduos fazem a crenças tradicionais
sobre a natureza moral da saúde, da enfermidade e do próprio sofrimento
humano. Assim, essa popularização da doença pode prejudicar o reconhecimento, o diagnóstico, manejo e o seu controle. Dessa forma, o câncer
conhecido como doença de difícil tratamento, prevenção e controle, gera
significados, como uma intensa ansiedade e medo.
Nas falas das depoentes 01, 08 e 14 fica evidente o medo da doença, que pode estar relacionado com o sentimento de inquietação frente a
um perigo real ou fictício, originado por uma situação concreta e maléfica,
porém com o auxílio de profissionais que possam fornecer orientações
fidedignas, esclarecendo suas dúvidas e anseios sobre a causa de sua aflição, a sensação de medo, apreensão e nervosismo pode ser substituída
pela sensação de alívio.
A história de vida das depoentes com diagnóstico de câncer do colo
uterino evidencia seus receios em lidar com a morte e a possibilidade de
morte, acarretando, dessa maneira, um desequilíbrio na vida dessa mulher.
15
Veras, J. M. M. F.; Nery, I. S.
Dessa forma, pode-se afirmar que essas mulheres revelam a vulnerabilidade emocional, ante a possibilidade da morte decorrente de uma
doença como o câncer, marcado por estigmas. Causando, ainda, a descredibilidade nos tratamentos e numa possível luta pela vida (ARAÚJO;
FERNANDES, 2008).
Todos os medos têm origem no medo da morte e de morrer. É
importante se conscientizar disso e aprender a lidar com o medo, principalmente o medo da morte, isso nos ajuda a encarar as outras coisas com
mais naturalidade. Compreender o medo da morte nos permite ter consciência de nossas perdas diárias, facilitando, assim, sentir e elaborar estas
perdas e dar suporte ao próprio processo de viver. O medo poderá ser
minimizado a partir da consciência e aceitação da própria terminalidade,
tornando-nos capazes de lidar com o tão doloroso processo de morte e
morrer. Porém, o ser humano tenta adiar o encontro com estes problemas
e estas perguntas enquanto não for forçado a enfrentá-los e só será capaz
de mudar as coisas a partir do momento que começar a refletir sobre a
própria morte (KÜBLER-ROSS, 2005).
A morte é parte integrante do processo de desenvolvimento humano e está presente no cotidiano diário de nossas vidas. A forma de percepção e significação do processo de morte e morrer variam conforme o
contexto sociocultural e histórico das diferentes civilizações. A compreensão sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na forma
como ela interage no seu dia a dia com o processo de morte e morrer.
Mesmo sendo considerada uma etapa natural pela qual todo e qualquer
ser vivo passa, a morte não é encarada como um evento natural entre os
seres humanos, pelo menos não em nossa cultura ocidental (AGRA; ALBUQUERQUE, 2008).
O medo da morte tem origem na própria história do ser humano,
onde são encontradas em suas quatro dimensões: Física, Emocional, Intelectual e Espiritual. Destaca-se aqui o medo irracional, impresso na dimensão física, onde todo o conhecimento é sensorial. Por volta dos sete anos
de idade é que o sistema nervoso humano conclui seu completo desenvolvimento, sendo que todo medo sentido até esta fase estará registrado
de forma visceral, na memória celular e não elaborável intelectualmente
(KÜBLER-ROSS, 2003).
No que se refere à dimensão emocional, o propósito é estabelecer
relacionamentos e a morte é sentida como rejeição ou abandono. Na dimensão intelectual, o propósito é lidar com as questões da vida de forma
lógica e racional e a morte é sentida como medo da entrega. Na dimensão
espiritual, o propósito é retornar à unidade e transcender o ego; a morte
aqui é sentida como medo de submeter-se ao desconhecido. Somente
alinhado em todas as suas dimensões o homem pode preparar-se para
encontrar a sua morte com dignidade (KÜBLER-ROSS, 2003).
Dessa maneira, para se prestar o cuidado em enfermagem, é necessário que se compreenda o medo da morte, pois o cuidado prestado
em sua totalidade só é eficaz quando se consegue compreender e aceitar
a realidade de nossa própria morte. Pois a perspectiva de contrair uma
doença que culturalmente evolui fatalmente para a morte ocasiona muito
medo nestas mulheres.
Neste sentido, segundo Ferrão (2010), desde a notícia do diagnóstico de câncer, até o término do tratamento surgem vários sentimentos e
sensações. Sendo uma fase de constantes mudanças, incertezas, inseguranças, marcada principalmente pelo medo da morte. Portanto, é importante discutir com a paciente sobre a morte, isso não irá aumentar a sua
ansiedade, mas sim amenizar o isolamento e o medo, tornando menos
alarmante a doença e seu tratamento.
16
Cabe ressaltar ainda, que de acordo com a cultura e os costumes
de cada povo, em épocas diferentes, o sentido dado à morte é distinto.
Os sentimentos e ritos ligados a esse acontecimento variam conforme a
evolução dos valores cultuados por cada sociedade.
Portanto, é possível afirmar que a morte e o morrer, apesar de ser
um fenômeno biológico e natural, assumem para o ser humano uma dimensão simbólica, impregnada de valores e significados diferentes conforme o contexto sócio-cultural e histórico em que se manifestam. Na Idade Média, o ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer como os
seus parentes e amigos (AGRA; ALBUQUERQUE, 2008).
Os ritos e sacramentos da igreja antes da morte, como a confissão,
comunhão e a extrema-unção, e após a morte, como o cortejo fúnebre, ritos
de purificação e passagem conduzidos pelo sacerdote, revelavam a espiritualidade e a religiosidade ligadas a esse processo (COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
Vale ressaltar que as mulheres ao vivenciarem um mundo desconhecido frente ao câncer de colo uterino e suas repercussões, desencadeiam sensações de conflito e aflição, suscitando um comportamento de
angústia, agitação e medo. Portanto, a visão das mulheres com relação
ao câncer é assustadora e temerosa, demonstrando, assim, o temor que
ele representa em suas vidas, desencadeando, desse modo, a perda do
equilíbrio, da saúde e do self (REGIS; SIMÕES, 2005).
Nesse processo, a escuta atenciosa da enfermeira é fundamental
tanto para auxiliar as mulheres na elaboração destes sentimentos, ouvir
suas fantasias com relação ao aparecimento do câncer, como ajudá-la a
participar ativamente de seu tratamento.
Observa-se que o medo da recidiva está presente no cotidiano de
mulheres portadoras de câncer como uma ameaça constante, conforme
o relato da depoente 04:
Tenho um pouco de receio, se vou ficar boa, porque como na minha família têm
histórico grande de câncer eu fico com medo de voltar em outra região[...] (Dep. 4).
No entanto, nos dias atuais, muitos são os casos de sobrevida. É fundamental, então, compreendermos a experiência de se viver com o câncer
de colo uterino, pois a incerteza é presença constante nas vidas dessas mulheres e se manifesta, geralmente, pelo medo de recorrência da doença.
Percebe-se que o medo da recidiva impede que ela viva plenamente, pois, segundo Kübler-Ross e Kessler (2004), o medo é uma sombra que
bloqueia tudo: nosso amor, nossos verdadeiros sentimentos, nossos desejos, nossa felicidade e até mesmo o nosso ser.
Ressalta-se, ainda, que o impacto do momento do diagnóstico
repercutiu tanto nas mulheres quanto nos seus familiares, provocando
reações como o desespero, apresentado pelas depoentes 02, 03, 04 e 09.
Foi horrível quando eu descobri. Estava no início do câncer, foi terrível eu sabia
que ia ter cura, sabia que ia fazer o tratamento [...] (Dep. 2).
Quando soube do diagnóstico a família toda ficou desorientada, em todo lugar
que eu tenho família de São Paulo pra cá [...] (Dep. 3).
Quando eu fiquei sabendo que estava com câncer no colo do útero, bateu o desespero. A primeira coisa que vem é o desespero. Chorei, chorei achando que fosse
ficar careca porque eu sou muito vaidosa, aí pronto. Depois passei mais ou menos
meia hora chorando levantei olhei pro médico e disse fazer o quê, têm tratamento? Têm então vamos fazer o tratamento [...] (Dep. 4).
Eu me desesperei assim porque minha família é fraca pra enfrentar um problema
desses, aí eu fiquei muito [...] aí agora tô me conformando Deus me dava coragem e o meio deu vencer [...] (Dep.9).
A maneira como as pessoas enfrentam um diagnóstico de uma doença grave ou fatal vai variar de acordo com a sua história de vida e, obviaRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.13-18, Out-Nov-Dez. 2011.
O significado do diagnóstico de câncer do colo uterino para a mulher
mente, com a forma como se coloca diante da vida. Segundo Kübler-Ross
(2005), o ser humano vive com a possibilidade da morte. Porém, ao ver-se
com uma doença associada à finitude, a mulher deixa-se dominar pelo
medo da morte, pois o medo acaba por exercer um grande poder sobre
a pessoa e, se ela não aprende a desafiá-lo e superá-lo, é vencida por ele.
Constatou-se, também, que dentre os sentimentos e as reações
desencadeadas pelas mulheres com a descoberta de uma doença maligna como o câncer de colo uterino, o choque, o choro e o nervosismo
foram presentes e muito relembrados. Conforme os depoimentos a seguir:
Quando eu descobri claro que a reação é ruim, tomei um choque [...] Mas sempre
com Deus no meu coração, chorei assim uma semana. Aí depois disso eu disse
pra que chorar [...] ( Dep. 5).
No início eu fiquei muito abalada, porque todos ficam. Mas depois eu me conformei [...] Quando eu soube fiquei um pouco nervosa [...] Porque eu nunca pensei
que estava com essa doença [...] (Dep. 6).
Na hora eu fiquei em estado de choque não falei nada, fiquei calada eu não
queria falar nada, porque pra me tinha acabado tudo. Meu Deus acabou! [...]
(Dep. 12).
Aí quando me disseram eu chorei e vivo nervosa, eu vivo tão nervosa [...] (Dep. 14).
Nesses relatos fica claro que a revelação do diagnóstico de câncer
do colo uterino causou um estado de choque, provocando reações como
choro. Nesse propósito, acredita-se que essa reação esteja intimamente
ligada à história de vida de cada mulher, ao passo que, dependendo do
arcabouço psicológico, recursos internos e de sua personalidade, essa mulher irá elaborar de forma construtiva ou não as modificações que estão
ocorrendo em sua vida.
Dessa maneira, considera-se que o impacto do diagnóstico
de câncer desencadeia reações emocionais importantes na mulher, independente das formas terapêuticas a serem instituídas.
Sabe-se que ser diagnosticada por câncer é compreendido
pelas mulheres como uma experiência dramática, inesperada e chocante.
Reações como choque podem ser encontradas em diversos estudos, com
diferentes abordagens, e entre diferentes grupos sociais (SILVA, 2005).
Vale ressaltar que a mulher, ao receber o diagnóstico de câncer,
vivencia um estado temporário de choque do qual se recupera lentamente, dependendo da forma como é revelada a notícia, do tempo disponível
para se conscientizar do inevitável desfecho, e de como essa mulher foi
preparada para enfrentar certas situações da vida (KÜBLER-ROSSI, 2005).
Quanto às manifestações de choro e nervosismo referidas pelas
depoentes, percebe-se que a mulher costuma chorar muito ao receber o
diagnóstico de câncer, lamentando a perda de sua saúde e pressentindo
o risco de morrer. Dessa maneira, Avelino (2007) ressalta que a certeza da
enfermidade se concretiza no momento da informação do diagnóstico e é
neste momento que todas as esperanças se desfazem, reação esta manifestada através do choro como forma da vazão aos sentimentos.
A depoente 06 demonstra claramente o seu despreparo em encarar a situação vivenciada, pois nem mesmo consegue dizer o nome da
doença. Ocultar a palavra câncer é uma das formas utilizadas para afastar o
símbolo da doença, sendo esta a maneira encontrada para afastar a pesada carga que lhe é atribuída. De acordo com o exposto, Silva (2005) refere
que a palavra câncer é muitas vezes substituída por eufemismos, e por
meio de expressões como: aquela doença, tumor, mancha, massa, caroço.
Ao se reportar para as falas das depoentes 04 e 05, é possível observar que para algumas mulheres a negação surge como uma forma de
defesa, para talvez não entrar em contato com a fragilidade que envolve
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.13-18, Out-Nov-Dez. 2011.
esta situação e as mulheres se expressaram:
[...] Eu nunca me considerei uma pessoa doente com câncer [...] todo mundo fala,
nossa mais o câncer é uma doença muito dolorosa, pra mim não é, porque eu
não estou considerando que estou com ele [...] (Dep.4).
[...] Eu não me sinto doente, pra mim eu não tenho nada, porque eu tenho não
nada mesmo, tem o tratamento. Me sinto normal, pra mim que eu não eu tenho
nada [...] (Dep. 5).
A negação geralmente é manifestada como uma forma de “defesa
aparente”, utilizada quando se depara com situações de dificuldade. Nas
mulheres que vivenciam o câncer de colo uterino, esse sentimento pode
ser ainda mais exacerbado devido a sua vulnerabilidade nesse momento.
Neste contexto, a negação é um mecanismo de defesa bastante
utilizado em doenças crônicas como o câncer, que carrega um estigma
muito forte de desesperança. Podendo ser manifestada tanto pelo medo
de enfrentar a doença como pelo medo da morte, essas doenças possuem
uma capacidade de reprimir as emoções e negar os conflitos gerados pela
própria doença (REGIS; SIMÕES, 2005).
No presente estudo, pode-se identificar que a entrevistada 12, após
o diagnóstico e aceitação da doença, começou a buscar melhoras na qualidade de vida, demonstrando, assim, arrependimento e culpa por não ter
se prevenido antes.
[...] Eu estou aqui e o meu sentimento é que tem hora assim que o ser humano
é fraco né, o demônio é aquele que fica atentando, olha agora acabou não tem
mais jeito. Mas eu fico assim pensando que Deus é aquele que lhe conforta, ele
me conforta [...] Eu me arrependo assim de não ter feito [...] às vezes eu fico assim pensando por que eu não fiquei fazendo a prevenção, por que eu não fiquei
vindo [...] Mas se eu for pensar isso eu vou tá culpando o médico, eu vou tá me
culpando, então isso me traz mais angústia [...] Eu tenho que pensar que têm
tratamento e que eu vou ficar boa de novo [...] (Dep. 12).
Vale ressaltar que a psicologia da culpa se fundamenta na condenação de nós mesmos, na sensação de que fizemos algo errado e a culpa
é uma forma de evitar a realidade atual, e que precisa ser trabalhada e
eliminada através da aceitação do passado (KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2004).
Os mesmos autores consideram que este período de incerteza é difícil,
mas não se deve lutar contra a mudança, pois precisamos descobrir uma
maneira de acolhê-la, ou pelo menos aceitá-la.
Dessa forma, observa-se que a doença induz à consciência da necessidade de modificar determinados hábitos, o processo de adoecer leva
a mulher a uma valorização da vida e do cuidado consigo mesma, priorizando o seu desenvolvimento pessoal.
Neste sentido, considera-se que o ser humano, ao encarar a própria
finitude e compreender essa imensa agonia, a incerteza, a inquietude e a
dor que isso implica, renasce como uma pessoa diferente e um novo tipo
de existência se abrem à sua frente (KÜBLER-ROSS, 2005).
O medo é o apelo da alma e ao expressá-lo a pessoa procura curá-lo, para que possa crescer. Dá ao indivíduo a oportunidade de escolher de
novo, de fazer as coisas de maneira diferente, de escolher o amor e não o
medo, a realidade ao invés da ilusão, o agora e não o passado. Ao encará-lo de frente e lutar contra as limitações que ele impõe, ele torna-se capaz
de viver a vida mais plenamente, superando dificuldades e limitações. A
pessoa que vive com medo não está realmente vivendo, pois o medo da
morte, possivelmente, é a causa da maior parte de sua infelicidade (KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2004).
Dessa maneira, apesar da mulher ter vivenciado a doença e todas
as suas agruras, a enfermeira, ao prestar o cuidado à mulher com câncer
de colo uterino, deve encorajá-la a se libertar do medo e lutar. Pois, no mo17
Veras, J. M. M. F.; Nery, I. S.
mento em que a fé superar o medo, a culpa e a negatividade, percebe-se
um ser humano capaz de superar os obstáculos da vida.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes concepções de saúde e doença decorrem em diferentes
construções culturais, e podem levar a implicações biológicas, emocionais e interpessoais vivenciadas com a revelação do diagnóstico de câncer. Desse modo,
receber um diagnóstico de câncer do colo uterino fez com que estas mulheres
vivessem uma das experiências mais inusitadas e inesperadas de suas vidas.
Por meio do método história de vida e estimulado por essas considerações, foi possível reconhecer as alterações biopsicossociais ocorridas
em sua vida em virtude do câncer de colo uterino. A mulher, ao falar, relaciona crenças e normas apreendidas na sua história de vida e dá sentido
ao que está vivendo. Com esse sentido, ela direciona comportamentos e
novas formas de pensar.
Cabe ressaltar que na abordagem à mulher com câncer de colo
uterino é essencial que a enfermeira conheça a história de vida dessas mulheres como forma de aprender a lidar com as alterações vivenciadas por
elas, destacando-se a importância do diálogo nesse processo de interação
e de cuidado.
Pode-se verificar que de modo geral, para a mulher, o impacto do
diagnóstico é centrado em interações, nas visões de mundo e de si mesma
que ela construiu ao longo da vida. Neste estudo, observou-se que vivenciar o impacto do diagnóstico de câncer do colo uterino é representado
pelas mulheres por reações emocionais complexas e sentimentos de difícil
elaboração.
Esta pesquisa serviu também para uma reflexão pessoal e profissional, como enfermeiras e docentes. Através dela foi possível detectar a
necessidade urgente das enfermeiras docentes e assistenciais desenvolverem mais estudos na área visando à melhoria da assistência prestada.
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18
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.13-18, Out-Nov-Dez. 2011.
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Vivendo com depressão: histórias de vida de usuários de um Centro
de Atenção Psicossocial
Living with depression: life histories of users of a Psychosocial Care Center
Viviendo con depresión: historias de vida de usuarios de un Centro de Atención Psicosocial
Mariza Márcia Rodrigues Gomes
RESUMO
Graduada em Enfermagem pela Faculdade NOVAFAPI
Aline Raquel de Sousa
Graduada em Enfermagem pela Faculdade NOVAFAPI
Fernanda Matos Fernandes Castelo
Branco
Docente da Graduação do curso de enfermagem e
dicente do Mestrado Profissional Saúde da Família da
Faculdade NOVAFAPI.
Claudete Ferreira de Souza Monteiro
Doutora em Enfermagem. Docente da Graduação
e do Mestrado Profissional Saúde da Família da
Faculdade NOVAFAPI e Professora da graduação e do
Mestrado Acadêmico em Enfermagem da UFPI
O transtorno depressivo vem se caracterizando como um importante problema de saúde pública,
sendo 2 a 3 vezes mais frequente em mulheres. Junto a isso, sabe-se que através das histórias de vida
pode-se compreender como os indivíduos convivem com esta patologia, enfrentam o tratamento
e lidam com a situação. Esse estudo teve como objetivos compreender e descrever histórias de
vida de usuários do Centro de Atenção Psicossocial II – Norte com depressão. A pesquisa possui
uma abordagem qualitativa e a investigação foi realizada com 07 indivíduos com depressão que
frequentam o Centro de Atenção Psicossocial II- Norte, Teresina–PI. Evidenciou-se que as informantes são conscientes de seu problema e que o indivíduo depressivo perde a vontade de realizar suas
atividades diárias, isola-se e torna-se dependente dos outros para a execução de tarefas simples do
cotidiano e até do autocuidado. A presença de uma situação estressora que culminou com o início
da depressão também foi observado no estudo. Após o acompanhamento no Centro de Atenção
Psicossocial, houve uma transformação nos aspectos da vida social das informantes, promovendo
independência e autonomia. Percebeu-se ainda que a história de vida dos indivíduos possui aspectos importantes para a obtenção de subsídios que direcionarão um planejamento da assistência
mais individualizada e singular.
Descritores: Depressão. Saúde mental. Enfermagem.
ABSTRACT
The depressive disturbance is being characterized as an important problem of publie health, being
twice more frequent in women. In addition, we know that through their life histories, we can understand how individuals live with this pathlogy, face the treatment and deal with the situation. This
study had as objective to understand and describe life histories of depressive users of the Psychological Attention Center II- North. This research has qualitative approach and the investigation was
made with seven users with depression. They attend the center for Psychological Attention Center
II- North, Teresina-PI. We observed that the informers are aware of their problems and that the depressive individual does not feel like to accomplish their daily activities: they isolate themselves and
become dependent of others to accomplish simple daily tasks and even carry out self-care. The
presence of a stressed situation at the beginning of the depression was also evident in this study.
After se accompaniment in the aspects of their social life, promoting independence and autonomy.
We also noticed that the life history of the individuals. Have important aspects for the acquirement of
subsidies which will direct a much more singular and individualized planning of assistance.
Descriptors: Depression. Mental health. Nursing.
RESUMEN
Submissão: 09/08/11
Aprovação: 12/09/11
El trastorno depresivo ven caracterizándose como un importante problema de salud pública, siendo
2 a 3 veces más frecuente en mujeres. Junto a eso se sabe que a través de las historias de vida se
puede comprender como los individuos conviven con esta patología, enfrentan el tratamiento y
lidian con la situación. En este aspecto, ese estudio tuvo como objetivo comprender y describir
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.19-23, Out-Nov-Dez. 2011.
19
Gomes, M. M. R.; et al.
historias de vida de usuarios del Centro de Atención Psicosocial II-Norte
con depresión. La pesquisa tiene abordaje cualitativo y la investigación fue
realizada con 7 usuarias con depresión que frecuentan el Centro de Atención Psicosocial II-Norte, Teresina-PI. Se evidenció que las informantes son
conscientes de su problema y que el individuo depresivo pierde la voluntad en realizar sus actividades diarias, aislase y tornase dependiente de los
otros para la ejecución de tareas simples del cotidiano y auto cuidado. El
inicio de la enfermedad ocasionado por una situación estresante también
fue evidenciado en el estudio. Después del acompañamiento en el Centro
de Atención Psicosocial II, hubo una transformación en los aspectos de la
vida social de las informantes, observándose independencia y autonomía.
En faz del expuesto, se percibió que la historia de vida de los individuos
posee aspectos importantes para la obtención de subsidios que direccionarán un planeamiento de la asistencia más individualizada y singular.
Descriptores: Depresión. Salud mental. Enfermería.
assistência singularizada e holística, tornando o indivíduo com sofrimento psíquico ativo no seu processo de saúde-doença (RIBAS; BORENSTEIN,
PADILHA, 2007).
Diante desse desafio, os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS)
surgem como uma das estratégias de reorganização de serviços de atenção à saúde mental, com o objetivo de evitar o isolamento, a estigmatização e a discriminação, buscando emancipar o indivíduo, a família e a comunidade, com a inclusão do indivíduo na sociedade (MEDEIROS, 2005).
Dessa forma, estudos que busquem ouvir a pessoa que vivencia a
doença, conhecer sua experiência e o contexto em que está inserida são
de grande relevância para os profissionais de saúde, na busca de subsídios
para a elaboração de um plano terapêutico particular e que proporcione
melhoria na vida desses pacientes.
Face ao exposto, esse estudo teve como objetivos compreender
histórias de vida de usuários com depressão de um Centro de Atenção
Psicossocial.
1
2
INTRODUÇÃO
O transtorno depressivo vem se caracterizando como um importante problema de saúde pública, pois se trata de uma doença que apresenta um curso crônico e recorrente, acarretando sérios prejuízos na vida
dos indivíduos. Adicionalmente, por apresentar um quadro clínico marcado por estados sentimentais que diferem em grau e espécie de acordo
com cada indivíduo, a mensuração em estudos epidemiológicos ainda é
um problema frequente.
Dados epidemiológicos revelam a presença de depressão em 6 a
17% da população mundial, cujos tratamentos utilizados não apresentam
eficácia significativa pelo fato de que respostas parciais ou inadequadas
ao tratamento ainda são um evento comum. Comparada a outras condições médicas, a depressão acarreta maiores prejuízos no funcionamento
físico, social e na qualidade de vida dos acometidos em número bastante
expressivo, estimando cerca de vinte e três vezes mais do que aquele causado por outras doenças físicas (LIMA; FLECK, 2009).
Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde estima que nos
próximos vinte anos a depressão sairá do quarto lugar e ocupará o segundo lugar no ranking de doenças dispendiosas e fatais, ficando atrás
somente das doenças cardiovasculares (OMS, 2001).
O transtorno depressivo é uma doença que afeta milhões de pessoas no mundo, sendo mais comum em pessoas com idade entre 24 e 44
anos. Além disso, a depressão é 2 a 3 vezes mais frequente em mulheres
do que em homens. Embora as razões não estejam totalmente esclarecidas, questionam-se fatores ligados ao estresse, parto e efeitos hormonais
(ABREU; SALZANO; VASQUES, 2006).
Na lógica assistencial, faz-se necessário intervenções que possibilitem ao paciente com transtorno depressivo viver com melhor qualidade
de vida e autonomia, devendo ser ambientado em espaços que não mais
considerem esse indivíduo apenas como um ser acometido por uma doença mental, mas sim como um indivíduo singular que precisa de cuidados que visem atender às suas necessidades.
Nesse contexto, ressalta-se que o processo da Reforma Psiquiátrica ocorrida na Saúde Mental Brasileira foi o acontecimento responsável
pelas mudanças ocorridas nos modelos assistenciais de cuidado à pessoa com transtorno mental, passando de um caráter hospitolocêntrico e
estigmatizante para uma lógica social e reintegradora. Essa reforma vem
gradativamente transpondo os muros de manicômios para buscar uma
20
METODOLOGIA
A pesquisa realizada caracteriza-se por uma abordagem qualitativa
baseada nas histórias de vida das pessoas, o que só é possível a partir da
relação e do conhecimento humano. Esse tipo de pesquisa propicia campo livre ao potencial das percepções e subjetividade dos seres humanos
(GIL, 2009).
A investigação foi realizada no Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS) II, que faz parte da Regional Centro - Norte de Teresina –PI, no período de abril a maio de 2011.
Foi escolhido como referencial metodológico a história oral de vida,
pois através da mesma pode-se captar o que acontece na intersecção do
individual com o social, assim como permite que elementos do presente
comuniquem-se com elementos do passado (JOSSO, 1999). Este mesmo
autor afirma ainda que a história oral tenta abranger a totalidade da vida
em seus diferentes registros e em sua duração. Não obstante, Dyniewicz
(2009) ressalta que não existe transcrição neutra, nela sempre estarão presentes as percepções do pesquisador.
Para a realização da pesquisa foram entrevistados sete usuários portadores de depressão que frequentam o CAPS II- Norte, considerando-se
o critério de esgotamento das falas. Os sujeitos deveriam estar em condições de diálogo para contribuir com a pesquisa, não devendo apresentar
comprometimento no pensamento a ponto de prejudicar a realização da
entrevista. Deviam querer participar voluntariamente, consentir e assinar
o termo de consentimento livre e esclarecido. Para garantir o anonimato
os entrevistados, foram adotados nomes de flores.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada, no qual o entrevistador faz pequeno número de perguntas abertas, e
as questões a serem respondidas não precisam seguir a ordem prevista no
guia de perguntas, podendo ainda ser formuladas algumas perguntas no
decorrer da entrevista (RUIZ, 2002). A entrevista foi registrada com o auxílio do gravador de voz (MP4), previamente autorizado pelo entrevistado.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade NOVAFAPI, com parecer do Processo CAEE nº 0064.0.043.000-11, juntamente com autorização da Fundação Municipal de Saúde, órgão responsável
pelo local do estudo. Iniciaram-se assim as entrevistas, respeitando os aspectos éticos e legais da Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde em pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996).
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.19-23, Out-Nov-Dez. 2011.
Vivendo com depressão: histórias de vida de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O grupo de sete informantes é formado por pessoas do sexo feminino, com idade entre 26 e 58 anos e com tempo de acompanhamento no CAPS
de 2 meses a 3 anos. A maioria é procedente de Teresina-PI, possui baixo nível de escolaridade e não tem vida conjugal, como se observa no quadro a
seguir.
Ressalta-se que a predominância do sexo feminino observada na pesquisa relaciona-se segundo Kaplan e Sadock (2007) com o fato de que a
depressão é 2 a 3 vezes mais frequente em mulheres, especulando-se, por isso, fatores ligados ao estresse, parto e efeitos hormonais.
Quadro 1- Caracterização sóciodemográfica dos sujeitos. CAPS II-Norte. Teresina-PI
SUJEITO
ORQUÍDEA
BROMÉLIA
CRAVO
ROSA
JASMIM
MARGARIDA
GIRASSOL
PROCEDENCIA
Teresina-PI
Teresina-PI
Batalha-PI
Teresina-PI
Teresina-PI
São João dos
Patos-PI
Teresina-PI
IDADE
31
29
45
28
26
58
30
ESCOLARIDADE
RELIGIÃO
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Sem Escolaridade
Ensino Médio
Ensino Superior
Ensino Fundamental
ESTADO
CIVIL
Divorciada
Solteira
Casada
Solteira
Solteira
Casada
Evangélica
Evangélica
Evangélica
Protestante
Evangélica
Católica
TEMPO
NO CAPS
18 meses
5 meses
2 meses
1 ano
2 meses
1 ano
Ensino Fundamental
Solteira
Sem religião
3 anos
Os resultados obtidos pelas falas configuraram relatos de história
oral acerca da vivência de indivíduos com depressão acompanhados pelo
CAPS II-Norte. Esses relatos resgatam desde a infância até o momento em
que se dispuseram a contar suas histórias de vida.
Ao narrar sobre suas infâncias e adolescências, as informantes evidenciaram que foram períodos “normais”, cheio de alegrias, brincadeiras,
responsabilidades, desencontros e descobertas.
Quando eu era criança eu era normal, normal. Eu era uma menina inteligente
tinha muita facilidade de aprender as coisas. E de me comunicar com as pessoas.
(Orquídea)
Quando eu era criança eu era muito feliz, todo mundo gostava de mim. Minha
adolescência também fui feliz, ia pras festas, namorava [...]. (Rosa)
Quando eu era criança eu era uma pessoa como qualquer outra - normal [...]
Eu sempre fui uma pessoa alegre, estudiosa, comunicativa, gostava de sair, todo
lugar era bom. (Jasmin)
Eu sempre fui normal, estudava, trabalhava, saia de casa com os amigos [...] antes eu era normal assim como vocês [...]. (Girassol)
Outros relatos mostram aspectos indicadores de tristeza e solidão
já nessa fase da vida.
Quando eu era criança já era meio tristonha, sei lá, acho que era meio doidinha,
já [...]. (Margarida)
[...] minha adolescência foi só dentro de casa, eu era daquelas pessoas que nem
botava a cara na porta. (Bromélia)
Os discursos demonstraram que a maioria das informantes apresentou infância e adolescência saudáveis, sem fatores estressores marcantes. Porém, duas informantes relataram a presença de sentimentos de
tristeza e solidão nessa fase da vida.
Bahls (2002) afirma que na depressão em crianças e adolescentes,
os fatores de riscos mais importantes são a presença de depressão em
um dos pais, aumentando o risco em pelo menos três vezes, seguido por
estressores ambientais, como abuso físico e sexual, e perda de um dos
pais, irmão ou amigo íntimo, circunstâncias essas não encontradas nos
depoimentos.
Na análise dos discursos das informantes, observou-se que a expressão “normal” assume um significado mais pejorativo, e demonstra a
ruptura do modo de viver causado pela doença, pois o termo é utilizado
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.19-23, Out-Nov-Dez. 2011.
em relatos de situações vividas antes do aparecimento da depressão, expressando a percepção da própria doença. A expressão denota também
o caráter estigmatizante dos transtornos psíquicos, incluindo a depressão,
ainda bastante vigente na sociedade atual.
Assim, pode-se evidenciar que as entrevistadas são conscientes de
seu problema e muitas vezes, até nas fases em que os sintomas da doença
tornam-se exacerbados, essa percepção de si continua presente, como se
observa nos seguintes depoimentos:
Quando eu tava em crise, já tinha vontade de retomar minha casa e cuidar dos
meus três filho e eu não conseguia de jeito nenhum, eu até tentava, mas não
conseguia. Essa depressão é que atrapalhava [...]. (Orquídea)
[...] porque eu passava o dia todim caminhando na rua e sabia o que tava fazendo e não conseguia parar. (Bromélia)
Com isso, o presente estudo corrobora com Gazalle et al. (2004)
que afirmaram que o indivíduo depressivo pode experimentar sentimentos de baixa autoestima e autoconfiança reduzida, ideias de culpa e sentimentos de irrealidade e ruptura com a personalidade. Contudo, assegura
que mesmo na presença desses sentimentos, e dependendo da gravidade
da doença, o indivíduo pode manter preservada a percepção de si.
Outro aspecto evidenciado foi à similaridade quanto ao início da
doença das participantes do estudo. Nos relatos, observou-se a presença
de uma situação deflagradora, um evento marcante que culminou com o
início da depressão ou acentuação do quadro depressivo.
Berlim (2005) enfatiza o impacto de uma separação traumática de
objetos ou indivíduos de apego significativo para o individuo, na qual a
quebra desses laços afetivos é que irá predispor o indivíduo à depressão
futuramente, ou seja, o estressor de vida é um dos fatores de maior risco
para o desenvolvimento do quadro depressivo.
No meu casamento era muita briga, aí ele me abandonou [...] eu fazia tudo em
casa e nunca agradava e ainda chegava brigando [...] Aí aquilo ficou [...] e depois
que eu entrei em depressão me perguntava ainda mais o porquê. (Orquídea)
[...] meu namorado terminou comigo, aí eu fiquei sem dormir, voltou tudo de
novo o que eu sentia e comecei a caminhar na rua com impaciência e ansiedade.
(Bromélia)
O começo mermo da depressão começou quando meu filho [...]se envolveu no
mundo das drogas [...]. (Cravo)
21
Gomes, M. M. R.; et al.
Adoeci de depressão desde que fui demitida do meu emprego. Aí fiquei agitada e
agressiva com todo mundo. (Rosa)
Depois de alguns problemas com minhas irmãs que queriam a herança do pai e
da mãe antes deles morrerem, pois é [...] já se viu isso? Aí veio essa tristeza, esse
“aperrei” que não tinha como controlar. (Margarida)
Nos discursos das informantes, observou-se que as mesmas apresentaram um quadro depressivo intenso e marcante, em que tristeza, solidão e angústia foram à tríade clínica mais citada.
Eu lembro que me sentia triste, com uma dor de angústia no peito [...]. (Rosa)
[...] Aí começou essa tristeza, essa solidão, esse aperrei que não tinha como controlar. (Margarida)
É uma tristeza tão forte, tão intensa que não se sabe explicar de onde vem, e
muita solidão [...]. (Jasmim)
[...] fiquei “agoniada”, triste, com uma angústia muito ruim. (Girassol)
Hoje me sinto bem melhor [...] já voltei a trabalhar e com o tratamento aqui do
cap toda semana não me sinto mais triste como antigamente. É uma vitória até
tá conversando com você agora porque antes nem isso eu queria fazer [...]. (Rosa)
No exposto pelas entrevistadas, pode-se perceber que, para àquelas que conviviam com as crises, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
vem possibilitando a realização do tratamento em nível ambulatorial, capaz de oferecer um suporte mais estruturado aos indivíduos em sofrimento psíquico.
Dessa forma, o CAPS possibilita ao indivíduo enfrentar as crises
em seu ambiente familiar, evitando a internação e, consequentemente,
diminuindo a cronicidade. No entanto, é importante ressaltar que, como
todas as informantes eram parceiras ativas em seu tratamento, notou-se
uma melhora significativa do quadro depressivo da grande maioria delas,
corroborando com os estudos de Moll e Saeki (2009) ao afirmarem que a
atitude do paciente é de fundamental importância para o tratamento, pois
se ele acredita na possibilidade de melhora, há uma influência positiva na
resposta clínica.
Além disso, esses indivíduos perderam a vontade de realizar suas
atividades diárias, isolaram-se do convívio social e familiar, e, com grande frequência, tornaram-se dependentes dos outros para a execução de
tarefas simples do cotidiano e até do autocuidado, como relatado abaixo:
Não tinha vontade de fala [...] eu passei quase um ano sem falar com ninguém,
só ficava calada. Não tinha vontade de tomar banho [...] aí eu fiquei seis meses de
cama, sem caminhar, não comia, só tomava sopa e líquido, não tinha vontade de
sair, só com tristeza. (Orquídea)
Mas eu nunca desisti, sempre tentando superar [...]. (Orquídea)
[...]desse jeito, vou vencer a depressão [...]. (Bromélia)
É relevante citar que após o acompanhamento no CAPS, houve
uma transformação nos aspectos da vida social e familiar das entrevistadas. Algumas readquiriram independência e autonomia, tornando-se novamente responsáveis por suas atividades anteriores.
[...] Quando eu estou em crise não consigo fazer nada, que ninguém nem me
pergunte que eu mais pareça um saco, não falo com ninguém. (Margarida)
Meus filho já tão hoje comigo na minha casa e um com minha irmã. (Orquídea)
Quando eu estou com a depressão eu não posso tá no meio de muita gente, não
ando de ônibus mas porque tenho medo de me perder. E foi algo muito ruim pra
mim, porque eu era uma pessoa de luta, de muita garra, trabalhadeira, batalhadora, não importava estudo [...]. (Cravo)
Hoje me sinto bem melhor,.já voltei a trabalhar com o tratamento aqui [...]. (Rosa)
Contudo, para Abreu, Salzano e Vasques (2006), mesmo que o humor depressivo seja típico dos quadros depressivos, ele não é exclusivo
para o diagnóstico. Há a presença de outros sintomas psíquicos como desinteresse, redução de energia, diminuição da capacidade de pensar. Além
disso, o indivíduo experimenta insônia com piora do humor, ou pode ainda apresentar hipersonia. A depressão pode ainda vir associada à redução
ou ao aumento do apetite, redução do interesse sexual, acompanhados
de retraimento social, crises de choro, comportamento suicida e retardo
ou agitação psicomotora, reafirmando os achados da presente pesquisa.
Outras informantes ainda se encontram em processo de readaptação à “nova realidade” (desemprego, retomada da vida social e familiar,
dependência, volta a escola, dificuldade de enfrentamento).
[...] sentia aquela sensação ruim, só aquela angústia me matando, tremia tudo,
me esquecia das coisas, era ruim demais [...]. (Girassol)
[...] porque antes era só tristeza e uma agitação danada. (Rosa)
Diante da observância da depressão como uma doença debilitante e dispendiosa, o surgimento de um novo paradigma na saúde mental possibilitou um acompanhamento mais individualizado e singular, o
que torna os sujeitos com depressão mais ativos no seu próprio processo
saúde-doença.
Hoje estou bem, o tratamento aqui é bom. Estou forte e não mais tão triste como
antigamente [...] já estou bem recuperada e sei enfrentar as coisas agora [...]
quando acontece algo tento enfrentar com mais força que antes. (Margarida)
Atualmente estou bem, graças a Deus. Com o acompanhamento do caps tá muito bom. Aqui a gente faz oficinas, desenhos, coisas mesmo pra passar o tempo.
Quando cheguei aqui a crise ainda tava muito forte. Estou aqui há cinco meses e
já tive boa melhora, porque eu passava o dia todinho caminhando na rua e sabia
o que tava fazendo e não conseguia parar. (Bromélia)
22
[...] já estou bem recuperada e sei enfrentar as coisas agora. Quando acontece
algo tento enfrentar com mais força que antes [...] nas crises [...] (Margarida)
Ah, minha vida é assim: não estudo e nem trabalho, tá com três anos que frequento o caps, estou aqui todo dia de manhã. Ainda tô muito dependente, não
consigo fazer as coisas direito sozinha, ainda me sinto triste. Mas acho que já
melhorei. (Girassol).
Hoje aqui no caps tá bom, o negócio é que quando eu saio daqui os problemas
sempre tão, né? [...] e até hoje qualquer coisa ruim que acontece já me tranco.
(Cravo)
Nesse aspecto, deve-se ressaltar que o CAPS tenta recriar as relações existentes entre a família, sociedade e pacientes com transtorno
mental. A aliança de tratamento com a família é priorizada, de modo a
permitir que os pacientes desenvolvam suas potencialidades, fortalecendo suas relações sociais e tentando reinseri-los em um ambiente de comunidade (RIBAS; BORENSTEIN, PADILHA, 2007).
Em face da realidade apresentada, considera-se que o CAPS contribuiu significativamente com o tratamento e reabilitação dos indivíduos
que sofrem com a depressão, pois possibilitou enriquecer a vida desses
usuários, além de mitigar as mudanças ocasionadas pela doença, interferindo nas diferentes esferas de suas vidas.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização desse estudo, percebe-se que cada história de
vida das informantes tem suas particularidades. Pode-se compreender
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.19-23, Out-Nov-Dez. 2011.
Vivendo com depressão: histórias de vida de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial
de forma mais ampla como estes indivíduos convivem com a depressão,
como enfrentam o tratamento e lidam com toda a situação, desde o cotidiano e vivência no ciclo familiar e social até situações de enfrentamento.
As participantes do estudo são cientes de seu estado mórbido.
Sabem e relembram fatos do passado que foi o estopim para o aparecimento da doença, de modo que, ao narrar suas histórias, elas foram
refazendo seu percurso na vida, revendo os fatos e dando significados
a eles.
Diante desta problemática, pode-se perceber a necessidade de
ampliação de um conhecimento pautado numa nova forma de ver o indi-
víduo com depressão, a fim de motivar pesquisas na área da saúde capazes de definir formas mais eficientes de obter subsídios que direcionarão
um planejamento da assistência mais singular que contemple o indivíduo
em suas principais necessidades.
Para a enfermagem, cuja principal meta é o cuidado integral e holístico ao indivíduo, o estudo revigora a necessidade de um olhar mais
direcionado aos indivíduos com transtornos metais e a busca por uma
assistência que promova autonomia e melhor qualidade de vida a esses
pacientes deve ser uma constante dentro do plano de cuidados desse
profissional.
REFERÊNCIAS
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“histórias de vida” a serviço de projetos. Educ. Pesqui., v. 25, n. 2, p.1123, jul. 1999.
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BERLIM, M. T. Transtornos depressivos, ideação suicida e qualidade de vida em pacientes deprimidos ambulatoriais. 2005.
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GAZALLE, F. K; et al. Sintomas depressivos e fatores associados em população idosa no Sul do Brasil.Rev. Saúde Pública. São Paulo, v. 38, n. 3, p. 365-371, jun. 2004. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.19-23, Out-Nov-Dez. 2011.
23
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais
de enfermagem em um hospital público
Analysis of disease occurrence of removal of professional nursing in a public hospital
Análisis de la ocurrencia de la enfermedad de la eliminación de la enfermería profesional en un hospital
público
Marianne Lopes Chaves
Graduando em Enfermagem pela Faculdade
NOVAFAPI e-mail: [email protected]
Mônica Rodrigues de Araújo
Graduando em Enfermagem pela Faculdade
NOVAFAPI.
Susane de Fátima Ferreira de
Castro
Enfermeira. Mestre em Políticas Públicas. Docente da
Faculdade NOVAFAPI, email: susaneffcastro@hotmail.
com
Luciane dos Anjos Formiga
Cabral
Enfermeira. Especialista em Enfermagem Médico
Cirúrgica em Prevenção e Controle das Infecções
Hospitalares.
RESUMO
Estudo de natureza quantitativa, realizado em Teresina (PI), com o objetivo de analisar a ocorrência
e as causas de afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem e conhecer as principais
patologias que esses profissionais são acometidos. Os dados foram coletados através da análise documental do livro de registro de atestados dos funcionários, dos atestados arquivados na gestão
de pessoas e através de formulários. Após a coleta, os resultados foram organizados em tabelas e
gráficos, e analisados e discutidos conforme as variáveis preponderantes. Quanto ao sexo, 93% dos
trabalhadores são do sexo feminino. A prevalência de atestados foi na UTI (17%). A principal causa
de absenteísmo foi a Convalescença após cirurgia (10%). Quanto ao número de dias, os maiores
índices foram de 6 a 30 dias de afastamento (48%). Com relação ao número de atestados médicos
apresentado, a prevalência foi de 1 atestado por funcionário. Concluiu-se que é importante o desenvolvimento de políticas e ações que tenham a saúde do trabalhador como foco, evitando-se assim o
aumento dos gastos públicos, a redução da assistência prestada ao usuário e proporcionando uma
melhor qualidade de vida a essa população.
Descritores: Saúde do trabalhador. Absenteísmo. Enfermagem.
ABSTRACT
Quantitative study, conducted in Teresina (PI), in order to analyze the occurrence and causes of sickness absenteeism of nursing professionals and know the main pathologies that these professionals are involved. Data were collected through document analysis of the register of certificates of
employees, the certificates filed in the management of people and through form. After collection,
the results were organized in tables and charts, and analyzed and discussed as the predominant
variables. Regarding gender, 93% of workers are female. The prevalence of certificates was in the
ICU (17%). The main cause of absenteeism was the convalescence after surgery (10%). Regarding
the number of days, the highest rates were from 6 to 30 days off (48%). Regarding the number of
medical certificates submitted, the prevalence was attested by an employee. It was concluded that
it is important to the development of policies and actions that have a focus on worker health, thus
avoiding the increase in government spending, reducing assistance to the user and providing a
better quality of life for this population.
Descriptors: Occupational health. Absenteeism. Nursing.
RESUMEN
Submissão: 06/08/2011
Aprovação: : 05/09/2011
24
Estudio cuantitativo, realizado en Teresina (PI), con el fin de analizar la incidencia y las causas de
absentismo de los profesionales de enfermería y conocer las principales patologías que estos profesionales están afectados. Los datos fueron recogidos a través de análisis de documentos del registro
de los certificados de los empleados, el certificado que se presenten en la gestión de las personas y a
través del formulario. Después de la colección, los resultados fueron organizados en tablas y gráficos,
y análisis y discusión de las variables predominantes. En cuanto al género, el 93% de los trabajadores
son mujeres. La prevalencia de los certificados se encontraba en la UCI (17%). La principal causa de
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital público
ausentismo fue la convalecencia después de la cirugía (10%). En cuanto
al número de días, las tasas más altas eran de 6 a 30 días fuera (48%). En
cuanto al número de los certificados médicos presentados, la prevalencia
fue confirmada por un empleado. Se concluyó que es importante para el
desarrollo de políticas y acciones que tengan un enfoque en la salud de
los trabajador es, evitando así el aumento del gasto público, reducción de
la ayuda para el usuario y proporcionar una mejor calidad de vida de esta
población.
Descriptores: Salud ocupacional. El absentismo. de enfermería.
1
INTRODUÇÃO
A saúde no mundo tem evoluído em termos tecnológicos, com
avanços científicos por meios de diagnósticos e terapêuticas e cada vez
mais observa-se investimentos que possibilitam a prevenção, melhoria ou
cura das doenças. Estes avanços permitiram também investimentos na
saúde dos profissionais, buscando condições de trabalho e preservando
a saúde do trabalhador.
A saúde do trabalhador é o conjunto de atividades que se destina,
através de ações de vigilância e vigilância sanitária, à promoção e proteção
da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação
da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das
condições de trabalho (ANZAI, 2008).
A Política Nacional de Saúde do Trabalhador visa à redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, através de ações de promoção,
reabilitação e vigilância na área de saúde. Suas diretrizes compreendem a
atenção integral à saúde, a articulação intra e intersetorial, a participação
popular, o apoio a estudos e a capacitação de recursos humanos (BRASIL,
2004).
Na equipe de saúde, a enfermagem – enfermeiros, técnicos e auxiliares em enfermagem representam uma parcela significativa dos trabalhadores da saúde, atuando não somente no âmbito hospitalar, como
também a domicílio, exercendo atividades que exigem esforço e força
física tais como mudança de decúbito do paciente.
As doenças ocupacionais têm se tornado algo comum no ambiente hospitalar e em sua maioria acometem a equipe de enfermagem, uma
vez que esses profissionais lidam diretamente com o paciente, materiais
perfuro cortantes, equipamentos, soluções e outros (SILVA et al. 2010).
Segundo Mantovani e Teixeira (2009, p. 415) “Os enfermeiros compartilham os perfis de adoecimento e morte da população em geral, em
função de sua idade, gênero, grupo social ou inserção em um grupo específico de risco”. Estes prestam uma assistência ininterrupta 24 horas por dia
que visa o cuidado e recuperação sempre levando em conta o bem-estar
do paciente. Os profissionais são passíveis de alterações de saúde que
muitas vezes estão associadas à forma como reagem e respondem aos
eventos do trabalho. Vale ressaltar que o trabalho exerce forte influência
sobre a saúde, e que, se não exercido de forma adequada, os profissionais
podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho.
A ocorrência de acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho
nos trabalhadores de enfermagem tem sido relatada em inúmeros estudos, evidenciando uma séria problemática no campo da saúde pública
que reflete, diretamente, na qualidade de vida do trabalhador e na qualidade da assistência prestada aos usuários. Isto porque os trabalhadores
são recursos para essa assistência e os processos de desgaste, ao gerarem
limitações e comprometimentos, implicam, muitas vezes, no afastamento
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
do trabalho, gerando o absenteísmo (SANCINETTI et al. 2009).
O processo de trabalho de enfermagem permite a interação do trabalhador com cargas de trabalho que geram diversos processos de desgaste e implicam na ausência do trabalhador. O absenteísmo por doença
compromete a qualidade de vida do trabalhador de enfermagem, o que
irá refletir na qualidade da assistência prestada aos usuários.
Diante dessa questão este estudo tem como objetivo de pesquisa
analisar a ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de
enfermagem em um hospital público.
2
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva com abordagem
quantitativa realizado
em um hospital de referência do estado, localizado na cidade de
Teresina-PI.
O número de sujeitos da pesquisa está condicionado ao número de
atestados médicos apresentados pelos profissionais de enfermagem. Conforme dados da instituição, informou que recebeu 296 atestados médicos
no ano de 2010, representando cerca de 25 atestados por mês. Constituindo, portanto a fonte de dados da pesquisa.
Os critérios de inclusão utilizados foram todos os profissionais de
enfermagem de ambos os sexos, que se afastaram de suas atividades no
ano de 2010 mediante atestados médicos. Ficaram exclusos os que estão
fora deste período.
A população total de atestados era de 296, sendo que destes, 166
não foram usados porque não estavam preenchidos de forma correta, de
modo que 130 atestados compuseram a amostra do estudo.
Para a coleta de dados foi utilizada uma análise documental do livro
de registro de atestados dos funcionários de enfermagem e dos atestados
arquivados na gestão de pessoas, e ainda através de formulário, tendo as
variáveis: Código Internacional de Doenças (CID – 10) -patologia, número
de atestados, número de dias de afastamento, setor e sexo. Durante essa
coleta foi preservada a identidade dos profissionais envolvidos na pesquisa.
A coleta de dados foi realizada somente através dos atestados médicos apresentados pelos profissionais de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) no ano de 2010, não havendo, portanto
participação direta destes profissionais.
Após a coleta, os dados foram organizados em tabelas e gráficos,
utilizando o Microsoft Excel 2007 e os resultados apresentados foram analisados e discutidos conforme as variáveis preponderantes e suas interrelações, com a literatura pertinente.
Foram respeitadas as normas da Comissão Nacional da Ética em
Pesquisa (CONEP), contidas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde e a pesquisa só foi iniciada após autorização pelo Hospital Getúlio
Vargas de Teresina – PI. E aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da Faculdade NOVAFAPI, sob nº de CAAE nº. 0189.0.043.000-11.
3
RESULTADOS
A seguir, apresenta-se os resultados da pesquisa, com a prevalência
dos funcionários que apresentaram atestados médico de acordo com o
sexo, setor de trabalho, diagnóstico médico, número de dias de afastamento durante o ano e reincidência de atestados apresentados por um
mesmo funcionário.
25
Chaves, M. L.; et al.
Gráfico 1. Prevalência dos funcionários que apresentaram atestados
médico de acordo com o sexo. Teresina-PI, 2011 (n=130)
Considerando que o total de atestados médicos analisados foi de
130, a tabela 2 mostra que a convalescença após cirurgia foi a principal
causa de afastamento 14 (10%), seguida de hipertensão essencial 10 (8%),
diarréia 10 (8%), além de pessoas em contato com serviços de saúde 5
(4%), dor lombar baixa 5 (4%), transtornos de discos lombares 4 (3%) e
por último dengue 4 (3%). As outras patologias somaram 78, o que correspondeu a 60%.
Gráfico 2. Número de dias de afastamento durante o ano. Teresina-PI, 2011(n =130)
Fonte: Pesquisa direta
O gráfico 1 mostra que dos 130 atestados que foram analisados
no estudo, 7% do grupo estudado são homens, enquanto que 93% dos
trabalhadores são mulheres.
Tabela 1 - Número de afastamentos dos funcionários segundo o setor de
trabalho. Teresina-PI, 2011 (n=130)
Setor
n
%
UTI
22
17,0
Cl. Médica
13
10,0
Cl. Cirúrgica
12
9,2
CME
12
9,2
Facime
10
7,7
Cl. Especializada
9
6,9
Neurologia
9
6,9
Ginecologia
8
6,2
Ortopedia
8
6,2
Dermatologia
5
3,8
Urologia
5
3,8
Oftalmologia
4
3,1
Ambulatório
3
2,3
Centro Cirúrgico
3
2,3
Pneumologia
3
2,3
Nefrologia
3
2,3
Endoscopia
Total
1
130
0,8
100
Na tabela 1 observa-se que o setor que mais apresentou atestado
médico foi a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com um nº de 22 atestados, o que corresponde a 17,0% do total, logo seguida da Clínica Médica
com 13 atestados (10%); A Clínica Cirúrgica e CME (Central de Material
Esterilizado) apresentaram o mesmo número de atestados 12 (9,2%).
Tabela 2 – Percentuais dos atestados conforme o diagnóstico médico. Teresina-PI, 2011 (n =130).
Patologia CID 10
n
%
Convalescença após cirurgia
Z 54.0
14
10%
Hipertensão essencial
I 10
10
8%
Diarréia
A 09
10
8%
Pessoas em contato com os serviços de saúde Z 76
5
4%
Dor lombar baixa
M 54.5
5
4%
Transtornos de discos lombares
M 51.1
4
3%
Dengue
A 90
4
3%
Outras Patologias
78
60%
Total
130
100%
Fonte: Pesquisa direta
26
Fonte: Pesquisa direta
Em relação ao número de dias de afastamentos, os maiores índices
estiveram entre trabalhadores que possuíram de 6 a 30 dias de afastamento (48%), ou seja, um número menor que dois meses, 28% apresentaram
de 1 a 5 dias de afastamento, enquanto que 24% dos funcionários apresentaram 31 dias ou mais.
Gráfico 3. Reincidência de atestados apresentados por um mesmo
funcionário. Teresina-PI, 2011 (n =130)
Fonte: Pesquisa direta
O gráfico 3 mostra o nº de atestados médicos apresentado por funcionário durante o ano em estudo, em que predominou 1 atestado por
funcionário, ou seja, 67 trabalhadores apresentaram 1 atestado, 34 apresentaram 2 atestados, 23 apresentaram 3 atestados, 4 funcionários apresentaram 4 atestados e 1 trabalhador apresentou 5 atestados e um único
trabalhador apresentou 6 atestados durante o ano.
4
DISCUSSÃO
Na amostra em estudo, o predomínio foi de funcionários do sexo
feminino, estimativa já esperada, visto que essa predominância do sexo
feminino é característica da profissão enfermagem, o que está refletido
no local da pesquisa, pois a maior parte do quadro de enfermagem é do
sexo feminino.
O trabalho de enfermagem é marcante não somente por caracterizar-se como uma profissão essencialmente integrada por pessoas do sexo
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital público
feminino, como também pela especificidade das ações desenvolvidas no
dia-a-dia (GUERRER; BIANCHI, 2008).
Segundo Severino e Costa (2010), a predominância do sexo feminino na profissão da enfermagem continua como uma variável ainda universal, apesar da inclusão do sexo masculino está cada vez maior.
Vale ressaltar, ainda, que isto não significa que as mulheres adoeçam mais que os homens, mas que elas buscam com maior frequência os
serviços de saúde para realização de exames de rotina e prevenção, facilitando assim a identificação do diagnóstico e o tratamento precoce. No
entanto os homens procuram mais esses serviços por motivo de doença,
ou seja, quando o quadro da doença se encontra em estágio mais avançado ou grave, o que dificulta a possibilidade de recuperação.
Desde suas origens, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se destina
ao tratamento e cuidado de pacientes gravemente doentes, em situação
limite. É vista como um local estressante, onde o profissional de saúde
pode, a qualquer momento, lidar com o agravamento do quadro do paciente e até a morte (MIRANDA; STANCATO, 2008).
Verifica-se que em setores críticos como a UTI, a equipe de enfermagem compõe a maior equipe de trabalho dentro da unidade onde a
responsabilidade e o nível de atenção exigido são elevados, apesar do
funcionário cuidar muitas vezes de apenas um paciente. As atividades desenvolvidas por esses profissionais exigem bastante esforço físico, como é
o caso da mudança de decúbito, banho no leito, número diário de trocas
de lençol, ou seja, procedimentos à beira do leito, que determinam um
ritmo de trabalho intenso, ficando o funcionário mais vulnerável a riscos
de lesões articulares, por exemplo.
O bom desempenho e a alta produtividade dos trabalhadores estão diretamente relacionados com o ambiente organizacional em que o
trabalhador está inserido. A jornada de trabalho em UTI é muito exaustiva
por existirem diversas intercorrências, submetendo o trabalhador a lidar
diretamente com a morte onde são vivenciados sentimentos como angústia e ansiedade. Situações estas que diariamente contribuem para o
estresse dos profissionais (FARIA; BARBOZA; DOMINGOS, 2005).
O segundo setor em que houve maior afastamento dos seus profissionais foi a Clínica médica. O perfil desta clínica são pacientes crônicos,
geralmente àqueles que permaneceram vários dias na UTI. Ou seja, são
pacientes altamente dependentes da assistência de enfermagem, estando
o número de profissionais reduzidos para o cuidado destes, o que sobrecarrega o trabalhador.
Para Torres e Pinho (2006), os setores que apresentaram os mais elevados coeficientes de licença médica, no período estudado, foram: Clínica
Médica e UTI. Essas diferenças podem ser explicadas pelas características
do trabalho nessas unidades, onde o ambiente é tenso com o manejo de
situações intensas e penosas, podendo contribuir com os transtornos de
ordem física, química e psicológica, aumentando os riscos de agravos à
saúde e afastamento do trabalho.
A clínica cirúrgica também está incluída nestes setores. Apesar da
rotatividade de seus
pacientes ser maior, eles ainda merecem cuidados especializados,
pois muitas vezes estão com drenos, sondas, grandes curativos. Tudo isso
exige atenção e uma boa assistência dos profissionais, que constantemente põe a sua mecânica corporal em prática, visando à recuperação de seus
pacientes, o que se não for feito de maneira adequada, poderá provocar
doenças ocupacionais ao longo do tempo.
Outro setor que mereceu destaque foi a CME (Central de Material
Esterilizado), pois é um local muito desgastante, devido a seu ambiente
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
fechado que restringe a interação social, trazendo desgaste físico e mental
aos seus funcionários.
De acordo com Lopes et al (2007), o trabalho desenvolvido na CME
torna-se rotineiro, monótono e fragmentado, com um grande número de
atividades a serem realizadas com urgência, rigor e responsabilidade, exigindo destes trabalhadores equilíbrio físico e mental no desenvolvimento
de suas atividades laborativas.
A causa principal dos afastamentos dos profissionais de enfermagem foi devido à convalescença após cirurgia, não sendo possível especificar, com as informações disponíveis, o procedimento cirúrgico ao qual
o funcionário foi submetido, por não estar devidamente registrado nos
atestados médico.
O estudo de Cunha (2007) mostra que a convalescença após cirurgia foi, isoladamente, o diagnóstico de maior freqüência, sendo este
confirmado em pesquisa de campo, revelando que 34% foram relativas
a cirurgias do aparelho digestivo, 26% do aparelho geniturinário, 11% do
sistema osteomuscular e 10% de condições decorrentes de causas externas.
A hipertensão essencial foi a segunda maior causa de afastamento
por doença. Isto é facilmente justificável, visto que a enfermagem é uma
profissão estressante. Para Cavagioni e Pierin (2011), os profissionais de
saúde que atuam em serviços hospitalares estão expostos a ambientes
conflituosos, alta exigência de trabalho, estresse físico e mental, alteração
no ritmo circadiano, dentre outros fatores que podem contribuir para o
surgimento da hipertensão arterial e consequentemente aumentar o risco
cardiovascular.
É válido afirmar também que muitos profissionais se afastaram de
suas atividades laborais por apresentarem episódios de diarréia. Esta condição se deve ao fato de que os profissionais alimentam-se muitas vezes
erroneamente, ou seja, não mantém um padrão de alimentação saudável
devido à correria do dia a dia. Tudo isto pode gerar uma imunidade baixa,
estando o trabalhador mais vulnerável a adquirir doenças.
As condições inadequadas de trabalho vivenciadas pelos profissionais de enfermagem podem acarretar em inúmeros problemas de saúde:
transtornos alimentares, de eliminação e estresse. Além disso, a equipe de
enfermagem encontra-se exposta a todos os tipos de riscos, físicos, biológicos, ergonômicos, psicológicos e de acidentes em seu ambiente de trabalho. Sendo assim, esses problemas podem afetar diretamente a saúde
dos trabalhadores, desencadeando o adoecimento e, consequentemente,
provocar o absenteísmo (MARTINATO et al. 2010).
Quanto ao número de dias dos afastamentos do trabalho verifica-se que a duração de 6 a 30 dias foi a prevalente. Tais dados podem sugerir casos crônicos ou agudos, necessitando assim que o trabalhador
mantenha-se afastado de suas atividades por mais dias, para uma melhor
investigação.
Em relação ao número de atestados, observou-se que um atestado
por ano é um evento passageiro, podendo acometer qualquer profissional
durante um ano de trabalho. No entanto a imprevisibilidade do atestado
médico de poucos dias desorganiza o setor, uma vez que a Gerência de
Enfermagem terá pouco tempo para recrutar outro profissional para cobrir a ausência na escala de serviço. Os afastamentos desfalcam as escalas
interferindo diretamente na assistência prestada ao cliente exigindo tanto
uma organização do setor de trabalho, quanto dos profissionais relativo à
quantidade e disponibilidade.
Alguns funcionários apresentaram reincidência de atestados, e isto
é visto como algo preocupante, pois após determinado período de afas27
Chaves, M. L.; et al.
tamento, o trabalhador necessita novamente ficar ausente do trabalho, ou
por não se recuperar totalmente ou por haver novos episódios da doença.
Barboza e Soler (2003) aponta que esse perfil de afastamento se
assemelha ao dos portadores de doenças crônicas, como a hipertensão, os
quais, após determinado período de licença, freqüentemente necessitam
permanecer ausentes por não estar em condições de retornar ao trabalho.
Esses dados são importantes para uma melhor com¬preensão
do fenômeno e para inter-venções no serviço mais significativas para a
prevenção efetiva das doenças no trabalho e na promoção da saúde dos
trabalhadores.
5
CONCLUSÃO
Segundo os objetivos definidos para este estudo verificou-se que
ocorreram 130 episódios de afastamentos do trabalho, por atestado médico, no período de janeiro a dezembro de 2010, envolvendo os trabalhadores de enfermagem. Tal fato revela que os profissionais de enfermagem
estão sujeitos a episódios de adoecimento dentro do seu próprio ambiente de trabalho.
Na análise dos afastamentos por doença, verificou-se que o sexo
feminino foi o predominante. O setor que mais apresentou atestado foi a
UTI. Em relação às principais causas de absenteísmo está a convalescença
após cirurgia, não sendo possível identificar que patologia levou esta cirurgia, pois os atestados analisados estavam isentos desta causa. A partir
do estudo realizado, foi constatado que uma parte dos atestados médicos
28
apresentava ausência de informações importantes para sua análise, desta
forma deve haver uma melhor capacitação dos profissionais quanto ao
preenchimento correto destes atestados.
A cerca do número de dias de afastamento, o estudo mostrou a
predominância de seis a trinta dias de atestado. A aproximação com o objetivo do estudo permitiu verificar que houve a reincidência de atestado
médico por um mesmo profissional. A partir disso, foi possível verificar
que esta reincidência é prejudicial para a instituição hospitalar, pois tem
que arcar com mais recursos financeiros, e principalmente para a saúde do
trabalhador, visto que ele necessitou ausentar-se de seu trabalho por mais
um episódio de doença.
Nesse sentido, os dados reafirmam a necessidade de desenvolver
estratégias de cuidado com os trabalhadores da instituição em estudo.
Muitas vezes, o foco das instituições hospitalares são os doentes, estando
seus trabalhadores em segundo plano. É necessária a adoção de medidas que visem diminuir as ausências da equipe ao trabalho por motivo de
doença, melhorando a qualidade da assistência, bem como seu nível de
satisfação no trabalho contribuindo para uma assistência de enfermagem
mais humanizada.
Entende-se que é extremamente importante o desenvolvimento
de políticas e ações que tenham a saúde do trabalhador como objeto de
atenção, incluindo estratégias de cuidado e proteção a esses trabalhadores de enfermagem, evitando-se assim o aumento dos gastos públicos, a
redução da assistência prestada ao usuário o que irá proporcionar uma
melhor qualidade de vida a essa população.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.24-29, Out-Nov-Dez. 2011.
Análise da ocorrência dos afastamentos por doença dos profissionais de enfermagem em um hospital público
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29
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
O significado da sexualidade para o idoso assistido pela estratégia
saúde da família
The meaning of sexuality for the elderly aided by the family health strategy
El significado de la sexualidad para el anciano asistido por la estrategia salud de la familia
Elizângela de Moura da Silva
Graduando em Enfermagem doCentro de Ensino
Unificado de Teresina - CEUT. Teresina. Piauí. email:
[email protected].
Gessica Linhares Melo
Graduando em Enfermagem do Centro de Ensino
Unificado de Teresina - CEUT. Teresina. Piauí. email:
[email protected].
Mayara Madeira de Carvalho
Graduandoem Enfermagem do Centro de Ensino
Unificado de Teresina - CEUT. Teresina. Piauí. email:
[email protected].
Jaqueline Carvalho e Silva
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí. Docente da Faculdade
NOVAFAPI. Teresina. Piauí. e-mail: jaquelinecarvalho@
novafapi.com.br.
Vera Lúcia Evangelista de Sousa Luz
Enfermeira. Especialista em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI). Docente do
Centro Unificado de Teresina – CEUT. Teresina. Piauí.
Teresina. Piauí. e-mail: [email protected].
RESUMO
O envelhecimento corresponde a uma etapa da vida do ser humano que é permeada por diversas
mudanças bio-psico-sociais que poderão influenciar a maneira como este idoso vivencia sua sexualidade. Partindo desse pressuposto, objetivou-se descrever e discutir o significado da sexualidade
para o idoso assistido pela Estratégia Saúde da Família. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, que teve como cenário a Unidade Básica de Saúde do Satélite, no município de Teresina-PI. Os
sujeitos constituíram-se de 15 idosos que foram realizar consulta de demanda espontânea. A coleta
de dados deu-se através de entrevistas com um roteiro semi-estruturado, gravados e transcritos na
íntegra. Esta pesquisa teve como referencial a análise de conteúdo e para o tratamento do material
utilizou-se a técnica de análise temática. Com isso foi possível a formação de três categorias: a sexualidade no sentido amplo para os idosos, a sexualidade para o idoso como sinônimo de sexo e o
desconhecimento da temática sexualidade para o idoso. Conclui-se o quanto é importante que os
profissionais de enfermagem busquem conhecer e compreender qual o significado que a sexualidade tem na vida do idoso, para que assim o enfermeiro possa proporcionar uma assistência integral
e holística.
Descritores: Envelhecimento. Sexualidade. Enfermagem.
ABSTRACT
The aging corresponds to a stage in human life, that is filled with many bio-psycho-social changes,
influencing way the elderly to live their sexuality. Based on this assumption, this research aims to
describe and discuss the meaning of sexuality for the elderly assisted by the Family Health Strategy.
This is a qualitative study, which took place at the Basic Health Unit on Satellite neighborhood, at city
of Teresina-PI. The subjects consisted of 15 seniors who came for a doctor appointment spontaneously.
Data collection occurred through interviews from a semi-structured questionnaire, recorded and fully
transcribed. This research was based on the content analysis and for the information processing, the
technique of thematic analysis was used. It allowed to form three categories: sexuality for the elderly as
a synonym for sex, sexuality in the broad sense for the elderly, the lack of sexuality knowledge by the
elderly. It was concluded, how important it is, that nurses seek to know and understand the meaning
that sexuality has in the life of the elderly, so than, nurses can provide a unmitigated and holistic care.
Descriptors: Aging. Sexuality. Nursing.
RESUMEN
Submissão: 05/07/2011
Aprovação: 06/08/2011
30
El envejecimiento corresponde a una etapa de la vida humana que está lleno de muchos cambios
bio - psico - sociales que pueden influir en la forma en que este anciano vivencia su sexualidad. En
base a esta suposición, y tuvo como objetivo discutir el significado de la sexualidad para los ancianos
con la asistencia por la Estrategia de Salud de la Familia. Se trata de un estudio cualitativo, que tuvo
lugar en la Unidad Básica de Salud del Satélite, la ciudad de Teresina-PI. Los sujetos estaban formados por 15 ancianos que fueron realizar consulta de demanda espontanea. La colecta de datos se
dio a través de entrevistas con un guión mitad – estructurado, grabados y transcritos en la integra.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.30-35, Out-Nov-Dez. 2011.
O significado da sexualidade para o idoso assistido pela estratégia saúde da família
Esta investigación tuvo como referencial el análisis temático. Con eso fue
posible la formación de tres categorías: la sexualidad en el sentido ancho
para los ancianos, la sexualidad para el anciano como sinónimo de sexo, el
desconocimiento de la temática sexualidad para el anciano. Se concluí el
cuanto es importante que los profesionales de enfermaría procuren conocer y comprender cuál es el significado que la sexualidad tiene en la vida
del anciano, para que así el enfermero pueda proporcionar una asistencia
más integral y holística.
Descriptores: Envejecimiento. Sexualidad. Enfermería.
versalidade, integralidade e equidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o que foi exposto anteriormente a ESF surge
como um local de possibilidades e de suporte para os profissionais de
saúde desenvolver atividades que abordem a temática da sexualidade do
idoso como uma energia vital e indispensável à vida. Assim, este estudo
teve como objetivo descrever e discutir o significado da sexualidade para
o idoso assistido pela ESF, e a partir disso, contribuir com uma prática mais
holística e reflexiva por parte dos profissionais da saúde, em especial o
enfermeiro.
1
2
INTRODUÇÃO
Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU (1982), por meio
da Resolução 39/125, a definição de idoso é diferenciada para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos primeiros, são idosas as pessoas
com 65 anos ou mais, já nos segundos são idosas as pessoas com 60 anos
ou mais. Esta definição é relacionada de acordo com a expectativa, o estilo
e a qualidade de vida que cada país proporciona a seus cidadãos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas IBGE (2008), em 2050 haverá cerca de 63 milhões de pessoas acima de 65
anos. Isso se deve ao declínio da fecundidade, a diminuição da mortalidade e às mudanças no contexto cultural, social e econômico. Atualmente
a maior proporção de idosos encontra-se, principalmente, nos estados do
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraíba.
Nesse sentido, Smeltzer e Bare (2009) definem o envelhecimento
como um processo de mudanças funcionais, físicas e mentais, contudo,
este processo acontece de maneira e velocidade diferentes para ambos
os sexos, podendo ser influenciados por fatores genéticos, psicológicos,
culturais e/ou estilo de vida.
Assim, as alterações bio-psico-sociais que ocorrem durante o envelhecimento podem comprometer a capacidade de uma pessoa idosa de
atuar de forma independente em suas atividades rotineiras, e também na
maneira como a pessoa idosa irá vivenciar essa etapa de sua vida, suas relações interpessoais, além de sua sexualidade. Dentre essas mudanças destacam-se os aspectos ligados a sexualidade que se moldam de acordo com
o estilo de vida, e as vivências de cada um (VASCONCELLOS et al. 2004).
De acordo com Negreiros (2004), o conceito de sexualidade diferencia-se de sexo, pois a primeira é concebida como energia, libido, que
tem o intuito de unir as pessoas, objetos, idéias, ideais e a atividade sexual,
mas não se resume apenas em sexo, embora represente uma de suas importantes dimensões.
Vasconcelos et al. (2004) e Catusso (2005) afirmam que a abordagem da sexualidade na terceira idade é permeada por mitos, tabus e preconceitos, pois acreditava-se que a sexualidade estava relacionada apenas
à atividade sexual e que portanto, após o declínio da função sexual por
volta dos 50 anos de idade, o idoso não possui mais necessidades ou sentimentos afetivos.
Nessa perspectiva, a sociedade e os profissionais da saúde, em especial os enfermeiros, devem tratar o idoso com dignidade e incentivá-lo a manter sua autonomia, melhorando, assim, sua qualidade de vida.
Objetivando esses aspectos, além da promoção, prevenção e recuperação
da saúde, implantou-se a Estratégia Saúde da Família (ESF) em Teresina-PI, em 1997, visando prestar uma atenção básica de saúde diferenciada
aos grupos populacionais constituintes da comunidade, entre os quais
se destacam os idosos (SILVA, 2009). A ESF tem como papel prioritário a
reorganização da atenção básica e o fortalecimento dos princípios da uniRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.30-35, Out-Nov-Dez. 2011.
CAMINHO METODOLÓGICO
O estudo foi desenvolvido na abordagem qualitativa, sendo realizado na Unidade Básica de Saúde do Satélite, localizado à Rua Talma Iran
Leal, nº 4670, bairro Satélite na zona leste do município de Teresina-PI,
onde são desenvolvidas as atividades práticas da disciplina Curricular I, do
curso de Enfermagem da Faculdade - CEUT.
Os sujeitos desse estudo foram pacientes idosos de ambos os
sexos, na faixa etária de 60 anos de idade ou mais, que foram realizar
consulta (demanda espontânea) na UBS do Satélite e que aceitaram voluntariamente participar do estudo. Os mesmos foram informados sobre
a pesquisa mediante a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de todos os passos referentes à realização da pesquisa, podendo
estes se desvincular da investigação a qualquer momento conforme a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foram entrevistados
15 idosos.
Ele acha que a GNT deveria colocar (Foram entrevistados 15 idosos.), acima depois de participar do estudo. Eu acho q fikaria melhor, no
final ele ficou muito jogado.
Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Novafapi,
através do parecer de número CAAE 0028.0.043.000-11, foi iniciada a coleta dos dados. A técnica utilizada nesse estudo foi à entrevista semi-estruturada, para o registro fidedigno das entrevistas foi utilizado um gravador
digital. As entrevistas foram encerradas quando ocorreu a saturação dos
dados.
O presente estudo teve como referencial para a análise dos dados
a análise de conteúdo, que para Minayo (2010) configura-se como o momento em que se deve ir além do que esta sendo comunicado. Para o
tratamento do material, foi utilizada a técnica de análise temática que para
Marconi e Lakatos (2006) é transversal, isto é, consiste numa melhor compreensão do tema abordado, promovendo a idéia central e as secundárias,
as unidades e subunidades de pensamento, verificando a semelhança entre elas, seu modo e suas formas e procurando respostas para as questões
levantadas, tendo assim maior aprofundamento do exposto, reconstruindo a linha de raciocínio do autor, e fazendo emergir seu processo lógico
de pensamento.
3
ANÁLISE, DISCUSSÃO E RESULTADOS
Este estudo objetivou descrever e discutir o significado da sexualidade para o idoso assistido pela Estratégia Saúde da Família, aqui denominados de depoentes. Através dos relatos dos idosos, descreveu-se
cuidadosamente o significado da temática para os idosos. Após a análise
dos dados, encontrou-se as seguintes categorias: A Sexualidade no Sentido Amplo para os Idosos, A Sexualidade para o Idoso como Sinônimo de
Sexo, e O Desconhecimento da Temática Sexualidade para o Idoso.
31
Silva, E. M.; et al.
A sexualidade no sentido amplo para os idosos
A abordagem da temática sexualidade é algo muito complexo, e
parte disso pode ser atribuída à multiplicidade de aspectos que a mesma
abrange tais como a ampla dimensão conceitual, que envolve diversos
fatores como as vivências individuais, os elementos históricos, sociais e
religiosos e a perspectiva de construção cultural de cada pessoa (RESSEL;
GUALDA, 2004).
Essas acepções individuais sobre a sexualidade podem direcionar
as pessoas a expressar seu corpo sexuado no mundo através de formas
distintas, como por exemplo, expressões corporais, sensações, sentimentos, prazeres e emoções. Dessa forma, essa categoria buscou mostrar os
significados atribuídos por alguns idosos sujeitos do estudo em relação
à manutenção da sua sexualidade como energia vital e indispensável à
saúde, não restringindo apenas ao ato sexual propriamente dito.
Para muitos autores, como Perrry e Potter (2005), Barbosa (2004), e
Monteiro (2002), a prática sexual faz parte da sexualidade, mas que para a
maioria dos idosos, vai muito além. A sexualidade na velhice é simples e ao
mesmo tempo complexa, afinal o corpo envelhece e a anatomia e a fisiologia mudam, mas a capacidade de amar, de beijar, de abraçar, continuam
intactas até o fim da vida. Para estes autores, o olhar e o companheirismo
têm muito mais significado para os idosos, do que a atividade sexual.
Segundo Almeida e Lourenço (2007), a sexualidade é um conjunto
de manifestações em formato de pensamentos, comportamentos e sentimentos, que podem ser reveladas em todas as idades de maneiras diferentes sim, mas não menos importante e prazerosa. Para as pessoas na terceira idade, a vivência da sexualidade pode ter diversos pontos positivos,
sendo uma oportunidade de expressar amor, carinho, afeto, sensualidade
e admiração por alguém. Fato este que é bem ilustrado nos depoimentos
a seguir:
Eu acho que sexualidade tem que ter amor em primeiro lugar, e depois o respeito.
Se isso não funcionar não existe nada, só ilusão, porque o sexo mesmo, só existe
na cabeça das pessoas. (Depoente 03)
É quando a pessoa tem amor. Quando você ama, quando você gosta. (Depoente 05)
Sexualidade para mim é o amor. É um amor muito grande que a gente tem [...] eu
acho que isso tudo é o amor. (Depoente 15)
Pode-se observar claramente com os depoimentos, que a expressão da sexualidade está presente na vida do ser humano durante todo o
ciclo vital, entretanto é manifestada de diferentes formas, através do abraço, convivência, respeito e amor, não única e exclusivamente pelo comportamento ou atividade sexual, ou seja, de forma ampla.
De acordo com Santos e Carlos (2003), o resgate do direito a sexualidade na vida do idoso, implica em poder pensar também no amor e em
suas diferentes formas de transformação libidinal, ou seja, outras formas
de amor que transpõe pela ternura, pelos contatos físicos que erogenizam
o corpo, como o olhar, a voz, o toque, redescobrindo as primeiras formas
de amor do ser humano, porque o idoso não deixa de amar, mas reinventa
formas amorosas, pois a capacidade de expressar os sentimentos não tem
limites cronológicos.
Para Almeida e Mayor (2006), o amor é utilizado para designar um
conjunto de sentimentos distintos, topografias comportamentais e diversos perfis de respostas cognitivas que, embora variadas, estão relacionadas entre si e são inerentes ao ser humano.
Por isso, a capacidade de sentir amor por alguém e de ser correspondido são fatores importantes para a manutenção de um relaciona32
mento saudável e é inconcebível para interação humana como também
para as interações íntimas entre os casais. Desta maneira não só amar, mas
conviver, respeitar, demonstrar carinho e afeto por alguém são formas de
expressar a sexualidade. Fato que são bem ilustrados nos depoimentos a
seguir:
Para mim, é o amor que a gente tem pela pessoa, em viver naquela vida de tranquilidade, de não se separar, de não querer que viva com outra pessoa. (Depoente 04)
Sexualidade é o respeito e tem que ter muito amor, sem amor é porcaria. (Depoente 03)
Eu acho que é a convivência da gente. (Depoente 13)
Deve-se destacar a importância e a intensidade expressa pelos depoentes acima acerca dos sentimentos e de como eles são importantes
para que os casais tenham uma vida sexual saudável, ou seja, mas que
uma vida sexual ativa, os mesmos buscam momentos de prazer e sensualidade através da convivência, do amor e do respeito.
Este fato faz repensar sobre a diferença do significado da sexualidade para o idoso, sobre o significado da sexualidade para alguns jovens.
Em que para alguns jovens a prática do sexo pode ser interpretada apenas
como fonte de prazer, mas que com o aumento da idade, a importância
dos sentimentos, do encanto e do respeito é bem mais relevante do que
apenas a satisfação do prazer. Pois embora o sexo seja algo de grande dimensão dentro da sexualidade, outros fatores também são de fundamental importância para uma boa convivência a dois.
Gozzo et al. (2000), acreditam que os elementos mais importantes
para que o casal consiga ter uma boa vivência da sexualidade e um relacionamento sexual satisfatório acompanhado de prazer são as demonstrações de afeto expressas através de gestos como carinho, beijo, abraço,
e ações que envolvam ser tocada “no lugar certo” e sentir o companheiro.
Hillman (2001) acrescenta que na velhice é importante as pessoas
contarem com um companheiro, terem liberdade e contato com a natureza. Pois os vínculos podem configurar-se de várias maneiras, durações e
intensidade, e são fundamentais para a felicidade e para o próprio desejo.
Portanto, é importante destacar que o reconhecimento da compreensão, da conversa, do entendimento, do companheirismo e do diálogo,
também são meios relevantes de sentir a participação do cônjugue e/ou
companheiro no relacionamento e de expressar e viver a sexualidade de
maneira plena e satisfatória. Assim, deve-se destacar que todas as pessoas,
independente de suas idades, têm direitos iguais, direito de namorar, casar, estar junto, se relacionar, expressar seus sentimentos, e principalmente, de manifestar a sexualidade como uma energia vital e indispensável a
uma vida saudável.
A sexualidade para o idoso como sinônimo de sexo
A prática sexual entre pessoas idosas ainda é um assunto pouco
debatido, permeado por mitos, tabus, preconceitos e, às vezes, até ignorado pela sociedade. Isso pelo fato de muitos acreditarem que as pessoas
na terceira idade, já não são mais capazes de realizá-las. Mas, esse conceito
é errôneo, na verdade as práticas sexuais podem ser diminuídas, mas não
findadas com a idade.
Nesse sentido, os achados dessa categoria tratam a atividade sexual ou o sexo, como significado de sexualidade para os idosos, sendo este
um fator relevante para a manutenção de um relacionamento entre os
casais, bem como para a constituição da família. Além de desmistificar alRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.30-35, Out-Nov-Dez. 2011.
O significado da sexualidade para o idoso assistido pela estratégia saúde da família
guns conceitos da sociedade de que o idoso é um ser assexuado e impossibilitado de expor suas experiências e vontades acerca da sua vida sexual.
Para Freitas (2002), a sexualidade é a maneira de como vivenciamos
os nossos impulsos sexuais na procura do encontro afetivo, do prazer e do
acasalamento. Ela envolve os corpos por meio de gestos, perfumes, entonações e adereços, ou seja, é tudo aquilo que nos faz sentir mais homem/
macho e mulher/fêmea no implacável jogo da conquista e da sedução. É
uma função que nos acompanha da infância até a velhice e abrange todos os fatores emocionais, hormonais e socioculturais, de um modo muito
particular, que se estende desde a função do prazer até a procriação.
Os depoimentos a seguir expõem de maneira bem clara o manifesto do significado da sexualidade como sinônimo de sexo para esses
idosos:
Sexualidade pra mim é coisa boa né? Mulher sempre tem que ter relação com
ele, né? (Depoente 06)
Eu entendo que é a pessoa ter relação com o esposo [...] (Depoente 12)
Quando eu era nova eu achava bom, mais hoje em dia eu não gosto mais. Eu não
tenho mais vontade, algumas vezes que tive eu não tive mais prazer [...] eu não
tive mais vontade de fazer sexo não. (Depoente 14)
Diante do que foi exposto, podemos observar claramente que para
esses idosos a sexualidade não passa de sexo, coito, desejo e prazer. Possivelmente essa era a forma como foi vista a sexualidade quando esses
idosos eram jovens, algo que fazia parte do casamento, da relação homem
e mulher, a reprodução, ou seja, o sexo propriamente dito.
Para Pinheiro (2010), a sexualidade é abordada por alguns seres
humanos como sexo, ou seja, uma relação sexual entre os seres, definidas
pelas próprias práticas sexuais. Alguns dos idosos dessa investigação relataram a sexualidade apenas como sexo como observado nos depoimentos acima, excluindo itens primordiais em uma relação tais como: o beijo,
abraço, amor, respeito, companheirismo, fatores que poderiam melhorar a
sexualidade desses idosos.
Moura, Leite e Hildebrandt (2008) completam que a sexualidade
além de outros significados também significa relação sexual, pois apesar
da idade, os idosos continuam tendo desejos semelhantes quando eram
jovens, mesmo com todas suas limitações devido alterações fisiológicas
e muitas vezes patológicas, mais continuam tendo prazer e procurando
sempre novas formas de se adaptarem com essas mudanças.
Como podemos observar a sexualidade ainda é considerada como
prática sexual entre os seres, e mesmo com a idade avançada e apresentando certas patologias e mudanças fisiológicas, muitos idosos ainda praticam esse ato, não com a mesma freqüência e/ou intensidade mais é algo
que ainda lhes passam desejo, prazer, satisfação e sensualidade.
Entretanto, Coelho e Peres (2010) relatam que apesar de terem idosos que estabelecem uma vida sexual ativa e satisfatória existem idosos
que o sexo foi algo traumatizante que quando chegaram à maior idade
preferiram nem praticá-lo, já outros devido à falta de parceiros ou por
acreditarem que não possuem mais idade para prática sexual, o sexo é
algo não mais existente, acomodando-se a não exercer a sua sexualidade.
Como podemos observar nos depoimentos abaixo:
Na minha idade, sexualidade é menos do que mais, porque no passado eu era
uma coisa, mas hoje está complicado. O homem quando é novo de 30 a 40 anos
é uma coisa, de 50 para 60 já muda. Geralmente a gente pode, mas não é a mesma coisa de quando a pessoa é nova [...] Eu não me sinto como antes, mas ainda
dá para resolver [...]. Hoje o homem de 60 não é mais como aquele. (Depoente 11)
Eu não gosto e não gostava mesmo não, mais mesmo com essa arrumação eu
ainda tive doze filhos [...] (Depoente 01)
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.30-35, Out-Nov-Dez. 2011.
Segundo os depoentes acima, podemos observar que para muitos
idosos as mudanças ocorridas com a idade são fatores desfavoráveis para
que eles possam exercer a sua sexualidade de forma saudável, devido ao
fato da decadência do desejo, da diminuição da frequência com que é
praticado e que na maioria das vezes nem existe mais o prazer.
Corroborando com os depoentes, Koziner e Lopes (2011) afirmam
que na maioria das vezes a sexualidade passa ser prejudicada por diversos
fatores, onde a principal são as alterações fisiológicas, pois uma das consequências é a impotência sexual no homem, e para a mulher será o climatério
e/ou menopausa, trazendo um sentimento de mal estar. Contudo, o potencial da sexualidade continua até a morte, mesmo com todas as alterações
sofridas pelo corpo. As relações sexuais constituem um grande gerador de
bem estar, no entanto os indivíduos idosos não se permitem muitas vezes
ter relação sexual em função dos preconceitos mantidos por eles mesmos.
Barbosa (2004) afirma em seu estudo que para alguns idosos em
um determinado momento da vida, a atividade sexual deixa de ser primordial e indispensável algo contrário para os jovens, podendo-se observar o preconceito que permeia essas discussões. Monteiro (2002) completa afirmando que muitos idosos possuem uma auto-estima diminuída,
fazendo com que não exista mais o interesse sexual e assim passam a
negar o prazer e a sua sexualidade.
Vasconcelos et al. (2004) explicam que para muitos idosos a falta de
um parceiro e as alterações sofridas pelo corpo, podem explicar o abandono
das relações sexuais, mais não explica a renúncia e o desinteresse, fatos que
ocorrem frequentemente entre as pessoas independendo do seu estado civil.
No entanto é importante lembrar que essas alterações fisiológicas
podem ser comuns nestas pessoas, mas não é uma regra, ou seja, não
atinge necessariamente a todos os idosos. Muitas vezes a diminuição do
desejo sexual relatada pelos depoentes, pode estar diretamente ligada à
insegurança e aos bloqueios emocionais de não alcançar uma ereção ou
de não conseguir chegar ao orgasmo. Embora seja evidente que o idoso
pode sim manter o interesse pelo sexo, mesmo existindo redução da sua
atividade sexual com o passar do tempo.
Durante a pesquisa foi possível observar que para esses idosos a sexualidade é sexo, e mesmo com todas as alterações e dificuldades o idoso
é capaz de manter uma vida sexual ativa cheia de prazeres e descobertas.
O desconhecimento da temática sexualidade para o idoso
Atualmente tem-se abordado mais livremente a temática da sexualidade, entretanto, por muito tempo a cultura, a religião, os mitos, tabus
e preconceitos permearam de forma repressora discussões acerca desta
temática, influenciando de forma negativa a vivência e manutenção da
sexualidade do ser humano. Nesse sentido, comentar ou simplesmente
ouvir esse tema trás desconfortos a algumas pessoas, em destaque os idosos que viveram nessa época, contribuindo muitas vezes para o desconhecimento sobre o assunto.
Para Melo e Santana (2005), a sexualidade é considerada uma expressão que reflete o contexto sociocultural onde o indivíduo encontra-se
inserido, na qual suas ações partem de sua própria personalidade. Assim
como a sua maneira de agir, pensar e manifestar-se diante da sociedade.
Dessa forma, a vivência que o idoso tem e conhece sobre sua sexualidade,
está diretamente relacionada aos valores e práticas sociais adquiridas e
incorporadas por ele durante a vida.
Ressel e Gualda (2004) afirmam que a sexualidade faz parte de todos os seres humanos independente do sexo, gênero e idade, abordan33
Silva, E. M.; et al.
do uma dimensão de universalidade ao tema, ao mesmo tempo em que
destaca o seu caráter individual, ou seja, onde cada pessoa vivencia sua
sexualidade de forma singular. Ressalta ainda que as emoções, sensações
e sentimentos como afeto, carinho, amor e respeito são demonstrados
quando adquiridos culturalmente pela sociedade que o cerca.
Segundo Koziner e Lopes (2011), a concepção da temática sexualidade está relacionada com a época do nascimento de nossa população
idosa, na qual a moral rígida e o ideal religioso predominavam, impedindo
que os mesmos manifestassem seus sentimentos sexuais, uma vez que a
vida sexual baseava-se numa vida privada, em que eram proibidas conversas sobre esses assuntos. O que se vê atualmente é a valorização da
juventude e depreciação do idoso frente a essa questão, tendo em vista
que ações como essas fazem com que o idoso não se permita ter uma
reação sexual saudável, nem tampouco informações sobre a temática, em
função dos preconceitos sociais, impostos muitas vezes por eles mesmos.
Assim, esse tipo de pensamento faz com que o idoso perca a vontade de ter informações sobre sexualidade, ficam reprimidos diante dos
preconceitos estabelecidos pela sociedade, impedindo-os de manifestar
seus pensamentos e desejos. O desconhecimento que o idoso tem sobre
sexualidade, faz com que, muitas vezes não fale sobre o assunto por vergonha, medo do que os outros irão falar, falta de orientação. É exatamente
o que se observa no depoente abaixo:
Não sei dizer não [...] Se eu já vi essa palavra eu não lembro. [...] Não sei não.
(Depoente 02)
Esta ruim porque não compreendo o que é isso. (Depoente 07)
Não sei não, dessas coisas não mulher. [...] Quando eu morava no interior, nós
não tínhamos conhecimento dessas coisas não. Tu sabes que a gente do interior
nunca sabe dessas coisas como hoje em dia. Até as crianças desse tamanho, sabe
tudo. (Depoente 10)
Como se pôde observar nos depoentes acima, a época em que
o indivíduo nasce, influencia diretamente na maneira como irá se comportar, devido aos ensinamentos repassados pelas pessoas que o cercam.
Para Oliveira (2007), a sociedade possui grande poder sobre o indivíduo
no decorrer de sua vida, pois ele tende a absorver os valores, proibições
e preconceitos que a sociedade estabelece. Incorporando as informações
adquiridas, tendo o sentimento de que tais conhecimentos são repassados dele para a sociedade e não da sociedade para ele.
Mesmo com tantas mudanças socioculturais que vem ocorrendo
com a sexualidade do ser humano, bem como a gama de informações que
podemos adquirir a qualquer lugar e momento, as discussões em volta da
educação sexual continuam sendo consideradas para algumas pessoas,
como algo sujo, pecaminoso, impróprio, principalmente, na faixa etária
entre os idosos.
Desse modo, torna-se de grande importância que temas como a
sexualidade em idosos seja abordada, porque somente através dos esclarecimentos e conhecimentos acerca da sexualidade, pode-se contribuir para
diminuir os tabus e preconceitos estabelecidos pela sociedade. Por isso, faz-se necessário que os profissionais de saúde tenham o cuidado e a sensibilidade de estar atuando, discutindo e aconselhando sobre o tema em questão, possibilitando que os idosos tenham uma melhor qualidade de vida.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não sei o que é. Não tenho estudo. [...] E não sei. (Depoente 08)
Koziner e Lopes (2011) conceituam sexualidade como linguagem,
comunicação, amor, afeto, ternura, carinho, laços afetivos e não somente
o ato sexual em si. Afirmam ainda que a sexualidade é uma necessidade
fisiológica do ser humano e estará sempre presente, e o fato de ser idoso
não muda essa condição.
Heilborn (2006) reforça a idéia de que a sexualidade anda junto
com a cultura, quando relata que as práticas sexuais se diferenciam de
acordo com referências internas de cada sociedade, onde suas expressões
e manifestações correspondem a significados distintos, baseado em valores adquiridos socioculturalmente. Esses valores são repassados e orientados através de roteiros e comportamentos aceitáveis para o grupo social
ao qual se encontra inserido. Diz ainda que o sexo é uma atividade que
se aprende, considerada como qualquer outra atividade humana, como a
alimentação e hábitos de higiene.
De acordo com os depoentes acima, pode-se observar que a educação que esses idosos receberam influenciou diretamente para o desconhecimento dessa temática, uma vez que, os ensinamentos repassados
pelos familiares eram rodeados de preconceitos e tabus, no qual não se
falavam abertamente sobre sexualidade.
Para Flores e Amorin (2007), mitos e tabus ainda continuam enraizados nos dias de hoje, atravessando fronteiras do tempo, mesmo
com tanta informação e comunicação em grande massa. Dessa forma,
a cultura ainda influencia bastante o comportamento sexual dos idosos
impedindo-os de manifestar seus pensamentos, opiniões, como pode ser
observado nas falas abaixo:
Sei não. Sei lá. [...] É uma coisa que a gente no meu tempo mais velho, a gente não
conversava sobre isso não é? Minha mãe nunca me ensinou sobre isso, nunca me
falou. E também nem eu nunca soube me expressar essas coisas com meus filhos
e minhas filhas. Nem entendo muito isso, sabe? (Depoente 09)
34
Este trabalho permitiu verificar que o significado da sexualidade
ainda não tem um conceito homogêneo na população idosa, pois muitos
têm definições distintas e isso se deve possivelmente a educação que foi
repassada pela família e pela sociedade, visto que em suas épocas a sexualidade era um assunto privado e carregado de mitos, tabus e preconceitos.
Diante disso foi possível constatar que ainda existem idosos que
vêem a sexualidade apenas como sinônimo de sexo, deixando de lado
suas outras importantes dimensões que também são necessárias para um
relacionamento saudável entre os casais, independente de suas idades.
Entretanto, pôde-se observar que alguns idosos já conseguem ter uma
visão mais ampla, referindo à temática como sinônimo de amor, afeto, trocas de carinho, respeito, companheirismo além do diálogo.
Observou-se ainda que alguns idosos referiram o desconhecimento acerca da sexualidade. Mas é importante que se diga que esse desconhecimento possa vir acompanhado de diversas resistências de valores
morais, timidez, tabus, mitos, preconceitos e outros bloqueios. Seguido
disso, as maneiras pelas quais estes idosos foram educados, as repressões
vivenciadas pelos mesmos ao longo da vida, os apelos impostos pela família e pela sociedade, também contribuem para que estes idosos tornem-se pessoas inseguras para expressar sua sexualidade de forma plena e
satisfatória.
Assim, a pesquisa apresentada foi de grande importância, pois através do contado com os idosos, pôde-se conhecer e compreender qual o
significado que a sexualidade tem em sua vida. Dessa forma, o conhecimento adquirido proporcionará que o enfermeiro, assim como outros profissionais de saúde possam ter um novo olhar quanto ao tema em questão, para
que venham a desenvolver ações de educação em saúde sobre sexualidade,
proporcionando um cuidado holístico, particular a condição de cada um,
melhorando a assistência prestada e a qualidade de vida do idoso.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.30-35, Out-Nov-Dez. 2011.
O significado da sexualidade para o idoso assistido pela estratégia saúde da família
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35
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Perfil de idosos assistidos por equipe da Estratégia Saúde da Família
em Teresina, Piauí
Profile of elderly assisted by team from Family Health Strategy in Teresina, Piauí.
Perfil de ancianos asesorados por el Equipo de Estrategia Salud de la Familia en Teresina, Piauí.
Francisca Cecília Viana Rocha
Mestre em Enfermagem pela UFPI. Docente da
Faculdade NOVAFAPI. Teresina, Piauí, email: fceciliavr@
hotmail.com
Mayara Feliciano da Silva
Graduada em Enfermagem pela Faculdade NOVAFAPI.
Teresina, Piauí e-mail: [email protected]
Pietro Rodrigo Almeida e Sousa
Graduando do 6° período do Curso de Enfermagem
da Faculdade CEUT
Maria de Fátima Almeida e Sousa
Enfermeira Especialista. Docente da Faculdade CEUT.
Lucas Pazolinni Viana Rocha
Graduando do 5° período do Curso de Medicina
da Faculdade NOVAFAPI. e-mail: lucasp_rocha@
hotmail.com
Renata Cassiana Oliveira Lima
Graduada em Enfermagem pela Faculdade NOVAFAPI.
e-mail : [email protected]
RESUMO
Trata-se de um estudo com o objetivo de traçar o perfil da população idosa atendida por uma equipe da Estratégia Saúde da Família da cidade de Teresina – PI de acordo com os dados registrados
na Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa. Pesquisa descritiva quantitativa realizada com 208 idosos
cadastrados em uma Equipe da Estratégia Saúde da Família. A coleta de dados foi realizada utilizando o formulário e a análise ocorreu com a utilização do aplicativo Statistical Package for the Social
Sciences,versão 17.0 Nos resultados identificou-se a prevalência do sexo feminino, faixa etária de 6070 anos, estado civil casado, analfabetismo e sedentarismo. Os agravos crônico-degenerativos estão
presentes na maioria dos idosos, sendo a hipertensão arterial a mais freqüente. Entre os fármacos
mais utilizado neste grupo estão os diuréticos e os inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina, A maioria classifica sua saúde como regular. Considera-se, portanto necessário a elaboração de
um plano de ação que possa intervir no perfil identificado, minimizando assim possíveis complicações e incapacidades que possam acometer estes idosos.
Descritores: Enfermagem. Saúde da Família. Saúde do idoso.
ABSTRACT
This is a study aiming to profile the elderly population assisted by a team from the Family Health Strategy of Teresina - PI according to the data reported in Health Handbook of the Elderly. Quantitative
descriptive research conducted with 208 elderly registered in a team of the Family Health Strategy.
Data collection was performed using the standard form and analysis occurred with the use of the
software Statistical Package for the Social Sciences, version 17.0. The results identified the prevalence
of females aged 60-70 years, married, illiteracy and sedentary lifestyle. The chronic-degenerative
diseases are present in most elderly, and hypertension is the most frequent. Among the drugs most
used in this group are diuretics and inhibitors of Angiotensin Converting Enzyme. Most of them rank
their health as fair. It is considered, therefore, necessary to elaborate a plan of action to intervene in
the identified profile, thus minimizing possible complications and disabilities that may affect these
elderly people.
Descriptors: Nursing. Family health. Elderly health.
RESUMEN
Submissão: 02/03/2011
Aprovação: 05/06/2011
36
Se trata de un estudio con el objetivo de delinear el perfil de la población anciana asesorada por un
equipo de Estrategia Salud de la Familia de la ciudad de Teresina –PI de acuerdo con los datos registrados en la Libreta de apuntes de Salud de la Persona Anciana. Encuesta descriptiva cuantitativa
realizada con 208 ancianos registrados en un Equipo Salud de la Familia. La recolección de datos
ha sido realizada utilizando el formulario y el análisis ha sucedido con la utilización del aplicativo
Statistical Package for the Social Sciences, versión 17.0. En los resultados ha sido identificada la prevalencia del sexo femenino, faja etárea de 60 - 70 años, estado civil casado, analfabetismo y sedentarismo. Los agravios crónico-degenerativos están presentes en la mayoría de los ancianos, siendo
la hipertensión arterial la más frecuente. Entre los fármacos más utilizados en este grupo están los
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.36-41, Out-Nov-Dez. 2011.
Perfil de idosos assistidos por equipe da Estratégia Saúde da Família em Teresina, Piauí
diuréticos y los inhibidores de la enzima de Conversión de la Angiotensina. La mayoría clasifica su salud como regular. Se considera, por lo tanto,
necesaria la elaboración de un plan de acción que pueda intervenir en el
perfil identificado, minimizando de esta manera posibles complicaciones
e incapacidades que puedan venir a acometer estos ancianos.
Descriptores: Enfermería. Salud de la Familia. Salud del Anciano.
1
INTRODUÇÃO
Mesquita et al. (2009) define envelhecimento como um processo progressivo, gradual e variável, caracterizado pela perda crescente de
reserva funcional. É um fenômeno marcado por mudanças morfológicas,
fisiológicas e biopsicossociais, tornando o indivíduo mais propenso a adoecer, o que aumenta suas chances de morte.
Tal etapa da vida não é um processo unitário, não acontece de
modo simultâneo em todo o organismo e nem está associado à existência
de uma doença. Pode também ser definido como um processo natural,
seqüencial de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduos,
chamado de senescência (SANTOS; ANDRADE; BUENO; 2009).
O Brasil, atualmente, vivencia um momento de transição demográfica, em virtude do aumento progressivo da população de idosos, que,
segundo a Organização Mundial de Saúde(OMS), são pessoas a partir de
60 anos. Hoje, existem aproximadamente 18 milhões de idosos no País,
que equivale a 10% da população (MOURA et al.2009).
De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (2006), a expectativa de vida do brasileiro cresceu 32,4%,
o que significa 17 anos, 8 meses e 1 dia, em um período de 46 anos, indo
dos 54,6 anos, em 1960, para 72,3 anos, em 2006. MOURA et al. (2009)
explica que esse aumento se deve à melhoria no acesso da população
aos serviços de saúde, a medidas de promoção e prevenção de doenças,
ao aumento da escolaridade e a avanços da medicina e tecnologia, que
também contribuem para que a pessoa idosa tenha maior longevidade
A prevenção de doenças e os serviços de promoção da saúde destinados aos idosos devem ser desenvolvidos de forma que prolonguem a sua expectativa de vida, porém tão importante ou mais é a abordagem voltada para
a melhoria e a manutenção da qualidade do tempo restante de vida. Com isso,
é função das políticas de saúde contribuir para que mais pessoas alcancem a
longevidade com o melhor estado de saúde possível. O envelhecimento ativo
e saudável é o grande objetivo nesse processo (FREITAS et al. 2006).
Dentro deste contexto, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi
adotada pelo Ministério da Saúde (MS) em 1994, com o objetivo de proceder à reorganização da prática assistencial em novas bases e critérios,
em substituição ao modelo tradicional de assistência: hospitalocêntrico
e orientado para a cura de doenças. Nesta nova perspectiva sanitária, a
atenção está centrada na família, entendida e percebida a partir do seu
ambiente físico e social, o qual possibilita às equipes uma compreensão
ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções
que vão além de práticas curativas (ROCHA et al. 2009).
O mesmo autor ressalta ainda que o trabalho desenvolvido pela
Estratégia de Saúde da Família é considerado uma nova versão do modelo
de atenção à saúde, pois cria novas formas de acesso ao sistema de saúde,
com uma modalidade diferente no trabalho dos profissionais de saúde,
direcionada ao indivíduo, à família e á comunidade, acompanhada de um
melhor conhecimento da realidade do cliente, condições de vida e suas
necessidades, colocando,em prática, o conceito de cidadania.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.36-41, Out-Nov-Dez. 2011.
Em conformidade com estas concepções e buscando uma melhoria na qualidade da atenção prestada á população idosa, foi criada, em
2007, pelo Ministério da Saúde, a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa,
instrumento valioso, que auxilia na identificação das pessoas idosas frágeis
ou em risco de fragilização. Para os profissionais de saúde, essa iniciativa
possibilita o planejamento, a organização das ações e um melhor acompanhamento do estado de saúde da clientela. Para as pessoas idosas, é um
instrumento de cidadania, em que constam informações relevantes para o
melhor acompanhamento de sua saúde (BRASIL, 2006a).
A função primordial da caderneta é, portanto, propiciar um levantamento periódico de determinadas condições do indivíduo idoso e de
outros aspectos que possam interferir no seu bem-estar. Deve, assim, o
profissional estar atento ao fato de que, antes do adoecimento orgânico,
a pessoa idosa apresenta alguns sinais de risco e é função do profissional
de saúde, por meio do registro na caderneta, com a identificação desses
sinais, buscar ações que possam ser assumidas de maneira precoce, contribuindo não apenas para a melhoria da qualidade de vida individual, mas
também para uma saúde pública mais consciente e eficaz (BRASIL, 2006b).
Considerando o acelerado aumento do número de idosos no Brasil,
torna-se imperativo traçar o perfil dessa população, a fim de um melhor
planejamento da assistência, para melhorar as ações de promoção e prevenção da saúde dessa faixa etária. Além disso, convém minimizar e/ou
evitar as complicações a que esses pacientes possam ser acometidos em
decorrência da senescência e das patologias a que estão submetidos.
Partindo desse pressuposto, sentiu-se a necessidade de levantar informações de um grupo de idosos assistidos por uma equipe da Estratégia
Saúde da Família, a fim de conhecer parte dessa população e, a partir daí
desenvolver estratégias junto à equipe para melhor atendimento dessa
clientela. Essa inquietação e curiosidade pelo estudo se deram pelo fato
de que esse contingente populacional é bastante heterogêneo e com trajetórias de vida diferentes que necessitam ser avaliadas para a partir daí
receberem uma assistência de enfermagem com melhor qualidade. O estudo servirá como subsídio para outras pesquisas, pois sabemos que com
o aumento do número de idosos, poderão surgir incapacidades e estas
podem ocasionar sequelas, portanto há necessidade de implementação
de ações preventivas para evitar ou minimizar tais acometimentos.
Este estudo tem como objetivo traçar o perfil da população idosa
atendida por uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF), da cidade
de Teresina – PI de acordo com os dados registrados na Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa.
2
CAMINHO METODOLÓGICO
A pesquisa realizada é de caráter descritivo com abordagem quantitativa, pois visa levantar informações para delimitar o perfil da população
idosa de determinada área. Os dados foram coletados junto a uma equipe
da Estratégia Saúde da Família, localizada no Bairro Mafrense na cidade de
Teresina, PI, na Unidade de Saúde Maria Teresa Melo Costa. A equipe é a
de nº 186, do turno manhã em que acompanha 990 famílias cadastradas
em seis microáreas.
Os convidados a participarem do estudo foram idosos cadastrados
na Estratégia Saúde da Família da unidade de saúde referida. Com base na
fórmula de Costa Neto (2002) considerou-se uma amostra de 208 idosos
de um universo de 448, a fim de se obter um grau de confiança de 95%
e significância de 5% para que a pesquisa seja realizada de modo a identificar os reais objetivos propostos. Para o processo de determinação da
37
Rocha, F. C. V.; et al.
amostra, foi utilizada a amostragem probabilística do tipo aleatória simples e, como critério de inclusão os sujeitos deveriam ter 60 anos ou mais
e aceitar participar do estudo.
A coleta de dados foi realizada utilizando-se o formulário da
Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa como instrumento de pesquisa, no
período de setembro e outubro de 2010, no horário da manhã com agendamento prévio pelo agente comunitário de saúde, e foi respondido na
residência do idoso. Os dados foram digitados no programa Excel 2010 e
analisados com a utilização do aplicativo Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS), versão 17.0,com geração de tabelas e gráficos para melhor visualização dos dados.
A pesquisa obedeceu aos princípios da Resolução n° 196/96, que
trata das diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos
(BRASIL, 1996). O estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Faculdade NOVAFAPI (CAAE nº 0217.0.043.000-10) e pela instituição
onde foi realizada a pesquisa.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação aos dados referentes ao perfil sóciodemográfico da
população estudada (Tabela 1) , a qual foi um total de 208 idosos, foi possível observar que 100 idosos (48,1%) estavam com idade compreendida
entre 60-70 anos – representando assim, a maioria dos entrevistados – 84
(40,4%) de 71 a 80 anos, 22 (10,6%) apresentaram faixa etária entre 81 e 90
anos e, compreendendo a menor taxa com cerca de 1%, 2 pacientes com
mais de 90 anos. Foi observada maior proporção quanto ao sexo feminino
(63,5%) em torno de 132 idosos, enquanto o sexo masculino representou
(36,5%), 76 dos pesquisados.
Tabela 01: Distribuição dos idosos segundo perfil sócio-demográfico. Teresina (PI),
2010.
n
%
Faixa etária
60 a 70 anos
100
48,1
71 a 80 anos
84
40,4
81 a 90 anos
22
10,6
Mais de 90
02
1,0
Total
208
100
Sexo
Masculino
76
36,5
Feminino
132
63,5
Total
208
100
Estado civil
Solteiro
16
7,7
Casado
110
52,9
Viúvo
55
26,4
Separado
27
13
Total
208
100
Escolaridade
Analfabeto
114
54,8
Até 04 anos de estudo
72
34,6
04 a 08 anos de estudo
17
8,2
Mais de 08 anos estudo
05
2,4
Total
208
100
Aposentado
Sim
159
76,4
Não
49
23,6
Total
208
100
Lemos, Sousa e Mendes (2006) em seu estudo também demonstraram uma predominância das mulheres sobre os homens, 52,9% e
47,1% respectivamente. Os mesmos autores justificam esse fenômeno por
diversos fatores como uma menor exposição do sexo feminino aos fatores
de risco, como tabagismo e etilismo, ao fato de as mulheres apresentarem
condutas menos agressivas, maior atenção ao surgimento dos problemas
de saúde e maior utilização dos serviços de saúde.
38
Os resultados sobre o estado civil dos indivíduos estudados
apontam que os casados predominam, com 110 (52,9%), seguidos
pelos viúvos, 55 (26,4%), enquanto os demais eram solteiros e separados. Entre os participantes, 16 (7,7%) eram solteiros, fator este que, para
Caetano et al. (2008), pode comprometer a qualidade de vida desses
idosos, principalmente se vierem a desenvolver perda da capacidade
funcional, pois ficam sem maridos e/ou filhos.
Outros dados significativos são os relacionados à alfabetização
dos entrevistados: 114 (54,8%) não eram alfabetizados; 72 (34,6%) estudaram por 4 anos; 17 (8,2%) de 4 a 8 anos de estudo; e apenas 5
(2,4%) mais de 8 anos de estudo.Segundo Silva (2006), a escolaridade
é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento de programas
de educação em saúde porque pode dificultar não só o entendimento
das orientações terapêuticas, médicas e de saúde, assim como adesão
a novos hábitos que melhorem a qualidade de vida.
Da amostra, 157 (76,4%) eram aposentados e 49 (23,6%) não
recebiam aposentadoria. Segundo Martins e Massarolo (2010) possuir
renda própria constitui um dos principais instrumentos sociais de proteção aos idosos. É através dela que o idoso suprirá suas necessidades
diárias, manterá sua independência e garantirá o acesso a outros direitos como a alimentação.
Gráfico 1. Distribuição dos idosos quanto ao tabagismo, etilismo
e realização de atividades físicas.Teresina (PI), 2010.
Os dados referentes aos hábitos de vida demonstram que 51
(24,5%) fumam ou pararam de fumar e (20,7%) já consumiram bebida
alcoólica em algum momento de suas vidas (Gráfico 1).
A nicotina é maléfica ao organismo porque aumenta a liberação de catecolaminas, responsáveis pela elevação da freqüência cardíaca, da pressão arterial e da resistência periférica. Aumenta também
a capacidade orgânica de formar coágulos e diminui sua função de
destruí-los. O álcool é outro fator de risco, pois o aumento de suas taxas
no sangue eleva a pressão arterial lenta e progressivamente (CAETANO,
et al. 2008).
Outro fator importante observado nos partícipes deste estudo
foi a inatividade fisica (Gráfico 1), comum em 166 (79,8%) deles. O sedentarismo é um dos fatores de risco mais importantes para as doenças crônicas, associado a dieta inadequada e tabagismo (BRASIL,2006).
Conforme Víctor (2007), diante de todas as possiveis alterações que
ocorrem no organismo do idoso, a atividade física age positivamente
na prevenção de doenças como artrose, problemas cardiovasculares,
respirátórios, obesidade, depressão.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.36-41, Out-Nov-Dez. 2011.
Perfil de idosos assistidos por equipe da Estratégia Saúde da Família em Teresina, Piauí
freqüentes: 33 (17,2%), uma das queixas mais comuns entre os pacientes idosos, que pode ser explicada por uma variedade de alterações
anatômicas e fisiológicas, tais como redução do número de sinapses,
declínio da visão e reflexos visiovestibulares, entre outros em decorrência do próprio envelhecimento (FREITAS et al. 2006).
Gráfico 2. Principais problemas de saúde apresentados pelos idosos
da pesquisa (n= 192). Teresina (PI), 2010.
É amplamente reconhecido que os idosos são usuários do
serviço de saúde em taxas mais elevadas do que os demais grupos
etários. Dentre os pesquisados, 192 (92,3%) relatam ter algum tipo
de problema de saúde; os principais encontrados nesta amostras foram hipertensão arterial 16 (85,9%) e diabetes 43 (22,9%), seguidas
de tonturas (17,2%), doenças do sistema nervoso central 20 (10,9%),
osteoporose 18 (9,4%), artropatias 14 (7,8%), dislipidemias 12 (6,3%),
insuficiência cardíaca 9 (5,2%) e seqüelas de acidente vascular encefálico 8 (4,2%). Outras patologias também foram referidas, 49 (26,0%)
idosos citaram doenças como, sinusite, gastrite, mialgias, epilepsia e
asma (Gráfico 2).
Carboni e Repetto (2007) mostram a mudança que tem ocorrido no perfil de saúde do Brasil, que primeiramente se caracteriza pelo
predomínio dos agravos crônicos não transmissíveis e, em segundo
lugar, pela importância crescente de diversos fatores de risco para a
saúde e que requerem elaboração de ações preventivas nos diversos
níveis. A longevidade é marcada pela maior incidência e prevalência
dessas condições crônicas que exigem um acompanhamento contínuo da saúde do indivíduo.
A hipertensão arterial sistêmica é a condição crônica mais observada na população estudada. De acordo com o Ministério da Saúde
tal agravo é altamente prevalente nessa etapa da vida acometendo
cerca de 50 a 70% de idosos. É considerado um importante problema
de saúde pública no mundo, sendo um dos mais importantes fatores
predisponentes de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renal crônica (BRASIL, 2006a).
O diabetes foi referido por 43 (22,9%) dos indivíduos da
amostra, a intolerância à glicose evidenciada com o avançar da idade
por estar relacionada com diversos fatores. Segundo Araújo e Bachion
(2004), são eles: dieta pobre, inatividade física, diminuição da massa
corpórea magra, na qual os carboidratos ingeridos podem ser estocados, secreção alterada de insulina e resistência à insulina.
Neste estudo, algumas patologias que afetam a realização
das atividades da vida diária também foram citadas: as seqüelas decorrentes de acidentes vasculares encefálicos, com 8 (4,2%), a osteoporose, citada em 18 (9,4%) dos participantes, além de relatos de tonturas
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.36-41, Out-Nov-Dez. 2011.
Gráfico 3. Principais medicamentos utilizados pelos idosos da pesquisa (n=187).Teresina (PI), 2010.
Com a finalidade de minimizar as múltiplas doenças causadas
nessa faixa etária, os idosos acabam se submetendo ao uso de múltiplos medicamentos (polifarmácia). Eles são considerados como o grupo etário que usa mais fármacos que qualquer outro. Os medicamentos
melhoram a saúde e o bem-estar das pessoas idosas, agindo no alivio
da dor e do desconforto, no tratamento de doenças crônicas e na cura
de processos infecciosos. No entanto, há também os efeitos negativos,
que consistem em reações adversas por causa das interações medicamentosas, múltiplos efeitos dos medicamentos e dosagens incorretas.
De acordo com Lyra Júnior et al. (2006) a maior prevalência de
doenças crônicas entre os idosos, como a hipertensão arterial sistêmica, justifica esse crescimento do consumo de medicamentos. Sendo
assim, dos 187 (89,9%) idosos que utilizam algum tipo de medicamento, os mais usados foram os anti-hipertensivos das seguintes classes:
diuréticos 127 (68,4%) e inibidores da enzina de conversão da angiotensina (ECA) : 97 (51,9%). Isso torna coerente pelo o fato de a hipertensão ser uma condição crônica autorreferida, mais freqüente entre os
idosos do estudo. Os beta-bloqueadores são utilizados por 57 (31,0%)
deles, antiplaquetários, 45 (24,1%), antidiabéticos orais, 43 (23, 5%), vasodilatadores, 34 (18,2%), agonistas alfa2, 26 (14,4%), ansiolíticos, 20
(11,2%), antagonistas do cálcio, 16 (8,6%), cálcio, 14 (7,5%), digitálicos,
9 (5,3%) e insulina, 2 (1,1%). Outros medicamentos, 43 (23,5%), foram
citados com menor freqüência, como broncodilatadores, corticosteróides, antibióticos, protetores gástricos, antilipemiantes, antiepiléticos e
medicamentos fitoterápicos (Gráfico 3).
De acordo com o Ministério da Saúde, os medicamentos mais
freqüentemente utilizados pelos idosos são os que atuam no sistema
cardiovascular (antihipertensivos, diuréticos, digitálicos e anticoagulantes) representando, aproximadamente, 45% das prescrições (BRASIL, 2006a).
39
Rocha, F. C. V.; et al.
Tabela 2. Características clínicas dos idosos da pesquisa. Teresina (PI), 2010.
n
%
Classificação da saúde pelo idoso
Muito boa
01
0,5
Boa
66
31,7
Regular
122
58,7
Ruim
18
8,7
Muito ruim
01
0,5
Total
90
100
Numero de internações de 2004 a
2010
01 a 02 internações
75
86,2
03 a 04 internações
10
11,5
Mais de 06 internações
02
2,3
Total
87
100
Numero de quedas de 2004 a 2010
01 a 02 quedas
73
81,1
03 a 04 quedas
09
10,0
05 a 06 quedas
02
2,2
Mais de 06 internações
06
6,7
Total
90
100
Controle da P.A.
Sim
177
85,1
Não
31
14,9
Total
208
100
Controle do peso
Sim
155
74,5
Não
53
25,5
Total
208
100
Controle do Glicemia
Sim
10
4,8
Não
198
95,2
Total
208
100
Imunização atualizada
Sim
192
92,3
Não
16
7,7
Total
208
100
A autopercepção da saúde dos idosos entrevistados é um importante indicador de risco, embora a maioria apresente pelo menos uma
enfermidade, quando são perguntados sobre a classificação de saúde,
122 (58,7%) classificam-na como regular; 66 (31,7%) como boa; 18 (8,7%)
como ruim; apenas 1 (0,5%) como muito ruim, e 1(0,5%) muito boa.
Conforme o Ministério da Saúde, o indivíduo idoso que considera
seu estado de saúde como sendo ruim ou muito ruim tem, efetivamente,
maior risco de agravos sérios em sua saúde e é considerado pessoa idosa
frágil ou em processo de fragilização (BRASIL, 2006b).
Com relação ao número de internações, 87 (41,8%) idosos relataram ter ficado internados por algum problema de saúde nos últimos
seis anos. Destes 87, 75(86,2%) ficaram internados 1-2 vezes; 10(11,2%),
de 3-4; e 2(2,3%) idosos ficaram internados mais de 6 vezes. Isso mostra
a fragilidade dos idosos requerendo melhor acompanhamento por parte
da equipe de saúde, haja vista que neste perfil, a maioria dos idosos são
hipertensos, pois se sabe que a hipertensão arterial é uma doença crônica
e ocasiona complicações com internações, quando não controlada.
Além das doenças, as quedas também representam um sério problema para as pessoas idosas e estão associadas a elevados índices de
morbi-mortalidade, redução da capacidade funcional e institucionalização precoce (BRASIL, 2006a).
Com isso, 90 (43,2%) idosos relataram algum episódio de quedas
nos últimos seis anos. Dentre eles, 73 (81,1%) sofreram de 1-2 quedas, 9
(10%) de 3-4 quedas, 2 (2,2%) de 5-6 quedas e 6 (6,7%) mais de 6 quedas
durante este período.
Estudos feitos por Fabrício e Rodrigues (2006) demonstraram que
as quedas podem trazer restrições para a vida do idoso, trazendo conseqüências físicas, psicológicas e sociais. Uma vez ocorridas restrições das
40
atividades após uma queda, o idoso torna-se mais propício à baixa autoconfiança em realizá-las, podendo ocorrer ainda um comprometimento progressivo da capacidade funcional ao longo do tempo, o que pode
torná-lo mais propenso a quedas recorrentes.
No que diz respeito ao controle de Pressão Arterial, 177
(85,1%) o fazem. Isso se explica pelo fato de que a mesma porcentagem
da população estudada apresenta quadro clínico de hipertensão arterial. Quanto ao controle de peso, 155 (74,5%), embora seja de extrema
importância a avaliação de peso principalmente de pessoas hipertensas
e/ou diabéticas, uma parcela das pessoas cadastradas no hiperdia são
acamadas, o que dificulta, para a equipe de saúde, realizar tal controle.
Apenas 10 (4,8%) fazem controle da glicemia. Essa baixa percentagem
pode ser explicada pelo não registro da verificação da glicemia capilar,
realizada na unidade básica de saúde, na caderneta de saúde da pessoa
idosa, e sim no prontuário do cliente. Dos 208 idosos, 192 (92,3%) tinham
seu esquema vacinal atualizado e 16 (7,7%) não o tinham. Embora as
campanhas específicas para essa faixa etária contribuam para uma maior
adesão dos idosos à vacina Influenzae, alguns ainda questionam a segurança das vacinas.
Outros dados encontrados na caderneta dos idosos foram, em relação ao convívio no lar, 104 (50%) idosos moram com 4 a 6 pessoas, 83
(39,9%) residem com 1 a 3 pessoas, 12 (5,8%), com mais de 6 pessoas e 9
(4,3%) moram sozinhos. Dos participantes deste estudo, 49 (23,6%) ficam
sozinhos a maior parte do dia e 44 (21,2%) necessitam de cuidados para
realização de atividades da vida diária.
4
CONCLUSÃO
Por meio deste estudo, identificamos o perfil de uma amostra de
208 idosos, tratando-se de uma população, em sua maioria, com faixa etária de 60-70 anos, com maior freqüência do sexo feminino, nível instrucional analfabeto e predomínio de casados.
Confirmamos também, com outros estudos que, no que diz respeito à realização de atividade física, a maioria é sedentária, fator que
aumenta o risco para agravos crônicos não transmissíveis, sendo estes os
mais citados pelos pesquisados, dos quais o mais frequentemente referido
foi a hipertensão arterial, importante problema de saúde pública a nível
mundial, que pode desencadear doenças cardio e cerebrovasculares, além
de agravos renais crônicos. Coerente com a hipertensão arterial, a classe
medicamentosa mais utilizada foram os anti-hipertensivos.
Outro aspecto a ser destacado foi a ocorrência de quedas, que,
embora presente em um percentual menor dos participantes, constitui-se
ainda um sério problema de saúde da pessoa idosa, por estar associado
à perda da capacidade funcional e à institucionalização precoce. Apesar
dos problemas apresentados pelos idosos, a maioria classifica sua saúde
como sendo regular.
Frente a essas informações pudemos perceber que a maioria dos
itens que caracteriza o perfil de idosos na comunidade estudada é compatível com dados disponíveis na literatura, no entanto acreditamos ser de
extrema importância que cada equipe Estratégia de Saúde da Família realize estudos direcionados para sua área de abrangência, com a finalidade
de ter bases mais concretas para o planejamento de ações em saúde de
acordo com as reais necessidades da clientela.
Portanto, fundamentados nesses resultados, acreditamos que o
objetivo fundamental na atenção à saúde da pessoa idosa é propiciar um
envelhecimento saudável, com o maior grau possível de autonomia, de
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.36-41, Out-Nov-Dez. 2011.
Perfil de idosos assistidos por equipe da Estratégia Saúde da Família em Teresina, Piauí
independência física, psíquica e social. Diante disso, a Caderneta de Saúde
da Pessoa Idosa constitui um instrumento de fortalecimento da assistência na atenção básica. Através dos dados registrados nela, pode se traba-
lhar melhor a educação em saúde, minimizar possíveis complicações e
incapacidades e elaborar um plano de ação que possa intervir no perfil
identificado, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos idosos.
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VICTOR, J. F. et al. Grupo Feliz Idade: cuidado de enfermagem para a promoção da saúde na terceira idade. Revista da escola de enfermagem da USP, São Paulo, v. 41, n. 4, p.724-730. 2007.
41
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um
hospital público
Hospital infections in Intensive Care Units in a public hospital
Infecciones hospitalarias en Unidades de Cuidados Intensivos un hospital público
Marcelo de Moura Carvalho
Enfermeiro. Mestre em Enfermagem pela UFPI.
Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família da
Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI.
Docente da Faculdade CET e AESPI.Teresina, Piauí.
e-mail: [email protected].
Maria Eliete Batista Moura
Pós-Doutora pela Universidade Aberta de Lisboa
– Portugal. Doutora em Enfermagem pela Escola
de Enfermagem da UFRJ. Docente do Programa
de Mestrado em Saúde da Família da Faculdade
NOVAFAPI. Professora do Programa de Mestrado em
Enfermagem e da Graduação em Enfermagem da
UFPI. e-mail: mestradosaudedafamilia@novafapi.
com.br
Maria do Rosário Conceição Moura
Nunes
Farmacêutica. Doutora pela UFMG. Docente da UFPI e
NOVAFAPI. Teresina, Piauí.
Telma Maria Evangelista de Araújo
Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade
Federal do Piauí e Faculdade de Saúde, Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí - NOVAFAPI.
Teresina, Piauí, Brasil. e-mail: [email protected]
Claudete Ferreira de Sousa Monteiro
Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade
Federal do Piauí e Faculdade de Saúde, Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí - NOVAFAPI. Grupo
de Estudos sobre Enfermagem, Violência e Saúde
Mental. Teresina, Piauí, Brasil. email: cmonteiro@
novafapi.com.br.
Lorena Rocha Batista de Carvalho
Enfermeira. Especialista em Urgência e Emergência
pela IBPEX. Plantonista no HPM. Teresina, Piauí.
Submissão: 15/08/2011
Aprovação: 04/09/2011
42
RESUMO
Este estudo têm como objetivo investigar as infecções hospitalares das Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s) em um hospital público de referência para alta complexidade do Estado do Piauí. Trata-se
de um levantamento epidemiológico, de corte transversal, realizado em duas unidades de terapia
intensiva. A população foi constituída por 441 pacientes internados no período de janeiro a junho
de 2011. A amostra foi constituída por 76 pacientes que desenvolveram 106 episódios de infecção. Quanto à causa da internação, 26,3% dos pacientes foram internados por politraumatismos e
traumatismo crânio encefálico e 21,6% por clipagem de aneurisma. A taxa de infecção hospitalar
nas duas unidades de terapia intensiva foi de 24%. Quanto à topografia, 59,4% dos pacientes apresentaram infecções respiratórias e 23,6% urinárias. Quanto aos procedimentos invasivos, 100% dos
pacientes receberam sondagem vesical e 85,5% sondagem nasogástrica. A taxa de mortalidade foi
de 17,1% nas duas unidades. Desta forma, percebe-se que a prevalência de infecção hospitalar continua sendo um problema relacionado à assistência aos pacientes das unidades de terapia intensiva.
Assim, é necessário que as instituições prestadoras de serviços de saúde adotem as recomendações
do Programa Nacional de Prevenção e Controle das Infecções Hospitalares.
Descritores: Infecção hospitalar. Microbiologia. Unidade de Terapia Intensiva.
ABSTRACT
This study aim to investigate the nosocomial infection of intensive care units (ICUs) in a public hospital of reference for high complexity of Piauí. This is an epidemiological cross-sectional study, conducted in two intensive care units. The study population consisted of 441 patients hospitalized between
January to June 2011. The sample consisted of 76 patients who developed 106 episodes of infection.
As to the cause of hospitalization, 26.3% of patients were hospitalized for multiple trauma and traumatic brain injury and 21.6% for aneurysm clipping. The rate of nosocomial infection in two intensive
care units was 24%. In terms of topography, 59.4% of patients had respiratory infections and urinary
23.6%. As for invasive procedures, patients received 100% of the vesical and nasogastric probing
85.5%. The mortality rate was 17.1% in both units. Thus, it is clear that the prevalence of nosocomial
infection remains a problem related to patient care of intensive care units. Thus, it is necessary that
the institutions providing health services to adopt the recommendations of the National Program for
Prevention and Control of Hospital Infections.
Descriptors: Nosocomial infection. Microbiology. Intensive Care Unit.
RESUMEN
Este objetivo del estudio para investigar la infección nosocomial de las unidades de cuidados intensivos (UCI) en un hospital público de referencia para la alta complejidad de Piauí. Se trata de un
estudio epidemiológico transversal, realizado en dos unidades de cuidados intensivos. La población de estudio consistió de 441 pacientes hospitalizados entre enero y junio de 2011. La muestra
consistió en 76 pacientes que desarrollaron 106 episodios de infección. En cuanto a la causa de la
hospitalización, el 26,3% de los pacientes fueron hospitalizados con lesiones múltiples y lesiones
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
Infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um hospital público
cerebrales traumáticas y el 21,6% para el clipaje de aneurismas. La tasa de
infección nosocomial en dos unidades de cuidados intensivos fue de 24%.
En cuanto a la topografía, el 59,4% de los pacientes tenían infecciones
respiratorias y urinarias 23,6%. En cuanto a los procedimientos invasivos,
los pacientes recibieron 100% de la vesical y nasogástrica sondeo 85,5%.
La tasa de mortalidad fue de 17,1% en ambas unidades. Por lo tanto, es
evidente que la prevalencia de infecciones nosocomiales sigue siendo
un problema relacionado con la atención al paciente de las unidades de
cuidados intensivos. Por lo tanto, es necesario que las instituciones que
prestan servicios de salud a adoptar las recomendaciones del Programa
Nacional de Prevención y Control de Infecciones Hospitalarias.
Descriptores: Infección hospitalaria. Microbiologia. Unidad de Cuidado
Intensivo.
1
INTRODUÇÃO
A infecção hospitalar (IH) surgiu com o advento do próprio hospital,
tornando-se, atualmente, um grande problema de saúde pública mundial, com consequências negativas, tanto para o paciente, como para as
instituições de saúde, aumentando a morbidade e a mortalidade entre
os pacientes e elevando os custos hospitalares, em grande parte devido à
utilização de procedimentos cada vez mais sofisticados, a patogenicidade
dos microorganismos e uso inadvertido de antimicrobianos resultando no
aparecimento da resistência microbiana a estes medicamentos.
No Brasil, a infecção hospitalar é definida pela Portaria nº 2.616
/1998 do Ministério da Saúde como “a infecção adquirida após a admissão
do paciente na unidade hospitalar e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionado com a internação ou
procedimentos hospitalares”. Esta Portaria mantém a obrigatoriedade da
existência de um programa de controle de infecção hospitalar em todos
os hospitais do país (BRASIL, 1998).
Existem milhares de espécies de microorganismos encontrados no
corpo humano, podendo ser inócuas ou patogênicas. Esses microorganismos ganharam mais importância, atualmente, não só pela capacidade de causar doenças, como também, pela sua capacidade de mutação
e recombinação genética responsável pelo fenômeno da resistência aos
antimicrobianos, encontradas principalmente em locais propícios ao uso
constante de medicamentos, capaz de colocar em xeque o desenvolvimento da moderna antibióticoterapia, sendo imprescindível, portanto,
conhecê-las para ajudar a tomar decisões quanto ao diagnóstico e ao tratamento adequado, contribuindo para diminuir os índices de morbidade
e a mortalidade (SCHAECHTER, et al. 2009).
As complicações das infecções hospitalares são decorrentes do
desequilíbrio entre os mecanismos de defesa anti-infeccioso do organismo relacionado a uma doença de base e da agressão terapêutica ou
diagnóstica e aos patógenos oportunistas que constituem a microbiota
residente ou transitória do hospedeiro, portanto todas as complicações
locais ou sistêmicas, anatômica ou funcional do organismo humano são
potencialmente facilitadoras do surgimento do processo infeccioso (SILVA,
et al. 2011).
O Centers for Disease Control and Prevention (2010), órgão americano responsável pela prevenção e controle da infecção hospitalar deste
país, informou, recentemente, que nos hospitais americanos as infecções
hospitalares representam cerca de 1,7 milhões de infecções, sendo que
99.000 mortes são associadas à IH, a cada ano, e 1 em cada 20 (5%) paRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
cientes internados nos hospitais dos Estados Unidos adquire IH, gerando
gastos que chegam, aproximadamente, entre 26 a 33 bilhões de dólares
com cuidados médicos.
No Brasil, a magnitude do problema das infecções relacionadas a
atenção à saúde não é completamente conhecida, mas em um estudo
realizado em 99 hospitais (apesar de ter sido realizado em 1995, continua
sendo o mais representativo nacionalmente), revelou uma prevalência de
infecção hospitalar de 15,5%, o que corresponde a mais de duas vezes o
preconizado pelo Ministério da Saúde, que é de 6%. Além disso, as instituições de saúde pública possuem taxa de prevalência de IH de 18,4%, que
se explica, em parte, porque os hospitais públicos normalmente atendem
casos de maior complexidade enquanto que os privados são responsáveis
por casos mais seletivos e de menor complexidade (PRADE, et al. 1995).
No Piauí, esta realidade não é diferente, pois um levantamento realizado no ano de 2006, no Hospital Getúlio Vargas (HGV), referência no
atendimento de alta complexidade, que funciona desde a década de 1940
e possui Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), apresentou
uma taxa de prevalência de IH de 31,1%, muito acima dos padrões de tolerância preconizado pelo Ministério da Saúde, e que não está distante dos
outros cinco hospitais de referência deste Estado com uma prevalência de
IH média de 27,9% (MOURA, et al. 2007).
Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s), concentram-se pacientes
clínicos ou cirúrgicos mais graves, necessitando de monitorização e suporte contínuos de suas funções vitais, constituindo-se em lugares propícios
para o desenvolvimento de IH, pois estes pacientes são submetidos a procedimentos invasivos, sejam eles para fins terapêuticos ou diagnósticos,
além do tempo de permanência deste paciente, uma vez que é um local
de atendimento à saúde de alta complexidade, atuando de forma decisiva quando há instabilidade de órgãos e sistemas funcionais com risco de
morte (MARTINS, 2006).
Nessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo investigar as
infecções hospitalares das Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s) em um
hospital público de referência para alta complexidade do Estado do Piauí.
2
METODOLOGIA
Trata-se de um levantamento epidemiológico, de corte transversal,
descritivo, realizado nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) de um hospital de referência para alta complexidade para o estado do Piauí.
O Levantamento epidemiológico é uma pesquisa de campo feita
em uma determinada área para identificar os problemas de saúde de uma
população de um determinado local, sendo que através deste estudo é
possível propor um plano de intervenção adequado e eficaz diretamente
voltado para resolver os problemas diagnosticados no levantamento epidemiológico realizado (MEDRONHO, 2008).
Para Marcone e Lakatos (2010), através de um estudo transversal
é possível detectar “causa” e “efeito” simultaneamente e através da análise
dos dados identificar os grupos de interesse, os “expostos” e os “não-expostos”, os “doentes” e os “sadios”, de modo a investigar a associação entre
exposição e doença. Esta associação, por sua vez, é feita como no risco
relativo, porém denomina-se razão de prevalência (relação entre a prevalência entre expostos e entre não-expostos), podendo ser feito o cálculo
também pelo odds ratio.
O estudo foi realizado nas duas Unidades de Terapia Intensiva do
Hospital Getúlio Vargas (HGV), denominadas de UTI-1 e UTI-2 sendo que
as UTI’s possuem um total de 15 leitos, divididos em UTI-1 com 8 (oito)
43
Carvalho, M. M.; et al.
leitos e UTI-2 com 7 (sete) leitos, e possuem uma média de internação de
73,5 (setenta e três e meio) pacientes por mês. Na sua maioria, internam
pacientes com problemas neurológicos e em pós-operatório de grandes
cirurgias, sendo que 1 leito de cada unidade é destinado para pacientes
em isolamento.
O Hospital Getúlio Vargas (HGV), localizado na cidade de Teresina,
capital do estado do Piauí, foi escolhido por se tratar de em hospital público, geral, de grande porte, de ensino e referência para a alta complexidade para o estado do Piauí, atendendo pacientes procedentes de todo o
estado como também pacientes dos estados vizinhos como Maranhão,
Tocantins, Pará e Ceará.
O Hospital Getúlio Vargas oferece serviços de atendimento em
diversas especialidades, tanto ambulatorial como hospitalar, e dispõe de
427 (quatrocentos e vinte e sete) leitos, distribuídos em 04 (serviços) e
11 clínicas especializadas, como também, uma Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar (CCIH) com membros consultores e executores que
realizam busca ativa de casos de infecção hospitalar.
A população do estudo foi constituída de 441 (quatrocentos e quarenta e um) pacientes que foram internados nas UTI’s 1 e 2 do HGV. A
amostragem foi constituída por 76 (setenta e seis) pacientes que desenvolveram infecção hospitalar, conforme critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde, segundo a Portaria nº 2616/98, e um total de 106 episódios
de infecção de infecção hospitalar.
Foram considerados como critérios de inclusos os pacientes internados nas UTI’s e que apresentaram sinais sugestivos de infecção hospitalar com resultado positivo de cultura, sendo acompanhados desde a
admissão até a alta desta unidade, por meio da visita do pesquisador realizada diariamente para avaliar os resultados positivos de cultura e teste de
sensibilidade antimicrobiana e outras informações contidas no prontuário.
Os casos que não tiveram resultados de cultura positiva foram excluídos.
Os dados foram coletados diariamente de prontuários dos pacientes com diagnóstico de infecção hospitalar no período de seis meses, de
janeiro a junho de 2011 nas UTI’s, pelo próprio pesquisador.
A identificação do microorganismo foi realizada através da cultura
representativa da respectiva topografia da infecção, previamente solicitada pelo profissional médico das UTI’s realizado pelo laboratório de microbiologia conveniado ao hospital, já que este serviço é terceirizado. O restante dos dados, como a identificação do serviço, número do prontuário,
doença subjacente, topografia da IH, foram coletados do prontuário sem a
necessidade de aguardar o resultado dos exames laboratoriais.
O diagnóstico microbiológico que é realizado pelo exame de cultura depende do crescimento dos microrganismos nos meios de cultura e
da identificação por meio de provas bioquímicas. A representatividade da
amostra clínica em relação ao processo infeccioso em investigação depende das condições de coleta e transporte e da compreensão da fisiopatologia das infecções (BRASIL, 2004).
Para realização da coleta de dados, o instrumento utilizado foi um
formulário estruturado que de acordo com Marcone e Lakatos (2010) é
um instrumento essencial para a investigação, destinado à coleta de dados, resultantes da observação ou interrogatório, onde o preenchimento é
feito pelo próprio autor obedecendo a um roteiro previamente elaborado.
Os dados foram digitados no programa Excel 2010 e analisados
com a utilização do aplicativo Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS), versão 18.0.
De posse dos dados, foram realizadas análises para observar a normalidade da distribuição das variáveis numéricas do estudo pelo teste de
44
Kolmogorov-Smirnov. Com a comprovação da normalidade das variáveis,
aplicou-se o teste t de student para observar a diferença entre os achados
na UTI 1 e UTI2. Para auxiliar na organização estatística dos dados, os resultados das análises foram expostos em tabelas e gráficos e a discussão foi
feita com base na literatura produzida sobre o tema.
Mesmo se tratando de coleta de dados realizada diretamente do
prontuário do paciente, foi elaborado um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) como exigência do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da UFPI e do referido Hospital, que foi assinado pelos familiares dos pacientes sobre a participação dos mesmos na pesquisa.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFPI, em 23 de novembro de 2010, processo nº 0327.0.045.00010, mediante a autorização da Direção do referido Hospital para coleta de
dados sendo garantida a confidencialidade, a privacidade, a proteção da
imagem, a não estigmatização e a não utilização de informações em prejuízo das pessoas, conforme os princípios norteadores dispostos na Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
3
RESULTADOS
Os resultados do estudo foram apresentados quanto: a distribuição dos pacientes internados com resultado de cultura positivo segundo
a causa da internação nas UTI 1 e UTI 2; as taxas de infecção hospitalar nas
UTI 1 e UTI 2; a distribuição de episódios de infecção segundo a topografia
nas UTI 1 e UTI 2; os principais microorganismos causadores de infecção
hospitalar nas UTI 1 e UTI 2 e a taxa de letalidade nas UTI I e UTI II.
As Unidades de Terapia Intensiva (UTI), pela sua própria característica de atendimento de pacientes graves, tendo como objetivos prover
um suporte de vida para estes pacientes que em sua maioria apresenta
falência de órgão e sistemas monitorização continua e invasiva para diagnóstico e tratamento, somando-se, também, realização de cirurgias complexas, uso de drogas imunossupressoras, uso de antimicrobianos de amplo espectro e a realização de procedimentos invasivos, tornam-se local
mais propício para o desenvolvimento de infecção no ambiente hospitalar
(COUTO et al. 2009).
Tabela 1: Distribuição dos pacientes internados com resultado de
cultura positivo segundo a causa da internação nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011.
n
%
TCE/ Politraumatismo20
26,3
Clipagem de aneurisma
16
21,6
Insuficiência respiratória
12
15,8
Ressecção de Tumor cerebral
11
14,5
IAM/ ICC
07
9,2
Neuropatia- Guillam Barre/ epilepsia
05
6,6
Distúrbios intestinais03
3,9
Insuficiência renal01
1,3
Intoxixação medicamentosa
01
1,3
Total 76
100
Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV.
Conforme a tabela 1, o principal diagnóstico médico encontrado
no estudo foi traumatismo crânio encefálico (TCE)/ politraumatismo com
n=20 (26,3%), seguida de clipagem de aneurisma com n=16(21,6%), logo
depois, ressecção de tumor cerebral n= 11(14,5%) e neuropatia de Guilham Barre e epilepsia n= 05 (6,6%) que foram somadas devido alteração
específica do sistema nervoso central, sendo que juntos representam 52
casos (69,0%), o que demonstra a importância das patologias que afetam
o sistema nervoso.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
Infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um hospital público
O diagnóstico médico de insuficiência respiratória (tabela 1) foi encontrado como causa de internação em 12 pacientes (15,8%), que demandam de um suporte ventilatório mecânico, dessa forma o paciente fica mais
exposto à penetração de microorganismo no trato respiratório inferior.
Os problemas cardíacos, infarto agudo do miocárdio e insuficiência
cardíaca congestiva representaram n=07 (9,2%), sendo apenas o quinto
diagnóstico médico mais frequente em pacientes com infecção hospitalar
nas UTI’s em estudo, provavelmente, devido estas UTI’s não serem referência no atendimento desse tipo de patologia.
As taxas de infecção hospitalar nas UTI’s em estudo, conforme tabela 2 abaixo, foram 64,1% e 18,9% respectivamente nas UTI’s 1 e 2, sendo
que a UTI 1 obteve 59 resultados de culturas positiva, enquanto que a UTI
2 teve 47 culturas positivas.
Tabela 2: Taxa infecção hospitalar nas UTI 1 e UTI 2. Teresina, 2011.
Mês
x= 9,8
P
JANEIRO 32
FEVEREIRO29
MARÇO 29
ABRIL
30
MAIO
36
JUNHO 36
TOTAL
192
SETOR
UTI 1
±= 4,2
n
%
15
46,9
8
27,6
13
44,8
12
40,0
4
11,1
7
19,4
59
64,1
TOTAL
UTI 2
x= 7,8
±= 3,3
P
n
%
P
n
43 11
25,6 75
26
46 5
10,9 75
13
47 6
12,8 76
19
48 4
8,3 78
16
34 12
35,3 70
16
31 9
29,0 67
16
249 47
18,9 441 106
%
34,7
17,3
25,0
20,5
22,8
23,9
24,0
Legenda : P= número de pacientes internados; n= número culturas positivas e % = Taxa de IH.
Fonte: Secretaria das UTI’s do HGV.
A taxa geral de Infecção hospital nas duas UTI’s ( tabela 2), nos primeiros seis meses do ano de 2011, foi de 24,0%, com 106 resultados de
cultura positivo, sendo que a maior taxa de IH foi no mês de janeiro 34,7%,
com 26 resultados de cultura positivos, seguido pelo mês de março com
uma taxa de IH 25,0%, com 19 resultados de cultura positivos e, no mês
de fevereiro, ocorreu a menor taxa de IH 17,3%, com 13 resultados de
cultura positivos.
Na UTI 1, o mês de maio obteve a maior taxa de infecção com 12
culturas positivas e uma taxa de infecção hospitalar de 35,3%, seguido
pelo mês de junho, com 9 culturas positivas e uma taxa de infecção hospitalar de 29,0 %, o mês de janeiro apresentou 11 culturas positivas e em
taxa de IH de 25,6%, sendo que no mês abril obteve-se a menor taxa com
04 culturas positivas e uma taxa de IH de 8,3% (tabela 2).
Na UTI 2, o mês de maio foi o que mais contribuiu com esta taxa
de infecção, com 12 culturas positivas e uma taxa de infecção hospitalar
de 35,3%, seguido pelo mês de junho, com 9 culturas e uma taxa de IH
de 29,0%. O mês de janeiro apresentou 11 culturas e uma taxa de 25,6%,
tendo o mês de abril à menor taxa com 04 culturas positivas e uma taxa
de IH de 8,3% (tabela 2).
Tabela 3: Distribuição de episódios de infecção segundo a topografia nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011.
Topografia
Respiratória Urinaria Sanguinea
Ferida operatória
Liquido cefalorraquidiano
Inserção da ponta de cateter
TOTAL
Setor UTI 1
UTI 2
n
% n
%
39 66,1 24
51,1
14 23,7 11
23,4
03 5,1
05
10,7
01 1,7
03
6,4
02 3,4
02
4,2
-
-
02
4,2
59 55,7 47
44,3
TOTAL
n
63
25
08
04
04
02
106
Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
%
59,4
23,6
7,5
3,8
3,8
1,9
100
Observando a tabela 3 que descreve a distribuição topográfica das
infecções hospitalares, a principal topografia das infecções hospitalares
nas UTI’s em estudo são a respiratória 63 casos (59,4%), sendo a urinária a
segunda em freqüência respondendo com 25 casos (23,6%), a sanguinea
com 8 casos (7,5%), ferido operatória e líquido cefaloraquidiano ambas
com 4 casos (3,8%) e em menor magnitude a ponta de cateter com 2
casos (1,9%).
Tabela 4: Principais microorganismo causadores de infecção hospitalar nas UTI 1 e UTI 2. Teresina-PI, 2011.
Microorganismo
Pseudomonas sp.
Pseudomonas aeruginosa
Klebsiella sp.
Staphylococcus aureus
Escherechia coli
Outros Bacilos Gram negativo
não fermentador
Proteus mirabilis
Alcaligenes sp.
TOTAL
Setor
UTI 1
UTI 2
n %
n
07 11,7 09
16 27,1 12
18 30,6 08
08 13,6 10
06 10,2 05
%
19,1
25,5
17,0
21,4
10,6
n
16
28
26
18
11
%
15,1
26,4
24,5
16,9
10,5
03
01
-
59
4,3
-
2,1
44,3
05
01
01
106
4,8
0,9
0,9
100
5,1
1,7
-
55,7
02
-
01
47
TOTAL
Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV
Os microorganismos mais frequentes nos episódios de infecção
hospitalar nas UTI’s, conforme a tabela 4, foi em maior frequência a Pseudomonas aeruginosa, com 28 episódios (26,4%), seguida da Klebisiela sp.,
com 26 episódios (24,5%), logo após o Staphylococcus aureus, com 18
episódios (16,9%), em menor frequência aparece a Pseudomonas sp., com
16 e episódios (15,1%), a bactéria Escherechia coli representou 11 episódios (10,5%); por último, apareceram o outros bacilos Gram negativo não
fermentador, Proteus mirabilis e Alcaligenes sp., respectivamente com 3
(4,8%);1(0,9%) e 1(0,9%) episódios. Sendo que o microorganismo Proteus
mirabilis somente foi encontrado na UTI 1 e o Alcaligenes sp. foi encontrado somente na UTI 2.
Tabela 5: Taxa de letalidade nas UTI I e UTI II. Teresina-PI, 2011.
Mês UTI 1
TOTAL
P
43
n
09
SETOR UTI 2
%
P
n
%
P
20,9 33 04
12,1
76
TOTAL
n
13
%
17,1
Fonte: Prontuários dos pacientes internados nas UTI’s do HGV.
A taxa de mortalidade descrita na tabela 5 aponta para uma taxa
de 20,93% na UTI 1, enquanto que na UTI 2 foi de 12,12% . Perfazendo um
total de 13 óbitos relacionados com infecção hospitalar com uma taxa de
17,1%.
4
DISCUSSÃO
As infecções hospitalares não só elevam as taxas de morbimortalidade, como também, ampliam o tempo de permanência dos pacientes
nos hospitais, com o consequente aumento do custo do tratamento e
uma maior utilização dos leitos hospitalares.
Devido ao alto nível de tecnologia empregado nas UTI, temos
como consequência o prolongamento da sobrevida do paciente, mesmo
os que se encontram em situações adversas. No entanto, contamos com
o ônus do risco de IH. Nesse contexto, a UTI constitui um importante foco
de atenção relacionada às práticas assistenciais por representar, em média
de 20 a 30% de todas as infecções notificadas no âmbito hospitalar (PATRÍCIO, 2008).
45
Carvalho, M. M.; et al.
A distribuição das patologias de base dos pacientes das UTI (tabela
2) em estudo foi mais frequente para traumatismo crânio encefálico (TCE)/
politraumatismo, com 20 casos (26,3%). Conforme Couto et al. (2009), os
pacientes politraumatizados apresentam um estado hipermetabólico, o
que gera uma deficiência nutricional que acarreta numa redução da função imunológica, além do traumatismo em si que gera a necessidade de
colocação de drenos cirúrgicos, soroterapia, sondagem vesical e endotraqueal que facilitam a invasão microbiológica
O diagnóstico médico de insuficiência respiratória (tabela 2) foi
encontrado como causa de internação em 12 pacientes (15,8%), que demandam de um suporte ventilatório mecânico, expondo, dessa forma, o
paciente à penetração de microorganismo no trato respiratório inferior.
Nos dados encontrados por Patrício (2008), a Pneumonia foi à doença de
base predominante, com 150 casos (21,0%) dos pacientes em estudo.
Os problemas cardíacos, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva, representaram 7 casos (9,2%) (tabela 2), sendo
apenas o quinto diagnóstico médico mais frequente em pacientes com
infecção hospitalar nas UTI’s em estudo, provavelmente, devido estas UTI’s
não serem referência no atendimento desse tipo de patologia. Dados divergentes foram encontrados por Patrício (2008) em que a hipertensão
arterial sistêmica com 112 casos (15,7%) e acidente vascular cerebral com
79 casos (11%), foram, respectivamente, a segunda e terceira patologia de
base mais frequente nos pacientes internados nas UTI.
Em pacientes críticos como os internados na UTI existe uma série
de associações de fatores propícios para o surgimento de IH, dentre esses
se destaca a gravidade dos pacientes, ou seja, apresentam instabilidade de
um ou mais dos seus sistemas orgânicos. Esses pacientes possuem risco
iminente de vida ou são portadores de doenças de base severas, que os
fazem viver frequentemente à custa de medidas adicionais de suporte,
muitas das quais com a quebra de barreiras de defesa orgânica, proveniente de cateteres, entre outros (LIMA et al. 2007).
As taxas de infecção hospitalar nas UTI’s em estudo foram, ao final
dos seis primeiros meses do ano de 2011, no total de 64,1% e 18,9 %,
respectivamente, nas UTI’s 1 e 2 (Tabela 4). Essas taxas foram mais altas
na UTI 1 nos meses de janeiro 46,9% e março 44,8% e na UTI 2 estas taxas foram mais altas nos meses de maio 35,3% e junho com 29%. Acima
da taxa máxima de tolerância preconizado pela Organização Mundial de
Saúde que é de 2% para o hospital como um todo e de 9 a 20 % nas UTI.
Já o Ministério da Saúde preconiza taxas menos que 6 % de IH para todo
o hospital (PATRÍCIO, 2008).
No estudo realizado nas UTI’s do mesmo hospital em estudo, Moura et al. (2007) encontraram, no ano de 2006, uma taxa de IH, de 60,8%,
sendo que a UTI-1 responsável pelo maior taxa de infecção, com uma taxa
de 64%, enquanto a UTI-2 teve uma taxa de 57,6%, que demonstra que na
UTI 1 essa taxa continua praticamente a mesma. Já na UTI 2 houve uma
queda significativa de 68,5%, em comparação com as taxas deste estudo,
apesar das normas e rotinas destas unidades serem as mesmas existe uma
disparidade entre essas taxas, que evidencia que a realidade vivenciada
por aquela instituição de saúde e a necessidade de medidas objetivas para
o enfrentamento desta temática.
Patrício (2008) descreve que em três anos de estudo em duas instituições foram encontradas as taxas de IH de 37% ao ano no Hospital
César Cals e de 52% no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). No entanto, no
HGF alguns dados de internamento na UTI foram perdidos durante o ano
de 2006.
Quando se analisa as topografias mais frequentes no episódio de
46
infecção hospitalar, observa-se que neste estudo a respiratória representa
63 casos (59,4%), sendo a urinária a segunda em freqüência, respondendo
com 25 casos (23,6%), e a sanguinea com 8 casos (7,5) (tabela 6). Carvalho
(2004) descreve nas UTI’s do presente estudo que as infecções hospitalares
respiratórias foram as mais frequentes no período de agosto a dezembro
de 2003, registrando-se um percentual de 72,1% dos casos de infecção
respiratórias notificadas comparadas com os outros casos de Infecção hospitalar para os quais se obteve um percentual de 27,95
Moura et al. (2007), ao realizarem um levantamento das principais
topografias das infecções hospitalares nas duas UTI em estudo hospital, no ano de 2006, constataram que a topografia respiratória foi a mais
freqüente, com 237 casos (60,1%), seguida pela topografia sistêmica ou
sanguínea, com 70 casos, logo após aparece a urinária como a terceira
topografia mais freqüente, com 64 casos (16,2%). Demonstrando que a
topografia respiratória (tabela 6) continua sendo importante para o aparecimento da infecção hospitalar.
Em estudo realizado por Silva et al.(2011), a infecção do trato respiratório inferior é a mais importante causa de morbimortalidade nas unidades de terapia intensiva, sendo também as que possuem o maior número
de casos. Esta afirmativa está de acordo com os achados dessa pesquisa
que colocam a infecção do trato respiratório como a mais frequente, tendo mais do dobro de casos em relação à infecção do trato urinário
De acordo com Ferreira e Lara (2010), entre as infecções hospitalares, a pneumonia hospitalar é uma das mais importantes causas de óbito,
sendo que estudos multicêntricos realizados na Europa apontaram para a
mesma realidade, como também, nos Estados Unidos, onde as taxas de
mortalidade chegam a 60%.
Para Couto et al. (2009), este tipo de infecção ocorre por aspiração
repetida de pequenos volumes de secreções das vias aéreas superiores,
broncoaspiração de conteúdo gástrico, disseminação hematogênica de
um foco à distância ou contaminação devida a instrumentalização respiratória.
As infecções hospitalares do trato urinário são pouco valorizadas
quanto ao potencial de complicação para o paciente, pois podem desencadear abscessos renais e perinefréticos, uretrite, epididimite, infecções de
glândula periuretral e bacterimia, aumentando, dessa forma, a morbidade,
tempo de internação e os custos hospitalares (COUTO et al. 2009).
Neste estudo, verificou-se, de acordo com a tabela 7, que Pseudomonas aeruginosa com 28 episódios (26,4%) foi o microorganismo mais
frequente nos episódios de IH, seguida da Klebisiela sp., com 26 episódios
(24,5%), logo após o Staphylococcus aureus, com 18 episódios (16,9%),
em menor frequência aparece a Pseudomonas sp., com 16 e episódios
(15,1%).
Moura et al. (2007) encontraram nas UTI do presente estudo no
ano de 2006, que a Pseudomonas aeruginosa foi o microorganismo que
mais vezes apareceu no estudo com 94 episódios, perfazendo 23,9%
dos casos. O Staphylococcus aureus apresentou uma frequência de 67
episódios, o que representou 17,1% dos casos, sendo que os outros bacilos gran-fermentadores (BGN) apareceram em 76 episódios com uma
porcentagem de 19,4%. Demonstrando que a Pseudomonas aeruginosa
continua sendo o microorganismo mais presente no episódio de infecção hospitalar, como também o Staphylococcus aureus continua sendo
o terceiro patógeno mais importante em números absolutos. E o aparecimento da Klebsilla sp., com o segundo microorganismo mais presente no
episódio de infecção.
Conforme Jawetz, Melnick e Adelberg (2009), a Pseudomonas
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
Infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um hospital público
aeruginosa coloniza nos seres humanos e se constitui no principal patógeno do grupo das bactérias gram-negativas, provocando infecções em
pacientes com deficiência nas suas defesas antimicrobianas, constituindo-se num importante patógeno hospitalar. Estes microorganismos desencadeiam no paciente febre, choque, oligúria, leucocitose e leucopenia,
coagulação intravascular disseminada e síndrome da angústia respiratória
no adulto.
A Pseudomonas aeruginosa só é patogênica quando introduzida
em áreas desprovidas de defesas normais, ou seja, quando as mucosas e
a pele são rompidas por lesão tecidual direta, utilização de cateteres intravenosos ou urinários ou quando ocorre a neutropenia (JAWETZ, MELNICK
E ADELBERG, 2009).
De acordo com Ferreira e Lara (2010), existem relatos de estudos
realizados no Brasil e em outros países que a Pseudomonas aeruginosa
está apresentando um aumento de resistência aos antimicrobianos mais
utilizados em seu tratamento, destacando-se aos antimicrobianos de
maior espectro de ação como os carbapenêmicos e as cefalosporinas
antipseudomonas, que são as principais opções terapêuticas utilizadas
atualmente.
O gênero das Klebsiella são bactérias caracterizadas pela alta virulência in vivo, sendo que a pneumonia causada por este microorganismo
tem sua gênese, na grande maioria das vezes, devido à incapacidade de
eliminação de secreções do trato respiratório inferior, envolvendo a destruição de espaços aveolares, a formação de cavidades e a produção de
muco sanguinolento, que pode provocar, também, infecções em feridas,
tecidos moles e trato urinário (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2006).
Os cocos gram-positivos representados pelos Staphylococcus aureus estão presentes na pele e nas mucosas dos seres humanos, sendo um
patógeno importante para os seres humanos por causarem um amplo espectro de doenças que ameaçam a vida, incluindo doenças da pele, tecidos moles, ossos e trato urinário, além de infecções oportunistas (MURRAY;
ROSENTHAL; PFALLER, 2006).
Para Fuchs e Wannermacher (2010), o desafio atual consiste no desenvolvimento de formas para superar a resistência bacteriana, seja por
surgimento de novos antimicrobianos, seja pelo uso racional das opções
terapêuticas vigentes, mediante corretas indicações, seleção de medicamentos e adequação da prescrição quanto à administração dos mesmos,
com obediência aos princípios farmacocinéticos dos antimicrobianos.
Oliveira et al. (2009) relatam uma taxa de mortalidade institucional
de 46,6% em estudo realizado nas UTI’s de um hospital universitário de
Mato Grosso do sul, não havendo uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,73) na distribuição de óbito entre os pacientes que adquiriram e os que não adquiriram infecção hospitalar.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
O desfecho satisfatório na luta constante contra microorganismo
patógenos e sua infinita capacidade de adquirir resistência aos antimicrobianos depende, entre outras coisas, do surgimento de novos fármacos, sensibilização dos profissionais de saúde e, principalmente, pelo uso
racional desses medicamentos e prescrição criteriosa pelos profissionais
responsáveis.
5
CONCLUSÃO
O estudo demonstrou como as infecções hospitalares se apresentam nas UTI estudadas, onde se constatou que os pacientes com este
agravo possuem a faixa etária predominante adulta com idade entre 41
e 59 n=26(34,2%), do sexo masculino, 43 (56%) em sua maioria, e são do
interior do estado 41(53,9%).
O traumatismo crânio encefálico/ politraumatismo foi o diagnóstico de doença de base mais frequente, com 20 pacientes, o que representou 26,3% dos casos. Os microorganismos causadores de infecção
hospitalar desta instituição de saúde foram a Klebsiela sp., com 18 casos
(30,6%), o microorganismo mais frequente na UTI 1 e a Pseudomonas Aeruginosa, com 12 casos (25,5%), a mais frequente na UTI 2.
Como pode ser observado também, que a Pseudomonas sp. possui
uma resistência para o antimicrobiano cefepime de 31,3%, fato preocupante por ser um medicamento de escolha, no limitado arsenal, contra
microorganismos causadores de infecção hospitalar.
A taxa geral de Infecção hospital nas duas UTI’s, nos primeiros seis
meses do ano de 2011, foi de n=76 (17,2%), tendo os meses de Março
uma taxa n=19 (25%), seguido do mês de Janeiro n=18 (24%) e no mês de
Abril a menor taxa, com n=09 (11,53%). Como também, a taxa de mortalidade descrita com 20,93% na UTI 1, enquanto que, na UTI 2 foi de 12,12% .
Portanto, deve-se investir no processo de educação permanente dos profissionais que prestam serviço neste hospital como elemento
principal para o desenvolvimento de práticas de prevenção e controle de
infecção hospitalar para uma assistência mais segura e qualifidade para
os pacientes.
A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CCIH deve implementar um sistema informatizado para o adequado monitoramento e
avaliação dos casos de infecção hospitalar, facilitando a divulgação das
informações, bem como reavaliar como é realizado o diagnóstico microbiológico na detecção das infecções hospitalares para se conhecer o
verdadeiro perfil de sensibilidade dos microorganismos e realizar a padronização dos antimicrobianos utilizados pelos profissionais médicos, principalmente no ambiente hospitalar.
47
Carvalho, M. M.; et al.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.42-48, Out-Nov-Dez. 2011.
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Atividade ocupacional como fator de qualidade de vida na terceira idade
Occupational activity as a factor of quality of life in elderly
Actividad profesional como factor de calidad de vida en personas mayores
Letícia Mauricio Fortes
Graduada em Psicologia pela Faculdade Integral
Diferencial - FACID .Formação em Arteterapia.
Psicóloga Clínica do Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS/ Riachão – MA .Especialista
em Saúde Mental.
Lara Emanueli Neiva de Sousa
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade
Federal do Piauí (UFPI). Participante do Programa de
Iniciação Científica Voluntária da UFPI. Membro do
grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência e
Saúde Mental da UFPI.
RESUMO
O estudo buscou analisar a contribuição da atividade ocupacional para a qualidade de vida de pessoas idosas. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, realizada no Centro de Referência de
Assistência Social – CRAS, localizado na cidade de Riachão – MA. Os sujeitos foram sete idosos com
idades entre 60 e 79 anos que participam do programa CONVIVER. Com a execução da pesquisa,
percebeu-se que as atividades exercidas influenciam positivamente na qualidade de vida destas
pessoas. Verificou-se a grande importância de praticar alguma atividade durante a terceira idade,
pois as mesmas promovem a interação social e favorecem o aumento da autoestima. Contudo, ainda é preocupante o descaso de políticas públicas direcionadas à terceira idade. Portanto, se faz necessário fazer valer os direitos dos idosos, que muitas vezes não são cumpridos em sua integralidade.
Descritores: Idoso. Qualidade de vida. Atividade.
ABSTRACT
Márcia Astrês Fernandes
Docente Adjunta da Universidade Federal do
Piauí (UFPI). Docente da Faculdade de Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
Mestre em Enfermagem pela UFRJ. Doutoranda em
Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP).
The study investigates the contribution of occupational activity to the quality of life of older people.
This is a qualitative research, conducted at the Center for Social Assistance Reference - CRAS, located
in the city of Riachão - MA. The subjects were seven people aged between 60 and 79 years participating in the program LIVING. With the implementation of research, it was realized that the activities
carried out positively influence the quality of life of these people. There was the great importance of
practicing any activity during old age, because they promote social interaction and foster increased
self-esteem. However, it is still worrying neglect of public policies aimed at seniors. Therefore, it is
necessary to enforce the rights of the elderly, who often are not completed in its entirety.
Descriptors: Aged. Quality of life. Occupational.
RESUMEN
El estudio investiga la contribución de la actividad profesional a la calidad de vida de las personas mayores. Esta es una investigación cualitativa, llevada a cabo en el Centro de Referencia de
Asistencia Social - CRAS, que se encuentra en la ciudad de Riachão - MA. Los sujetos fueron siete
personas de edades comprendidas entre 60 y 79 años que participan en el programa de VIDA. Con
la implementación de la investigación, se dio cuenta de que las actividades llevadas a cabo influir
positivamente en la calidad de vida de estas personas. No era la gran importancia de la práctica de
cualquier actividad en la vejez, ya que promueven la interacción social y fomentar el aumento de la
autoestima. Sin embargo, sigue siendo preocupante el abandono de las políticas públicas destinadas a personas mayores. Por lo tanto, es necesario hacer valer los derechos de las personas mayores,
que a menudo no se han completado en su totalidad.
Descriptores: Personas de edad. Calidad de vida. Actividad profesional.
Submissão:20/01/2011
Aprovação: 24/08/2011
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.X-Y, Out-Nov-Dez. 2011.
49
Fortes, L. M.; Sousa, L. E. N.; Fernandes, M. A.
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A população idosa vem crescendo a cada ano e este fenômeno
vem fazendo parte não somente das características de países desenvolvidos, como também de países em desenvolvimento. É possível perceber
que atualmente torna-se cada vez mais comum em vários lugares públicos a presença de idosos, até mesmo no mercado de trabalho (SECRETARIA DO TRABALHO E AÇÃO SOCIAL, 2006). Desta forma, inferimos que a
expectativa de vida da população está aumentando e consequentemente,
o número de pessoas idosas que buscam por uma vida mais saudável.
Nesta concepção um estudo realizado por Kalache et al. (1987)
aponta que o Brasil chegará em 2025 com a sexta população de idosos
do mundo. Os fatores que vêm contribuindo para que a expectativa de
vida das pessoas aumente, está associado às melhores condições de vida,
queda das taxas de natalidade, os avanços da tecnologia, estilos de vida
saudáveis, moradia e ambientes de trabalho adequados, entre outros.
O envelhecimento é considerado uma das etapas do desenvolvimento humano que tem como características mudanças físicas, fisiológicas e psicológicas. Nesta fase, ocorrem diversas transformações na vida do
idoso entre elas: alterações no funcionamento cognitivo, como o prejuízo
na memória, mudanças no papel social, perda da autonomia, principalmente nos casos em que o idoso sofre de algum problema que lhe torne ainda mais incapacitado para realizar atividades diárias, entre outros
(OPAS, 2005).
Nesta perspectiva, evidenciamos que a qualidade de vida é fundamental para um envelhecimento satisfatório. Além disso, percebemos que
usufruir de condições de trabalho adequadas e hábitos saudáveis contribui para um envelhecimento ativo e saudável.
Mediante essas considerações um ponto que destacamos é a definição de qualidade de vida. Para Paskulin (2006) qualidade de vida consiste em um termo de difícil definição, pois o mesmo depende da cultura,
religião, valores pessoais, ou seja, da forma como é percebida pelo indivíduo. O contexto no qual o mesmo está inserido influencia na sua maneira
de perceber o que seja qualidade de vida.
Baseado nesta concepção a mesma autora enfatiza que a qualidade de vida pode ser definida como satisfação com a vida e bem-estar.
Portanto, ter qualidade de vida está relacionado com as dimensões física,
psicológica, social e espiritual.
O estilo de vida ativo é fundamental na promoção da saúde e redução da mortalidade. O bem-estar e/ou os riscos para a saúde de uma
pessoa é resultado tanto de sua vontade em buscar informações ou meios,
como também das oportunidades e barreiras sociais presentes. Com base
nestas informações, estudiosos do assunto destacam que a inatividade
é um fator que contribui para debilidade, redução da qualidade de vida
e morte prematura nas sociedades contemporâneas (FIAMINGHI et al.
2004).
Ao passo que com o decorrer dos séculos envelhecer não é mais
um privilégio para a humanidade, muitos preconceitos e estigmas foram
criados em torno das pessoas que atingem esta etapa do ciclo da vida
humana.
Neste sentido, Pascoal, Santos e Brock (2006), em seus estudos
mostram que existe um preconceito com relação aos idosos e suas capacidades. A própria sociedade e mídia reforçam essa visão, restringindo
atividades que são para idosos e as que são para jovens, aumentando ainda mais a discriminação social, como por exemplo, lugares, maneiras de
vestir, de falar, dentre outros. As propagandas em sua maioria destacam a
50
juventude e reforçam a idéia de que o tempo do idoso já passou, fazendo
com que muitos destes deixem de realizar atividades que podem ser prazerosas e saudáveis.
É importante destacar que por meio dos sistemas de comunicação,
centros de ensino ou mesmo dentro do lar, a figura do idoso no mundo
contemporâneo seja mais valorizado, visto que mesmo com algumas limitações, ele ainda pode contribuir com a sociedade, seja pelo seu trabalho
ou pela sua história com ricas experiências que podem contribuir com a
atualidade.
Schewermann e Acosta (2007) em seus estudos mostram que são
necessárias atividades voltadas para esse público, bem como a elaboração
de políticas públicas que atendam a essa demanda populacional que vem
se destacando na sociedade, visando contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos idosos.
Destacamos a importância desta pesquisa para a literatura e sociedade atual por estar relacionada à contribuição e divulgação do sentimento do idoso que exerce alguma atividade ocupacional e sua qualidade de
vida, além de esclarecer que a terceira idade é uma etapa do desenvolvimento humano como qualquer outra, com suas características, potencialidades e necessidades, contribuindo então com a desmistificação de que
o “velho” já não serve mais para nada ou que já teve sua vez, mas que é
um ser que tem muito a oferecer por tudo o que já viveu e ainda vai viver.
Isto posto, o presente trabalho teve como objetivo analisar a contribuição da atividade ocupacional para a qualidade de vida de pessoas
idosas que participam do programa CONVIVER do Centro de Referência
da Assistência Social (CRAS) do município de Riachão-MA, como também,
descrever como estes idosos se sentem ao praticarem alguma atividade
ocupacional como, por exemplo, trabalho, estudo, atividade física, festividades oferecidas pelo município e participação em algum centro de
apoio.
2
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo de natureza descritiva, exploratória com
abordagem qualitativa. Pesquisas com essa abordagem segundo Minayo
(2003), preocupa-se com o que não pode ser quantificado, uma vez que
adentra-se ao universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, fazendo assim uma análise mais profunda dos fenômenos
estudados.
Constatamos que as pesquisas com esse delineamento metodológico envolvem uma abordagem interpretativa e naturalística, sendo que
os pesquisadores procuram estudar as coisas no seu lugar natural, interpretando os fenômenos de acordo com o significado dado pelas pessoas
(TURATO, 2003).
Os sujeitos foram sete idosos, de ambos os sexos, com idade
entre 60 e 79 anos, residentes na mesma cidade. Os sujeitos escolhidos
para participarem da pesquisa foram idosos que participam do programa
CONVIVER, no CRAS e que tiveram disponibilidade em participar do estudo em execução. O critério de determinação da amostra foi definido pela
saturação do sentido das falas dos mesmos sobre o assunto pesquisado.
O cenário escolhido foi o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social
(2006), está inserido na proteção básica da Política de Assistência Social,
que apresenta como objetivo prevenir situações de risco por meio do
desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.49-54, Out-Nov-Dez. 2011.
Atividade ocupacional como fator de qualidade de vida na terceira idade
O Centro mencionado oferece serviços a famílias em situação de
vulnerabilidade social, sendo uma unidade pública estatal que garante o
acesso a serviços de proteção social básica. A equipe de profissionais que
atuam no CRAS de Riachão – MA, é composta por uma assistente social,
uma psicóloga, um educador físico e um fisioterapeuta, sendo que estes
últimos desenvolvem um trabalho voluntário.
No CRAS, são oferecidos serviços, programas, projetos e benefícios,
como: Serviços socioeducativos; benefícios como BPC – Benefício de Prestação Continuada; Capacitação e promoção da inserção produtiva; Geração de trabalho e renda; acompanhamento familiar, dentre outros (MDS,
2006).
O programa CONVIVER ofertado para os idosos tem como objetivo oferecer espaços de convivência, promoção do autoconhecimento
quanto à condição de vida, promoção e defesa de direitos, autoestima,
prevenção do isolamento, promovendo assim um envelhecimento ativo
e mais saudável.
Dentre as atividades oferecidas pelo programa CONVIVER podem ser
destacadas: visitas domiciliares aos idosos, acompanhamento psicossocial,
palestras socioeducativas com temas relacionados à terceira idade, saúde
e outros, comemoração e participação em datas festivas e culturais, como
carnaval, festa junina, participação em eventos do município, passeios a
balneários, festas direcionadas ao público idoso com sorteio de prêmios,
atividades recreativas, danças, espaço de convivência, sendo que semanalmente os idosos encontram-se no espaço do CRAS para dançar, conversar,
trocar experiências, atividades físicas como caminhada e hidroginástica,
realizadas semanalmente e acompanhada por um educador físico.
Quando acontecem as atividades direcionadas para as pessoas da
terceira idade, percebe-se uma participação ativa e o envolvimento dos
mesmos, desmistificando assim a ideia preconceituosa que se tem de que
idoso é para ficar em casa. Por meio de novas possibilidades oferecidas a
eles, ocorre a saída dos mesmos do âmbito doméstico para se relacionar
com a sociedade, favorecendo assim, o estabelecimento de vínculos pela
comunicação e interação com os demais (SCHEWERMANN; ACOSTA, 2007).
Com base nesta assertiva evidenciamos que se faz necessário, portanto, trabalhar a questão do envelhecimento com a sociedade, para que
as gerações mais jovens e mais velhas convivam em harmonia.
Para a execução deste estudo, primeiramente foi apresentado um
documento de solicitação de autorização para realização da pesquisa à coordenadora do CRAS. Posteriormente, o projeto foi submetido ao Comitê
de Ética em Pesquisa – CEP da NOVAFAPI que aprovou no dia 26 de janeiro
de 2010 e mediante a aprovação pôde se iniciar a coleta dos dados.
A coleta de dados aconteceu no período de fevereiro a março de
2010, na qual se utilizou a técnica da entrevista guiada por um roteiro
semi-estruturado e posteriormente as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra.
Neste contexto Minayo (1994) afirma que a entrevista semi-estruturada permite enumerar de forma mais abrangente possível as questões
que o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou
pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de investigação. Portanto, a técnica utilizada tornou-se a pesquisa viável conforme o
objetivo traçado.
Os dados foram registrados simultaneamente de acordo com as
perguntas feitas. O procedimento de análise dos dados foi feito por meio
da análise do conteúdo, definido como:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo, das mensagens,
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.49-54, Out-Nov-Dez. 2011.
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a influência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2004, p. 37).
A participação na pesquisa foi voluntária e dependeu da disponibilidade de cada participante, onde os idosos que aceitaram participar da
mesma, assinaram ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE,
autorizando sua participação na investigação, obedecendo a Resolução
196/96 do CNS.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O seguinte estudo foi realizado no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, localizado no centro da cidade de Riachão – MA, com
7 (sete) idosos com idade entre 60 e 79 anos de ambos os sexos, sendo 4
(quatro) do sexo feminino e 3 (três) do sexo masculino e que participam do
programa CONVIVER. A entrevista respondida por eles envolveu questões
como atividade ocupacional, qualidade de vida e envelhecimento. Os nomes dos participantes da pesquisa que responderam às entrevistas foram
substituídos por nomes fictícios para garantir o anonimato dos sujeitos.
As respostas obtidas foram classificadas em 3 (três) categorias :
Qualidade de vida na terceira idade e sua relação com a atividade ocupacional ; Limitações das atividades por imposições da idade ; e Significado
de envelhecer.
Categoria 1 - Qualidade de vida na terceira idade e sua relação
com a atividade ocupacional
A partir das falas dos idosos entrevistados, qualidade de vida na
terceira idade, significa ter saúde, estar bem com a família, poder passear
e ter amigos, conforme depoimentos abaixo:
Ter amigos, ter saúde, passear, ter uma casa decorada, boa pra se morar, ver o
que ainda não viu , a natureza... (Fausto, 67 anos).
Viver bem com a família, ter amigos... (Fábio, 71 anos).
Uma vida boa é com saúde (Tatiana, 79 anos)
Passear, está tranquila com os filhos. A vida está ótima, só faltam os filhos perto
da gente (Marta, 63 anos).
De acordo com Anderson et al. (1998) , a saúde do idoso e sua
qualidade de vida são influenciadas tanto por fatores físicos, psicológicos,
sociais, como também culturais. Neste panorama Vecchia et al. ( 2007, p.
247), relaciona o conceito de qualidade de vida:
À autoestima e ao bem-estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a
capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação
social, a atividade intelectual, o auto-cuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em que se vive.
Ainda segundo a concepção dos autores citados, o conceito de
qualidade de vida é subjetivo e depende do nível sócio - cultural que a
pessoa encontra-se, como também sua faixa etária, aspirações e realizações pessoais. Outro estudioso no assunto afirma que qualidade de vida
difere conforme o tipo de cultura, a época, o indivíduo, e muitas vezes até
num mesmo indivíduo se modifica com o decorrer do tempo: o que hoje
é boa qualidade de vida, pode não ter sido ontem e poderá não ser daqui
a algum tempo (LEAL, 2008).
Com o aumento da expectativa de vida existe a possibilidade das
pessoas terem mais tempo para realizarem seus projetos de vida e para
51
Fortes, L. M.; Sousa, L. E. N.; Fernandes, M. A.
que isso ocorra, é preciso que a terceira idade seja vivida com qualidade,
como afirma Maragoni (2008). Baseado na acepção descrita para adquirir
qualidade de vida se faz necessário que o idoso mantenha convívio social,
como por exemplo, participar de atividades em grupos, evitando assim o
isolamento social, procurar tomar as medicações nos horários estabelecidos, buscar aprender novos conhecimentos, através da leitura e outras
atividades que exercitem a memória para que possa haver a prevenção
das funções mentais e cognitivas.
Portanto, compreendemos que o indivíduo que se encontra na
etapa da terceira idade deve também procurar desenvolver algum tipo de
trabalho, para que o mesmo possa despertar em si o sentimento de utilidade, aumentando sua autoestima e proporcionando uma vida saudável
e com qualidade.
Estudos realizados por Marback et al. (2005) revelam que a repercussão de atividades sobre a saúde apontaram os aspectos como satisfação pessoal, elevação da autoestima, decorrente da produtividade dentre
outros.
De acordo com os depoimentos coletados podemos constatar que
dentre as atividades ocupacionais praticadas pelos sujeitos do estudo e
oferecidas pela Secretaria de Assistência Social do município de Riachão
- MA estão atividade física semanalmente, festas comemorativas mensais,
e outras atividades que praticam e que não são oferecidas pela secretaria
como, pescar, ir ao hospital, realizar trabalhos domésticos, passear para
visitar a família e amigos como podemos observar nos depoimentos:
Trabalho na roça, capino o quintal... Gosto de sair para conversar com os vizinhos
, para fazer compras, vou no hospital me consultar... Gosto de ir para o sertão
caçar, pescar, ficar ‘matutando’ a natureza, os animais, os pássaros... (Fausto,
67anos).
Gosto de ir para as festas dos idosos no CRAS, participo do coral, dos jogos de
baralho e de dominó, da educação física... Gosto de sair pra visitar os parentes, os
amigos, vou ao hospital... (George, 65 anos).
Participo das festas dos idosos, faço o exercício físico de manhã, gosto de pescar,
andar pelo mato...”(Tatiana ,79 anos).
Faço os exercícios, vou para as festas dos idosos, pesco, gosto de passear muito!
Em casa eu lavo roupa, passo pano... (Marta, 63 anos).
Pesquisa realizada por Scheuermann e Acosta (2007) evidenciou que
os idosos estão cada vez mais participando e se envolvendo em eventos,
deixando de lado aquelas atividades que preconceituosamente a sociedade
destinou para eles, como ficar em casa descansando e cuidando dos netos.
Durante esta pesquisa foi possível acompanhar algumas atividades
desenvolvidas no CRAS pelos idosos, como festas recreativas em datas
comemorativas municipais e nacionais, educação física (hidroginástica,
caminhada, vôlei), dentre outras. E foi possível perceber a efetiva participação dos idosos com significativa disposição e por vezes havia cobrança
por parte dos mesmos, quando as atividades demoravam a acontecer.
No tocante a realização das atividades físicas, verificou-se assiduidade, participação e que alguns idosos vêm se beneficiando, como
melhorando a postura, movimentos e disposição para realizar melhor as
atividades diárias. Além dos benefícios físicos, estas atividades vêm proporcionando a eles um momento de integração e diversão, melhorando
assim a autoestima e as relações sociais.
Na concepção de Maragoni (2008), a adoção de um estilo de vida
mais saudável, como a prática de atividades físicas regulares, implica em
uma contribuição para um envelhecimento bem sucedido. De acordo
com Sebastião et al. (2008), a atividade física é importante, onde a mesma
52
causa efeitos benéficos para a saúde das pessoas, em especial aos idosos,
pois induz adaptações fisiológicas, psicológicas e sociais positivas.
No referente às sensações que as atividades vêm proporcionando,
os idosos entrevistados disseram sentirem-se bem ao praticarem alguma
atividade nesta idade, pois as mesmas vêm lhes proporcionando prazer.
Além de se divertirem bastante, eles têm a oportunidade de estarem convivendo com os amigos, ocupando a mente e ainda é bom para a saúde
conforme os depoimentos a seguir:
Sinto-me bem. É bom, a memória fica organizada, a mente fica ocupada. A gente
se sente mais suave, à vontade (Fausto, 67 anos).
Alegria. A gente fica mais à vontade, mais forte, dá vontade de brincar mais. A
gente encontra os amigos... (Fábio, 71 anos).
Sinto-me bem, forte, com saúde, alegre porque a gente tá no meio dos amigos.
Quando não faço alguma coisa sinto o corpo cansado, com preguiça (Margarida
,60 anos).
É bom demais. A gente se diverte, brinca, é bom pra saúde (Tatiana, 79 anos).
Sinto-me bem, me divirto, vejo as amigas... (Cássia ,79 anos).
Durante o processo de envelhecimento, o indivíduo passa por
várias mudanças, sejam elas no âmbito fisiológico, quanto psicológico.
Contudo, cabe ao idoso adaptar-se a essas mudanças que para alguns podem ser aceitas tranquilamente, enquanto que para outros não é tão fácil
aceitar algumas perdas que acontecem nessa fase da vida, como amigos,
parentes, afastamento do trabalho, das relações sociais, etc. Todas essas
transformações podem levar o idoso à solidão, isolamento e depressão
(MENEZES, 2007).
Categoria 2 - Limitações das atividades por imposições da idade
Para os depoentes as principais atividades deixadas de praticar
por conta da idade estão: trabalhar na lavoura, assim como os serviços
domésticos que eram praticados anteriormente. O motivo que fez com
que muitos não continuassem a trabalhar com o que gostam foi a falta de
saúde, como pode ser observado nos relatos abaixo:
Trabalhar. A gente se sente mal, porque a gente nasceu e se criou plantando,
né? Só não trabalho porque não posso e não porque estou velho, mas me sinto
disposto. Tenho gastrite, problemas cardíaco, pressão alta...” (George, 65 anos).
Serviços pesados, trabalhar na roça. Dói a coluna, os rins. A mente quer, mas o
corpo não consegue fazer muita coisa (Fábio, 71 anos).
Ter saúde, porque se eu tivesse saúde tava trabalhando (George ,65 anos).
De acordo com Ramos (2003), a maioria dos idosos possui alguma
doença crônica, mas se as mesmas forem controladas, ainda podem realizar suas atividades sem muitas limitações. Neste contexto, Franzen et al.
(2007) em seu estudo verificou que as doenças crônicas provocam certa
incapacitação para o indivíduo e está associada ou mesmo causada, por
combinação de fatores sociais, culturais, ambientais e comportamentais.
Além disso, provocam impacto na qualidade de vida das pessoas que levam consequentemente a mudanças de sentimentos e de comportamentos.
Com base nos depoimentos coletados constatamos que ao longo
do tempo eles adquiriram doenças que os impedem de continuar trabalhando como antes, mesmo revelando ainda se sentirem motivados. Não
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.49-54, Out-Nov-Dez. 2011.
Atividade ocupacional como fator de qualidade de vida na terceira idade
poder fazer o que faziam há algum tempo os deixam mal, tristes e com
saudades como constatamos nos depoimentos a seguir:
Trabalhar na roça como antes fica mais complicado por causa da idade. Me sinto
triste, um vazio, mas não desanimado da vida (Fausto, 67 anos).
Ir para as festas no sertão, eu ia demais, vendia bebida nas festas, fazia bolos
também. As pessoas me pedem pra eu fazer bolo. Tenho saudades! Se eu não
sofresse da coluna ainda estava fazendo (Tatiana,79 anos).
Trabalhar nas casas (doméstica). Me sinto mal, machucada, doente, pois antes
era acostumada a trabalhar. Ia nas festas, namorava... Me sinto triste porque não
faço o que fazia antes. A minha diversão é cuidar dos netos (Margarida, 60 anos).
das tarefas, e outros. Já o envelhecimento patológico é resultante de alterações globais com presença de síndromes e doenças crônicas. No envelhecimento saudável ou bem-sucedido as alterações ocorrem lentamente,
de tal forma que o funcionamento físico, social e cognitivo é melhor que o
da maioria das pessoas de mesma faixa etária.
Na acepção de Meneses et al. (2007), envelhecer é um processo
inevitável, portanto é importante que haja a preparação para essa fase da
vida, conhecendo e aceitando as transformações que ocorrem, para que as
mesmas não se transformem em sinônimo de incapacidade e inutilidade.
4
Com o avanço da idade, consequentemente ocorrem alterações na
saúde dos idosos e na sua forma de “levarem” a vida. Muitas atividades não
podem ser feitas ou são realizadas com menos frequência do que a alguns
anos atrás, quando a saúde vigorava com mais intensidade.
Categoria 3 - Significado de envelhecer
Envelhecer faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano e implica em várias modificações, tanto biológicas, como psicossociais. Ter um envelhecimento saudável e satisfatório dependerá da maneira como o indivíduo se organiza e vivencia sua vida ao longo do tempo,
além de fatores genéticos, ambientais e das circunstâncias históricas que
podem interferir na saúde.
Ao analisar os dados do presente estudo percebemos que o envelhecimento para a maioria deles é visto como algo bom e se sentem
conformados.
Não me sinto velho. Eu dizer tô velho é falta de conhecimento. O que não acaba
no homem é a coragem. Pode faltar a força, mas não falta a coragem (Fausto,
67 anos).
Não me sinto velho. A gente sente que vai modificando, mas não me sinto velho.
Sei que não sou mais novo.(George, 65 anos).
Ainda me sinto bonitão (Fábio, 71 anos).
Sou conformada com a idade. Moro sozinha, mas não estou só, pois estou encostada a Jesus. (Cássia, 79 anos).
Está bom! A gente tem que seguir esse caminho. Eu não sei dizer não (Tatiana,
79 anos).
Ótima! Estou adorando essa fase. É ter saúde e vivendo tranquila. Eu sou conformada com a terceira idade. (Marta, 63 anos).
Apenas uma idosa considera o envelhecer como algo ruim conforme os depoimentos a seguir:
Sinto-me jogada,sem apoio e ainda trabalho demais em casa (Margarida, 60 anos).
O envelhecimento saudável para Ramos (2003) é considerado a
interação entre saúde física, mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar independência econômica. Conforme Magalhães et al. (2009), com o avançar da idade muitas alterações funcionais
são inevitáveis, por isso, não se pode considerar que o envelhecimento
seja um estado de doença.
Os autores ainda apontam e descrevem três possibilidades para o
envelhecimento: normal, patológico e bem-sucedido. O envelhecimento
normal é marcado por eventos físicos, cognitivos e sociais e são esperados
para essa fase da vida, como os déficits visuais e auditivos, mudanças nas
relações e no desempenho de papéis sociais, diminuição na velocidade
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.49-54, Out-Nov-Dez. 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo analisou a contribuição da atividade ocupacional para a qualidade de vida de pessoas idosas que participam do programa CONVIVER do CRAS de Riachão - MA. Visou também verificar como
estes idosos se sentem ao praticarem alguma atividade ocupacional.
A partir dos depoimentos coletados, pode-se perceber o quanto
se torna cada vez mais importante a criação de políticas públicas voltadas para este público, pois todos os idosos entrevistados e que praticam
alguma atividade, independente qual seja , relataram a importância das
mesmas para o desenvolvimento saudável de suas vidas. Ao praticarem
tais atividades, além dos benefícios para a saúde , melhora a interação com
pessoas da mesma idade de outras também favorecendo a inclusão social.
Na execução deste estudo foi possível perceber que na sociedade
atual a pessoa idosa é alvo de preconceito e exclusão e são poucas as atividades direcionadas a este público, o que torna cada vez mais importante
o desenvolvimento de trabalhos nesta área. Sendo assim, a contribuição
deste estudo está em esclarecer a sociedade, no sentido de transmitir
informações acerca da necessidade de começarmos a refletir que envelhecer é um processo natural do ser humano e que o mesmo acontece
continuamente, tendo que nos prepararmos a cada dia, tanto para termos
um envelhecimento saudável, como aceitarmos esse ciclo da vida sem
muitos preconceitos.
Além disso, podemos constatar que em alguns idosos existe a vontade de vivenciar a vida intensamente, mesmo com alguns problemas de
saúde, que por vezes os impedem de praticarem certas atividades. Concomitante a isso, verificou-se que os idosos entrevistados mostraram-se
bastante motivados com as atividades que desenvolvem no CRAS e em
outros lugares, sentindo-se mais felizes e motivados.
Vale ressaltar que todos os idosos entrevistados relataram praticarem alguma atividade ocupacional, desde tarefas domésticas a atividades
que possibilitam a socialização com outros idosos. Além disso, percebemos que os mesmos estavam bastante dispostos em participarem destas
atividades que os envolvem com outras pessoas, onde o sentimento de
alegria e satisfação faz parte destes momentos, além de benefícios para
a saúde.
Algumas limitações surgem com o avanço da idade, consequente
das alterações na saúde dos idosos. Entretanto, de acordo com os relatos dos
idosos entrevistados, a vontade de realizá-las permanece. Mesmo com algumas dificuldades na saúde, percebeu-se que a maioria deles manifestarem
felizes, com a autoestima elevada e percebem esta fase da vida como boa.
Durante o estudo foi possível evidenciar como é satisfatório para
um idoso realizar algum tipo de atividade nesta época da vida, independente de onde ela aconteça, pois além do sentimento de pertencimento
social, proporciona melhorias na qualidade de vida. O idoso sente-se mais
disposto e valorizado.
53
Fortes, L. M.; Sousa, L. E. N.; Fernandes, M. A.
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54
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.49-54, Out-Nov-Dez. 2011.
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Cirurgia parendodôntica: revisão da literatura
Periradicular surgery: literature review
Endodoncia cirugía: revisión de la literatura
Moara e Silva Conceição Pinto
Cirurgiã- dentista. Graduada pela Universidade
Estadual do Piauí- UESPI. Especialista em Endodontia
pela Faculdade NOVAFAPI- Teresina-PI. Endodontista
do Centro de Especialidades - CEO- Parnaíba-PI.
e-mail: [email protected]
Maria Ângela Arêa Leão Ferraz
Cirurgiã-dentista. Graduada pela Uuniversidade
Federal do Piauí-UFPI. Especialista em Endodontia
pela UniABO-PI. Mestre em Ciências e Saúde pela
UFPI. Docente Assistente do Curso de Odontologia
UESPI. Professora dos Cursos de Especialização em
Endodontia da UniABO-PI e CIODONTO-PI.
RESUMO
A evolução técnico-científica, aperfeiçoamento instrumental dos equipamentos e o aprimoramento profissional têm favorecido para a redução dos insucessos endodônticos. Quando presentes, os
recursos endodônticos para tratamento são altamente satisfatórios diminuindo consideravelmente
os casos de perda dental. A Cirurgia Parendodôntica constitui uma alternativa na permanência do
dente na cavidade bucal exercendo suas funções sem que este possa provocar danos à saúde do
paciente. O presente trabalho apresentou uma Revisão de Literatura sobre a Cirurgia Periapical, planejamento, indicações e contra-indicações, várias modalidades, instrumentais e equipamentos utilizados, materiais empregados na retrobturação e reparação tecidual perirradicular. Conclui-se que o
MTA é o material de escolha na retrobturação; a curetagem apical associada a apicectomia aumentam consideravelmente o prognóstico do caso; a melhor forma de retropreparo é a realizada com o
ultrassom; o laser constitui um avanço na descontaminação apical e o microscópio um recurso de
ponta na magnificação da imagem operatória.
Descritores: Endodontia. Odontologia. Cavidade bucal.
Carlos Alberto Monteiro Falcão
Cirurgião-dentista. Mestre em Dentística e
Endodontia – FOP/UPE. Doutor em Clínicas
Odontológicas – São Leopoldo Mandic. Professor do
Curso de Odontologia-NOVAFAPI e UESPI.
Francisca Tereza Coelho Matos
Cirurgiã Destista - Graduada pela Universidade
Federal do Piauí. Mestre em Endodontia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutoranda
em Endodontia pela Universidade de Ribeirão Preto
– São Paulo.
Antonione Santos Bezerra Pinto
Cirurgião-dentista. Graduado pela Universidade
Estadual do Piauí - UESPI. Especialista em Radiologia
Odontológica pela São Leopoldo Mandic - FortalezaCE . Mestrando em Radiologia Odontológica
e Estomatologia pela São Leopoldo Mandic Campinas-SP
Submissão:07/02/2011
Aprovação: 05/06/2011
ABSTRACT
The technical-scientific evolution, improvement of equipment and instruments and professional
development have favored the reduction of endodontic failures. When present, the resources for
root canal treatment is highly satisfactory significantly lowering the cases of tooth loss. The periradicular surgery is an alternative for permanent tooth in the oral cavity without exerting its functions
that it can damage the health of the patient. This paper presented a Literature Review on Periapical
surgery, planning, indications and contraindications, various methods, instruments and equipment
used, materials used in retrofilling and periradicular tissue repair. It is concluded that the MTA is the
material of choice in retrofilling; curettage apical associated apicoectomy increase considerably the
prognosis of the case, the best way to retropreparation is performed with ultrasound, the laser is
a step in the apical decontamination and the microscope a feature point in image magnification
operative.
Descriptors: Endodontics. Dentistry. Mouth.
RESUMEN
La evolución técnico-científica, la mejora de equipos e instrumentos y el desarrollo profesional han
favorecido la reducción de los fracasos endodóncicos. Cuando está presente, los recursos para el
tratamiento del conducto radicular es altamente satisfactorio rebajar significativamente los casos de
pérdida de dientes. La cirugía perirradicular es una excelente alternativa para el diente permanente
en la cavidad oral sin ejercer sus funciones que pueden dañar la salud del paciente. Se presenta un
revisión de la literatura sobre cirugía periapical, la planificación, las indicaciones y contraindicaciones, distintos métodos, instrumentos y equipos utilizados, los materiales utilizados en la reparación
de los tejidos perirradiculares y rellenado. Se concluye que el MTA es el material de elección en
el rellenado; curetaje apical asociada aumento apicectomía considerablemente el pronóstico del
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.55-60, Out-Nov-Dez. 2011.
55
Pinto, M. S. C. ; et al.
caso, la mejor manera retrógrada se realiza com ultrasonido, el laser es um
paso y la punta del microscopio es una característica de la ampliación de
la imagen operativa.
Descriptores: Endodoncia. Odontologia. Boca.
1INTRODUÇÃO
A Endodontia é a especialidade odontológica que se ocupa da prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças ou injúrias da polpa dental,
responsável pelo desenvolvimento do dente. O tratamento do canal radicular é um meio seguro e eficaz de preservar dentes que de outra forma
estariam perdidos (COHEN; HARGREAVES, 2007).
O preparo operatório do conduto endodôntico busca além de dar
forma a esse, saneá-lo pela remoção do conteúdo séptico-necrótico. O tratamento deve seguir princípios científicos e biológicos para que sejam minimizadas as possibilidades de falhas e acidentes, pois além da origem microbiana, os erros podem decorrer de fatores como diagnóstico incorreto,
falhas técnicas e falta de habilidade do profissional (GABARDO et al. 2009).
Contudo, a evolução do conhecimento técnico-científico, aperfeiçoamento instrumental e dos equipamentos e, principalmente o aprimoramento profissional, têm diminuído a incidência dos insucessos endodônticos. Quando presentes, os recursos endodônticos para tratamento
são satisfatórios e os casos de perda dental são reduzidos (BRAMANTE et
al. 2008).
Diante de um fracasso endodôntico, a primeira opção recai sobre
o retratamento, mas quando a tentativa de conter os microrganismos na
porção apical e periapical não for possível ou solucionável com o acesso
coronário, a cirurgia parendodôntica desponta como complemento da terapia (GOMES et al. 2003).
O presente trabalho visa apresentar à classe odontológica um estudo, através de Revisão de Literatura sobre a cirurgia periapical como
indicação diante do insucesso endodôntico, contra-indicações, planejamento, modalidades, diferentes materiais e equipamentos utilizados
na retrobturação e reparação tecidual perirradicular, proporcionando ao
Cirurgião-dentista (CD) a ciência dessa possibilidade de tratamento, indicando casos a um profissional devidamente habilitado; e ao especialista
em Endodontia a buscar avanços na área, a fim de oferecer uma maior
resolubilidade, quando detectadas falhas de ordem técnica ou mesmo
biológica no tratamento de canal radicular.
2
METODOLOGIA
A pesquisa abrangeu publicações nacionais e internacionais publicadas no período de 1996 a 2009 onde foram utilizados os seguintes descritores: Cirurgia apical; Cirurgia Parendodôntica; Endodontia; Periapical
Surgery; Endodontic; Endodonty.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Cirurgia parendodôntica - microbiologia associada a insucessos endodônticos
Embora o tratamento não-cirúrgico tenha bom resultado na maioria dos casos, a cirurgia pode ser indicada para dentes com processo patológico perirradicular persistentes que não responderam á abordagem
não-cirúrgica (JOHNSON; WITHERSPOON, 2007), pois segundo Leonardo
(2005), o tratamento de canais radiculares não é apenas um problema técnico, mas sim biológico.
O fator microbiológico (Tabela 1) é apontado como a maior causa
de falhas do tratamento. A porcentagem de casos de insucesso é significativa, sendo que as áreas não atingidas durante o preparo químico-cirúrgico são favoráveis à manutenção de conteúdo séptico-necrótico,
contribuindo para o insucesso da terapia endodôntica (LIN et al. 1992
apud GABARDO et al. 2009).
Tabela 1. Associação microbiana e situação clínica endodôntica
MICRORGANISMOS
Fusobacterium nucleatum
Prevotella intermédia
Porphyromonas gingivalis
Micromonas
Enterococcus faecalis
Propionibacterium acnes
Estreptococos
Enterococos
Lactobacilos
Actinomyces radicidentis
Treponema denticola
Pseudoramibacter
aloctolyticus
Propionibacterium
propionicum
Dialister pneumosintes
Filifactor alocis
SITUAÇÃO CLÍNICA
Flare-ups
ou
reagudizações
Retratamentos
Falhas endodônticas
Periodontite apical
Lesões e Infecções
Apicais
FONTE: GABARDO et al (2009)
O presente estudo é uma pesquisa bibliográfica de natureza exploratória, realizada por uma ampla busca, constituída principalmente de
livros e artigos científicos.
A busca eletrônica foi realizada em diversos portais de pesquisas,
bibliotecas virtuais, sites de buscas, revistas eletrônicas e base de dados
da Bireme, Pubmed, Google acadêmico, bem como acervo de teses e dissertações da biblioteca da Universidade São Leopoldo Mandic. Foi considerado: artigos de periódicos, textos científicos, anais de congressos,
monografias, dissertações e teses disponíveis.
Após o levantamento bibliográfico, os critérios de inclusão abrangeram a análise dos trabalhos e a classificação dos mesmos por temas
abordados de acordo com os assuntos tratados no texto. Alguns trabalhos
foram catalogados em mais de um tema.
56
3.2
Indicações e contra-indicações
A cirurgia parendodôntica está indicada para a resolução dos problemas não solucionados pelos tratamentos convencionais de canais radiculares (LEAL; BAMPA; POLISELI NETO, 2005). Entre as indicações da Cirurgia Parendodôntica, segundo Bramante e Berbert (2007), destacam-se:
estabelecimento de drenagem, alívio da dor, complicações anatômicas,
problemas iatrogênicos, traumatismos, necessidade de biópsia; defeitos
endo-periodontais; problemas durante o tratamento, falhas em tratamento previamente realizado ou com presença ou não de núcleo.
Existem contra-indicações gerais e locais (Tabela 2) que impedem
relativa ou absolutamente a execução da cirurgia periapical.
Tabela 2. Contra-Indicações da Cirurgia Parendodôntica
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.55-60, Out-Nov-Dez. 2011.
Cirurgia parendodôntica: revisão da literatura
•
•
•
•
•
•
•
•
LOCAIS
Quando o tratamento ou retratamento do Canal
Radicular for a forma mais conveniente e segura para
a cura da lesão
Problemas periodontais severos, determinando
suporte ósseo insatisfatório
Oclusão traumática
Ápices de difícil acesso cirúrgico (2ºs e 3ºs molares
inferiores, raízes palatinas de molares superiores)
Ápices relacinados a reparos anatômicos de risco (seio
maxilar, fossa nasal, canal mandibular, forame
mentoniano)
Raízes muito curtas ou que já sofreram apicectomias
anteriores
Processos patológicos em fase aguda
Dentes que não têm mais condições de serem
restaurados
•
•
•
•
•
•
•
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•
•
•
•
•
GERAIS
Diabetes não compensadas
Alterações sanguíneas
Pacientes sob terapia anticoagulante
Problemas cardio-vasculares
Hipertensão
Infartados recentemente
Portadores de válvulas protéticas
Reumatismo infeccioso
Pacientes imunodeprimidos
Pacientes que receberam radiação nos maxilares
Pacientes com leucemia ou neutropenia em estado ativo
Pacientes que estão sob algum tipo de medicação
Alergias
Pacientes extremamente apreensivos
FONTE: LEAL; BAMPA; POLISELI-NETO (2005)
As contra-indicações gerais são representadas por um estado de
saúde precário, frente a determinadas doenças e complicações sistêmicas e
muitas contra-indicações locais podem ser contornadas com a experiência
e a desenvoltura clínica do profissional (LEAL; BAMPA; POLISELI NETO, 2005).
3.3
Avaliação pré-operatória
A avaliação pré-operatória deve levar em consideração o tipo de procedimento planejado e a condição de saúde do paciente. Pacientes saudáveis
toleram muito melhor os procedimentos cirúrgicos que aqueles com comprometimento sistêmico (JOHNSON; WITHERSPOON, 2007).
Leal, Bampa e Poliseli Neto (2005) ressaltam que deve-se fazer o levantamento da queixa principal e avaliar o mais completamente possível o estado
geral do paciente, trocar informações com o médico do paciente, caso apresente algum problema sistêmico não controlado. Inspeciona-se cuidadosamente
todos os aspectos locais, como fístulas, tumefações, áreas de sensibilidade a
percussão ou a palpação.
Na anamnese, constatando que o paciente é portador de discrasia sanguínea, é conveniente solicitar o exame de tempos de coagulação e sangramento (BRAMANTE; BERBERT, 2007).
Exames Radiográficos Periapicais são usados para avaliação detalhada
da região apical, rastreamento de fístulas. Em diferentes angulagens, podem
localizar mais de um canal em uma mesma raiz. Para relacionar ápices com
estruturas anatômicas importantes, o Cirurgião-dentista dispõe de radiografias
oclusais e panorâmicas (LEAL; BAMPA; POLISELI NETO, 2005).
Recentemente, a radiografia digitalizada (radiovisiografia) tem sido utilizada para o diagnóstico de patologias apicais (BRAMANTE; BERBERT, 2007). No
Tabela 3. Sequência cirúrgica da Cirurgia Parendodôntica
FASE CIRÚRGICA
ANESTESIA
INCISÃO
DIVULSÃO
OSTEOTOMIA
CURETAGEM
SECAGEM
RADIOGRAFIA TRANSOPERATÓRIA
SUTURA
entanto, Vieira (2008) cita o uso da Tomografia Computadorizada, principalmente o Cone-bean tomógrafo, exclusivo para uso odontológico, mostrou-se mais
eficaz na qualidade das imagens.
3.4
Técnica operatória
A cirurgia Parendodôntica pode receber outras denominações, tais
como: Cirurgia Radicular, Cirurgia Endodôntica, Cirurgia Apical, Cirurgia Periapical e Cirurgia Perirradicular (WALTON, 2000).
Bramante e Berbert (2007) declaram que após a obtenção dos exames,
há necessidade de planejamento da realização da cirurgia. Serão avaliados a
área a operar, se superior ou inferior, anterior ou posterior; estruturas anatômicas
próximas à área, incluindo fossa nasal, seio maxilar, orifício mentoniano, orifício
palatino anterior, freios, bridas; presença e local de lesão.
A sequência operatória (Tabela 3) engloba desde a anestesia, incisão,
divulsão, osteotomia, curetagem, secagem, radiografia trans-operatória e sutura
e é a mesma para todas as modalidades cirúrgicas (BRAMANTE; BERBERT, 2007).
Uma incisão bem planejada, indicada para cada caso (Tabela 4) e realizada adequadamente, preservando as papilas, com uma sutura mais adequada
e bem adaptada, aproximando os rebordos, sem traumatizar a região, além de
uma sutura atraumática com fio 6.0 de nylon, uma vez que evita o acúmulo de
placa é fundamental para a cicatrização correta e estética, diminuindo as chances de recessão gengival pós-cirurgia parendodôntica (VELVART; PETERS, 2005).
Os princípios que orientam os retalhos cirúrgicos são: a incisão deve ser
em bizel, traçado firme e constante, não devem passar sobre defeitos ósseos,
sempre que possível em gengiva inserida, estender-se um dente a mais para
frente e para trás, o ângulo de incisão no espaço interproximal e a base do retalho deve ser maior que na gengiva livre (LEAL; BAMPA; POLISELI NETO, 2005).
CONSIDERAÇÕES
A anestesia deve ser efetiva. É a melhor condição para termos o paciente calmo e relaxado durante a realização do procedimento.
Na maxila deverá ser a infiltrativa por vestibular e palatina e na mandíbula o bloqueio regional complementado por infiltrativas é o
indicado. O tipo de anestésico deve ser adequado a problemas sistêmicos e ao tempo de duração da cirurgia.
Corte afiado dos tecidos de modo a dar acesso aos planos anatômicos mais profundos.
Normalmente composta de um traçado horizontal e dois verticais.
Afastamento ou rebatimento dos tecidos incisados a fim de permitir um bom acesso ósseo. Elevador periósteo de Seldin nº 23,
descolador de Molt ou extremidade + larga de uma espátula nº 7.
Corte e remoção de osso o suficiente para permitir o acesso ao ápice e às estruturas adjacentes. É feito inicialmente com cinzel
goivo bem afiado com pressão manual, podendo ser complementado com brocas de aço.
Remoção cirúrgica do tecido patológico existente em uma lesão ao nível apical de um dente. Feita com limas especiais e curetas
periodontais. Deve ser acompanhada de uma plastia apical, ou seja, um alisamento cuidadoso do ápice radicular.
Realizada com pontas de aspiração complementadas com papel absorvente.
O Raio X final deve ser feito sempre antes da sutura para nos certificarmos que não existe nenhum resíduo na cavidade cirúrgica
que possa ter escapado de nossa observação visual.
Rx com retalho posicionado para a detecção de qualquer objeto estranho na cavidade ou aderido ao retalho e também para
confirmar a profundidade e a homogeneidade da retrobturação.
Sutura deve ser simples, com pontos interrompidos.
FONTE: LEAL; BAMPA; POLISELI-NETO (2005).
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.55-60, Out-Nov-Dez. 2011.
57
Pinto, M. S. C. ; et al.
parendodôntica, deve-se realizar a apicectomia, já que ao se negligenciar
esta fase de cirurgia apical estariam sendo deixados para trás os agentes
causadores das lesões apicais que se encontram nos deltas apicais, nos
canais secundários e nas possíveis iatrogenias, causadas pelo endodontista, as quais se encontram na maioria das vezes na porção apical das raízes
medindo aproximadamente três milímetros.
Walton (2000) enfatizou a possibilidade de se conseguir o reparo
apical de lesões persistentes pós-endodontia com uma simples curetagem apical, nos casos de material extravasado além ápice ou instrumentos fraturados nesta região apresentando sintomatologia dolorosa ou ausência do reparo apical. Porém, Cunha Filho (2003) não corrobora com o
mesmo, afirmando que sempre que se optar pela modalidade de cirurgia
Tabela 4 . Incisões em Cirurgias Periapicais
TIPOS DE RETALHOS
CONCEITO
INCISÃO DE NEUMANN
OU RETANGULAR
Formada por duas incisões verticais relaxantes e se unindo por uma incisão
sulcular horizontal.
Formada por uma incisão vertical na mesial do dente, extendendo-se pela
sulcular até a distal de dois dentes a frente, formando um triângulo,
ANGULADA OU
TRIANGULAR
OCHSENBEIN – LUEBKE
OU RETALHO EM
CONCHA
(RETALHO
SUBMARGINAL
RETANGULAR OU
RETANGULAR COM
INCISÃO
MUCOGENGIVAL
WASSMUND
(TRAPEZOIDAL)
PARTSCH OU
SEMILUNAR
INDICAÇÕES, VANTAGENS E DESVANTAGENS
Preferível para dentes anteriores. Vantagens: permite total acesso e visibilidade, menor sangramento, cobre
possíveis defeitos ósseos, tem bom suprimento sanguíneo na borda livre do retalho e permite a execução dos
procedimentos periodontais. Principal desvantagem: possível retração gengival.
Indicada para dentes posteriores da maxila e mandíbula.
A incisão deve ser feita de modo a obter um retalho mucoperiosteal total.
É obtido com uma incisão horizontal com pequenas curvaturas feitas na
gengiva inserida a 3 ou 4mm do sulco gengival e complementada com duas
incisões verticais.
Oferece bom acesso e visualização e é de fácil reposição. A vantagem está no fato de preservar a gengiva
marginal. Além disso, é um retalho fácil de incisar, de divulsionar e de suturar e o paciente consegue manter
boa higienização, também provoca mínimo sangramento. Sua principal desvantagem é não poder ser
utilizado quando existem bolsas periodontais ou uma faixa de gengiva inserida muito estreita.
Formada por duas incisões verticais e se unindo com uma submarginal
horizontal.
Eventualmente, pode ser usada em substituição ao de Oschsenbein-Luebke. Pode causar alguma recessão
gengival.
Mucoperiosteal limitado em forma de curva horizontal.
Menos usado, pois possui inúmeras desvantagens, como limitação de trabalho.
FONTE: BRAMANTE.; BERBERT (2007); LEAL; BAMPA.; POLISELI-NETO (2005).
Vale ressaltar que a sequência cirúrgica se inicia e prossegue seguindo princípios de assepsia, visando um adequado controle de infecção
cruzada e evitar levar outros microrganismos para as regiões apicais e periapicais. A assepsia cirúrgica consiste no preparo do paciente e de todo o
material a ser utilizado durante a cirurgia. É o conjunto de meios utilizados
para evitar a penetração de microrganismos em uma determinada área,
podendo ser feita por meio da desinfecção e esterilização (BRAMANTE;
BERBERT, 2007).
Portanto, faz-se todos os cuidados necessários para evitar risco
de contaminação cruzada, com os princípios assépticos utilizados, como
colocação dos instrumentais e luvas esterilizados e campos cirúrgicos, lavagem e degermação das mãos do operador, antissepsia intra-oral com
solução iodada ou com bochecho de digluconato de clorexidina a 0,12%
por um minuto antes da sequência operatória.
3.5
Modalidades cirúrgicas
Várias são as modalidades operatórias (Tabela 5) como a curetagem com alisamento ou plastia apical, apicectomia, apicectomia com ou
sem obturação retrógrada, apicectomia com instrumentação e retrobturação e obturação do canal radicular simultânea ao ato cirúrgico (XAVIER;
ZAMBRANO, 2001).
Historicamente, o corte apical vem sendo realizado em 30º e 45º,
mas, atualmente, com o advento dos microscópios cirúrgicos e pontas de
ultrassom, este ângulo vem sendo reduzido para 90º (BROWN, 1995 apud
XAVIER; ZAMBRANO, 2001). Guimarães et al. (2006) ressalta que o corte
apical em 90º e o uso do ultrassom, com pontas anguladas, permite a confecção de cavidade retrógrada com três mm de profundidade. Esta técnica
remove o extremo apical em todas as suas faces, gerando uma menor infiltração quando comparada com um ângulo de ressecção apical inclinado.
Tabela 5. Modalidades Operatórias
MODALIDADES CIRÚRGICAS
APICECTOMIA
CIRURGIA COM OBTURAÇÃO SIMULTÂNEA
OBTURAÇÃO RETRÓGRADA
RETROINSTRUMENTAÇÃO COM
RETROBTURAÇÃO
CONCEITO
INDICAÇÕES
CONTRA-INDICAÇÕES
Remoção cirúrgica da porção apical de um dente.
Indicada em inúmeras situações Inacessibilidade cirúrgica, raiz curta, perda óssea acentuada, canal deficientemente obturado.
O corte apical em 90º com três mm de terço apical ou clínicas, tais como lesões periapicais
o mínimo corte possível.
persistentes
ao
tratamento
convencional,
perfurações,
instrumentos fraturados, remoção
de deltas apicais, presença de
reabsorção externa, inacessibilidade
ao ápice por calcificações, curvaturas
e degraus em dentes portadores de
lesões
apicais,
desvio
de
instrumentação,
conveniência
cirúrgica.
É o procedimento pelo qual o canal é obturado Canal difícil de secar, Ápice Inacessibilidade cirúrgica, raiz curta, perda óssea acentuada, inacessibilidade ao canal.
durante o ato cirúrgico.
arrombado, Material extravasado,
Rizogênese incompleta, Canais
inacessíveis, Próteses com pino,
Perfurações,
Instrumentos
fraturados, Dens in dente.
Consiste no corte da raiz em bizel, preparo de uma Canais inacessíveis por calcificação, Inacessibilidade cirúrgica, raiz curta, perda óssea acentuada, raiz muito fina, conformações anatômicas apicais
cavidade na luz do canal e sua obturação.
curvatura, degrau em dentes que complexas, curvaturas radiculares acentuadas para palatino.
apresentem lesão apical.
Dentes com prótese a pino,
perfurações,
instrumentos
fraturados, dens in dente.
É a instrumentação com retrobturação do canal com Dentes portadores de prótese Inacessibilidade cirúrgica, raiz curta, perda óssea acentuada, canais atresiados.
guta-percha por meio de acesso apical.
suportada por pino, instrumentos
fraturados na região apical.
FONTE: BRAMANTE; BERBERT (2007).
58
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.55-60, Out-Nov-Dez. 2011.
Cirurgia parendodôntica: revisão da literatura
A cirurgia com obturação simultânea promove um bom vedamento radicular e, quando associadas à remoção de todo tecido infectado do
periápice e do osso, permitem o estabelecimento de condições favoráveis
para neoformação óssea (GUIMARÃES et al. 2006).
vidro foi proposto pelas suas propriedades de adesão a dentina, baixa solubilidade e biocompatibilidade tecidual. Possui nível de infiltração marginal semelhante ao verniz mais amálgama. As desvantagens são a falta
de radiopacidade e sensibilidade à umidade durante o período de presa.
3.6 Materiais Empregados
3.7 Uso do microscópio, ultrassom e laser
O material utilizado na retrobturação é um fator determinante do
sucesso na cirurgia parendodôntica. Dessa forma, muitos materiais têm
sido propostos e utilizados, com o objetivo de encontrar um material ideal para ser utilizado em substituição ao amálgama. O material ideal deve
oferecer aderência, promover selamento hermético, ser biocompatível,
radiopaco, de fácil manipulação e possibilitar um ambiente propício para
regeneração tecidual (TORABINEJAD; PITT FORD, 1996 apud HELLWIG et
al. 2007).
Entre os materiais empregados em obturação retrógrada, destacam-se: amálgama, óxido de zinco e eugenol (Material Restaurador Intermediário – IRM), ionômero de vidro, guta-percha, N- Rickert, Sealer 26,
EBA, Super EBA e o MTA.
O amálgama de prata foi considerado, durante muitos anos, como
o material retrobturador de primeira escolha por estar sendo utilizado por
séculos e ser bem tolerado pelos tecidos periapicais (XAVIER; ZAMBRANO,
2001). Entretanto, Bramante e Berbert (2007) atribuem ao amálgama uma
série de desvantagens como precária adaptação à parede da cavidade,
expansão tardia, oxidação, corrosão e tatuagem da mucosa pelos íons
metálicos.
O Super EBA possui vantagens em relação ao IRM, como apresentar
superfície mais lisa e regular, devido menor liberação de eugenol. É mais
solúvel possuindo menor resistência à compressão, o super EBA pode ser
colocado em camadas e trabalhando em meio úmido enquanto IRM necessita de campo seco. A radiopacidade é igual nos dois materiais (ABBAS,
2005).
Andrade (2008) declara que o Mineral Trióxido Agregado (MTA) é
um material desenvolvido para o uso odontológico que possui propriedades satisfatórias para seu emprego na Endodontia como material retrobturador e foi desenvolvido com o intuito de selar as áreas de comunicação do interior do dente com o exterior, uma vez que Leonardo (2005)
define o MTA como um pó constituído por finas partículas hidrófilas. Tem
como principais componentes o silicato tricálcio, alumínio tricálcio, óxido
tricálcio, óxido de silicato e óxido de bismuto, que confere certo grau de
radiopacidade ao agregado.
Na tentativa de diminuir os custos, muitos trabalhos têm comparado a eficiência do MTA com o Cimento Portland (cimento de construção
civil). A composição, ação antimicrobiana e o pH entre o MTA e o Cimento
Portland são semelhantes com exceção de que o Cimento Portland não
apresentava óxido de bismuto, que é radiopacificador do MTA (ESTRELA
et al. 2000).
O MTA posssui muitas vantagens, como melhor selamento apical,
menor infiltração bacteriana, sofre pouca influência do sangue e da umidade, não apresenta citoxicidade, apresenta boa resistência à compressão,
adequada radiopacidade, além de apresentar efeito antimicrobiano com
capacidade osteoindutora quando comparado aos outros materiais, o que
torna um material extremamente promissor em obturações retrógradas
(LEONARDO, 2005), mas a única desvantagem seria o longo tempo de presa (TORABINEJAD et al. 1993 apud XAVIER; ZAMBRANO, 2001).
No entanto, Abbas (2005) afirma que o cimento de ionômero de
O fracasso na cirurgia parendodôntica se deve a impossibilidade
de observar detalhes no pequeno campo operatório durante o procedimento cirúrgico e as estruturas anatômicas. O microscópio operatório
contribuiu muito permitindo diferenciar o tecido sadio do patológico, possuindo uma configuração básica de cinco etapas de magnificação, lentes
oculares, objetiva de 200 ou 250 mm e fonte de iluminação halógena (LEONARDO, 2005).
O ultrassom tem se mostrado bastante útil nas Cirurgias Parendodônticas, devido a sua rapidez e eficácia. As pontas de ultrassom devem
ser empregadas após a apicectomia radicular com a finalidade e confecção de retro-preparos não muito profundos com mínimo ou nenhum
bisel, visando seu preenchimento por uma obturação retrógrada como
complemento apical de uma obturação radiograficamente satisfatória já
presente no canal radicular. Esta limitação deve-se ao fato destes insertos
apresentarem uma ponta ativa de no máximo três milímetros (BRAMANTE;
BERBERT, 2007).
Com o ultrassom, Vieira (2008) observa que o preparo retroapical
é oblíquo, em direção bucal-lingual e com a utilização do microscópio cirúrgico, o preparo pode ser visto incluindo a extensão necessária do canal,
o que caracteriza a importância do uso do microscópio e do ultrassom
nas cirurgias parendodônticas e de materiais com capacidade seladoras
superiores ao amálgama.
Negrão (2001) acrescenta que o laser ER:YAG tem se mostrado uma
excelente ferramenta coadjuvante no tratamento endodôntico tradicional
não só como auxiliar direto no procedimento operatório, reduzindo a níveis bem próximos a zero o número de bactérias do conduto, bem como
nas apicectomias, curetagens apicais e desinfecção apical, mas Sousa,
Amorim e Marques (2006) lembram que o efeito da irradiação com laser
de diodo no que tange o selamento apical, não é eficaz em retrobturações
com MTA.
A cirurgia parendodôntica mostra-se um procedimento eficaz e
com um elevado índice de sucesso, quando bem realizada e indicada,
demonstrando ser um complemento aos tratamentos endodônticos convencionais que apresentaram falhas no processo de cura e que não obtiveram resultados satisfatórios com retratamentos (VIEIRA, 2008).
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.55-60, Out-Nov-Dez. 2011.
3.8 Cuidados pós-operatórios
O paciente deve ser informado no sentido de cuidar da área operada, o que lhe trará maior conforto, um pós-operatório mais tranquilo e
uma cicatrização melhor e mais rápida (BRAMANTE; BERBERT, 2007).
As orientações devem ser dadas por escrito e baseiam-se na aplicação térmica de gelo na face, sobre a região operada, prescrição de anti-inflamatórios por um período de três a quatro dias, manter a cabeça em um
plano mais alto ao deitar, repouso por dois ou três dias, evitar exposição
ao sol, alimentação líquida/pastosa, ter cuidado com a ferida operatória,
evitando levantar o lábio pra tocá-la, evitar escovar diretamente sobre a
região e uso de bochechos de clorexidina após 24 horas (LEAL; BAMPA;
POLISELI NETO, 2005).
59
Pinto, M. S. C. ; et al.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da Literatura abordada, considera-se que: a Cirurgia Parendodôntica constitui uma alternativa viável na permanência do dente na
cavidade bucal; o planejamento adequado, observando as indicações,
está intimamente ligado ao sucesso do caso clínico; a curetagem apical
associada a apicectomia aumentam consideravelmente o prognóstico do
caso; o MTA é o material de escolha na retrobturação; a melhor forma de
retropreparo é a realizada com o uso do aparelho e insertos de ultrassom;
o laser constitui um avanço técnológico na descontaminação da área apical e o uso do microscópio um auxiliar de ponta na visualização da área
operada. Assim, torna-se necessária mais pesquisa sobre o tema a fim de
tornar a Cirurgia Parendodôntica cada vez mais uma possibilidade de sucesso no tratamento de canais radiculares.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.55-60, Out-Nov-Dez. 2011.
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Dificuldades na implementação das ações em saúde do trabalhador
pelo Sistema Único de Saúde
Difficulties in the implementation of shares of health worker by the Unified Health System
Dificultades en la aplicación de las acciones de los trabajadores de la salud por el Sistema Unico de Salud
Francisca Camilla Almeida Vaz
Graduando do 8º período do Curso de Enfermagem
da Faculdade Santo Agostinho. e-mail: camillavaz16@
hotmail.com.
Thays Cardoso da Cunha
Graduando do 8º período Curso de Enfermagem da
Faculdade Santo Agostinho.
Delvianne Costa de Oliveira
Enfermeira. Mestre em Ciências e Saúde pela
Universidade Federal do Piauí – UFPI. Docente do
Curso de Enfermagem da Faculdade Santo Agostinho
RESUMO
A saúde do trabalhador é um assunto que vem chamando a atenção constante da humanidade. Há
duas décadas foi realizado a 1ª conferencia nacional em saúde do trabalhador, entretanto, até hoje
ainda não se conseguiu implantar de forma efetiva a Política Nacional de Saúde do Trabalhador. No
intuito de entender esta problemática este estudo teve como objetivo analisar a produção científica
que retrata os problemas que dificultam a implementação das ações em saúde do trabalhador pelo
Sistema Único de Saúde. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e exploratório
realizado por meio da analise de artigos provenientes da Biblioteca Virtual em Saúde, publicados no
período de 2000 a 2010. Na análise dos textos selecionados foi possível evidenciar que muitos apresentam em seu conteúdo inúmeros problemas que dificultam as ações em saúde do trabalhador no
âmbito do Sistema Único de Saúde. Dentre eles, destacaram-se os problemas relacionados: ao déficit na organização governamental quanto à implantação das ações em saúde do trabalhador; à deficiência no setor de recursos humanos e materiais e a pouca capacidade de reação do trabalhador.
Descritores: Saúde do trabalhador. Saúde ocupacional. Sistema Único de Saúde.
ABSTRACT
Workers’ health is a subject that has caught the constant attention of mankind. Two decades ago was
held the 1st National Conference on worker health, but until now has not been found to effectively
implement the National Policy on Occupational Health. In order to understand this issue, this study
aimed to analyze the scientific production that depicts the problems that hinder the implementation of actions in occupational health by the Unified Health System This is a literature survey of
descriptive and exploratory performed by through the analysis of articles from the Library Virtual
Health published in the period 2000 to 2010. In the analysis of selected texts was possible to show
that many have in its content many problems that hinder the actions of the health worker under the
National Health System Among these, there were notable problems: the deficit in the government
organization on the deployment actions of workers’ health; disability sector human resources and
materials and low responsiveness of the worker. Given this context, it is necessary to further discussion between government, business and labor, so that together they can enable better service.
Descriptors: Salute the worker. Occupational health. Unified health System.
RESUMÉN
Submissão: 06/07/2011
Aprovação: 08/08/2011
Salud de los trabajadores es un tema que ha captado la atención constante de la humanidad. Hace
dos décadas, se celebró la 1 ª Conferencia Nacional sobre la salud de los trabajadores, pero hasta
ahora no se ha encontrado que la aplicación efectiva de la Política Nacional de Salud Ocupacional.
A fin de comprender esta cuestión, este estudio tuvo como objetivo analizar la producción científica
que describe los problemas que dificultan la implementación de acciones en salud en el trabajo por
el Sistema Único de Salud Este es un estudio de la literatura de descriptivo y exploratorio realizado
por a través del análisis de los artículos de la Biblioteca Virtual en Salud publicados en el período 2000 a 2010. En el análisis de textos seleccionados fue posible demostrar que muchos de los
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.61-65, Out-Nov-Dez. 2011.
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Vaz, F. C. A.; Cunha, T. C.; Oliveira, D. C.
problemas que obstaculizan el contenido de muchas de las acciones del
personal de salud en el marco del Sistema Nacional de Salud Entre ellos,
hubo problemas importantes: el déficit en la organización del gobierno
sobre el despliegue acciones de salud de los trabajadores, los recursos
humanos del sector de discapacidad y los materiales y la baja respuesta
de los trabajadores. En este contexto, es necesario un nuevo debate entre
gobiernos, empresas y mano de obra, para que juntos consiga permitir un
mejor servicio.
Descriptores: Salud ocupacional. Salud en ocupacional. Sistema Unico
de Salud.
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O processo de promoção e proteção da saúde consiste em um
conjunto de ações promovidas pelo serviço de saúde em conjunto com
a população com objetivo de promover melhores condições de saúde ao
individuo e a comunidade. A saúde é resultante dos fatores sociais, biológicos, econômicos, políticos, ambientais e culturais, sendo que as crescentes transformações em alguns deles têm exercido forte influência sobre
a saúde.
Desde o inicio da história do homem, a saúde vem sendo umas das
principais preocupações, reconhecendo que as doenças são fontes de sofrimento e tristeza, que pode levar a morte. Já o trabalho está relacionado
com a sua dignidade e satisfação, pois através dele que o mesmo se realiza, torna-se útil e garante seu sustento e de seus dependentes, por isso o
trabalho representa um papel muito importante na vida do ser humano
(CORDEIRO, 2006).
O processo saúde-trabalho vem sendo avaliado não só como um
simples indicador do impacto do trabalho sobre os trabalhadores, mais
também como uma conseqüência da produção. Este processo se torna
ainda mais complexo em países em desenvolvimento como o Brasil, marcado por sinais históricos e profundos de espoliação social e econômica
como a renda, violência urbana, emprego e desemprego e outros fatores
sociais que geram transformações nas relações de trabalho afetando posteriormente a vida e a saúde do trabalhador (CAVALCANTE et al. 2008).
Dessa forma, afirma-se que a saúde da população brasileira vem
passando por uma série de complicações, sendo que uma das principais
refere-se à saúde dos trabalhadores, tendo como os principais contribuintes para esta problemática as alterações nos fatores acima citados, exercendo uma forte influencia sobre a saúde destes trabalhadores (AZAMBUJA, 2007).
Há duas décadas foi realizada a 1ª Conferencia Nacional de Saúde
dos Trabalhadores e até hoje não se conseguiu implantar de forma efetiva
uma Política Nacional de Saúde do trabalhador (GOMEZ; LACAZ, 2005). O
Brasil ainda é um recordista mundial de acidentes de trabalho, com três
mortes a cada duas horas e três acidentes não fatais a cada minuto (BRASIL, 2007). Neste cenário em meio a mudanças tecnológicas, gerenciais e
escassez de ações efetivas que afetam os processos de trabalho, as doenças ocupacionais representam um risco crescente para os trabalhadores
(FACCHINI, 2005).
Durante o ano de 2008, foram registrados no INSS cerca de 750
mil acidentes de trabalho. Na comparação com o ano anterior, o número
de acidentes de trabalho aumentou 13,4%. A melhor visualização deste
aumento deveu-se a nova sistemática de concessão dos benefícios acidentários, no qual, a emissão do documento da Comunicação de Acidente
62
de Trabalho (CAT) não é mais prerrogativa para a caracterização deste tipo
de benefício (BRASIL, 2007).
Porém a realidade hoje é que os empregadores estão mais exigentes em suas contratações dando preferência por profissionais capacitados
que tenham cursos técnicos e profissionalizantes, tornando, mas difícil à
vida do trabalhador que se ver obrigado a se sujeitar a péssimas condições de trabalho e salários muito baixos (ELIAS; NAVARRO, 2006). As precariedades enfrentadas no trabalho acarretam danos ou agravos como os
riscos ocupacionais e acidentes, que ocorrem pelo exercício do trabalho a
serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional,
permanente ou temporária, que cause a morte, a perda ou a redução da
capacidade para o trabalho (BRASIL, 2007.
Na ocorrência desses agravos é de extrema importância se fazer a
notificação. Atualmente são encontrados muitos problemas de notificação o que torna difícil contabilizar a quantidade de acidentes e doenças
relacionadas ao trabalho, esse problema deve-se da falta de conhecimento do trabalhador e ao medo relacionado às pressões que são colocadas
pelo empregador e ao grande número de trabalhadores informais incluindo no mercado de trabalho (BORDIGNON, 2009).
A política nacional de promoção a saúde do trabalhador focaliza
a redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho por meio de
ações de promoção, reabilitação e vigilância em saúde, através de suas
diretrizes e com participação da comunidade e dos órgãos denominados
responsáveis pela saúde do trabalhador (BRASIL, 2007).
De acordo com Lourenço e Bertani (2007), a incorporação da saúde
dos trabalhadores pelo Sistema único de Saúde (SUS) reconhece nos ambientes e processos de trabalho, as condições para os eventos agressivos a
saúde de quem trabalha na perspectiva epidemiológica. Não se restringe
a atender o lesionado individualmente, mais buscar quantificar o numero
de pessoas expostas á insegurança e qualificar essas condições para posteriores mudanças.
Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo analisar a produção científica quanto aos problemas que dificultam a implementação das
ações em saúde do trabalhador pelo Sistema Único de Saúde.
2
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e exploratório a fim de fundamentar o que se tem publicado sobre os fatores que
dificultam a implantação das ações em saúde do trabalhador em âmbito
nacional. De acordo com Lakatos e Marconi (2001), pesquisa bibliográfica
abrange bibliografias já tornadas públicas em relação ao tema de estudo
sendo de fundamental, pois possibilita identificar o que já foi produzido
sobre o tema proposto, evitando repetir o que já foram desenvolvidos.
O estudo foi realizado por meio de consultas ao banco de dados
da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) no período de janeiro a abril de 2011.
Para a busca da produção científica foram utilizados os seguintes descritores: saúde do trabalhador, saúde ocupacional e políticas de saúde do
trabalhador. Foram utilizados como critérios de inclusão: artigos científicos
em português, com publicação no período de 2000 a 2010 e que estivessem relacionados ao tema abordado. Como o objeto de estudo aborda
questões relacionadas à saúde do trabalhador de forma geral com ênfase
nas ações em saúde promovidas pelo Sistema Único de Saúde, optou-se
por selecionar textos que abordassem a saúde ocupacional de forma generalista sem que tivessem ênfase em categorias ou atividades profissionais específicas.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.61-65, Out-Nov-Dez. 2011.
Dificuldades na implementação das ações em saúde do trabalhador pelo Sistema Único de Saúde
Após a busca dos artigos foi feita a análise e leitura dos títulos e resumos separando os textos científicos que atendessem aos objetivos propostos. Baseados nos critérios de inclusão no final da análise das pesquisas
foram selecionados 21 artigos que responderam à temática do estudo.
Mediante esta separação, foi realizada uma análise aprofundada
dos textos completos e após esta leitura minuciosa, os artigos foram divididos em categorias temáticas por meio da abordagem de seus conteúdos com ênfase no objetivo do presente estudo.
Além da organização do conteúdo em categorias temáticas, os textos selecionados foram organizados quanto ao periódico publicado, título
do texto, ano e local da publicação.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se que a produção cientifica nacional sobre o tema proposto concentrou-se na região sudeste, o que demonstra o grande destaque desta região como um centro de referência em pesquisas científicas.
Observou-se uma oscilação do número de publicações ao longo dos anos.
Na comparação dos cincos primeiros anos com os anos seguintes. Em
termos proporcionais houve maior produção científica nos últimos cinco
anos. Deste modo, é possível inferir o quanto à temática da saúde do trabalhador tem despertado a crescente atenção da comunidade científica.
A revista que mais apresentou artigo foi à Ciência & saúde coletiva com 08 periódicos, seguida pela Saúde e Sociedade com 04 artigos e
em terceiro a Revista Brasileira de Saúde Ocupacional com 02. Portanto,
observa-se uma diversidade quanto às revistas científicas, o que ratifica a
preocupação geral da comunidade científica.
Tabela 1 - Caracterização da produção cientifica conforme o ano
publicação e revista de publicação. Teresina 2011.
Variável
Período
Numero
%
2001
2002
01
--
4,8%
--
2003
2004
02
9,5%
--
2005
2006
2007
2008
2009
06
03
02
04
2010
--
-03
28,6%
14,3%
9,5%
19,0%
-14,3%
Revista
São Paulo em
Perspectiva
Ciência & saúde coletiva
01
4,8%
08
38,0%
Rev. bras. Saúde
ocupacional
Estudo de Psicologia
02
9,4%
01
4,8%
Saúde e Sociedade
04
19.0%
Revista Eletrônica de
Enfermagem
Caderno de Saúde
Pública
Enfermagem Nursing
01
4,8%
01
4,8%
01
4,8%
Epidemiologia e Saúde
01
4,8%
Revista latino Americana
de Enfermagem
Total
01
4,8%
21
100%
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.61-65, Out-Nov-Dez. 2011.
Na análise dos textos selecionados foi possível evidenciar que muitos apresentam em seu conteúdo inúmeros problemas que dificultam as
ações em saúde do trabalhador no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Dentre eles, foi possível destacar os problemas relacionados: ao déficit na
organização governamental quanto à implantação das ações em saúde
do trabalhador; à deficiência no setor de recursos humanos e materiais e a
pouca capacidade de reação do trabalhador.
3.1 Déficits na organização governamental quanto à implantação das ações em saúde do trabalhador
Um sistema de controle gerencial bem desenvolvido fortalece o
sistema e contribui para realização das ações em saúde, mas a realidade
hoje é que há uma diversidade de barreiras que dificultam a concretização
da implantação das ações em saúde do trabalhador no Sistema Único de
Saúde.
Entres os principais problemas, destaca-se a deficiência na Política
Nacional da Saúde do Trabalhador, relacionado com as carências históricas na concretização das políticas públicas e com a fragmentação e baixa
cobertura do sistema de seguridade social. O Ministério da Saúde no decorrer dos tempos tem desprezado a construção de membros capacitados
em estabelecer e apoiar práticas e ações programáticas que consigam firmar o campo da Saúde do Trabalhador (ST). Analisou-se também que não
foi constituída uma integração efetiva e necessária por parte dos gestores
responsáveis como Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério
da Previdência Social (MPS), o que tem dificultado as ações em saúde do
trabalhador (COSTA; PENA, 2005). Já Lacaz (2007), refere que o aumento
do desemprego e subemprego, da tecnologia e da globalização da economia acarretou a regressão das ações de saúde pública a nível de políticas
sociais e fragilizou os movimentos sindicais.
Outra problemática referenciada por alguns autores foi à falta de
interesse e os obstáculos impostos pelos gestores de todas as esferas de
governo em promover as ações de prevenção e vigilância em prol da saúde do trabalhador, o que contraria as Diretrizes do Sistema Único de Saúde
(MAENO; VILELA, 2010). Ainda neste contexto de acordo com o levantamento realizado por Silva (2003), as ofertas de serviços de atendimento
especializado na saúde do trabalhador foram às menos freqüentes, ressaltando que este tipo de atendimento permite identificar os potenciais
riscos a saúde do trabalhador. O levantamento também revelou que o
tamanho da população é uma variável que interfere diretamente na realização das ações em saúde.
Paralelo a isso, os limites constatados nas ações de Vigilância em
Saúde do Trabalhador possuem culturas e práticas diferenciadas desfragmentando as diretrizes do sistema de saúde, pois, os programas e unidades deveriam priorizar de uma maneira geral os usuários e os trabalhadores dentro do ambiente de trabalho como objeto de investigação e
intervenção (MACHADO; PORTO, 2003).
Apesar dos grandes avanços na legislação e nas práticas institucionais relacionado a saúde do trabalhador, existem muitas lacunas de
dificuldades de implantação em decorrência de uma desorganização
caracterizada pela fragmentação das ações que não são executadas por
órgãos distintos além do total descaso que são tratados estas questões
(CAVALCANTE et al. 2008).
Então para que seja feita uma assistência satisfatória é de extrema
importância que se faça a notificação, mas os estudos revelam que há um
bloqueio na realização das notificações, sendo, ainda pouco significativo
63
Vaz, F. C. A.; Cunha, T. C.; Oliveira, D. C.
em relação ao total de atendimento, que representa um desafio para saúde publica (SATO; BERNARDO, 2005).
Já para Santana et al. (2007), o mesmo acredita que o SUS precisa
de uma atenção maior na efetivação das políticas de proteção e segurança ao trabalhador já que o mesmo serve como porta de entrada para o
atendimento ao trabalhador. É necessário universalizar e descentralizar
as ações em saúde, expandir a gestão do sistema. Então a melhor saída
para tais conflitos é a descontinuidade das ações que caracterizam essa
vulnerabilidade e a construção de estâncias estratégicas articuladoras das
redes de vigilância, formada com participação institucional e popular, que
permitirá uma flexibilidade e durabilidade das redes constituídas em torno
do problema saúde (MACHADO; PORTO, 2003).
Assim, na análise de todas estas literaturas que retratam as principais dificuldades para implantação das ações em saúde do trabalhador,
observou-se que são muitos os problemas o que evidencia a necessidade
de redimensionar os paradigmas que compõem as ações em saúde do
trabalhador. É preciso que todas as esferas de governo entrem em um consenso para viabilizar todo a problemática através da formulação das ações.
3.2 Deficiências no setor de recursos humanos e materiais
Para implantação de um sistema de qualidade é necessário que
se tenha uma adequada estrutura financeira para investir em termos estruturais e na capacitação para oferecer estímulos aos profissionais, mas
a ausência desta conjuntura esta representada nesta categoria que nos
mostrará os principais problemas encontrados na implicação do desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador.
Pode-se Identificar, então, que as dificuldades gerais do sistema estão
relacionadas ao financiamento insuficiente e a grandiosidade das barreiras de
articulação das ações assistenciais, referentes à falta de experiência, a dificuldade de consolidar e promover as ações, a desestruturação salarial e o plano
de carreira que gera desmotivação dos profissionais (MAENO; VILELA, 2010).
Observa-se que são muitas as deficiências na questão dos recursos humanos, a falta de estímulos ao preparo técnico dos profissionais de
saúde fatores este que contribui para a não concretização das políticas
de saúde. É necessário aumentar os investimos e, com isso, aumentar o
incentivo e capacitação dos profissionais para que ele não sirva somente
de intermédio, mas concretize o tratamento das doenças do trabalho.
3.3 A pouca capacidade de reação do trabalhador
Hoje o índice de acidentes no trabalho é considerado muito alto
devido às grandes transformações no mundo econômico, as exigências
do mercado de trabalho expõem os trabalhadores a grandes riscos, a pouca reação a estes agravos dificulta o trabalho das equipes de saúde que
impossibilita a concretização das ações de vigilância na saúde do trabalhador, esta categoria ira retratar estas dificuldades.
Como os trabalhadores estão submetidos a um intenso ritmo na
jornada de trabalho ritmo esse que impossibilita o trabalhador de procurar
o serviço de saúde. De acordo com relato dos trabalhadores o trabalho é
tão intenso que impede até mesmo de realizar suas necessidades humanas
básicas, este aumento também reflete no acréscimo dos horários onde o
mesmo acaba entrando para atividades noturnas (SATO; BERNARDO, 2005).
Outro problema para Lieber (2008) é a evolução na tecnologia das
empresas tem resultado na exposição de risco ao trabalhador, já que na
maioria dos casos os trabalhadores não são preparados para o manuseio
64
dos novos equipamentos. De acordo com Sato (2005), há um crescimento
nas queixas de estresses, distúrbios do sono e dificuldades em organizar
as idéias, esta relacionado com o crescimento da produção fazendo com
que o trabalhador extrapole sua jornada de trabalho.
Um levantamento feito pelos mesmos autores nos sindicatos trabalhista revela que esse problema é decorrente do medo do desemprego fator
esse que contribui para que o trabalhador se submeta á situações desumanas de trabalho, e essa submissão consciente de condições inadequadas
estão se tornado um fator aditivo de sofrimento que merece uma atenção.
Para Hoefel (2005) a precariedade do trabalho em que os trabalhadores são submetidos, está associada com a falta de conhecimento dos
seus direitos trabalhista, que é uns dos fatores que contribui para a não
concretização das ações em saúde, pois se não há procura do trabalhador
ao sistema de saúde o caso fica camuflado dificultando a chegada da vigilância do trabalho.
Um levantamento feito pelos mesmos autores nos sindicatos trabalhista revela que esse problema é decorrente do medo do desemprego fator
esse que contribui para que o trabalhador se submeta á situações desumanas de trabalho, e essa submissão consciente de condições inadequadas
estão se tornado um fator aditivo de sofrimento que merece uma atenção.
Os estudos têm mostrado também que os acidentes de trabalho
vem ocorrendo de maneira elevada; e grande parte desse fato se deve a
questão de o trabalhador não entender bem a importância dos cuidados e
medidas de proteção necessárias no ambiente de trabalho juntamente com
as condições insatisfatórias de trabalho. De fato a aplicação de precauções e
intervenções não é suficiente, devem-se levar em consideração estratégias
e reflexões acerca da mudança de comportamento tanto do trabalhador
quanto dos responsáveis, ou seja, uma educação em saúde do trabalhador
seria uma forma de começar a se fazer as mudanças necessárias para diminuição dos problemas acarretados no trabalho (CASTRO, 2010).
No Brasil os trabalhadores têm protagonizado importantes lutas
em defesa dos direitos sociais, porém, essa luta choca-se com a realidade, da batalha para a manutenção do emprego, onde os trabalhadores
e os movimentos sindicais acabam sofrendo um atraso histórico ao se
distanciar de lutas em prol da melhoria das condições de trabalho. Logo,
as difíceis condições de trabalho, acompanhadas de perto pela ameaça
do desemprego, geram instabilidade, incerteza e risco social e de acidentes que, vinculadas com o aumento da pobreza e da desigualdade social,
agravam a exclusão social (PINA, 2006).
Para a implantação das ações em saúde do trabalhador, não basta
somente a formação de técnicos capazes, mas, principalmente, comprometidos com a questão ideológica que envolve a Saúde do Trabalhador
em seus aspectos biopsicossociais e que associe governo, empresários e
trabalhadores em prol do direito ao bem – estar, procurando ampliar o
ponto de vista na busca de ferramentas que privilegie medidas de prevenção e inclusão do conhecimento dos trabalhadores potencializando uma
busca pela melhoria das condições de trabalho e defesa da saúde.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante desse estudo foi possível observar que as questões voltadas
à assistência a saúde do trabalhador tem despertado atenção crescente,
pois, essa abordagem busca empenhar o lado humano do trabalho e sua
capacidade auxiliadora de agravo à saúde do trabalhador. Como foi dito
anteriormente há duas décadas foi realizada a 1ª conferencia em saúde
do trabalhador, mais ao invés de ocorrer uma melhoria, temos visto que
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.61-65, Out-Nov-Dez. 2011.
Dificuldades na implementação das ações em saúde do trabalhador pelo Sistema Único de Saúde
a ação para progredir a saúde do trabalhador tem sofrido uma transformação lógica. Assim, a saúde ocupacional muitas vezes contribui para
afastamento e desinformação do trabalhador, enfraquecendo assim o
movimento sindical, já que como os trabalhadores não são bem avisados,
preparados, deixa de lado os seus direitos.
Pode-se notar que as pesquisas em saúde do trabalhador ainda
precisam ser bastante ampliadas para que seja possível produzir conhecimentos que possam subsidiar as ações em saúde do trabalhador com
ênfase na promoção, prevenção e na reabilitação em prol do bem estar
do trabalhador.
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65
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Aparelhos intrabucais no tratamento da síndrome da apnéia e
hipopnéia obstrutiva do sono: uma revisão da literatura
Intrabuccal appliances in the treatment of obstructive sleep apnea syndrome: a literature review
Aparatos intrabucales en el tratamiento del síndrome de la apnea e hipopnea obstructiva del sueño: una
revisión literaria
Thiago Alberto de Souza Monteiro
Cirurgião Dentista. Especialista em Saúde da
Família. Pós- Graduando do Curso de Especialização
em Ortodontia da Faculdade NOVAFAPI. e-mail:
[email protected].
Olívia de Freitas Mendes Martins
Cirurgiã Dentista. Mestre em Ortodontia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Docente do
Curso de Especialização em Ortodontia da Faculdade
NOVAFAPI.
Daniela Morais Cutrim Costa
Cirurgiã Dentista. Odontóloga da Estratégia Saúde
da Família em Timon-MA.
RESUMO
Trata-se de uma revisão da literatura sobre a Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono,
com o objetivo de analisar indicações e efetividade dos aparelhos intrabucais usados no tratamento
dessa síndrome. Foram selecionados seis artigos de pesquisas originais de 2000 a 2010, nas bases
de dados LILACS, MEDLINE e SCIELO, usando os descritores transtornos respiratórios, Apnéia, obstrução das vias aéreas respiratórias e aparelhos intrabucais. Os aparelhos usados no tratamento da
Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono constante nos artigos foram: Dispositivo com
elástico oral para avanço mandibular; Mandibular Advancemente Splint; Aparelho ITO®; Brasilian
Dental Appliance; Bionator de Balters e o Aparelho de avanço mandibular Twin Block. Os resultados
mostram que esses dispositivos são considerados uma alternativa de escolha e quando tolerados
pelos pacientes poderá reduzir os sintomas. Conclui-se que sua efetividade depende da indicação,
da participação dos pacientes e da tolerância dos efeitos colaterais.
Descritores: Síndromes da apnéia do sono. Ronco. Aparelhos. Efetividade de tratamento.
ABSTRACT
This is a review of the literature on Obstructive Sleep Apnea Syndrome with the aim of analyzing
information and effectiveness of intrabuccal appliances used in the treatment of this syndrome.
Six original research articles from 2000 to 2010, in the databases LILACS, MEDLINE and SciELO were
selected by using the key words respiratory disorders, apnea, airway obstruction, respiratory and
oral appliances. The devices used in the treatment of obstructive sleep apnea syndrome contained
in the articles were: oral elastic mandibular advancement device; mandibular advancement splint;
ITO ® Appliance; Brazilian Dental Appliance; Balters’ Bionator appliances and Twin Block mandibular
advancement device. The results show that these devices are considered an alternative to choose
from and when tolerated by patients there is a decrease in symptoms. It is concluded that their
effectiveness depends on indication, patient participation and tolerance of side effects.
Descriptors: Sleep apnea syndromes. Snoring. Appliances. Treatment effectiveness.
RESUMEN
Submissão: 07/05/2011
Aprovação: 04/07/2011
66
Se trata de una revisión literaria sobre el Síndrome da Apnea-Hipopnea Obstructiva del Sueño, con el
objetivo de analizar indicaciones y efectividad de los aparatos intrabucales usados en el tratamiento
de ese síndrome. Han sido seleccionados seis artículos de investigaciones originales de 2000 a 2010,
en las bases de datos LILACS, MEDLINE y SCIELO, usando los descriptores trastornos respiratorios,
apnea, obstrucción de las vías aéreas respiratorias y aparatos intrabucales. Los aparatos usados en el
tratamiento del Síndrome de la Apnea e Hipopnea Obstructiva del Sueño constante en los artículos
fueron: Dispositivo con elástico oral para avance mandibular; Mandibular Advancement Splint; Aparato ITO®; Brazilian Dental Appliance; Bionator de Balters y el Aparato de avance mandibular Twin Block.
Los resultados revelan que esos dispositivos son considerados una alternativa de elección y cuando
tolerados por los pacientes hay reducción de los síntomas. Se concluye que su efectividad depende
de la indicación, de la participación de los pacientes y de la tolerancia de los efectos colaterales.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.66-71, Out-Nov-Dez. 2011.
Aparelhos intrabucais no tratamento da síndrome da apnéia e hipopnéia obstrutiva do sono: uma revisão da literatura
Descripitors: Síndromes de la apnea del sueño. Ronquido. Aparatos. Efectividad del tratamiento.
1
INTRODUÇÃO
A Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS)
tem se configurado como um problema de saúde para grande parte da
população adulta. Estima-se que cerca de 2% da população feminina e
4% da população masculina, entre 40 e 60 anos, apresentam essa síndrome. Um fator preocupante encontra-se relacionado a complicações que
podem ser desencadeadas pela SAHOS, como a hipertensão pulmonar e a
insuficiência cardíaca (ALMEIDA et al. 2006).
O quadro clínico comumente encontrado em indivíduos acometidos pela SAHOS inclui ronco, sonolência diurna excessiva e pausas respiratórias durante o sono. No geral, esses sintomas são observados e relatados
pelos companheiros, principalmente o ronco, que pode ser provocado por
vários fatores, tais como: flacidez do palato mole, úvula, língua e faringe,
que se tornam incapazes de manter a via aérea desobstruída durante a
respiração. Outros fatores podem ser associados como o desvio do septo
nasal e hipertrofia de língua, tonsilas palatinas e adenóides (BITTENCOURT;
TOGEIRO; BAGNATO, 2002; LANDA; SUZUKI, 2009).
O exame de polissonografia (PSG) é considerado o melhor meio
para um diagnóstico preciso. Esse exame permite quantificar os eventos
respiratórios por hora de sono na forma do índice de apnéia e hipopnéia
(IAH), identificando a gravidade da SAHOS em: leve – quando ocorrem entre 5 a 15 pausas respiratórias por horas durante o sono; moderada – entre
15 e 30; e grave – acima de 30 eventos (LANDA; SUZUKI, 2009).
Os objetivos do tratamento da SAHOS devem atingir basicamente o alívio dos sintomas, a redução da morbidade e a diminuição da
mortalidade. O tratamento também irá favorecer a melhoria da qualidade
de vida dos indivíduos acometidos (RAMOS; FURQUIM, 2001).
O tratamento da SAHOS pode ser cirúrgico (adenotonsilectomia,
correção de anomalias craniofaciais, traqueotomia) ou clínico (higiene do
sono, pressão positiva contínua nas vias aérea - CPAP, aparelhos intrabucais). Nesta última década, vários aparelhos ortodônticos funcionais têm
sido desenvolvidos por dentistas para o tratamento do ronco e da apnéia
obstrutiva do sono, tendo como mecanismo de ação uma alteração na posição da mandíbula, língua e outras estruturas das vias aéreas superiores
(ALMEIDA et al. 2006).
Os aparelhos intrabucais atuam pelo avanço mandibular afastando
os tecidos da orofaringe e aumentando a tonicidade da musculatura dessa região. A sua indicação principal são para os casos de apneias leves e
moderadas quando o índice de apneia e hipopneia atinge até 30 pausas
respiratórias por hora durante o sono em pacientes retrognatas (GODOFIM, 2002).
Atualmente os aparelhos são classificados como: (1) Aparelhos
Retentores de Língua (ARL) - dispositivos confeccionados com material
flexível que tracionam a língua por sucção, mantendo-a anteriorizada por
meio de bulbo localizado na região dos incisivos superiores e inferiores.
São indicados para pacientes edêntulos totais; e (2) Aparelhos de Avanço
Mandibular (AAM) - dispositivos mais utilizados e investigados na literatura médica e odontológica. Estes aparelhos são indicados para pacientes
com quantidade de dentes
suficientes para ancoragem e retenção
do dispositivo. Podem ser classificados em: a) AAM imediato: Monobloco, NAPA; b)AAM ajustáveis: Herbest; Klearway, EMA; c) AAM dinâmico:
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.66-71, Out-Nov-Dez. 2011.
Aparelho Anti-Ronco (AAR-ITO) e Dispositivo Aperfeiçoado do Aparelho
Anti-Ronco (DAAR-ITO) (ITO, 2010).
O objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão da literatura para analisar a indicação e a efetividade dos aparelhos intrabucais no
tratamento da SAHOS.
2
METODOLOGIA
Os dados coletados neste estudo de revisão da literatura são de artigos publicados na literatura odontológica com recorte de 10 anos (2000
a 2010) e que enfocaram o uso de aparelhos intrabucais no tratamento
da SAHOS.
O método de revisão da literatura se iniciou com a busca de artigos nas bases de dados LILACS (Lite¬ratura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde) e MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências
da Saúde) e SciELO (Scientific Electronic Library Online), com a localização de 637 textos completos. Foram utilizados os seguin¬tes descritores e suas combinações nas línguas portu¬guesa e inglesa: transtornos
respiratórios; apnéia; obstrução das vias aéreas respiratórias e aparelhos
intrabucais. Com a leitura dos resumos foram excluídos: artigos de revisão;
publicações fora do período de busca ou que se encontravam repetidos
em uma das bases de dados e artigos que não incluíam o uso de aparelho
intrabucal. Foram selecionados os artigos oriundos de estudos primários
originais e de estudo de caso totalizando seis artigos.
Com a seleção pelos resumos, passou-se à leitura do texto na íntegra. Em seguida houve a coleta dos dados em formulário, que continha
as seguintes questões: titulo do estudo, autores, ano de publicação, periódico; dados sobre os resultados do estudo: tipo de aparelho usado e
resposta do paciente ao uso do aparelho.
A análise se fez por meio de descrição da utilização e efetividade
dos aparelhos intrabucais no tratamento da SAHOS.
3RESULTADOS
Nas últimas décadas, aparelhos intrabucais têm sido constantemente desenvolvidos e testados, como mostra Henke, Frantz e Kuna
(2000) ao testarem um dispositivo com elástico oral para avanço mandibular (EMA). Trabalharam com 28 indivíduos não tratados com SAHOS (24
homens e 4 mulheres, com idade média de 49,1 anos) e com 10 eventos
por hora em uma noite da polissonografia. Todos os indivíduos apresentavam queixas de sonolência diurna excessiva. Foram realizadas três polissonografias noturnas; a primeira para estabelecer o diagnóstico de SAHOS
(n=28); a segunda, com o uso do EMA (n=28) e a terceira para determinar
o local de fechamento das vias aéreas (n=12). Os resultados mostraram
que a utilização do EMA melhorava significativamente a severidade polissonográfica da SAHOS.
O aparelho EMA foi bem tolerado, resultando em uma redução
média do IAH de 52,6% para 28,2%. Também foram observadas melhoras
clínicas por meio do exame polissonográfico em indivíduos com o uso do
EMA que apresentavam SAHOS leve e grave. O estudo também mostra
que quatro indivíduos apresentaram um IAH maior com o uso do dispositivo e não foram encontradas explicações para esse fato.
Figura 1 - EMA mostrado fora (painel esquerdo) e em (painel direito) um molde dos dentes
superiores e inferiores de um paciente. As cintas elásticas anexa-se as bandejas superiores e
inferiores. A maxila puxa a mandíbula para frente. Diferentes graus de avanço são alcançados
usando tiras de elasticidade e comprimento diferentes (HENKE; FRANTZ; KUNA (2000).
67
Monteiro, T. A. S.; Martins, O. F. M.; Costa, D. M. C.
Mehta et al. (2001) também testaram um aparelho de avanço
mandibular, o MAS - Mandibular Advancement Splint, em pacientes com
apnéia obstrutiva do sono. Nesse estudo também foram analisados o
potencial da Polissonografia (PSG), exame antropométrico e parâmetros
radiológicos no prognóstico do tratamento. Foram selecionados 28 pacientes adultos (22 homens e 6 mulheres) com SAHOS, apresentando pelo
menos dois sintomas da síndrome (ronco, sono fragmentado, sonolência
diurna) e IAH >10/h constatados através da PSG. Para cada indivíduo foi
confeccionado um aparelho de avanço mandibular e uma placa oral, que
não avançava a mandíbula e serviu de controle. Radiografias cefalométricas, polissonografias e questionários foram realizados antes e após o
tratamento. Dos 28 pacientes selecionados, 24 completaram o protocolo.
A resposta completa com uso do MAS foi definida como a solução
dos sintomas e redução do IAH a qual foi alcançada em nove pacientes
e a resposta parcial definida como melhora dos sintomas mais redução
no IAH, ocorreu em seis. O insucesso do tratamento ocorreu em nove pacientes.
O estudo também mostrou que a placa oral controle utilizada
não teve efeito significativo sobre o IAH e o tempo total de sono não
se alterou. Com o uso do MAS houve uma redução de 53% de IAH
e redução do ronco. Vinte e três pacientes afirmaram que gostariam
de continuar a usar o MAS por causa de melhora percebida em seus
sintomas.
Assim, observou-se que o MAS foi eficaz em controlar completamente a SAHOS em mais de um terço dos pacientes, sendo uma alternativa viável ao CPAP nasal em pacientes com SAHOS leve, e alguns casos de
SAHOS moderada ou grave. Os autores concluíram que o MAS é bem tolerado, pelo menos em curto prazo, e está associado à melhoria subjetiva e
objetiva em uma proporção significativa de pacientes (MEHTA, et al. 2001).
Figura 2. Aparelho de avanço mandibular (MEHTA, et al. 2001).
68
Outro estudo apresentou o Aparelho Bucal de Avanço Mandibular
(Aparelho ITO® - Sistema Dinâmico de Ação). Foram avaliados 36 pacientes (16 homens e 20 mulheres) com idade média de 53,7 anos, divididos
em três grupos: Apnéia leve, IAH = 9,3 (5,7-15) (mediana e limites inferior
e superior); apnéia moderada, IAH = 22,3 (17,3-29,3); e apnéia grave, IAH
= 41 (31,9-71). Foram avaliados: Escala de Ronco (Stanford), Escala de Sonolência Epworth (ESS), Saturação de O2 e Índice de Microdespertar (IM),
antes e após o uso contínuo (média de 6 meses) do aparelho. O avanço foi
realizado gradualmente utilizando elásticos intermaxilares. Os parâmetros
de controle foram: IAH < 5/hora; ESS < 10; Stanford = 0; Saturação de O2
˃ 85% e IM < 10/hora.
Decorridos seis meses do estudo, foi observado uma redução significativa (P < 0,01) do IAH, da ESS e da escala de ronco nos três grupos
após o uso do aparelho comparativamente aos valores basais. Os demais
parâmetros não apresentaram diferença estatisticamente significativa. O
Aparelho ITO reduziu o número de apneias e hipopnéias, a sonolência excessiva durante o dia e o volume do ronco (ITO, 2010).
Figura 3. Aparelho ITO® montado em articulador semi-ajustável utilizado para simular os movimentos mandibulares com os elásticos colocados (ITO, 2010).
Um estudo apresentado por Dal-Fabbro et al (2010) mostram o
desenvolvimento do aparelho Brasilian Dental Appliance – BRD por pesquisadores da Odontologia na área da Medicina do Sono, das universidades brasileiras UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e UFC
(Universidade Federal do Ceará). O aparelho é confeccionado em acrílico
termopolimerizável, sendo a parte superior independente da inferior e
com retenção realizada através de grampos interproximais entre todos os
dentes posteriores. As duas arcadas são interligadas por dois expansores
posicionados na região palatina, logo abaixo da região cervical dos molares superiores.
Para a avaliação desse aparelho foram incluídos 50 pacientes, entre 25 a 70 anos de idade com mínimo de 10 dentes na arcada dentária,
diagnosticados através de exame polissonográfico no Departamento de
Psicologia da UNIFESP e na UFC e que apresentaram SAHOS leve ou moderado. Durante o tratamento foram realizados ajustes progressivos nos
expansores no período de 3 a 4 meses de acordo com a presença de
sono ou sintomas adicionais (sonolência, cansaço, sono fragmentado ou
não, sono não reparador). Os pacientes foram divididos em dois grupos:
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.66-71, Out-Nov-Dez. 2011.
Aparelhos intrabucais no tratamento da síndrome da apnéia e hipopnéia obstrutiva do sono: uma revisão da literatura
os bons e maus respondedores quanto ao IAH com o uso do BRD. O bom
respondedor incluía aqueles que reduziram mais de 50% em relação ao
basal e foi menos do que 10 eventos por hora com o aparelho BRD. O mau
respondedor apresentou IAH também em uso do BRD maior ou igual 10.
Um aspecto importante é que a posição final da mandíbula com o uso do
aparelho não foi diferente entre os dois grupos, indicando que não são
avanços mandibulares extremos e sem critérios que irão melhorar a eficácia dos aparelhos intraorais.
Os autores desse estudo relataram melhoras significativas na escala de sonolência, no IAH, nos microdespertares e na saturação mínima de
oxihemoglobina e que pacientes acima do peso parece interferir desfavoravelmente no desempenho do aparelho em estudo.
Quanto à efetividade do uso desse aparelho, há notável indicação
de resultados satisfatórios para iniciar tratamento dos casos de SAHOS.
Figura 4. Aparelho BRD utilizado no estudo (DAL-FABBRO, et al. (2010).
o sono, à noite, e remove-lo pela manhã ao acordar, por um período de
trinta dias. Depois de decorrido os 30 dias, o paciente retornava ao consultório odontológico para avaliação do uso do aparelho. Nos casos em que a
utilização fosse positiva, era encaminhado para uma nova polissonografia
(NABARRO; HOFLING, 2008).
Um dado relevante no estudo de Nabarro e Hofling (2008) é
que do total de 16 pacientes apenas nove terminaram o tratamento, por
conseguirem utilizar o aparelho. O baixo índice de aceitação desse aparelho se refere ao desconforto que segundo os pacientes se deve a dificuldade de adaptação em função dos efeitos colaterais produzidos pelo seu
uso como: salivação excessiva no início do tratamento em conseqüência
à nova postura da língua, pequeno cansaço na musculatura mastigatória
pela manhã e uma pressão uniforme sobre os dentes, principalmente os
anteriores, sobre a gengiva, língua ou maxilares.
Os pacientes que chegaram ao final do tratamento foram
submetidos a uma nova polissonografia, realizada com o paciente fazendo uso do Bionator para avaliar e quantificar a eficácia deste dispositivo no
tratamento do ronco e da apnéia. Foi observada uma melhora significativa comparando as polissonografias iniciais e finais e o Bionator de Balters
foi considerado um aparelho eficiente no tratamento para diminuição do
ronco e da apnéia, pois foi observada uma diminuição estatisticamente
significante nos valores de IAH com o tratamento (NABARRO; HOFLING,
2008).
Figura 6. Aparelho Bionator de Balters (NABARRO; HOFLING, 2008).
Figura 5. BRD em boca (vista frontal) (DAL-FABBRO, et al. (2010).
Um outro aparelho, o Bionator de Balters (NABARRO; HOFLING,
2008), foi utilizado por 16 pacientes (13 homens e 3 mulheres), com idade
entre 35 a 61 anos e que apresentavam queixa de roncopatia e sonolência
diurna excessiva. A suspeita do diagnóstico de apnéia do sono foi confirmada por meio da monitorização polissonográfica realizada pelo otorrinolaringologista, através da verificação das características normais ou patológicas do sono. Com esses dados, foram determinados o índice de apnéia e
hipopnéia e saturação basal média mínima de oxigênio.
Para indicar o tratamento com uso de dispositivos intrabucais, o
IAH deveria se situar entre 5 e 15 ou entre 15 e 30, considerados graus
leve ou moderado de ronco e apnéia do sono. Confirmado esse índice o
otorrinolaringologista encaminhava o paciente para participar do estudo.
Após essa seleção, foram confeccionados aparelhos intraorais Bionator
para os pacientes selecionados e recomendado a sua utilização durante
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.66-71, Out-Nov-Dez. 2011.
Abi-Ramia et al. (2010) também avaliaram em 16 pacientes (6 homens e 10 mulheres, com idade média de 47,6 anos) o efeito do aparelho
de avanço mandibular Twin Block –TB, no volume das vias aéreas superiores por meio de Tomografia Computadorizada Cone-Beam (CBCT). Os
pacientes foram incluídos após exames de polissonografia solicitados por
especialistas em Medicina do Sono e que apresentassem SAHOS leve a
moderado. Todos receberam aparelhos intraorais Twin Block modificado
e, teriam que usar o aparelho para dormir.
Os pacientes foram acompanhados durante um período de 7 meses. No final desse período, cada paciente realizou duas tomografias CBCT,
uma usando o aparelho e outra sem uso do aparelho. Os resultados desse
trabalho indicavam que houve diferença significativa entre o volume da
via aérea dos pacientes com e sem o TB, mostrando que o aparelho TB foi
capaz de aumentar o volume da via aérea superior nos pacientes avaliados. Apenas 2 pacientes apresentaram volume da via aérea menor com TB
do que sem TB. Esse fato pode estar associado à quantidade de avanço
mandibular ou largura do palato mole.
69
Monteiro, T. A. S.; Martins, O. F. M.; Costa, D. M. C.
Figura 7. Aparelho Twin Block modificado em posição:
A) vista frontal e C) vista lateral esquerda (ABI-RAMIA, et al. 2010).
A
B
4DISCUSSÃO
Os estudos analisados evidenciam que os aparelhos intrabucais são
considerados alternativas para o tratamento da SAHOS. Essa síndrome é
conhecida como um distúrbio crônico, progressivo e que se caracteriza
por interrupção periódica da respiração durante o sono. Os sinais e sintomas mais comuns são o ronco, a sonolência diurna excessiva e pausas respiratórias durante o sono observadas, principalmente, pelo companheiro.
O ronco, no geral, está associado a fatores como obesidade, ingestão de
álcool ou medicações hipnóticas. Pelo fato dos sintomas serem percebidos pelo companheiro, ocorre um desacordo entre casais, tanto pela confirmação ou não do fenômeno, quanto pelo som emitido durante o sono,
prejudicando a vida conjugal.
Os estudos analisados mostram que o diagnóstico parte de métodos simples como questionários, historia clinica, exame físico, e a polissonografia clássica (método padrão para diagnosticar a SAHOS). Na avaliação
clínica investigam-se sintomas associados à hipertensão arterial, cardiopatia
isquêmica e arritmias. O exame físico do paciente deve incluir medidas antropométricas como índice de massa corpórea, pois pacientes obesos apresentam maior risco de desenvolverem a SAHOS. O exame da cavidade nasal
deve ser feito com o objetivo de encontrar possíveis causas de obstrução
nasal, como assimetria de tecidos moles, colapso de válvula nasal, edema
na mucosa causado por rinite alérgica, desvio de septo, trauma, hipertrofia de corneto e presença de pólipos. No exame do esqueleto craniofacial,
avalia-se a posição da mandíbula maxila e oclusão dentária. Retrognatia,
micrognatia, sobremordida e deslocamento da articulação estão associados
ao maior desvio das vias aéreas (BITTENCOURT; TOGEIRO; BAGNATO, 2002).
O exame polissonográfico é realizado no laboratório durante toda a
noite e possibilita identificar os vários parâmetros alterados em pacientes
portadores da SAHOS. A monitorização de cinco ou mais eventos respiratórios anormais (Índice de apnéia e hipopneia/ hora de sono, Índice de
microdespertar, saturação de oxigênio, índice de movimentos periódicos
dos membros inferiores), confirmam o diagnóstico das SAHOS. O médico
que interpreta uma polissonografia deve ser sempre um neurofisiologista
clínico com habilitação na área (BITTENCOURT; TOGEIRO; BAGNATO, 2002).
70
Os resultados deste estudo apontam a multidisciplinaridade do
tratamento da SAHOS, envolvendo profissionais como: otorrinolaringologista, neurologista, médicos especialista em medicina do sono e ortodontista. Nessa multidisciplinaridade Cavalcante e Souza (2008) colocam que
os dentistas desempenham um importante papel nesse tratamento, pois
são os responsáveis pela seleção, confecção, instalação, ajuste e a proservação semestral do dispositivo, enquanto que os médicos fazem à indicação e avaliação de sua eficácia.
De acordo com os resultados dos artigos analisados, os aparelhos
mais utilizados são os de avanço mandibular, que tem como característica o aumento das vias aéreas superiores e são indicados para paciente
dentados, com quantidade de dentes suficientes para a ancoragem do
mesmo. Entretanto, no tratamento da SAHOS os profissionais devem levar
em conta além do uso de dispositivos intraorais a condução do paciente
para a perda de peso, condicionamento postural, supressão de álcool e
sedativos, bem como tratamento de rinite alérgica e do hipotireodismo
(quando for o caso), pois podem ser causas prováveis da apnéia obstrutiva
do sono (NABARRO;HOFLING, 2008).
Quanto à efetividade dos aparelhos intrabucais, os resultados
apontam que esses aparelhos são considerados uma boa alternativa para
o tratamento do ronco e da SAHOS devido seu custo reduzido e ao relativo
conforto de uso, o que leva a uma maior aceitação por parte dos pacientes. Fato também já observado por Almeida et al. (2006) em seu estudo.
Entretanto, o sucesso do tratamento muitas vezes implica em alterações drásticas do modo de vida e, a adesão do paciente é difícil de
ser conseguida nesses casos, pois o uso de aparelhos intrabucais pode ser
incomodo por promover dores musculares ou na articulação temporomandibular conforme apontam Borges e Paschoal (2005).
Os resultados apresentados neste estudo também mostram o abandono do tratamento com dispositivos intraorais por alguns pacientes relatando desconforto, salivação excessiva, incapacidade de cumprir as exigências de tempo do tratamento, má higiene oral que pode resultar em um
problema periodontal avançado, considerada uma contra indicação para o
uso do aparelho. Segundo Godolfim (2002) a eficiência dos tratamentos de
SAHOS com aparelhos intrabucais esta diretamente ligada às características
do aparelho, e principalmente às características do paciente. A correta avaliação do paciente e determinação destas características, através do exame
clinico pelo medico e pelo dentista serão fundamentais para identificar se o
aparelho é o melhor procedimento para o paciente ou não.
5
CONCLUSÃO
O estudo mostra que os dispositivos intrabucais são uma alternativa para o tratamento da SAHOS. Os aparelhos, no geral, são bem tolerados
e promovem redução do IAH comprovada pelo exame polissonográfico
realizado antes e após o uso do aparelho. O uso desses aparelhos podem,
em alguns pacientes, eliminar e/ou reduz o ronco, a sonolência diurna e
aumentar o volume das via aéreas respiratórias.
Essa terapia necessita, além do controle polissonográfico, de revisões e acompanhamento sistemático tanto do médico quanto do cirurgião-dentista.
Entretanto, nem todos os pacientes submetidos a tratamento da
apnéia e hipopnéia do sono com uso de dispositivos intrabucais continuam o tratamento. Alguns não conseguem continuá-lo em função dos
efeitos colaterais advindos desses dispositivos como: salivação excessiva,
pressão mandibular e outros.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.66-71, Out-Nov-Dez. 2011.
Aparelhos intrabucais no tratamento da síndrome da apnéia e hipopnéia obstrutiva do sono: uma revisão da literatura
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.66-71, Out-Nov-Dez. 2011.
71
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Uso indiscriminado de antibióticos e resistência microbiana: uma
reflexão no tratamento das infecções hospitalares
Indiscriminate use of antibiotics and antimicrobial resistance: a reflection on the treatment of hospital
infections
El uso indiscriminado de antibióticos y la resistencia a los antimicrobianos: una reflexión sobre el
tratamiento de las infecciones hospitalarias
Francisco Braz Milanez
Oliveira
Graduando do curso de Enfermagem da UFPI
Lidiane Monte Lima
Graduando do curso de Enfermagem da UFPI
Maria Eliete Batista Moura
Pós-Doutora pela Universidade Aberta de Lisboa
– Portugal. Doutora em Enfermagem pela Escola
de Enfermagem da UFRJ. Professora do Programa
de Mestrado em Enfermagem e da Graduação
em Enfermagem da UFPI. Professora do Programa
de Mestrado em Saúde da Família da Faculdade
NOVAFAPI. email: mestradosaudedafamilia@novafapi.
com.br.
RESUMO
Considerada uma questão de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde, a resistência dos
microorganismos aos antimicrobianos é um problema crescente nos hospitais, particularmente nas
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), pois o uso indiscriminado de antibióticos acaba por proporcionar um aumento na morbidade, mortalidade e nos custos hospitalares, gerando ainda mais resistência. O estudo teve como objetivo desenvolver uma análise crítica do processo de resistência microbiana e elencar na literatura as causas que a tornam uma das principais complicações no tratamento
das infecções hospitalares (IH’s). Trata-se de um estudo de reflexão que evidenciou a importância do
contexto histórico na construção do conhecimento desse processo, assim como compreender por
meio das vivências clínicas os mecanismos assistenciais que contribuem para essa problemática. Assim, o estudo mostra que nos últimos anos com o surgimento de drogas cada vez mais potentes aos
microorganismos, a resistência apresenta um crescimento diretamente proporcional a esse avanço
com o surgimento de cepas cada vez mais resistentes.
Descritores: Resistência microbiana. Antimicrobianos. Infecção hospitalar. Enfermagem.
ABSTRACT
Benevina Maria Vilar Teixeira
Nunes
Doutora em Enfermagem pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Professor adjunto III da
Universidade Federal do Piauí , Brasil
Bruna Milanez Oliveira
Graduando do Curso de Biomedicina da UFPI.
Considered a public health issue by the World Health Organization, the resistance of microorganisms to antimicrobials is a growing problem in hospitals, particularly in intensive care units (ICUs)
because the indiscriminate use of antibiotics ultimately provide an increase in morbidity, mortality
and hospital costs, creating more resistance. The study aimed to develop a critical analysis of the
process of microbial resistance in the literature and rank the causes that make a major complication
in the treatment of hospital infections (HI’s). This is a reflection that study showed the importance
of historical context in the construction of knowledge of this process, as well as understanding of
clinical experiences through the assistance mechanisms that contribute to this problem. Thus, the
study shows that in recent years with the emergence of increasingly powerful drugs to microorganisms, resistance is growing directly proportional to this advance with the emergence of increasingly
resistant.
Descriptors: Microbial resistance. Antimicrobials. Hospital infection. Nursing.
RESUMEN
Submissão: 06/06/2011
Aprovação: 09/08/2011
72
Considerado como un problema de salud pública por la Organización Mundial de la Salud, la resistencia de los microorganismos a los antimicrobianos es un problema creciente en los hospitales,
especialmente en unidades de cuidados intensivos (UCI) debido a que el uso indiscriminado de antibióticos en última instancia, proporcionar un aumento de la morbilidad, la mortalidad y los costos
hospitalarios, la creación de más resistencia. El objetivo del estudio fue desarrollar un análisis crítico
del proceso de la resistencia microbiana en la literatura y clasificar las causas que hacen que una
complicación importante en el tratamiento de las infecciones hospitalarias (HI). Esto es un reflejo de
que el estudio demostró la importancia del contexto histórico en la construcción del conocimiento
de este proceso, así como la comprensión de las experiencias clínicas a través de los mecanismos
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.72-77, Out-Nov-Dez. 2011.
Uso indiscriminado de antibióticos e resistência microbiana: uma reflexão no tratamento das infecções hospitalares
de asistencia que contribuyen a este problema. De este modo, el estudio
muestra que en los últimos años con la aparición de fármacos cada vez
más potentes a los microorganismos, la resistencia está creciendo directamente proporcional a este avance con la aparición de cepas cada vez
más resistentes.
Descriptores: Resistencia microbiana. Los antimicrobianos. Hospital de la
infección. Enfermería.
1
INTRODUÇÃO
Desde os tempos remotos sabe-se que o homem e os micróbios
partilham uma vida em comum que se perde na sombra do tempo; e, certamente, desde a pré-história eles vêm provocando doenças no homem.
Entretanto, as causas destas doenças só começaram a ser descobertas a
partir de 1878, graças, sobretudo aos trabalhos de Pasteur e Koch e seus
contemporâneos, que demonstraram a origem infecciosa de várias enfermidades do homem e de outros animais (TAVARES, 2001).
Com a descoberta e o inicio dos estudos dos microorganismos,
ficou claro a divisão dos seres vivos reformulada por Wittaker, em 1969,
baseado não só na organização celular como proposto por Haeckel, em
1866, mas também na forma de obter energia e alimento: Reino Plantae;
Reino Animalia; Reino Fungi; reino Protista (microalgas e protozoários), e
reino Monera (alga azul-verde e as bactérias) (TRABULSI, 2005).
Foi então a partir do século XVI, com o desenvolvimento da alquimia, que as drogas medicinais passaram a ser obtidas por métodos laboratoriais, embora já fizessem uso de substâncias químicas e derivados
de plantas, dando início ao desenvolvimento da pesquisa e da indústria
químico-farmacêutica com finalidade de produzirem drogas ativas contra
os microorganismos e de baixa toxicidade para o homem, de tal modo
que pudessem ser utilizadas nas infecções sistêmicas.
Nesse contexto, a palavra infecção, de acordo com Martins (2006),
é definida como um substantivo feminino que significa ato ou efeito de
infeccionar-se, contaminação, corrupção, penetração, desenvolvimento e
multiplicação de seres inferiores no organismo de um hospedeiro, de que
podem resultar, para este, conseqüências variadas, habitualmente nocivas,
em grau maior ou menor.
O Ministério da Saúde (MS), na Portaria nº 2.616 de 12/05/1998,
define Infecção Hospitalar como a infecção adquirida após a admissão do
paciente na unidade hospitalar e que se manifesta durante a internação
ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (BRASIL, 1998).
Para evitar ou tratar infecções causadas por microorganismos patogênicos, utilizam-se as drogas antimicrobianas. De acordo com Abrams
(2006) vários termos são usados para descrever essas drogas: anti-infeciosos e antimicrobianos incluem medicamentos antibacterianos, antivirais e
antifúngicos; antibacterianos e antibióticos geralmente referem-se apenas
aos medicamentos usados nas infecções bacterianas.
Ainda percorrendo um pouco da história das drogas antimicrobianas, a descoberta da penicilina, o primeiro antibiótico de atividade clínica,
ocorreu quando Alexander Fleming estudava culturas de Staphylococcus
aureus no St. Mary’s Hospital de Londres, após observar que culturas desta
bactéria deixadas sobre uma bancada haviam sido contaminadas por um
fungo do ar e que ao redor do fungo contaminante não existia crescimento do estafilococo. Intrigado, Fleming resolveu estudar o fenômeno observado, verificando que o fungo pertencia ao gênero Penicilium (mais tarde
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.72-77, Out-Nov-Dez. 2011.
identificado como P. notatum), o qualk elaborava uma substância que,
difundindo-se no meio de cultura, exercia efeito antimicrobiano sobre a
bactéria ali presente. Esta substância Fleming denominou penicilina e anteviu que seu emprego seria de utilidade no tratamento das infecções por
exercer efeitos não só contra os estafilococos, mas também contra os estreptococos, bacilo diftérico, gonococo e meningococo (TAVARES, 2001).
Na cronologia dos processos infecciosos, em 1950, oito anos após
a introdução da penicilina, 68% dos Staphylococcus aureus já apresentavam resistência a esse antibiótico, não se sabia que aí se iniciava um dos
maiores problemas no tratamento das infecções: a resistência microbiana
(ROSSI; ANDREAZZI, 2005).
Em 1960, com o surgimento e introdução de novos antimicrobianos, as infecções por Staphylococcus aureus declinaram, mas por motivos
não muito claros, o avanço tecnológico fez surgir um novo problema: as
infecções por bactérias Gram-negativas e fungos. As enterobacteriáceas e
Pseudomonas aeruginosas dominaram o cenário das Infecções Hospitalares (IHs), além dos estafilococos como agentes relacionados às infecções
de ferida operatória e de cateteres venosos (MARTINS, 2006). Ainda em
1960, a meticilina foi lançada no mercado como alternativa para o tratamento das infecções causadas pelas bactérias Gram-positivas, e, nesse
mesmo ano, houve relato dos primeiros Staphylococcus aureus resistentes
a meticilina (MRSA) (RICE, 2001) em hospitais britânicos (KORN, 2001).
Antes de 1965, nenhum surto hospitalar envolvendo bacilos gram-negativos multi-resistentes foi investigado pelo Center for Diseases Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. Entretanto, entre 1965 e
1975, 11 de 15 surtos hospitalares de enterobactérias investigados envolveram cepas multi-resistentes (QUADROS, 2004).
O ano de 1980 foi marcado pela emergência de MRSA, bem como a
de enterobactérias - Klebsiella, E. coli, Proteus, Enterobacter e outras, produtoras de mecanismos que funcionam como defesas à ação das drogas, enzimas
capazes de destruir o anel beta-lactâmico de certos antimicrobianos, como
AmpC e Beta-lactamase de espectro ampliado (ESBL) (BETTCHER, 2008).
Em 1997, veio do Japão o primeiro relato de S. aureus com resistência intermediária a vancomicina (VISA) e em 2002, os Estados Unidos
relataram a presença de estafilococo resistente a vancomicina (VRSA)
(QUADROS, 2004).
A era da antibioticoterapia estava iniciada, envolvendo novos técnicos e cientistas, com métodos, equipamentos e materiais relacionados à
química, biologia, farmacologia, exigindo a comercialização e o surgimento de novas drogas com espectros cada vez mais ampliados que fossem
sensíveis aos mecanismos de resistência desses microorganismos.
Segundo Tavares (2001), o desenvolvimento dessas novas drogas
provocou uma decisiva queda nas taxas de morbidade e mortalidade de
inúmeras doenças infecciosas. No entanto, observou-se também que o
mau uso dos antibióticos para tratamento e profilaxia das infecções, resultava na redução da sua eficácia e que a sensibilidade dos germes às drogas
podia sofrer variações, encontrando-se microorganismos pertencentes a
uma mesma espécie nos quais algumas estirpes ou raças eram sensíveis,
enquanto que outras eram resistentes à ação de um mesmo antibiótico,
com isso verifica-se que o fenômeno da resistência bacteriana aos antimicrobianos, tão seriamente estudados nos dias atuais, já era manifestação
observada desde o início da antibioticoterapia.
Portanto, o estudo tem como objetivo desenvolver uma análise crítica do processo de resistência microbiana e elencar na literatura as causas
que a tornam uma das principais complicações no tratamento das infecções hospitalares (IH’s).
73
Oliveira, F. B. M.; et al.
2
RESISTÊNCIA MICROBIANA
Considerada um problema de relevância mundial, a resistência dos
microorganismos aos antimicrobianos constitua sendo uma ameaça para
a atenção aos pacientes e para o controle das doenças em todo o mundo.
Preocupada com essa situação, a Organização Mundial de Saúde – OMS,
contemplou esta problemática como tema relevante no dia Mundial da
Saúde, com vista a dar visibilidade a este problema que assola os serviços
de saúde mostrando que não é novo e que se torna cada vez mais importante (OMS, 2011).
Para Tavares (2008), esse fenômeno da resistência microbiana é
complexo e refere-se a cepas de microorganismos que são capazes de
multiplicar-se em presença de concentrações de antimicrobianos mais
altas do que as que provêm das doses terapêuticas dadas a humanos. É
um fenômeno biológico natural que se seguiu à introdução de agentes
antimicrobianos na prática clínica e as suas taxas variam na dependência
do consumo local de antimicrobianos.
Achados na literatura (TAVARES, 2001; TRABULSI, 2005) apontam
que uma bactéria é resistente quando cresce in vitro, nas concentrações
que os antimicrobianos atingem no sangue quando administrados nas recomendações de uso clínico, e que antimicrobiano não induz a resistência
e sim, é um selecionador das cepas mais resistentes existentes no meio de
uma população
De acordo com Nicolini (2010) a finalidade da administração de
antibióticos é de eliminar ou impedir o crescimento de um agente infeccioso sem causar danos ao hospedeiro. Podem ser vários os mecanismos
de ação: a) interferir na síntese da parede celular do microorganismo,
comprometendo os peptideoglicanos estruturais, no caso das penicilinas,
cefalosporinas, vancomicina e a bacitracina, b) comprometier a síntese de
proteínas bacterianas: os aminoglicosídeos, as tetraciclinas, a eritromicina,
entre outros e c) inibir a síntese de ácidos nucléicos: o metronidazol, as
quinolonas, a rifampicina, as sulfonamidas e trimetoprima.
Portanto, tendo em vista o grande número de antimicrobianos disponíveis e seus diferentes mecanismos de ação, assim como os diversos
mecanismos de resistência apresentados pelos microrganismos e a complexidade de determinados tipos de infecção, passou também a ser mais
criteriosa a correta avaliação da sensibilidade aos agentes antimicrobianos
(MENEZES, 2007).
Através do antibiograma é possível determinar in vitro a sensibilidade dos germes à ação das drogas antimicrobianas. Para isso, a análise
dos antimicrobianos testados seguirá três categorias interpretativas que
de acordo com Trabulsi (2005) são: 1. Sensível: o que em geral significa que
a infecção devida ao microorganismo estudado pode ser adequadamente
tratada com a dosagem habitual do antimicrobiano testado e recomendado para este tipo de infecção. 2. Resistente: quando o isolado não é inibido pela concentração do antimicrobiano obtido no local da infecção ou
quando o microorganismo patogênico apresenta mecanismos específicos
de resistência. 3. Intermediário: significa que o microorganismo pode ser
inibido por concentrações atingíveis de certas drogas se doses maiores
puderem ser administradas ou se a infecção ocorre em local onde o antimicrobiano é fisiologicamente concentrado (trato urinário, por exemplo).
No novo dicionário Aurélio, a palavra sensível significa: “que
sente, que tem sensibilidade; Que recebe facilmente as sensações externas; Que pode ser percebido pelos sentidos; Suscetível; Passível de
receber modificações ou de sofrer determinadas ações, dentre outros”.
Para Resistência, o autor mostra cinco significados: “1.ato ou efeito de
74
resistir.2.qualidade ou condição do que é resistente.3.força que se opõe a
outra.4.força que defende um organismo do desgaste de doença, cansaço,
etc.5.obstáculo,empecilho” (FERREIRA, 2001).
Assim, pode-se perceber como citado em Oliveira et al. (1998), que
a multirresistência bacteriana constitui o fator básico que corrói a eficácia futura dos novos antimicrobianos e que fundamenta a investigação e
produção de novas drogas. Ou seja, a história dos antimicrobianos tem se
caracterizado pela dinâmica e freqüente sobreposição de novos desafios
que resultam no desenvolvimento contínuo de drogas cada vez mais potentes e de espectro de ação ampliado.
Como vimos, foi a partir do início do uso clínico dos antibióticos no
final da década de 40 que estes passaram a ter uma participação cada vez
maior na prescrição médica. De acordo com Hinrichsen et al. (2009), aproximadamente 25% a 35% dos pacientes hospitalizados recebem antibióticos, o que representa 1/3 dos gastos com medicamentos, e respondem
pelo consumo de 20% a 50% da receita hospitalar.
Dados da OMS mostraram que mais de 50% das prescrições de
antimicrobianos eram inapropriadas. Como conseqüência desse mau uso
identifica-se o aumento de custos, aumento da indução da pressão seletiva de patógenos resistentes e efeitos adversos. Estima-se que, apenas nos
Estados Unidos, o custo com resistência bacteriana está em torno de 4 a 5
bilhões de dólares anualmente (Fiol, 2010).
Conforme Wannmacher (2004), nos países em desenvolvimento
o uso indiscriminado é considerado mais sério, pois normalmente estes
produtos são vendidos livremente no comércio e as medidas para o controle de uso nos hospitais são inconsistentes. A alta disponibilidade e o
consumo de antimicrobianos têm geram um aumento desproporcional
da incidência do uso inapropriado dessas drogas.
3
POLÍTICA DE USO DOS ANTIMICROBIANOS
Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS (2005),
o setor farmacêutico buscando realizar o promulgado na Lei Orgânica da
Saúde (LOS), tem passado por diversas transformações para melhorar essa
problemática, destacando-se a Política Nacional de Medicamentos (PNM),
a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica (CNMAF) e a
Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF).
O Ministério da Saúde na Portaria GM nº 3.916, de 30 de outubro de
1998, que aprova a Política Nacional de Medicamentos (PNM), aponta esta
como o principal instrumento para a orientação das ações de saúde relacionadas aos mesmos. Apresenta como principais objetivos “garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção
do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais”.
Para tanto, estipula prioridades, entre as quais está a promoção do Uso Racional de Medicamentos, que “compreende a prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; a dispensação em condições
adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e
no período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de
qualidade” (BRASIL, 1998).
Recentemente a Diretoria Colegiada da ANVISA através da RDC nº
44, de 26 de outubro de 2010 em seu Art. 2º determinou que a dispensação de medicamentos a base de antimicrobianos de venda sob prescrição,
somente poderá ser efetuada mediante receita de controle especial, ou
seja, pretende-se minimizar o livre acesso a essas drogas para que de forma indireta possa reduzir a resistência microbiana (ANVISA, 2010).
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.72-77, Out-Nov-Dez. 2011.
Uso indiscriminado de antibióticos e resistência microbiana: uma reflexão no tratamento das infecções hospitalares
Para o Uso Racional de Medicamentos através da terapêutica,
a prescrição ou receita médica constitui um instrumento essencial, pois
deve conter as informações necessárias sobre o medicamento: doses,
freqüência e duração do tratamento adequado para o problema do paciente. Trata-se, portanto, de um importante fator que possibilita avaliar a
qualidade e quantidade do consumo de medicamentos, embora o ato da
prescrição sofra influências de fatores diversos que vão desde o conhecimento do prescritor, das expectativas do paciente á indústria farmacêutica
(BRASIL,1998; MARIN,2003).
Segundo Rodrigues e Bertoldi (2010), no âmbito hospitalar,
prescritores com menor experiência clínica (internos e residentes) tomam
com mais frequencia as decisões terapêuticas e se sentem pressionados
por casos agudos de alta complexidade. E para evitar o desastre nas 24
horas seguintes, fazem uso de antibióticos de amplo espectro ou uso
de vários antibióticos de pequeno espectro em associação. Identifica-se
também uma grande repetição automática das prescrições, fazendo com
que a duração de um curso de antibióticos se prolongue além do racional.
Fatores como a gravidade das infecções favorece a utilização de terapia
empírica que pode levar à seleção de cepas resistentes.
4
FATORES RELACIONADOS Á RESISTÊNCIA
Vários são os mecanismos que os microorganismos apresentam
para desenvolver resistência às drogas que vão desde fatores intrínsecos
á extrínsecos. Estratégias preventivas na disseminação de resistência são
fundamentais e devem ser aplicadas em todos os hospitais.
Na vivência clínica têm sido descritos erros de prescrição de antimicrobianos que vão desde a indicação não apropriada para infecção, a erros
técnicos por parte dos prescritores, relacionados à duração do tratamento,
dosagem, intervalo entre doses e via de administração incorreta, podendo
comprometer a terapêutica do paciente. Para isso, consideram-se relevantes estudos que monitorem as taxas de infecções, que avaliem os perfis
de sensibilidade e os hábitos de prescrição, pois constituem uma das estratégias para monitorização do uso de medicamentos. As deficiências no
registro de informações na prescrição são responsáveis por grande parte
dos erros de medicação. A análise de prescrição pode contribuir para uma
avaliação preliminar da qualidade da terapia, na medida em que evidencia
falhas que comprometem a adesão ao tratamento e favorecem o aparecimento de reações adversas e falhas terapêuticas, prejudicando todo o
esforço realizado pelo serviço de saúde para o provimento adequado de
medicamentos (SHAB, 2001).
Outro problema identificado é a antibioticoprofilaxia que está indicada nas cirurgias em que a ocorrência de complicações é elevada ou
grave e a literatura vem demonstrando a eficácia do seu uso, muito embora os erros mais comuns quanto a sua indicação incluem a seleção do antibiótico incorreto, o momento exato da sua administração, a não repetição
das doses durante os procedimentos prolongados, a duração excessiva da
profilaxia e o uso inapropriado de antibióticos de amplo espectro.
No ambiente hospitalar a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e a farmácia estabelecem critérios de seleção e utilização e os
difundem na tentativa de minimizar o fracasso terapêutico, a toxicidade e
os custos com antibióticos considerando sempre a questão da resistência
microbiana (SOUZA, 2008).
Nesse contexto, entende-se que o enfermeiro tem um papel importante na prevenção de infecções principalmente nas Unidades de
Terapia Intensiva - UTI’s, pois, apesar do alto índice devido ao tempo proRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.72-77, Out-Nov-Dez. 2011.
longado de permanência do paciente, ele é capacitado para minimizar os
riscos através de seus cuidados específicos.
Sabe-se que a resistência bacteriana a antibióticos é uma resposta ao uso abusivo de antimicrobianos no meio ambiente e atualmente
é considerada um problema de saúde pública de grande magnitude, determinando um aumento na morbidade, mortalidade e custo, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva.
5
UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
Sabe-se que nas UTI’s a assistência é constantemente de¬safiada
por infecções relacionadas a procedimentos invasivos, que resultam no
aumento da morbimortali¬dade, no tempo de internação e nos custos.
Segundo Lima, Andrade e Haas (2007), a UTI tem mostrado eleva¬dos
índices de infecção hospitalar, incluindo a ocorrên¬cia de micro-organismos multiresistentes. A despeito desta multiresistência microbiana os
pesquisadores, em âmbito mundial, estão conscientes da problemática
que ameaça a sociedade, particularmente a indústria farma¬cêutica, que
se encontra sem resposta terapêutica.
Moura (2000), afirma que nas UTI’s como um setor crítico, o uso de
antimicrobianos, principalmente o empírico, é alto, devido à fragilidade
dos pacientes e necessidade de tratamento, devendo ser uma área merecedora de mais critérios e cuidados na seleção dos antimicrobianos a
serem utilizados.
O referido setor, representa as mais altas taxas de infecção, em
torno de 13/1000 pacientes/dia, com taxas de mortalidade de 11% para
infecções de sítio cirúrgico, 25% para infecções da corrente sanguínea,
sendo a pneumonia a mais freqüente (ANDREETTA, 2008). No Brasil, a incidência de infecção nosocomial em UTI varia entre 5% e 10% (HINRICHSEN
et al. 2009).
Após a promulgação da Portaria 196/83, o Ministério da Saúde
elaborou um estudo em que foram avaliados 8.624 pacientes com mais
de 24 horas de internação, cujo tempo médio de permanência foi 11,8
dias. O número de pacientes com infecção hospitalar encontrado foi
1.129, com taxa de pacientes com infecção hospitalar de 13%. Os maiores índices de infecção foram obtidos nos hospitais públicos, 18,4%, e os
menores nos hospitais privados sem fins lucrativos, 10%. Essa diferença
se dá, em parte, por os hospitais públicos normalmente atenderem casos de maior complexidade, enquanto que os privados são responsáveis
por casos mais seletivos e de menor complexidade. Por região, estes
mesmos índices mostraram a região sudeste com 16,4%, seguida do
nordeste com 13,1%, norte 11,5%, sul 9% e centro-oeste 7,2% (MOURA,
2008).
Isso justifica as ações de prevenção e controle das in¬fecções hospitalares, particularmente, nas UTIs, as quais incluem a vigilância do perfil
microbiológico e de sensibilidade dos microrga¬nismos; o uso racional
de antimicrobianos e de proce¬dimentos invasivos, a redução do período
de hospitali¬zação, o desempenho consciente e eficiente da equipe de
saúde, bem como a conscientização dos usuários quanto aos riscos biológicos, dentre outras condutas. (LIMA; ANDRADE; HAAS, 2007).
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível perceber e afirmar que o controle das infecções
hospitalares nos serviços de saúde é desafiador, e o da resistência,
um grande problema. Julga-se necessário implementar dois proces75
Oliveira, F. B. M.; et al.
sos fundamentais para conter essa situação: o primeiro é o desenvolvimento de políticas eficazes para o uso racional de antimicrobianos nas instituições de saúde, como implementação de guidelines,
protocolos clínicos atualizados embasados em evidências científicas,
além de estudos de prescrição que servirão de base para que as medidas preventivas sejam tomadas; em segundo a implantação de
medidas de controle para limitar a disseminação de microrganismos
resistentes, a fim de se evitar um futuro de poucas opções terapêuticas no tratamento das infecções como já se vê em alguns cenários
mundiais.
Estudos mostram que os antibióticos que foram desenvolvidos
para controlar as bactérias acabaram por torná-las mais fortes, induzindo o
surgimento de bactérias resistentes para as quais os próprios antibióticos
atualmente são ineficazes.
Para isso, reforça-se a importância da vigilância epidemiológica,
precaução padrão, medidas de isolamento, materiais e equipamentos
adequados, higienização do ambiente, identificação de bactérias multirresistente, antibioticoterapia adequada, treinamento da equipe multiprofissional, implementação de medidas de controle, dentre outros fatores importantes e determinantes que podem interferir nos resultados, reduzindo
as taxas de prevalência de infecção hospitalar e minimizando a seleção
microbiótica que nos últimos anos cresce em ritmo acelerado proporcional ao desenvolvimento de novas drogas de amplo espectro.
Assim, pode-se observar que os estudos sobre a temática vêm aumentando nos últimos anos, bem como também as preocupações governamentais sobre o uso de antimicrobianos. Tais publicações refletem
sobre a necessidade de medidas de atenção quanto ao mau uso desses
fármacos e aquisição de resistência a eles.
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ANVISA. RDC nº 44, de 26 de outubro de 2010. Dispõe sobre o controle
de medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição médica, isoladas ou em associação e dá outras
providências. Lex: Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, 2010.
BETTCHER, L.; O paciente portador de Enterococcus resistente
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aspectos demográficos, epidemiológicos e microbiológicos [manuscrito].
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77
REVISTA INTERDISCIPLINAR - NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
CATEGORIAS DE ARTIGOS
A Revista Interdisciplinar publica artigos originais, revisões, relatos
de casos, resenhas e página do estudante, nas áreas da saúde, ciências
humanas e tecnológicas.
Artigos originais: são contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita. Digitados (Times New Roman 12) e
impressos em folhas de papel A4 (210 X 297 mm), com espaço duplo,
margem superior e esquerda de 3,0 cm e inferior e direita de 2,0 cm, perfazendo um total de no mínimo 15 páginas e no máximo 20 páginas para
os artigos originais (incluindo em preto e branco as ilustrações, gráficos,
tabelas, fotografias etc). As tabelas e figuras devem ser limitadas a 5 no
conjunto. Figuras serão aceitas, desde que não repitam dados contidos
em tabelas. Recomenda-se que o número de referências bibliográficas
seja de, no máximo 20. A estrutura é a convencional, contendo introdução,
metodologia, resultados e discussão e conclusões ou considerações finais.
Revisões: avaliação crítica sistematizada da literatura ou reflexão
sobre determinado assunto, devendo conter conclusões. Os procedimentos adotados e a delimitação do tema devem estar incluídos. Sua extensão
limita-se a 15 páginas.
Relatos de casos: estudos avaliativos, originais ou notas prévias de pesquisa contendo dados inéditos e relevantes. A apresentação deve acompanhar
as mesmas normas exigidas para artigos originais, limitando-se a 5 páginas.
Resenhas: resenha crítica de obra, publicada nos últimos dois anos,
limitando-se a 2 páginas.
Página do Estudante: espaço destinado à divulgação de estudos
desenvolvidos por alunos de graduação, com explicitação do orientador
em nota de rodapé. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas normas exigidas para artigos originais, com extensão limitada a 5 páginas.
Todos os manuscritos deverão vir acompanhados de ofício identificando o nome dos autores, titulação, local de trabalho, cargo atual,
endereço completo, incluindo o eletrônico e indicação de um dos autores
como responsável pela correspondência.
O aceite para publicação está condicionado à transferência dos direitos autorais e exclusividade de publicação (ver anexo).
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Os trabalhos serão avaliados pelo Conselho Editorial e pela
Comissão de Publicação. Os trabalhos recusados não serão devolvidos e
os autores receberão parecer sobre os motivos da recusa.
Todos os conceitos, idéias e pressupostos contidos nas matérias
publicadas por este periódico são da inteira responsabilidade de seus autores.
Nas pesquisas que envolvem seres humanos, os autores deverão
deixar claro se o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP), bem como o processo de obtenção do consentimento livre e esclarecido dos participantes de acordo com a Resolução nº 196 do Conselho Nacional de Saúde de 10 de outubro de 1996.
FORMA E PREPARO DO MANUSCRITO
A Revista Interdisciplinar recomenda que os trabalhos sigam as orientações das Normas da ABNT para elaborar lista de referências e indicálas junto às citações.
Os manuscritos deverão ser encaminhados em três cópias impressas e uma cópia em CD com arquivo elaborado no Editor de Textos MS
Word.
Página de identificação: título e subtítulo do artigo com máximo de
15 palavras (conciso, porém informativo) nos três idiomas (português, inglês e
espanhol); nome do(s) autor(es), máximo 06 (seis) indicando em nota de rodapé
o(s) título(s) universitário(s), cargo(s) ocupado(s), nome da Instituição aos quais
o trabalho deve ser atribuído, Cidade, Estado e endereço completo incluindo o
eletrônico do pesquisador proponente.
Resumos e Descritores: o resumo em português, inglês e
espanhol, deverá conter de 100 a 200 palavras em espaço simples, com
objetivo da pesquisa, metodologia, principais resultados e as conclusões.
Deverão ser destacados os novos e mais importantes aspectos do estudo.
Abaixo do resumo, incluir 3 a 5 descritores alusivos à temática. Apresentar
seqüencialmente os três resumos na primeira página incluindo títulos e
descritores nos respectivos idiomas.
Ilustrações: as tabelas devem ser numeradas consecutivamente
com algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto. Os
quadros são identificados como tabelas, seguindo uma única numeração
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.78-80, Out-Nov-Dez. 2011.
em todo o texto. O mesmo deve ser seguido para as figuras (fotografias,
desenhos, gráficos, etc). Devem ser numeradas consecutivamente com
algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto.
Notas de Rodapé: deverão ser indicadas em ordem alfabética,
iniciadas a cada página e restritas a no máximo 03 notas de rodapé por
artigo.
Depoimentos: seguir as mesmas regras das citações, porém em
itálico. O código que representa cada depoente deve ser apresentado entre parênteses e sem grifo.
Citações no texto: Nas citações, as chamadas pelo sobrenome do
autor, pela instituição responsável ou título incluído na sentença devem
ser em caixa-alta baixa, e quando estiverem entre parênteses caixa-alta.
Ex.:
Exemplos:
Conforme Frazer (2006), a música sempre foi o ponto central na
vida de Madame Antoine
tica: alguns desafios. São Paulo: Loyola, 2001. p.17-34.
b.
Único autor para o livro todo – Substitui-se o nome do autor
por um travessão de seis toques após o “In.”:
PESSINI, L. Fatores que impulsionam o debate sobre a distanásia In: _____.Distanásia: até quando prolongar a vida?
São Paulo: Loyola, 2001. p.67-93.
Congressos, simpósios, jornadas, etc.
CONGRESSO BRASILEIRO DE EPIDEMIOLOGIA, 5., 1999, Rio
de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:ABRASCO, 1999.
Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, jornadas, etc.
SOUZA, G. T. Valor proteíco da laranja. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO. 3., 2000, São Paulo. Anais...São
Paulo: Associação Brasileira de Nutrição. 2000. p.237-55.
Dissertações, Teses e Trabalhos acadêmicos
“No caso de Madame Antoine, o gosto pela música foi, desde a infância, central em sua vida.” (FRASER, 2006, p.37)
BUENO, M.S.S. O salto na escuridão: pressupostos e desdobramentos das políticas atuais para o ensino médio. 1998 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília.
As citações diretas, no texto, de até três linhas, devem estar contidas entre aspas duplas. As aspas simples são utilizadas para indicar citação
no interior da citação. Ex:
Publicações periódicas consideradas no todo (relativo à coleção)
“Ele se conservava a estibordo do passadismo, tão longe quanto
possível” (CONRAD, 1988, p.77)
CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA. Rio de janeiro: Fiocruz,
1965- . Semestral
Artigo de publicações periódicas
As citações diretas, no texto, com mais de três linhas, devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, espaço simples, com
letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas. No caso de documentos datilografados, deve-se observar apenas o recuo. Ex:
LIMA, J. Saúde pública: debates. Revista Saúde. Rio de Janeiro, v.18, n.2, p.298-301, nov.1989.
Partes de revista, boletim, etc.
A sete pessoas, Daniel Seleagio e sua mulher Giovanni Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel e
Paulo Reynaud, encheram a boca de cada um com pólvora,
a qual, inflamada, fez com que suas cabeças voassem em
pedaços (FOX, 2002, p.125)
LISTAGEM DAS REFERÊNCIAS - EXEMPLOS
Livros como um todo
SILVA, A. F. M. Genética humana. 7.ed. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos, 2005. 384p.
Capítulo de livro
a.
Autor do capítulo diferente do responsável pelo livro no
todo.
ANJOS, M. F. dos. Bioética: abrangência e dinamismo. In:
BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de; PESSINI; Leo. Bioé-
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.78-80, Out-Nov-Dez. 2011.
Inclui volume, fascículo, números especiais e suplementos, entre
outros, sem título próprio. Ex:
VEJA. São Paulo: Abril, n.2051, 12 mar. 2008. 98p.
Artigo de Jornal
ALVES, Armando. Minha Teresina não troco jamais. Meio
Norte, Teresina , 16 ago. 2006. Caderno 10, p. 16.
Legislações - Constituição
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995
Leis e decretos
BRASIL., Decreto n.89.271, de 4 de janeiro de 1984. Dispõe
sobre documentos e procedimentos para despacho de
79
aeronave em serviço internacional. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência. São Paulo, v.48,p.3-4, jan./mar. 1984.
Documentos em Meio Eletrônico
Artigos de periódicos (revistas, jornais, boletim)
SOUZA. A. F. Saúde em primeiro lugar. Saúde em Foco,
Campus, V.4 n.33. jun.2000. Disponível em: www.sus.inf.br/
frame-artig.html. Acesso em: 31 jul.2000.
XIMENES, Moacir. O que é uma biblioteca pública. Diário do
Povo do Piauí, Teresina, 11 mar. 2008. Disponível em: http://
www.biblioteca.htm. Acesso em: 19 mar. 2008.
TERMO DE RESPONSABILIDADE
Cada autor deve ler e assinar os documentos (1) Declaração de Responsabilidade e (2) Transferência de Direitos Autorais.
Primeiro autor: _______________________________________________________________________________________
Título do manuscrito: __________________________________________________________________________________
Todas as pessoas relacionadas como autores devem assinar declaração de responsabilidade nos termos abaixo:
•
Certifico que participei suficientemente do trabalho para tornar pública minha responsabilidade pelo conteúdo;
•
Certifico que o artigo representa um trabalho original e que não foi publicado ou está sendo considerado para publicação
em outra revista, que seja no formato impresso ou no eletrônico;
Assinatura do(s) autor(es) Data: ___________________________________________________________________________
TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS AUTORAIS
Declaro que em caso de aceitação do artigo, concordo que os direitos autorais a ele referentes se tornarão propriedade exclusiva da Revista Interdisciplinar.
Assinatura do(s) autor(es) Data: ___________________________________________________________________________
ENVIO DE MANUSCRITOS
Os manuscritos devem ser endereçados para a Revista Interdisciplinar, em 3 vias impressas, juntamente com o CD ROM gravado para o seguinte
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Teresina – Piauí - Brasil
CEP: 64057-100
Telefone: + 55 (86) 2106-0726
Fax: + 55 (86) 2106-0740
E-mail: [email protected]
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.78-80, Out-Nov-Dez. 2011.
INTERDISCIPLINARY MAGAZINE - NORMS FOR PUBLICATION
ARTICLE CATEGORIES
The Interdisciplinary Magazine publishes original articles, reviews,
case studies, and also a student’s page, all this in the areas of health, human sciences and technology.
Original articles: contributions destined to reveal results of new
research. They are typewritten (using New Roman Times, #12) and printed
on sheets of A4 sized (210 X 297 mm) paper, double spaced, with an upper
left margin of 3.0 cm., and a lower right one of 2.0 cm. The original articles are at least 15 pages long, and at most 20 pages (including black and
white illustrations, graphics, charts, photographs etc.) The charts and figures should be limited to five per group. Figures will be accepted, as long
as they do not repeat data contained in the tables. It is recommended that
the number of bibliographic references be twenty at most. The structure
is conventional and is made up of an introduction, methodology, results,
discussion and final conclusions.
Reviews: systemized critical evaluations of scientific literature or
opinions about certain subjects, with conclusions. The procedures adopted and the delimitation of the theme should be included. Its length is
limited to fifteen pages.
Original case studies: evaluated studies, or brief notes on research
containing new and relevant subjects, they should follow the same norms
as the original articles and are limited to five pages.
The Student Page: dedicated to publishing articles developed by
undergraduate students. These articles will have footnotes written by supervising professors. Their presentations follow the same norms as those
demanded by the original articles, limited to five pages.
All manuscripts will be turned in with an information sheet which
will have the names of the authors, their academic backgrounds, employers, current positions, complete addresses and e-mails. One of the authors
will take responsibility for any needed correspondence.
Once the article is accepted for publication, it is with the condition
that the copyright belongs exclusively to the magazine, (see attachment).
The papers will be evaluated by the Editorial Council, and the Publishing Commission. The articles that are rejected will not be returned. The
authors will receive a written explanation for the refusal.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.81-83, Out-Nov-Dez. 2011.
All concepts, ideas, and prejudices contained in the publications are
the sole responsibility of its authors.
In research involving persons, the authors should clearly state
whether or not their project was approved by the Research Ethics Committee (CEP) It is also necessary to show clearly that the participants involved
give their total consent, in accordance with resolution number 196 of the
National Health Council of October 10, 1996.
THE FORM AND PREPARATION OF THE MANUSCRIPT
The Interdisciplinary Magazine recommends that the papers follow
the orientations of the norms of the ABNT to make a list of references and
indicate them together with the quotes.
THE MANUSCRIPTS
Three copies of the manuscript should be printed, and one put on
CD with an archive developed on the MS WORD TEXT EDITOR.
The Identification Page: title and subtitle of the article with a maximum of fifteen words, concise, though informative, in three languages
(Portuguese, English and Spanish);with the name(s) of the author(s), six
maximum, their university status, position(s), the name of the institution
the work should be attributed to, city, state, complete address, including
the e-mail of the researcher responsible for the group.
The Abstracts and Key words: the abstract, written in the three
languages mentioned above, should contain one hundred to two hundred
words, be single spaced, stating the objective of the research, methodology, along with the main results and conclusions. The newest and most
important aspects of the study should be emphasized. Underneath the
abstract should be three to five keywords related to the theme. The three
abstracts will be presented in sequence on the first page, including titles
and keywords in their respective languages.
The Illustrations: Charts should be consecutively numbered using
algorisms, in the order which they are mentioned in the text, charts use
only one set of numerations for the whole text. The same should be done
for any images (Photographs, designs, graphics, etc) they are to follow the
same rules as mentioned for charts.
The Footnotes: should be mentioned in alphabetical order, appe
81
aring at the beginning of the page, and be restricted to three footnotes per article.
São Paulo: Loyola, 2001.p.67-93.
Congresses, symposiums, etc.
Testimonies: follow the same rules as quotes, but are in italics. The
code which each testimony represents should be in parenthesis, and unmarked.
Quotes in the text:
Examples
In the quotes where the last name of the author, or the responsible
institution is mentioned, the name should begin with a capital letter, the
rest small., but when in parenthesis should be completely in Capital letters..
According to Frazer (2006), music was always a main part of Madame Antoine’s life.
“In the case of Madame Antoine, her love of music was, since childhood, a main part of her life” (FRASER, 2006, p.37)
CONGRESSO BRASILEIRO DE EPIDEMIOLOGIA, 5, 1999, Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABRASCO, 1999.
Work presented in congresses, symposiums, etc
SOUZA, G. T. Valor proteíco da laranja. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO. 3., 2000, São Paulo. Anais...São
Paulo: Associação Brasileira de Nutrição. 2000. p.237-55.
Dissertations, Theses and Academic papers.
BUENO, M.S.S. O salto na escuridão: pressupostos e desdobramentos das políticas atuais para o ensino médio. 1998 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília. 5
Periodical Publications considered as one.
Direct quotes of up to three lines in the text, should be between
double quotation marks. Singular quotation marks are to be used for
quotes within quotes. Ex:
“He maintained himself to the starboard of living in the past, as far
away as possible.” (CONRAD, 1988, p.77)
Direct quotes from the text with more than three lines, should have
a left margin of 4 cm, be single spaced, with a smaller sized letter than the
text, and without quotation marks, in the case of typed documents, the
margin is all that must be done. Ex:
CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA. Rio de janeiro: Fiocruz,
1965- . Semestral
Publication of a periodical article
LIMA, J. Saúde pública: debates. Revista Saúde. Rio de Janeiro, v.18, n.2, p.298-301, nov.1989.
Parts of a magazine, bulletin, etc.
Include volume, number, and special editions, without a specific title,.:
The seven people, Daniel Seleagio and his woman Giovanni
Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel
and Paulo Reynaud, filled their mouths with gunpowder,
which when lit, blew their heads apart. (FOX, 2002, p.125)
REFERENCE LISTS - EXAMPLES
VEJA. São Paulo: Abril, n.2051, 12 mar. 2008. 98p.
Articles from Journals
ALVES, Armando. Minha Teresina não troco jamais. Meio
Norte, Teresina , 16 ago. 2006. Caderno 10, p. 16.
Entire Books
Legislations – Constitution
SILVA, A. F. M. Genética humana. 7. ed. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos, 2005. 384p.
The Chapter of a Book
82
a.
The author of the chapter not being the author of the book
ANJOS, M. F. dos. Bioética: abrangência e dinamismo. In: BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de; PESSINI; Leo. Bioética: alguns desafios. São Paulo: Loyola, 2001. P.17-34.
b.
The book having only one author – substitute the name of
the author with an underline of six spaces after the word IN:
PESSINI, L. Fatores que impulsionam o debate sobre a distanásia In: _____.Distanásia: até quando prolongar a vida?
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995
Laws and Decrees
BRASIL, Decreto n.89.271, de 4 de janeiro de 1984. Dispõe
sobre documentos e procedimentos para despacho de aeronave em serviço internacional. Lex: Coletânea de Legislação
e Jurisprudência. São Paulo, v.48,p.3-4, Jan./mar. 1984.
Documents in the Electronic Medium.
Articles in periodicals (magazines, journals)
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.81-83, Out-Nov-Dez. 2011.
SOUZA. A. F. Saúde em primeiro lugar. Saúde em Foco, Campus, V.4 n.33. jun.2000. Disponível em: HYPERLINK “http://
www.sus.inf.br/frame-artig.html”
www.sus.inf.br/frameartig.html. Acesso em: 31 jul.2000.
XIMENES, Moacir. O que é uma biblioteca pública. Diário do Povo do Piauí, Teresina, 11 mar. 2008. Disponivel em http www.biblioteca.htm.
Accesso em 19. mar. 2008.
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I certify that the article is an original paper and was not, nor is being considered to be published in any form, printed or
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I declare, in the case of my article being accepted, to agree to the copyright being signed over exclusively to the magazine, Revista Interdisciplinary.
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Three printed copies of the manuscripts should be sent to Revista Interdisciplinary, together with a copy on CD to the following address:
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Fax: + 55 (86) 2106-0740
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REVISTA INTERDISCIPLINAR - NORMAS PARA PUBLICACIÓN
CATEGORIAS DE ARTICULOS
La Revista Interdisciplinar publica articulos originales, revisiones,
relatos de casos, reseñas y página del estudiante, en las áreas de la salud,
ciencias humanas y tecnológicas.
Articulos originales: son contribuciones destinadas a divulgar resultados de investigación original inédita. Digitados (Times New Roman
12) e impresos en hojas de papel A4 (210 X 297 mm), con espacio duplo,
margen superior y izquierda de 3,0cm e inferior y derecha de 2,0 cm, haciendo un total mínimo de 15 páginas y máximo de 20 páginas para los
articulos originales (incluyendo en negro y blanco las ilustraciones, gráficos, tablas, fotografias etc). Las tablas y figuras deben ser limitadas a 5 en
el conjunto. Figuras serán aceptas, desde que no repitan datos contidos
en tablas. Se recomenda que el número de referencias bibliográficas sea
el máximo 20. La estructura es la convencional, conteniedo introdución,
metodología, resultados y discusión y conclusiones o consideraciones finales.
Revisiones: evaluación crítica sistematizada de la literatura o reflexión sobre determinado asunto, debendo contener conclusiones. Los procedimientos adoptados y la delimitación del tema deben estar inclusos. Su
extensión se limita a 15 páginas.
Relatos de casos: estudios evaluativos, originales o notas prévias
de pesquisa conteniedo datos inéditos y relevantes. La presentación debe
acompañar las mismas normas exigidas para articulos originales, limitandose a 5 páginas.
Reseñas: reseña crítica de la obra, publicada en los últimos dos
años, limitandose a 2 páginas.
Página del Estudiante: espacio destinado a la divulgación de estudios desarrollados por alumnos de la graduación, con explicitación del
orientador en nota de rodapie. Su presentación debe acompañar las mismas normas exigidas para articulos originales, con extensión limitada a 5
páginas.
Todos los manuscritos deverán venir acompañados de ofício identificando el nombre de los autores, titulación, lugar de trabajo, cargo atual,
dirección completa, incluyendo el eletrónico e indicación de uno de los
autores como responsable por la correspondencia.
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La aceptación para publicación está condicionado a la transferencia
de los derechos autorales y exclusividad de la publicación (ver anexo).
Los trabajos serán evaluados por el Consejo Editorial y por la Comisión de Publicación. Los trabajos recusados no serán devueltos y los autores
receberán parecer sobre los motivos de la recusa.
Todos los conceptos, ideas y presupuestos contidos en las materias
publicadas por este periódico son de intera responsabilidad de sus autores.
En las pesquisas que envolucran seres humanos, los autores deberán dejar claro se el proyecto fue aprovado por el Comité de Ética en
Pesquisa (CEP), así como el proceso de obtención del consentimiento libre
y aclarado de los participantes de acuerdo con la Resolución nº 196 del
Consejo Nacional de Salud de 10 de octubre de 1996.
FORMA Y PREPARO DEL MANUSCRITO
La Revista Interdisciplinar recomenda que los trabajos sigan las orientaciones de las Normas de la ABNT para elaborar lista de referencias e
indicarlas junto a las citaciones.
Los manuscritos deverán ser encamiñados en tres copias impresas y
una copia en CD con arquivo elaborado en el Editor de Textos MS Word.
Página de identificación: título y subtítulo del articulo con máximo
de 15 palabras (conciso, pero informativo) en tres idiomas (portugués, inglés y español); nombre de lo(s) autor(es), máximo 06 (seis) indicando en
nota de rodapié lo(s) título(s) universitario(s), cargo(s) ocupado(s), nombre
de la Institución a los cuales el trabajo debe ser atribuído, Ciudad, Estado
y dirección completos incluyendo el eletrónico del pesquisador proponiente.
Resumenes y Descriptores: el resumen en portugués, inglés y
español, deberá contener de 100 a 200 palabras en espacio simples, con
objetivo de la pesquisa, metodología, principales resultados y las conclusiones. Deverán ser destacados los nuevos y más importantes aspectos del
estudio. Abajo del resumen, incluir 3 a 5 descriptores alusivos a la temática.
Presentar secuencialmente los tres resumenes en la primera página incluyendo títulos y descriptores en los respectivos idiomas.
Ilustraciones: las tablas deben ser numeradas consecutivamente
con algarismos arábicos, en el orden en que fueron citadas en el texto. Los
cuadros son identificados como tablas, siguiendo una única numeración
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.84-86, Out-Nov-Dez. 2011.
en todo el texto. El mismo debe ser seguido para las figuras (fotografias, dibujos, gráficos, etc). Deben ser numeradas consecutivamente
con algarismos arábicos, en el orden en que fueron citadas en el texto.
Notas de Rodapie: deverán ser indicadas en ordem alfabética, iniciadas a cada página y restrictas al máximo de 03 notas de rodapie por
artículo.
Testimonios: seguir las mismas reglas de las citaciones, pero en
itálico. El código que representa cada depoente debe ser presentado entre
parentesis y sin grifo.
Citaciones en el texto: En las citaciones, las llamadas por el sobrenombre del autor, por la institución responsable o título incluso en la
sentencia deven ser en caja-alta baja, y cuando estea entre parentesis cajaalta. Ex.:
Ejemplos:
Conforme Frazer (2006), la música siempre fue el punto central en
la vida de Madame Antoine
“En el caso de Madame Antoine, el gusto por la música fue, desde la
infancia, central en su vida.” (FRASER, 2006, p.37)
tica: algunos desafios. São Paulo: Loyola, 2001. p.17-34.
b.
Único autor para todo el libro – Se sustituye el nombre del
autor por una raya de seis toques después del “In.”:
PESSINI, L. Fatores que impulsionan el debate sobre la distanásia In: _____.Distanásia: ¿hasta cuando prolongar la
vida? São Paulo: Loyola, 2001. p.67-93.
Congresos, simposios, jornadas, etc.
CONGRESO BRASILIERO DE EPIDEMIOLOGÍA, 5., 1999, Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:ABRASCO, 1999.
Trabajos presentados en congresos, simposios, jornadas, etc.
SOUZA, G. T. Valor proteíco de la naranja. In: CONGRESSO
BRASILIERO DE NUTRICIÓN. 3., 2000, São Paulo. Anais...São
Paulo: Asociación Brasiliera de Nutrición. 2000. p.237-55.
Disertaciones, Tesis y Trabajos académicos
BUENO, M.S.S. El salto en la oscuridad: presupuestos y desdobramientos de las políticas atuales para la enseñanza media.
1998 f. Tesis (Doctorado en Educación) – Facultad de Filosofia y Ciencias, Universidad Estatal Paulista, Marília.
Las citaciones directas, en el texto, de hasta tres líneas, deben estar
contenidas entre aspas duplas. Las aspas simples son utilizadas para indicar
citación en el interior de la citación. Ex:
Publicaciones periódicas consideradas en el todo (relativo a la
colección)
“Él se conserbaba a estibordo del pasadismo, tan lejos cuanto posíble” (CONRAD, 1988, p.77)
CUADERNOS DE SALUD PÚBLICA. Rio de janeiro: Fiocruz,
1965-. Semestral
Las citaciones directas, en el texto, con más de tres línas, deben ser
destacadas con recuo de 4 cm de la margen izquierda, espacio simples,
con letra menor que la del texto utilizado y sin las aspas. En el caso de
documentos datilografados, se debe observar sólo el recuo. Ex:
Las siete personas, Daniel Seleagio y su mujer Giovanni Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel y
Paulo Reynaud, rellenaron la boca de cada un con pólvora,
la cual, inflamada, hizo con que sus cabezas volasen en pedazos (FOX, 2002, p.125).
Listagen de las Referências - Ejemplos
Articulos de publicaciones periódicas
LIMA, J. Salud pública: debates. Revista Salud. Rio de Janeiro,
v.18, n.2, p.298-301, nov.1989.
Partes de la revista, boletín, etc.
Incluye volumen, fascículo, números especiales y suplementos, entre otros, sin título próprio. Ex:
VEJA. São Paulo: Abril, n.2051, 12 mar. 2008. 98p.
Artículo de Periodico
Libros como todo
SILVA, A. F. M. Genética humana. 7.ed. Rio de Janeiro: Libros
Técnicos y Científicos, 2005. 384p.
ALVES, Armando. Mi Teresina no cambio jamás. Meio Norte,
Teresina , 16 ago. 2006. Cuaderno 10, p. 16.
Legislaciones - Constitución
Capítulo de libro
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995
a.
Autor del capítulo diferente del responsable por todo el libro.
ANJOS, M. F. dos. Bioética: abrangencia y dinamismo. In:
BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de; PESSINI; Leo. Bioé-
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.84-86, Out-Nov-Dez. 2011.
Leyes y decretos
BRASIL. Decreto n.89.271, de 4 de enero de 1984. Dispõe so85
bre documentos y procedimientos para despacho de aeronave en servicio internacional. Lex: Coletanea de Legislación
y Jurisprudencia. São Paulo, v.48,p.3-4, ener./mar. 1984.
Documentos en Meio Eletrónico
Artículos de periódicos (revistas, periodicos, boletín)
SOUZA. A. F. Salud en primero lugar. Saúde em Foco, Campus, V.4 n.33. Jun.2000. Disponible en: www.sus.inf.br/frameartig.html. Aceso en: 31 jul.2000.
XIMENES, Moacir. Qué es una biblioteca pública. Diário do Povo do Piauí, Teresina, 11 mar. 2008. Disponible en: http://www.biblioteca.htm.
Aceso en: 19 mar. 2008.
Termo de Responsabilidad
Cada autor debe leer y asinar los documentos (1) Declaración de Responsabilidad y (2) Transferencia de Derechos Autorales.
Primer autor: ________________________________________________________________________________________
Título del manuscrito: __________________________________________________________________________________
Todas las personas relacionadas como autores deben asinar declaración de responsabilidad en los termos abajo:
•
Certifico que participé suficientemente del trabajo para tornar pública mi responsabilidad por el contenido;
•
Certifico que el artículo representa un trabajo original y que no fue publicado o está siendo considerado para publicación
en otra revista, que sea en el formato impreso o en el eletrónico;
Asinatura de lo(s) autor(es) Fecha: _________________________________________________________________________
Transferencia de Derechos Autorales
Declaro que en caso de aceptación del artículo, concordo que los derechos autorales a él referentes se tornaron propiedad exclusiva de la Revista
Interdisciplinar.
Asinatura do(s) autor(es) Fecha: __________________________________________________________________________
Envio de manuscritos
Los manuscritos deben ser direccionados para la Revista Interdisciplinar, en 3 vias impresas, juntamente con el CD ROM gravado para la siguiente
dirección:
Revista Interdisciplinar
Rua Vitorino Orthiges Fernandez, 6123 Bairro Uruguai
Teresina – Piauí - Brasil
CEP: 64057-100
Telefone: + 55 (86) 2106-0726
Fax: + 55 (86) 2106-0740
E-mail: [email protected] 86
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.4, p.84-86, Out-Nov-Dez. 2011.
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