Acessar o arquivo - Fórum de Ongs Aids do Estado de São Paulo
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Nº 10 PUBLICAÇÃO DO FÓRUM DAS ONG/AIDS DO ESTADO DE SÃO PAULO OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2004 Quebra de patentes já! pág.3 Carta ao presidente Lula • pág. 7 ForoMercosul conquista novas fronteiras • pág. 8 Programa mínimo de aids para os novos prefeitos • pág. 9 Avaliação: qual a sua opinião? • pág. 10 Controle Social: duas visões do tema • pág. 11 A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 1 FOTO: AMÉRICO NUNES/FÓRUM a e ASSISTÊNCIA O 1º de Dezembro – Dia Mundial de luta contra a AIDS – foi criado em 1988 no planeta, com o intuito de homenagear postumamente os vitimados pelo HIV/AIDS, intitulado por Herbert de Souza, o Betinho, como dia de finados. No Brasil, a maturidade da sociedade civil organizada, vulgo Movimento de luta contra a AIDS, passou a homenagear os mortos, celebrando a vida, buscando nas manifestações pelas ruas, praças e avenidas o direito a uma política em saúde publica de qualidade e digna de respeito a todas as pessoas vivendo com HIV/AIDS. Coerente com esse propósito, nosso primeiro de dezembro foi marcado por manifestações pela quebra das patentes dos medicamentos anti-retrovirais. Visionário, o movimento sabe que se não lutar agora para garantir a permanência do acesso através do licenciamento compulsório, amanhã poderá ser tarde demais. Nosso grito de guerra foi: “BRASIL URGENTE, QUEBRA DE PATENTES!”. A luta pela vida também estava na ordem do dia estampada nos cartazes e nas falas do militantes. No final do evento, saudamos a todos que ali estavam e aos que não estavam, dentre eles o nosso grande companheiro Cauê, que encontra-se internado lutando por sua própria vida, ação na qual ele tem muita experiência, já que é um exímio lutador pela vida dos outros no Lutando Pela Vida, nome dado à ONG que fundou em 1999. Para o movimento, neste ano, lutar pela vida significa não deixar o direito de viver abaixo dos interesses comerciais dos laboratórios, cujas ações, junto a da indústria armamentista, foram as que mais tiveram alta na Bolsa de Nova York assim que foi anunciada a reeleição do presidente Bush, nos EUA. Gananciosos, seus acionistas dormem abraçados a caixas registradoras, sonhando em aumentar a cada dia mais e mais os seus lucros. Finalizo com a frase de Mahatma Gandhi, que traduz nosso sentimento e nossa luta: “No mundo há dinheiro para suprir as necessidades de todos, mas não a ganância de poucos.” Rubens Oliveira Duda e A I D S EXPEDIENTE E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 2 Conselho editorial Américo Nunes Neto Mário Scheffer Paulo Giacomini Rubens Oliveira Duda Jornalista Responsável Paulo Giacomini (MTE-DRT/SP 33.608) Edição de Arte Valdir Oliveira Capa Fotos Fórum ONG/AIDS - SP Editoração Eletrônica Zapt editora Impressão Gráfica Guaru Acabamento Artes Gráficas Príntis Tiragem 6.000 exemplares AIDS E ATIVISMO Nº 10 • outubro/novembro/dezembro -2004 Avenida São João, 324, 7º and. conj. 701, Centro - São Paulo - SP CEP: 01036 000 - Telefone: (11) 3334-0704 - Fax: 3331-1284 e-mail: [email protected] - site: www.forumaidssp.org.br Diretoria do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo Presidente: Rubens Oliveira Duda (GIV-Grupo de Incentivo à Vida -São Paulo) Vice-presidente: Américo Nunes Neto (Instituto Vida Nova -São Paulo) 1ª Secretária: Marta McBritton (Instituto Cultural Barong-São Paulo) 2ª Secretária: Maria Lucila Magno (GEPASO - Sorocaba) 1º Tesoureiro: Carlos (Cauê) Alberto Marinho Silvério (Lutando Pela Vida -Diadema) 2ª Tesoureiro: Mario Marcio Estremote (SEIVA - Ilha Solteira) Administração Assessoria Administrativa: Nelson Ramos Assessoria em Projetos: Teresinha Martins Financiamento Edição financiada com recursos do Termo de Cooperação 739/03 do Programa Nacional de DST/aids do Ministério da Saúde em convênio com a UNESCO, firmado pelo Acordo 914/BRA 3014 O Instituto Vida Nova recebeu a Homenagem Especial na Área Social durante a entrega do IV Troféu ADESP de Carnaval, realizado pela Associação de Destaques das Escolas de Samba de São Paulo em 20 de novembro de 2004, no Clube Atlético Ipiranga. Ao receber o prêmio das mãos da presidente da ADESP Izaura Panfili, o vice-presidente Jorge Eduardo Reyes Rodriguez dedicou-o a todos os voluntários do IVN, “merecedores deste reconhecimento que reforça o espírito de equipe e luta no combate à aids e atenção às pessoas vivendo e convivendo com o HIV/aids”. O evento contou com aproximadamente duas mil pessoas e com a participação das escolas de samba, sambistas, da Liga das Escolas de Samba e autoridades do Estado de São Paulo. FOTO: INSTITUTO VIDA NOVA 1º DE DEZEMBRO + VIDA - GANÂNCIA = SEM PATENTES EDITORIAL Trabalho social do Instituto Vida Nova é premiado Articulação Nacional analisa mapeamento da assistência A Articulação Nacional de Luta contra a AIDS estará analisando, neste mês de dezembro, a reunião dos mapeamentos da assistência dos estados que realizaram manifestação no dia 26 de agosto. O documento foi reunido e compilado pelo Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo, e demandado pela reunião realizada no início do ano em Salvador. O documento de quase 50 páginas que o Fórum de São Paulo irá submeter para discussão aos demais fóruns do país reunidos no Rio de Janeiro traz dados minuciosos de 12 Estados: Amazonas e Roraima, na região Norte, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, na região Nordeste, Rio de Janeiro e São Paulo, da região Sudeste, Paraná e Rio Grande do Sul, na região Sul, Goiás e do Distrito Federal, na região Centro-Oeste, totalizando os documentos dos 13 fóruns que realizaram o ato de 26 de agosto. Os dados foram levantados pelos fóruns estaduais e o distrital, baseados no roteiro de questões e prioridades também elaborados e acordados na reunião de Salvador. Depois de discutido e aprovado, o retrato da assistência e prevenção às DST/HIV/aids será apresentado em audiência ao ministro da Saúde Humberto Costa e ao diretor do Programa Nacional de DST e Aids Pedro Chequer, como pactuado em reunião realizada com estas autoridades após a abertura dos congressos do Recife, em 29 de agosto. ERRAMOS Na reunião do movimento de luta contra a aids com o ministro da Saúde (AIDS & ATIVISMO 9, pág. 7), faltou registrar a participação de uma representante da Cidadã Posithiva. E, ao contrário do publicado, todos os fóruns que realizaram ato no dia 26 de agosto já haviam enviado seus devidos relatórios e/ou das gerais dos problemas levantados. a ATIVISMO DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS Quebra de patentes já! FOTO: AMÉRICO NUNES/FÓRUM FOTO: SERVFOTO/FÓRUM Faixas, cartazes, ativistas uniformizados e rapel exigem do presidente Lula a quebra de Patentes para os anti-retrovirais e marcam o Dia Mundial de Luta contra a AIDS no Viaduto do Chá, centro de São Paulo. Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo promove debates e coloca a discussão à sociedade Ativistas empunham “pirulitos” com palavras de ordem e a reprodução gigante das caixas de dois anti-retrovirais “atingidos” pela quebra das patentes N este ano, O Dia Mundial de Luta contra a AIDS foi marcado pelo Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo e diversas ONG filiadas com uma espetacular manifestação de ativismo, exigindo a quebra das patentes dos medicamentos de aids no Brasil. O ato foi realizado ao meio-dia de 1º de Dezembro, no Viaduto do Chá, próximo à sede da prefeitura da capital paulista, local onde foi afixado um enorme laço vermelho, símbolo de solidariedade aos infectados pelo vírus HIV e aos doentes de aids. No viaduto, uma faixa laranja com 84 metros quadrados pedia ao presidente “Lula, quebre as patentes dos medicamentos de aids”. Vestidos com camisetas também de cor laranja, empunhando enormes “pirulitos”, faixas das ONG e distribuindo um manifesto à população, cerca de 300 ativistas paulistas, da capital, da Grande São Paulo, do litoral e do interior do Estado marcaram a data. A faixa do Grupo Pela Vidda, por exemplo, estampava: “Minha vida vale mais do que uma patente”; a do GAPA/SP dizia: “Tenho aids, tenho pressa: a quebra de patentes é o que interessa”. Nos pirulitos, frases curtas como “quebra de patentes = vida”, “sem quebra de patentes o SUS irá quebrar”, “o movimento de aids adverte: patentes faz mal à saúde”, reforçavam a posição. Praticantes de rapel desceram do Viaduto do Chá para o Vale do Anhangabaú. Além disso, duas enormes “caixas de medicamentos”, cujo símbolo “®” cortado ao meio, fazia alusão à quebra das patentes dos medicamentos para a aids. “Esperamos mais determinação e coragem do governo Lula. De imediato, exigimos o licenciamento compulsório dos medicamentos Efavirenz (Merck), Nelfinavir (Roche) e Kaletra (Abbott). Por serem patenteados esses remédios consomem, juntos, mais de 60% de todo o orçamento público para a compra do coquetel”, diz o manifesto. Durante o ato foi divulgada carta do Fórum solicitando ao presidente Lula “declaração de uma licença compulsória por interesse público para os três medicamentos acima mencionados. Assistenos legalmente o Tratado TRIPS (Aspectos da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio), a Lei 9279/ 1996 (Art. 71), junto com os Decretos 3201/1999 e 4830/ 2003 (Art.2 e 5)”. Patentes “O licenciamento compulsório é uma emergência de saúde pública, uma medida legal, que está de acordo com nossa legislação e com os Tratados Internacionais em vigor”, afirma o documento. Foi enfatizada, também a opção dos governos FHC e Lula foi forçar a queda de preços de marcas patenteadas com a ameaça de licenciamento compulsório, medida paliativa que não solucionou o problema. Atualmente, mais de 150 mil brasileiros com HIV/aids estão em tratamento, recebendo o coquetel na rede pública de saúde e dependem deles para viver. O acesso é gratuito e universal. Existem pelo menos 600 mil cidadãos infectados pelo HIV, que mais cedo ou mais tarde também dependerão dos medicamentos do coquetel, que já soma 20 drogas anti-retrovirais, as mais recentes todas protegidas por patentes. “Quebrar definitivamente as patentes e investir na produção nacional é a única forma de manter essa política, pois o SUS (Sistema Único de Saúde) não dispõe de dinheiro suficiente. Além disso, o número de doentes de aids aumenta a cada dia no Brasil”, afirma o manifesto do Fórum. A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 3 logias), que falou sobre a “dificuldade de acesso a medicamentos de alta complexidade”, e da Dra. Áurea Celeste Abbade (GT Jurídico do Fórum ONG/Aids SP), sobre os “Remédios Jurídicos para o acesso a saúde”. O “Acesso à saúde via Justiça”, foi abordado pelo promotor Dr. Marlon Weichert (Ministério Público Federal). A “posição governamental sobre a quebra de patentes” foi defendida pelo diretor adjunto do PN-DST/ AIDS, Dr. Ricardo Marins, e o Dr. Artur Kalichman (Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo), que falou sobre “a experiência com os medicamentos genéricos na Rede Pública”. A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 4 FOTOS: SERVFOTO/FÓRUM Cerca de 300 ativistas uniformizados – do interior, da capital e do litoral do Estado – reunem-se no Viaduto do Chá, onde a turma do rapel desce até o Vale do Anhangabaú “Ao mesmo tempo exigimos ação firme do Congresso Nacional e a aprovação urgente de projeto de lei que altera a Lei de Patentes. Estaremos mobilizados para que a sociedade conheça a posição e o compromisso público de cada Parlamentar.” Debate Para fundamentar o ato, uma extensa programação durante toda a semana levou a discussão à sociedade. Na noite de 30 de novembro, o debate “As patentes de medicamentos para tratamento da Aids”, foi realizado no au- ditório do jornal Folha de S. Paulo. Mediado pela repórter Fabiane Leite, discutiram o tema o diretor do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Dr. Pedro Chequer, o presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, Gabriel Tannus, e o Professor Dr. Jorge Beloqui, do GIV/ Fórum das ONG/Aids. Na tarde de 03 de dezembro foi a vez da seção São Paulo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) abrir as portas de seu salão nobre para discutir “Direitos Humanos e Quebra de Patentes – o direito dos portadores de doenças crônicas, infecto-contagiosas e de notificação compulsória”. Realizado pelo GT Jurídico do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo em parceria com a Comissão da Mulher Advogada da OAB SP, o debate foi mediado pela Dra. Maria Elisa Munhol, presidente da comissão, e contou com a exposição do professor Dr. Jorge Beloqui (Fórum ONG/Aids SP), que abordou o tema “a reforma do sistema patentário no Brasil”, da dra. Fátima Baião (Fórum de Pato- Repercussão A decisão das ONG do Estado de São Paulo em colocar a questão da quebra de patentes no Dia Mundial de Luta contra a AIDS foi tomada em reunião ordinária do Fórum, realizada em 16 de outubro. Neste ano, quase todas as edições de AIDS & ATIVISMO abordaram o tema. Inspirado por uma reportagem publicada na revista The Economist, o jornal Folha de S. Paulo afirmou categoricamente em editorial de 22 de novembro, que “a melhor solução para que a patente volte a incentivar a inovação em vez de desestimulá-la é voltar ao básico. Os requisitos clássicos da patente, cada vez mais esquecidos, são: utilidade, novidade e não-obviedade”. Para a Folha de S. Paulo, isso não basta. “É preciso voltar a discutir no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da ONU regras mundiais mais uniformes, bem como estabelecer proteções para países menos desenvolvidos em setores sensíveis como a saúde pública. O princípio, não se pode esquecer, sempre foi beneficiar a humanidade, e não prejudicá-la.” Segundo o jornal, a revista in- glesa informava: “vai ficando cada vez mais claro que o sistema de patentes não tem favorecido, mas dificultado, a inovação”. Insolvência Para reforçar o discurso das ONG, a Folha de S. Paulo publicou no dia 29 de novembro, entrevista com o diretor do PN-DST/AIDS, Pedro Chequer, na qual afirmava que o governo não fala em quebra de patentes “no sentido de barganha ou de ameaça, e sim no sentido consistente de o país implantar nova política de anti-retrovirais que seja sustentável e que garanta no futuro que o Brasil mantenha sua política de acesso universal”. Segundo o jornal informou, “o país tem o maior programa de distribuição gratuita e universal de remédios contra a aids do mundo, com um total de 15 drogas disponíveis. Hoje, 151 mil pessoas estão em tratamento a um custo que deve chegar a R$ 600 milhões neste ano. Cerca de 80% do orçamento é gasto com os remédios importados”. Para o diretor do PN-DST/ AIDS, “temos de apostar na redução de preços, mas não como única alternativa, até porque apenas essa política quase nos levou a uma situação de insolvência numa perspectiva imediata para o próximo ano. É decisão fortalecer os laboratórios estatais, fazer parcerias com a indústria nacional privada, de repente pode ser algo como a PPP (parceria público privada) da área farmacêutica. Sem isso, não tenha dúvida de que nós vamos entrar em colapso em breve”. “Nenhuma lei internacional pode estar acima ou sobrepor o compromisso ético de assistir nossa população. Se existe essa lei, ela está a serviço de interesses econômicos escusos”, disse ao jornal paulistano. No dia 30 de novembro, o jornal O Globo trazia reporta- gem na qual o diretor do PNDST/AIDS afirmava, sem dizer o nome dos remédios, que “o governo estuda a possibilidade de quebrar a patente de três a cinco medicamentos importados contra a aids para reduzir custos e produzi-los no Brasil”. Segundo o jornal carioca, Chequer teria afirmado que os laboratórios internacionais obtêm lucros exorbitantes no país, que o programa de tratamento gratuito está assegurado pela proposta orçamentária de 2005 e não corre risco de interrupções. O Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo tem constatado o declínio do acesso aos anti-retrovirais e aos medicamentos para infecções oportunistas e efeitos adversos. Durante ato público em 26 de agosto foi abordado o não cumprimento da EC 29 (emenda constitucional), pois a União deixou de repassar R$ 600 milhões à Saúde, em 2003. Reação Sob o título “Brasil diz que violará patentes de drogas anti-Aids”, o Financial Times, o mais importante jornal econômico inglês trouxe reportagem, no dia 03 de dezembro, colocando principalmente a visão dos laboratórios farmacêuticos. Segundo a reportagem, o Brasil ameaçou várias vezes, nos últimos três anos, desrespeitar as patentes para negociar reduções de preços com a maioria das companhias farmacêuticas internacionais. “As negociações sobre os contratos de fornecimento para o próximo ano apenas começaram. Os laboratórios dizem que os preços no Brasil já estão entre os mais baixos.” Informava que “a empresa farmacêutica americana Merck está negociando desde setembro de 2003 a possibilidade de dar ao governo brasileiro uma licença para fabricar e vender sua droga. A companhia suíça de tratamentos de saúde Roche diz que reduziu seu preço em 73% desde que começou a fornecer para o governo brasileiro, anos atrás”. A reportagem dizia, ainda, que “sob os regulamentos da Organização Mundial do Comércio, um país pode emitir uma ‘licença compulsória’ que lhe permita fabricar um produto em caso de emergência ou interesse nacional. A questão tem sido um dos principais gritos de batalha do Brasil nas negociações comerciais com a ou modificar suas leis e regulamentos, poderão adotar as medidas necessárias para proteger a saúde pública e a nutrição da população, ou para promover o interesse público em setores de importância vital para seu desenvolvimento socioeconômico e tecnológico; 2) Poderá ser necessário aplicar medidas apropriaDa concentração, na Praça do das (...) para prePatriarca os manifestantes dirigem-se à frente ao prédio da Prefeitura de São Paulo, venir o abuso dos onde o laço de solidariedade às direitos de provítimas da aids foi colocado priedade intelectual pelos seus titOMC e nas negociações do ulares ou o recurso a práticas Acordo de Livre Comércio das que limitem de maneira injusAméricas (Alca), que estão es- tificável o comércio ou resultem em detrimento da transfetagnadas há um ano”. rência internacional de tecnologia.” Selvageria Para o professor Dr. Jorge No país Beloqui, “o Brasil deve sustenEm Fortaleza (CE), o tar em todos os acordos interFórum de ONGs/Aids do Esnacionais que o direito à Saúde tado do Ceará reproduziu o e à vida deve ser superior a manifesto paulista e promoveu qualquer acordo comercial” (AIDS & ATIVISMO, edição nº na Praça José de Alencar, no 8). “A Área de Livre Comércio coração da cidade, ato público das Américas é um acordo exigindo mais atenção à saúde, comercial proposto principal- nas áreas da prevenção das mente pelos EUA. Nas nego- DST/Aids e da assistência às ciações os EUA querem impor mais restrições à produção local de medicações e restringir a licença compulsória. Devemos exigir que o Brasil não ceda a estas pressões, e também que as discussões sobre patentes sejam realizadas no âmbito da OMC.” Para Beloqui, “se o acesso às medicações piorar por causa das patentes, pode-se argumentar que o direito comercial está sendo mais importante que o direito à saúde e à vida humana. O que seria uma selvageria! E também estaria contra o Artigo 8 do TRIPS”. O Artigo 8 do TRIPS diz: “1) Os membros, ao formular pessoas vivendo com HIV/ Aids, e pela quebra de patentes para os medicamentos antiaids, que privilegia o direito à saúde em detrimento dos lucros dos grandes laboratórios farmacêuticos multinacionais. Em Goiânia (GO), o Fórum Goiano de luta contra a Aids promoveu, na manhã do Dia Mundial de Luta contra a AIDS, manifestação exigindo a quebra patentes dos medicamentos de aids no Brasil. O Evento aconteceu na porta do HDT (Hospital de Doenças Tropicais), referência para pessoas que vivem com HIV no Estado. Também em Manaus (AM), o Fórum Amazonense realizou ato pela quebra de patentes dos medicamentos anti-aids. Em Brasília (DF), segundo informou o jornal O Globo, durante evento no qual a primeira-dama Marisa Letícia homenageou mulheres vivendo com HIV/aids, “o ministro da Saúde, Humberto Costa, defendeu uma solução negociada para a produção de medicamentos contra o HIV. O ministro recebeu da professora aposentada Maria Aparecida Lemos, uma das homenageadas, uma camiseta com a frase ‘quebra de patentes já’, mas não a vestiu. A professora também entregou a dona Marisa uma camiseta para o presidente Lula”. • O professor Jorge Beloqui defende a discussão sobre a quebra de patentes no âmbito da OMC e que o Brasil não cedas às pressões dos EUA A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 5 FOTO: AMÉRICO NUNES/FÓRUM DEPOIMENTO “desci de rapel três vezes. Na primeira morrendo de medo, pois nunca fiz nada parecido“ DEPOIMENTO O 1º de Dezembro na vida de um ativista da AIDS DAVID BARROS (*) N A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 6 ão sei quanto aos outros, mas pra mim foi bastante movimentado. Meu primeiro de dezembro começou na verdade no dia 30 de novembro, com o debate na Folha de S. Paulo sobre quebra de patentes. Estavam presentes Jorge Beloqui representando o Fórum das ONG/ AIDS do Estado de São Paulo, Pedro Chequer, diretor do PNDST/AIDS, e Gabriel Tannus, representando os laboratórios. Que vontade de subir na mesa do representante da indústria farmacêutica quando perguntaram quantos ensaios clínicos de novos medicamentos anti-aids são realizados! Ele alegou que a quebra de patentes retiraria os incentivos às pesquisas, respondendo que no Brasil e na América Latina há pouquíssimos ensaios em andamento pois a maioria estava concentrada nos Estados Unidos e na Europa. Então, pra que pagar patente se não existe ensaio clínico aqui? No dia 1º de dezembro acordei bem cedo, pois recepcionaria o pessoal que faria uma performance com rapel no Viaduto do Chá. Deveria estar lá às 10h, mas, com o trânsito, cheguei às 10h15. Os aventureiros já estavam pensando que era um trote... Cheguei, me apresentei e corri pra sede do Fórum pegar uma fita especial para isolar o local onde se realizaria o rapel. Cheguei ao Fórum e saí de lá com 25 camisetas, um rolo de fita isolante, vale lanches para a empresa de rapel e para 10 pessoas do IBVV. Chego ao Viaduto do Chá, Regina Pedrosa, da ALIVI, já havia chegado, distribuído lanches e isolado o local. Comecei a distribuir o Manifesto pela Quebra de Patentes, os aventureiros começaram a “rapelar”, o povo curioso se aproximava do local. Eu panfletava e recebia a imprensa interessada no que acontecia. Uma hora era a Record, depois Bandeirantes, Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, jornal Agora, Agência de Notícias da Aids, estudantes de jornalismo, agências de notícias. Desci de rapel três vezes. Na primeira morrendo de medo, pois nunca fiz nada parecido antes, nas outras foi mais tranqüilo e a cada “rapelada”, um flash. Estava terminando nosso ato, o recado foi dado. Hora de desmontar. Quem me ajuda a retirar a faixa de 84m2 do viaduto? Uma faixa bem pesada por sinal... Depois de tirá-la com o auxilio de um estilete, Regina Pedrosa me traz um senhor que me auxiliou a dobrar a faixa e levamos tudo para o Fórum. Vimos as fotos da manifestação, encaminhamos umas e selecionamos outras. Um cafezinho da Teresinha e um beijinho da dra. Elisabete Cintra e vamos nós novamente para mais uma jornada. Desta vez, fui com o presidente o Fórum Rubens Duda até o Conjunto Nacional para o lançamento de uma exposição sobre Mulheres e Aids e acompanhar mais um debate sobre HIV. Paralelo a isso, tive a oportunidade de conhecer o trabalho de marketing social do preservativo, realizado no Conjunto Nacional pelo Barong. Às 19h conheci a redação da Agência de Notícias da Aids, no mesmo prédio, e fui apresentado a Roseli Tardelli, que me pediu um artigo para o portal. No coquetel da exposição, uns croquetes, um pouco de cerveja e meia de seda me reanimou. Começava a última parte do dia, meus pés já estavam doendo, estava com os olhos pesados e com vontade de ir ao banheiro. Regina Pedrosa, Ronald (Cuca) da RNP+ Sampa e eu tomamos o metrô sentido zona norte, cheguei na estação Armênia às 20h, tomei um ônibus rumo a Guarulhos. Em Guarulhos cheguei a uma escola onde havia me comprometido de ministrar uma palestra sobre a história da aids. “Ai que fome, onde está o banheiro? Estou perdendo a novela... Será que vou me lembrar de tudo o que preparei?” A palestra transcorreu sem maiores problemas e o público era bastante interessado. Tomei outro ônibus, agora para casa. Pensei que tivesse terminado meu dia. Cheguei em casa às 22h30 e tocou o telefone. Do outro lado a Sandra, da Revista Época: “Você pode me dar uma entrevista sobre o Dia Mundial de Luta contra a AIDS?” Depois de mais uma hora ao telefone, a missão foi cumprida. Por hoje. Joguei-me na cama e dormi. • (*) David Barros é voluntário do Instituto Beneficente Viva a Vida e participou da comissão que organizou a manifestação do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo no 1º de Dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids Carta ao presidente Lula São Paulo, 30 de novembro de 2004. Exmo. Sr. Presidente do Brasil Luis Inácio Lula da Silva Brasília FOTO: SERVFOTO/FÓRUM Senhor Presidente, Como é de conhecimento de V.Exa. a resposta brasileira à AIDS, baseada no direito à saúde estabelecido pela Constituição Nacional (Art. 196), produziu amplo benefício aos portadores de HIV/AIDS e também resultou numa economia significativa ao poupar recursos com internações e tratamentos com doenças oportunistas. Além de contribuir efetivamente para a diminuição da velocidade de transmissão, impedindo novas infecções. Com efeito, desde 1996, em razão do início do uso da terapia tríplice, as mortes por AIDS diminuíram entre 50 e 70% no país. Este exemplo de solidariedade passou a ser modelo para muitos países, principalmente em desenvolvimento, que hesitavam no fornecimento desta terapia para seus cidadãos. Um dos motivos desta economia de recursos está na produção nacional de vários dos anti-retrovirais, que não estavam sujeitos a patentes. Realmente, o Brasil se apressou a aprovar uma lei de propriedade industrial em 1996, entrando em vigor em 1997, sem aproveitar o prazo de 2005 que outros países como a Índia e a China, utilizaram para desenvolver uma indústria farmacêutica. Desse modo, a indústria farmacêutica brasileira acabou se limitando a importar princípios ativos e novas moléculas, deixando de ser, como no passado, uma indústria inventiva e inovadora. Novos anti-retrovirais para o tratamento da AIDS vêm sendo incorporados ao elenco de medicações fornecidas pelo SUS no Brasil, pois são necessários para o tratamento de várias pessoas com HIV/AIDS. Mas esses medicamentos são patenteados, e portanto sujeitos aos monopólios favorecidos pela lei e que podem gerar, como vem acontecendo, abusos de poder econômico. Mesmo considerando que muitas empresas transnacionais do setor têm reduzido os preços praticados no mercado nacional, ainda assim o país arca com valores exorbitantes, muito mais altos do que os preços praticados em outros países, com economias semelhantes à nossa (a esse respeito, ver “Sources and Prices for Selected medicines for persons living with HIV/ AIDS”, versão 2004, publicado por UNICEF-UNAIDSOMS-MSF). Segundo dados do PN-DST/AIDS do Ministério da Saúde de 2003, três anti-retrovirais consomem 60% do orça- mento destinado aos antivirais. É importante salientar que, como conseqüência, os outros 11 antivirais consomem 37%. Vale ressaltar que consistindo a terapia de pelo menos três antivirais, estas três medicações em geral não são consumidas em conjunto mas com mais duas das 11 restantes. Portanto entendemos que estamos perante um claro exemplo de abuso de poder econômico. Ao mesmo tempo, se novas medicações forem incorporadas a preços igualmente distantes das possibilidades de pagamento do Brasil, o abuso poderá levar à falência econômica a resposta brasileira à AIDS e comprometer toda a política de assistência farmacêutica, que é parte fundamental do Sistema único de Saúde (SUS). É por estas razões que o Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo, baseado nestas evidências, e preocupado com o futuro do tratamento das pessoas com HIV/ AIDS vêm solicitar de V. Exa. a declaração de uma licença compulsória por interesse público para os três medicamentos acima mencionados: Sustiva (efavirenz), Nelfinavir, e Kaletra (lopinavir/ritonavir). Assiste-nos legalmente o Tratado TRIPS (Aspectos da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio), a Lei 9279/1996 (Art. 71), junto com os Decretos 3201/1999 e 4830/2003 (Art.2 e 5). Ao mesmo tempo, entendemos que os laboratórios transnacionais que detêm estes direitos sobre seus produtos farmacêuticos, justamente por serem considerados produtos estratégicos para a manutenção da vida da população, estão cometendo um abuso de poder econômico. Desse modo, solicitamos que o Governo de V. Exa. faça com que os órgãos governamentais competentes, como é o caso do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) verifiquem a configuração de uma situação de abuso de poder econômico e estabeleçam as prerrogativas e penalidades previstas na Lei 8884/1994 (Art. 20, II e IV; Art 21, XXIV). Entre as penalidades possíveis está o licenciamento compulsório. A perigosa situação que estamos enfrentando na atualidade com medicamentos para AIDS se estende a muitas outras patologias que são atendidas pelo SUS, de modo que, se não houver uma ação enérgica do governo, corremos o risco de ver ruir um dos pilares de nossa democracia, que é a oferta de saúde integral a toda a população brasileira, na medida em que todas as novas medicações estão protegidas por patentes. Solicitamos que V. Exa. tome providências no sentido de reformular o sistema patentário brasileiro, para que a propriedade intelectual, como todas as formas de propriedade no Brasil, venha a ter uma função social. Atenciosamente, Rubens Oliveira Duda Presidente Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 7 m COOPERAÇÃO EXTERNA MERCOSUL Foro Mercosur conquista novas fronteiras AMÉRICO NUNES NETO (*) Representando o Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo, o presidente do Foro Regional Mercosur de ONG/SIDA e presidente-fundador do Instituto Vida Nova, Américo Nunes Neto, passou a integrar a Comissão Inter-governamental de DST-HIV/ AIDS. Esta comissão tem por objetivo propor discussões temáticas contextualizadas ao enfrentamento da epidemia da aids e assistências às pessoas vivendo com HIV/aids e serão encaminhadas aos ministros da Saúde do Brasil, m MÍDIA Chile, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e países associados, a exemplo do Peru, bem como ao subgrupo de Trabalho SGT 11, vinculado ao PN-DST/ AIDS. A reunião de ministros da Saúde se dá uma vez por presidência pro tempore que aprovam políticas e programas como: •Política integrada de luta contra a epidemia de HIV/AIDS na região do Mercosul e Estados Associados; •Promover uma política integrada de saúde sexual e reprodutiva; •Vigilância e controle da infestação pelo Aedes Aegypti e da transmissão do vírus da dengue; •Controle do Tabaco; •Banco de preços de medicamentos do Mercosul e Estados Associados. Para isso, conta com a reunião preparatória da Comissão Inter-governamental com os Coordenadores Nacionais dos Estados Parte e dos Estados Associados. A Comissão Inter-governamental foi criada em maio de 2003 com a proposta de reunir-se semestral- mente, sendo a mais recente realizada nos dias 25 e 26 de novembro, na cidade de Foz do Iguaçu, e teve como pauta a redefinição do papel da Comissão Inter-governamental de HIV/aids nos aspectos intra e extra-regionais; prevenção da transmissão materno-infantil; prevenção ao HIV/aids; ampliação do acesso sustentável a medicamentos ARV (anti-retrovirais) e informações epidemiológicas sobre os países membros do Mercosul e Estados Associados. Para o Foro Regional das ONG/SIDA do Mercosul é uma conquista de grande importância, por ser um espaço no qual terá o papel de propor temas e pautas a serem encaminhadas aos ministros da Saúde. A íntegra do relatório está disponível no Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo e pode ser solicitada pelo e-mail [email protected]. (*) Américo Nunes Neto é presidente do Foro Regional Mercosur de ONG/SIDA, presidente do Instituto Vida Nova Integração Social Educação e Cidadania, vicepresidente do Fórum das ONG/ AIDS do Estado de São Paulo, e membro de Comissão Municipal de DST/HIV/AIDS de São Paulo e da RNP+SAMPA – Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS Aids e mídia são tema de seminário em Ribeirão Preto LIANDRO LINDER (*) A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 8 Numa iniciativa do GAPA-RP aconteceu em 1º de dezembro o seminário “Mídia na Luta contra a Aids”, que discutiu diversos enfoques da temática. O evento abordou três temas fundamentais na relação com a imprensa: a imagem do portador do HIV, aspectos de prevenção e a responsabilidade social da mídia, proporcionando um debate consistente e participativo. O primeiro painel teve a participação dos integrantes da RNP+, José Marcos de Oliveira (Sorocaba) e Lucas Soler (São Paulo), que enfocaram questões relacionadas ao pre- conceito, sigilo e exposição da pessoa que vive com aids com possíveis conseqüências de marginalização. Para eles, a imagem que ainda se tem, no senso comum, é do paciente terminal, longe da realidade de pessoas que vivem normalmente, mesmo enfrentando as doenças oportunistas e os efeitos colaterais. A mesa sobre prevenção teve a participação da ativista Joana Costa do grupo Rosa Vermelha de Ribeirão Preto, que explicitou questões relativas às práticas de prevenção entre homossexuais na região. Para ela, existe distância entre as ações governamentais e a base, na realidade desta população, carecendo de maior atenção dos gestores. A representante do Programa Municipal de DST/aids, Stela Botelho, destacou as ações já realizadas, inclusive o bom nível de notificação do município o que, afirmou, é responsável pela cidade estar situada entre as três de maior numero de casos notificados no Estado. No último painel os jornalistas Liandro Lindner e Paulo Giacomini falaram sobre a responsabilidade social da mídia. Lindner fez um breve histórico sobre a relação mídia e aids no Brasil, destacando períodos de conflito e outros de parcerias. Para ele, “responsabilidade social é hoje um conceito desgastado necessitando de uma efetividade maior que o ligue a questões de transformação social”. Giacomini contou um pouco de sua experiência como profissional, ativista e soropositivo. Segundo ele, “na medida em que a ciência avança, as possibilidades de sobrevida aumentam, necessitando que o nível de abordagem e especialização da mídia também acompanhe esse movimento”. O seminário se encerrou com um debate entre os participantes e os painelistas da última mesa, com questões sobre a quebra de patentes e a verdadeira capacidade do Brasil em administrar o fornecimento de medicamento aos mais de 300 mil soropositivos que fazem uso dos anti-retrovirais. O diretor do GAPA-RP, Alcebíades Júnior, informou que a entidade continuará pautando a discussão, tornando o dia uma data para reflexão do papel da mídia na luta contra a aids. (*) Liandro Lindner é jornalista do GAPA-RS c CIDADANIA Programa mínimo de Aids para o prefeito José Serra Todas as campanhas e políticas devem estar embasadas na solidariedade e contra a discriminação das pessoas com HIV/AIDS e dos grupos que se pensa estarem em situação de risco aumentado para se infectar pelo HIV. Informação e Prevenção Defesa dos direitos civis e direito ao trabalho e não discriminação das pessoas com HIV/AIDS e dos grupos mais vulneráveis ao HIV. Desenvolvimento de estratégias para aumentar o consumo de camisinhas em todas as faixas econômicas da população e campanhas de prevenção que atendam os segmentos específicos. Controle de sangue Continuidade da vigilância epidemiológica e melhora da notificação. Diminuição dos casos de exposição ignorada. Melhoria da atenção pré-natal. Diminuição da sífilis, do HIV congênitos e da mortalidade materna. Reforço das campanhas de vacinação para a população e do controle FOTO: DIVULGAÇÃO/PSDB O Movimento Paulistano de Articulação e Luta contra a Aids (MOPAIDS), formado por ONG e pessoas vivendo com aids que atuam no município de São Paulo e vinculado ao Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo, desenvolveu um programa mínimo de aids para o município. Leia a seguir o programa, que também serve para todos os prefeitos eleitos no Estado. de doenças endêmicas. Realização nas escolas públicas e privadas de reciclagens sobre AIDS e DST para lideranças adolescentes e professores. Ativação e fornecimento regular de recursos (kit para exames) para os centros de testagem e aconselhamento. Assistência Melhora da pactuação e responsabilidade dos governos municipal, estadual e federal com as pactuações. Fiscalização dos recursos da saúde e dos repasses aos hospitais conveniados. Promulgação de uma lei que proíba a realização do exame do HIV para qualquer finalidade que não vise a saúde do indivíduo, com seu devido consentimento. Propor um plano de reposição de perdas dos salári- os dos trabalhadores da saúde, e de preenchimento de vagas do município. Em 2002, a Comissão Municipal de Aids detectou que houve um déficit de 105 leitos no Município. Em janeiro de 2000 o então coordenador do Programa Municipal de DST/AIDS prometeu a reativação de 50 leitos pelo município. Até outubro de 2004, apenas 20 leitos foram reativados. Será necessária uma estratégia de ativação dos leitos desativados e de ampliação da oferta. Participação do Município na compra de medicação e realização de exames específicos (Elisa, Western Blot, CD4 e Carga Viral) para Aids, dentro da regulamentação da Lei 9313 e das pactuações. Tratamento para Hepatite B e C. Pagamento pelos convênios de saúde das medicações consumidas em tratamento ambulatorial. Atendimento especializado para portadore s d o H I V, c o m m a i s médicos e profissionais de saúde em todas as regiões da cidade. Criação de um sistema de referência integrado ao SUS que funcione na realidade. Estimular as iniciativas comunitárias mediante chamado público de programas e projetos que passem por uma avaliação neutra e independente. Transparência no Programa Municipal de Aids consistente em: execução e prestação de contas adequadas dos recursos municipais/estaduais/federais; contato com o MOPAIDS, Fórum de ONG/AIDS e outras ONG; financiamento de projetos mediante concorrência pública. Na gestão 2000/2004 continuaram os problemas com a SPTRANS (São Paulo Transportes) e EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) para pessoas com HIV/AIDS. Exigimos a isenção de tarifas para todas as pessoas em tratamento crônico, sem entraves burocráticos. Valorização da Comissão Municipal de Aids. Todos os Grupos de Trabalho em Aids devem ser assessores desta comissão. Posicionamento público contra a desvinculação de receitas da União, que retira verbas da saúde e outras áreas. Desta forma piora o financiamento da saúde! O fornecimento de medicamentos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) se vê afetado pelo sistema de patentes no Brasil e repercute no atendimento geral da população, seja pelo aumento de despesas do SUS ou pelo aumento de preços nas farmácias. Solicitamos um posicionamento dos municípios e Estados em favor de uma revisão das leis de patentes que permitam a diminuição dos preços das medicações. • A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 9 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ FOTOS: REPRODUÇÃO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ AIDS & ATIVISMO AVALIAÇÃO ○ ○ ○ ○ ○ a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ E –MÍDIA E1 – Costuma ler jornais? Não Sim ○ C8 – Para você, a variedade dos artigos, reportagens e serviços do jornal: Muita variedade Pouca variedade Razoável variedade ○ ○ ○ ○ ○ E2 – Se costuma ler, qual o jornal de sua preferência? _____________________________________________ ○ C3 – Sobre a compreensão dos artigos, reportagens ou serviços, você considera: Excelente Bom Regular Ruim Péssimo C7 - AIDS & ATIVISMO é um jornal Institucional Militante Formador de Opinião ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 10 B2 – Como conheceu o jornal AIDS & ATIVISMO? Através de amigos Lendo jornais Em ONG/AIDS Por mala direta Em eventos Na unidade de saúde D2 - Para você que lê AIDS & ATIVISMO, o jornal precisa melhorar (citar no máximo duas opções): Ilustração Distribuição Aumentar a tiragem de exemplares Conteúdo Diagramação Edição fotográfica Qualidade do papel Prazo de edição Redação Outros: _________________________ C6 - Para você, o jornal precisa: Opinar Informar Refletir Interpretar Discutir ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A3 – Qual o seu nível de escolaridade: Primário Secundário Superior ○ outubro novembro dezembro B – DIFUSÃO B1 – Sobre o jornal AIDS & ATIVISMO, você diria que: Conhece pouco Conhece muito Não conhece C2 – Como você avalia a qualidade dos conteúdos do jornal: Excelente Bom Regular Ruim Péssimo D – EFICIÊNCIA D1 – Você tem por hábito ler o jornal AIDS & ATIVISMO? Não Sim C5 – Após ler o jornal você passa ele adiante? Sim Não C – PRODUTOS C1 – Cite três artigos, reportagens ou serviços mais chamou sua atenção: A6 – A última edição que recebeu foi em que mês? Janeiro Março Junho Setembro Dezembro Todos A2 – Em qual cidade você mora? _________________________________ C4 – Você acompanha as edições do jornal AIDS & ATIVISMO desde: A primeira edição A partir da edição de número ___ Esta é a primeira edição que leio B3 – Sobre a publicidade, você acredita que o jornal faz: Pouca Média Muita A5 – Você costuma receber o jornal em: ONG/AIDS Unidades de Saúde Outros segmentos A – IDENTIFICAÇÃO A1 – Sexo Masculino Feminino ○ E A T I V I S M O No site do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo ○ A4 – Com qual freqüência você recebe o jornal AIDS E ATIVISMO? Todos os meses Bimestralmente Trimestralmente Semestralmente Anualmente ○ A I D S ○ faz avaliação de edições ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Esta é a décima edição de AIDS & ATIVISMO, publicação do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo. Para conhecer a imagem que os leitores têm do jornal, esta avaliação foi elaborada com o objetivo de auxiliar o Conselho Editorial na maioria dos procedimentos relacionados com a preparação de pautas, artigos e uma melhor qualidade das futuras edições. Você pode participar enviando suas respostas para endereço eletrônico [email protected] com o assunto “Avaliação” ou pelo correio para: Jornal AIDS & ATIVISMO Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo Av. São João, 324, 7º andar, cj. 701 CEP 01036-000 São Paulo – SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ c CONTROLE SOCIAL OPINIÃO Democracia, Políticas Públicas e Controle Social: uma relação indissociável SOLANGE ROCHA (*) “O omisso e acomodado atrás do muro se esconde e não quer ser responsável pelo destino do mundo, O Pacto Internacional para Prevenção e Saúde, a Conferência de Alma Ata, firmado há 25 anos declarava: “uma das principais metas sociais dos governos, das organizações internacionais e de toda a comunidade mundial na próxima década deve ser a de que todos os povos do mundo, até o ano de 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita uma vida social e economicamente produtiva”. Já os anos 90 foram marcados pelo chamado Ciclo de Conferências da ONU, onde foram pactuados direitos, destacando especialmente os avanços dos direitos sexuais e direitos reprodutivos. Na Conferência de População e Desenvolvimento, no Cairo, e na Conferência da Mulher, em Pequim, foram dedicados extensos capítulos à prevenção e assistência às DST/ Aids. Em 2001 foi realizada a Sessão Especial da ONU – UNGASS/Aids que, junto com a Cúpula do Milênio, fecha um ciclo importante de propostas e pactos para que governantes e cidadãos e ci- FOTO: ARQUIVO PESSOAL vive como egoísta e de nada participa com os usuários dos serviços que deles é conquista. Não vê a comunidade, não crê em cidadania e quando se fala em justiça, ele diz que é fantasia.” (Val dos Santos, RJ, 2004) dadãs do mundo enfrentem a epidemia da aids. Na vivência cotidiana e, apesar de todos os pactos, observamos que os serviços de saúde em muitos países estão em declínio. A epidemia da aids, nesse sentido, é reveladora da ausência de políticas eficazes e do acesso a serviços, em especial nos países pobres, onde se concentra a crescente incidência dessa epidemia, nos quais as principais condições que determinam a saúde da população e a sua capacidade cidadã para tomar decisões estão se deteriorando. A Campanha da Rede Global pelos Direitos Reprodutivos e Sexuais, “O Chamado para Ação”, chama atenção para o não alcance das metas fixadas nessas pactuações internacionais pelos governos, que mantém uma visão seletiva de saúde e atenção à saúde. Os acordos internacionais de ajustes estruturais, sem dúvida, são razões para a deteriorização dos serviços na saúde. As reformas para um estado mínimo prometiam favorecer a eficiência e eficácia dos serviços, seja na perspectiva econômica, seja em termos “a aids é reveladora da ausência de políticas eficazes e do acesso a serviços, em especial nos países pobres, nos quais as principais condições que determinam a saúde da população e a sua capacidade cidadã para tomar decisões estão se deteriorando” A I D S E de acesso e qualidade de atenção, favorecendo privatizações, ou descentralizando serviços, onde os recursos e o poder político se mantinham centralizado. Os resultados não são positivos como se previa. Ao contrário, reforçam a visão de que em situações de grandes desigualdades es- truturais socioeconômicas, a aplicação de princípios de mercado reforça a pobreza e a desigualdade, onde as mulheres e as populações mais empobrecidas são as que mais sofrem em virtude disso. No Brasil, vivemos o dilema de construir um siste- A T I V I S M O outubro novembro dezembro 11 A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 12 ma de saúde com princípios de um estado de bem estar e implementá-lo no seu cotidiano com os princípios e práticas de enxugamento do Estado. Nas últimas Conferências Nacionais (Saúde, Políticas para as Mulheres, Direitos Humanos), temos perguntado quais as respostas governamentais para o enfrentamento das desigualdades sociais, onde a saúde é reveladora da ausência de cidadania, onde o ter saúde é ter condições de sobrevivência, o adoecer é perder o emprego e enfrentar a fome. As políticas de saúde têm sido formuladas, desde os anos 80, com a forte participação da sociedade civil organizada, que reivindica participação no planejamento e na gestão – ou seja, fazendo controle social. No entanto, esse não é um processo consolidado, está em construção e em permanente conflito, entendendo que a possibilidade desse conflito se dá, como diz Mandel Luz (2003) “quanto maior for a pressão democratizante mais profícua é se o poder público for democráticas” e mais intensas são as disputas por ampliação de direitos e acesso. Diante dessa conjuntura, como enfrentar as causas estruturantes da morbi-mortalidade por aids no Brasil? O que de fato estamos fazendo quando as políticas econômicas não dialogam com as políticas sociais, trazendo perversas conseqüências para a saúde da população? O que significa atualmente para o SUS: Descentralização/desconcentração no contexto de estado refor- mado, que tem como linguagem “eficiência, eficácia, custo-benefício, livre concorrência, parceria, descentralização, participação comunitária”? Essa é a receita dos organismos multilaterais. No cotidiano, na vivência dos processos saúde-doença enfrenta-se a disputa: I) municípios comprometidos com a implantação do SUS promotor de bem-estar e municípios assistencialistas pouco comprometidos com as políticas públicas formuladas democraticamente, onde “comprar” serviço privado é mais barato e ágil; II) Movimentos Sociais reivindicando e atuando no Controle Social, no entanto os poderes dos Conselhos são cerceados a depender do gestor, revelando o grau de vulnerabilidade desses mecanismos; III) os serviços de saúde estão sucateados com problemas que vão desde recursos humanos a alta burocracia e dificuldades no acesso. Como conjugar vivência de direitos no compasso de espera colaborativa de construção do SUS? Os movimentos sociais também têm no SUS seu lugar de militância e revelam que no cotidiano da saúde pública no Brasil as ações efetivadas são absolutamente insuficientes para responder as demandas da população. É nesse contexto que exercemos o chamado “Controle Social”. E o que vem a ser o Controle Social? Baseado nas reflexões de Dantas e Rocha (2003), o controle social usado de forma mais específica corresponde à ação da sociedade civil quando está participando dos conselhos, que fazem parte da estrutura do governo; são constitu- cionais, onde a sociedade civil participa paritariamente com representantes do governo, prestadores de serviço e trabalhadores da saúde. Outros espaços vão desde os comitês gestores de unidades de saúde até comissões temáticas nacionais, desde que tenham como objetivo controlar políticas, ciedade. Ao ser exercido pelo conjunto das entidades e instituições da sociedade organizada, tende a ser o controle mais efetivo e legítimo, a favor do conjunto da sociedade. Controle Social é aqui entendido como o controle sobre o Estado pelo conjunto da sociedade organizada em todos os segmentos so- “Nas últimas Conferências Nacionais temos perguntado quais as respostas governamentais para o enfrentamento das desigualdades sociais, onde a saúde é reveladora da ausência de cidadania, onde o ter saúde é ter condições de sobrevivência, o adoecer é perder o emprego e enfrentar a fome” ou seja, estão em espaços de participação em instâncias governamentais. Todas essas formas de pressão e controle aconteceram e continuam a se dar por iniciativa preponderante dos movimentos sociais e entidades da sociedade civil organizada. O controle social seria a resultante da articulação e da negociação dos interesses fracionados e específicos de cada segmento, a favor dos interesses e direitos de cidadania do conjunto da so- ciais. Evidentemente, esse controle deve visar o benefício do conjunto da sociedade e ser permanente. Por isso, quanto mais os segmentos da sociedade se mobilizarem e se organizarem, maior será a pressão e o resultado para que seja efetivado o Estado Democrático. A história do Controle Social no Brasil é resultado da luta da sociedade civil organizada, que, através de seus movimentos, suas redes e da participação popular, definiu o modelo de atu- ação na formulação e monitoramento das políticas públicas, como fruto do reconhecimento dos direitos sociais dos/as cidadãos/ãs. No campo da saúde, a legislação de criação do SUS confere aos conselhos de Saúde as atribuições de atuar na formulação de estratégias e fiscalização no controle da execução das políticas de saúde, associando suas atribuições com os gestores do executivo – Ministério e secretarias de Saúde –, como também com o legislativo e o judiciário. A estrutura para o exercício formal do Controle Social se dá através dos Conselhos e das comissões e dos grupos de trabalho que dele se originam. Essa estrutura é integrada legalmente ao Poder Executivo, tendo caráter deliberativo; em algumas instâncias consultivo, sobre as políticas e ações a serem implantadas em que o maior espaço de pactuação de prioridades e de proposições são as Conferências de Saúde. Outros espaços de pactuação são a Comissão Intergestora Bipartite – CIB (composta dos secretários estaduais e do Ministério da Saúde), a Comissão Intergestora Tripartite – CIT (composta dos secretários municipais e estaduais e do Ministério da Saúde) e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde – Conasems, no qual se pactua o processo de descentralização do SUS. Controle Social das políticas de controle da epidemia da Aids no Brasil. É certo que o Controle Social sobre as políticas do programa de controle da epidemia da Aids no Brasil foi criado e executado por muitos anos, quase que apartado do modelo de saúde pública, o SUS, que também era construído. Essa forma de atuação se deve ao fato do Programa Nacional de DST/Aids ter sido executado inicialmente com financiamento específico do Banco Mundial, centralizando as ações no nível federal, com um programa verticalizado e no qual os programas municipais e estaduais foram executados, em grande medida, com recursos federais através de Planos Operacionais Anuais (POA). A contrapartida brasileira cobria, em boa parte, a assistência hospitalar e o acesso aos medicamentos que eram disponibilizados nos serviços de referência. Ao longo de sua história, a Coordenação Nacional de DST/Aids criou uma estrutura de Controle Social ligada especificamente a esse setor, com comissões e comitês consultivos e de discussão, articulando sociedade civil, gestores de saúde e universidades, o que, por um lado, tornou a implantação do Programa Nacional um processo mais democrático; por outro, por não ter clareza do papel desses espaços, onde o Controle Social, de fato, é exercido com muita tensão. O que traz também prejuízos com o isolamento do movimento social num único espaço de decisão das políticas, deixando de potencializar a integralidade, que é um dos princípios do SUS. Esse processo traz o debate: Controle Social só é feito no âmbito dos Conselhos de Saúde? Monitorar, avaliar, reivindicar, propor políticas em Comitês e Comissões não se configuram espaços de Controle “Nesse contexto pergunta-se qual a real função da CNAIDS e da CAMS? Como é a relação dessas comissões com outros GT e Grupos Assessores temáticos instituídos na própria Coordenação Nacional de DST/Aids?” Social? A relação sociedade civil organizada e organizações governamentais, fora dos conselhos de saúde, é colaborativa, antagônica, cooptada? Esses espaços de fato se constituem em participação democrática? Nesse sentido, Boaventura Santos faz a seguinte reflexão: Os movimentos sociais e associações têm que ser autônomos, não podem ser atrelados aos partidos e governos porque não teríamos uma democracia participativa, teríamos uma farsa. A relação de complementariedade e não de condicionamento, resulta sempre na confrontação, nem sempre pacífica, no entanto, sempre mais democrática. Comissão Nacional de Aids – CNAIDS e Comissão de Articulação com os Movimentos Sociais – CAMS Hoje, o movimento de luta contra a aids, aprofunda e problematiza o entendimento sobre esses espaços de participação que foram constituídos em âmbito nacional, em particular as instâncias CNAIDS, CAMS, comitês e GT temáticos, relacionadas à CN-DST/ Aids/MS e sua frágil relação com os Conselhos de Saúde. No contexto desse debate pergunta-se qual a real função da CNAIDS e da CAMS? Como é a relação dessas comissões com outros GT e Grupos Assessores temáticos instituídos na própria Coordenação Nacional de DST/Aids? Fazendo um olhar crítico sobre a CNAIDS, compreendendo-a como o espaço mais significativo de participação pela sua composição, história e reconhecimento dessa instância como propositiva e com poderes de monitoramento e os demais espaços, incluindo a CAMS, como instância composta por representações dos segmentos, que também monitora, avalia e propõe políticas, poderíamos concluir que esses são legítimos espaços de controle social? Essas comissões criadas pelos governos, por vezes são respostas às demandas da sociedade civil organizada, por vezes são criadas para resolver demandas internas dos governos e dos acordos e negociações internacionais ou de uma própria necessidade do governo de ampliar seus espaços de participação. A CNAIDS, a CAMS e demais comissões, são fruto dessas necessidades e são processos em construção, daí a pertinência de respondermos questões que estão colocadas para o movimento. O que seria então o que define um espaço de controle social? Essas comissões têm papéis claros ou estão sobrepostas como instâncias consultivas? São comissões que se comunicam e têm suas decisões efetivadas, os gestores respeitam as decisões tomadas? Os temas e pautas levados para essas instâncias são realmente as principais questões que estão baseando as políticas públicas para o enfrentamento da epidemia da aids? Ou são outras perguntas que precisam ser respondidas? Citando Cândido Grzybowski, “a democracia – além de inspiração que efetivamente põe os seres humanos, a sociedade civil, “é necessário que façamos Controle Social, que façamos o exercício da cidadania no seu mais amplo aspecto para ampliação dos espaços democráticos” com suas organizações e movimentos, no centro do desenvolvimento – é um movimento histórico real, que nos envolve, nos abraça e nos faz andar. Ela também faz história. A força destrutiva da onda do neoliberalismo está sendo confrontada por uma onda democratizadora de grande capacidade construtiva. A democracia em processo, em construção, está redefinindo profundamente as possibilidades de superação da crise social e ambiental em que estamos mergulhados. Um tal movimento, implantado na sociedade, é em si mesmo um convite à reflexão que vincula utopia e ação, numa prática de mudança cultural e política da realidade que nos cerca.” Todas essas questões e reflexões buscam convergir para um entendimento do que é a participação dos movimentos que lutam contra a aids, na formulação e monitoramento das políticas públicas que controlem a epidemia e, para isso, é necessário que façamos Controle Social, que façamos o exercício da cidadania no seu mais amplo aspecto para ampliação dos espaços democráticos. A conjuntura é difícil, os mecanismos são frágeis, os movimentos sociais precisam crescer em consciência política e o governo precisa efetivar a radicalização da democracia no sentido do enfrentamento das injustiças sociais. Um estado é tão mais democrático, quanto forem fortes e aguerridos seus movimentos sociais. (*) Solange Rocha é coordenadora de Programas - SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia e integrante da Rede Feminista de Saúde A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 13 c CONTROLE SOCIAL OPINIÃO Controle Social, Ética e Direitos Humanos sob o ponto de vista do usuário C A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 14 onsiderando o tripé que inclui o controle social, a ética e o respeito pelos direitos humanos, com certeza temos o caminho mais sólido para construir e viver numa sociedade mais justa, onde a desigualdade possa ser eliminada ou sensivelmente diminuída. Entendemos que um dos elementos que contribuem para que a ética e o respeito pelos direitos humanos sejam incorporados ao nosso cotidiano é o fortalecimento contínuo de estratégias que possibilitem o exercício – ágil e eficaz – do controle social. Neste sentido, é sempre importante salientar que controle social não é uma instância possível de ser criada, mas uma conquista da sociedade brasileira, reconhecida e registrada em nossa Constituição por meio da Lei 8142/90. Por outro lado, sabemos que a saúde deve ser entendida considerando sua integralidade, onde se complementam questões relacionadas à qualidade de vida, educação, moradia, lazer, segurança saneamento básico etc. Também sabemos que o cenário brasileiro – apesar de mudanças e conquistas já percebidas – mes- FOTO: FÓRUM JOSÉ ARAÚJO LIMA FILHO (*) “a realidade aponta para a existência de um grande número de serviços de saúde que não possuem conselhos de gestores, (...) tidos como ‘ninho de problemas’” cla uma série de fatores políticos e econômicos que influenciam diretamente, retendo muitas vezes um maior avanço das questões sociais e, conseqüentemente, da conquista da saúde plena e integral. Assim, fortalecer mecanismos que possibilitem o exercício pleno da cidadania fazendo com que cada pessoa da sociedade brasileira possa ser um agente transformador também contribui para uma revisão política, econômica e social do cenário nacional, permitindo uma perspectiva maior de justiça e rompimento das desigualdades existentes. Aliado a isso, a expansão das alianças entre os diferentes segmentos da sociedade civil – tendo como base a ética e o respeito aos compromissos assumidos – favorecerá o avanço do exercício do controle social, superando as dificuldades atualmente existentes. A trajetória do Movimento de Luta contra a Aids, ao longo desses 20 anos, tem sido caracterizada por muitas dificuldades na implantação de ações efetivas para o enfrentamento da epidemia. Mas essa história também é marcada por grandes conquistas. Alguns exemplos constituem registros de inquestionável relevância: (I) os avanços na luta pela alteração da Lei de Patentes; (II) a modificação das leis restritivas que regiam os planos de saúde, e (III) a manutenção de medicamentos e exames específicos para a população. Para não ser extensivo em exemplos, cabe registrar que recentemente os movimentos organizados conseguiram impedir que a política conservadora do governo americano impusesse ao país o conhecido ABC, que pressupõe a abstinência e a fidelidade como formas de prevenção à aids. No entanto, esse mesmo movimento caminhou, na maioria do tempo, de forma isolada, sem se apropriar de todos os espaços políticos que pudessem garantir o somatório de esforços. Esse isolamento do movimento de luta contra a aids propiciou que outros segmentos da saúde consolidassem uma visão política corporativista, ressaltando uma única patologia em um país repleto de epidemias e doenças que há anos são combatidas com a efetividade necessária. Os avanços do Movimento de Luta contra a Aids, garantindo a saúde por meio de tratamentos adequados, parecem criar distância com relação a outros segmentos da saúde. Este fato faz com que o Movimento caminhe, em muitas situações, de forma isolada, sem solidariedade dos parceiros de outras patologias, sem a adesão de todos os profissionais de saúde e sem o engajamento da sociedade em geral. A nossa posição com relação à sociedade deve ser esclarecida, de forma a tornar evidente que a saúde pública é a nossa causa e o objetivo de nossa luta. Somar esforços é necessário para que possamos dinamizar os processos para o al- cance de uma saúde pública com qualidade. Dispomos de exemplos bem sucedidos neste aspecto. Basta lembrar quando da regulamentação dos planos de saúde, que em São Paulo foi possível com a participação do Movimento de Luta contra a Aids associado a diversos segmentos, tornando a efetivação das reivindicações um clamor social coletivo. Muitos espaços neste país, que deveriam servir ao fortalecimento do SUS, estão preenchidos por pessoas de confiança dos administradores públicos, comprometendo efetivos avanços para a consolidação de um Sistema Único de Saúde exemplar. É importante que se tenha consciência que o SUS propõe mudanças muito complexas, que ferem interesses de grupos dominantes no país. Em função disso, sua construção requer participação e muita pressão dos setores sociais comprometidos com a melhoria da qualidade da assistência à saúde e dos serviços públicos. A efetivação do SUS depende do fortalecimento da sociedade civil organizada, para que os vários segmentos tenham representatividade, força e independência de atuação nos espaços institucionais de participação social. O momento histórico atual exige que a saúde pública nacional avance por um caminho participativo, identificado no somatório de forças disponíveis nos mais diversos segmentos da sociedade. Este caminho começa a ser trilhado com a retomada dos espaços que estão mais próximo de nós e que têm ficado, algumas vezes, distantes de nossas ações. “a sociedade democrática se fundamenta pela constatação da inserção dos direitos humanos na alma da comunidade” Esses espaços passam tanto pelas comunidades de bairro quanto pelos conselhos gestores de diferentes esferas. Fazendo referência a um velho chavão, o de que “a saúde publica brasileira está na UTI”, precisamos lutar por profissionais e condições que impeçam que a saúde pública venha, efetivamente, a falecer. Alguns ativistas têm correspondido à expectativa histórica atual, cujos exemplos são as participações nos conselhos de saúde, sejam eles municipais, estaduais e no nacional, onde os avanços com relação a alguns temas já superam dificuldades que anteriormente pareciam intransponíveis. Se nos é possível identificar avanços e conseqüentes resultados positivos no contexto macro, não podemos negar que continuamos a caminhar de forma muito vagarosa no contexto micro. Em vários pontos do Brasil a realidade aponta para a existência de um grande número de serviços de saúde que não possuem conselhos de gestores, que na visão tacanha de muitos administradores são tidos como um “ninho de problemas”. Outros conselhos gestores, quando formados, cami- nham de mãos dadas com a inércia e a omissão, portanto, cúmplices do descaso sem propiciarem quaisquer melhorias nos serviços. A presença de usuários/ as, por si só, nessas esferas, não pode ser considerada como um agente de transformação a menos que estes tenham sido capacitados para o exercício pleno da sua cidadania. Hoje, no entanto, é imprescindível que estejamos capacitados para ocupar tais espaços. Capacidade para empreendermos uma luta diária, tornando tais espaços expressão de iniciativas públicas em conformidade com o anseio da maioria. No campo dos direitos humanos, os expressivos avanços obtidos são proporcionais ao grau de responsabilidade adquirida junto aos diversos segmentos da sociedade. Tal fato nos obriga a uma constante vigília, tanto para garantir a continuidade dos direitos, quanto para avançarmos por caminhos ainda não explorados, mas igualmente importantes para a efetivação de uma sociedade democrática. E sociedade democrática se fundamenta pela constatação da inserção dos direitos humanos na alma da comunidade. O Artigo 5o da Constituição Brasileira garante os Direitos Fundamentais do Homem, que são, em suma, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Lamentavelmente, mesmo havendo o reconhecimento de tais direitos fundamentais pela nossa Constituição, grande parte da nossa sociedade desconhece a aplicabilidade de tais fundamentos como direito efetivo da condição de cidadão brasileiro. O Ministério Público, fortalecido desde a Constituição de 1988, tem nesses últimos anos investigado atos que na maioria das vezes era acobertado por interesses escusos. Tal procedimento permite que a sociedade brasileira se sinta compensada na sua luta pela ética. No que diz respeito à saúde pública, esse mesmo Ministério Público tem exi- “O controle social tem que agir permitindo que o Brasil se imponha frente ao diferencial que distancia uma sociedade em avanço de outras em retrocesso” gido soluções que anteriormente esbarravam em entraves criados pelas três esferas de governo (municipal, estadual e federal). A imprensa brasileira sempre teve um papel de suma importância na democratização e nas questões relacionadas aos direitos humanos. Podemos afirmar que temos no Brasil uma imprensa que tem sido um grande sustentáculo da garantia dos direitos humanos, dando eco às denúncias de agressões a que a sociedade é vítima. Pasmem, a imprensa livre está em perigo! Ou seja, um importante caminho para que se avance nas questões relacionadas aos direitos humanos está sofrendo uma clara ameaça. A “Lei da Mordaça” e a Agência Controladora da Imprensa são agentes repulsivos contra os direitos humanos e, portanto, instrumentos para tornar ainda mais frágil a sociedade brasileira. O controle social tem que agir permitindo que o Brasil se imponha frente ao diferencial que distancia uma sociedade em avanço de outras em retrocesso. Este é o momento para uma urgente reflexão sobre a ética. Ética de compromissos políticos que sempre estiveram na vanguarda dos movimentos sociais, na luta pelos direitos humanos e controle social. Uma sociedade será realmente forte quando os usuários da política nacional não aceitarem o papel de servos do descaso e da irresponsabilidade política. (*) José Araujo é representante do movimento de luta contra a aids na Comissão Nacional de DST e AIDS (CNAIDS) e presidente da Associação François Xavier Bagnoud do Brasil A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 15 f FILIADAS G.R.I.V. DST/AIDS A I D S E A T I V I S M O outubro novembro dezembro 16 AQUI VOCÊ ENCONTRA OS LOGOTIPOS DAS FILIADAS