I Hate Cookies

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1
“Por alguns segundos Oskar viu pelos olhos de Eli. E o que
ele viu foi... ele mesmo. Só que muito melhor, mais bonito,
mais forte do que ele jamais pensou que era. Viu com
amor.” (John Ajvide Lindqvist, Let the Right One In)
Um garoto conhece uma garota e de repente esse é o
melhor dia de sua vida. Eles estão felizes. Têm todo tempo
do mundo. Vivem o sonho. A vida é bela. Eu te amo, eu
também. Eles conversam bastante, ficam juntos, fazem
coisas juntos e nada mais importa.
Ele diz:
- Eu sei que se eu te conhecesse eu iria gostar de você.
Ela diz:
- Você seria meu amigo?
Aqui é quando você compara a vida dele com uma
engraçada comédia romântica com um final feliz. Aqui é
quando ele vê que tudo está tudo bem e que tudo vale a
pena. Aqui é quando ele vê que têm sua vida inteira pela
frente.
O tempo passa. O garoto e a garota crescem e continuam
juntos. Eles se amam, vivem juntos e têm uma filha. Eles
olham um para o outro e o tempo passa. Eles lembram o
passado e pensam no futuro. Eles têm muitos sonhos.
Ele diz:
- Você é feliz? Diga que sim.
Ela diz:
- Tudo muda menos o que eu sinto por você.
Agora você compara a vida dele com um lindo romance
clichê com um final feliz. Agora ele vê que não se arrepende
de nada e que não faria nada diferente. Agora ele mal pode
esperar para voltar para casa do trabalho.
O tempo passa. O garoto se ajoelha e a garota aceita. Esse
é o primeiro dia do resto de suas vidas. Ele concorda que a
vida é difícil às vezes e elas são tudo o que ele tem.
Ele diz:
- Eu te amo.
Ela diz:
- Eu não sei se o amor existe, mas o que eu sinto por você
deve ser o que chega mais perto disso.
Você vê ele, ela e a filha no sofá em frente à televisão num
domingo qualquer. Então você compara a vida dele com
uma incrível aventura com um final feliz. Então ele vê que
tem tudo o que precisa e que deu tudo certo no final.
Ele diz:
- E você sabe que eu estarei aqui quando você voltar pra
casa.
Ela diz:
- México.
Eles vivem felizes para sempre até que a morte os separa.
Aqui você vê um estupro seguido de morte. Um tiro na
nuca e todas as lembranças dela espalhadas pelo chão.
Agora você vê uma execução. Dois tiros no peito e todas as
lembranças de sua filha espalhadas pelo chão.
Num necrotério ele as reconhece. Ele concorda que a vida é
difícil às vezes e elas eram tudo o que ele tinha. E daqui
passa para funeral, velório e enterro. Então tudo para.
Ele diz:
- Me desculpe.
Ele diz:
- Eu nunca vou te esquecer.
Ela não responde.
Agora você percebe que no fim não é um final feliz.
Um garoto conheceu uma garota e de repente esse é o pior
dia de sua vida.
2
“Doyle: Ali diz ‘ratos’... ‘Nossas taxas são baixas, mas
nossos padrões são altos. Quando as coisas estão ruins e
você está no fim da sua corda, você precisa de alguém com
que pode contar. E é isso o que irá encontrar aqui. Alguém
que vai até o fim, alguém que te protegerá não importa o
que aconteça. Então não perca as esperanças. Venha para
nosso escritório e você verá que ainda há heróis nesse
mundo. ’... É só isso? Eu terminei?” (Joss Whedon , Angel
– Hero)
Essa é a história de um herói. Ele se sacrificará por um bem
maior, por algo que ele acredita. Para que algum dia todas
as pessoas sejam felizes. L. Carvalho, codinome Animolity.
A história se passa num futuro onde não há mais guerras,
não há desigualdade, não há fome, não há pobreza. A partir
do ano de XXXX um homem esperto conseguiu ter certo
controle sobre a viagem no tempo e construiu a chamada
máquina do tempo. A partir daí os governos de diversos
países se uniram para construir uma sociedade melhor,
voltando para o passado e impedindo os erros da
humanidade. Até agora podemos dizer que o futuro é um
lugar melhor.
Tudo começa quando Animolity entra para o exército. Ali
ele poderá proteger as pessoas. Proteger o mundo onde
viveu os melhores dias de sua vida. Então você o vê
limpando o chão do quartel. Depois o vê treinando e
estudando bastante. Agora, o objetivo principal da sua vida
é se tornar um soldado exemplar. Ele se lembra da pessoa
que ele amava e que ela foi tirada de sua vida. Se
dependesse dele, aquilo que aconteceu a ela nunca mais iria
acontecer com ninguém. Assim ele sentia que a morte dela
não seria em vão.
Seu superior frequentemente diz:
- Isso é uma ordem, soldado!
Ele frequentemente diz:
- Sim senhor!
Seu amigo diz:
- Ani, você estuda e treina demais, caralho. Você precisa
descansar um pouco.
Ele responde:
- Mega. Eu preciso fazer isso por ela.
Então Mega diz:
- Ani, você precisa seguir em frente e continuar vivendo.
Ela estará te esperando na outra vida. Então pare de se
matar, seu bundão.
E ele diz:
- Você não entende porra nenhuma.
Seu superior diz:
- Você é o melhor soldado que já passou por aqui, cabo
Animolity.
Ele diz:
- Obrigado senhor!
Você vê Animolity, Mega e outros amigos jogando. Então
alguém diz “Quando você vencer tem que falar Galoslap to
win”.
Mega pergunta:
- O que é isso?
E todos respondem “Só quem é raiz sabe”.
3
“Eu recuso aceitar a visão de que a humanidade é tão
tragicamente atada à uma meia-noite sem estrelas de
racismo e de guerras que a aurora brilhante da paz e da
fraternidade nunca possa tornar-se uma realidade.” (Martin
Luther King Jr)
O tempo passa. Animolity está subindo na hierarquia
militar. Aqui você o vê como primeiro-sargento Animolity.
Ele está numa tarefa do exército. Uma tarefa rotineira. Ele
vigia a porta de um edifício de luxo onde há uma reunião
com pessoas extremamente importantes.
Então você vê passando uma van preta, um fuzil de assalto
M16 e 900 disparos por minuto. A entrada do prédio fica
totalmente destruída. Agora você vê Animolity com uma
Desert Eagle .50 e dois disparos. A existência do motorista
da van preta e do atirador estão espalhadas pelas janelas da
van.
As pessoas que estavam dentro do prédio parabenizam
Animolity pelo ótimo trabalho e falam que ele está sendo
sondado para uma tarefa muito importante. Um projeto que
é a chave para a construção da sociedade ideal. A
sociedade em que eles vivem hoje. Eles falam que quando
terminarem o projeto o mundo estará perto de ser uma
utopia, mas para isso eles precisam de ótimos soldados
como ele. Animolity agradece e diz que fará o que for
possível por um mundo melhor.
Então você vê Animolity voltando para casa. À sua volta as
pessoas são felizes, os pássaros cantam, o ar é fresco e a
vida é bela. Isso o faz lembrar como ele era quando estava
ao lado da pessoa que ele gostava. Como ele era feliz. E
que agora ele precisa continuar treinando para ser um
soldado melhor para proteger o sonho de todos. Por ela.
Depois de um dia de vigia ele chega em casa, liga a
televisão e vê ataques terroristas a um edifício de luxo onde
acontecia uma reunião do chamado G20. Janta e depois
começa a estudar.
4
“Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade.”
(Henry David Thoreau)
Agora você vê o primeiro-tenente Animolity interrogando
um terrorista prisioneiro que foi capturado pelo exército. O
prisioneiro é um dos responsáveis pelo ataque ao prédio
onde ele estava de guarda alguns dias atrás.
Aqui você vê Animolity e o prisioneiro. Animolity diz que
ele perdeu o juízo, que está tentando destruir uma
sociedade ideal. O prisioneiro diz que ele não entende. Que
não existe sociedade ideal. Ele diz que Animolity está
errado.
Agora você vê uma pistola Desert Eagle .50 apontada para
a cabeça do terrorista. Você vê Animolity falando que essa
é a última chance dele, que ele precisa falar onde está o
restante dos terroristas.
O terrorista fala que não quis machucar ninguém, mas era
necessário. Ele diz que um dia Animolity irá entender e que
tudo ficará bem.
Então Mega entra na sala. Diz que é hora do prisioneiro
voltar para a cela e que depois o exército cuidará dele.
5
“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do
mal.” (Friedrich Nietzsche)
Animolity recebe a oferta para fazer um treinamento que irá
prepara-lo para a tarefa mais importante que um soldado
pode receber, mas que poucos têm a coragem de
prosseguir. Ele aceita.
No treinamento ele receberá muita informação teórica sobre
a história da humanidade. Sobre como a sociedade
costumava ser. Informação sobre a história de diversos
ladrões, assassinos e líderes tiranos e corruptos. Ele
passará a conhecer as piores pessoas que já viveram no
mundo.
Agora você vê ele e seu superior sentados um de frente ao
outro divididos por uma mesa de reunião.
O superior diz para Animolity calar a boca e escutar. Diz
que sabe que Animolity vai fazer o treinamento para uma
tarefa importante e que ele não sabe porcaria nenhuma
sobre ela. Então ele fala que vai contar tudo sobre a tarefa
e sobre a verdade dessa sociedade ideal.
Então você vê o superior explicando como funciona o
mundo. Ele fala que a chave para a sociedade ideal é
mandar agentes para o passado e assassinar as piores
pessoas da história da humanidade. Ele diz que eles as
matam enquanto ainda são crianças, assim não poderão
influenciar ninguém à sua volta. Ele diz que a máquina do
tempo pode mandar a pessoa de volta para o passado, mas
não pode trazê-lo para o presente. Então uma vez que você
voltar e matar um psicopata assassino em sua infância, não
será visto como um herói. Será visto como um assassino.
Você sacrifica sua vida pelos outros.
O superior diz:
- Ani, você entende o tipo de tarefa que você estará
realizando? A criança que você matar ainda não será um
assassino, será apenas uma criança.
Ele diz:
- Entendo.
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“Não caminhe atrás de mim, eu posso não conduzir. Não
caminhe na minha frente, eu posso não seguir. Apenas
caminhe a meu lado e seja meu amigo.” (Albert Camus)
Aqui você vê Animolity numa sala de aula com outros
candidatos assistindo a palestra de um historiador do
exército.
Uma sala de 40 soldados que serão responsáveis pela
manutenção da sociedade ideal. São 40 heróis ou 40
assassinos.
O historiador circula num mapa o Condado de Jefferson
localizado em Colorado, Estados Unidos. Ele cola as fotos
de Eric Harris e Dylan Klebold do lado e escreve 1999.
Depois do treinamento você vê Animolity e seu amigo num
restaurante. Em seus pratos reside um tipo de comida
irreconhecível de coloração estranha. Animolity começa a
comer.
Seu amigo diz:
- Eu sei como você se sente.
Enquanto Animolity continua a comer, seu amigo diz que
entende o que ele está passando. Que ele também perdeu a
pessoa que ele amava quando era criança. E que se ele
continuar assim vai acabar paranoico. Seu amigo diz que,
quando era mais novo, sua namorada foi assassinada
enquanto eles estavam no cinema. Seu amigo pergunta se
ele não se lembra disso. Se ele não se lembra daquele dia.
Se ele não se lembra de que os três eram grandes amigos e
que depois daquele trágico dia tudo mudou.
Animolity diz que não consegue passar um dia sem pensar
nisso. Diz que aquilo mudou sua vida e que fará o possível
para que acontecimentos como aquele nunca mais
aconteçam.
Animolity diz que a vida é dura e cruel, mas ele pode fazer
com que ela seja muito melhor. Protegendo as pessoas.
7
“Você sabe o que eu acho que é psicótico, Roc? São
homens decentes com famílias amadas. Eles vão para casa
todo dia, após o trabalho, e ligam nas notícias. Você sabe o
que eles vêem? Eles vêem estupradores e assassinos e
molestadores de crianças. Eles estão todos saindo das
cadeias.” (Santos Justiceiros)
Animolity pega uma pedaço de papel com diversos nomes
escritos. Aqui você vê ele, num cemitério, em frente à uma
lápide com um nome e embaixo desse nome está escrito
Desktop.
Animolity pega uma caneta e risca o nome Desktop do
pedaço de papel.
8
“A pobreza é a pior forma de violência.” (Mahatma Gandhi)
Agora você vê Animolity novamente na sala de aula. Agora
você vê o historiador circulando no mapa a cidade de
Alphen aan den Rijn na província da Holanda do Sul, na
Holanda. Depois o historiador cola a foto de Tristan van
der Vlis, em cima, e escreve 2011.
Depois da aula, Animolity está deitado na grama vendo o
pôr do sol. Aqui você o vê ouvindo Maps do Yeah Yeah
Yeahs e pensando sobre sua tarefa. Sacrificar algumas vidas
para salvar milhares. O fim justifica os meios. A sua vida
por outras.
Ele vê que, de um jeito ou de outro, pessoas morrerão e
pessoas viverão. O que cabe a ele é decidir quem deve
morrer e quem deve viver. Ele pensa “Será que vale a pena
viver à custa dos outros? Será que essas pessoas não
passarão o resto das suas vidas vivendo com esse enorme
peso? Como elas conseguirão seguir em frente?”.
9
“De acordo com Aristophanes em “O Banquete” de Platão,
no mundo antigo das ideias havia três tipos de pessoas. Nos
tempos antigos não eram simplesmente masculino e
feminino, mas um dos três tipos: masculino/masculino,
masculino/feminino ou feminino/feminino. Em outras
palavras, cada indivíduo era feito de componentes de duas
pessoas. Todos eram felizes com essa combinação e
ninguém pensava muito sobre isso. Mas então Deus pegou
uma faca e cortou todos em dois, bem no meio. Então
depois disso o mundo foi dividido em masculino e feminino,
o resultado foi que as pessoas passam o tempo tentando
encontrar sua parte perdida.” (Haruki Murakami, Kafka à
Beira-Mar)
Agora você vê Animolity indo para um encontro com uma
garota. Ele lembra que Mega falou que iria marcar este
encontro para ele. Mega disse que a garota era linda e
inteligente; que trabalhava como aqueles doutores do riso,
no mesmo estilo do Patch Adams.
Você vê Animolity esperando na porta do cinema. A garota
disse que se atrasaria, disse que iria direto do trabalho. Ele
disse que não tinha problema nenhum.
Depois de algum tempo, você vê Animolity cumprimentando
uma garota vestida de palhaça antes de entrarem para ver o
filme.
Depois disso a garota está envergonhada e nunca mais quer
ver Animolity de novo.
Depois disso Animolity vai para seu treino teórico. Lá o
historiador circula no mapa a cidade de Oslo na Noruega e
depois a ilha de Utøya, na região de Buskerud, também na
Noruega. Depois coloca o nome Anders Behring Breivik e o
ano de 2011 ao lado.
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“Embaixo dessa máscara há mais do que carne. Atrás dessa
máscara há uma ideia, e Sr. Creedy. Ideias são à prova de
bala.” (Alan Moore, V de Vingança)
Aqui você vê Animolity sentado em cima de uma caixa
d’água junto com seu amigo Mega.
Mega fala que Animolity devia viver. Que as pessoas que
devem voltar ao passado e morrer são as que não merecem
mesmo estar num lugar como esse.
Agora você vê Animolity falando que ele se sacrificará, pois
a alternativa é insuportável. Ele fala que qualquer tipo de
sociedade seria melhor do que uma que vive à custa de
outras pessoas.
Animolity fala que ele percebe isso agora, que ele tem um
plano. Fala que os dois perderam pessoas importantes na
vida e é por isso que eles não podem viver num mundo
assim.
Mega fala que Animolity ajudará mais se continuar vivendo
e lutando.
Agora você vê Animolity entrando na sala de aula. Em
alguns instantes, você vê o historiador circulando a cidade
de Blacksburg localizado na Virginia, Estados Unidos.
Depois ele cola, ao lado, a foto de Seung-Hui Cho e
escreve 2007.
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“Calvin: Haroldo, você acha que a natureza humana é boa
ou má? Quero dizer, você acha que as pessoas são
basicamente boas com algumas tendências ruins, ou
basicamente ruins com algumas tendências boas? Ou, numa
terceira hipótese, você acha que as pessoas são loucas e
quem vai saber porque elas fazem as coisas?” (Bill
Watterson, As Aventuras De Calvin E Haroldo – Tem
Alguma Coisa Babando Em Baixo Da Cama)
Aqui você vê Animolity pensando sobre o assassino dela.
Ele se lembra de que o assassino foi extremamente violento.
Disseram que o assassino acreditava naquilo que estava
fazendo. Era como se ele precisasse fazer aquilo.
Animolity lembra que lhe perguntaram se ele ou ela
possuíam inimigos. Se ele havia feito alguma coisa para
alguém agir desta forma.
Agora você vê Animolity entrando numa casa. Você o vê
apontando uma arma para um homem e fala:
- Elfo, onde você estava no dia da morte dela? Foi você
que a matou?
Agora você vê Elfo dizendo que não, que nunca faria isso.
Elfo diz que havia feito uma cirurgia na época do
assassinato e que pode provar.
Depois que foi comprovado, Animolity pega o papel com
diversos nomes riscados e risca o último nome, Elfo.
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“Algumas pessoas nascem humanas. O resto de nós, leva
uma vida inteira para chegar lá.” (Chuck Palahniuk, Rant)
Aqui você vê a sala de aula. Agora ela tem apenas 20
alunos. O historiador fala que normalmente apenas um terço
dos alunos terminam o curso para prosseguir com a tarefa.
Então o historiador circula no mapa a cidade de Rio de
Janeiro, no estado do Rio de Janeiro, Brasil. Então ele
coloca a foto de Wellington Menezes de Oliveira e o ano de
2011.
Depois Animolity sai da aula e vai para o parque dar uma
volta. Ele vê uma linda garota. Ela sorri para ele. Ele se
aproxima dela e ela fala com ele. Eles fazem sexo. Ele paga
e vai embora.
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“Tudo o que Deus faz é nos assistir e nos matar quando
ficamos chatos. Nós não devemos, nunca, ficarmos chatos.”
(Chuck Palahniuk, Monstros Invisíveis)
No dia do aniversário de sua filha, Animolity passa o dia no
cemitério.
Olhando para as lápides, ele diz que gostaria que em sua
história tivesse o Marty Mcfly e o Biff Tannen, porque
assim tudo acabaria bem. Ele diz que, talvez, poderia ter
até algumas hippies gostosas de Woodstock.
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“Xander: Eu tenho que falar algo, porque eu acho que eu
não fui claro. Eu estou apaixonado por você. Fortemente,
dolorosamente apaixonado. As coisas que você faz, o jeito
que você pensa, o jeito que você se move. Eu fico excitado
todas as vezes que eu vou te ver. Você me faz sentir como
eu nunca me senti antes na vida... como um homem. Eu só
pensei que você gostaria de saber.” (Joss Whedon, Buffy
The Vampire Slayer – Into The Woods)
Animolity diz para si mesmo “Eu sempre achei que alguém
voltaria para salvá-la. Na verdade eu sempre achei que eu
voltaria. Mas ninguém voltou. Não importa. Em alguns dias
tudo acaba. Tudo o que eu queria era viver tranquilamente.
Ninguém decide ser um herói, mas você acaba sendo
quando as coisas estão ruins”.
Animolity se despede de seus amigos e de seu superior.
Agora você vê Animolity se apresentando para sua tarefa e
entrando na máquina do tempo. Então ele pensa “Talvez eu
a veja de novo”.
Ele desaparece.
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“É o coração humano tão egoísta? Por que eles não tentam
vencer sua própria fraqueza e lutam? É como se eles
encontrassem conforto na passividade... Eles preferem ver
outro morrer em seu lugar! - Assim aquele bode levará
sobre si todas as iniquidades deles para uma região solitária
(Levítico 16:22)” (Yukito Kishiro, GUNNM – Angel Of
Redemption)
Aqui você vê Animolity preparando sua nova identidade e
encobrindo os rastros da viagem no tempo, assim todos
pensarão que ele sempre viveu ali por alguns anos.
Fazendo as malas, ele coloca uma Tec-DC9, uma Glock 19,
um revolver calibre .38 e munição à vontade. Ele precisa
verificar tudo duas vezes antes de sair de casa. Não é o
tipo de coisa que ele poderá fazer de novo.
Ele vê que está sozinho. Ele fica pensando que tudo seria
mais fácil com seus amigos, como era no Lost Vikings, mas
ele é o único encarregado dessa tarefa.
No passado ninguém pode suspeitar que a morte de alguém
fará o mundo melhor no futuro.
Então nós vemos a criação de um álibi. Muitas vezes esses
álibis se tornam eventos históricos traumáticos para a
sociedade, fazendo as pessoas se unirem contra um inimigo
em comum e alcançando dois objetivos de uma vez. Impedir
o crescimento de um perigoso ser humano e unir as
pessoas.
Aqui você vê a reviravolta do final, a arma escondida de
Chuck Palahniuk. Algo que, talvez, você não esperava.
Porque são chamamos de Massacre de Columbine, Tiros no
shopping de Alphen aan den Rijn, Atentados de 22 de julho
de 2011 na Noruega, Massacre de Virginia Tech, Massacre
de Realengo. Seguindo em maior escala também são
chamados de Massacre de My Lai, Holocausto, jihad,
Massacre de Nanquim, Genocídio em Ruanda, Massacre de
Haximu.
Mas para eles são chamados de álibis. Eles são os heróis.
A vida perfeita tem um preço.
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“Depois que você morre e é enterrado e fica flutuando seja
lá o lugar aonde nós vamos, qual vai ser a sua melhor
memória da Terra? Qual momento define como é estar vivo
neste planeta. Qual a sua resposta? Falsas experiências
yuppies que você teve que gastar dinheiro, como fazer
rafting em águas brancas ou andar de elefante na Tailândia,
não contam. Eu quero ouvir algum pequeno momento da
sua vida que prova que você realmente está vivo.” (Douglas
Coupland, Generation X: Tales for an Accelerated Culture)
Animolity a observa de longe. Eles só se conheceriam daqui
a alguns anos.
Ele se senta num banco do parque onde ela está brincando.
Ela olha pra ele. Ela sorri.
Animolity levanta e anda para o lado oposto do parque.
Agora ele observa o alvo que deveria eliminar. Uma das
piores pessoas no futuro é, agora, uma criança.
Ele pensa “Pra mim depois da morte você recomeça o jogo
com bônus ou deficiências de pontos com outros grupos de
pessoas, além de ter resquícios de aptidões previamente
trabalhadas. Mas é provável que seja apenas uma esperança
que criei para viver mais feliz. Porque comecei pensando
que tudo acabava no final. Mas aí não conseguia parar de
pensar em como isso era injusto. Em como tinha pouco
tempo para viver uma única vez. E assim não conseguia
fazer tudo o que queria. Resolvi imaginar algo que me
deixasse tranquilo, porque o questionamento incessante de
que não estaria fazendo o melhor que podia me deixava
estressado demais para poder realmente me sentir satisfeito
com a vida. E essa insatisfação me incomodava tanto que eu
acabava perdendo o pouco tempo que eu tinha para viver
pensando em como estava perdendo o tempo que eu tinha,
justamente para viver”.
Ele deveria atirar naquele garoto. A sua tarefa deveria
acabar ali, mas ele percebe que não é o que ela gostaria.
Ele vai embora.
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“Adrian Veidt: Eu me fiz sentir cada morte... ver o rosto de
cada inocente que eu assassinei para salvar a humanidade.”
(Alan Moore, Watchmen)
Aqui você vê Animolity, com as armas em punho, dentro de
um cinema.
Ele atira várias vezes em um garoto esperto. A morte é
instantânea. Depois ele atira em direção às pessoas
correndo para fora do cinema. A maior parte dos tiros
acertam as cadeiras e paredes. Nenhuma pessoa é atingida
em pontos vitais.
Então um segurança entra e dá um tiro na direção de
Animolity, mas erra. O tiro acerta uma garota que estava
entre outros dois garotos.
Animolity se esconde atrás das cadeiras, coloca a ponta da
pistola em baixo do rosto. Ele vê a garota caída no chão.
Ele diz:
- Galoslap to win.
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“Quando o futuro deixou de ser uma promessa para ser uma
ameaça?” (Chuck Palahniuk, Monstros Invisíveis)
Aqui você vê Mega no passado comendo várias putas sem
camisinha antes de fazer a tarefa.
Então ele mata uma mulher e uma criança.
Notas
Essa história é uma metáfora, que diferente de “A Máquina
Do Tempo”, de H. G. Wells, a máquina do tempo vai
apenas para o passado.
Os personagens são diferentes das pessoas em que foram
baseadas, porque eles vivem num mundo diferente do seu.
A história foi escrita porque nós temos que nos colocar no
lugar dos outros. Sempre que alguém julga outra pessoa,
mesmo que seus atos sejam extremos, temos que nos
perguntar por que isso acontece. Normalmente a culpa é de
todos e não apenas do indivíduo.

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