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ARTIGO CONHECIMENTO TÁTICO DECLARATIVO: UMA ANÁLISE NO CAMPEONATO BRASILEIRO DE SELEÇÕES MASCULINAS JUVENIS DE VOLEIBOL Cláudio Olívio Vilela Lima1 Cristino Júlio A. da S. Matias1 Fernando Lucas Greco1 Pablo Juan Greco1 RESUMO Os aspectos estratégico-táticos têm vital importância no rendimento esportivo, com o conhecimento tático teórico (CT) ocupando um lugar de destaque, pois nos Jogos Esportivos Coletivos (JEC) toda ação origina uma tomada de decisão (TD), em que o conhecimento declarativo (CD) é relacionado ao campo das regras do jogo, à localização dos jogadores em quadra, aos objetivos e às submetas do jogo. O objetivo deste estudo foi verificar a importância do CT no resultado final do Campeonato Brasileiro Masculino de Seleções Estaduais de Voleibol Divisão Especial Juvenil, bem como verificar se há diferenças entre as posições de jogo e o nível de conhecimento tático (CT). A amostra foi composta por 53 atletas, que realizaram o teste de “Conhecimento Tático Declarativo em Situação de Ataque de Rede no Voleibol”, desenvolvido e validado por Paula (2001). Os resultados permitem inferir que a amostra foi homogênea, obtendo-se valores no CT de: RS (66,55%), SP (69,00%), RJ (68,45%), SC (67,36) e PE (64,00%). Os resultados evidenciam que os atletas possuem alto nível de TD, mas um CD razoável, demonstrando que eles sabem “o que deve ser feito”, mas não conseguem explicar o porquê de tal decisão. No que se refere ao CT, por posição de jogo, pode-se inferir que a posição líbero (74,4%) apresentou melhor CT em relação às outras posições: ponta/saída (65,6%), levantadores (63,3%) e meios-de-rede (70,2%). Esse fator demonstra melhor capacidade deste jogador em analisar o ataque adversário e a especialização no treinamento de cada jogador. Palavras-chave: conhecimento tático, voleibol, categoria juvenil. 1 EEFFTO / UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 135 INTRODUÇÃO O comportamento dos jogadores é determinado pela interação complexa de fatores psíquicos, físicos, técnicos e táticos. As atividades nos Jogos Esportivos Coletivos (JEC) são ricas em situações imprevistas às quais o indivíduo que joga tem que responder de forma veloz e adequada (GARGANTA, 1995). Diferentemente da maioria dos JEC, no voleibol, os espaços não são compartilhados pelas duas equipes para a realização das jogadas, e o número de contatos com a bola é limitado tanto para o atleta quanto para a equipe (PAULA, 2001). No ataque, Paula (2001) afirma que o jogador está permanentemente pressionado pelo tempo, pelo bloqueio adversário e pelo risco do erro. O fato de ser de milésimos de segundos o tempo de contato do atleta com a bola reforça ainda mais a importância do conhecimento tático como fator preponderante para o desenvolvimento de um atleta de alto nível. O conhecimento tático teórico (CT) é definido por Greco et al. (1998) como: “saber internalizado inerente à adequada operacionalização das respostas a problemas tarefas que a situação impõe”. A interação entre a capacidade de tomada de decisão (TD) e o conhecimento declarativo (CD), ou seja, o porquê de tal ação, determina o CT do atleta. Greco et al. (2004) relatam que, para o desenvolvimento de um atleta inteligente, taticamente é necessário o ensinoaprendizagem-treinamento da criatividade tática. Nos JEC, ação é sinônimo de TD, pois cada situação requer uma nova solução (COSTA et al., 2002). As ações são sempre realizadas em curto espaço de tempo, com alto nível de estresse e devem ser alteradas a todo o momento, exigindo alto grau de atenção e concentração; além disso, as decisões presentes influenciam as ações futuras (SERENINI,1997). O CD é relacionado ao campo das regras do jogo, à localização dos jogadores em quadra, aos objetivos e às submetas do jogo (BIANCO, 1999), bem como a estratégias básicas de ataque e defesa (THOMAS et al., 1986, citado por COSTA et al., 2002). Matias et al. (2004) definem o CD como um conhecimento teórico relacionado à dimensão do “o que fazer”, consciente e passível de ser declarado, além de citar que o conhecimento processual constitui a realização de um comportamento, ou seja, “como fazer”. 136 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 Os objetivos deste estudo foram determinar a importância do conhecimento tático teórico (CT) no resultado final do Campeonato Brasileiro Masculino de Seleções Estaduais de Voleibol Divisão Especial Juvenil e verificar se há diferenças entre as posições de jogo e o conhecimento tático (CT). MÉTODOS Instrumento Aplicou-se o teste de “Conhecimento Tático Declarativo em Situação de Ataque de Rede no Voleibol” (PAULA, 2001). Na aplicação do teste utilizou-se um DVD da marca Cyber Home modelo CH-DVD-300 e um aparelho de Data Show modelo Lightware Legend LS-8. O teste é composto por 19 cenas de jogadas de ataque de rede, sendo cinco jogadas de exemplo sete de primeiro tempo, jogadas de bola rápida, e sete de terceiro tempo, ataques de entrada ou saída de rede. Cada jogada se inicia com o saque do time adversário, havendo a recepção e o levantamento; no momento do ataque a imagem é parada, deixando um tempo de cinco segundos para que o avaliado verifique os sinais relevantes – após esse tempo a imagem é interrompida por um fundo preto. Após a apresentação de cada cena, os avaliados têm o tempo necessário para responder entre duas opções: atacar ou largar (TD), para em seguida justificar (CD) o porquê de tal decisão. A pontuação por questão abrange 10 pontos para cada acerto nas TD e 5, 6 ou 10 pontos em cada justificativa correta (CD). A pontuação máxima do teste para CT é de 280 pontos, e para TD e CD, de 140 pontos. Os avaliados ainda responderam um questionário contendo questões relacionadas a tempo de prática na modalidade voleibol, altura e posição que atua. Amostra A amostra foi composta por 53 atletas participantes do Campeonato Brasileiro de Seleções Masculinas de Voleibol da Divisão Especial. Na Tabela 1 é apresentada a classificação final no R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 137 campeonato, o número de atletas participantes, a altura média das equipes e a média do tempo de prática em voleibol dos participantes. Tabela 1- Caracterização das equipes. Seleções Rio Grande do Sul - RS São Paulo - SP Rio de Janeiro - RJ Distrito Federal Santa Catarina - SC Minas Gerais Pernambuco - PE total Posição N. º atleta Final 1º 09 2º 12 3º 12 4º 5º 10 6º 7º 10 53 Altura – cm Tempo de Prática – anos Média SD Média SD 191 8.1 6.3 2.5 196 5.1 6.4 2.5 192.5 6.0 5.3 2.6 Não avaliado 194 6.5 4.5 2.0 Não avaliado 189 10.0 4.8 2.5 - RESULTADOS Na tabela 2 é demonstrado o CT declarativo das equipes. A equipe campeã, RS, obteve 66,55% de aproveitamento do teste de CT, sendo inferior à segunda, terceira e quarta colocadas: SP (69,00%), RJ (68,45%), SC (67,36%), respectivamente. A pontuação no CT da equipe campeã (RS) foi superior apenas a de PE (640%). Tabela 2 - Conhecimento tático declarativo das equipes Seleções RS SP RJ SC PE Posição Final 1º 2º 3º 5º 7º N. º atleta 09 12 12 10 10 Soma Média 1677 2314 2300 1886 1791 13.31 13.77 13.70 13.47 12.80 % de pontos obtidos no CT 66,55 69,00 68,45 67,36 64,00 O melhor resultado por equipe na TD foi do RJ, que obteve 81,5% de aproveitamento, enquanto o menor foi da equipe de SP, que alcançou 76,0% da pontuação do teste (Tabela 3). Tabela 3 - Tomada de decisão das equipes Seleções RS SP RJ SC PE 138 Posição Final 1º 2º 3º 5º 7º N. º atleta Soma Média 09 12 12 10 10 1000 1270 1370 1090 1090 8,0 7,55 8,15 8,0 8,0 % de pontos obtidos no TD 79,4 76,0 81,5 78,0 78,0 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 As porcentagens de acertos são maiores que as encontradas por Greco et al. (2002), os quais verificaram o melhor resultado da equipe de SC, com 69% do teste. Esse número nos possibilita inferir que a continuidade do processo ensino-aprendizagem-treinamento, incluindo neste a participação em seleções estadual ou nacional, contribui para a continuidade no desenvolvimento da capacidade de TD. A Tabela 4 apresenta os dados obtidos por cada equipe no quesito CD. A equipe de SC obteve o melhor resultado, com 57% de acertos, enquanto a de PE obteve a menor porcentagem, com 50,1% de acertos. Comparando os dois fatores que compõem o CT declarativo (a TD e o CD), pode-se inferir que na amostra obteve-se um desempenho na TD de 79%, em média; já o CD foi de 54% de aproveitamento, em média. Isso demonstra que os atletas sabem “o que deve ser feito”, mas não apresentam conhecimento para explicar o porquê de tal decisão. Esse resultado também foi confirmado por estudos de Greco et al. (2002) e Matias et al. (2004). Tabela 4 - Conhecimento declarativo das equipes Seleções RS SP RJ SC PE Posição Final 1º 2º 3º 5º 7º N. º atleta Soma Média % de pontos obtidos no CD 09 12 12 10 10 677 908 930 796 701 5,4 5,4 5,5 5,7 5,0 53,7 54,0 55,4 57,0 50,1 Analisando e comparando os dados com os relatados por Greco et al. (2002), pode-se inferir uma evolução no CT declarativo por categoria. Os autores citados apresentaram – em pesquisa realizada em 2002, com jogadores na faixa etária entre 11 e 14 anos – o seguinte resultado no teste de CD: SP (17%), SC (42%) e PE (23%). A amostra do presente estudo apresentou um resultado de SP (54%), SC (57%) e PE (50.1%). O CT declarativo por posição de jogo descrito na Tabela 5 descreve que os líberos conseguiram a melhor porcentagem por posição de jogo: 74,4%, enquanto os levantadores obtiveram os menores valores: 63,3%. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 139 Tabela 5 - Conhecimento tático por posição de jogo Posições N. º atleta Soma Média Líbero Ponta/Saída Levantador Meio 4 23 12 13 833 4225 2128 2556 15,0 13,0 13,0 14,0 % de pontos obtidos no CT 74,4 65,6 63,3 70,2 A Tabela 6 demonstra que o líbero obteve o maior resultado: 84% de aproveitamento na TD, enquanto o levantador conseguiu 74%. Tabela 6 - Tomada de decisão por posição de jogo Posições N. º atleta Soma Média Líbero Ponta/Saída Levantador Meio 4 23 12 13 470 2530 1240 1450 8,4 8,0 7,4 8,0 % de pontos obtidos no TD 84 79 74 80 Analisando a Tabela 7, verifica-se uma diferença entre os levantadores, ponta/saída e meio-de-rede, com média de 5,3 e o líbero, com média de 6,5. Esse fato pode demonstrar uma diferença nas posições de treinamento de cada jogador. Tabela 7 - Conhecimento declarativo por posição de jogo Posições N. º atleta Soma Média Líbero Ponta/Saída Levantador Meio 4 23 12 13 363 1695 888 970 6,5 5,3 5,3 5,3 % de pontos obtidos no CD 65 53 53 53,3 CONCLUSÕES Pode-se inferir que o CT apresentado na amostra foi homogêneo, não se registrando grandes diferenças entre as equipes participantes. Este parâmetro, portanto, não influenciou a ordem da classificação final das equipes no campeonato. O CT deve ser compreendido como uma variável que se relaciona com outras dentro do rendimento esportivo; os atletas possuem alto nível de TD, mas um CD razoável, 140 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 demonstrando que eles sabem “o que deve ser feito”, mas não conseguem explicar o porquê de tal decisão. No que tange ao CT correlacionando com as posições, verificouse que a posição líbero apresentou melhor CT em relação às outras posições. Esse fato pode demonstrar uma especialização no treinamento de cada jogador no alto nível de rendimento; o líbero, um jogador específico de defesa, é o que melhor avalia a tomada de decisão do atacante entre todos os jogadores. REFERÊNCIAS BIANCO, M. A. Importância da capacidade cognitiva no comportamento tático dos Esportes Coletivos: uma abordagem no basquetebol IN 1º Prêmio INDESP De Literatura Esportiva V 2 Brasília, 1999. COSTA, J. C.; GARGANTA, J.; FONSECA, A.; BOTELHO, M. Inteligência e conhecimento específico em jovens futebolistas de diferentes níveis competitivos. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Porto, v. 2, n. 4, 2002. GARGANTA, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: O ensino dos jogos desportivos: 11-25.GRAÇA, Amândio; OLIVEIRA, José (Eds.).Portugal: CEJD / FCDEF-UP. 2ª ed. 1995. GRECO, P. J.; ROTH, K.; SCHORES, J. Ensino-aprendizagemtreinamento da criatividade tática nos jogos esportivos coletivos. In: LEMOS, K. L. M.; SILAMI GARCIA, E. (Org). Temas atuais em educação física e esportes. Escola de Educação Física. UFMG. Belo Horizonte: Health, 2004. GRECO, P. J.; BASTOS, A. A.; NOVELI, E. B.; FERREIRA FILHO E.; NOCE, F.; PAULA, P.; SOUZA, P. R. C.; COSTA, V. T. Análise do nível de conhecimento tático voleibol, handebol, futsal: resultado da avaliação dos jogos da juventude-1997. Brasília: Publicações INDESP, 1998. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 141 GRECO, P. J.; CANABRAVA, C. M.; CASTRO D’ÁVILA, R. C.; FERREIRA FILHO, E.; GOMES, M. V. C.; MIRANDA, G.; PEREIRA LIMA, C.; SANTOS DE OLIVEIRA, M.; SILVA, S. A; OLIVEIRA JUNIOR, T. F.; COELHO DE SOUZA, P. R.; PENA COUTO, B. MATIAS DA SILVA, C. J. A; CAMPOS, P. Análise do nível de conhecimento e rendimento técnicotático. In: SILAMI GARCIA, E.; MORAES, L. C. (org).Olimpíada Colegial Jogos da Esperança 2001 - Poços de Caldas - MG: Resultado das avaliações.CENESP/UFMG. Poços de Caldas: 2002. MATIAS, C.; GIACOMINI, D.; GRECO, P. Conhecimento tático no voleibol: fator determinante ou não para se estar na seleção brasileira de voleibol?. Revista Portuguesa, Porto, v. 4 n. 2, 2004. PAULA, P. Processo de validação de teste para avaliar a capacidade e o conhecimento declarativo no voleibol: situações de ataque de rede., 2001. Dissertação (Mestrado em Ciência do Treinamento Desportivo) - Escola de Educação Física da UFMG, Belo Horizonte SERENINI, A. L. P. Tomada de decisão no esporte. In: GRECO, P. J.; SAMULSKI, D. M.; CARAN JUNIOR, E. (Org). Temas atuais em Educação Física e esportes. Escola de Educação Física. UFMG. Belo Horizonte: Health, 1997. [email protected] 142 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 135-142, 2005 ARTIGO ANÁLISE CINEMÁTICA DA TÉCNICA BANDAL CHAGUI ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE FOTOCÉLULAS André Augusto Del Rio Soares1 Daniela Coelho Zaza1 Carlos Eduardo Campos1,2 RESUMO O objetivo deste estudo foi apresentar uma proposta de análise da técnica de ataque Bandal Chagui, através de variáveis cinemáticas, determinando o padrão do tempo e da velocidade de movimento dos membros inferiores de atletas de Taekwondo de alto nível. A amostra foi composta por 11 atletas de taekwondo de nível internacional do sexo masculino, com idade media de 24,2 (± 3,1), massa corporal média de 63,7 (± 4,5 kg) e estatura média de 176,1 (± 6,7 cm). Através de um sistema de fotocélulas adaptado, foram determinados o tempo e a velocidade de execução do Bandal Chagui. Os resultados obtidos mostram que é possível determinar o tempo (m) e a velocidade (m/s) de membros inferiores na execução da técnica Bandal Chagui. Foi possível também concluir que não houve diferenças significativas entre o tempo e a velocidade de execução entre os membros direito e esquerdo. Palavras-chave: Bandal Chagui, velocidade, biomecânica. INTRODUÇÃO Na prática esportiva, os padrões de movimento são influenciados por variáveis cinemáticas, que podem ser visualizadas pela velocidade no início, no decurso ou no final do movimento. Essa variação está associada a fatores como a qualidade técnica, a força muscular, a coordenação intra e intermuscular especificidade e os fatores psicológicos (SIFF, 2004). Em modalidades que envolvem artes 1 2 Centro Universitário UNIBH/DCBAS-EF, Belo Horizonte, MG, Brasil. Universidade de Itaúna/Curso de Educação Física, ITAÚNA, MG, Brasil. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 143-149, 2005 143 marciais, como taekwondo, a velocidade de movimento é um fator decisivo para o aumento da potência e conseqüentemente para rendimento do atleta na execução das técnicas durante o combate (COMITÉ OLÍMPICO ESPANHOL, 1993). Dessa forma, um estudo do padrão cinemático das técnicas inerentes ao taekwondo se faz necessário para que se possa controlar e direcionar melhor o treinamento tanto técnico quanto tático. Neste estudo, será analisado o Bandal Chagui, uma das cinco técnicas de ataque mais freqüentes em competições (Fig. 1). Figura 1 – Representação gráfica da técnica Bandal Chagui (chute sendo realizado com o membro inferior direito) (COMITÉ OLÍMPICO ESPANHOL, 1993). Objetivo O objetivo deste estudo foi apresentar uma proposta de análise da técnica de ataque Bandal Chagui através de variáveis cinemáticas, determinando o padrão do tempo e da velocidade de movimento dos membros inferiores de atletas de taekwondo de alto nível. MATERIAL E MÉTODOS A amostra foi composta por 11 atletas de taekwondo de nível internacional do sexo masculino, com idade média de 24,2 (±3,1), massa corporal média de 63,7 (±4,5 kg) e estatura média de 176,1 (±6,7 cm). A participação foi efetuada de forma voluntária e após um consentimento livre e esclarecido. 144 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 143-149, 2005 Instrumento Para a medição do tempo de execução da técnica de ataque Bandal Chagui foram adaptadas duas fotocélula (Fig. 2), em que A representa a posição da primeira fotocélula colocada horizontalmente em relação ao solo, sobre um suporte móvel de 10 cm de altura. O ponto B mostra o local da segunda fotocélula, colocada perpendicularmente ao solo. O ponto C representa a finalização do golpe sobre uma raquete (final da trajetória do pé) que determina a altura do chute. O instrumento de medição foi instalado sobre uma área quadriculada, com escala em centímetros, para facilitar a reprodução da posição inicial de cada indivíduo avaliado (Fig. 3). Dessa forma, os atletas tinham suas posições de base individuais registradas, permitindo maior confiabilidade entre as medições. Figura 2 - Modelo esquemático do instrumento de medição da velocidade. Figura 3 - Área quadriculada para registro da base individual (vista superior). Forma de medição da velocidade Sobre a área quadriculada, partindo da posição inicial do Bandal Chagui, o pé que realizava o chute era colocado imediatamente atrás R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 143-149, 2005 145 da fotocélula A (o hálux era colocado sob o feixe de luz da fotocélula) e o pé de apoio posicionado à frente, formando a “base de luta”. Após esse procedimento, os avaliados realizavam um golpe para estimar a distância de A até C. A altura individualizada da raquete (ponto C) era de acordo com a altura do esterno de cada avaliado, visto que este ponto anatômico fica na direção da região procurada no oponente durante um combate. Partindo dessas medições foi possível então fixar a distância percorrida pelo pé que realizava o chute, utilizando o teorema de Pitágoras (Fig. 4) para calcular a distância de A até C (h2= a2 + b2). Após a determinação da distância percorrida pelo pé de cada avaliado, foi então calculada a velocidade (v=d/t), utilizando o tempo fornecido pelas células fotoelétricas. Os testes foram realizados em dois dias. No primeiro houve uma familiarização com o procedimento e, no segundo, foram realizadas três tentativas (com um intervalo de um minuto entre elas) com ambas as pernas. Figura 4 - Esquema ilustrativo do cálculo a partir do teorema de Pitágoras. Procedimento estatístico Para análise e interpretação dos dados foram aplicados a estatística descritiva, teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov e, para comparação entre os tempos e a velocidade, um test t pareado. Foi utilizado o pacote estatístico SPSS 11.0 for Windows. RESULTADOS A Tabela 1 são apresentados os valores médios do tempo (ms) gasto para realização do Bandal Chagui de ambos os membros inferiores. 146 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 143-149, 2005 ARTIGO O ESPORTE COMO MEIO DE PROMOÇÃO DA CONVIVÊNCIA Ana Claudia Porfírio Couto Katia Lúcia Moreira Lemos Resumo A importância do esporte, como contribuição para a formação humana, pode ser compreendida a partir da pluralidade de sentidos existentes nas suas várias manifestações. Este trabalho objetivou apresentar uma reflexão acerca das contribuições do esporte na promoção da convivência. A pessoa de que trata Patrício (1993) é o ser humano integrado com a sua sociedade, pleno de consciência e dotado de desejos e práticas. O esporte é, portanto, o conteúdo da Educação Física que, pela sua pluralidade de sentidos, pode se manifestar na escola, nos clubes, nas academias, nas ruas e em qualquer ambiente da sociedade. A pluralidade de sentidos e manifestações do esporte tira dele as características únicas, sistêmicas, transformando-o em decorrência dos valores de quem o pratica e, assim, transpondo-o a uma interface multicultural com a sociedade. A educação há de sempre humanizar, fazendo a pessoa mais valiosa na sua dimensão individual e social; ela deve integrar o prazer e o esforço, unindo valores que façam parte da modernidade. Deve-se saber relacionar o esforço e o prazer, a ética e a estética, o presente e o passado, a festa e o trabalho, o quotidiano e o permanente. Portanto, deve-se perceber que não existe um consenso que possa prever um único caminho no que diz respeito ao tipo de atividade física e esportiva da Educação Física. Contudo, não se pode deixar de evidenciar os aspectos relacionados com a imagem corporal e o valor social que esta imagem tem na época atual; tampouco deixar de considerar que só haverá uma educação para a mudança quando os valores que as crianças e os jovens vierem a adquirir forem aqueles que os converterão em pessoas conscientes da realidade em que vivem, críticas e comprometidas com uma ação transformadora para uma humanidade melhor. Palavras-chave: pessoa-humana, esporte, convivência. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte - MG. 1 150 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 Visão introdutória Falar do esporte, viver o esporte, praticar o esporte na sociedade atual significa, grosso modo, abrir as portas para a formação humana, como também possibilitar o engrandecimento pessoal e social daqueles que nele está envolvido. A importância do esporte, como contribuição para a promoção da convivência, se dá, a nosso ver, pela pluralidade de sentidos existentes nas suas várias manifestações. A pluralidade característica do esporte é também representada na pessoa humana. Como disse Fermoso (1985), “o homem é um ser plural, polifacético, que pode realizar-se de múltiplas maneiras”. Nesse sentido, pode-se compreender a abrangência do esporte como um patrimônio cultural da humanidade, ou seja, “algo criado, transmitido e transformado através dos tempos” (TANI, 2000). Através de uma leitura da pluralidade do esporte e da pluridimensionalidade da pessoa humana, busca-se tecer uma reflexão acerca das contribuições do esporte na promoção da convivência das pessoas. A pessoa humana Definir a pessoa é, para Gervilla (1989), tratar da sua dignidade, da sua espiritualidade, da sua independência, da sua comunicação, da sua liberdade, da sua adesão a uma hierarquia de valores. “A construção da pessoa – tanto individual como coletivamente, tanto ao longo da vida como ao longo da história – aparece-nos como a finalidade mais elevada da promoção da cultura. Ou seja: não somos capazes de compreender a construção da pessoa senão como a construção do ser humano cultural” (PATRÍCIO, 1993).Entende-se que envolve falar do que é concreto, real, subjetivo. A pessoa tem um valor absoluto e não relativo, existe como fim. A pessoa humana não é um objeto; para MOUNIER (2004), tratase de uma realidade indefinível: “A pessoa é a única realidade que conhecemos e que, simultaneamente, construímos de dentro”. Enquanto objeto, não haverá interação do homem com a sociedade e não se fará presente a totalidade que se trata de captar. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 151 A pessoa de que trata Patrício (1993) é o ser humano integrado com a sua sociedade, pleno de consciência e dotado de desejos e práticas. Esta pessoa, designada enquanto sujeito consciente e racional, deve ser “capaz de distinguir o bem do mal, o verdadeiro do falso, e podendo responder pelos seus atos ou pelas suas opções”. (ÉLISABETH et al., 1994). Nesse sentido, a pessoa humana é mais que “sujeito de direitos, é o direito” (CARVALHO, 1999), seja na sua relação civil, social ou política. É, portanto, considerada um cidadão. Ser cidadão é saber representar-se e representar outrem, significa um ato de convivência. A pessoa humana, então, envolve mais sentidos que os conceitos possam designar, mas é exatamente essa complexidade humana que distingue o homem dos outros seres. O esporte Afirmar que o esporte é considerado um dos grandes acontecimentos sociais e culturais dos tempos modernos não constitui qualquer originalidade. Nos últimos anos, assiste-se a uma radical mudança do esporte, a ponto de uma simples comparação entre o seu passado recente e o seu presente poder criar a ilusão de que se está diante de dois fenômenos distintos. Mas não, a sociedade encontra-se perante um mesmo fenômeno, que, como todos os fenômenos sociais, é historicamente condicionado e culturalmente determinado. Segundo Constantino (1990), “o espetáculo desportivo é uma espécie de esperanto, é uma linguagem universal, falada e compreendida por todos os povos, de todas as nações, independentemente dos seus fundamentos políticos, raciais ou religiosos”. O esporte é claramente objetivo, pois, ao definir vencedores e perdedores, não permite a subjetividade, embora, muitas vezes, dependa da subjetividade do avaliador, ou mesmo do próprio esporte, no caso de muitas atividades ditas informais. Ele também se rege pelo sentido de dever cumprido, além de apresentar uma relação harmoniosa com o seu passado, projetando-o para o futuro, mas mantendo fidelidade a seus valores. Segundo Costa (1990), “o desporto moderno, nascido em um momento que a sociedade conhecia uma das maiores crises da sua história, vive desde sua infância as contradições e o mal estar da 152 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 sociedade que o produziu”. Pelos seus símbolos e pelos temas mitológicos que celebra, o esporte fornece ao homem e à sociedade um cenário existencial exemplar particularmente significativo. O esporte tornou-se, nas últimas décadas, uma atração crescente para inúmeras pessoas. De acordo com Bento (1999), “a adesão à sua prática não tem parado de crescer e não encontra comparação com qualquer outra prática social, tirando a do trabalho”. Com a chegada e a expansão da era do estilo de vida, os índices de opção pelo esporte atingiram uma expressão impressionante. O conceito de esporte, atualmente, transcende as especificações das atividades formais, regulamentadas e reconhecidas através de suas competições oficiais. O esporte está inserido na multiplicidade das ações, seja no jogo informal dos finais de semana, ou na ginástica das academias, ou nas caminhadas ecológicas, ou na dança de salão da terceira idade, ou nas brincadeiras nas praças públicas. O esporte tem espaço para receber toda a gente, sem limites etários ou sociais, com objetivos de alto rendimento ou não, atuando com pessoas normais, dentro dos conceitos de saúde, ou com necessidades especiais. O esporte é, portanto, o conteúdo da Educação Física que, pela sua pluralidade de sentidos, pode se manifestar na escola, nos clubes, nas academias, nas ruas e em qualquer ambiente da sociedade, sendo reconhecido como promotor da saúde, da educação e da formação humana. Sua representatividade pode se dar formalmente, como transmissão de conhecimentos sistematizados e regras predefinidas, ou, ainda, informalmente, como bem cultural e prazer de quem o pratica. A pluralidade de sentidos e manifestações do esporte tira dele a característica única, sistêmica, transformando-o em decorrência dos valores de quem o pratica e, assim transpondo-o a uma interface multicultural com a sociedade. As contribuições do esporte para a promoção da convivência: considerações finais As informações que seguem neste tópico fazem parte do projeto de pesquisa das autoras, que está sendo desenvolvido com professores e com alunos das escolas de ensino fundamental e médio de Belo Horizonte e participantes do Projeto Guanabara (Projeto social da Escola R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 153 de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG). Os parágrafos utilizados fazem parte das falas de alguns entrevistados. Tanto os alunos quanto os professores abordaram em seus discursos a importância da convivência harmoniosa, respeitosa e fundamental para o bom desempenho das atividades. Os valores da convivência, do conviver principalmente no aprendizado. A convivência e a criticidade. (Ent Prof: 2 – 111) Ajudam a gente a aprender a conviver. (Ent A: 1 – 16) A convivência social iluminada pela prática esportiva amplia os laços de amizade, iniciando, conseqüentemente, o processo de socialização. Giddens (2002) se refere ao processo de socialização como um elo entre as gerações, sendo ponto de partida ou fortalecedora da convivência: Antes eu nem conversava com meu pai, nem com minha mãe, agora eu converso. (Ent A: 2 – 8) Não se pode comparar a socialização a uma programação cultural, mas, pode-se perceber a importância dos relacionamentos culturais no processo de transformação de crianças “supostamente indefesas” (GIDDENS, 2002) em pessoas autoconscientes, com saberes e capacidades. ...,valorização da qualidade de vida, da saúde, valorização do bom convívio social do bom desenvolvimento do grupo, enquanto desenvolvimento social, a valorização da cultura e dos costumes regionais. (Ent Prof: 1 – 9) Tratando ainda da contribuição das aulas de Educação Física para o processo de convivência, nota-se que, além da família, os laços vêm sendo estendidos para os colegas e professores: Eu aprendo a conviver com as pessoas. (Ent A. 2 – 25) Eles se manifestam intimamente na relação aluno com o professor, ele está vivenciando um momento em que ele tem que aprender a viver no conjunto, saber participar de uma maneira bastante efetiva e boa de certa forma. (Ent Prof: 2 -3) Tentando atender aos novos valores sociais, as práticas esportivas foram alterando suas formas de atuação, a fim de alcançar 1 Entrevista realizada com Alunos: A. Entrevista realizada com professor: P. 1 significa o número da questão e 11 significa o número do entrevistado, assim sucessivamente. 154 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 ora os valores estéticos, ora os valores do prazer. E a prática esportiva desenvolvida na escola? Será que ela está atenta à transformação desses valores sociais? Será que os conteúdos programáticos desenvolvidos nas aulas de Educação Física atendem aos valores da imagem e do prazer? Será que estes são valores fundamentais da educação? As questões apresentadas não podem ter respostas simplistas, pois inseridas em cada uma delas estão discussões que envolvem diversidades culturais, sociais e conceituais. A criança e o jovem passam a maior parte de seu tempo dentro da escola, razão pela qual esta tem papel fundamental em relacionar os valores com o desenvolvimento pessoal. Por isso, segundo Garcia e Queiroz (2001), “atribuir pouca importância à perspectiva do prazer e da satisfação pessoal nos conteúdos curriculares é sem dúvida caminhar em sentido oposto ao que a sociedade envolvente preconiza em termos axiológicos”. De acordo com Gervilla (1997), “educar na pós-modernidade, é educar no bem e na felicidade, cuja consecução consiste na possessão dos seus valores: educar no relativismo do ser, da razão e do valor: no presente, o momentâneo, o quotidiano: no esteticismo ou no individualismo hedonista e narcisista. A educação há de sempre humanizar, fazendo a pessoa mais valiosa na sua dimensão individual e social”. Ainda segundo o mesmo autor, a educação deve integrar o prazer e o esforço, unindo valores que façam parte da modernidade. Deve-se saber relacionar o esforço e o prazer, a ética e a estética, o presente e o passado, a festa e o trabalho, o quotidiano e o permanente. Deve-se, portanto, perceber que não existe um consenso que possa prever um único caminho no que diz respeito ao tipo de atividade física e esportiva da Educação Física. No entanto, não se pode deixar de evidenciar os aspectos relacionados com a imagem corporal e com o valor social que esta imagem tem na época atual. Pode-se considerar que só haverá uma educação para a mudança quando os valores que as crianças e os jovens vierem a adquirir forem aqueles que os converterão em pessoas conscientes da realidade em que vivem, críticas e comprometidas com uma ação transformadora para uma humanidade melhor. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 155 REFERÊNCIAS BENTO, J.; GARCIA, R.; GRAÇA, A . Contexto da pedagogia do esporte – perspectivas e problemáticas. Lisboa: Livros Horizontes, 1999. CARVALHO, O. Para uma teoria da pessoa humana. In: Fundação Engenheiro António de Almeida. O homem e o tempo. Porto, 1999. p. 526 – 545. CONSTANTINO, J. M. O valor cultural e ético do espetáculo desportivo na sociedade contemporânea. In: Desporto, ética e Sociedade. Porto, 1990. Actas, FCDEF – UP, 1990. COSTA, A. Repensar a questão ética à luz do fenômeno desportivo moderno. Desporto, Ética e Sociedade. Porto, 1990. Actas, FCDEF – UP, 1990. ÉLISABETH, C. et al. Dicionário prático de filosofia. 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[email protected] [email protected] 156 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 150-156, 2005 ARTIGO ESTUDO COMPARATIVO DAS LESÕES OSTEOMUSCULARES E DESVIOS POSTURAIS ENTRE ATLETAS QUE FAZEM RESPIRAÇÃO BILATERAL E UNILATERAL Melina Branco Barbosa Correa RESUMO A respiração bilateral freqüentemente é tratada por atletas técnicos e professores como uma habilidade importante, mas nem todos afirmam categoricamente sua validade. Autores diversos afirmam sua importância, porém há dúvida quanto à capacidade de adquirir esta habilidade já no aprendizado.Assim, optam por permitir que o aluno defina seu lado de preferência, ensinando a respiração unilateral. A comparação entre bilateral e unilateral não indicou fatores contraditórios para a primeira, a não ser os decorrentes das dificuldades de aprendizado ser unilateral e ser automatizado desta forma. Os dados encontrados na pesquisa de campo indicaram uma incidência maior de lesões e desvios posturais nos nadadores que executam a respiração unilateral. Finalmente, entende-se que a iniciação da respiração na natação é o diferencial entre a possibilidade ou não de se executar a respiração bilateral, citada e reconhecida por todos como necessária, mas lembrada como uma dificuldade exatamente por não ter sido aprendida e fixada no aprendizado. Palavras-chave: respiração bilateral, respiração unilateral, lesões. INTRODUÇÃO Os problemas posturais, como as dores no ombro, podem estar relacionados ao tipo de respiração utilizada, devido à predominância lateral. É importante que se promova um equilíbrio corporal na prática da natação. Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar a influência do tipo de respiração na morfologia do atleta. UNIFMU - São Paulo - SP - BRASIL. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 157-162, 2005 157 Os estudos: Análise das implicações da respiração unilateral no estilo sobre a coluna vertebral, de Braga,G.W. -; A relação do tipo de respiração no nado crawl com o padrão postural do nadador master de águas abertas, de Bertoncini (2001); Natação muda postura de atleta, de Lobo (1995) e Análise das implicações da respiração unilateral no nado crawl sobre a coluna vertebral, de Braga (1997), apresentam resultados positivos quanto à relação entre respiração unilateral e o aparecimento de desvios posturais. REVISÃO DE LITERATURA Shaw e D’angour (2001) definem bem a importância da respiração ao citar este provérbio: “A respiração é a dobradiça que abre e fecha a porta da vida”. Das discordâncias a respeito do tipo de respiração a ser utilizado, alguns professores afirmam que é melhor respirar para o mesmo lado todas às vezes, enquanto outros ensinam a respirar por cada terceira braçada, 3x1. No entanto,Idorn (1974) acredita que “isto é demasiado complicado para principiantes mas afirma que atletas têm vantagens na visualização de sua prova neste tipo de respiração”. Também sugere que se deixe a criança definir para que lado a cabeça quer virar. Gambril (1975) afirma “Minha única recomendação consiste que o nadador comece logo a respirar dos dois lados, de preferência, num esquema alternado”. O autor sugere uma opção para se manter a simetria no caso do nadador que não consegue realizar a respiração alternada: uma “falsa” respiração, que consiste em rodar a cabeça além da linha mediana do corpo para o lado que não respira, o que permitira a manutenção da simetria e a mais fácil recuperação do braço. Steven e Armand (2001) aconselham o aprendizado pelo lado mais fácil, mas enfatizam a importância da simetria no seu corpo.Sugerem então que, depois de aprender o lado mais fácil, devese iniciar o outro lado, lembrando que a grande dificuldade é que neste caso o rolamento do quadril não acontece naturalmente, não permitindo um espaço suficiente para respirar confortavelmente. Maglischo (1999) afirma que “ os movimentos da cabeça devem ser coordenados com o rolamento do corpo para que seja reduzida a tendência que os nadadores têm de levantar sua cabeça para fora d’água 158 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 157-162, 2005 para dar uma respirada”.Isso vem reforçar a importância do rolamento do corpo na respiração, o que vai indicar uma assimetria no caso de se utilizar a respiração bilateral. Arroyo (1968) acredita na unidade funcional que deve construir o exercício natatório. Todas as funções e movimentos integrados devem ter como objetivo uma só maneira coordenada e também uma íntima relação de intensidade e amplitude. Não é de se estranhar o fato da preocupação dos professores com o aprendizado da respiração, pois o domínio desta é ponto de muita importância para o nadador. Quanto ao tipo de respiração que o atleta irá utilizar no decorrer da sua carreira, deve-se analisar também o efeito de cada um no físico do atleta. Na sua pesquisa “Análise das implicações da respiração unilateral no nado crawl unilateral sobre a coluna vertebral”, o professor Gerhard Waack Braga, citando Lobo (1995), diz : “através de estudos elotromiográficos das fases aquáticas das braçadas do nado crawl, que esses nadadores apresentam grandes picos de forças com um dos braços”, contribuindo para uma maior rotação do tronco para um dos lados, o que favorece um desenvolvimento muscular desigual. Surge assim a necessidade de se avaliar como o corpo do atleta se comporta diante de cada tipo de técnica respiratória para poder prevenir problemas futuros. MÉTODO AMOSTRA - Número de indivíduos: 162 atletas de natação - Faixa etária: categoria juvenil a sênior - Local de origem: Esporte Clube Pinheiros, A. E. União Jundiaí, Unicamp, A. A. Ferroviária,Unisanta, C. R. Flamengo, Paineiras do Morumbi, Clube Espéria - Seleção de Amostra Atletas que têm uma média de tempo no esporte de 10,06 anos e nadam uma média de 3.500 m de crawl por treino. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 157-162, 2005 159 INSTRUMENTOS Questionário 1. Em média, quanto você nada por dia? m 2. Desta metragem, qual o percentual de nado crawl? % 3. Você nada crawl com respiração bilateral ? Sim ( ) Não ( ) 4. Quantifique a porcentagem de crawl bilateral no seu treino? % 5. Tem alguma lesão de membros superiores ou coluna relacionada ao treinamento?Sim ( ) Não ( ) 6. Tem algum desvio postural relacionado à sua atividade esportiva? Sim ( ) Não ( ) Deixe sua opinião sobre a respiração bilateral. PROCEDIMENTOS Questionário entregue para técnicos para encaminharem aos seus atletas, seguido de orientação para resposta destes e da carta para obtenção de consentimento e autorização da entidade. Comparecimento em competição e entrega de questionário aos atletas participantes com carta de consentimento. RESULTADO Por meio de questionário, 162 atletas foram pesquisados. Os resultados foram os seguintes: - 88 executam em mais de 50% do treino a respiração unilateral - 74 executam em mais de 50% do treino a respiração bilateral Dos que executam unilateral, tem-se: - 11 relataram a presença de desvio postural = 12,50% - 10 relataram a presença de lesões de MS = 11,36% - 57 não apresentaram problemas = 64,78% -10 relataram a presença de desvio postural e de lesões de MS = 11,36% Dos que executam bilateral, tem-se: - 5 atletas relataram a presença de desvio postural = 6,76% - 8 atletas relataram a presença de lesões de MS = 10,81% - 56 atletas não apresentaram problemas = 75,67% - 5 atletas relataram a presença de desvio postural e de lesões de MS = 6,76% 160 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 157-162, 2005 80 70 60 50 40 30 20 10 0 o vi es D Bi-lateral Unilateral m Se da na Sobre a importância do nado bilateral: - 113 atletas afirmaram ser importante a respiração bilateral = 69,75% - 20 não acharam importante a respiração bilateral = 12,35% - 29 não opinaram = 17,90% CONCLUSÃO Dos atletas que utilizam respiração unilateral, 35,22% apresentaram lesões ou desvios, enquanto apenas 24,33 dos que fazem bilateral declararam a ocorrência de problemas.Pode ser uma diferença percentual pequena, mas demonstra a existência de alguma influência na postura quanto ao tipo de respiração utilizada. Na questão da respiração bilateral, pode-se concluir por uma consciência geral muito grande a respeito da sua importância, já que 70% dos entrevistados afirmaram sua validade. Mesmo aqueles que não conseguiriam utilizar esse tipo de respiração, por não terem desenvolvido esta habilidade, reforçaram a sua importância e se lamentaram por não terem tido a possibilidade de desenvolvê-la. Conclui-se que existem fatores no tipo de respiração executada que podem propiciar o aparecimento de lesões e desvios e que se deve manter a atenção no desenvolvimento dessas habilidades no R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 157-162, 2005 161 aprendizado, a fim de possibilitar que nossos alunos tenham a opção de utilizar o tipo de respiração que lhe for mais conveniente, com segurança e tranqüilidade. REFERÊNCIAS ARROYO, A.S. Natacion deportiva. Madrid: Imprentatutor, 1968. BARBOSA, T.; QUEIRÓS, T. A problemática da respiração no ensino da natação Digital, Buenos Aires, ano 8, n. 58. CATEAU, R. ; GAROFF, G. O ensino da natação. 3. ed. São Paulo: Manole, 1988. COLWIN, C.M. Nadando para o século XXI. São Paulo: Manole, 2000. ECKERT, H. Desenvolvimento motor. 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Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 157-162, 2005 ARTIGO FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL E O PAPEL DA UNIVERSIDADE Cristiane Abranches Pereira Benda1 RESUMO A formação profissional tem sido um dos temas mais abordados no meio educacional neste inicio de século. Este estudo objetivou justamente abordar e questionar como tem sido a formação de professores que atuam na área de Educação Especial. Após uma revisão bibliográfica que destacou os aspectos que norteiam a educação especial e a formação de professores, foram analisados alguns depoimentos de profissionais que atuam com educação especial, coletados através de entrevistas. Foi possível, assim, levantar alguns questionamentos relacionados ao ensino que vem sendo ministrado nos cursos das nossas universidades. Ensino este que vem se apresentando distante das verdadeiras necessidades dessa área educacional, destinada a uma significativa população de nossa sociedade. Palavras-chave: formação de professores, educação especial, pedagogia. INTRODUÇÃO Ao problematizar a formação do profissional da educação, não podemos deixar de questionar as instituições nas quais esses profissionais estão inseridos. Shön (1992) destaca a formação acadêmica como o se ter compromisso perante a escola, aos seus projetos educacionais; perante as necessidades da sociedade, do seu mercado de trabalho; e, principalmente, perante os alunos, pois por eles é que lutamos por uma melhor educação. Ao questionarmos a formação de professores, não nos referimos apenas aos conteúdos a eles adquiridos, mas sim por uma formação que proporcionasse mais capacidade de crítica, criatividade, participação e, principalmente, capacidade de adaptação, bem como uma formação acadêmica que propiciasse maiores vivências na área 1 Centro Universitário de Belo Horizonte/Uni-BH – Belo Horizonte – MG – Brasil R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 163 de atuação profissional, não deixando de ressaltar que o conhecimento é formado durante toda a vida. Conforme Alves (1993), “é o defeito, o problema que faz a gente pensar! O que não é problemático não é pensado”. Por sua vez, Nóvoa (1992) observa que os problemas da educação já se tornaram tão comuns e familiares, que parecem não mais chamar tanta atenção. Realmente, o êxito da educação depende, diretamente, de vários aspectos, como: formação acadêmica dos professores, qualidade das instituições, variáveis sociais, culturais, econômicas, políticas e familiares, entre outras. Esses aspectos irão contribuir ou interferir no sucesso dos alunos. Ao analisar as condições para o sucesso do processo educacional, Neill (1980) cita como um grave problema “a escola fazer com que o aluno se adapte a ela, e não a escola se adaptar às necessidades e à realidade de sua clientela”. Nesse âmbito, é fundamental que a escola se adapte às condições do aluno. De uma forma ainda mais restrita, destaco a importância desta diretriz para as instituições especializadas no ensino de pessoas portadoras de deficiência, seja esta física, visual, auditiva ou mental. Nesse sentido amplo do processo educacional, questiono aqui: Como tem sido a formação enquanto educadores? E, de uma forma mais específica, como tem sido a formação de professores de educação especial? As instituições de ensino têm se preocupado em incluir em seus currículos disciplinas voltadas para a formação de professores de educação especial? Essas indagações surgem de uma total insatisfação com a atual situação educacional do país e com a formação de seus professores. Acredito, ainda, que essa situação é proveniente, principalmente, dos currículos e conteúdos. Será que todo este conteúdo transmitido pelas instituições formadoras está realmente preparando profissionais para atuarem em uma área tão especial? As pessoas com necessidades especiais já enfrentam o seu próprio organismo, que as limitam de uma total liberdade (NEILL, 1980). Será que as instituições formadoras, com seus currículos, conteúdos e metodologias trabalhadas com seus futuros professores, não limitam as pessoas deficientes? Após essas observações, surge um questionamento que traduz, atualmente, meu interesse de pesquisa. Estão sendo oferecidas, em nossas universidades, as mínimas condições para os futuros profissionais trabalharem com a educação especial? A formação recebida tem realmente contribuído e preparado os professores para 164 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 enfrentarem um mercado de trabalho nesta área? Como estes profissionais se formaram? Este estudo teve por objetivo investigar como ocorreu o processo de formação de professores que atuam com a educação especial. MÉTODO O presente projeto se caracterizou como uma pesquisa qualitativa. Como instrumento, utilizou-se a entrevista. Segundo Lüdke e André (1986), pesquisa qualitativa apresenta o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador é o seu principal instrumento. Este tipo de pesquisa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo analisada. André (1995) ressalta que uma pesquisa qualitativa não envolve manipulação de variáveis nem tratamento experimental; “é o estudo do fenômeno em seu acontecer natural” e é classificada como qualitativa por se contrapor à forma quantitativa de pesquisa. A pesquisa qualitativa ressalta os sujeitos para entender os acontecimentos e as interações sociais que ocorrem no nosso dia a dia (POLLAK, 1992). Segundo Lüdke e André (1986), a entrevista permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. A entrevista possibilita ainda maior aprofundamento sobre o tema, pois, mesmo baseada num roteiro, apresenta grande flexibilidade. Kerlinger (1980) afirma que a entrevista é um estímulo estruturado que o pesquisador dá ao entrevistado. Em essência, uma entrevista pede informações relacionadas ao próprio entrevistado. Thompson (1992) ressalta ainda que o entrevistador precisa perceber como a pergunta está sendo respondida sob a perspectiva de uma outra pessoa. Não podemos deixar de mencionar que o sucesso de uma entrevista dependerá também do interesse do entrevistado pelo tema abordado. Para que isso ocorra, é de grande relevância que o entrevistador se predisponha a lembrar. Esse traço da memória é essencial para a realização de uma entrevista. A amostra do presente estudo foi constituída por nove professores que atuam com a educação especial em escolas particulares na cidade de Belo Horizonte e um professor que atua no ensino superior, ministrando disciplina relacionada à educação especial. Adotou-se uma seleção aleatória que teve como critério a área de atuação dos sujeitos, R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 165 ou seja, a educação especial. Os sujeitos entrevistados destacaram sua formação acadêmica direcionados por um roteiro elaborado previamente. Este roteiro procurou enfatizar as seguintes questões: como foi a sua formação acadêmica em relação à educação especial? Qual foi a contribuição da Universidade na sua intervenção profissional? Como começou a trabalhar com a educação especial? Tinha ou não experiência com esta área? RESULTADOS O tipo de análise aqui utilizada será do tipo análise de conteúdo, exigindo categorização da “fala” dos entrevistados que, segundo Bardin (1988), organiza-se como uma operação de classificação dos elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e por reagrupamento segundo o gênero, com os critérios previamente definidos. A categorização se concretiza através de um grupo de elementos sob um título genérico. Procuramos apresentar os resultados de forma sintetizada em um quadro em que são apresentados a pergunta, a categorização de respostas, o número de profissionais em cada categoria e a análise dos resultados. Quadro 1 - Categorias e subcategorias da formação de professores de educação especial em função do número de professores Categorias Subcategorias Não houve nenhuma referência à educação especial. Como foi sua formação Cursei disciplinas na acadêmica em relação graduação, porém sem à educação especial? aprofundamento na área. Realizei estágios organizado pela universidade. Qual foi a contribuição da universidade na sua formação profissional? Como começou a trabalhar com educação especial? A universidade não contribuiu para a minha intervenção. Algumas disciplinas contribuíram para a minha intervenção. A contribuição da universidade foi através de estágios e cursos extracurriculares. Estágio pela universidade. Inserção de aluno especial na escola regular. Através de grupo de estudo informal. Estágio formal universidade. Após a graduação. Tinha ou não expe- Sim riência com a área? Não 166 da Número 5 4 1 5 4 1 Análise dos resultados A educação especial não foi vista de uma forma geral durante a formação acadêmica dos profissionais entrevistados. Quando alguma disciplina abordava o tema, era de forma superficial e afastada da realidade do deficiente. Constatou-se que, nas respostas, a contribuição da universidade na intervenção profissional com a área de educação especial não foi suficiente. Quando houve contribuição, foi através de estágios que algumas disciplinas propuseram. 5 2 1 1 1 0 O trabalho com a educação especial começou através de convite de outros profissionais que trabalhavam na área, para a realização de estágios. A experiência com a área foi sendo adquirida com a prática. 10 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 CONCLUSÃO Notamos que a área educacional relacionada à educação especial, quando trabalhada, é de uma forma superficial, não atendendo assim aos profissionais que atuam com a educação especial. Se analisarmos esta realidade em um outro ponto de vista, podemos questionar os cursos universitários e os seus currículos que tendo esta postura, discriminam 10% dos cidadãos de nossa sociedade, que me refiro aos deficientes. Não podemos deixar de obesrvar que alguns cursos oferecem disciplinas que podem ser aplicadas à educação especial, como também oferecem estágios, destacando que, por muitas vezes, as disciplinas e os estágios são opcionais para os alunos. Constatamos que a universidade pouco contribuiu, pelo menos para os profissionais aqui analisados, para que hoje pudessem estar atuando com a educação especial. Não se quer dizer com isso que a universidade tenha a responsabilidade de ser a única fonte de conhecimento para um profissional, mas que ela tem de repensar a grade curricular de seus cursos e não mais continuar alheia a uma população tão significativa. A necessidade imediata de procurar cursos, estágios, profissionais da área e bibliografias sobre a educação especial foi uma postura que todos os professores tiveram que ter para poderem atuar com a educação especial. Fávero (1996) faz alguns questionamentos que acredito serem comuns a todos nós quando repensamos a formação e, por conseqüência, a universidade. Dentre esses questionamentos, alguns vieram ao encontro da análise que estamos fazendo dos relatos. A formação de profissionais como pessoas e cidadãos é uma das tarefas complexas a serem desenvolvidas pelas nossas universidades, e o que nos preocupa é: que tipo de profissionais estamos formando? Qual o corpo de conhecimento que tem sido transmitido em nossos cursos? Qual a visão de competência profissional que estamos passando para nossos alunos? Moreira (1996) faz uma observação interessante, sugerindo que os conteúdos abordados nas disciplinas, por serem demasiadamente específicos, não se aplicam ao objetivo do curso de graduação e muito menos ao objetivo da universidade. Partindo dessa observação, Moreira questiona então o que deveria ser feito para que os cursos universitários não caíssem em uma prática estéril, isto é, em uma prática esvaziada R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 167 de teoria e, assim, sem aplicabilidade. Como pensar e planejar um curso voltado para uma prática meramente formal? O que fazer para que os cursos universitários expressem de fato uma prática criativa e inovadora, e não uma prática repetitiva, conservadora e até mesmo ultrapassada frente ao mercado de trabalho? Devemos levantar os problemas do ensino universitário, questioná-los e analisá-los para podermos assim realizar mudanças que se tornam cruciais e inadiáveis. Reconhecendo aqui como uma relevante mudança em nossas universidades, “tentar diminuir a distância entre o que se ensina nos cursos universitários e o que é necessário se ter de conhecimento na atuação profissional”. Reconheço que nossas universidades vêm tentando adaptar-se às mudanças tecnológicas da nossa sociedade, mesmo sabendo que estas últimas ocorrem num ritmo muito mais rápido do que as mudanças educacionais. Mas, ainda assim é pouco! Enquanto uma instituição formadora, a universidade tem de transpor suas salas de aula, seus laboratórios e bibliotecas. Ela tem que ir realmente até a sociedade, aos campos de atuação profissional para conhecer e reconhecer o que vem funcionando e o que é necessário para realizar uma melhoria no ensino para a formação profissional. Sim, é preciso repensar de forma mais responsável nossa função e atuação enquanto universidade, e repensar a universidade é rever nossos cursos, nossos currículos, nossos educadores, nossas disciplinas, nossas metodologias e, aproveitando a sugestão de Bireaud (1995), por que não pensar na implantação de novos modelos pedagógicos para a eficácia dos cursos universitários. Através destes modelos pedagógicos, estaríamos objetivando melhor determinação dos conteúdos, das situações de aprendizagem, de avaliação, chegando assim aos reais objetivos de uma formação. REFERÊNCIAS ALVES, R. Filosofia da ciência - introdução ao jogo e suas regras. 17.ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia na prática escolar. Campinas: Papirus, 1995. 168 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1988. BIREAUD, A. Os métodos pedagógicos no ensino superior. Porto: Editora Porto, 1995. FÁVERO, M. L. A. Universidade e estágio curricular: subsídios para discussão. In: ALVES, N. Formação de professores - pensar e fazer. 4.ed. São Paulo: Cortez, 1996, p. 53-71. KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: EPU, 1980. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MOREIRA, A. F. B. A formação de professores e o aluno das camadas populares: subsídio para debate. In: ALVES, N. Formação de professores - pensar e fazer. 4.ed. São Paulo: Cortez, 1996 ,p. 37-52. NEILL, A. Liberdade sem medo. 19. ed. São Paulo: IBRASA, 1980. NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992, p. 15-33. POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos, v.5, n.10, 1992, p.200-212. SHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992, p. 77-91. THOMPSON, P. A voz do passado - história oral. São Paulo: Paz e Terra, 1992. [email protected] R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 163-169, 2005 169 ARTIGO O LAZER NA ADOLESCÊNCIA Alessandra Aguilar Coca Ugrinowitsch Hélder Ferreira Izayama José Alfredo de Oliveira Debortoli RESUMO Na concepção adotada neste trabalho, o lazer é entendido como uma dimensão da cultura que envolve vivências lúdicas de manifestações culturais em um “tempo/espaço conquistado” e em uma relação dialética com as necessidades e obrigações, o que faz com que ele tenha diferentes características nas diferentes culturas e faixas etárias. Na adolescência, o lazer tem uma importante inserção, pois o adolescente se apropria dele para formar os grupos sociais extrafamiliares, nos quais assume um papel de ator social, seja como agente ou como paciente. Assim, o lazer é uma das principais maneiras de o adolescente atuar socialmente, além de ser importante na caracterização do indivíduo como um ser completo. Palavras-chave: lazer, adolescência, ator social. INTRODUÇÃO Não se revela uma novidade notar que comumente se considera a adolescência, quando abordada enquanto uma fase do ciclo de vida humana, um período tido como especial, já que são proclamadas intensivas mudanças de ordem física, cognitiva e afetiva, num curto período de tempo. Quando se tem como tema o lazer ligado a esse público, existem poucos estudos no Brasil. Requixa (1980), em sua análise sobre esta questão, verificou que a adolescência tem sido abordada em estudos sobre o lazer sem um posicionamento crítico, os quais apontam, muitas vezes, para um esvaziamento moral e cultural nos dias atuais dessa fase da vida. Esses estudos, conforme esse autor, podem ser causadores de generalizações, pois em alguns momentos entendem o adolescente EEFFTO / UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil 170 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 como uma fonte inesgotável de riquezas e em outros, como um marginal em potencial. Este trabalho teve por objetivo identificar e refletir as relações e as tensões existentes entre o lazer e a adolescência, por meio de uma análise bibliográfica em um nível sociocultural, buscando compreendêlos, além de evidenciar a importância que assume o lazer na constituição de um espaço de experimentação, com possibilidades de se tornar extremamente rico na composição do universo de valores e modo de vida do adolescente. Para isso, foi adotada uma definição de lazer e focalizado o adolescente. Por último, foi abordada a interação desses dois fatores analisados, buscando entender as relações do lazer com essa população que apresenta características tão particulares. O LAZER Ao observar as definições de lazer, é possível entender que este tem grande relação com a cultura, a realidade histórico-cultural, pois o lazer é um campo da cultura que inclui a fruição 1 de diversas manifestações culturais (WERNECK, 2000). Neste trabalho, o lazer é ressaltado como uma dimensão da cultura constituída pelas vivências lúdicas de manifestações culturais em um tempo/espaço que é conquistado, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades e as obrigações, especialmente com o trabalho produtivo (GOMES, 2004). O lazer pode ser visto como um fim nele próprio ou como um meio para atingir algum outro objetivo (ex.: social, político, educacional). Para um posicionamento em relação a essa questão, foi utilizado o referencial da Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY, 1977), na qual todo sistema é um hólon que possui diferentes níveis de organização, nos quais a relação todo - partes é relativa (KOESTLER, 1989). Adotando essa visão sistêmica para analisar o lazer, por um lado ele é um todo e pode ser fim nele próprio com todas as suas particularidades e componentes (ex.: o brincar).; por outro lado, ele pode ser uma estratégia para atingir diferentes objetivos. Uma posição mais radical a favor de qualquer uma dessas concepções mostra uma visão reducionista a somente um nível de análise, que pode ser microscópico (o lazer é uma estratégia) ou macroscópico (o lazer é R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 171 um fim nele próprio), negando a existência de interações e de complementaridade presente nos sistemas abertos e que norteiam as diferentes áreas da ciência. Considerando o ser humano como um sistema aberto que está em constante interação com o meio, trocando informação/energia, diferentes estruturas podem emergir dessa interação (PRIGOGINE, 1996). Assim, o lazer, como um dos componentes que interagem com o ser humano, não deve ser analisado sozinho, mas como um elemento que interage com diferentes populações e, dessa forma, pode assumir novas e particulares características em cada uma delas. Neste trabalho, optou-se por abordar o lazer e a população adolescente, pois parece que as práticas culturais juvenis têm uma particularidade comum: muitas delas ocorrem no domínio do lazer (PAIS, 1993, citado por UVINHA, 2001). Nesse âmbito, faz-se importante entender o adolescente, bem como as suas relações com o lazer. O ADOLESCENTE E SUAS INTERAÇÕES Meu mundo interno já nem se fala mais. Ele berra, esperneia e urra. Tem um bicho que briga na minha barriga. Não me deixa dormir e me diz coisas que eu não quero ouvir... MARIA MARIANA A adolescência é assim: o mundo torna-se diferente. O que ontem parecia a coisa mais simples hoje se torna a mais complicada. A emoção é a tônica do dia-a-dia. Tudo é e deve ser vivido intensamente. Associado a esse turbilhão emocional que compreende alterações psicossociais, cognitivas, afetivas e psicológicas, encontram-se as alterações no plano físico, inclusive as mudanças nas proporções do corpo. Muitos estudos sobre a adolescência foram realizados descrevendo esse período, procurando abordá-lo em diferentes níveis de análise (ECKERT, 1993; ZAGURY, 1996; PAPALIA; OLDS, 2000), mas todos mostram a importância de conhecer melhor esse grupo etário. A adolescência também é um período que se caracteriza por transformações e futuras rupturas, até mesmo com o lar (SODRÉ, 1992), pois acontecem profundas mudanças em todas as dimensões, e todas ao mesmo tempo. Elas acontecem na capacidade para compreender e explicar o mundo, as emoções, os sentimentos (DEBORTOLI, 2002), 172 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 no corpo, na força, na resistência e na sexualidade (ECKERT, 1993). Além disso, o adolescente busca se perceber semelhante aos outros – ser reconhecido e reconhecer – e, ao mesmo tempo, afirmar a diferença enquanto indivíduo ou grupo (SPOSITO, 1999). Outro fator que contribui para esse período de alterações é a aquisição de novas capacidades cognitivas e responsabilidades quanto a papéis sociais (UVINHA, 2001). Essa busca de papéis acontece, em parte, porque os pais deixam de ser heróis, e o adolescente passa a buscar no seu grupo de amigos a segurança que antes advinha da família. Conforme Sodré (1992), os pais já não são mais um modelo, mas o seu poder se apóia sobre a divisão radical entre a infância (criança considerada ingênua, com poucos conhecimentos sobre a vida) e o adulto (concebido como maduro e pronto para a vida, com conhecimento profundo sobre ela). Adolescente e grupos Na busca pela sua autonomia, o adolescente costuma se organizar em grupos, nos quais a convivência pode ser uma referência facilitadora para a sua aceitação como “ex-criança” e um “semi-adulto”. Esses mesmos grupos podem excluí-lo caso ele não se encaixe nos padrões estabelecidos (CARVALHO; PINTO, 2002), o que leva a novas tensões além daquelas citadas anteriormente. O adolescente precisa ser diferente, mas também igual, para fazer parte de um grupo (SODRÉ, 1992). O grupo passa a ser o lugar de percepção das estruturas globais, de excitações e sensações da totalidade. Em contrapartida, o grupo familiar perde a força, inclusive na questão educativa, e as qualidades mais lentas, como a sabedoria e a prudência, são sobrepostas pelas mais rápidas, como a agressividade, prazer e prestígio, muitas vezes transmitidas pelos grupos ou gangues (SODRÉ, 1992). No contexto contemporâneo há uma concepção de grupo mais restrita, que passou a designar um subconjunto organizado de indivíduos, uma pluralidade ordenada, capaz de assimilar a tensão entre o singular (indivíduo) e o geral (pluralidade social). Essa busca de identidade grupal pode ser observada nas gangues, nos grupos de rua, de música e dança, nos amigos de capoeira, punks, entre outros (DEBORTOLI, 2002). Esses movimentos culturais, muitas vezes R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 173 incompreendidos, se situam no domínio do lazer, no qual este assume relevância na constituição de um espaço de experimentação, com possibilidades de se tornar extremamente rico na composição do universo de valores e modo de vida do adolescente. Para Sposito (1999), grande parte do interesse juvenil em relação ao lazer está centrado no mundo cultural e das artes, em especial na música, na poesia, no teatro e na dança. É acentuadamente nesse âmbito que o adolescente se constitui como ator social, sendo capaz de se organizar, produzir cultura, agir socialmente. O ator social (o adolescente) e o lazer Segundo Weber (1969, citado por CASTRO, 2001), por ação social entende-se que o agente relaciona seu comportamento com o comportamento de outra pessoa. Ainda segundo Weber, há diferentes tipos de ação social, cada um com seu coeficiente de racionalidade, o que permite entender que a ação social pode ser dirigida a fins previsíveis ou não. Ser agente significa participar através de intervenções nas práticas sociais situadas historicamente, em tempo e espaço específicos e particulares, mesmo sem ser capaz de reconhecer e admitir discursivamente motivos, intenções ou justificativas para a ação. É importante dizer que a ação humana está totalmente enredada nas condições que a produzem e que, ao mesmo tempo, a constituem, de forma que a emergência da ação só pode ser compreendida quando situada dentro das práticas sociais que a tornam possível (CASTRO, 2001). A ação se caracteriza como o ‘revelar-se’ frente a um outro sujeito humano, e é pelo agir que nos tornamos humanos, na medida em que construímos juntos com outros o mundo. A ação, enquanto início e movimento, dirigida aos outros sempre acarreta outras ações, fazendo com que o ator seja agente e paciente. Ao pensar no adolescente, ele sempre é um ator social dentro do seu grupo, seja como agente ou paciente, especialmente quando está fora do meio da família ou da escola, pois há a possibilidade de inserção desses atores sociais em situações menos amarradas às posições institucionais preestabelecidas, tais como filhos ou alunos. 174 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 Contudo, atualmente o adolescente permanece sem ser notado como um ator social, pelo menos até aparecerem muros pichados, ou trânsito na saída da escola, pois nesses momentos eles são vistos como caracterizando o caos e a desordem ou como um problema para a sociedade. Essa não - identificação do adolescente parece uma negação do direito à cidadania (CASTRO, 2001). Apesar disso, esses adolescentes participam efetivamente da vida cultural, econômica e social da cidade, se apropriando dos mais diversos espaços como fonte para constituição de novos afetos, conhecimentos e percepções, o que cria ilimitadas possibilidades de ação social frente a outras pessoas. Nesse processo, esses espaços tornam-se uma fonte para aprender (ressignificando e reinventando), que é diferente daquela que acontece em casa e na escola, notando-se sua relação com o lazer. Visualizar o adolescente como um agente social permite identificar que o adolescente não faz somente coisas negativas, mas que são identificados por elas. Apesar disso, eles estão, cada vez mais, fazendo das atividades culturais e do lazer uma forma de agir na sociedade, na qual a interação com os outros agentes lhes permite aprender as possibilidades de um processo de transformação. Nessa situação, acredito que o lazer, entendido como uma dimensão da cultura constituída pelas vivências lúdicas de manifestações culturais em um tempo/espaço que é conquistado, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades e as obrigações (GOMES, 2004), encontra-se atrelado à adolescência, constituindo-se também como oportunidade do encontro, do estabelecimento de laços, do reforço dos vínculos de lealdade e reciprocidade e da construção das diferenciações (MAGNANI, 1988, citado por UVINHA, 2001). Finalizo com uma citação de Castro (2001): “Esses atores, (os adolescentes), significam (e re-significam)2 suas práticas enquanto parte de um mundo inteligível para eles, e onde eles se vêem mais ou menos capazes de intervir” (p. 36). CONSIDERAÇÕES FINAIS A concepção de lazer adotada neste trabalho o considera como uma dimensão da cultura, que envolve vivências lúdicas de manifestações culturais em um “tempo/espaço conquistado” e em uma relação dialética com as necessidades e obrigações. Contudo, da R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 175 interação do lazer com o ser humano emergem diferentes práticas culturais regidas pelo modo como o próprio ser humano se constitui na sociedade (características sociais, financeiras, de identidade, etc. , sendo um exemplo o adolescente. Normalmente, o adolescente é visto numa perspectiva simples, etária, que o considera como um organismo em formação por excelência. Tal concepção contém implícita a idéia evolucionista, que o vê como um ser incompleto que se define na comparação com algo que é evoluído, completo: o adulto. Nessa posição de ser mais que uma criança e menos que um adulto, ele se isola, e isso foi tomado como natural, sendo difícil pensá-lo em relação com o todo social. Consumidor de produtos culturais elaborados pelo grupo social dominante, o adolescente se torna depositário de um mundo criado pelo adulto, sem ter reconhecido os seus direitos de intervir ativamente no processo sociocultural que lhe diz respeito. Nesse momento, ele busca ser diferente dos demais, mas também ter as características do grupo a que pertence, no qual ele é sempre um ator social, seja como agente ou como paciente, aprendendo as possibilidades de ser um agente de transformação social. Nesse contexto, concluímos que várias tensões surgem, entre elas as tensões entre o lazer e o adolescente:este em busca de sua aceitação no grupo e ao mesmo tempo de sua individualidade, e o lazer permeando esses conflitos e fazendo parte deles enquanto meio e fim nele mesmo. Dessa forma, podemos identificar com este trabalho a importância do lazer na adolescência. Assim, podemos concluir que o lazer é importante para o adolescente desempenhar o seu papel de ator social, mas também é uma dimensão cultural da vida humana. Nas palavras de Bramante (1997), “o lazer é uma fonte de liberdade e realização pessoal, portanto prioritária a todo ser humano” (p.140). REFERÊNCIAS BERTALANFFY, L. von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1977. BRAMANTE, A. C. Qualidade no gerenciamento do lazer. In: BRUHNS, H.T. (Org.) Introdução aos estudos do Lazer. Campinas: Ed. Unicamp, 1997. p.123-147. 176 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 CARVALHO, A.; PINTO, M.V. 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Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 170-177, 2005 177 ARTIGO PERFIL ANTROPOMÉTRICO E DE APTIDÃO FÍSICA DE PRATICANTES DE PELADA João Fernando Brinkmann dos Santos José Henrique Biasi Cuba de Oliveira Leandro dos Santos Afonso Jorge Roberto Perrout de Lima RESUMO O futebol – da forma como está culturalmente inserido em todo o mundo e em especial no Brasil, praticado de forma descontraída, fora das regras e de maneira improvisada – constitui uma dimensão de massa (SANTOS et al., 2005). O objetivo deste estudo foi aferir a composição corporal, o perfil neuromotor, a flexibilidade e a potência aeróbia dessa população, como instrumento de avaliação da sua saúde. O estudo foi desenvolvido na Associação dos Oficiais da Polícia Militar (AOPM), situada na zona norte da cidade de São Paulo. Foram avaliados quarenta praticantes do sexo masculino, com idade média de 43,3 ± 13,0 anos, 1,73 ± 0,10 m de estatura e 83,5 ± 6,3 kg de peso corpóreo. Para a composição corporal, foram calculados o %G, IMC e RCQ de todos os sujeitos da amostra. Para se traçar o perfil neuromotor, foram realizados os seguintes testes: Impulsão Horizontal, para potência de membros inferiores e Abdominal em um minuto, e Flexão de Braços até a Exaustão, para resistência muscular localizada (RML). Para flexibilidade, foi utilizado o teste Sentar e Alcançar. A potência aeróbia foi estimada por meio do teste de Cooper, além de ter sido aferida a FC durante a pelada. Os principais resultados obtidos foram: %G de 20,4 ± 5,7, IMC de 28,1 ± 1,6 kg/m2, RCQ de 0,89 ± 0,06; Impulsão Horizontal de 133,7 ± 17,2 cm; Abdominais em 1 min de 28,3 ± 7,7 rep; Flexões de Braço até a Exaustão de 17,7 ± 6,7 rep; Sentar e Alcançar de 24,2 ± 8,1 cm; VO2 de 35,3 ± 9 ml/kg/min (n = 23); e permanência acima de intensidade moderada por 60% do tempo total da “pelada” (n = 16). Concluiu-se que, apesar de a “pelada” parecer oferecer bom estímulo a uma melhora da condição física por parte de seus praticantes, todos os resultados estão enquadrados em médias populacionais (ou até mesmo abaixo). Palavras-chave: futebol, antropometria, saúde. LAFEC – Laboratório de Fisiologia do Exercício e Cineantropometria UNIBAN – Mestrado em Ciências da Reabilitação Neuromotora. São Paulo - Brasil. 178 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 178-183, 2005 INTRODUÇÃO O futebol – da forma como está culturalmente inserido em todo o mundo e em especial no Brasil, praticado de forma descontraída, fora das regras e de maneira improvisada – constitui uma dimensão de massa (SANTOS et al., 2005). Com a grande adesão a essa prática, surge a necessidade de se investigar se ela é ou não benéfica à saúde, já que em sua essência não é realizada objetivando diretamente o treinamento físico. OBJETIVO Aferir a composição corporal, o perfil neuromotor, a flexibilidade e a potência aeróbia dos praticantes de “pelada”, como instrumento de avaliação da saúde deles. METODOLOGIA O estudo foi desenvolvido na Associação dos Oficiais da Polícia Militar (AOPM), situada na zona norte da cidade de São Paulo, local este que tradicionalmente sedia, nos finais de semana, encontros de praticantes de “pelada”. Foram avaliados quarenta praticantes do sexo masculino, com características antropométricas descritas na TABELA 1. Todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Para a composição corporal, foram calculados o percentual de gordura (%G), o índice de massa corporal (IMC) e a razão de circunferência cintura-quadril (RCQ) de todos os sujeitos da amostra. Para se estimar o %G foi utilizado o protocolo de Baun et al., (1981). Os resultados estão descritos na Tabela 1. Para se traçar o perfil neuromotor, foram realizados os seguintes testes: Impulsão Horizontal, para potência de membros inferiores; Abdominal em 1 minuto e Flexão de Braços até a Exaustão para resistência muscular localizada (RML). Seus resultados são demonstrados na Tabela 1. Quanto à flexibilidade, foi usado o teste Sentar e Alcançar (FITNESS CANADA, 1986), sendo utilizado um banco padrão (30,5 cm x 30,5 cm x R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 178-183, 2005 179 50,6 cm). O apoio plantar é localizado a 23 cm do início da escala (em cm). Podem-se verificar os resultados deste teste na Tabela 1. A potência aeróbia foi calculada com o uso do Teste de 12 Minutos de Cooper, realizado na pista de atletismo (com 232,72 m, medidos a 20 cm da borda interna) localizada ao redor do campo de jogo. A pista foi subdividida em quatro intervalos iguais de 58,18 m. Ao término dos 12 minutos, era verificado em que intervalo (completo) da pista se encontrava o avaliado, tendo a metragem correspondente a ele somada ao número de voltas completas na pista. Foi utilizado o questionário de prontidão para atividade física/PAR-Q (CHISHOLM, 1975) como critério de inclusão na amostra submetida ao teste de Cooper, obtendo-se a adesão de 23 sujeitos da amostra total. Os resultados pertinentes a este teste estão descritos na Tabela 2. Além desses testes, também foram realizadas medições da freqüência cardíaca (FC) durante a “pelada” em 16 indivíduos, dos 40 participantes do estudo, a fim de possibilitar a estimativa da demanda energética requerida nessa prática. Os resultados obtidos dessas medições são demonstrados na Tabela 3. RESULTADOS Tabela 1 – Características dos indivíduos estudados (antropométricas, composição corporal, perfil neuromotor e tempo de prática) (n = 40) Idade (anos) Estatura (m) Peso (kg) Tempo de prática (anos) Freqüência semanal (dias) %G 2 IMC (kg/m ) RCQ Impulsão Horizontal (cm) Abdominais (rep 1 min) Flexões de Braços (rep) Sentar e Alcançar (cm) 180 Média 43,3 1,73 83,5 31 2 20,4 28,1 0,89 133,7 28,3 17,7 24,2 DP 13 0,1 6,3 13 1 5,7 1,6 0,06 17,2 7,7 6,7 8,1 Valor máximo 70 1,93 102 54 4 30 32,2 1 165 44 30 50 Valor mínimo 16 1,58 71,9 8 1 6 25,1 0,77 99,5 10 4 10 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 178-183, 2005 Tabela 2 – Características dos indivíduos e potência aeróbia (n = 23) Idade (anos) Estatura (m) Peso (kg) Tempo de prática (anos) Freqüência semanal (dias) Distância no Cooper (m) VO2 máx (ml/kg/min) Média 39,2 1,71 81,6 27 2 2091,9 35,3 DP 14 0,08 6,6 13 1 403,6 9 Valor máximo 67 1,84 102 54 4 2792,6 50,9 Valor mínimo 16 1,58 71,9 8 1 1047,2 12,1 Tabela 3 - Características dos indivíduos e intensidade da “pelada” (n = 16) Idade (anos) Estatura (m) Peso (kg) Tempo de prática (anos) Freqüência semanal (dias) Intensidade acima de moderado (% do tempo total do evento) Duração da “Pelada” (h) Média 50,5 1,80 86,4 38 3 DP 8,0 0,1 6,4 10 1 Valor máximo 67 1,93 102 54 4 Valor mínimo 41 1,62 78,5 16 2 60 2,1 20 0,5 95 2,95 24 1,09 DISCUSSÃO Para se analisar a composição corporal dos sujeitos da amostra, compararam-se os resultados de percentual de gordura com padrões propostos por Lohman et al. (1997). Pôde-se verificar que esses resultados estão acima dos níveis médios recomendados para adultos fisicamente ativos. Tanto no que se refere aos valores encontrados de IMC quanto nos de RCQ, observa-se que esses indivíduos, em média, podem ser classificados como estando com sobrepeso, além de possuírem um risco relativamente moderado de adquirirem coronariopatias, já que parecem ter uma tendência a concentrar sua gordura corporal num padrão mais visceral do que periférico (WHO, 1998; BRAY; GRAY; 1988). No que se refere ao perfil neuromotor, os avaliados obtiveram desempenho fraco no teste Impulsão Horizontal (para potência de membros inferiores), quando comparados a padrões propostos por Rocha e Caldas (1978). Já os resultados obtidos nos testes de RML foram comparados a valores populacionais propostos pelo American R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 178-183, 2005 181 College of Sports Medicine (2000), sendo que no Abdominal em 1 minuto o resultado médio encontra-se entre os percentis 30 e 40 (abaixo da média), enquanto no teste Flexão de Braços até a Exaustão eles estão acima da média (entre os percentis 60 e 70). Há uma carência na literatura de valores de referência para o teste Impulsão Horizontal, podendo assim ser de grande valia os expressos neste estudo. Quanto aos resultados obtidos no teste de flexibilidade, eles estão próximos do percentil 60 dos valores populacionais, de maneira que parecem estar relativamente na média dos padrões para essa valência física (FITNESS CANADA, 1986). Na avaliação da potência aeróbia, os referidos valores de VO2 máx dos praticantes de “pelada” correspondem ao percentil 50 dos valores populacionais para a faixa de 40 anos (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 1972). Estudando a resposta da freqüência cardíaca nos praticantes de “pelada” no intuito de compará-la a indicadores de intensidade da atividade de Heyward (1998), pôde-se verificar que o nível médio de esforço se manteve acima de moderado (64% da FC máx) por 60% do tempo total do evento. CONCLUSÃO Por meio da aferição da FC durante a “pelada”, parece que essa atividade oferece um estímulo adequado à melhora da condição aeróbia de seus praticantes (SANTOS et al., 2005); entretanto, o que se observou na prática foi que a potência aeróbia dos sujeitos estudados é semelhante à de valores médios populacionais. Isso pode se dever a uma falta de preocupação com a periodização dessa prática, supervisionada por um profissional de Educação Física, já que os indivíduos não a executam objetivando treinamento, e sim apenas praticar uma atividade física (lúdica e amistosa). Com relação aos parâmetros antropométricos, os padrões de gordura observados (%G acima da média, baixa linearidade e maior concentração de gordura visceral) reforçam inferências no sentido de que, apesar dos anos de prática da “pelada”, os praticantes não estão evoluindo sua condição física em direção a uma melhor saúde. Da mesma forma, os resultados obtidos nos testes neuromusculares não estão muito distantes de médias populacionais (ou até mesmo abaixo). 182 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 178-183, 2005 REFERÊNCIAS AMERICAN COLLEGE of SPORTS MEDICINE. ACSM’S guidelines for exercise testing and prescription. Philadelphia: [s.n.], 2000. AMERICAN HEART ASSOCIATION. Exercise testing and training of apparently healthy individuals. A Handbook for Physicians, Dallas, 1972. BAUN, W. B.; BAUN, N. R. and RAVEN, P. B. A nomogram for the estimate of percent body fat from generalized equations. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 52, 1981. BRAY, G. A; GRAY, D. S. Obesity: part I – pathogenesis. Western Journal of Medicine, v. 149, p. 429-441, 1988. CHISHOLM, M. I. et al. PAR-Q Validation report (versão modificada) pelo British Columbia Department of Health. British Columbia Medical Journal, v. 17, 1975. FITNESS CANADA. Canadian standardized test of fitness (CSTF) operations manual. In:___. Fitness and Amateur Sport Canada. 3 ed. Ottawa:[s.n.], 1986. HEYWARD, V. H. Advanced fitness, assessment and exercise prescription. 3 ed.Champaign: Human Kinetics, 1998. LOHMAN, T. G.; HOUTKOOPER, L; GOING, S. Body fat measurement goes high-tech: not all are created equal. ACSM’S Health & Fitness Journal,v. 7, p. 30-35, 1997. ROCHA, P. S. O.; CALDAS, P. R. L. Treinamento desportivo. São Paulo: Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Documentação e Divulgação, 1978. SANTOS, J. F. B.; OLIVEIRA, J. H. B. C.; LIMA, J. R. P. Freqüência cardíaca de praticantes de “pelada”. Coleção Pesquisa em Educação Física: O estilo de Vida Ativo Depende da Educação Física Escolar? Jundiaí, 03, p. 98-102, 2005. WHO. Obesity: preventing and managing a global epidemic. Report of a WHO Consultation on Obesity. Geneva:[s.n.], 1998. João Fernando Brinkmann dos Santos - [email protected] Rua dos Camarés n.º 150 Bloco 02 (Cedro) Apto. 86 CEP. 02068-030 - São Paulo / SP – Brasil R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 178-183, 2005 183 Pôster CLÍNICAS ESPORTIVAS EM CAXIAS DO SUL Cesare Augusto Marramarco2 Leda Amelia Tavares Marramarco1 Neiva Pereira1,2 A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Caxias do Sul – SMEL tem se preocupado em qualificar o esporte escolar do município através de ações na comunidade. Um dos programas desenvolvidos são as “CLÍNICAS ESPORTIVAS”, as quais visam a qualificação dos participantes dos Jogos Escolares Prof. Luiz César dos Santos, do município de Caxias do Sul – RS. O objetivo deste estudo foi analisar as contribuições desse programa, o qual disponibilizou vagas para 20 escolas, com o número máximo de 160 alunos e 40 professores, para as seguintes modalidades: futsal, handebol, voleibol, basquetebol e atletismo. As “clínicas” foram ministradas por professores especialistas, com a monitoria de acadêmicos dos cursos de Educação Física; os participantes foram dois professores de Educação Física, de cada escola inscrita, e alunos de 13, 14 e 15 anos da Rede de Ensino. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma avaliação escrita, semi-estruturada, respondida pelos participantes em cada Clínica; na a interpretação das informações utilizamos também os registros dos resultados dos jogos de 2005 com dados quantitativos obtidos na SMEL. Os resultados demonstram que 62 escolas, com 520 participantes, sendo 443 alunos e 77 professores, participaram das “Clínicas Esportivas”. Prevaleceu a presença das escolas municipais, mostrando preferência pelas modalidades de futsal, voleibol, seguidos do handebol. As escolas que apresentaram os melhores desempenhos nos Jogos Escolares proporcionam aos seus alunos atividades extracurriculares para a prática esportiva. O sucesso das atividades propostas deu-se também devido à metodologia e à vivência de momentos dirigidos aos professores e jogos da modalidade para os alunos. Palavras-chave: qualificação profissional, qualificação técnica, oficinas práticas. [email protected] 1 2 Secretaria Municipal de Esporte e Lazer – SMEL – Caxias do Sul, RS Faculdade da Serra Gaúcha, Caxias do Sul, RS 184 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 184-184, 2005