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ARTIGO COMPARAÇÃO DOS NÍVEIS DE FLEXIBILIDADE DOS ACADÊMICOS DO CURSO DA EDUCAÇÃO FISICA DA FAVENORTE Igor Rainneh Durães Cruz1 Rodrigo Gonçalves Silva1,2 Cássio Ângelo Rodrigues Dantas1 Enio Pacifico Faria Junior2 Marcelo de Paula Nagem2 RESUMO A flexibilidade é um dos principais componentes na função musculoesquelética da aptidão física relacionada à saúde, imprescindível em qualquer programa de atividades físicas. Este estudo teve como objetivo comparar o nível de flexibilidade dos acadêmicos do curso de Educação Física da Favenorte quanto ao gênero e idade. Este estudo de caráter comparativo, envolveu uma amostra de 110 acadêmicos, sendo 55 (M= 26.13; SD= 3.10) e 55 do gênero feminino (M= 23.16; SD= 2.09), os quais realizaram o teste de sentar e alcançar, utilizando o banco de Wells. Os resultados apresentaram que a flexibilidade diminui com o avançar da idade (t = -2.17, p = 0,03) e o gênero masculino é menos flexível que o feminino (t = 1.99, 0.45). O nível de flexibilidade é baixo, se considerarmos a população como um todo, por estar representando uma população ativa e em desenvolvimento. Essa perda da flexibilidade ou o ganho pouco significativo pode estar ocorrendo por estímulos insuficientes ou uma prática ineficiente. Pode-se perceber a resposta orgânica a essa capacidade física na redução de movimentos e limitações importantes, que poderão acometer o desempenho motor tanto nas atividades diárias e no esporte. Palavras-chave: flexibilidade, acadêmicos, gênero. 1 2 Faculdades Unidas do Norte de Minas – Funorte Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 227 INTRODUÇÃO A flexibilidade é um dos principais componentes na função musculoesquelética da aptidão física relacionada à saúde, imprescindível em qualquer programa de atividades físicas. Fox et al. (1991) salientam a importância da flexibilidade na realização de certas tarefas, destacando que os últimos progressos da medicina física e reabilitação indicam que a flexibilidade é importante para a saúde geral e aptidão física. Destaca-se na terapêutica, manutenção da postura e possibilidade de realizar movimentos plenos nas atividades profissionais e lazer (ACHOUR JR., 1995). Alter (1999) define flexibilidade como a habilidade para mover uma articulação através de uma amplitude de movimento normal sem estresse excessivo para a unidade musculotendinosa. Na área de treinamento desportivo, Weineck (1999) vê a mobilidade como sinônimo de flexibilidade, ressaltando sua importância para a boa execução de movimentos, em qualidade e quantidade. Para Oliveira (2001), o trabalho de flexibilidade é desenvolvido nas aulas de alongamento. Encontra-se uma diversificação enorme das metodologias de trabalho para desenvolvimento da flexibilidade, desde aquelas que adotam técnicas passivas até as extremamente balísticas, passando por aquelas que mesclam diferentes métodos de treinamento. Atuando diretamente no cotidiano das pessoas e melhorando a performance dos atletas, a flexibilidade é uma característica que deve ser sempre levada em consideração. Logo a flexibilidade representa um importante componente da aptidão física, sendo fundamental para a eficiência dos movimentos simples e complexos, tanto no desempenho esportivo quanto na preservação da saúde (GUEDES; GUEDES, 1995). A avaliação da flexibilidade acontece por muitos instrumentos e protocolos, sendo o mais utilizado o teste com o banco de Wells com o método de “sentar e alcançar”, pois este apresenta baixo custo para a sua fabricação/aquisição e melhor manuseio na avaliação de crianças, adolescentes e adultos. A preocupação e a necessidade de avaliar ou estimular valências físicas, como a flexibilidade, têm impulsionado a comunidade cientifica em estudos buscando esclarecer a relação entre o ser humano, seu 228 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 corpo e suas limitações. A preocupação com uma qualidade física ligada à lassitude ligamentar era fruto de preocupação e estudo por Hipócrates, por volta de 400 a.C. Recentemente, a primeira menção do termo “flexibilidade”, segundo Araújo (2000), na literatura médica parece ter sido feita por Bishop em 1859; no entanto, pesquisas sobre flexibilidade tomaram outra dimensão após as guerras mundiais, pela quantidade de doentes, de amputados e feridos, deixando um problema real para os médicos e pesquisadores da área de reabilitação, com a necessidade de elucidação da fisiologia humana e a importância da flexibilidade para a solução desses problemas. Assim, o objetivo deste estudo foi comparar o nível de flexibilidade dos acadêmicos do curso de Educação Física da Favenorte quanto ao gênero e idade. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo é de caráter comparativo, com corte transversal. Amostra A amostra do estudo constou da participação de 110 acadêmicos, sendo 55 (M= 26.13; SD= 3.10) e 55 do gênero feminino (M= 23.16; SD= 2.09). A seleção da amostra ocorreu de forma aleatória probabilística, proporcional à população de estudantes matriculados nos anos de 2008 e 2009, a partir da fórmula n=(Z.Z).p.q.N/e.e.(N1)+p.q.Z.Z, em que Z = intervalo de confiança, P = probabilidade de ser rejeitado 50%, q = probabilidade de ser escolhido 50%, N= população e e = percentual de erro <0,05 (ALMEIDA e FREIRE, 2003). Instrumentos Na avaliação do nível de flexibilidade foi utilizado o banco de Wells, para realizar o teste de “sentar e alcançar”. Uma caixa de madeira foi assim dimensionada: largura (35 cm), altura (35 cm) e comprimento (40 cm). Na borda superior do banco encontra-se afixada uma escala métrica com 56,5 cm (WELLS; DILLON, 1952). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 229 Procedimentos A coleta de dados ocorreu com a apresentação da proposta de estudo durante as aulas práticas da disciplina Cineantropometria, no período noturno dos anos 2007 e 2008. Logo após a exposição dos objetivos, foi repassado aos alunos o consentimento livre esclarecido, o qual aceitavam ou não participar do experimento. No segundo momento, foi pedido aos alunos para sentarem no chão, com os pés encostados embaixo da caixa, pernas estendidas, as mãos sobrepostas e deslizando sobre o banco o máximo que conseguissem em três tentativas, sendo anotada a última, quando eram obrigados a permanecer pelo menos um segundo; e o registro foi efetivado em centímetros. Tratamento dos dados Na análise dos dados empregou-se a estatística descritiva, utilizando o pacote estatístico SPSS (Stastitical Program for Social Sciences) versão 18.0 for Windows. Para averiguar a normalidade dos dados, utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov, no qual se constatou a linearidade dos dados. Para análise do efeito diferenciador de uma variável independente nos níveis de flexiblidade, utilizou-se o teste t para amostras o nível de significância foi mantido em 5% (p<0,05). Cuidados éticos Este trabalho seguiu a Resolução 196/96 de 1º de outubro, que regulariza a pesquisa em seres humanos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados foram analisados de forma descritiva e categorizados pelo gênero, sendo apresentados na Tabela 1. A Tabela 1 apresenta os valores descritivos de idade e gênero. 230 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 Tabela 1 - Valores descritivos da flexibilidade de acordo com a idade e gênero GÊNERO Masculino Feminino IDADE MÉDIA DESVIO PADRÃO TOTAL 25 32.34 3.71 15 26 25.50 2.93 13 27 26.92 1.57 12 28 16.61 0.16 15 24 38.76 1.61 13 25 28.29 0.87 12 26 34.86 3.36 17 27 29.57 1.92 13 Os dados descritivos intragrupos permitem inferir que a flexibilidade vai se perdendo durante o avançar da idade; esses resultados podem ser encontrados em estudos efetuados por Farinatti (2000). Dantas (1999) comenta que o gênero feminino apresenta melhor flexibilidade que o masculino, em decorrência das atividades que este gênero executa, como: exercício de força e resistência. Apesar de haver muitas informações sobre ser possível a perda dos níveis de flexibilidade com o decorrer da idade, Neves (2002) constatou que ocorre aumento significativo nos níveis de rendimento da flexibilidade dos 12 aos 15 anos; para as meninas o aumento é dos 12 aos 15 anos, existindo uma curva crescente e nos meninos é dos 12 aos 16 anos no que se refere à amplitude de movimento na flexão do quadril. O Americam College of Sport Medicine (2000) afirmaque a flexibilidade é maior quanto mais jovem for o aluno e que o treinamento da flexibilidade deve, desde a infância, ser o mais exigente possível no sentido de manter uma flexibilidade considerável. Após o crescimento longitudinal da pubescência, o crescimento na adolescência ocorre no sentido de corrigir e harmonizar as proporções. Em moças, o crescimento finaliza no ponto de transição de menina para mulher, sendo rápida e abrupta; em rapazes essa transição é mais lenta e gradual, o que implica maior capacidade de tolerância a cargas (WEINECK 1999). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 231 Farinatti (2000) preconiza que na infância e no início da puberdade devem-se evitar os exercícios de alongamento de forma passiva realizados com parceiros – a sobrecarga empregada pode lesionar as crianças e jovens. A coluna vertebral e a articulação do quadril são sensíveis nessa faixa etária. Durante o período da prépuberdade deve-se desenvolver nos jovens a flexibilidade geral ou global e, após esse período, iniciar um trabalho específico para a modalidade praticada. (BOMPA, 2002). Segundo Marins (1998), o trabalho de flexibilidade está relacionado com o de força, pois, quanto mais fortalecido estiver um grupo muscular, mais alongado ele precisa estar após esse fortalecimento. Esse autor mostra que as atividades da vida diária (AVDs) envolvem exercícios de flexibilidade, os quais devem predominar com exercícios ativos e dinâmicos, a fim de proporcionar à articulação maior nutrição com componentes elásticos, e isso ocasionará ao praticante melhor nível de flexibilidade com o avançar da idade. Na Tabela 2 é apresentada uma comparação entre a flexibilidade e a idade. Tabela 2 - Comparação dos níveis de flexibilidade física entre os gêneros IDADE Flexibilidade Masculino Feminino (n=55) M ± SD (n=55) M ± SD 26.13 ± 3.10 23.16 ± 2,09 t p -2,17 0,03* *p ≤ 0,05 Conforme a Tabela 2, a flexibilidade diminui de acordo com a idade, mostrando que o gênero feminino não apresenta tal característica. Weineck (1991) diz que os tendões, ligamentos e fáscias mostram, com o aumento da idade, diminuição do número de células, perda de mucopolissacarídeos e de água e redução das fibras elásticas. Isso significando que o desempenho mecânico ideal só é obtido quando 232 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 as células que se encontram no tecido apresentam sínteses continuamente aumentadas, para compensar a degradação das substâncias típicas para o tecido, que ocorre paralelamente; os mucopolissacarídeos têm alta capacidade de se combinarem com a água do tecido; a perda da água em torno de 10 a 15%, que depende da idade, e o enrijecimento progressivo do tecido alteram as características mecânicas do tecido, sendo que a resistência ao estiramento e a estabilidade de tração aumentam, enquanto a capacidade de estiramento diminui com o avanço da idade. Oliveira (2001) diz que a flexibilidade é a qualidade física que apresenta declínio em seu desenvolvimento mais precocemente que as demais. Estudos mostram diferenças importantes entre os 20 e 30 anos, não acontecendo da mesma forma com valências como força e capacidade cardiorrespiratória. O gênero feminino é mais flexível que o masculino, e esse resultado é significativo (t = 1,99, 0,45); em geral, as mulheres têm demonstrado maiores níveis de flexibilidade do que os homens, independentemente da idade. Essas diferenças se mantêm ao longo de toda a vida (ACHOUR JR., 1994). Weineck (1991) considera que essas diferenças são provenientes de uma maior capacidade de estiramento e elasticidade da musculatura e dos tecidos conectivos no sexo feminino. Vários fatores, incluindo diferenças anatômicas e fisiológicas, podem ser responsáveis pela diferença na flexibilidade entre os sexos, dentre eles o formato da região pélvica das mulheres e também a curva superior do processo do olecrano do cotovelo, que é menor nas mulheres, possibilitando maior amplitude de extensão nessa articulação (ALTER, 1999). Completando as evidências, Dantas (2001) cita os fatores hormonais, afirmando que, como resultado das mudanças durante a gravidez, à lassidão articular e a flexibilidade aumentam. A relaxina, hormônio liberado na gravidez, é o responsável, tendo como funções a inibição da contração uterina, alongamento do ligamento interpúbico e suavidade da sérvice. Após o nascimento do bebê, a produção de relaxina é diminuída, sendo os ligamentos e tendões novamente tensionados. Esses fatores fazem com que o sexo feminino seja mais flexível que o masculino em todas as fases de seu desenvolvimento. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 233 CONCLUSÃO A flexibilidade é a amplitude de movimento de uma articulação no que é imprescindível em qualquer programa de atividades físicas ou exercício físico. O gênero masculino apresenta perda da flexibilidade com o avançar da idade, devido aos poucos exercícios executados durante a fase adulta e na fase idosa. O gênero feminino é mais flexível quando comparado ao masculino em razão de fatores fisiológicos e atividades em que trabalham a flexibilidade de forma direta ou indireta. O nível de flexibilidade é baixo se considerarmos a população como um todo, por estar representando uma população ativa e em desenvolvimento. Essa perda da flexibilidade ou o ganho pouco significativo pode estar ocorrendo por estímulos insuficientes ou uma prática ineficiente. Pode-se perceber a resposta orgânica a essa capacidade física na redução de movimentos e limitações importantes, que poderão acometer o desempenho motor tanto nas atividades diárias como no esporte. ABSTRACT Flexibility is a key component in the function of the musculoskeletal physical fitness and health, essential in any physical activity program. This study aimed to compare is to compare the level of flexibility for students of Physical Education Favenorte regarding gender and age. This is a comparative study involving a sample of 110 students, 55 (M = 26.13, SD = 3.10) and 55 females (M = 23.16, SD = 2.09), which were submitted to complete the test to sit and achieved using the bank to Wells. The results showed that flexibility decreases with advancing age (t = -2.17, p = 0.03) and the male is less flexible than females (t = 1.99, 0.45). The level of flexibility is low, considering the population as a whole, because it represents an active population and development. This loss of flexibility or gain some significant stimuli may be due to insufficient or inefficient practice. You can see the response to this organic physical capacity, reducing movement and limitations that may affect motor performance in both daily activities and sports. Keywords: Flexibility, students and gender REFERÊNCIAS 234 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010 ACHOUR Jr., A. Flexibilidade. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina, v. 9, n. 6, p. 43-52, 1994. ALMEIDA, L. S.; FREIRE, T. Metodologia da investigação científica em psicologia da educação. Braga, Portugal: Lusografe, 2003. ALTER, M. J. Ciência da Flexibilidade. 2. ed. 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Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 227-236, 2010