NOVAS JANELAS DE OPORTUNIDADE
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NOVAS JANELAS DE OPORTUNIDADE
NOVAS JANELAS DE OPORTUNIDADE: A CAPACITAÇÃO E OS DESAFIOS BRASILEIROS NA PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DA CELULOSE Ednilson Silva Felipe Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] Arlindo Villaschi Filho Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] RESUMO Nas últimas décadas tem havido maior disposição na busca de alternativas para mudanças do perfil energético mundial, na direção de diminuir a dependência de fontes fósseis. Essas alternativas ganharam força com os biocombustíveis de primeira geração, que já possuem tecnologias maduras. O objetivo desse artigo, entretanto, é discutir outras possibilidades tecnológicas: a geração de biocombustíveis de segunda geração, o bioetanol. O bioetanol pode ser produzido a partir de subprodutos de outros processos industriais. No caso do eucalipto, do aproveitamento de cavacos de madeira. No caso da cana de açúcar, do bagaço até recentemente considerado de nenhum valor econômico. A viabilidade do etanol celulósico ainda depende tanto de uma institucionalidade incentivadora quanto de acumulação de aprendizados que culminem em novos saltos tecnológicos. A problematização do uso de catalisadores biológicos ou sintéticos, como aqui colocado, é uma ilustração de como ainda há espaços para se aprender nessa área. Palavras-chave: bioetanol, hidrólise ácida e enzimática, tecnologia Classificação JEL: O31, O33, Q16 INTRODUÇÃO As discussões em torno dos problemas relativos ao desenvolvimento econômico mundial têm levantado, em toda a comunidade internacional, a crescentes preocupações quanto balanceamento energético de longo prazo, em face da crescente demanda e da limitada capacidade de oferta de energia (em suas diversas formas), dadas as disponibilidades conhecidas. Além disso, cada vez mais, passa-se a considerar os impactos ambientais, econômicos e sociais das escolhas energéticas. Particular interesse vem do fato de que a matriz energética mundial indica que todos os países, em maior ou menor grau, são muito dependentes de fontes compostas por combustíveis fósseis, intensivas em carbono. Estas, historicamente, despertaram outros tipos de problemas econômicos, ligados à dependência comercial, aos conflitos geopolíticos e, mais recentemente, aos problemas ligados ao meio ambiente e ao aquecimento global. No caso da energia renovável, embora não seja uma opção historicamente nova, jamais chegou a compor o elemento fundamental e prioritário na geração de energia para as atividades antrópicas. Ao longo das últimas décadas, entretanto, face aos problemas ambientais, geopolíticos, econômicos e tecnológicos envolvidos na exploração, produção e uso do petróleo e de derivados, tem havido maior disposição na busca de alternativas e para mudanças do perfil energético mundial, na direção de menos carbono. Em termos de combustíveis, essas alternativas ganharam força principalmente via etanol, seja usando a cana-de-açúcar – no caso brasileiro – ou o milho – no caso dos Estados Unidos. Esses, chamados biocombustíveis de primeira geração, já possuem tecnologias maduras e o nível de conhecimento referente aos processos envolvidos pode ser caracterizado como elevado. Existem, alternativamente, outras fontes de matérias-prima para tais combustíveis, porém, com conhecimento ainda pouco sistematizado e os processos produtivos ainda em fase de novas descobertas. O objetivo desse artigo é discutir outras possibilidades tecnológicas para a geração de etanol, mas de segunda geração – chamado bioetanol. Esses, ao contrário dos primeiros, derivam de matérias primas cujas fontes/plantações não competem com aquelas voltadas para produção de alimentos. Mais especificamente, o artigo trata da viabilidade econômica, da possibilidade institucional e da disponibilidade tecnológica voltada para a geração de bioetanol a partir da celulose. Nesse sentido, levanta alguns pontos do debate que tem surgido em relação aos biocombustíveis: i) as políticas de apoio à produção; ii) o desenvolvimento tecnológico internacional; iii) os desafios envolvidos nas diferentes trajetórias tecnológicas que se formam. O artigo está dividido em três partes, além dessa introdução. O primeiro discute elementos teóricos, de cunho neoschumpeteriano, voltados para as trajetórias tecnológicas e seus desdobramentos. O segundo apresenta emergência da tecnologia voltada para a produção de bioetanol, tendo como pano de fundo as questões econômicas, institucionais e tecnológicas como propulsoras ou inibidoras de tais possibilidades. O terceiro item apresenta as medidas recentes de incentivo à produção do etanol celulósico, ou bioetanol. O último traz alguns apontamentos a título de considerações finais. 1. COMPLEXIDADE E EVOLUÇÃO: O PENSAMENTO NEOSCHUMPETERIANO SOBRE TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS As proposições de cunho neoschumpeteriano estão fundamentadas na visão de que o sistema econômico evolui por processos e fenômenos sujeitos à complexidade e que tal evolução não pode ser devidamente tratada por modelos convencionais que assumem a linearidade (ciência→tecnologia→Inovação) e o equilíbrio como características fundamentais da economia. Pelo contrário, assume-se: Uma visão evolucionária do processo econômico que implica em diversidades de trajetórias/decisões, mas que são fortemente condicionadas pela path dependence; A defesa explícita da irreversibilidade da mudança tecnológica e econômica; Uma perspectiva que privilegia a emergência espontânea de novas estruturas no sistema econômico, por meio de processos autoorganizativos, mas não na direção do equilíbrio estático. Tais elementos, longe de ser arbitrários, são indicativos de que a essência dos processos econômicos envolve um tipo de dinâmica que não pode ser entendida de outra forma. Dentro dessa perspectiva evolucionária, a argumentação é de que a mudança tecnológica não ocorre ao acaso e nem é exogenamente determinada, mas segue certos padrões evolutivos que condicionam (limitando ou ampliando) as diversas trajetórias tecnológicas possíveis, influenciando a sua economicidade e difusão. Por outro lado, tais trajetórias emergem como fruto de decisões alternativas e diversificadas dos agentes econômicos, caracterizados por uma racionalidade limitada. Essas trajetórias tecnológicas formam um conjunto de características evolucionárias e cumulativas que condicionam o desenvolvimento, as mudanças e as experimentações tecnológicas à frente. Esses elementos se difundem por todo o sistema econômico quando são utilizadas na produção de bens e em serviços. De forma geral, pode-se afirmar que as trajetórias tecnológicas delimitam e definem tecnicamente os diversos programas a elas ligados e influenciam significativamente o ambiente de seleção que direciona as respostas do paradigma tecnológico estabelecido (DOSI, 1988). Tendo-se por base o pensamento de Dosi (1982), a idéia é que a evolução tecnológica vai se formando através da emergência de um conjunto de conhecimentos teóricos e empíricos, de novos métodos e procedimentos e ainda da acumulação de experiências (tanto de sucesso quanto de falhas) que acabam por se incorporar nos padrões de comportamento e de busca por soluções para determinados problemas técnicos. É daí que emerge formalmente o conceito de paradigmas tecnológicos, que acaba por estabelecer os limites por onde as trajetórias tecnológicas podem caminhar. Ainda segundo Dosi (1988), o paradigma tecnológico trata desse conjunto de possibilidades, cujas fronteiras são delimitadas pela natureza do próprio paradigma em questão. Mas essas trajetórias não são nem previsíveis ex ante e nem lineares, o que quer dizer que a evolução tecnológica não pode ser pensada como apenas emergência de padrões para reforçar o estabelecimento das trajetórias ou do paradigma dominante. Pelo contrário, em certos casos, a evolução tecnológica pode estar exatamente ligada à superação de determinada trajetória ou paradigma. Assim, é preciso pensar esse processo como mais complexo e multifacetado do que suporia uma visão simplista. Firma-se na existência de um inter-relacionamento dinâmico entre a trajetória dominante (que reforça as características do paradigma) e aquelas que surgem espontaneamente e que poderão (ou não) romper com a trajetória dominante. Essas duas formas de busca tecnológica podem coexistir em determinado paradigma tecnológico (DOSI, 1988). No caso das trajetórias alternativas à dominante, é crítica a necessidade de acumulação do aprendizado; é importante entender a rigidez da ‘path dependence’ e é fundamental a disponibilidade de recursos (financeiros, políticos, econômicos e institucionais) direcionados para essas novas possibilidades. Tais elementos ganham contornos ainda mais complexos, já que para o caso das trajetórias alternativas, no início da seqüência dinâmica do processo de evolução tecnológica, nem a difusão e nem os mecanismos de mercado estão funcionando a seu favor e na direção dessas novas possibilidades. Os mecanismos de mercado, os ganhos de produtividade advindos da aprendizagem derivada do uso contínuo de certa tecnologia (learning by doing) e as condições de apropriabilidade tentem a reforçar o uso da trajetória dominante, sendo crítico os períodos iniciais para o que é alternativo. Ainda que seja assim, assumir a irreversibilidade da mudança tecnológica e ainda da introdução do que é novo significa defender que alguns resultados espontâneos ficam enraizados na estrutura do sistema econômico, que não pode voltar ao ponto inicial: não há como conceber evolução sem irreversibilidade. Ou seja, a geração de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas possibilidades tecnológicas destroem a situação anterior, impedindo o sistema de se reacomodar nas condições iniciais. Dentro dessa perspectiva, uma nova combinação de conhecimentos préexistentes e o surgimento de determinados novos produtos tecnológicos provocam alterações no ambiente, nas formas de competição e nos mecanismos de seleção sem possibilidade de se retornar às condições anteriores. Vale dizer que esses novos produtos tecnológicos não necessariamente são dotados de rivalidade absoluta com a trajetória dominante. Pelo contrário, esse conteúdo de não-rivalidade sugere a possibilidade, pelo menos por um período de tempo, em que as trajetórias se mantêm paralelas, com uso combinado, concomitante e viável de produtos/processos complementares. Esse parece ser o caso mais observado na chamada ‘economia da energia’ em que vários diferentes produtos são testados e coexistem paralelamente no mercado. Um deles passa a ser discutido abaixo. 2. EMERGÊNCIA DE NOVAS TECNOLOGIAS E INOVAÇÕES: A PRODUÇÃO DE ETANOL A PARITIR DA CELULOSE A produção de bioetanol passa pelo aproveitamento energético da celulose. Esta pode ser encontrada no bagaço de cana ou em compostos de madeira, por exemplo, como o eucalipto. Quanto a esse último, no processo de extração da madeira para a indústria de pasta de celulose1, as cascas das árvores permanecem no solo das plantações. A quantidade de resíduos que permanece nessas áreas soma aproximadamente 20 toneladas por hectare. Estima-se que no Brasil esses resíduos somem 2,8 a 5,7 milhões de toneladas por ano (BRAGATTO, 2010). Estes resíduos são historicamente tidos como de pouco valor econômico. Atualmente, entretanto, em todo o mundo, tem sido crescente o interesse no seu aproveitamento econômico. O aproveitamento desses resíduos florestais e de outros subprodutos compostos por celulose em processos para a produção de produtos de maior valor agregado tem sido possível pelo desenvolvimento tecnológico ligado à biotecnologia e bioenergia, principalmente por serem materiais sobre os quais podem ser aplicadas as técnicas de bioconversão, direcionada fundamentalmente para a produção de bioetanol e polímeros (RAMANUJAN, 2007). Essas possibilidades já foram apontadas no estudo de Linde et al (1991), mas só recentemente ganharam forças, principalmente por conta de fatores ambientais e econômicos que apontam para restrições futuras ao uso do petróleo e seus derivados como principal fonte energética do planeta. Esses autores já apontavam, décadas atrás, a possibilidade de geração de energia e biocombustíveis a partir de materiais lignocelulósicos - resíduos de madeira, por exemplo – através da aplicação de bioconversão enzimática ou termodinâmica. Diferentemente do etanol (a partir da cana-de-açúcar no Brasil e do milho, nos Estados Unidos, por exemplo), o bioetanol, como é conhecido, é produzido pela manipulação química ou biológica sobre materiais da biomassa celulósica, precisamente, lignocelulósica. A produção de bioetanol a partir de materiais 1 O consumo de madeira para a produção de celulose e papel no Brasil, em 2008 foi de 28,5 milhões de toneladas (Bragatto, 2010) celulósicos tem sido chamada de “etanol de segunda geração” por se tratar de biocombustíveis cujas matérias-primas não disputam espaços com a plantação de alimentos. De acordo com Bomtempo (2011), Os biocombustíveis de 1ª geração competem com alimentos diretamente ao utilizarem matérias primas nobres e de uso alimentar; Os biocombustíveis de 1ª geração competem com alimentos, mesmo se não deslocam alimentos para uso energético, ao ocuparem terras férteis e deslocarem a produção de alimentos; Os biocombustíveis de 1ª geração, exceto o etanol de cana de açúcar, não são sustentáveis do ponto de vista ambiental; Os biocombustíveis de 1ª geração não têm condição, pelo nível de produtividade atual, de serem produzidos nos volumes previstos para atender os programas de utilização de energia renovável; Os biocombustíveis de 1ª geração utilizam matérias primas com problemas de qualidade, disponibilidade e preços que comprometem a viabilidade econômica da indústria; Os biocombustíveis de 1ª geração (etanol) não são substitutos ideais dos derivados de petróleo em termos energéticos e ainda exigem a construção de infraestrutura de transporte, distribuição e a adaptação dos motores. Os biocombustíveis de segunda geração, então, começam a despontar como uma alternativa tecnológica em relação a estes acima citados. O processamento do bioetanol a partir da celulose é, por um lado, um dos mais promissores fatores de mudanças paradigmáticas na geração de combustíveis alternativos e, por outro lado, uns dos seus maiores desafios. Os principais desafios a serem superados estão ligados ao desenvolvimento de plataformas termoquímicas e de tecnologias químicas e biológicas avançadas, já que a bioconversão (termoquímica ou enzimática) destes materiais poliméricos requer um processo que compreende duas etapas: hidrólise, ácida ou enzimática, dos polímeros de açúcares em monossacarídeos, seguido de bioconversão para o etanol (RAMANUJAN, 2007). A possibilidade de viabilidade econômica desses processos abre espaços para a geração de bioetanol através do eucalipto, por exemplo. Em primeiro lugar porque em termos de geração de biomassa, enquanto a cana-de-açúcar produz em torno de 10,6 toneladas de bagaço por hectare em um ano, o eucalipto chega a gerar de 23 a 25 toneladas de biomassa por hectare/ano. Em segundo lugar, porque o eucalipto possui mais polímeros de celulose do que o bagaço de cana-de-açúcar, o que significa mais açúcares fermentáveis, aumentando seu potencial em termos de geração de energia e de biotenaol (RAMANUJAN, 2007). 2.1 - UMA BREVE DESCRIÇÃO DO PROCESSO E AS PRINCIPAIS DEFINIÇÕES A produção de bioetanol com base nessas fontes celulósicas é promissora, mas exigirá o domínio de tecnologias a respeito das quais os processos de aprendizado ainda estão numa fase inicial, diferentemente e comparativamente àquelas voltadas à geração do etanol a partir da cana-de-açúcar (no Brasil) ou do milho (Estados Unidos). Ou seja, as pesquisas se desenvolvem ainda com um amplo leque de variedades (experimentos e trajetórias tecnológicas), sem que tenha se formado uma determinada trajetória mais bem definida e dominante, exatamente fruto da não manipulação total desses processos, que são considerados ainda caros e complexos. Essas diferentes tecnologias alternativas estão ligadas, principalmente, às possibilidades de domínio dos processos de hidrólise ácida (processo químico) ou enzimática (processo biotecnológico). Esses processos são necessários para se chegar aos açúcares e, posteriormente, através da fermentação/bioconversão, chegar ao bioetanol. Segundo Badger (2002), os materiais celulósicos são compostos por polissacarídeos, que são a celulose, a hemicelulose e a lignina. Com exceção da lignina, a celulose e a hemicelulose (em condições restritas) podem ser transformadas em açúcares que, fermentados, permitirão a produção de bioetanol. (a) Hidrólise enzimática: A principal característica desse processo é o uso de fungos e bactérias que secretam as enzimas capazes de quebrar a celulose e uso de leveduras, quando se trata da fermentação dos açúcares em álcool. Quanto mais esse processo puder ser manipulado e acelerado, mais competitivo poderá ser o etanol celulósico, via processo de hidrólise enzimática. O grande desafio do uso da hidrólise enzimática está na capacidade de manipular toda a rede de reações bioquímicas que seriam necessárias para converter diferentes tipos de açúcares em etanol, com alta produtividade. O organismo ideal para tal função seria aquele capaz de quebrar a celulose, tal como uma bactéria; fermentar o açúcar como uma levedura e tolerar altas concentrações de etanol (no processo de fermentação correntemente em uso, o etanol tem de ser continuamente retirado dos tanques de fermentação, caso contrário as leveduras morrem). A fim de criar esse organismo ideal, seria necessária alguma manipulação genética (biotecnologia), a fim de remover as características genéticas indesejadas de um microorganismo e acrescentar genes desejados vindos de outros microorganismos. A segunda opção seria construir um genoma customizado quase que do zero em uma célula sintética (INOVAÇÃO UNICAMP, 2006). Em todos os casos, entretanto, seriam necessários novos e importantes saltos na curva de aprendizado daqueles que já fazem tentativas com essas possibilidades. Ainda outro problema nessa metodologia é a necessidade de um pré-tratamento da matéria in natura já que o uso de enzimas gera um processo de baixa eficiência, sem esse tratamento prévio2. Essa etapa de preparação é relativamente menos intensiva em tecnologia que as etapas posteriores (hidrólise e bioconversão), mas são importantes para o aumento da eficiência em todo o processo posterior. 2 O pré-tratamento é uma das etapas cruciais para a obtenção de um processo eficiente. Essa etapa tem o objetivo de remover a lignina e hemicelulose, reduzir a cristalinidade da celulose, aumentar a porosidade da parece celular e minimizar a formação de subprodutos tóxicos, já que tais subprodutos são gerados a partir de compostos da degradação desses elementos que devem ser removidos (MAICHE E HUBER, 2010). Esse tipo de pesquisa está em um estágio tecnológico mais avançado, assim como apresenta maior possibilidade de integração às instalações industriais das plantas de primeira geração (ZÚÑIGA, 2010). (b) Hidrólise ácida Nessa forma de produção, o fundamento é a quebra das moléculas de celulose por meio da adição de ácido sulfúrico aos resíduos, o que significa um processo sintético e não biológico. A diferença está no catalisador. No caso da hidrólise ácida, o catalisador é um ácido e não um organismo. Pelo fato de ser um catalisador muito rápido, o ácido precisa ser muito bem controlado para não levar a reações paralelas indesejáveis ou incontroláveis. As tentativas de controle desse processo levariam a necessidade de adição de elementos para novas reações químicas, novamente potencializando resultados fora daqueles esperados. A hidrólise ácida tem como vantagem o fato de poder ser aplicada sem a necessidade de uma seleção das características químicas do material lignocelulósico e ainda de produzir alta concentração de monossaracarídeos disponíveis para a fermentação. Porém, esses mesmos elementos causam corrosão nos materiais/equipamentos, levando a necessidade de retirada dos reagentes imediatamente e continuamente, o que envolve geração de resíduos e, por isso, impactos ambientais consideráveis (BRAGATTO, 2010). 3. ANÁLISE ECONÔMICA EVOLUCIONÁRIA: APLICAÇÕES AOS BIOCOMBUSTÍVEIS DE SEGUNDA GERAÇÃO 3.1 – A DISPONIBILIDADE TECNOLÓGICA As pesquisas com o uso da celulose não estão restritas à geração de bioetanol. Esses estudos também buscam dominar os processos tecnológicos para a geração de fármacos, plásticos, enzimas, biorefinarias, caracterização de materiais lignocelulósicos, estudo da solvência da lignina, seleção e desempenho de catalisadores e promotores na hidrólise ácida da celulose e da hidrólise enzimática, além de uma ampla linha de pesquisa em biotecnologia. Embora nem no Brasil e nem no restante do mundo tenha havido o desenvolvimento de uma tecnologia específica que possa ser caracterizada como dominante na produção de grande escala e capaz de ser comercialmente difundida, várias plantaspiloto espalhadas pelo mundo apostam na tecnologia de hidrólise enzimática, já que apresenta grande potencial em virtude de características como a especificidade da reação, ausência de reações secundárias, ausência da formação de produtos secundários. Isso quer dizer que o critério de ‘disponibilidade tecnológica’ para a efetividade da inovação ainda é fator crítico para os combustíveis de segunda geração: a tecnologia está disponível apenas parcialmente, querendo significar que algumas trajetórias experimentais para a produção de bioetanol apresentam ainda ‘vazios’ tecnológicos, dificultando a obtenção de fatores sucesso no processo inovativo. Contudo, nunca é demais lembrar que, na visão neo-schumpeteriana, a inovação acontece para responder a tais tipos de problemas que, essencialmente, se transformam em uma oportunidade. Por outro lado, não se pode esquecer que, nessa abordagem, os agentes agem no âmbito de um ambiente de seleção: nem todas as decisões serão tidas como acertadas e selecionadas pelo mercado. Ou seja, a própria diversidade de decisões levará a geração de ganhadores e perdedores. A existência de alguns “vazios” tecnológicos – ou ainda sobre os quais o conhecimento ainda é pouco sistematizado e aplicado – força uma realidade em que a produção de etanol de segunda geração, em escala comercial, fica limitada, já que a não definição de uma tecnologia dominante leva a altos custos das celulases e das enzimas usadas na hidrólise para obtenção de açúcares. 3.2 – A VIABILIDADE ECONÔMICA Embora ainda não se haja definido uma tecnologia superior que dê condições à produção do bioetanol de forma comercial e em larga escala, algumas empresas já enxergam as possibilidades de viabilidade econômica do bioetanol celulósico e investem nessa área. Neste sentido, pode-se citar a iniciativa de parceria da FAPESP com a Oxiteno, especificamente no investimento do desenvolvimento de tecnologias voltadas para a hidrólise (FINEP, 2009). O desenvolvimento dessas ‘tecnologias meio’ pode abrir várias oportunidades de inserção do Brasil no comércio internacional em todos os elos da produção de bioetanol. Exemplo disso é que Brasil exportou, em 2010, cerca de 23 toneladas de preparados celulásicos (ZÚÑIGA, 2010). Mesmo não sendo um número tão significativo, dá o indício de novas possibilidades para as empresas nacionais que se dedicarem a tais buscas tecnológicas. Em termos internacionais, embora se perceba a potencialidade da geração de bioetanol a partir da celulose, os custos envolvidos em sua produção ainda são considerados muito altos. De acordo com a EIA - Energy International Agency (2008), com a tecnologia de então, o bioetanol produzido a partir da celulose tinha um custo de US$ 2.25 a 2.50/galão em 2008. Ainda de acordo com a EIA (2008), se as projeções do projeto Emmetsburg se concretizassem, tais custos poderiam ser reduzidos à US$ 0.60/galão até 2015, tornando o bioetanol competitivo como a gasolina. Esse projeto Emmetsburg, já com tecnologia patenteada, baixou os custos para algo em torno de US$ 2.00/galão em 2010 (OPENPR, 2010). Uma vez que a demanda crescente é fator importante para a viabilidade de qualquer inovação, no que se refere aos biocombustíveis, as tendências apontam para o favorecimento desse requisito. A previsão é que os biocombustíveis de segunda geração respondam por 64% da demanda por biocombustíveis nos Estados Unidos em 2020, por 10% na Europa e por 11,% na China, no mesmo período (OPENPR, 2010). 3.3 – A QUESTÃO INSTITUCIONAL No caso da produção de etanol a partir da celulose, é muito clara sua sensibilidade de sucesso em relação ao apoio institucional, tanto para a pesquisa quanto para o rompimento das barreiras econômicas (e de outros tipos) que ainda enfrenta. No caso dos EUA, de acordo com o FAPRI (2008) e EISA (Energy Independence and Security Act), o etanol produzido a partir da celulose deveria receber um subsídio igual a U$ 3.00, o que estimularia o uso voluntário de E-10 e de E-85, que, por sua vez, levaria a absorver o incremento de oferta a partir dessas tecnologias. Uma outra iniciativa importante foi do Departamento de Energia dos EUA que investiu US$ 1,4 bilhões para constituição de um Fundo de Desenvolvimento para o etanol a partir da celulose. Esse Fundo permitiu a construção de uma planta do projeto Emmetsburg (INOVAÇÃO UNICAMP, 2009). Em relação à União Européia, sua percepção da importância da geração de bioetanol está diretamente ligada às suas ações diretivas dos biocombustíveis. De acordo com o 7th Framework Platform 2007-2013, essas ações podem ser colocadas como: (i) estímulo à demanda de biocombustíveis, apoiada em isenções tributárias; (ii) captura dos objetivos ambientais pela redução das emissões de CO2; (iii) estímulo à produção e distribuição de biocombustíveis e (iv) apoio a P&D em biocombustíveis e fortalecimento da competitividade dessa indústria, com prioridade para pesquisas relacionadas a biorrefinaria e plataformas tecnológicas da segunda geração de biocombustíveis (etanol lignocelulósico). Os Projetos Integrados Renew18 e Nile19 são considerados ações-chave no desenvolvimento em escala piloto da segunda geração de biocombustíveis na União Européia. Liderado pelo Institut Français du Pétrole, o projeto Nile19, por exemplo, é um consórcio de 21 instituições de 11 países europeus e constituiu o primeiro projeto europeu voltado para a cadeia de produção de bioetanol a partir da celulose, com orçamento que girou em torno de US$ 12,8 milhões (60% provenientes da Comissão Européia), entre 2005 e 2009 (ZÚÑIGA, 2010). No caso brasileiro, merece destaque a iniciativa, por parte da Embrapa, da criação da EPE – Empresa de Propósito Específico em Agroenergia, em 2007, que conta com o apoio da Petrobras, Cepel, UFRJ, UFF, Instituto Nacional de Tecnologia, Unesp, Unfscar, Unicamp, USP, Universidade Federal de Viçosa, Universidade Estadual do Ceará, UFP, UFBA, Universidade Estadual de Maringá, Universidade Vale do Itajaí e UNB em diversos projetos. A criação da EPE Agroenergia, possibilitou o uso dos mecanismos fiscais de incentivo à P,D&I descritos na Lei de Inovação. Dentre os principais projetos dessa empresa, consta o aproveitamento energético da biomassa, o que inclui aí as pesquisas sobre as tecnologias voltadas para o bioetanol, a partir da celulose (EMPRABA, 2008). Ainda no caso brasileiro, o MCT iniciou a construção de uma plataforma de bioetanol com base em hidrólise enzimática, usando o bagaço de cana, junto ao Centro de Ciência e Tecnologia do Etanol (ZÚÑIGA, 2010). Assim, é possível perceber a construção, tanto no Brasil como em outras regiões, de uma institucionalidade voltada para o apoio à geração do bioetanol. Como já colocado, essa institucionalidade é fundamental já que, a deixar pelos mecanismos de mercado puramente, ainda enfrentaria barreiras por conta do estabelecimento já consolidado de outras tecnologias e trajetórias voltadas para os combustíveis fósseis e aqueles biocombustíveis de primeira geração. 4. A EVOLUÇÃO E MEDIDAS RECENTES PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DA CELULOSE 4.1 - OS NÚMEROS E AS AÇÕES NO BRASIL Embora ainda sejam incipientes, as ações empresariais e dos institutos de pesquisas e governos quanto ao incentivo ao desenvolvimento de tecnologias e produção do etanol a partir da celulose, tem sido vistas como estratégicas em longo prazo. Tais desenvolvimentos são imprescindíveis para a manutenção da liderança brasileira em temos de combustíveis renováveis. Em abril de 2008, a DuPont, em parceria com a Danisco, anunciou a criação de uma empresa para fabricação e comercialização de etanol a partir da celulose. A companhia, com capital de US$ 140 milhões começou a comercializar o etanol a partir da celulose em 2012. Enquanto a DuPont desenvolve os processos da fase de pré-tratamento (da celulose) e a fase final do processo, de fermentação, a Danisco desenvolve a etapa intermediária decisiva, através da hidrólise enzimática (Dupont DANISCO CELLULOSIC ETHANOL, 2009). A Dedini Indústrias de Base S.A. realiza pesquisas com base na hidrólise enzimática e vem, desde 2003, testando uma unidade piloto com a produção de 5 mil litros diários de bioetanol, a partir do bagaço de cana, mas tem apresentado resultados de aproveitamento relativamente baixos: 218 litros de bioetanol para cada tonelada de matéria-prima (ZÚÑIGA, 2010). Ainda a Oxiteno também iniciou a construção de uma biorrefinaria para viabilizar comercialmente a produção de etanol de segunda geração, via hidrólise enzimática (BOMTEMPO, 2012). A Petrobras – única empresa de energia com uma subsidiária voltada para biocombustíveis - inaugurou o projeto CBio (Complexo Bioenrgético) em parceria com a Mitsui (japonesa) e a Itarumã (brasileira). Inicialmente voltada para a produção de etanol de primeira geração, o projeto prevê a produção paralela de etanol de segunda geração, utilizando a hidrólise enzimática. A matéria prima também será o bagaço de cana. Em relação especificamente à Petrobras, embora sempre anuncie um volume expressivo de investimentos (US$ 3,5 bilhões em 2011), apenas uma pequena parte é destinada aos biocombustívies e, dentre esses, os recursos são fortemente direcionados para aqueles de primeira geração, apontando claramente o viés tecnológico ainda conservador. Embora tais montantes investidos coloquem a empresa entre as maiores investidoras em biocombustíveis dentre as empresas de petróleo e gás, sua visão tem sido majoritariamente de assegurar posição na indústria de etanol de cana de açúcar e com poucos projetos voltados ao etanol celulósico (BOMTEMPO, 2012). Sabe-se, ainda assim, que a empresa acertou parceria com a KL Energy para o desenvolvimento de etanol celulósico a partir de bagaço de cana e que se previu a possibilidade de uma planta em 2013 junto a uma das unidades de etanol de primeira geração já existentes (BOMTEMPO, 2012). Essa iniciativa fortalece as pesquisas nessa direção que já acontecem no CENPES. Ou seja, apesar disso, é preciso dizer que o grande volume de recursos aplicados pela Petrobras como um sinal de efetivo interesse de manter uma posição de liderança na indústria de biocombustíveis. Entretanto, o foco estratégico parece se concentrar na indústria de primeira geração – etanol e biodiesel – não vislumbrando efetivamente até o momento um esforço de construção da indústria de biocombustiveis do futuro e de busca de liderança nessa nova indústria (BOMTEMPO, 2012, p. 08). 4.2 - OS NÚMEROS E AS AÇÕES NO MUNDO Em 2007 o Departamento de Energia dos Estados Unidos financiou a construção de 12 plantas de etanol celulósico, além de três centros de pesquisas voltados para o desenvolvimento de novas tecnologias para biocombustíveis a partir da celulose, com um investimento total de US$ 1 bilhão (ZÚÑIGA, 2010). A Iogen, empresa de biotecnologia canadense, começou sua produção de etanol celulósico em 2004, usando a palha de milho como substrato e um fungo geneticamente modificado para produzir suas enzimas que digerem celulose. O preço da primeira planta comercial atingiu US$ 500 milhões, cinco vezes o custo de uma planta convencional para a produção de etanol derivado de milho de tamanho similar (Technology Review, 2008). Apesar disso, a Iogen já teve faturamento anual de US$ 15 milhões em 2008, mas tem ampliado recursos para pesquisas em virtude do estabelecimento de parcerias com empresas como a Shell Global Solutions (braço tecnológico da gigante do petróleo) e a PetroCanada, o banco de investimento Goldman Sachs e o governo canadense (IOGEN, 2011). A planta instalada pela Iogen juntamente com a Shell permite o processamento de 20 a 30 toneladas diária de palhas de trigo e pode produzir entre 5 e 6 mil litros de etanol celulósico por dia, também por via enzimática (ZÚÑIGA, 2010). O Energy Independence and Security Act, de 2007, definiu, como meta, a partir de 2022 uma produção anual de 136 bilhões de litros de biocombustíveis alternativos ao petróleo, desses 60 bilhões seriam de bioetanol.A tabela abaixo permite observar uma tendência crescente da produção de etanol nos Estados Unidos, com destaque para a previsão da produção de bioetanol, usando a celulose como matéria prima. TABELA 1 - PROJEÇÃO DE PRODUÇÃO DE ETANOL NOS EUA, EM MILHÕES DE GALÕES Etanol 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Produção 4.485 7.123 9.792 11.501 12.207 12.323 12.290 12.269 12.315 12.436 12.595 Milho 4.692 6.910 9.522 11.190 11.870 11.958 11.875 11.751 11.639 11.602 11.602 Celulose 0 0 3 13 27 53 107 213 373 533 693 Outras mp 165 213 267 298 210 311 308 305 302 301 299 Fonte: EIA (2008) Quando consideradas as projeções, pode ser observado que a partir de certo ponto a produção de etanol a partir de milho declina, deixando espaço para a produção de etanol com base na celulose e, em alguma proporção, para as importações. TABELA 2 – COMPARATIVO DE CUSTOS DE PRODUÇÃO ETANOL DO MILHO E CELULOSE, NOS EUA EM 2009. Milho Materiais celulósicos Custo de capital para construção das plantas (US$/galão) 1,25 ~ 1,50 4,30~5,40 Custo das enzimas (US$/galão) 0,03 0,30~0,50 Custo da produção do etanol (US$/galão) 1,10 2,30 Custo do transporte de matérias-primas Baixo Alto Rendimento do etanol por tonelada seca de biomassa (galão) 98 70-80 Tempo de fermentação (em dias) 2 7 Simples Complexo Processo de conversão Utilização de trabalho nas plantas de processamento Energia utilizada no processo Baixo Alto Gás natural e Auto-sucifiente eletricidade Fonte: Elaboração própria a partir de várias fontes Também o Departamento de Energia dos EUA anunciou o investimento em quatro projetos fundamentais para o desenvolvimento tecnológico capaz de tornar o processo de fabricação do etanol a partir da celulose economicamente viável. Essa viabilidade ainda é bastante restrita, conforme deixa claro a tabela acima. A maturidade dos quatro projetos deverá permitir a produção de 2,5 milhões galões a partir da celulose pro ano. O projeto é uma parceria entre o governo dos EUA e o setor privado, e têm as seguintes características: (i) ICM Incorporated of Colwich, Kansas: Com projeto de US$ 30 milhões esse projeto prevê a construção de uma planta para o aproveitamento de resíduos da agricultura e será localizadas em St. Joseph, Missouri. (ii) Lignol Innovations Inc., of Berwyn, Pennsylvania: Com US$ 30 milhões, essa planta deverá desenvolver tecnologias para a bioconversão da madeira em etanol. (iii) Pacific Ethanol Inc., of Sacramento, California: Com US$ 24,3 milhões, a planta, que será localizada em Oregon, irá converter resíduos da agricultura e florestais em bioetanol. No Japão, a Honda, através de sua subsidiária de pesquisa tem desenvolvido uma tecnologia para a obtenção de etanol, em larga escala, a partir de celulose e hemicelulose. O diferencial tecnológico que pretendem empreender está no fato de, durante o processo para separar a celulose dos resíduos, se formarem inibidores de fermentação que diminuem muito a eficiência da conversão dos açúcares em etanol. O desenvolvimento da pesquisa é feito em conjunto com institutos de pesquisas e financiado pelo governo japonês (INOVAÇÃO UNICAMP, 2008). Embora esses sejam alguns exemplos, várias outras empresas vêm testando e desenvolvendo novas tentativas tecnológicas para a produção do etanol de segunda geração, conforme pode ser observado no quadro abaixo. QUADRO 1 – PROJETOS PARA A PRODUÇÃO DE BIOETANOL NO MUNDO Empresa Matéria Prima Capaci Tecnologia dade Milhões litros por ano Abengoa Sabugo de milho, palha de trigo, Espanha capim Alico Madeira,resíduos EUA plásticos BioEthanol Resíduos de madeira 1,4 Hidrólise enzimática: fermentação Lixo Urbano, palha de trigo 11,3 Hidrólise enzimática Palha de trigo, casca de arroz 140 Combinação: hidrólise enzimática e de borracha, 5 Hidrólise enzimática: fermentação 51 Termoquímica: gaseificação e fermentação Japão BlueFire Ethanol EUA Coskata EUA Inbicon gaseificação Palha de trigo, palha de milho 10 Dinamarca Mascoma Combinação: hidrólise enzimática e gaseificação Capim e madeira 18,5 Hidrólise enzimática e biogás Palha e sabugo de milho 92,8 Hidrólise enzimática: fermentação RangeFuels Resíduos de madeira 70 Termoquímica: gaseificação CRAC Palha de Milho 6,3 Hidrólise enzimática: fermentação Bagaço de cana-de-açucar e madeira 5,1 Hidrólise enzimática: fermentação Resíduos de madeira 5,1 Combinação de hidrólise enzimática e EUA POET EUA China Verenium EUA Zea Chen gaseificação; hidrogenólise da lignina Fonte: (ZÚÑIGA, 2010). 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil, na década de 1970, desenvolveu um programa de sucesso relacionado à produção de um combustível alternativo ao petróleo com o uso da cana-de-açúcar. Já com considerável maturidade tecnológica, os elementos institucionais e econômicos foram testados e acabaram por consolidar um importante setor de produção energética no país. No caso dos Estados Unidos e Europa, embora tenha havido significativos investimentos na busca tecnológica e uma institucionalidade mais sensível à necessidade de diminuição do uso de carbono fóssil, a comparabilidade econômica ainda é favorável ao caso brasileiro. Em todos os casos, entretanto, a disponibilidade de matéria prima tem sido concorrente – mas não impeditiva – com a produção de alimentos. Mas o fato de o Brasil se mostrar mais bem sucedido na indústria de etanol de primeira geração, essa liderança não assegura ao país uma posição de liderança e mesmo uma posição relevante na indústria do futuro, baseada no etanol de segunda geração. A grande questão é que a indústria de biocombusítveis vai se modificar fortemente no futuro, eliminando os principais elementos da estrutura industrial que caracteriza o setor atualmente. O forte conteúdo de inovação que vem surgindo, rumo aos biocombusítveis de segunda geração mostra que o processo de irreversibilidade atua fortemente nessa indústria. Os biocombustíveis de segunda geração são produzidos a partir de matérias primas que sejam subprodutos de outros processos industriais. No caso do eucalipto, por exemplo, o aproveitamento se dá a partir de cavacos que foram até agora tidos como menos importantes e como sendo não portadores de valor agregado. No caso da cana de açúcar, a partir do bagaço que até recentemente era considerado de nenhum valor econômico. O desenvolvimento tecnológico para tornar viável economicamente a produção do etanol celulósico ainda depende tanto de uma institucionalidade que seja mais incentivadora quanto de acumulação de aprendizados sensíveis que culminem em novos saltos tecnológicos necessários. A problematização do uso de catalisadores biológicos ou sintéticos, como aqui colocado, é uma ilustração de como ainda há espaços para se aprender nessa área. Não se pode discordar, entretanto, da visão de que o aproveitamento de ‘subprodutos’ para a produção de energia abriria uma extraordinária capacidade de oferta energética em termos mundiais, diminuindo consideravelmente dependência de combustíveis fósseis. De uma outra coisa pode-se ter certeza: as trajetórias paradigmáticas que abriram a possibilidade para energias limpas já começaram a serem firmadas e o sistema econômico não poderá mais se acomodar no uso do ‘ouro negro’. Esse estado de repouso já foi destruído. REFERÊNCIAS BADGER, P. 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