08 França.

Transcrição

08 França.
OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
R
FA
NÇ
CONCEITUAL
#08
ULALÁ!
D&D. O maior e mais completo
shopping de decoração
e design da América Latina.
Lilian Pacce. Referência em estilo.
A estampa.
D&D. Referência em design e decoração.
por Lilian Pacce.
Consultora de moda e estilo.
Sim, moda e decoração sempre conversaram.
Afinal, as tendências de cores e estampas podem ser aplicadas
nas duas. Por exemplo, uma camisa tão estruturada que inspira
o desenho de uma cadeira. Estilos e tendências podem decorar
tanto seu guarda-roupa como sua sala.
Eu adoro quando a moda troca ideias com o ambiente.
Assim, minha casa fica sempre bem-vestida.
www.ded.com.br
ddshopping
dedshopping
Av. das Nações Unidas, 12.555. De segunda a sexta das 10 às 22h. Sábado das 10 às 20h. Domingo e feriados das 14 às 19h.
*
EDITORIAL
CONCEITUAL
#08
outubro/novembro 2013
Publishers André Poli e Roberta Queiroz
Conselho Editorial Renata Amaral, Carolina Szabó, Jéthero Cardoso,
Roberto Negrete, Alex Lipszyc
Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia
Edição e Direção de Arte Marcos Guinoza
Colaboradores Amer Moussa, Bruno Moreschi,
João Antonio Lourenço, Marcella Aquila
Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683
Revisão Luciana Sanches
OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
RA
*F
N
CONCEITUAL
Publicidade
Diretor Comercial Marcelo Damado
[email protected]
VELVET EDITORA LTDA
11 3082 4275 www.velveteditora.com.br
#08
ÇA
ULALÁ!
CAPA O novo design francês
é o tema da oitava edição
da ABD Conceitual.
ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores
www.abd.org.br
Estampa Dee, de Zoé Ouvrier
TRIÊNIO 2013/2015
Ofensa ao bom senso
Presidência: Renata Duarte Amaral
Vice-presidência: Marcia Regina de Souza Kalil, Ricardo Caminada,
Bianka Mugnatto, Jéthero Cardoso Miranda
Conselho Deliberativo - Membros Efetivos: Carolina Szabó (SP), Carlos Alexandre
Dumont (MG), Paula Neder de Lima (RJ), Francesca Alzati (SP), Silvana Carminati (SP),
Mauricio Peres Queiroz dos Santos (SP), Luiz Saldanha Marinho Filho (RJ), Alexander
Jonathan Lipszyc (SP), Renata Maria Florenzano (SP), Jaqueline Miranda Frauches
(MG), Rosangela Larcipretti (SP), Joia Bérgamo (SP), Flavia Nogueira da Gama Chueire
(RJ), Lucy Amicón (SP), Elisa Gontijo (SP)
Conselho Deliberativo - Suplentes: Nicolau da Silva Nasser (SP),
Paula Almeida (SP).
Conselho Fiscal - Membros Efetivos: Fabianne Nodari Brandalise (PR), Catia Maria
Bacellar (BA), Maria Fernanda Pitti (SP), Delma Morais Macedo (BA)
Conselho Fiscal - Suplente: Daniela Marim (SP).
Consultor: William Bennett
ERRATA - ED. #07
Pág. 16 - Legenda correta: papel de parede
da coleção Silence. Na Wallcovering
Pág. 18 - Legenda correta: Tempotest Floral,
100% acrílico. Na Donatelli Tecidos
4 abd conceitual out/nov 2013
Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade
dos autores e não refletem a opinião da revista.
Selo
foto Divulgação
Sugestões
[email protected]
Amigos,
Nós, os designers de interiores, vivemos momento
de turbulência no exercício legítimo da nossa profissão.
A competência atribuída ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo é de “fiscalizar o exercício das atividades profissionais de arquitetura e urbanismo”, exclusivamente. Porém, esse conselho se roga no direito
de autuar e notificar profissionais como paisagistas, designers gráficos, designers de produtos, light designers,
entre outros, por considerar essas atuações privativas de
arquitetos e urbanistas.
Por isso, consideramos a Resolução CAU 51 ilegal, inconstitucional e abusiva. Ela ofende o bom senso e expõe os designers de interiores a um verdadeiro
“bullying profissional”.
Dessa maneira, a ABD acredita que chegou a hora
de nós, os designers de interiores, nos unirmos para, juntos, lutar contra essa absurda perseguição institucional.
No dia 17 de setembro, travamos a nossa primeira
batalha rumo à regulamentação da nossa profissão. A Audiência Pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, foi
pura emoção e, em meio a lágrimas e aplausos, vencemos!
Mas ainda há muita luta pela frente e seu papel
nesta história é fundamental. Com a ajuda de cada um de
vocês, sei que conquistaremos o tão merecido reconhecimento como instituição, uma vez que, no Brasil, o setor e a
sociedade já o fazem há mais de cem anos.
Enquanto isso, aproveite mais esta edição da ABD
Conceitual, que tem a França como tema. A França das
revoluções, dos movimentos artísticos, da moda e gastronomia. A França e sua dedicação à “arte do bem viver”. A
França que continua como importante centro irradiador
de tendências em design.
É só apertar os cintos e embarcar com a gente
nessa viagem.
Renata Amaral, presidente da ABD
08 | FEIRA LIVRE
12 | odile decq
Maison&Objet: o mais abrangente evento de
decoração e design do calendário
Arquiteta, designer, artista plástica.
Multidisciplinar, inquieta, movida pelo desafio
[+]
24 | paris a pé
Marcas, coletivos e designers que
fizeram parte dos itinerários da
Paris Design Week
30 | LES DOCKS
42 | Árvores nuas
18 | olho neles!
26 | objetos úteis
Saiba quem são os novos criadores que estão
reinventando o design francês
Mathieu Lehanneur: “Para mim, o importante é
o que podemos fazer com os objetos”
Os biombos e painéis de madeira
da artista plástica francesa
Zoé Ouvrier
54 | sYnthetic nature
Novas possibilidades espaciais,
materiais e de escala nos artefatos
desenvolvidos pelo designer e
arquiteto Vlad Tenu
34 | parisiennes
48 | arte + design + ideias
A França e a dedicação permanente no
desenvolvimento de uma “arte do bem viver”
Semanas de design pipocam pelo mundo, e o
Brasil já tem a sua: a DW!, em São Paulo
6 abd conceitual out/nov 2013
PROCURE A REVENDA CONFIANÇA MAIS PRÓXIMA
Revitalização transforma região
portuária de Paris na Cidade
da Moda e do Design
SHOWROOM: 55 11 3062 2899 * IMPORTADORA: 55 11 3093 9811 * www.wallpaper.com.br
*
SUMÁRIO
*
MAISON&OBJET
[ Paris – 2013 ]
feira livre
Mais uma vez, fomos até Paris para dar uma espiada na Maison&Objet, feira de
moda casa que movimenta a capital francesa duas vezes por ano. A primeira edição
acontece em janeiro; a segunda, em setembro. O evento, com expositores nacionais
e internacionais, atrai milhares de visitantes e apresenta as últimas novidades em
decoração e design, reunindo marcas já consagradas e designers independentes
por andré poli e roberta queiroz
Mobiliário da Rue Monsieur Paris, empresa fundada em 2012, no setor Scènes d’Intérieur
Luminária BgoodD, Eric Berthes, Branex Design
Estante Boabook, de Thomas de Lussac
ficha técnica
Informações: # maison-objet.com
10 abd conceitual out/nov 2013
Funtasy, de Vincent Grégoire, mostrou peças e instalações em
que o excesso, o desrespeito pelo formal, a quebra de códigos, a desconstrução propunham experiências vanguardistas cheias de bom humor e
cores. Os objetos apresentados faziam uma homenagem às culturas pop
e digital, misturando a estética kitsch com futurismos da década de 1970
e cores flúor da new wave.
Psychotropia, de François Bernard, foi uma tentativa de explorar
o design da mente, que seria o caminho para alcançar mundos paralelos.
Psychotropia, no dicionário, significa “qualidade das substâncias psicotrópicas, alucinógenas”. Com referência ao surrealismo e ao esoterismo,
as instalações nos levavam por caminhos xamânicos, em que os objetos
carregados de simbolismos procuravam resgatar memórias do subconsciente e transgredir a ordem que norteia a nossa percepção de mundo.
Paralela à Maison&Objet, a Paris Design Week mostra um show de
eficiência em grandes eventos urbanos. O festival, que ocorre em vários
pontos da cidade, apresenta o que há de mais inovador na produção atual
da Europa em áreas como design de interiores, arquitetura, arte, design de
produtos, gastronomia. Caminhar, transitar, olhar, absorver, adquirir são os
mandamentos do evento, que teve como grande destaque o Now! le Off,
espaço em que jovens designers e coletivos, franceses e internacionais,
mostram suas criações, com algumas propostas ambiciosas para o design.
O múltiplo, o modular, o pluralismo, o efêmero, o adaptável, o mutável estão em alta, com peças que são uma coisa mas podem ser outra, como já
previa Lygia Clark.
Neste novo mundo, quem não é multidisciplinar vai dançar!
* André Poli e Roberta Queiroz viajaram a Paris
a convite da organização da Maison&Objet.
FOTOS DIVULGAÇÃO MAISON&OBJET
yA segunda edição 2013 da feira de moda casa aconteceu
entre os dias 6 e 10 de setembro no centro de exposições
Paris Nord Villepinte.
ySão mais de 3 mil expositores (43% de marcas internacionais), em uma área de 135 mil m².
yA Maison&Objet é realizada duas vezes por ano e apresenta tendências em objetos e acessórios de luxo, cenografias, materiais futuristas e novos conceitos de arquitetura.
yA feira é dividida em oito diferentes pavilhões, como
Scènes d’Intérieur (com criações de designers renomados
e de grandes marcas internacionais); Maison&Objet Projets
(com soluções técnicas para planejamento de ponta); Now!
Design à Vivre (design para o dia a dia); Maison&Objet Outdoor-Indoor (a arte de viver ao ar livre).
yO evento recebe, em média, 40 mil visitantes.
Cadeira Fauteuil MB01, Maison Bensimon Studio
MAISON&OBJET
Todos os produtos apresentados na
M&O já estão disponíveis no mercado. Por isso, a
feira é frequentada por lojistas do mundo todo e,
na prática, facilita a vida do designer de interiores, que pode especificar seus interesses.
No Pavilhão 7, os organizadores inovaram ao propor uma forma mais abstrata de pensar o design, com o projeto Observatoire. Ali, em
três salas, foram expostas as tendências em decoração para 2014, com ideias que mesclavam
design e arte.
Illuminations, de Elizabeth Leriche, foi
a sala mais experimental. A designer explorou a
energia da luz por meio de pulsações ritmadas e
fortes vibrações cromáticas, criando uma atmosfera surpreendente ao integrar tecnologia com
a percepção do cérebro. Para materializar seus
conceitos, Leriche usou bolhas de sabão, espelhos, projeções e plataformas digitais, provocando experiências sensoriais tão psicodélicas que
causariam inveja até em Timothy Leary.
Banca D’appoint, Rue Monsieur Paris
Luminária Mandarine, Binome
Entrar no Paris Nord Villepinte Exhibition
Centre, onde acontece a Maison&Objet, é uma
experiência fantástica. Dividida em oito pavilhões, a feira proporciona inúmeras possibilidades de interesse. São mais de 3 mil expositores
de várias regiões do mundo, ocupando uma
área de mais de 130 mil metros quadrados e
com público de cerca de 40 mil pessoas.
A diversidade de temas e produtos é
tanta que a primeira sensação ao chegar à feira
é que não teremos tempo de ver tudo durante
os cinco dias de evento. Por isso, a solução é
ajustar o foco.
Este ano, a M&O foi maior e mais abrangente. Havia, por exemplo, um pavilhão inteiro
dedicado à cozinha, e muitos produtos desenvolvidos por conhecidas marcas de moda, como
Fendi, Armani, Versace, Roberto Cavalli, entre
outras, lançando coleções de moda casa, o que
comprova a tendência de combinar lifestyle
com fashionstyle.
Banco Illusion de três lugares, Jean-Claude Cardiet, 22 22 Édition Design
*
MAISON&OBJET
[ Designer of the Year ]
modernista?
antimodernista?
punk anarquista?
ela é
odile
decq
por marcella aquila
Multidisciplinar. Inquieta. Movida pelo desafio. Arquiteta,
designer e artista plástica. Urbanista e planejadora urbana.
Professora da Ecole Spéciale d’Architecture de Paris.
ODILE DECQ
Francesa de Rennes, na Bretanha. E homenageada especial
na segunda edição de 2013 da Maison&Objet
Na página ao lado, luminária de teto
Pétale (2011) e poltrona desenhada
por Odile para a Unesco (2001)
12 abd conceitual out/nov 2013
14 abd conceitual out/nov 2013
Nestas páginas, interiores do l’Opéra Restaurant, que funciona no Palais Garnier, uma das mais tradicionais casas de
espetáculos de Paris. O ambiente, com predominância do vermelho, tem formas orgânicas, um mezanino e uma
cortina transparente que avança e retrocede, acompanhando as linhas originais das colunas do edifício
FOTOS DIVULGAÇÃO MAISON&OBJET
Odile Decq: elle est pas moderniste, elle est pas anti-moderniste. Elle est punk-anarquiste? Elle est pas seule sur terre... (Ela não é modernista, não é antimodernista. Ela é
punk anarquista? Ela não está sozinha na terra...). Sobretudo em uma terra que, em se
tratando de design, muito já rendeu e ainda rende. Considerando a ampla dimensão
e caráter de questões lançadas & respostas arriscadas para o desenho, que tiveram a
França como ponto de emissão, pode-se dizer que Odile Decq é filha dessa fertilidade. Seja pelo modo como designa a si própria, seja nas formas de expressar as ideias,
na arquitetura e no design de objetos, ambos incomuns, Odile desperta, no mínimo,
curiosidade. Se, por um lado, a linguagem de suas criações nos permite aproximá-la de
movimentos amplamente conhecidos da história do design, por outro, ela traz um fio
condutor para a construção de seus objetos e espaços que, embora popular no campo
das artes plásticas desde a década de 1960, é um programa ainda pouco assumido
entre arquitetos/designers: a experiência corporal nos cinco sentidos.
Ora apresentada como artista, ora como designer ou arquiteta, Odile Decq deve
a multidisciplinaridade também à ampla formação. Iniciou os estudos, ainda na década
de 1970, em história da arte, perto de Rennes, na Bretanha – sua região de origem –
formando-se arquiteta, em 1978, na Paris 6, e, no ano seguinte, urbanista e planejadora
urbana, pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Em parceria com Benoît Cornette,
fundou, em 1985, o ODBC Studio, união que durou até 1998, ano em que Benoît morreu em um acidente de carro. O ODBC, contudo, permaneceu até 2013 com apenas
Odile à frente, quando, nesse mesmo ano, ela fundou o Studio Odile Decq, em Paris.
Homenageada especial da Maison&Objet 2013, a designer, com Benoît, recebeu seu
primeiro prêmio, em 1990, pela construção do Banco Popular d’Oeste, em Rennes, concluído naquele mesmo ano.
Erguido basicamente de aço e vidro, o Banco Popular d’Oeste chama a atenção
pelas formas que, sob alguns aspectos, lembram as construções visionadas por arquitetos do construtivismo russo, marcadas pela imaginação sem limites e, portanto, por
invenções que desafiam, até hoje, as possibilidades técnico-construtivas da época –
tendo o caso mais emblemático a torre Tatlin, cujas estruturas girariam em frequências
diferentes conforme horas, dias, meses e anos. O Banco Popular não chega a causar
impacto com a dimensão dos projetos construtivistas, mas, além de operar com materiais igualmente à altura da época, emprega procedimentos similares e surpreendentes que serão aprofundados e desenvolvidos na obra mais recente de Odile Decq. É
curioso como se processa a relação bidimensional e tridimensional no Banco Popular:
as composições gráficas do edifício são desiguais no sentido bidimensional, ou seja,
se olhamos o objeto de frente, ele apresentará uma composição diferente daquela de
quando é olhado de cima ou de lado, sendo, todas elas, articuladas por uma unidade na
linguagem proporcionada tanto pelo material quanto por uma meta de desenho que
visa tirar partido desse material. Já a totalidade é apreendida pelo observador-interlocutor na medida em que ele caminha em volta e por dentro do edifício.
A promenade architecturale, que nada mais é do que esse processo de apreensão da arquitetura, considerando o deslocamento do corpo (em todos os seus sentidos) pelo espaço, é ponto-chave nas composições posteriores de Odile. A proposta
da promenade, no caso dela, pode ser entendida tanto como um diálogo com a obra
de Le Corbusier, que tem esse princípio bastante presente, sobretudo naquele que é
considerado o período tardio de sua produção, quanto
uma possível influência de movimentos das artes plásticas que partiam do corpo, e de sua interação com
o espaço, como matéria-prima para suas experimentações. Tal preocupação com a experiência do corpo
no espaço aparece em projetos como o do Museu do
Grande Sítio de Fósseis de Homo Erectus, na China, de
2012, e, claramente, no projeto do Macro (Museu de
Arte Contemporânea de Roma), de 2010. No museu
chinês, a proposta é que se possa não apenas contemplar as descobertas ali presentes como experimentar o
próprio sítio arqueológico, seja visualmente, uma vez
que o próprio edifício acompanha e tridimensiona-
liza as curvas de nível que compõem o terreno, seja
por meio de passeios em que as camadas geológicas
reveladas pelas escavações são reconstituídas. Já no
Macro, o espaço é fundamentalmente composto por
grandes áreas que estabelecem uma relação com o
exterior e pela circulação com caminhos que flutuam,
permeando esses grandes vãos e conduzindo a ambientes mais isolados, como o auditório vermelho, que
mais parece uma instalação.
Assim como o movimento do corpo se deslocando pelo espaço interessa à Odile, também o movimento das imagens em 24 quadros por segundo a
fascina. A paixão pelo cinema fica explícita no Pavilhão
Recipientes para pão Corbeille (2010), “cama” para
cachorros Victor’s House (2007). Foto maior: MACRO,
Museu de Arte Contemporânea de Roma (2010)
8 para a GL Eventos, em Lyon, concluído em 2013. Em
um edifício com programa de uso misto entre espaço
cultural e de escritórios, as quatro vistas que podem ser
contempladas a partir do topo do prédio foram fotografadas e são projetadas nas fachadas que, segundo
informa o site de Odile, “criam um jogo ambíguo entre
opacidade, representação e transparência”.
Mas não só de projeções espaciais vive essa
multifacetada mulher. Quando perguntada, em entrevista ao site designboom, qual projeto havia lhe dado
maior satisfação, sua resposta imediata foi: “O próximo!
Sempre o próximo projeto!”. E foi exatamente o entusiasmo pelo desafio que a levou, em 2010, ao campo do
design de objetos – até então ainda pouco explorado
por Odile. Por conta própria, estabeleceu uma missão:
trabalhar com luz. Na época, à frente das obras do Macro, visitou uma feira de mobiliário e escolheu, entre os
grandes nomes da iluminação ali presentes, a Luceplan
para uma parceria: desenvolver com a empresa as luminárias do futuro museu em Roma. A parceria imediatamente se estabeleceu e, depois dessa, muitas outras no
campo do design de objetos.
A sede permanente por novas experiências
leva Odile a diferentes campos de atuação, mas sempre mantendo a nota no desenho e na criação. Além
da arquitetura e do design, ela leciona, desde 1992, na
Ecole Spéciale d’Architecture de Paris. Quando não está
no estúdio, trabalhando, está na escola de arquitetura.
A atividade intelectual é um exercício que assume cada
vez mais espaço em sua vida, não apenas lecionando,
mas também por meio de trabalhos desenvolvidos nas
artes plásticas. Desde 2007, quando foi convidada para
mostrar suas obras na galeria Polaris, começou a desenvolver trabalhos artísticos que, segundo Odile, são uma
maneira de voltar ao que é essencial, ao conceito de todas as frentes de linguagem em que produz. De junho
a setembro de 2013, três instalações de Odile podiam
ser vistas na exposição Perspectivas, no Centro Cultural
Louis Vuitton, cuja proposta era apresentar obras que
processassem a meta de se “entender o espaço, o mundo e a essência de viajar”.
Mais do que a surpresa ocasionada por seu look
ou pela quantidade de trabalhos em áreas consideradas
de “especialidades” diferentes, Odile surpreende não só
por transitar entre essas áreas mantendo uma coerência, mas exatamente por demonstrar que arquitetura,
design de objeto, artes plásticas, cinema são, antes de
tudo, desenho.
# odiledecq.com
16 abd conceitual out/nov 2013
*
MAISON&OBJET
[ Talentos à la Carte ]
!
olho neles
A celebração do olfato
por amer moussa
A cada edição, a Maison&Objet
seleciona seis nomes que estão
reinventando o design à la française
e abre um espaço de exposição para
eles apresentarem suas armas. Saiba
quem são esses novos criadores
18 abd conceitual out/nov 2013
Barnabé fillion
Moda, fotografia, botânica e viagens alimentam a imaginação deste “nariz” de 30 e
poucos anos, que recentemente compôs um perfume para a Caravane. O trabalho de
Barnabé Fillion é uma celebração do sentido olfativo, um convite para experimentar
aromas por técnicas da fina perfumaria, criando fragâncias orgânicas, delicadas e
distintas. Sobre o Parfum de Sieste, da Caravane: “O que importa não é tanto se o
aroma é natural, mas sim se ele evoca momentos da natureza por meio dos vestígios
que se desenrolam”. Ainda assim, o perfume é composto de matérias-primas cruas
naturais de “pequenas culturas apaixonadas”, sem corantes ou fragrâncias sintéticas.
Onde mora sua imaginação? “Amo Tanger, no Marrocos, mas infelizmente não vivo
mais lá. É um ótimo lugar para se aprender sobre perfumaria árabe tradicional. Eu
acredito que uma ideia, um lugar ou um sentimento pode ser condensado a ponto
de ser possível inserir sua totalidade em um frasco, de forma que se possa dispor dos
sentidos ao máximo.” # barnabefillion.com
Mobiliário com estranhamento
BIEN DES CHOSES
Formado pelo trio Gérald Perrin, Eric Van de Walle e Jules Cairon, o grupo se
define como “co-habitantes do mesmo teto, em que todos podem dar a sua
contribuição”. Com a riqueza de suas experiências, eles tecem trabalhos gráficos
e peças de mobiliário carimbados com humor e surpresa. “Nossa gramática
elementar é estabelecer um radical, um mínimo. Assim operamos em uma espécie
de reativação que nos permite outras construções mentais.” Seu mobiliário busca
o estranhamento ao se separar do seu status atribuído – eles nem sempre são
identificáveis. No entanto, ainda que ironicamente, respondem a uma função
elementar e primária: “Uma resistência às intempéries”. Sobre o processo criativo,
o grupo afirma que “com o objetivo de não nos fechar em nós mesmos, nosso
workshop é como um casulo, em que, como besouros, pensamos e trabalhamos
com materiais e informações circundantes. Nossa inspiração vem das experiências e
realizações acumuladas e do patrimônio cultural e artístico”. # biendeschoses.fr
Banco Aggloméré Hydrofuge (aglomerado
hidrófugo), 38 x 303 x 38 cm – 2013
Energia onírica
Experiências transparentes
Pintura. Escultura. Instalações. Este nativo de Nantes é um arrojado polímato
– profissional de múltiplas capacidades. Metade bestiário, metade gabinete
de curiosidades, misturando insights e materiais ilimitadamente, seu mundo
empurra o espírito da vaidade para a fronteira do inquietante e do estranho.
Habitado por minerais, plantas e elementos sintéticos, seu profícuo ateliê
armazena uma energia onírica, materializada em obras que registram o caráter
libertamente espontâneo de sua jornada particular. Não procure uma lógica
euclidiana nisso tudo, aqui conta mais a intenção, o gesto, a manipulação
da matéria como significado. Questionado sobre sua inspiração para a
originalidade em um mundo inundado de informação, ele responde: “O homem
se torna intoxicado por imagens e por vezes se aborrece, porque sua natureza
é insaciável. Quando esta abundância me paralisa, procuro respirar o húmus do
solo, acariciar as folhas das árvores e ouvir as quedas d’água”. # evor.fr
Designer de interiores e arquiteto, cultiva o design da invenção, da luz e dos objetos
minimalistas. Seus produtos exploram texturas quentes, de materiais como madeira
e couro, que são combinados com componentes de vidro e plástico e convidam o
usuário a uma experiência transparente, como o polêmico aparador Archibird, uma
gaiola redesenhada para pássaros de cores vibrantes, em uma atitude politicamente
incorreta com o intuito de extrair signos fortemente expressivos da natureza. As
soluções delicadas do designer têm procurado expressar histórias poéticas, enquanto
se propõem a renovar o gênero utilitário. Pela agência de Bruno Moinard, Grégoire
colaborou com projetos importantes, como a sede da Hermès em Paris, as boutiques
Cartier, uma mansão da Veuve Clicquot e, mais recentemente, o restaurante Ciel de
Paris, no topo da Torre Montparnasse. Ao mesmo tempo, desenvolveu seu próprio
design de interiores e mobiliário, vencendo o prêmio VIA por quatro anos consecutivos,
de 2011 a 2014. # gregoiredelafforest.com
EVOR
Mascarade New York: impressão fotográfica
em dibond, 21 x 29,7 cm – 2012
FOTOS DIVULGAÇÃO MAISON&OBJET
20 abd conceitual out/nov 2013
GRÉGOIRE DE LAFFOREST
Luminária Olab, 60 x 33 cm – 2012
Simples e elegante
Racionalidade e sonho
Fã do preto e branco, este artista/projetista gosta do contraste, é atento aos detalhes
e procura detonar os limites dos efeitos visuais para, assim, renovar os gráficos
contemporâneos. Seus ambientes internos noir têm conquistado cada vez mais
um público que procura resgatar a ambiência construtivista do fim dos anos 1920,
além de pessoas ávidas por espaços simples, porém elegantes. Como designer de
objetos, criou o zigurate – pequenos contêineres de padrões listrados congruentes
e empilhados e louças com motivos circulares, evocando uma precisa sensibilidade.
Recentemente, realizou um projeto em parceria com a Stockman, famosa marca
que fabrica manequins clássicos desde 1867. O artista desenvolveu três manequins
haute couture em edição limitada – apenas dez exemplares de cada. Os bustos
geométricos, inspirados em caleidoscópios, revelam a estrutura do corpo por meio
de sutis retículas radiais, ou em tramas de tiras desencontradas em diferentes
escalas – ampliando a sua coleção de formas ópticas. # the-eem.com
A dupla se divide em duas direções: enquanto um explora as possibilidades
da diversidade, o outro penetra em um universo de estilos excêntricos. Assim,
compõem seu design com a áurea melancólica da moda antiga. Aos 24 e
27 anos, ambos têm balançado a uniformidade da cena contemporânea por
meio de oficinas-manifesto – rituais não convencionais voltados à pesquisa e à
surpresa. Raphaël Groelly compara seu trabalho a um gabinete de curiosidades:
“Uma antessala onde eu opero uma tensão, de consistência invisível, entre
racionalidade e sonho, arte e design, natureza e artifício”. Sobre suas ideias:
“Tenho paixão pelo monstruoso. Mas o monstro, longe de ser um acidente
da criação, é uma emanação da natureza que eu aprisiono no processo de
transformação em obra de arte”. Réjean se dedica mais a objetos e mobiliário.
Fascinado por ecossistemas, cria encontros entre formas e materiais, misturando
áreas como arquitetura, esportes e etnologia. # rejean.fr | raphaelgroelly.com
EMMANUEL BOSSUET
RAPHAëL & RéJEAN
Série de azulejos Bossaco, 15 x 15 cm – 2013
Boa chair: estrutura de carvalho, 45
x 90 x 100 cm. Assento: couro ou
tecido com espuma – 2011
22 abd conceitual out/nov 2013
*
MAISON&OBJET
[ Paris Design Week ]
paris a pé 1
GASPARD
2
GRAULICH
Atelier
à
Quatre
3
LES
CADETS
por marcella aquila
embora o mundo seja vasto e o circuito dos eventos
de design se amplie a cada ano, a Europa ainda concentra boa parte desses acontecimentos, articulando marcas e atores novos e consagrados. Paris, pela
tradição, não poderia deixar de ser, também, um ponto
irradiador de tendências, e A Paris Design Week, que
acontece como um desdobramento da Maison&Objet,
procura apresentar contribuições francesas (mas
não só) para o design. o evento se organiza em itinerários pela cidade luz que contemplam as diversas
conexões do design com outras formas de linguagem: arquitetura, urbanismo e gastronomia, além de
design digital, design icônico (atemporal) e design
francês. A seguir, apresentamos algumas marcas, coletivos e designers que integraram esses itinerários.
4
JEAN-BAPTISTE
BOUVIER
24 abd conceitual out/nov 2013
Dedicado à produção de objetos do cotidiano, esse escritório não se restringe a
escalas específicas nem a padrões preconcebidos. Seus profissionais encaram
qualquer desafio quando o assunto é design (mobiliário, cenografia, instalações,
projetos luminotécnicos etc.), realizando obras sob medida ou em peças únicas.
Imagem: mesa Bureau Iceberg. # atelieraquatre.com
Um coletivo que reúne cinco jovens designers franceses cujos trabalhos, em linhas
gerais, têm grande apelo artesanal, com uso de materiais de origem orgânica.
Anna, Violaine, Hélène, Guillaume e Charlotte definem seu trabalho como “um
design doce que cria objetos capazes de florir o nosso cotidiano”. Imagem:
luminária L,de Anna Leymergie. # lescadets.fr
5
6
7
Alain
Marzat
Conhecido por seus trabalhos como designer e diretor de arte na área de
moda, Marzat recentemente lançou suas primeiras peças de mobiliário. Ele é
declaradamente influenciado pelo movimento moderno do século 20 e seus
objetos derivam desses princípios plásticos, agregando materiais contemporâneos.
Imagem: mesa baixa Lacrima. # alainmarzat.com
FOTOS DIVULGAÇÃO paris design week
Ele é curador de peças de design, sobretudo de mobiliário, com especialização em
designers franceses do pós-guerra. Em sua loja no mercado Paul Bert, encontramse criações de Marcel Gascoin, René Gabriel, Jacques Hitier, Pierre Guariche,
Mathieu Matégot, Roger Landault, RJ Caillette, entre outros. Imagem: escrivaninha
Bureau, de Claude Vassal (1955). # cargocollective.com/jeanbaptistebouvier
“O design deve fazer com que as pessoas se surpreendam. Deveria ser um
gatilho para uma nova visão das coisas” , diz Gaspard. Nascido nas Ilhas Reunião,
no Oceano Índico, ele tem um trabalho com formas elementares e estruturas
aparentes, que sintetiza suas preocupações fundamentais: o ambiente, a indústria
e o conceito. Imagem: apoiador de objetos Irmãos Plo. # gaspardgraulich.com
BENJAMIN
ROUSSE
Francês de Lyon, ele se intitula “designer de produtos e do espaço”. Interessado
em uma apreensão global do design, seu trabalho tem como meta, segundo
suas palavras, “estabelecer uma relação entre forma e função, o cheio e o vazio e
material e poesia”. Imagem: prateleiras modulares Etag’Aire. # benjdesign.wix.com
ELSA
RANDÉ
Com anos de experiência no segmento de luxo, trabalhando para marcas
consagradas, Elsa fundou seu próprio estúdio de design em 2012 e apresenta,
este ano, sua primeira coleção de peças de mobiliário. Imagem: uma pequena
biblioteca chamada L’écume des Jours ou, em português,“a espuma do dia”.
# elsarande.fr
*
DESIGN FRANCÊS
OBJETOS ÚTEIS
Mathieu Lehanneur: o designer mais
interessado na funcionalidade do que
na beleza das peças que cria
Por marcos guinoza
Ele é francês. Tem 38 anos. É casado. Tem dois filhos. Nasceu em Rochefort, cidade localizada no sudoeste da França. Formou-se em 2001, na Escola Nacional Superior de Criação Industrial, em Paris, onde vive e
sonha e cria suas misteriosas e fascinantes obras.
Ele é Mathieu Lehanneur, o cara que Philippe
Starck, em 2010, afirmou que seria um dos designers
mais influentes desta década. Dito e feito. Lehanneur,
hoje, é nome fundamental do design.
Basta procurar. Ele está em todas. E veio ao
Brasil recentemente.
Mathieu Lehanneur, no entanto, não pertence
Electric: projeto de Lehanneur que ocupa uma área de 1.000 metros quadrados em Paris. É uma plataforma cultural composta por uma árvore negra de
fibra de vidro que emite som e luz. Foi ali que o duo de música eletrônica Daft Punk fez as fotos para o disco Random Access Memories (2013)
26 abd conceitual out/nov 2013
Acima, purificador de ar Andrea, criado por Lehanneur em parceria com David Edwards.
A planta no interior do objeto absorve toxinas. Abaixo, Tomorrow Is Another Day: objeto
projeta imagens do clima do dia seguinte, oferecendo a pacientes terminais do hospital
Diaconesses, em Paris, a oportunidade de estar um dia à frente do seu tempo
SEDUÇÃO EM SÉRIE
No livro A Linguagem das Coisas (Editora
Intrínseca, 2010), o inglês Deyan Sudjic, diretor do
London Design Museum, analisa o papel do design
na sociedade atual, mostrando “como podemos ser
manipulados e seduzidos pelas coisas que possuímos ou desejamos possuir”.
Para Sudjic, o design controla o mundo.
Para Sudjic, o design e os designers são
Lehanneur também circula
pelo lado mais espetaculoso do
design. A luminária Cloudy foi
projetada para a marca italiana
Fabbian e lançada durante o
Salão do Móvel de Milão
parte crucial deste momento histórico de supervalorização do descartável, em que os produtos são
programados para se tornar obsoletos em poucos
meses. É o que ele chama de “sedução em série”.
Ou: “Fazer um produto novo parecer mais desejável do que um velho e com que este que está sendo substituído pareça ultrapassado”.
Outras provocações de Sudjic:
“Desde que surgiu como profissão independente, o design é usado para manipular o desejo.”
“A empresa precisa tornar seus clientes tão
sedentos por um novo produto que joguem fora o
último a cada dois anos.”
“Acreditamos que possuir coisas belas
também nos torna belos.”
“Só os que estão seguros de sua riqueza se
sentem à vontade vivendo sem exibir suas posses.”
“Quanto mais inútil, mais valorizado é um
objeto.”
“A inutilidade é, ao que parece, a qualidade mais valorizada. Assim os designers aspiram a
ser artistas.”
A Linguagem das Coisas é dividido em cinco
capítulos: 1) Linguagem; 2) O design e seus arquétipos; 3) Luxo; 4) Moda; 5) Arte. Segundo o jornal The
Guardian, o livro de Sudjic é sobre “a obsolescência
clandestina com que o design nos seduz”.
FOTOS DIVULGAÇÃO - Felipe Ribon, Véronique Huyghe, Jean-Luc Luyssen
à mesma categoria dos designers interessados
somente em tornar o mundo um lugar mais bonito.
Ele é de outra espécie. “Para mim, o importante é o
que podemos fazer com os objetos, ou seja, eu me
interesso pela utilidade deles [...] e não apenas por sua
forma”, declarou para o jornal O Globo.
É isso. Lehanneur não se preocupa só com
a beleza dos objetos. Pratica o chamado “design utilitário”, ou “design funcional”, imaginando formas de
aliar o que faz à ciência e à tecnologia para desenvolver peças e ambientes que têm como principal
objetivo melhorar o bem-estar das pessoas.
“Por que estão todos tão interessados em
projetar cadeiras?”, provoca.
Em entrevista para a Icon Online, disse:
“Quero sentir e entender o homem e me aproximar
dele cada vez mais. Este é o motivo pelo qual trabalho com muitos cientistas. Eles me ensinam a entender o ser humano e suas necessidades reais”.
Mas quais seriam as “necessidades reais” do
ser humano?
Depende. Se pensarmos nos milhares de
desamparados que vivem nas periferias do mundo,
em muitos casos falta o básico: comida, água limpa,
moradia. Dessa realidade brutal surgiu, por exemplo,
o movimento Design for the Other 90%.
A iniciativa procura incentivar os designers a
encontrar soluções que auxiliem as populações desassistidas. De quebra, ainda cutuca os deslumbrados. Fala Paul Polak, do International Development
Enterprises: “A maioria dos designers se concentra
em criar produtos e serviços apenas para a porção
mais rica e favorecida, os 10%. É preciso uma revolução no design para atingir os outros 90%”.
Entre as invenções incluídas no portfólio do
Design for the Other 90% está o LifeStraw, espécie
de canudo com filtro, essencial em lugares onde as
pessoas não têm outra saída além de beber água diretamente de poços e rios.
É o design sendo usado não apenas para
decorar a sala de estar com cadeiras ou luminárias
assinadas, mas para salvar vidas.
MENTES ELÁSTICAS
Voltando a Mathieu Lehanneur, ele faz
parte de uma nova geração de profissionais que
busca ampliar a definição de design, expandindo
seu campo de atuação para áreas como medicina
e alimentação, entre outras, e costuma trabalhar
mais com institutos de pesquisa do que com
fabricantes italianos de produtos para a casa.
Em 2008, o MoMA, de Nova York, realizou
uma exposição chamada Design and the Elastic
Mind. Andrea, o premiado purificador de ar que
utiliza plantas como filtro – invenção de Lehanneur
– estava lá. A mostra explorava a relação da ciência
com o design no mundo contemporâneo. Mais que
objetos bonitos e decorativos, foram apresentadas
criações e conceitos que “as pessoas realmente
podem entender e usar”.
Designer fascinado pela habilidade da
ciência em investigar profundamente o ser
humano, Lehanneur diz que a ciência o ajuda “a
entender como vemos, como escutamos, como
respiramos, como nosso cérebro pode informar ou
nos enganar”, e é a partir desse entendimento que
ele cria suas mirabolantes engenhocas.
Se é verdade que “o bem-estar é o novo
luxo”, como defende o sociólogo francês Gilles
Lipovetsky, então Mathieu Lehanneur é o cara.
Esteticamente, alguns dos seus objetos podem
até não ser muito sedutores. Mas, nestes casos, o
que importa é sua funcionalidade e não a beleza
de suas formas.
É um outro modo de pensar o design.
# mathieulehanneur.fr
# designother90.org
# designmuseum.org
Cité
de la
Mode
et du
Design
Região portuária de Paris
passa por revitalização,
transformando-se em Les Docks,
um dos projetos arquitetônicos
mais ousados da Europa
FOTOS N. Borel por BRUNO MORESCHI
FOTO Jean Ber
Dominique Jakob e Brenda MacFarlane
A partir de incentivos fiscais da prefeitura de
Paris, um conjunto de lojas, clubes noturnos,
restaurantes e escritórios de empresas ligadas à
criatividade está surgindo em Les Docks
Algo está em profunda transformação na antiga zona
portuária de Paris. E a mudança vai além da construção de uma
chamativa fachada verde-limão feita de metal e vidro. Ali, em um
local antes sombrio e abandonado da capital francesa, está nascendo Les Docks, Cité de la Mode et du Design.
Considerado por muitos especialistas como um dos projetos arquitetônicos mais ousados em andamento na Europa,
Les Docks segue uma tendência que ocorre nos últimos anos
em grandes cidades do mundo: a de revitalizar zonas portuárias,
conhecidas por quase sempre serem os locais mais inóspitos de
grandes centros urbanos. Assim aconteceu na região de West Side
Highway, em Nova York, e nas Docklands, em Londres. Em um
grau um pouco menor, transformação semelhante também vem
acontecendo na área portuária do Rio de Janeiro.
Para Les Docks, os arquitetos Dominique Jakob e Brenda
MacFarlane resolveram seguir na contramão dos projetos arquitetônicos realizados em áreas desvalorizadas. Enquanto muitos
optariam por construções que melhorariam o local, mas descaracterizariam o que estava ali antes, Jakob e MacFarlane fizeram
justamente o contrário. O principal edifício industrial, onde está a
fachada verde-limão, foi remodelado de maneira que revelasse seu
interior – algo que a dupla chama poeticamente de “seu esqueleto
de concreto”. Vale lembrar que esse mesmo prédio foi o primeiro complexo industrial de Paris a usar o concreto armado em sua
construção. “Não queremos negar que essa região estava esquecida. Queremos fazer desse esquecimento o principal combustível
para que o local renasça com uma força criativa nunca antes vista
por aqui”, afirmou MacFarlane para o jornal The New Tork Times,
que reservou duas páginas inteiras de sua edição dominical para
falar sobre a transformação em Les Docks.
Acima do prédio, um imenso terraço foi erguido para que,
nas palavras de Jakob, “os parisienses pudessem ver Paris sob um
novo ponto de vista”. Por fim, a sensação de presenciar uma edificação que se espalha largamente pela horizontal foi inspirada no
fluxo e refluxo do Rio Sena.
Entretanto, engana-se quem pensa que apenas a remodelação do prédio principal seria suficiente para uma mudança
radical da região, que tem quase 20 mil metros quadrados. A
partir de incentivos fiscais da prefeitura de Paris, um conjunto
de lojas, clubes noturnos, restaurantes e escritórios de empresas
ligadas à criatividade está surgindo em número cada vez maior
em Les Docks.
A estilista chinesa Yiqing Yin abriu um misto de loja e estúdio de criação em que é possível encontrar suas mais recentes
coleções; uma galeria de design foi inaugurada há poucas semanas; um clube noturno (o Le Baron), conhecido por noites bem
animadas, já está de portas abertas; assim como o complexo de
entretenimento Wanderlust, uma mistura de boate, local para jogos, exibição de filmes, ioga e wokshops para adultos e crianças.
Tudo isso com o detalhe de que, nos fins de semana, estudantes
do IFM (Institut Français de la Mode), vestindo Galliano, conversam
e leem sentados nas dezenas de cafés já inaugurados por ali.
O complexo de entretenimento Wanderlust, aliás, é um
ótimo exemplo de como o local está aberto para projetos multiusos. A verdade é que, antes da revitalização, a região portuária era
muito pouco frequentada também pela falta de serviços: não havia
espaços de lazer, restaurantes, vida noturna ou cultural. Philippe
Vincent, diretor da Clipperton, empresa responsável pela reconstrução do lugar, costuma afirmar em entrevistas que as docas de
Paris precisam ser um centro de destino, não apenas de passagem.
Vistas agora, depois da transformação urbanística que atravessaram, não restam dúvidas de que Les Docks já se tornou um novo
marco para a capital francesa.
# citemodedesign.fr / # jakobmacfarlane.com
PARISIENNES
A dedicação dos franceses no desenvolvimento de uma “arte do bem viver” e Paris como o
epicentro mundial dos principais acontecimentos ligados à revolução dos costumes
fotos baudouin por marcella aquila
34 abd conceitual out/nov 2013
Manon estilista,
estação Saint-Germain
Clémence editora de design,
estação Passy (na pág. ao lado)
Adrienne
No limiar de virada de época em que vivemos, a novidade, ainda que
não tenha vindo dar na praia nem tampouco às margens do Rio Sena, especificamente, voa no balanço das ondas. Oscilando nas frequências da luz
e navegando em bandas nunca antes imaginadas, a qualidade rara desse
fim-começo de 21éme siècle é que a novidade tem polos: se por um lado
aproxima o globo, gerando mínimos-múltiplos comuns transnacionais, por
outro, cria um campo propício às manifestações excepcionais e de caráter local. Dessa maneira, falar em um “jeito específico de morar” – seja ele
francês, brasileiro, americano ou japonês – pode ser um grande delírio, se
pensado do ponto de vista saudosista-romântico, ou, se visto sob uma
perspectiva prismática, a síntese de um modo de habitar esse novo mundo.
36 abd conceitual out/nov 2013
Não é à toa que a França, ainda hoje, tenha a sua imagem associada ao pioneirismo no que diz respeito a tudo que
se relaciona ao modo de vida. Sua dedicação no desenvolvimento de uma “arte do bem viver”, a famosa joie de vivre, vem
de muitos carnavais. E, há pelo menos três séculos, a capital do
país, Paris, foi, de fato, o epicentro mundial dos principais acontecimentos ligados à revolução dos costumes. Da poltrona Luís
XV aos excessos que fizeram (d)a cabeça de Maria Antonieta
um dos estopins para a mais conhecida de todas as revoluções
burguesas. Dos iluminados aos Lumière. Dos impressionistas –
abrindo alas aos modernos em todas as frentes de linguagem
– aos existencialistas (com toda razão). De Bizet a Boulez. De Voltaire a Valéry. Do espartilho e perucões aos
vestidos sem cintura e sem censura de Coco Chanel.
Do new look à nouvelle vague.
Arriscando um arco maior, do gótico ao neoclássico, ao (digitana)lógico de Le Corbusier. Do drama de Sarah Bernhardt à cama de Kiki de Montparnasse. A sin city de Baudelaire, que já experimentava
com vigor investigativo as possibilidades sensoriais
das “drogas”, ou a dança de Josephine Baker, que
transpirava uma sexualidade desafiadora a qualquer
performer da indústria pornô, apresentam, ainda, uma
liberdade desconcertante aos padrões cada vez mais
retrógrados reinantes.
Ao mesmo tempo, e por trás desse fervilhar
de rupturas que vieram a caracterizar a França e, mais
precisamente, Paris, como um “ambiente luz” – de
onde emanavam clarezas (novidades) tanto nas artes
quanto na vida – um panorama cultural maior, tecido
possivelmente com heranças de um passado de
colonizações diversas e ligado ao campo, talvez possa
ser apontado como um pano de fundo propício ao
cantora,
estação Odéon
Louise
blogueira,
estação Arts et Métiers
(na pág. ao lado)
Colombe
surgimento de tantos personagens e movimentos expressivos, atuantes sob
os costumes, e em um mesmo lugar. Assim, como grande parte dos países
europeus, a França não era França até pouco tempo, e sim, um mosaico
de regiões e províncias que, posteriormente, vieram formar a “unidade” tal
qual a conhecemos hoje. Esses núcleos tiveram os longos e centenários
anos da Idade Média, sem muito (ou quase nenhum) agito metropolitano,
para desenvolver seu próprio conjunto de signos que convencionamos
chamar de “cultura”. Língua-poesia-música, gastronomia, modos e modas,
cores-cheiros-texturas-formas e, o mais importante, uma condição de
tempo favorável ao exercício dos cinco sentidos por meio das atividades
cotidianas mais vitais. O prazer da cama, mesa e banho, a disponibilidade de
38 abd conceitual out/nov 2013
tempo para ler e refletir, contemplar e produzir, elaborar certos
cuidados e delicadezas no trato do dia a dia – muitas dessas
qualidades certamente se tornaram hábitos que persistiram
com o passar dos anos.
Mesmo a chegada de todo o vapor e a eletricidade da metrópole industrial moderna, ao contrário do que se
possa imaginar num primeiro momento, não colapsou absolutamente os hábitos – legado de um tempo de mais tempo.
Mas, possivelmente, combinando-se a alguns deles gerou, na
França, um acaso favorável ao surgimento de movimentos que
foram, ao mesmo tempo, refratários a qualquer tipo de recuo
com relação às liberdades conquistadas e altamente
radicais na ruptura com tradições que já não cabiam
mais naquele momento (eis uma hipótese). Fato é
que, até hoje, os franceses são reconhecidos por alguns de seus hábitos e habilidades. Nas artes visuais,
na música, na dança, na filosofia, no cinema: são incontáveis suas contribuições. Mas é propriamente
nas linguagens que se vinculam mais diretamente ao
modo de vida em que encontram seu maior destaque
e para onde os olhos do mundo se voltam quando o
assunto é gastronomia, design (do objeto, interiores e
arquitetura) e moda.
Mas se, até o século 20, a França tinha em
sua capital uma centralidade praticamente unânime
na atração e irradiação de novidades, essa condição
é hoje compartilhada por outras grandes metrópoles
mundiais. Paris como Nova York como Milão como Tóquio como Londres como outras que despontam no
cenário global se tornaram grandes hubs – pontos de
fluxo e encontro de pessoas vindas dos quatro cantos do mundo e também grandes centros nervosos
geradores de direções. E, muito embora a criação de
estilista,
estação Odéon
Chantale
cenógrafa,
estação Ségur
(na pág. ao lado)
Simone, estação Exelmans
Judith atriz, estação Gare de l’est
Mélanie, estação Anvers
Prune escultora, estação Bréguet - Sabin
sentidos possa se dar em qualquer parte do planeta, sendo sua circulação
condicionada apenas a uma tomada + conexão à web, o mundo virtual,
longe de eliminar a importância do mundo físico, apenas o reposicionou.
Os ambientes construídos passam a ser prováveis espaços de experimentação, em que toda a comunicação, que não pode se dar via cabo,
possa acontecer, via corpo, em toda sua potencialidade – sensorial, sobretudo. Essa relação, mesmo despontando embrionariamente e explorada em
apenas alguns setores (como no caso do retail design), vale para todas as
dimensões e escalas da vida. Das infra às macroestruturas, do espaço urbano ao rural, dos ambientes de trabalho ao âmbito do habitat individual. Se
mudam as relações, mudam os espaços. E tanto melhor quanto
for possível tirar partido bem como designar os caminhos desejáveis para essa transformação. Na cidade, nos retiros, no trabalho, em casa, um jeito de morar francês (berlinense, paulistano...)
pode ser visto e pensado como a combinação dos elementos
de uma cultura que perdura no tempo e daqueles elementos
que são criados sob o espírito de um tempo.
Nossa época vem a ser a dos fios soltos para amplos
sentidos. O que se fará das possibilidades disponíveis depende
da meta de quem as assume.
40 abd conceitual out/nov 2013
Vyva pintora, estação La Chapelle
BAUDOUIN
As imagens que ilustram estas páginas são da série 75 Parisiennes. O objetivo de Baudouin ao realizar
esse ensaio fotográfico foi mostrar o estilo de vida francês retratando mulheres parisienses em seus
apartamentos, indicando as estações de metrô mais próximas. Os ambientes foram mantidos do jeito
que são, sem “retoques”, o que imprime mais identidade em cada registro. Nascido em Reims, na
região de Champagne, Baudouin é fotógrafo com trabalhos para a ELLE, Le Monde, Cosmopolitan,
entre outras publicações. Influenciado por bambas como Martin Parr e Henri Cartier-Bresson, diz que
seu maior sonho é fazer um retrato da rainha Elizabeth II. Enquanto esse dia não chega, ao som do
grupo The Kinks, ele bebe chá, champanhe e saquê, suas bebidas preferidas. # baudouin.fr
“Madeira é
uma carne que
esconde veias
e muitas
cicatrizes”
zoé ouvrier
Zoé em
seu ateliê
e estampa
Gingko.
Na página
ao lado,
estampa
Knot
l Árvores nuas
Acima, estampa Dee. Ao lado,
biombos Dee e Rhizome
44 abd conceitual out/nov 2013
FOTOS Ian scigliuzzi, Florian Keinefenn
É a natureza, com a qual sempre teve contato próximo,
que inspira a artista plástica Zoé Ouvrier. Nascida em
Montpellier e formada pela École des Beaux Arts, em Paris,
a francesa conheceu a xilogravura em 1998 e, desde então,
grava, entalha e esculpe elementos naturais em painéis de
madeira e biombos. As árvores – com seus troncos, caules,
folhas, raízes e texturas – são a base do trabalho da artista
preocupada com o futuro do planeta e com o impacto das
ações humanas sobre a natureza. Mas Zoé não se limita a
reproduzir o que vê. Inventa um mundo particular, com certa
“espiritualidade”. Há algo de misterioso em suas estampas,
como se fossem cenários de outro planeta, seres de outra
galáxia. Além de expor em galerias de arte, Zoé produz peças
exclusivas sob encomenda e colabora com arquitetos e
designers de interiores. # zoeouvrier.com
publi
Wallpaper
Cores da
catalunha
CONHECIDO por suas praias paradisíacas, festivais de
cinema, gente endinheirada e celebridades, o sul da França
também foi cenário, há 140 anos, do início de uma das mais
charmosas confecções têxtil da Europa.
Inspirados pela tradição secular da tecelagem artesanal catalã, Joseph Sans e Abdon Garcerie, fabricantes
de tecidos, abriram a empresa Sans et Garcerie, em 1873,
na pequena aldeia de Saint Laurent de Cerdans. O negócio começou com a produção de sandálias com solados de
corda – as famosas alpercatas. Logo, a marca conquistou
reconhecimento em toda a Catalunha.
O sucesso fez com que a dupla passasse a trabalhar
também com tecelagem para espreguiçadeiras de lona e,
nos anos seguintes, diversificasse ainda mais as suas atividades, produzindo variados objetos de decoração. Mas, no
início da década de 1990, a situação havia mudado. Passando por problemas econômicos e à beira da falência, a
empresa quase fechou suas portas. É nesse momento que
entram na história Françoise e Henri Quinta.
Ambos de origem catalã, em 1993, eles decidem
comprar a fábrica, e mudam o nome da maison para Les
Toiles du Soleil (tecido ensolarado).
Enquanto Françoise se ocupa das lojas e do atendimento aos clientes, Henri cuida de todo o processo de criação. Romântico, ele defende que cada tecido tem o poder
de contar uma história diferente. Assim, preza pelas cores
fortes e brilhantes que encontra no sul da França. Mantendo a autenticidade do artesanato catalão, a dupla repaginou a cartela de cores da antiga confecção e acrescentou
46 abd conceitual out/nov 2013
na les toiles du
soleil, cada tecido
tem o poder de contar
uma história
A Les Toiles du Soleil desenvolve tecidos para toalhas
de mesa, guardanapos, jogos americanos, caminhos
de mesa, aventais, capas de almofadas, cortinas,
bolsas, cadeiras e uma infinidade de outros produtos
vívidos modelos listrados ao catálogo. Atualmente, os
fios listrados de algodão e linho da Les Toiles du Soleil
são encontrados em cadeiras, espreguiçadeiras e pufes,
mantas, almofadas e bolsas, entre outros objetos.
Os produtos da grife chegam a durar 20 anos
mais do que os tecidos de desenhos semelhantes. O
segredo está no tear tradicional, em que cada fio é atravessado um por um de forma manual. E, ao contrário de
outras confecções, apenas os fios passam pelo processo de tingimento, gerando um tecido que não desbota
mesmo após diversas lavagens. Ideal para ambientes
externos, a linha Sunbrella, por exemplo, é um tecido
impermeável e resistente aos raios solares, ótimo para o
clima do Brasil. E não para por aí. Pensando na variedade
infinita da aplicação do tecido listrado, cada loja conta
com uma costureira especializada em customização
para estofados, cortinas, almofadas etc.
Hoje, embora a marca esteja espalhada por mais
de 20 países, Françoise e Henri não pensam em transformar a maison em mais uma grande corporação. O
contato direto com o cliente faz parte do DNA da grife
e, para a dupla, a autenticidade não está apenas em seus
produtos, mas também na maneira de fazer negócios.
No Brasil, os tecidos inteligentes da Les Toiles
du Soleil fazem parte do extenso catálogo da Wallpaper,
que mantém showroom na Alameda Gabriel Monteiro
da Silva, 1282, em São Paulo.
A explosão de cores da ensolarada Catalunha
nunca esteve tão perto de você.
*
weeks, weekends, months
ARTE +
+
DESIGN
semanas dedicadas ao design se multiplicam pelo mundo,
e o brasil também já tem a sua: a dw!, em são paulo
IDEIAS
Por amer moussa
Banco Copa, do designer Fábio Galeazzo, lançado durante a São Paulo Design Weekend, 2013
A necessidade da burguesia de circular e vender
ideias – e não somente produtos utilitários – surgiu
muito antes da palavra design. “Vocês podem viver três
dias sem pão – sem poesia, nunca”, já dizia o poeta
Charles Baudelaire em sua crítica ao salão de pintura
de 1846. Logo depois, em 1851, a Inglaterra realizaria
a primeira exibição de produtos industriais, conhecida
como Feira Mundial. O colossal Palácio de Cristal,
edifício-sede, foi exposto como o protótipo modelo de
produção do século 19.
No período entre guerras, auge da era moderna, as feiras ganharam ares de grandeza arquitetônica por meio da construção de pavilhões temporários, que procuravam sintetizar o que cada país
estava produzindo. É o momento do rigor, que fundamentou as bases para a (re)construção de uma cultura universal pautada pelo racionalismo e que tem no
Pavilhão de Barcelona (1932), de Mies van der Rohe,
sua expressão máxima.
O fim da década de 1970 marcou também
a queda de muitas ditaduras políticas e, consequentemente, linguísticas. Com isso, ganha força o movimento intitulado pós-moderno. No furor de romper
com tudo e com todos que se colocassem à frente da
imaginação, cai por terra o conceito da boa forma –
“forma segue função”. O funcionalismo deixa de ser a
principal qualidade do objeto, que ganha status de arte
– gerando com isso uma esfera de consumo e experimentação simultâneos. As feiras de design se tornam
“períodos” – weeks, weekends, months – quando se
instaura uma atmosfera, geralmente urbana, de criatividade absoluta.
De lá para cá, várias cidades se consolidaram
como polos irradiadores desse movimento. Milão é,
sem dúvida, a mais influente. A região norte da Itália
concentra setores expressivos da indústria automobilística e de eletrodomésticos (Turim e Gênova), assim como produtores de pequeno e médio porte de
manufatura artesanal para a fabricação de vidro, cerâmica, luminárias e móveis (entorno de Milão e ilha
de Murano).
Um aspecto não menos importante é o forte
engajamento político dos designers italianos. A ADI
(Associazione per il Disegno Industriale) não se resume
a um pequeno círculo de amigos, mas se atém a questões profissionais como impostos, direitos e contratos,
além de promover um dos mais prestigiosos prêmios
de design: o Compasso d’Oro. Por reunir tudo isso, e
[+]
design week
pelo mundo
I Saloni Milano
Quando: abril
Eventos de maior importância para arquitetos e designers, os Salões de Milão (I Saloni
Milano) expõem, anualmente, as inovações
da tradicional indústria italiana, além de
apresentar grandes nomes da cena contemporânea internacional.
Sistema
modular
Boiling, da Ovo.
As peças são
unidas por imãs
e podem ser
dispostas de
diversas formas
por também dar espaço às tendências internacionais,
os Salões de Milão (I Saloni Milano), já na sua 52ª edição, tornaram-se obrigatórios à comunidade de designers mundial.
Outra semana que vem conquistando bastante espaço no circuito globalizado é a Design Festival,
de Londres. Como o próprio nome diz, não se trata
somente de um encontro monodirecional produtor/
consumidor. O festival inovou ao assimilar a participação do público, que também atua como propulsor e
gerador de novas ideias. Se antes este papel era exercido apenas pela indústria, hoje essa relação foi refun-
Berlin Design Week
Quando: junho
Incontáveis galerias, museus, parques,
estúdios e coletivos sediam feiras, exibições e
festas na cidade que dispensa apresentações
quando o assunto é transformação.
festa da semana de Milão e a organização britânica da
semana de Londres”. Além de promover oportunidades de negócio, a iniciativa visa estimular a inovação
em várias áreas, por meio da aplicação do design no
dia a dia. “A ordem é colocar o design na agenda nacional”, consolidando o evento em São Paulo ao mesmo
tempo que se cria uma cultura do design, por intermédio de uma programação aberta, porém criteriosa.
Apesar de alguns problemas óbvios encontrados, como a dificuldade de deslocamento e o trânsito
caótico da cidade – que assustou muitos visitantes
estrangeiros – a organização acredita que o objetivo
London Design Festival
Quando: setembro
Com o objetivo de instaurar uma atmosfera
urbana de criatividade, o festival tem caráter
tanto cultural quanto mercadológico, com
uma estrutura que compreende desde
exposições, fóruns e shows a coquetéis e
lançamentos privados.
Helsinki Design Week
Quando: setembro
A partir do tema Action!, a semana finlandesa
deste ano foi um grande happening aberto
aos participantes, que podiam criar o seu
próprio evento de design e submetê-lo ao
programa – com enfoque menos comercial e
mais voltado às ideias.
Com público de mais de 1 milhão de pessoas, a DW! já é
considerada o maior festival de design da América Latina
50 abd conceitual out/nov 2013
inicial do projeto foi alcançado. “A meta deste ano não
é crescer, mas sim melhorar a qualidade dos eventos:
mais instalações, invenções, mais participação”, diz
Pedro Ariel, curador da DW!. Para a próxima edição, a
demanda é discutir essas questões como um todo, a
partir de soluções de desenho e desejo para ambientes mais humanos, capazes de equilibrar as microrrelações locais com a macroeconomia planetária.
Nesse sentido caminham inúmeras semanas
de design pelo mundo, sediadas por cidades como
Nova York, Helsinque, Berlim, Tóquio e Estocolmo, entre outras. No endereço www.worlddesignguide.com é
possível visualizar um mapa com informações atualizadas sobre todas elas.
# designweekend.com.br
Tokio Designers Week
Quando: outubro/novembro
A semana “dos designers” e não “do design”
tem a participação de grande público e busca
promover a identidade nacional ao reunir
no mesmo pavilhão soluções profissionais e
acadêmicas para produtos e arte.
FOTOS DIVULGAÇÃO
dada pelas mil possibilidades da internet. Entramos em
um novo ciclo.
Dentro desse contexto, o Brasil começa a dar
os primeiros passos com o objetivo de se inserir. Entre os dias 15 e 18 de agosto de 2013 foi realizada a
segunda edição da São Paulo Design Weekend, com
cerca de 250 atividades distribuídas pela cidade. Com
um público de mais de 1 milhão de pessoas, a DW! já
é considerada o maior festival de design urbano da
América Latina. Segundo o idealizador, Lauro Andrade,
isso acontece porque “o que fazemos não é um evento pontual, é uma plataforma em que participam lojas,
marcas, universidades e galerias”.
Inspirada nos dois salões citados acima, a DW!
procura criar uma mistura entre “o espírito latino de
Pendentes de crochê assinados
pela designer Andrea Brackman
para a marca Iluminadas. Foram
apresentados na feira Paralela Gift
publi
R o c a
PRECISÃO
SUÍÇA
A história da Laufen e a nova linha
para banheiros desenvolvida pela
empresa em parceria com a Kartell
Banheiros são tão individuais quanto as pessoas
que os ocupam. Banheiros podem ser geométricos, coloridos, minimalistas. Banheiros, seja qual for o estilo, são
uma especialidade da Laufen.
Fundada em 1892, na Suíça, a empresa iniciou
atividades com a produção de telhas. O conceito original
da casa está na fabricação de cerâmica. Por mais de 120
anos, esse material, um dos mais antigos conhecidos
pelo homem, tem sido trabalhado na região da Basiléia.
Foi só a partir de 1925 que a Laufen se tornou a primeira
produtora de louças sanitárias daquele país. Logo, passou a criar banheiros integrados. Fabricadas em unidades modernas e com a precisão de um relógio suíço, a
marca conta com linhas completas que vão de louças e
banheiras a torneiras, chuveiros e mobiliário.
Líder do setor, a casa tem mais de 1.800 funcionários espalhados por seis fábricas na Suíca, Áustria
e República Tcheca que, juntas, produzem mais de três
milhões de peças sanitárias por ano. No começo da década de 1950, ao abrir a fábrica da Incepa Revestimentos
Cerâmicos, em Campo Largo, no Paraná, ingressou no
mercado brasileiro. Em seguida, adquiriu as companhias
Cidamar e Celite, referências no mercado nacional de louças sanitárias. Antes da virada do século, ao ser adquirida
pelo grupo espanhol Roca – maior fabricante mundial de
produtos para banheiros – a Laufen passou a investir mais
no design. Os produtos da marca, por exemplo, não permitem descobrir, à primeira vista, como são fixados. Esse
recurso facilita a montagem e melhora a estética.
A empresa acredita na simbiose do design
italiano com o estilo modernista da Bauhaus.
Para a Laufen, a qualidade não é um mero
produto do acaso, mas resultado
de vasta pesquisa, conceito ousado e inovação permanente. As principais linhas da casa são assinadas por nomes poderosos da indústria. Entre os destaques estão as
linhas premiadas Living Square, Saphirkeramik e Laufen
Palomba Collection. Esta última, assinada pelos designers e arquitetos italianos Ludovica e Roberto Palomba,
apresenta louças sanitárias com desenho orgânico, inspirado na natureza. Além de curvas perfeitas, a empresa
valoriza uma produção ambiental consciente. Assim, por
meio de um único controle de vazão e temperatura, pias
e chuveiros economizam água e energia.
Este ano, surgiu a Kartell by Laufen, parceria
com a marca italiana líder mundial na produção
de móveis e peças de design. Juntas, as empresas desenvolveram uma nova linha para banheiros com direção artística de Ludovica e Roberto
Palomba, apresentada ao público durante o Salão do
Móvel de Milão e que já desembarcou no Brasil.
Atualmente, as soluções inteligentes da Laufen estão distribuídas globalmente em residências, hotéis, aeroportos, teatros, bancos, prédios públicos. No
Brasil, você pode conhecer os produtos da marca no
showroom da Laufen na Avenida Brasil, 2.188, em São
Paulo, e em pontos de venda em todo o território nacional. Não importa onde e como, a Laufen é promessa
de conforto e segurança para o espaço mais íntimo e
pessoal da casa. Anotou? # br.roca.com
Nova linha para banheiros desenvolvida a partir da
parceria entre a Laufen e a gigante italiana Kartell
*
galeria
Acredite, é porcelanato.
Cortes e projetos especiais
Al. Gabriel Monteiro da Silva, 862
Fone (11)3087-6188
[email protected]
Synthetic Nature (ALVEOLATA.2.4.A)
– O protótipo faz parte de pesquisa do designer e arquiteto
Vlad Tenu, que explora novas possibilidades espaciais, materiais e de escala, misturando design, arte e ciência.
“São artefatos adaptáveis a qualquer projeto de arquitetura, moda, design de produtos e interiores, arte e
moda.” Vlad vive e trabalha em Londres. Saiba mais aqui: # vladtenu.com
(Fotos: Hektor Kowalski)
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