08 França.
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08 França.
OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 R FA NÇ CONCEITUAL #08 ULALÁ! D&D. O maior e mais completo shopping de decoração e design da América Latina. Lilian Pacce. Referência em estilo. A estampa. D&D. Referência em design e decoração. por Lilian Pacce. Consultora de moda e estilo. Sim, moda e decoração sempre conversaram. Afinal, as tendências de cores e estampas podem ser aplicadas nas duas. Por exemplo, uma camisa tão estruturada que inspira o desenho de uma cadeira. Estilos e tendências podem decorar tanto seu guarda-roupa como sua sala. Eu adoro quando a moda troca ideias com o ambiente. Assim, minha casa fica sempre bem-vestida. www.ded.com.br ddshopping dedshopping Av. das Nações Unidas, 12.555. De segunda a sexta das 10 às 22h. Sábado das 10 às 20h. Domingo e feriados das 14 às 19h. * EDITORIAL CONCEITUAL #08 outubro/novembro 2013 Publishers André Poli e Roberta Queiroz Conselho Editorial Renata Amaral, Carolina Szabó, Jéthero Cardoso, Roberto Negrete, Alex Lipszyc Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia Edição e Direção de Arte Marcos Guinoza Colaboradores Amer Moussa, Bruno Moreschi, João Antonio Lourenço, Marcella Aquila Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683 Revisão Luciana Sanches OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 RA *F N CONCEITUAL Publicidade Diretor Comercial Marcelo Damado [email protected] VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275 www.velveteditora.com.br #08 ÇA ULALÁ! CAPA O novo design francês é o tema da oitava edição da ABD Conceitual. ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores www.abd.org.br Estampa Dee, de Zoé Ouvrier TRIÊNIO 2013/2015 Ofensa ao bom senso Presidência: Renata Duarte Amaral Vice-presidência: Marcia Regina de Souza Kalil, Ricardo Caminada, Bianka Mugnatto, Jéthero Cardoso Miranda Conselho Deliberativo - Membros Efetivos: Carolina Szabó (SP), Carlos Alexandre Dumont (MG), Paula Neder de Lima (RJ), Francesca Alzati (SP), Silvana Carminati (SP), Mauricio Peres Queiroz dos Santos (SP), Luiz Saldanha Marinho Filho (RJ), Alexander Jonathan Lipszyc (SP), Renata Maria Florenzano (SP), Jaqueline Miranda Frauches (MG), Rosangela Larcipretti (SP), Joia Bérgamo (SP), Flavia Nogueira da Gama Chueire (RJ), Lucy Amicón (SP), Elisa Gontijo (SP) Conselho Deliberativo - Suplentes: Nicolau da Silva Nasser (SP), Paula Almeida (SP). Conselho Fiscal - Membros Efetivos: Fabianne Nodari Brandalise (PR), Catia Maria Bacellar (BA), Maria Fernanda Pitti (SP), Delma Morais Macedo (BA) Conselho Fiscal - Suplente: Daniela Marim (SP). Consultor: William Bennett ERRATA - ED. #07 Pág. 16 - Legenda correta: papel de parede da coleção Silence. Na Wallcovering Pág. 18 - Legenda correta: Tempotest Floral, 100% acrílico. Na Donatelli Tecidos 4 abd conceitual out/nov 2013 Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. Selo foto Divulgação Sugestões [email protected] Amigos, Nós, os designers de interiores, vivemos momento de turbulência no exercício legítimo da nossa profissão. A competência atribuída ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo é de “fiscalizar o exercício das atividades profissionais de arquitetura e urbanismo”, exclusivamente. Porém, esse conselho se roga no direito de autuar e notificar profissionais como paisagistas, designers gráficos, designers de produtos, light designers, entre outros, por considerar essas atuações privativas de arquitetos e urbanistas. Por isso, consideramos a Resolução CAU 51 ilegal, inconstitucional e abusiva. Ela ofende o bom senso e expõe os designers de interiores a um verdadeiro “bullying profissional”. Dessa maneira, a ABD acredita que chegou a hora de nós, os designers de interiores, nos unirmos para, juntos, lutar contra essa absurda perseguição institucional. No dia 17 de setembro, travamos a nossa primeira batalha rumo à regulamentação da nossa profissão. A Audiência Pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, foi pura emoção e, em meio a lágrimas e aplausos, vencemos! Mas ainda há muita luta pela frente e seu papel nesta história é fundamental. Com a ajuda de cada um de vocês, sei que conquistaremos o tão merecido reconhecimento como instituição, uma vez que, no Brasil, o setor e a sociedade já o fazem há mais de cem anos. Enquanto isso, aproveite mais esta edição da ABD Conceitual, que tem a França como tema. A França das revoluções, dos movimentos artísticos, da moda e gastronomia. A França e sua dedicação à “arte do bem viver”. A França que continua como importante centro irradiador de tendências em design. É só apertar os cintos e embarcar com a gente nessa viagem. Renata Amaral, presidente da ABD 08 | FEIRA LIVRE 12 | odile decq Maison&Objet: o mais abrangente evento de decoração e design do calendário Arquiteta, designer, artista plástica. Multidisciplinar, inquieta, movida pelo desafio [+] 24 | paris a pé Marcas, coletivos e designers que fizeram parte dos itinerários da Paris Design Week 30 | LES DOCKS 42 | Árvores nuas 18 | olho neles! 26 | objetos úteis Saiba quem são os novos criadores que estão reinventando o design francês Mathieu Lehanneur: “Para mim, o importante é o que podemos fazer com os objetos” Os biombos e painéis de madeira da artista plástica francesa Zoé Ouvrier 54 | sYnthetic nature Novas possibilidades espaciais, materiais e de escala nos artefatos desenvolvidos pelo designer e arquiteto Vlad Tenu 34 | parisiennes 48 | arte + design + ideias A França e a dedicação permanente no desenvolvimento de uma “arte do bem viver” Semanas de design pipocam pelo mundo, e o Brasil já tem a sua: a DW!, em São Paulo 6 abd conceitual out/nov 2013 PROCURE A REVENDA CONFIANÇA MAIS PRÓXIMA Revitalização transforma região portuária de Paris na Cidade da Moda e do Design SHOWROOM: 55 11 3062 2899 * IMPORTADORA: 55 11 3093 9811 * www.wallpaper.com.br * SUMÁRIO * MAISON&OBJET [ Paris – 2013 ] feira livre Mais uma vez, fomos até Paris para dar uma espiada na Maison&Objet, feira de moda casa que movimenta a capital francesa duas vezes por ano. A primeira edição acontece em janeiro; a segunda, em setembro. O evento, com expositores nacionais e internacionais, atrai milhares de visitantes e apresenta as últimas novidades em decoração e design, reunindo marcas já consagradas e designers independentes por andré poli e roberta queiroz Mobiliário da Rue Monsieur Paris, empresa fundada em 2012, no setor Scènes d’Intérieur Luminária BgoodD, Eric Berthes, Branex Design Estante Boabook, de Thomas de Lussac ficha técnica Informações: # maison-objet.com 10 abd conceitual out/nov 2013 Funtasy, de Vincent Grégoire, mostrou peças e instalações em que o excesso, o desrespeito pelo formal, a quebra de códigos, a desconstrução propunham experiências vanguardistas cheias de bom humor e cores. Os objetos apresentados faziam uma homenagem às culturas pop e digital, misturando a estética kitsch com futurismos da década de 1970 e cores flúor da new wave. Psychotropia, de François Bernard, foi uma tentativa de explorar o design da mente, que seria o caminho para alcançar mundos paralelos. Psychotropia, no dicionário, significa “qualidade das substâncias psicotrópicas, alucinógenas”. Com referência ao surrealismo e ao esoterismo, as instalações nos levavam por caminhos xamânicos, em que os objetos carregados de simbolismos procuravam resgatar memórias do subconsciente e transgredir a ordem que norteia a nossa percepção de mundo. Paralela à Maison&Objet, a Paris Design Week mostra um show de eficiência em grandes eventos urbanos. O festival, que ocorre em vários pontos da cidade, apresenta o que há de mais inovador na produção atual da Europa em áreas como design de interiores, arquitetura, arte, design de produtos, gastronomia. Caminhar, transitar, olhar, absorver, adquirir são os mandamentos do evento, que teve como grande destaque o Now! le Off, espaço em que jovens designers e coletivos, franceses e internacionais, mostram suas criações, com algumas propostas ambiciosas para o design. O múltiplo, o modular, o pluralismo, o efêmero, o adaptável, o mutável estão em alta, com peças que são uma coisa mas podem ser outra, como já previa Lygia Clark. Neste novo mundo, quem não é multidisciplinar vai dançar! * André Poli e Roberta Queiroz viajaram a Paris a convite da organização da Maison&Objet. FOTOS DIVULGAÇÃO MAISON&OBJET yA segunda edição 2013 da feira de moda casa aconteceu entre os dias 6 e 10 de setembro no centro de exposições Paris Nord Villepinte. ySão mais de 3 mil expositores (43% de marcas internacionais), em uma área de 135 mil m². yA Maison&Objet é realizada duas vezes por ano e apresenta tendências em objetos e acessórios de luxo, cenografias, materiais futuristas e novos conceitos de arquitetura. yA feira é dividida em oito diferentes pavilhões, como Scènes d’Intérieur (com criações de designers renomados e de grandes marcas internacionais); Maison&Objet Projets (com soluções técnicas para planejamento de ponta); Now! Design à Vivre (design para o dia a dia); Maison&Objet Outdoor-Indoor (a arte de viver ao ar livre). yO evento recebe, em média, 40 mil visitantes. Cadeira Fauteuil MB01, Maison Bensimon Studio MAISON&OBJET Todos os produtos apresentados na M&O já estão disponíveis no mercado. Por isso, a feira é frequentada por lojistas do mundo todo e, na prática, facilita a vida do designer de interiores, que pode especificar seus interesses. No Pavilhão 7, os organizadores inovaram ao propor uma forma mais abstrata de pensar o design, com o projeto Observatoire. Ali, em três salas, foram expostas as tendências em decoração para 2014, com ideias que mesclavam design e arte. Illuminations, de Elizabeth Leriche, foi a sala mais experimental. A designer explorou a energia da luz por meio de pulsações ritmadas e fortes vibrações cromáticas, criando uma atmosfera surpreendente ao integrar tecnologia com a percepção do cérebro. Para materializar seus conceitos, Leriche usou bolhas de sabão, espelhos, projeções e plataformas digitais, provocando experiências sensoriais tão psicodélicas que causariam inveja até em Timothy Leary. Banca D’appoint, Rue Monsieur Paris Luminária Mandarine, Binome Entrar no Paris Nord Villepinte Exhibition Centre, onde acontece a Maison&Objet, é uma experiência fantástica. Dividida em oito pavilhões, a feira proporciona inúmeras possibilidades de interesse. São mais de 3 mil expositores de várias regiões do mundo, ocupando uma área de mais de 130 mil metros quadrados e com público de cerca de 40 mil pessoas. A diversidade de temas e produtos é tanta que a primeira sensação ao chegar à feira é que não teremos tempo de ver tudo durante os cinco dias de evento. Por isso, a solução é ajustar o foco. Este ano, a M&O foi maior e mais abrangente. Havia, por exemplo, um pavilhão inteiro dedicado à cozinha, e muitos produtos desenvolvidos por conhecidas marcas de moda, como Fendi, Armani, Versace, Roberto Cavalli, entre outras, lançando coleções de moda casa, o que comprova a tendência de combinar lifestyle com fashionstyle. Banco Illusion de três lugares, Jean-Claude Cardiet, 22 22 Édition Design * MAISON&OBJET [ Designer of the Year ] modernista? antimodernista? punk anarquista? ela é odile decq por marcella aquila Multidisciplinar. Inquieta. Movida pelo desafio. Arquiteta, designer e artista plástica. Urbanista e planejadora urbana. Professora da Ecole Spéciale d’Architecture de Paris. ODILE DECQ Francesa de Rennes, na Bretanha. E homenageada especial na segunda edição de 2013 da Maison&Objet Na página ao lado, luminária de teto Pétale (2011) e poltrona desenhada por Odile para a Unesco (2001) 12 abd conceitual out/nov 2013 14 abd conceitual out/nov 2013 Nestas páginas, interiores do l’Opéra Restaurant, que funciona no Palais Garnier, uma das mais tradicionais casas de espetáculos de Paris. O ambiente, com predominância do vermelho, tem formas orgânicas, um mezanino e uma cortina transparente que avança e retrocede, acompanhando as linhas originais das colunas do edifício FOTOS DIVULGAÇÃO MAISON&OBJET Odile Decq: elle est pas moderniste, elle est pas anti-moderniste. Elle est punk-anarquiste? Elle est pas seule sur terre... (Ela não é modernista, não é antimodernista. Ela é punk anarquista? Ela não está sozinha na terra...). Sobretudo em uma terra que, em se tratando de design, muito já rendeu e ainda rende. Considerando a ampla dimensão e caráter de questões lançadas & respostas arriscadas para o desenho, que tiveram a França como ponto de emissão, pode-se dizer que Odile Decq é filha dessa fertilidade. Seja pelo modo como designa a si própria, seja nas formas de expressar as ideias, na arquitetura e no design de objetos, ambos incomuns, Odile desperta, no mínimo, curiosidade. Se, por um lado, a linguagem de suas criações nos permite aproximá-la de movimentos amplamente conhecidos da história do design, por outro, ela traz um fio condutor para a construção de seus objetos e espaços que, embora popular no campo das artes plásticas desde a década de 1960, é um programa ainda pouco assumido entre arquitetos/designers: a experiência corporal nos cinco sentidos. Ora apresentada como artista, ora como designer ou arquiteta, Odile Decq deve a multidisciplinaridade também à ampla formação. Iniciou os estudos, ainda na década de 1970, em história da arte, perto de Rennes, na Bretanha – sua região de origem – formando-se arquiteta, em 1978, na Paris 6, e, no ano seguinte, urbanista e planejadora urbana, pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Em parceria com Benoît Cornette, fundou, em 1985, o ODBC Studio, união que durou até 1998, ano em que Benoît morreu em um acidente de carro. O ODBC, contudo, permaneceu até 2013 com apenas Odile à frente, quando, nesse mesmo ano, ela fundou o Studio Odile Decq, em Paris. Homenageada especial da Maison&Objet 2013, a designer, com Benoît, recebeu seu primeiro prêmio, em 1990, pela construção do Banco Popular d’Oeste, em Rennes, concluído naquele mesmo ano. Erguido basicamente de aço e vidro, o Banco Popular d’Oeste chama a atenção pelas formas que, sob alguns aspectos, lembram as construções visionadas por arquitetos do construtivismo russo, marcadas pela imaginação sem limites e, portanto, por invenções que desafiam, até hoje, as possibilidades técnico-construtivas da época – tendo o caso mais emblemático a torre Tatlin, cujas estruturas girariam em frequências diferentes conforme horas, dias, meses e anos. O Banco Popular não chega a causar impacto com a dimensão dos projetos construtivistas, mas, além de operar com materiais igualmente à altura da época, emprega procedimentos similares e surpreendentes que serão aprofundados e desenvolvidos na obra mais recente de Odile Decq. É curioso como se processa a relação bidimensional e tridimensional no Banco Popular: as composições gráficas do edifício são desiguais no sentido bidimensional, ou seja, se olhamos o objeto de frente, ele apresentará uma composição diferente daquela de quando é olhado de cima ou de lado, sendo, todas elas, articuladas por uma unidade na linguagem proporcionada tanto pelo material quanto por uma meta de desenho que visa tirar partido desse material. Já a totalidade é apreendida pelo observador-interlocutor na medida em que ele caminha em volta e por dentro do edifício. A promenade architecturale, que nada mais é do que esse processo de apreensão da arquitetura, considerando o deslocamento do corpo (em todos os seus sentidos) pelo espaço, é ponto-chave nas composições posteriores de Odile. A proposta da promenade, no caso dela, pode ser entendida tanto como um diálogo com a obra de Le Corbusier, que tem esse princípio bastante presente, sobretudo naquele que é considerado o período tardio de sua produção, quanto uma possível influência de movimentos das artes plásticas que partiam do corpo, e de sua interação com o espaço, como matéria-prima para suas experimentações. Tal preocupação com a experiência do corpo no espaço aparece em projetos como o do Museu do Grande Sítio de Fósseis de Homo Erectus, na China, de 2012, e, claramente, no projeto do Macro (Museu de Arte Contemporânea de Roma), de 2010. No museu chinês, a proposta é que se possa não apenas contemplar as descobertas ali presentes como experimentar o próprio sítio arqueológico, seja visualmente, uma vez que o próprio edifício acompanha e tridimensiona- liza as curvas de nível que compõem o terreno, seja por meio de passeios em que as camadas geológicas reveladas pelas escavações são reconstituídas. Já no Macro, o espaço é fundamentalmente composto por grandes áreas que estabelecem uma relação com o exterior e pela circulação com caminhos que flutuam, permeando esses grandes vãos e conduzindo a ambientes mais isolados, como o auditório vermelho, que mais parece uma instalação. Assim como o movimento do corpo se deslocando pelo espaço interessa à Odile, também o movimento das imagens em 24 quadros por segundo a fascina. A paixão pelo cinema fica explícita no Pavilhão Recipientes para pão Corbeille (2010), “cama” para cachorros Victor’s House (2007). Foto maior: MACRO, Museu de Arte Contemporânea de Roma (2010) 8 para a GL Eventos, em Lyon, concluído em 2013. Em um edifício com programa de uso misto entre espaço cultural e de escritórios, as quatro vistas que podem ser contempladas a partir do topo do prédio foram fotografadas e são projetadas nas fachadas que, segundo informa o site de Odile, “criam um jogo ambíguo entre opacidade, representação e transparência”. Mas não só de projeções espaciais vive essa multifacetada mulher. Quando perguntada, em entrevista ao site designboom, qual projeto havia lhe dado maior satisfação, sua resposta imediata foi: “O próximo! Sempre o próximo projeto!”. E foi exatamente o entusiasmo pelo desafio que a levou, em 2010, ao campo do design de objetos – até então ainda pouco explorado por Odile. Por conta própria, estabeleceu uma missão: trabalhar com luz. Na época, à frente das obras do Macro, visitou uma feira de mobiliário e escolheu, entre os grandes nomes da iluminação ali presentes, a Luceplan para uma parceria: desenvolver com a empresa as luminárias do futuro museu em Roma. A parceria imediatamente se estabeleceu e, depois dessa, muitas outras no campo do design de objetos. A sede permanente por novas experiências leva Odile a diferentes campos de atuação, mas sempre mantendo a nota no desenho e na criação. Além da arquitetura e do design, ela leciona, desde 1992, na Ecole Spéciale d’Architecture de Paris. Quando não está no estúdio, trabalhando, está na escola de arquitetura. A atividade intelectual é um exercício que assume cada vez mais espaço em sua vida, não apenas lecionando, mas também por meio de trabalhos desenvolvidos nas artes plásticas. Desde 2007, quando foi convidada para mostrar suas obras na galeria Polaris, começou a desenvolver trabalhos artísticos que, segundo Odile, são uma maneira de voltar ao que é essencial, ao conceito de todas as frentes de linguagem em que produz. De junho a setembro de 2013, três instalações de Odile podiam ser vistas na exposição Perspectivas, no Centro Cultural Louis Vuitton, cuja proposta era apresentar obras que processassem a meta de se “entender o espaço, o mundo e a essência de viajar”. Mais do que a surpresa ocasionada por seu look ou pela quantidade de trabalhos em áreas consideradas de “especialidades” diferentes, Odile surpreende não só por transitar entre essas áreas mantendo uma coerência, mas exatamente por demonstrar que arquitetura, design de objeto, artes plásticas, cinema são, antes de tudo, desenho. # odiledecq.com 16 abd conceitual out/nov 2013 * MAISON&OBJET [ Talentos à la Carte ] ! olho neles A celebração do olfato por amer moussa A cada edição, a Maison&Objet seleciona seis nomes que estão reinventando o design à la française e abre um espaço de exposição para eles apresentarem suas armas. Saiba quem são esses novos criadores 18 abd conceitual out/nov 2013 Barnabé fillion Moda, fotografia, botânica e viagens alimentam a imaginação deste “nariz” de 30 e poucos anos, que recentemente compôs um perfume para a Caravane. O trabalho de Barnabé Fillion é uma celebração do sentido olfativo, um convite para experimentar aromas por técnicas da fina perfumaria, criando fragâncias orgânicas, delicadas e distintas. Sobre o Parfum de Sieste, da Caravane: “O que importa não é tanto se o aroma é natural, mas sim se ele evoca momentos da natureza por meio dos vestígios que se desenrolam”. Ainda assim, o perfume é composto de matérias-primas cruas naturais de “pequenas culturas apaixonadas”, sem corantes ou fragrâncias sintéticas. Onde mora sua imaginação? “Amo Tanger, no Marrocos, mas infelizmente não vivo mais lá. É um ótimo lugar para se aprender sobre perfumaria árabe tradicional. Eu acredito que uma ideia, um lugar ou um sentimento pode ser condensado a ponto de ser possível inserir sua totalidade em um frasco, de forma que se possa dispor dos sentidos ao máximo.” # barnabefillion.com Mobiliário com estranhamento BIEN DES CHOSES Formado pelo trio Gérald Perrin, Eric Van de Walle e Jules Cairon, o grupo se define como “co-habitantes do mesmo teto, em que todos podem dar a sua contribuição”. Com a riqueza de suas experiências, eles tecem trabalhos gráficos e peças de mobiliário carimbados com humor e surpresa. “Nossa gramática elementar é estabelecer um radical, um mínimo. Assim operamos em uma espécie de reativação que nos permite outras construções mentais.” Seu mobiliário busca o estranhamento ao se separar do seu status atribuído – eles nem sempre são identificáveis. No entanto, ainda que ironicamente, respondem a uma função elementar e primária: “Uma resistência às intempéries”. Sobre o processo criativo, o grupo afirma que “com o objetivo de não nos fechar em nós mesmos, nosso workshop é como um casulo, em que, como besouros, pensamos e trabalhamos com materiais e informações circundantes. Nossa inspiração vem das experiências e realizações acumuladas e do patrimônio cultural e artístico”. # biendeschoses.fr Banco Aggloméré Hydrofuge (aglomerado hidrófugo), 38 x 303 x 38 cm – 2013 Energia onírica Experiências transparentes Pintura. Escultura. Instalações. Este nativo de Nantes é um arrojado polímato – profissional de múltiplas capacidades. Metade bestiário, metade gabinete de curiosidades, misturando insights e materiais ilimitadamente, seu mundo empurra o espírito da vaidade para a fronteira do inquietante e do estranho. Habitado por minerais, plantas e elementos sintéticos, seu profícuo ateliê armazena uma energia onírica, materializada em obras que registram o caráter libertamente espontâneo de sua jornada particular. Não procure uma lógica euclidiana nisso tudo, aqui conta mais a intenção, o gesto, a manipulação da matéria como significado. Questionado sobre sua inspiração para a originalidade em um mundo inundado de informação, ele responde: “O homem se torna intoxicado por imagens e por vezes se aborrece, porque sua natureza é insaciável. Quando esta abundância me paralisa, procuro respirar o húmus do solo, acariciar as folhas das árvores e ouvir as quedas d’água”. # evor.fr Designer de interiores e arquiteto, cultiva o design da invenção, da luz e dos objetos minimalistas. Seus produtos exploram texturas quentes, de materiais como madeira e couro, que são combinados com componentes de vidro e plástico e convidam o usuário a uma experiência transparente, como o polêmico aparador Archibird, uma gaiola redesenhada para pássaros de cores vibrantes, em uma atitude politicamente incorreta com o intuito de extrair signos fortemente expressivos da natureza. As soluções delicadas do designer têm procurado expressar histórias poéticas, enquanto se propõem a renovar o gênero utilitário. Pela agência de Bruno Moinard, Grégoire colaborou com projetos importantes, como a sede da Hermès em Paris, as boutiques Cartier, uma mansão da Veuve Clicquot e, mais recentemente, o restaurante Ciel de Paris, no topo da Torre Montparnasse. Ao mesmo tempo, desenvolveu seu próprio design de interiores e mobiliário, vencendo o prêmio VIA por quatro anos consecutivos, de 2011 a 2014. # gregoiredelafforest.com EVOR Mascarade New York: impressão fotográfica em dibond, 21 x 29,7 cm – 2012 FOTOS DIVULGAÇÃO MAISON&OBJET 20 abd conceitual out/nov 2013 GRÉGOIRE DE LAFFOREST Luminária Olab, 60 x 33 cm – 2012 Simples e elegante Racionalidade e sonho Fã do preto e branco, este artista/projetista gosta do contraste, é atento aos detalhes e procura detonar os limites dos efeitos visuais para, assim, renovar os gráficos contemporâneos. Seus ambientes internos noir têm conquistado cada vez mais um público que procura resgatar a ambiência construtivista do fim dos anos 1920, além de pessoas ávidas por espaços simples, porém elegantes. Como designer de objetos, criou o zigurate – pequenos contêineres de padrões listrados congruentes e empilhados e louças com motivos circulares, evocando uma precisa sensibilidade. Recentemente, realizou um projeto em parceria com a Stockman, famosa marca que fabrica manequins clássicos desde 1867. O artista desenvolveu três manequins haute couture em edição limitada – apenas dez exemplares de cada. Os bustos geométricos, inspirados em caleidoscópios, revelam a estrutura do corpo por meio de sutis retículas radiais, ou em tramas de tiras desencontradas em diferentes escalas – ampliando a sua coleção de formas ópticas. # the-eem.com A dupla se divide em duas direções: enquanto um explora as possibilidades da diversidade, o outro penetra em um universo de estilos excêntricos. Assim, compõem seu design com a áurea melancólica da moda antiga. Aos 24 e 27 anos, ambos têm balançado a uniformidade da cena contemporânea por meio de oficinas-manifesto – rituais não convencionais voltados à pesquisa e à surpresa. Raphaël Groelly compara seu trabalho a um gabinete de curiosidades: “Uma antessala onde eu opero uma tensão, de consistência invisível, entre racionalidade e sonho, arte e design, natureza e artifício”. Sobre suas ideias: “Tenho paixão pelo monstruoso. Mas o monstro, longe de ser um acidente da criação, é uma emanação da natureza que eu aprisiono no processo de transformação em obra de arte”. Réjean se dedica mais a objetos e mobiliário. Fascinado por ecossistemas, cria encontros entre formas e materiais, misturando áreas como arquitetura, esportes e etnologia. # rejean.fr | raphaelgroelly.com EMMANUEL BOSSUET RAPHAëL & RéJEAN Série de azulejos Bossaco, 15 x 15 cm – 2013 Boa chair: estrutura de carvalho, 45 x 90 x 100 cm. Assento: couro ou tecido com espuma – 2011 22 abd conceitual out/nov 2013 * MAISON&OBJET [ Paris Design Week ] paris a pé 1 GASPARD 2 GRAULICH Atelier à Quatre 3 LES CADETS por marcella aquila embora o mundo seja vasto e o circuito dos eventos de design se amplie a cada ano, a Europa ainda concentra boa parte desses acontecimentos, articulando marcas e atores novos e consagrados. Paris, pela tradição, não poderia deixar de ser, também, um ponto irradiador de tendências, e A Paris Design Week, que acontece como um desdobramento da Maison&Objet, procura apresentar contribuições francesas (mas não só) para o design. o evento se organiza em itinerários pela cidade luz que contemplam as diversas conexões do design com outras formas de linguagem: arquitetura, urbanismo e gastronomia, além de design digital, design icônico (atemporal) e design francês. A seguir, apresentamos algumas marcas, coletivos e designers que integraram esses itinerários. 4 JEAN-BAPTISTE BOUVIER 24 abd conceitual out/nov 2013 Dedicado à produção de objetos do cotidiano, esse escritório não se restringe a escalas específicas nem a padrões preconcebidos. Seus profissionais encaram qualquer desafio quando o assunto é design (mobiliário, cenografia, instalações, projetos luminotécnicos etc.), realizando obras sob medida ou em peças únicas. Imagem: mesa Bureau Iceberg. # atelieraquatre.com Um coletivo que reúne cinco jovens designers franceses cujos trabalhos, em linhas gerais, têm grande apelo artesanal, com uso de materiais de origem orgânica. Anna, Violaine, Hélène, Guillaume e Charlotte definem seu trabalho como “um design doce que cria objetos capazes de florir o nosso cotidiano”. Imagem: luminária L,de Anna Leymergie. # lescadets.fr 5 6 7 Alain Marzat Conhecido por seus trabalhos como designer e diretor de arte na área de moda, Marzat recentemente lançou suas primeiras peças de mobiliário. Ele é declaradamente influenciado pelo movimento moderno do século 20 e seus objetos derivam desses princípios plásticos, agregando materiais contemporâneos. Imagem: mesa baixa Lacrima. # alainmarzat.com FOTOS DIVULGAÇÃO paris design week Ele é curador de peças de design, sobretudo de mobiliário, com especialização em designers franceses do pós-guerra. Em sua loja no mercado Paul Bert, encontramse criações de Marcel Gascoin, René Gabriel, Jacques Hitier, Pierre Guariche, Mathieu Matégot, Roger Landault, RJ Caillette, entre outros. Imagem: escrivaninha Bureau, de Claude Vassal (1955). # cargocollective.com/jeanbaptistebouvier “O design deve fazer com que as pessoas se surpreendam. Deveria ser um gatilho para uma nova visão das coisas” , diz Gaspard. Nascido nas Ilhas Reunião, no Oceano Índico, ele tem um trabalho com formas elementares e estruturas aparentes, que sintetiza suas preocupações fundamentais: o ambiente, a indústria e o conceito. Imagem: apoiador de objetos Irmãos Plo. # gaspardgraulich.com BENJAMIN ROUSSE Francês de Lyon, ele se intitula “designer de produtos e do espaço”. Interessado em uma apreensão global do design, seu trabalho tem como meta, segundo suas palavras, “estabelecer uma relação entre forma e função, o cheio e o vazio e material e poesia”. Imagem: prateleiras modulares Etag’Aire. # benjdesign.wix.com ELSA RANDÉ Com anos de experiência no segmento de luxo, trabalhando para marcas consagradas, Elsa fundou seu próprio estúdio de design em 2012 e apresenta, este ano, sua primeira coleção de peças de mobiliário. Imagem: uma pequena biblioteca chamada L’écume des Jours ou, em português,“a espuma do dia”. # elsarande.fr * DESIGN FRANCÊS OBJETOS ÚTEIS Mathieu Lehanneur: o designer mais interessado na funcionalidade do que na beleza das peças que cria Por marcos guinoza Ele é francês. Tem 38 anos. É casado. Tem dois filhos. Nasceu em Rochefort, cidade localizada no sudoeste da França. Formou-se em 2001, na Escola Nacional Superior de Criação Industrial, em Paris, onde vive e sonha e cria suas misteriosas e fascinantes obras. Ele é Mathieu Lehanneur, o cara que Philippe Starck, em 2010, afirmou que seria um dos designers mais influentes desta década. Dito e feito. Lehanneur, hoje, é nome fundamental do design. Basta procurar. Ele está em todas. E veio ao Brasil recentemente. Mathieu Lehanneur, no entanto, não pertence Electric: projeto de Lehanneur que ocupa uma área de 1.000 metros quadrados em Paris. É uma plataforma cultural composta por uma árvore negra de fibra de vidro que emite som e luz. Foi ali que o duo de música eletrônica Daft Punk fez as fotos para o disco Random Access Memories (2013) 26 abd conceitual out/nov 2013 Acima, purificador de ar Andrea, criado por Lehanneur em parceria com David Edwards. A planta no interior do objeto absorve toxinas. Abaixo, Tomorrow Is Another Day: objeto projeta imagens do clima do dia seguinte, oferecendo a pacientes terminais do hospital Diaconesses, em Paris, a oportunidade de estar um dia à frente do seu tempo SEDUÇÃO EM SÉRIE No livro A Linguagem das Coisas (Editora Intrínseca, 2010), o inglês Deyan Sudjic, diretor do London Design Museum, analisa o papel do design na sociedade atual, mostrando “como podemos ser manipulados e seduzidos pelas coisas que possuímos ou desejamos possuir”. Para Sudjic, o design controla o mundo. Para Sudjic, o design e os designers são Lehanneur também circula pelo lado mais espetaculoso do design. A luminária Cloudy foi projetada para a marca italiana Fabbian e lançada durante o Salão do Móvel de Milão parte crucial deste momento histórico de supervalorização do descartável, em que os produtos são programados para se tornar obsoletos em poucos meses. É o que ele chama de “sedução em série”. Ou: “Fazer um produto novo parecer mais desejável do que um velho e com que este que está sendo substituído pareça ultrapassado”. Outras provocações de Sudjic: “Desde que surgiu como profissão independente, o design é usado para manipular o desejo.” “A empresa precisa tornar seus clientes tão sedentos por um novo produto que joguem fora o último a cada dois anos.” “Acreditamos que possuir coisas belas também nos torna belos.” “Só os que estão seguros de sua riqueza se sentem à vontade vivendo sem exibir suas posses.” “Quanto mais inútil, mais valorizado é um objeto.” “A inutilidade é, ao que parece, a qualidade mais valorizada. Assim os designers aspiram a ser artistas.” A Linguagem das Coisas é dividido em cinco capítulos: 1) Linguagem; 2) O design e seus arquétipos; 3) Luxo; 4) Moda; 5) Arte. Segundo o jornal The Guardian, o livro de Sudjic é sobre “a obsolescência clandestina com que o design nos seduz”. FOTOS DIVULGAÇÃO - Felipe Ribon, Véronique Huyghe, Jean-Luc Luyssen à mesma categoria dos designers interessados somente em tornar o mundo um lugar mais bonito. Ele é de outra espécie. “Para mim, o importante é o que podemos fazer com os objetos, ou seja, eu me interesso pela utilidade deles [...] e não apenas por sua forma”, declarou para o jornal O Globo. É isso. Lehanneur não se preocupa só com a beleza dos objetos. Pratica o chamado “design utilitário”, ou “design funcional”, imaginando formas de aliar o que faz à ciência e à tecnologia para desenvolver peças e ambientes que têm como principal objetivo melhorar o bem-estar das pessoas. “Por que estão todos tão interessados em projetar cadeiras?”, provoca. Em entrevista para a Icon Online, disse: “Quero sentir e entender o homem e me aproximar dele cada vez mais. Este é o motivo pelo qual trabalho com muitos cientistas. Eles me ensinam a entender o ser humano e suas necessidades reais”. Mas quais seriam as “necessidades reais” do ser humano? Depende. Se pensarmos nos milhares de desamparados que vivem nas periferias do mundo, em muitos casos falta o básico: comida, água limpa, moradia. Dessa realidade brutal surgiu, por exemplo, o movimento Design for the Other 90%. A iniciativa procura incentivar os designers a encontrar soluções que auxiliem as populações desassistidas. De quebra, ainda cutuca os deslumbrados. Fala Paul Polak, do International Development Enterprises: “A maioria dos designers se concentra em criar produtos e serviços apenas para a porção mais rica e favorecida, os 10%. É preciso uma revolução no design para atingir os outros 90%”. Entre as invenções incluídas no portfólio do Design for the Other 90% está o LifeStraw, espécie de canudo com filtro, essencial em lugares onde as pessoas não têm outra saída além de beber água diretamente de poços e rios. É o design sendo usado não apenas para decorar a sala de estar com cadeiras ou luminárias assinadas, mas para salvar vidas. MENTES ELÁSTICAS Voltando a Mathieu Lehanneur, ele faz parte de uma nova geração de profissionais que busca ampliar a definição de design, expandindo seu campo de atuação para áreas como medicina e alimentação, entre outras, e costuma trabalhar mais com institutos de pesquisa do que com fabricantes italianos de produtos para a casa. Em 2008, o MoMA, de Nova York, realizou uma exposição chamada Design and the Elastic Mind. Andrea, o premiado purificador de ar que utiliza plantas como filtro – invenção de Lehanneur – estava lá. A mostra explorava a relação da ciência com o design no mundo contemporâneo. Mais que objetos bonitos e decorativos, foram apresentadas criações e conceitos que “as pessoas realmente podem entender e usar”. Designer fascinado pela habilidade da ciência em investigar profundamente o ser humano, Lehanneur diz que a ciência o ajuda “a entender como vemos, como escutamos, como respiramos, como nosso cérebro pode informar ou nos enganar”, e é a partir desse entendimento que ele cria suas mirabolantes engenhocas. Se é verdade que “o bem-estar é o novo luxo”, como defende o sociólogo francês Gilles Lipovetsky, então Mathieu Lehanneur é o cara. Esteticamente, alguns dos seus objetos podem até não ser muito sedutores. Mas, nestes casos, o que importa é sua funcionalidade e não a beleza de suas formas. É um outro modo de pensar o design. # mathieulehanneur.fr # designother90.org # designmuseum.org Cité de la Mode et du Design Região portuária de Paris passa por revitalização, transformando-se em Les Docks, um dos projetos arquitetônicos mais ousados da Europa FOTOS N. Borel por BRUNO MORESCHI FOTO Jean Ber Dominique Jakob e Brenda MacFarlane A partir de incentivos fiscais da prefeitura de Paris, um conjunto de lojas, clubes noturnos, restaurantes e escritórios de empresas ligadas à criatividade está surgindo em Les Docks Algo está em profunda transformação na antiga zona portuária de Paris. E a mudança vai além da construção de uma chamativa fachada verde-limão feita de metal e vidro. Ali, em um local antes sombrio e abandonado da capital francesa, está nascendo Les Docks, Cité de la Mode et du Design. Considerado por muitos especialistas como um dos projetos arquitetônicos mais ousados em andamento na Europa, Les Docks segue uma tendência que ocorre nos últimos anos em grandes cidades do mundo: a de revitalizar zonas portuárias, conhecidas por quase sempre serem os locais mais inóspitos de grandes centros urbanos. Assim aconteceu na região de West Side Highway, em Nova York, e nas Docklands, em Londres. Em um grau um pouco menor, transformação semelhante também vem acontecendo na área portuária do Rio de Janeiro. Para Les Docks, os arquitetos Dominique Jakob e Brenda MacFarlane resolveram seguir na contramão dos projetos arquitetônicos realizados em áreas desvalorizadas. Enquanto muitos optariam por construções que melhorariam o local, mas descaracterizariam o que estava ali antes, Jakob e MacFarlane fizeram justamente o contrário. O principal edifício industrial, onde está a fachada verde-limão, foi remodelado de maneira que revelasse seu interior – algo que a dupla chama poeticamente de “seu esqueleto de concreto”. Vale lembrar que esse mesmo prédio foi o primeiro complexo industrial de Paris a usar o concreto armado em sua construção. “Não queremos negar que essa região estava esquecida. Queremos fazer desse esquecimento o principal combustível para que o local renasça com uma força criativa nunca antes vista por aqui”, afirmou MacFarlane para o jornal The New Tork Times, que reservou duas páginas inteiras de sua edição dominical para falar sobre a transformação em Les Docks. Acima do prédio, um imenso terraço foi erguido para que, nas palavras de Jakob, “os parisienses pudessem ver Paris sob um novo ponto de vista”. Por fim, a sensação de presenciar uma edificação que se espalha largamente pela horizontal foi inspirada no fluxo e refluxo do Rio Sena. Entretanto, engana-se quem pensa que apenas a remodelação do prédio principal seria suficiente para uma mudança radical da região, que tem quase 20 mil metros quadrados. A partir de incentivos fiscais da prefeitura de Paris, um conjunto de lojas, clubes noturnos, restaurantes e escritórios de empresas ligadas à criatividade está surgindo em número cada vez maior em Les Docks. A estilista chinesa Yiqing Yin abriu um misto de loja e estúdio de criação em que é possível encontrar suas mais recentes coleções; uma galeria de design foi inaugurada há poucas semanas; um clube noturno (o Le Baron), conhecido por noites bem animadas, já está de portas abertas; assim como o complexo de entretenimento Wanderlust, uma mistura de boate, local para jogos, exibição de filmes, ioga e wokshops para adultos e crianças. Tudo isso com o detalhe de que, nos fins de semana, estudantes do IFM (Institut Français de la Mode), vestindo Galliano, conversam e leem sentados nas dezenas de cafés já inaugurados por ali. O complexo de entretenimento Wanderlust, aliás, é um ótimo exemplo de como o local está aberto para projetos multiusos. A verdade é que, antes da revitalização, a região portuária era muito pouco frequentada também pela falta de serviços: não havia espaços de lazer, restaurantes, vida noturna ou cultural. Philippe Vincent, diretor da Clipperton, empresa responsável pela reconstrução do lugar, costuma afirmar em entrevistas que as docas de Paris precisam ser um centro de destino, não apenas de passagem. Vistas agora, depois da transformação urbanística que atravessaram, não restam dúvidas de que Les Docks já se tornou um novo marco para a capital francesa. # citemodedesign.fr / # jakobmacfarlane.com PARISIENNES A dedicação dos franceses no desenvolvimento de uma “arte do bem viver” e Paris como o epicentro mundial dos principais acontecimentos ligados à revolução dos costumes fotos baudouin por marcella aquila 34 abd conceitual out/nov 2013 Manon estilista, estação Saint-Germain Clémence editora de design, estação Passy (na pág. ao lado) Adrienne No limiar de virada de época em que vivemos, a novidade, ainda que não tenha vindo dar na praia nem tampouco às margens do Rio Sena, especificamente, voa no balanço das ondas. Oscilando nas frequências da luz e navegando em bandas nunca antes imaginadas, a qualidade rara desse fim-começo de 21éme siècle é que a novidade tem polos: se por um lado aproxima o globo, gerando mínimos-múltiplos comuns transnacionais, por outro, cria um campo propício às manifestações excepcionais e de caráter local. Dessa maneira, falar em um “jeito específico de morar” – seja ele francês, brasileiro, americano ou japonês – pode ser um grande delírio, se pensado do ponto de vista saudosista-romântico, ou, se visto sob uma perspectiva prismática, a síntese de um modo de habitar esse novo mundo. 36 abd conceitual out/nov 2013 Não é à toa que a França, ainda hoje, tenha a sua imagem associada ao pioneirismo no que diz respeito a tudo que se relaciona ao modo de vida. Sua dedicação no desenvolvimento de uma “arte do bem viver”, a famosa joie de vivre, vem de muitos carnavais. E, há pelo menos três séculos, a capital do país, Paris, foi, de fato, o epicentro mundial dos principais acontecimentos ligados à revolução dos costumes. Da poltrona Luís XV aos excessos que fizeram (d)a cabeça de Maria Antonieta um dos estopins para a mais conhecida de todas as revoluções burguesas. Dos iluminados aos Lumière. Dos impressionistas – abrindo alas aos modernos em todas as frentes de linguagem – aos existencialistas (com toda razão). De Bizet a Boulez. De Voltaire a Valéry. Do espartilho e perucões aos vestidos sem cintura e sem censura de Coco Chanel. Do new look à nouvelle vague. Arriscando um arco maior, do gótico ao neoclássico, ao (digitana)lógico de Le Corbusier. Do drama de Sarah Bernhardt à cama de Kiki de Montparnasse. A sin city de Baudelaire, que já experimentava com vigor investigativo as possibilidades sensoriais das “drogas”, ou a dança de Josephine Baker, que transpirava uma sexualidade desafiadora a qualquer performer da indústria pornô, apresentam, ainda, uma liberdade desconcertante aos padrões cada vez mais retrógrados reinantes. Ao mesmo tempo, e por trás desse fervilhar de rupturas que vieram a caracterizar a França e, mais precisamente, Paris, como um “ambiente luz” – de onde emanavam clarezas (novidades) tanto nas artes quanto na vida – um panorama cultural maior, tecido possivelmente com heranças de um passado de colonizações diversas e ligado ao campo, talvez possa ser apontado como um pano de fundo propício ao cantora, estação Odéon Louise blogueira, estação Arts et Métiers (na pág. ao lado) Colombe surgimento de tantos personagens e movimentos expressivos, atuantes sob os costumes, e em um mesmo lugar. Assim, como grande parte dos países europeus, a França não era França até pouco tempo, e sim, um mosaico de regiões e províncias que, posteriormente, vieram formar a “unidade” tal qual a conhecemos hoje. Esses núcleos tiveram os longos e centenários anos da Idade Média, sem muito (ou quase nenhum) agito metropolitano, para desenvolver seu próprio conjunto de signos que convencionamos chamar de “cultura”. Língua-poesia-música, gastronomia, modos e modas, cores-cheiros-texturas-formas e, o mais importante, uma condição de tempo favorável ao exercício dos cinco sentidos por meio das atividades cotidianas mais vitais. O prazer da cama, mesa e banho, a disponibilidade de 38 abd conceitual out/nov 2013 tempo para ler e refletir, contemplar e produzir, elaborar certos cuidados e delicadezas no trato do dia a dia – muitas dessas qualidades certamente se tornaram hábitos que persistiram com o passar dos anos. Mesmo a chegada de todo o vapor e a eletricidade da metrópole industrial moderna, ao contrário do que se possa imaginar num primeiro momento, não colapsou absolutamente os hábitos – legado de um tempo de mais tempo. Mas, possivelmente, combinando-se a alguns deles gerou, na França, um acaso favorável ao surgimento de movimentos que foram, ao mesmo tempo, refratários a qualquer tipo de recuo com relação às liberdades conquistadas e altamente radicais na ruptura com tradições que já não cabiam mais naquele momento (eis uma hipótese). Fato é que, até hoje, os franceses são reconhecidos por alguns de seus hábitos e habilidades. Nas artes visuais, na música, na dança, na filosofia, no cinema: são incontáveis suas contribuições. Mas é propriamente nas linguagens que se vinculam mais diretamente ao modo de vida em que encontram seu maior destaque e para onde os olhos do mundo se voltam quando o assunto é gastronomia, design (do objeto, interiores e arquitetura) e moda. Mas se, até o século 20, a França tinha em sua capital uma centralidade praticamente unânime na atração e irradiação de novidades, essa condição é hoje compartilhada por outras grandes metrópoles mundiais. Paris como Nova York como Milão como Tóquio como Londres como outras que despontam no cenário global se tornaram grandes hubs – pontos de fluxo e encontro de pessoas vindas dos quatro cantos do mundo e também grandes centros nervosos geradores de direções. E, muito embora a criação de estilista, estação Odéon Chantale cenógrafa, estação Ségur (na pág. ao lado) Simone, estação Exelmans Judith atriz, estação Gare de l’est Mélanie, estação Anvers Prune escultora, estação Bréguet - Sabin sentidos possa se dar em qualquer parte do planeta, sendo sua circulação condicionada apenas a uma tomada + conexão à web, o mundo virtual, longe de eliminar a importância do mundo físico, apenas o reposicionou. Os ambientes construídos passam a ser prováveis espaços de experimentação, em que toda a comunicação, que não pode se dar via cabo, possa acontecer, via corpo, em toda sua potencialidade – sensorial, sobretudo. Essa relação, mesmo despontando embrionariamente e explorada em apenas alguns setores (como no caso do retail design), vale para todas as dimensões e escalas da vida. Das infra às macroestruturas, do espaço urbano ao rural, dos ambientes de trabalho ao âmbito do habitat individual. Se mudam as relações, mudam os espaços. E tanto melhor quanto for possível tirar partido bem como designar os caminhos desejáveis para essa transformação. Na cidade, nos retiros, no trabalho, em casa, um jeito de morar francês (berlinense, paulistano...) pode ser visto e pensado como a combinação dos elementos de uma cultura que perdura no tempo e daqueles elementos que são criados sob o espírito de um tempo. Nossa época vem a ser a dos fios soltos para amplos sentidos. O que se fará das possibilidades disponíveis depende da meta de quem as assume. 40 abd conceitual out/nov 2013 Vyva pintora, estação La Chapelle BAUDOUIN As imagens que ilustram estas páginas são da série 75 Parisiennes. O objetivo de Baudouin ao realizar esse ensaio fotográfico foi mostrar o estilo de vida francês retratando mulheres parisienses em seus apartamentos, indicando as estações de metrô mais próximas. Os ambientes foram mantidos do jeito que são, sem “retoques”, o que imprime mais identidade em cada registro. Nascido em Reims, na região de Champagne, Baudouin é fotógrafo com trabalhos para a ELLE, Le Monde, Cosmopolitan, entre outras publicações. Influenciado por bambas como Martin Parr e Henri Cartier-Bresson, diz que seu maior sonho é fazer um retrato da rainha Elizabeth II. Enquanto esse dia não chega, ao som do grupo The Kinks, ele bebe chá, champanhe e saquê, suas bebidas preferidas. # baudouin.fr “Madeira é uma carne que esconde veias e muitas cicatrizes” zoé ouvrier Zoé em seu ateliê e estampa Gingko. Na página ao lado, estampa Knot l Árvores nuas Acima, estampa Dee. Ao lado, biombos Dee e Rhizome 44 abd conceitual out/nov 2013 FOTOS Ian scigliuzzi, Florian Keinefenn É a natureza, com a qual sempre teve contato próximo, que inspira a artista plástica Zoé Ouvrier. Nascida em Montpellier e formada pela École des Beaux Arts, em Paris, a francesa conheceu a xilogravura em 1998 e, desde então, grava, entalha e esculpe elementos naturais em painéis de madeira e biombos. As árvores – com seus troncos, caules, folhas, raízes e texturas – são a base do trabalho da artista preocupada com o futuro do planeta e com o impacto das ações humanas sobre a natureza. Mas Zoé não se limita a reproduzir o que vê. Inventa um mundo particular, com certa “espiritualidade”. Há algo de misterioso em suas estampas, como se fossem cenários de outro planeta, seres de outra galáxia. Além de expor em galerias de arte, Zoé produz peças exclusivas sob encomenda e colabora com arquitetos e designers de interiores. # zoeouvrier.com publi Wallpaper Cores da catalunha CONHECIDO por suas praias paradisíacas, festivais de cinema, gente endinheirada e celebridades, o sul da França também foi cenário, há 140 anos, do início de uma das mais charmosas confecções têxtil da Europa. Inspirados pela tradição secular da tecelagem artesanal catalã, Joseph Sans e Abdon Garcerie, fabricantes de tecidos, abriram a empresa Sans et Garcerie, em 1873, na pequena aldeia de Saint Laurent de Cerdans. O negócio começou com a produção de sandálias com solados de corda – as famosas alpercatas. Logo, a marca conquistou reconhecimento em toda a Catalunha. O sucesso fez com que a dupla passasse a trabalhar também com tecelagem para espreguiçadeiras de lona e, nos anos seguintes, diversificasse ainda mais as suas atividades, produzindo variados objetos de decoração. Mas, no início da década de 1990, a situação havia mudado. Passando por problemas econômicos e à beira da falência, a empresa quase fechou suas portas. É nesse momento que entram na história Françoise e Henri Quinta. Ambos de origem catalã, em 1993, eles decidem comprar a fábrica, e mudam o nome da maison para Les Toiles du Soleil (tecido ensolarado). Enquanto Françoise se ocupa das lojas e do atendimento aos clientes, Henri cuida de todo o processo de criação. Romântico, ele defende que cada tecido tem o poder de contar uma história diferente. Assim, preza pelas cores fortes e brilhantes que encontra no sul da França. Mantendo a autenticidade do artesanato catalão, a dupla repaginou a cartela de cores da antiga confecção e acrescentou 46 abd conceitual out/nov 2013 na les toiles du soleil, cada tecido tem o poder de contar uma história A Les Toiles du Soleil desenvolve tecidos para toalhas de mesa, guardanapos, jogos americanos, caminhos de mesa, aventais, capas de almofadas, cortinas, bolsas, cadeiras e uma infinidade de outros produtos vívidos modelos listrados ao catálogo. Atualmente, os fios listrados de algodão e linho da Les Toiles du Soleil são encontrados em cadeiras, espreguiçadeiras e pufes, mantas, almofadas e bolsas, entre outros objetos. Os produtos da grife chegam a durar 20 anos mais do que os tecidos de desenhos semelhantes. O segredo está no tear tradicional, em que cada fio é atravessado um por um de forma manual. E, ao contrário de outras confecções, apenas os fios passam pelo processo de tingimento, gerando um tecido que não desbota mesmo após diversas lavagens. Ideal para ambientes externos, a linha Sunbrella, por exemplo, é um tecido impermeável e resistente aos raios solares, ótimo para o clima do Brasil. E não para por aí. Pensando na variedade infinita da aplicação do tecido listrado, cada loja conta com uma costureira especializada em customização para estofados, cortinas, almofadas etc. Hoje, embora a marca esteja espalhada por mais de 20 países, Françoise e Henri não pensam em transformar a maison em mais uma grande corporação. O contato direto com o cliente faz parte do DNA da grife e, para a dupla, a autenticidade não está apenas em seus produtos, mas também na maneira de fazer negócios. No Brasil, os tecidos inteligentes da Les Toiles du Soleil fazem parte do extenso catálogo da Wallpaper, que mantém showroom na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1282, em São Paulo. A explosão de cores da ensolarada Catalunha nunca esteve tão perto de você. * weeks, weekends, months ARTE + + DESIGN semanas dedicadas ao design se multiplicam pelo mundo, e o brasil também já tem a sua: a dw!, em são paulo IDEIAS Por amer moussa Banco Copa, do designer Fábio Galeazzo, lançado durante a São Paulo Design Weekend, 2013 A necessidade da burguesia de circular e vender ideias – e não somente produtos utilitários – surgiu muito antes da palavra design. “Vocês podem viver três dias sem pão – sem poesia, nunca”, já dizia o poeta Charles Baudelaire em sua crítica ao salão de pintura de 1846. Logo depois, em 1851, a Inglaterra realizaria a primeira exibição de produtos industriais, conhecida como Feira Mundial. O colossal Palácio de Cristal, edifício-sede, foi exposto como o protótipo modelo de produção do século 19. No período entre guerras, auge da era moderna, as feiras ganharam ares de grandeza arquitetônica por meio da construção de pavilhões temporários, que procuravam sintetizar o que cada país estava produzindo. É o momento do rigor, que fundamentou as bases para a (re)construção de uma cultura universal pautada pelo racionalismo e que tem no Pavilhão de Barcelona (1932), de Mies van der Rohe, sua expressão máxima. O fim da década de 1970 marcou também a queda de muitas ditaduras políticas e, consequentemente, linguísticas. Com isso, ganha força o movimento intitulado pós-moderno. No furor de romper com tudo e com todos que se colocassem à frente da imaginação, cai por terra o conceito da boa forma – “forma segue função”. O funcionalismo deixa de ser a principal qualidade do objeto, que ganha status de arte – gerando com isso uma esfera de consumo e experimentação simultâneos. As feiras de design se tornam “períodos” – weeks, weekends, months – quando se instaura uma atmosfera, geralmente urbana, de criatividade absoluta. De lá para cá, várias cidades se consolidaram como polos irradiadores desse movimento. Milão é, sem dúvida, a mais influente. A região norte da Itália concentra setores expressivos da indústria automobilística e de eletrodomésticos (Turim e Gênova), assim como produtores de pequeno e médio porte de manufatura artesanal para a fabricação de vidro, cerâmica, luminárias e móveis (entorno de Milão e ilha de Murano). Um aspecto não menos importante é o forte engajamento político dos designers italianos. A ADI (Associazione per il Disegno Industriale) não se resume a um pequeno círculo de amigos, mas se atém a questões profissionais como impostos, direitos e contratos, além de promover um dos mais prestigiosos prêmios de design: o Compasso d’Oro. Por reunir tudo isso, e [+] design week pelo mundo I Saloni Milano Quando: abril Eventos de maior importância para arquitetos e designers, os Salões de Milão (I Saloni Milano) expõem, anualmente, as inovações da tradicional indústria italiana, além de apresentar grandes nomes da cena contemporânea internacional. Sistema modular Boiling, da Ovo. As peças são unidas por imãs e podem ser dispostas de diversas formas por também dar espaço às tendências internacionais, os Salões de Milão (I Saloni Milano), já na sua 52ª edição, tornaram-se obrigatórios à comunidade de designers mundial. Outra semana que vem conquistando bastante espaço no circuito globalizado é a Design Festival, de Londres. Como o próprio nome diz, não se trata somente de um encontro monodirecional produtor/ consumidor. O festival inovou ao assimilar a participação do público, que também atua como propulsor e gerador de novas ideias. Se antes este papel era exercido apenas pela indústria, hoje essa relação foi refun- Berlin Design Week Quando: junho Incontáveis galerias, museus, parques, estúdios e coletivos sediam feiras, exibições e festas na cidade que dispensa apresentações quando o assunto é transformação. festa da semana de Milão e a organização britânica da semana de Londres”. Além de promover oportunidades de negócio, a iniciativa visa estimular a inovação em várias áreas, por meio da aplicação do design no dia a dia. “A ordem é colocar o design na agenda nacional”, consolidando o evento em São Paulo ao mesmo tempo que se cria uma cultura do design, por intermédio de uma programação aberta, porém criteriosa. Apesar de alguns problemas óbvios encontrados, como a dificuldade de deslocamento e o trânsito caótico da cidade – que assustou muitos visitantes estrangeiros – a organização acredita que o objetivo London Design Festival Quando: setembro Com o objetivo de instaurar uma atmosfera urbana de criatividade, o festival tem caráter tanto cultural quanto mercadológico, com uma estrutura que compreende desde exposições, fóruns e shows a coquetéis e lançamentos privados. Helsinki Design Week Quando: setembro A partir do tema Action!, a semana finlandesa deste ano foi um grande happening aberto aos participantes, que podiam criar o seu próprio evento de design e submetê-lo ao programa – com enfoque menos comercial e mais voltado às ideias. Com público de mais de 1 milhão de pessoas, a DW! já é considerada o maior festival de design da América Latina 50 abd conceitual out/nov 2013 inicial do projeto foi alcançado. “A meta deste ano não é crescer, mas sim melhorar a qualidade dos eventos: mais instalações, invenções, mais participação”, diz Pedro Ariel, curador da DW!. Para a próxima edição, a demanda é discutir essas questões como um todo, a partir de soluções de desenho e desejo para ambientes mais humanos, capazes de equilibrar as microrrelações locais com a macroeconomia planetária. Nesse sentido caminham inúmeras semanas de design pelo mundo, sediadas por cidades como Nova York, Helsinque, Berlim, Tóquio e Estocolmo, entre outras. No endereço www.worlddesignguide.com é possível visualizar um mapa com informações atualizadas sobre todas elas. # designweekend.com.br Tokio Designers Week Quando: outubro/novembro A semana “dos designers” e não “do design” tem a participação de grande público e busca promover a identidade nacional ao reunir no mesmo pavilhão soluções profissionais e acadêmicas para produtos e arte. FOTOS DIVULGAÇÃO dada pelas mil possibilidades da internet. Entramos em um novo ciclo. Dentro desse contexto, o Brasil começa a dar os primeiros passos com o objetivo de se inserir. Entre os dias 15 e 18 de agosto de 2013 foi realizada a segunda edição da São Paulo Design Weekend, com cerca de 250 atividades distribuídas pela cidade. Com um público de mais de 1 milhão de pessoas, a DW! já é considerada o maior festival de design urbano da América Latina. Segundo o idealizador, Lauro Andrade, isso acontece porque “o que fazemos não é um evento pontual, é uma plataforma em que participam lojas, marcas, universidades e galerias”. Inspirada nos dois salões citados acima, a DW! procura criar uma mistura entre “o espírito latino de Pendentes de crochê assinados pela designer Andrea Brackman para a marca Iluminadas. Foram apresentados na feira Paralela Gift publi R o c a PRECISÃO SUÍÇA A história da Laufen e a nova linha para banheiros desenvolvida pela empresa em parceria com a Kartell Banheiros são tão individuais quanto as pessoas que os ocupam. Banheiros podem ser geométricos, coloridos, minimalistas. Banheiros, seja qual for o estilo, são uma especialidade da Laufen. Fundada em 1892, na Suíça, a empresa iniciou atividades com a produção de telhas. O conceito original da casa está na fabricação de cerâmica. Por mais de 120 anos, esse material, um dos mais antigos conhecidos pelo homem, tem sido trabalhado na região da Basiléia. Foi só a partir de 1925 que a Laufen se tornou a primeira produtora de louças sanitárias daquele país. Logo, passou a criar banheiros integrados. Fabricadas em unidades modernas e com a precisão de um relógio suíço, a marca conta com linhas completas que vão de louças e banheiras a torneiras, chuveiros e mobiliário. Líder do setor, a casa tem mais de 1.800 funcionários espalhados por seis fábricas na Suíca, Áustria e República Tcheca que, juntas, produzem mais de três milhões de peças sanitárias por ano. No começo da década de 1950, ao abrir a fábrica da Incepa Revestimentos Cerâmicos, em Campo Largo, no Paraná, ingressou no mercado brasileiro. Em seguida, adquiriu as companhias Cidamar e Celite, referências no mercado nacional de louças sanitárias. Antes da virada do século, ao ser adquirida pelo grupo espanhol Roca – maior fabricante mundial de produtos para banheiros – a Laufen passou a investir mais no design. Os produtos da marca, por exemplo, não permitem descobrir, à primeira vista, como são fixados. Esse recurso facilita a montagem e melhora a estética. A empresa acredita na simbiose do design italiano com o estilo modernista da Bauhaus. Para a Laufen, a qualidade não é um mero produto do acaso, mas resultado de vasta pesquisa, conceito ousado e inovação permanente. As principais linhas da casa são assinadas por nomes poderosos da indústria. Entre os destaques estão as linhas premiadas Living Square, Saphirkeramik e Laufen Palomba Collection. Esta última, assinada pelos designers e arquitetos italianos Ludovica e Roberto Palomba, apresenta louças sanitárias com desenho orgânico, inspirado na natureza. Além de curvas perfeitas, a empresa valoriza uma produção ambiental consciente. Assim, por meio de um único controle de vazão e temperatura, pias e chuveiros economizam água e energia. Este ano, surgiu a Kartell by Laufen, parceria com a marca italiana líder mundial na produção de móveis e peças de design. Juntas, as empresas desenvolveram uma nova linha para banheiros com direção artística de Ludovica e Roberto Palomba, apresentada ao público durante o Salão do Móvel de Milão e que já desembarcou no Brasil. Atualmente, as soluções inteligentes da Laufen estão distribuídas globalmente em residências, hotéis, aeroportos, teatros, bancos, prédios públicos. No Brasil, você pode conhecer os produtos da marca no showroom da Laufen na Avenida Brasil, 2.188, em São Paulo, e em pontos de venda em todo o território nacional. Não importa onde e como, a Laufen é promessa de conforto e segurança para o espaço mais íntimo e pessoal da casa. Anotou? # br.roca.com Nova linha para banheiros desenvolvida a partir da parceria entre a Laufen e a gigante italiana Kartell * galeria Acredite, é porcelanato. Cortes e projetos especiais Al. Gabriel Monteiro da Silva, 862 Fone (11)3087-6188 [email protected] Synthetic Nature (ALVEOLATA.2.4.A) – O protótipo faz parte de pesquisa do designer e arquiteto Vlad Tenu, que explora novas possibilidades espaciais, materiais e de escala, misturando design, arte e ciência. “São artefatos adaptáveis a qualquer projeto de arquitetura, moda, design de produtos e interiores, arte e moda.” Vlad vive e trabalha em Londres. Saiba mais aqui: # vladtenu.com (Fotos: Hektor Kowalski) G A B R I E L